NORMIRRÉI#4 | EDIÇÃO PAGU

Page 1

ESPECIAL

EDIÇÃO PAGU ilustradoras & poetisas

normirréi#4


ANOITECE NA MINHA POESIA, ELES INVADEM A MATA.

Geisiara Lima

2

ilustra: karla linck

O anum-preto está sempre preparado para a morte e para o casamento no seu magnífico terno agourento, eficiente papa-defuntos da Mata Norte, ganha 20 reais da casa funerária por cada morte avisada e 50 por casamento. Escurece nos caminhos largos, nos galinheiros, os vizinhos avisam da gripe aviária na brincadeira de telefone-sem-fio quando as galinhas já despencavam dos poleiros escorrendo coriza do bico. Se é verão o chão batido levanta poeira quando passa algum caminhão de alimentos não perecíveis da ONU, o céu é escuro nas pinceladas de Van Gogh da Silva, a madrugada de chupa-cabras e a manhã sem campos de trigo do final de agosto, um milho seco, um gado-homem morto pela revolução em Goya. Os sinos da igreja ecoam, uma noiva velha se casa num vestido encardido, avisto a noiva jovem passando por baixo do viaduto, descabelando um buquê de flor-desabugo para velar os pretos mortos, os carregadores de sacos de açúcar mascavo no lombo, a vejo cantando, mas não escuto, ainda está longe, assume sua parcela de culpa só para mim, conta que ainda presta alguns serviços para a monarquia. Faz-me visitas à noite, contame da perfeição da panela-com-tampa, de guardar outro amor no peito e de um modo contemporâneo de citar o amor na nova poesia. Diz-me das curvas da estrada, de ter sido guiada até mim pelos relâmpagos no rosa-claro dos tendões de cana-de-açúcar, as flores se soltaram e ficaram a vagar feito plumas alumiadas pelas estrelas em direção ao acampamento dos ciganos-pardos da nova geração de não-nômades. Esses olhos-luminárias do Mercado de São José me cegando, ha!! minha noiva preta, se ela fecha, eu a procuro, deixa aberto, eu fico caçando ajudado pelos cachorros-do-mato nas curvas da linha férrea abandonada. Acaba aquela caçada, minha caça me devora! Nossas nádegas roçando no véu bordô de medalhas em cima das ortigas, as esculturas do pano nos afagando retiro os braceletes de ouro maciço jogamos as moedas de latão com o busto do Rei Eduardo II caem de cara para cima, ela me diz que quer adormecer ouvindo histórias de 3 castelos que estão por fazer na beira mar e fumando cigarros de palha, eu durmo obedecendo. Acordamos com a Guarda Real adentrando a mata, cobrando os impostos da monarquia, mais uma vez expulsando os ciganos, é por isso que eles voltam a ser nômades! Conseguimos nos vestir, mas não conseguimos correr.


Joy Carlu

virei de quinta a memória pra achar na cena o enfeite vendo o desfecho da história buscando senti o deleite buscando achei nos amassos meu corpo envolto em teus braços espresso, café, borra e pó você recitando pra mim espera, vontade e por fim o brinco numa orelha só

3

ilustra: jaíne

P. Patta

ESPINHOS A rosa se despede. Beija-flor se desprende, se dispersa. De que adiantou ser Rosa, formosa, doce e acolhedora? - Seria impossível. Como, se algo existiu mesmo que breve? Ainda que distintos se atraíram, se completaram. Mas beija-flor já não volta. E, se volta, não serve. Pois a rosa está murcha, Já perece... Restam espinhos. Quem sabe uma nova rosa floresce à espera do seu beija-flor...


Nathália Niédja

Na verdade dolorida da vida todos somos artistas. Uns são equilibristas, outros palhaços, outros tantos mágicos,alguns são con-tor-cio-nis-tas. Sendo assim, vivemos num confuso circo no qual a única recompensa é ainda ter forças para acordar no outro dia e fazer tudo de novo.

Numa estreita corda, sempre por um fio, somos desajeitados sobre ela. Somos palavras na ponta de um lápis sempre a postos para serem riscadas ou apagadas, se contorcendo na mão de um louco poeta.

Um equilibrista, na corda bamba de vida. Se mantendo de pé nas adversidades. De uma forma ou de outra todos somos equilibristas. Nos mantemos em pé buscando verdades.

ilustra: larissa wiória

4

Cris Cavalcanti

É noite É mente É pensamento É choro É tenso É nó É inseguro É solidão É veneno É amargo Depressão...

ilustra: karla linck


ilustra: tainá tamashiro

O DESCONHECIDO AMOR Meu coração está em ti Como uma oração A sorver tudo que o universo Tem a nos oferecer esta noite junto do cântico eterno do sertão E o olhar que eu sonhei para mim e ti Se resvala no sentimento Do amor que se completa Na vastidão do céu Que segue a existir Sem que eu te diga nada. Nossas lágrimas conversam E se entendem na mesma forma De sentir. Esse é o prelúdio Repleto de êxtase Melodia E tantos pensamentos Acompanhados de murmúrios A revelar os versos [embalsamados De vida em um lar [de estrelas.

Mariane Alves

Na fumaça Eu me desfaço. E vejo minha vida Passar na fumaça. E desenho meu destino E num trago e outro Eu trago a sua presença E te fumo! E te trago! No passar da fumaça! E me vejo, e me refaço. Na fumaça do cigarro!

ilustra: larissa wiória

Ciça Buendía

5


HOMENAGEM

PAGU Patrícia Rehder Galvão ficou conhecida por ser a primeira mulher presa no Brasil por motivações políticas. Mas sua importância vai além. Pagu era escritora, jornalista, poetisa, ilustradora, crítica de arte, além de anarquista, comunista e uma mulher avançada para os padrões de sua época: fumava, falava palavrões e usava blusas transparentes. Seu comportamento transgressor conflitava com sua origem de família tradicional e conservadora.

Pagu conviveu com os grandes nomes da literatura brasileira da primeira geração modernista, integrada ao movimento antropofágico, do qual foi considerada uma espécie de musa. Seu apelido foi dado pelo poeta Raul Bopp, que ao dedicar-lhe um poema, confundiu seu sobrenome com Goulart. Era também conhecia como Patsy. Em 1930, em uma situação escandalosa para a sociedade da época, Oswald de Andrade se separa de Tarsila do Amaral e logo depois casa-se com Pagu. Dessa união nasceu Rudá de Andrade. O casal passa a fazer parte do partido comunista. Em uma movimentação grevista em Santos, Pagu é presa pela primeira vez. Serão 23 prisões ao longo da vida, todas por motivação política. Oswald e Pagu se separam em 1935, em meio a ciúmes e brigas. Em 1940, desiludida após temporada na prisão, rompe com o comunismo e torna-se socialista. Casa-se novamente e tem mais um filho com Geraldo Ferraz. Morando em Santos com sua família, Pagu torna-se conhecida animadora cultural da cidade.

“Sonhe. Tenha até pesadelos, se necessário for. Mas sonhe” Na década de 60, um câncer torna dramática sua vida: uma tentativa mal sucedida de suicídio e algum tempo depois a morte pela doença marcam o final da história dessa grande mulher brasileira. 6


INSTRUÇÃO PUBLICA Escola Normal do Braz. Reduto pedagogico da pequena burguezia. O estudo não é muito caro. Os paes querem que as filhas sejam professoras, mesmo que isso custe comer feijão, banana e brôa todo dia. O predio grande, amarelo e sujo. O jardim de formigas do jardineiro José. Eternas serventes. O porteiro bonito que estuda Direito. O secretario anão e poeta. As professoras envelhecendo, secando. Os lentes sem finalidade. O sorveteiro. O amendoim torrado. As meninas entrando, saindo. Bem vestidas. Mal vestidas. As bem vestidas são as filhas dos medicos do Braz e a Matilde, a filha daquela girl do Arruda. Todas acham ela bonita. Tem o sorriso triste. Os olhos muito verdes. As coxas aparecendo sob o jersey curtissimo. Paga sorvete pra todas. Cada lanche! Como corista ganha! Mas ela não conta pra ninguem que já trabalhou na Fabrica. Linguas maliciosas escorregam nos sorvetes compridos. Peitos propositaes acendem os bicos sexualisados no “sweater” de listas, roçando. O caixeirinho de calçados morde de longe. Clelia, a portuguezinha chic, lisa como uma tabôa, sorri na boca enorme para um estudante rico. -- Fedorzinho! Não se enxerga. -- Deixa de historia. É o José Mojica em pessôa. Principalmente com a camisa alta. -- Outro dia encontrei ele em Santana com a Dirce. -- Ah! Você sabe que o pae encontrou ela numa casa de tolerancia na rua Aurora? Com um homem casado... -- Quem é que não sabe. Por isso que ela não tem vindo. Diz que ele vae botar ela no Bom Pastor. -- Por isso é que as normalistas têm fama. Desmoralizam a gente. -- Ora, vae saindo! Ela foi examinada e é virgem. Ela não faz mais do que você no Recreio Santana e do que eu em Santo Amaro. -- Mas eu nunca entrei num quarto... -- Olha lá o decote da Edith. Ela vem assim só pra mostrar os peitos na aula de desenho. Os bigodinhos estacionam nas esquinas. O diretor não quer estragar o nome da Escola com o escandalo diario dos pares amorosos. Nenhum homem póde parar perto do portão. Mas as saias azues se enroscam nas esquinas. Eleonora da Normal beija a Matilde que entrou de novo. Como um homem. O sino pesado chama na mão do porteiro. -- Bom dia, seu Carlos! -- Bom dia, Branquinha! Não trata ninguem de dona. O bando azul e branco caminha pelo roseiral maltratado até a escada grande. As mãos custam a se despregar nos corredores. -- Entrem... Entrem... -- Só mais um sorvete, seu Carlos! Sobem aos grupos, abraçadas. -- Se você visse que suco o vesperal do Tennis! -- Eu não tinha vestido, sinão ia ao Teyçandaba. -- Eu fui ao Politeama. -- Vá saindo. Com aquela cafagestada! -- Você viu a Cinearte de hoje? Fala do cinema russo... -- Escuta! Você sabe o que é o comunismo? -- Não sei nem quero saber. Em “Parque Industrial”, 1933. Reproduzido de edição fac-similar.

7


AS TIRAS DE PAGU Em 27 de março de 1931, sai a primeira edição do jornal O Homem do Povo, dirigido por Oswald e Pagu, que teve apenas 8 números, pois foi proibido de circular por ordem da polícia, após os embates com estudantes de Faculdade de Direito, que tentaram empastelar o jornal. Pagu assinava a coluna Mulher do Povo, na qual criticava, de um ponto de vista marxista, as “feminstas de elite” e as classes dominantes. Colaborava com artigos, escrevendo sob diversos pseudônimos e criou também uma história em quadrinhos (em formato de tirinha): Malakabeça, Fanika e Kabelulda. A tira descrevia situações de Kabelluda, a sobrinha pobre de Malakabeça e Fanika, um casal que não teve filhos. Algumas pessoas contam que Pagu copiou o estilo de Tarsila ao desenhar, e realmente lembra um pouco. Mas não deixa de carregar a personalidade de Pagu. O desenho não é proporcional e nem detalhista, vem acompanhado de legenda – características dos quadrinhos antigos – e fazia críticas aos fatos da época, como pode-se ver nas tiras ao lado: *Só existem oito dessas tiras.

8


9

Fontes: FREIRE, Tereza. Dos escombros de Pagu: um recorte biográfico de Patrícia Galvão. SP, 2008 e http://ladyscomics.com.br/as-tiras-de-pagu


ilustra: brisa melo

ESPACEJAMENTO Na falta de inspiração, transpiração Corro, me exilo do planeta poesia Me sentindo incapaz Cadê o verso que não sai? Meu lirismo, de mim tão íntimo Agora me tem esquecido. Abandonou-me a solidão das laudas em branco. Esquecendo-me no espacejar das minhas próprias palavras. E me pego... espremendo a caneta entre os dedos pra ver o lirismo sair tinta a fora mas lembro, não é assim que a poesia aflora E ela sussurra-me, como quem diz: “poesia não é pra qualquer mortal” Corrige-me: “Venho de dentro, sou visceral”. Mitha Ferreira 10


Geisiara Lima ilustra: brisa melo

Cortinas de fumaça Acompanham a vida útil das usinas Novas crianças nascerão entre as palhas Rezadeiras bem capacitadas farão seus partos Sem recorrer à medicina cubana Todas as feridas vão se fechando.

Crianças livres Fazem brincadeiras do folclore nordestino Vão para a maior idade Empurrados pela própria sorte.

Casas e capelas brancas na beira da estrada Há um grande espaço (governamental e geográfico) entre uma e outra E não são saqueadas toda semana.

REZACURA

(coro) Não sabe que trepar engravida! -A trepadeira da casa de cima tá prenha (coro) Não sei nem quantos já passaram ali! -A trepadeira da casa de cima tá prenha. (coro) Agora vai aquietar o fogo! -A trepadeira da casa de cima tá prenha! (coro) Ainda bem que não é meu! -A trepadeira da casa de cima [tá prenha.

ilustra: tainá tamashiro

Ela engravidou, mas que ousadia Abriu as pernas e agora tá prenha. Além de puta e pobre agora prenha Além de puta, preta e pobre... prenha!

Dizem que ela defende o aborto quando lhe perguntam diz [que o feto é um(a) travesti Parece que bebe, que fuma, [que exemplo! Dizem que ela briga com o mundo que não deixa que lhe domem que grita quando abre as pernas quando lhe machucam quando lhe violam Ela grita. A trepadeira da casa de cima tá prenha. Raline Almeida 11


ilustra: anne souza

PERGUNTAS Há eternidades que te encontro... Pois sinto que há muito tempo sou tua O teu cheiro, teus beijos me obrigam a perguntar-me: De onde te conheço? De qual cidade? De qual rua? E assim, embaralhando ideias em minha mente, E me entregando a este amor que é somente teu... É que atravesso estradas, abandono sonhos, E volto a perguntar-me: Quem és? Por que és meu? E sem respostas, curiosa e indecisa E ao mesmo tempo segura e feliz Sinto este amor irradiando a minha alma, Brincando comigo, fazendo- me sorrir... E mais uma vez as perguntas ficam sem respostas Pois os teus olhos me encantam, me fascinam... E o meu corpo treme ao perceber que tu me tocas E nesta hora, meu cérebro, meu corpo, Ah, já não mais raciocinam. Vera Lúcia 12

E qual não seria o susto do homem Se descobrisse que Deus não é pai E sim Mãe E que este seio materno Atende pelo nome de Natureza?

ilustra: karla linck

Leli Be


ilustra: anne souza

REFLEXO Aqui estou fadada a insônia Como se todos os pensamentos alheios Ancorassem em meus dedos E a dança fosse mesmo palavra desenfreada Borrando o papel de sêmen. Aqui estou fundando um tempo paralelo Velando corujas neuróticas Que berram em minha varanda A procura de seus nomes. Aqui estou descolorindo o Deus Que está enjaulado Que queima oferendas Que com sua voz quebra os espelhos Dos teatros lotados. Aqui estou, um rosto dormindo Ou um anjo vagando através De todos os juízos A céu aberto Amanhã, talvez, Pelo espelho da noite Olhe o meu reflexo, talvez. Adélia Coelho Flô

Todas as tuas convicções cairão sobre terra, cedo ou tarde. Estar convicto é a certeza da decepção! Ou não? Leli Be

13


A REDE SOCIAL Se a rede é social Já não te balanças sozinho Milhões de olhos ao redor do mundo Espreitam teu “inocente” balançar E a cada um cabe julgar o que vê Com a medida dos olhos que tem Aquela rede onde antes cochilavas em paz Desfrutavas o teu privado, individual E intransferível soninho de beleza Hoje é palco de intrigas Embalando teu sono doente Na melodia de pesadelos doidos Teu vizinho posta os segredos que eram só teus Sem que tu mesmo saibas Que nunca mais serão secretos E te retalham em postas finas Para servir-te no jantar Enquanto teus inimigos (da tua rede social de amigos) Vêm falar-te de invasão De uma privacidade coletiva Nesse imenso Sanatório Geral Só pode ser uma piada virtual! Doralice Santana 14

SAGRADO FEMININO Correspondi à imagem espelhada. Sorri entredentes o poder concedido Fui escolha, opção desmedida. Arquiei-me, santa à revelia Escondida nas cortinas do destino Escrevi história e fui premiada Honroso prazer, ver-me assim desnudada Na estupidez humana de nossos dias Escancarada, fui musa, rebeldia. Rebentei histórias de um dia. Na noite clara, na tarde ensolarada Fui o que pude, deusa repentina. Incrivelmente, me disfarcei de poesia Para ser doce, e ao mesmo tempo, vadia De um sonho, eterna desmentira Do meu corpo, nasceu a magia. ilustra: karla linck E tudo claro, eterna prelazia. E tudo escuro, na hora vespertina. Para brilhar nos olhos e sentir o perdão Fui estudo e realeza, sorte desmedida Para esquecer de tudo, na compartilhada solidão, Da filha-mãe, e do poente estagnado, Refiz o drama e criei os meus atalhos. De louca insana, colho meu resultado Sorrio ainda, flores dependuradas Da ciência e causa, sou exemplo e ausência. Eternamente guiada pelos meus hormônios. Deusa histórica de confusa dinastia. Permaneço estática, explodindo em lágrimas frias. Marina Maria


POESIAS CIÇA BUENDÍA. http://embriaguezpessoana.blogspot.com.br/ CRIS CAVALCANTI. professora. DORALICE SANTANA. Jaboatão dos Guararapes. professora. GEISIARA LIMA. poetisa e desenhista. http://silencio-interrompido.blogspot.com.br/ JOY CARLU. Joycelle Carluana. Moreno-PE. jessierquiriniana. LELI BE. Ariele Mendes, produtora cultural e atriz. MARIANE ALVES. https://www.facebook.com/poetizandoarotina MARINA MARIA. http://medievas.blogspot.com.br/ MITHA FERREIRA. EPA – Encontro de Poesia Alternativa do Ibura e https://www.facebook.com/inversopoesia NATHÁLIA NIÉDJA. PAOLAGNESE PATTA. RALINE ALMEIDA. VERA LÚCIA. Moreno-PE. ILUSTRAÇÕES ANNE SOUZA (págs. 12 e 13) https://www.facebook.com/pages/Anne-Souza/404295132981015 BRISA MELO. (págs. 10 e 11) https://brisamelo.carbonmade.com/ JAÍNE CINTRA (pág. 3) http://www.jainecintra.com/ KARLA LINCK (págs. 2, 4, 12 e 14) https://www.flickr.com/photos/karlalinck/ LARISSA VITÓRIA (págs. 4 e 5) TAINÁ TAMASHIRO (págs. 5 e 11) https://www.flickr.com/photos/taimashiro/

DIAGRAMAÇÃO PABLO GOMES. http://cargocollective.com/pablogomes/ REVISÃO MARINA MARIA. CONTATOS E LINKS CENTRAL DE ATENDIMENTO À MULHER - LIGUE 180

É um serviço de utilidade pública gratuito e confidencial (preserva o anonimato), oferecido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, desde 2005.

SEC. DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES http://www.spm.gov.br/ ESTADUAL | Secretaria da Mulher | Ouvidoria 0800.281.8187 www.secmulher.pe.gov.br/ RECIFE | Secretaria Municipal da Mulher | Fone: (81) 3355.8055 MORENO | Gerência Esp. para as mulheres | Fone: (81) 3535.3984 AGÊNCIA PATRÍCIA GALVÃO. http://agenciapatriciagalvao.org.br/ REDE FEMINISTA DE SAÚDE. http://redesaude.org.br/home/ MULHERES NEGRAS. http://www.mulheresnegras.org/ ASSOCIAÇÃO DE MULHERES BRASILEIRAS www.articulacaodemulheres.org.br

15


NOTHING Nada nada nada Nada mais do que nada Porque vocês querem que exista apenas o nada Pois existe o só nada Um pára-brisa partido uma perna quebrada O nada Fisionomias massacradas Tipóias em meus amigos Portas arrombadas Abertas para o nada Um choro de criança Uma lágrima de mulher à-toa Que quer dizer nada Um quarto meio escuro Com um abajur quebrado Meninas que dançavam Que conversavam Nada Um copo de conhaque Um teatro Um precipício Talvez o precipício queira dizer nada Uma carteirinha de travel’s check Uma partida for two nada Trouxeram-me camélias brancas e vermelhas Uma linda criança sorriu-me quando eu a abraçava Um cão rosnava na minha estrada Um papagaio falava coisas tão engraçadas Pastorinhas entraram em meu caminho Num samba morenamente cadenciado Abri o meu abraço aos amigos de sempre Poetas compareceram Alguns escritores Gente de teatro Birutas no aeroporto E nada. Pagu/Patricia Galvão, Publicado n’A Tribuna, Santos/SP, em 23/09/1962

setembro, 2015. moreno-pe https://www.facebook.com/VivaVilaMorroPoesia


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.