JA Janeiro 2010

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Director JOSÉ ALVES JANA - MENSAL - Nº 5469 - ANO 110 - GRATUITO

ESTA Jornal, agora connosco O jornal da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes passa a viajar com o “Jornal de Abrantes”. Já a partir desta edição. Juntos somos mais fortes

Politécnico tem futuro assegurado e recomenda-se O presidente do IPT, António Pires da Silva, faz o balanço e prespectiva o futuro do Politécnico. I página 3

ECONOMIA

Saldos para aliviar a crise A época de saldos é a esperança tanto para empresários como para clientes. página 9

EDUCAÇÃO

Escola Manuel Fernandes de novo em obras Obras de grande impacto vão começar em breve na escola abrantina. página 7

ESPECTÁCULO

As prioridades autárquicas para 2010

As autarquias são os grandes actores da mudança no território. O “Jornal de Abrantes” revela aqui as prioridades. I páginas 4 e 5

Ana Moura em Abrantes Concer to da fadista Ana Moura, dia 19 de Fevereiro, em Abrantes . página 16


ABERTURA

2 SUGESTÕES DE ...

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FOTO CRÍTICA

Anacleto Batista

Abrantres à hora da missa. Ó i ó ai, mas parece-me que este estacionamento não é lá muito católico.

NOME Anacleto da Silva Batista IDADE 72 anos PROFISSÃO Solicitador e... Provedor da Misericórdia de Sardoal RESIDÊNCIA Abrantes UMA POVOAÇÃO Cabeça das Mós - Sardoal UM CAFÉ Sopadel

VOX POP

Quais os seus projectos pessoais para 2010?

UM BAR Qualquer um com pouco barulho UM PETISCO Qualquer um, desde que haja apetite UM RESTAURANTE Cascata, entre muitos UM LUGAR PARA PASSEAR Minho no País e S. Lourenço em Abrantes UM RECANTO A DESCOBRIR Porque não a Lapa no Sardoal?

Jerónimo Belo Jorge

Sónio Pedro

Milene Alves

Gisela Damas

Jornalista

Antropóloga estagiária

Estudante comunicação social

Empregada de balcão

UM DISCO Vários, desde que gregoriano ou sinfónica

Elevar a qualidade do jornalismo na Antena Livre e experimentar a produção de vídeo. Escrever um livro sobre os 30 anos da Antena Livre.

Terminar o mestrado com elevada classificação e o estágio com elevada classificação para ter boas perspectivas no mercado de trabalho. Ter mais tempo para a família.

Acabar o curso no estrangeiro, encontrar trabalho na área de jornalismo e ter uma casa para mim. Após cinco anos fora de casa dos pais, quero manter a independência r criar uma vida nova.

Trabalhar, ganhar dinheiro, ter saúde e paz, e que passe a crise, claro.

UM FILME A Batalha das Ardenas UMA VIAGEM Turquia

EDITORIAL

E a vida continua ... Mudar de calendário não é suficiente para mudar de vida. Gostaríamos que o fosse, mas não é. Para mudar, é preciso mudar mesmo. E isso é mais difícil do que parece à primeira vista. Só não sabe quem nunca tentou. Contudo, na velha crise estrutural que atravessamos, a necessidade de mudanças é grande. Algumas estão em curso nesta

nossa zona e delas temos dado conta. Outras estão em agenda. E outras esperam ainda oportunidade, ideias e decisões que se esperam felizes. Não basta esperar bons tempos, o importante é criar – sim, criar – boas oportunidades. O Jornal de Abrantes fará este ano 110 anos. Mas ainda não fez o primeiro aniversário desta nova

fase. Está, por isso, ainda a consolidar o seu presente, ao mesmo tempo que desafia as oportunidades de futuro. Nesta edição começamos uma colaboração, que desejamos feliz, com a Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, com quem, aliás, já colaboramos ao acolher estágios dos seus alunos. Agora, o jornal da ESTA passa a

incorporar o JA. Assim atinge um público maior e uma maior penetração no meio próximo. Recorde-se que o JA tem uma edição mensal de cerca de 15.000 exemplares, distribuídos gratuitamente porta a porta e colocado em vários pontos de grande circulação. Este é um poder de informação que a ESTA, em boa hora decidiu utilizar.

Bom, e porque o espaço é limitado, tudo o que fica por dizer vai resumido na expressão vulgar mas genuína, Bom Ano de 2010, seja qual for a altura das vagas que tenhamos de enfrentar. Alves Jana


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ENTREVISTA

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ANTÓNIO PIRES DA SILVA - PRESIDENTE DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR

“IPT tem futuro garantido e recomenda-se, a universidade do Ribatejo é que nunca existirá” António Pires da Silva é há 4 anos o presidente do IPT, depois de ter sido 3 anos vice-presidente. Agora, segue-se o processo da sua substituição, que deverá ocorrer lá para o final do ano lectivo. Que balanço faz deste seu mandato? Tem de ser muito positivo. Ao longo destes 4 anos, todo o ensino superior em Portugal sofreu uma grande modificação com o novo Regime Jurídico, e o IPT acompanhou essa mudança. Em resultado disso, mas também do meu programa de candidatura, foram criados os novos Estatutos do IPT. Foi ainda elaborado o Plano Estratégico do IPT, que não existia, até 2013. Fez-se assim a consolidação do ensino superior no Médio Tejo. Que ficou por fazer? Consegui concretizar tudo o que estava no meu programa. O que falta seria para um segundo mandato, que já não terá lugar, porque entretanto reformei-me. Há de haver alguém que vai continuar o trabalho. Porque a grande reforma do IPT está feita. Qual é a alma ou a matriz do IPT? O IPT foi constituído de modo diferente de todos os outros. Os politécnicos nasceram a partir de escolas de ensino superior que já existiam nos distritos: escola de enfermagem, de educação, de agricultura, etc. O IPT, pelo contrário, nasceu com cursos muito próprios e específicos, que não existiam em mais lado nenhum: Conservação de Restauro, Artes Gráficas, Fotografia, etc. Num país a precisar de poupar e no único distrito com dois politécnicos, em Tomar e Santarém, há futuro com o IPT e o IPS? O que nunca virá a existir,

António Pires da Silva Naturalidade: Avis Formação: Física No IPT: desde 1986-87

IPT, unidades Escola Superior de Tecnologia de Tomar Escola Superior de Gestão de Tomar Escola Superior de Tecnologia de Abrantes Centro de Estudos Politécnicos de Torres Novas (CEPTON); Centro de Estudos Politécnicos da Sertã (CEPSE); Centro de Estudos Politécnicos da Golegã (CESPOGA); Centro de Formação de Estudos Especializados de Ferreira do Zêzere (CEFE.FZ); Centro de Incubação de Ideias e Negócios (CIN); Oficina de Transferência e Tecnologia de Conhecimento (OTIC); Centro de Línguas (CL.ipt); Centro de Pré-história e Arte Rupestre (CPH); Centro de Arte e Imagem (CAI. ipt); Centro de Documentação e Arquivo (CDA); Centro de Computação Científica (CCC); Centro de Sondagens e Estudos Estatísticos (CSEE) ; Centro de Formação à Distância (e-learning)

apesar de alguns defenderem essa utopia, é a Universidade do Ribatejo. Mas dois institutos politécnicos no distrito de Santarém podem existir e podem ter a certeza de que vão coexistir durante muitos anos. Não tenham a mínima dúvida. O que vai acontecer não é uma guerra entre Tomar e Santarém ou Leiria ou Castelo Branco. O que vai acontecer, em todo o ensino superior em Portugal, é a existência de consórcios entre várias instituições em que o mesmo curso é ministrado em várias escolas com o mesmo corpo docente. Isso está definido tanto no Regime Jurídi-

co como na política do Ministério. Agora projectos de fusão do IPT com o IPS, não existem nem têm possibilidades de existir. O IPT tem um papel fundamental a desempenhar no Médio Tejo e o IPS na Lezíria, e capacidade para exercêlo, disso não tenham dúvida nenhuma. O resto é fantasias de mau gosto. A saúde financeira do IPT é boa? Foi agora assinado um contrato de confiança de todas as instituições de ensino superior com o governo. O IPT, há seis anos a esta parte, aliás como todos os politécnicos e quase

todas as universidades, que recebe do Estado uma verba que não chega para pagar 90% das despesas certas e permanentes. Somos obrigados a encontrar maneira de superar essa falta. Isso obriga a investir muita atenção e trabalho nessa tarefa, porque não pode chegar ao final do mês e não pagar os salários. Esse esforço acrescido não lhe permite ter a cabeça disponível para desenvolver a instituição noutros sentidos. Com este contrato agora assinado, pela primeira vez, a partir deste ano vamos ter um orçamento em que essas despesas estão contempladas.

Escola de Tecnologia vai crescer em Alferrarede E a Escola Superior de Tecnologia de Abrantes? Ao longo dos seus 10 anos, tem vindo a cimentar a sua posição dentro do IPT e do ensino superior. Está uma escola consolidada, com cursos definidos. Não vai diminuir a sua posição no IPT e na região, pelo contrário, e irá atingir o auge com as novas instalações, em Alferrarede. A mudança de instalações foi por razões do dono da casa, a Câmara, ou pelo projecto da Escola?

As instalações actuais são da Câmara. A Câmara disse que precisava das instalações, aliás para o projecto do Museu, que também é fundamental para o IPT. Como se sabe, o IPT não tem possibilidade de instalar-se por conta própria. A Câmara sugeriu Alferrarede, onde há campus suficiente e estruturas já instaladas que nos permitem ver a mudança como uma boa oportunidade. É claro que há o problema de deslocar a escola do centro da cidade para a periferia, mas qual é a cidade onde isso não acontece?

Vai ser possível, com as receitas próprias dar um outro incremento à formação e à investigação, por exemplo. Qual tem sido a margem de auto-financiamento? Tem sido perto dos 50%. Foi o que nos valeu. Se não, não tínhamos vida própria. E quanto à procura por parte de potenciais alunos? Também aí estamos perfeitamente à vontade, porque temos cursos de excelência que não existem em mais lado nenhum. Quanto aos outros, há uns com mais e outros com menos, mas não tenho dúvida de que vai ter o número alunos necessário e suficiente para ser uma instituição de qualidade. Aliás, do meu ponto de vista, o IPT não precisa de ter mais de 3.500, no máximo 4.000 alunos. Agora tem 3.700 alunos, portanto dentro do intervalo que referi. E esses cursos terão de ser “municiados”, como temos vindo a fazer há 3 ou 4 anos, pelos Cursos de Especialização Tecnológica (CET’s) e pelos “maiores de 23 anos”. Nós somos, e parece incrível, a segunda instituição do país em CET’s e em número de

alunos em CET’s. E estes alunos já são considerados alunos do ensino superior. Quais são as apostas estratégicas de excelência que o IPT faz? Tem que continuar a ser nos cursos que são específicos do IPT: Conservação e Restauro, Fotografia, Design Gráfico, Gestão de Turismo Cultural… Sem deixar para trás os outros cursos, que terão de entrar em consórcio com outras instituições. E a ligação ao meio próximo? Tem havido alguma dificuldade na ligação a NERSANT, mas o problema está superado e até o seu presidente faz parte do nosso Conselho Geral. Temos, assim, uma boa ligação ao meio empresarial e, por exemplo, à Tagus Valley e à Tagus, em Abrantes. Além disso, considero essencial a ligação que temos com as autarquias. E neste momento, o IPT tem candidaturas ao QREN com Tomar, Torres Novas, Abrantes, Golegã, Sertã, Ferreira do Zêzere. Portanto estamos enquadrados no processo de desenvolvimento da região. Alves Jana


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PRIORIDADES AUTÁRQUICAS NA REGIÃO PARA 2010

O caminho faz-se caminhando Como cantou António Machado, “o caminho faz-se caminhando”. Quisemos, por isso, dar conta do que se vai fazer neste ano de 2010. As autarquias são os grandes actores da mudança continuada no nosso território, por isso fomos aí tomar o pulso ao andamento.

Também o hospital de Abrantes vai ser objecto de intervenção. E nas escolas da responsabilidade do poder central também há projectos em curso. Mas não podemos esquecer as grandes obras como as novas turbinas de ciclo combinado da Central do Pego ou a nova

fábrica de painéis fotovoltaicos, de que já aqui demos notícia, bem como outras, de empresas de menor dimensão. É por aquilo que se vai fazendo de novo que vamos renovando o tecido social e os modos de vida neste nosso território.

ABRANTES

Investir na educação O grande investimento que o munícipio de Abrantes vai realizar é na área da educação. Já foram lançados os projectos para três novos centros escolares: Bemposta, Alferrarede e Rio de Moinhos, num investimento total de cerca de cinco milhões de euros. No Pego prevê-se a inauguração do Centro Escolar ainda durante o mês de Fevereiro, uma obra que ronda os 400 mil euros. Também em fase de conclusão está o Centro Escolar de Chainça, um investimento de 600 mil euros. O município está ainda a acompanhar a obra de requalificação da Esco-

la E.B. 2,3 D. Miguel de Almeida, no valor de cerca de 3,2 milhões de euros. Vai também acompanhar e financiar a componente nacional da instalação da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, no Tecnopolo, em Alferrarede. Uma obra com um investimento total de cerca de sete milhões de euros, comparticipado em 70% pelo QREN e os restantes 30% pela câmara municipal. A presidente de câmara, Maria do Céu Albuquerque, adianta ainda que na formação profissional existe também um projecto já a

avançar. “Estamos a ultimar um protocolo com uma entidade que quer instalar um polo de formação na área da hotelaria e do turismo, no centro histórico, para que no próximo ano lectivo comece a funcionar”. Também as escolas de 1º ciclo do concelho de Abrantes vão contar ainda neste ano lectivo com quadros interactivos. Um outro projecto é na área da ciência experimental, virado para o 1º ciclo e eventualmente para o pré-escolar. “A matemática e as ciências experimentais são disciplinas que não cativam os jovens. Assim, é nosso objecti-

vo criar um novo incentivo nestas matérias. Por exemplo explicar às nossas crianças como é que a água evapora, em sala de aula. Queremos avançar com este projecto já no próximo ano lectivo”, reforça a autarca. Com este novo projecto haverá uma maior aproximação entre Abrantes e Barquinha, que também tem um projecto inovador na área da ciência experimental no 1º ciclo, e o município de Constância, nomeadamente na área da astronomia. Outros investimentos Em breve será iniciada a obra de uma bolsa de estacionamento no

Maria do Céu Albuquerque, presidente da Câmara de Abrantes.

antigo heliporto. A margem sul do Aquapolis vai sofrer uma requalificação, ainda no corrente ano. Maria João Ricardo

CONSTÂNCIA

Melhores equipamentos Máximo Ferreira, presidente da autarquia, salienta os projectos que quer ver avançar ainda em 2010: “intervenção na zona histórica de Constância, Centro Escolar de Montalvo e Museu “Quintas do Tejo”. Em breve vai iniciar-se o processo de consulta para a intervenção na zona histórica da vila de Constância, na margem direita do Tejo e na esquerda do Zêzere. Esta obra será apenas visível dentro de dois ou três anos. O novo Centro Escolar de Santa Margarida é outra grande obra, iniciada com o executivo anterior, mas ainda sem a tem garantia de

começar a funcionar no ano lectivo 2010/2011. “Esta obra vai mudar completamente a área da educação. Todos os alunos dessa freguesia irão estar concentrados no mesmo espaço. Iremos ter um novo sistema de transportes, não apenas para os alunos mas para a população em geral”, adianta Máximo Ferreira. Este é um investimento de 2,2 milhões de euros,

metade com nanciamento comunitário, e engloba salas de estudo, cozinha e refeitório, sala polivalente, zonas de recreio, recinto despor vo, zonas verdes, salas de ac vidades, entre

outras. Outros investimentos No Parque Ambiental de Santa Margarida, vai surgir um borboletário. Espaço semelhante a uma estufa, para as borboletas durarem mais tempo, que será um complemento ao ensino, mas que se espera também irá atrair visitantes. Com o apoio da Estradas de Portugal a autarquia de Constância pretende fazer algumas intervenções junto à EN118. Máximo Ferreira adianta que “algumas casas estão a um nível mais baixo que a estrada, e as águas plu-

viais são um problema, pelo que será necessário fazer um sistema de escoamento”. Em Montalvo será terminado um prolongamento de uma rede de esgotos, na rua do Desvio. O Centro de Ciência Viva é propriedade da autarquia mas já tem estatuto de Associação, e funciona de forma autónoma. “Neste espaço vai surgir um Pavilhão Multiusos, cujo projecto já está elaborado, como apoio às actividades realizadas no espaço, mas também vai ser utilizado para espectáculos ou até pequenas feiras de artesanato. Em relação ao

Máximo Ferreira, vice-presidente da Câmara de Constância.

grande telescópio, já nos candidatámos para a construção de um espaço próprio para este, e também à criação de uma nova sala para outro planetário”. MJR


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VILA NOVA DA ABRQUINHA

MAÇÃO

Apostar na educação

Cultura e urbanismo

A área da educação é a grande aposta no município de Vila Nova da Barquinha para o ano 2010. Estão em curso investimentos na ordem dos 10 milhões de euros. A construção de um novo Centro Integrado de Educação e Ciências, que está ligado à Universidade de Aveiro, é um projecto co-financiado pelo QREN, com um custo aproximado de4 milhões e meio de euros. “Esta é uma verdadeira revolução no nosso parque escolar”, afirma o presidente Miguel Pombeiro. Outra obra a realizar até final de 2010, actualmente em construção, mas da responsabilidade da Administração central, é a requalificação da Escola Básica e Secundária D. Maria II, num total de 3,7 milhões de euros. Este Projecto surge no âmbito de um acordo celebrado entre o Mu-

nicípio e a DREL, sendo a Câmara da Barquinha responsável pela execução dos acessos e arranjos exteriores. Outros investimentos Na área das acessibilidades, está a ser feita uma intervenção na EN3, que atravessa Vila Nova da Barquinha e Moita do Norte. Este é um investimento de 2,6 milhões de euros, co-financiado pelo QREN em cerca de metade. O autarca salienta que “esta intervenção irá proporcionar novas redes de água, esgotos, criação de esgotos pluviais, mobiliário urbano, passeios, remodelação da iluminação pública e criação de zonas verdes”. Outro projecto, a iniciar ainda este ano, será o Mercado das Artes. Centrado na zona ribeirinha da Barquinha, tem como objectivo tematizar toda esta zona, através de

Miguel Pombeiro, presidente da Câmara da Barquinha.

um Museu de Escultura ao Ar Livre. “O Centro Cultural vai ser completamente remodelado. O antigo edifício dos Paços do concelho vai sofrer obras para a criação de uma galeria de arte, no rés-do-chão, que ficará virada para o parque ribeirinho”, refere Miguel Pombeiro. Também haverá uma intervenção no parque de escultura, com a colaboração da Fundação EDP. MJR

SARDOAL

Apoiar quem mais precisa Apoiar os idosos e famílias carenciadas faz parte de um projecto que a autarquia de Sardoal já tem em curso, com uma equipa multidisciplinar, da qual fazem parte uma socióloga, uma psicóloga e uma assistente social. Miguel Borges, vicepresidente do município, esclarece que “esta equipa vai andar no terreno, a visitar as pessoas e as asociações”. Muito em breve vai ser criado o Conselho Municipal das Associações. “Iremos em conjunto analisar a situação cultural, desportiva e social do nosso concelho”, salienta o autarca. No concelho do Sardoal existem 21 associações, de cariz cultural, desportivo e recreativo. O vice-presidente do município avança que “este Conselho Municipal pretende funcionar como órgão de consulta e diálogo entre a Autarquia e as associações, nele se esta-

belecendo uma relação que permita aprofundar e definir critérios de apoios financeiros e logísticos, directos e indirectos, bem como prioridades e regras de repartição justa e equilibrada dos recursos públicos”. Outros investimentos Outro objectivo a concretizar em 2010 será uma melhoria no centro histórico. “Vão ser criadas pistas pedonais para se melhorar as acessiblidades, sobretudo para os mais idosos”. Este ano regressa a Feira do Fumeiro. “Este é um dos grandes eventos do nosso concelho, e em princípio deverá realizar-se em Abril”, adianta o vice-presidente. Também será alvo de recuperação o antigo colégio, onde já esteve a Biblioteca. “Neste edifício encontra-se a Filarmónica de Sardoal, a Associação de Caçadores, a Associação de

Miguel Borges, vice-presidente da Câmara de Sardoal.

Pais. As outras associações que necessitem têm assim um novo espaço para usar”. Estão a dar-se os primeiros passos para a construção do Arquivo Histórico Municipal. “Já este ano estarão disponíveis, de forma digital, alguns documentos que fazem parte da nossa história”. MJR

Projectos como o Centro de Aprendizagem e Observação, a zona industrial de Cardigos, um pavilhão multiusos e a requalificação urbana, nomeadamente na parte mais antiga da vila, são as obras que se vão iniciar em 2010, no município de Mação. Saldanha Rocha adianta que o Centro de Aprendizagem e Observação - resulta de um concurso de ideias, e pretende aumentar todo o trabalho que o Museu de Arte Pré-Histórica tem desenvolvido no concelho e ao seu redor. Este equipamento será construído no Vale do Rato, próximo do actual Museu. Serão criados espaços de investigação, laboratórios, sala de exposições”. Inclui um espaço de observação na Zimbreira que será a porta para o parque do Ocreza e um espaço de aprendizagem em Mação, que inclui uma grande exposição de arte rupestre, a etnografia, laboratórios de geologia e botânica abertos ao público, uma grande biblioteca, espaço de experimentação, etc. Vai ser preenchido com a colaboração de museus e universidades da Europa, América do Sul, África, Ásia e Austrália. O valor estimado da obra é de um milhão de euros. O presidente da Câmara salienta ainda que vai avançar este ano a construção da zona industrial de Cardigos. Os terrenos vão ter um preço simbólico de 0,01 euros/m2. Numa área total de 67.287 m2, serão construídas infra-estrutu-

Saldanha Rocha, pre•sidente da Câmara de Mação.

ras de saneamento básico e rede viária, para além de infra-estruturas eléctricas e de telecomunicações. O valor estimado da obra é de 415 mil euros. A zona Industrial de Cardigos e o Centro de Aprendizagem e Observação fazem parte do pacote de contratualização que a Câmara Municipal negociou em fase da elaboração do QREN. Relativamente à requalificação urbana, estão em curso os trabalhos de beneficiação dos passeios das Avenidas Eng.º Adelino Amaro da Costa e Dr. Francisco Sá Carneiro. Também a Rua da República vai ser beneficiada, sendo esta uma intervenção mais profunda que contempla o alargamento da via. Até ao momento, a Câmara Municipal de Mação está a suportar os custos a 100%. Aguarda a abertura do concurso no QREN para parcerias de regeneração urbana - Eixo prioritário 2. MJR


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HERDADE DE CADOUÇOS - RECOMENDADA PELO GUIA MICHELIN

JOSÉ EDUARDO MARÇAL *

Estratégias e tácticas “Estratégia” – utilização de um conjunto de planos, recursos e meios para atingir um objectivo; “Táctica” – forma de organização dos recursos para alcançar resultados a curto prazo que contribuem para um objectivo estratégico. Um dos erros mais comuns, em que os menos atentos facilmente incorrem, é a confusão entre a acção estratégica e a acção táctica. Para evitar cometermos este vulgar erro, convém relembrar alguns ensinamentos de dois “velhos mestres”. Refiro-me a Sun Tzu e a Fábio Máximo. Enquanto o primeiro é sobejamente conhecido na área da estratégia militar e de gestão, o segundo apenas sobrevive, na minha opinião de forma injusta, no conhecimento dos historiadores e dos entusiastas pelo tema. Sun Tzu ensinou-nos que o conhecimento pormenorizado das nossas qualidades e dos nossos adversários é condição necessária para o sucesso da nossa estratégia. A importância da utilização eficaz do conceito do conhecimento nas sociedades modernas é um dos factores que diferencia uma sociedade desenvolvida, competitiva e solidária de uma sociedade retrógrada e disfuncional. Fábio Máximo é um dos mais brilhantes tácticos que o mundo conheceu. Concebeu as chamadas “Tácticas Fabianas”, que salvaram Roma da aniquilação perante a genialidade militar de Aníbal Barca. O seu ensinamento consistiu apenas em perceber que não se deviam travar batalhas em condições desfavoráveis e perante adversários superiormente motivados e organizados. Pelo que impôs uma guerra de desgaste impedindo o acesso dos Cartagineses a recursos e meios adicionais. Mas como aplicar estes ensinamentos à moderna política portuguesa? A primeira ilação a retirar, em especial pelos partidos políticos do arco do poder, é a identificação do objectivo e do adversário. Mas ao contrário do que alguns responsáveis políticos percepcionam, o seu objectivo primário não reside na derrota do partido do poder ou do opositor. Não se trata de adquirir vitórias eleitorais sequenciais. Não se trata de coleccionar autarcas ou deputados. O objectivo é só um: existência de uma sociedade de liberdade, moderna, desenvolvida, humanista e solidária. Uma sociedade em que a felicidade de todos seja um desígnio também de todos. Os adversários são igualmente identificáveis. O subdesenvolvimento, o obscurantismo, a intolerância e as injustiças sociais. Espero que a gestão da autarquia onde resido partilhe destes valores e que não sucumba à tentação de governar apenas para o agrado de alguns. * Engenheiro Civil, Ex Governador Civil do Distrito de Santarém

“Um consumidor esclarecido é um consumidor fiel” Com música, podia ser assim: “Verde, amarelo, azul e branco”. São as cores deste pedaço do paraíso inaugurado em 2003 e feito de paz e sossego, do verde natural e do azul das 9 lagoas, do amarelo e branco das unidades de alojamento, da gastronomia local e do vinho premiado. A história é fácil de contar. Juvenal Ferreira da Silva é um industrial de cortiça e veio pelo montado de sobro, que aqui é muito bom. Acabou por comprar a propriedade, de 600 ha, em 1998. Estava muito degradada. Começou por limpá-la e ao chegar ao casario, que estava em ruínas, começou a recuperá-lo. E saltou-lhe a ideia do turismo rural, como complemento da exploração florestal. Quem no-lo diz é Ana Cristina Ventura, arqui-

tecta e esposa de Juvenal Silva, que agarrou o projecto e agora o dirige. Com êxito, como se sabe. O êxito não cai do céu. No caso, é resultado de um estudo cuidado de tudo o que tem a ver com a zona, desde as cores ao mobiliário, passando pela gastronomia. E por um igual cuidado na produção do vinho. “Logo de início, foram escolhidos na propriedade os melhores locais para a vinha, por isso ela não é contínua, e escolhidas as melhores castas para cada local. Além disso, desde o início que apostámos na agricultura biológica.” São as palavras de Ana Cristina, que fala do projecto com um brilho nos olhos. “Foi este cuidado desde o princípio que nos permitiu usar logo em 2007 o primeiro selo da Ecocert”, um organismo de controlo e certificação pre-

sente em 80 países. Contudo, não se tratava apenas de fazer um vinho de qualidade. “Queremos mostrar o que o vinho é, com a sua história, com a herdade, toda esta zona, e mesmo uma filosofia de vida. Por isso os rótulos com as cores da herdade, todo o cuidado ecológico nas tintas, a ausência de cápsula na garrafa. Todo o consumidor tem o direito de escolher, de saber o que está a comer e a beber. E um consumidor esclarecido é um consumidor fiel.” Há um carinho especial posto em tudo. No restaurante, no hotel, no espaço natural. E o êxito não se fez esperar. Mas o grande salto veio de surpresa. Quando o Guia Michelin veio anónimo visitar o empreendimento e deuo como “recomendado”. A partir de 2008 começaram a afluir clientes do estran-

geiro. Já antes vinham de toda a região. Curiosamente, embora algumas empresas e organismos já utilizem a Herdade de cadouços para os seus eventos, são os abrantinos os que aparecem menos por iniciativa própria. Talvez porque, por estarem perto, ainda não tenham descoberto o restaurante em que sobressaem o pernil, o bacalhau lascado com migas, o achigã pescado ali mesmo, e a caça também da herdade. E a possibilidade de conjugarem uma refeição com o prazer da paisagem. É isso - o prazer da paisagem, da cozinha de toque alentejano e do vinho certificado, do espaço para as crianças estarem à sua maneira, da paz tranquila do campo, do cuidado posto em tudo. Na Herdade de Cadouços. Alves Jana


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Nova valência no Hospital de Abrantes Dentro em breve vai ser criada uma nova valência no Hospital de Abrantes. A Unidade de Cuidados Continuados de Convalescência vai passar a funcionar no piso 10. António Mor, vogal do executivo do Conselho de Administração do CHMT, adianta que “será necessário realojar alguns serviços que funcionam neste piso, como a farmácia, para libertar por completo o piso 10. Vai por isso ser criada uma nova farmácia, no próprio edifício”. Ainda este ano vão ser feitas obras em alguns serviços desta unidade hospitalar, como é o caso da Urgência, a criação de uma nova cozinha e de um novo refeitório. “Todas estas obras terão um investimento superior a cinco milhões de euros, no seu conjunto. O concurso ainda não está lançado, e desta forma ainda não existe va-

lores seguros a avançar.”, adianta António Mor. Refere ainda que no caso da Urgência “haverá apenas uma remodelação do serviço, vão ser melhoradas as condições. Por exemplo, a zona da triagem vai ser adequada às necessidades. O atendimento e a zona de espera vão ser remodeladas. A zona da recepção dos adultos e das crianças vai ficar bem delimitada”. Já foi estabelecido um protocolo para a criação da nova cozinha e do novo refeitório. “Enquanto a cozinha estiver a ser remodelada vai funcionar nos moldes actuais, através do sistema de cook chill”. Actualmente as refeições já estão devidamente embaladas, e depois são preparadas e distribuídas no refeitório e nas enfermeiras. Maria João Ricardo

Campanha a favor do CAT Como foi público, o Jornal de Abrantes e a Antena Livre lançaram na época do Natal uma campanha para aquisição de uma máquina de lavar a oferecer ao CAT. Acontece que o produto recolhido na campanha não foi suficiente para pagar aquele electrodoméstico. Contudo, a Administração entrou em negociações para que, mesmo assim, a oferta pudesse ser concretizada. Porém, no momento em que a solução estava encontrada, teve conhecimento de que um conjunto de cida-

dãos tinha decidido adquirir uma máquina de lavar para oferecê-la ao referido CAT. Óptimo. Porque, deste modo, o CAT pode ver satisfeitas outras necessidades. No fecho desta edição as “negociações” estão ainda a decorrer com vista a uma decisão sobre o que pode ser oferecido ao CAT com vista a que as crianças ali acolhidas o sejam em melhores condições. De qualquer modo, desde já, cumpre agradecer a todas as pessoas que participaram da referida campanha.

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ESCOLAS EM OBRAS

• Maquete da proposta apresentada.

Escola Manuel Fernandes de novo com obras de fundo Ainda mal se calaram os ecos dos martelos e já se anunciam novas obras de fundo na Escola Manuel Fernandes. Não são apenas obras de conservação, mas uma intervenção que vai alterar a própria estrutura da escola. Para simplificar, podemos dizer que, do que existe, apenas vai ficar o bloco central, o auditório (antiga capela) e a velha residência de estudantes. Ou seja, vão deixar de existir os blocos de aulas de um só piso e o ginásio. Será construída uma estrutura de ligação do bloco central à velha residência e construído um novo espaço para ginástica além de uma estrutura

apenas coberta. No lugar dos actuais blocos de um piso para aulas, vai nascer um espaço arborizado. O bloco central, de 5 andares, vai ter acesso pelo exterior nos topos, única forma de garantir um mínimo de segurança num edifício tão povoado. Para lá desta alteração estrutural dos corpos edificados, vão ainda ter lugar alterações funcionais significativas, mas ainda é cedo para adiantar pormenores nesse domínio, dado que a escola, que aceitou o projecto na globalidade, propôs algumas alterações. Recorde-se que esta escola funciona num conjunto de edifícios construídos para colégio interno, que

nunca foram verdadeiramente adaptados à sua nova função. Registe-se ainda que a escola teve recentemente obras de conservação durante mais de dois anos, as quais não deixaram ninguém satisfeito. Se tudo correr como está previsto, no próximo mês de julho ou agosto vai ser instalado o estaleiro do construtor. Mas também pode ser que não, pois ainda não foi afastada em definitivo a hipótese de abandonar as actuais instalações e construir de raiz, noutro lugar, uma escola nova. Além da Escola Manuel Fernandes, vai entrar em obras proximamente a Es-

cola Miguel de Almeida e na Escola Solano de Abreu são já visíveis os novos corpos que vão dar uma nova orientação e mesmo uma nova entrada ao conjunto escolar. Em Vila Nova da Barquinha, a Escola Secundária via também entrar em obras de qualificação. Em todos estes casos, trata-se de obras da responsabilidade do poder central. Se a estas somarmos as que são da responsabilidade das autarquias, é fácil darmo-nos conta de que está a ocorrer uma profunda transformação no parque escolar deste nosso território. Alves Jana

o jornal de abrantes on line em www.oribatejo.pt


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ANTENA LIVRE

ARMANDO FERNANDES

Ainda o Museu Para a maioria da população abrantina a construção do Museu de Arqueologia e Arte não é uma causa determinante. Nem estruturante. Será uma causa interessante, se o Museu originar mais visitantes, mais almoços e jantares vendidos, mais camas ocupadas. Será uma causa desesperante caso venha a converterse num elefante branco. O Museu pode converter-se num pequeno Midas regional pela audácia da sua programação, a criatividade das acções culturais, o fulgor consequente e prolongado dos efeitos gerados por parcerias e projectos de cooperação. No mais importa estabelecer um modelo de gestão capaz (não me alongo em citações) de forma a contemplar a diversidade na unidade, a coerência no alcance dos objectivos expressos em múltiplos actos e a sua perenidade enquanto equipamento cultural de primeiro plano. Dirá o leitor: e o projecto? De médico e louco todos temos um pouco, aviva o rifoneiro, por assim ser acresce-me a memória a recordação de inúmeras e violentas polémicas originadas por divergentes conceitos estéticos, éticos e morais em torno de determinadas criações. Lembro a indignação que as obras de Kokoschka causaram na estilizada sociedade vienense, a polémica de Le Corbusier, o facto de os nazis terem banido a arte moderna, obrigando os líderes do movimento expressionista a exilarem-se, ou mais paroquialmente, os efeitos produzidos pela primeira exposição dos surrealistas. No entanto, passada a espuma dos dias, apenas os ortodoxos, pseudo-génios ressabiados e os autores de estéreis e escassos projectos ficam a sussurrar ou a regougar impropérios contra o autor que ousou beliscar o seu umbigo, e “roubar-lhe a possibilidade de serem eles, eles e só eles. Sou dos poucos felizardos que tiveram o privilégio de passarem algumas horas na Bauhaus a contemplar projectos debaixo da orientação desse grande Senhor Arquitecto que foi Fernando Távora. Verdadeiro fidalgo na acepção da palavra, Mestre Távora ensinou os presentes a entender Groupius, e enquanto as cerradas sobrancelhas subiam, os olhos prenhes de fulgor concediam maior evidência às palavras, mais ou menos estas: os arquitectos têm de alcançar espaço para serem livres de conceber projectos com diversas proporções e múltiplos materiais. Os nazis não entenderam assim, a famosa casa de Dessau foi fechada. Mas as obras dos discípulos de Gropius venceram o escárnio e hoje são obras-primas da Humanidade. O Museu será um enorme benefício para a região.

• Sousa Casimiro nos primeiros tempos da RAL.

Dar a volta por cima aos 30 anos A rádio Antena Livre cumpriu 29 anos de vida no passado dia 21 deste mês de Janeiro. Augusto Martins, um dos fundadores da Rádio Antena Livre, esteve aos microfones da estação emissora a recordar com emoção os “bons velhos tempos” dos primeiros passos. Com ele, Alves Jana, actual director, afirmou que a rádio, que coabita com o JA, prepara um conjunto de iniciativas a assinalar o ano 30 e a lançar um projecto de renovação e reforço para enfrentar os próximos tempos, que vão ser

difíceis. “Em momentos de crise, é preciso reinventar o futuro, em vez de ficar à espera que nos seja favorável”, afirmou. Preferiu, contudo, não levantar muito o véu sobre o que vai ser feito, sob pretexto de que “não gosto de prometer”. Mas anunciou uma nova edição da Gala Antena Livre, a preparação de uma obra sobre os 30 anos da Antena Livre e o início, logo no dia seguinte, com Nelson de Carvalho, de um conjunto de cronista que passam a intervir na informação do meio dia. Por fim, Alves Jana e Augusto Martins lançaram o desa-

fio à constituição, por doação ou depósito, no Arquivo Histórico, de um núcleo documental sobre a Antena Livre. Recorde-se que a Rádio Antena Livre nasceu em Arreciadas, em1981, ainda como rádio “pirata”. Chega a liderar o movimento das rádios livres, a nível nacional, com vista à legalização das rádios locais. Em 1989, dá-se a legalização. A frequência fica então detida por uma cooperativa formada para o efeito. Em 1990, a rádio muda-se para a cidade de Abrantes, no centro histórico. Em 1997, muda-

se para novas instalações, que ainda hoje ocupa. Em 2001, a frequência é adquirida pela Sojormedia, do Grupo Lena, com a empresa detentora da frequência a denominar-se Media On. Em 2009, passa a coabitar, com redacção integrada, o JA. Deste modo, em 2011 fará 30 anos. Ao longo da sua existência, o serviço prestado tem sido reconhecido tanto por autoridades locais como por empresas e, como é óbvio, por tantos ouvintes que têm a Antena Livre como fonte de informação, de formação e de companhia.


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ACTUALIDADE

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ECONOMIA LOCAL

Crise em saldos A crise anda por aí, mas não é igual para todos. E isso sente-se nas várias casas comerciais, que têm clientelas muito diferentes. Para palpar o pulso à situação, fomos ver como vão os saldos. Que oficialmente vão de 28 de Dezembro a 28 de Fevereiro.

Chez Titôt

E tem mesmo uma atitude positiva para 2010: “A crise vai passar, não vai? Não podemos ser pessimistas.”

Ponto Negro

dos é que é pior, “vem um período grande em que nem saldos nem sem saldos, há pouco movimento. O Carnaval, por exemplo, é muito fraco. Pelo menos aqui. Em Ponte de Sor, onde também teve casa, era mais animado, porque no sul o Carnaval tem mais movimento, mas nesta zona é muito parado.”

Associação Comercial

António José Gonçalves, presidente da direcção, considera que os saldos estão a ser uma boa oportunidade. “Basta andarmos por aí e encontramos reduções de 30%, 40%, 50% e mesmo 70%. Para quem compra é uma situação agradável.” E para quem vende? “Para quem vende, é claro que a margem de negócio fica mais curta. Mas há diferenças. Alguns comerciantes têm que fazer saldos, porque trabalham com colecções e, por isso, têm de desfazer-se do produto anterior para partirem para novas colecções. Já os comerciantes mais tradicionais podem esperar, o que não venderam este ano vendem no próximo.” E há ainda “as casas que nem entram em saldos, venderam tão bem que não precisam, têm a mercadoria despachada.” De modo geral, “o comércio tradicional está a sentir mais dificuldades e se o Governo liberalizar os horários das grandes superfícies, fica ainda pior”. Mas dificuldades acrescidas estão a passar “as lojas de artigos desportivos, sobretudo pela abertura da Sport Zone, Por isso a Associação Comercial está a apoiá-las através do programa Dinamizar. Por exemplo na criação de páginas na Internet, para poderem vender on line.” Quanto ao ano que passou, “não foi um ano bom. Teve mesmo alguns meses maus, sobretudo quando se falou mais de crise, se viram os bancos a abrir falência e, ainda por cima, veio juntar-se a gripe. Mas pelo Natal houve uma recuperação significativa.”

Leontina Alves da Silva diz que os saldos “não vão muito bem, mas vamos vendendo, uns dias mais, que compensam aqueles em que se vende menos”. Numa coisa está segura, “não é um ano ideal”. E relativamente ao ano anterior? “Este ano está um pouquinho pior.” O Natal foi “mais ou menos, um pouco pior que no ano passado, mas não correu mal.” E o que agora se inicia prevê-se “mais ou menos”. Quanto ao tempo dos saldos, diz que “é sempre de aproveitar, é uma boa oportunidade” e na sua loja “tudo o que fica entra em desconto”. Utiliza toda a época de saldos porque não abre a estação muito cedo. “Eu não compro colecções. O que se encontra agora é uma meia estação, que se revela pouco adequado ao estado do tempo. Por isso, não me interessa ir às compras muito cedo. Abro no princípio de Março.” Mas sente que o clima está a mudar e talvez tenha de rever a sua estratégia de compras.

Juvenatus

José Reis, responsável pela loja, diz que os saldos “já tiveram dias melhores, mas para a crise que está, as coisas não vão mal”. E não é só a crise. “Há uns anos atrás, estava tudo à espera dos saldos, mas agora a oferta é muita.” E os preços competitivos durante o ano todo, parece dar a entender. O Natal “não correu mal, foi mais ou menos como no ano passado, talvez um bocadinho melhor.” Quanto ao tempo em que se mantêm em saldos, explica: “Não levamos os saldos até ao fim, porque temos liquidez e começamos a receber roupa das novas colecções.”

Casa Varela

Rulys

Carlos Ferreira abre um sorriso e diz com segurança que “os saldos estão bem, até ao momento, e que o Natal superou as expectativas”. É para compor a imagem? “Não, é verdade, mesmo nas outras lojas do grupo. A crise existe, mas nestes momentos o dinheiro aparece. Veja-se em Lisboa, até há filas para os saldos.” E este ano “o Visa até foi menos utilizado”. Não é fácil de perceber se por haver mais dinheiro disponível ou por as pessoas quererem recorrerem menos ao crédito. Quanto ao período dos saldos, “só até 15 de Fevereiro. Há colecções novas a chegar e temos produtos novos já em armazém.” Como quem diz, há que partir para outra, porque “não se pode parar.”

Gino-Sauna

Palmira Lopes, responsável pela loja, sente que “perante a crise que estamos a atravessar, os saldos estão a correr bem”. Com a boa ajuda de 70% de desconto, diz a montra. Mesmo assim, “talvez um pouco mais fracos que no ano passado”. Já o Natal “correu bem”. E explica: “As pessoas têm dado sinal da crise, mas em alturas como o Natal e os saldos, comparecem.”

Simão Varela explica que “quanto maior for a crise, melhor funcionam os saldos.” Por isso, este ano estão “um pouco melhor, porque há menos movimento nas outras ocasiões.” Já o Natal, “foi mais fraco”. Isto porque “as pessoas esperam pelos saldos.” E em parte porque “as casas de Lisboa e Porto começam os saldos logo depois do Natal e obrigam as outras a entrar também, e assim dão cabo do negócio” no tempo natalício. Nas suas duas lojas os saldos “vão até ao fim, mas às tantas o movimento já é pouco.” A seguir aos sal-

Perpétua Catarino responde de imediato que “isto está fraco”, aliás, “na linha de há um ano para cá. Há uma quebra de vendas, mesmo com saldos. As pessoas não têm dinheiro. Vem muito pouca gente à cidade e a que

vem não tem dinheiro.” Já o Natal “foi muito mais fraco que o do ano passado. Como todo o ano de 2009. E quem disser o contrário está a mentir.” Isto porque “toda a cidade está parada”. Pensa que não tem a ver com o produto que vendem. “Não, as pessoas não têm é dinheiro. E as que têm vão para fora. Uma das responsáveis é a A23, que leva as pessoas para fora. E os novos espaços que vão abrindo em Abrantes também tiram as pessoas do centro. As pessoas não vêm cá acima. E este ano choveu muito, e como estacionamento é muito longe, as pessoas não vêm.” Por isso, diz que “é preciso trazer as pessoas cá acima.” É um recado. E com uma crítica: “A nossa Associação Comercial também não faz grande coisa, é pouco dinâmica.”

A Outra Sapataria

Teresa Aparício diz dos saldos que “uns dias são melhores que outros, às vezes depende até do tempo.” Mas, sobretudo, é imprevisível. “Às vezes pensamos que vamos fazer um bom dia, e não vendemos nada, noutros não pomos grande confiança e acaba por ser bom.” Por isso, “é preciso ter muita paciência, uma grande disponibilidade”. Já o Natal “não foi tão bom como se pensava, mas, face às dificuldades, vendeu-se o razoável.” Também nessa altura os dias eram incertos. “Houve dias em que lembrava o Natal, mas noutros parecia outra época qualquer. Há alguns anos atrás vendia-se muito no Natal, mas hoje as pessoas dão muito mais valor a cinco euros que há uns anos a 50 euros. As pessoas, agora, ponderam mais. Quando compram, já fizeram a via sacra a comparar os preços. ” Sobretudo as pessoas de cá. Isto porque “temos clientes de fora, até de Lisboa, que vêm para comprar a marca que sabem que temos.” Alves Jana


ACTUALIDADE

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Solidariedade com Cabo Verde AAssociaçãodeGeminação de Abrantes promoveu um espectáculo de solidariedade com o município de Ribeira Brava, da ilha de S. Nicolau, de Cabo Verde, com o qual o município de Abrantes está geminado. No outono passado, aquela ilha foi vítima de duas tempestades que lhe provocaram profundos estragos. Agora o Grupo de Teatro Palha de Abrantes e o Cant’Abrantes deram corpo ao projecto. Entre o valor das entradas no espectáculo e donativos, o resul-

tado foi de 944 euros, que vão ser enviados para ajudar à reconstrução de equipamentos escolares de Ribeira Brava. “Embora o resultado financeiro seja modesto, consideramos que o balanço humano foi muito elevado”, disse o presidente da Associação. Recorde-se que a Associação de Geminação tem em curso o Projecto Padrinh que conta com cerca de 250 padrinhos apoiam outros tantos afilhados carenciados da Ribeira Brava a concluírem a escolaridade obrigatória.

Vale do Cabril é uma “maravilha natural”

• A Lapa. A candidatura é só dali para cima. O Vale do Cabril, situado na Freguesia de Alcaravela, Concelho de Sardoal, é uma das belezas naturais candidatas às “7 Maravilhas Naturais de Portugal”. A eleição vai ocorrer em setembro deste ano, mas o Vale do Cabril já ganhou a atenção pública e a admissão ao concurso, portanto o estatuto de maravilha a descobrir. A candidatura, apresentada pela Câmara Municipal, já foi aceite e aprovada pela “New 7 Wonders Portugal”, a entidade que enquadra oficialmente esta iniciativa que visa a protecção e valorização do património natural, ambiental, paisagístico e biodiversificado.

O Vale do Cabril estendese desde a Rosa Mana, na aldeia da Presa, até à Barragem da Lapa, na aldeia de Entrevinhas. Possui uma ribeira que o atravessa em toda a sua extensão e onde, em tempos idos, laboraram várias azenhas. Essas azenhas, agora desactivadas, permanecem ainda como marca indelével da História. O Vale comporta densa vegetação, amieiros e salgueiros e as suas águas são límpidas e cristalinas. O local vai oportunamente ser sujeito à apreciação de especialistas, e as “7 Maravilhas Naturais de Portugal” serão depois votadas pelo grande público.

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UM DIA PELA VIDA

Abrantes unida contra o cancro O projecto Um Dia Pela Vida (UDPV), que decorre em Abrantes até 20 de Março conta já com 59 equipas inscritas com um total de cerca de 950 pessoas. Uma parte significativa das equipas está já a desenvolver actividades de sensibilização para a problemática da prevenção do cancro e para angariar fundos a favor da Liga Portuguesa Contra o Cancro. À hora de fecho desta edição, a verba angariada já deve ultrapassar os 17.000 euros. Aqui ficam algumas das iniciativas previstas até final de Fevereiro. Um jantar com Mico da Câmara Pereira, no restaurante S. Lourenço, no dia 29 de Janeiro. Uma caminhada em Alferrarede com o ponto de encontro nos pavilhões da Quimigal às 10h do dia 31 de Janeiro. Actividade com chá e bolos e uma venda de licores caseiros, compotas, frutos secos e artesanato local, no “Espaço Côro” perto do Pelourinho de Sardoal, das 10h às 12h e das 15h às 19h, no dia 31 de Janeiro.

Uma sessão de esclarecimento sobre a Liga Portuguesa Contra o Cancro é seguida pela actuação dos grupos Cavaquiarte, Danças da Associação Juvenil Cem Rumos de Vale das Mós e Cant´Abrantes. Também haverá uma venda de doces, bolos e salgadinhos. Tudo no Recinto de Festas de Vale das Mós, com início às 15:30h, n dia 31 de Janeiro. O Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, 4 de Fevereiro, dá lugar a uma actividade inter-escolas (Dr. Manuel Fernandes, Dr. Solano de Abreu, D. Miguel de Almeida, Escola de Tramagal, Escola de Alvega e Escola Luís de Camões de Constância). Uma palestra de sensibilização, às 10h, e uma largada de balões às 12h e uma venda de t-shirts e os balões são os pratos fortes. Um rastreio da glicémia na Farmácia do Pego, das 9h às 13h, no dia 5 de Fevereiro. A peça Amor Intemporal, encenada por Ricardo Carriço, que estará presente, sobe à cena no Cine-teatro S. Pedro,

em Abrantes, no dia 6 de Fevereiro pelas 21h. um concurso de sopas com a participação dos restaurantes do Concelho e um leilão de peças oferecidas pela comunidade local vão realizar-se no salão da escola do 1º Ciclo de Rossio ao Sul do Tejo, no dia 6 de Fevereiro. O Dia das Sopas decorre na Assembleia de Abrantes, ao almoço, no dia 13 de Fevereiro. Quem quiser poderá levar a sopa para casa. Para isso basta levar o recipiente ou adquirir um no local, fornecido pela equipa. Um Baile de Carnaval, destinado a toda a família, decorre na Associação da Abrançalha, do almoço até às 22/23h, no dia 13 de Fevereiro. Três prémios (um cabaz de compras, um bacalhau e um garrafão de 5 litros de azeite) são sorteados no dia 14 de Fevereiro. Além disso, algumas actividades continuadas permanecem no terrenO: venda de “Flores Saborosas”; venda de bolos, e laços cinzentos e encarnados, aos sábados nos jogos de futebol dos jovens; venda quinzenal de pão casei-

ro, bolos, compotas, frutas entre outros produtos, no mercado do Pego, a partir das 8:30h; uma quermesse no centro da cidade, todos os sábados de manhã; controlo de glicemia na Farmácia Santos, no Rossio; vender bombons, chás e ervas aromáticas em diversos estabelecimentos comerciais da cidade; o posto de combustível da Petroibérica em Abrantes, nos meses de Janeiro e Fevereiro, por cada litro de combustível vendido oferece 1 cêntimo para o projecto UDPV de Abrantes. A loja InforEco, loja de tinteiros e toners, situada junto à Câmara Municipal, adoptou o slogan “se arredondar, está a ajudar” e por cada compra efectuada neste estabelecimento, se o cliente arredondar a sua conta, a diferença reverterá para o UDPV. Os cafés Café Arcada e o Café Pôr do Sol, da Chainça, o Café Bela, de Alvega, o Café Costa, o Café Neto, o Café Silveira, o Café da Casa do Povo e o Bar Arafat, todos de S. Facundo, como “Cafés Unidos Pela Vida”, doam 5 cêntimos por cada café vendido.


Aniversário da ESTA

Conselho Geral do IPT já tem presidente P. 10 PUB

www.nyb.pt

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U U JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL » ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA DE ABRANTES » INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR

AMNISTIA QUER VOLTAR A TER NÚCLEO EM ABRANTES Presidente da Amnistia Internacional Portugal, Lucília José Justino, em grande entrevista P. 4 e 5

Mau tempo prejudica corridas de aventura Aldeia do Mato recebeu a penúltima etapa do Adventure Race World Championship (ARWC). P. 8

Presidente de S. João concorda com a mudança da ESTA Alfredo Santos reconhece que Alferrarede tem mais condições mas espera que os alunos continuem no centro histórico. P. 7

GONÇALO REIS

Contestação Helena Cardinal critica a proibição de utilização de animais nos circos. Garante que os seus animais são bem tratados e não percebe por que razão a lei não se aplica a todos. P. 3

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Avenida D. João I, n.º270 Abrantes


2 | ESTA JORNAL • Janeiro 2010

OPINIÃO Uma nova era Hália Costa Santos

edito r ial

Esta é a vigésima vez que os alunos de Comunicação Social da ESTA fazem uma edição do ESTAJornal. Como já aconteceu ao longo dos últimos anos, de vez em quando surgem novidades que resultam de novas opções, sempre tomadas com a intenção de melhorar ou de experimentar novas estratégias. Esta edição do ESTAJornal tem a particularidade de espelhar uma nova aposta, com mais exemplares e mais distribuição a nível regional. Ao ser distribuído com o Jornal de Abrantes, o ESTAJornal pretende chegar a pessoas e locais da região que, provavelmente, não sabiam que este projecto existe. Agora ficarão a saber. Em simultâneo, a equipa que faz este jornal decidiu desenvolver um projecto paralelo, para um outro tipo de público, com conteúdos mais diversificados e, também, com a reprodução dos artigos

E STATUTO EDITORIAL •O ESTA é um jornal de Escola, de pendor assumidamente regional, mas que nem por isso abdica da dimensão de um órgão de grande informação ou da ambição de conquistar o público para além do meio universitário.

que se publicam nesta versão em papel: www.estajornal.com. Também por isso, a versão em papel surge com menos páginas: muitos dos conteúdos produzidos pelos alunos serão alojados no online. No ESTAJornal disponível na Internet, os alunos têm um novo campo de experimentação. Com o passar do tempo, com o aprofundamento das práticas e com o desenvolvimento de parcerias com a comunidade empresarial, esta será uma plataforma multimédia, acolhendo conteúdos produzidos pelos alunos em diferentes formatos, nomeadamente audiovisuais. Os dois suportes de comunicação do curso de Comunicação Social entram, pois, numa nova era, com os olhos postos no futuro, mas também com especial atenção à comunidade onde a ESTA/IPT está inserida. Para além disso, em ambos os casos, os jornais serão, necessariamente, um espaço onde se dará destaque ao projecto educativo e profissionalizante do IPT, em todos os seus contornos.

pública informada, emancipada e inter veniente - condição fundamental da democracia e de uma sociedade aberta e tolerante.

Votou? Agora pague as contas João Ruela

P

rimeiro anunciado, agora confirmado: a taxa de desemprego em Portugal superou os 10%. A Eurostat apontou, em Dezembro de 2009, para uma percentagem de desemprego de 10,2%, os maiores números alguma vez registados desde que o instituto começou a recolher os dados, em 1983. Na anterior publicação, o desemprego situava-se nos 9,2% em Setembro, registando-se, assim, um aumento de um por cento. No passado dia 20 de Agosto, precisamente a um mês das eleições, o Governo apresentou a garantia formal que o défice não ultrapassaria os 5.9% Três meses depois – e após o fim das eleições, sublinhe-se – o Governo aponta, humildemente, para um défice de 8,4%. Um erro de 2,5% do PIB em apenas 3 meses. O Governo olvidou-se

de mencionar que estava prevista uma margem de erro que entraria em vigor após as eleições. O anunciar das diversas estatísticas consiste em novidade apenas para o leitor de imprensa. O Governo está – e esteve, ao longo de toda a campanha – ciente da crise orçamental e financeira que o país atravessa. A urgência de adaptar a lei do subsídio de desemprego à actual situação deverá estar em trânsito. Se estiver em auto-estrada, pior ainda: mais caro fica. A implementação de um pagamento efectivo do subsídio de desemprego, como referiu Franciso Louçã após análise dos dados apontados pela Eurostat, custava menos que o desvio de preços das auto-estradas. Contudo, o menos caro também custa ao Governo, e falta instalar wireless no TGV e

Nem sempre em segundo lugar Henrique Scherer

•A democracia participativa e entendida para além da sua dimensão meramente institucional, o pluralismo, a abertura e a tolerância são os valores primaciais em que se alicerça a atitude do ESTA Jornal perante o Mundo.

• O ESTA Jornal adopta como lema e norma critérios de rigor, de absoluta •O ESTA Jornal considera-se independência e de pluralismo dos responsável única e exclusivamente pontos de vista a que dá expressão. perante a ambição e a exigência dos seus redactores, alunos do Curso • O ESTA Jornal aposta, por isso, numa de Comunicação Social da Escola informação plural e diversificada, Superior de Tecnologia de Abrantes procurando abordar os mais diversos e perante o público a que se dirige. campos de actividade numa atitude de criatividade e de abertura perante O ESTA Jornal está por isso plenamente a sociedade e o Mundo. disponível e empenhado com os leitores, comprometendo-se a manter •O ESTA Jornal considera como canais de comunicação abertos com parte da sua missão contribuir quantos connosco queriam partilhar para a formação de uma opinião as suas ideias e inquietações.

E

m tempos de crise econômica, as estatísticas costumam corroborar a tensão geral que a população enfrenta. Quando se pensa nos índices de desemprego, então, a calamidade parece ainda maior. Agora, depois da tempestade, começa a se enxergar os primeiros sinais de tempo ensolarado: o desemprego no Brasil está em queda contínua. Em números absolutos, são quase 15 milhões de brasileiros – praticamente como

FICHA TÉCNIC A DIREC TORA: HÁLIA COSTA SANTOS EDITORA EXECUTIVA: SANDRA BARATA

se todo Portugal e toda a Finlândia estivessem desocupados – mas em percentagem isso equivale a 7,5% da população. Talvez privilegiado por ser uma economia em desenvolvimento, o Brasil certamente não possui uma força de trabalho ou uma demanda tão expressiva como a China, a fábrica do mundo, mas conseguiu fazer uso de sua posição de eterna “promessa para o futuro” para atrair investimentos externos, mesmo

REDACÇ ÃO: ANA ISABEL SILVA, CÁTIA ROMUALDO, CLÁUDIA FERREIRA, DANIELA SANTOS, GONÇALO REIS, HENRIQUE SCHERER, JOANA RATO, JORGE CORDEIRO, NUNO SOT TOMAYOR, PRISCILA CANIÇO, SARA

construir uma pista de bowling em Alcochete. O problema reside na incompreensão dos portugueses face às soluções anunciadas por Sócrates durante a campanha. As medidas anunciadas para a redução do desemprego eram, na verdade, as medidas estudadas para a vitória nas eleições. Culpa nossa, culpa nossa! Os ecos da crise estendem-se até ao oportunismo dos patrões, que vão aproveitando para despedir funcionários, procurando a justificação da crise para rescindirem em mútuo acordo. Deveria ser concebido um incentivo às pequenas e médias empresas para que criem postos permanentes de trabalhos nos seus diversos ramos, bem como a promoção de contratos efectivos. Ricardo Araújo Pereira, o mesmo que esmiuçou José Sócrates, em artigo de opinião: “Onde fica Portugal? Na cauda da Europa. Não se sabe que bicho é a Europa, mas lá que tem uma cauda é garantida. E não há dúvidas nenhumas de que Portugal está nela sozinha.” Não há motivo para desespero. Estamos perante um novo mandato de José Sócrates e – agora sim! – vamos continuar na cauda da Europa. Votaram? Agora está na altura de pagar as contas. Pois, com o desemprego, também não há como pagar.

após o estouro da crise há cerca de um ano. Por outro lado, o país não esteve completamente imune à ameaça. Estima-se que, do fim de 2008 até o começo deste ano, cerca de 750 mil postos de trabalho tenham sido eliminados; nos Estados Unidos, Europa e Japão, no entanto, as demissões em massa de grandes empresas continuam, mesmo após o término do período mais crítico da economia. O certo é que, para superar a crise, a economia brasileira começou a olhar muito para si própria. De repente, a exportação começou a perder um pouco da importância no Brasil, já que o consumidor interno ignorou, em grande parte, toda essa situação. O mercado interno, antes posto em segundo lugar por muitos, começou a ser mais valorizado pelas companhias e, por fim, o brasileiro também começou a aprender que não está, afinal, sempre em segundo lugar em tudo.

PEREIRA, TÂNIA MACHADO.

PROJEC TO GRÁFICO E PAGINAÇ ÃO: JOÃO PEREIRA

TIRAGEM: 15000 EXEMPLARES


Janeiro 2010 • ESTA JORNAL | 3

DESTAQUE Helena Cardinal, em entrevista, sobre a proibição de animais nos circos

“Andavam a matá-las para tirar a pele”

GONÇALO REIS

Desde 12 de Janeiro que é proíbido comprar e reproduzir animais selvagens. Helena Cardinal diz que sem animais o principal público deste circo vai desaparecer. Priscila Caniço

Em que sentido esta nova lei a afecta? Esta lei é horrível, só em Portugal é que existe. Estive ausente durante 22 anos deste país, na Dinamarca, França, Alemanha, entre outros, a fazer espectáculos, e nunca aconteceu nada de anormal como agora. Há vários anos, nos Campos Elísios, toda a comunidade circense espalhada pela Europa fez uma grande manifestação, para continuar com os espectáculos de animais selvagens. Devido a essa posição, nós conseguimos que isso não fosse avante. Aqui, em Portugal, somos muito inferiores. Existe também outro assunto relacionado: as corridas de Toiros. Aí é que molestam os animais em praça pública em frente de todos, mas quando existem poderes de pessoas influentes no país, a evolução das tomadas de posição toma outro rumo. Apesar de eu ser a favor das corridas, é algo com tradição que se deve

preservar. Continuo sem entender por que razão só nós fomos afectados. Sem animais o nosso público principal vai deixar de vir; as crianças adoravam ver os animais: as focas, leões, papagaios, elefantes, etc… Os Zoomarines também são circos, mas nesses casos não proibiram os animais selvagens como os golfinhos ou as focas! Fazem espectáculos com crianças a participar com os animais, mas não se preocupam com a possibilidade de serem mordidas. A lei, quanto a mim, devia ser para todos. A propósito da aplicação da Portaria, Miguel Chen fez a seguinte afirmação: “Esqueceram-se de fazer preservativos para os animais que estão em cativeiro”. Como é que comenta? (Risos) Não sei como vamos conseguir controlar essa situação, mas sei que no caso dos humanos existem fármacos que não o permitem. Os animais estão juntos nas jaulas e estão habituados a estar juntos, a fazer os espectáculos em

Animais. “Não podemos obrigá-los a trabalhar, eles fazem o que querem”.

conjunto. As minhas focas, Cris e Nick, apesar de serem machos, já os tentei separar, cada um no seu compartimento, mas eles não deixaram. É muito complicado quando já estão juntos há 22 anos. Alguma vez teve o show interrompi-

do por alguma organização defensora dos animais em cativeiro? Nunca aconteceu tal incidente. Havia, sim, manifestações a 20 metros de distância do local onde eu estava com todo o staff. Levavam os seus cartazes,

com as suas opiniões e todas as pessoas se respeitavam: eu a eles e eles a nós. O povo era diferente, tem uma mente mais aberta. No estrangeiro não havia asfixia. E em Portugal? Nestes oito meses ainda não fui confrontada com essa situação. Nos vossos espectáculos, os animais já foram sedados para o palco? Jamais isso se passaria, os meus animais só fazem o show quando eles querem. Passei dois anos a dar-lhes peixe, para educá-los para estas práticas. Em Torres Novas não trabalharam, tiveram problemas gastrointestinais, mas para o público acreditar na nossa palavra fomos buscá-los e mostrámos que não estavam bem. Não podemos obrigá-los a trabalhar, eles fazem o que querem. O veterinário visita regularmente o seu circo? Em cada cidade que nós estamos, vem um veterinário dessa autarquia analisar o estado de saúde de cada um deles. Apenas as focas são vistas por um veterinário de Inglaterra, especializado nesta espécie. O seu período médio de vida nos zoos é de 18 anos, eu já as tenho há 22 anos. Onde e como comprou os animais? Comprei as minhas foquinhas em Itália, que vieram da África do Sul, a uma empresa de importação e exportação de animais. Como eu sabia que andavam a matá-las para tirar a pele, fiquei com elas. Já o caso dos tubarões é diferente, o meu filho esteve na América para aprender a fazer o espectáculo, saber qual o momento certo para entrar na água. Sem a sua ida para um país estrangeiro seria impossível de realizar este show. Não tínhamos nem animais nem sabedoria e inovação. Que projecções tem quanto ao futuro do seu circo? Se ficar sem os animais tenho de me ir embora para os antigos países onde anteriormente já trabalhei.

GONÇALO REIS

Um canil muito especial A sua descoberta não é fácil. Situado na zona industrial de Abrantes, foi necessário recorrer à conhecida técnica do “pára e pergunta” para encontrar o canil/gatil intermunicipal, que acolhe animais do concelho de Abrantes, Sardoal e Constância. Primeira impressão: liberdade! Os três cachorros bebés e sua mãe vieram ao portão dar as boas-vindas. Encontravam-se soltos e, entre saltos e lambidelas, limitados pelas grades, grande foi a agitação quando Ana Moreira, a responsável pelo canil, chegou e abriu o portão. Ana Moreira deixa transparecer o profundo amor que nutre por aqueles animais, que diz serem “sua parte integrante”. É precisamente esse sentimento de entrega que torna este canil/ gatil especial. A entrega de Ana

já vai para mais de dois anos e a palavra ‘abate’ é proibida. Com o apoio da ADACA, associação de defesa dos animais que faz a gestão do canil, foi possível chegar a um acordo com as câmaras de Abrantes, Sardoal e Constância, através de um protocolo, no qual o principal objectivo é evitar o abate. Ana Moreira lamenta a situação em que está: “Só tenho pena de me sentir sozinha, de não ter apoio e de não poder fazer mais coisas por estes animais”. Com ela estão apenas mais três ou quatro pessoas que a ajudam no seu trabalho diário. Vê no voluntariado uma ajuda fundamental, mas diz que é preciso “sobretudo gostar de animais”. Mas com responsabilidade e método, pois “o voluntário tem que vir com espírito e dedica-

Canil. O principal objectivo é evitar o abate.

ção para conseguir formar uma equipa”. Com capacidade para alojar 75 animais, actualmente são 70 os que lá vivem. São cerca de 18 celas, para seis animais, quatro, dois e um. A alimentação é feita em média duas vezes por dia, “numa relação entre qualidade e preço muito boa, o que permite ter os animais bem alimentados e saudáveis”. A limpeza é obrigatoriamente diária, mas muitas vezes chega a ser feita duas vezes por dia: “Primeiro limpa-se dentro do edifício pois há animais que ficam no corredor. As celas são limpas uma a uma e durante a limpeza o cão sai à rua. Ao acabarmos de lavar, o cão volta para dentro, e assim sucessivamente”. Numa tentativa de recordar aqueles que por ali passaram e de valorizar a presença dos que lá vivem, as voluntárias enfeitam as paredes dos corredores com fotografias e textos. O mesmo acontece na cozinha, onde numa das paredes se encontra um conjunto de estrelas desenhadas a papel, cada uma

com um nome, simbolizando aqueles que já partiram. As coleiras e alguns brinquedos estão colocados a um canto e entre as quatro divisões encontramse confortáveis alcofas revestidas com mantas para os mais pequenos, que passeiam pelo corredor. No canil todos os animais são apelidados e a cada compartimento foi dado um nome que não é nada mais que o reflexo da sua personalidade. Por exemplo, os Fronhas foram assim baptizados porque “passam a vida a dormir” e na cela dos Lusíadas vive o Camões, que é cego de um olho. Actualmente, a maior preocupação de Ana Moreira prende-se na necessidade de desparasitar os animais. Processo que é feito de três em três meses e que é fundamental para a sua saúde e bem-estar. Com poucos apoios, as manobras de angariação de dinheiro vão desde as quotas dos sócios, a rifas ou apenas à boa vontade daqueles que gostam de animais e querem ajudar. Joana Rato


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GRANDE ENTREVISTA

versão completa em www.estajornal.com

Lucília José Justino, presidente da Amnistia Internacional Portugal, em entrevista ao ESTAJornal

“O papel da Amnistia e de outras organizações é dar voz às pessoas que sofrem” Lucília José Justino, conhecida por Zé Justino, é Presidente da Amnistia Internacional Portugal. Garante que “a violação de Direitos Humanos em Portugal não se compara com o que se passa noutros países”. O lobby é a principal forma de actuação da Amnistia. A mais recente campanha consiste em fazer pressão junto das autoridades mundiais para que se acabe com as causas da pobreza. DR

Nuno Sotto Mayor

Qual a importância da Amnistia Internacional em Portugal? A Amnistia tem a mesma importância que tem nos outros países. É reconhecida pelas instituições portuguesas e ouvida pelo Estado. É sempre solicitada para apoiar desenvolvimentos em matérias de direitos humanos. Em Portugal também é percepcionada como sendo um contributo para defender as vítimas em todo o mundo, não só as portuguesas. É uma grande organização credível, independente e muito séria. As pessoas em Portugal não confundem a Amnistia com outras Organizações Não Governamentais. Como é que é o relacionamento com o Estado? Colaboramos com o Estado seja qual for o Governo. Pedem-nos muitas vezes apoio para alguma legislação. Por exemplo, a legislação sobre o asilo teve parecer nosso. Para isso temos juristas que nos apoiam. Temos pessoas de vários sectores e somos solicitados para outras áreas, como a educação. O que nos importa é fazer lobby junto de qualquer Governo, seja ele qual for, porque somos independentes. Temos essas colaborações com o Estado, por exemplo com o Ministério da Administração Interna, sobre as questões das prisões, e com o Ministério da Justiça falamos sobre o estado das prisões. Quando temos denúncias, contactamos, somos recebidos, somos ouvidos, escrevemos e eles respondem-nos. A nossa grande arma e a nossa maior capacidade é o lobby e isso nós fazemos bem. Quais as actividades que a Amnistia promove? A Amnistia tem actividades permanentes como a investigação, o lobby, o trabalho contra a pena de morte e outras campanhas mais específicas, como a violência contra as mulheres. Estas campanhas duram dois ou três anos. Fazemos esse trabalho e, apesar do esforço, pretendemos salvaguardar a independência. Fazemos muitas sessões e temos feito parcerias com outras organizações, principalmente com uma instância governamental que é a Comissão para a Igualdade de Género, que tem feito um trabalho muito bom no que respeita à violência no namoro. As pessoas confundem amor com amor assertivo. É preciso prevenir e falar sobre isso para que os jovens percebam que a agressividade no namoro não é amor coisa

nenhuma, mas antes uma coisa horrorosa. Quando temos uma campanha específica em que sabemos que podemos ter parceiros noutras instâncias, nós trabalhamos com eles. Não reivindicamos para nós grandes feitos. Queremos juntamente com outras organizações fazer com que a violência contra as mulheres seja sobretudo sabida. O papel da Amnistia e de outras organizações é dar voz às pessoas que sofrem, seja no nosso país seja fora. Qual o objectivo da mais recente campanha “Exija à dignidade” que foi lançada pela Amnistia? A campanha “Exija à dignidade” foi a última campanha que lançámos, em Maio. É uma campanha diferente das outras. A Amnistia não estava tão habituada a ter uma amplitude desta quando falávamos de Direitos Humanos. O enfoque principal desta campanha, a nível mundial, é irradicar a pobreza. A pobreza é a violação de um Direito Humano. As pessoas não têm direito a várias coisas como casa, educação, alimentação. Neste caso, a Amnistia abriu o seu leque de acção assumindo um conceito mais amplo de Direitos Humanos. O que

Actividades. A Amnistia dedicase ao trabalho contra a pena de morte e outras campanhas, como a violência contra as mulheres.

nós queremos é fazer pressão junto das autoridades mundiais para que se acabe com as causas da pobreza. Por que é que o ciclo da pobreza não é quebrado? Quais são as decisões dos vários governos do mundo que fazem com que alguns países continuem pobres? Quais as maiores dificuldades que a Amnistia sente actualmente? Depende das situações onde opera, mas há zonas do mundo que têm falta de activistas porque as pessoas têm pouco tempo. Temos dificuldades como a carência de meios financeiros, de recursos técnicos e temos carência a nível de pessoas com saberes específicos. Outra dificuldade é o risco e objectivos de alguns activistas serem visados por poderes repressivos dentro do seu país. As pessoas têm medo de serem activistas. A Amnistia visita os presos para dar o seu apoio? Visitamos, às vezes, alguns presos e apoiamos, embora não seja muito a nossa área. Existe uma pessoa que trabalha para a Amnistia e que tem essa função. Normalmente é mais trabalho por carta e por e-mail. Fazemos sobretudo lobby. A violação de Direitos

“A Amnistia Internacional surgiu em 1971, em Inglaterra, com o advogado Peter Bensen, exactamente com o mito fundador de dois estudantes portugueses que estavam a brindar à liberdade e foram reprimidos por agentes de autoridade. Peter Bensen disse que esse acto não poderia ser esquecido. O movimento pela Amnistia é o movimento pelo não esquecimento. A raiz da palavra Amnistia é amnésia. Não esqueçam dois estudantes portugueses. Vamos escrever às autoridades e a escrita começou o movimento de pedir amnistia para não esquecer aqueles dois estudantes. Depois houve uma evolução semântica no termo e a Amnistia passou também a querer dizer perdão. Mas nós, organização, amnistia não quer dizer que queiramos perdão para todos. A Amnistia tem essa palavra porque surgiu da não amnésia, para com dois estudantes portugueses. Em 1981 surge um grupo de fundadores que decidiram criar um movimento pro-amnistia. Os fundadores foram importantes porque tiveram essa visão, mas depois, no trabalho da Amnistia, que já vai com trinta e poucos anos, os fundadores têm desaparecido. São as pessoas que estão todos os dias a trabalhar no terreno que dão corpo à Amnistia. O trabalho da Amnistia em Portugal assenta em trabalho profissional central e no trabalho de voluntariado.” Lucília José Justino presidente da Amnistia Portugal


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GRANDE ENTREVISTA Humanos em Portugal não se compara com o que se passa noutros países. Somos mais civilizados. Existe alguma superioridade civilizacional porque não temos pena de morte, mas temos que estar atentos aos casos de violação de Direitos Humanos em Portugal, nomeadamente aos níveis laboral e prisional. Qual o caso mais grave com que a Amnistia já se defrontou, em Portugal? A Amnistia não faz ranking de casos. Todos eles são graves. Desde que haja violação de Direitos Humanos, ou por carga policial, ou nas prisões, ou porque os vôos da CIA passaram por Portugal. Tudo o que seja violações dos Direitos Humanos é importante para nós porque se trata de um atentado à dignidade humana. Sente que as pessoas, em geral, sabem qual é a importância da Amnistia? A nossa informação não chega a todos. Nem todas as pessoas estão sensibilizadas para as nossas preocupações. Tentamos chegar a todos os públicos consoante o tipo de acção. Há pessoas que dizem que a Amnistia se deveria preocupar com outras questões, como a segurança. Nós preocupamo-nos com tudo isso, simplesmente temos a noção que temos áreas específicas que não podemos abandonar porque são história, tradição, cultura da Amnistia. O mundo mudou, globalizou-se e temos que ir também a outras áreas. Quando se fala de Amnistia Internacional as pessoas pensam que nós queremos perdoar todos e daí que, às vezes, nos sintamos injustiçados. A percepção das pessoas mais mal informadas é esta, mas as outras sabem qual é a importância e sabem que os governos têm medo do Relatório da Amnistia. Se um Governo tem medo é porque sabe que

É uma grande organização credível, independente e muito séria tem alguma coisa a esconder. A impunidade é detestável. Quem cometeu um crime tem que ser castigado, mas tem que ser castigado com justiça. Nós somos uma organização que as pessoas sabem que tem um poder muito grande. Qual a reacção das pessoas quando se deparam com alguma manifestação ou alguma actividade promovida pela Amnistia? Depende do tipo de acção e do tema. Às vezes passam e ficam a olhar. Predomina a simpatia, compreensão e solidariedade. As pessoas querem saber o que é que se passa. Às vezes é necessário chocar. Muitas vezes não se consegue chamar a atenção sem chocar. Nós tentamos chamar a atenção para a causa dos Direitos Humanos e nunca personalizamos as coisas. Já ajudaram quantas pessoas a nível nacional? Impossível saber. Muitas, mas a Amnistia nunca reivindica como sua a libertação de ninguém, quer a nível nacional quer a nível internacional. Se o Governo não tiver boa vontade, não é a Amnistia nem a comunidade internacional que consegue. Tem que haver muita gente que escreva a falar da importância do nosso trabalho. Em

Portugal não temos grandes casos a não ser casos de violência doméstica ou de pessoas que foram maltratadas nas prisões. Considera que os Media são parceiros na divulgação das questões que preocupam a amnistia ou que, nesse aspecto, há muito a fazer? Os Media apoiam-nos muito. A Amnistia tem que passar as suas preocupações para o exterior e para isso tem que usar os vários órgãos de comunicação que tem ao seu dispor. Eles são importantes para chegar a todos os estratos sociais. O problema é o modo como isso se faz porque existe alguma pressão por parte dos profissionais que querem as notícias em primeira mão. Nós, por vezes, não falamos porque não temos a total confirmação. Isso é muito pouco compreendido pelos profissionais da comunicação. Nós sabemos que o tempo é fundamental, mas a pressa faz com que, às vezes, a comunicação social divulgue alguns dados errados. Depois temos que corrigir esses mesmos dados e, quando toca a números, a comunicação social erra bastante. Mandamos comunicados de imprensa para a Lusa e depois ela faz a distribuição. Temos que pedir aos jornalistas um pouco de calma e que nos dêem algum tempo. O sim e o não em matérias destas é muito complicado. Há muito a fazer nesta área, principalmente no que respeita as novas gerações. Que importância é que a Internet e as redes sociais têm tido para a Amnistia? As redes sociais são muitíssimo importantes para a Amnistia. Procuramos responder no seu tempo e procuramos responder com os recursos mais avançados. Procuramos sensibilizar e organizar as pessoas através dos processos mais sugestivos e eficazes, especialmente aqueles que possam produzir melhores resultados no espaço de tempo mais curto. Queremos usar esses processos sugestivos e eficazes, mas com segurança, com verdade, com certeza. Se nós duvidamos, não a transmitimos. Temos que ter em conta a pressa com que as redes sociais querem trabalhar e operar. Muitas vezes precisamos que a comunicação também nos dê algum tempo para confirmarmos antes de respondermos. Como é que a Amnistia portuguesa tem acompanhado casos como os presos de Guantánamo? Temos acompanhado a insistência para o encerramento de Guantánamo. Estamos, aliás, um pouco preocupados porque Obama falava em dois anos e agora parece que já não é bem assim. Continuamos a insistir para o encerramento da prisão, a insistir para a responsabilização de todos aqueles que, na luta contra o terrorismo, tenham violado o direito internacional. Apoiamos a luta contra o terrorismo, mas com justiça. Não é lutar contra o terrorismo de uma maneira terrorista, querendo que todos sejam condenados à pena de morte. Insistimos para que Portugal receba os oito prisioneiros que prometeu. O Ministério dos Negócios Estrangeiros já recebeu dois, mas desconhece-se o seu paradeiro. E predispôs-se a receber o terceiro. Estamos a acompanhar a integração destes dois sírios, de modo a assegurar que ocorra essa integração no respeito pelos direitos enquanto pessoas livres e inocentes. Não está provado que estes senhores, que vieram para Portugal, tenham cometido algum crime. Os outros, que cometeram crimes, estão lá. Guantánamo, naquelas condições, nunca.

“O DISCURSO GENUÍNO DOS DIREITOS HUMANOS SERÁ O DISCURSO SALVADOR NO MUNDO GLOBAL” Considera que a Carta Universal dos Direitos Humanos está a ser cumprida? A Declaração Universal tem hoje mais importância e reconhecimento do que há uns anos atrás. Fala-se muito mais naquele documento, mas da teoria à prática vai uma grande distância. É um documento orientador, inovador e fecundo. Fecundo porque ele próprio deu origem a ideias para Constituições nacionais. Há vários países que se inspiraram na Declaração Universal dos Direitos Humanos para as suas próprias Constituições e a nossa é um exemplo. Mas sendo um documento que não era vinculativo na altura, foi um documento romântico, poético. Queríamos todos um mundo melhor, mas nem todos assinaram. Hoje em dia, os jovens falam muito na Declaração Universal. Existe uma parte que é muito pouco estudada que é o preâmbulo da Declaração. As pessoas sabem os trinta artigos, mas não reparam como é um texto de uma solidariedade mundial fantástico. Ela começa de uma maneira e acaba de outra. É um documento base e a partir desta Declaração

surgem outros pactos que se tornam obrigatórios. Qual a importância de falar sobre os Direitos Humanos? Eu penso que o discurso genuíno dos Direitos Humanos será o discurso salvador no mundo global. A globalização do discurso dos Direitos Humanos é que seria a grande globalização. Falar de Direitos Humanos é desejar que a globalização seja uma globalização de Direitos Humanos e não só uma globalização em termos económicos ou outro tipo de globalização. Considera que as questões da discriminação e do respeito pelos Direitos Humanos vão ter avanços significativos com as novas gerações? Eu acho que os jovens têm uma sensibilidade muito maior para certas formas de discriminação, como a discriminação de género, étnica ou de orientação sexual. Há uns anos não se falava nisso, nem no nosso país nem noutros países. Os jovens começaram a chamar a atenção da organização para novas formas de discriminação. A Amnistia é contra todas as formas de discriminação e assina todo o tipo de petições.

“ERA BOM QUE O GRUPO DE TOMAR E ABRANTES RETOMASSE A SUA ACTIVIDADE”

Cartazes das campanhas da Amnistia Internacional

Quantos colaboradores tem actualmente a Amnistia? É difícil de saber, mas envolve, no total, cerca de dois milhões de pessoas: activistas e centenas de profissionais. A nossa secção tem 12 mil membros e apoiantes e activistas. É uma média secção. As secções grandes têm centenas de voluntários permanentes que cumprem horário como profissionais. Envolve todo o tipo de pessoas? Têm é que concordar com a visão e missão da Amnistia, a visão de que todos os seres são iguais e que todas as pessoas devem usufruir dos mesmos direitos. Não pode pertencer à Amnistia uma pessoa que seja totalmente a favor da pena de morte porque isso não está na nossa visão. Não precisamos de pessoas com nomes sonantes, precisamos de gente que trabalhe pelos Direitos Humanos. Mas precisamos de nomes que credibilizem e temos alguns, nomeadamente o Vítor Nogueira e o José Manuel Cabral. Precisamos de alguns nomes de pessoas, mas que tenham esse nome pelo trabalho que fizeram. As pessoas são todo o tipo de gente em termos etários, de género, de condição sócio-económico, de cultura, profissionalmente. Todos respeitam as regras da Amnistia, que são o res-

peito pelo rigor e pela verdade, a objectividade e a independência. Como é que um cidadão comum pode colaborar com a Amnistia? Quem quiser colaborar pode visitar o nosso site e tem lá toda a informação. Contactem-nos pois temos uma equipa muito boa, que responde quase na hora. Existem várias formas de as pessoas participarem. Podem colaborar com donativos, mas isso é o menos importante, dado que, o que é mais importante é escrever cartas, assinar petições. Outra coisa muito importante é fazer parte de grupos. Em Tomar existe algum grupo? Em Tomar existe o grupo oeste, que abrange Tomar, Abrantes e toda esta zona. O grupo oeste está quase extinto e era bom que retomasse as actividades ou, então, que formassem um grupo de estudantes, do Politécnico, ou não, e que formassem vários grupos. Por exemplo, um grupo que se dedicasse à pena de morte, um grupo LGBT, um grupo de campanhas. Em suma, era bom que se formassem grupos sectoriais. Esta zona tem muito pouco e eu não acredito que Abrantes e Tomar tenham tanta falta de sensibilidade aos valores e à defesa dos Direitos Humanos. Eu acho que é mais por desconhecimento.


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MEDIA

A importância da infografia Explicar como aconteceu um acidente ou mostrar um monumento em todas as suas dimensões, de forma clara e apelativa, é a principal missão da infografia. Mário Carvalho é um dos profissionais que a desenvolve. Para além de vários trabalhos no campo do jornalismo, Mário Carvalho, formado no IPT e já a leccionar na área, tem como trabalho recente uma infografia que explica o Convento de Cristo, em Tomar. Tânia Machado

Fascinado pelo mundo das infografias desde sempre, Mário Carvalho descobriu o seu encanto em pequeno, através da “leitura de banda desenhada que, não sendo considerada infografia, não deixa de ser um parente próximo”. Apesar disso, outros produtos gráficos deram o seu contributo para este profissional desenvolver o seu gosto. Por exemplo, “as revistas de autoPUB

móveis com ilustrações esquemáticas a mostrar a constituição das diferentes partes destes e as enciclopédias ilustradas”. Embora nessa altura não soubesse como se designavam tais representações gráficas, o gosto pela infografia cresceu, o que o leva a desenvolver actualmente a sua função em campos bastante distintos, como na área da saúde, da ciência, da cultura, dasociedade, do desporto, dos monumentos e não só. Para a realização de um bom

trabalho, no que diz respeito, especificamente aos monumentos, a escolha dos elementos a abordar “obedece a vários factores.” No caso dos “Tesouros de Portugal”, para a revista Volta ao Mundo, a selecção de Mário Carvalho baseou-se “no nível de interesse e da riqueza histórica do monumento, não esquecendo o local onde foi consolidado”. Para além disto, a importância de “levar ao leitor, locais e monumentos desconhecidos de todos nós” não é esquecida. Esta é acompanhada

por um texto, onde estão presentes conhecimentos da História e da gastronomia local, recolhidos pelo jornalista responsável pelo mesmo. Mário Carvalho normalmente trabalha “em equipa com outros infografistas, tendo como suporte informativo um jornalista que faz uma primeira pesquisa, obtendo o levantamento histórico”. Depois, esse levantamento é comunicado à equipa de infografistas que, por sua vez, realiza uma nova pesquisa na procura

de imagens, mapas e plantas, ou seja, “tudo o que possa ajudar na construção do espaço”. Na fase seguinte é realizado o levantamento fotográfico do monumento no local e também a recolha de documentação (plantas, alçados, mapas, etc...), cedidos pelas entidades conservadoras dos espaços seleccionados. O tempo de duração de um trabalho desta envergadura depende de vários factores. O número de pessoas envolvidas, a complexidade do trabalho, a área ocupada pela infografia, assim como a sua execução em 3D, que quase sempre é um requisito obrigatório, são aspectos a ter em conta. Pode oscilar entre três semanas, três meses ou até mais. Para Mário Carvalho, a infograifa já é vista, “sem qualquer dúvida, como um género jornalístico”, pois tem “o propósito de informar, com toda a veracidade, rigor e clareza”. A informação é fruto da convergência de várias soluções resultando, assim, “numa mensagem repleta de informação clara, rápida, objectiva e exacta, de grande eficácia”. Apesar de toda a informação que fornecem, as infografias

tanto podem ser criadas para “funcionar isoladas com identidade própria”, ou servir de complemento a um artigo “em que a complexidade da informação exposta não é clara, havendo a necessidade de recorrer para, esse efeito, a uma representação gráfica mais clara e eficaz”. As infograifas “têm título, texto, corpo, fonte e créditos que lhe conferem a veracidade”. Actualmente, mais do que uma opção para atrair leitores para os jornais, as infografias são uma “necessidade”. Mário Carvalho explica a principal razão que justifica a necessidade de contar histórias e explicar determinadas realidades através de infografias: “O nosso dia-adia é vivido a grande velocidade.” “Os leitores tornaram-se mais exigentes, cansados de uma leitura demorada e extensa. Cada vez mais procuram uma informação directa, clara, rápida e eficaz”. Tendo por base estes argumentos, “podemos afirmar que a infografia assume um papel de grande importância nos jornais actuais”. “Além da mensagem gráfica transmitida, a infografia também tem um carácter apelativo”.


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ESTA Alfredo Santos, presidente da Junta Freguesia de São João, a maior em termos de densidade populacional

“Uma das grandes obras é ligar a cidade ao Aquapolis” Alfredo Santos, presidente reeleito da Junta de Freguesia de São João, em Abrantes, diz claramente que em termos de transferências de verbas a sua Junta tem sido prejudicada. Mas acredita que a nova presidência da autarquia vai mudar a situação. Concorda com a mudança da ESTA para Alferrarede, reconhecendo que S. João não oferece as mesmas condições para a prática de um ensino de qualidade, e espera que os jovens permaneçam no centro histórico. CÁTIA ROMUALDO

Cátia Romualdo

Quais os problemas da freguesia de São João? Tem vários problemas, como todas as outras. Neste momento, os problemas mais deprimentes são com a parte social, pois existem ainda zonas, de bairros sociais, onde vivem famílias com fracos recursos, que vivem essencialmente do rendimento de inserção social, com todos os problemas que advêm daí, como a baixa formação escolar e o abandono escolar. Todos esses problemas são graves. Colaboramos com as instituições para tentar reduzir os problemas. O objectivo era acabar com eles, mas seria muito utópico. Temos também as habitações degradadas em três ou quatro bairros que são de instituições de solidariedade social. Aí a grande aposta da freguesia é apoiar essencialmente essas pessoas, recuperando as habitações. Depois temos as obras normais, como melhorar a limpeza urbana, algo que se tem distinguido pela positiva. Também pretendemos melhorar o fluxo de trânsito, mas isto tem de ser em conjunto com a Câmara Municipal, porque a Junta tem receitas próprias muito baixas e nem sempre chegam para as despesas correntes. Uma das grandes obras é ligar a cidade ao Aquapolis, ao rio, que está com um bom índice de renovação. Tem-se falado muito, mas ainda não se fez nada. Esta ligação irá ser feita pela rua da Barca, que é a rua mais antiga da cidade, com um passeio pedonal. E, por fim, a recuperação do mercado diário e a construção de

Alfredo Santos. As escolas são uma das nossas preocupações

rotundas para que o trânsito não vá novamente para dentro da cidade. Estas são obras da Câmara, mas temos todo o gosto em ajudar. Quais os principais projectos? Apoiar as instituições sociais e ser parceiro nos projectos da Câmara, que também são da Junta, como as repavimentações, a recuperação dos passeios e a construção de rotundas que faltam e que são necessárias à cidade. Também queremos pintar os muros públicos,

para dar um ar mais alegre e limpo à cidade, e plantar umas flores para a cidade continuar a ser a cidade florida que sempre foi. A Câmara tem apoiado a Junta de Freguesia de São João? Nós todos queremos sempre mais, mas há coisas que não basta o querer-se mais, tem de haver também alguma ajuda por parte da Câmara. Nos últimos mandatos, e especialmente neste último, a Câmara doou muito pouco à freguesia de São

João. Não sei porquê, nem nunca percebi. É bom que a Câmara faça essa análise para que no futuro isso não aconteça. Na realidade, penso que não fizemos nenhum protocolo e não foi por falta de coisas para fazer. A colaboração sempre foi boa, mas as transferências para a freguesia de São João não acompanharam os desejos, quer da Junta quer dos cidadãos. Espera que a nova presidência da Câmara Municipal de Abrantes não esqueça a Freguesia de São João? A Junta não foi esquecida, mas isso faz parte dos números. Se formos ver Juntas que têm receitas próprias na ordem da grandeza da freguesia de São João, fizeram protocolos em alguns casos cem vezes mais do que o valor das receitas próprias. E São João tem zero. Isto não é justo! Não é justo porque em termos de capacidade as freguesias são todas iguais. Esta é uma crítica que faço e que sempre fiz e, por isso, estou à vontade. Penso que é um assunto que esta nova presidência vai seguramente alterar e, sinceramente, para o bem da Junta, penso que esta política venha a ser inflectida e que as coisas sejam mais justas. Os jovens fazem parte também dos seus projectos? Sim. Nós apoiamos associações, como a associação de estudantes da ESTA. As escolas são uma das nossas preocupações. Queremos que os jovens saibam que a Junta os apoia e queremos que sintam que nós estamos com eles e que apoiamos os seus projectos, desde que sejam viáveis. Acredita que a deslocação da ESTA para Alferrarede vai afectar a fregue-

Autarquia explica o projecto de requalificação do mercado municipal

“Não há condições de higiene” Ana Isabel Silva

Sexta-feira, 10h30, o mercado está praticamente vazio, conta apenas com os habituais comerciantes e alguns fregueses. A tristeza está estampada nas paredes brancas, bastante degradadas, e num quase silêncio que incomoda. “A crise afecta a todos”, comenta uma comerciante de 32 anos, que pede anonimato. O que mais os angustia é não saberem quando é que lhes vão oferecer melhores condições para trabalhar. Conceição Mendonça, 54 anos, florista e talhante, conta

que o problema já não é novo: “Já estou cá há 20 anos e já desde essa altura que as condições não são as melhores”. José de Oliveira, de 70 anos, limita-se a pedir o mínimo: “Como limpeza está muito mal, se fizessem, pelo menos, uma pintura, já era bastante bom”. São muitas as expectativas de que um novo mercado surja em Abrantes, mas os comerciantes ainda não receberam quaisquer certezas por parte da Câmara. Ao ESTAJornal, o Gabinete de Comunicaçao da autarquia explicou o que se pretende fazer com o mercado: “A Câmara está

a desenvolver um processo para reformulação total do espaço do mercado diário. O projecto indica a construção de dois edifícios que ocuparão uma área de 1.700m2, ligados entre si, com áreas funcionais para comércio, serviços, habitação e estacionamento, circundados por uma grande zona de circulação.” O objectivo da Câmara é “a requalificação do espaço onde funciona o mercado diário, actualmente com uma função residual, e a qualificação do espaço envolvente, esperando-se que possa vir enriquecer o conteúdo funcional do local e do actual edifício”.

Devido ao estado actual de degradação do mercado e principalmente à falta de condições de higiene para os comerciantes, estes já foram advertidos pela ASAE. É com agrado que Conceição Mendonça afirma: “Graças a Deus que vieram cá, impuseram regras à Câmara”. E acrescenta que não são os comerciantes quem tem que fazer obras, “mas sim a Câmara”. Mas nem todos os comerciantes estão de acordo em que a Câmara invista num novo mercado. José de Oliveira defende que “não é necessário gastar tanto dinheiro num mercado novo, há muitos

sia de São João? Estou convencido de que os jovens irão ficar na cidade se esta lhes der condições. Temos de recuperar as habitações para que os estudantes fiquem na cidade. A Escola, no edifício onde está a funcionar, não tinha hipótese de se expandir e de criar novas valências. Se queremos uma Escola moderna e atractiva para os estudantes, temos de dar condições quer aos docentes, aos alunos e funcionários. A nova ESTA irá ser uma escola modelo com outras condições. Obviamente que gostava que a Escola ficasse em São João, mas não conseguimos dar as mesmas condições. Por isso, bastanos tentar manter os jovens na cidade. De uma forma geral, concordo com a sua mudança para Alferrarede, pois vai valorizar a escola e o ensino e o mais importante é isso. Qual a sua opinião em relação ao projecto de construção do futuro Museu Ibérico? Em relação ao Museu, as pessoas agora dizem que não houve discussão, mas não vale a pena irmos por aí. Eu acho que o Museu, independente de ter uma torre grande ou uma torre pequena, já foi referendado e a sua construção foi aceite. Aliás, foi uma das propostas do Partido Socialista. A população de Abrantes já validou o Museu Ibérico e de forma clara. Acho que temos de analisar as mais-valias que o Museu vai trazer ao concelho. Penso que todos somos unânimes em reconhecer que o Museu traz muitas mais-valias, mas é óbvio que não podemos descurar as questões ambientais.

supermercados que nos tiram o valor”. No entanto, a opção da autarquia vai para além da questão do mercado. “Um dos espaços a construir terá a função de mercado, mas com uma vertente de polivalência, permitindo que o espaço seja também utilizado para a realização de outras actividades, nomeadamente de comércio e cultura, que atraiam outros públicos”. Uma vez que o acesso aos dois edifícios a construir será feito pela Avenida 25 de Abril e pelo Vale da Fontinha, aí será construída uma praça envolvente ao edificado, com funcionalidade de convivência. A autarquia explica ainda que este novo projecto pretende também contribuir para um melhor ordenamento da frente urbana do Vale da Fontinha e para atenuar os problemas de trânsito que se

verificam nesta zona da cidade. A falta de condições que neste momento o mercado apresenta provoca um afastamento de fregueses, o que prejudica muito os comerciantes, que muitas vezes num dia, sobretudo durante a semana, não conseguem vender nada. “Tem dias que não desempata aqui nada”, conta José de Oliveira. O movimento que se pode notar é apenas ao Sábado e ao Domingo. “Durante a semana podemos dançar”, ironiza uma comerciante. Não tendo condições de trabalho, de higiene e sem clientes, os comerciantes do mercado de Abrantes mostram-se descontentes com toda esta situação. Conceição Mendonça conclui: “Não sei como é que a ASAE não fechou os dois portões”.


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ABRANTES

Carlitos jogador do Paços de Ferreira

DANIELA SANTOS

Aldeia do Mato recebe campeonato de corridas de aventura Daniela Santos

Foi na manhã fria e lamacenta do dia 13 de Novembro que o Parque Náutico da Aldeia do Mato recebeu atletas de vários pontos do mundo, para a penúltima etapa do Adventure Race World Championship (ARWC) 2009. A prova, que teve início no Estoril no dia 5 de Novembro e terminou no Baleal no dia 15 do mesmo mês, contou com 59 equipas, das quais seis eram portuguesas. Os habitantes da Aldeia do Mato foram surpreendidos com uma grande confusão e frenesim. E foi assim, num clima bastante agitado, que se iniciou mais uma das etapas deste campeonato de corridas de aventura. Todas as equipas que chegavam ao local trocavam de roupas, tomavam um pequeno-almoço reforçado e depois partiam para mais uma fase da prova. Desta vez tratou-se de uma prova de BTT entre a Aldeia do Mato e a localidade de Bairro, um percurso de 44 quilómetros. Eram muito poucas as pessoas que se encontravam no local para assistirem à prova. Ao falar com elas foi fácil perceber que se sentiam desiludidas com o facto de este evento não ter sido mais divulgado. João Gaspar, um jovem aficionado por corridas de aventura e espectador naquele lugar, disse que quando “estava a passear pela internet reparou que, finalmente, o ARWC se ia concretizar em Portugal ainda neste ano”. Tentou saber um pouco mais acerca disso, mas a informação era muito escassa. Mesmo assim, e “com muita sorte”, descobriu que uma das etapas deste campeonato iria começar “bem perto” da sua casa. Naquele dia PUB

levantou-se cedo e, por volta das 7h00, estava no Parque Náutico da Aldeia do Mato para assitir à chegada da grande maioria das equipas, incluindo a sua equipa preferida, uma equipa francesa. Luís Borges, membro da organização do evento, esclareceu algumas dúvidas acerca do que se tinha passado até ao momento. Das 59 equipas, apenas 51 “continuavam a progredir no terreno”, isto porque a meio do percurso oito das equipas desistiram. Luís Borges, ansioso pelo fim da prova, disse ainda que a grande causa destas desistências foi o clima, pois estava à espera de poder contar com o Verão de S. Martinho e cedo se apercebeu que isso não ia ser possível. Este membro da organização disse ainda que a prova não tem sido fácil e que, ao contrário do que se pensava, Portugal é um país cheio de obstáculos, o que não tem facilitado a participação dos concorrentes. Enquanto se esperava por mais desenvolvimentos na prova, ao fundo do rio avistavam-se duas canoas. Uma equipa francesa chegava a mais um destino. Foi impossível falar com o chefe da equipa, mas ficámos a saber que, embora tenha sido uma das últimas equipas a chegar ao Parque Náutico, aquela equipa era uma das que tinha alcançado mais postos de controlo, ou seja, era uma das equipas com mais pontos. Mais uma vez, os últimos são os primeiros. Para conseguir alcançar todos esses postos de controlo, a equipa francesa acabou por chegar ali dando mostras de muito cansaço. Os gritos de dor faziam-se ouvir em qualquer parte do parque. Às voltas de bicicleta no parque

“Acreditem sempre no vosso valor!”

estava um senhor, provavelmente mais um participante estrangeiro no campeonato. Mas era Pedro Roque, chefe da equipa portuguesa Team GreenLand / ATV. Esta equipa era composta por quatro elementos, três homens, Pedro Roque, Hugo Velez e Artur Baptista, e uma aventureira e corajosa mulher, Filomena Silva Gomes. Ao reparar bem nos Team GreenLand / ATV, verifica-se que todos eles usavam um narizinho vermelho, como aqueles que vemos normalmente nos palhaços. Para além de serem portugueses e de estarem com um espírito muito alegre, esta equipa apoiava uma causa, o Projecto dos Doutores Palhaços, Operação Nariz Vermelho. Em relação à prova, o chefe da equipa disse que estava “a correr bem, mas coleccionámos algumas mazelas, o que é bastante normal”. Para além disto, Pedro Roque acrescentou que “o grande objectivo da equipa era chegar ao fim, mas nesta já começamos a pensar

em tentar melhores resultados para ficar pelo menos no meio da tabela”. Há cerca de quatro anos que a equipa participa neste tipo de provas grandes e até já fizeram parte de algumas organizações. A maioria das equipas já tinha partido quando os Team GreenLand / ATV arrancaram para a fase de BTT. Partiram com um sorriso na cara, deixando para trás dois amigos que ao longo da prova lhes deram assistência. Pedro Roque disse ainda que muitas vezes, se não fossem eles os dois a arranjarem-lhes as “coisinhas boas”, quer para comer, quer para vestir, a equipa não tinha a força que tem no início de cada fase. E assim terminou mais uma etapa do ARWC 2009 que, pela primeira vez, veio a Portugal para satisfazer a curiosidade de alguns aficionados por este tipo de modalidades. O Parque Náutico da Aldeia do Mato voltou a ser como era antes, calmo, silencioso e sem vivalma.

Há dois anos atrás, Carlos Almeida (Carlitos) era um nome desconhecido no futebol nacional. Formado nas camadas jovens da União Desportiva de Oliveirense, era apenas mais um entre os milhares de jovens praticantes da modalidade, sonhando como tantos outros em vir a ser, um dia, jogador profissional. Hoje, Carlitos, além de jogador profissional de futebol, é internacional pela selecção portuguesa de sub-21 e pertence aos quadros do Paços de Ferreira, tendo sido contratado no mercado de Verão. Há um ano atrás, o internacional sub-21 não se imaginava a viver tal momento: “No início da época não sonhava com isso. Mas, depois quando ganhei a titularidade e com o decorrer do tempo, fui acreditando no meu valor.” No que toca à adaptação ao futebol profissional, o jovem recorda que “no início foi complicado. Mas, com a ajuda dos colegas mais velhos que já estavam conhecedores da realidade futebolística, tornou-se mais fácil.” O jogador do Paços de Ferreira conseguiu chegar este ano à selecção nacional de sub-21, classificando o momento como “único”. Os objectivos para esta época estão definidos: “Para esta época luto para me afirmar no Paços de Ferreira para poder ambicionar chegar mais longe”. Para Carlitos, chegar mais longe seria “chegar ao Futebol Clube do Porto e representar a selecção do meu país. Até porque todos os dias trabalho para ser o melhor e poder um dia lá estar.” Sempre inspirado no seu ídolo, Marco Van Basten, mítico jogador holandês e considerado um dos melhores de sempre. Conhecido nas ruas da capital do móvel, Carlitos lida naturalmente com o carinho dos fãs: “As pessoas cumprimentam-me, fazem algumas perguntas e ficam por aí.” Fora das quatro linhas, assume-se como um jovem normal, que aproveita “para descansar, estar com a família, namorada, amigos e jogar playstation” Apesar disso, o futebol está sempre presente: “Sempre que posso ver um jogo, fico no sofá a assistir, seja de que equipa for.” No que toca à falta de oportunidades para os jovens do futebol português, o atacante reconhece que teve “a sorte que muitos colegas não tiveram, porque basicamente não é uma questão de qualidade, mas sim uma questão de aposta. “Ainda assim, deixa o conselho: “Acreditem sempre no vosso valor mesmo quando as coisas não estão a correr como querem, isto, porque nem sempre as coisas vão correr como os jovens desejam. Quando se tem qualidade e acreditamos sempre em nós conseguimos atingir os nossos objectivos. E por experiência própria nunca deixem de estudar. Porque, como referi em cima, as coisas nem sempre correm bem. Acreditem sempre no vosso valor!» João Ruela


Janeiro 2010 • ESTA JORNAL | 9

CINEMA Curso de Vídeo e Cinema Documental da ESTA proporciona diferentes experiências aos alunos

Uma viagem ao mundo do documentário DR

Cláudia Ferreira

O curso de Vídeo e Cinema Documental (VCD) é, actualmente, uma das grandes apostas da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes. Trata-se da primeira licenciatura, a nível nacional, dedicada especificamente ao estudo e prática da expressão cinematográfica. Uma verdadeira aposta no cinema documental feito no nosso país. Para Ana Margarida Gil, professora dos alunos de VCD, é facto que “não existe uma tradição muito longa de realização de documentários em Portugal”, mas este é o curso certo para começar a criar um futuro mais risonho na área. Aqui são dadas “as bases, tenta-se criar balizas, passar as regras, depois eles fazem o que querem”. História e experimentação são o suporte de uma licenciatura, que acaba por contar com muito mais do que isso. As actividades que o complementam são evidentemente uma mais-valia. Em Novembro, numa verdadeira corrida contra o tempo, uma equipa de alunos do curso de VCD conseguiu conceber e produzir uma curtametragem , 'Contratempo', que acabou por vencer o Concurso de Curtas-Metragens Canon integrado no Estoril Film Festival 2009. Todo o trabalho de realização e produção, incluindo a banda sonora, foi efectuado pelos alunos . O Júri realçou a dificuldade de realizar um filme em apenas uma semana e ficou surpreendido com a elevada qualidade alcançada pelos filmes em competição. O prémio foi uma câmara HD da Canon.

DocLisboa. Uma aprendizagem cara a cara, acesso directo a realizadores e a obras cinematográficas.

Este é o curso certo para começar a criar um futuro mais risonho na área

Já em Outubro os alunos de VCD tinham tido a oportunidade de assistir ao DocLisboa, na companhia de docentes da ESTA. Aliás, esta oportunidade de participar na maior mostra de documentários em Portugal também já tinha surgido no ano passado. Trata-se de um festival com “grande qualidade e com um óptimo nível”, que obviamente não deixa estes aprendizes desinteressados. Para Carlos, aluno do 2º ano do curso, não se trata só de um “excelente fomento à cultura”, mas é, também,

“muito bom enquanto oportunidade de estudar” não só os realizadores, mas também as suas obras. De acordo com Ana Margarida Gil, esta oportunidade serve não só para mostrar aos alunos os bons trabalhos, “os grandes pilares das obras documentais”, mas também o “que está a ser feito de novo”. Para além de tudo isto, “há um lado cinéfilo, de aficionado, que se começa a cultivar ali”. É importante criar “hábitos” nos estudantes, uma vez que, para eles “não é muito normal ter

este tipo de oportunidades. “A linguagem e o ritmo são muitas vezes diferentes” daquilo a que estão acostumados. Rita Sousa entrou naquelas salas de cinema de Lisboa pela primeira vez. Aluna do 1º ano do curso, vê o festival como uma “óptima oportunidade”, especialmente para se “integrar” no mundo em que pretende trabalhar. Frisa a “óptima organização” do próprio DocLisboa, contudo demonstra claro desagrado pelo trabalho do realizador homenageado este ano, Jonas Mekas, que, segundo ela “não respeita as regras”. Também para Carlos, “Jonas Mekas faz um tipo de cinema experimental”. Este ano o cineasta homenageado “é alguém que quebra as regras que nos ensinam regularmente, que usa aquilo que chamamos de "erros" propositadamente nos seus filmes”. Rui Mendes confessa que “todo o tipo de filme (documentário ou não) tem um enorme papel” na sua formação. O espectáculo já não se vê de olhos tão fechados. O segundo ano de curso dá outra escola. O DocLisboa é, para ele, “um festival que tem ganho reconhecimento internacional ao longo do tempo devido à sua excelente qualidade”. É neste tipo de eventos que os alunos conseguem “conhecer os realizadores e falar com eles”, aprender verdadeiramente. Poder fazer, no final de cada documentário, perguntas ao realizador, esclarecer aquilo que ficou no ar. “São coisas que se lembram para o resto da vida”, afirma Ana Margarida Gil. Para ela, o facto de os estudantes “poderem contactar com grandes nomes do cinema documental e aprender directamente com eles” é, sem dúvida, uma das mais-valias da visita. Para cerca de 30 alunos da ESTA, o DocLisboa é uma forma distinta de aprender. Uma aprendizagem cara a cara, acesso directo a realizadores, a obras, a um mundo que, mais tarde ou mais cedo, lhes vai pertencer. Alexandre Carranço, aluno do 1º ano, reconhece que são “as actividades extra curriculares que dinamizam o curso”. Essas actividades “estão, basicamente, ligadas ao Espalhafitas e à tentativa de criar um cineclube” e, mesmo estas, passam pelas mãos e iniciativa dos alunos.

Federação Portuguesa de Cineclubes em Abrantes A Associação Palha de Abrantes tem várias secções que organizam e dinamizam culturalmente a cidade florida. Uma delas é a secção de cinema, Espalhafitas. Este cineclube é responsável, entre outras iniciativas, por trazer à cidade, à quarta-feira, os filmes que normalmente não fazem parte dos circuitos comerciais. E, recentemente, esteve envolvido na vinda da Federação Portuguesa de Cineclubes para Abrantes. Os projectos da Palha de Abrantes com mais reconhecimento são o «Animaio», que dura há cinco anos, e o «Há cinema na aldeia» que conta com dois anos, mas os festivais também

são parte integrante dos seus projectos. Participaram no Festival de Animação «Cinanima», de Espinho, e no Festival de Arouca, onde ganharam uma menção honrosa com o filme «Os Transformadores». Maria de Lurdes Martins, membro dos Espalhafitas, afirma que o trabalho do cineclube ao longo dos anos tem vindo a ser cada vez melhor, pois “a continuidade é que traz qualidade”. E como “não desistir e insistir é fundamental”, Maria de Lurdes Martins, em nome do cineclube, convidou a Federação Portuguesa de Cineclube a mudar a sua sede para Abrantes. Já há muitos anos existia a discussão de que

era necessária a mudança da Federação pois a sua localização não era a melhor e os custos do local da sede eram muito elevados. Abrantes apresentou-se como a melhor opção para ser a nova sede da Federação, visto que a cidade se situa no centro do país e tem um cineclube activo. O processo de mudança teve também de passar pela Câmara Municipal de Abrantes pois era necessário um espaço. Assim, Maria de Lurdes Martins contactou a vereadora da Cultura que estava no cargo na altura do convite. A autarquia acabou por ceder um espaço para a instalação da Federação Portuguesa de Cineclubes.

Depois de conseguidas as condições necessárias para a mudança, os cineclubes de Portugal foram contactados para dar a informação acerca da deslocalização da sede e estes concordaram. Maria de Lurdes Martins diz que “era necessária a mudança” e da necessidade surgiu o convite. O facto de a Federação Portuguesa de Cineclubes passar a estar em Abrantes vem ajudar a uma maior dinamização da cidade e região. A ligação do Espalhafitas com a Federação é notória em vários aspectos, pois a presidente da Federação é estagiária do cineclube e as duas associações têm no momento uma exposição na Biblioteca Municipal António Botto,

«Homenagem a Vasco Granja». Com a vinda da Federação já foi realizado, em Abrantes, o Encontro Nacional de Cineclubes (Portugal tem 36 cineclubes federados). Com o dinamismo dos Espalhafitas e a vontade de Maria de Lurdes Martins, Abrantes tem agora um papel importante no cinema português. Maria de Lurdes Martins diz que a vinda da Federação para a cidade é bastante importante também para a ESTA, nomeadamente para o curso de Vídeo e Cinema Documental. A Federação “tem um espólio de cinema muito importante”, que poderá vir a ser disponibilizado aos alunos. C.R.


10 | ESTA JORNAL • Janeiro 2010

IPT António Pires da Silva, presidente do IPT

“A ESTA terá todas as condições para vir a ser uma futura escola superior de nível muito alto” António Pires da Silva viu a ESTA crescer ao longo destes 10 anos. Acredita num bom futuro para a ESTA: “Se continuarmos a dar estes passos certos, com os pés bem assentes na terra, tenho a certeza que a escola de Abrantes vai ser uma escola muito boa no ensino superior em Portugal.” DR

Marisa Rodrigues

A ESTA está a comemorar 10 anos. Acompanhou o seu início como docente do curso de Engenharia Mecânica. Quais são as memórias que guarda dessa altura, desse primeiro ano lectivo? São as melhores. Na altura, em Abrantes, tudo era uma novidade e tive uma boa relação com os alunos e com os professores. Apesar de a minha disciplina, a Física, ser considerada como o ‘papão’ do curso, e apesar de os alunos não terem o aproveitamento mínimo que eu exigia, tive um bom relacionamento com eles. Tive sempre um relacionamento óptimo com a cidade em si. Gostei muito. Tanto gostei que, depois de já estar na presidência do IPT, ainda fui à ESTA dar umas aulas. Durante estes quatro anos no comando do IPT, vê atingidos os objectivos a que se propôs para a ESTA? Como, por exemplo, a nomeação do novo director? Vejo. Como é evidente, se não se tivesse dado continuidade ao trabalho

Novas instalações. “Sem a participação da Câmara era impossível”.

“UMA ESCOLA COM UMA ESTRUTURA SÓLIDA”

Eugénio Pina de Almeida, primeiro director da ESTA

melhor de si para compensar as deficiências da escola”. Quanto ao seu sucessor no cargo de director desta escola, Eugénio de Almeida reafirma a confiança em todos os elementos da instituição, declarando que o actual director, Miguel Pinto dos Santos, “era a pessoa certa, no momento certo, para (a ESTA) poder dar o salto para a nova fase”. Quanto ao futuro promissor da ESTA, o vice-presidente do IPT

cisão definitiva. Sabia-se que a escola tinha de ter melhores instalações, tinha de aumentar essas instalações, e foram equacionadas várias possibilidades. Mas só se decidiu passar para Alferrarede a partir do momento em que a Câmara Municipal, dada a necessidade que teve daquelas instalações, se empenhou em contribuir ao máximo para que a escola tivesse novas infra-estruturas. Vai ceder o terreno, vai cumprir com a sua parte nacional de candidatura ao QREN para ter novas instalações. Sem a participação da Câmara era completamente impossível. Prevê-se um futuro promissor para a ESTA com as novas instalações? Eu prevejo que sim. Mas as pessoas não podem ‘embandeirar em arco’. Temos que dar passos certos em terra firme. Penso que é isso que vai acontecer com quem quer que for que fique à frente da ESTA e do IPT. Não pode ser de outra maneira. Se continuarmos a dar estes passos certos, com os pés bem assentes na terra, tenho a certeza que a escola de Abrantes vai ser uma escola muito boa no ensino superior em Portugal. A escola tem futuro.

“PENSEM MENOS NOS DIREITOS E MAIS NOS DEVERES”

DR

Eugénio Pina d’Almeida, actual vice-presidente do IPT, foi um dos principais pilares na construção da ESTA. No ano em que a instituição celebra 10 anos de existência, o primeiro director desta jovem escola acredita que a esta tem pilares sólidos para continuar a crescer. Apesar de actualmente observar a escola de outra perspectiva, Eugénio de Almeida defende que a ESTA “é uma escola com uma estrutura sólida que tem um projecto com pessoas com capacidade de trabalho excelente, que estão preparadas para qualquer desafio que seja lançado”. Embora, hoje, apresente bases sólidas, nem tudo foi facil para a ESTA. Segundo o antigo director, os primeiros anos desta instituição tiveram uma escassez de equipamentos e de laboratórios, o que influenciou a formação dos alunos. No entanto, Eugénio Pina d’Almeida considera que essas falhas foram colmatadas pelo corpo docente que tanto elogia, “todas as pessoas que estavam lá davam o

que tinha sido feito , não teríamos hoje a escola que temos. Há quatro anos atrás, Miguel Pinto dos Santos era a pessoa indicada para suceder ao actual vicepresidente do IPT, Eugénio de Almeida. Estávamos noutra fase, porque na altura tinha de trazer o meu antigo aluno para perto de mim. Precisava dele. As novas instalações são o que falta à ESTA? Sim, faltam as novas instalações. Temos de reconhecer que as instalações que a ESTA tem, actualmente, não correspondem a boas condições para se trabalhar e para se fazer uma escola melhor. Com as novas instalações, com o novo tipo de financiamento, penso que a ESTA terá todas as condições para vir a ser uma futura escola superior de nível muito alto. Foi esta falta de financiamento o impasse para a mudança para as novas instalações? A passagem para Alferrarede só acontece porque a Câmara Municipal precisa das instalações onde a ESTA se situa. Só a partir daí é que se viu que havia absoluta necessidade de mudar de instalações. Porque antes disso não havia uma de-

DR

acredita que as novas instalações vão trazer ânimo à instituição, que apesar de nova tem as suas principais áreas bem definidas. “,O que está a acontecer neste momento é que há um conjunto de projectos e paralelamente, há um reconhecimento por parte do Ministério, da região e do próprio IPT para que a escola tenha um espaço definitivo. As instalações atingiram um limite. O novo campus vai avançar, vai ser dos melhores campus universitários politécnicos do país.” Eugénio Pina d’ Almeida reconhece que num aspecto gostaria de ter visto mais resultados: “A minha maior frustração foi não ter conseguido chegar a onde tinha projectado quando, em 1999, tomei posse como director. Tinha projectado a escola para uma dimensão média à volta de mil alunos; quando saí a escola tinha cerca de 600 alunos. Isso deveu-se a factores externos que vão intervindo ao longo dos anos e quando uma pessoa prevê o futuro não está à espera deles.” M.R.

Luiz Oosterbeek foi o principal dinamizador do Conselho Geral do IPT, o organismo que vai escolher o próximo presidente da instituição. Liderou uma lista que pretendeu “promover um debate de ideias e reunir um conjunto de professores reconhecidos pela sua autonomia de pensamento e de intervenção, dentro e fora do IPT”. Este professor reconhece que “os eleitos são isso mesmo”. De acordo com Oosterbeek, o grupo de eleitos reconhece-se nas linhas orientadoras do Plano Estratégico, documento que foi elaborado para guiar o IPT no seu desenvolvimento futuro. Aliás, o seu autor, o professor Augusto Mateus, foi eleito, no passado dia 6, para o cargo de presidente do Conselho Geral. Entre outros aspectos, Luiz Oosterbeek defende que esta instituição “deve afirmar uma “Cultura Politécnica”, que em particular rentabilize plenamente o “processo de Bolonha”, assim como sugere uma atenção particular à evolução e perspectivas de médio prazo

Luiz Oosterbeek, representante dos docentes no Conselho Geral do IPT

do mercado laboral. Ao nível académico, sublinha a importância de aprofundar a flexibilização curricular. No campo do trabalho docente, Luiz Oosterbeek entende que, para além de se dever prestar uma “atenção redobrada à estabilização profissional e à progressão nas carreiras docentes”, é essencial criar uma “Unidade de Investigação”. Para Luiz Oosterbeek, não

se devem “ignorar as dinâmicas de reorganização da rede nacional de Ensino Superior, o que implica a definição de uma estratégia para os possíveis consórcios”. Para além disso, a ligação à sociedade, em Tomar, Abrantes e em geral nos meios urbanos da região “deve ser aprofundada” e a estratégia de internacionalização global deve ser reforçada. Dos próximos responsáveis pelo IPT, Oosterbeek espera que “pensem menos no IPT e mais na sociedade, menos na contabilidade administrativofinanceira e mais na necessidade de formar alunos com competências técnicas e capacidade crítica, menos nos direitos e mais nos deveres, menos na componente institucional e mais nas componentes do ensino e da investigação.” E remata: “Tenho muita confiança de que assim será, e que por essa via se possa caminhar para uma relação mais orgânica entre o IPT e as unidades vitais da região.” M.R.


Janeiro 2010 • ESTA JORNAL | 11

CRIATIVIDADE Reencontro

O

por Sara Pereira

melhor lugar da

Plateia por Jorge Cordeiro

P

rocuro um banco para sentar-me, estão todos ocupados. É de admirar, pois o local deveria espantar as pessoas, está imundo, mal aproveitado, ou melhor, é aproveitado para tudo e mais alguma coisa: mesas desordenadas e dispersas justificam a esplanada de um restaurante e, mesmo ao lado, um monturo revela uma lixeira descoberta, improvisada e sebenta. Entre a esplanada e a lixeira encontra-se um pequeno bloco de cimento corroído, com paredes carbonizadas e rabiscadas com graffiti, da autoria de alguém consciente de que mais risco menos risco não faria qualquer diferença, não tornaria o cenário mais pesado do que já está. Claro que há uma razão de ser, mesmo que seja só uma, para as pessoas estabelecerem-se temporariamente neste espaço pouco preservado. O mesmo motivo para onde me trouxe a minha intuição: o panorama único, o pôr-do-sol formoso, a paisagem esplêndida que um final de tarde em Istambul pode proporcionar, seja a um turista de passagem ou a um istambulense que desconhece qualquer outra cidade para além da sua. Não interessa o piso enlameado, os inúmeros gatos vadios a brigar por uma espinha ou o menosprezo entre gansos e cães que se cruzam com frequência, aqui mesmo ao lado. No horizonte, por detrás do Bairro do Bazar, do Serralho e de Sultanahmet, o Sol desce abrupto e consagra a oportunidade de sentirse a pulsação arcaica do emaranho de habitações, edifícios comerciais, hotéis, mesquitas e palácios, que ganham uma silhueta amena e um contorno amarelo-torrado, que deixa qualquer espírito submisso e nostálgico. Ou iludido, no meu caso, pois morar a cinco minutos desta galeria de arte, desta tela gi-

gante e autêntica é ilusão pura. Para mim, que sem dar conta, estou a pouco tempo de regressar à galeria chamada Portugal. Um senhor que está sentado acena-me, percebe que insisto em arranjar um cantinho. Chega-se um pouco para a direita e oferece-me o espaço que sobra do seu banco, como quem procura companhia em troca. Sento-me. A pouco mais de um metro encontra-se a orla que separa o fim do planalto e o início do Corno de Ouro, a peça que completa o bonito puzzle paisagístico que tenho diante dos olhos, a foz que desagua no famoso Estreito de Bósforo. O senhor diz qualquer coisa, eu respondo-lhe em inglês, que não compreendo turco, mas ele insiste em colocar-me questões no seu idioma, o único que conhece. Passamos o tempo nisto. Através de alguma linguagem gestual pelo meio, percebo que se chama Tŭkce e que trabalha na foz, é «capitão» de um dos pequenos e seculares barcos estacionados no porto à nossa frente, um trimarã do tempo do meu bisavô que leva românticos a atravessar o Corno de Ouro por dez euros, negociáveis, como quase tudo em Istambul. Mas este comandante tem uma particularidade: pode ser iletrado, não ter quaisquer conhecimentos linguísticos, mas é (muito) competente a secar garrafas de vinho Dimitrakupulo Sarabi, as mais acessíveis do mercado. Besh lira é quanto custam, diz-me, com os olhos semicerrados, tronco flectido e gestos trémulos e descoordenados. Dois euros e meio para trocar sobriedade por um bilhete no melhor lugar da plateia. Não está nada caro. A Ponte Gálata, que passa sobre o Corno de Ouro, encontra-se perpetuamente agitada por automóveis, motas, autocarros, eléctricos,

turistas, vendedores, comerciantes, polícias e indigentes. Apercebo-me do movimento, mas não oiço o ruído; os navios que circulam com assiduidade abafam-no com buzinões aprazíveis, com o simples trabalhar do motor ou com a ondulação que provocam na água e que vem crepitar aos meus pés. Os pescadores também serpenteiam por toda a ponte, são incansáveis, sabem que pesca mais desportiva e eficaz é na foz e desde cedo que a maioria se estabelece por ali, reconfortando-se com o calor das fogueiras acesas e com os petiscos e chás que os vendedores ambulantes vão despachando a preços irrisórios. Estabelecerem-se cedo significa ainda com o Sol a dar a primeira espreitadela no Afeganistão, a cerca de três mil quilómetros de Istambul. Outros nem chegam a desfazer a cama, a amarrotar os lençóis, a amassar a almofada; passam a madrugada inteira a assistir à magia que só o engodo sabe fazer. E, frequentemente, lá está um ou outro pescador a recolher dois ou três peixes que se saracoteiam com ímpeto no fio de pesca, destinados a juntar-se às centenas que repousam no interior dos garrafões de cinco litros ou nas caixas de esferovite. O amigo Tŭkce ausentou-se, fez-me sinal que vem já, para eu esperar. Não lhe bastou o litro e meio de vinho que fez desaparecer em menos de meia hora ou a quantidade de cigarros que extraiu do maço, uns atrás dos outros, até mandar a embalagem vazia para o chão. Regressará? Ou dá três passos e esquece-se do que ia fazer nos seguintes? Abstraio-me. Fecho os olhos por uns segundos, limito-me a ouvir, cheirar e sentir. Percebo como os invisuais conseguem ver melhor certas coisas – sabem usu-

fruir do que têm no peito, o coração. Abro-os novamente. As gaivotas sobrevoam a foz e emitem um chilrear hipnotizante, de manhã à noite. O Sol desaparece por trás da civilização, deixando uma luminosidade suave e anestesiante. Quero parar o tempo, mas não consigo. Ainda bem. É da maneira que amanhã posso despertar com a mesquita a ecoar a primeira chamada do dia à oração, melódica e arrepiante para qualquer Ocidental como eu; deliciar-me com um kebab döner ou um peixe assado junto ao porto; escutar a musicalidade turca através dos instrumentos saz, ney, ud, kaval, darbuka e davul provinda de actuações em restaurantes ou na própria rua; fumar nargilé e jogar o típico tavla ou gamão no dicionário português; absorver o que a cidade tem de invulgar, de Oriental, de Médio Oriente… A noite cai, os assentos ficam novamente disponíveis, a cidade torna-se parda. Ganha uma beleza diferente, mais densa, mais sombria e menos concorrida. As luzes nocturnas vão salpicando os poros de Istambul, o frio assenta com hostilidade. Alguns dos pescadores recolhem, outros vêm substituí-los; outros ainda aproveitam para dormitar um pouco – têm uma longa madrugada pela frente. As gaivotas, essas, permanecem no alvoroço de sempre. Ainda bem. Aproveito para ficar mais um pouco, não sei quando voltarei a ter uma oportunidade como esta. De qualquer forma, o Tŭkce pediu-me para aguardar a sua chegada e ainda não regressou, espero mais um bocado. Na verdade, aproveito esse mesmo pretexto para não me ir embora daqui tão cedo. Fecho os olhos uma vez mais, no melhor lugar da plateia, e olho como só os invisuais sabem fazer. Com o coração.

Desde que poisei o auscultador do telefone que antecipava este momento. Será que estavas muito diferente? Usarias o cabelo comprido como quando te vi pela última vez ou cortado rente com o qual eu te conhecera? Terias seguido o teu caminho, como eu procurei seguir o meu? Vinte anos depois. Voltada a página com o teu nome escrito, dediquei-me à única coisa que pode ser certa na minha vida: Eu mesma. Tinha a profissão que sempre quis, realizei o meu sonho de ver o mundo, mas haveria sempre aquele vácuo no lugar que tinhas ocupado. Será que eras o mesmo que eu tinha conhecido? Será que no teu sangue ainda fervia a vontade de encontrar a tua paz de espírito? Será que tinhas encontrado alguém, ou a tua visão redutora do amor não to teria permitido? Lembro-me de dizeres que o amor era apenas uma invenção dos poetas para esconder o animal que existe em cada um. Não concordo, disse-te, e tu perguntaste se eu não gostaria demasiado. Será que terias gostado demasiado de alguém? No dia combinado, pouco antes da hora combinada, calcei as botas, vesti o casaco e peguei no livro embrulhado que serviria de presente. Espero que gostes do que vais reencontrar, espero gostar de te reencontrar em quem és agora. Recordei tudo o que vivi contigo. A noite naquela esplanada em que te conheci e que deixaste marca por estares a beber chá quando todos bebiam cerveja. As tardes de estudo pontuadas por risadas. A amizade pura que nos ligava. Fui andando. Estava a chegar ao local combinado. Lisboa, a Baixa, a Brasileira, debaixo dos olhares do Pessoa, que permanecia mudo e quedo à passagem do tempo. A noite em que disseste que não podíamos ser mais do que amigos. A manhã em que me tiraste a ferros da tua vida e que mudou drasticamente a minha. Estava a chegar. Já via ao fundo a estátua que iria servir de ponto de encontro. Já via ao fundo o gingado do teu andar e tudo o que me permitia distinguir-te de todos os outros que passavam, atarefados. Será que me reconheceste, vinte anos depois? Passei por ti e continuei a subir a Baixa.


Marcas que ficam para a vida ISTAMBUL é uma das cidades para onde têm ido os alunos da ESTA, concretizando uma das melhores experiências que os jovens do ensino superior têm ao seu alcance. Candidatam-se, são seleccionados mediante o seu desempenho escolar e ganham uma bolsa, que lhes permite fazer um semestre lectivo noutra Universidade do espaço europeu. Mais do que uma experiência académica, esta é também uma experiência de vida, que dá lições de multiculturalidade, que desenvolve o espírito de independência, que abre horizontes. Independentemente das notas que trazem pelo seu desempenho escolar, os jovens estudantes que vão fazer uma parte do seu curso numa Universidade estrangeira trazem, sobretudo, um conjunto de marcas que ficam para a vida. Há muitas formas de as expressar. Jorge Cordeiro, para além de uma crónica (ver página 10), partilha o que sentiu, num dos momentos que viveu em Istambul, através de fotografias.


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CORREIO DO LEITOR

JANEIRO2010

Encerramento da Escola do Souto A escola do Souto foi criada em 24.03.1856. Funcionou no edifício de primeiro andar em frente dos correios, até aos primeiros anos da década de quarenta do passado século, data em que foi vitimado por um incêndio. Em substituição do edifício alvo das chamas, foi construído o novo edifício escolar (que hoje conhecemos) tipo Plano dos Centenários inaugurado a 30 de Janeiro do ano de 1949. Porém, as duas salas de aulas com que foi dotado, passados poucos anos revelavam-se insuficientes, tendo-se recorrido a outras instalações improvisadas. Nos anos sessenta eram nove os edifícios escolares espalhados um pouco por toda a freguesia, alguns com duas salas de aulas. Foi nesta época que se atingiu o número máximo de alunos, estima-se que terão ultrapassado largamente as duas centenas. No final do passado ano escolar, a população do Souto assistiu tristemente ao encerramento da sua escola, por onde passaram centenas de alunos. Em muitos casos, durante as seis décadas em que esteve em actividade, por ali passaram avós, filhos e netos. È uma rea-

lidade o encerramento das escolas um pouco por todo o país, motivado pelo número reduzido de alunos. Neste caso os poucos alunos do novo ano lectivo passaram a frequentar a escola de Carvalhal, transformada em Centro Escolar que assim reuniu os alunos das freguesias circundantes. Recordando toda aquela alegre “chilreada” nas horas de recreio, e os tempos em que também fui aluno da escola agora encerrada, lamento que os últimos alunos e professores tenham encerrado as portas sem que alguém de direito tenha promovido uma pequena mas simbólica cerimónia de encerramento. Não quis deixar passar este facto sem uma nota. Nos últimos dias de funcionamento juntamente com algumas pessoas, também elas sensibilizadas com este encerramento, visitámos a escola. Presentes estavam as senhoras professoras e os últimos alunos em número de cinco, quatro rapazes e uma menina, frequentando os 1º, 2º, 3º e 4º anos. Alunos estes que, alheios a mais um encerramento e a todo o historial desta escola, demonstravam a vivacidade própria da sua idade.

Neste último ano os alunos foram apoiados na disciplina de Inglês pela Sr.ª Professora Dª Carla, mas foi à Sr.ª Professora Dª Cristina Graça, também ela sensibilizada com este encerramento (há três anos a exercer a sua actividade nesta escola), que coube o papel de fechar as portas. Portas estas que naquele dia de Janeiro do ano de 1949 em ambiente festivo foram abertas pelas saudosas professoras D. Alice de Brito e Dª Florinda Sabino Em nome da população do Souto na qual me incluo (estou

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Carta ao director

certo que esta população está de acordo comigo) quero aqui deixar uma palavra de agradecimento a estas senhoras professoras, as últimas desta escola, pela sua dedicação e empenho, extensiva também às dezenas de outras professoras que durante estes sessenta anos foram passando pelo Souto, na sua digníssima missão do ensino. Na foto, os últimos alunos desta escola dos dois últimos anos. Manuel Batista Traquina

Exmo. Sr. Director, No Jornal de Abrantes de Dezembro p.p., de que Vª Exª é mui digno Director, na página 10 e em artigo de opinião com o título “apreensões”, o autor da Opinião ali expressa, tecia comentários a que não vou, nem quero, pelo menos or agora, responder, apesar de, como militante fundador da Secção de Abrantes do PSD, poder assumir e ter esse direito. Como no comentário o seu autor se permite anaisar a marcação das eleições na Secção como tendo sido feitas “na surra” e como o signatário era o Presidente da Mesa do Plenário, logo o autor da Convocatória, quero desde já deixar claro que o articulista, como militante que diz ser, devia saber que as eleições seriam nessa data, tivesse ou não havido acto eleitoral. Logo foram marcadas no dia imediato ao mesmo porque era essa a data em que terminavam os mandatos dos então órgãos em exercício. Infelizmente parece que não sabia ou não se lembrava. Mas ainda assim, da ordem de trabalhos fazia parte a análise da situação política. Logo se tivesse comparecido, poderia ter de viva voz feito a defesa do seu ponto de vista e da sua análise política. Preferiu primar pela ausência. E se pasmou tanto, então deverá analisar se não está no Partido laranjinha de modo e de facto completamente errado e se não é chegada a altura de repensar a sua filiação. Creio que o Partido laranjinha, como diz o “Opinador”, ganharia muito mais se tais “convertidos” quisessem fazer uma reconversão aos ideais que, afinal, parecem manter e desejar. Anacleto da Silva Batista


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PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO INTERNACIONAL

Herity certifica equipamentos de cultura Os municípios de Abrantes, Mação e Vila Nova da Barquinha já ultrapassaram a fase final do processo de certificação internacional Herity. São pioneiros em Portugal nesta certificação de monumentos e equipamentos culturais, apesar de já existirem mais uma série de intenções, como o Convento de Cristo em Tomar. Este processo, que junta em rede os três municípios num trabalho conjunto de promoção, visa a certificação da Biblioteca António Botto e o Castelo de Abrantes, o Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo, em Mação, o Centro Cultural de Vila Nova do Barquinha e o Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo. Durante cinco dias três avaliadores do Herity estiveram nestes equipamentos a fazer a “auditoria”, o que representou também o fecho de um período de ano e meio de trabalho. Agora, há ainda que receber as opiniões dos visitan-

tes destes equipamentos e bens culturais que fazem parte integrante da avaliação final que atribui pontuação (entre 1 e 5) quanto ao valor do equipamento, à conservação, aos serviços e à comunicação. Maurizio Quagliolo salientou que não há notas negativas, mas mesmo que numa das áreas exista um 1 “já é sinal de trabalho e de esforço”. “Esta é uma oportunidade cultural, mas também económica, servindo estes três municípios de pioneiros e de exemplo para o país, com a valorização cultural dos seus próprios bens muito graças à sua esclarecida iniciativa”, observou Jorge Rodrigues. Esta candidatura, sendo voluntária, representou um entendimento entre os três municípios, preocupados em melhorar os níveis de oferta cultural. José Saldanha Rocha já anunciou a intenção de candidatar no futuro o novo auditório municipal. A cerimónia de entrega dos símbolos Herity aos cinco sítios agora certifica-

• Herity no Museu de Mação. dos deverá ocorrer no próximo mês de Abril.

O que é a certificação Herity O Herity - junção das palavras Heritage (património) e Quality (qualidade) – resulta de um sistema criado pelo Comité Internacional para a Gestão de

Qualidade do Património Cultural que visa “combater a falta de informação relativa ao património cultural” e ajudar o público a “decidir se deve ou não visitar um local que é património cultural”. Aplica-se a museus, monumentos, edifícios religiosos, castelos, parques arqueológi-

cos, bibliotecas e arquivos. Este processo de avaliação e de certificação, reconhecido pelo Comité do Património Mundial da UNESCO (agência da ONU para a Educação, Ciência e Cultura), inclui uma análise rigorosa da gestão patrimonial e do valor cultural dos sítios, da conservação des-

tes, das informações transmitidas ao público e da qualidade dos serviços prestados, “os quatro aspectos-chave da gestão patrimonial”, segundo disse Jorge Rodrigues, coordenador nacional do programa Herity Portugal. Jerónimo Belo Jorge


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ABRANTES

Escola de música A. Teixeira comemora 25 anos Em 1985, logo no inicio do mês de Janeiro, abria em Abrantes a Escola de Música A. Teixeira. Acácio Teixeira, que a vida tratou de trazer para Abrantes, é o responsável pela abertura desta Escola de Música por onde, até hoje, já passaram cerca de 750 alunos. Muitos deles são hoje músicos profissionais ou professores de música, como referiu Acácio Teixeira ao JA: “Recordo-me por exemplo do André Vicente, de Tramagal, que aprendeu aqui, e hoje é professor de música e é também o pianista do Hotel dos Templários, por exemplo, ou o André

Marques e o Mauro Moura dos Kwantta que também por cá passaram..” É com nostalgia que Acácio Teixeira recorda o início desta aventura: “Eu era muito jovem e tinha acabado o meu curso do conservatório e já dava aulas em Lisboa, de onde sou natural. E comecei também a dar aulas no conservatório em Tomar. Em conjugação com uma série de circunstâncias familiares, acabei por vir parar a Abrantes. Na altura constatei que não existia em Abrantes ninguém a ensinar músic,a e eu e o meu pai decidimos abrir esta escola. Entretanto conheci a Maria Manuel com

quem casei e com quem tenho partilhado o trabalho na escola!” Recentemente, o cine-teatro São Pedro em Abrantes teve sala cheia para assistir a mais uma das audições que a Escola A. Teixeira promove para mostrar ao público em geral o trabalho desenvolvido pelos alunos da Escola.”É uma forma que encontrámos para motivar os nossos alunos e também de mostrar ao público a importância que a música tem nas nossas vidas. Ao fim de cada período, fazemos uma audição. Estamos a fazer três espectáculos grandes por ano. Antigamente ape-

nas fazíamos um. Continuamos a crescer. Temos conseguido fazer cada vez mais e melhor. Queremos que este projecto seja cada vez maior, e por nós assim será, pois o interesse em aprender música é cada vez maior. Temos uma estrutura pequena, e somos obrigados a limitar o número de alunos. Normalmente, temos sempre uma lista de espera. Houve alturas em que já tivemos outros professores. São muitas as pessoas que querem aprender música, como explica Acácio Teixeira. - A maior parte das pessoas que nos procuram têm curiosidade.

• Acácio e Maria Manuel Teixeira. Gostam de música e querem saber se têm jeito ou não têm. A maior parte dos nossos alunos são crianças, mas também temos adultos a querer explorar a música. Com trabalho e de-

dicação tudo se consegue, às vezes mesmo quando se pensa o contrário. Há pessoas que pensam que poderão não ter muito jeito, e depois têm surpresas muito interessantes”.


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LUGARES COM HISTÓRIA

O Castelo de Abrantes Podemos considerar o Castelo de Abrantes como um verdadeiro lugar matricial, pois foi à volta dele, que a comunidade que depois deu origem a Abrantes, nasceu, se foi construindo e organizando. O ponto mais alto deste cabeço, sobranceiro à margem direita do Tejo, donde se visualiza uma enorme área em redor e com férteis terras de aluvião na base, tinha condições óptimas para ser, desde remota antiguidade, um centro polarizador da actividade humana. Dado que as escavações, neste local, têm sido escassas e pouco sistematizadas, grande parte da sua História ainda não foi feita, escondida que está no interior da terra. Contudo, algumas descobertas, feitas a maior parte casualmente, dão para atestar a existência de vestígios humanos que remontam pelo menos há quatro mil anos, o que faz pressupor que tivesse ali existido um castro, antecessor do actual castelo. Neste local já foram encontrados machados (alguns raros) e pedaços de cerâmica da Idade do Bronze (que começa cerca de 2000 anos antes de Cris-

to) e do Ferro, vestígios romanos (uma estátua, aras, algumas moedas, etc) e fragmentos de cerâmica muçulmana. Tudo isto atesta a existência de muita actividade humana neste morro, antes de ele entrar propriamente na História de Portugal, no século XII, com a conquista do Castelo aos Mouros por D. Afonso Henriques, passando então, com outros (Belver, Amieira, Almourol, etc.), a fazer parte da linha de defesa do vale do Tejo. Para que essa defesa se tornasse mais eficaz, o nosso primeiro rei doou-o à ordem militar de Santiago de Espada em 1173. Como era então a configuração exterior do Castelo, desconhecemo-lo pois as muralhas, que hoje ali vemos, são muito mais recentes. Para atestar que aquele era já um lugar cristão, foi construída a Igreja de Santa Maria do Castelo, única, em Abrantes que conserva traços medievais (a porta principal ainda mantém o arco em ogiva). No seu interior podemos admirar, hoje, interessantes peças de Arte Sacra e o denominado Panteão dos Almeidas. Os primeiros condes de Abrantes elegeram-na para ali erigirem os seus

famosos e belos túmulos, que só por si merecem uma atenta visita ao local. A Torre de Menagem que, nos castelos medievais, constituía o último reduto defensivo, já devia fazer parte integrante do Castelo, na altura da reconquista cristã. Sofreu importante remodelação no reinado de D. Dinis, entre 1300 e 1303, que a dotou com três pisos. Em 1860, no tempo do Barão da Batalha, foi novamente remodelada e alindada com um rico troféu de armas, comemorativo da vinda a Abrantes da rainha D. Maria II. Ao transpormos a porta principal que dá entrada no recinto do castelo, en-

contramos, do nosso lado direito, umas construções, com robustas paredes, que é tudo o que resta do chamado Palácio dos Governadores. Foi aqui que se situou o Palácio dos Marqueses de Abrantes. O primeiro edifício foi obra de Diogo Fernandes de Almeida, alcaide-mor de Abrantes, tendo sido depois reconstruído com grande magnificência, pelo primeiro marquês, Rodrigo de Almeida e Meneses. Este faleceu em 1733, tendo ficado sepultado, em campa rasa, no adro da Igreja de Santa Maria do Castelo. Este palácio foi destruído em 1809, por altura das invasões francesas, quando se fizeram no-

vas fortificações nesta praça. O que restou foi depois utilizado pelas várias guarnições militares que ali estiveram sedeadas, até meados do século XX. Hoje esses espaços estão restaurados e ali se têm desenvolvido eventos vários. Muito mais haveria para dizer sobre este Castelo, mas está e chegar ao fim o espaço que me foi reservado. Por aqui passaram muitos dos nossos reis (D. João I na passagem para Aljubarrota, D. João II, D. Manuel I, Filipe II, D. Pedro V, D. Maria II entre outros) e várias figuras ilustres como D. Francisco de Almeida, primeiro vice-rei da Índia e Gil Vicente que aqui repre-

sentou um dos seus autos. Hoje este espaço encontrase limpo e bem cuidado, com informações históricas pormenorizadas acerca dos seus vários componentes, mas com a vista lindíssima que tem e conservando tantas memórias da história de Abrantes, é pena que não esteja mais dinamizado de modo a levar até ele mais abrantinos e forasteiros que lhe dessem vida e melhor dele pudessem desfrutar. Bibliografia: CANDEIAS SILVA, Joaquim, “Jornal de Alferrarede”, Junho de 2006 MORATO, Manuel A., “Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes”, edição da Câmara Municipal de Abrantes, 2002.


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“GEOGRAFIAS VIVAS”

Gonçalo Byrne expõe em Abrantes A obra do arquitecto Gonçalo Byrne está representada numa exposição na Galeria de Arte de Abrantes até 5 de Fevereiro. Autor de vasta obra e galardoado com importantes prémios nacionais e internacionais, Gonçalo Byrne é hoje um arquitecto de referência em Portugal, com obra não só no domínio dos edifícios, mas também no campo do planeamento urbano. Esta exposição é ainda mais um contributo do Núcleo do Médio Tejo da Ordem dos Arquitectos.

A catedral de Fátima que não chegou a ser.

NOVOS LIVROS

Filipe III

Prostituição em análise no “Último compromisso”

Joaquim Candeias Silva acaba de darnos mais uma obra de História. Neste caso, a biografia de Filipe III. A obra integra a colecção Reis de Portugal que o correio da manhã tem vindo a publicar às quintas-feiras, sob a chancela QuidNovi/Academia Portuguesa da História. Candeias Silva é doutorado em História com uma tese sobre Abrantes no período filipino. Tem publicada vasta obra histórica sobretudo relativa a Abrantes e ao Fundão, donde é natural.

Valentim Navalho acaba de lançar, em edição de autor, mais uma obra. “Último Compromisso” é apresentado como um livro de “contos baseados em factos verídicos”, portanto muito próximos da realidade. O tema e as teses do autor são propícios a causar discussão. Trata-se da prostituição. A linguagem é directa e crua, sem artifícios ou disfarces, aliás como nas obras anteriores do autor, “Revelações Íntimas” e “Não Há Lugar para Detectives!”. Mais uma obra para causar impacto.

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Partiu o homem do “cai bem” Faleceu o PF. A notícia rapidamente se espalhou por Abrantes na quarta-feira, dia 20 de Janeiro. António Silva, mais conhecido por PF, era o proprietário de uma das mais famosas tabernas de Abrantes. Taberna noutros tempos, ganhou na última década a estrela de bar para a malta mais jovem, cuja esquina é uma das referências entre os jovens e “poiso”, principalmente, das noites. O espaço era frequentado pelos abrantinos, mas rapidamente se tornou num dos espaços mais frequentados também pelos alunos da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes. Este espaço, muito característico, por continuar a ser uma “taberna” teve sempre a particularidade por uma bebida que só ali é servida: Cai Bem. Uma mistura que é feita no estabelecimento, mas que é uma das imagens do PF. Por outro lado, apesar da sua idade, António Silva mantinha-se, mesmo nos últimos tempos, sentado uma cadeira no interior do estabelecimento, até ao seu fecho. Das muitas estórias que teve ao longo da sua vida, algumas registou-as em livro, que editou no ano passado. “Pacato - António Silva versos e narrativas” conta estórias por si vividas. Na última viagem de António Silva, foram muitos os jovens que acompanharam o cortejo fúnebre o que representou o carinho que estes tinham pelo PF, um nome que perdurará em Abrantes, seguramente, por muitos anos.


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jornal abrantes FICHA TÉCNICA Director Geral Joaquim Duarte Director Alves Jana alves.jana@jornaldeabrantes.pt Sede: Av. General Humberto Delgado – Edf. Mira Rio, Apartado 65 2204-909 Abrantes Tel: 241 360 170 Fax: 241 360 179 E-mail: info@jornaldeabrantes.pt

Redacção Jerónimo Belo Jorge (CP.1907 jeronimo.jorge@antenalivre.pt Maria João Ricardo (CP. 6383) maria.ricardo@jornaldeabrantes.pt André Lopes

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ABRANTES Exposição permanente – Museu D. Lopo de Almeida - Colecção de Arte Sacra - de 3ª-feira a domingo, das 9h30 às 13h00 e das 14h00 às 17h30 30 de janeiro – Teatro infantil “À procura do Ó-Ó Perdido” 10h30 no Cine-Teatro São Pedro Até 5 de fevereiro - Exposição “!Geografias Vivas” - Arquitectura de Gonçalo Byrne - Galeria Municipal de Arte – De 3ª-feira a sábado, das 10h00 às 21h30 e das 14h00 às 18h30 5 de fevereiro – Passa Palavra e café concerto com “The Scart” Cine-Teatro São Pedro, às 21h30 19 de fevereiro - Concerto com a fadista Ana Moura - Cine-Teatro São Pedro, às 21h30

CONSTÂNCIA Até 29 de janeiro – Mostra bio-bibliográfica de Herta Muller – Biblioteca Alexandre O’Neill, das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h30 De 1 a 26 de fevereiro – Mostra bio-bibliográfica sobre Nicholas Sparks - Biblioteca Alexandre O’Neill De 6 a 21 de fevereiro - Exposição de Pintura de Pedro Oliveira - Posto de Turismo DVDteca à Sexta, às 15h00 na Biblioteca Alexandre O’Neill: 29 janeiro – “Agente Acidental”

“Leva-me aos Fados” pela voz de Ana Moura 19 de Fevereiro em Abrantes A Fadista Ana Moura editou o primeiro trabalho discográfico em 2003 e a partir daí a sua carreira transformou-se naquilo que é hoje, uma das artistas mais conceituadas do panorama musical. O concerto que vai trazer a Abrantes vai centrar-se no seu último registo discográfico “Levame aos Fados”. Mas no Cine-Teatro São Pedro poderá também ouvir outros temas como “Aconteceu” e “Mouraria”. Dia 19 de fevereiro, às 21h30, o público que faça silêncio, que “se vai cantar o fado”.

5 fevereiro – “Homem Aranha 3” 12 fevereiro - “Um Homem de Sonho” 19 de fevereiro - Hello Kitty: A Festa das Máscaras 26 fevereiro - “Amália, o Filme”

MAÇÃO 13 de fevereiro - Bandas em concerto - Sociedade Filarmónica do Fraternidade de S. João de Areias - Cine-Teatro Municipal, às 21h30 - entrada livre

BARQUINHA Até 31 de janeiro – Um Mês, Um

Escritor – Mostra bibliográfica de Jorge Amado - Biblioteca Municipal - 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00 Até 20 de fevereiro – Exposição de pintura “Anagramas” de Luís Athouguia - Centro Cultural da Barquinha - De segunda a sábado, das 9h30 às 12h30 e das 14h00 às 18h00 20 de fevereiro – Noite de Fados com jantar - Raquel Tavares, Cidália Moreira, Fábia Rebordão e Jorge Fernando – Quinta da Ponte da Pedra, Atalaia, às 21h00 - entrada 20 euros

SARDOAL Até 30 de janeiro - Exposição de Arte Contemporânea de Fernando Pereira, Marco Ayres, Ricardo Passos e Urbano da Cruz – de terça a sexta-feira das 16h00 às 18h00, e aos sábados das 15h00 às 18 horas. 13 de fevereiro “Queres Namorar Comigo?” espectáculo alusivo ao Dia dos Namorados - Centro Cultural Gil Vicente 16 de fevereiro - Desfile e concurso de máscaras - Centro Cultural Gil Vicente


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CINEMA ABRANTES Cine-Teatro São Pedro - Espalhafitas, às 21h00: 27 de janeiro - “Uns Belos Rapazes” 3 de fevereiro - As praias de Agnès 10 de fevereiro - O Rapaz de Pijama às Riscas 17 de fevereiro – “Tempo Reflectido” e ”Tetro” 24 de fevereiro – “Andando”

Centro Comercial Millenium, às 21h30: De 21 a 27 de janeiro – “Terapia para casais” De 28 janeiro a 3 de fevereiro - Ágora De 4 a 10 de fevereiro – “Alvin e os Esquilos” De 11 a 17 de fevereiro – “Parceiros no crime” De 18 a 24 de fevereiro – “A Bela e o Paparazzo” De 25 de fevereiro a 3 de março – “Serlock Holmes”

CONSTÂNCIA Cine-Teatro Municipal, às 21h30: 30 de janeiro – “Julie e Lulia” 31 de janeiro - Ponyo à Beira-Mar 6 de fevereiro – “Uma Aventura na Casa Assombrada” 17 de fevereiro – “Terapia para Casais” 20 de fevereiro - Crepúsculo 17 de fevereiro – “A Saga Twilight: Lua Nova” 28 de fevereiro – “Planeta 51”

SARDOAL Centro Cultural Gil Vicente: 7 de fevereiro - Força G, às 16h00 20 de fevereiro - Avatar , às 16h00 e às 21h30

TORRES NOVAS Toreshopping - De 21 a 27 de janeiro: Sala 1 - “2 Amas de gravata” Sala 2 – “Sherlock Holmes” e “Terapia para Casais” Sala 3 – “Avatar” Tel: 249830750

O jornal de abrantes on line

www.oribatejo.pt

ABRANTES VENDO PRÉDIO COM LOJA OU ALUGO LOJA Contacto 217 930 100

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NECROLOGIA

18 PORTELA - SANTA MARGARIDA DA COUTADA

PEGO

Faleceu

Faleceu

Antónia de Moura Alexandre

Manuel Correia Vicente

18-05-1931 • 25-12-2009

Seu esposo, filhas, genros, netos e restantes familiares, vêm por este meio agradecer a todas as pessoas que acompanharam a sua ente querida à sua última morada. A cargo de: Funerária José Grilo Lda. Telf.: 241 890 615 – 962 773 327 • Tramagal

03-03-1950 • 15-12-2009

Sua esposa, filhas, genros, netos e restantes familiares, vêm por este meio agradecer a todas as pessoas que acompanharam o seu ente querido à sua última morada. A cargo de: Funerária José Grilo Lda. Telf.: 241 890 615 – 962 773 327 • Tramagal

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BICAS - SÃO MIGUEL DO RIO TORTO Faleceu

Joaquina Damásia Quitéria 30-10-1916 • 18-12-2009

Seu esposo, filho, nora, netos, bisnetos e restantes familiares, vêm por este meio agradecer a todas as pessoas que acompanharam a sua ente querida à sua última morada. A cargo de: Funerária José Grilo Lda. Telf.: 241 890 615 – 962 773 327 • Tramagal

SÃO FACUNDO

TRAMAGAL

S. FACUNDO

Faleceu

Faleceu

Faleceu

Maria Teresa

Benjamim Rosa Neto Mendes

Lilia do Rosário

08-03-1920 • 19-12-2009

19-06-1942 • 05-12-2009

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02-08-1928 • 03-12-2009

Seus filhos, nora, genro, netos e restantes familiares, vêm por este meio agradecer a todas as pessoas que acompanharam a sua ente querida à sua última morada.

Sua companheira, filhas, genros, netos e restantes familiares, vêm por este meio agradecer a todas as pessoas que acompanharam o seu ente querido à sua última morada.

Suas filhas, genro, netos, bisneta e restantes familiares, vêm por este meio agradecer a todas as pessoas que acompanharam a sua ente querida, à sua última morada.

A cargo de: Funerária José Grilo Lda. Telf.: 241 890 615 – 962 773 327 • Tramagal

A cargo de: Funerária José Grilo Lda. Telf.: 241 890 615 – 962 773 327 • Tramagal

A cargo de: Funerária José Grilo Lda. Telf.: 241 890 615 – 962 773 327 • Tramagal

ARRIFANA - SÃO MIGUEL DO RIO TORTO

PAREDE - SARDOAL

Faleceu

Silvina Conceição Candeias 09-01-1931 • 20-12-2009

Seu esposo, filhas, genros, netos e restantes familiares, vêm por este meio agradecer a todas as pessoas que acompanharam a sua ente querida à sua última morada. A cargo de: Funerária José Grilo Lda. Telf.: 241 890 615 – 962 773 327 • Tramagal

SANTA MARGARIDA DA COUTADA Faleceu

Maria de Salete Nunes Lopes de Oliveira Baptista A família lembra o seu Aniversário, 9 de Janeiro Descansa em paz.

Lúcia Maria Freire Mendes 24-11-1953 • 17-12-2009

Sua mãe, filha e restantes familiares, vêm por este meio agradecer a todas as pessoas que acompanharam a sua ente querida à sua última morada. A cargo de: Funerária José Grilo Lda. Telf.: 241 890 615 – 962 773 327 • Tramagal

TRAMAGAL

FONTES - ABRANTES

ABRANTES

Faleceu

Vítor dos Santos

Manuel Maria Eugénio

João Manuel Pombo Antunes 19-10-1939 • 18-12-2009

Sua esposa, filhos, nora, netos e restantes familiares, vêm por este meio agradecer a todas as pessoas que acompanharam o seu ente querido à sua última morada. A cargo de: Funerária José Grilo Lda. Telf.: 241 890 615 – 962 773 327 • Tramagal

N. 27/05/1924 • F. 24/12/2009

Agradecimento Sua família, na impossibilidade de fazerem pessoalmente, vêm por este meio manifestar a sua gratidão a todas as pessoas o velaram, participaram na Missa de corpo presente e acompanharam o seu familiar à sua última morada, no cemitério de Fontes. Para todos a sua eterna gratidão.

N. 24-10-1925 - F.26-12-2009

Agradecimento Esposa, filhos, nora, genro e netos, não sendo possível fazê-lo pessoalmente como era seu desejo, vêm por este meio testemunhar o seu profundo agradecimento, a todas as pessoas que se interessaram pela sua saúde e o acompanharam à sua ultima morada, ou que de uma ou outra forma, manifestaram a sua amizade e o seu pesar. Deus o tenha no seu eterno descanso.

ROSSIO AO SUL DO TEJO

CHAINÇA – ABRANTES

S. DOMINGOS

Edmundo Horta Pires

Joaquim Duarte

N. 27-06-1938 • F. 23-12-2009

N. 20-05-1930 - F. 08-01-2010

Manuel Rodrigues Bernardino

Agradecimento Sua filha, filho, nora, neta e demais família, não lhes sendo possível fazê-lo pessoalmente, vêm por este meio manifestar a sua gratidão a todas as pessoas que se interessaram pelo seu estado de saúde durante a sua doença, e quando do seu falecimento o velaram, participaram na Missa de corpo presente e acompanharam à sua última morada, o seu saudoso pai, sogro, avô e parente. Para todos a sua eterna gratidão

Agradecimento Sua família, na impossibilidade de o fazer pessoalmente, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que se interessaram pelo seu estado de saúde, que velaram e acompanharam o seu ente querido até à sua última morada.

N. 28-09-1927 - F. 19-01-2010

Agradecimento A Família vem por este meio agradecer a todos os que acompanharam o seu ente querido à sua última morada ou que de qualquer outra forma manifestaram o seu pesar.


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PROFISSÕES LIBERAIS

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CENTRO MÉDICO E DE ENFERMAGEM DE ABRANTES Largo de S. João, N.º 1 - Telefones 241 371 566 - 241 371 690

C O N S U LTA S ACUPUNCTURA Dr.ª Elisabete Alexandra Duarte Serra ALERGOLOGIA Dr. Mário de Almeida; Dr.ª Cristina Santa Marta CARDIOLOGIA Dr.ª Maria João Carvalho CIRURGIA Dr. Francisco Rufino CLÍNICA GERAL Dr. Pereira Ambrósio - Dr. António Prôa DERMATOLOGIA Dr.ª Maria João Silva GASTROENTERELOGIA E ENDOSCOPIA DIGESTIVA Dr. Rui Mesquita; Dr.ª Cláudia Sequeira MEDICINA INTERNA Dr. Matoso Ferreira NEFROLOGIA Dr. Mário Silva NEUROCIRURGIA Dr. Armando Lopes NEUROLOGIA Dr.ª Isabel Luzeiro; Dr.ª Amélia Guilherme

POR

MARCAÇÃO

OBSTETRÍCIA E GINECOLOGIA Dr.ª Lígia Ribeiro, Dr. João Pinhel OFTALMOLOGIA Dr. Luís Cardiga ORTOPEDIA Dr. Matos Melo OTORRINOLARINGOLOGIA Dr. João Eloi PNEUMOLOGIA Dr. Carlos Luís Lousada PROV. FUNÇÃO RESPIRATÓRIA Patricia Gerra PSICOLOGIA Dr.ª Odete Vieira; Dr. Michael Knoch; Dr.ª Maria Conceição Calado PSIQUIATRIA Dr. Carlos Roldão Vieira; Dr.ª Fátima Palma UROLOGIA Dr. Rafael Passarinho NUTRICIONISTA Dr.ª Carla Louro SERVIÇO DE ENFERMAGEM Maria João TERAPEUTA DA FALA Dr.ª Susana Martins

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