Semana Santa Sardoal - Jornal de Abrantes

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Foto: Paulo Sousa

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Sardoal celebra Semana Santa de 28 de Março a 4 de Abril As celebrações religiosas da Semana Santa são as grandes festas do Sardoal. Mobilizam os habitantes, atarem visitantes e animam a vida local a partir de elementos que partem do mais interior das pessoas e do mais fundo dos tempos. Na Semana Santa, o Sardoal vale ainda mais a pena.

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MIGUEL BORGES, VICE-PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DO SARDOAL

Durante a Semana Santa temos um potencial turístico muito bom MARIA JOÃO RICARDO

Quem passa pelo Sardoal durante a Semana Santa não fica indiferente, e quer lá voltar. As capelas e igrejas enfeitadas, a venda de amêndoas, a cozinha típica, o bom vinho e as paisagens deslumbrantes, os cantos e recantos da vila, fazem deste “um concelho bom para as pessoas morarem”, adianta o vice-presidente Miguel Borges. A Vila-Jardim, como carinhosamente é conhecido o Sardoal, espera por si.

O que representa a Semana Santa para o Sardoal? - É um momento de grande importância, não só de cariz religioso, como cultural e turístico. Existe uma relação muito próxima entre a Câmara Municipal, a Paróquia, a Sta. Casa da Misericórdia e todos os organizadores da parte religiosa. Essa vertente turística levou a que a câmara tenha apostado mais na Semana Santa, desde 1997. As Festas do concelho são outra coisa. - Sim, sem dúvida. Durante a Semana Santa temos um potencial turístico muito bom, aliado à religião. A aposta foi forte e pretendemos que continue crescendo. Nas Festas do concelho, a aposta é dar a conhecer a vertente económica local, com animação à mistura. No fundo é uma festa popular, como existe noutras regiões. Qual destas festividades atrai mais pessoas ao Sardoal? - Todas as festas religiosas são de uma importância muito forte, e no nosso caso existe uma particularidade única – temos o enfeitar de capelas com flores e verduras. Envolvem-se associações, a Sta. Casa da Misericórdia, escolas, no fundo toda a comunidade. É uma tradição que tem passado de pais para filhos e queremos preservar o mais possível. É cada vez maior o número de pessoas a vir ao nosso concelho. Por exemplo, a Procissão dos Fogaréus tem uma afluência grande. O que podemos ver este ano no programa da Semana Santa? - Para além das cerimónias religiosas habituais, do enfeitar das capelas e das Procissões, vamos ter uma venda de amêndoas e uma expo-

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sição da Sta. Casa da Misericórdia. A venda de amêndoas decorre no átrio da Casa Grande. Antigamente os namorados compravam amêndoas para oferecer às namoradas, por esta altura. No sábado, realiza-se um concerto de piano a quatro mãos, com música de Bach, Endel e outros compositores, no Centro Cultural Gil Vicente. Vai estar patente durante três meses, no Centro Cultural, uma exposição sobre os 500 anos do aniversário da Sta. Casa da Misericórdia. É um espólio riquíssimo, com os painéis originais da Sta. Casa, que têm figuras da Paixão e Morte de Cristo, o Oratório de Arte Namban, entre outros. Este Oratório é único e tem percorrido o mundo, em várias exposições. Como é que a câmara e a igreja organizam a Semana Santa? - Fazemos sempre uma reunião preparatória com o padre, e disponibilizamo-nos para apoiar no que a Irmandade precisar. Estamos a ultimar os procedimentos para regular o trânsito, para que este não interfira no percurso das procissões. Juntamente com a junta de freguesia estamos a caiar todas as capelas da vila. Temos uma colaboração estreita com a igreja e com as três Irmandades.

Um concelho no Centro de Portugal Para além destas festividades o que tem o Sardoal para oferecer aos visitantes? - Temos boa gastronomia, a cozinha fervida, ruas muito lindas, as capelas que agora estão enfeitadas. Temos bom vinho e estamos no centro de Portugal. Temos paisagens fantásticas não só em Sardoal, como Codes, Lapa, Vale do Cabril. Qual é o grande potencial do Sardoal? - Temos alguma agricultura e pequenas indústrias, mas o comércio não é muito significativo. Contudo, é um local que tem qualidade de vida. É um concelho bom para as pessoas morarem, para deixarem os seus filhos na escola, onde a cultura tem força, e o desporto já vai tendo outro dinamismo. Vamos começar ainda este ano com a construção de um pavilhão gimnodesportivo, aqui na vila, e em breve um parque des-

portivo em Sta. Clara. Em relação ao saneamento básico estamos a trabalhar para dar qualidade de vida à população. Qual é a aposta do município nas áreas social, educação, associativismo, cultural? - Vamos divulgar em breve um projecto que se chama Pampi , ocupação dos idosos. Passa pela piscina, aulas de hidromassagem, leitura, bordados, o avô on-line. Este projecto tem uma psicóloga, uma socióloga e uma assistente social. A equipa vai andar no terreno para saber junto desta camada etária o que eles precisam. Em termos de educação, além do Agrupamento de Escolas, temos agora um jardim-de-infância novo, com todas as condições. As crianças podem lá ficar das 8 da manha até às 19h, com uma oferta diversificada, com componente de apoio à família. Durante o verão vol-

ta a realizar-se o ATL, em colaboração com a Associação de Pais e com o Agrupamento. Contudo, precisamos de requalificar o nosso parque escolar. É urgente uma intervenção de fundo na Escola C+S. De futuro queremos construir um pólo escolar no Sardoal e outro em Alcaravela. Para além das crianças, apoiamos também os nossos jovens. Com muito agrado nosso foi criada há pouco tempo uma nova associação de jovens, que já nos fez muitas propostas, como observação de estrelas, festivais de música. Para além desta existem outras associações que também merecem o nosso apoio, como a Associação da Presa, a Filarmónica, ou o GETAS, por exemplo. Estamos a trabalhar nos regulamentos para o novo Conselho Municipal do Associativismo. Na área cultural temos o Centro Cultural com muitas actividades, com exposições e iniciativas de vá-

Perfil António Miguel Borges 44 anos de idade Natural de Abrantes Residente em Sardoal vice-presidente da Câmara pelouros: Serviço de Projectos Comparticipados Ambiente Cultura, Desporto e Acção Social Desenvolvimento Económico/ Social Inovação e Modernização Articulação com as Juntas de Freguesia e com as Associações Antecedentes locais Professor de educação musical Maestro do GETAS e da Filarmónica União Sardoalense Membro da CPCJ local, Membro do Conselho Municipal de Educação Presidente da Assembleia Geral da Associação Pais de Sardoal


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rias associações do concelho. No ano passado o Centro Cultural teve mais de 10 mil utilizadores, contabilizados na bilheteira electrónica. Por exemplo a Associação de Valhascos e a da Presa também fazem actividades. Como está o projecto para a Rota do Pão? E o Arquivo Histórico? - A Rota do Pão ainda é apenas isso, um projecto. Esta Rota já existe, mas precisamos operacionalizar as azenhas e os moinhos. A ideia será terminar no antigo lagar, com um grande museu e com exposições do pão e do azeite. O Arquivo Histórico é mais prioritário. Estamos a fazer o levantamento de todos os documentos, com qualidade e rigor, para que a nossa história não se perca. Para quando um novo Parque Industrial? - O actual Parque está esgotado, não se pode ampliar. Existem 15 empresas no local. Está a ser feita uma revisão do PDM, e é urgente a sua conclusão. A empresa que está a fazer esta revisão está com alguns problemas, e a câmara está a agilizar o processo, o mais rápido possível. No entanto tem havido vários entraves, em termos de governo.

do carro de aluguer. No futuro podemos ver o vereador Miguel Borges como presidente do município? - (risos) De momento a presidência do Sardoal está muito bem entregue. O meu objectivo é trabalhar o melhor que sei, com a máxima força, pelo concelho de Sardoal. Se no futuro essa hipótese se colocar irei analisá-la. A única coisa que eu tenho certa é ser professor. De futuro queremos criar pequenos parques industriais em algumas das nossas freguesias, para que as famílias se possam fixar lá. Como está a situação do mau funcionamento dos semáforos? - Os semáforos não dependem da câmara municipal. Quando eles não funcionam em condições alertamos os responsáveis, mas o que é certo é que nem sempre vêm com a rapidez que desejamos. No ano passado alertámos o Presidente da República sobre esta situação. Vamos continuar a insistir para que aquela zona, que é considerada de risco, tenha solução. Como classifica a relação da câmara com entidades exteriores?

- Ninguém está sozinho e todos juntos podemos oferecer mais. Trabalhamos com Constância, Abrantes, Mação, Vila de Rei e outros municípios. Nós temos que procurar dentro de um contexto regional o que podemos oferecer às populações. Por exemplo, o projecto supramunicipal “Redes do Tejo”, onde Sardoal está inserido, terá sem dúvida muito sucesso pelo envolvimento total de todos. O que falta no Sardoal? - Em termos de saúde, tal como noutros concelhos, a falta de médicos é algo que nos preocupa. Nestes cinco meses de trabalho, este é um problema que eu tenho registado. Temos uma população idosa, e não conseguimos resposta em tem-

po útil. Os actuais médicos de família não são em número suficiente para todo o concelho. Já disponibilizámos uma casa para alojar médicos de países de Leste que queiram vir para Sardoal, mas não depende de nós. Durante vários anos parece que andámos a brincar um pouco com a saúde, e hoje enquanto europeus os resultados são muito maus. A rede de transportes no concelho é adequada? - Não, infelizmente. Estamos a apostar em conjunto com a Comunidade Intermunicipal, numa rede de transportes para a comunidade, que vai avançar já este ano. O Sardoal tem uma população idosa e a interioridade é algo que não ajuda. Muitas pessoas têm que se socorrer

O futuro? Logo se verá Quando é que ingressou na vida política? - Foi apenas há quatro meses. (risos) É devido a um convite irrecusável do presidente Fernando Moleirinho, que agora aqui estou. Ao longo dos anos tenho tido uma participação cívica, tanto em Abrantes como aqui no Sardoal, mas em termos políticos esta é a primeira experiência. Prepara-se para ser o próximo presidente? Agora é a hora de fazer o meu trabalho o melhor possível. Quanto ao resto, se verá, não estou preocupado com isso. Até porque eu ainda não sei se “é isto que quero”. Estou a começar, vamos ver o resultado.

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A igreja do Convento de Santa Maria da Caridade

FERNANDO MOLEIRINHO, PRESIDENTE DA CÂMARA DO SARDOAL

Fé, tradição e cultura É o Concelho de Sardoal rico em História e em Tradições, muitas delas relacionadas com as profundas convicções religiosas do povo, cuja origem e significado se perdem na marcha do Tempo e das gerações.

Essas tradições, mais que sentimentos de Fé, são agora marcas indeléveis da nossa Cultura, no seu sentido mais vasto e completo. É neste perspectiva que a Câmara Municipal, enquanto entidade institucional laica, se associa activamente às festividades da Semana Santa e Páscoa. Até porque a nossa Semana Santa já ultrapassa as “fronteiras” dos rituais e

celebrações litúrgicas, por ser uma referência no coração dos sardoalenses, sejam eles crentes, não – crentes ou agnósticos. É nesta ocasião que as pessoas se juntam e convivem. Vêm os que residem ou trabalham fora, reúnem-se as famílias, os amigos, os vizinhos. O cenário é triste e nostálgico mas é, também, a festa do reencontro e da aproximação. Foram as Festividades desde sempre organizadas com o maior brilho pela Paróquia de Santiago e São Mateus, Santa Casa da Misericórdia e Irmandades, mas nos últimos anos a Câmara Municipal assumiu uma maior presença na sua divulgação, promovendo a colocação de

faixas, velas e candeias, publicando cartazes, folhetos e suplementos temáticos na imprensa regional e – sobretudo – levando a efeito um Programa Complementar que integra exposições de artesplásticas, concertos musicais, cinema e venda de amêndoas na Casa Grande. Igualmente importante é a tarefa dos moradores locais que enfeitam as Capelas com motivos simbólicos da sua devoção e as associações concelhias que participam em iniciativas paralelas. É o trabalho de todos no presente que vai perpetuando a nossa entidade colectiva! Fernando Constantino Moleirinho

No cume da colina mais elevada da Vila de Sardoal, de onde se vislumbra um vasto horizonte em todos os sentidos, encontra-se o sinal e a memória da secular presença dos filhos de S. Francisco. Os frades menores Franciscanos, vindos da Abrançalha, instalam-se neste lugar em 1571, junto a uma ermida já muito acarinhada pelos devotos da Santa Mãe de Deus, aí invocada com o título da Caridade. É esta invocação que passa a designar o Convento, e é ao redor da bela imagem da Virgem que todo o Convento terá a sua expansão. A Senhora apresenta-se com o Menino nos braços, e com um fruto na mão direita, é esculpida em pedra de Ançã, obra do gótico tardio, das laborações oficinais de Coimbra. Esta imagem da Senhora continua a presidir à Igreja que lhe é dedicada e a acolher as preces devotas dos que se confiam ao seu auxílio. Para a fábrica do Convento e beneficiação da ermida colaboraram os habitantes da Vila, evidenciando-se um ilustre morador e senhor desta mesma Vila, D. Duarte de Almeida, filho de D. Lopo de Almeida, terceiro Conde de Abrantes. A 17 de Dezembro de 1677 o Convento viria a ter como padroeiro D. Gaspar Barata de Mendonça, que era natural do Sardoal, foi o primeiro arcebispo da Baía e primaz do Brasil. É este bis-

po que promove a reedificação da Igreja de modo mais significativo e que chega aos nossos dias. A Igreja de N. Sr.ª da Caridade tem uma única nave, com a capela-mor separada por arco cruzeiro e abóbada de berço, sobre a porta de entrada encontra-se o coro alto com cadeiral para os ofícios corais e estante no centro; uma balaustrada limita e protege o espaço. No alçado esquerdo podemos encontrar os nichos que serviam de confessionário e o belo púlpito onde são ainda proferidos os sermões. Anexa à Igreja do Convento existe uma sacristia de grande riqueza artística. O tecto em caixotões seiscentistas foi pintado em 1720. O arcaz tal como o tecto é decorado com pintura de elementos figurativos orientais. O grande valor material e artístico, a beleza e o exotismo que podemos contemplar nesta magnífica Igreja de Santa Maria da Caridade, manifestam o reconhecimento da importante acção desenvolvida pelos religiosos na Vila do Sardoal e o afecto pessoal e social da população. Muitas das expressões da religiosidade popular que ainda permanecem ficarão a dever-se a esta presença e à valorização de expressões evangelizadoras e celebrativas tão caras à espiritualidade franciscana. Pe. Francisco Valente

As Tábuas Quinhentistas da Matriz do Sardoal A Igreja matriz da Vila de Sardoal guarda um dos mais preciosos tesouros da primitiva pintura portuguesa. Um núcleo constituído por sete tábuas pintadas a óleo representando temáticas sagradas. Pertenceram ao primeiro retábulo da Igreja que foi erguido no início de quinhentos e provável encomenda de D. Francisco de Almeida. Desde a sua descoberta

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pelo Dr. João Couto nos finais da década de 1930, que desconhecendo a identidade da sua autoria atribuiu-a a um mestre do Sardoal. Os mais importantes historiadores de arte são hoje unânimes em referir estas obras a uma oficina sedeada em Coimbra e dirigida por Manuel Vicente e Vicente Gil. Estes mestres tiveram grande actividade e muitas das suas

obras retabulares ainda se conservam. Após o desmantelamento do retábulo para ser substituído pelo de estilo Barroco que ainda se conserva, as tábuas foram guardadas numa sala da Irmandade do Santíssimo Sacramento sob a Capela-mor, até à sua descoberta. Hoje, estas obras encontram-se expostas numa capela lateral da igreja matriz, dedicada ao

Sagrado Coração de Jesus. Este não é o espaço favorável nem adequado para a conservação e observação deste excelente núcleo de pintura. Será desejável num futuro próximo encontrar soluções que permitam condições favoráveis para a sua exposição de modo permanente, possibilitando uma correcta e adequada conservação e leitura das mes-

mas. As pinturas que referenciam a Vila do Sardoal nos roteiros da cultura portuguesa são o testemunho da importância deste lugar nos alvores da Idade Moderna, e da erudição e gosto dos mecenas, especialmente a família dos Almeidas que estavam afectivamente ligados à Vila, e que dotaram a vila de obras singulares. Pe. Francisco Valente


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PADRE CARLOS ALMEIDA, PÁROCO DO SARDOAL

“´É importante as pessoas perceberem o que é celebrado” MARIA JOÃO RICARDO

A Igreja celebra nesta época o chamado Tríodo Pascal, os três dias mais importantes do ano litúrgico cristão. Nos dias que correm, cada vez mais secularizados, é cada vez menos claro o significado da Semana Santa. Por isso, fomos ouvir o pároco do Sardoal. Quase com dois anos de funções na freguesia, o padre Carlos Almeida relembra que “é importante as pessoas perceberem o que realmente é ali celebrado”. Na Quinta-Feira Santa, dia 1 de Abril, realiza-se a missa vespertina da Ceia do Senhor e a cerimónia do Lava-Pés, na Igreja Matriz de Sardoal. “Esta cerimónia simboliza o que Cristo fez no Cenáculo, com os discípulos. À noite realizase a procissão do Mandato, também conhecida como dos Fogaréus ou do Senhor da Misericórdia”, explica o pároco. Mais adiante salienta “este é um tempo de reflexão. Terminamos o evangelho na Quinta-Feira Santa com a expressão “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”, que está simbolizada na cerimónia do Lava-Pés, e depois fazse a procissão. O nome original é Procissão do Mandato, e

é isso mesmo que vamos fazer. Vamos para a rua anunciar o que Cristo nos mandou fazer”. Na Sexta-Feira Santa não se realiza missa, é conhecido como um dia alitúrgico, “mas os cristãos reúnem-se para celebrar e fazer memória da Paixão de Cristo”. Neste dia faz-se a Leitura da Paixão do evangelho de S. João, faz-se a Adoração à Cruz, e uma Oração especial que se chama Oração Universal. No final do dia realiza-se a Procissão do Enterro

do Senhor. O padre Carlos recorda que o sábado é um dia para meditar. “Nesse dia meditamos na Morte de Cristo. É conhecido como um dia de trevas e escuridão, porque se anuncia uma grande luz, que vem dar sentido à nossa vida. Por isso, às 22h, é celebrada, na igreja matriz, a grande Vigília Pascal e a Bênção do Lume Novo. Acende-se o Sírio Pascal, uma vela grande e grossa, e depois entra-se na Igreja, ao som de um hino muito an-

tigo”. No Domingo de Páscoa realiza-se a Procissão da Ressurreição e termina-se com uma Eucaristia, na igreja matriz. O padre Carlos Almeida manifesta a sua insatisfação pela falta de devoção nas cerimónias litúrgicas, reforçando que a maioria dos visitantes passa pelo Sardoal nesta altura“pelo aparato, pelo espectáculo exterior e não tanto por consciência cristã”. Regista com mágoa que durante o ano não se vê muitas pessoas na igreja. As pessoas não participam regularmente nos sacramentos, na catequese. “Tenho-me confrontado com a falta de pessoas para organizar um coro ou até um grupo de leitura. Reconheço, infelizmente, que os jovens não participam na vida religiosa do Sardoal. As primeiras missas que celebrei no Sardoal tinham apenas 20 pessoas, já com alguma idade. Não tem sido fácil puxar os jovens. Estou aberto a trabalhar com eles, mas nunca ninguém me procurou com algum tipo de iniciativa para avançar. Acho que ainda não existe um ambiente criado onde eles se possam sentir acolhidos, por isso ainda não fui mais ao encontro deles”.

Capelas enfeitadas Perde-se no tempo esta tradição, que segundo relatos é única em Portugal. Moradores de várias ruas da vila, associações, alunos e professores do Agrupamento de Escolas de Sardoal, funcionários da Câmara, no fundo toda a comunidade sardoalense reúne-se em pequenos grupos para enfeitar as várias capelas e igrejas, sobretudo na Quarta-Feira Santa. Manuela Grácio e o seu grupo enfeitam há muitos anos a Capela de S. Sebastião, que se situa logo no início da vila. A recolha de flores e verduras é feita por todos, algumas no campo mas a maioria em jardins. Muitas pessoas de outras freguesias oferecem as flores dos seus jardins. Quando não conseguimos muitas flores, como é o caso deste ano devido ao inverno rigoroso que tivemos, e se ninguém nos oferecer, temos que comprar”, explica Manuela Grácio. Um

valor que é repartido pelo grupo. Para além de enfeitarem o chão da Capela de S. Sebastião este grupo é também o guardião do espaço. Fazemos a limpeza da Capela, renovamos jarras e outros acessórios que estejam danificados e quando são organizadas excursões vamos abrir as portas da Capela para os visitantes. Manuela Grácio recorda que esta tradição já vem de pais para filhos, e apesar da própria já não morar na rua, continua a fazer parte do grupo. Temos lá uma senhora de 87 anos que é a mais velha. Mas vamos tendo também malta jovem. Esta tradição das capelas enfeitadas tem a virtude de activar por dentro a comunidade local. Como é fácil de perceber, pessoas de vários estratos etários e sociais desenvolvem entre si laços de comunicação e pertença que não são habituais nas funções sociais comuns e diárias.

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As irmandades Irmandade da Vera Cruz

As procisões do Sardoal MARIA JOÃO RICARDO

Procissão do Senhor da Misericórdia ou Fogaréus

Procissão dos Passos do Senhor

Na noite de Quinta-Feira Santa sai da Igreja Matriz a Procissão do Senhor da Misericórdia, do Mandato ou também conhecida por Procissão dos Fogaréus, que tem o Sermão do Mandato na Igreja de Sta. Maria da Caridade. A Irmandade da Misericórdia, é a responsável pela organização desta Procissão, e os seus Irmãos juntamse aos fiéis, envergando capas (opas) negras, e seguem uma ordem própria recolhida numa edição de 1935 do Jornal de Abrantes. (ver Curiosidade). Pelo facto desta procissão se realizar à noite, e como a iluminação da via pública é desligada, havendo apenas a luz de archotes, velas, lanternas e lamparinas, tanto nas janelas, varandas e sacadas como na mão dos fiéis que acompanham o cortejo religioso, começou a ser conhecida também como Procissão dos Fogaréus. Contudo o seu nome original é Procissão do Mandato.

A imagem de Cristo Crucificado, em tamanho natural, vergado sob o madeiro, com vestes de cor roxa, é o centro das atenções desta Procissão, que percorre as principais ruas da vila. A Irmandade da Vera Cruz organiza esta Procissão. Na Praça da República, junto ao Pelourinho, é pregado o Sermão do Encontro, cuja temática incide sobre a Paixão e a Morte do Senhor. De seguida, dá-se o Encontro simbólico da imagem de Cristo Crucificado e da Sua Santíssima Mãe. Acompanhadas pela Filarmónica União Sardoalense, as duas Imagens e todo o cortejo religioso seguem até ao Largo do Convento de Sta. Maria da Caridade, onde é pregado o Sermão do Calvário. Seguidamente expõe-se aos fiéis uma imagem de Cristo Crucificado, em tamanho natural, que se encontra num oratório, na parede da Capela do Senhor dos Remédios, que normalmente só é aberto durante este Sermão. A Procissão regressa à Igreja Matriz onde termina.

Procissão dos Ramos Neste dia a Procissão dos Ramos sai da Capela do Espírito Santo para a Igreja Matriz, a lembrar a entrada de Jesus em Jerusalém. Antes da Procissão, realiza-se a bênção ritual dos Ramos. A Irmandade do Santíssimo Sacramento, que veste de vermelho, acompanha a Procissão.

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Procissão do Enterro do Senhor Na Sexta-Feira Santa sai à rua, à noite, a Procissão do Enterro do Senhor, em que participam as Irmandades da Vera Cruz e do Santíssimo Sacramento. O percurso é feito pelas ruas velhas da vila de Sardoal, passa pela Igreja de Sta. Maria da Caridade e regressa à Igreja Matriz, onde se realizam as cerimónias do Enterro do Senhor.

Procissão da Ressurreição A Procissão do Domingo de Páscoa

recorda Cristo Ressuscitado. Sai da Igreja Matriz, acompanhada pela Irmandade do Santíssimo Sacramento, capas vermelhas, mas com um percurso mais curto que o das anteriores Procissões. Regressa depois para a Igreja Matriz. Por onde esta passa, as ruas são ornamentadas com flores e verduras, e nas janelas são colocadas bonitas colchas, de particulares e também cedidas pela autarquia.

Uma curiosidade Jornal de Abrantes dita a ordem na procissão No nº 3 do boletim informativo da Câmara Municipal do Sardoal pode ler-se o seguinte. De acordo com notícia publicada pelo “JORNAL DE ABRANTES”, de 7 de Abril de 1935, a Procissão dos Fogaréus, que está a cargo da Irmandade da Misericórdia, e é composta da seguinte forma: “Abre a Procissão um Irmão com o Senhor da Misericórdia. Seguirá o Secretário da Mesa com vara preta; o Tesoureiro com a bandeira e dois Irmãos, um de cada lado com lanternas; um Mesário com vara; o primeiro painel com duas lanternas; um Mesário com uma vara; o segundo painel com duas lanternas; o terceiro painel com duas lanternas; o quarto painel com duas lanternas; a Irmandade da Misericórdia com tochas acesas; o Padre com o Senhor, indo dos lados quatro Irmãos com lanternas; o Provedor com a sua vara, ladeado por outros elementos oficiais. Entre a Irmandade e o Senhor irá o Corpo Eclesiástico”. Esta é uma das funções de um jornal mais que centenário.

A cargo desta Irmandade estão as Procissões dos Passos do Senhor e do Enterro do Senhor. A Irmandade da Vera Cruz existe desde 1870. A Mesa Administrativa é composta pelo Reitor e cinco Irmãos. Todos os elementos desta Irmandade pagam uma quota simbólica, cujo valor reverte para a Igreja. “A Irmandade é organizada pelos superiores eclesiásticos. Temos um compromisso próprio, religioso, canónico”, salienta José Curado, o Reitor. Para angariar dinheiro, organizam um peditório antes da Semana Santa, para apoiar a Igreja e para algumas despesas da Irmandade, como acessórios e novas capas. “No dia das Procissões, as nossas capas ou opas têm cor roxa. Organizamo-nos para saber quem leva as imagens, as lanternas, as varas, o guião e organizamos também os anjinhos, crianças pequenas vestidas de anjo. Muitos pais doam os fatos de anjinhos dos seus filhos à nossa Irmandade, para que outras crianças possam fazer parte da procissão”.

Irmandade do Santíssimo Sacramento Data de 1878 o novo compromisso da Irmandade do Santíssimo Sacramento. Arnaldo Cardoso é o Juiz que preside a esta Irmandade. Actualmente tem 64 Irmãos, homens, mulheres e jovens. Todos os anos pagam uma quota, cujo valor reverte para a Igreja. Usam capas ou opas de cor vermelha, e organizam a Procissão dos Ramos e a Procissão da Ressurreição. Em colaboração com a Irmandade da Vera Cruz organizam a Procissão do Enterro do Senhor. Na Procissão da Ressurreição dois Irmãos vão a segurar as borlas do Guião. Vem depois o cortejo religioso com a população, segue-se o estandarte da Irmandade, os pajens (jovens), os Irmãos que vestem as capas vermelhas, outros Irmãos que levam as varas do Pálio, e as lanternas que acompanham. Por último os restantes Irmãos. Esta Irmandade tem uma participação especial na cerimónia do Lava-Pés, na Quinta-Feira Santa, na Igreja Matriz. Este é um momento simbólico que recorda quando Jesus Cristo la-

vou os pés aos Apóstolos. Antes da Semana Santa é feito um peditório na freguesia. A Irmandade participa nas festas de Domingo de Ramos, Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira Santa, Domingo de Páscoa, Pentecostes, Corpo de Deus e Imaculada Conceição. Instituída na Igreja Paroquial de S. Tiago e S. Mateus, é reconhecida pela Diocese de Portalegre e Castelo Branco. Em Março do ano passado, o bispo diocesano aprovou o actual compromisso.

Irmandade da Misericórdia A Misericórdia de Sardoal tem cerca de 400 Irmãos. Por esta altura organiza a Procissão do Senhor da Misericórdia ou Fogaréus. Utentes e funcionários enfeitam o chão da Capela do Senhor dos Remédios e da Igreja de Sta. Maria da Caridade, com tapetes de flores. Vestidos de negro, vários Irmãos acompanham o Senhor da Misericórdia, com as bandeiras da instituição e painéis com cenas da Paixão, em haste. À frente vai um lampião com sete velas a representar as sete obras da Misericórdia, e no fim da Procissão a imagem do Senhor. Anacleto Batista, provedor da Santa Casa, relembra que “a Irmandade da Sta. Casa da Misericórdia de Sardoal existe desde 1509. Antes era conhecida como Confraria de Sta. Maria da Caridade. Somos uma Irmandade constituída no âmbito da génese das Misericórdias”. A Sta. Casa de Sardoal espera a aprovação da Administração Regional de Saúde para a construção de uma Unidade de Cuidados Continuados Integrados, uma valência “cada vez mais necessária para dar resposta a muitas situações que temos. O nosso espaço está muito limitado e a lista de espera é grande”. Para o futuro, fala de um sonho. “Queremos fazer um Centro de Dia anexo a uma propriedade da Misericórdia, quando se vai de Sardoal para Venda Nova. Embora seja um sonho, não desistimos de alcançá-lo”. Actualmente a Sta. Casa de Sardoal tem uma valência de Lar, com 44 utentes e um Centro de Dia que apoia 48 utentes. No apoio domiciliário contam-se 66 utentes e em residências assistidas são 36.


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O programa da Semana Santa Programa Religioso

VALE DO CABRIL

A natureza no estado puro MARIA JOÃO RICARDO

De todos os lugares que Sardoal tem, o Vale do Cabril possui um misto de natureza no seu estado mais puro, de calma e de serenidade. Várias espécies fazem daquele local o seu habitat, misturando-se na densa vegetação, nos salgueiros e nos amieiros.

O Vale do Cabril é verde, perfumado, tem águas cristalinas, convida à reflexão, contemplação, com um sentido

de espiritualidade que não se constrói, apenas existe. O Vale do Cabril estendese desde a Rosa Mana, na aldeia da Presa, até à Barragem da Lapa, na aldeia de Entrevinhas. O nome Rosa Mana vem de outros tempos. O terreno pertencia a uma família que tinha duas irmãs – a Rosa e a Maria Rosa. Ao longo dos tempos a população, para identificar o espaço dizia “aquele terreno da rosa e da mana”. Daí extrapolou o nome para “Rosa Mana”. Aqui encontra-se uma praia fluvial

e um espaço de lazer, ao ar livre, para miúdos e graúdos. Possui uma ribeira que atravessa o terreno em toda a sua extensão e onde outrora existiam várias azenhas. Agora estão desactivadas, mas permanecem ainda como marca da história daquela zona. Mais à frente a Barragem da Lapa. Sem dúvida um fim-de-semana diferente, sempre em contacto com a natureza. Para lá chegar é muito fácil. Saindo da vila de Sardoal, passa-se por Alcaravela, depois Presa e chega-se

até Rosa Mana. Depois é fazer o percurso a pé, em contacto com a natureza até às azenhas, descobrindo a beleza daquele local, terminando na Barragem da Lapa. Este percurso fará no futuro parte da Rota do Pão, um projecto que a autarquia de Sardoal pretende recuperar. Rosa Mana e Barragem da Lapa, são dois dos muitos locais a visitar no concelho, e que representam uma maisvalia de rentabilização económica e cultural para o Sardoal.

Domingo, 28 de março 15h - Procissão dos Ramos, Celebração da Eucaristia. Quinta-Feira Santa, 1 de abril 19h - Missa Vespertina da Ceia do Senhor (Igreja Matriz), Cerimónia do Lava-Pés e Trasladação, Adoração com a participação dos Irmãos da Irmandade do Santíssimo Sacramento. 21h30 - Procissão do Senhor da Misericórdia (ou Fogaréus), Sermão do Mandato (a cargo da Irmandade da Sta. Casa da Misericórdia, na Igreja do Convento). Esta Procissão é feita à luz de velas, archotes e candeeiros, com a electricidade da rede pública desligada. Sexta-Feira Santa, 2 de abril 17h - Celebração da Paixão do Senhor, Adoração da Cruz. 18h30 - Procissão do Enterro do Senhor, Sermão da Soledade (Enterro), a cargo da Irmandade da Vera Cruz e do Santíssimo Sacramento. Sábado Santo, 3 de abril 22h - Vigília Pascal, Bênção do Lume Novo, Bênção da Água, Renovação das Promessas do Baptismo e Ressurreição do Senhor. Domingo de Páscoa, 4 de abril 15h - Procissão da Ressurreição do Senhor, Missa Pascal.

Programa Complementar Até 15 de Maio - Centro Cultural Gil Vicente - Exposição de Arte Sacra Sta. Casa da Misericórdia de Sardoal - 500 anos de Arte - com peças de enorme valia e raridade do acervo da Sta. Casa de Sardoal Horário na Semana Santa: 28 março - das 15 às 18h; 1 de abril - das 15h às 21h30; 2 de abril – das 15h às 20h; 4 e 5 de abril das 15h às 18h. Horário normal: terça a sexta-feira das 16h às 18h; sábados das 15h às 18h; encerra aos domingos, segundas-feiras e feriados. Dia 2 de abril – 9h00 - 4º Passeio Pedestre - Património de Fé. Dia 4 de abril - 17h - Centro Cultural Gil Vicente - Recital de piano a quatro mãos - entrada livre. Dias 21 e 28 de março e 1, 2, 3 e 4 de abril - Quiosque com venda de amêndoas - Espaço de entrada da Casa Grande.

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16 especial sardoal

ABRIL2010

COLECÇÃO DE CALENDÁRIOS

Igrejas e capelas do Sardoal Para divulgar as Solenidades da Quaresma, Semana Santa e Páscoa no concelho, foi editada pela Junta de Freguesia do Sardoal uma colecção de oito calendários de bolso para 2010.

As fotos mostram imagens ou símbolos que enfeitam os chãos das igrejas da Misericórdia e do Convento de Sta. Maria da Caridade e das capelas de S. Sebastião, Senhor dos Remédios, Sant’ Ana, Santa Catarina, Nossa Senhora do Carmo e Espírito Santo. As fotos

são da autoria do fotógrafo sardoalense Paulo Sousa. De Quinta-feira Santa até Domingo de Páscoa, estão abertas ao público as capelas e igrejas, que se encontram enfeitadas, no chão, com tapetes à base de pétalas de flores e verduras naturais. Esta original tradição, que se pensa ser única no país, é efectuada por grupos de moradores, alunos e professores do agrupamento de Escolas e entidades associativas, na noite de Quarta-feira. Este ano, a Festa do Espírito Santo ou do Bodo, a 23 de Maio, encerra este ciclo da liturgia cristã. Os interessados em adquirira esta colecção de calendários devem contactar 241 855 169 ou o e-mail: j.freguesia.sardoal@sapo.pt Fotos: Paulo Sousa

• Capela do Espírito Santo

• Capela de Nossa Senhora do Carmo

• Capela de São Sebastião

• Capela de Sant’ Ana

• Capela Santa Catarina

• Capela Senhor dos Remédios

• Convento Santa Maria da Caridade

• Igreja da Misericórdia

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