Jornal Sem Terra 317

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ANO XXX– Nº 317 – JAN/FEV 2012

INTERNACIONAL

ENTREVISTA

CÓDIGO FLORESTAL

Via Campesina Brasil

A atual conjuntura dos

Só há um caminho para

contribui na organização

trabalhadores Sem Terra,

a sociedade brasileira:

dos agricultores haitianos

debatida com Adelar Pizetta

exigir o veto da Dilma.

Página 12

Páginas 4 e 5

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EDITORIAL Crise do sistema capitalista é estrutural, de longa duração e mais complexa que a de 1929

Lutas de massas, o fermento das transformações sociais SE O PRESENTE É DE LUTA, o futuro é nosso! Foram com essas palavras que se encerrou a Declaração da Assembleia dos Movimentos Sociais, que reuniu mais de 1.500 militantes de todo mundo em Porto Alegre (RS), no final de janeiro. A Assembleia foi a principal atividade organizada pelos movimentos sociais durante o Fórum Social Temático. Mais do que uma simples declaração, o que vemos expresso nesse documento é fruto de uma construção coletiva, é um chamamento para a luta, a partir de uma boa reflexão sobre o momento em que vivemos. Em todos os espaços de debate de lutadores sociais e analistas de toda parte do mundo, havia um consenso no diagnóstico da crise do sistema capitalista. É uma crise estrutural de longa duração, mais complexa que a de 1929, pois se dá em um momento de intensa globalização e sob hegemonia do capital financeiro internacional. As consequências serão incalculáveis, mas se partirmos do que já estamos presenciando é possível prever o que virá. Nesse mundo onde habitam mais de 7 bilhões de pessoas, o sistema mantém 1 bilhão de famintos. E não é por falta de comida, muito menos por falta de conhecimentos e técnicas sustentáveis de produção. São as grandes corporações transnacionais

que controlam o conhecimento, os estoques, os preços, os insumos e o que comemos. A crise ambiental também é fruto da ganância do sistema por explorar inconsequentemente os recursos naturais existente em nosso planeta. Também é intrínseco ao sistema um exército de reserva de desempregados que perambulam todos os dias pelas ruas das cidades do mundo inteiro em busca de um posto de trabalho.

Devemos priorizar nossas energias para construir o nosso projeto de superação ao sistema capitalista As receitas apresentadas pelos principais países da Europa e Estados Unidos, juntamente com suas empresas imperialistas, são mais do mesmo: guerras, invasões militares, mercado livre, privatizações, emissões de dólares, pacotes econômicos que são lançados para salvar os bancos e que arrocham os salários, reduzem direitos, aumentam a segregação racial e os saques aos recursos naturais dos países periféricos.

Todas essas ações geram contradições entre si e o que se percebe é que reações começam a aparecer onde menos se esperava. Nos EUA já são mais de 40 milhões de famintos e sem tetos e a juventude sem esperança de estudar e trabalhar. Para ter acesso ao atendimento de saúde, somente mediante pagamento, pois tudo está privatizado. Na Europa, países como Grécia e Itália viram seus presidentes arrancados de seus postos e substituídos por pessoas indicadas pelo sistema financeiro. A onda de indignados em todo o mundo começa a crescer e pode se transformar em algo maior. Somos 99% contra 1%. Precisamos saber disso e acima de tudo nos juntar para termos mais força. Os desafios para a classe trabalhadora não são poucos, mas as contradições por parte do sistema tendem a aumentar a cada dia e permitem pensar grande, ser ousado e buscar mais do que nunca a unidade de nossa classe e a construção do novo. Não podemos permitir que o velho se recupere. Nesse contexto, devemos priorizar nossas energias para construir o nosso projeto de superação ao sistema capitalista. Um projeto de transição é fundamental para construir as estruturas para uma nova sociedade. Não seremos eficazes apenas

Palavra do leitor

É lamentável como a mídia tem veiculado informações sobre o MST, que na verdade não passam de falácias maldosas em relação às famílias que fazem parte do MST. Quando a mídia divulga informações distorcidas e descaradamente difama o MST, está de fato difamando pais

e mães de famílias,crianças e idosos que compõem este movimento sério. Faço parte do MST e me orgulho de saber que pertenço a um movimento de caráter, e que jamais deixaremos nos levar por comentários que vêm do setor burguês, que são os meios de comunicação alienados. NELSON NEDIS SANTOS DE JESUS

A conscientização nas escolas Leciono geografia em escolas particulares de Natal (RN). Durante todos estes anos de sala de aula tento conscientizar os alunos sobre a importância da reforma agrária. Gostaria apenas de deixar registrado que todos nós brasileiros devemos nos orgulhar da luta do Movimento. CLÁUDIO CUSTÓDIO Mande sua mensagem para o Jornal Sem Terra

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DIREÇÃO NACIONAL DO MST

FRASE DO MÊS

O antagonismo apresentado pela mídia

Crédito da Foto: Raul Spinassé

com denúncias às mazelas do sistema em que vivemos sem ter algo a propor, sem uma alternativa viável da qual possamos nos engajar para torná-la realidade. As lutas de massas devem ser o fermento para essa transformação e, se as fizermos articulados com os povos em luta no mundo todo, teremos mais possibilidades de êxitos. A exemplo do que aconteceu em 2003 quando nos mobilizamos contra a Guerra no Iraque - lançamos na nossa assembleia em Porto Alegre um Chamado Global de Mobilização contra o Sistema Capitalista no dia 5 de junho de 2012. Essa atividade também será parte dos preparativos para a Cúpula dos Povos, que será realizada no Rio de Janeiro em resposta à Conferência das Nações Unidas Rio+20, que mais uma vez busca lançar ao mundo uma solução para os problemas dos capitalistas, ignorando os dilemas que enfrentamos para o futuro da humanidade. O grande homenageado de nossa assembleia, o companheiro Egídio Brunetto, um dos grandes motivadores de espaços unitários, nos inspirou e saímos do encontro com a sua palavra de ordem: Globalizemos a luta, globalizemos a esperança!

Edição: Igor Felippe Santos. Revisão: Joana Tavares, Luiz Felipe Albuquerque, Vanessa Ramos e Vivan Fernandes. Projeto gráfico e diagramação: Eliel Almeida. Assinaturas: Mary Cardoso da Silva. Impressão: Atlântica Gráfica e Editora Ltda.. Tiragem: 10 mil exemplares. Endereço: Al. Barão de Limeira, 1232 – CEP 01202-002 – São Paulo/SP – Tel/fax: (11) 2131-0840. Correio eletrônico: jst@mst.org.br. Página na internet: www.mst.org.br. Todos os textos do Jornal Sem Terra podem ser reproduzidas por qualquer veículo de comunicação, desde que citada a fonte e mantida a íntegra do material.

Sua participação é muito importante. As correspondências podem ser enviadas para jst@mst.org.br ou para a Alameda Barão de Limeira, 1232, Campos Elíseos, São Paulo/SP, CEP 01202-002. As opiniões expressas na seção “Palavra do leitor” não refletem, necessariamente, as opiniões do Jornal sobre os temas abordados. A equipe do JST pode, eventualmente, ter de editar as cartas recebidas.

“O MST está sempre aqui no coração. Fizemos um trabalho juntos bem lindo e esperamos o próximo. Para a galera do MST, estamos ligados para qualquer coisa” MANU CHAO Cantor e compositor lançou, em 2001, o álbum “Manu Chao - Próxima estacion: esperanza”. Nele, uma das músicas se refere ao assassinato dos 19 trabalhadores rurais Sem Terra, em 1996, em Eldorado dos Carajás (PA)

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ESTUDO Papel dos educadores é contribuir para ampliar o limite de compreensão da realidade

CARLA DOZZI EDUCADORA POPULAR E EX-MONITORA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO POPULAR DO INSTITUTO SEDES SAPIENTIA (CEPIS)

A MOBILIZAÇÃO para uma luta política se dá pelo reconhecimento de situações de opressão e da necessidade de superá-las. A compreensão crítica de uma situação de opressão é algo maior do que seu mero reconhecimento e, mergulhada em uma intensidade afetiva ética (amor, solidariedade, indignação), promove um engajamento na luta política como um processo permanente. O avanço dos movimentos populares e da mobilização por mudanças estruturantes depende, mais do que nunca, da intensificação do trabalho de base. Essa prática deve ser uma constante e estar calcada em princípios claros, que orientem a ação e ajudem a construir caminhos de transformação da realidade. Princípios são aquilo que não abrimos mão ao percorrermos a nossa caminhada, a partir de uma determinada compreensão de ser humano, de natureza e de cultura, para a educação popular crítica. O trabalho de base nem sempre acontece a partir de uma prática de educação popular, mantendo-se, muitas vezes, na esfera da mobilização em torno desta ou daquela situação, ou mesmo, da agitação e propaganda. Quando

Trabalho de base precisa articular a luta mais ampla com a construção cotidiana realizado de maneira permanente e dialógica, a partir da análise coletiva das contradições vividas e enraizado em uma práxis libertadora, é capaz de avançar nos caminhos de uma educação popular emancipadora. Para que isso aconteça, é preciso um olhar atento sobre alguns princípios: 1-Partir da realidade concreta daqueles com quem estamos trabalhando. Parte-se da compreensão de que todos, sem exceção, possuímos diferentes

Arquivo MST

Trabalho de base e educação popular de mãos dadas

O processo de conscientização é um processo de libertação para o educador

saberes. A visão de mundo do educando - ou seja, como a realidade vivida é interpretada e sentida por ele - é ponto de partida da educação popular. Mais do que partir dos fatos em si, interessa-nos, como primeiro passo, a maneira como são compreendidos e explicados pelo educando. Diferentemente de apenas levar informações à base, é partir do saber ali existente para reflexão conjunta sobre qualquer informação ou fato. Para muitos, imersos no pragmatismo, partir da realidade concreta seria algo extremamente ousado. 2-Buscar uma escuta atenta e generosa: aprender a escutar o outro. Não é algo espontâneo, informal. Ao contrário, exige uma postura de desapego e humildade por parte do educador, para melhor compreender a visão de mundo do educando e os limites aí implícitos. 3-Empenhar-se em, de fato, estabelecer um diálogo. Essa prática pressupõe radical horizontalidade na relação entre educador e educando. Quando as duas partes falam, escutam, em um exercício de humildade e de valorização do saber do outro e, havendo com-

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preensão mútua, podem chegar a uma terceira questão. Muitas vezes falamos muito. Não somos compreendidos e responsabilizamos o outro por não compreender ou por não agir como esperávamos (após tanta falação, a ação). Para que o diálogo aconteça, precisamos nos comunicar com a visão de mundo do outro. Para Paulo Freire, o diálogo é um ato de amor, é libertador e produtor de conhecimento. 4-Gerar processos de conscientização. Não se trata de transmitir conteúdos a alguém. Parte da compreensão de que somos agentes da mudança da realidade. Exige ação e reflexão sobre a ação em que nos engajamos. Ou seja, trata-se de um processo de práxis, constante e inacabado.

Contradições O nosso papel, como educadores, é contribuir para ampliar o limite de compreensão da realidade apresentado pelo educando e buscar uma intervenção que a transforme, seguido de uma nova reflexão e aprofundamento da compreensão do vivido. É, portanto, explicitar a contra-

dição e atuar sobre ela. Paulo Freire afirmava que o processo de conscientização é sempre um processo de libertação para o educador e para o educando. Assim culmina, sempre, na produção de conhecimento. O trabalho de base precisa articular os processos formativos com organizativos, a luta mais ampla com a construção cotidiana das alternativas, que permitem ao povo resistir e seguir em frente. Nesse sentido, trabalho de base e educação popular precisam caminhar de mãos dadas. O que nem sempre acontece. Muitas vezes o trabalho de base ocorre reproduzindo o que Paulo Freire denominou educação bancária – aquela em que o anseio de sair “depositando conteúdos” em “mentes vazias” é maior do que o reconhecimento de que o outro - aquele em quem queremos despertar o desejo de organização popular e construção coletiva - traz consigo um saber repleto de vivências, que o fizeram pensar, agir e sentir desta ou daquela maneira. Na educação popular, somos educadores e educandos, o tempo todo. Romper com práticas colonizadoras e comprometer-se com práticas libertárias é um aprendizado cotidiano.

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Carlos Ruggi

ENTREVISTA Processo de debates com acampados e assentados desaguará na realização do 6º Congresso do MST

O nosso Movimento está num momento de construção de um processo de debates com acampados e assentados, que desaguará no 6º Congresso do MST, em 2013. Com isso, está colocado o desafio de debater a atual conjuntura da luta dos trabalhadores Sem Terra, o papel do Estado, a luta contra as forças hegemônicas no campo brasileiro, a disputa ideológica e os desafios da organização na luta pela Reforma Agrária Popular. POR IGOR FELIPPE SANTOS E LUIZ FELIPEALBUQUERQUE SETOR DE COMUNICAÇÃO

O Estado Cada sociedade cria o seu próprio Estado de acordo com a sua correlação de forças políticas e econômicas. Logo, a natureza do Estado burguês está subordinada pela força que o criou, pela sua classe dominante – a burguesia. A principal função desse Estado é assegurar e potencializar ainda mais o domínio dessa força hegemônica. Porém, isso não significa que as classes subalternas só podem se mobilizar no momento em que mudar a natureza do Estado. É tarefa construir uma força política contrahegemônica que fomente lutas para obter conquistas da classe trabalhadora. Desse

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modo, nossa tarefa é compreender que o Estado existe para atender os interesses da classe burguesa e potencializar as lutas para que as classes subalternas obtenham conquistas, aproveitando as contradições internas da classe dominante. Como o nosso Movimento luta pela Reforma Agrária, inserido no Estado burguês, nosso desafio é justamente confrontar nossos interesses com a classe dominante para obter conquistas e transformações que julgamos necessárias.

Mudanças na agricultura A década de 80 marcou o final de um modelo de desenvolvimento econômico que gerou uma sociedade urbano-industrial, iniciada em 1930. Nos anos 80, houve um período de estagnação, na chamada

“Precisamos avançar em termos de organização da nossa base social que já conquistou a terra. Temos que trabalhar essa organização em seus três aspectos: econômico, social e político. Porém, não é só concentrando forças nas áreas de assentamentos que vamos fazer a luta da Reforma Agrária avançar. Isso implica avançar na consciência política da nossa base social”, afirma Adelar Pizetta, da Coordenação Nacional do MST. Abaixo, leia os principais trechos da entrevista. “década perdida”. Nesse modelo, a função da agricultura era fornecer mãe de obra, matéria-prima e alimentos para uma sociedade que estava em processo de industrialização. Nesse contexto, havia um espaço político para uma ReformaAgrária Clássica nos latifúndios que se mantinham improdutivos. Havia até uma legislação progressista, como a lei sobre a função social da terra da Constituição Federal de 1988, que sustentava a entrada de camponeses Sem Terra nas terras improdutivas. Com o processo de declínio desse modelo de industrialização, o Brasil se incorporou na economia capitalista globalizada, ocupando um espaço na exportação de produtos primários. Desse modo, as terras que antes estavam improdutivas - e que poderiam ser destinadas para a produção

de alimentos e matéria-prima para a indústria e também para a reforma agrária - passam a ser alvo da especulação e do agronegócio, que passa a incluí-las na sua base produtiva de atendimento ao mercado internacional. Assim, o Brasil se transformou novamente numa grande plataforma agroexportadora. Ou seja, além da luta pela democratização da terra, temos que lutar também contra o modelo do agronegócio. Como a Reforma Agrária tem como base a produção de alimentos, esses dois modelos são incompatíveis. Desse modo, a nossa luta perpassa pela mudança do modelo de agricultura do país.

Reforma Agrária Popular Agora, a Reforma Agrária tem outra

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natureza. Ao propormos outro modelo de agricultura, lutamos para que o Sem Terra consiga criar condições para um desenvolvimento mais amplo. Tem que ter terra, acesso ao conhecimento científico, à pesquisa, uma matriz produtiva que seja compatível com a preservação do meio ambiente, da saúde dos produtores e consumidores. Tem que ter educação no meio rural, garantir à população condições e acesso às conquistas e benefícios que a humanidade adquiriu para que não precise sair do campo e ir à cidade para ter acesso à informação. Há uma série de condições que foge daquele modelo capitalista de agricultura, que procura atingir o maior lucro e produtividade possível, sem se preocupar com as conseqüências geradas aos seres humanos e o meio ambiente. Queremos mudar a forma de se olhar à agricultura. A prioridade é produzir alimentos, ter um desenvolvimento sustentável que não agrida o meio ambiente e que também preserve a saúde das pessoas.

continuaram atuando, levantando bandeiras em seus vários aspectos (como a sindical e de direitos populares), mas que precisam caminhar na perspectiva de uma proposta de unidade, junto com uma capacidade de mobilização social que respalde suas propostas.

Diálogo com a sociedade Temos o desafio da comunicação para fazer com que a sociedade perceba quais são as bandeiras que defendemos e quais são as propostas que estão em confronto: a da Reforma Agrária Popular e a do agronegócio. Esse é um dos maiores desafios que temos, pois no período anterior a sociedade sempre apoiou a Reforma Agrária, em uma espécie de solidariedade política ao Movimento. Agora é preciso que a sociedade perceba que está em jogo o tipo de sociedade, de agricultura e de alimentos que queremos. Para isso, a comunicação com a sociedade é essencial. Não é uma questão fácil, porque uma classe é dominante porque consegue impor suas ideias à sociedade. Precisamos nos contrapor e passar uma mensagem para que a sociedade perceba esses dois projetos de agricultura em disputa. É um período voltado para acumular força política e vitórias para a classe trabalhadora, mesmo que sejam vitórias pontuais.

Nossos desafios

Táticas Vamos continuar todas as mobilizações das mais variadas formas contra o monopólio da terra desse país.A luta pela democratização do acesso à propriedade rural continuará, sejam com ocupações, marchas, acampamentos nos centros urbanos, manifestações juntos a outras organizações. O mais essencial da luta pela Reforma Agrária é o acesso a terra, que continua sendo a prioridade do MST e temos que qualificar essas formas de luta. Porém, a Reforma Agrária Popular exige

Agroindústrias A luta coloca o desafio de avançarmos na produção de formas de energia para as realidades locais. Já há condições tecnológicas objetivas para que as comunidades tenham uma forma diversificada de fontes de energia, sem agredir o meio ambiente, possibilitando autonomia na produção e no consumo de energia. Basta que tenha políticas para essa questão. Temos que avançar na questão da agroindústria, levan-

“Ao propormos outro modelo de agricultura, lutamos para que os Sem Terra consigam criar condições para um desenvolvimento amplo” do-as para nossas áreas. Isso possibilita um acúmulo de produção, de riqueza, daquilo que a agricultura pode gerar. Possibilita uma demanda de mão de obra diversificada para a população do meio rural, para os jovens, filhos de assentados. Cria condições para a aquisição de um conhecimento específico, exigido pela agroindústria. Não é só a questão da produção, de agregar valor para aquilo que se produz. É também um leque de possibilidades para que a população tenha melhores condições de vida no campo e uma perspectiva de ascenso social no meio rural.

Socorro Araújo

O cenário político no país mudou. O MST surge no bojo do ascenso das lutas sociais, sindicais e políticas que o país vivia na década de 80. A ditadura aglutinou as forças políticas e sociais que pediam a democratização do país. A bandeira da Reforma Agrária sempre esteve presente nessa discussão. Por isso, nasce o MST, o movimento dos Pequenos Agricultores e dos atingidos por barragens. A partir da década de 90, houve grandes transformações no Brasil e no mundo. Houve uma crise do mundo socialista e a reestruturação do capitalismo em escala planetária. Isso afetou a classe trabalhadora em vários aspectos, que desde então se encontra num período de descenso social. A questão central é como obter conquistas neste período. O primeiro passo é termos a capacidade de elaboração teórica e política com uma proposta da classe trabalhadora. Isso significa uma proposta de Reforma Agrária Popular, que supera a Reforma Agrária Clássica burguesa.

superar desafios mais amplos. Temos que avançar nessa questão do modelo de produção da agroecologia. Exige que avancemos para ter acesso ao ensino no meio rural. Não só o escolar, mas ao conhecimento, em geral. Temos que arrancar esse direito do Estado burguês, que limita nosso acesso à informação.

Novas bandeiras Temos que ver quais são os outros aspectos que interessam aos Sem Terra, além de ter acesso a terra. É um desafio da classe trabalhadora, pois somente assim a sociedade também poderá avaliar o que queremos com a luta pela Reforma Agrária. É um grande desafio aglutinar as forças do campo que estão dispersas. São forças que, mesmo neste período de descenso,

Prioridade é ter desenvolvimento sustentável que preserve o ambiente e a saúde das pessoas

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Políticas Públicas São importantes conquistas da própria luta da classe trabalhadora e, por isso, trouxeram benefícios, uma valorização da produção camponesa que não se pode desconsiderar. Mas são muito poucas se comparadas com as políticas ditadas pelo agronegócio. Temos que entender o seguinte: obtemos essas conquistas e a partir delas que nossa luta deve se projetar, ao propor novas políticas para a agricultura brasileira. Isso passa pela questão de financiamento, de seguro agrícola, assistência técnica, ou seja, que realmente haja uma política do governo que priorize a agricultura familiar, a produção de alimentos, a preservação ambiental, a fixação da população no meio rural, que assegure os direitos sociais a essa população. Desse modo, nos chocamos com o agronegócio. Por exemplo, a política destinada à Reforma Agrária, que até agora é marginal, se confronta com a política do Ministério da Agricultura, que são as políticas prioritárias desse governo.

Fortalecimento da nossa organização Precisamos avançar em termos de organização, da melhor forma possível, da nossa base social que já conquistou a terra. Há todo um trabalho de organização dos assentamentos, que são desafios gigantescos, trabalhando em seus três aspectos: econômico, social e político. Porém, não é porque já conquistou a terra que o combate pela Reforma Agrária deixa de existir. Não é só concentrando forças nas áreas de assentamentos que vamos fazer a luta da Reforma Agrária avançar. Isso implica avançar na consciência política da nossa base social. Se não trabalharmos com o conjunto dos camponeses, seja Sem Terra, de pequenos proprietários, assalariados, não será possível confrontar o modelo do agronegócio. Temos que continuar trabalhando nas duas vertentes da nossa organização: os que já conquistaram a terra e a outra que está desorganizada e dispersa. Temos que organizar essa base para que se mobilize e entre na luta, pois por meio da luta se ganha conhecimento e consciência política. As duas questões caminham juntas. O desafio maior é saber como chamar essa população para a luta, para que se reconheçam enquanto classe trabalhadora do campo.

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ESTADOS “A única saída para os agricultores pobres é a ocupação de terra”

Paraná conquista mais uma área e assentará 200 famílias SETOR DE COMUNICAÇÃO E CULTURA MST/PR

O ESTADO DO PARANÁ inicia o ano de 2012 com mais uma vitória na luta pela terra. As cerca de 160 famílias acampadas na fazenda Mestiça – ocupada desde setembro de 2007 -, no município Rio Branco do Ivaí, centro norte do estado, conquistaram no final do ano passado a área reivindicada. Agora, esperam as séries de medições e projeções a serem realizadas pelo Incra para darem início ao assentamento Egídio Brunetto, em homenagem ao dirigente do MST morto no ano passado num acidente de carro. O objetivo do Incra é assentar cerca de 200 famílias em toda a área, cujos investimentos iniciais serão de R$ 50 mil por família, abertura de estradas, habitação, água encanada, energia elétrica e mais de 500 empregos diretos. Para Ireno Prochnow, da coordenação estadual do MST, a conquista da área “não foi fácil. Este é um espaço que tem um grande significado de resistência e enfrentamento. Mas a única saída para os agricultores pobres é a ocupação de terra”, observa, ao lembrar que a região conta com cerca de 2.500 agricultores sem terra.

MST participa de capacitação jurídica RAFAEL SORIANO SETOR DE COMUNICAÇÃO

Agricultores comemoram mais uma vitória da luta no campo

Já o pré-assentado José André de Lima, o Pitanga, acredita que “o importante da conquista dessa área é a motivação que vai dar para outras famílias entrarem na luta, e a propaganda das ações do próprio Movimento”.

Produção No pré-assentamento, cada família toma conta, individualmente, de quatro alqueires de terra, ao produzirem milho, feijão, arroz, mandioca e hortaliça, além da criação de suíno, avicultura caipira e gado leiteiro – principal linha de

produção. O produto é repassado para uma associação de comercialização de beneficiamento de cooperativas. Coletivamente, são cerca de 10 alqueires de plantação de mandioca, três alqueires de arroz, mais três de milho e um de feijão. A comercialização da mandioca é feita com uma fábrica de farinha, localizada no município vizinho, Terra Boa. Internamente, o pré-assentamento possui um mercado, que comercializa todo tipo de miudezas (secos e molhados) e uma lanchonete. A verba é destinada às finanças do pré-assentamento.

Mais uma turma formada no curso de história GLEISA CAMPIGOTTO

O ACESSO à Universidade pelos Movimentos Sociais é resultado de uma luta histórica pelo direito à educação no país. E a ação conjunta de camponeses organizados tem como resultado recente a conquista do curso de licenciatura em História para os Movimentos Sociais do Campo, realizado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por meio do Pronera. O curso, realizado em regime de alternância com durabilidade de quatro anos divididos em oito etapas, já conseguiu formar duas turmas. A primeira foi iniciada em 2004, com a Turma Apolônio de Carvalho. Ao dar continuidade a este processo, foi possível conquistar a segunda turma, apelidada

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Fidel Castro. A turma Fidel Castro afirmou sua posição por uma educação crítica, de qualidade, gratuita e universal, e que sirva de instrumento para formação de quadros, para que ao adquirirem habilidade formal, tenham capacidade de intervir e mudar a realidade apontando novas formas de sociabilidade. Assim, o ano de 2011 foi de grande conquista para o grupo, a começar pela formatura dos 48 companheiros. Entretanto, também foi um ano de grandes perdas. Em janeiro de 2011, perdemos a companheira Luana (MST/ BA). Em dezembro, poucos dias antes da esperada formatura, perdemos Adilto de Souza (MST/PI), o “Píaui”. Destes ficam os momentos convividos cheios de boas lembranças e a certeza que a nossa luta continua.

Diversidade A diversidade foi uma marca deste grupo composto por sete movimentos sociais de 15 estados. A festa de formatura teve como simbolismo a celebração de mais uma conquista dos movimentos sociais com uma grande atividade cultural cheia de atrações regionais. As duas turmas que realizaram o curso se destacaram sobretudo pelo desempenho acadêmico. Ambas superaram a média escolar das turmas regulares do curso de História e demonstraram que os camponeses e as camponesas podem contribuir em muito na formação do conhecimento. A terceira turma de história já foi aprovada pelo Departamento de História da UFPB, que se iniciará em agosto de 2012.

A UNIVERSIDADE Estadual de Alagoas (Uneal), junto com diversos movimentos e organizações sociais, iniciaram no mês de janeiro um curso de extensão com o objetivo de formar uma turma de juristas leigos, seguindo metodologias ligadas à educação popular de Paulo Freire. A idéia original do curso surge da necessidade da população tomar conhecimento de seus direitos e procurar exercê-los. Para isso, a formação é dividida em duas etapas: a primeira destinada aos monitores, ao debaterem temas como sociologia dos movimentos sociais, experiências de assessorias jurídicas populares e direitos e garantias fundamentais. Na sequência, acontece um curso de capacitação jurídica aos representantes de cada organização popular, em cinco módulos semanais. A aula inaugural contou com a participação de 40 educandos de diversas regiões do estado, a maioria militantes do MST. Para José Roberto Silva, coordenador do MST e participante do curso, “as lutas e conquistas ficam mais fáceis se os movimentos se apropriarem dos direitos que garantem a nossa Constituição.” O projeto almeja ainda incidir na realidade dos direitos de outros movimentos sociais populares, associações civis, sindicatos, cooperativas, lideranças e militantes comunitários, grupos sociais e pessoas em situação de potencial ou efetiva violação de direitos humanos.

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ESTADOS Mais de 5 mil trabalhadores rurais ocuparam 18 prefeituras ao longo do mês de janeiro

Jornada pela educação na Bahia garante conquistas importantes Caso contrário, as mobilizações em torno dessa pauta retornarão com a marcha das mulheres e as ações do abril vermelho.

LUIZ FELIPE ALBUQUERQUE SETOR DE COMUNICAÇÃO

JANEIRO está se tornado um mês de luta pela educação no estado da Bahia. Pelo segundo ano consecutivo, o MST promoveu a Jornada Estadual em Defesa da Educação dentro dos Assentamentos de Reforma Agrária. “Não podemos permitir que as aulas comecem nas mesmas condições do ano anterior, por isso tiramos como medida o mês de janeiro para se fazer as ocupações nas prefeituras, pois este é um mês significativo, já que antecede o início das aulas”, pontua Evanildo Costa, da direção estadual do MST. Os mais de 5 mil trabalhadores rurais mobilizados ocuparam 18 prefeituras ao longo do mês, possibilitando o agendamento com mais de 50 prefeituras para se discutir a

Fechamento de escolas

Trabalhadores ocupam a prefeitura de Prado (BA)

situação precária em que as escolas se encontram. Algumas boas conquistas já foram adquiridas com a jornada. No curto prazo, as prefeituras já garantiram viabilizar o básico, como materiais de sala de aula, quadros negros para os professores, carteiras para os alunos, etc.

Para as reestruturações mais complexas, como as questões relacionadas à infraestrutura, melhoramento das estradas, construção de salas de aula, o prazo máximo dado pelo Movimento para que as obras comecem a aparecer foi o mês de março.

MST contribui para o avanço agrícola no Piauí VANESSA RAMOS SETOR DE COMUNICAÇÃO

EM MEIO À SECA, com poucas chuvas e sob o sol escaldante do Nordeste brasileiro, trabalhadores rurais do Assentamento Marrecas, localizado no município de São João do Piauí, garantem uma produção diversificada de frutas que abastece supermercados, escolas públicas e creches de todo o Piauí. Dentre os produtos comercializados, estão mandioca, milho, feijão, uva, mamão, goiaba, melancia, ovelhas, cabras e cabritos. Só neste ano, mais de 60 toneladas de uva foram colhidas durante o Festival da Uva, realizado pelo governo do estado entre os dias 13 e 15 de janeiro, na cidade de São João do Piauí. Marrecas é o assentamento mais antigo do MST no Piauí. Cerca de

Plantação de uva no assentamento Marrecas (PI)

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300 famílias vivem hoje no assentamento, que completa 23 anos no dia 10 de junho. Para Antônio de Miranda, da Coordenação Nacional do Setor de Produção do MST, Marrecas representa um marco histórico: a primeira resistência de luta pela terra na região. Segundo ele, no início os assentados tiveram muita dificuldade para produzir alimentos em função, sobretudo, do difícil acesso à água. “Havia muita água, poço jorrando, mas não tinha um projeto de irrigação. A água acabava não sendo aproveitada,” relembra. Hoje, o assentamento tem produção agrícola irrigada, sem utilização de energia, só por meio da força da natureza. Dentre os alimentos produzidos há uva, milho, feijão, caprino e ovino, tendo um potencial de produção diversificada muito grande.

Experiência O assentamento é pioneiro na produção de uva no semiárido piauiense, um projeto desenvolvido em parceria com o governo do estado e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Atualmente, seis famílias assentadas participam do projeto piloto. Todos os produtos produzidos no assentamento Marrecas são vendidos para as grandes redes de supermercados da região, principalmente a goiaba. Os agricultores também participam do Programa deAquisição deAlimentos (PAA) e do Programa Nacional da Merenda Escolar (PNAE), além de feiras locais.

Desde 2002, mais de 37 mil escolas no campo já foram fechadas em todo o Brasil, segundo dados do censo escolar do Ministério da Educação. Cerca de 22% das escolas fechadas estão na região nordeste. Para Evanildo, não tem como desassociar a luta pela Reforma Agrária com políticas para educação. “Com a mesma insistência que fazemos a luta pela terra, também fazemos a luta pela educação, pela saúde, pela moradia. Para que as pessoas, além de ter terra para trabalhar, também tenham cada vez mais dignidade dentro do processo da luta pela Reforma Agrária”, explica.

Assentados combinam café, árvores nativas e frutíferas no Pontal VANESSA RAMOS SETOR DE COMUNICAÇÃO

CERCA DE 50 famílias assentadas na região do Pontal do Paranapanema, no extremo Oeste do Estado de São Paulo, estão desenvolvendo um projeto de plantio de café, árvores nativas e frutíferas. Além de promover o reflorestamento da região, que tem áreas devastadas pela ação do latifúndio, o projeto pretende capacitar os assentados nesse tipo de plantio, gerar renda para as famílias e fortalecer a consciência ecológica dos camponeses. “A ideia de plantar café surgiu de uma pesquisa elaborada por alunos do curso de Agronomia do MST. A partir desse estudo, eles resolveram fazer um projeto de plantio de café”, explicou Felinto Procópio, o Mineirin, integrante da Coordenação Nacional do MST e um dos coordenadores do projeto. A primeira colheita de café está prevista para 2015. Da plantação das sementes até a primeira colheita significativa de café são necessários no mínimo três anos. Durante esse período, o cafezal permanece na fase de desenvolvimento. Esse projeto foi selecionado entre 1.200 inscritos, no Programa Desenvolvimento e Cidadania, da Petrobras, que apóia os camponeses.

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ESPECIAL Livro retrata pessoas e suas histórias na luta pela terra no Alagoas

Um abraço em imagens “MST Alagoas – nossa Marcha, nossa casa, nossa vida – se propõe a mostrar um pedaço do que somos e queremos para nossos filhos, nossos jovens, nossos pares e para a nossa sociedade alagoana e brasileira, num convite ao abraço que possibilita continuarmos a caminhada”. Essa é a apresentação do livro lançado pela Editora da Universidade Federal do Alagoas, com fotos de Raul Spinassé e depoimentos de acampados e assentados da Reforma Agrária no estado. Confira aqui algumas das belas imagens que compõem a publicação.

Fotos: Raul Spinassé

Ser criança é brincar, estudar. Aprender a ler, a escrever, a cuidar do meio ambiente, desde que fez o sem-terra aqui a gente está aqui. O movimento vive lutando... lutando por terra, casa e depois eu quero que seja assim, um lugar com um monte de casa, uma escola bem grandona,um campo de futebol com trave de ferro e terra. A terra pra plantar feijão de corda, milho, banana... Marconi, 11 anos – Acampamento Rosa Luxemburgo – Girau do Ponciano

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Eu tinha um sonho de voltar a minha origem, vivemos uns dois anos no barraco de lona, depois fizemos estes barraquinhos de taipa, estamos aqui como pobre, mas na verdade, somos ricos... nos sentimos muito feliz com isso, porque através do MST, nós encontramos nossa verdadeira felicidades, nós temos nossa roça. Nós plantamos milho,feijão, macaxeira, batata. Nós era como um povo que não tinha, não tinha nada na vida, né? E hoje, graças a Deus, nós temos tudo. Seu Augusto, 65 anos – Assentamento Genivaldo Moura – Delmiro Gouveia

Quando eu crescer, eu quero ser doutor e plantar feijão de corda... Cauã, 7 anos – Acampamento Rosa Luxemburgo – Girau do Ponciano

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REALIDADE BRASILEIRA As ações devem ser instrumentos para as mulheres compreenderem a gravidade da ofensiva do capital

O compromisso de luta das mulheres Sem Terra O DIA 8 DE MARÇO tem se constituído para as Mulheres Sem Terra como expressão política de suas lutas e como espaço de reconhecimento da sua condição de mulher trabalhadora e sujeito social de direitos. Um longo processo de discussão foi determinante para a atual fase organizativa. A Campanha Nacional de Documentação para as Mulheres Trabalhadoras Rurais, durante a década de 1990, e a construção coletiva dos acampamentos do dia 8 de março, com caráter nacional e estadual, iniciados no ano 2000, produziram um novo sujeito político no interior do MST, a militância feminina e feminista.

O 8 de março deve se constituir como espaço de fortalecimento da Via Campesina e de articulação com as mulheres urbanas organizadas Foi marcante também a ação das 2 mil mulheres no Rio Grande do Sul no dia 8 de março de 2006, com a destruição de mais de 10 milhões de mudas de eucalipto e pinus. O protesto chamou a atenção da sociedade e dos participantes da 2ª Conferência Mundial sobre Reforma Agrária, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para os riscos do chamado “deserto verde”. Nessa ação, houve uma ruptura do padrão estabelecido, por ter sido uma ação coletiva, organizada e dirigida por mulheres, no enfrentamento de uma das maiores empresas transnacionais de produção de eucalipto, a Aracruz Celulose. Na última década, a luta pela Reforma Agrária ganhou um novo caráter, de enfrentamento ao capital estrangeiro na agricultura e às empresas transnacionais. As Mulheres Sem Terra passaram a organizar durante o mês de março, a

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cada ano, uma jornada nacional de lutas por todo o país com o lema “Mulheres Sem Terra: na Luta por Soberania Alimentar e Contra o Agronegócio”. As ações reúnem mulheres do MST e da Via Campesina para denunciar o modelo destrutivo do agronegócio para o meio ambiente e a ameaça à soberania alimentar. Em contraposição, apresentamos o modelo de desenvolvimento baseado na agroecologia e na defesa da terra, águas e sementes, que jamais podem ser mercantilizados.

Diálogo com a sociedade A cada ano temos feito a opção por temas importantes que dialoguem com a sociedade, que levantem questões centrais e fomentem discussões de interesse coletivo, relacionados à disputa pela terra e pelo território, à saúde e aos impactos para o meio ambiente e na vida das mulheres. Nos últimos anos, têm ganhado apoio popular as lutas contra os agrotóxicos, os monocultivos, os transgênicos, a violência e pela preservação do meio ambiente (como a campanha

pela manutenção do Código Florestal), que podem ser eixos para as ações deste ano. No entanto, cada estado deve buscar formas para contemplar a sua realidade. O tema da violência, por exemplo, faz parte de um processo educativo, que precisa ser discutido pelas mulheres para que possam enfrentá-lo e combatê-lo. Em relação à política de alianças, o 8 de março deve se constituir como espaço de fortalecimento da Via Campesina e de articulação com as mulheres urbanas organizadas. As ações devem denunciar a violência do agronegócio e dos agrotóxicos mas, fundamentalmente, devem ser instrumentos para que as mulheres compreendam a gravidade da ofensiva do capital. Esses protestos são formas de nos contrapor ao processo de globalização da pobreza, principalmente entre mulheres e crianças, que se dá pelo apoderamento das riquezas naturais e do território por empresas transnacionais, bancos e instituições internacionais. A nossa luta é para que as grandes extensões de terra utilizadas por essas empresas sejam destinadas à Reforma Agrária, para produção de alimentos

saudáveis e para a geração de renda dos trabalhadores rurais, acabando com o latifúndio e garantindo justiça social no campo brasileiro, formando uma base para a construção da Soberania Alimentar. Dessa forma, será possível garantir a recuperação e preservação da biodiversidade, matas, florestas, plantas medicinais, sementes crioulas, água, terra, que são patrimônios0 dos povos a serviço da humanidade. As lutas devem contribuir para a conquista de políticas públicas e efetivação de direitos (não concessões e políticas compensatórias) e para enfrentar o capital, apontando os rumos que o movimento feminista deseja construir para a sociedade. Por isso, a jornada de lutas das mulheres camponesas também se coloca como desafio da construção de formas de viver e produzir, que contribuam para a Soberania Alimentar e preservação da biodiversidade. As mulheres, assim como todos que sonham em construir um outro mundo, precisam assumir o compromisso de lutar incansavelmente contra toda e qualquer forma de opressão e mercantilização da vida, do corpo e dos bens naturais. Ângela Vargas

LOURDES VICENTE SETOR DE GÊNERO

A luta das mulheres produziu um novo sujeito político no interior do MST: a militância feminista

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REALIDADE BRASILEIRA O texto do Código Florestal aprovado no Senado continua sendo favorável aos ruralistas

LUIZ ZARREF VIA CAMPESINA

APÓS A VOTAÇÃO do manifesto ruralista, escrito pelo deputado Aldo Rebelo, na Câmara dos Deputados em junho de 2010, o texto de destruição do Código Florestal foi para o Senado Federal. Em dezembro último, um novo texto foi aprovado no Senado, preparado pelos relatores Luiz Henrique (PMDB, ex-governador de Santa Catarina no período em que foi criada a lei estadual anti-constitucional, que acaba com o Código Florestal em SC) e por Jorge Vianna (PT, ex-governador do Acre, que foi consultor da Aracruz). Essa nova proposta do Senado trouxe vários pontos novos, que atendem a outros interesses do grande capital. Entre eles, a liberação de obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas em Áreas de Preservação Permanente (APPs), a permissão de expansão da devastadora carcinocultura e a mercantilização das florestas e dos bens comuns.

Foi criado um falso discurso dizendo que o texto do Senado estaria melhor que o texto da Câmara Além disso, os pontos centrais de interesse do agronegócio foram mantidos: a) Anistia todos os desmatamentos em beiras de rios e nascentes ocorridos até julho de 2008, obrigando a recuperação de, no máximo, metade das áreas que hoje deviam estar conservadas; b) Anistia o plantio de lenhosas como eucalipto e pinus em áreas com inclinação maior que 45° e topos de morros. Essa anistia é muito diferente da reivindicada pela agricultura camponesa, que é a manutenção de espécies como maçã, uva e café, que possuem ciclo muito mais longo; c) Anistia o desmatamento de Reserva Legal (RL) que ocorreu até 2008 para todos os imóveis com até quatro módulos fiscais (que varia de 20 a 400

Max da Rocha

O veto da Presidenta é a única resposta que a sociedade pode exigir

O novo Código permite que 50% do que deveria ser reflorestado seja recomposto com espécies exótcias.

hectares, dependendo da região). Isso desobriga estas propriedades da exigência de preservar 80% da RL no bioma Amazônico e 40% no cerrado. Tudo que o agronegócio exigia. d) A RL desmatada pode ser recomposta com até 50% de espécies exóticas, aumentando os desertos verdes de eucalipto e pinus. Ou seja, os imóveis rurais que precisam recompor a RL ou APPs em encostas, morros e margens de rios, podem replantar com até 50% de eucalipto! Algo maravilhoso para as empresas de celulose, pois poderiam até fazer parcerias com pequenos e médios proprietários, sem ter que comprar a terra. e) Os imóveis que terão que recompor ou preservar a RL e/ou APPs poderiam compensar o desmatamento de uma propriedade em outra fazenda que esteja no mesmo bioma, deixando uma conservada e a outra toda desmatada. Com isso, o que não faltará são falcatruas, como a grilagem de terras públicas intocáveis e a averbação de outras áreas para compensar tudo o que o proprietário desmatou na sua fazenda. No entanto, a grande novidade no trâmite do Senado, é que, lamentavelmente, setores do Governo Federal,

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principalmente o Ministério da Agricultura e o Ministério do Meio Ambiente, trabalharam intensamente para a aprovação desse novo texto. Buscaram construir um suposto consenso, criando um falso discurso de que o texto do Senado estaria melhor que o texto da Câmara dos Deputados. Como percebido, isso é uma mentira escandalosa, que serve para tentar confundir e neutralizar a crescente mobilização social contrária à destruição do atual Código. Apesar do empenho do governo e da grande articulação feita pelo agronegócio, a luta popular conseguiu garantir o voto de diversos senadores, como Lindbergh Farias (PT/RJ), Cristovam Buarque (PDT/DF), João Capiberibe (PSB/AP), Randolfe Rodrigues (PSOL/ AP) e Marinor Brito (PSOL/PA).

Próximos passos Agora o projeto voltará para a Câmara dos Deputados, onde a votação está marcada para os dias 6 e 7 de março. Na Câmara, o texto não poderá receber novas propostas. Os deputados podem apenas aprovar a proposta do Senado integralmente ou vetar algumas mudanças, retomando parcialmente o texto original do projeto aprovado no primeiro relatório do Aldo Rebelo.

Diante dessa realidade, só há um caminho para a sociedade brasileira: exigir da presidenta Dilma Rousseff o veto de toda e qualquer anistia e fragilização das APPs e RLs, concentradas no capítulo das Disposições Transitórias. Esse primeiro trimestre é o momento de realizarmos mobilizações que demonstrem que a sociedade brasileira é contra este texto produzido no Congresso Nacional. Os movimentos populares, sindicais e socioambientais concentrarão atos no dia 6 de março em diversos estados, mostrando que em todos os cantos do país ecoa a resistência à destruição implementada pelo agronegócio. No dia 7 de março, para quando está marcada a votação, faremos um importante ato em Brasília, repercutindo as mobilizações estaduais e cobrando o compromisso da presidenta de não aprovar um Código Florestal Ruralista. Para o bem de nossas florestas e nossos territórios, VETA DILMA!

O que a presidenta Dilma tem que vetar • A possibilidade de recuperar só metade das áreas que foram desmatadas em beiras de rios e nascentes até junho de 2008. • A permissão do plantio de lenhosas em áreas com inclinação maior de 45° e topos de morros. • A desobrigação de recuperar as RLs desmatadas até 2008 para todos os imóveis com até quatro módulos fiscais. • A autorização das RLs e APPs serem recompostas com até 50% de espécies exóticas, o que aumentaria os desertos verdes de eucalipto e pinus. • A possibilidade de recuperar ou preservar a RL e/ou a APP em outra propriedade de um mesmo bioma. • Não permitir a regularização da expansão da carcinocultura nos mangues.

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INTERNACIONAL Ação com movimentos camponeses contribui no reflorestamento e na produção de sementes

THALLES GOMES BRIGADA DE AUDIOVISUAL DA VIA CAMPESINA

A Brigada Internacionalista da Via Campesina Brasil está presente no Haiti desde janeiro de 2009. Mais de 30 militantes de distintos estados e movimentos sociais já fizeram parte da equipe, atualmente formada por 10 pessoas. A brigada recebeu o nome de Jean-Jacques Dessalines, um dos heróis da revolução haitiana que conquistou a independência do país em 1804. Abaixo, leia entrevista concedida por correio eletrônico pelos brigadistas Dayana Mezzonato e José Luis Patrola. Jornal Sem Terra - Quais as atividades da brigada no Haiti? DM/JLP- Nosso trabalho é diretamente com os movimentos camponeses e está centrado em quatro frentes. A primeira é a produção de sementes de grãos e hortaliças. Estão sendo construídos seis centros de produção de sementes, envolvendo 150 famílias. O objetivo é garantir que os camponeses tenham suas próprias sementes, já que 100% das sementes de hortaliças são importadas dos Estados Unidos e as sementes de grãos não têm boa qualidade. Também estamos contribuindo com o movimento camponês Tet Kole (Cabeças Unidas) na construção do Centro Nacional de Formação e Agroecologia, onde ajudamos na estruturação de diversas atividades, como a construção das cercas, instalação da produção de cabritos e frangos, sistema de irrigação, além da formação e capacitação junto aos camponeses. JST- O que mais vocês estão desenvolvendo? DM/JLP- Outra ação importante da brigada é o reflorestamento. O Haiti tem um sério problema ambiental. Existe apenas 3% de cobertura vegetal origi

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Arquivo MST

Brigada da Via Campesina no Haiti completa três anos encontrava. O terremoto agravou uma situação que já era crítica. Logo depois do terremoto, muitas promessas foram feitas e as cifras de recursos eram gigantescas (cerca de US$ 9 bilhões). Mas o que vemos hoje é o Haiti novamente abandonado: não foram cumpridas as promessas. Muitas ONG’s entraram no país pós-terremoto, mas focaram o trabalho em ações imediatas, como a doação de tendas, alimentos e atendimento médico.Ações nesse sentido são importantes para o atendimento póstragédia. Entretanto, é fundamental desenvolver ações estruturais que ajudem o povo a sair da condição de miséria. Brigadistas estudando a língua local, o Kreyòl, no Centro de Formação Tirivye

nária, já que a principal fonte energética é o carvão. Assim trabalhamos em quatro municípios na implantação de viveiros de árvores frutíferas e lenhosas. A quarta frente é a Escola Técnica de Agroecologia, junto com a articulação Kat Je Kontre (Quatro olhos que se encontram), que é a Via Campesina do Haiti, para formação e capacitação de nível médio para jovens. Temos também a contribuição voluntária dos médicos da Via Campesina que estudaram em Cuba. Além disso, há dois grandes programas em processo de articulação: produção de leite para a merenda escolar, em parceria do governo brasileiro com o Haiti; e a estruturação dos camponeses com ferramentas, moinhos e cisternas de captação de água, a partir do apoio da Petrobras. JST - Quais as principais dificuldades da agricultura no Haiti? DM/JLP- Assim como no Brasil, no Haiti nunca houve uma verdadeira Reforma Agrária. Nesse sentido, a questão da terra é um grave problema. A entrada de produtos subsidiados dos países desenvolvidos impôs uma série de dificuldades para os camponeses. Nas zonas rurais não há energia elétrica, água encanada, nem rodovias asfaltadas. A prática agrícola ainda é muito simples, em geral com ferramentas manuais, pouquíssimo uso de adubo químico e veneno. No entanto, apesar das imensas

dificuldades que a agricultura camponesa vive, ela contribui em grande medida no abastecimento nacional de alimentos. JST- Como vocês avaliam a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), sob coordenação do Exército Brasileiro, que vai completar sete anos de ocupação? DM/JLP- A brigada busca entender o sentimento do povo haitiano. Um povo deve ser soberano nas grandes decisões do seu país. De 2004 a 2006 o país de fato viveu momentos de grandes tensões e talvez naquela ocasião justificasse algum tipo de ação internacional. Mas hoje a população haitiana, no geral, não está satisfeita com a presença das tropas. Houve casos de violação às mulheres e jovens. Foi comprovado que a cólera que afetou o país, matando mais de sete mil pessoas, veio das bases da Minustah. O país não está em guerra para receber uma “força de paz”. Os gastos chegam a US$ 800 milhões anuais, que não se convertem em quase nada na resolução dos problemas estruturais do país. JST- Passados dois anos do terremoto de 12 de janeiro de 2010, como está a reconstrução do país? DM/JLP- O Haiti mereceria uma reconstrução antes mesmo do terremoto, por causa da precária situação em que se

JST- Por que aumentou a migração de haitianos para o Brasil? DM/JLP- O fenômeno da migração se acentuou com o terremoto, mas existe há bastante tempo. O Haiti tem uma população de 9,5 milhões de pessoas viven-

“O fenômeno da migração se acentuou com o terremoto, mas existe há bastante tempo. O índice de desemprego é elevadíssimo, por isso muitos querem sair” do no país e mais dois milhões vivendo nos Estados Unidos. Um dado preocupante é que 1/3 das riquezas do país vem de recursos dos familiares que vivem fora da ilha. A situação econômica é muito grave. O índice de desemprego é elevadíssimo, por isso muitos querem sair. Muitos haitianos estão escolhendo o Brasil porque há uma forte presença brasileira no Haiti. No imaginário popular, há a ideia de que no Brasil a situação está boa. Além disso, o haitiano é fanático por futebol e a maioria da população torce pelo Brasil. Ou seja, o povo haitiano tem um carinho especial pelo Brasil e a imigração tende a aumentar.

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LUTADORES DO POVO Salvadorenho foi um revolucionário empenhado em transformar a realidade de Nossa América

OITENTA ANOS ATRÁS, no dia 1º de fevereiro de 1932, Agustin Farabundo Martí, salvadorenho, lutador incansável, dirigente internacionalista, morreu fuzilado. Foi uma das figuras revolucionárias empenhadas em transformar a realidade de Nossa América no século 20. Em 1925, fundou o Partido Comunista da América Central, ocupando o cargo de secretário do exterior. E começou uma incursão no México para conhecer de perto a realidade da revolução agrária pós 1910. Em 1928, foi a Nova York, onde entrou em contato com a direção central da Liga Antiimperialista das Américas, em uma assembleia onde se discutia a situação e a participação solidária da organização com o povo de Nicarágua. Enquanto representante da Liga, se ofereceu para ir combater a invasão estadunidense sobre a Nicarágua, ao lado de Augusto César Sandino. Em uma convenção de trabalhadores, que acontecia em El Salvador, o general Carlos M. Quezada, do Estado Maior do Exército de Sandino, deu seu testemunho do papel de Farabundo na brigada que lutou na Nicarágua. Ele participou de ações armadas e chegou rapidamente a ser secretário do grande patriota nicaraguense.

Lutador participou de ações armadas na Nicarágua e chegou a ser secretário de Sandino O lutador salvadorenho ajudou Sandino, o “General dos Homens Livres”, no desenvolvimento das relações internacionalistas do movimento sandinista. Conseguiu despertar e manter a atenção de vários governos do mundo sobre a luta desigual travada por herói-

No dia 30 de janeiro, julgaram Farabundo. Instalou-se um conselho de guerra que o condenou a morrer fuzilados no Cemitério Geral de San Salvador, junto com os líderes estudantis Alfonso Calderán e Mario Zapata.

“Y colosal se eleva y borda mil estrellas Farabundo” POETA CUBANO SÍLVIO RODRIGUES

Antes de ser fuzilado, Farabundo gritou em defesa da luta

cos combatentes contra o poder estadunidense. Por sua importante participação no movimento, alcançou o grau de coronel do Exército Defensor da Soberania Nacional de Nicarágua.

polícia, já sob a acusação de ser um agitador comunista. Farabundo foi perseguido pela polícia e, na noite de 19 de janeiro, capturado. À meia noite do dia 22 de janeiro de 1932, explodiu uma insurreição dos indígenas e milhares de camponeses armados com fuzis e foices ocuparam vários povoados no interior do país. A dominação e repressão dos indígenas no país se converteu em um dos genocídios mais graves da história da América Latina, com mais de 30 mil mortos.

De volta às origens Em meados de 1930, Farabundo regressou a El Salvador com a qualidade de representante do Socorro Vermelho Internacional (SRI) no setor de organização. Com a sua presença, o movimento mundial de solidariedade revolucionária e de ajuda às vítimas da reação nacional e internacional obteve um grande impulso, adquirindo entre as massas salvadorenhas muito prestígio e força. Como Secretário do Comitê Executivo do SRI seção de El Salvador, chegou a ser em um curto espaço de tempo a figura central na luta popular e da classe operária organizada pelo Partido Comunista e pela Federação Regional de Trabalhadores de El Salvador. No final de 1930, foi capturado e deportado. Nenhum dos governos reacionários da região o admitia em seus países. Ao escapar do Porto de Corinto da Nicarágua retornou a El Salvador em fevereiro de 1931. Foi detido no princípio de abril pela

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Em nome de seus companheiros, Farabundo pediu que seus olhos não fossem vendados e que fosse fuzilado de frente, com disparos no peito. No último instante - e quase ao mesmo tempo da voz da ordem do oficial que dirigia o pelotão - gritou com firmeza: “Viva o Socorro Vermelho Internacional”. Farabundo foi um autêntico internacionalista e hoje vive na luta do povo salvadorenho. Revolucionário inquestionável, herói da Pátria Grande, salvadorenho, centro-americano, latino-americano, caribenho. É um dos grandes lutadores junto com Sandino, Che, Bolívar, Martí, Morazán, Artigas e muitos outros. Como bem disse o poeta cubano Sílvio Rodrigues: “Y colosal se eleva y borda mil estrellas Farabundo”

Reproduçaõ

ROBERTO CANÃS MEMBRO HISTÓRICO DA FRENTE NACIONAL FARABUNDO MARTI (FNFM) E RESPONSÁVEL PELOS ACORDOS DE PAZ EM EL SALVADOR

Reproduçaõ

Farabundo Martí, um autêntico internacionalista

Farabundo (sentado à direita) com o Estado Maior do general Sandino (centro)

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LITERATURA Sua poesia nasceu com a militância e intrinsecamente faz parte da sua vida política

ANDREA BATISTA SETOR DE FORMAÇÃO

A ESCRITORA Gioconda Belli nasceu em 9 de dezembro de 1948 em Manágua, na Nicarágua, um país de vulcões e flores, de revolução e contra-revolução. Filha de empresário, foi educada para assumir o papel de esposa e mãe, mas buscou incansavelmente vivenciar uma vida de plenitude, uma vida também pública, política e de independência. Na década de 70, atuou na Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) contra a ditadura de Anastácio Somoza. Inicialmente como colaboradora clandestina e, mais tarde, como ativista da resistência. Após a publicação de sua segunda obra, “La Grama”,

Diga-me Diga-me Diga-me que não me conformas nunca, nem me darás a felicidade da resignação, mas a felicidade que dói dos eleitos, Os que podem abarcar o mar e o céu com seus olhos e levar o Universo dentro de seus corpos: E eu te vestirei com lama e te darei de comer terra Para que conheças o sabor do ventre do mundo. Escreverei sobre teu corpo a letra de meus poemas Para que sinta em ti a dor do parto. Virás comigo: Faremos um rito de amor

a repressão e perseguição provocaram, em 1975, seu exílio no México e Costa Rica. Com a derrubada de Somoza e o triunfo sandinista em 19 de julho de 1979, Gioconda retornou ao seu país, contribuindo em diversas funções políticas do governo revolucionário. Em 1990, o Partido Sandinista sofreu uma derrota eleitoral por Violeta Chamorro, apoiada pelos Estados Unidos. A sua poesia nasceu com sua militância e intrinsecamente faz parte da sua vida política. É considerada hoje uma das escritoras centro-americanas mais conhecidas por sua obra literária, que busca expressar a luta feminista no âmbito da transformação revolucionária. O primeiro romance, escrito em 1988, foi “A Mulher Habitada”, que E uma explosão de cada um de nossos atos. Não haverá paredes que nos encurralem, Nem teto sobre nossas cabeças. Esqueceremos a palavra E teremos nossa própria forma de entender-nos; nem os dias, nem as horas poderão pegar-nos Porque estaremos escondidos do tempo na névoa. Crescerão as cidades, se estenderá a humanidade, invadindo-o todo; Nós dois seremos eternos, porque sempre haverá um lugar no mundo que nos cubra E um pedaço de terra que nos alimente.

Quadro da argentina Edith, pintado sob a inspiração de Gioconda

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Reproduçaõ

Gioconda Belli: A mulher habitada retrata as inquietações de duas mulheres que questionam profundamente o papel que lhes foi designado historicamente. Escreveu, entre outras obras, “Sofía dos Presságios” e “Waslala”. A obra “O País Debaixo de Minha Pele, Memórias de Amor e Guerra” é uma autobiografia escrita em 2001. A autora revela as mais íntimas inquietudes da luta feminista no contexto da Revolução Nicaraguense. Seus mais recentes livros são “O País das Mulheres” (2010), que trata de um mundo governado por mulheres, e “Escândalo de Mel” (2011). Gioconda Belli é hoje mãe de quatro filhos (Adriana, Camilo, Melissa, Maryam) e casada com um produtor de cinema, Charles Castaldi, dividindo seu tempo entre Manágua e Los Angeles.

“(...) O homem que me ame Deverá amar o povo Não como uma abstrata palavra Tirada da manga, Mas como algo real, concreto (...)”. Regras do jogo para os Homens que querem amar as mulheres

“(...) Fui parte, artífice e testemunha da realização de grandes façanhas. Vivi a gestação e o parto da criatura iluminada pela carne e pelo sangue de todo um povo. Vi multidões celebrar o final de quarenta e cinco anos de ditadura. Experimentei as energias enormes que se desatam quando alguém se atreve a transcender o medo, o instinto de sobrevivência, por um objetivo que transcende o individual. Chorei muito, mas sorri muito também. Soube das alegrias de abandonar o Eu e abraçar o Nós. Nestes dias em que é tão fácil cair no cinismo, descrer em tudo, descartar os sonhos antes de que tenham a oportunidade de crescer asas, escrevo estas memórias em defesa dessa felicidade pela qual a vida e até a morte valem a pena” O País debaixo de minha Pele

Greve Quero uma greve onde vamos todos (…) Quero uma greve grande Que até o amor alcance (...) Uma greve de olhos, de mãos e de beijos. Uma greve onde respirar não seja permitido. Uma greve onde nasça o silêncio Para ouvir os passos do tirano que vai embora.

Conheça mais obras da autora Sobre a Grama (1972) Linha de Fogo (1978) Trovões e Arco Íris (1982) Amor Insurgente (1985) Da Costela de Eva (1987) A Mulher Habitada (1988) Sofia dos Presságios (1990) O Olho da Mulher. Poesia Reunida (1990) A oficina das Mariposas (1992) Waslala (1996) Apogeu (1997) O país debaixo de minha pele (2001) Minha íntima multidão (2003) O pergaminho da sedução (2005) O infinito na palma da mão (2008/2009) Gioconda Belli. Antologia Pessoal (2010) O país das Mulheres (2010) Escandalo de mel (2011)

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“... E fez-se a luta: uma homenagem a toda companheirada” Para não esquecer Fevereiro 03 Nascimento de Camilo Torres. O padre colombiano se envolveu ativamente na luta do seu povo, sendo expulso da Igreja após fundar o movimento político Frente Unida. Atuou na guerrilha e tombou no enfrentamento com forças reacionárias, 1929 05 Nascimento de Henfil. Cartunista e militante contra a ditadura, deixou um legado de obras críticas para pensar o Brasil e lutar contra a opressão, 1944

A Unidos da Lona Preta é a escola de samba do MST, que realiza seus ensaios e desfiles em São Paulo. Todos os anos reúne crianças, adultos, idosos, homens e mulheres, acampados, assentados, militantes e amigos para fazer um carnaval diferente, onde o estudo da nossa realidade, a diversão e a cultura de nosso povo se encontram. O samba-enredo deste ano é uma homenagem a todos aqueles e aquelas que cotidianamente batalham pelo

“Nosotros iremos hacia el sol de la libertad o hacia la muerte; y si morimos, nuestra causa seguirá viviendo. Otros nos seguirán” (Nós iremos até o sol da liberdade ou até a morte; e se morrermos, nossa causa serguirá vivendo. Outros nos seguirão”)

09 Nascimento de Apolonio de Carvalho. (confira contra-capa desta edição), 1912 10 Nascimento de Bertold Brecht, 1898 11 Nascimento de Caio Prado Jr, 1907 12 Nascimento de Olga Benário, 1908 16 Nascimento de Francisco Julião, advogado e líder das Ligas Camponesas, 1915

nosso Movimento. Aos companheiros e companheiras que plantam, colhem, suam no campo e na cidade, nas marchas e panfletagens. Estes e estas são o tema deste ano, ou seja, TODOS NÓS, que não desistimos diante das dificuldades e seguimos firmes e fortes. Cabeça erguida, dignidade inabalável. Se o presente é de luta, o futuro é nosso. Confira o samba-enredo da Unidos na página do MST!

Música e poesia da Reforma Agrária Popular “Ocupar, resistir, produzir na nossa mãe terra Espalhar uma semente de luta, não de guerra” Em São Paulo, mais uma conquista no campo da cultura. Ficou pronto o primeiro Cd do grupo Veneno H2, intitulado Militante da Terra. Formado por John Muller Souza, Carlos Cesar Zuin e Paulo Eduardo Pinheiro - assentados na região de Ribeirão Preto -, há seis anos o grupo vem se aprimorando em suas composições, manifestando por meio de suas letras uma visão sobre a realidade social e o compromisso com a luta na busca pela liberdade. Durante sua trajetória, o Veneno H2 tem participado ativamente da luta pela Reforma Agrária Popular, contribuindo sobretudo com ações de Agitação e Propaganda, através da música e intervenções de artes visuais, no diálogo com a sociedade – principalmente com a juventude. O Cd pode ser encomendado por correio eletrônico, no endereço mstsp@mst.org.br (assunto: Militante da Terra).

Arte engajada nos murais Morreu no dia 28 de dezembro do ano passado, aos 84 anos, o artista plástico Mário Gruber. Ele sofria de um câncer e estava internado numa clínica geriátrica em Cotia, na Grande São Paulo. Nascido em Santos (SP), em 1927, Gruber foi pintor, gravador, escultor e muralista. Estudou na Escola de Belas Artes de São Paulo, e passou a pintar em praça pública. Ele foi premiado na célebre exposição “19 Pintores” em 1947, época em que começou a trabalhar com Di Cavalcanti e foi morar em Paris, onde ingressou como bolsista na Escola Superior de Belas Artes e conheceu Candido Portinari. Depois de conhecer o artista mexicano Diego Rivera durante uma passagem pelo Chile, Gruber também se dedicou a fazer murais e obras públicas, chegando a ter trabalhos instalados na praça da Sé, no Memorial da América Latina e no aeroporto de Guarulhos. Em 1982, foi homenageado com o curta-metragem A Arte Fantástica de Mário Gruber, de Nelson Pereira dos Santos. Em 2010, recebeu a Ordem de Mérito Cultural do Governo Federal, a mais alta honra do setor artístico no País. Mario Gruber sempre propôs uma arte para o povo, e sua obra mais famosa “Assim como sempre, o amanhã está em nossas mãos” (um mural gigante, de 50 metros quadrados que fica na estação Sé do Metrô, em São Paulo), teve como objetivo levar o público a refletir sobre a sua origem e a sua história. O mural traz imagens de homens brancos, negros e índios, além de correntes, engrenagens e armaduras, representando a construção da identidade paulistana e brasileira. Um revólver que aparece em destaque foi incluído como protesto contra a violência da época do regime militar. “Infelizmente, o brasileiro ainda vivencia a violência, mesmo com democracia. Colocaria de novo a arma no mural, se o fizesse hoje.”

21 Assassinato do revolucionário nicaraguense Augusto Cesar Sandino, 1934 21 Assassinato de Malcom X, líder negro estadunidense, 1965

www.radioagencianp.com.br JORNAL SEM TERRA • JAN/FEV 2012

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“Queremos um mundo não apenas melhor, mas um mundo mais jovem, mais cheio de criatividade, de abnegação, paz, justiça, relações humanas amplas e puras. O ideal de uma sociedade nova, na qual se corrigiriam paulatinamente as injustiças e crueldades, projetando o ideal em um horizonte de mais igualdade, fraternidade e solidariedade” Apolônio de Carvalho

Alameda Barão de Limeira, 1232 Campos Elíseos CEP 01202-002 - São Paulo/SP

ASSINATURA ANUAL: R$ 30,00

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