O Vale do Neiva - Edição 86 junho 2021

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memórias » comboio correio

No tempo do comboio Correio

por Luciano Castro lucianomcastro56@gmail.com

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inda recordamos aquelas carruagens encarnadas, então denominadas Ambulâncias Postais, que circulavam no Comboio Correio que chegava a Durrães pelas 10:15 em direcção a Viana do Castelo, e regressava a partir das 18:00 para o Porto. Minutos antes da chegada, lá aparecia o homem da mala, transportando o saco com o correio, pousado sobre o ombro e ostentando

Aos Domingos, uma multidão de pessoas ávidas de notícias de longe, lá seguia para o posto local, cheio até à porta, aguardando a maioria no exterior que fosse feita a chamada. ao peito uma placa oval de latão, onde se via um cavaleiro com uma corneta e por baixo a palavra Correio. Aguardava no apeadeiro, e mal se escutava o comboio, lá seguia pela gare em direcção ao local onde habitualmente parava a carruagem. Uma janela larga abria-se e o saco da correspondência era trocado por outro que já estava preparado na citada ambulância. Entabulavam

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conversa rápida, e após a partida do comboio a mala recebida ia para o posto local, onde após a verificação do selo do fecho era aberta e carimbada toda a correspondência, havendo especial cuidado com as cartas registadas que tinham que ser mencionadas em livro próprio para ser assinado pelo destinatário, aquando do levantamento. Nos dias úteis, salvo alguma encomenda ou carta esperada, não havia grande procura de correspondência. Não raras vezes, ao passar no caminho pessoa da casa de que houvesse carta entretanto chegada, ou era entregue pelo encarregado do posto, ou feito o aviso para pessoa idónea a vir levantar. Porém, aos Domingos, uma multidão de pessoas ávidas de notícias de longe, lá seguia para o posto local, cheio até à porta, aguardando a maioria no exterior que fosse feita a chamada. E quando a sorte de ter recebido carta sorria, lá se viam as pessoas sair com ar de satisfação. Outros, menos felizes lá iam para casa ou até ao apeadeiro, local de concentração domingueira. Houve em Durrães 4 locais onde funcionaram postos de correio: o primeiro na casa da família Maciel, no Campo do Forno. O segundo mesmo ao lado, no estabelecimento de João Rodrigues Barbosa dos Santos, ao tempo da esposa Albina. Passou depois para o edifício onde se encontra actualmente a Casa do Povo, da responsabilidade de António Gaspar Pereira Pinto (Corrilhão), e finalmente quando este estabelecimento encerrou, passou para a

Manuel Gonçalves (Categoria) e António Passos

Casa Nova da Calçada, de Augusto de Castro. E foi a partir da entrada em funcionamento deste posto que passou a haver condutor da correspondência (assim se denominava a pessoa que levava o saco da correspondência à Ambulância Postal), pois só nessa condição o proprietário do estabelecimento aceitou ficar com o posto do correio. Aberto concurso pelos Correios, o primeiro condutor foi Manuel José Gonçalves Cruz. Fez uma proposta de 1$00 por cada transpor-

te, mas só lhe foram concedidos $70, a que correspondia 2$80 por dia. Após a sua morte, sucedeu-lhe a esposa, Rosa Bárbara Costa Faria, que com o adiantar dos anos, lá subia da sua casa na Fonte de Agra, e quando já estava a chegar ao Apeadeiro fazia uma pausa para acalmar os batimentos cardíacos. E lá continuava até ao posto do correio para receber o saco da correspondência. Mais tarde, em novo concurso, passou a mala a ser transportada por António Passos, cujo concurso ga-


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