Boletim informativo o alforge julho 2016

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Por um futuro mais próximo de Deus e do homem!

Há longos anos que os papas procuram mostrar que o cuidado com a Terra não é reserva de cientistas, mas tem implicações morais. Francisco explica que «há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático», devido, na sua maioria, à grande concentração de gases com efeito de estufa. O progresso tecnológico não deve visar a substituição do trabalho humano, mas completá-lo.

A humanidade deverá procurar criar uma ecologia económica baseada numa ecologia humana global.

A espiritualidade cristã propõe uma forma alternativa de entender a qualidade de vida das populações.

Há exemplos de que o ser humano ainda é capaz de intervir de forma positiva e reverter a situação atual.


Editorial 02 | O Alforge | julho 2016

Educação na Família, para Cuidar da casa comum Está a fazer um ano, que o Papa Francisco se referiu, de forma concreta ao desafio urgente de proteger a nossa casa comum, quando escreveu a encíclica Laudato sí. Esta encíclica do Papa foi e é um sinal claro e compreensível, na forma como expõe esta nova configuração de vida à sociedade e à Igreja. Podemos dizer que este documento vai muito além de apelos circunstanciais. O Papa relaciona ecologia com política, faz depender a proteção do ambiente do combate à pobreza, do reconhecimento dos limites, da partilha dos recursos naturais existentes e da concretização do que chamou de “ecologia humana”. A obsessão desmesurada por um estilo de vida consumista, sobretudo quando poucos têm possibilidades de o manter, só poderá provocar problemas e ruína à sociedade em que vivemos. E como diz o papa a situação atual do mundo «gera um sentido de precariedade e insegurança, que, por sua vez, favorece formas de egoísmo coletivo». Neste tipo de discurso, verificamos que antes de

tudo é a humanidade que precisa de mudar. Falta a consciência duma origem comum, duma recíproca pertença e dum futuro partilhado por todos. Surge, assim, um grande desafio cultural, espiritual e educativo. As raízes da crise cultural agem em profundidade e não é fácil reformular hábitos e comportamentos. Por isso, a educação e a formação são os desafios centrais: «toda mudança tem necessidade de motivações e dum caminho educativo» (15); estão envolvidos todos os ambientes educacionais, primeiro « a escola, a família, os meios de comunicação, a catequese» (213). A consciência da gravidade desta crise cultural e ecológica precisa de traduzir-se em novos hábitos. Muitos estão cientes de que não basta o progresso atual e a mera acumulação de objetos para dar sentido e alegria ao coração humano. As famílias têm uma nova sensibilidade ecológica e um espírito generoso, mas cresceram num contexto de consumo e bem-estar que torna difícil a maturação doutros hábitos. Por isso, estamos perante

um desafio educativo da e na família. Perante tamanho desafio, a família é o espaço mais propício para se ler e meditar a Laudato Si. Por isso, o convite do Papa Francisco a um debate urgente, aberto e dialogante, soa a confidência da sua preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral (1314). Aí ecoam melhor o louvor e súplica dos que acreditam em Deus Criador e Omnipotente, e a oração dos cristãos que imploram a graça de assumir os compromissos para com a criação que o Evangelho de Jesus nos propõe (246). Não se pode subestimar a importância de percursos de educação ambiental capazes de incidir sobre gestos e hábitos quotidianos, da redução do consumo de água, à diferenciação do lixo até «apagar as luzes desnecessárias» (211): «Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo» (230). Tudo isto será mais fácil a partir de um olhar contemplativo que

vem da fé: «O crente contempla o mundo, não como alguém que está fora dele, mas dentro, reconhecendo os laços com que o Pai nos uniu, a todos os seres. Além disso a conversão ecológica, fazendo crescer as peculiares capacidades que Deus deu a cada crente, leva -o a desenvolver a sua criatividade e entusiasmo» (220). A educação ambiental na família, tem de incluir uma análise critica às novas formas de modernidade, baseados na razão instrumental (individualismo, progresso ilimitado, concorrência, consumismo, mercado sem regras), mas também recuperar os claros níveis de equilíbrio ecológico, nomeadamente o encontro consigo mesmo, o solidário com os outros, o natural com todos os seres vivos, o espiritual com Deus. Não basta falar apenas da integridade dos ecossistemas, mas é preciso ter a coragem de falar da integridade da vida humana, da necessidade de incentivar e conjugar todos os grandes valores. Paulo Caetano

Ficha Técnica Propriedade e Administração: Arciprestado de Seia / Zona Oeste Equipa Responsável: António Carlos (Pe.), João Barroso (Pe.), Nuno Maria (Pe.), Paulo Caetano (Dr.), Rafael Neves (Pe.) Colaboradores nesta Edição: Ana Fonseca (Dra.), António Carlos (Pe.), Aura Miguel (Dra.), Carlos Azevedo Mendes (Pe. Sj), Filipe d’Avillez (Dr.), Francisco Ferreira (Eng.), Jaime Tatay (Pe. sj), José Manuel Duarte, José Tolentino Mendonça (Pe.), L. Borges (Eng.), D. Manuel Felício (Bispo), Paulo Caetano (Dr.). Morada para Correspondência: Rua de Baixo, n. 2, 6270-213 Santiago Contatos: contacto@oalforge.pt | www.oalforge.pt | 238 085 048


Especial Laudato Si 03 | O Alforge | julho 2016

Papa Francisco publica Encíclica sobre a Ecologia

Há muito anunciada e ansiosamente esperada pela opinião pública em geral, esta encíclica convida ao exercício da responsabilidade humana quanto ao uso dos bens criados. Começa com a expressão de S. Francisco sobre o louvor das criaturas – Laudato si. Depois de, na introdução, lembrar os diversos pronunciamentos sobre o mesmo assunto vindos do magistério da Igreja nas últimas décadas, desde João XXIII a Bento XVI, passando por Paulo VI e João Paulo II, organiza-se em 6 capítulos, distribuídos por 190 páginas. Nela, o Papa pretende fazer connosco um percurso de atenção aos bens criados que, de facto, existem para o maior bem da existência humana. É um percurso que começa pela chamada de atenção para as agressões que, de facto, continuam a fazer-se “à nossa casa comum” ou irmã terra. Toca na questão da água, da perda da biodiversidade e sobretudo a deterioração da vida humana e a degradação social. Toca na ferida da crescente desigualdade planetária assim como na debilidade das reações dos responsáveis políticos, culturais e sociais a

situações como estas, “que provocam os gemidos da irmã terra”. Apela ao evangelho da criação (cap. II) e diz que o universo deve ser entendido não como pura natureza, mas sobretudo como “projeto de Deus”. A comunhão universal e o destino comum dos bens são dois valores essenciais para a vida humana que têm de definir as relações ecológicas. A raiz da crise ecológica essa está, antes de mais, nas pessoas humanas e no estilo das suas relações (cap. III). Perante o facto da invasão das novas tecnologias fortemente globalizadas que dominam cada vez mais a economia e a política (nº 109), impõe-se a necessidade de defender o valor fundamental do trabalho humano. Como a encíclica afirma, “não se deve substituir sempre o trabalho humano pelo progresso tecnológico. Quando assim se faz nega-se a própria humanidade” (nº 128). Coloca frontalmente a questão dos organismos geneticamente modificados, no mundo animal e vegetal (nº 136) para se centrar na ecologia que integra as

dimensões humana e social (cap. IV). E aqui alarga o horizonte das questões ecológicas, falando da ecologia ambiental, mas também económica, social e cultural. O que está em causa numa ecologia corretamente entendida é, por um lado, levar a sério o princípio do destino universal dos bens, ou seja que os bens são criados para todos, incluindo as gerações que ainda não viram a luz do dia. E sobre esta matéria, a encíclica, no nº 159, cita a Conferência Episcopal Portuguesa, na sua carta responsabilidade solidária pelo bem comum (ano de 2003), quando afirma: “O ambiente situa-se na lógica do receber. É um bem que todas as gerações recebem e devem transmitir às gerações futuras”. Considera esta uma afirmação que fundamenta a ecologia integral. Como grandes linhas de orientação e ação (cap. V), defende o diálogo sobre o ambiente na política internacional e suas consequências nas políticas nacionais e locais. Defende o

diálogo entre política e economia, para se conseguir a plena realização humana. Não esquece a componente espiritual da atitude ecológica (cap. VI). E aqui aponta para a necessidade de todos evoluirmos para novos estilos de vida que preconizem contenção no consumo. Defende a necessidade da aliança entre humanidade e ambiente, falando mesmo numa necessária conversão ecológica. E termina colocando o cuidado da natureza sob a proteção de Maria. Ela que cuidou de Jesus, agora precisamos que cuide “deste mundo ferido” (nº 243). A última palavra da encíclica é uma oração pela nossa irmã terra, essa casa comum sem a qual não podemos viver. Esta encíclica é um forte convite ao exercício da nossa responsabilidade sobre os bens criados, a começar pelo bem fundamental que a própria natureza humana é em si mesma.


Especial Laudato Si 04 | O Alforge | julho 2016

Papa pede que ouça o grito da Terra e dos mais pobres Na primeira encíclica da Igreja Católica inteiramente dedicada a questões ecológicas, o Papa diz que há um "consenso científico muito consistente" sobre alterações climáticas. "Estamos perante um preocupante aquecimento" da Terra. A "verdadeira abordagem ecológica é sempre uma abordagem social que deve integrar a justiça nas discussões sobre o ambiente, para se ouvir quer o grito da Terra, quer o grito dos pobres". Na primeira encíclica de um Papa dedicada ao ambiente, Francisco diz que o mundo não pode ignorar as alterações climáticas sobre as quais há um "consenso científico muito consistente". Para Francisco, a preocupação ecológica não pode ser separada da preocupação pelos mais pobres, marginalizados e fracos. O Papa lamenta ainda que nos debates políticos e económicos o tema social seja quase sempre acessório, porque os media, os comentadores e centros de poder vivem afastados da pobreza e denuncia certas análises parciais e discursos "verdes"

que passam ao lado da realidade dos pobres. Ainda a encíclica não tinha sido lançada e já algumas vozes estavam a manifestar o seu descontentamento pelo facto de um líder religioso se estar a meter num campo que consideram ser reserva de cientistas. Entre os mais críticos incluem-se cientistas e também alguns políticos conservadores, sobretudo nos EUA, céticos quanto às teorias das alterações climáticas. O Papa fala de facto das alterações climáticas, sobre as quais diz existir um "consenso científico muito consistente" que indica que "estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático". "Nas últimas décadas, este aquecimento foi acompanhado por uma elevação constante do nível do mar, sendo difícil não o relacionar ainda com o aumento de acontecimentos meteorológicos extremos, embora não se possa atribuir uma causa cientificamente determinada a cada fenómeno particular." Para Francisco, a "cultura do descarte" aplicada ao ambiente tem

consequências negativas para a humanidade. “É previsível que, perante o esgotamento de alguns recursos, se vá criando um cenário favorável para novas guerras, disfarçadas sob nobres reivindicações", diz Francisco, lamentando ainda que as guerras que já existem causem "sempre danos graves ao meio ambiente e à riqueza cultural dos povos, e os riscos avolumam-se quando se pensa nas armas nucleares e nas armas biológicas". A encíclica "Laudato Si" ("Louvado sejas" em italiano antigo, uma referência a um cântico de São Francisco de Assis de louvor a Deus pela criação) é a primeira escrita integralmente pelo Papa Francisco, uma vez que a encíclica "Lumen Fidei", lançada pouco depois da sua eleição, foi iniciada por Bento XVI. Esta é também a primeira encíclica da Igreja Católica dedicada unicamente a questões ecológicas, pese embora os cuidados com o ambiente tenham sido preocupação presente também no pontificado de outros Papas, como Bento XVI e João Paulo II. O Papa não teme entrar em polémicas. Francisco ataca as políticas de controlo de população e os que, "em vez de resolverem os problemas dos pobres, se limitam a propor a redução da natalidade". Francisco tem palavras duras também para as pressões internacionais que impõem estas medidas "aos países em vias de desenvolvimento e condicionam as ajudas Continua…

Aura Miguel é jornalista da Rádio Renascença. licenciada em Direito, pela Universidade Católica, tem uma pósgraduação em Ciências da Informação, pela mesma universidade. Jornalista desde 1982, colaborou nos jornais A Tarde e Semanário. Atualmente, e desde 1985, é editora de assuntos religiosos na Rádio Renascença. É a única portuguesa acreditada na Sala de Imprensa da Santa Sé que acompanha regularmente o Papa nas suas viagens apostólicas. Aura Miguel tem já publicada na PRINCIPIA a obra O Segredo que Conduz o Papa - A Experiência de Fátima no Pontificado de João Paulo II (2002), agora reeditada na marca Lucerna. Com mais de 36.000 exemplares vendidos em Portugal, O Segredo que Conduz o Papa conta já com traduções em francês, alemão, italiano, espanhol, polaco e russo. Em Setembro de 2003 publicou também na Lucerna o bestseller Porque Viajas Tanto que relata diversos episódios do seu convívio com o Papa João Paulo II durante o seu Pontificado. Em 2002, ainda durante o pontificado de João Paulo II, foi escolhida entre os jornalistas convidados pelo Santo Padre para escrever uma das catorze estações da Via Sacra de Sexta-Feira Santa, presidida pelo Papa no Coliseu de Roma.


Especial Laudato Si 05 | O Alforge | julho 2016 Continuação... económicas a determinadas políticas de 'saúde reprodutiva'", um chavão que significa o acesso ao aborto e à contraceção. Francisco denuncia que "pôr as culpas no aumento demográfico, e não no consumismo desmesurado só de alguns, é não querer enfrentar os problemas" e legitimar um modelo

distributivo que só favorece uma minoria. Mas as críticas não ficam por aí. Para o Papa, não faz qualquer sentido que "os que lutam contra o tráfico de animais em risco de extinção" sejam "indiferentes ao tráfico de seres humanos", nem é compatível "a defesa da natureza com a justificação do aborto".

Quando Francisco pede uma "real conversão ecológica", está por isso a dirigir-se tanto aos que encaram as ameaças de alterações climáticas com ceticismo ou indiferença como aos que, no entender do Papa, colocam a defesa da natureza acima do valor da vida humana. O Papa não termina a sua

encíclica sem fazer algumas recomendações aos católicos: desde questões práticas a espirituais, passando pela necessidade de maior compromisso dos cidadãos com o processo político. Aura Miguel

Os Dez Mandamentos da Laudato Si... Num exercício livre de leitura da Exortação Apostólica do Papa Francisco apresentamos as 10 ideias que consideramos mais marcantes deste documento. O nome da Encíclica foi inspirado na invocação de São Francisco «Louvado sejas, meu Senhor», que no Cântico das criaturas recorda que a terra, a nossa casa comum, se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços. Esta “terra/mãe-irmã” merece todo o nosso zelo e cuidado. Esta é a nossa casa comum da qual não somos donos mas que Deus nos confia para que a saibamos administrar. Com os nossos estimados leitores partilhamos os “10 mandamentos” da Laudato Si. Serão a chave base de leitura que nos permitirá entender mais profundamente este documento do bom Papa Francisco.

Respeitar os recursos naturais como bem comum. Esta é a nossa casa comum. Fomentar o uso de energias alternativas em detrimento dos combustíveis fósseis. A economia não pode ficar prisioneira de um recurso limitado e controlado por interesses políticos. A água é um direito humano essencial e um bem universal ao qual todos devem ter acesso. Não podem ser as fronteiras a impedir a dignidade das pessoas. O progresso tecnológico não deve visar a substituição do trabalho humano. O progresso tecnológico deve estar ao serviço do ser humano e da sua plena realização e não o contrário. A experimentação biológica em pessoas e animais deve ser regulamentada de forma muito cuidadosa.

A humanidade deverá procurar criar uma ecologia económica baseada numa ecologia humana global. Uma e outra são complementares.

Com urgência precisamos mudar o nosso estilo de vida, de produção e consumo exagerado, para salvar as condições de vida neste planeta.

Demasiadas vezes a especulação dos mercados impede a proteção do meio ambiente. É preciso erradicar a pobreza.

É preciso privilegiar o bem comum global, em vez dos interesses individuais de cada país.

A ciência e as religiões não se anulam, complementam-se.

Pe. António Carlos Martins


Especial Laudato Si 06 | O Alforge | julho 2016

Uma Ca(u)sa Comum

Francisco Ferreira é natural de Setúbal. Atualmente é professor no Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e membro do Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade (CENSE). Foi Presidente da Quercus, uma organização nãogovernamental de ambiente, entre 1996 a 2001 e foi membro da direção até 2011. Tem participado em múltiplas reuniões das Nações Unidas sobre alterações climáticas e desenvolvimento sustentável. Até ao final de 2015 e após quase dez anos, foi autor e apresentador no canal de televisão pública RTP da rubrica diária “Minuto Verde”. Atualmente é o Presidente da “ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável”

O ano de 2015 foi fértil (e espera-se que decisivo) nos apelos e na concertação pelo cuidar desta casa comum que é o nosso planeta. A Terra tem vindo a ser explorada muito para além da sua capacidade de regeneração, isto é, os recursos que usamos, aliás de forma muito desigual, superam em mais de metade aqueles que são continuamente renovados. No fundo, é como se não conseguíssemos viver com base no nosso salário e na conta à ordem e tivéssemos de nos socorrer de poupanças (como os combustíveis fósseis, as árvores centenárias, ou os peixes de profundidade), para alimentar o consumismo diário. Em maio, o Papa Francisco através da encíclica Laudato Si, iniciava um desafio que iria percorrer todo o ano. De modo assertivo, acessível e muito bem fundamentado, o Papa promovia um “diálogo com todos (e não apenas os católicos), sobre a nossa casa comum”, lançando “um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta”. Em setembro, durante uma cimeira de três dias nas Nações Unidas em Nova Iorque, quase 200 países subscreviam uma nova agenda para o desenvolvimento para 2030, com 17 objetivos para o desenvolvimento sustentável e 169 metas, destinados não apenas aos países em desenvolvimento como haviam sido os objetivos do milénio (entre 2000 e 2015), mas incluindo também uma ação

pertinente por parte dos países desenvolvidos. Desde erradicar a pobreza, a fome, promover uma saúde e educação de qualidade, a igualdade de género, até à necessidade de protegermos a vida terrestre, marinha, alinharmos num produção e consumo sustentáveis, apostando em energias renováveis e acessíveis, salvaguardando o clima, num enquadramento de paz, justiça e de instituições eficazes assente em inúmeras parcerias que deverão ser construídas. Um desafio avassalador que se enquadrava perfeitamente no apelo lançado pelo Papa Francisco. Em dezembro de 2015 ocorreu o primeiro teste à concertação conseguida em setembro – após 15 dias de intensas negociações, o Acordo de Paris sobre alterações climáticas viria a ser aprovado com metas ambiciosas – assegurar que o aquecimento da atmosfera ficará muito abaixo de 2 graus Celsius em relação à era pré-industrial., tendo aliás como objetivo 1,5 graus de aumento e conseguir um balanço neutro das emissões pelas atividades humanas dos gases responsáveis pelo aquecimento global, os chamados gases de efeito de estufa, e os sumidouros que retiram o carbono da atmosfera como as florestas. Sabe-se que há uma grande diferença entre a teoria e a prática, e que todos estes objetivos e metas ficam sempre aquém de uma ação urgente e consequente. Haver este conjugar de vontades, é um passo, mas claramente não o suficiente. O Papa Francisco, numa

encíclica que faz um diagnóstico, identifica angústias, reflete sobre a relação da fé com a ecologia e faz propostas, quer à escala da sociedade e das nações, quer diretamente à ação individual. O Papa alerta para a necessidade de uma verdadeira “revolução cultural”, para uma “ecologia integral” que traduza uma saudável relação entre a natureza e a sociedade que a habita, mencionando que “também o estado de saúde das instituições duma sociedade tem consequências no ambiente e na qualidade de vida humana”. Assim, é à escala das autarquias, dos governos, na União Europeia, nas Nações Unidas que temos de nos entender para que problemas globais tenham soluções empenhadas e universais. Porém, tal só se conseguirá construindo sociedades sustentáveis onde os estilos de vida e os objetivos em causa não sejam um consumismo exacerbado que alimenta uma ilusão de felicidade. A encíclica Laudato Si, é uma oportunidade e um desafio que a igreja e cada um de nós não pode nem deve esquecer facilmente, porque a vida de todos nós exige discutir caminhos mais sóbrios, pequenos gestos que façam a diferença, e “uma consciência de comunhão com todas as criaturas”. É neste caminhar que devemos aprender e divulgar as boas práticas para garantir uma melhor qualidade de vida às gerações vindouras.


Especial Laudato Si 07 | O Alforge | julho 2016

A Encíclica Verde do Papa Francisco Não falta quem pense que uma encíclica é um género literário pontifício que serve para apaziguar as almas e basta. É a um verso do Poverello de Assis que o Papa Francisco vai buscar inspiração para o arranque da sua encíclica verde, "Louvado Sejas", agora editada. E vai buscar uma inspiração claramente transformadora. De facto, estamos longe aqui da mera retórica ornamental (para não dizer infame) que resume na maior parte das vezes o recurso à citação poética no discurso público corrente, coisa que a relação de Bergoglio com o nome que escolheu, justiça seja feita, nunca foi. O Papa viu sempre nesse nome um símbolo político operativo e um programa para a construção de uma alternativa a vários níveis. Agora pretende que seja assim também no olhar que dedicamos ao criado e às outras criaturas. Por isso escreve: "Acho que Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. (..) Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior". O pauperismo franciscano do Santo de Assis liga duas coisas que só em teoria parecem distintas: por um lado, firma a ousadia de buscar uma poética alternativa para o cristianismo, ou se quisermos, de traduzir a

experiência espiritual numa forma nova, claramente disruptiva com o seu contexto institucional: e, por outro, assenta numa proposta práxica que revoluciona por dentro a própria realidade, partindo de instrumentos manifestamente menosprezados do ponto de vista político como é, por exemplo, a pobreza voluntária. E realiza ambas as coisas como um gesto único, gesto que se propõe reconfigurar nada menos do que as relações entre as criaturas e entre estas e a terra, sendo isso (que é tão terreno, tão histórico, tão inscrito no visível) apresentando como o polifónico cântico crente, a verdadeira laudatio que nos avizinha de Deus. O Papa recorre a um testamento de Boaventura, filósofo e discípulo de Francisco, que contava que o fundador do movimento franciscano, "enchendo-se da maior ternura, ao considerar a origem comum de todas as coisas, dava a todas as criaturas – por mais desprezíveis que parecessem – o doce nome de irmãos e irmãs". Como comenta Bergoglio, esta convicção não pode ser desvalorizada como se nos colocasse perante um romantismo irracional, mas influi efetivamente nas opções que determinam as nossas escolhas e comportamentos. Precisamos aprender uma linguagem desconhecida, "a língua da fraternidade", para superarmos o paradigma atual baseado no domínio cego do homem sobre o criado, que faz de nós

consumidores vorazes e exploradores irresponsáveis dos recursos naturais, hipotecando o presente e o futuro. Francisco de Assis é um inspirador alternativo que nos recorda duas vias demonizadas pelos valores do capitalismo que nos rege a Ocidente: a sobriedade e a solicitude. Elas são signos não simplesmente de um ascetismo religioso marginal, como se quer fazer crer, mas, escreve a encíclica, são "algo de bem mais radical": representam "a renuncia a fazer da realidade um mero objeto de uso e domínio". A tentação, na receção deste texto tão provocador e contracorrente do Papa atual, é pensar que ele estabelece uma descontinuidade quanto à forma, mas, no fundo, uma continuidade quanto ao conteúdo, sublinhando apenas intenções ecológicas genéricas que trazemos já no ouvido. Não falta quem pense que uma encíclica é um género literário pontificio que serve para apaziguar as almas e basta. Contra essa moleza há que falar deste grande texto religioso e político como um manual do desassossego. Precisamos aprender uma língua desconhecida, "A Língua da Fraternidade", para superarmos o paradigma atual baseado no domínio cego do homem sobre o criado.

José Tolentino Calaça de Mendonça nasceu a 15 de dezembro de 1965, na Ilha da Madeira. Licenciatura em Teologia na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, 1989; Licenciatura Canónica em Ciências Bíblicas no Pontifício Instituto Bíblico, em 1992, com a classificação de Summa cum Laude; Doutoramento em Teologia na Universidade Católica Portuguesa, em 2004, com a classificação de Summa cum Laude. Desde 2012, que é Vice -Reitor da Universidade Católica Portuguesa. É Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura; Consultor do Pontifício Conselho para a Cultura (Santa Sé). Das inúmeras obras, algumas estão traduzidas e/ou editadas na Alemanha, Bélgica, Brasil, Canadá, Colômbia, Espanha, Estados Unidos da América, França, Itália e República Checa. Tem como Linhas de Investigação: A mesa como lugar de construção do cristianismo das origens; Perspetivas sobre o corpo no cristianismo primitivo; Alteridade e identidade - A representação do outro e de si no cristianismo das origens; Literatura e Religião: as novas cartografias de Deus; Teopoéticas contemporâneas no espaço da lusofonia; A Bíblia na cultura portuguesa.


Especial Laudato Si 08 | O Alforge | Julho 2016

Francisco dá força de encíclica à preocupação da Igreja com o ambiente

Filipe d’Avillez, nasceu em 1980, casado e pai de quatro filhos. Formou-se em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e tem um mestrado em História e Teologia das Religiões, pela Universidade Católica. Trabalhou durante alguns anos na revista Os Meus Livros, antes de integrar a equipa da Renascença, onde trabalha sobretudo para a equipa do online, com destaque para a informação religiosa. Em 2015 publicou o livro “Que Fazes aí Fechada”, com entrevistas a consagradas de diferentes ordens religiosas. Tem ainda publicado um livro juvenil chamado “As Aventuras de Cosminho”.

O documento do Papa Francisco sobre o ambiente e as alterações climáticas, com o título "Laudato Si", constitui a primeira vez que um pontífice dedica uma encíclica inteira a este assunto. A preocupação de um Papa pelo ambiente não é novidade. Mas Francisco dá um passo importante, com a força reforçada de uma encíclica, numa longa tradição, que tem entre os seus protagonistas outros dois papas, João Paulo II e Bento XVI. Bento XVI, que mandou colocar painéis fotovoltaicos no Vaticano e comprometeu a Santa Sé ao objetivo de se tornar o primeiro estado europeu neutro no que diz respeito a emissões de carbono, chegou a ser apelidado de "Papa Verde". O Papa alemão revelou em várias ocasiões a sua preocupação com o ambiente, deixando claro que esta é uma causa inseparável de outros grandes temas de ordem moral. Bento XVI chegou mesmo a utilizar a expressão "ecologia humana", ligando o cuidado pelo meio ambiente ao cuidado pela natureza humana e fazendo a ligação à necessidade de se respeitar, tanto numa questão como na outra, pelo respeito pelo direito natural. Na encíclica "Caritas in Veritate", Bento XVI escrevia: "Hoje, as questões relacionadas com o cuidado e a preservação do ambiente devem ter na devida consideração as problemáticas energéticas. De facto, o açambarcamento dos recursos energéticos não renováveis por parte de

alguns Estados, grupos de poder e empresas constitui um grave impedimento para o desenvolvimento dos países pobres. Estes não têm os meios económicos para chegar às fontes energéticas não renováveis que existem, nem para financiar a pesquisa de fontes novas e alternativas." O texto continua, dizendo que "a monopolização dos recursos naturais, que em muitos casos se encontram precisamente nos países pobres, gera exploração e frequentes conflitos entre as nações e dentro das mesmas. E muitas vezes estes conflitos são travados precisamente no território de tais países, com um pesado balanço em termos de mortes, destruições e maior degradação". Bento XVI concluía: "A comunidade internacional tem o imperioso dever de encontrar as vias institucionais para regular a exploração dos recursos não renováveis, com a participação também dos países pobres, de modo a planificar em conjunto o futuro." João Paulo II preocupado com efeito de estufa Já antes, João Paulo II tinha reservado palavras fortes para estas questões. Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990, o Papa polaco dizia que "o gradual esgotamento da camada do ozono e o consequente 'efeito de estufa' que ele provoca já atingiram dimensões críticas, por causa da crescente difusão das indústrias, das grandes

concentrações urbanas e dos consumos de energia. Resíduos industriais, gases produzidos por combustíveis fósseis, desflorestação imoderada, uso de alguns tipos de herbicidas, refrigerantes e propelentes, tudo isto, como se sabe, é nocivo para a atmosfera e para o ambiente." "Daí resultam múltiplas mudanças meteorológicas e atmosféricas, cujos efeitos vão desde os prejuízos para a saúde até à possível submersão, no futuro, de terras baixas", concluía o Papa. Contudo, também João Paulo II fazia depois a ligação para assuntos vistos como prioritários para a Igreja. "Mas o índice mais profundo e mais grave das implicações morais, inseridas na problemática ecológica, é constituído pela falta de respeito pela vida, como se pode verificar em muitos comportamentos." Desconfiança conservadora À luz destes exemplos históricos apenas se pode concluir que a preocupação ambiental de Francisco não é nova. Nova será, isso sim, a forma e a ênfase, para além da atenção mediática que as suas ações têm em comparação com a dos seus antecessores. Mas a insistência do Papa em entrar por temas ambientais não está a ser inteiramente pacífica. O facto de ter colaborado com instituições das Nações Unidas – uma organização com a qual a Igreja tem um historial complexo e que é vista como enorme desconfiança por fações Continua…


Especial Laudato Si 09 | O Alforge | julho 2016 Continuação... mais conservadoras da Igreja, sobretudo em países como os Estados Unidos – e o seu entusiasmo por um tema que é visto frequentemente como uma causa de esquerda têm feito surgir várias críticas. Quando o Vaticano ajudou a organizar uma cimeira sobre o ambiente, em Roma, com a presença do secretário -geral da ONU, um grupo de cientistas que discordam das teorias das alterações climáticas fizeram uma contracimeira de protesto e acusaram o Papa de estar a

dar crédito a teorias que, dizem, não foram ainda provadas. De igual modo, o político americano Rick Santorum, um católico conhecido pelas suas posições conservadoras em assuntos morais, disse que, embora ame muito o Papa, este devia deixar a ciência para os cientistas – esquecendo-se de que o Papa teve formação científica, nomeadamente em química, antes de entrar para o seminário. Mas o que os Papas têm

estado a fazer, pelo menos desde João Paulo II e com particular destaque para Bento XVI e agora Francisco, é exatamente sublinhar que questões como o cuidado pelo ambiente e os recursos naturais não são temas exclusivamente científicos, mas também profundamente morais. Isso será certamente realçado pelo Papa na sua encíclica "Laudato Si". Filipe d'Avillez, RR

O Papa Francisco define como «indispensável um consenso mundial que leve, por exemplo, a programar uma agricultura sustentável e diversificada, desenvolver formas de energia renováveis e pouco poluidoras». O papa afirma que a «tecnologia baseada em combustíveis fósseis» deve ser, «progressivamente e sem demora, substituída», observa que «a política e a indústria reagem com lentidão» e que «as cimeiras mundiais sobre o meio ambiente dos últimos anos não corresponderam às expectativas». Os progressos sobre as alterações climáticas e a redução dos gases com efeito de estufa «são, infelizmente, muito escassos», também «por causa das posições dos países que privilegiam os seus interesses nacionais sobre o bem comum global». O papa alerta para as consequências de algumas estratégias para combater as emissões de gás que penalizam os países pobres com «pesados compromissos de redução de emissões», criando «uma nova injustiça sob a capa do cuidado do meio ambiente».


Especial Laudato Si 10 | O Alforge | julho 2016

Cuidar os pobres, cuidar a criação Que o Papa Francisco escreva uma encíclica sobre ecologia não é tão surpreendente como poderia parecer à primeira vista: é uma consequência lógica de décadas de reflexão sobre duas problemáticas – a social e a ambiental – que não podem já desligar-se e que precisam de ser abordadas de forma conjunta. Com Laudato Si’ – que significa “Louvado sejas”, recordando o início do Cântico das criaturas de Francisco de Assis – a Igreja Católica responde aos novos sinais dos tempos para oferecer uma palavra, no horizonte da esperança cristã, sobre as problemáticas socioambientais que caracterizam a nossa época. Não esperemos desta encíclica novas análises científicas, detalhadas receitas económicas ou propostas políticas concretas para solucionar o complexo conjunto de problemas relacionados com a pobreza extrema, a desigualdade económica, a crise global de água, a perda acelerada de biodiversidade, a contaminação, a desflorestação, o esgotamento dos recursos

naturais ou o aquecimento global. Porém, em continuidade com a rica tradição da Doutrina Social da Igreja iniciada por Leão XIII nos finais do século XIX, Francisco oferece uma contribuição original. Uma contribuição para um debate que precisa de uma visão “sapiencial” que supere a racionalidade técnica, de um espaço de diálogo que articule as distintas disciplinas em jogo e de uma mobilização social que as grandes forças internacionais não conseguiram conduzir. São várias as chaves de leitura de Laudato Si’ que merecem ser destacadas.

A espiritualidade da família cristã propõe uma forma alternativa de entender a qualidade de vida, encorajando um estilo de vida profético e contemplativo, capaz de gerar profunda alegria sem estar obcecado pelo consumo. A acumulação constante de possibilidades para consumir distrai o coração e impede de dar o devido apreço a cada coisa e a cada momento.

Em primeiro lugar, uma denúncia profética da injustiça social vinculada aos processos de degradação do meio ambiente. A chamada de atenção à “injustiça ambiental” sofrida por aqueles que não estão na origem do problema, bem como a estreita relação entre a ecologia humana e a ecologia natural, são temas imprescindíveis para entender a complexidade do problema ecológico. Em segundo lugar, uma proposta ascética capaz de mobilizar –especialmente, aqueles que já temos o suficiente – a lutar contra o esbanjamento e a adoptar uma vida sóbria, honrada e

solidária com os que menos têm e com toda a criação. Em terceiro lugar, um olhar contemplativo e “sacramental”, capaz de desfrutar da beleza da criação, de descobrir um valor intrínseco em toda a criação e de superar a visão utilitarista e técnica que domina o nosso mundo. Em quarto lugar, uma visão sapiencial capaz de superar a separação de âmbitos por parte das distintas ciências e a visão reducionista do homem como consumidor, do bem-estar como acumulação material e da economia como busca constante de crescimento. Por fim, um apelo à mudança pessoal e institucional mobilizada pela fé, alimentada pela espiritualidade e alicerçada nos princípios do destino universal dos bens, da prioridade do bem comum e no princípio de precaução. Não procuremos em Laudato Si’ um roteiro detalhado com soluções aos grandes desafios eco-sociais da nossa época. Procuremos, isso sim, um olhar lúcido e um convite ao diálogo construtivo e à acção comprometida. Jaime Tatay, sj


Especial Laudato Si 11 | O Alforge | Julho 2016

Que tipo de mundo queremos deixar? Há cerca de um ano, quando foi apresentada a encíclica Laudato Si – sobre o cuidado do bem comum, fiquei de imediato de “antenas no ar”. Senti uma imensa curiosidade por descobrir que mensagem estava por detrás deste texto, um tema pelo qual, como cristã e como bióloga, sempre me interessei de forma apaixonante. «Que tipo de mundo queremos deixar a quem nos vai suceder, às crianças que estão a crescer?» (LS 160). Esta é uma pergunta que, por outras palavras, eu abordo relativamente ao tema “desenvolvimento sustentável” e em conversa com alguém, ou quando vou a uma escola falar com os alunos. É também uma pergunta chave do Papa Francisco e na qual, penso eu, assenta toda a encíclica. Da minha área de formação vem este cuidado pela natureza e ambiente e, como cristã, desde há muito estranho o facto de os cristãos não serem os primeiros a defender e a lutar por um meio ambiente mais limpo, mais digno, mais cuidado, ou seja, que nem sempre sejam os primeiros a cuidar da Criação. Porque Deus, não nos criou isolados. Como refere o Papa Francisco “O conjunto do Universo, com as suas múltiplas relações, mostra melhor a riqueza inesgotável de Deus (LS 86), ou então, “Todo o universo material é uma linguagem do amor de Deus, do Seu carinho sem medida por nós” (LS 84). Com este sentimento, pergunto-me: como não cuidar da criação? Ninguém tem o direito de alterar,

destruir ou ignorar a destruição da criação de Deus: o solo, a água, as rochas, qualquer ser vivo. Com isto, não podemos descurar ou deixar para segundo plano o respeito pela vida e pela dignidade humana. Neste sentido, o Papa Francisco alerta, também, para o facto de muitas pessoas se indignarem com o sofrimento de um animal, mas se esquecerem do pobre que precisa do nosso apoio, do nosso carinho, da nossa preocupação; se esquecerem de tantas pessoas que não têm uma vida digna. Dirigida a crentes e a não crentes, com este texto o Papa Francisco alerta-nos, sobretudo, para a importância de uma “ecologia integral, que inclua claramente as dimensões humanas e sociais” (LS 137) de pensarmos na ecologia e no ambiente a partir da justiça. Porque ao ser humano é intrínseca a economia, a política, a cultura, a ciência, é importante que tudo isto seja integrado tanto nas grandes decisões nacionais e mundiais, como no nosso dia-a-dia. Com esta encíclica somos alertados para a necessidade de diálogo, tantas vezes

esquecido na sociedade atual e fundamental para “sair da espiral da autodestruição onde nos estamos a afundar” (LS 163). Diálogo sobre o meio ambiente, na política internacional; diálogo nas novas políticas nacionais e locais; diálogo e transparência nos processos decisórios; diálogo entre política e economia para a plenitude humana; diálogo entre as religiões e as ciências. Para haver mudança, é a humanidade que tem de mudar, diz Francisco. É necessário tomar consciência de uma origem comum. Façamos o nosso exame de consciência: como cuido eu da Criação? O cuidado da casa comum não cabe apenas aos ambientalistas e ecologistas, ou aos decisores económicos e políticos. O cuidado da casa comum depende de cada um de nós, da nossa tomada de consciência para a necessidade de cuidar de nós e do que nos rodeia de forma integral, respeitando os outros e tudo o que, connosco, integra o mundo que nos rodeia.

Ana Fonseca é oriunda de Fornos de Algodres. É licenciada em biologia, trabalha atualmente no CISE - Centro de Interpretação da Serra da Estrela, pertencente ao Município de Seia, onde desenvolve atividades de interpretação de natureza e animação e educação ambiental. É catequista e animadora do grupo de jovens Sal da Terra (Juventude Mariana Vicentina), na paróquia de Fornos de Algodres.


Especial Laudato Si 12 | O Alforge | julho 2016

O cuidar da “nossa casa comum”, a pessoa como objetivo “Sabíeis vós que as árvores falam? Pois falam. Falam entre elas, e hão-de, se as escutardes, falar-vos a vós.” Esta é uma mensagem que faz parte de um discurso de Tatanga Mani, índio Stoney (Canadá) transcrito no livro “A Fala do Índio”. Face à evidência da dimensão global dos problemas ambientais e da importância da componente social nos mesmos, a simplicidade da citação anterior, convidando à escuta e à observação para a compreensão da natureza, constitui, em sociedades de culturas tão variadas, uma base conceptual adequada para desenvolver a componente ecológica do mundo. A Terra não é binómio natureza-cultura, é um todo unificado, onde os elementos que a constituem se interrelacionam e interatuam. "Laudato si , mi Signore Louvado sejas, meu Senhor", cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços”. Inicia de forma bela o Papa Francisco a Carta Encíclica Laudato Si, convidando toda a “família humana” a refletir e dialogar acerca do futuro do planeta, da “nossa casa comum”, procurando um

“desenvolvimento sustentável e integral”. Como afirma o Santo Padre, “a análise dos problemas ambientais é inseparável da análise dos contextos humanos, familiares, laborais, urbanos, e da relação de cada pessoa consigo mesma”. O traçar de uma nova filosofia em termos ambientais, deverá passar pela reflexão acerca da preservação do nosso ambiente, considerando-o como um elemento crucial e extremamente valorativo da vida humana. Já não se trata apenas da imensidade de espécies que o homem teve oportunidade de conhecer e que entretanto viu desaparecer em períodos cada vez mais curtos, trata-se do próprio Homem e de tudo aquilo que constitui o seu património natural e construído/cultural. A Encíclica sublinha a necessidade de investir na formação para uma ecologia integral, por forma a perceber que o ambiente é um dom de Deus, uma herança comum que se deve administrar e não destruir. Neste caminho de “conversão ecológica”, os cristãos devem “compreender que a sua responsabilidade com a criação e o seu dever para com a natureza e o Criador, são uma parte essencial da sua fé”. Nesta perspetiva, os ensinamentos devem focarse na pessoa a educar

preparando-a para viver de forma equilibrada e harmoniosa com o ambiente, privilegiando o saber ser. A consciencialização desta sabedoria, deverá conduzir a resultados concretos na esfera dos comportamentos, com carácter de continuidade e acessível a todos. Só assim, poderemos sentir, como se lê na Encíclica, que “temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo e que vale a pena sermos bons e honestos”. A este propósito, lembrese o que dizia Stephano Cavagna, pioneiro na área de educação ambiental, “os bens mais preciosos que podemos ter, são o tempo e o silêncio. O silêncio está ligado à capacidade de contemplar, observar, gerar. Uma pessoa que tenha tempo e silêncio, é poderosa. Mas estes valores, não devem ser utilizados para o interesse pessoal. É importante que tenhamos sempre uma

perspetiva global que nos posiciona corretamente face ao mundo. Esta perspetiva, manifesta-se em coisas pequenas, como observar um charco e renunciar ver os animais que nele se ocultam para evitar perturbá-los. Esta renúncia é uma grande capacidade. É um modo de sermos humildes perante o mundo, no sentido de percebermos qual é o nosso lugar nele”. Valores comos estes, precisam de ser desenvolvidos, originários do prazer de poder contemplar, sem perturbar, do sentir-se parte de um todo, belo e equilibrado. Como seria bom, se como diz o Papa Francisco, conseguíssemos reconhecer que “cada criatura é objeto da ternura do Pai que lhe atribui um lugar no mundo”. L. Borges Eng. do Ambiente


Especial Laudato Si 13 | O Alforge | julho 2016

“Laudato Si” - Uma Encíclica (quase) ignorada? “Laudato Si” - Uma Encíclica (quase) ignorada nas nossas comunidades paroquiais? Começo por me congratular com a iniciativa do boletim O Alforge. Embora viva do outro lado da Serra, ligam-me à zona de Seia e Gouveia laços muito fortes... Pode ser porventura provocador o título deste texto de opinião, mas cada leitor de O Alforge saberá como responder, naturalmente a partir do seu próprio conhecimento. Maria Eugénia, mãe e avó, agora reformada, desde sempre católica praticante, vive uma parte do ano na sua aldeia natal da Beira Baixa e outra parte numa grande paróquia da cidade de Lisboa. Dizia há poucos dias: “não tenho ideia de ter ouvido falar nessa encíclica sobre o cuidado da casa comum”. A resposta de Maria Eugénia poderia ser certamente a resposta de grande parte de mulheres e homens que participam na missa dominical e, habitualmente, em outros atos de culto. Não vai muito tempo,

falava com responsáveis de Agrupamentos de Escuteiros que desconheciam o conteúdo da Encíclica publicada em Maio de 2015. E é significativo que alguns logo depois se dispuseram a cooperar na realização, na sua paróquia, de um encontro de reflexão e debate centrado nas interpelações que o Papa Francisco coloca sobre os grandes problemas da Sustentabilidade do Planeta e da Humanidade. “A Encíclica “Laudato Si” reúne o que de melhor há na pesquisa científica sobre a realidade ecológica e representa o melhor contributo que a Igreja Católica podia dar para encorajar cientistas e políticos, bem como todos e cada um dos cidadãos, para a urgência de salvar o Planeta e a vida das populações mais ameaçadas” - sublinhava Francisco Ferreira, conhecido fundador da QUERCUS e seu expresidente, na conferência que teve lugar no passado dia 9 de Abril na Covilhã, promovida pela LOC/ Movimento de

Trabalhadores Cristãos, em cooperação com a organização Base-Frente Unitária de Trabalhadores. Na ocasião, Francisco Ferreira explicou porque considera a “Laudato Si” como “um documento notável e de uma extraordinária atualidade para entender o que está em causa, confrontar com os ensinamentos dos princípios cristãos e encontrar sinais de esperança na ação e nas respostas que cabem a todos”. Na sua segunda Encíclica, o Papa Francisco lança “um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós.” Da leitura da Encíclica sobre o cuidado da casa comum retenho, entre muitos, este texto que o leitor pode encontrar no livro de fácil e desafiadora leitura.

Momento de Reflexão - Salmo 8 Senhor, nosso Deus, como é admirável o vosso nome em toda a terra! A vossa majestade está acima dos céus. Da boca das crianças e meninos de peito sai um louvor que confunde os vossos adversários e reduz ao silêncio os inimigos rebeldes. Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes? Fizestes dele quase um ser divino, de honra e glória o coroastes; destes-lhe poder sobre a obra das vossas mãos. Tudo submetestes a seus pés: Ovelhas e bois, todos os rebanhos, e até os animais selvagens, as aves do céu e os peixes do mar, tudo o que se move nos oceanos. Senhor, nosso Deus, como é admirável o vosso nome em toda a terra!

José Manuel Figueiredo Duarte, casado, 69 anos, natural de São Paio, Gouveia e residente na Covilhã desde 1973. O percurso profissional: Trabalhos agrícolas; carpinteiro; jornalismo; desenhador de construção civil; técnico de desenvolvimento local. Percurso militante: Militante da JOC – Juventude Operária Católica, aos 16 anos. Dirigente nacional da JOC (dirigente permanente) entre Novembro de 1970 a Agosto de 1973. Militante da LOC/ Movimento de Trabalhadores Cristãos desde 1977.


Especial Laudato Si 14| O Alforge | julho 2016

Fundamentação cristã da Ecologia A - A Ecologia O termo Ecologia deriva da palavra grega oikos, que significa casa, morada. A Ecologia é então uma disciplina que versa sobre como é que o homem pode viver na natureza e no mundo como em casa sua. O que implica também perceber como é que pode tratar essas realidades como a sua casa. B – A missão do homem em Génesis 2 A tarefa do homem na terra, segundo este relato da criação, é a de a cultivar e guardar. Ou seja, é-lhe proposta uma acção em prol do jardim e não fechada à volta do próprio homem. É curioso reparar que, no início do texto, a chuva ainda não tinha vindo porque não serviria para nada, já que ainda não existia o homem para dar uso a essa chuva em favor da terra. Claro que cultivando a terra o homem vai também beneficiar com esse trabalho, mas é óbvio que o cultivo teria de ser visto em função dessa outra tarefa que é guardar a terra. Resulta daqui que o homem não pode usar da terra de modo a abusar, a fazer um mau uso dela, ou então não estaria a guardá-la, o que seria falhar na missão que lhe tinha sido dada. [E que era tão importante que, sem o homem, Deus ainda não tinha posto em movimento a dinâmica da vida sobre o planeta, visto que ainda não havia quem tirasse proveito dela em favor do cultivo da terra.] C – A missão do homem em Génesis 1

1. Uma complexidade crescente na criação até chegar ao homem Ao contrário de Gn 2, aqui o homem é a última obra criativa de Deus. Em Gn 2, Deus começa a criação por aquilo que mais quer: o homem. Só depois vai criar a terra para o colocar. Em Gn 1, a lógica é a mesma, mas a estratégia diversa: o que Deus mais quer, o homem, é a última coisa que cria. Antes vai formar a terra e toda a exuberância de vida que comporta, para depois criar o homem e pô-lo lá, como o creme sobre o bolo. (Não a cereja cristalizada, como veremos adiante…) A leitura de Gn 1, deixa-nos perceber que a criação ali descrita é uma tentativa racional para compreender como é que o mundo está organizado. Na verdade Deus cria separando e a separação é princípio de ciência. (Ex: “As árvores dividem-se em dois grupos: as que têm folha perene e as que têm folha caduca”. Ou: “Há dois tipos de animais: os que comem carne e os que se alimentam de vegetais”.) Nos 1º, 2º, 3º e 4º dias Deus põe ordem no caos, separando realidades. E nos restantes dias (também na segunda metade do 3º) Deus cria segundo as suas espécies, ou seja, não é uma criação monolítica, há divisões, particularidades que podem ser percebidas. Neste caminho intelectual, Deus separa a luz das trevas (1º dia), as águas superiores das inferiores (2º dia), a água da terra, e depois cria os vegetais segundo as suas espécies (3º dia), o dia da noite (4º dia). Se considerarmos que , para a

Bíblia, vida é só a vida animal, então no limiar do 5º dia ainda não há vida. É o próximo passo: vida na água e no ar, segundo as suas espécies. E agora a tarefa de Deus no 6º dia é criar a vida na terra firme, que ainda não a tinha. Para os animais fá-lo segundo as suas espécies. Chegou a vez do homem, a última obra criativa de Deus. O texto sugere com muita força uma criação feita para o homem, mas veremos que tem condições. 2. O homem é criado à imagem e semelhança de Deus E isto é uma originalidade do homem. De facto é o único que beneficia de tal privilégio. O que significa? Seguramente que o homem – tal como Deus – é o único com capacidade para perceber a criação. É a única obra que Deus criou que pode compreender o que está escrito em Gn 1,. 3. Para dominar Agora não se fala de cultivar e guardar, mas de dominar. E esta mudança de verbos que exprimem a função do homem na terra pode levantar algumas confusões. É que, na nossa linguagem, dominar significa exercer o domínio [de dominus (= senhor)], a autoridade do senhor, do dono. Contudo vamos já ver que este dono é Deus e não o homem e que, portanto, este domínio é para ser exercido em nome de outrem, em nome do verdadeiro Senhor e não do homem. 4. A cereja no bolo da criação: o sábado

O sétimo dia traz aqui algo de substancialmente novo: a obrigação de haver um dia em que não se deve trabalhar. (É bom compreender isto face ao que o povo hebreu já praticava na época em que este texto é composto: o sábado, o sétimo dia, vivido como um dia diferente, feito para não trabalhar a fim de haver tempo para louvar o Criador. A azáfama do quotidiano já naqueles dias impedia as pessoas de poderem parar e terem tempo para se encontrarem com Deus. Pois bem, não há desculpas, têm o sábado, um dia de louvor e de reencontro com o Autor da vida.) Ora se o homem é a última obra criada, o sétimo dia é a última palavra criativa de Deus E tem honras que o homem não tem. É santificado! Significa que é o sábado que dá sentido a toda a criação, que sem este dia vivido especialmente para o Senhor, todas as outras obras criativas, por mais bonitas que sejam, estão vazias. O sétimo dia serve para o homem parar o seu trabalho e contemplar o Criador a partir das Suas obras. Isto equivale a reconduzir a Ele tudo o que existe, equivale a reconhecer em Deus o senhorio da criação. Então estamos agora em condições de perceber que tipo de domínio o homem deve ter sobre a natureza: o de velar pelos interesses do verdadeiro dono e o de agir em Seu nome. Sem o sábado o homem correria o risco de se apropriar da criação, de perder o sentido de tudo o que existe em seu proveito pessoal. Continua…


Especial Laudato Si 15 | O Alforge | julho 2016 Continuação… D – Conclusão Recapitulando o percurso que fomos traçando, vimos que a Bíblia – em Gn 2, apresenta o homem com a tarefa de cultivar e guardar a terra, o que implica valorizála e ter cuidado com ela. Depois – em Gn 1, - dá um

passo de gigante, mostrando o homem como o cume da complexidade da criação, a única criatura com capacidade de a compreender e por isso com a tarefa de a dominar. Só que esse domínio – pelo sábado – terá de ser feito reconduzindo ao Criador todo o seu trabalho, o que é

dizer, encontrando Deus no trato com as obras da criação. Implica portanto o agir na natureza de acordo com a lógica do seu “dono”, Deus. P. Carlos Azevedo, sj

Oração Cristã com a Criação

Oração pela Família

Nós Vos louvamos, Pai, com todas as vossas criaturas, que saíram da vossa mão poderosa. São vossas e estão repletas da vossa presença e da vossa ternura. Louvado sejais! Filho de Deus, Jesus, por Vós foram criadas todas as coisas. Fostes formado no seio materno de Maria, fizestes-Vos parte desta terra, e contemplastes este mundo com olhos humanos. Hoje estais vivo em cada criatura com a vossa glória de ressuscitado. Louvado sejais! Espírito Santo, que, com a vossa luz, guiais este mundo para o amor do Pai e acompanhais o gemido da criação, Vós viveis também nos nossos corações a fim de nos impelir para o bem. Louvado sejais! Senhor Deus, Uno e Trino, comunidade estupenda de amor infinito, ensinai-nos a contemplar-Vos na beleza do universo, onde tudo nos fala de Vós. Despertai o nosso louvor e a nossa gratidão por cada ser que criastes. Dai-nos a graça de nos sentirmos intimamente unidos a tudo o que existe. Deus de amor, mostrai-nos o nosso lugar neste mundo como instrumentos do vosso carinho por todos os seres desta terra, porque nem um deles sequer é esquecido por Vós. Iluminai os donos do poder e do dinheiro para que não caiam no pecado da indiferença, amem o bem comum, promovam os fracos, e cuidem deste mundo que habitamos. Os pobres e a terra estão bradando: Senhor, tomai-nos sob o vosso poder e a vossa luz, para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor, para que venha o vosso Reino de justiça, paz, amor e beleza. Louvado sejais! Ámen.

Jesus, Maria e José, a vós, Sagrada Família de Nazaré, hoje dirigimos o olhar com admiração e confiança; em vós contemplamos a beleza da comunhão no amor verdadeiro; a vós confiamos todas as nossas famílias; para que se renovem nessas maravilhas da graça. Sagrada Família de Nazaré, escola atraente do santo Evangelho: ensina-nos a imitar as tuas virtudes com uma sábia disciplina espiritual, doa-nos o olhar claro que sabe reconhecer a obra da providência nas realidades quotidianas da vida. Sagrada Família de Nazaré, guardiã fiel do mistério da salvação: faz renascer em nós a estima pelo silêncio, torna as nossas famílias cenáculo de oração e transforma-as em pequenas Igrejas domésticas, renova o desejo de santidade, sustenta o nobre cansaço do trabalho, da educação, da escuta, da recíproca compreensão e do perdão. Sagrada Família de Nazaré, desperta na nossa sociedade a consciência do caráter sagrado e inviolável da família, bem inestimável e insubstituível. Cada família seja morada acolhedora de bondade e de paz para as crianças e para os idosos, para quem está doente e sozinho, para quem é pobre e necessitado. Jesus, Maria e José a vós com confiança rezamos, a vós com alegria nos confiamos. Oração do Papa Francisco

Oração do Papa Francisco in Laudate Si


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