Doutrina Social da Igreja e a Economia de Francisco
N
o próximo mês de Março, de 26 a 28, ocorrerá o evento “The Economy of Francesco” – “A Economia de Francisco” em português. Esse será um evento, convocado pelo Papa Francisco, que promoverá um encontro mundial entre jovens estudantes, empreendedores, ativistas e entusiastas dos campos da Economia. O local escolhido para o evento foi a cidade de Assis, na Itália, e, segundo os organizadores, não poderia ser outro. O nome do evento e o local de realização remetem diretamente a São Francisco de Assis, santo com méritos reconhecidos no cuidado aos menores e mais pobres e cuidado com a criação por meio dos animais e meio ambiente. Os interesses e preocupações externados há quase um milênio pelo grande santo de Assis são também partilhados pelo nosso Papa Francisco nos dias de hoje. Ao escrever a exortação Evangelii Gaudium e a encíclica Laudato Si, o Santo Padre denunciou “o estado patológico de grande parte da economia mundial” e faz um convite a busca por um novo modelo econômico de relação entre as pessoas e a criação, à luz da Doutrina Social da Igreja. The Economy of Francesco – O Papa em Assis: “Será um festival de economia dos jovens com o Papa, jovens empresários, doutorandos ou pesquisadores, um meio-caminho entre Greta Thunberg e os poderosos da terra”. Assim Luigino Bruni, professor de Economia Política 10
na Universidade Lumsa e consultor do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, define o evento que foi apresentado em maio de 2019, na Sala Imprensa da Santa Sé. A iniciativa foi lançada com a publicação da carta de apelo do Papa Francisco, dirigida “a jovens economistas, empreendedores e empresários de todo o mundo”. A ideia do evento surgiu de um encontro que ocorreu em 25 de abril do ano passado, entre o Papa, o bispo de Assis Dom Domenico Sorrentino e o professor Bruni. Dom Sorrentino revela: “a ideia de enfrentar os desafios da economia motivando a juventude, encontrou no Santo Padre uma adesão entusiasta. Os jovens podem fazer a diferença. Eles são o futuro em todos os sentidos, também no futuro da economia.” O Santo Padre quer encontrar no evento “quem hoje está se formando ou está começando a estudar e praticar uma economia diferente, aquela que faz viver e não matar, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a depreda”. Esse desejo de Francisco é mais um passo seguindo seus antecessores, em uma busca sincera e prática forma de transformar o mundo com a força do Evangelho. A Doutrina Social da Igreja: A expressão Doutrina Social da Igreja (DSI) designa o conjunto de sugestões e orientações da Igreja Católica para os temas sociais. Economia, relação entre os indivíduos, gestão, relação de governantes com
O Mensageiro Fevereiro 2020
seu povo, cuidado com a criação e extração de materiais do meio ambiente... Todos esses são temas de preocupação da Igreja, como guardiã das chaves do céu, e são trabalhadas pela DSI. A Doutrina Social da Igreja é um conjunto de documentos pontifícios que respondem a problemas do mundo atual, propõe práticas adequadas para convivência, governo, trabalho, exploração de recursos e outros temas de caráter social. O primeiro documento colocado no corpus doutrinal da DSI (e tido como a “carta magna” dessa doutrina) é a encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, que sob um contexto de 2ª Revolução Industrial, trata das relações patrão-empregado nesse novo contexto em que o mundo se encontrava: exploração no trabalho e correntes marxistas e anárquicas em acelerado crescimento. A partir da Rerum Novarum, muitas outras encíclicas, de vários Papas dos Séculos XX e XXI, ajudaram a desenvolver a DSI. Essas culminaram no Compêndio da Doutrina Social da Igreja (CDSI), divulgado em 2004 pelo Pontifício Conselho de Justiça e Paz, durante o pontificado de São João Paulo II. Nesse, o Santo Padre define que a DSI “cumpre uma função de anúncio mas também de denúncia. Em primeiro lugar, o anúncio do que a Igreja tem de próprio: ‘uma visão global do homem e da humanidade’. E isso não só no nível dos princípios, mas também prático. (...) E comporta também um dever de