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DIÁLOGOS LITERÁRIOS



UM DIÁLOGO ENTRE HILDA HILST GAGUEJOS: E SAMUEL BECKETT Willian André

É

corrente a menção a Samuel Beckett em análises que contemplam a obra da escritora brasileira Hilda Hilst, seja como nome presente entre suas leituras

constantes, seja como um daqueles que, de certa forma, exerceu alguma “influência” sobre seu processo criativo. Apenas a título de exemplo, em nota introdutória ao volume Por que ler Hilda Hilst, Alcir Pécora localiza o autor irlandês entre “a quadra de escritores internacionais mais facilmente reconhecível por seus escritos” (PÉCORA, 2010, p. 11), ao lado de Rilke, Joyce e Pessoa. Além disso, a própria Hilst destacou, em mais de uma entrevista, certa relação com a obra de Beckett, como podemos constatar no trecho transcrito a seguir, retirado da entrevista concedida pela escritora à equipe dos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles (1999, p. 39): CADERNOS: Já na prosa ficcional, suas influências são mais contemporâneas [em oposição às influências mais clássicas – como Catulo e Marcial – notadas em sua poesia]: Joyce, Beckett. Como convivem, em sua obra, essas dimensões aparentemente antagônicas? Hilda Hilst: Antagônicas, não. O Joyce e o Beckett eu acho maravilhosos. O Joyce está na minha mesa. Mas é curioso mesmo essa linha mais recuada da poesia e mais moderna da prosa.


Apesar de tais sugestões indicarem certa afinidade entre as obras dos dois autores, estudos que comprovem essa afinidade, colocando lado a lado escritos hilstianos e beckettianos, apontando entre eles similitudes e disparidades, são praticamente inexistentes. Carência que não deve causar assombro: Hilst figura ainda como descoberta relativamente recente no meio acadêmico. Muitos vieses da reflexão crítica sobre sua obra, portanto, permanecem ainda inexplorados. Em se tratando especificamente do diálogo Hilst x Beckett, com exceção das aproximações traçadas por Leo Gilson Ribeiro – no ensaio “Da ficção” –, que afirma existir “uma afinidade espiritual enraizada”

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(RIBEIRO, 1999, p. 80) entre os dois autores, existe apenas um trabalho de maior fôlego no contexto da produção acadêmica brasileira: trata-se de uma tese de doutorado de 2009, de

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Rosanne Bezerra de Araújo, cujo título é Niilismo heróico em

As datas entre parênteses indicam a publicação da primeira versão dos romances, em francês. A seguir, relacionamos os títulos originais, seguidos dos títulos que ganharam as versões em inglês – traduzidas pelo próprio Beckett (com a exceção de Molloy, cuja tradução contou com a contribuição de Patrick Bowles) – e suas respectivas datas de publicação: Molloy (Molloy, 1955); Malone meurt (Malone dies, 1956); L’innomable (The unnamable, 1958).

Samuel Beckett e Hilda Hilst: fim e recomeço da narrativa. Dessa forma, o estudo aqui apresentado tem por objetivo dar continuidade às reflexões sobre possíveis aproximações entre as obras dos dois autores. Iniciemos deitando breves olhos sobre a tese de Araújo. O corpus de análise de seu trabalho é formado pelos romances que compõem a trilogia beckettiana do pós-guerra: Molloy (1951), Malone morre (1951) e O inominável (1953) , e o primeiro volume em prosa publicado por Hilst, Fluxo-Floema (1970), composto por cinco novelas. Ao colocar lado a lado os textos em questão, sua análise é guiada por uma reflexão de teor filosófico, como deixa explícito o termo niilismo, empregado logo no início de seu título. Assim, no terceiro capítulo da tese, após traçar um percurso buscando as origens do termo, a


Apesar de tais sugestões indicarem certa afinidade entre as obras dos dois autores, estudos que comprovem essa afinidade, colocando lado a lado escritos hilstianos e beckettianos, apontando entre eles similitudes e disparidades, são praticamente inexistentes. Carência que não deve causar assombro: Hilst figura ainda como descoberta relativamente recente no meio acadêmico. Muitos vieses da reflexão crítica sobre sua obra, portanto, permanecem ainda inexplorados. Em se tratando especificamente do diálogo Hilst x Beckett, com exceção das aproximações traçadas por Leo Gilson Ribeiro – no ensaio “Da ficção” –, que afirma existir “uma afinidade espiritual enraizada”

trabalho de maior fôlego no contexto da produção acadêmica

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(RIBEIRO, 1999, p. 80) entre os dois autores, existe apenas um

brasileira: trata-se de uma tese de doutorado de 2009, de

Samuel Beckett e Hilda Hilst: fim e recomeço da narrativa. Dessa forma, o estudo aqui apresentado tem por objetivo dar

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Rosanne Bezerra de Araújo, cujo título é Niilismo heróico em

continuidade às reflexões sobre possíveis aproximações entre as obras dos dois autores. Iniciemos deitando breves olhos sobre a tese de Araújo. O corpus de análise de seu trabalho é formado pelos romances que compõem a trilogia beckettiana do pós-guerra: Molloy (1951), Malone morre (1951) e O inominável (1953) , e o primeiro volume em prosa publicado por Hilst, Fluxo-Floema (1970), composto por cinco novelas. Ao colocar lado a lado os textos em questão, sua análise é guiada por uma reflexão de teor filosófico, como deixa explícito o termo niilismo, empregado logo no início de seu título. Assim, no terceiro capítulo da tese, após traçar um percurso buscando as origens do termo, a

1- Este artigo compreende algumas reflexões iniciais da tese atualmente em desenvolvimento pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual de Londrina.


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