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Casca Grossa

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Poeirão

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MANGALARGUISTA

CASCA GROSSA

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Lenda do MMA mundial e treinador de campeões do UFC, Pedro Rizzo é um grande apaixonado por cavalos e pelas cavalgadas com animais da raça Mangalarga Por Pedro C. Rebouças

Ao longo de uma trajetória profissional de quase 25 anos, o lutador Pedro Rizzo tornou-se uma referência em todo o mundo para os amantes do vale-tudo e MMA (mix martial arts). Com 31 lutas no cartel, o peso-pesado carioca brilhou nos octógonos e ringues, atuando nas mais importantes organizações do esporte, como UFC (Ultimate Fighting Championship), WVC (World Vale Tudo Championship), IFA (International Fighting Alliance), Affliction e o japonês Pride.

Entre os lutadores que enfrentou no decorrer de sua carreira, estão alguns dos principais nomes da modalidade, como Ken Shamrock, Randy Couture, Fedor Emelianenko, Dan Severn, Mark Coleman e Tank Abbott, a quem venceu em uma luta inesquecível na primeira edição do UFC Brasil, realizada em outubro de 1998, na capital paulista.

Entretanto, se engana quem pensa que o MMA é a única paixão do lutador, que se aposentou dos ringues no fim de 2015 e hoje comanda a equipe Rizzo RVT, onde treina destaques da nova geração do UFC como Raoni Barcelos, e também o projeto social Usina

Pedro Rizzo pratica horsemanship com a fêmea Carlota OBC.

Fotos: Arquivo Pedro Rizzo

de Campeões, desenvolvido em parceria com a Refinaria de Manguinhos.

Rizzo, afinal, é um grande apaixonado por cavalos e cavalgadas, nutrindo um afeto especial pela Mangalarga, raça por meio da qual teve seus primeiros contatos com o universo equestre, ainda na infância, e que é a sua preferida para os longos passeios que realiza em meio às belas paisagens da Serra da Bocaina, região na divisa entre Rio de Janeiro e São Paulo onde possui uma acolhedora propriedade rural, seu refúgio para aliviar o estresse do exigente universo profissional do esporte de alto rendimento.

“Minha paixão pelos cavalos começou cedo, quando um dos meus tios arrendou uma fazenda, na qual começou a mexer com gado de leite e onde ele tinha alguns cavalos sem raça definida. Foi nessa época que eu comecei a montar e, logo na primeira vez, foi uma paixão absurda. Meu sonho então passou a ser ter um cavalo. Felizmente, algum tempo depois, um outro tio me presenteou com um cavalo de raça, o Itapoã, pelo qual eu me apaixonei” , explica Rizzo.

“A partir desse momento eu comecei a conviver com os cavalos e realmente me apaixonei por eles. Com o passar do tempo, essa paixão ficou cada vez mais forte e já perdura por quase quarenta anos. Hoje em dia eu levo minhas filhas para a fazenda e brinco que a partir de agora elas só vão querer saber de cavalos, pois cavalo é

A paixão de Rizzo pelos cavalos começou muito cedo. Pedro Rizzo e a esposa Monalisa cavalgam pela Serra da Bocaina.

uma coisa que, quando você gosta desde pequeno, é uma paixão que fica pra vida toda.”

O consagrado lutador conta ainda que nada o deixa mais feliz do que passar uns dias na fazenda. “Por conta do esporte, eu tive a oportunidade de viajar por muitos países, conhecendo lugares incríveis ao redor do mundo, mas eu troco qualquer viagem para ir para a fazenda, pois esse é o momento em que eu estou no local em que eu mais gosto de estar, fazendo aquilo que eu mais gosto, que é conviver com os cavalos e poder montálos. É quando eu consigo reunir minha esposa e minhas filhas em torno dessa minha grande paixão, que aos poucos também vai passando para elas. Isso é muito bom, pois o cavalo nos ensina a ser mais sensíveis e solidários. Na fazenda, a gente pode esquecer um pouco dessa correria da cidade e encontrar paz, sossego e amor na companhia desses incríveis animais.”

Rizzo prossegue revelando que, após ganhar seu primeiro cavalo, foi conhecendo mais sobre as diversas raças equinas e se interessando cada vez mais pelo Mangalarga. “O que mais me encanta na raça é a sua marcha, que é inigualável, não tem outra raça que tenha um andamento como o do Mangalarga. Além disso, é um cavalo dócil, com temperamento excelente e de fácil manejo. Você consegue estar com ele e com a família sem muitos problemas. Lógico que cada cavalo é um indivíduo, então às vezes você pode pegar um animal traumatizado, mas aí não importa a raça que ele seja, pois qualquer cavalo que tenha sido maltratado pode ter esses traumas e ser mais difícil de lidar, mas normalmente os Mangalargas são animais fáceis, de temperamento dócil e com andar inigualável.”

Paixão pelas cavalgadas

O experiente esportista revela que três atividades equestres estão entre as suas prediletas: o horsemanship, as disputas da modalidade de rédeas e as cavalgadas, com essas últimas ocupando o primeiro lugar em seu coração. “Eu gosto muito de cavalgada, é a minha atividade equestre preferida. E o melhor cavalo para esse tipo de atividade é, sem dúvida, o Mangalarga. Eu tenho uma fazenda em um local privilegiado, na Serra da Bocaina, que faz divisa com o parque nacional. É uma região de natureza exuberante, com trilhas incríveis e cerca de trezentas e setenta cachoeiras. Então, eu brinco que, quando monto a cavalo, estou cavalgando no paraíso, em meio

Rizzo enfrentou os mais duros lutadores da modalidade.

O lutador integrou as mais importantes organizações do MMA.

Rizzo acerta golpe em Tank Abott na primeira edição do UFC Brasil.

às mais belas paisagens que se pode imaginar, locais que você só consegue ter acesso a cavalo, pois são lugares muito distantes e que exigem muito condicionamento para se percorrer em um trekking. Então o cavalo te dá essa oportunidade de percorrer esses lugares incríveis.”

A modalidade de rédeas, de origem norte-americana, o atrai por sua parte técnica exigente, que lhe permite aprimorar-se como cavaleiro e participar de competições. Já o horsemanship, a doma inteligente, o encanta pela possibilidade de entender e se relacionar com os cavalos de uma forma gentil e compreensiva. Atualmente, a jovem fêmea Mangalarga Carlota OBC, presente do amigo e criador da raça Cauê Costa Hueso, é um dos animais com os quais ele busca manter uma rica interação no redondel por meio das técnicas aprendidas em cursos e seminários de horsemanship.

Rizzo afirma, aliás, que a experiência no mundo da luta lhe proporcionou conhecimentos que procura trazer para o universo equestre. “O esporte de alto rendimento, no meu caso a luta, o MMA, proporciona uma calma muito grande em situações críticas. Afinal, quando você sobe em um octógono, para quarenta mil pessoas em um estádio cheio, sabendo que o mundo todo está assistindo, dá aquele nervoso, aquele frio na barriga, então você acaba aprendendo a controlar suas emoções. Assim, toda vez que eu entro no redondel, com um cavalo xucro, um cavalo nunca domado, eu consigo passar para ele essa calma que eu desenvolvi ao longo dos anos.”

Ainda de acordo com o exintegrante do UFC, um bom domador tem que ser alguém calmo, que passe tranquilidade para o cavalo. “Na vivência no mundo da luta, nós precisamos superar momentos críticos, situações difíceis durante o combate, então eu acredito que consigo transferir para esse mundo da doma, do horsemanship, essa calma que eu desenvolvi, pois o cavalo sente todos esses seus sentimentos. Muitas vezes o animal está pulando, está agressivo, mas você consegue se manter firme, tranquilo, e assim consegue tranquilizá-lo. Essa calma em momentos críticos é o que permite formar uma parceria com o cavalo e fazer um horsemanship bem feito, para ter um cavalo companheiro, que vai ser seu parceiro para o resto da vida, e não um cavalo submisso. Eu acho que esse é o maior benefício que eu trago do esporte de alto rendimento, do mundo da luta, para o universo equestre.”

O inverso, entretanto, também é verdadeiro, com o convívio com os cavalos proporcionando valiosos aprendizados para enfrentar os desafios dos octógonos. “O cavalo é um animal com o qual você tem que ter paciência, tem que ter calma, tem que entendê-lo, e para isso você tem que desenvolver sua sensibilidade, conseguir sentir o que o cavalo está querendo te mostrar. Assim, eu acho que a convivência com os cavalos me deu

O líder da Rizzo RVT em visita a criatório da raça.

essa paciência e essa sensibilidade para compreender o momento, entender aquela situação de estresse, na qual você tem que ter paciência para mantê-lo calmo e fazê-lo realizar o movimento que você quer ou para domá-lo da forma que você considera melhor. O cavalo me deu essa paciência. Muitas vezes durante uma luta eu não consigo fazer o que eu quero, então eu tenho que ter a paciência para conseguir alcançar o meu objetivo no momento certo. Creio que esse é um aprendizado que eu levei do convívio com os cavalos para o mundo da luta.”

O experiente esportista profissional, que em sua carreira como treinador já treinou campeões como Anderson Silva e José Aldo, conta que leva os aprendizados do mundo do cavalo também para a sua vida pessoal. “No horsemanship, há uma técnica em que, para conseguir um determinado objetivo, você alterna pressão e alívio na relação com o cavalo. Então eu brinco que conquistei minha esposa dessa forma, uma hora pressionando e outra aliviando. A mesma coisa acontece na educação das minhas filhas, em um momento estou pressionando e no outro aliviando, para que elas consigam ser pessoas cada vez melhores”, finaliza o campeão dos octógonos, deixando transparecer mais uma vez sua incrível paixão pelos cavalos.

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