11
REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. PARQ. NÚMERO 11. ABRIL 2009. www.parqmag.com
Director Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com
editora Carla Isidoro carla@parqmag.com
Direcção de arte Valdemar Lamego valdemar@parqmag.com
Trendscout Mário Nascimento mario@parqmag.com
tradução Roger Winstanley roger@parqmag.com
publicidade Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com Cláudia Santos claudia@parqmag.com
PARQ Número 11 Abril 2009
PARQ. NÚMERO 11. ABRIL 2009. REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA.
periocidade
textos
Mensal
antónia rosa Carla Carbone Cláudia Matos Silva iuri albarran júlio dolbeth manuel teixeira miss jones nuno sousa pedro gadanho ray monde Roger Winstanley Rui Miguel Abreu Sofia Saunders vasco vieira da silva
Depósito legal 272758/08 Registo ERC 125392
Edição 11
REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. PARQ. NÚMERO 11. ABRIL 2009. www.parqmag.com
Conforto Moderno Uni, Lda. número de contribuinte: 508 399 289 PARQ Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000-251 Lisboa 00351.218 473 379
Impressão BeProfit / SOGAPAL Rua Mário Castelhano · Queluz de Baixo 2730-120 Barcarena 20.000 exemplares
distribuição
fotos isabel pinto luísa ferreira pedro janeiro pedro matos pedro pacheco
Conforto Moderno Uni, Lda.
A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq.Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 Parq. Assinatura anual 15€.
styling Conforto Moderno dora dias
www.parqmag.com
capa
ilustração
fotografia: Ricardo Quaresma Vieira
vanessa teodoro
www.ricardoquaresmavieira.com styling: Conforto moderno hair: Miguel Viana make-up: Sónia pessoa com produtos Chanel Viviane Vidal veste casaco de penas diesel, e uma corrente de valentim quaresma Agradecimentos ao Spzaio Dual City Café
Real People
Moda
Claus Sendlinger
Lisboa Centro
06
por Roger Winstanley
08
miguel viana por António Rosa
14
aquafalls
felix burrichter por Pedro Gadanho
eric beltz
14
You must shopping 18
74
cool de sac + get vintage places
75
mel das arábias + Spazio Dual city café places
Minta
Crónica de Ray Monde & Miss Jones restaurante
34
Resistir, criar
viagem
esporão + nespresso + miso soup
por Nuno Sousa
Quando visitei pela primeira vez Genebra, o que mais me assombrou foi a quantidade de squatters no centro da cidade, espaços ocupados que na maior parte das vezes se tornavam em centros de artes alternativos. A presença desses espaços contrastava com a imagem da cidade burguesa, um centro de joalharia e de produção de perfumes, também sede da ONU, o que atrai gente da alta finança e burocratas políticos. Permitiu-me perceber entre os contrastes que grande parte da cultura alternativa independente gerada de movimentos genuínos da rua estava intrinsecamente ligada as sobras de dinheiro que restam nos grandes centros de decisão. Barcelona, por exemplo, pela capacidade de atrair capital gerou uma cultura jovem, que por sua vez tornou a cidade mais atractiva estabelecendo um ciclo constante entre fluxos de dinheiro e cultura alternativa. Aliás, só a carência de capital explica que em Portugal a cultura de rua não consiga arrancar do estádio de pré-desenvolvimento, mesmo produzindo fenómenos próprios e interessantes que mereciam ser apoiados. Inevitavelmente a crise que afecta o mundo ocidental vai fazer com que os fenómenos de contra cultura percam visibilidade e se confinem cada vez mais a ciclos restritos. Ou seja, a cultura jovem e alternativa está inevitavelmente em retracção. Se a crise se prolongar a atenção do mundo estará cada vez mais virada para o centro —para um denominado realismo ilusório e bacoco— que não será com certeza o mundo onde desejamos viver. Ficamos à espera dos próximos episódios e dos reflexos da asfixia de uma cultura alternativa. Nos por cá vamos resistindo, alimentando uma cultura criativa que abra novos sentidos à vida. Resistam connosco, levem uma PARQ para um espaço público, jardim, esplanada, praça ou praia. Mostrem a PARQ. Pertençam à grande comunidade PARQ.
73
You must news soundstation 32
editorial
por Ricardo Quaresma Vieira
parq here
10
38
66
sap rising
Daniel hedner por Carla Carbone
viewpoint
58
por Pedro Pacheco
Paulo Flores por Carla Isidoro
36
76
gourmet
78
Flores
english version 80
Joe Bataan
Claus Sendlinger
38
eric beltz
por Rui Miguel Abreu
Viewpoint Eric Beltz por Francisco Vaz Fernandes
by Roger Winstanley
80
by Francisco Vaz Fernandes (english version by Roger Winstanley)
80
central parq
Carlos Vaz Marques
Carlos Vaz MArques
Reddish Design
42
por Carla Isidoro
46
custo barcelona por Francisco Vaz Fernandes
48
Reddish Design por Carla Carbone
by Carla Isidoro (english version by Roger Winstanley)
81
by Carla Carbone (english version by Roger Winstanley)
dia positivo 99 á primeira vista
Crónica de Cláudia Matos Silva ilustrado por Vanessa Teodoro
52
taster
por Carla Isidoro
54
Pictoplasma por Júlio Dolbeth
por Francisco Vaz Fernandes
3
REal PEople
claus sendlinger texto: Roger Winstanley
www.designhotels.com
Na década de 80 Claus Sendlinger foi relações públicas de casas nocturnas em Rimini, na Itália, e percebeu que ali nascia um novo tipo de viajante com dinheiro que frequentava a primeira classe dos aviões mas estava insatisfeito com o alojamento em hotéis sem carácter. Em 1987 fundou uma agência de viagens, em 93 formou o grupo Design Hotels e hoje auto proclama-se especialista em marketing de estilo de vida.
uma cadeira Eames na entrada. Eles oferecem o conceito certo para o público certo no lugar certo. Arquitectura, design, serviço, gastronomia e muitas outras qualidades têm que estar reunidas tal como peças de um puzzle para criar uma imagem consistente. As pessoas atrás dos nossos hotéis —The Originals— têm abordagens únicas e a coragem de as realizar. Isso tem um grande impacto na indústria de hospitalidade global.
O que há de errado com os hotéis do sec. XXI? Falta um conceito bem pensado. Estamos à procura de hotéis com conceitos holísticos desenvolvidos por cabeças criativas que conseguem realizar as suas ideias. É isso que distingue um membro do Design Hotels de outras cadeias. Em que sentido os Design Hotel vieram mudar o paradigma da hospitalidade? Há 16 anos quando fundámos a empresa demos este nome abrangente, Design Hotel, porque percebemos que cada vez mais hotéis incorporavam um design marcante para alcançar um público internacional ligado a certos padrões de lifestyle que incluíam conhecimentos na área do design contemporâneo. Nessa altura os hotéis com uma estética mais contemporânea eram ainda uma novidade mas hoje em dia o design por si não será suficiente em termos de oferta de experiência Premium. Actualmente a maioria dos hotéis tem integrado elementos de design contemporâneo. Então o que é que faz os hotéis membros serem especiais? Oferecem mais do que
Numa entrevista há dois anos mencionou que “hospital hotel” com lipospiração e cirurgia seria o próximo passo nesta indústria. Já está a acontecer? Sim, de facto. Há conceitos muito interessantes em torno deste tema. Cada vez mais hospitais oferecem suites parecidas com hotéis. Acabámos de fazer um contracto com o nosso primeiro hotel a oferecer cuidados médicos completos, o The Life Medicine Resort, em Bad Gleichenberg na Áustria. Oferece luxo de cinco estrelas acompanhado de tratamento médico com tecnologia de ponta, spa tradicional e tecnologias terapêuticas. Conceitos assim fazem parte de uma tendência que reflecte mudanças de valores na nossa sociedade. A importância de factores como qualidade de vida e bem-estar estão a crescer assim como a redescoberta da simplicidade, humanidade e até da humildade. Assim os seres humanos com as suas potencialidades éticas emocionais e sociais tornam-se o foco de todos os conceitos desenvolvidos em torno da indústria da hospitalidade. A Design Hotels está consciente desta viragem para o centro do humano. Conceitos desenvolvidos no Life Medicine Resort só nos vêem ajudar a entender os próprios limites desta indústria. Quais são os destinos a que temos de estar atentos? Teria atenção ao novo Rocksresort em Laax, na Suiça, e aos projectos Alila no Bali e nas Maldivas.
6
Š 2009 adidas AG. adidas, the Trefoil, and the 3-Stripes mark are registered trademarks of the adidas Group.
adidas.com/originals
REal PEople
miguel viana texto: Antónia Rosa fotografia: Isabel Pinto
www.miguelviana.com
Começou no Porto com um salão de cabeleireiro na zona da Foz e depressa viu a sua arte publicada regularmente nas principais revistas de moda portuguesas. Quando parecia já ter conseguido tudo o que o meio profissional português lhe podia oferecer, foi para fora e actualmente é uma presença frequente nos principais desfiles de Paris e Milão. com os profissionais de topo. Trabalhar com os maiores e melhores no mundo da moda faz-me sentir como um peixe dentro de água. Identifico‑me com esse universo e sinto que me pertence. Quantas manequins penteias por desfile e quantas pessoas participam na preparação? O número de profissionais muda de desfile para desfile mas somos em média 25 a 30, o que daria mais ou menos uma manequim por desfile. Mas raramente um de nós está a trabalhar uma única cabeça. Como trabalhamos muito em equipa, o normal é sermos 3 em diversas cabeças. Cada um tenta melhorar onde pode. Em geral temos 4 horas de trabalho para preparar um desfile mas o que acontece é que as manequins mais top estão ocupadas noutros desfiles. Podem chegar a fazer 3 ou 4 por dia e por isso são sempre as últimas a chegar. Há sempre um grupinho de oito que chega na última meia hora e tem que estar pronto para o desfile em 20 minutos. Às vezes somos 5 profissionais entre cabelos, maquilhagem, manicure. Um verdadeiro stress mas que faz parte da energia que se vive nesses desfiles.
Em Portugal o teu trabalho já era sobejamente conhecido. O que te motivou a procurar reconhecimento lá fora? Tem a ver com minha maneira de ser. Sempre que atinjo um objectivo e realizo um sonho, naturalmente surge a vontade de mais e melhor. Adoro Portugal mas como costumo dizer é um país com paredes e tecto. Não é difícil chegar ao tecto, o complicado é rompê-lo. Pensei que iria para o estrangeiro aos 20 mas não fui porque rapidamente tudo começou a correr bem no Porto. Saí aos 31 anos esporadicamente para fazer mais formação mas só nos últimos 2 anos, ao passar a ser residente da equipa de cabeleireiros de Luigi Moreno, comecei a estar cada vez mais no estrangeiro e a pentear nos principais desfiles de moda. Paris é a capital da moda. Como te sentiste quando o teu trabalho teve que ser avaliado por outros profissionais? Paris é a minha segunda casa. Gosto muito da atmosfera da cidade, por isso a adaptação foi fácil. De resto, ser avaliado por alguém que sabe mais do que eu é um privilégio. É até um sinal de que ainda me restam possibilidades de evoluir.
Conseguir um lugar nos desfiles de Paris e de Milão é um sonho difícil de se concretizar. Quanto tempo demoraste a ser aceite e porque razão terás sido aceite? Penso que na vida podemos ser e chegar onde quisermos, o importante é interiorizarmos isso. Participar nos principais desfiles de moda foi sempre um sonho, mas demorei alguns anos a tomar essa decisão no meu interior. Umas vezes acreditava, mas vinham sempre dúvidas, desculpas, compromissos, etc. Quando tomei essa decisão interior, na realidade foi tudo muito rápido. Tive uma entrevista numa quinta‑feira e no domingo seguinte estava a ir para Milão fazer o desfile de Valentino Homem. É obvio que temos de ter um nível de qualidade para sermos admitidos, mas é igualmente importante decidirmos que vamos ser aceites. Qual a sensação de poderes pentear as top models e de conviver com os maiores criadores de moda? Para mim, mais do que as top models —que são cada vez mais efémeras, numa estação são a cara do momento e na seguinte desaparecem— o mais importante é o convívio
Contam-se muitas piadas sobre as rivalidades e invejas que se geram em torno de quem vai pentear esta ou aquela top model. Verdade ou mito? Não é fácil quando se entra numa equipa. Há colegas que fazem uma certa barreira e resistência mas também há os que te acolhem bem e põem‑te de imediato a trabalhar com eles. O que acontece é que somos muitos e às vezes há uma verdadeira caça ao manequim. Costumo contar sempre esta história: uma vez, num desfile da Gucci, logo no início, abandonei a minha cadeira e fui ver se havia alguma manequim a chegar para pentear. Quando regressei não só tinha a cadeira ocupada como também os meus materiais estavam ser usados e eu não podia fazer nada. Qual o desfile que mais gostaste de fazer até agora? É uma pergunta difícil porque a minha entrega é igual para todos. O da Givenchy tem sempre uma atmosfera muito forte, parece que queremos ultrapassar os limites porque é um desfile sempre muito falado e que toda a gente quer ver. Não quer dizer que é aquele de que gosto mais. Gostei particularmente de um desfile da Gucci num palácio em Roma para festejar o septuagésimo aniversário. Depois houve uma festa nos jardins e realmente estava muita gente do mundo da moda.
8
REal PEople
Daniel Hedner texto: Carla Carbone
www.imaginaryoffice.se
Como conseguiu a estrutura metálica do sofá Pleats Pleats? A estrutura foi construída de raiz, a partir de tubos de aço, de modo simples e claro conferindo uma certa dose de romantismo à peça. Na minha opinião, o mais importante no sofá é o trabalho que foi realizado em tricot. A parte tricotada deriva da ideia de escala grande, como se fosse uma alusão ao tema de Alice no País das Maravilhas. De onde provém a espuma de poliuretano cor de laranja? A espuma foi facultada por uma companhia chamada Recticel, grande produtora de espumas, desde aplicações mais técnicas, como aviões, até aplicações mais simples como têxteis para a casa. Um amigo meu, designer têxtil, depois de ver os meus desenhos recomendou-me que contactasse a empresa. Eles ajudaram-me a produzir a espuma certa para este produto. A parte tricotada da espuma é coberta por tecido elástico cor laranja e feita com a técnica de macramé. Acho interessante trabalhar técnicas antigas em combinação com novas técnicas.
O arquitecto Daniel Hedner foi o fundador de Imaginary Office, um escritório flutuante que emprega os irmãos Jesper Hedner & K arl Sandoval, ambos de fotografia e cinema. Interessa‑lhes um trabalho variado operando em cidades diferentes: Jesper vive em Shanghai, K arl em Berlim e Daniel em Paris. Para Daniel Hedner ambição é ser capaz de trabalhar de forma independente e flexível em vários domínios.
Reutiliza a espuma? Não, na fase ainda do protótipo a espuma não é reutilizada. Felizmente reutilizamo-la no trabalho final. As suas intenções parecem consistir em construir coisas que provenham de objectos do quotidiano, de materiais já usados, para depois reutilizá-los? As intenções consistem, especialmente nestes três produtos, em usar materiais simples mas em condições novas e intrigantes combinações. Eu procuro reutilizar os materiais mas criando novas situações. Conte-nos a história de Mini-lamp. Que conceito está detrás deste candeeiro? O Mini-lamp é provavelmente o meu produto favorito e aquele que tem mais carácter. Adoro desenhar objectos que alcancem um certo nível de personalidade.
Como surgiu a peça Ribbon? Estava a brincar com um pedaço de papel e a ideia surgiu. Gosto de esboçar e experimentar pequenos modelos sem saber muito bem qual vai ser o desfecho. Se não for interessante posso pô‑los de parte e mais tarde retomá-los, para decidir, com a cabeça mais fresca, qual a sua utilidade. Quais são as suas maiores motivações e aspirações enquanto designer? Para simplificar a resposta, neste momento, reunir dinheiro suficiente para alugar um estúdio para trabalhar a tempo inteiro, com a minha empresa, e encontrar um produtor interessante para os meus produtos. Por outro lado, normalmente fico motivado pelo processo criativo em si. Ser capaz de explorar criativamente alguma coisa é muito gratificante. Como designer, qual é a sua maior obsessão? Ser perfeccionista.
10
REal PEople
Felix Burrichter texto: Pedro Gadanho fotografia: Marcelo krasilcic
www.pinupmagazine.org
A revista «PIN-UP» surpreendeu o sisudo sector da arquitectura pela leveza e humor com que aborda assuntos mais sérios. Nem faltaram páginas de raparigas nuas pousadas em edifícios emblemáticos, como estamos habituados a ver nas feiras de motas. Félix Burrichter, director da revista, explica tamanhos atentados.
Pin–UP Featuring interviews with Jürgen Mayer H., Daniel Arsham, Zaha Hadid, Rick Owens, and Anca Petrescu.
Featuring Osaka ’70, SANAA, Ole Scheeren, Ettore Sottsass, Boris Rebetez, House X1, and Claude Dalle.
Porquê outra revista sobre arquitectura? Qual é a abordagem e o nicho a que se dirigem? A «PIN-UP» nasceu de um enfado pessoal com a imprensa sobre a arquitectura. Ou é muito técnica ou então é sobre pequenos melhoramentos, que se resumem a actividades de bricolage e floreados pirosos. A ideia era criar uma plataforma onde arquitectos e designers pudessem falar naturalmente e de forma informal sobre o seu trabalho, tornando a arquitectura mais acessível para quem gosta mas se afastou devido ao jargão. O objectivo era ser uma revista divertida para arquitectos e informativa para os não arquitectos. Porquê «PIN-UP» e incluir pinups ao mesmo tempo? Tem alguma inspiração em Carlos Molino e nas fotos clássicas dos anos 50? A expressão vamos ter uma pin-up é muito comum na arquitectura e refere-se àquele momento no desenvolvimento de um projecto onde colocas os desenhos na parede para ter um percepção geral do ponto em que se está. É exactamente isso que queríamos recriar na revista. Nada
Magazine for Architectural Entertainment Issue 1, Fall 2006 US$10.00/EUR9.90
Featuring Annabelle Selldorf, Christian Lacroix, Madelon Vriesendorp, Roger Bundschuh, Florian Slotawa, Lustron, Hotel Estela, EXYZT, Brussels, and Aranda/Lasch.
Magazine for Architectural Entertainment Issue 4, Summer, 2008 US$10.00/EUR9.90
Magazine for Architectural Entertainment Issue 2, Spring/Summer 2007 US$10.00/EUR9.90
perfeito, apenas um esboço de um projecto, com personalidade e ideias. Carlo Molino foi um génio que não só criou espaços e móveis muito bonitos como também levou uma vida muito interessante. Se fosse vivo estaria na nossa lista de pessoas predilectas para entrevistar. Teve nenhuma reacção de choque por quererem ligar arquitectura com entretenimento? Apesar da «PIN-UP» ser sobre pessoas relacionadas com a indústria da arquitectura, como é uma publicação bianual não fazia sentido ter uma lógica de agenda sobre as últimas edificações. Por isso tem de entreter o leitor na forma mais positiva. Tem de ter boas entrevistas, artigos inteligentes, boas imagens. É necessário não esquecer que está sediada nos Estados Unidos onde o entretenimento é um negócio sério.
Hoje em dia as leis da arquitectura são as mesmas leis da moda em termos de lógica? Ou foi sempre assim? Não sei se estou a entender a pergunta a 100%, mas a arquitectura sempre foi um sinal do seu tempo. A moda obedece a uma duração curta, muito mais curta que o planejar e construir de um edifício. Mas tendências sempre tiveram e terão um papel importante na arquitectura e mais ainda no design. Podíamos dizer que estamos a ficar mais eclécticos permitindo uma convivência mais livre entre diferentes estilos e escolas de pensamento. Como vês a imprensa de arquitectura e a arquitectura na imprensa? A «PIN-UP» ainda está a crescer, por isso sou optimista e vejo um futuro muito claro para a imprensa em geral relacionada com arquitectura.
Pode a arquitectura ser sexy? Ou são os próprios arquitectos – ou o seu star system – que realmente são sexys? Nem todas as estrelas da arquitectura são sexys mas a boa arquitectura é sempre.
12
li
f or t o M Con od ng
Pe
dr
neiro 路 St y o Ja
n er
Foto
orange street
Candeeiro de Vico Magistretti da ARTMIDE
Jarra de cristal de Veneza de Ivan Baj da ARCADE na Santos da Casa rel贸gio PHILLIPE STARK
贸culos RAY-BAN carteira vintage na Outra Face da Lua
whisky JAMES MARTIN saco de viagem GRAVIS na Hold Me
o
Janeiro 路 St y
Saco TOUS
li
f or t o M Con od ng
Pe
o dr
n er
Foto
yellow street
t茅nis REEBOK na Big Punch sapato FLY LONDON
jarras em cristal de Veneza de Ivan Baj da ARCADE na Santos da Casa cofre da ACQUA DI PARMA na Loja do Banho/Epicurista
Cap ANALOG na Hold Me cadeiras de Hee Welling da HAY na Santos da Casa
o
Pe
coral reef n er
Foto
neiro · St yli o Ja
f or t o M Con od ng
dr
o
Creme corporal COSTES
ambientador LINARI, na Loja do Banho/Epicurista sapato PATRIZIA PEPE
colar HOSS busto mealheiro da produção
cap PARIS HILTON na Kalma carteira LONGCHAMP
sabrina ADIDAS ténis LACOSTE
candeeiro AZIMUT saco TODS
pouf SCOOP cadeira para exterior da CORO e de interior da HAY na Santos da Casa
you must
josé pedro croft texto: francisco vaz fernandes
www.gfilomenasoares.com
De uma geração que protagonizou a “nova escultura portuguesa” e nasceu no pós 25 de Abril em ruptura com as linhas académicas do Estado Novo, José Pedro Croft foi o artista que construiu um percurso mais sólido mantendo ao longo da sua prática a mesma vitalidade inicial.
Durante vários anos de actividade a abordagem ao objecto da escultura e os materiais foram-se alterando conforme os processos de experimentação que foi encetando. No início abordou a desconstrução dos princípios da escultura em pedra e em bronze, passou pela relação com objectos do quotidiano culminando nos últimos anos numa relação entre linhas e formas, ou, dito de outra forma, entre o desenho e a escultura. Em 1995, quando começa a usar espelhos que desmultiplicam o espaço em torno dos objectos escultóricos, é evidente uma relação entre linhas e formas a impor-se ao artista. Na mesma época iniciava um trabalho em gravura de grandes dimensões onde as formas escultóricas eram já o pretexto para uma construção de linhas que viria a ganhar maior autonomia a ponto de se assumirem cada vez mais independentes da escultura. Nesta exposição, que se realiza na Galeria Filomena Soares, é precisamente isso que encontramos numa das salas: o confronto entre 2 esculturas de grandes dimensões que convivem com desenhos de enorme impacto. No entanto, existe uma outra sala onde os objectos ganham uma dimensão mais híbrida. Há um certo efeito de trompe l’oeil e o desenho começa a ganhar uma tridimensionalidade. Nessas peças, realizadas em ferro zincado pintado por cima, Croft lida com gramáticas próprias da pintura, do desenho, da escultura e da instalação dando-lhes um carácter único. São a prova de que este artista ainda tem muito caminho para andar sem correr o risco de se repetir.
Galeria Filomena Soares Rua da Manutenção, 80 Lisboa Telf 218 624 122 Até 9 de Maio
18
you must
Eugene O’Neill + Kafka texto: carla isidoro
www.ctalmada.pt
O Teatro Municipal de Almada iniciou dois ciclos dedicados a duas grandes figuras da literatura mundial: o checo Kafka e o americano Eugene O’Neill. José Maria Vieira Mendes partiu de «Senhores K» de Franz Kafta para conceber «Dois Homens», um texto
aclamado pela crítica especializada. A peça, que fica em cena até dia 5 deste mês, foi encenada por Carlos Pimenta, é protagonizada por Ivo Alexandre e tem música original dos Dead Combo.
Por seu lado, «Uma longa jornada para a noite» de Eugene O’Neill é encenada por Rogério de Carvalho. Este texto encerra uma história pessoal engraçada. O’Neill escreveu-o em 1941 e ofereceu-a à sua mulher quando celebraram anos de casados. No fundo tratava-se de um texto autobiográfico que abordava a decadência da sua própria família, referido como uma das peças dramáticas mais importantes do século XX. Fez a sua mulher jurar que só tornaria o texto público 25 anos depois, contando que estaria morto nessa altura. Eugene O’Neill nasceu em 1888 e faleceu em 1958. A peça fica em cena até 19 de Abril. Em paralelo o Teatro programou exposições documentais e colóquios sobre os autores.
Cristina Branco
Kronos texto: carla isidoro
www.ccb.pt
Cristina Branco leva «Kronos» à grande sala do CCB, um espectáculo que promete um enredo de temas, letras e sonoridades bastante díspar e completo. Para este último disco convidou autores portugueses que admira. Artistas que apresentam carreiras sólidas e têm marcado a cultura musical do país nas últimas décadas. Falamos de José Mário Branco, Sérgio Godinho, Amélia Muge, Rui Veloso, Vitorino, Janita Salomé, Victorino d'Almeida, Mário Laginha, Carlos Bica, João Paulo Esteves da Silva e Ricardo J. Dias. Por seu lado, as letras das canções partem de referências também: Hélia Correia, Vasco Graça Moutra, Manuel Alegre, Carlos Tê, Júlio Pomar e Miguel Farias. Cristina Branco é uma das actuais cantoras que mais longe tem levado a música popular fora de fronteiras. Conhecida como proeminente embaixadora da cultura portuguesa, escolheu para este disco o tema do Tempo.
Dia 19, Grande Auditório – CCB
20
you must
hotel
The vine texto: francisco vaz fernandes
www.hotelthevine.com
Desenhado pelo famoso arquitecto catalão Ricardo Bofill, o Hotel The Vine situado no centro histórico da cidade do Funchal, perto da marina e da Catedral, transmite um ambiente sofisticado e exuberante. Os interiores ficaram a cargo de Nini Andrade Silva que já tinha sido responsável pela decoração do Fontana Park Hotel, recentemente premiado. Desenvolveu vários ambientes em torno da história do vinho da Madeira. Mais uma vez joga-se com a combinação de elementos naturais e sintéticos e uma das zonas mais conseguidas é a área de restaurante marcada por volumes nos tectos que simulam sucalcos. A cozinha foi entregue a Antoine Westermann, um chefe com três estrelas Michelin que vai proporcionar uma cozinha gourmet que procura a união perfeita entre a culinária francesa e a da Madeira. Um dos pontos fortes deste Design Hotel é provavelmente a piscina panorâmica no último andar do edifício e o espaço spa especializado em vinoterapia.
22
297_CURVASb
AF_PARQ_210x
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
ES//
/PERFORMANC
MÚSICA//ARTE/
AÇÕES
/MODA//INSTAL
FOTOGRAFIA/ ILUSTRAÇÃO//
TEUS RIL PARA B A E D ENVIA OS O 3 IA D É S AT TRABALH P.P WWW.CC OFTORMATO@CCP.PT SAIFORAD
action partners
brand partner
you must
merci texto: francisco vaz fernandes
A imagem da Collete tem proliferado por todo mundo, em particular em Paris. A abertura de mais uma não teria qualquer significado caso este projecto não tivesse sido fundado pelo casal Marie-France e Bernard Cohen, criadores da marca Bompoint, uma referência de vestuário de luxo para criança. Acresce‑se ainda que este armazém com 1500m2 é gerido por uma fundação humanitária que tem como objectivo ajudar crianças mal nutridas de Madagáscar. Nos vários andares a poucos metros da Praça da Bastilha vai ser possível encontrar criações de Yves Saint Laurent, Stella McCartney, Marni, Isabel Marant ou ainda perfumes de Christian Tortu, assim como muitas outras marcas do mundo da moda e decoração. Como em todas as concept stores, vários outros serviços são oferecidos. Nesta há um restaurante Annick Goutal e uma biblioteca formada apenas por doações. Este projecto só foi possivel devido à grande rede de contactos dos Cohen que permitiu convencer numerosas marcas a cederem os benefícios das vendas à fundação. Quem visitou esse espaço refere a qualidade da selecção dos produtos que nada tem a ver com os modelos de lojas humanitárias que existem em vários pontos do mundo. Encontramos pela primeira vez o luxo e a ajuda humanitária conciliados.
Merci 111, Boulevard Beaumarchais, 75003 Paris Télf : 00331 42 77 00 33
24
Patrocinadores de Prémios
Parceiros Media
Co-Producção
Apoios Institucionais
Parceiros Associados
RTP2 onda curta
Hotel Oficial
Restaurante Oficial
Escola Parceira
Criação do Troféu
Apoios à Divulgação
Apoio à Comunicação
Transportadora Oficial
you must
sofia vilarinho texto: francisco vaz fernandes
A paredes-meias entre arte e moda, os trabalhos de Sofia Vilarinho expostos na galeria Bernardo Marques têm referências a discursos que vêm da Body Art dos anos 70 e da Abject Art dos 90. Os objectos, que podem ser entendidos como jóias funcionam como próteses, zonas pilosas anómalas que se podem aplicar no corpo e podem ser vistos como pontos singulares de beleza. Põe os cânones em questão. A designer, que tem desenvolvido o seu percurso fora das passereles convencionais e tem pensado a sua obra como objectos – vestíveis ou não - em torno da identidade feminina e do traje essencial para a condição social do ser. A performance tem sido o terreno ideal para expor os seus trabalhos e o que podemos ver na Bernardo Marques é o resultado de um projecto transdisciplinar que conta com a cumplicidade de outros artistas. Nesse sentido teremos, para além da exposição dos objectos jóias em si, o registo performativo de Raquel Nicoletti, um trabalho em vídeo de Bruno Canas e fotografias de Rodrigo.
www.bernardomarques.com
Topografia Feminina Galeria Bernardo Marques Rua D. Pedro V, nº 81 - Príncipe Real - Lisboa. Até 23 de Abril
chapéus texto: roger winstanley
www.vam.ac.uk
A exposição “Hats, an Anthology” inaugurada recentemente no Victoria & Albert Museum, em Londres, tem suscitado muita curiosidade e já é apontada nos roteiros turísticos como um dos grandes eventos do ano da capital inglesa. Stephen Jones, uma das figuras mais controversas do mundo da moda pela sua excentricidade e considerado o mais importante chapeleiro de Londres, foi encarregado de fazer a escolha para esta exposição dando-lhe uma visão muito particular. Esta é a primeira exposição sobre chapéus no Victoria & Albert Museum e é, no mínimo, uma mostra ecléctica. Para além dos pertences de grandes celebridades como os de Boy George, Marlene Dietrich ou Isabella Blow, temos ainda exemplares históricos do séc XX ou ainda banalidades como uma tiara de plástico de criança. Todos eles expostos sobre corredores de buxo aparado como se fosse um jardim barroco no interior das sumptuosas salas do museu. Como não podia deixar de ser houve ainda a preocupação de mostrar projectos de chapeleiros mais recentes como Noel Stewart, Nasir Mazhar (antigos alunos de Jones), assim como as suas próprias criações, algumas delas para Marc Jacobs, Dior, Galliano e Comme des Garçons.
Até 10 de Maio.
26
you must
red crocodile texto: sofia saunders fotografia: Terry Richardson
www.lacoste.com
A Lacoste, com o objectivo de atingir um público mais jovem, dos 15 aos 25 anos, lançou nesta primavera uma nova linha que será conhecida por Lacoste Red. Traz na etiqueta um ponto de exclamação a vermelho ao lado do tradicional crocodilo. Para o lançamento da primeira linha Christophe Lemaire escolheu dois temas para o Chelsea e Charing Cross. O primeiro nasce sob o espírito Mary Quant, é muito 60’s, muito trendy, muito clean e super cingido ao corpo. O segundo tema é um pouco mais street golf com as cores pop do Andy Warhol, referências musicais dos anos 60 e o Hip Hop do início dos anos 80. Os cortes slim-fit são a regra nesta nova linha. Até o clássico pólo sofre uma reviravolta e assume uma gola mais estreita, uma carcela mais fina com apenas dois botões e uma parte de trás mais comprida. Para os rapazes, há ainda um refresh do icónico monkey jacket e também daquele que vai ser o must da estação, um casaco em piqué pesado. Para raparigas, os pólos surgem numa combinação masculina mas com apontamentos femininos. Frisos de cor em contraste na gola, manga e bolso animam estes pólos e a carcela mais longa oferece um toque de sedução à linha do decote. A acompanhar este movimento de juventude a Lacoste convidou Terry Richardson para fazer as fotos da campanha.
27
you must
art-deco jewels texto: sofia saunders fotografia: Patrícia Schwoerer
www.cartier.com
Para promover a última colecção de jóias da Cartier a casa parisiense muniu-se de duas grandes especialistas em still life, Patricia Schwoerer na fotografia e Laetitia Advocat na direcção de arte, que criaram um ambiente gráfico surrealista a preto e branco. O objectivo era valorizar o vocabulário geométrico da Cartier, uma herança da Art-deco e do início do século XX. As fotos, tal como esta coleção de jóias, vivem de contrastes simples, do preto e do branco, da sombra e da luz, da noite e do dia, do masculino e do feminino.
rockabilly jewels texto: sofia saunders
www.tous.com
Depois de Kylie Minogue ter criado uma linha de jóias para a Tous sob o signo Music is Life, o joalheiro catalão volta a investir no segmento da música ao propor a linha Betty com referências no rockabilly. A presença de um laço em prata é a principal característica desta colecção remetendo para a feminilidade das jovens dos anos 50 que desenhavam os primeiros passos de emancipação e rebeldia impulsionadas pelos excessos das mensagens do universo Rock. Tal como no passado, Betty representa hoje o espírito rebelde por trás da aparente serenidade feminina.
28
you must
1.
2.
lisboa fashion week
3.
texto: francisco vaz fernandes fotografia: Rui Vasco cortesia da Moda Lisboa
www.modalisboa.pt 4.
5.
Salvo raras excepções na 32ª edição da Moda Lisboa dominou a cor preta. Nem o mote Heartcore que poderia apelar a algo emotivo suavizou o lado racionalista dos criadores que procuraram criar para o inverno de 2010 colecções práticas e vendáveis. Em geral trabalhou-se muito sobre volumes e ombros, seguindo uma das tendências mais fortes para o próximo ano. Não obstante, as colecções de Luís Buchinho, Pedro Pedro, Aleksandar Protich, Ricardo Dourado e Lara Torres foram as que tiveram apontamentos mais originais. Luís Buchinho trabalhou volumes a partir de drapeados que criavam um movimento de fólio muito interessante nas pernas e nas mangas. Protich desenvolveu ombros com volumes quadrados que caíam como insuflados e Dourado fez alguns jogos de escalas como uma flor no pescoço que obstruía parte da visão da manequim. Por sua vez, Lara Torres guiou o seu experimentalismo para mangas, corpetes e vestidos em papel craft com silhuetas barrocas que aligeiravam o peso e densidade negra dos tecidos. Uma das colecções mais singulares seria a de Pedro Pedro, desenvolvida a partir de formas tubulares e da fluidez de tecidos com alguma inspiração oriental e nos anos 20. Destacouse pela combinação difícil de padrões e texturas que em alguns coordenados se tornava notável.
6.
Fica ainda o registo de Dino Alves, o criador que melhor domina a performance na passerelle tendo criado ao início do seu desfile um momento de delírio quando várias empregadas de limpeza com baldes e esfregonas entraram ao som de uma música pimba. Regressariam no final, esfregando e empurrando o criador endeusado sobre um plinto com rodas.
7.
8.
1. Luís Buchinho 2,3. pedro pedro 4. Aleksandar protich 5. Ricardo Dourado 6. Lara Torres 7. Filipe faísca 8. aforest design
29
you must
não é um carro, é um mito texto: vasco vieira da silva
www.alfaromeo.pt
É sabido que os Alfa Romeo são carros desportivos, diferentes, especiais, e há até quem acredite que têm uma imagem sem igual. E não será para menos. Seja pelo design italiano, pela tecnologia inovadora ou pela enorme raiz desportiva, acontece que um Alfa é mais do que um carro. No caso da mais recente coqueluche da casa italiana, trata-se mesmo de um Mito. Os argumentos que a Alfa Romeo juntou para fazer do novo Mito um verdadeiro ícone dos automóveis desportivos são muitos, e todos somados resultaram num carro que oferece uma relação de peso e potência única. Como é hábito nos Alfa, a diversão na condução está sempre em primeiro plano. As linhas estéticas são agressivas sem esquecer a elegância “à italiana”. As motorizações à escolha são várias, mas o destaque vai para a mais “crescida”: 200 cavalos num motor a gasolina animado por um turbocompressor dão vida ao espírito competizione que marca o MiTo. Para controlar esta alma irrequieta, a marca construiu um chassis como se de um carro de competição se tratasse. Usou materiais como o carbono e o alumínio na carroçaria, nos travões e no chassis com o principal objectivo de fazer um carro muito ágil. Em matéria de segurança o Mito também não deixa dúvidas: alcançou cinco estrelas na classificação Euro NCAP, ou seja, mais seguro seria difícil, mais cuore desportivo não seria fácil de obter. A juntar a todas estas atenções há ainda um detalhe mais engraçado, é que o Mito pode ser todo personalizado de acordo com os gostos e preferências de cada um. Do motor às jantes, passando pelos interiores e acabando no nível de equipamento, tudo pode ser escolhido ao gosto do cliente. Faça o teste e comece já a construir o seu Mito.
30
you must
banhos mediterrânicos texto: sofia saunders
www.diptyqueparis.com
Inspirada nos aromas do Mediterrâneo, a Diptyque criou uma linha de banho composta por cinco produtos, cada um eleva uma mítica cidade da região. O gel de banho é inspirado em Allepo, um tónico refrescante de flor de oliveira. O creme de corpo em Alexandria e cheira a flor de laranjeira. O creme de corpo pode ser visto como uma experiência turca com cheiro doce a rosa bizantina. O bálsamo de mãos é inspirado em Córdova e liberta um aroma a alperces. Por último, o óleo de banho lembra a elegância aristocrática da essência de Pallida Íris florentina. Todos os aromas podem ser combinados e misturados entre si. Mas talvez o mais interessante é serem isentos de alumínio, corantes sintéticos e sulfatos derivados de petroquímicos, fazendo destes produtos 100% naturais.
hiper glam parfum texto: sofia saunders
www.moschino.it
A Moschino lança a sua nova fragrância couture dentro de um espírito hiper glam. A alma deste novo perfume, Glamour, resume-se na imagem da campanha onde a top model italiana Maria Carla Boscono passa uma madeixa de cabelo pelo lábio superior simulando um bigode, não perturbando a sua feminilidade. É um perfume tipicamente Moschino, ambíguo e sedutor, com uma fragância floral, aquático, com notas de bergamota, tangerina, peónia, rosa, sândalo e almíscar. É de referir ainda que o frasco, que explora o formato de um coração, é de cristal polido com uma capa de metal dourado trabalhado com relevos nas bordas. Enriquece de sobremaneira a aparência do produto e confere um ar feminino e sensual. A tampa é em alumínio anodizado de cor vermelha, que em conjunto com o tom dourado predominante do frasco confirma o glamour e estilo clássico do produto.
31
soundstation
«You» foi lançado em Novembro do passado ano de 2008. Até aí chegar, Francisca Cortesão
foi compondo e trabalhando as músicas a solo até se juntar a outros músicos que deram origem aos Minta. O Ep apresenta cinco canções (“A
song to celebrate our love”, “The booze”, “Scared for you”, “Search skin deep” e “Are you going to make me sorry?” ), onde o registo bucólico com
carácter intimista é mantido intacto ao longo dos 15 minutos que totalizam as faixas.
A ligação musical entre Francisca Cortesão e Filipe Pacheco já remonta ao tempo em que fundaram os Casino. Entretanto Francisca decidiu lançar-se a solo e começou a compor canções e a gravá-las em casa, utilizando o myspace como plataforma para se dar a conhecer enquanto cantautora . “Minta não é bem o meu alter-ego, porque tenho tido o prazer de trabalhar com outras pessoas, entre as quais as que gravaram o disco comigo: o José Vilão na bateria e percussão, o Filipe Pacheco na guitarra e o Nuno Rafael nas vozes, um dos músicos e produtores cujo trabalho mais admiro. Mas também não é bem uma banda. Como fazem muitos cantautores ou singer-songwriters, toco com músicos convidados ou a solo conforme as circunstâncias.
Quando comecei a odisseia no myspace usei o meu nome, o do bilhete de identidade, para mostrar as músicas que tinha gravado em casa completamente sozinha. Nessa altura não tinha banda, por isso vi a Internet como uma boa ferramenta para mostrar as canções, à falta de concertos. Pus as primeiras faixas online em Janeiro de 2007. Entretanto, naturalmente, foram surgindo concertos a solo. E depois convidei outros músicos. No Verão do ano passado, gravadas aquelas canções com a intervenção de outras pessoas, surgiu um novo nome, Minta, para designar esta nova fase, de «quase-banda».”, refere Francisca. Ingressou na música aos nove anos quando começou a aprender a tocar piano. Na adolescência trocou o piano pela guitarra influenciada pelos Nirvana, Smashing Pumpkins, Radiohead e, mais tarde, Pixies e Breeders. Em 1997 co-fundou os Casino, banda onde tocava guitarra, teclas e era a voz principal. Em 2001 foi editado o álbum pela EMI mas três anos depois o projecto terminou. Outros três anos passaram até Francisca Cortesão voltar a solo com as músicas que fazem parte deste primeiro EP dos Minta.
O EP, segundo a Francisca, “foi gravado ao longo de dois anos, 2007 e 2008, entre a minha casa e o estúdio Golden Pony em Lisboa e produzido a meias por mim e pelo Nuno Rafael. (...) Até agora tenho ficado lisonjeada com as comparações que têm sido feitas a Laura Veirs, Feist, Catpower… É de facto nesse universo que sinto que a minha música cabe. “ As perspectivas em relação aos Minta são bastante positivas. Após o lançamento do EP e da inclusão de um dos temas do EP na compilação Novos Talentos Fnac 2008, Francisca continua a compor músicas que vai testando nos concertos enquanto se prepara para um futuro álbum. “Álbum no sentido de longa-duração, talvez para o ano… Para já tenho tentado concentrar‑me nos concertos, em mostrar a melhor versão possível das músicas que saíram no disco e ir descobrindo as outras. De um próximo disco podem esperar‑se algumas canções mais aceleradas, quero que as pessoas possam dançar a ouvir Minta.”, acrecenta. Para já fica o EP e a agenda de concertos para disfrutar sem moderação.
You.
minta.
texto: nuno sousa fotografia: vera marmelo
«You» é o resultado de uma jornada a solo que se tornou numa “quase‑banda” designada Minta. Francisco Pacheco, José Vilão e Nuno Rafael juntam-se a Francisca Cortesão em 15 minutos de música de amores inquietos.
www.myspace.com/mintamusic
32
33
soundstation
Tal como Angola tem relações mais intensas com o exterior, a música de Paulo Flores parece reflectir esta nova fase do país. Estão ambos a actualizar-se, a fundir-se com o Mundo e a criar novas realidades. «ExCombatentes» é o nome da trilogia que decidiu lançar agora e apresentar ao vivo este mês nas cidades de Lisboa e Porto. Baptizou os discos de «Viagens», «Sembas» e «Ilhas», de acordo com a história que cada um encerra. Existe um fio condutor e pontos em comum entre todos, embora cada um tenha uma direcção. O primeiro nasce de uma viagem que fez a alguns países africanos como o Chade, Zimbabwe ou Gabão e da música que aí ouviu. Para este disco convidou Jaques Morelenbaum, usou instrumentos pouco comuns na música popular angolana como o vibrafone ou o piano Rhodes, introduziu violões africanos tocados por Manecas Costa, cantou em crioulo cabo‑verdiano e avançou com segurança num funk. Contudo, dos três, «Sembas» é o disco mais transgressor. “Em Angola vão dizer que não é semba e isso é a coisa mais fantástica.”, diz na entrevista. Para isso contribuem os arranjos de cordas de Morelenbaum ou Nástio Mosquito com spoken words em ritmo kilapanga. Flores explica-nos o contexto: “O disco tem aquele semba que se faz de forma tradicional mas também aquele que já é um semba-bossa. Lembro-me que «Meu amor quando me beija»
foi uma espécie de sonho que era eu a cantar nos Anos 30 em Angola, a preto&branco, com um daqueles microfones e uma orquestra. Isto nunca existiu, é lógico, mas sou filho disto tudo, da bossa nova e de todas estas influências.” Flores está a atravessar, ou melhor, a entrar numa nova fase musical que inclui declaradamente a experimentação, o risco, a inovação e a mistura de influências sem descaracterizar-se. O interesse estrangeiro por Luanda está a explodir, enquanto ela, a cidade, implode dentro dos seus limites. As falhas constantes de luz e água contrastam com uma velocidade de construção alucinante, um tráfego comparável ao de metrópoles como S. Paulo e um nível de vida elevado que a levou a ser considerada, em 2007, a cidade mais cara do mundo. “Lembro‑me que há seis anos as pessoas saíam do emprego e iam à praia. Para todos nós havia uma referência que era o Tempo… esse espaço existia. (…) Hoje é como Manhattan, ou pior.” Da antiga Avenida dos Combatentes da Grande Guerra (Comandante Valódia depois da independência), Paulo Flores vê da janela uma cidade em transformação onde uns miúdos vendem sabonetes e camisolas junto à estrada enquanto outros grafitam Mona Lisa nas paredes. “A música africana, ou África, vive muito das imagens que os outros têm dela. Este trabalho quis fazer a imagem que nós, vivendo nos
Combatentes com todas as suas condicionantes, temos de nós próprios e dos outros que têm imagens de nós. No fundo é tentar pela primeira vez ter uma abordagem com esta liberdade de dizer ‘eu tenho uma visão do mundo e faço parte desse mundo também’. Esta é a principal característica daquilo que entendo que foi a minha criação.” Flores pôs-se à prova e entrou noutra pele para dissociar-se de determinados estereótipos e rótulos. Era urgente fazê-lo agora. “No mundo inteiro as pessoas vivem com medo de fazer alguma coisa musicalmente. Investem milhões de dólares mas não vez nada audacioso, ninguém está a criar, falta carisma, iniciativa…liberdade de expressão (…) Perdese toda a autenticidade e a possibilidade do artista fazer algo mais singular. Quero mesmo pisar terrenos onde existe uma insegurança.” O terceiro disco da trilogia oscila entre Portugal, Brasil, Cabo Verde e Angola. Em «Ilhas» uma vez mais a primazia foi dada a influências que marcaram a construção da identidade e carreira do cantor. Convida Mayra Andrade que canta Vinicius de Morais, toca um blues influenciado por Muddy Waters, vai buscar Manuel de Novas (que Cesária Évora tantas vezes canta) e passa por Angola das décadas de 60 e 70 com Murimba Show. Se o mundo tem os olhos postos na economia de Luanda, a cidade retalia poderosamente através da música. E Paulo Flores contribui para aquele a que chama de “o novo Homem angolano”.
O novo Homem Angolano.
paulo flores. texto: carla isidoro fotografia: Iuri Albarran
Não se fez rogado. Acaba de lançar três discos e não quer preocupar-se com as críticas. Tinha de fazê-lo, agora ou nunca. Paulo Flores mergulha o Mundo em Angola e leva a música mais longe do que poderíamos esperar. www.myspace.com/florespaulo Dia 9, Cinema S. Jorge – Lisboa Dia 18, Casa da Música - Porto
34
35
soundstation
O efeito é quase sempre o mesmo, quer se fale num obscuro projecto de funk rock de Detroit ou de um “latin brother” nascido no bairro Spanish Harlem, em Nova Iorque: traduziram o seu tempo com música de eleição que mostrou saber resistir às décadas por ter estado, na sua maior parte, confinada a poeirentas rodelas de vinil que os djs nunca se fartaram de procurar e, quando tinham a sorte de as encontrar, de tocar. Joe Bataan é um destes “milagres” modernos. Quando regressou à música em 2005 com o excelente “Call My Name”, Bataan tinha atrás de si duas décadas de afastamento dos palcos e dos estúdios. Quando a música mudou, nos anos 80, Joe dedicou-se a trabalhar com jovens problemáticos num reformatório em que ele próprio tinha estado na adolescência. Entretanto, à sua volta, uma outra cultura despontava, revalorizando as raízes e o passado. O título ostentado na capa do novo álbum de Joe Bataan é perfeitamente adequado: “King of Latin Soul” é um álbum em que Bataan revisita o seu passado acompanhado por uma nova geração de músicos que demonstra ter estudado atentamente as suas gravações clássicas. Em temas como “Mestizo”, “The Bottle” (o original de Gil Scott‑Heron em que Bataan injectou um tremendo balanço), “Gipsy Woman” ou “Rap-o-Clap-o”, Bataan mostra estar ainda no topo do seu jogo e deixa claro que não há groove que não domine. Com classe e com um saber de décadas que nunca se esquece, independentemente do hiato.
Em 1965, Joe Bataan voltou-se para a música depois de uma infância típica para um jovem porto-riquenho em Nova Iorque: liderou um gang de rua —os Dragons (Afrika Bambaataa cruzaria as ruas do Bronx com os Black Spades alguns anos depois)— foi preso por roubar um carro e metido num reformatório. Em 1967, “Gipsy Woman” (original dos Impressions de Curtis Mayfield) marcava a sua estreia na mais efervescente editora da Grande Maçã —a Fania, laboratório de invenção do fenómeno salsa onde músicos afro-caribenhos cruzavam os ritmos da sua cultura com a soul, o funk e o rock que eram propagados pelas rádios. Bataan tinha aprendido a sobreviver nas ruas pelo que os jogos de bastidores das editoras nunca o derrotaram: tendo consciência do seu crescente poder enquanto artista, Joe acabou por abandonar a Fania por achar que não estava a ser devidamente recompensado em termos monetários. Foi nessa altura que formou a sua própria Ghetto Records e que mergulhou no submundo da pornografia— o seu principal financiador era um prostituto gay e algumas estrelas porno chegaram mesmo a gravar sob a sua orientação. Um homem tem que fazer o que um homem tem que fazer. Apaixonado pelo mundo musical das suas raízes latinas e pelos sons que emanavam das ruas de Nova Iorque, Joe foi um dos responsáveis por cunhar o termo Salsoul, que haveria de dar nome à editora a que se ligou de seguida. Intimamente
relacionada com o fenómeno disco sound, a Salsoul acabou por se extinguir quando os anos 80 trouxeram novas sonoridades e a estratégia para fabricar hits se alterou da pressão exercida pelos DJs junto das pistas de dança para a emergente MTV. Bataan ainda acompanhou os tempos com um dos primeiros hits de hip hop de sempre —o clássico “Rap-o-Clap-o”— mas não tardou a equacionar um futuro longe da música. Foi por isso com surpresa que o mundo o acolheu em 2005 quando regressou na Vampi Soul com um excelente “Call My Name” produzido pelo mesmo Gabriel Roth da editora Daptone que se responsabilizaria pelo som retro de Amy Winehouse. Agora, à beira de uma nova década e com mais de 40 anos decorridos sobre a sua estreia, Joe Bataan mostra-se revigorado e preparado para enfrentar os palcos com o ritmo que diggers, djs e coleccionadores não deixaram morrer: os clássicos da Fania e da Salsoul gravados por Joe Bataan e por outros músicos da sua geração como Harvey Averne ou Ralfi Pagan revelaram-se preciosas peças de colecção, plenas de modernidade e de groove intemporal. Por isso mesmo, recomeçar em 2005 foi quase como se nada se tivesse passado e como se o intervalo tivesse sido apenas um piscar de olhos. “King of Latin Soul” é uma reafirmação da sua longevidade e um óptimo pretexto para voltar aos palcos. E milagre, agora, seria tê-lo em Portugal para um concerto.
JOE BATAAN.
Rei do L atin Soul. texto: Rui Miguel Abreu
O mestre de todas as coisas boogaloo revisita alguns dos momentos altos da sua carreira. No novo álbum surge acompanhado por Los Fulanos, dignos herdeiros da sua arte que se encontram baseados em Barcelona. www.joebataan.net
36
37
viewpoint
Para quem optou pelo desenho como base do trabalho artístico talvez seja surpreendente ter arrecadado em Março o Pulse Prize, na Pulse Art Fair de Nova Iorque, a principal feira de arte contemporânea dos USA, conhecida por dar grande relevo a artistas que usam novas tecnologias. Se analisarmos com um pouco mais de atenção, verificamos que o tradicional desenho de Eric Beltz incorpora uma retórica da construção da imagem que é comum ao cinema, vídeo e fotografia, e, então, talvez o prémio na Pulse não fosse tão descabido. Na verdade, o seu desenho não procura atingir singularidade gestual dentro da tradição modernista. O seu traço parece um remake de uma certa estilização da ilustração publicitária dos anos 50, durante o auge do idealismo nos EUA. Já o conteúdo dos desenhos incide na desconstrução do imaginário colectivo americano em relação à sua origem. Para muitos dos seus concidadãos a chegada dos pioneiros puritanos é comparável à passagem bíblica da fuga para o Egipto. É essa mística fundamentalista germinada na pradaria, vista como um novo Éden, que ainda alimenta uma certa América profunda detentora da verdade e do bem, imbuída da ideia cristã de salvar o mundo. De certa forma muitas comunidades religiosas ou seitas ainda vivem diariamente esse éden imaginário. O filme «The Village» (2004) de Night Shyamalan também se refere a esse ideal de uma comunidade parada no tempo com medo de tudo o que possa acontecer para além do seu perímetro. Nesse sentido as imagens de Eric Beltz confrontam essa visão romantizada mostrando uma outra paisagem moral onde o colono americano, depredador, munido de utensílios mutilantes, convive rodeado de animais mortos e de árvores cortadas. O fanatismo religioso das primeiras colónias também está presente no desenho a partir de frases messiânicas retiradas da bíblia. No conjunto, os seus trabalhos procuram restituir a visão de um pioneiro que procura sobreviver pretendendo dominar uma natureza inóspita que o ultrapassa e submete ao desespero. Esta maneira de ver, que lhe parece ser sensata, não procura condenar nem moralizar. Busca apenas implementar a contradição, a ambivalência e a multiplicidade que ultrapassam a linha única, simplista e idealizada que tantas vezes prevalece na América tendo por base uma mitificação das suas raízes.
e r i k b e l t z texto: francisco vaz fernandes
www.ericbeltz.com
38
39
40
41
grande entrevista
42
grande entrevista
carlos vaz marques. .
Histórias do apeadeiro texto: carla isidoro fotografia: luísa ferreira
É um talentoso caçador sem nunca ter pegado numa espingarda. O Senhor Entrevista, como já o apelidaram, entrevistou bem mais de oitocentas pessoas. É um ávido curioso que partilha com os ouvintes e leitores as coisas que todos gostaríamos, um dia, de perguntar a figuras importantes. Mas desta vez quem segurou no gravador fomos nós. Coisa rara, Carlos Vaz Marques foi entrevistado.
twitter.com/cvazmarques
43
grande entrevista
Carlos, um bom entrevistador deve ser um bom conversador? Suponho que sim. Considera-se um bom conversador? Tricky question (risos). Um bom entrevistador terá de ser alguém que escute bem. Gosto de conversar e sobretudo de ouvir os outros. Agora estou numa situação um bocadinho anómala para o meu gosto… Porque é que, em geral, gostamos de ler ou ouvir entrevistas? Uma vez o escritor espanhol Francisco Umbral, que morreu há dois anos, disse-me uma frase que acho que resume a razão por que gosto de fazer entrevistas e a razão por que gostamos tanto de conversar uns com os outros. Disse assim: “uma vida são todas as vidas”. Portanto, em certo sentido, de cada vez que estou a conhecer a vida, a experiência, as opiniões ou reflexões de alguém, estou a projectarme naquilo que está a ser dito por comparação ou contradição. O que é verdadeiramente interessante é o facto de nesse jogo, quando estamos a ler uma entrevista ou a ouvir alguém a falar da sua experiência, estarmos a projectar-nos nessa experiência por contradição ou semelhança e ao mesmo tempo a fazer uma espécie de balanço avaliando aquilo que está a ser dito e conhecendo mais. Como que estamos a escavar um bocadinho mais fundo a nossa própria mina vendo o trabalho de escavação que outro faz sobre si próprio. Interessa-nos saber o que os outros têm a dizer para nos posicionarmos. E muitas vezes nesse processo estamos a descobrir-nos a nós próprios.
Disse-me no chat do Facebook “é assim que conheço as pessoas, entrevistando‑as”. Isto é muito engraçado. É verdade. Conheci várias pessoas porque as entrevistei e com algumas mantenho contacto, mais frequente ou menos frequente. Quantas pessoas já entrevistou? A última contagem já ia acima das oitocentas, só na rádio. Mas às tantas irritei-me, fiquei com a sensação de ser um pistoleiro do far west que entrevistava e fazia mais um risco no coldre, de ser uma coisa mecânica do tipo ‘ah, já aviei mais um’ (risos). Passou a ser tudo muito caça e a perturbar-me que fosse demasiado isso. Já alguém lhe recusou uma entrevista? Já. Quem? Não vou dizer quem é. É uma actriz, andou a hesitar durante uma série de tempo. Fiquei aborrecido por causa do adiamento. Mas foi um caso… Quando era miúdo brincava às rádios? Não. Não ouvia rádio. O que é que queria ser em criança? Queria ser pica-bilhetes.
Às tantas irritei–me, fiquei com a sensação de ser um pistoleiro do far west
Já entrevistou figuras tão díspares como o Bruno Aleixo ou o Dalai Lama. Como é que escolhe os convidados? Vendo bem, o Bruno Aleixo e o Dalai Lama não têm nada em comum (risos). Escolho-os por aquilo que acabei de dizer, pela suposição que são pessoas cuja experiência pode acrescentar alguma coisa às vidas de quem os ouvir. Não há um método de escolha, há uma série de factores. Para o programa criei um lema que é “Gente que faz a diferença”. A ideia é ser gente que não fala por uma cartilha, que tem uma reflexão própria sobre as coisas, uma forma de estar própria. O que é que entrevistados como o Dalai Lama lhe trouxeram de novo? O Dalai Lama em concreto foi uma experiência engraçada. Há aqui uma componente de caça na entrevista —digo isto mas eu nunca fui à caça. Há troféus mais valiosos uns que outros.
E ele é um dos mais valiosos. Ele é mais valioso. Nesse sentido é alguém que sendo uma pessoa especial era também especial conseguir falar com ele. Deu-me a satisfação de ter obtido a entrevista, depois só posso dizer que é uma pessoa muito simpática. Numa entrevista de meia hora eu estava mais preocupado em que ela resultasse escorreita do que propriamente em aprofundar uma amizade com o Dalai Lama. Não mudei muito a percepção sobre ele na entrevista. Mudei mais por tudo o que li para me preparar. A coisa que mais me surpreendeu foi o facto de falar muito mal inglês, mas tinha lá um secretário ao lado que lhe soprava sempre a palavra que faltava. Uma espécie de ponto.
O pica dos autocarros? Sim. Uma vez alguém me deu o alicatezinho do pica-bilhetes e eu em casa obrigava as pessoas a mostrar o bilhete e picava. É capaz de ter algumas explicações freudianas interessantes mas não me atrevia a fazer grandes especulações sobre esse assunto.
Não vamos por aí. Voltando às novas tecnologias, com a chegada da Internet questionou-se muito o futuro dos media clássicos. Hoje ouve-se menos rádio? Acho que não. Acho que se ouve tanto ou mais mas ela perdeu notoriedade social, tem menos capacidade de chamar a atenção. Se calhar deixaram de ouvi-la em casa, ouvem no carro ou nos computadores. Há uma nova utilização que não é a hertziana nem a rádio em directo, é a rádio a la carte.
Também vai esmorecer no Twitter? Completamente, não me estou nada a ver daqui a cinco anos a pôr mensagens no twitter. Depois há coisas permanentes como os livros….As coisas de interesse permanente são os livros e as viagens. É preferível estar nessas plataformas digitais do que não estar? Não posso dar conselhos a ninguém. Pode haver o discurso geek e totalitário de agora ser mesmo preciso senão não somos ninguém. Não adiro nada a esses discursos. Conheço gente excelente das mais diversas áreas que se está perfeitamente a borrifar para o Twitter. Não é nenhuma obrigação nem há necessidade de saber o que é o Twitter, quanto mais ir lá pôr mensagens. No prefácio do livro que traduziu recentemente, «O Japão é um lugar estranho» do Peter Carey, diz que há uma fase em que os pais se apercebem que estão a começar a aprender com os filhos. Gostava de saber o que é que deu a conhecer aos seus pais para eles aprenderem consigo. Ufff… Não sei. Os meus pais não tinham interesse pela maioria das coisas pelas quais eu me interessava.
Encontro-o facilmente no Facebook e no Twitter. A entrada no mundo digital foi natural ou sentiuse de alguma forma forçado? Nada forçado, sou um curioso. Uma pessoa metese naquilo e logo vê o que sai dali. Tive um blog durante muito tempo que depois suicidei, andei muito entretido com aquilo. Gasto bastante tempo a explorar e depois começa-se a perder algum do interesse. Porque é que matou o blog? Porque me gastava muito tempo, porque sentia uma obrigação…fazia parte de uma comunidade, tinha uns a linkar outros e sentia a obrigação de acompanhar o que os outros estavam a escrever. Era nesse processo que gastava a maior parte do tempo. Depois esmoreceu-me o entusiasmo. Ou melhor, canalizei-o pra outro lado.
44
carlos vaz marques
Havia um fosso de gerações. Sim. Suponho que tem muito a ver com a minha geração. Os meus pais são um produto do Estado Novo, do Salazarismo, e eu sou um produto do 25 de Abril. Dois mundos bastante distintos. O que é que lhes ensinei? Não sei….Tinha que lhe contar quem eles eram primeiro. No livro, Peter Carey fala da influência que o filho tem da manga e anime japonesas, tal como o seu também tem. Tinha, aquilo é passado. Hoje ambos têm 18 anos e já não gostam tanto. Mas acabou por ir com o seu filho ao Japão por causa daquele fascínio, e o Carey também foi com o filho dele. Como é que antevê a cultura ocidental pop daqui a uns anos vendo a força que a China e a Índia estão a ter, por exemplo? Vai ser diferente. Já está a ser diferente. Há uma série de elementos que já entraram e são parte da nossa cultura de massas, mesmo que não demos conta. A começar pela manga e pela anime. Quando era adolescente nunca tinha ouvido falar delas. E considerando que há uma aceleração nestes processos e que hoje as coisas são mais rápidas assim como as mudanças culturais, daqui a 10 anos as coisas serão diferentes. Mas a minha bola de cristal anda um bocadinho embaciada…o que vai ser, não sei. As entrevistas que faz fazemno viajar de alguma forma? Fazem, claro, se considerarmos que viagem é tudo o que nos faz sair de nós próprios. Sinto que no programa de entrevistas e até na colecção de livros de viagens que coordeno sou uma espécie de apeadeiro. Por ele vão passando comboios, e eles são as pessoas que entrevisto ou os livro que proponho. Depois as pessoas que vão ao apeadeiro podem ficar só a ver o comboio ou apanhá-lo para onde ele for. Fico muito satisfeito quando me dizem ‘comprei o livro daquela pessoa com quem falaste e adorei’. Sinto que valeu a pena. É a sensação de ter proporcionado a alguém ter entrado no comboio e seguido viagem, na qual tive um papelzinho.
No seu livro MPB.pt, o Chico Buarque diz uma coisa curiosa: “não acho que a literatura seja a coisa mais importante na minha vida nem na vida de ninguém”. Que importância tem a literatura na sua vida? Não é a coisa mais importante. Bem… considerando que estou sempre a ler alguma coisa, deve ter alguma. Mas se eu trocava um livro por uma pessoa, ou uma pessoa por um livro, não trocava. Que livro ou livros guarda com carinho? Não sei se a palavra carinho —prá desarrumação em que aquilo está— é adequada. Mas que guardo, guardo. Um que o tenha encantado. Li dois que me encantaram recentemente. Um é de uma brasileira chamada Adriana Lisboa, «Rakushisha». É um daqueles raros livros que não tem uma palavra a mais ou a menos. É passado no Japão. O outro chama-se «O Mundo», do espanhol Juan Jose Millás. E este é uma auto-biografia ficcionada, escrita de uma forma extraordinária. O tema do Millás, dos seus livros, é sobre aquilo que está por detrás daquilo que nós vemos. Ele é um platónico.
Os meus pais são um produto do Estado Novo, eu sou do 25 de Abril
Como é que arranja tempo para ler e manter esse prazer? Não tenho horários.
Se não fosse jornalista o que é que gostava de ser? Astronauta. Vê-se noutra profissão? Não, e isso é lamentável. Mas…gostava de ser músico e tocar trompete. Última pergunta. Na entrevista que fez ao Alvin Tofler ele disse-lhe que “não há futurologia baseada na intuição, só na razão”. Como é que vê o seu futuro? O outro dizia que a longo prazo estamos todos mortos. Chega assim?
Mas dorme? Durmo mas sou uma pessoa regrada, sou muito certinho. Cumpro os horários, organizo-me, faço listas….nesse sentido sou bastante auto-burocrático. Mas gostava de dormir só três horas por noite, dava jeito. E música? O que é que ouve? Estou a aprender umas coisas com o meu filho. Ele anda à volta da guitarra, tem uma banda, e eu não ligava nada a monstros sagrados como o Jimmy Hendrix. Voltamos à tal aprendizagem com os filhos. Sim, imensa. Por exemplo, entrevistei o Bruno Aleixo por causa do meu filho. Pôs-me a ver os episódios todos, rimo-nos imenso e assim nasceu a ideia de entrevistar uma personagem. Foi o meu filho que me apresentou.
E é insólito na sua lista de entrevistados ver o Bruno Aleixo lá metido no meio. Ahahahaha! Há tempos fui ao encontro de escritores da Póvoa do Varzim e vem uma senhora ter comigo que diz assim: “desculpe, noutro dia houve uma entrevista e não percebi se aquilo era a brincar ou a sério, se correu mesmo mal. Era com um senhor Bruno Aleixo.” Ela achou aquilo disparatado, mas de facto era pra ser isso.
* agradecemos ao Bairro Alto Hotel
45
central parq: moda
Profusão de formas e cores. .
Custo Barcelona texto: francisco vaz fernandes
a última edição da Moda Lisboa fechou com Custo Barcelona. uma marca criada há 28 anos que a partir de 1997 se internacionalizou com um nível de sucesso que ultrapassa qualquer opinião sobre os trabalhos dos irmãos Dalmau. www.custo-barcelona.com
46
custo barcelona
As criações dos irmãos Custo e David Dalmau são em geral muito coloridas e recorrem à aplicação de padrões gráficos e sobreposição de texturas que dão uma atmosfera carregada e excessiva. São criações controversas que não são do agrado de todos, mas a verdade é que é impossível ficar indiferente. O certo é que nos 28 anos de trabalho em conjunto os irmãos Dalmau fizeram muitos fãs, o que explica o extraordinário sucesso da marca Custo Barcelona. Vestido de preto, com jeans e camisa aberta com cruz ao peito, Custo com cerca de 50 anos, recebeu-nos no hotel Albatroz em Cascais onde preparava com dois assistentes os últimos detalhes para o desfile de encerramento da Moda Lisboa. Era necessário escolher os modelos apropriados para o desfile. Entre telefonemas ia recebendo os jornalistas e pousando para os fotógrafos. Sentei‑me depois de me ter sido oferecido um café e não deixei de começar por uma questão que me intriga há anos desde que soube que a empresa Custo Barcelona foi fundada por dois irmãos e apenas um tem aparecido em público. Passando a mão pelo cabelo escorrido para trás apressase a justificar: “Tenho mais facilidade de falar e por uma questão de comodidade sou sempre eu que me dirijo à imprensa em geral, mas somos os dois responsáveis a 50% por tudo o que se passa na empresa.” A colaboração estendeu-se a mais 3 ajudantes que trabalham há vários anos juntos. “Somos uma equipa pequena com pontos de vistas diferentes, o que torna a colaboração complementar”. Quando tem que elaborar as colecções, cada um traz várias ideias, padrões gráficos e cores que se juntam e que vão sendo lapidadas como se tratasse de um diamante até surgir uma imagem clara da colecção que vão desenhar. São criativos que trabalham há vários anos juntos e têm uma grande rodagem e um conhecimento profundo da identidade da marca, mantendo uma coerência constante.
Se houve algum ano mágico para os dois irmãos, 1997 foi definitivamente o ponto de viragem nas suas vidas. É o ano em que as suas criações deixam de identificar-se sob a marca Custo Lane para se identificarem como Custo Barcelona. È ainda o ano em que se aventuram no mercado americano desfilando pela primeira vez na New York Fashion Week. “Mais que uma mudança foi uma transformação de dimensão. Os Estados Unidos quando consomem fazem‑no em grandes quantidades. Continuamos a ser muito pequenos mas isto deu-nos uma dimensão internacional porque esse país continua a ser uma referência em termos do consumo mundial”. A razão era a questão que se impunha. Por várias vezes abordei a questão se teria havido alguém que lhes deu a mão para conseguirem penetrar nesse mercado tão apetecível e difícil de conquistar. A resposta não é conclusiva, vários telefonemas interrompem a conversa, ausenta-se e concluo que tudo parece obra do acaso: “Aventurámo-nos no espaço americano porque em 97 o mercado na Europa estava em baixo, e ao contrário do que acontece hoje o americano estava em franco florescimento. Tivemos a sorte de ter colocado bem o produto na costa leste e muitas celebridades começaram a usá-lo. De certa forma contámos sem planear com o melhor aliado que é Hollywood e não podíamos ter feito melhor marketing”. Contam actualmente com gabinetes de imprensa e marketing mas são infra-estruturas promocionais possíveis porque, segundo Custo, trouxeram algo do novo no mercado. “Saímos de um período minimalista em que tudo era cinzento, preto e branco e as cores que sempre caracterizaram a nossa criatividade trouxeram um efeito de surpresa que nos conduziu a muitas ajudas. Séries populares e filmes MTV vestiram as nossas cores e o produto estava lançado.” Apesar do sucesso, a Custo Barcelona não é vista por muitos como uma casa de moda, uma questão que não embaraça o criador catalão. Mantém o mesmo sorriso, de quem responde pela milésima vez a este dilema. “Em 81 decidimos fazer um projecto barcelonês que tinha como base uma t-shirt. Podia ter sido uma tela. Tínhamos então como princípio uma fusão de cores de texturas e elementos gráficos, que era novo e teve um sucesso rápido”. Na verdade os irmãos Dalmau nunca tinham estudado moda nem sequer estavam interessados em moda, confessa. Tal como hoje o princípio do projecto era a acumulação de cores, texturas e elementos gráficos que lhes trazia uma forte identidade, reconhece. “Tudo permanece igual, só que com o decorrer dos anos foi-se aperfeiçoando ganhando outra sofisticação”. No decorrer da conversa assinala algumas das etapas que marcaram a evolução da marca até chegarem a colecção actual que define como “demi couture”. É de facto surpreendente averiguar o gosto pelo detalhe, pela mistura elaborada de cores e texturas que culminam num ambiente folk que traz uma certa vibração exótica. O pavão era o elemento de referência mais visível nesta colecção de inverno para 2009/10.
Para Custo, que afirma ser um homem igual a todos os outros, que gosta de passar o tempo como a família e com os amigos, a sua prioridade número um é conseguir que a equipa se reinvente em cada colecção com base nos seus códigos e que o consumidor consiga identificar o produto sem ter que ler a etiqueta. “Posso afirmar que a nossa identidade se manteve desde o êxito da nossa primeira t-shirt”. A construção da identidade parece sem dúvida uma das marcas do seu sucesso. No nosso entender, a Custo Barcelona surge numa altura em que a Espanha pós franquista é capaz de projectar uma imagem de criatividade e de modernidade tendo por base o slogan turístico “Spain is different”. Os irmãos Dalmau participam nessa construção de uma imagem de contemporaneidade e aproveitamse de toda a projecção que o facto de serem espanhóis e de se identificarem com Barcelona lhes podia trazer. Um certo exotismo do sul, a luminosidade e a juventude que caracterizam o reaparecimento de Barcelona como uma das principais capitais culturais europeias tecem todo o imaginário da Custo e empurram-nos para um sucesso internacional. “Acrescentámos Barcelona ao nosso nome porque quando chegámos ao mercado norte-americano perguntavam-nos frequentemente se éramos franceses ou italianos. Barcelona faz parte da nossa identidade e é verdade que a projecção internacional da cidade em determinada altura passou a beneficiar‑nos.” Ainda tentámos aprofundar essa questão do decorativismo das sua colecções como algo de genuíno de uma cidade burguesa como Barcelona que teve no final do séc. XIX vários arquitectos que criaram ao sabor da arte nova fachadas hiper decoradas. Logo a conversa se estenderia sobre a genialidade de Gaudi, criador que Custo, arquitecto de formação, conhece bem, sem que essa aproximação seja totalmente reconhecida de imediato. “Esse, como outros referentes, são transpostos para formas contemporâneas que podem coexistir com psicadelismo, anos 20, Índia, etc.” Afinal de contas, talvez esta fusão de formas decorativas esteja no fundo no inconsciente de todo o catalão.
47
central parq: design 1.
De Israel para o mundo. .
Reddish Design texto: carla carbone
A falta de tradição de design em Israel não assusta a dupla israelita que dá pelo nome de Reddish. Souberam incorporar algumas das principais tendências do design e conseguiram que o seu esforço e liberdade de pensamento fosse reconhecido. Vontade de inovar não lhes falta. www.reddishstudio.com
48
reddish design
Consideram não haver ainda uma identidade ou um design israelita propriamente dito. Na realidade, essa é uma questão que muita gente em Israel está a procurar responder: “Não pensamos que exista de facto um design israelita, é um país ainda muito novo para poder formar a sua prórpia cultura de design. Hoje em dia há demasiadas influências externas para se poder destacar um ponto de vista israelita do design”. Na verdade, diz-nos a dupla, “as tendências e as preocupações são agora globais, estamos todos preocupados com o ambiente e não é possível combater a manufactura chinesa nem as lojas do Ikea”.
Quando percorremos as várias peças desenhadas por Naama Steinbock e Idan Friedman —a dupla de designers— somos surpreendidos por um grupo de mesas em madeira que ostentam, na superfície, algumas tatuagens. Somos impelidos a perguntar o porquê das tatuagens. A dupla responde que a ideia foi resultado de uma coincidência feliz. Na altura experimentavam uma nova tecnologia de impressão que podia ser aplicada também em superfícies rígidas. Esta tecnologia era na maior parte das vezes aplicada em publicidade, mas os Reddish verificaram o grande potencial que tinha no mobiliário. “Ficámos fascinados pelas transparências oferecidas pela nova impressão e o modo como o material os absorve. Por esse motivo decidimos imprimir sobre a madeira, e tomar partido dos seus padrões naturais”. Quando pensaram em imprimir imagens gráficas sobre madeira a ideia das tatuagens surgiu naturalmente. Com todas as variações e padrões. Inspiraram-se nos maiores mestres da body art, como os Yakuza, a máfia japonesa. “Na verdade, adoramos e respeitamos o estilo extremo, mas ainda não sabemos qual vai ser a recepção dos Yakuza ao nosso gesto, se o vão apreciar, ou se, pelo contrário, quando souberem não irão cortar algum dos nossos dedos.
Pequenos gestos surpreendem-nos. Em cada peça há um pormenor que faz dos Reddish uma dupla muito criativa. Steinbock e Friedman têm até uma mesa decorada a ponto cruz. Mas ponto cruz mesmo. Cozido à madeira. Com os furos à vista e tudo. A dupla explica que a mesa bordada é oriunda da ideia de misturar os genes dos objectos. Objectos que já se relacionam. “Pensamos que o mundo do design faz a sua própria selecção. Por isso fazer nascer objectos é abrir portas para a investigação de novas ideias”. Na mesa x-table, misturaram os genes da mesa de café com o naperon. Procuraram ver qual a influência e as tensões provocadas por cada um dos objectos e com isso permitir criar um objecto novo. O resultado foi uma superfície em contraplacado bordada a ponto cruz, com uma silhueta de uma mesa, icónica, com um naperon sobre ela. “Ficámos contentes ao verificar que, embora a mesa tenha sido realizada há oito anos, as pessoas ainda ficam surpreendidas com o conceito”. Não apenas com a mesa bordada a ponto cruz. Existem outros objectos que surpreendem pela ousadia. A cadeira Bath & Beyond parece quase um gesto duchampiano. Os designers partiram da ideia de que é extremamente confortável sentar numa banheira, mas que a velocidade e as exigências do dia-a-dia não permitem que nos sentemos nela muitas vezes. As banheiras, no dizer do casal, são extremamente bem construídas, e que devíamos tomar mais partido desse elemento complexo que é uma banheira. “Quisemos ver se uma banheira fora do seu habitat ainda nos trazia grandes ideias, como acontece quando estamos sentados nela em altura de banhos. Descobrimos que não”. Pensam que um bom objecto reutilizado deveria estar preparado e munido para a produção em série.
Na verdade Bath & Beyond é um pouco diferente do acto de bordar superfícies em madeira, ou até mesmo de as tatuar. Não há aqui a problemática da decoração. Que caminhos são percorridos afinal por estes designers? Quais as convicções e inquietações que os assolam quando desenham? Parecem não perseguir grandes paradigmas. Caso contrário não explorariam tanto, quando desenham. “Parece, para nós, que estamos sempre numa viagem a tentar encontrar novos caminhos para a nossa criação”. Aborrecem-se facilmente, querem sempre coisas novas, procuram sempre novos ângulos em cada projecto que realizam. “É por isso que dizemos que passamos o tempo a ajudar os objectos a sentirem-se melhor com eles mesmos”. As surpresas não terminam, pensemos no banco Dov. Este objecto começou por ser o resultado de um bloco de polietireno (ou o conhecido esferovite). “Escavámos o material e revelámos toda a beleza dos seus grãos. O processo de dar forma às pernas do banco, pode apenas ser descrito como um acto de vandalismo”. No fim, cada um dos infindáveis resultados é fundido em alumínio. A ideia surgiu quando estavam a realizar um projecto de joalharia, a colecção Grenadine, para uma exposição em Israel. “Muitas vezes a ideia de jóia surge do uso de materiais caros, mas queríamos criar valor através da construção de peças únicas. Por esse motivo usámos o alumínio de forma que não fosse possível duplicá-lo”. Gostaram tanto da colecção Grenadine que o quiseram repetir, mas desta vez com objectos em larga escala. Podíamo-nos deter num sem número de outros objectos, irreverentes, como o Sucker work, ou o the On off lamp (em que todo o candeeiro se torna o interruptor), entre outros. Chegaríamos à conclusão que esta dupla é de uma força criativa estrondosa, a lembrar, de forma grosseria, digamos, o modo de operar de uma Droog Design. Dizia-se da Droog que eram secos na sua abordagem. Que dizer então dos Reddish? Os Reddish têm uma ideia e fazem‑na. Por isso apetece perguntar-lhes sobre a Droog, e se a mesma é uma referência, ou uma fonte de inspiração. Respondem: “Gostamos da Droog Design e apreciamos a sua contribuição e também gostamos muito do trabalho de outros designers, mas as nossas inspirações provém de outros lugares. Muitas vezes são as pequenas coisas que passam despercebidas no dia-a-dia que nos entusiasmam mais”. A dupla não se preocupa muito se os seus trabalhos atingem a esfera internacional. “O mundo é tão pequeno e tão grande ao mesmo tempo que esta definição de internacional não tem grande importância para nós”.
As tatuagens foram criadas pelos Reddish. Steinbock e Friedman quiseram que fossem criadas com o princípio de servir também para o corpo humano. Depois de terem pesquisado muito sobre o assunto sentiram que o desafio neste trabalho era mesmo tratar a mesa como se de um corpo humano vivo se tratasse.
49
central parq: design
2.
3.
4.
5.
50
reddish design
6.
7.
8.
by reddish 1. bath & beyond 2. yakuza tall tables 3. china 4. watership 5. dov 6. x table 7. yakuza table 8. x bread
51
central parq: música
Era uma vez um etíope que em 1966 lança no mundo os volumes 1 e 2 de «Afro-Latin Soul», discos que revolucionam o jazz mundial e criam uma ruptura nos cânones da música tradicional da Etiópia. Esse artista chama-se Mulatu Astatke. Muda-se para os Estados Unidos onde estuda jazz na reputada Berklee College of Music, na cidade de Boston. Além de ser o primeiro africano a ingressar na escola também fica conhecido pela teoria do Ethio Jazz, que define a música que está a desenvolver. É algo perfeitamente novo, uma fusão de tribal e latin jazz com a escala pentatónica da música etíope e instrumentos do jazz ocidental. Tudo junto resulta numa viagem alucinatória que remonta aos cânticos religiosos etíopes e ao transe a que eles induzem. Mulatu introduz mudanças no meio jazzístico e capta as atenções para o seu país natal. Traçando uma linha recta até à costa oposta —a ocidental africana— encontramos uma família que encara o transe religioso de uma forma bastante diferente. Os pais de Ty, nigerianos de costumes tradicionais, vêem a música e suas emanações como coisas do Diabo. Ty chega à cidade de Londres nos finais da década de 70 e não sabe se há-de ser africano, europeu com pronúncia nigeriana, simpático, tímido ou assim-assim. Como lidar com a sua identidade e projectá‑la na cultura de um país diferente? Foi buscar a resposta ao hip‑hop. Cresce a acompanhar toda uma geração que ao fazer este novo som cria expectativas, de forma inconsciente, em jovens iguais a si que passam por provações sociais, escolares e familiares devido às dificuldades de adaptação. Ouve hip-hop às escondidas, estuda letras e treina beats em surdina na casa-de‑banho. Durante a palestra que deu na Lx Factory conta episódios onde seguramente muitos jovens músicos filhos de imigrantes se revêem: ”Eu era um Mc secreto em minha casa. O hip-hop era o meu segredozinho sujo, não me orgulhei muito dele até os meus pais perceberem que a música era uma coisa séria na minha vida e finalmente aceitarem a minha escolha.”. Neste momento Ty já é um jovem Mc conhecido
no seu bairro, Brixton. Sai à noite sem os pais saberem, canta, constrói os seus ritmos e afirma-se socialmente. “Nas festas eu podia ser preto e dizer o que queria dizer”. Os Cookie Crew influenciamno, um projecto que se demarca da influência do hip‑hop norte-americano e dita novas regras. “O mais incrível é hoje eu ser uma influência para alguns artistas dos Estados Unidos”, diz enquanto ri das mudanças que acontecem com o tempo. O rapaz tímido e pouco seguro não é o homem que está a falar diante de nós, em Lisboa, no encontro da Redbull Music Academy. Muita água rolou debaixo daquela ponte. Hoje é uma referência dentro do hip-hop, teoriza sobre a sua cultura ancestral, é um observador dos comportamentos sociais e um crítico em relação aos interesses comerciais que minam este género musical. Defende total verticalidade no que somos e fazemos: “A melhor música é honesta. Eu faço hip-hop como uma arte. Pode não me dar dinheiro, mas vou viver feliz com isso.”, remata enquanto a audiência aplaude. De volta à Etiópia e ao Ethio Jazz, este rejuvenesceu para o mundo tal como Ty rejuvenesceu actuando secretamente no seu bairro. Nos últimos anos surgiu um novo interesse
taster.
pela colecção «Ethiopiques», provavelmente depois do realizador Jim Jarmush ter usado temas de Mulatu Astatke no filme «Broken Flowers» tirados do volume 4, «Ethio Jazz & Musique Instrumentale, 1969‑1974». Isto revitalizou o interesse pelo Ethio Jazz a ponto de Astatke lançar, agora, um novo disco. «Inspiration Information» foi feito em parceria com uma das melhores bandas —senão a melhor— de funk jazz da actualidade, The Heliocentrics. O artista diz-nos, em entrevista, que o disco, tal como os concertos, têm muito de funk e afro‑beat mas na base está o Ethiopean Jazz e a escala pentatónica que o alimenta. É uma súbita reactualização do passado que, revela, “ sabe mesmo muito bem.” Mulatu não ouve a música de outros, excepto algum nome perfeitamente novo para os seus ouvidos ou um ritmo que considere desconhecido. Conta que o mais surpreendente nas viagens, aulas e palestras que tem dado pelo mundo foi descobrir que alguns instrumentos estão a ser adaptados, potenciados e transformados de uma forma inteligente como viu recentemente na China e no Japão. Mc Ty fala das descobertas que faz diariamente quando compõe os seus beats, encontra falhas e deixa as músicas em stand-by, a marinar, para mais tarde pegar nelas ou simplesmente metêlas no lixo. A intuição, conta-nos, é a base do seu método. Diz à plateia de jovens músicos sentada à sua frente que é importante ser determinado, trabalhar, não ter medo de errar e —muito importante— respeitar o passado. É seguro nas palavras que deixa: “Actualmente o hiphop está a contribuir para a falta de apreciação do que é tradicional. Sejam responsáveis. Ser responsável é conhecerem-se a si próprios e saberem o que querem mesmo fazer.” África faz o link entre o presente e o passado. Da Etiópia à Nigéria passando por Portugal a música revela-se primordial nas conquistas pessoais que se projectam no Mundo, como o Ethio Jazz ou os temas de Ty. Sonhos que viram realidade, como as histórias contadas de geração em geração debaixo de um baobab.
Um Baobab em Lisboa. texto: carla isidoro fotografia: Redbull Music Academy
Foi à volta de África que as palestras de Mc Ty e Mulatu Astatke giraram. África como sinónimo de família, costumes, religião, música e identidade. Lisboa teve grandes lições no último encontro nacional da Redbull Music Academy. www.redbull.pt
52
redbull taster
1.
2.
1. mulatu astatke 2. Mc Ty
53
central parq: música
bem-vindo à pictopia.
Festival Pictoplasma. texto: júlio dolbeth
Berlim foi a capital dos toys. Mais uma vez o Pictoplasma, pelo dinamismo e número de criativos envolvidos em exposições, conferências e workshops, afirmou-se como o festival mais importante no panorama europeu do character design e motion-graphics. www.pictoplasma.com
54
festival pictoplasma
Discute-se robótica, etnologia, teoria dos media, história de arte e da economia. Apresentam‑se propostas temáticas que envolvem conceitos ligados à percepção, à teoria das máscaras, ao realismo da representação humanóide, ou à redução da figura a um simples ponto. O contacto com os artistas é uma das plataformas do evento, promovendo a partilha e a discussão, a participação em workshops, as performances ou as festas ao fim do dia. Tudo num ritmo non-stop que começa de manhã e vai pela noite dentro. Assistimos a um live-drawing do James Jarvis (Reino Unido), ficámos a saber que gosta de correr maratonas para além de desenhar; Gastón Gaba (Argentina) canta e toca guitarra (um excelente fim de apresentação); Boris Hopek é tímido e reuniu 5 amigos para falarem do seu trabalho na terceira pessoa. As apresentações, à semelhança da edição anterior, foram divididas em 3 abordagens temáticas: Characters in Rythm, Characters in Narration e Characters in Motion. Este ano acrescentando o tema Psychadelic Midnight Mix.
Uma explosão visual de seres animados, antropomórficos, que apelam a emoções, por vezes através de desenho tão simples como uma vírgula e dois pontos. Seres que habitam diferentes media, tais como a ilustração, o design, a publicidade, a moda, a performance ou as intervenções urbanas. Uma invasão de cores e personagens que tomaram de assalto a cidade de Berlim em Março, para mais um encontro mundial de character design, na terceira conferência Pictoplasma. Desta vez o quartel general foi construído no Haus der Kulturen der Welt, que acolheu o evento com a instalação dos FriendsWithYou. Logo à entrada a exposição Welcome to Pictopia e o ciclo de conferências, expandindo-se por mais de 20 galerias da cidade visitáveis através do Character Walk. O Character design define um universo gráfico que tem vindo a emergir desde meados da década de noventa, marcando uma presença visual cada vez mais acentuada tanto nos media como nas paisagens urbanas e artísticas. Um grande impulsionador deste movimento é o colectivo Pictoplasma de Berlim, rastreando e promovendo o crescimento deste fenómeno de expressão "de figuração reduzida" desde 1999. O colectivo tem contribuído para a construção de uma recente sub‑cultura no exercício do design e da ilustração.
O Pictoplasma é responsável pela criação de uma rede global e heterogénea, edita enciclopédias visuais, catálogos, exposições, arquivos online, promove festivais e conferências e tem permitido a visibilidade de um conjunto vasto de artistas, ilustradores e designers que se movimentam neste universo. É responsável, ao mesmo tempo, por alimentar um mercado mundial em expansão sedento de novas abordagens. Foi nestes 5 dias que tudo aconteceu: uma remistura e samplagem de códigos da cultura pop, de folclore, do mundo das marcas e da publicidade, dos comics, da banda desenhada, das artes plásticas. Não é por acaso que Gary Baseman, um dos artistas convidados, se refira a este movimento artístico como Pervasive Art, algo que habita sem pudor várias abordagens, expandindo o seu trabalho ao Museu, às galerias, à MTV, à encomenda editorial, entre outros… No fundo, uma arte que se dilui por vários campos e suportes, lembrando vagamente as visões ou o legado de Warhol.
A exposição Pictopia estará patente até 3 de Maio. Está dividida em três partes: Remix e Animism, onde podemos ver originais de Akinori Oishi, Ben Frost, Gary Baseman, AJ Fosik, Tim Biskup, Mark Ryden, Motomishi Nakamura, Boris Hoppek ou Ian Sevenson, entre outros; Paradox of Reality, com Faiyaz Jafri, Doma Collective ou Shoboshobo entre outros; e Get into Character, com Rizen and Bumper Cars (carrinhos de choque em momento Disneyland), FriendsWithYou ou Olaf Breuning, entre outros. Nas conversas falouse de alta e baixa cultura, do comércio dos toys, do movimento lowbrow, da relação entre a robótica e o humano, de anime e manga, das influências japonesas, das referências pessoais, de antropomorfia, de narrativa, das referências pessoais de cada artista convidado, da consciência colectiva de um mundo figurado. Como referiu Gastón Gaba, uma partilha de forma horizontal e não em pirâmide, promovendo a ideia de democrática de comunidade de interesses comuns. Dos workshops cortámos e colámos ícones da cultura pop, como as t-shirts dos Mickeys, num discurso performativo do colectivo Andrea Crews. Paradoxalmente toda esta diversidade de personagens procura uma plataforma de linguagem universal, uma forma de comunicação simples, a utopia de um esperanto visual.
As conferências pictopianas dividem-se em 3 plataformas: a discussão e partilha de processos e metodologias, a apresentação dos projectos e vídeos e a construção de pensamento académico através de investigadores cujos temas flutuam à volta da afectividade e emotividade destas figuras.
55
central parq: mĂşsica
56
festival pictoplasma
57
Filipa Marchaz
Galerista, na Rua D. Pedro V Blusa e saia BCBG sapatos MARC JACOBS pochette e bracelete COCCINELLE rel贸gio BURBERRY
Francisco Vidal
Artista, no jardim de S.Pedro de Alcântara Blaser HACKETT calções ZEGNA SPORT camisa PIOMBO na Oficina Mustra lenço MANGO/HE relógio BURBERRY
Rui freitas
Estudante, na Rua Garret
Lisboa Centro
Sweat LACOSTE t-shirt H&M calções FRED PERRY cinto ENERGIE óculos RAY-BAN
Pedro Pacheco www.pedro-pacheco.com
styling: Conforto Moderno make-up: vera pimentão
Assistente fotográfico: Francisco De Almeida
Agradecimentos ao Hotel do Chiado.
maria manuel cruz
Arquitecta, na Praça de Camões Vestido Luís BUCHINHO relógio PUMA carteira MARC JACOBS sapatos ZILIAM
Sidney Dionello
Empresário, na Calçada da Glória Casaco DOVER sapatos PANTOFA D’ORO na Oficina Mustra t-shirt H&M calças MANGO/HE relógio DIESEL
Anze Persin
cineasta, na Rua do Alecrim Calças ENERGIE camisa HENRY COTTONS colete MIGUEL VIEIRA ténis ALLSTAR Nuno Ferreira
produtor, na Rua do Alecrim calças ERMENGILDO ZENHA camisa GANT ténis ALLSTAR
ann kristin
Bailarina, na Rua Paiva de Andrade Leggings NIKE t-shirt extra large TWENTY8TWELVE colete H&M len莽o ANDY WARHOL BY PEPE JEANS 贸culos DOLCE&GABBANA carteira, sapatos e pulseiras MANGO
roger winstanley
Professor, nas Escadinhas da Mãe de Água Casaco BOGLILI calças camisa DANIELLI ALESSANDRINI, tudo na Oficina Mustra relógio PHILLIP STARK óculos PERSOL head phones CONVERSE lenço LEE sapatos vela MANGO/HE
Sap Rising Pedro matos
styling: Dora Dias Modelos: Francisca + Luís Borges (central models)
Assistente fotográfico: Leandro Fernandes make-up: Vera Pimentão hair: José Pedro Mota
luís Jeans PEPE JEANS
francisca Vestido MIGUEL VIEIRA cardigan H&M
luís t-shirt MANGO/HE jeans LACOSTE
francisca top TWENTY8TWELVE saia STORYTAILLORS
francisca Vestido H&M fio URBAN OUTFITTERS ao longo do editorial
luís Calças DOCKERS tank top DIESEL suspensórios H&M
luís t-shirt NIKE calças MIGUEL VIEIRA
francisca vestido REPLAY
parq here: viagem
Aquafalls Spa Hotel rural texto: sofia saunders
Situado num local privilegiado, em pleno Gerês onde a natureza bruta se harmoniza com as águas do rio Cávado e a barragem da Caniçada, encontramos o Aquafalls. Dizem ser o único spa de montanha da Península Ibérica. A propriedade pertencia há muitos anos a uma família de empresários que tinha no terreno uma moradia de férias e resolveu partilhar a vista construindo um hotel rural spa com características especiais. O projecto levou três anos a desenvolver-se e teve a ajuda da arquitecta Rosário Rodrigues, uma amiga da família. O objectivo inicial era criar um projecto arquitectónico com o menor impacto possível na paisagem. Edificaram 11 bungalows geminados, construídos com pedras e madeiras locais, espalhados por uma área de 30.000m2. Colocados em diferentes patamares da encosta, criam a aparência de uma pequena aldeia preservando a privacidade dos seus clientes. Sem grande espectacularidade arquitectónica mas com todos os requisitos que se possam esperar de um espaço luxuoso, o melhor das 22 suites é o deco frontal suficientemente largo para ter mesa e cadeiras permitindo apreciar a totalidade
das vistas. A tranquilidade é um dos grandes atractivos. Apenas o som das águas marca a passagem do tempo. Outro dos atractivos é o spa de dois andares com várias cabinas duplas e individuais onde se podem experimentar tratamentos exclusivos feitos com as plantas da região, ou então da Sisley Spa. Além disso existe um vasto jardim com zonas temáticas de meditação ou simples descanso, com relaxantes espelhos de água rodeados por relvados. Todas as piscinas são viradas para o vale e para as águas do rio. Uma delas tem um solário. Corte de ténis, mini-golfe assim como passeios pedestres, rafting, paintball, BTT e desportos náuticos na albufeira da Caniçada estão ao dispor daqueles que quiserem um pouco de mais actividade depois dos programas de relaxamento. Motivos mais do que suficientes para regressar ao único parque nacional português.
Lugar de S. Miguel - Caniçada Vieira do Minho – Braga Telf 351 253 649 000
www.aquafalls.pt
73
parq here: places
Cool de Sac texto: sofia saunders
A Cool de Sac é uma loja inspirada nas boutiques parisienses do Marais. Decorada num estilo romântico em tons pastel, recria um ambiente íntimo e acolhedor de um boudoir onde podemos encontrar um conjunto seleccionado de marcas, todas em sintonia com o estilo da loja: Pink Soda, Paul&Joe Sister, Bash, Repetto, Odd Molly e Tocca. Este espaço foi criado por Maria Luísa Pries, uma madrilena recentemente chegada a Lisboa com percurso no teatro e na comunicação de marcas de luxo. Apaixonou-se pela zona do Príncipe Real e encontrou aí, debaixo de um arco na D. Pedro V, num singular beco sem saída, o local ideal. Também gostamos do secretismo. Rua D. Pedro V, 56 Lisboa
Get Vintage texto: sofia saunders
Abriu a segunda loja de roupa na Praça Camões. Posiciona-se no mercado da fashion street wear com peças e marcas direccionadas a um público de gama média-alta. É gerida por Paulo Pires e Vítor Varela, ambos com experiência no comércio de vestuário, seguidores das tendências de moda, das exigências do mercado e amigos do futebolista Manuel Fernandes, o proprietário da loja. Em pleno coração da cidade, a Get Vintage abriu portas em Março depois de cinco meses de obras de restruturação. Paulo Pires e Vítor Varela atenderam a critérios como o bom gosto, a exclusividade e a originalidade ao seleccionarem as peças. Optaram por mais de uma dezena de marcas como Nuno Gama, Amélia Antunes, Pussy Deluxe ou Fornarina ao perceberem que havia espaço e interesse por elas no mercado português. A dupla de amigos está a finalizar contactos para representar também a D-Squared e a preparar um website que permite comprar online e consultar o stock de peças.
Rua da Horta Seca, 1-3 (à Praça Camões) T. 21.3427153 Seg. a Sáb. 10h-20h Fecha Dom.
74
parq here: places
Mel das Arábias texto: Carla Isidoro
Os países do Oriente Médio são conhecidos por serem os reis da doçaria fina. No Líbano, Síria e Jordânia são confeccionados doces que encontramos facilmente em países árabes e muçulmanos, herança do Império Otomano. A polarização destes doces felizmente chegou ao restante Mundo e mais recentemente a Lisboa. O casal Susana Alves e Said Yadem abriu a Mel das Arábias, uma loja especializada em doçaria árabe. Ali encontramos todo o tipo de doces característicos importados da Tunísia, Egipto, Turquia, Síria, etc. Preparados à base de mel e frutos secos, compõe festas e cerimónias tradicionais ou populares. Não há celebração que não os contemple em grande quantidade. Inclusivamente há festas só com doçaria árabe, mais nada além dela. Quando provámos as Baklawas ou os Lokoum percebemos logo porquê. São irresistíveis, de alta qualidade e requintados.
O casal quis mostrar o lado doce dos países árabes e incrementar o conhecimento sobre culturas que, tal como a nossa, são gulosas. Na Mel das Arábias encontramos os já internacionais Turkish Delight embalados e prontos a oferecer, Baklawas de avelã, Borma crocantes ou xaropes de alfarroba, entre outras especialidades. Em sortido ou à unidade.
www.meldasarabias.pt
calçada da estrela, 187 - Lisboa Telf: 21.3904251 Sáb. e Dom. das 09h às 19h Semana: das 10h às 19h30 Fecha às segundas
spazio dual city café texto: sofia saunders
Situada numa das artérias principais de Lisboa, o Spazio Dual City Café é um projecto inovador que coloca num único edifício três segmentos aparentemente incompatíveis à primeira vista. No primeiro andar um café com refeições ligeiras, no R/C um showroom de automóveis onde se podem encontrar todos os modelos da Lancia e da Alfa Romeo, e no piso -1 ateliers pluridisciplinares geridos pela associação Artin‑Park que alberga alguns dos principais criadores nacionais. O objectivo é criar um espaço multifuncional em que haja uma fusão a vários níveis, onde automóveis e cultura estejam lado a lado. O café lounge é dirigido pelo chef Guerrieri que oferece receitas italianas com um sabor português, constituídas por saladas, caneloni e panini. Como se pode ver na advertência à entrada, toda a comida é sem manteiga ou maionese, tendo os molhos como base o iogurte natural. Este primeiro andar conta com a surpresa de ter duas pequenas salas privadas providas de wireless que permite com bastante privacidade agendar uma reunião. No piso -1 podem-se ver ou adquirir obras de Ricardo Quaresma Vieira, Valentim Quaresma e Ricardo Preto, entre outros. S2 - Spazio Dual City Caffè. Av. da República, 41 Lisboa Seg. a sex.,11.30-20h, Sáb. e dom.11.30-18h Telf 217964062
75
parq here:gourmet
esporão
nespresso miso soup texto: sofia saunders
texto: sofia saunders
A nova colheita do Monte Velho branco, agora com um novo rótulo a marcar a evidência de um produto Esporão, vem reiterar as principais características. Ou seja, um vinho básico que não passa por madeira, acessível, que o torna um dos mais vendidos em Portugal. É um vinho sem muita complexidade, mas é frutado e agradável, pleno de força e frescura. Um vinho bem feito e capaz de agradar a quase todos os enófilos. Está indicado para acompanhar desde peixes grelhados e mariscos até à untuosidade dos queijos, passando pela cozinha vegetariana. Este Monte Velho branco de 2008 tem um aspecto cristalino e cor citrina com uma boa acidez, é elaborado a partir de uma selecção de castas regionais alentejanas: Roupeiro, Antão Vaz e Perrum.
A Nespresso disponibiliza aos membros do seu clube quatro novas cápsulas ao seu já variado lote de cafés premium. Adiciona três espressos, pure origin, e um lungo. Os novos espressos, Rosabaya da Colômbia (frutrado e equilibrado), Dulsão do Brasil (suave e doce) e Indriya da Índia (intenso e apimentado) como o novo lungo alargam assim a sua gama para uma variedade de 16 Grands Crus. Talvez a novidade mais esperada fosse a criação de um novo lungo para chávena grande com a intensidade, perfume e sabor de um curto. O Fortissio Lungo é equilibrado e intenso, com sabor amargo fresco e pode ser tomado em estado puro ou com um pouco de leite para moderar. O único lungo que existia até então, o Finezzo Lungo, foi reformulado para se distinguir melhor do novo, sendo agora mais doce e menos intenso.
A Clearspring é uma empresa inglesa especializada em produtos premium e orgânicos de origem europeia e japonesa. Todos os produtos são 100% vegan e baseados em receitas tradicionais. As sopas miso são um dos seus trunfos, já que Christopher Dawson, o fundador da empresa, residiu 18 years no Japão e tornou-se um expert sobre os melhores produtores locais. Pela quantidade de propostas da Clearspring apercebemo-nos que há todo um universo a descobrir. Destacamos o mais simples e básico do catálogo, um miso instantâneo com vegetais marinhos que apenas exige água quente. Depois é só esperar um minuto.
www.esporao.com
www.nespresso.com
www.clearspring.co.uk www.delidelux.pt/ www.dietimport.pt
texto: manuel teixeira
76
parq here: restaurante
As boas línguas de R ay Monde & Miss Jones. flores.
Remonta a Janeiro, quando o frio ainda era invernoso, chegando mesmo a aleijar, o nosso encontro no hall do Bairro Alto Hotel à Praça de Camões. Após repetidas e incisivas prosas com o pessoal da recepção, escolheu-se a mesa e deu-se a conhecer a nova ementa do chefe Luís Rodrigues. Uma necessidade premente de restaurar a temperatura corporal levou a velozmente encomendar uma Stolichnaya para Miss Jones, ainda enjoadíssima com o champanhe da passagem, e uma margarita para Ray Monde, menos nauseado. Na sala calma, onde murmúrios nórdicos se ouvem e onde fotografias de Rui Bastos se apreciam, iniciou-se a refeição com um sortimento de pães para demolhar em azeites suaves e perfumados. A escolha fez-se vagarosamente pois as propostas eram atraentes e as historietas natalícias urgiam ser soltas. Trajado de preto, Valter Martins aconselhounos vivamente a encetar com o lavagante azul (não será sempre azul?) com crosta de sésamo, chutney de manga e gengibre para Miss Jones e com uma sopa intitulada puré de batata com trufa e porcini para Ray Monde. O lavagante deixou Miss Jones muito agradada e bem-disposta. A presença da trufa conseguiu dominar o sabor dos cogumelos e aliar-se lindamente ao dos tubérculos. Ficaram sabores campestres e Ray Monde redescobriu a graça, às vezes aviltada, da batata.
A seguir, os pratos principais, um borrego em crosta de mostarda, puré de abóbora com cardamomo e curgete laminada para Ray Monde e uma garoupa, setas de cardo, nabiças e batatas com baunilha para Miss Jones. A garoupa, além de bonita na sua mise en place, comprazeu pela sua frescura e subtileza do sabor. O borrego estava suculento, bem assado e a quente presença das especiarias acertada. Opíparo! O vinho que acompanhou quase todo o jantar, um Grand’Arte 2005, produção da Estremadura com casta Alicante Bouschet fez o nosso regalo.
Ainda se recitou um fragmento camoniano para temperar o frio da praça, Mesas de altos manjares excelentes Lhes tinha aparelhadas, que a fraqueza Restaurem da cansada natureza (Lus., X, 2) Diga-se, antes de findar, que o Bairro Alto Hotel está em 31º lugar na ‘2009 Gold List’ da Condé Nast Traveler. O único hotel português entre os 100 melhores do mundo.
Para adocicar, dividimos um flã de moscatel com uvas “glaceadas” e hortelã da ribeira acompanhado com justeza por dois cálices de moscatel, de linda cor alaranjada, brilhante e de paladar complexo, um Domingos Soares Franco de 2003, uma colecção privada que merece sair do armário… Impôs-se repetir o cálice na altura do café, estes ladeados por bombons da Godiva. O jantar agradabilíssimo terminou com a visita inesperada de três amigos, nos quais se sentiu uma pequena pitada de invídia, nada que um cálice de moscatel não dissolvesse...
Flores Rua das Flores, 112 - Lisboa Tel. : 21 340 82 52 Todos os dias, almoços e jantares, do meiodia às 15h30 e das 19h30 às 23h30
www.bairroaltohotel.com
guia de compras: Adidas: telf. 214 424 400 www.adidas.com/pt Adidas Eyewear, Brodheim lda: telf. 213 193 130 AFOREST DESIGN: telf. 966 892 965 www.aforest-design.com Arte Assinada: Porta do Mar, 3.11.09 (Torre Galp) Parque das Nações, Lisboa telf. 218 948 047/8 Bing Punch: R. do Norte, 73 — Bairro Alto — Lisboa telf. 213 423 987 Carhartt Shop: R. do Norte, 64 — Bairro Alto — Lisboa www.carhartt-streetwear.com Carolina Herrera: Av. da Liberdade, 150 — Lisboa Cat Bedivar: telf. 219 946 810 Chloé: Fátima Mendes e Gatsby (Porto) Loja das Meias e Stivali (Lisboa) Cheyenne: ACQUA Roma – Av de Roma — Lisboa Converse Proged: telf. 214 412 705 www.converse.pt Decode: Tivoli Forum – Av da Liberdade, 180 Lj 3B — Lisboa DDP – The Angel Fashion, lda: telf. 220 991 090 Diesel Store: Prç Luís de Camões, 28 — Lisboa telf 213 421 974 Dior Joalharia: David Rosas – Av. da Liberdade — Lisboa Machado Joalharia – Av. Boavista — Porto Eastpak – Morais&Gonçalves, lda: telf. 219 174 211 Energie – Sixty Portugal: telf. 223 770 230 Emergildo Zenha: Av. da Liberdade, 151 telf. 213 433 710 Fashion Clinic: Tivoli Forum – Av. da Liberdade, 180, lj 2 e lj 5 — Lisboa C.C. Amoreiras Lj 2663/4 — Lisboa R. Pedro Homem de Melo, 125/127 — Porto Fátima Mendes: Av. Londres, B1 1º Piso — Guimarães R. Pedro Homem de Melo, 357 — Porto Fendi: na Fashion Clinic www.fendi.com FILIPE FAÍSCA: Calçada do Combro, 95 — Lisboa Firetrap – Buscavisual, lda: telf. 917 449 778 FLY LONDON: telf. 253 559 140 www.flylondon.com Fornarina: telf. 912 1818 88 wwwfornarina.it Fred Perry – Sagatex: telf. 225 089 153 GANT: telf.252 418 254 Riccon Comercial Lojas: Av. da Liberdade, 38H — Lisboa Av. da Boavista 2300/2304, — Porto Gas: telf. 223 770 314 wwwgasjeans. com Goorin: Hold Me – Rua do Norte, Bairro Alto — Lisboa Guru – Dualtrand: telf. 225 101 245 Gsus – Pano de Fundo lda: telf. 223 745 278 H&M: Rua do Carmo, 42 — Lisboa Havaianas – Cia Brasil: telf. 291 211 860 HENRY COTTON'S: telf. 252 418 254 Riccon Comercial Loja: Galeria Península, 108 – Pr. Bom Sucesso, 159 — Porto Hoss – André Costa: telf. 226 199 050 Hugo Boss Portugal: telf. 212 343 195 wwwhugoboss.com Killah – Sixty Portugal: telf. 223 770 230 LACOSTE – M anuel F. Monteiro & Filho: telf. 214 243 700 LARA TORRES: www.laratorres.com Le Coq Sportif: telf. 220 915 886 www.lecoqsportif.com LEE: www.lee-eu.com Levi's – Levi's Portugal: telf 217 998 149 Levi's acessórios – Pedro Nunes lda: telf. 239 802 500 Lidija Kolovrat: telf. 213 874 536 Rua do Salitre, 169 Luis Buchinho: telf 222 012 776 Rua José Falcão 122 — Porto www.luisbuchinho. pt Maison Margiela: telf. 220 927 002 Por Vocação – Av. da Boavista Mango www.mango.com Marlboro Classics: Gaia Shopping, Forum Coimbra e C.C. Vasco da Gama Melissa: telf 934 134 392 www.melissa.com. br Merrell – Bedivar: telf. 219 946 810 wwwmerrellboot.com Nikita – Fonseca e carvalho, lda: www.nikitaclothing.com Miss Sixty – Sixty Portugal: telf. 223 770 230 MIGUEL VIEIRA: telf. 256 833 923 www.miguelvieira.pt My Good: Avis, R. José Gomes Ferreira, 11 Lj 251 — Lisboa C.C. Amoreiras, Lj 2142 — Lisboa Nike Edge & Trend Collection: telf. +351 214 169 700 www.nike.com Numph – About Face: telf. 226 102 652 www.numph.dk NUNO BALTAZAR: telf. 226 065 083 Av. Boavista, 856 — Porto NUNO GAMA – Gavesa: telf. 309 914 363 Osklen: telf. 213 258 844 Rua do carmo, 9 Chiado — Lisboa Patrizia Pepe – André Costa: telf. 226 199 050 PEDRO PEDRO: telf. 916 634 920 Pepe Jeans: telf. 213 400 010 www.pepejeans.com Ray Ban – Luxótica Portugal: telf 217 221 300 Piaget: Anselmo 1910, C.C. Colombo — Lisboa Puma: Armazéns do Chiado – R. do Carmo, 2 — Lisboa Purificacion Garcia: www.purificaciongarcia.es Reebok: telf. 219 381 759 www.rbk.com/pt Replay: telf. 213 961 64 www.replay.it Retroparadise: telf. 222 085 852 Rua de Almada, 561 — Porto RICARDO DOURADO: telf. 222 011 833 Muuda – Rua do Rosário, 294 — Porto RICARDO PRETO: telf 919 758 953 Sephora: telf. 213 225 188 Armazéns do Chiado – R. do carmo, 2 — Lisboa Skywalker: telf. 213 466 125 Rua do Norte, 37 Sonia Rykel: Loja das Meias www.soniarykel.com Springfield – man & woman: Armazéns do Chiado — Lisboa telf. 213 479 337 NorteShoping — Porto telf. 229 540 985 Stivali: telf. 213 860 944 R. Castilho, 71 C — Lisboa Storytailors: telf. 213 433 306 Cç do Ferragial, 8 – Chiado — Lisboa www.storytailors.pt Swear: telf. 226 181 319 www.swear-london.com Timezone – Companhia dos Desportos: telf. 213 570 019 Tommy Helfiger: telf. 213 400 010 www.tommy.com Twenty 8 Twelve: telf. 213 400 010 www. twenty8twelve.com UMM – Buscavisual, lda: telf. 916 139 874 VALENTIM QUARESMA: telf .962 333 449 www.valentimquaresma.com Vitra: Paris Sete – Lg. de Santos, 14 D — Lisboa WESC: telf. 213 472 136 Rua Mouzinho da Silveira, 1723 — Porto Rua Nova do Almada, 47 — Lisboa ww.wesc.com Wolford: Av da Boavista, 3295 — Porto wwwwolford.com Women'secret: CCColombo. telf. 217 166 132 Armazéns do Chiado. telf. 213 479 338 Cascaishoping. telf. 214 601 420 Norteshoping, Porto, telf. 229 548 444
78
RECEBE UMA REVISTA PARQ, EM CADA ENCOMENDA.
www.nomenuhomeservice.pt
Basta marcar: 213 813 939 / 933 813 939 PARQUE DAS NAÇÕES 213 813 939 / 933 813 939 OEIRAS 214 412 807 / 934 412 807 CASCAIS 214 867 249 / 914 860 940 ALMADA 212 580 163 / 917 164 591 COSTA DA CAPARICA 212 580 163 / 917 164 591 COIMBRA 239 714 307 / 961 014 220 LINDA-A-VELHA 213 813 939 / 933 813 939 LISBOA
English version Claus Sendlinger
eric beltz
p.06
p.38
In the 1980s, Claus Sendlinger worked as a PR for Rimini nightclubs and it was there that he became aware of a new type of affluent traveller who flew first class but was dissatisfied with bland hotels. In 1987 he set up a travel agents, then in 1993 created Design Hotels of which he is president and is now a self-proclaimed authority on lifestyle marketing.
For someone who opted for drawing as the basis of his art, it is perhaps surprising that Eric Beltz won the Pulse Prize in the Pulse Art Fair in New York last month since the prize at this contemporary art fair usually goes to those artists who use new technology as their medium. Yet if we go a little deeper, we can see that the traditional medium of Beltz incorporates a rhetoric of image construction which is more commonly found in cinema, video and photography, and so the prize is perhaps more appropriate and justly awarded than we might at first think. In fact, his drawing does not aim for any particular singularity within the modernist tradition. His line bears a certain resemblance to stylized advertising images from the 1950s, the golden age of American idealism. However, the content of his drawings touches on a deconstruction of the collective American consciousness regarding its origins. For many of its people, the arrival of the puritans could be compared to the biblical episode telling of the flight to Egypt. This mystical fundamentalism, with the prairie as Eden, is imbued with the Christian idea of the saving the world. In a way, many religious communities or sects still inhabit this imaginary Eden The film The Village (2004) by Night Shyamalan refers to this ideal of a community stuck in the past, fearful of what can happen beyond its borders. Beltz´s images confront this romantic vision, showing a different moral landscape where the predatory American colonists, armed with his tools, is surrounded by dead animals and logs. The religious fanaticism of the early colonists is still present in the drawings via messianic slogans taken from the bible. Together, Beltz´s drawings seek to return to the vision of the pioneer fighting for survival, trying to win over a hostile nature which constantly breaks him down. Yet this way of seeing neither condemns nor moralises, but simply acknowledges the contradiction, ambivalence and multiplicity. It goes beyond the simplicity and idealism which so often prevails in America when its roots are mythologized.
What´s wrong with hotels in the 21st Century? Many hotels are lacking carefully thought through concepts. We are constantly looking for hotels with holistic concepts and creative minds behind them, who bring these ideas to life! That is what distinguishes Design Hotels from other hotel brands. How have Design Hotels changed the concept of hotels? 16 years ago when we founded the company we gave it the all-encompassing name Design Hotels™ because we realised that more and more hotels would incorporate distinctive design to reach a growing audience of independent lifestyle travellers. Hotels with contemporary aesthetics were then a novelty, but nowadays design alone is no longer enough to create a premium experience. Most hotels now feature an element of contemporary design. So what makes our member hotels special? They offer far more than an Eames chair in the lobby: they provide the right concept for the right crowd at the right location. Architecture, design, service, gastronomy and many other special qualities must come together like pieces of a puzzle to create a consistent and coherent picture. The drivers behind our member hotels –the Originals– develop out-of-the-box ideas and have the courage to realise them. This has a major impact on the global hospitality industry. In an interview a couple of years ago you mentioned that “Hospital Hotels” - with liposuction and operating theatres - would be the next big thing. Have they taken off yet? They have indeed. There are some very interesting concepts around: more and more hospitals for instance offer hotel-like suites. We have just signed our first hotel that offers comprehensive medical care: the life medicine RESORT in Austria. It melds five-star luxury with high-tech medical treatment, old-school spa culture, modern diagnostic and therapeutic technologies. Concepts like this are part of a larger movement - our society is undergoing a value shift. The importance of “soft factors” such as quality of life and well-being is growing along with a re-discovery of simple, human, even humble values. Thus, the human with all his ethical, emotional and social potential is taking centre stage within the spheres of industry and commerce. Design Hotels™ is observing growing human-centric innovation within its portfolio of member hotels. Concepts like life medicine RESORT are propelling the entire hospitality industry forward. Which locations should we be keeping an eye on? Look out for the new Rocksresort in Laax, Switzerland, and the new Alila properties in Bali and the Maldives.
carlos v. marques p.42
He is a skilful hunter who has never picked up a rifle in his life. Mr Interview, as he is known, has interviewed over 800 people. He is naturally curious and shares with his readers and listeners all those things they would like to ask famous people but will never have the chance. However, this time, it was us who held the recorder. This is a rarity; Carlos Vaz Marques was interviewed. Carlos, should a good interviewer be a good conversationalist? I suppose so. Would you consider yourself to be a good conversationalist? Tricky question (laughs). A good conversationalist is someone who knows how to listen. I like talking and, above all, to hear what others have to say. At the moment I´m in a position which is a bit too much of an anomaly for my taste… Why do you think we like reading or listening to interviews? The Spanish writer Francisco Umbral, who died a couple of years ago, once told me something which I think sums up why I like interviewing so much and why we like conversation so much. He said “one life is all lives”. In a way, each time I am getting to know about someone´s life, experiences, opinions or reflections of someone, I am projecting myself onto that which is being said, comparing and contrasting.
What is really interesting is the way that when we are reading an interview or listening to one, we project ourselves in this way, weighing things up and assessing what is being said. As if we were excavating our own inner mine a little, by witnessing someone else excavating him or herself. Are we interested in what others say to be able to situate ourselves? In many cases we discover ourselves through this process. You have interviewed people as diverse as Bruno Aleixo and Dalai Lama. How do you choose your guests? On closer reflection, Bruno Aleixo and Dalai Lama have nothing in common (laughs). I chose them for the reasons I´ve just said, as being people whose experience can bring something to the lives of those who listen to them. There is no particular selection process, but instead a variety of factors at play. For the programme I created a slogan which was “people who make a difference”. The idea is not people who live by rules or conventional thinking, but those who have their own way of looking at things, a very particular way of being. What did interviewees like Dalai Lama bring which was new? Interviewing Dalai Lama was actually quite a funny experience. There is an element of hunting when interviewing – although I say this without ever having hunted. It´s just that some trophies are more valuable than others. Was he one of the most valuable? He is more valuable. In this sense, as he is such a special person, it was certainly special to be able to speak with him. I was pleased to have got an interview with him, and after the event, all I can say is that he was a very kind, friendly person. In a half-hour interview with the Dalai Lama, I was more concerned that it all went well than in developing a friendship with him. I didn´t really change my point of view during the interview, although if I did change my point of view it was more because of what I read to prepare myself prior to the interview than the interview itself. What most surprised me was the fact that he spoke English so badly, though he had a secretary next to him who would whisper the words he couldn´t remember. A kind of prompt. You told me on Facebook “that´s how I get to know people, interviewing them.” I thought this was interesting. It´s true. I have got to know various people because I interviewed them and then kept in touch with them. Some more regularly than others (…) We won´t go there. Back to new technology. With the arrival of the internet, do you find that you begin to question the future of the more traditional forms of media? Do you listen to less radio today? I don´t think so. I think we listen to as much radio as we used to, although it has lost its social importance. It has lost its capacity to attract as much attention as it once did. Maybe we don´t listen to it so much at home, we listen to it in the car or on our computers. There is a new use of the radio which is not direct, more radio “a la carte”. You are easy to find on Facebook and Twitter. Was your entry into the digital age natural or was it forced in any way? Not forced at all. I´m a very curious person. I just dive in and see what happens. I had a blog for a while which I later stopped, but for a while I enjoyed it. I spend a lot of time exploring and then later I lose interest. Why did you get rid of the blog? Because it took up a lot of time and because it started being an obligation. I was part of a community and I felt I had to keep up with what others were writing. This was what took up the time. Afterwards, my interest started to wane. Or rather, I channelled it into other things. Are you going to lose interest with Twitter? Absolutely. I can´t see myself putting messages on Twitter in five years´ time. There are permanent things like books. Interesting, permanent things are books and travel…
80
English version Is it preferable to be on these sites than not be? I can´t advise anyone. There is the geek and totalitarian thing which says we have to, otherwise we are nobody. I don´t buy that. I know great people from all walks of life who couldn´t care less about Twitter. There is no obligation or need to even know what Twitter is, even less so to go and put messages there. (…) Do you think your interviews allow us – in a way - to travel? Yes, I do, if we think of travelling as something which allows us to get out of ourselves a little. I feel that on the programme and in the collection of travel books which I coordinate, I think of myself as a type of train junction. Trains coming and going, and they are the people I interview or the books I propose. People can go there and either just look at the trains or catch them wherever they want. I love it when people say “I bought that book which you talked about and I loved it.” Then I feel that it is all worthwhile. It is the sensation of having urged someone to board the train, they´ve enjoyed the journey and that I have had a small part in that. In your book MPB.pt, Chico Buarque says “I don´t think literature is the most important things in my life or in anybody´s life.” How important is literature in your life? It isn´t the most important thing. Well… considering that I´m always reading something, it must have some importance…But whether I would exchange a book for a person or a person for a book, I wouldn´t. Which books do you treasure? I don´t know whether treasure —for the state they´re in— is the right word. But I do keep them. Tell us one that has enchanted you. I read two charming books recently. One is by a Brazilian called Adriana Lisboa, “Rakushisha”. It is one of those books which doesn´t have a word out of place. It is set in Japan. The other is called “O Mundo” by the Spanish writer Juan Jose Millás. It is a fictional autobiography, written in an extraordinary way. Millás´ theme, the theme of his books, is that which is behind what we see. He is a Platonist. How do you find time to read and take pleasure in reading? I don´t have a schedule. Do you sleep? I sleep, but I´m a very regular person. I do everything just so. I´m punctual, organised, I make lists. I would like to sleep only three hours per night. That would suit me. What about music? What are you listening to? I´m learning from my son. He plays the guitar and he´s in a band. I never paid much attention to iconic giants like Jimmy Hendrix. We´re back to learning from your kids. Yes, a lot. For example, I interviewed Bruno Aleixo because of my son. I watched all the episodes, we laughed a lot and that is when the idea to interview him came up. My son introduced me to him. It is funny to see Bruno Aleixo in the middle of your interview list. (laughs) A while ago, I went to a meeting of writers in Póvoa do Varzim and a woman came up to me and said “I´m sorry, but the other day you were interviewing someone and I wasn´t sure whether it was a joke or not, whether it had really gone badly. It was with a man, Bruno Aleixa.” She thought it was insane, and it was meant to be. If you weren´t a journalist, what would you like to be? An astronaut. Can you see yourself in another profession? No, and that is a sorry state of affairs…. But I would like to be a musician and play the trumpet. Last question. In an interview with Alvin Tofler, he said “there is no way of seeing the future based on intuition, only on reason.” How do you see the future? He also said that in the long term, we are all dead. Is that ok?
reddish design p.48
The lack of design tradition in Israel has not intimidated the design duo from Israel known as Reddish Design. Their reworkings of some of the main design tendencies, together with their freedom and drive to innovate has meant that people are sitting up and taking notice. When we looked closely at the pieces designed by design duo Naama Steinbock and Idan Friedman, we were surprised by a group of wooden tables with tattoos on the surface. They replied that the idea was the result of a chance find after having experimented with a new type of new printing technology which could be applied to hard surfaces. This technology was usually used in advertising, but Reddish recognised the potential for furniture design. “We were fascinated by the transparency it offered and the way the material absorbed it. For this reason, we decided to print onto wood to help show off its natural patterns.” When they first thought of printing graphic images onto wood, they soon saw the connection with tattooing, and all the potential for variations and patterns. They were inspired by body art masters such as Yakuza Japanese Mafia. “Actually, we love and respect extreme style, but we still don´t know what the reaction of Yakuza is going to be, whether they are going to appreciate what we´ve done or whether they´re going to cut off our fingers when they find out!” The actual tattoos were created by Reddish, and Steinbock and Friedman wanted to create them as also being appropriate for the human body. After researching extensively, they came to the conclusion that the challenge of this was to treat the table as if it was a live human body. Steinbock and Friedman don´t believe that, as yet, there is such a thing as Israeli design identity. Many people in Israel are also currently asking this very same question. “In our opinion, we do not believe there is such a thing as Israeli design; it is such a new country to be able to formulate a culture of design. Nowadays, there are too many outside influences to be able to pick out a uniquely Israeli strand.” Moroever, according to Reddish, “tendencies and concerns are now global, plus we are all worried about the environment,” and it isn´t always possible to fight against Chinese manufacturers and Ikea. There are, however, some small, surprising gestures throughout their work. There is always some detail or other which shows just how creative Reddish are. For instance, Steinbock and Friedman have made a table entirely decorated with genuine cross-stitch, sewn to the wood, with the holes visible. They explain that the embroidered table was the result of wanting to mix up the genetics of things with objects that are somehow related, “we thought that the world of design makes its own selection, to create objects and open the doors to the exploration of new ideas.” With x-table, Steinbock and Friedman mixed up the genes of a table with those of embroidery. They sought out the influences and the tensions between the objects and in doing so, created a new object. The result was a commonplace table-top embroidered in cross-stitch, but still retaining the form of a table. “We were pleased to see that despite creating the table 8 years ago, people are still surprised at the concept.” And not only at the table embroidered with cross-stitch. There are other objects which surprise with their boldness. The chair Bath & Beyond almost resembles something worthy of Duchamps. The starting point of the designers was that it is extremely comfortable to sit in a bath, but that the demands of modern life don´t always allow us to do it very often. Baths, according to the designers, are extremely well-constructed and we would be wise to look more closely at exactly what it is that makes a bath so complex. “We wanted to see if a bath out of its usual context would give us any great ideas, as is often the case when we sit in a bath when
actually having a bath. We discovered that this wasn´t the case.” As a result, Reddish believe that a reused object should be well prepared before being mass produced. In fact, Bath & Beyond is rather different from embroidery upon wood or even tattooing as there is no issue of decoration involved. What are the routes taken by these two designers? What concerns and convictions come to the surface when they design? They don´t pursue any great paradigms; if this were the case, they wouldn´t explore limits so much when they design. “For us, it seems that we are on a constant journey to find new routes to what we want to create.” They get annoyed easily, forever want new things, new angles for each new project. “That is why we say that we spend our time helping objects to feel better about themselves.” What is certain is that there are endless surprises, such as “Dov”, which began life as a block of polystyrene. “We carved it out and revealed all the beauty of the tiny balls.” The designers conclude that “the process to give form to the bench legs could be described as an act of vandalism.” Eventually, after a lot of work, the whole piece was made in aluminium. The idea came about when they were working on a jewellery project, the Grenadine collection, for an exhibition in Isreal. “Often, the idea for jewellery comes from the use of expensive materials, but we wanted to create value via the making of individual pieces. Thus we used aluminium in a way which wouldn´t permit the duplication of an object.” They enjoyed working with the Grenadine collection so much that they wanted to recreate some of the objects on a large scale. We could go on and on with innumerable other irreverent objects such as “Sucker work” or the “On Off lamp” (in which the entire lamp is the switch) among others. What would be obvious from all this is what an extraordinarily creative force this duo are and with a certain way of working like Droog Design. Those who said Droog were dry, what would they say of Reddish? We asked Reddish about Droog, whether they were a point of reference or a source of inspiration, and they replied “We like Droog Design, and appreciate what they – and other designers - do, but our inspiration comes from somewhere else. Often it is the small things passing imperceptibly by in our daily lives which excite us the most. They are not insistent that their work reaches a more international public. “The world is so small and yet so big that this definition of international is of no great importance to us.”
81
Ilustração Vanessa teodoro
À Primeira Vista
Crónica de Cláudia Matos Silva Virgil é cego desde que nasceu. Nunca viu o horizonte ou a cor do céu mas sabe descrevêlos como ninguém. Amy vive tão preocupada consigo mesma que se esquece de apreciar as coisas simples da vida. Um dia descobre que Virgil, completamente cego, vê para além do que os seus olhos de visão perfeita alguma vez alcançaram. Afinal, qual dos dois vive na escuridão? Esta é a história de «At First Sight», talvez o último filme interessante de Val Kilmer, que tanto prometeu como actor num desempenho irrepreensível em «The Doors» de Oliver Stone, mas depois deixou tanto a desejar. Patrícia comprou o DVD de «At Fist Sight» porque estava a 1 euros e afinal de contas em 1999, altura em que a película foi editada, Val Kilmer ainda era um pedaço de mau caminho. Num sábado sem nada de mais interessante para fazer, mandou vir uma pizza familiar, numa casa onde a única família são os cães. Entre lençóis, migalhas e pequenos arrotos de Coca-Cola choramingou ao ver o drama de Virgil, o massagista cego, que cativa Amy pelo poder do tacto. É claro que para Patrícia, com 35 anos de idade, solteira (esperando e desesperando pelo Príncipe Encantado), com um emprego estável e cujos verdadeiros amigos são 3 caniches barulhentos, não queria de modo algum imaginar-se pelo beiço por um “ceguinho”. Aliás, correu praticamente à vassourada um pretendente zarolho só porque era efectivamente zarolho e tinha o péssimo gosto de assinar como Zarolho nos e-mails.
Convidada por uma amiga para ir a um concerto, Patrícia sentada na primeira fila não conseguia tirar os olhos do baterista, considerado sempre o elemento mais louco de qualquer banda. Tocava freneticamente, cheio de confiança e muita testosterona —sim a testosterona constituía o grande problema das suas antigas relações. Mesmo assim não conseguia evitar sentir-se atraída pelo típico homem viril. O concerto terminou e o pavilhão irrompeu numa chuva de aplausos. O músico saiu desajeitadamente da bateria para agradecer, e meio às apalpadelas, agarrase a uma bengala. Racionalmente Patrícia teria fugido a sete pés, e foi o que lhe apeteceu fazer num primeiro impulso, mas sentiu-se fascinada. Como é que um cego podia ser baterista? Contra todas as expectativas, Patrícia apaixonouse completamente por Miguel (cuja testosterona reservava essencialmente para tocar bateria), que nasceu a ver perfeitamente mas soube desde cedo que estaria condenado à cegueira devido a uma doença extremamente rara, que intrigara os médicos de todo o mundo. Havia, no entanto, um constrangimento do qual ela não conseguia falar —como caminhar na rua com um cego ao lado? Adorava andar aos beijos e abraços ou de mão dada, mas pelo meio teria sempre a bengala, o que a inibia terrivelmente. O que não sabia é que Miguel via muito para além do olhar e por isso no final de um concerto disse-lhe “hoje não preciso da bengala”, apoiando a mão no ombro dela confiou-lhe o seu destino. “Estás tão tensa”, disse-lhe enquanto tentava desfazer os nós que tinha no ombro com a ponta dos dedos. “E tu tens umas óptimas mãos”, exclamou Patrícia, surpreendida. “Defeito de profissão”, rematou Miguel com um sorriso matreiro. Tal como Amy e Virgil, também eles, deixaram de viver na escuridão porque só não vê quem não quer!
82