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ÍNDICE OS 1 FELIPE DE OLIVEIRA MENDES 11 MANOEL DE OLIVEIRA MENDES 27 LUIZ MANOEL DE OLIVEIRA MENDES LOBATO 35 LUIZ MANOEL DE OLIVEIRA MENDES E ALMEIDA 39 MANOEL DE OLIVEIRA MENDES E ALMEIDA 45 LUIZ ANTONIO DE OLIVEIRA MENDES DIAS LOBATO DOS OLIVEIRA MENDES AOS MENDES CARIA 51 ClipoemsLivros Independentes 2022 clipoems@gmailcom
Persistimos, se tanto, na usura da memória alheia, à véspera do longo esquecimento.
Darcy Ribeiro, Maíra.
Estaéumamodestacoletâneadeinformaçõese documentossobreasquatroprimeirasgerações dosOliveiraMendes, dequemdescendoporpartedeminhaavópaterna MariadeLourdesdeOliveiraMendes.
Delatambémherdoadescendênciadeoutroramo presentenoRecôncavobaiano:osBorgesdeBarros.
EpelomaridodeMariadeLourdes,meuavô AloysioMartinsCaria,vemadescendência dosGonçalvesMartinsedosSousaCaria.
Efoiassim,pensandonobenefícioqueissopoderiatrazer aosmeusfamiliares,emespecialaomeufilho,quedecidi juntaressesdadosesparsos,tentandoproduzir algumconhecimentogenealógico, queoajudeapensarasimesmo apartirdatrajetóriadenossosantepassados.
Arthur O Mendes Caria Filho
Os Oliveira Mendes
Felipe de Oliveira Mendes, habilidoso “mestre pedreiro” construtor de Igrejas, chegou ao Brasil no início do Século XVIII e fez fortuna na Bahia com o seu trabalho. O seu filho Manoel de Oliveira Mendes, que seguiu carreira militar, seguiu também os seus passos, mas aliou o conhecimento prático que adquiriu na lida com os serviços do pai aos estudos de engenharia militar e das artes, obtendo formação em ambas as áreas
Além disso, Manoel de Oliveira Mendes, filho único de pais abastados, investiu parte de seus recursos em vastas extensões de terras no Recôncavo Baiano e lançou assim o caminho da agropecuária escravagista que seus descendentes iriam percorrer por cerca de quatro gerações
O latifúndio e a riqueza geraram prestígio e reconhecimento, com um dos filhos de Manuel e três de seus netos sendo agraciados com títulos nobiliárquicos, e alguns outros com comendas e distinções de fidalguia pelo Império do Brasil O seu filho Luiz Manuel de Oliveira Mendes Lobato e seu neto Manoel de Oliveira Mendes e Almeida tiveram destacadas e celebradas participações nas lutas pela Independência que ocorreram entre 1822 e 1823 no Recôncavo baiano e na Capital da Bahia.
Um outro filho de Manoel de Oliveira Mendes, porém, tornou-se com o passar do tempo tão célebre ou mais que seu irmão e sobrinho, heróis da Independência Nascido na Bahia mas radicado por décadas em Portugal, Luiz Antonio de Oliveira Mendes Lobato trilhou o caminho acadêmico em Lisboa, tornando-se advogado e membro da Real Academia das Ciências daquela capital portuguesa. Luiz Antonio parece ter metabolizado de uma outra forma a experiência de nascer e crescer num Engenho aparelhado de mão de obra escravizada Atribui-se a ele o primeiro uso do termo “banzo” na academia, para designar um estado patológico de tristeza profunda, geralmente letal, provocado pelo horror da circunstância de escravização a que os seres humanos raptados e afastados de sua terra natal ficavam sujeitos. Seu artigo "Memória a respeito dos escravos e tráfico da escravatura entre a Costa d’África e Brasil" de 1793 é um marco na problematização do tema da escravidão, tendo sido constantemente estudado, debatido, reeditado e vendido até os dias de hoje
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De acordo com o Dicionário de Artistas e Artífices da Bahia da pesquisadora Marieta Alves: “O Mestre Pedreiro FelipedeOliveiraMendes, era natural da Vila de Viana (1700), Arcebispado de Braga, filho de Antônio de Oliveira e Maria Vaz Pediu admissão no quadro social da Santa Casa da Misericórdia em 1733, incumbindo-se da execução do zimbório da capela-mor da igreja da referida entidade, em 1734 Foi Juiz de Oficio das obras da cidade do Salvador, executou as obras do SolardoGravatá, marco da arquitetura civil de Salvador, e foi autor do frontispício da IgrejadoSantíssimoSacramentoeSant’Ana” (Edufba, 1976, pág 113)
Ainda jovem, Felipe de Oliveira Mendes veio para a Cidade da Bahia com sua esposa Maria Pereira e seu filho Manoel de Oliveira Mendes, também naturais da Vila de Viana, em Braga, Portugal Como Felipe de Oliveira Mendesera um profissional de conhecimentos qualificados numa época e num local de intensa demanda para os serviços que ele tinha experiência, não demorou para que em alguns anos ele se tornasse um abastado construtor, requisitado e respeitado na Bahia, tendo o seu filho único, o militar Manoel, como fiel aprendiz e sócio
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Foto: Salinko - ipatrimonio
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Igreja da Misericórdia
Detalhe: o zimbório edificado por Felipe de Oliveira Mendes visto nesta foto sob reforma em Setembro de 2022 (foto: Arthur Caria)
Em 1733 Felipe de Oliveira Mendes construiu o Solar do Gravatá, também conhecido como Solar Oliveira Mendes A edificação é hoje considerada um dos grandes marcos históricos na Cidade do Salvador, abrigando atualmente o CentroCulturalCasadeAngolanaBahia
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Foto: Paul R Burley, CC BY-SA 4 0
commons.wikimedia.org/wiki/File:Solar_do_Gravatá_Centro_Cultural_Casa_de_Angola_na_Bahia_2018-0935.jpg
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Na página do iPatrimonio.org dedicada ao imóvel lemos a seguinte descrição:
“O Solar do Gravatá, em Salvador-BA, foi tombado por suaimportânciacultural"
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Nomeatribuído: Prédio localizado na Praça dos Veteranos, n º 5, conhecido como Solar do Gravatá ou Solar Oliveira Mendes
Localização: Salvador-BA
NúmerodoProcesso: 335-T-1944
Livro do Tombo Belas Artes: Inscrição n º 516, de 24/05/1974
UsoAtual: Centro Cultural Casa de Angola na Bahia
commons.wikimedia.org/wiki/File:Solar_do_Gravatá_Centro _Cultural_Casa_de_Angola_na_Bahia_2018-0935.jpg
R Burley, CC BY-SA 4 0
Descrição: Na base da encosta que dá para a antiga Rua da Vala, frente à Praça dos Veteranos, onde é vizinho de belos sobrados e de um insólito Corpo de Bombeiros, está o solar Um dos mais interessantes de Salvador Foi erguido em 1733 por Felipe de Oliveira Mendes, famoso oficial construtor que trabalhou nas igrejas de Santana e da Misericórdia Em 1754 pertencia a seu filho Manuel, medidor da Câmara, servindo de fiança na arrematação de obras No ano de 1800 estava na posse de Francisco Gonçalves Junqueira, marido de uma neta do construtor Passou em 1808 a seu filho, que viria a ser barão de Jacuípe, e depois a D Maria de Oliveira Junqueira, casada com o conselheiro João José de Oliveira Junqueira, futuro presidente das Províncias do Piauí, Rio Grande do Norte e Pernambuco e Ministro da Guerra em dois períodos O solar esteve na família até 1938, quando foi classificado pelo IPHAN. Restaurado, abriga a Casa de Angola desde 1999 Solar urbano implantado em terreno de encosta, levando à adoção de um partido escalonado (com entre‐piso e jardim em níveis) pouco comum na arquitetura baiana A edificação desenvolve‐se em dois pavimentos além do entre‐piso e sótão recuado A utilização do entre‐piso para alojamento de serviçais e colocação de salões forrados no sótão, para uso da família, é única e subverte totalmente o padrão tradicional de uso dos espaços No jardim, dois níveis separados por grades abrigavam a cavalariça e a senzala e banheiros No pavimento nobre a circulação era feita em torno da escada e a fachada não apresentava simetria, duas outras características raras na época Destacam‐se os azulejos em relevo no saguão e a portada em pestana, que lembra os portais do Norte de Portugal/Ana Maria Lacerda”
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Foto: Paul
Foto: Paul R. Burley, CC BY-SA
Em 1738 Felipe de Oliveira Mendes foi o responsável por implantar a primeira fase da construção da Igreja Matriz de Nossa SenhoradoPilar,tambémemSalvador.
pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Matriz_de_Nossa_Senhora_do_Pilar_(Salvador)
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FOTOS DE Paul R. Burley, CC BY-SA 4.0
O “Inventário de proteção do acervo cultural da Bahia, Bahia, Secretaria de Cultura e Turismo” do IPAC-BA descreve a Igreja do Santíssimo Sacramento e Santana, trazendo detalhes de sua construção e um pequeno registro cronológico das etapas no qual aparece Felipe de Oliveira Mendes (trechos grifados) como pode ser lido a seguir:
(Foto Geraldo Lima/1959)
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Frontaria da Igreja do Santíssimo Sacramento de Sant'Anna, elaborada e executada por Felipe de Oliveira Mendes entre 1747 e 1760.
FrontariadaIgrejado SantíssimoSacramentode Sant'AnnaemSetembrode2022.
Fotos:ArthurCaria
IGREJA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO E SANT´ANA
“A igreja situa-se na 2ª linha de colinas do sítio da cidade do Salvador, "a cavaleiro" da Baixa dos Sapateiros. A construção é isolada em três lados e situada no eixo de uma ladeira, aberta em meados do século passado. As casas em sua vizinhança são de pequeno mérito arquitetônico, mas volumetricamente aceitáveis. Um grande edifício construído em sua proximidade constitui um precedente perigoso para a ambiência do monumento. O sítio da igreja é considerado zona de simples preservação (GP-2) pelo art. 114 da Lei Municipal nº 2.403, de 23.08.1972.
Edifício de notável mérito arquitetônico. Igreja com corredores laterais e tribunas, tendo ao fundo um ossuário disposto em torno de um pequeno pátio. A atual talha neo-clássica dos altares foi executada no período (1810/1828) por Antônio de Souza Santa Rosa que substituiu o retábulo setecentista de Francisco Gomes Correia e talha da nave de José Monteiro Filgueira. Do mesmo período são os painéis das paredes laterais da nave e batistério (1813/14), de autoria de Antônio Joaquim Franco Velasco, a quem é atribuída também a pintura do teto. Na sacristia, lavabo de mármore português. Dentre a imaginária, destacam-se: imagem de Sant´Ana, de 1752, existente no altar do consistório e crucifixo em marfim.
Uma das mais curiosas igrejas de Salvador. Sua planta procura conciliar a planta típica das matrizes e igrejas de irmandade do começo do séc. XVIIInave única e corredores laterais superpostos por tribunas - com a planta jesuítica romana (Gesu), de cúpula no cruzamento do transepto, mas eliminando as capelas laterais. Desta tentativa resultou um transepto extremamente curto, e separado da nave pelo arco cruzeiro. A fachada, que é de meados do século XVIII pela sua composição e forma das janelas, denota influência de Lisboa e tendência em direção ao espírito arquitetural que anunciaria o neo-clássico. Esta tendência, que também se nota nas igrejas que receberam componentes de Lisboa, como Conceição da Praia e N. S. do Pilar, não teria continuidade naquele século na Bahia, só reaparecendo no começo do séc. XIX nos interiores. Deste modo, o frontão da igreja, de desenho mais caracterizadamente rococó, deve ser posterior ao resto da fachada, segundo Bazin. O coroamento da torre, que se assemelha às coberturas à Mansard, como nas igrejas do convento do Carmo e Pilar é também influência da Lisboa Pombalina. O interior é neo-clássico.
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Histórico arquitetônico:
1744 - A confraria do SS. Sacramento da Paróquia de N. S. do Desterro decide construir uma nova igreja que seria erigida como matriz. Como o Arcebispo, D. José Botelho de Mattos, indeferiu a construção, recorreu-se a D. João V, que despachou favoravelmente;
1746 - A Mesa delibera sobre a construção, para a qual foram compradas três casas na rua Tinguí;
1747 - Construção em andamento sob a direção do Irmão Felipe de Oliveira Mendes;
1752 - Translação do SS. Sacramento para a nova matriz;
1753 - Carta real de 21/XI concede recursos para a conclusão da capelamor;
1754 - Contratado o engenheiro Felipe de Oliveira Mendes para a execução do frontispício. Continuam as obras no interior da igreja;
1760 - Vistoria da fachada pelos mestres Eugênio Motta e Henrique da Silva, que a consideram perfeita;
1816/28 - Substituição da talha barroca por neo-clássica; 1827/28 - José da Costa de Andrade contratou trabalhos de pintura e douramento da igreja e mais oito telas para a sacristia;
1846 - Concluída a porta principal e grades de ferro corridas das tribunas;
1855 - Abre-se a ladeira em frente à igreja.”
(Fonte: Cd-room IPAC-BA: Inventário de proteção do acervo cultural da Bahia, Bahia, Secretaria de Cultura e Turismo - (URL: http://www culturatododia salvador ba gov br/vivendo-polo php? cod area=1&cod polo=70)
Em 1745, Felipe de Oliveira Mendes e mais dois profissionais da construção, trabalhando a serviço da Fazenda Real de Salvador fizeram a inspeção das obras na Igreja Matriz do Rosário de Cachoeira-BA. (Arquivo Histórico Ultramarino Brasil-Baía. Projeto Resgate. Caixa 85, documento 6966, folha 3).
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No livro A Encomenda. O Artista. A Obra., organizado por Nathália Ferreira-Alves (CEPESE, Porto-Portugal, 2009), há um artigo sobre a Igreja do Santíssimo Sacramento de Sant'Ana, intitulado "Encomendas artísticas para a Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento e Sant’Ana de Salvador durante o século XVIII", de autoria de Eugênio de Ávila Lins.
O referido artigo traz trechos importantes sobre as circunstâncias em que foram negociadas as obras da construção da Igreja Matriz de Sant'Ana, sobretudo a partir de arquivos recuperados da IRMANDADE DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO E SANTANA, período 1744-1760, encontrados no Centro de Estudos da Arquitetura na Bahia, Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia - UFBA, em Salvador, Bahia.
Em nota de rodapé para ilustrar um trecho sobre a "autoria do projeto arquitetônico da Matriz", Lins traz a hipótese da Igreja ter sido projetada pelo próprio Felipe de Oliveira Mendes, possibilidade esta levantada a partir da afirmação feita em um estudo não publicado do Professor Américo Simas (Arquivo do CEAB/FAUFBA) (LINS in FERREIRAALVES, 2009, pág.164)
Um outro trecho recuperado pelo artigo de Lins, desta feita constante nos mencionados arquivos da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Sant'Ana, de 30 de Abril de 1747, mostra a decisão da instituição em utilizar "pedra de cantaria" lisa para a execução da obra da Igreja:
[...] foi proposto que para effeito de se continuar na obra da Nova Matriz era precizo algua pedra de cantaria, e como a Irmandade não a podia fazer por sua conta como a mais obra de alvenaria rogou ao nosso Irmão Felipe de Oliveira Mendes a quem está encarregada a administração da mais obra da dita Igreja Matriz que por sua grande devoção e charidade a faz e assiste a ver fazer, quizesse encarregarse de fazer, de fazer a cantaria que fosse preciza para principio da obra, e sem a qual não se podia continuar nella, e com effeito de seos preços conforme o feitio da cantaria, e sendo consultados os preços por alguns mestres desta Cidade enformarão que estava muito racional e acomodados os preços que o dito nosso Irmão declarou podia fazer, e com effeitose ajustou em meza e se obrigou a fazer toda a cantaria preciza para a dita obra a saber para cada vara de cantaria liza coatro mil e oitocentos: Para cada vara de cantaria de Muldura seis mil e setecentos reis. Para cada vara de cantaria de degrau cinco mil reis. Para cada vara de lageado sinco mil e duzentos reis, e as portas travessas que se fizerem serão pela avaliação para o que se ordenou que o nosso Irmão Thezoureiro desse duzentos mil reis ao dito nosso Irmão Filippe de Oliveira Mendes para principio da obra [...] (IRMANDADE, 1747: 11v. apud LINS in FERREIRA-ALVES, 2009, pág 164)
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Em outro trecho adiante em seu artigo, Lins comenta que a referida Irmandade, depois de oito anos do começo das obras da Igreja de Sant'Ana, decidiu celebrar mais um outro contrato, desta vez para a obra do frontispício da Matriz, numa reunião à qual compareceu Felipe de Oliveira Mendes, como descrito na passagem a seguir:
[..] e dar sentadas as três portas da Igreja e os cunhaes que necessário forem para acompa- nharem toda a altura das portas, que ficarão de todo perfeitos: e sendo ouvido pello Juiz, e mais officiaes e Irmãos que prezentes estavão: depois de ter corrido o escrutínio, e ser votado, de que não convinha pello presso que se ponderarão de que a dita obra se mandasse fazer a Lisboa como pello Irmão Paulo Franco da Silva foi requerido; cuja matéria sendo proposta, foy por votos rejeitadas. E votandosse para effeito de se acordar de se haver ou não de se se ajustar a dita obra com dito Mestre Felippe de Oliveira, correndo o escrutínio, por votos e favas brancas e pretas; se acharão todos os votos a favor de dito Mestre para effeito de se ajustar com elle a dita obra: e com effeito se ajustou na fr.a seguinte. Que aceitávamos, o risco que apresentava o qual vay por nos asinado ficando elle dito Mestre obrigado a apresentalho no fim da dita obra; e todas as vezes que por nos for pedido, para se averiguar a idoneidade e semelhança da obra, que for sentado; e que as almofadas que mostra o risco, serão tiradas, porque serão de Lizas, depois das varas: e que as portas, e janellas, que mostra o risco terão forros e vergas: e que as portas da Igreja, e as duas janellas, que não imitão no remate a porta principal, e a janella do meyo, sejão todas, de remates redondos, e meya volta, e que as janellas do coroserão em tudo semelhantes e igual das com a janella que mostra o risco no lugar do meyo; e que nos dous sepos de cada hua das portas pequenas, haja alguma perfeição mais, do que o que mostra o risco, que se acha so em lizo: que corresponda a demais obra o seguinte: toda a pedredaria, será de Itapagipe, dura, de grão grosso sem mistura de seixo; e que não aceitaremos, outra algua pedra, que não for da dita qualidade, e reprovamos toda a pedra de Camamú como também que não aceitaremos pedra algua ainda que seja da dita qualidade sendo molle; e que não aceitaremos pedra algua, que partida e quebrada mostre defeito depois de sentada: e que o frontispício será feito sem resalto, que mostra, porque os cunhaes, e varas, que já se achão sentados, serão tirados e lizas atiradas as almofadas, e servirão para os cantos das Torres [...] (IRMANDADE, 1754: 3v. apud LINS in FERREIRAALVES, 2009, pág.164)
Eugênio de Ávila Lins destaca o prestígio profissional de que gozava o Mestre Pedreiro Felipe de Oliveira Mendes na sociedade baiana da época:
"Algumas questões merecem destaque neste “Termo de Resolução”. Em primeiro lugar, a escolha de Felipe de Oliveira,25 para projetista e executor da obra do frontis- pício, ficando comprovado que o Mestre Pedreiro era um profissional extremamente qualificado. Muitas vezes, estes profissionais exerciam a função de engenheiros e arquitetos. Em segundo lugar, a opção de não mandar encomendar a obra em Lisboa, o que denota que na cidade do Salvador existiam profissionais qualificados. Outra questão interessante é a intervenção dos encomendadores no projeto apresentado, alterando o risco original. Isto demonstra que uma coisa era o projeto do autor e outra era o que se executava, seja por questões de gosto de quem encomendava, seja por questões técnicas na execução." (LINS in FERREIRA-ALVES, 2009, pág.171)
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Por fim, Eugênio Lins resgata mais uma importante demonstração de apreço pessoal e confiança profissional no pai conferida por Manoel de Oliveira Mendes, ao dar garantias sobre a execução da obra pelo seu pai Felipe de Oliveira Mendes, como registrado nos arquivos da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Sant'Ana:
"[...] que athe afiançava ao dito seo pay Felippe de Oliveira Mendes em todo o dinheiro que dito recebesse desta Irmandade; para cujo officio e segurança obrigava sua Pessoa e bens havidos e por haver como se por escritura publica se obrigasse: como tão ben, para a dita segurança obrigava o dito Mestre Filippe de Oliveira sua pessoa bens havidos e por haver; e que obrigavão, hum por ambos, e ambos por hum. E dicerão ambos, que se obrigavão por sua pessoa e bens, havidos, e por haver, hum por ambos e ambos por hum, a acabarem o dito frontispício, pello dito risco e pello dito presso de dez mil cruzados, na forma acima declarada; e caso que por algua razão, deixem de completar a dita obra athe a sua ultima perfeição: a poderá a Irmandade mandar acabar a custa dos bens delles ambos: e de como assim o disserão e se obrigarão, na forma dita aqui se assinaram ambos: e de como nos assim nos contratamos [...] " (IRMANDADE, 1754: 23v. apud LINS in FERREIRA-ALVES, 2009, pág.171)
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Filho único do mestre construtor Felipe de Oliveira Mendes e Maria Pereira, Manoel de Oliveira Mendes nasceu na Vila de Viana, em Braga, Portugal, no ano de 1715* e já na Bahia em 27 de Maio de 1741 sentou praça como soldado aos 26 anos [*assim informa um documento militar da época, mas segundo outro documento posterior, ele teria nascido em 1722] Nesse mesmo período em que serviu, ainda como soldado, Manoel conseguiu o feito de estudar no Colégio dos Padres da Companhia e obter o diploma de BacharelemArtes
ManoeldeOliveiraMendes casou-se com Maria do Rosário do Monte do Carmo e exerceu carreira como militar por 32 anos, de 1741 a 1773, quando foi promovido ao posto de Capitão do Regimento de Infantaria e Artilharia, no mesmo ano em que faleceu Durante a sua vida, Manoel dividiu o seu tempo entre o serviço militar, a sociedade com o seu pai construtor e a atividade agropecuária
Logo após ser nomeado Alferes, em 1761 Manoel de Oliveira Mendes fez a Aula Militar, espécie de curso de especialização para habilitar-se como Oficial Engenheiro, com o mestre Manoel Cardoso de Saldanha O mesmo Saldanha, em carta de 1761 dirigida ao Secretário de Estado da Marinha e do Ultramar Francisco Xavier de Mendonça Furtado, faz elogios a Manoel de Oliveira Mendes e o indica para o cargo - que mais tarde seria ocupado por Manoel - de Medidor de Obras do Senado da Câmara
As páginas seguintes trazem uma sequência de documentos militares transcritos sobre Manoel de Oliveira Mendes,entre1741e1761,queajudamaterumaideiadoseuperfilintelectualeprofissional.
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