As escolas e o MST Conheça as propostas educacionais e a realidade dos trabalhadores sem terra
ELISA MEIRELLES, de Parauapebas, PA, e FERNANDA SALLA, de Querência do Norte e Londrina, PR fernanda.salla@fvc.org.br
marcelo almeida
A
s histórias das escolas em assentamentos no Brasil têm particularidades, mas o enredo principal de todas é semelhante. Começa com a chegada de famílias a uma terra considerada improdutiva. Depois que elas montam acampamento, recebem a diretriz do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) para criar um espaço de Educação. Em muitos casos, não há professores formados: quem mostra aptidão para lecionar e sabe um pouco mais que os outros ganha a função. Paralelamente, o grupo pressiona o governo para que a ocupação seja reconhecida como assentamento e a escola se torne parte da rede pública e receba investimentos. Enquanto a situação não é resolvida, a instituição funciona no modelo itinerante: se os trabalhadores forem expulsos, ela acompanha o grupo para onde for. É o caso da Escola Itinerante Maria Aparecida Rosignol Franciosi, em Londrina, 386 quilômetros de Curitiba, no Assentamento Eli Vive, criado em 2013, depois de quatro anos de acampamento. A instituição está em processo de se tornar fixa até 2015. “No início, as aulas ocorriam nas cocheiras da fazenda ocupada. Depois, em barracos de lona e hoje em salas de madeirite”, diz Vanderleia Fortes, coordenadora pedagógica. De acordo com o Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), até 2012, foram criados no país 9.070 assentamentos, nos quais vivem 933.836 famílias. Elas fazem parte de um cenário que vem ganhando força desde o fim dos anos 1990, protagonizado pelos trabalhadores rurais. “Esses sujeitos coletivos, com suas lutas sociais e práticas educativas, têm sido capazes de interrogar e apresentar alternativas ao projeto hegemônico de desenvolvimento rural, às tradicionais escolas rurais e aos processos de formação de educadores”, explicam
na REVISTa dIGITaL mais fotos das escolas em assentamentos visitadas para a reportagem. iba.com.br
Mônica Molina e Helana Freitas no texto Avanços e Desafios na Construção da Educação do Campo (disponível em bit.ly/educ-campo). Diferentemente de outras escolas, essas surgem no contexto de luta por direitos. A EMEF Crescendo na Prática, em Parauapebas, a 707 quilômetros de Belém, é um exemplo. “Em 1994, participei da ocupação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Marabá (a 554 quilômetros de Belém), exigindo a posse da terra. Na época, levantamos quantas crianças havia no grupo e montamos turmas multisseriadas. Eu lecionei para algumas delas”, diz Clívia Uhl, hoje diretora da escola. Dois anos depois, o grupo obteve a terra, e nasceu o Assentamento Palmares 2. Já como parte integrante da rede municipal, a instituição passou a funcionar em um barracão de madeira, se mudando depois para o prédio atual, de alvenaria. Fato semelhante ocorreu no centro-oeste do Paraná. Com a mecanização do campo e a construção das hidrelétricas de Salto e Santiago e de Itaipu, em Foz do Iguaçu, a 635 quilômetros de
Educação em assentamentos As matrículas de Educação Básica em escolas de assentamento brasileiras somam
Isso representa quase 1% do total no país. fonte censo escolar 2012
novaescola.org.br agosto 2014
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