Três pedras n'água para um círculo perfeito

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O Sesc Paço da Liberdade apresenta a exposição:

Cristine Siqueira Diogo Duda Douglas Figueira Scirea Efigenio Pavei Everton Leite Larissa Barddal Fantini Mariana Midori Matheus Hartman Rafael Benaion Yasmin Kozak Curadoria Marina Ramos Proposição Educativa Bruno Ferreira


Um indivíduo senta em uma ponte ao lado de um amontoado de pedras de rio. De tempos em tempos, ele pega três pedras da pilha e as arremessa todas de uma vez na água. Próximo a ele, há outra pessoa com uma câmera fotográfica mirando as pedras no momento em que afundam. Essa cena acontece por horas e horas e com o único objetivo de desenhar um círculo perfeito na água. Agora substitua pedras de rio por bolas laranjas, água por ar e um círculo perfeito por uma linha reta. Em Jogando com três bolas no ar para obter uma linha reta (1973), o artista John Baldessari nomeia essa série fotográfica em razão da ação realizada para produzir tais imagens. Outros trabalhos como Andando de maneira exagerada ao redor do perímetro de um quadrado (1968), de Bruce Nauman, e Caminhando (1964) de Lygia Clark trazem títulos, processos e imagens que implicam em fazeres casualmente experimentais e muitas vezes percebidos como ações sem sentido. Nas décadas de 60 e 70 – aqui e lá fora –, a arte é cada vez mais percebida e criada à sua maneira, sem precisar ser justificada por qualquer outro campo do conhecimento. Artistas inventam métodos sem qualquer desejo de obter uma conclusão ou provar algo.


Em uma de várias conversas sobre arte1, a artista e professora Carina Weidle fala sobre quando seus alunos “pedem uma mão” para criar um trabalho. Ela comenta que “se for para pegar na mãozinha será para levá-los para a piscina funda e deixá-los lá”. E o que seria essa piscina funda? Já que o processo artístico não se trata de uma linha reta que vai de A a B, porque cada trabalho traça seu próprio percurso de existência, é possível assimilar o ato criativo como um mergulho – uma situação de constante prática para estar submerso. Requer mapeamento, fôlego, equipamentos e movimentação peculiar, pois a percepção se torna instável debaixo d’água. Durante vários meses, dez artistas, uma curadora e um arte-educador compartilharam e acompanharam processos criativos, desde as primeiras ideias até os trabalhos finalizados. Ao longo desses encontros e conversas, foi possível perceber o fazer artístico a partir de devaneios, experiências e visualizações como iniciativas para uma prática sem um percurso dado, de maneira que criar é estar atento e em relação com o próprio processo – mesmo quando a vontade é de se ausentar dele. Os trabalhos desses artistas carregam os percursos de cada um. Suas visualizações, escutas, diálogos, influências, pausas, escolhas e modos específicos buscam saciar e criar novas questões para gerar novos mergulhos – ciclos ininterruptos que extrapolam a ordem da vida. Marina Ramos

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BURIGO, J. ; CORDOVA, D. Z. . Conversas Sobre Arte. Curitiba, Brasil [2009 - 2013]. 1. ed. Curitiba: Máquina de Escrever, 2015. v. 1. 340p .




Larissa Barddal Fantini, para medir meu corpo é necessário saber me abraçar - 2019. Fitas de cetim, Dimensões variáveis. Créditos imagem: Fabiana Caldart


Efigenio Pavei, Sem título - 2019. Chapa de aço inox, 90 x 60cm. Créditos imagem: Fabiana Caldart


Larissa Barddal Fantini, promessas de amor até que a última folha caia - 2019. Fitas de cetim, Dimensões variáveis. Créditos imagem: Fabiana Caldart



Douglas Figueira Scirea, Totem I, II e III - 2019. Tinta acrĂ­lica sobre tela, 170 x 50cm.



Mariana Midori, Cordilheira de nós - 2019. Voil e fios de algodão, 40 x 100 x 15 cm. Créditos imagem: Fabiana Caldart






Everton Leite, Bodas de Prata - 2019/2020 Impressão e materiais diversos sobre alumínio, 20 x 500cm. Créditos imagem: Fabiana Caldart




Observar o mergulho do outro Localizar-se em alto mar por conta própria é difícil, mas quem está em terra firme enxerga aquele que nada. Olhar para o outro e ouvir o outro faz o processo fluir. Aprender sobre o outro é aprender sobre a si mesmo.





Créditos imagem: Fabiana Caldart

Matheus Hartman, No tempo em que tudo virou ruína - 2019. Óleo sobre tela, 120 x 70 cm.



Créditos imagem: Fabiana Caldart

Rafael Benaion, uma sinfonieta qualquer - 2020. Cerâmica, brinquedo de plástico e circuitos eletrônicos, Dimensões variáveis






Rafael Benaion, 17g de milícia doce - 2020. Têmpera vinílica sobre MDF, dimensões variáveis. Créditos imagem: Fabiana Caldart

Douglas Figueira Scirea, Série Cadeiras de praia da praia que não tenho - 2019. Tinta acrílica sobre papel Hahnemuhle 330g/m2, 24 x 32cm. Créditos imagem: Fabiana Caldart


Douglas Figueira Scirea, Série Cadeiras de praia da praia que não tenho - 2019. Tinta acrílica sobre papel Hahnemuhle 330g/m2, 24 x 32cm. Créditos imagem: Fabiana Caldart






Cristine Siqueira, Sem título - 2019. Óleo sobre tela, 70x100cm. Créditos imagem: Fabiana Caldart


Sair para respirar Mergulhar é um estado antinatural. É possível se manter debaixo d’água, só que não por muito tempo. Insistir em permanecer submerso durante o processo é insustentável, por isso é necessário voltar à superfície, tomar fôlego e repensar o percurso feito.






Mariana Midori, Mapa-trama - 2019. Voil e alfinetes, 29 x 40 cm CrĂŠditos imagem: Fabiana Caldart


Matheus Hartman, Still life in the age of movement - 2019 Instalação, dimensões variáveis Créditos imagem: Fabiana Caldart





Yasmin Kozak, Onde mora o meu silêncio - 2019/20. Performance/instalação, 130 cm X 39 cm X 70cm. Créditos imagem: Fabiana Caldart





Créditos imagem: Fabiana Caldart

Rafael Benaion, la décadence Organique - 2020. Óleo sobre MDF, LED, fibra ótica e cerâmica, dimensões variáveis.



ESTE MOBILIÁRIO É UM CONVITE PARA VOCÊ PRODUZIR. ESTARÁ DISPONÍVEL AO LONGO DESTA EXPOSIÇÃO PROPONDO DIFERENTES AÇÕES, COMO UMA ESTRATÉGIA DE INVESTIGAÇÃO DAS OBRAS E DOS ARTISTAS. VOLTE MAIS VEZES PARA PRODUZIRMOS OUTRAS COISAS!

CADERNOS PARA POEMAS E COISAS ÍNTIMAS Essa atividade propõe investigar possíveis conversas que se dão entre as obras de Yasmin Kozak e Larissa Barddal Fantini, Os trabalhos destas artistas partem de uma mesma relação do processo criativo, que é um ponto comum entre elas: questões pessoais de caráter íntimo que aparecem constantemente como imagens em memórias, sonhos, pensamentos e devaneios. A obra da Yasmin é um conjunto de trabalhos e linguagens que estão à disposição do público uma cômoda com gavetas e uma chave que convidam o público a investigar seus interiores que guardam livros produzidos pela artista, além de outras matérias. A obra também suporte para uma performance que Yasmin realizou na abertura da exposição, quando esteve diante do público escrevendo em um de seus livros e compartilhando a chave das gavetas com as pessoas. Esse conjunto de elementos e ações que orbitam esta cômoda dizem respeito a questões pessoais da artista, que trabalha maneiras de dispor sua intimidade para o público. Quanto de nós mesmos cabe em uma gaveta? O conjunto de obras que Larissa expõe aqui são poemas visuais elaborados pela artista a partir de imagens de objetos e situações que lhe surgiram em pensamento. A princípio esses objetospoemas não parecem estabelecer uma relação entre si por não seguirem uma ordem material que os unifique. A unidade entre eles é dada por características subjetivas, intimas, que partem de um ponto central que é a própria vivência da artista: seus pensamentos, sua história, suas relações com as outras pessoas, suas relações consigo mesma. Quanto dos outros cabe em nós mesmos?

PROPOSTA DE AÇÃO Como podemos nos relacionar com aspectos tão íntimos de alguém? O que podemos enxergar de nós mesmos nas questões pessoais destas artistas? A partir desses e outros questionamentos, faça um passeio pela exposição e analise com atenção as obras das duas artistas: * Identifique semelhanças e diferenças entre as obras e você. * Escolha um dos trabalhos que mais chama a sua atenção. Você pode entender o que esta obra quer conversar com você? * Próximo da obra há três objetos: um caderno com o titulo, uma caneta e uma coisa pessoal da Yasmin, que nos emprestou para esta atividade. * A obra da Larissa são poemas visuais, você poderia escrever ou descrever esse poema? Você poderia desenhar esse poema? Esse poema fala sobre você? * Cuide para utilizar as canetas apenas nos cadernos. * Compartilhe seu poema conosco pelo instagram @trespedrasnagua.expo Bruno Ferreira





ESTE MOBILIÁRIO É UM CONVITE PARA VOCÊ PRODUZIR. ESTARÁ DISPONÍVEL AO LONGO DESTA EXPOSIÇÃO PROPONDO DIFERENTES AÇÕES, COMO UMA ESTRATÉGIA DE INVESTIGAÇÃO DAS OBRAS E DOS ARTISTAS. VOLTE MAIS VEZES PARA PRODUZIRMOS OUTRAS COISAS!

ESCULTURAS DE OBSERVAÇÃO

Esta atividade propõe investigar possíveis conversas que se dão entre a obra de Efigenio Pavei e Rafael Benaion. Os trabalhos expostos qui demonstram uma pesquisa em torno de materiais e linguagens das artes, que investigam as possibilidades da forma tridimensional e o gesto empregados pelos artistas. Os dois trabalhos de Efigenio possibilitam uma conversa pelo contrate que há entre eles: em uma chapa de aço o artista se utiliza de dobras básicas para dar volume ao material plano e bidimensional, o que desperta no espectador a imagem da própria ação sendo feita, Até quantas dobras aguenta o material? Dobrar uma chapa de aço inox é tão fácil quanto parece? Por outro lado, na obra Arquivo Morto o artista se apropria de um objeto cotidiano — quase obsoleto — também feito de aço. Em uma ação performática aberta ao público, Efigenio usou do seu gesto diante do objeto: com uma marreta deformou toda a estrutura do arquivo, deixando à exposição uma outra forma da peça. O conjunto de obras de Rafael propõe uma espécie de brincadeira de linguagens entre as escolhas do artista: materiais (argila, brinquedos, tinta, circuito eletrônico), técnicas (escultura, pintura, apropriação) e os próprios títulos dos trabalhos (abordagens críticas e provocativas). Em que âmbito dessas escolhas podemos identificar a ação do artista como sujeito criador? Num primeiro momento poderíamos não relacionar que se tratam de obras de um mesmo artista, já que estão distribuídas pela exposição. Mas são os próprios jogos de linguagens que unificam esse conjunto.


PROPOSTA DE AÇÃO Vamos nos apegar aos gestos dos artistas, ambos abordam a linguagem tridimensional — a escultura. Observe as obras de Efigenio e Rafael, em especial aquelas compostas por peçasde cerâmica. Analise seus aspectos físicos, tamanhos, formas, materiais, Imagine de quemaneira foram executadas essas obras. A partir disso: * Perceba os objetos que estão disponíveis neste mobiliário. São peças de máquina de costura feitas com aço inox e peças de cerâmica. * Escolha um destes objetos e leve para o espaço de trabalho próximo às obras sem título, de Efigenio, e uma sinfoneta qualquer, de Rafael. Posicione seu objeto no pedestal em frente à bancada. * Hã dois materiais disponíveis para trabalho: massa de modelar ou papel alumínio. * Caso você escolha trabalhar com a massa de modelar, utilize à parte da bancada que está protegida, para facilitar a sua modelagem. Caso sua peça seja feita com papel alumínio pode leva-la com você Caso sua peça seja feira com massa de modelar, destrua seu trabalho e guardo no saco prateado, para que outras pessoas possam trabalhar com este material * Compartilhe sua escultura conosco pelo instagram @trespedrasnagua.expo



Efigenio Pavei, Arquivo morto - 2020. Apropriação / performance, 133 x 47 x 71cm.




Larissa Barddal Fantini, key pussy - 2019. Tinta acrĂ­lica sobre MDF, chaves, chaveiro, 25 x 15cm.






Mapear o mergulho Fios embaraçados dentro de uma caixa, passos sem fim, órbitas. Um método não precisa ter a intenção de obter uma conclusão ou chegar a um lugar premeditado. É impossível cessar um mergulho.




Cristine Siqueira, E o Quarto Ansioso Faz-se Labirinto - 2020. Óleo sobre tela, Dimensões variadas . Créditos imagem: Fabiana Caldart



Créditos imagem: Fabiana Caldart

Rafael Benaion - Um cubo nunca entrará em um buraco redondo - 2020. Cerâmica e brinquedos de plástico, dimensões variáveis.



Larissa Barddal Fantini, agora já não é mais - 2020. Marcador sobre MDF, mão francesa, 60 x 30 x 27cm. Créditos imagem: Fabiana Caldart



Rafael Benaion, kit mini golpe 2016 - 2020. Papel cartão e brinquedos de plástico, dimensões variáveis. Créditos imagem: Fabiana Caldart


Matheus Hartman, Transmissão - 2019. Óleo e fotografia sobre tela, 50 x 40 cm. Créditos imagem: Fabiana Caldart


O que te fez saltar e o que te fez mudar a rota Quando se cria algo, imagens mentais projetam aquilo que ainda está por existir. Visualizações, esquemas, mapas e desenhos idealizam um trabalho que se torna diferente do esperado. Às vezes o que você quer não é o que ele precisa.





Créditos imagem: Fabiana Caldart

Larissa Barddal Fantini, Ícaro tatuado no braço de Ícaro - 2020. Papel carbono sobre parede, 29 x 42cm.


Cristine Siqueira, Sem título - 2019. Óleo sobre espelho, 26x46cm Créditos imagem: Fabiana Caldart



Diogo Duda, I’d like to thank Bruce and China - 2020. Fitas LED, fontes, cabos, conectores e pregos, 150 x 150cm. CrÊditos imagem: Fabiana Caldart


Larissa Barddal Fantini, dad auto corrected to sad 2013/2019. Caneta esferográfica sobre papel, imã de geladeira, 15 x 21cm. Créditos imagem: Fabiana Caldart



O Projeto Permanente de Desenvolvimento e Experimentação em Artes Visuais do Sesc Paço da Liberdade objetiva a promoção da produção local e a prática de discussão em artes visuais para artistas iniciantes. Parte do novo Referencial Programático do Sesc, o projeto atende a ação de Desenvolvimento de experimentações, a qual é definida como: “Conjunto de ações que visam desenvolver artistas, fornecendo condições para experiências inovadoras”, e “caracteriza-se como oportunidade para troca de experiências, pesquisa de linguagens e conteúdos, desenvolvimento individual e coletivo (...)”. Tendo isso em vista, durante oito meses em 2019, dez artistas, uma curadora e um arte educador participaram de encontros semanais, onde discutiram o conjunto de trabalhos de cada um, os projetos para esta mostra e o processo de produção da mesma. Por se tratar de um projeto de longa duração com intuito de valorizar a trajetória do indivíduo as ações foram programadas com foco na produção, discussão, interlocução e atividades formativas, mediadas pelo corpo técnico de artes visuais do Sesc Paço da Liberdade. Desta forma, o desenvolvimento artístico individual foi o resultado de um processo coletivo que passou por etapas cruciais da elaboração de uma exposição. “Três pedras n’água para um círculo perfeito” apresenta ao público o conjunto de experimentações, pesquisas e trabalhos produzidos por este grupo e também os interesses, escolhas e inquietações vivenciadas neste percurso.


Cristine Siqueira Diogo Duda Douglas Figueira Scirea Efigenio Pavei Everton Leite Larissa Barddal Fantini Mariana Midori Matheus Hartman Rafael Benaion Yasmin Kozak Curadoria Marina Ramos Proposição Educativa Bruno Ferreira

Espaço das Artes Sesc Paço da Liberdade Praça Generoso Marques, 189 - Centro. Curitiba | Paraná sac.pacodaliberdade@sescpr.com.br (41) 3234.4200


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