PARQ issue 15

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MÚSICA ANOS 90: O TEMPO REENCONTRADO ARQUITECTURA SPACED OUT: ARQUITECTURA HIPPIE DOS ANOS MODA STORYTAILORS: VESTIR HISTÓRIAS DE ENCANTAR GRANDE ENTREVISTA PEDRO COSTA

60

REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. PARQ. NÚMERO 15. OUTUBRO 2009 WWW.PARQMAG.COM


Director

Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com Direcção de Arte

Alva — Valdemar Lamego www.alva-alva.com Trendscout

Mário Nascimento mario@parqmag.com Tradução

Roger Winstanley roger@parqmag.com Publicidade

Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com

Cláudia Santos claudia@parqmag.com

PARQ

periocidade

Número 15

Mensal

outubro 2009 Depósito legal

TEXTOS

272758/08

Cláudia Matos Silva Davide Vasconcelos Diana de Nóbrega Joana Henriques Luísa Ribas Miguel Machado Patrícia Reis Pedro Mota Pureza Fleming Roger Winstanley Rui Miguel Abreu Sofia Saunders Tânia Figueiredo

Registo ERC 125392

Edição Conforto Moderno Uni, Lda. número de contribuinte: 508 399 289

PARQ MÚSICA ANOS 90: O TEMPO REENCONTRADO SPACED OUT: ARQUITECTURA HIPPIE DOS ANOS 60 STORYTAILORS: VESTIR HISTÓRIAS DE ENCANTAR GRANDE ENTREVISTA PEDRO COSTA

ARQUITECTURA MODA

REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. PARQ. NÚMERO 15. OUTUBRO 2009 WWW.PARQMAG.COM

Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000-251 Lisboa

00351.218 473 379

Impressão BeProfit / SOGAPAL Rua Mário Castelhano · Queluz de Baixo 2730-120 Barcarena

FOTOS

20.000 exemplares

André Brito Francisco de Almeida Mário Ambrózio Mário Príncipe Pedro Janeiro Pedro Matos

distribuição Conforto Moderno Uni, Lda.

A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq.Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 Parq.

Assinatura anual 15€.

STYLING

www.parqmag.com

Ângela Araújo Conforto Moderno Joyce Doret

capa Alina (l'Agence) fotografada por André Brito look total Storytailors hair: Sofia Gonçalves para Griffe Cabeleireiros

Ilustração

make-up: Vítor Fernandes

Vanessa Teodoro


Errata

04 Real People

Ups…na edição passada, o artigo You Look So

Frederico Gil por Joana Henriques

Incredibly Trashy Today, assinado por Pureza Fleming estava com uma grafia errada pelo que

06 Real People

pedimos desculpa.

Teresa Dillon por Luísa Ribas 08 Real People

Zachari Logan por Roger Winstanley 10 Real People

Brian Rennie por Francisco Vaz Fernandes 12 Shopping

20 You Must

42 Viewpoint

Fly Generation por

36 Soundstation

Anos 90 por David Vasconcelos

Pedro Janeiro 38 Soundstation

Compilações Straut por Joana Henriques 40 Soundstation

Joakim por Rui Miguel Abreu 42 Viewpoint

Fly Generation por Pedro Janeiro 46 Central Parq | Grande Entrevista

Pedro Costa por Francisco Vaz Fernandes 50 Central Parq | Arquitectura

Arquitectura Hippie dos Anos 60 por Diana Nóbrega

novo logo

54 Central Parq | Arte

Tobias Rehberger por Francisco Vaz Fernandes

editorial: francisco Vaz Fernandes

56 Central Parq | Moda

Storytailors por Tânia Figueiredo

Uma revista de tendências como a Parq tem que ter não só capacidade de olhar para o exterior como para o interior. Nesse sentido, o nosso logo tem estado em análise. Percebemos que, passado um ano e meio da nossa existência, muitos dos nossos ideais se alteraram. No início, o logo foi pensado para ser muito clássico, para estar em contraste com os conteúdos de uma revista de tendências, para criar quase uma espécie de contra-senso, chamando então mais a atenção. De certa forma, foi todo um período de romantização da ideia de Parq, que continua a querer ser entendido com um espaço de diálogo intercultural, inter-racial... enfim, um espaço aberto a todos, visto como um reverso de uma ou de várias gerações. Isto para dizer que os conteúdos e a estrutura da revista por agora não vão mudar, mas o logo sim. Assumimos desta forma um certo lado lúdico do logo, já que esta é uma das características dominantes da revista, assim como de qualquer parque.

Nesta edição, temos em destaque o realizador português Pedro Costa que este ano celebra o vigésimo aniversário do seu primeiro filme: Sangue. É um cineasta fundamental no quadro cultural português, já que tem trabalhado com maior profundidade as questões interculturais em Portugal. Também abordamos nesta edição a cultura hippie, através da sua arquitectura, procurando um diálogo entre gerações, pois é um facto que a própria cultura hippie tem estado, nos últimos anos, a ser revista. Tem sido desempacotada da carga patética em que foi embrulhada. Não é só o mediático de Ang Lee que a aborda no seu recente filme sobre Woodstock. Outros pensadores começam a esmiuçar essa cultura nos mais diversos aspectos, desde as suas produções materiais até ao seu pensamento religioso. Sem dúvida, uma referência para o começo da próxima década.

60 Moda

Grease por Mário Príncipe 68 Moda

Tejo por Pedro Matos 75 Parq Here | Viagem

Viagem a Milão por Miguel Machado 76 Parq Here

Matador + &SoWhat + 4º Aniversário Fox Live 78 English Version

Zachari Logan + Pedro Costa 80 English Version

Arquitectura Hippie dos Anos 60 83 Dia Positivo

Amália FM por Cláudia Matos Silva ilustração Vanessa Teodoro


frederico gil texto: Joana Henriques

Jovem, promissor e determinado, Frederico Gil é o novo talento do ténis português. Dando sequência a uma boa carreira de júnior, Gil torna-se profissional em 2003. Ao longo destes anos regista uma admirável evolução que o leva a atingir o n.º 66 do circuito ATP (Association of Tennis Professionals), tornando-se assim o tenista português com o melhor ranking de sempre. O jovem Frederico tinha Andre Agassi como ídolo e apesar de nunca ter tido o prazer de o enfrentar nos courts, já defrontou outros grandes nomes do circuito, como Rafael Nadal, James Blake, Jo-Wilfried Tsonga, ou David Ferrer. Participou já nos Grand Slams US Open, Wimbledon e Roland Garros, além de ser presença assídua no Estoril Open.

Três características essências de um bom tenista? Persistência, humildade, coragem. Mero acaso teres entrado para o ténis? Não. Os meus pais e família construíram um campo de ténis em casa e foi aí que tudo começou. Aos 5 anos, com uma raquete de madeira. O que mais te faz vibrar em jogo? Adoro competir e sentir o bichinho da competição, acho que não consigo viver sem ele. 2009 está a ser um ano de grande sucesso? Objectivos para o futuro? Sim! Quero continuar a evoluir como jogador e pessoa, ser um jogador cada vez mais completo e sólido.

04 – Real People

És o melhor tenista português de sempre no ranking mundial, como encaras esta responsabilidade aos 24 anos? Tenho muito orgulho em tê-lo conseguido, mas tenho pela frente um longo caminho à minha espera, vou preparar-me da melhor forma para dar continuidade ao meu percurso. Temos também outros jogadores portugueses no bom caminho, o Rui Machado, o Leonardo Tavares, o Gastão Elias, o Pedro Sousa, entre outros. Estamos a passar por um boa fase do ténis em Portugal. Ambicionas chegar ao Top 10 do ATP? Neste momento, ainda estou muito longe. Se algum dia isso acontecer, logo se pensará. Por agora, tenho o meu calendário para cumprir até ao final do ano.

O que achas que falta ao ténis português? Na minha opinião, talvez um pouco de falta de espírito de sacrifício e vontade da parte dos jogadores. Também a nível de estruturas, existem só um ou dois lugares onde se trabalha a nível profissional. Ainda somos muito pequenos, mas tem-se feito um bom trabalho. Espero que cada vez mais haja pessoas interessadas em levar o ténis como uma paixão e um sonho.



TERESA DILLON texto: Luísa Ribas  foto: Francisco de Almeida

Teresa Dillon é uma artista, investigadora e produtora inglesa que, desde 2007, desenvolve em Portugal projectos internacionais que integram artistas locais. Em 2008, criou o Festival UM. - Festival Internacional para Intermédia Experimental, que terá uma segunda edição de 12 a 15 de Novembro de 2009. O evento inclui exposições, workshops, conferências, concertos e obras públicas em diversos locais de Lisboa, reunindo artistas, designers, músicos, arquitectos e investigadores internacionais.

O que define o Festival UM: Festival Internacional para Intermedia experimental? O que torna o Festival singular é a tentativa de ir além do conceito limitado de "media art". Em 2009, o Festival UM trata o tema da paisagem como um processo activo e participante, através do qual construímos as nossas realidades. Os trabalhos seleccionados exploram isso ao considerarem as relações que informam essa construção, as nossas percepções e experiências. Como se iniciou o Festival? Comecei a trabalhar em Portugal assim que conheci o Ivan Franco (artista e director criativo da Y-Dreams) que me sugeriu que trouxesse o N.I.P (New Interfaces for Performance) para Portugal. Logo, desde o início, o meu trabalho em Portugal estava muito ligado às pessoas que aqui trabalhavam. Em 2007 e 2008, o N.I.P. envolveu artistas portugueses, como A ndré Gonçalves, A ndré Sier, Rudolfo Quintas, Miguel Nabinho, ou o curador Luís Silva, o Clube Português de A rtes e Ideias, Bomba Suicida, os artistas Vitor Joaquim e Laetitia Morais, a escola Restart, a Fundação Gulbenkian, entre outros.

06 – Real People

Foi o misto da atitude das pessoas, abordagem e estilo crítico que encontrei aqui e da recepção ao meu trabalho que levou ao desenvolvimento da primeira edição do UM, em 2008, com o apoio do Cada (Centro de Artes Digitais Atmosferas). Trabalho sempre com uma equipa portuguesa. Porquê Lisboa e Portugal? Pelas pessoas, pela atitude, pela vida urbana, pela perspectiva e o céu quente! Apaixonei-me pelo lugar. Tive muita sorte em ter conhecido em Portugal pessoas que estão a tentar criar e produzir novas situações. Apesar das condições poderem ser cultural e artisticamente difíceis, as pessoas não desistem. Talvez o UM possa contribuir, de alguma forma, para este processo de sobrevivência, ao criar um espaço interessante de apresentação ao nível internacional, uma plataforma para criadores portugueses e ao desenvolver um espaço crítico para um pensamento interdisciplinar e intermedia. Logo, vamos ver o que o UM pode fazer aqui! Qual a estratégia para 2009? Este ano, o objectivo é alargar o programa, pela selecção de uma gama ampla de trabalhos e práticas, e desenvolver o público, ao trabalhar com uma

www.1um1.net

série de instituições. É de extrema importância formar parceiros este ano e consolidar as ligações entre parceiros locais e internacionais, nomeadamente a Faculdade de Belas-A rtes da Universidade de L isboa, o Goethe-Institut, a Etic, a ZDB, em Lisboa, e a Universidade das A rtes de Berlim ou o STEIM de Amesterdão. Devo sublinhar que tudo isto é feito com um orçamento muito, muito apertado e com uma equipa pequena. Logo, são precisas infra-estruturas de apoio, muita boa vontade e optimismo para fazer com que funcione! Ambições futuras, certezas e incertezas? Fazer um festival é um trabalho de equipa que requer "dinheiro duro" e bons apoios… Idealmente, gostaria de continuar com o festival e estabelecê-lo. No entanto, acredito que há necessidade de maior sustentação do investimento cultural em Portugal. Apesar das dificuldades, existem pessoas que decidem ficar ou que vêm trabalhar aqui. Isto pode criar novas possibilidades, mas requer mudança e investimento. As coisas boas levam tempo, até uma vida… O risco e a incerteza fazem parte do processo. Vamos ver como se desenrola… Keep it positive and ninja, I reckon!

www.polarproduce.org



english version p.78

Zachari Logan texto: roger winstanley

As dimensões dos seus auto-retratos e a nudez explícita depressa chamaram a atenção do meio artístico para o jovem artista canadiano Zachari Logan, que responde com simplicidade aos estereótipos das representações masculinas ao longo de décadas. Sem medo de ser rotulado de exibicionista e narcisista, Logan fala do sacrifício e do heroísmo, através de um desenho táctil universal e fácil de entender.

Asherah (detalhe) grafite sobre papel 105x235cm 2009

Rainbow Tank Top pastel sobre papel 105x235cm 2009

Como é que o tema do auto-retrato surgiu no teu trabalho? Antes de começar as séries actuais de desenhos e pinturas, recorria a imagens de homens provenientes de diversas fontes, que tanto podiam ser pornográficas, sacadas da Internet, como fotografias antigas ou históricas, que serviam de base a alegorias sobre os arquétipos masculinos. Sentia que essas imagens tinham pouco a ver comigo, o que me incomodava. Ao passar para a minha própria imagem como assunto único, consegui preencher esse vazio e criar um diálogo sobre o meu próprio corpo e as formas como os corpos masculinos têm sido representados. Não sente que o auto-retrato é sempre narcisista? Como vê o tema na sua obra? Acredito que qualquer obra é uma forma de narcisismo, tal como escrever um livro ou compor uma música. A criação é narcisista porque está ligada à auto-realização. Nem todos os actos de natureza narcisista são negativos. A auto-representação pode ser um acto profundamente honesto e assustador para um

08 – Real People

público que se protege através de interditos e tabus que se criam. O medo leva ao ódio e é natural que as pessoas pensem erradamente que desenhar ou pintar o próprio corpo constantemente seja um acto de auto-amor e que isso seja algo negativo. Qual é, para ti, o mais importante auto-retrato da História de Arte? É uma pergunta difícil, mas acho que escolheria a pintura de Caravaggio “David com a cabeça de Golias”. O pintor aproveita para se auto-retratar nessa cabeça suspensa nas mãos de David. Acho que foi a sua última pintura, antes de ser assassinado, o que acrescenta uma incrível beleza à obra. Até que ponto uma estética homo-erótica influencia o teu trabalho? O meu trabalho, para ser franco, é sobre mim enquanto homem, como uma criatura e ser sexual, como outros seres. Tento ser honesto sobre a minha sexualidade, mas não explicito. Não vejo o meu trabalho particularmente gay ou recorrendo a uma estética homo-erótica.

Se alguém entender que se trata de uma obra de um gay no mundo contemporâneo, também não diria que é errado. Esteticamente, o meu objectivo é rever o meu próprio corpo dentro dos parâmetros históricos (Neoclássico, Barroco), porque o poder da arte codifica corpos e preferências sexuais através da imagem. Já algum coleccionador te pediu alguma representação especial? Na verdade não, a não a ser a minha família, que gostaria de ter imagens de flores e de animais, ao invés de imagens explícitas do meu pénis. Quais os teus maiores prazeres na vida? Gosto das coisas do quotidiano, passear com o meu marido, ir ao ginásio, tomar café. Gosto dos dias em estou no meu atelier a desenhar e a pintar horas a fio. Também adoro viajar, graças ao meu trabalho. Este ano, tive a sorte de ir duas vezes a Paris, a Nova Iorque e a Miami, expor o meu trabalho, o que me deixa muito feliz. Lisboa está na minha lista e espero que seja em breve.

www.zacharilogan.com



Brian Rennie texto: francisco vaz fernandes

Numa época em que tradição não é suficiente para manter uma marca, Gant foi buscar Brian Rennie que dirigiu, durante 20 anos, as colecções da Escada. Na sua passagem por Lisboa, este criador explica que está na hora da Gant se assumir como uma empresa sueca na linha do grande design que se vive em Estocolmo.

Vinhas de uma empresa com um posicionamento diferente da Gant. Porque razão te escolheram? Procuravam alguém com a experiência internacional que eu obtive no tempo em que trabalhei nas colecções da Escada, que tem um mercado representativo nos EUA. A intenção é levar a Gant um nível superior, desenvolvendo mais a linha de mulher, e ao mesmo tempo dar mais brilho à linha masculina. Antes de chegar, havia uma colecção de homem, mulher e criança com equipas e direcções diferenciadas. Hoje, o objectivo é dar uma visão única da moda, onde os temas e as tendências são explorados em comum. A ideia é, então, renovar e dar uma orientação de moda à empresa? Certo. Uma empresa, mesmo no pico do sucesso, se não se renova corre o risco de ter um público entediado. E é para renovar que um director criativo é necessário, para que se criem novas perspectivas que permitam estimular a imprensa e pôr o consumidor a olhar a marca de forma diferente. Há dois anos, eu não pensaria em usar Gant. Eu olhava mais para marcas como Dolce&Gabbana, Dsquared e McQueen e rejeitava Gant de uma forma snob. Não quero que as pessoas olhem para a Gant dessa forma e, por isso, hoje temos a “Gant Collection” que é uma linha mais de moda e mais luxuosa, com muitas coisas que eu próprio gostaria de usar.

10 – Real People

Que gostas de fazer no teu dia-a dia? Eu sempre gostei de trabalhar muito e ainda mais de me divertir. Era o que se pode chamar um verdadeiro party boy. Mas o ano em que fiquei a viver na Escócia, rodeado de ovelhas e vacas, fez-me apreciar muito mais a natureza e o tempo que passo com os meus 3 cães. Percebi que gosto muito de moda, mas que esse mundo não tem assim tanta importância. Sinto-me muito bem a trabalhar com a Gant porque temos um compromisso com o meio ambiente, algo que, actualmente, valorizo muito

Que pensas do facto da Gant começar a ser vista mais como uma empresa de design sueco, onde a área de moda não tem tanta tradição? Como muitos, pensava que Gant era uma empresa americana. Foi, mas já não é. O facto de ser uma empresa de Estocolmo, uma cidade que é reconhecida pelo excelente design, só pode ser bom para a Gant. Olhem para Ikea, Filippa K, Acne, Lindberg. São empresas que devem o sucesso ao espírito nórdico e, por isso, penso que é importante divulgar que também somos uma empresa sueca e que somos mais europeus que americanos.

E como tem sido a tua integração na Suécia, já que agora trabalhas em Estocolmo? Não é fácil. É uma cidade fria e escura, com um Verão curto e luminoso que não me deixa adormecer. Os suecos são reservados, o que torna as ligações complicadas, ao ponto de sentir que estou a viver numa terra de ninguém. Mas depois de tantos anos em Munique, onde toda a gente, na rua e nos bares, me conhecia e me abordava abertamente, também é interessante ser agora anónimo.

História da Gant 1914 Bernard Gant deixou a Ucrânia e emigra para EUA 1941 A família Gant começa a vender camisas para a Brooks Brothers, Manhattan Shirts e J. Press. 1949 A Gant lança as primeiras camisas com botões nos colarinhos 1967 O negócio familiar passou para diversas companhias americanas. 1980 A empresa sueca Pyramid Sportswear obtém a licença de exploração para todo o mundo, excepto os EUA. 2007 Pyramid e as licenças americanas são adquiridas pelas Maus Frères S.A., uma das maiores empresas de retalho de origem suíça.

www.gant.com


Sagatex, Comércio & Representações, Lda. - Porto · Tel. 225 089 160 · sagatex@net.novis.pt


12 – Shopping


Semi-capa TWENTY8TWELVE mala LONGCHAMP carteira FENDI na LOJA DAS MEIAS botas MARC JACOBS na LOJA DAS MEIAS botas FLY LONDON candeeiro de mesa da REPUBLICA DAS FLORES sapato de salto alto PEPE JEANS

colar de resina PEDRA DURA sapatilha DIESEL sapato FRED PERRY sapatilha PUMA by MIHARAYA SUHIRO garrafa de vodka ABSOLUT 100 luvas GANT mala com tachas MANGO

leopard spots foto: Mário ambrozio www.marioambrozio.com Styling: Conforto Moderno

13 – Shopping


14 – Shopping


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botas CAT sapatilha TIGER ONITSUKA luvas TRUSSARDI JEANS sapatos DIESEL sapatos HILFIGER DENIM

zebra crossing foto: Mário ambrozio www.marioambrozio.com Styling: Conforto Moderno

15 – Shopping


we love shopping: bags Mulher Diesel Fornarina Guess Harmour Mango Marc by Marc Jacobs NafNaf Sisley

16 – Shopping

homem Diesel Dunhill Gant Jimmy Choo/H&M Sisley



we love shopping: shoes Mulher Diesel Fist Iron Guess Lacoste Loop Mango Melissa Replay Salsa

18 – Shopping

homem Sisley Cohibas Diesel Fly London Jimmy Choo/H&M Officine Creative Replay Cat



Paula rego

casa das histórias texto: francisco vaz fernandes

Paula Rego, que tantas histórias tem oferecido ao mundo, ganha uma casa em Cascais para as guardar. É assim o Museu Paula Rego, dito “Casa das Histórias”, que reflecte 20 anos de carreira da artista portuguesa radicada em Londres. Considerada um dos expoentes máximos da pintura inglesa, a artista deu um contributo importante para a renovação da pintura figurativa e do retrato com fortes raízes em Inglaterra, no seguimento de artistas como Francis Bacon ou Lucien Freud. O museu está repleto de obras, o que torna todo aquele universo mais vibrante, fazendo-nos lembrar a grande retrospectiva no Reina Sofia (Madrid) em 2007, comissariada por Marco Livingstone. Para tal muito contribui o número de obras emprestadas pela galeria Marlborough de Londres, expostas na sala de exposições temporárias e que podem ser vistas até 14 de Março. Algumas dessas obras mais emblemáticas da artista foram recentemente adquiridas pela Marlborough ao coleccionador Charles Saatchi, um dos principais impulsionadores da carreira da artista.

20 – You Must

A exposição está dividida em quatro grandes zonas temáticas. Na primeira sala há trabalhos correspondentes aos dez primeiros anos, incluindo uma obra de 1954, época em que Paula Rego era aluna da Slade School of Fine Arts. Depois, o salto é para os anos 1980, quando Paula Rego abandona a colagem e se dedica a um figurativismo cada vez mais assumido, em obras como O Macaco Vermelho Bate na Mulher (1981). Segue-se um núcleo que vai de 1994 a 2005, onde a introdução do pastel é o ponto viragem mais relevante, produzindo séries impressionantes, como “Mulher Cão” ou “Avestruzes Bailarinas”. Esse núcleo que corresponde ao período de maior maturidade, a sua obra torna-se cada vez mais intensa, mais realista, preferindo a artista composições cada vez mais complexas, carregadas de teatralidade e de sentidos. Por fim, há um núcleo com a obra gráfica da artista, que cultivou a gravura em paralelo com a pintura.

Há ainda que referir que o museu parte de uma encomenda da câmara de Cascais, dirigida ao arquitecto Eduardo Souto Moura, com o objectivo de albergar esta colecção cedida ao município por dez anos. É uma obra imponente, implantada numa zona nobre da vila, muito perto da cidadela. O edifício destaca-se de imediato, pelo insólito das suas duas torres, assim como pela cor vermelha. Com alguma dimensão onírica, podia perfeitamente ser uma das construções imaginárias, tiradas de um quadro de Paula Rego. De facto há um bom diálogo. De certa forma, esta obra arquitectónica atravessa igualmente o minimalismo brutalista e a "ingenuidade" que caracterizam a pintura de Paula Rego.

casa das histórias paula rego   Avenida da República, 300, Cascais   Tel. 214 826 970



Nomiya

pascal grasso texto: francisco vaz fernandes

O Centro de Arte Le Palais de Tokyo, em Paris, pediu a vários arquitectos para desenharem um restaurante a partir de uma construção móvel que pudesse ser implantada no tecto do seu edifício. O concurso foi ganho pelo jovem arquitecto Pascal Grasso, que se tem destacado pela realização de fachadas tecnológicas onde métodos de iluminação sofisticados estão sempre presentes. O projecto, agora construído, foi baptizado de Nomiya, que em japonês significa “pequeno restaurante”. De facto, a pequena área de 18 x 4 m não permite mais que 12 lugares sentados, distribuídos por duas áreas, ambas com uma vista fantástica sobre a cidade e a Torre Eiffel. Totalmente construído no estaleiro naval de Cherbourg, no norte de França, foi transportado por dois camiões. É constituído por duas grandes peças. Uma é de vidro, coberta em parte por uma pele metálica. A zona de jantar tem paredes de vidro nas pontas, mas a zona do meio, que corresponde à cozinha, é coberta pela chapa metálica perfurada, permitindo a entrada de luz, que muda de tonalidade, ao jeito da aurora boreal. Entre a chapa e o vidro, desenvolvido pela Electrolux, foi colocado o sistema de iluminação néon, em linhas simétricas, o que permite a mudança de tonalidade de todo o edifício, percorrendo o espectro de uma verdadeira aurora boreal. O design de interior é minimal.

22 – You Must

www.pascalgrasso.com



Jaime hayon xadrez

texto: francisco vaz fernandes

Como todos os anos, o London Design Festival convida um designer de renome a desenvolver um projecto para a emblemática Trafalgar Square em Londres. Depois de, na última edição, o convite ter sido dirigido ao inglês Tom Dixon, este ano, o desafio coube ao espanhol Jaime Hayon. Conhecido pelas suas criações em porcelana ou cerâmica, inspiradas em parte no universo da street art, Hayon propôs-se a desenvolver um enorme tabuleiro de xadrez, com o apoio da Bizassa, com quem já estabeleceu parcerias do género. A ideia é simples, inspira-se nos imensos tabuleiros que existem nalguns parques ingleses à disposição de quem os frequenta. A peça de Hayon convida, assim, londrinos e estrangeiros para uma interacção directa, numa das praças mais movimentadas de Londres, ao mesmo tempo que promove a comunicação entre as pessoas. Esta perspectiva de criação de instalações para jardins não é inédita no trabalho de Hayon. Já numa outra parceria que tinha estabelecido em Milão com Bisazza, o designer catalão tinha criado um belveder inspirado num avião jacto.   www.hayonstudio.com

sam baron exd09

texto: francisco vaz fernandes

No Âmbito da Experiementa Design, dentro dos projectos tangenciais a Loja Sisley do Chiado mostrou uma série de peças de cerâmica de Sam Baron, com alusões às tradicionais louças das Caldas da Rainha. Como já acontecia com projectos em porcelana, como os que realizou para a Vista Alegre, o designer, reinventa formas a partir da agregação de elementos decorativos. Nestas peças a que intitula Bizarre, irrompem cabeças de cisne, rabos de peixe e orelhas de ovelha, elementos que fazem parte da nossa cultura popular material e que por isso nos são tão familiares. Feitas à mão pela Olfaire, ao contrário das porcelanas, estas loiças guardam uma certa rusticidade nos acabamentos que as tornam muito mais vibrantes. As peças estarão depois em venda na Fabrica Store no último andar da Loja Benetton no Chiado.

Sisley   Rua Garrett, 112-118, Lisboa   Até 10 de Outubro

24 – You Must


megafone 5 aguardela texto: sofia saunders

Megaphone 5 é o nome de um projecto, sem quaisquer fins lucrativos, que nasceu num grupo de amigos, companheiros e admiradores do trabalho de João Aguardela, que assim procuram homenagear e difundir o trabalho e as ideias do músico português, precocemente falecido em Janeiro de 2009, vítima de cancro. Sem ter completado 40 anos, Aguardela foi durante mais de duas décadas um dos mais activos militantes e amantes das tradições musicais portuguesas, do fado ao folclore, passando pelas palavras dos poetas. Mostrou, ao longo de boa parte da sua vida, as suas ideias e a sua visão da portugalidade em projectos como os Sitiados, Megafone, Linha da Frente e A Naifa. Para celebrar a sua visão, este grupo de amigos criou um site onde estará disponível o trabalho João Aguardela, incluindo temas que estavam no alinhamento do seu quinto álbum. Além disso, através da Sociedade Nacional de Autores, vão procurar criar um prémio anual, com o nome de João Aguardela, destinado a distinguir autores ou colectivos cujo trabalho se relaciona com a música tradicional portuguesa. Entretanto, é de registar um primeiro espectáculo, no dia 4 de Novembro, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Um concerto que junta alguns dos simpatizantes do projecto, como os A Naifa, Dead Combo, OqueStrada e Gaiteiros de Lisboa.   www.aguardela.com

errar é humano texto: francisco vaz fernandes

Trinta artistas plásticos portugueses e estrangeiros foram desafiados a criar obras inspiradas no conceito da beleza do erro, um projecto proposto pela Associação Cultural PuppenHaus, dirigida por Cristina Bravo, Felipa Almeida e Joana Astolfi. Os artistas participantes vêm das áreas da fotografia, instalação, design, artes plásticas, vídeoarte e escultura, apresentando ao público trabalhos que celebram o erro. A exposição é acompanhada de textos da autoria de Miguel Esteves Cardoso, Filipa Oliveira, João Silvério, Paulo Pires do Vale e Cristina Pratas Cruzeiro.

LX Factory Alcântara Lisboa   Até 24 de Outubro

25 – You Must


wrong weather fashion chic texto: pedro mota

O número 754 da Avenida da Boavista acolhe, desde o dia 11 de Setembro, a loja Wrong Weather (WW). A emergente “Fashion Street” da Invicta recebe assim um espaço dedicado à moda e ao lifestyle do homem contemporâneo. Com produtos que variam entre roupa e artigos de escritório, passando por cosméticos, artigos de lifestyle e acessórios, a Wrong Weather adquire um valor acrescido pela exclusividade em Portugal de produtos de marcas como Blaak, Commom Projects, Opening Ceremony ou Stephan Schneider. Os acessórios estão a cargo de nomes como Chris & Tibor, Comme des Garçons, Wallet ou Office Creative, a perfumaria por Histoires des Parfums e as bicicletas articuladas pela Strida. Apresenta ainda uma linha da casa, a WW, do estilista Miguel Flor, mentor do projecto. “Peças básicas, com qualidade, bom corte e acima de tudo confortáveis”, nas palavras do criador, que visam complementar, de forma singular, as colecções presentes no espaço. Aliando o espírito artístico, que caracteriza a cidade do Porto, ao mundo da moda, foi incorporada na loja a “Wrong Gallery”, uma galeria de exposições regulares, de nomes ligados às artes visuais, directa ou indirectamente ligados ao mundo da moda. O espaço abre com uma exposição do actual director artístico da Raf Simos, o fotógrafo belga Pierre Debusschere, num trabalho de fotografia que, mais do que fotografar, pretende captar a essência visual de um dos modelos da marca. O espaço vem assim dar forma ao mote lançado por Fiona McCade: “There is no such thing as wrong fashion; just the wrong weather.”

26 – You Must

www.wrongweather.net

wron weather   Av da Boavista , 754, Porto


envolver

Alessandro Sartori

marc jacobs lisboa texto: pureza fleming

texto: francisco vaz fernandes

Ombros acentuados, sobretudos exageradamente grandes que cobrem o corpo e peles laminados são as principais propostas de Alessandro Sartori o designer da ZZegna que conduziu a passarela a um ambiente do drama italiano as ultimas consequências. Sem dúvida um dos desfiles mais bonitos de Inverno. São especialmente interessantes os coordenados monocromáticos, especialmente em pele, em que casacos entram com funções de camiseiros que se apertam dentro das calças sublinhando a cintura e dando por contraste, maior volume aos ombros. Os sobretudos, uma das grandes tendências no guarda roupa masculino, são em ZZegna um complemento que envolve servido de segunda pele protectora. O verde oliva e o laranja aparece para cortar a negridão quase completa da colecção, dando juventude a uma construção no essencial clássica.   www.zzegna.com

Nova-iorquino de gema, foi muito cedo que Marc Jacobs descobriu a sua paixão pelo mundo da moda. E ainda bem para nós! Tendo frequentado as melhores escolas de moda e design da “grande maçã”, como a Parsons New School of Design, o seu talento foi rapidamente reconhecido quando em 1984, então estudante, ganhou o prestigioso prémio Perry Ellis Gold Thimble Award. A partir daí e depois de arrecadar os maiores troféus do panorama fashionista, a catapulta estava pronta para o lançar ao topo, no fundo, um lugar mais que seu. E, mais uma vez, ainda bem para nós! Director criativo da casa Louis Vuitton desde 1997, o designer que também leva o título de “it boy”, graças aos outfits cobertos de sense of style, já criou a sua própria marca: Marc by Marc Jacobs, que não é mais do que a continuação do talento de Marc, mas com um toque pessoal de Jacobs. Melhores notícias? Já faltou mais para que Marc não seja apenas um privilégio do Soho nova-iorquino. É já em Outubro que a Baixa lisboeta vai poder conhecer a primeira loja de Marc Jacobs em terras lusas, mais precisamente, no Largo de São Carlos. Para além do delírio das colecções de pronto-a-vestir e acessórios no masculino e feminino, a loja promete ser mais um espaço para exposições efémeras. Lisbon underground? Ainda bem para nós!   www.marcjacobs.com

27 – You Must


storn diesel texto: sofia saunders

Numa época em que muito se fala de mudanças climáticas, a Diesel propõe uma linha de denim inspirada no mau tempo. De facto, a ganga leva um tratamento que parece conter representações de relâmpagos, produzidos por longos escorrimentos deslavados que descem pelas pernas das calças. Quanto aos trovões, há rasgões a recriar a imagem, tornando esse imaginário muito vivo. Como é óbvio, este é um pretexto para celebrar um denim que se quer com um tom mais aclareado, com um ar usado e esfarrapado, directamente inspirado nos valores de cultura suburbana do início dos anos 90.

28 – You Must

www.diesel.com


aw77 nike

texto: patrícia reis

A nova campanha publicitária da Nike Sportswear, lançada em Outubro e protagonizada por conhecidos atletas patrocinados pela marca, como Rafael Nadal, Alexandre Pato e Maria Sharapova, vai dar a conhecer uma imagem renovada dos clássicos casaco e sweat de capuz “AW 77”. Assim, o hoodie, como é conhecido mundialmente, criado em 1977 para acompanhar actividades desportivas, aparece agora com novos materiais, trabalhados com a mais recente tecnologia de tecelagem, mas fiel ao conforto que o caracteriza. O modelo traz números impressos no peito, sendo ainda possível, através do serviço online da Nike ID, e como acontece com os modelos de ténis, personalizar o casaco ou sweat. De algodão orgânico, com sistema de ventilação nas mangas, o consumidor pode escolher a cor de vários elementos e seleccionar um número a seu gosto. A campanha foi fotografada, mais uma vez, por David Sims e dirigida por Karl Temper, da revista Dazed&Confused.   www.nikeid.nike.com

campana lacoste texto: sofia saunders

Para a quarta edição da Lacoste “Collector brasileiros, conhecida por Irmãos Campana, criaram uma gama de 20.000 pólos, baseada na sua famosa cadeira “Alligator”, composta exclusivamente por crocodilos de peluche entrelaçados, numa recriação da imagem dos crocodilos empilhados na lama durante a estação seca. Esta cena é reproduzida através do bordado da Lacoste, aglomerando 8 logótipos do crocodilo no clássico pólo branco, de homem e de senhora. Além desta ideia, os designers criaram um outro modelo, em que carreiros de crocodilos percorrem todo o pólo. Nesta edição limitada, existe ainda um modelo exclusivo de 12 pólos de senhora e 12 de homem, integralmente feitos à mão com crocodilos Lacoste, e que fazem lembrar os trabalhos de renda do Nordeste Brasileiro. As edições limitadas e super limitadas são produzidas em colaboração com a Coopa-Roca, uma associação de responsabilidade social, localizada na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, e que dá emprego às fantásticas costureiras que vivem naquele bairro desfavorecido. Series”, a dupla de designer

29 – You Must

www.lacoste.com


tokidoki onitsuka tiger texto: sofia saunders

O universo dos Tokidoki e a Onitsuka Tiger têm muito em comum e, por isso, é de estranhar que só agora tenha nascido a sua primeira colaboração. O criador dos Tokidoki, o italiano Simone Legno, foi sempre um apaixonado pela cultura japonesa e conseguiu captar como ninguém o lado irreverente da cultura jovem japonesa, transformando os seus desenhos num caso de sucesso mundial. Desta primeira colaboração, nasceram dois modelos exclusivos, baseados nos modelos Fabre e o Snow Topia da Tiger. Existem ambos em versões cromáticas, onde o espírito energético dos Tokidoki está sempre presente. Esperemos que esta colaboração continue nas próximas estações, até porque a palavra tokidoki, que em japonês quer dizer “às vezes”, é uma palavra carregada de esperança, que exalta a energia escondida dentro de todos nós e a crença em algo melhor.   www.onitsukatiger.com

karolina tezenis texto: sofia saunders

A rapariga Tezenis é representada pela modelo polaca Karolina Babczynska. Na objectiva dos fotógrafos desde os 16 anos, é um rosto reconhecido no Jet-set internacional. De alma nómada, em constante movimento entre Nova Iorque, Paris, Londres e Milão, Karolina é perfeita na criação de uma imagem de glamour. A campanha foi realizada pelo conhecido fotógrafo Kennet Cappello, nos Fastashely Studios, em pleno coração da pulsante Brooklyn, o bairro nova-iorquino favorito dos artistas.   www.tezenis.com

30 – You Must


elzo durt fashion street texto: sofia saunders

Depois do enorme sucesso da participação de Elzo Durt na parceria da Carhartt e a empresa de pranchas de skate Yama, o gigante do street-wear não foi modesto e escancarou as portas ao artista belga, detentor de um desenho único. Para além de um extenso artigo na revista Rugged, subsidiária da Carhartt, permitiram-lhe fazer uma exposição que roda pelas principais lojas da Carhartt, estando prevista a sua passagem por Lisboa, a partir de 24 de Outubro. O seu desenho combina um certo gosto mórbido e apocalíptico trazendo para a street art um pouco do construtivismo russo, arte deco e, no essencial, um estilo psicadélico, inspirado nos anos 60. A par da exposição, os admiradores de Elzo Durt vão ainda ter disponíveis, em Lisboa, alguns desenhos originais e séries limitadas de t-shirts com estampagens do artista, que a Carhartt mandou produzir com um package especial. Um artista a seguir.

Carhartt Store   Rua do Norte, Bairro Ato, Lisboa   De 24 de Outubro a 12 de Novembro

www.elzo.be  www.carhartt.com

ashanti melissa texto: sofia saunders

Melissa regressa aos anos 80, este Inverno, com o modelo de sapato Ashanti, que resgata as botas pelo tornozelo, actualizando-as para um estilo mais moderno. Partindo do conceito “menos é mais”, este modelo apresenta-se com saltos altos e cortes simples, para ser usado durante o dia ou à noite, com calças apertadas ou leggings. Há uma versão flocada (com pêlo) e outra em plástico brilhante em diversas cores.   www.melissaplasticdreams.com

31 – You Must


jimmy choo H&m

texto: sofia saunders

Quando Jimmy Choo, a mais conhecida marca inglesa de acessórios de luxo, aceitou desenhar uma colecção para a H&M —disponível nas suas lojas a partir do dia 14 de Novembro— permitiu que o glamour que a inspira se torne acessível a todos nós. Não se trata apenas de uma colecção de acessórios, se bem que seja essa a estar mais em foco no olhar do consumidor. Contudo, a proposta é completa, com uma linha têxtil para homem e para mulher, o que permite um look total, uma novidade para esta marca inglesa de acessórios. A colecção é repleta daqueles detalhes que fizeram a Jimmy Choo ser o que é hoje. Não faltam aplicações de cristais ou as impressões de pêlo de animal, por exemplo a de zebra, a dar um certo ar gráfico e exótico às peças. A colecção de mulher é leve, divertida, baseada em formas simples, inspiradas nos anos 80. Quanto a cores, predominam os pretos e os metalizados, cortados pelos tons fortes do vermelho ou do azulão. Para homem, sugere-se um guarda-roupa composto por fatos de lã, assim como o simbólico casaco de cabedal, estilo “motard” dos anos 80. Nota ainda para uma elegante colecção de sapatos, botas e sacos de pele texturada.   www.hm.com

the september issue texto: pureza fleming

Anna Wintour, Mario Testino e roupeiros atulhados de Chanel foram os ingredientes do realizador RJ Cutler para transportar para o grande ecrã os bastidores daquela que foi a maior Vogue edition de todos os tempos. A edição de Setembro de 2007 da Vogue Americana pesava cerca de 2,5Kg e continha centenas de páginas de esforço, dedicação e, acima de tudo, da paixão inata de quem trabalha arduamente só para nos fazer sonhar. No documentário, conhecemos o Diabo —que nem por sombras veste só Prada— Anna Wintour, e é retratado, em formato real, todo o ambiente, por vezes not-so glamorous, criado à volta da edição da fashion magazine mais valiosa e desejada do mundo. Além da própria Anna Wintour, o documentário conta com a participação da actriz Sienna Miller, das top Raquel Zimmermann e Carol Trentini e do estilista Jean Paul Gaultier. Ainda não se conhece a data de estreia em Portugal, mas, internacionalmente, a classe fashionista já se rendeu aos encantos de Mrs Wintour.   www.theseptemberissue.com

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karl lagerfeld

cats family

texto: sofia saunders

texto: sofia saunders

Um dos maiores ícones da moda da actualidade, Karl Lagerfeld, criador da Chanel, foi convertido num pequeno Tokidoki de 25 cm. Em formato achatado como é habitual nesses bonecos de vinil, reconhecemos o fato preto com camisa banca e óculos escuros. Tratase de uma edição limitada de 1000 exemplares que estará a venda em exclusivo durante o mês de Outubro na Colette (Paris) e só depois será difundido em lojas da especialidade.

Não foi provavelmente o que a imprensa mais falou, mas foi o que mais impacto criou este Verão nas ruas de qualquer cidade. Referimos as séries Cats da Rayban na versão colors que significa, óculos de sol com armações em cores pops. A família Cats, é constituída por três modelos em acetato criados nos anos oitenta que são agora reeditados em cores vivas. O Cats 1000 e 5000 são dirigidos ao público feminino. O primeiro tem linhas alongadas e envolventes ao rosto. O segundo, por sua vez, de forma arredondada, em gota, reinterpreta as formas icónicas do modelo Aviator. Para o publico masculino, há a opção dos Cats 4000 caracterizada pelas linhas quadradas e pela ponte dupla. Nesse caso temos alguns modelos bicolores, caso contrário, são modelos em amarelo brilhante, azul vivo, azul profundo, alaranjado, fúchsia, etc.

tokidoki

www.tokidoki.com

drkshadw eastpak texto: sofia saunders

Depois da fantástica colaboração de Ralf Simons para a Eastpak, é a vez do americano Rick Owens criar, através da sua marca de denim Drkshadw, uma nova linha de sacos. Nesta primeira estação, lançou 9 modelos diferentes, em algodão e nylon, onde é notória a preferência por ângulos arredondados, conseguidos através de cortes e costuras a lazer. Os tons escuros do acabamento final, o desgaste a partir de lavagens e o lado arredondado dão a cada um dos modelos a leve aparência de uma rocha. A paleta de cores é escura quase monocromática, como nas colecções de Rick Owen, muito inspirado pelos ambientes suburbanos de LA. Há sacos para muitos públicos e para todas as funções, inclusive para o transporte de portáteis, ideal para o business man.

ray-ban

www.rayban.com

Cats 4000

Cats 1000

www.eastpak.com

Cats 5000

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CANON IXUS 120 IS

samsung

18000 omnia ii

texto: patrícia reis

texto: sofia saunders

A câmara digital 120 IS, além de ser a IXUS mais fina (20 mm), possui a objectiva com o maior ângulo (28mm). Com zoom óptico de 4,0x, é a máquina mais adequada para fotografar paisagens e grandes planos, sendo que o CCD de 12,1 Megapixels e o Smart Auto determinam as melhores definições para cada fotografia. Por outro lado, o LCD Pure Color II de 2,7 polegadas permite uma visualização nítida mesmo debaixo de sol. A tecnologia de detecção de rostos ajusta a focagem e o equilíbrio dos brancos, o que possibilita imagens com o tom de pele de aspecto natural. A Ixus 120 vem dotada de correcção automática de olhos vermelhos e aviso de olhos fechados. É ainda capaz de criar filmes panorâmicos em alta definição de 720p para serem reproduzidos em televisores HD. A máquina que é mais pequena que um telemóvel está disponível em preto, azul, castanho ou prateado.

À gama de smartphones Omnia, a Samsung acrescentou o Omnia II (18000). Este telefone opera com Windows Mobile 6.5 Professional e tem o maior ecrã Amoled do mundo (3.7 polegadas), o qual fornece excelente claridade mesmo à luz do dia. Com ícones maiores e de utilização simples é dotado de Advance R Touch, que torna possível uma resposta muito mais rápida ao toque. Tem função de gravação/ reprodução de vídeo DVD (480p), navegação e downloads rápidos na net e jogos interactivos 3D. Com 8GB de memória interna e cartão até 32GB, o Omnia II é aconselhado para utilizadores exigentes, tanto para necessidades empresariais como para entretenimento.   www.samsung.com

www.canon.com

nokia booklet texto: patrícia reis

Confirma-se a ideia de que Nokia caminha para uma empresa de serviços. Lançou mais um hardware, desta vez numa área onde não tem nenhuma experiência: Netbooks. Pretende assim ganhar terreno numa área onde o Iphone e o BlackBerry se têm grandemente expandido. Este Nokia Booklet 3G é o mini computador portátil com 1,25 kg, 2 cm de espessura e ecrã HD de 10.1 polegadas, lançado pela Nokia. O novo equipamento vem com WIFI, GPS, câmara de vídeo chamadas, cartão de memória e uma bateria de 12 horas de autonomia. O Nokia Booklet permite uma fácil ligação aos serviços Nokia Ovi suite (incluindo transferência de conteúdos e partilha de fotos). É bonito e tem uma bateria de 12 horas.   www.nokia.com

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anti-cernes hd

Gel Barbe Douce

viktor-rolf

texto: Joana Henriques

texto: joana henriques

texto: joana henriques

O novo anti-olheiras da marca profissional Make Up Forever é um “must have” deste Inverno. Com uma textura leve e invisível, permite um acabamento natural. A sua fórmula «zero defeitos» acaba com as inestéticas olheiras e as sombras mais escuras desaparecem com uma textura especial de granulometria fina. O aplicador em silicone confere um acabamento preciso e imbatível. Ao mesmo tempo que camufla, o Anti-cernes HD também hidrata. Sem perfume e sem óleo, é indicado até para as peles mais sensíveis e a sua gama de 14 tons permite uma escolha personalizada.

Barba áspera? Barba dura? Barba que pica? Com Gel Barbe Douce até a mais áspera barba fica macia. A proposta é da marca Sephora Men, gama de cosmética masculina especializada. De aplicação rápida e sem passar por água, este gel não pegajoso, com propriedades esfoliantes, cuida, hidrata e amacia. Para todo o tipo de barbas e testado sob controlo dermatológico, o Gel Barbe Douce torna-se num dos gestos indispensáveis da rotina.

Megafy Youself —Enalteça-se é o lema do nome perfume da Vitor & Rolf. A palavra Mega surge do jogo com a letra Ómega do alfabeto Grego. Pêra, limão, madeira de caxemira, violeta, peónia, jasmim, manjericão e cedro são os principais ingredientes de uma fragrância de “frescura extravagante”. Por fresco, entenda-se sofisticação, suavidade e originalidade dentro de um “Megamizer” – Enaltecedor, o nome do frasco com um vaporizador que simula um selo de lacre. Eau Mega é o novo ícone feminino que vai querer usar este Outono.

www.makeupforever.com

www.sephora.com

www.nokia.com

35 – You Must

eau mega


anos 90 o tempo reencontrado texto: Dadide Vasconcelos  pintura: Chan Yu

Os anos 90 estão a bater à porta. Em 2010? Sim. Os ciclos de memória pop esperam, em média, vinte anos para ressuscitarem.

Enquanto as rádios portuguesas continuam a tocar pela enésima vez clássicos mais que batidos de Pink Floyd e Abba, de forma a responder a tendências ditadas por máquinas que, teoricamente, definem o gosto musical da sociedade, há sinais muito claros de recuperação da década de 90. E se uma geração instalada renega estas movimentações, os adolescentes de então podem começar a retirar do armário as 'jeans' rasgadas e as camisas de flanela. Isto apesar de nem toda a produção da época se resumir a Seattle, claro. No rock, o sub-género a que se convencionou chamar 'grunge' enraizou-se na memória colectiva, não só graças às marcas sonoras mas também a códigos visuais. Convém, no entanto, não subestimar um género como o 'tecno', então motivo de chacota (isto é, 2 Unlimited ou...Ace of Base), mas que agora serve de inspiração a inúmeros produtores familiarizados com linguagens nocturnas. Vamos a factos. Uma das formas mais eficazes para confirmar as inversões de ciclos está nas reuniões de bandas que então se separaram. E se os Nirvana estão impossibilitados, por razões óbvias, e os Pearl Jam se mantiveram activos, estando já a preparar o vigésimo aniversário, os Faith No More não resistiram à pressão e regressaram para uma digressão no último Verão. Para já é só, mas a porta não está fechada. Já os Alice In Chains têm um novo álbum, "Black Gives Way To Blue", agora com o vocalista e guitarrista William DuVall, no lugar do malogrado Layne Stanley. O Titanic criativo manifestado no último disco de Chris Cornell, "Scream", não é suficiente para reactivar os Soundgarden. Para já, claro. Ainda assim, os restantes músicos deram um pequeno passo rumo à reaproximação com uma actuação surpresa em Seattle, ainda que sem o seu carismático vocalista de sempre. Cornell, o próprio, já prometeu a edição de uma caixa de raridades dirigida aos fãs, com o objectivo de combater o esquecimento a que o grupo foi votado. As palavras pertencem-lhe. 2010 está à porta e o último trimestre da década que ainda corre anuncia uma nova febre Nirvana. Vem aí a reedição do depoimento de estreia, "Bleach", um DVD com o registo ao

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vivo do concerto do festival de Reading, em 1992, e a "participação" de Kurt Cobain no vindouro Guitar Hero 5. E é ver o rosto do último grande mito do rock reproduzido em T-Shirts e "long sleeves", mesmo que a gestão da imagem do ícone dos Nirvana continue a gerar trocas públicas de galhardetes entre Courtney Love e Dave Grohl. "Cientificamente", o que provoca ciclos como este? É simples. Há razões económicas e sociais. Vinte anos é o período que leva um adolescente "médio", melómano ou consumidor passivo de música, a atingir um nível de vida, no mínimo aceitável. Por outro lado, é também o tempo suficiente para recordar com saudade o baile de finalistas, a professora de português ou... as canções que então ouvia. Ambas as variáveis se cruzam, mas só assim se justifica que os anos 80 tanto tenham servido de pretexto à recuperação de êxitos durante esta década como à criação. Tendência que ainda se mantém, apesar de o filão parecer demasiado explorado. Agora, há uma nova janela que se abre. Aqueles que então calçaram all-star rotos têm hoje uma posição imune à crise, suficiente para levar a reedição de "Ten", dos Pearl Jam, ao terceiro lugar do 'top' de discos, numa altura em que a música gravada pouco vende. Há promotores sedentos de reuniões como a dos Faith No More para capitalizar a nostalgia. E há também contas bancárias que emagreceram, sendo que essa míngua já não é compensada com a recepção de direitos de autor. Se no rock é assim que o quadro se pinta, o "tecno" volta a estar na ordem do dia e, em parte, graças à herança de inícios de 90. Calvin Harris, autor do mui recomendável "Ready for the Weekend", é um bom exemplo de como praticar pop hedonista e sensorial, mais preocupada com o corpo do que com a mente. As reacções negativas da comunidade intelectual ao disco provam que este escocês está no bom caminho. E as pistas encarregar-se-ão de o comprovar.


Chan Yu “Kurt Cobain with Treble Meanings No. 1” acrílico sobre tela 180x180cm, cortezia da 82republic Gallery, HongKong www.82republic.com

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strut em busca do disco perdido texto: rui miguel abreu

«Ze 30» e «Horse Meat Disco» lançam achas para a fogueira do revisionismo disco que marca parte da produção mais interessante do presente. Tudo isto pela mão da Strut Records.

Com a imposição do formato CD, na transição da década de 80 para a de 90, surgiu igualmente a figura do curador da memória passada na pele do coleccionador de vinil. DJ umas vezes, produtor outras, mas tantas vezes alguém simplesmente interessado nas coordenadas exploradas no passado, esta figura recolheu e cuidou de artefactos da história da música a que a indústria discográfica, demasiado ocupada a vender pela segunda vez os mesmos discos às mesmas pessoas, não estava a prestar atenção. E depois, com o crescimento em importância da cultura da música de dança, apoiada constantemente numa revisão em alta do passado por via do sampler ou do próprio giradiscos, surgiram as visitas guiadas à memória de determinadas correntes pela mão destes especialistas. Talvez tenha sido durante o reinado acid jazz —que coincidiu igualmente com a explosão sampladélica do hip hop— que se tenha atribuído importância ao acto de reciclar as rare grooves que serviam de pedra de roseta a toda essa cultura. As compilações «Blue Breakbeats» da Blue Note são disso um bom exemplo. Claro que não foi essa a primeira vez que se olhou para o passado com essa perspectiva: já na década de 70 as compilações «Nuggets» investigavam o legado americano de garage rock psicadélico em busca dos primeiros capítulos de uma história que viria a desaguar no punk —um dos organizadores era aliás Lenny Kaye, músico de Patti Smith. Mas Nuggets era claramente uma excepção numa indústria mais interessada em re-empacotar êxitos do que em olhar para a música que tinha escapado às alargadas malhas do sucesso. Foi portanto na década de 90 que se consolidou este hábito de iluminar largas porções do passado que não tinha logrado entrar para os livros de história. Nesse processo surgiram

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Family & Horse Meat Disco Lizzy Mercier Descloux & Patti Smith, NYC, 1976

editoras especializadas em vasculhar artigos e em recuperar para o presente música que há muito estava confinada a poeirentos arquivos: a Soul Jazz, a Harmless ou, entre várias outras, a Strut são exemplos óbvios. Depois de ter visto a sua actividade interrompida em 2003 —quando no seu catálogo já incluía pérolas preciosas que recuperavam a memória do afrobeat da Nigéria, do disco de Nova Iorque ou do funk do Brasil— a Strut regressou à actividade em 2008 mercê de uma proveitosa associação à K7! E desde então não tem parado, prosseguindo o trabalho interrompido em 2003 e oferecendo-nos visitas guiadas à actividade dos estúdios Compass Point das Bahamas, ao Calypso das Caraíbas, à obra de Kid Creole e ao Italo Disco, entre outros títulos. Desta vez, a Strut também inverte a perspectiva e acrescenta à recuperação do passado uma sólida actividade de busca no presente dos desenvolvimentos originados precisamente pela música que lhes alimenta parte generosa do catálogo: edições dos Breakestra (pioneiros na renovação do funk) ou a série Inspiration Information —que promoveu o encontro de artistas como Mulatu Astatke e os Heliocentrics ou até, a editar em breve, de Jimi Tenor e Tony Allen— não permite que se desenvolva sobre a Strut outra ideia que não seja concordante com a de uma editora de pés firmemente apoiados no presente. Na mais recente leva de edições, há duas compilações de interesse acrescido: «Ze 30», dedicada à história da seminal editora Nova Iorquina que explorou os canais de comunicação abertos entre a cultura disco sound e o punk, e ainda «Horse Meat Disco», compilação que ilustra o espírito de um clube a operar actualmente em Londres sob a orientação de Jim Stanton (ligado à revista Jockey Slut) e James Hillard (em tempos na mítica Nuphonic).

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Com as compilações «Disco Not Disco» e «Disco Itália», a Strut já tinha explorado esta estética, mas o facto de ter encontrado mais dois ângulos para abordar esta área da música de dança só realça o rigor com que olha para um passado riquíssimo. A Ze, claro, ajudou a definir os rumos da Nova Iorque mais desafiante do arranque dos anos 80 e na música dos Was (Not Was), Lizzy Mercier Descloux, Alan Vega, Kid Creole, Material ou Aural Exciters encontram-se as pistas para descodificar boa parte da produção de gente louvável como os LCD Soundsystem ou os Rapture. E se há bandas que seguem no presente a via deste disco sound angular é precisamente porque esta música se recusa a ficar encerrada no passado. E pode dizer-se exactamente o mesmo da música seleccionada para «Horse Meat Disco»: este clube inspira-se no período dourado da história de Nova Iorque, que viu a música alargar-se até às 12 polegadas de vinil e o DJ a ganhar protagonismo em clubes como o Loft ou o Gallery. Na música de Karen Young, K.I.D., Gino Soccio, Gregg Diamond ou Tamiko Jones escolhida para esta compilação encerram-se verdadeiros manifestos de liberdade rítmica, pensados com o único propósito de realizar as visões do DJ que, do alto da sua cabine, orquestrava os movimentos na pista de dança. Música de realidade, portanto, mas também de fantasia e até de utopia social e política (títulos como «Love Me Tonight» ou «Let it Flow» indicam isso mesmo). Com os olhos no passado, mas a cabeça decididamente ancorada no presente, a Strut prossegue a sua missão, em busca dos discos perdidos.


joakim o cientista louco texto: rui miguel abreu

Regresso do produtor francês de culto que já emprestou o seu toque pessoal a artistas como Cut Copy, Simian Mobile Disco ou Royksopp. «Milky Ways» é o título da sua viagem pelo espaço.

Uma busca na Wikipedia revela o nome de Joakim Lindstrom, que por acaso identifica um jogador de hóquei sueco, nascido em 1983, mas que não ficaria mal como baptismo para um projecto que reunisse o norueguês Hans-Peter Lindstrom e o francês Joakim Bouaziz. No que a projectos musicais diz respeito, seria perfeitamente possível pensar em encontros bem mais improváveis. Afinal de contas, Joakim e Lindstrom partilham um mesmo gosto por paisagens analógicas, sons em câmara lenta e uma ideia muito sui géneris de disco sound. Esses pontos em comum entre a obra do produtor nórdico e do homem do leme da editora Tigershushi tornam-se mais evidentes durante a audição de «Milky Ways», trabalho que sucede a «Monsters & Silly Songs» na discografia de Joakim. Entre o rock e um psicadelismo electro, disco progressivo, new wave transviada e algo mais de indescritível, adivinha-se o som de um produtor a chegar à idade adulta, com perfeita consciência da exposição plena do passado perante os ouvidos contemporâneos. A revista online 365mag citava Joakim a propósito de «Milky Ways»: «Penso que a maior parte dos jovens artistas de hoje são uma espécie de arqueólogos, especialmente nos domínios do design gráfico e da arte contemporânea». Não é possível competir com a

história, com o que já foi feito. Tem que se usar isso de forma mais ou menos desrespeitosa para se conseguir fazer coisas novas. Não se pode dizer apenas “vamos fazer algo novo e esquecer tudo o que foi feito antes”. Isso é impossível

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e pretensioso. Especialmente quando toda essa música está disponível algures, em permanência. Sou viciado em música e ouço coisas muito diferentes. Sempre que ouço algo interessante numa canção, penso «vamos tentar isto, colocar

controle. Tentamos ter uma forma de adaptar as can-

esta ideia num contexto completamente diferente e ver

bum foi a ideia de juventude e de espírito adolescente,

o que acontece, como um cientista louco.» A confis-

na nossa sociedade, baseado no consumo. E isso colo-

são de Joakim é desarmante e também profundamente honesta. A tecnologia transformou boa parte da criação em colagem, o que não significa que, no contexto actual, o acto de colar seja inferior ao de criar. A verdade —e concentremo-nos especialmente no universo da música— é que nunca nenhuma outra geração teve que lidar com o facto de passado e presente existirem num mesmo plano, indiferenciado: uma nova banda pode ser em iguais doses influenciada pelos Beatles e pelos Arctic Monkeys —estão ambas presentes nas prateleiras das grandes cadeias de lojas. Ou por Bernard Szajner e Flying Lotus… A cada dia que passa aumentam as referências disponíveis, se não no mercado das reedições, certamente nos blogs apostados em digitalizar as mais obscuras memórias. Joakim tem consciência desse facto. E «Milky Ways» mostra-o claramente. «Sempre que termino um disco, penso: “ok, isto é o que eu não gosto, temos que fazer algo diferente para a próxima. Desta vez eu pensei em fazer algo mais simples e mais directo do que no álbum anterior, mas não me parece que tenha conseguido. Quando estava a masterizar o disco pensei “whoa, isto é bastante intenso. É como se a dado momento o processo criativo escapasse ao meu

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ções que nos dê mais liberdade para improvisar, dependendo da situação. Na maior parte das vezes as versões ao vivo dos temas são mais simples e mais rock —bastante barulhento por vezes. A inspiração base para o ál-

cado em paralelo com a ideia de estado selvagem ou de paraíso perdido. Como se estas duas coisas —estado selvagem e juventude— fossem dois estados míticos.»

O subtexto psicadélico que atravessa «Milky Ways» ajuda a compreender as declarações de Joakim, interessado em regressar a uma pulsão mais primária e comunal com a banda que o acompanha, apropriadamente baptizada como The Disco. Goblin e 13th Floor Elevators, Richard Bone e Rinder & Lewis, Lindstrom e Chris & Cosey, os Can e Alan Vega… Joakim. As coordenadas são as da mais pura liberdade e da mais aberta imaginação. E «Milky Ways» é Joakim a pensar em voz alta, no estúdio, com músicos capazes de o seguir em qualquer direcção. Como os assistentes de um louco e visionário cientista.


f ly g e n e fotos: pedro janeiro

A pensar nas jovens modernas que prezam no essencial a liberdade de movimentos e a expressão da sua individualidade a Reebok criou alguns modelos de ténis que melhor se adaptam a este estilo de vida. Ou seja, um conjunto de modelos dedicas a Fly Generation da Reebok. Os Top D own são um modelo que parte do perfil dos Freestyle, de sempre, um dos modelos preferidos de sempre, só que agora, sem necessidade de a acompanhar tanto o tornozelo. Na verdade chama-se C atarina Q uerido 17 anos, veste sweat e C ourtee M id da reebok O que te faz voar: Um bom livro ou um bom filme, estar entre amigos. O que te faz aterrar: Um dia cinzento de chuva. Os teu hobbies: Cinema. O teu estilo de vestir: Procuro usar cores fortes, sempre a combinar com uma peça preta. Padrões leopardo, letras futuristas, tshirts de grupos de música electrónica. Posso dizer que o meu estilo é de festa, de discoteca. A minha mais recente obsessão é ténis.

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e r ati o n styling: ângela Araújo make-up: Inês Pais (Unicórnio azul)

Top D own porque a pala e o cano dessa bota podem ser rebatidos, passando de bota, a sapato. Já o C ourtee M id é uma adaptação feminina das linhas masculinas de sapatilhas para basquetebol onde também a Reebok se destacou. Os C ourtee M id evidenciam-se por um certo revivalismo dos anos 80 onde se aplicam peles com verniz, reflexos e muita cor.

www.reebok.com S ophia C ruz 19 anos, calça Top D own da reebok O que te faz voar: O mundo das artes, estar com os amigos, os dias bons de Verão. O que te faz aterrar: Não ter nada para fazer. Os teu hobbies: Pintar,ver séries... O teu estilo de vestir: Casual.

43 – Reebok: Fly Generation


Filipa A lbuquerque 22 anos, veste leggings e C ourtee M id da reebok O que te faz voar: as coisas simples! os pormenores! os sonhos! a minha infância! sem dúvida!! :) O que te faz aterrar: O curso! Os teu hobbies: Adoro tudo o que tenha a ver com artes, passo a maior parte do tempo de volta disso. O teu estilo de vestir: Depende da ocasião, mas escolho sempre coisas confortáveis, normalmente sapatilhas e tudo o que tenha cor!

44 – Viewpoint


Vanuza P ereira 27 anos, veste tshirt e Top D own da reebok O que te faz voar: Viajar, desenhar, a música e o bodyboard. O que te faz aterrar: O despertador! Os teu hobbies: Dar toques de bola, piano, bodyboard, desenhar e pintar. O teu estilo de vestir: A minha roupa transmite a minha atitude perante a vida, num estilo descontraído e urbano. Procuro peças em fique confortável e bonita.

45 – Reebok: Fly Generation


english version p.78

pedro costa texto: FRANCISCO VAZ FERNANDES

Quando se aguarda a estreia do novo filme de Pedro Costa, com a actriz Jeanne Balibar, e se comemoram os 20 anos do seu primeiro filme, “O Sangue”, que a Midas lança agora em DVD, aproveitamos para falar com o realizador, que se diz mais próximo do artesão do que do artista, sobre o seu cinema singular, um dos mais marcantes de sempre, construído à margem dos meios habituais de produção. Ele que diz que o cinema nasceu na rua, explica como o lugar e as condições em que esse cinema acontece, estruturam as opções estéticas que muitos agora aclamam. Recentemente a Tate Modern, a mais prestigiada instituição britânica dedicada à arte contemporânea, organizou uma retrospectiva completa da sua obra. A revista Sight&Sound dedicou-lhe um longo dossier de 6 páginas e o diário, The Guardian, diz no título do artigo que lhe dedica que Pedro Costa é o Samuel Beckett do cinema.

No ano em que “O Sangue”, o seu primeiro filme, completa 20 anos, qual a emoção que sente em rever esse filme? Os filmes que eu fiz, vejo-os pouco. Agora um pouco mais por causa das edições em DVD, sobretudo porque há que voltar às matrizes e fazer rectificações de cor e de som. São questões de natureza técnica que me obrigam a assistir às projecções, senão não vejo. Mas não os vendo, guarda ainda na memória a emoção de quando fez o seu primeiro filme. Consegue lembrar-se? O filme saiu para as salas em 90 e, desde então, tudo mudou e eu mudei. Foi um primeiro filme, como são quase todos os primeiros filmes para os realizadores. É um filme especial para cada um de nós e é um cliché dizê-lo. Outro cliché é o de que se tentou lá pôr tudo o que se sabia, o que se sentia, o que se tinha visto. Era um filme que tinha mais urgência e que se distingue por isso, mais do que os outros. Mas não sei se isso será uma qualidade ou não. Quais eram as referências, já que está a falar de uma multiplicidade de coisas que o informavam? Sou um espectador banal. Não vou ver só filmes ditos artísticos, antes pelo contrário. Já nessa altura, e estou a falar de 10 anos antes de sair “O Sangue”, via muito cinema, como as pessoas em geral. Lisboa

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tinha muitas mais salas e havia muitos cinemas de bairro. Eu, por exemplo, vivia numa zona que tinha muitos cinemas. Pensar nisso é aflitivo. Só em Arroios, lembro-me do Império Estúdio, Patex Rex e mais uns quantos, só nesse bairro. Estamos a falar de cinemas enormes com salas de 400 lugares. O cinema era outra coisa e eu já estava a assistir ao final de uma época em que havia matinés com os western spaguetti, filmes históricos, comédias e filmes de todo o género. Provavelmente, o interesse pelo cinema não decresceu, mas podem é existir outras formas de o ver. O que pensa do facto de grande parte dos jovens fazerem downloads dos filmes? Acho bem quando os filmes não são acessíveis de outra maneira. Eu próprio, se quiser ver um filme mais complicado de Andy Warhol, sei que tenho uns amigos mais jovens a quem recorrer. Mas do que estávamos a falar era de cinema nas salas e isso mudou muito. Para ter acesso às salas, é preciso ter muitas ajudas, sorte… Considera que para começar uma carreira como cineasta é mais complicado agora? Não. Começar é muito fácil. É o que existe hoje. Quando comecei, não havia carreiras. Havia cineastas e vivíamos um outro espírito, se quiser, menos comercial, menos

carreirista. Hoje é mais pelo “show off”, é mais importante a ante-estreia no CBB do que o filme. Mais importante a menina dos “Morangos com Açúcar” sair da limusina, a presença do Ministro da Cultura do que o filme. Não estou a dizer que seja só cá. É assim em todo o lado. As coisas são de facto muito mais rápidas e mediatizadas. O sue cinema é genericamente lento, mais próximo do tempo do quotidiano… Os filmes que eu faço, não os faço para toda a gente. Não os faço para si nem para o homem da rua nem para pobre nem para o rico. Faço filmes porque me interessam, porque o cinema interessa-me como instrumento de análise de pensamento, como forma de captar alguma coisa desse quotidiano, como diz. Se ainda existe algum instrumento com energia é o cinema. Agora, não tenho a ambição de fazer filmes para toda a gente. Aliás, essa ambição… não tenho palavra para ela, é monstruosa. Quero milhões de espectadores, quero conquistar o mundo e estamos próximos de uma coisa que todos nos lembramos, com todas as suas variantes. Não estou a ser político, estou a ser humano. Os filmes que eu faço, tal como outros, dividem muito as pessoas.


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Num determinado período deixa de lhe interessar uma história linear. Godard referia que o cinema é uma rapariga e uma pistola e que, a partir daí, cria-se uma narrativa. É um problema de embalagem, porque você tem narrativas complexas e sofisticadas em filmes americanos de grande público e as pessoas aceitam sem questionarem. Vivendo eu aqui, fazendo os filmes que eu faço, não são tanto as questões artísticas de estrutura do filme que eu acho que tem interesse discutir. Pergunte-se quanto dinheiro custa e porquê, porque se fez assim, e aí talvez se possa perceber algumas das escolhas que têm a ver com a narrativa. Se bem entendo, esta questão de apresentar a realidade mais do que representar tem mais a ver com questões estruturais do país do que com uma questão estética? Não é isso. Tem a ver com escolhas. Não foi deliberadamente, foi pouco a pouco. Foi ao pensar nisso ao longo dos anos e a trabalhar em cinema que

escolhi afastar-me do meio do cinema. Do meio, no sentido da parafernália, da maquinaria, de tudo o que o cinema tem de pesado, das relações que estão nessa profissão, como em qualquer outra. Das hierarquias, das relações poder. Do que eu me afastei foi da maneira de fazer filmes correntes. Está a referir-se ao facto de ter passado para a câmara digital, o que pode ser conotado com um tipo de cinema menor? Fiz esta escolha, por exemplo. Permite-me, entre outras coisas, fazer filmes mais baratos, não necessariamente mais rentáveis, não é isso que eu quero dizer. Permite-me ainda ter mais tempo para o que eu me proponho fazer. E ter margem de manobra para chegar ao fim do projecto que eu quero, porque o essencial é não perder de vista o filme que se está fazer. O que vejo no cinema de hoje, para além de se imitarem uns aos outros, é que quase todos perdem a razão de existir nos primeiros 15 minutos. Já não há razões para continuar aquele filme, já se sabe que é parecido com outro, que nos faz lembrar aquele outro e que aquele actor está a fazer a mesma coisa, talvez melhor talvez pior. Eu continuo a ter o cinema em altíssima consideração e ainda o considero um instrumento filosófico.

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Estes problemas não se prendem com uma crise da representação e com o facto de querer fazer um cinema mais directo, filmar a vida tal como ela? Fazer um filme mais directo, tentar não cegar, ensurdecer o filme com uma sofisticação narrativa, técnica ou representativa. Ou seja, há demasiados filtros no cinema. O cinema tem perdido muitíssimo. Todos os dias se perdem coisas incomensuráveis. Eu acabei de fazer um filme a preto e branco e sei, através do laboratório de Paris onde o fiz, que daqui a 3 anos será impossível. Acabará, não há mais película a preto e branco. E isto é criminoso e exaltante para mim, porque estou próximo, mas deve ser emocionalmente perturbador para todos aqueles que um dia viram um filme a preto e branco. E isto são escolhas, evidentemente. Alguns analistas falam num cinema antropológico. Esse chavão diz-lhe alguma coisa? As intenções, quando se diz isso, são boas. No tempo dos meus colegas mais velhos

que me inspiravam, como Jean-Marie Straub, chamavam-lhe marxista, maoista ou materialista. E hoje chama-se antropológico? O problema, e continuo a dizer que as intenções são boas, é que quando se diz que é um filme antropológico, de Pedro Costa, que está nos cinemas El Corte Inglês no dia 12, isso barra ao distribuidor uma data de espectadores. Tirando isso, não me faz impressão nenhuma. Se disser que foi ver um filme antropológico ou marxista numa conversa de café, parece-me melhor do que publicar. Muito do seu cinema nasce de relações, tem uma proximidade com as personagens. Como surgiu a ideia de ir filmar para as Fontainhas e explorar aquele universo? Não foi uma ideia, foi um golpe do destino. Fiz um filme em Cabo Verde, na Ilha do Fogo, que teve uma rodagem longa e uma preparação de 6 meses, quase solitária, o que me permitiu conhecer bem as pessoas, especialmente na aldeia de Chão de Caldeiras. Como em qualquer aldeia, ao quarto dia, já conhecia toda a gente e estabeleci uma rede de relações. No final, ficou uma amizade e, no regresso, entregaram-me presentes, cartas, café e tabaco para eu trazer para os familiares imigrados em Lisboa. Acontece que a maior parte dos seus familiares viviam nas Fontainhas.

E a partir daí surgiram 3 filmes. Como foi a sua integração no bairro? Eu tinha ficado deslumbrado com o Fogo, com as pessoas de lá e, quando entrei nas Fontainhas com essa “saínha”, como se diz lá, acabei por ir ficando. Não tinha nenhum projecto de filme nem nenhum compromisso com um produtor, por isso estava aberto a tudo. E por isso fiquei. Passei, basicamente, um ano a passear e a conhecer as pessoas, a ir a baptizados e a casamentos. A certa altura, pensei que tinha encontrado um sítio que me falava, que me pertencia mais do que os outros. Tinha partes em que era difícil penetrar, que não conseguia ajuizar. O cliché é sempre o de temos muito medo da Cova da Moura, das Fontainhas e do 1° de Maio, mas eu posso dizer que eles também têm muito medo do mundo exterior. Isso é uma coisa que o meu cinema me permite ver. Coisas como estas, em que o mundo das Fontainhas vivia. Mais do que o sofrimento, o flagelo da droga, o abismo da degradação, que são

coisas que pertencem ao discurso fácil, é a angústia de enfrentarem o mundo exterior. O diálogo intercultural é um dos pilares deste Século em que vivemos. Acredita que seja possível? Não vejo diálogo nenhum. Quantos filmes se fazem em Angola, em Moçambique e no resto de África? Eu sei. Os meios de produção estão sempre nas mesmas mãos. Pela boa vontade não se vai lá e pela lei pareceme absurdo. Na verdade, já há leis no cinema, há leis de co-produção entre Portugal e Angola que dão monstruosidades. É deitar dinheiro à rua, quando existem africanos e asiáticos a fazer coisas interessantes. Existem! Só que estão como eu, em posições minoritárias. O diálogo é muito pequeno, não existe. Acha então que falta uma dimensão de amor e de calor humano em todo este processo de produção de cinema que se faz hoje? Eu tenho chegado, penosamente, à conclusão de que os filmes só se podem fazer por qualquer coisa e não contra qualquer coisa. Evidentemente com todas as raivas e com sentimentos contraditórios de toda a ordem. No meu caso, tenho filmado em zonas muito desprotegidas, muito difíceis, muito cruas, onde é sempre possível ser levado pela primeira emoção de revolta e de combate. É difícil, mas preferi um caminho, não digo muito claro, mas


que foi encontrando uma maneira de fazer o melhor de que for capaz. Eu como realizador, o Ventura e a Vanda Duarte com actores. Fazer o melhor por qualquer coisa. Primeiro pelo filme e depois por nós mesmos. Não sei se respondo à pergunta. Penso que sim, estava a meditar na exposição de Vanda Duarte. É impossível ela oferecer-se sem qualquer protecção, a não ser por um acto extremo de doação. O que houve e que há com ela, e com outros do bairro das Fontainhas, não tem preço e isso muda tudo. O cinema foi sempre associado a um luxo. Tenho tentado provar que o cinema é outra coisa. Pode viver sem exagero, com cinquenta vezes menos dinheiro. Pode ter o mesmo aspecto profissional e pode ser feito de outra maneira. Pode haver uma troca, é a palavra que me ocorre. Os filmes que eu fiz antes sofriam do mesmo, era mais um comércio. Os das Fontainhas, é interessante, porque sendo o mundo mais comercial que

existe, obscuramente comercial, é no fundo onde o dinheiro menos interessa. Ou seja, onde mais falta faz é onde menos tem valor. Por isso, essa coisa da troca dá-nos essa nudez, essa crueza. A sua câmara é uma câmara parada e, às vezes, quase o imagino um director ausente, por exemplo no caso de “No Quarto de Vanda”… Tenhamos atenção ao vocabulário que usamos. A câmara não está parada. Está tão parada como num filme de Chaplin. Ninguém diz que a câmara de Chaplim está parada, porque Charlot mexe-se muito, cai de cócoras, etc. Admita que a câmara olha para alguém que está a tremer, por exemplo. É o que ocorre em “No Quarto de Vanda”. Acontece que a Vanda treme tanto e aquelas paredes tremem tanto, quase metaforicamente. De facto, elas estão a ser abanadas por caterpillars que as deitavam abaixo. A Vanda está a tremer e todas as “Vandas” estão a tremer interiormente. Você conhece pessoas assim. São amigos seus e, um dia, quando tiver que tomar a decisão de fazer um retrato, vai ter problemas morais concretos, por fotografar, filmar, escrever sobre essa pessoa. Esse é um problema muito interessante, que tem a ver com você e com ela e, aí, vai ter que pensar como coloca a câmara. Em que sítio? De que maneira? Quero-a ver de lado, na sombra, na claridade, a nu! São 49 – Pedro Costa

escolhas fundamentais, parecidas com as grandes decisões da vida, as que temos que tomar. Tão importantes como essa história de pôr uma câmara à frente de uma rapariga que consome heroína há 12 anos porque… É aqui que começa o trabalho e a aventura, é aqui que pode começar o deslize e a patetice, ou não. O meu trabalho foi tentar não violá-la e não entrar em certas zonas. Não era que ela não me permitisse, porque ela a mim permitia-me tudo, mas a minha responsabilidade, apesar de tudo, era não cair em grosserias. De qualquer forma, tem planos fixos, que evitam um certo voyeurismo? Eu faço filmes em espaços de 2x2m. O quarto da Vanda era pequeno. Não há razão para meter a câmara a andar à volta. Depois, não há razão de mostrar a Vanda de todos os lados, como hoje se faz, porque a Vanda, para mim, será sempre inteira e sempre bonita só de um lado. O filme foi bem sucedido, como se costuma dizer, mas também se disse que eu estava a embelezar a miséria, a fazer das Fontainhas catedrais Gótico-bizantinas. Considera-se mais perto de um operário ou de um artista? Não diria de um operário, mas de um artesão claramente que sim, no sentido em que tento fazer com que coisas que se detenham de pé, que sejam interessantes e estejam cheias de sentimentos conhecidos das pessoas. Não procuro objectos que, por terem sido mal feitos, caiam nos próximos três meses, o que ainda me aconteceu em casa, recentemente, com um candeeiro comprado numa loja que todos nós sabemos. O Rubens, o Rembrandt, o Piero de la Francesca ou o Chaplin eram artesãos mais do que artistas Acha que o seu cinema caminha para uma libertação, um pouco como Robert Frank lutava contra as limitações do próprio género fotográfico? É bonito que tenha falado do Robert Frank, porque é uma das pessoas em que se sente uma liberdade no olhar que é muito difícil de conseguir: a ausência de quadro e de esforço do compor. É difícil, mas este é o nosso trabalho. Não tem a ver com uma metafísica. Sei que tem um filme novo que vai estrear nas salas em Novembro. Nasceu de uma amizade com uma actriz francesa, Jeanne Balibar, que, nos últimos tempos, por tudo o que temos estado a falar, também se desinteressou pelo cinema. Como tem uma voz muito especial, começou a cantar e perguntou-me, a certa altura, se eu não queria fazer um clipe para um disco dela. Eu disse-lhe que sim e entusiasmei-me. Em vez de ficar com os 3 minutos standard, ficou com 12. Então, pensou-se em filmar também uns concertos e, mais tarde, pensámos nos ensaios, porque aí é que era realmente interessante. E nasceu este filme, que é um filme musical sobre esse trabalho. É um filme interessante,

porque sobre a coragem de cantar, que eu não tenho. Às vezes, apetece-me… De facto, já tinha lido que, a certa altura, não sabia se queria ser realizador ou músico… Tinha umas pequenas ambições, frustradíssimas, de tocar guitarra. Mas isso era numa outra época, em setenta e sete. Os acasos nunca são acasos. Agora tem uma actriz que não tem que ser actriz… Este filme com a Jeanne Balibar é aparentemente diferente dos trabalhos realizados nas Fontainhas. Mas tem muita coisa em comum. A primeira é ela própria. Como aconteceu com a Vanda, ela pôs-me à disposição algumas coisas e eu ponho à disposição delas outras coisas, mas não há um contrato. Procuro fazer um filme que seja o mais empolgante possível, mas sempre nesse mesmo espírito.


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SPACED OUT Arquitectura Hippie dos anos 60 texto: Diana de Nóbrega

Lições de vida da contra-cultura dos Sixties. Arquitectura. Arte. Filosofia. Às vezes, estar fora do espaço é a única solução para estar com ele. Anos 00 e década de 60. Quem descobre as diferenças?

O novo milénio tem mais em comum com o movimento hippie da década de 60 do que a experiência que os nossos rituais quotidianos, dependentes da World Wide Web, smart phones, mp3 e andares empilhados em mil prédios, poderia supor. Aqueles que são dados a assuntos esotéricos acreditam que existe um novo nível de consciência que está a despertar desde 1960: a Era de Aquário. Dizem os sábios que a consciência humana está a transmutar-se para algo mais unido, sólido e livre. Para todos os outros, é claro que o principal fermento criativo, o eu humano, está a sentir uma mudança, materializando-a na arte e numa nova forma de viver. O ser "green", o design sustentável, o anti-globalismo, as roupas em segunda-mão, a reciclagem, a cozinha orgânica, as curas alternativas, os festivais de Verão e o ioga fazem parte do legado que os Sixties nos deixaram, embora andemos imbuídos da crença de que estas são ideias absolutamente novas. As escolhas que grupos como os hippies abraçaram —alimentos biológicos, meditar ou fazer opções de vida regidos pelos valores da liberdade, do amor e da paz— foram considerados subversivos pela sociedade da altura. Agora, no novo milénio, estamos ainda a tentar alcançar aquilo que começou há quase 50 anos.

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A lastair Gordon decidiu escrever "Spaced Out —Radical Environments of the Psychedelic Sixties" em resposta à cultura do controlo que, segundo o autor, surgiu depois do 11 de Setembro de 2001. "Pareceu-me uma boa altura para invocar um período de experimentação desenfreada", escreve no seu blog. "A luta por um determinado espaço mental, um lugar sem limites ou divisões que possa fomentar a espontaneidade, alimentar novos tipos de experiência ou mesmo alterar a consciência humana. O sonho nunca morreu, mas a história necessita de ser recontada", acredita o autor, que também se divide entre a actividade de curador e de crítico de Design e Arquitectura. É ainda autor de vários volumes sobre o tema e colabora com publicações como o "The New York Times", a "Architectural Digest" e a "Dwel". A exaltação da liberdade

Spaced Out. Como o título sugere, A lastair Gordon conduz-nos através de uma viagem à estética dos anos psicadélicos, onde o conceito de espaço foi reestruturado, tornando-se amplo e livre, à imagem da filosofia hippie. O LSD, as viagens ao Oriente e as novas interacções humanas, mais livres e solidárias, influenciaram a idade das cornucópias e transformaram os conceitos tradicionais de "divisão", "casa" e família". Os espaços deixaram de ser rígidos, transformando-se

em áreas abertas, e as atmosferas diáfanas e harmoniosas ditavam as regras. As esquinas deram lugar a linhas orgânicas e os limites dissolveram-se com as barreiras do espírito humano. As divisões respiravam. Muitos quartos chegavam mesmo a ter uma aproximação ao conceito de útero: espaços pequenos e disformes, alheios à ideia de mobiliário e cobertos —desde o solo ao tecto — de alcatifas sumptuosas, que serviam os mais diversos fins. Dormir, comer, conviver, tripar e fazer amor. A vivência do espaço foi reformulada a partir do ponto zero, num rewind até à emergência da civilização humana, um crítica à relação moderna com o mobiliário e com os seus espartilhos. Tal como Jimi Hendrix libertou a rock music, os jovens arquitectos psicadélicos abandonaram as práticas convencionais e aceitaram o desafio de colocar os sentidos humanos em cheque, desenhando o paralelismo entre a consciência humana, o Design e a Arquitectura. Na sede da International Federation for Inner Freedom, em Massachussets, foi criada, em 1963, a Time Chamber. Este era um pequeno espaço onde todas as entradas convencionais foram seladas e cobertas com tecidos de padrões psicadélicos, desde o tecto às paredes. A única hipótese de entrar era através do chão, por um acesso criado para o efeito. Quando estavam sob efeito de substâncias


alucinogénicas, os indivíduos perdiam o sentido de espaço e de tempo, inebriados pela ambiência repetitiva e pelos escassos metros quadrados. Tornou-se um clássico da Era, que cada comunidade hippie repetiu. As cúpulas geodésicas foram outro dos pontos altos da "biotecture", um movimento arquitectónico que nasceu da vontade de criar uma relação estreita com os primórdios humanos e com a natureza. Em 1959, contava-se a existência de cerca de mil destas estruturas cupulares, cobertas de imagética psicadélica, um pouco por todo o mundo. Baptizadas de cúpulas geodésicas, a partir da patente do arquitecto Buckminster Fuller, concentravam a crença de que as esquinas constrangiam a mente. "As cúpulas permitem explorar novas dimensões e podem ser vistas como uma nova forma de estar", escreve A lastair Gordon, "pautada pela união entre as pessoas e pela exclusão das hierarquias. A sua geometria, redonda e simples, apresenta-se como um cristal multifacetado, o olho de Deus, o círculo da amizade e da misteriosa unicidade que tantos experimentaram a partir do LSD", explica. A "biotecture", com toda a busca do valor da liberdade que a caracteriza, levou à criação de diversas construções independentes e de arquitectos autodidactas. Formas livres em abrigos assimétricos eram a imagens de marca das comunidades hippies. Estas sonhavam com o regresso às origens através da construção

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—que comparavam a um novo modelo de ioga— da sua habitação. O "LSDesign" completou esta tendência, criando interiores (e mesmo edifícios completos) que surgiam como entidades celulares, diáfanos e quase inexistentes. "A ambiguidade do novo design corresponde a experiências de elevação da noção do espaço, visando a expansão da consciência através do espaço expandido", escreveu o crítico de design C. R ay Smith. Finding solutions

No ponto da História humana em que nos encontramos, em que se tornou premente pensar em novas formas de viver, em comunhão com a natureza —a adaptação ao aquecimento global e à crise económica— e com os outros —a cada vez mais óbvia importância de aceitar cada um como é— vale a pena olhar para as soluções nascidas nos anos sessenta. Em 1967, uma cúpula em Drop City, nos Estados Unidos, esteve entre as primeiras habitações aquecidas a partir de painéis solares. Através da utilização dos topos dos automóveis do ferrovelho, jovens visionários construíram as estruturas que deram lugar aos nossos modernos painéis solares. "Estava lá, de alguma forma, no ar, o regresso à união com a natureza, a necessidade de abrigo, de descomplicar a vida", escreveu Bill Voyd, um habitante de

Drop City. "Existia a reciclagem de materiais antigos, em comunidades que viviam dos despojos da sociedade. Uma vez fora da armadilha, o Homem encontra enormes recursos à sua disposição, gratuitamente", afirma. Além da moldagem de painéis, aprendeu ainda a trabalhar com garrafas, montes de terra, tijolos de barro, pneus velhos e fardos de feno. Sabedoria ou simplicidade? Anos 2000. Crise económica. Aquecimento Global. Globalização. Mudanças sociais. Doenças que surgem a partir de alimentação e modo de vida consumista. Aproveitamento dos espaços devolutos para criar novas ambiências. Vintage trend. Sustentabilidade. Coincidência ou oportunidade?


Imagens cedidas pela editora Rizzoli International Publications do livro S paced O ut de A lastair G ordon www.rizzoliusa.com

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Tobias Rehberger Teatro de sombras texto: francisco vaz fernandes  foto: Messe Frankfurt / Anja Jahn / Frankfurt

Tobias Vencedor do Leão de Ouro da 53º edição da Bienal de Veneza, Tobias Rehberger afirma-se como um dos artistas contemporâneos mais importantes da actualidade, com uma obra onde pontuam elementos de uma cultura de rave, de efeitos psicadélicos, que contribuem para uma distorção do Espaço. Na sua passagem por Lisboa, o artista alemão de 43 anos deixa-nos um pouco da sua magia na Galeria Pedro Cera.

Tobias R eghberger começou a sua actividade artística no início dos anos 90, distinguindo-se, de imediato, por uma obra que quebrava os limites entre as diferentes disciplinas de arte. Podíamos falar de uma obra de arte total, onde não faltavam referências a uma realidade próxima, ao seu próprio estilo de vida. De facto, no início dos anos 90, no rescaldo de todo o ambiente festivo das raves, Tobias R ehberger construía obras monumentais que tanto podiam ser vistas como esculturas, arquitectura ou mesmo pinturas e que faziam lembrar decores de pistas de dança. Era a partir de um prisma fortemente marcado pela identidade que o artista recorria a toda a linguagem histórica, das artes plásticas, do design ou da arquitectura, para dali fazer depois um remix, ao jeito da cultura DJ. O uso de luzes florescentes em certos trabalhos tanto era capaz de nos remeter para a obra minimalista do americano Dan Flavin como para o lado hipnótico, que se procura desenvolver nos espaços nocturnos, onde a iluminação tem grande importância no desenho do espaço. Tobias R ehberger é um boémio assumido. Quando foi anunciado o Leão de Ouro, provavelmente o galardão mais importante nas artes plásticas, vinha de uma dessas noitadas, habituais no período inaugural da bienal, e estava incontactável. Tinha perdido o telemóvel e a carteira. Este reconhecimento não deixou de constituir uma surpresa uma vez que é entre os artistas das representações nacionais, aqueles que estão nos grandes pavilhões com um maior budget, que se disputa o prémio. Ora, R ehberger era apenas mais um, entre muitos outros artistas da exposição colectiva “Making worlds”, do comissário geral da bienal, Daniel Birnbaum, um dos principais impulsionadores da sua carreira. O artista alemão

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ocupou toda a zona de cafetaria do Palazzo delle Exposizioni della Biennale, uma área que nunca é atribuída nem desejada para qualquer projecto expositivo. A sua obra, intitulada “Whatever you love, will bring you to wines”, parte justamente de uma intervenção na cafetaria, propondo uma transformação completa do espaço. As paredes, o tecto e o chão são totalmente pintadas com motivos Op/Psicadélicos, a preto e branco ou cores florescentes, que no conjunto criam alguma perturbação óptica, dada a perspectivas distorcida. Apesar de tudo, o espaço transformado não perde a sua funcionalidade. Durante todo o período da bienal, até 22 de Novembro, continuará a ser uma cafetaria. Este aspecto não é de menor importância, uma vez que o artista procura uma obra inclusiva. Ou seja, uma obra que pode ser vivida, que se completa com indivíduos que a ocupam e lhe atribuem valores não calculados. Nesse sentido, a sua arte pode ser vista como uma forma de acção envolvendo os espaços e as pessoas que os habitam criando certas perspectivas utópicas. E é sempre uma questão de perspectiva que está em jogo, tanto na forma como cria as obras como na forma como elas se relacionam com outras disciplinas e o mundo em geral. Parece que, no final de cada trabalho, lhe resta a seguinte questão: de que forma estas obras integram e não excluem, deixando os outros existir? Tobias R ehberger não é completamente desconhecido do público português, já que pelo menos houve três oportunidades de ver a sua obra em Portugal. A primeira vez aconteceu em 2000, na exposição “More Works about Buildings and Food" (2000) na Fundição de Oeiras, segundo uma proposta comissariada por Pedro L apa, director do Museu do Chiado. Houve, depois, uma instalação do

artista na antiga Galeria Graça Brandão no Porto, onde expos ao lado de Jorge Pardo, e, por fim, no Museu de Serralves (2002) do qual ainda resta a magnífica instalação de candeeiros de vidro, localizada na Biblioteca. Na exposição que actualmente se pode ver na Galeria Pedro Cera, temos, numa primeira sala, uma série de obras, interligadas entre si e dando o aspecto de uma instalação única. Temos ainda a percepção de vários volumes amorfos, pintados e iluminados por holofotes rasantes, projectando várias sombras nas paredes circundantes. O jogo das sombras tem uma importância crucial na constituição do desenho moral, uma vez que é difícil perceber o que é pintado e o que é projectado. Desta forma, volumes e sombras tornam-se interdependentes. A luz e a forma como ela deforma a nossa percepção da realidade tem sido um elemento crucial na obra do artista. Ela é importante, porque dá uma boa noção da relação ambígua que temos com os objectos. Numa outra sala da galeria, temos uma outra obra onde esta questão se torna mais evidente: uma linha de janela de vidro pintado com caixilhos de alumínio, após ser iluminada, deixa de ser uma obra vista em linha para ocupar todo o espaço envolvente. Assim, em vez de termos uma relação bidimensional, o nosso corpo é atravessado pela obra, pertence-lhe, constituindo um elemento que participa na mutação do espaço. Os traços de tinta nos vidros, com uma certa inspiração psicadélica, projectados, distorcem a nossa percepção mais banal do espaço e, por tudo isso, é impossível não nos comovermos com o lado imaterial que nos envolve.


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STORYTAILORS Vestir histórias de encantar texto: Tânia Figueiredo  fotos: andré brito

Com um toque de magia e requinte, a dupla Storytailors faz justiça ao nome e conta-nos histórias de encantar em cada pormenor, cada peça de roupa, cada cenário, cada desfile.

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Fotografia André Brito Modelo Alina (l’Agence) look total Storytailors Hair Sofia Gonçalves para a Griffe cabeleireiros Maquilhagem Vítor Fernandes

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Storytailors é um conceito que surge da sinergia de ideias de dois estudantes da Faculdade de Arquitectura de Lisboa, João Branco e Luís Sanchez, colegas do curso de Design de Moda, que admirando e respeitando o trabalho um do outro decidem iniciar um projecto juntos. Sentindo a necessidade de criar uma colecção que transmitisse as raízes portuguesas e históricas e polvilhando com um toque de fantasia, que seria perfeitamente palpável no contexto urbano, nasce este conceito inovador. João Branco já tinha feito estudos sobre o fantástico e foi uma questão de tempo até juntos recolherem mais informações, ideias e deixar a criatividade fluir, levando à criação de duas colecções distintas mas que se completam: Narké, com o conceito de Street Couture, linha de “básicos” simplificada intemporal, e Atelier, definida por Hype Couture, uma colecção mais pormenorizada, intitulada “edição especial” e que é produto de ideias de laboratório. O atelier encontra-se no Chiado e cada um dos dois andares respira a essência Storytailors, com um ambiente leve, confortável, sonhador e convidativo. Assim que se entra, esquece-se o contexto cosmopolita e mergulha-se num ambiente intimista, assemelhando-se a um pequeno castelo. O primeiro andar é dedicado à colecção Narké, enquanto a colecção Atelier tem lugar no segundo andar, onde além das peças da colecção, existe uma sala onde se modelam, cortam e produzem as peças. A experiência de compra é também um dos encantos da loja, já que se pode marcar uma hora com os criadores para fazer um pedido especial. Após uma reunião onde o cliente explica o que mais gosta em si, o que gostaria de disfarçar, as suas cores preferidas e texturas, os designers começam a criar ou a alterar a peça pretendida à medida. Cada ano são contadas Histórias que se vão descobrindo através das colecções e que trazem uma mensagem metafórica, que pode ter diferentes interpretações mediante as vivências, estado de espírito e interesses de cada leitor. Cada argumento é escrito por um colaborador de letras, que vai enviando os seus rascunhos e recebendo material de inspiração, assim como directrizes para a história por parte dos Storytailors. O argumento e as inspirações alimentam-se mutuamente e levam às peças texturas, cores e técnicas, dando origem às colecções. Embora cada colecção tenha bases distintas, resulta da recolha incansável de imagens, personalidades históricas ou da actualidade, técnicas e experiência. O tempo é visto de forma transversal e não sazonal, daí a intemporalidade das peças e a interpretação das necessidades. A maioria dos padrões utilizados na confecção das peças é imaginada e criada por ambos os designers,

59 – Story Tailors

excepto os padrões básicos, como vichy ou pied-de-poule. A produção é exclusivamente nacional, à excepção de alguns materiais, que não existem em Portugal, caso da seda. O recurso aos artesãos portugueses, à herança de bordados, assim como a outras técnicas artesanais, está sempre presente em todas as colecções, reinterpretada pelo olhar criativo dos Storytailors. A nova colecção Narké de Primavera/ Verão 2010 será apresentada na próxima edição do Portugal Fashion, em meados de Outubro. Em Dezembro, será a vez da colecção Atelier. A sua base será a dicotomia Oriente/Ocidente, com uma temática ao mesmo tempo bélica e reveladora de uma certa fragilidade. Quanto à inspiração, encontraram-na em algumas mulheres portuguesas com papéis importantes na História, como a Rainha Catarina de Bragança, que introduziu o chá em Inglaterra, e a rainha D. Isabel, Imperatriz da Alemanha. A palete de cores é floral e orgânica e há ainda a criação de um padrão Pied-de-poule gigantesco, com imagens que serviram de inspiração à colecção. A história desta colecção é ainda um mistério a desvendar em breve, mas até lá ficamos com água na boca ao saber que a narrativa consiste em duas histórias, com duas personagem cujo sexo nunca se revela e que deram o nome de Bo e Clei. Bo e Clei soam à dupla de gangsters Bonnie and Clyde; trocadilho que remonta ao paralelismo com esta dupla de criadores, que se completa, e que é também um marco importante na Moda da actualidade. Bo são ainda as iniciais de Burn out, a história da colecção Narké do Verão de 2009, e Clei uma das personagens da colecção Narké Ícarus —The wings of time. Uma das personagens prende-se a uma personalidade mais onírica e a outra a uma mais agressiva/acelerada. No argumento, as personagens encontram-se, o que leva, uma vez mais, à leitura subjectiva de cada um. O facto de serem duas personagens sem género pode ser interpretado como um protesto ao preconceito de haver regras e pré definições de características e capacidades atribuídas ao homem e à mulher e ainda pode deixar espaço para ser o leitor a definir o género que veste cada papel. A vida é feita de príncipes, princesas, fadas, maus da fita, unicórnios; cada um de nós age e sonha ser em alguma altura uma personagem de um conto de encantar. Storytailors cria a possibilidade de ser e estar em uníssono e de fugir ao convencional, mantendo o classicismo. Ficaremos atentos a esta dupla que promete surpreender-nos na próxima edição do Portugal Fashion.


GREASE fotos: Mário Príncipe styling: Joyce Doret make-up&hair: Joana Moreira Modelo: Sara Pais (Central Models) Assistentes de fotografia: Sérgio Santos & Telma Russo

60 – Moda


<

casaco amarelo ADIDAS corrente dourada H&M

vestido rosa HOSS clutch zebra JIMMY CHOO/H&M botins pretos PEDRO GARCIA casaco roxo ADIDAS pulseiras e colar H&M


t-shirt azul NIKE SPORTSWEAR saia H&M mala com franjas MANGO corrente dourada H&M

62 – Moda


camisa azul com ombreiras, TWENTY8TWELVE saia laranja H&M 贸culos MARC JACOBS


vestido preto com tachas MALENE BIRGER botins H&M

64 – Moda



vestido azul NUNO BALTAZAR botas altas e cinto H&M

66 – Moda


casaco alcochoado MALENE BIRGER cinto tachas MANGO sand谩lias zebra JIMMY CHOO/H&M 贸culos RAY BAN CLUBMASTERS brincos MAX BIJOU


André Albuquerque corta vento ADIDAS, t-shirt e óculos DIESEL, calças LACOSTE RED, f io H&M, ténis REEBOK (Pump Runnig Dual)

tejo Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade, há tal melancolia, Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia Despertam-me um desejo absurdo de sofrer. Cesário Verde “Sentimento de um ocidental” fotos: pedro matos styling: conforto moderno + ângela tavares make-up&hair: Rita lacerda Agradecimentos a Loft Elite Models, a Light Models e ao Lux Frágil.

68 – Moda


Tara van Ginkel Vestido e len莽o DIESEL, bolero em pele ISILDA PELICANO, 贸culos de sol PERSOL


Tiago Martins camisa FRED PERRY, jeans e cinto DIESEL, botas FLY LONDON

70 – Moda

Paulo Barata camisola ZEGNA SPORT


Erika Oliveira camisola de gola alta LACOSTE, colete em pele e pulseiras MANGO, 贸culos de sol BOTTEGA VENETA


Paulo Silvestre casaco de penas FRED PERRY, calças ADIDAS, ténis NIKE SPORTSWEAR

72 – Moda


Victoria Corrigedor blusa, casaco, cinto, pulseira e correntes FORNARINA, chapéu GANT

73 – Moda

David Radier camisa CARHARTT e calças GANT



UM DIA PERFEITO EM... MILÃO texto: miguel machado

A proposta desta coluna é levar-vos a conhecer, de mãos dadas, sítios que por si só justificam uma viagem e que ficam habitualmente de fora dos guias de viagem. Este mês, a proposta é a cidade italiana de Milão: 1) Começamos o dia com um capuccino, na GALERIA VITTORIO EMMANUELE II que, apesar de não ser uma grande descoberta para o leitor, é um must da cidade. Aí estamos perto de tudo: da Catedral do Duomo, do Teatro Scala, das ruas das boutiques de griffe e bem no meio da agitação milanesa. 2) Em seguida, seguimos até à Piazza Liberty, à FERRARI STORE, uma sublimação de show-room, até para quem prefere Porsche, como eu! Podemos tirar fotos à vontade e comprar alguns souvenirs de merchandising Ferrari. 3) Agora que a fome já aperta, sugiro um brun-

ch no OBIKA, um daqueles restaurantes de de-

e boa comida com o nível de sofisticação adequado. É realmente um sítio que nos deixa à vontade.

sign

75 – Parq Here | Viagem

4) Já são 4 da tarde e avançamos para o Corso

Como, uma das minhas ruas preferidas em Milão.

Especificamente para o 10 CORSO COMO, um segredo da cidade, resguardado até de quem passa pela porta da frente. Um sítio que combina boutique hotel, design, galerias, restaurante e ainda um OUTLET, de letras grandes, com todos os grandes estilistas a menos de metade do preço. Aí, podem encontrar-se fatos Prada, blusões Bottega Veneta, camisas Brioni, chapéus Borsalino, óculos de sol Oliver Peoples e até sapatos Manolo Blahnik. Verdadeiramente extraordinário! 5) Fim de tarde é hora de repousar no quarto do hotel, que bem pode ser no 10 CORSO COMO. 6) Às 21.00, saímos para jantar ao NOBU, uma colaboração local com a ARMANI, mesmo por baixo da ARMANI STORE. Este é um dos meus restaurantes preferidos também noutras paragens, como Nova Iorque ou Miami. Comida de autor de inspiração japonesa com uma grande dose de requinte e criatividade. Aí temos o ambiente perfeito para acelerar a

caminho de uma grande noite: cosmopolita, com gente da moda, das artes e que aparece para jantar ou beber um copo. 7) Já é uma da manhã e, animados pelo jantar, saímos do restaurante e entramos directamente, se nos deixarem, no Club ARMANI PRIVE. O ambiente é super selecto, a música extraordinária e a proporção entre mulheres e homens ronda os 70/30. 8) São já 4 e decidimos continuar na discoteca HOLLYWOOD, com grande ambiente de festa e gente gira. Provavelmente, trocamos algumas palavras com o Ronaldinho Gaúcho. 9) São 6 da manhã e voltamos a pé para o hotel 10 CORSO COMO, a uns escassos 200 metros.


matador

4º Aniversário de Fox Life

texto: sofia saunders

texto: sofia saunders

Depois de se terem estabelecido durante algum tempo no Bairro Alto a Matador instalou-se num novo espaço no Chiado. É um espaço mais amplo e com uma das melhores vitrines da zona o que traz uma maior visibilidade a esta marca de origem alemã que se aventura em território nacional depois da notabilidade que ganhou em Espanha. A Matador foi criada por Martin Imdahl.em 1996 um apaixonado pelo surf e por isso uma parte das suas colecções reflectem esse espírito. No entanto reduzir a Matador a uma marca de surfista seria muito redutor. De facto ela reflecte as múltiplas facetas do seu criador um apaixonado por Espanha, país que conheceu através do surf. Passou longas temporadas no sul de Espanha nomeadamente na zona do Tenerife. Por isso as colecções de Matador são um híbrido de mar e de terra, um apelo ao espírito livre mas também as tradições proporcionando colecções complexas. A loja do Chiado é constituída por dois andares onde, para além de toda a linha da Matador, é possível encontrar malas da Freitag que são um excelente complemento.

No dia em que celebraram o quarto aniversário entre mulheres, a Fox Live aproveitou para lançar um punhado de novidades. Neste mês de Outubro, apresentam uma nova imagem e dinâmica gráfica, para além de passarem a transmitir em alta definição valorizando as prestigiadas séries que celebrizam este canal e o tornam um dos preferidos das mulheres. É toda uma nova maquilhagem e roupagem que se procura para se tornar ainda mais atraente. A festa foi celebrada no Lollipop (LX Factory, em Lisboa). Compareceram muitas caras conhecidas ligadas a televisão que não quiseram deixar de apoiar um projecto. Por isso, perante um convívio tão feminino, nada melhor que criar uma montra com objectos de desejo, que tinha como destaque as criações de Ricardo Dourado, conhecido designer de moda que compartia o espaço como as novas colecções de sapatos e malas de Luís Onofre. Um pacote de luxo que concorreu parte da noite com coreografias que aludiam as séries mais populares do canal. Não foi nada difícil reconhecer as alusões a Anatomia de Grey, As Taras de Tara, Betty Feia, Clínica Privada, Donas de Casa Desesperadas,

matador   Rua da Trindade Nº 36C, Lisboa

www.matadorworld.pt

Em Contacto, Erica, Irmãos e Irmãs, entre outras.

&SoWhat texto: sofia saunders

Inspirados na sua experiência no mundo da moda há mais de 15 anos, a reconhecida manequim Flor e o conceituado cabeleireiro Yohann Peres apresentam ao público a &SOWHAT, uma marca inovadora, que associa moda e beleza, e a que os clientes podem entregar o cuidado da sua imagem. O novo espaço, instalado no Chiado, proporciona todos os serviços que tocam as áreas da beleza e da moda. Conta com a colaboração de diversos profissionais da área, como Dino Alves, Ricardo Preto, Pedro Pedro, Diogo Miranda e Filipe Carriço, para um serviço completo de assessoria de imagem. Tem cabeleireiro, situado no piso térreo, enquanto no andar superior apresenta um espaço dedicado aos criadores nacionais, uma das grandes lacunas do mercado português. Para além das colecções das estações, a &SOWHAT promete peças desses mesmos criadores, mas em stock off até 70% de desconto. Aqui, o público poderá assim encontrar artigos assinados por Nuno Gama, Luís Buchinho, Storytaillors, Diogo Miranda, Dino Alves, Ricardo Preto, Katty Xiomara e Pedro Pedro a preços mais acessíveis.   matador   Rua da Trindade — Lisboa

76 – Parq Here

Já agora, não se esqueçam de olhar para o novo site da Fox Life também ele completamente renovado.   www.foxlife.pt


77 – Parq Here


them for you or for the man in the street, I don’t make them for rich or poor. I make films because it interests me, as an instru-

Zachari Logan p. 08

Pedro Costa (interview excerpts) p. 46

ment for analysing thought, as a way of capturing something of day to day life. If there is an instrument with energy then that instrument is cinema. I don’t aim to make cinema for everyone. In fact, I don’t even have a word for this aim, it’s terrible. I want millions of spectators, I want to conquer the world, and approach something which we all remember. I am not being political, merely human. The films I make, like those of many others,

The sheer dimension of his self portraits, and of

Whilst waiting for the latest film by Pedro Costa to

people either love or hate.

course their nudity, have ensured that young

hit the screens, featuring the actor Jeanne Balibar,

At a certain point, you stopped being interested in

Canadian artist Zachari Logan has attracted the

Midas has released “O Sangue” on DVD to commem-

a linear plot. Godard said that cinema is a girl and

attention of the art world. Unafraid of being la-

orate 20 years since it first came out. We spoke to

a gun and, from that, a narrative is created. It’s a

belled exhibitionist or narcissistic, Logan speaks

Pedro Costa about the unique vision of his films, how

question of packaging because you have complex and sophis-

to us of sacrifice and heroism through his tactile,

he sees himself as nearer an artisan than an artist

ticated narratives in American films which reach a wide-rang-

accessible drawings, responding to stereotypes of

and how he believes cinema comes to us straight

ing public and people accept this without really questioning it.

masculine representation from the history of art.

from the streets. Recently, Tate Modern organised

Living here, making the films I do, there aren’t that many artis-

a complete retrospective, Sight & Sound included a

tic, structural questions about a film which I think are interest-

How did this theme of self-portraiture develop in

6-page supplement on his work, and The Guardian

ing to discuss. I am asked how much a film costs to make, why I

your work? For a few years before I began this current series

claims that he is the Samuel Beckett of cinema.

did it like this or that, and maybe you can detect some choices which are related to narrative.

of drawings and paintings I had been using images of men from various ubiquitous sources such as images from internet porn,

It is twenty years since “O Sangue”, your first film,

If I understand correctly, the question of present-

art historical images, magazines and old photographs, to create

came out. What do you feel upon seeing this film

ing reality, rather than representing reality, is more

allegories about masculine archetypes. I began to feel that the

again? I rarely watch my own films after I have completed

connected to the structural issues of the country

images of men I had been using as subject for my work had no

them. Nowadays though, with DVD, I tend to watch them more

than to aesthetic considerations? It isn’t this. It is to do

personal connection to me, which bothered me. In using myself

because you can look again at the plates and rectify colour and

with choices. It wasn’t deliberate, it happened bit by bit. By think-

as the sole subject, I was able to fill this gap and focus on creat-

sound. I watch my films for technical reasons, as I have to check

ing about this over a long period of time, and working in cine-

ing a dialogue about my own body and the ways in which male

during projections, otherwise I wouldn’t watch them.

ma, I chose to distance myself from cinema – that is the para-

bodies have been historically disseminated.

Even though you don’t watch them, can you remem-

phernalia, the machinery of cinema, the heavier side of cinema.

Do you feel that the self-portrait is always a form

ber the emotion of seeing your first film? The film was

Also, the relations within the profession, which there are in this

of Narcissism? I believe creating artwork is a form of narcis-

released in 1990. Since then, everything has changed, I have

as in any other profession, the hierarchy, the power relations.

sism, no different than writing a book or composing music. All

changed. It was my first film, and like all film-makers’ first films, it

What I distanced myself from was my usual way of making films.

creation is somewhat narcissistic, because it is all somewhat of

is a special film for us, even though it may seem a cliché. Another

a self-realization. If one's creation is going to be one worth lis-

cliché is that we try to put everything we knew and felt and had

Are you referring to the fact that you have now

tening to, looking at or reading, it is going to have something

seen into our first film. It was a film which had a sense of urgen-

started using digital camera, which might have con-

to do with the creator's actual life experiences. Not all acts of

cy, and is distinct because of this, much more than the others, but

notations of an inferior type of cinema? I made this

a narcissistic nature are negative. Self-reflection can be deep-

I don’t know if this is a particular quality or not…

choice. I allow myself to make, among other things, cheaper films,

ly honest and frightening, which is wherein the taboo lies. Fear

What were your references, seeing as we are speak-

not more commercial, that’s not what I’m trying to say. It allows

breeds contempt, so naturally people assume drawing or paint-

ing of all the things which informed you? I’m just a

me more time for what I want to do, to have more leeway to reach

ing one's self continually is a negative act of self-love.

spectator. Now I won’t see so-called art-house films, then it was

the end of the project, because it is vital not to lose the vision of

Which self-portrait in the history of art is most im-

quite the opposite. At that time, let’s say 10 years before the re-

the film which you are working on. What I see in the cinema of

portant for you? Wow, tough question... I think I would go

lease of “O Sangue”, I saw a lot of films, like many people. Lisbon

today, apart from the fact that they all copy each other, is that

with Caravaggio's painting of "David With the Head of Goliath"

had a lot of cinemas and the neighbourhoods all had them. For

they all lose their reason for being within the first 15 minutes.

in which Caravaggio portrays himself as the slain character of

example, I lived in an area with quite a few cinemas. It pains

There really is no reason to carry on with that film, it’s just like

Goliath. I believe it was the last painting he ever did before he was

me to think about this now. In Arroios alone, there was Império

any other, it reminds us of another film and that actor is doing

murdered, which adds to the painting's incredible complex beauty.

Estúdio, Patex Rex and others. Cinemas with 400 seats! It was

the same thing, neither better nor worse. I continue to hold cine-

To what extent does a homoerotic aesthetic influ-

different then, and I caught the end of an era that had matinees

ma in high esteem and still consider it to be a philosophical tool.

ence your art? My work to be honest is about me as a man...

with spaghetti westerns, history films, comedies, all types of films.

Are these problems not tied to a crisis of represen-

as a sexual creature like all other animals. I certainly try to be

Probably interest in cinema hasn’t lessened, but there

tation and to the fact of wanting to make more

honest about my sexuality but not explicitly so. I don't necessar-

are other ways to see it nowadays. What do you

direct cinema, life as we know it? To make a more di-

ily see my work as having a particularly 'gay' or 'homoerotic'

think of the fact that young people tend to down-

rect film, trying not to blind or deafen the film with sophisticat-

aesthetic. That is not to say that if people read into my work a

load films now? I think it’s fine if the films aren’t available

ed narrative, technique or representation. In other words, there

sense of what it is to be a gay man in the contemporary world

any other way. If I want to see a more obscure Andy Warhol

are too many filters in the film. Cinema has lost so much, every

I would tell them they are wrong, I would likely agree, but aes-

film, I have some younger friends who can help me, but we were

day it loses more precious things. I have just finished making a

thetically I aim at re-visioning my own body within the rubric

talking about actual cinemas and this has changed so much. To

black and white film and I know, through the laboratory in Paris

of the historic (Neo-classical/Baroque) because of art's power

have access to cinemas, you have to have a lot of help and luck…

where I did it, that in a few years’ time, it will be impossible. It

to both codify bodies and sexual preferences through imagery.

Do you think that starting out as a film-maker now

will finish, there is no more black and white film. This is criminal

Do collectors ever request specific images from you?

is more complicated? No. Starting out is easy. That’s what

and incredible for me, because I’m so near to this, but it must be

No actually... unless you count my family, who would rather

you find now. When I started out, there were no careers. There

emotionally disturbing for all those who will one day see a black

have pictures of flowers or animals, and not images which con-

were film-makers, but we had a different vision, if you like, less

and white film. And these are choices, obviously.

tain my penis!!

commercial, thinking less of it as a career. Nowadays, it’s more

Some analysts talk of anthropological cinema. Does

What would you say are your greatest pleasures in

about status; the premiere at CBB is more important than the ac-

this mean anything to you? The intentions, when you put

life? I enjoy everyday things like walking with my husband and

tual film. The soap opera starlet getting out of a limousine and

it like that, are good. At the time of my older colleagues, like

going to the gym or for coffee... and the days when I am in my

the presence of the Arts Minister are more important than the

Jean-Marie Straub, they called it Marxist, Maoist or materialist.

studio drawing and painting for hours on end. I would also add

film. Not just here, it’s the same everywhere.

And today they call it anthropological? The problem,

travelling for work, this year I was fortunate enough to travel to

It’s true that everything is speeded up, more “media”.

and I still think the intentions are good, is that when you say

Paris twice, NYC twice, and Miami all for exhibitions of my work,

Your cinema is slower, nearer to the concept of time

an anthropological film by Pedro Costa is showing at El Corte

it was bliss... and yes, Lisbon is on my list, hopefully very soon!

in everyday life. My films are not for everyone. I don’t make

Inglês, on the 12th, for the distributers, this excludes a great

78 – Parq Here | English Version


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PARQUE DAS NAÇÕES


many potential viewers. Apart from this, it doesn’t bother me at

time to invoke a time of uncontrolled experimentation” he wrote

Finding solutions

all. If you say you went to see an anthropological or Marxist film

on his blog. “The struggle for a certain mental space, a place

The stage we’re at now, in which we are thinking of new ways

whilst chatting at the café, it seems better than saying it in print.

without limits or divisions that could encourage experimentation,

to live, new ways of communing with nature, adapting to glo-

A lot of your cinema is to do with relations, there

feed new types of experience or even change human conscious-

bal warming and the financial crisis – and other crises – it is be-

is a closeness to the characters. Where did this idea

ness. The dream hasn’t died, but the story needs to be retold”

coming increasingly important for each of us to accept ourselves

come from to go and film in Fontainhas and explore

the author claims, who currently divides his time between work-

and others as we truly are, and for this, it is always worth cast-

that whole universe? It wasn’t an idea, it was destiny. I had

ing as a curator and as an art and architecture critic. He has

ing a glance back over the 1960s. In 1967 a dome at Drop City

made a film in Cape Verde on the island Fogo, where shooting

written various books and also writes regular contributions for

in the USA was one of the first houses to adopt solar panels for

had taken a long time and preparation had taken 6 months. I

the “The New York Times", "Architectural Digest" and "Dwel".

heating. Using the roofs of old scrap-metal cars, young visionaries came up with what would later be developed as the solar

was virtually alone, which enabled me to get to know people, especially in a village called Chão de Caldeiras. As in any vil-

The exaltation of liberty

panels we know today. “It was there, in the air, the return to na-

lage, by the fourth day I knew everybody and had already es-

Spaced Out, as the title suggests, involves Alastair Gordon tak-

ture, the need for shelter and the urge to de-clutter life” wrote

tablished a network. They became friends and at the end of my

ing us on a trip around the psychedelic aesthetic of the 1960s.

Bill Voyd, a resident of Drop City, “old materials were recycled

stay they gave me presents, cards, coffee and tobacco to give

A time when the concept of space was reorganised, made more

in societies which lived off the cast-offs of others. Out of the rat

to their families who had emigrated to Lisbon, and most of them

ample, freer, more in line with the image of the hippie philoso-

race, man found huge – and free - resources at his disposal.”

lived in Fontainhas.

phy, LSD, trips to the Orient and, like human interaction, more

Apart from moulding panels, he worked with bottles, piles of

And from this, you made 3 films? How easy was it

liberated and sympathetic, influencing a bountiful time whilst

earth, bricks, old tyres, haystacks. Wisdom or simplicity? The

for you to feel integrated in the neighbourhood?

at the same time transforming traditional concepts such as “di-

year 2000, economic crisis, global warming, globalisation, so-

I fell in love with Fogo, and with the people there, which was

vision”, “home” and “family”. Spaces ceased to be strictly de-

cial change, illnesses which arise from the way we eat, the way

a kind of way in for when I came to Fontainhas. Then I ended

fined, becoming more open, with diaphanous and harmonious

we consume, Do we take advantage of vacant spaces to create

up staying. I hadn’t planned to make a film and had no expec-

atmospheres. Hard edges gave way to more organic lines and

new environments? Is it a vintage trend for sustainability? A co-

tations from my producer, and so was open to whatever. So I

limits dissolved alongside the limits of the human spirit. Space

incidence or an opportunity?

stayed. I basically spent one year getting to know people, find-

breathed and many rooms took on the air of uteruses; confined

ing my way around there, going to weddings, christenings. I re-

and without rigid form, with furniture and coverings as rather

ally thought I had found a place which spoke to me, where I fit-

alien concepts, with opulent carpets which served various func-

ted in. Certain parts were difficult to assess and gain access to.

tions such as sleeping, eating, tripping and making love. The liv-

The cliché is always that we are afraid of places like Cova da

ing space was reformulated from square one, rewound back to

Moura, Fontainhas and 1º de Maio, but I can say that they, in

the beginnings of civilization, as a critique of modern life with

turn, are frightened by the outside world. This is something which

its furnishings and clutter.

my films made me see, like how they live in Fontainhas. More than the misery, the drug abuse, the degradation, which are a

Just as Jimi Hendrix liberated rock music, young psychedelic ar-

part of that whole easy discourse, it’s the anguish they feel in

chitects let go of conventional practices and accepted the chal-

having to face the outside world.

lenge of rethinking human senses, picking out a parallel between human consciousness, design and architecture. In 1963 The International Federation for Inner Freedom, in Massachussets, created a Time Chamber. This was a small space with all nor-

spaced out p. 50

mal entrances sealed and covered floor to ceiling with psychedelic fabrics. The only way in was actually through the floor, by a trap-door specially designed for the purpose. Under the effects of hallucinatory drugs, all sense of time and space was lost, and individuals became intoxicated by the sameness of the surroundings on all sides and by the size of the space. It became a classic of the time, and an architectural space which was re-

Lessons in life from the 1960s counter-culture.

peated in other hippie communities. Geodesic domes were an-

Architecture. Art. Philosophy. Between the sixties

other high point of “biotecture”, an architectural movement born

and the noughties, who can discover the difference?

out of the desire to create a link between the primordial human and nature. In 1959, there were approximately a thousand of

Life, since the passing of the millennium, has had more in com-

these structures, scattered across the world and covered with

mon with the hippies of the 60s than our addiction to the inter-

psychedelic patterns. They were patented as geodesic domes by

net, i-phones, smart phones, mp3 players and tower blocks might

Buckminster Fuller, who believed that corners restricted the mind.

have us believe. Those of a mystical inclination believe that a new consciousness, the Age of Aquarius, has come over us since the

”The domes helped in the exploration of new dimensions and

1960s. They say that human consciousness has been transmut-

can be seen as a new way of being” writes Gordon, “ruled by

ed into something more united, solid and strong. The human cre-

the union between people, whilst at the same time excluding hi-

ative drive has felt a shift, which has manifested itself in a new

erarchies. The simple, rounded geometry made them look like

way of life. Being “green”, sustainable design, anti-globalism,

a multifaceted crystal, the eye of God, the circle of friendship,

second-hand clothes, recycling, bio food, alternative therapies,

and the mysterious oneness that so many experienced through

summer festivals and yoga are all part of the legacy left by the

LSD” he explains. Biotecture, with its search for liberty, led to

1960s, even though we may sometimes feel that these things are

the creation of various independent structures by self- taught

new to us. All that the hippies embraced - organic food, med-

architects; free-formed, asymmetrical shelters in the image of

itation or life choices governed by the choice of freedom, love

the hippie communities. They dreamed of a return to our ori-

and peace – was considered subversive at the time. Now, how-

gins via the construction of a new type of house, compared to

ever, we are still trying to feel within our grasp the full effect of

a new type of yoga. LSDesign, to complete this trend, created

all that was started almost half a century ago.

interiors (and even entire buildings) which were cellular, diaphanous and virtually non-existent. “This ambiguous new design

Alastair Gordon came up with the idea for “Spaced Out; Radical

is connected to heightened notions of space, seeing the expan-

Environments of the Psychedelic Sixties” in the face of the post-

sion of consciousness through expanded space” wrote the de-

September 11th control culture. “It seemed to me to be a good

sign critic C. Ray Smith.

80 – Parq Here | English Version


Seja responsável. Beba com moderação.

a vida é feita de bons encontros e também de opostos: realidades diferentes que nos completam, como o melhor da cidade e o melhor da natureza. a vida é feita de coisas que marcam esses encontros, como um bom vinho. como vinha da defesa, tinto, branco ou rosé .

as luzes da cidade

as estrelas do céu

Há sempre mais por descobrir.


diapositivo Amália FM - A música é o Nosso Fado! Crónica de Claúdia Matos Silva ilustração de vanessa teodoro

A bêbeda que cantava em troca de vinho a martelo. Nos últimos anos, andava descalça e perdida pelas ruas de São Bento. Cresci a ouvir estas histórias daquela que é universalmente considerada a Diva do Fado: Amália Rodrigues. Na infância, somos levados a crer que tudo o que os nossos pais dizem se escreve. O meu pai, Mauriciano dos sete costados, sempre apreciou o Fado das vielas do Fernando Maurício. Hoje compreendo que a dimensão da Sra. Rodrigues fosse contra os fundamentalistas, para quem o Fado jamais deveria sair dos tascos da Mouraria ou da Madragoa. Como árvore secular, era grande a sombra que fazia aos outros companheiros de profissão. O estatuto, conquistou-o por ser uma sofredora inveterada. Fardo que a muito custo, e até alguma vaidade, carregava num Fado como não havia mais nenhum! Os Amalianos assinarão por baixo. O meu pai tinha um "ódio de estimação" por tudo o que ela representava. Passoume, por isso, a imagem de Amália, a leviana e promíscua, embora nunca a tenha conhecido efectivamente. Na altura, limitei-me a absorver conscientemente as histórias maldosas, que a davam como Salazarista ou mesmo "vira-casacas". Não foi pois de espantar que quando uma cassete de "Barco Negro" foi ter a minha casa, o meu pai não se tenha chateado que eu, sem dó nem piedade, lhe tivesse tapado o sistema anti-cópias com fita cola para poder gravar as músicas que passavam na Rádio. Caminhando para a casa de uma amiga, a fim de ouvirmos música juntas, foi com grande vergonha que notei alguém comentar com escárnio a capa da cassete que eu trazia, com

82 – Parq Here

o rosto da fadista estampado. Amália, há muito que sucumbira ao hard-rock dos Bon Jovi e afins (porque nessa altura era "cool" ouvir Bon Jovi)! Jurei a pés juntos nada restar da senhora cuja capa me denunciara perante os colegas da escola como, "a saloia" ou na melhor das hipóteses "a chavala que curte Amália". Ouvir "Barco Negro" faz-me recordar uma pré-adolescência de óculos de massa, borbulhas, sardas e, claro, aquela maldita cassete da Amália! A minha reputação ficou profundamente afectada, ao ponto fazer de tudo para entrar no grupo dos "heavy's", usando botas Dr. Martens, calças pretas justas e ouvir Metallica (ao estilo de lavagem cerebral, pois nunca gostei verdadeiramente da banda de James Hetfield). Ter fama e não ter proveito parece-me agora uma terrível injustiça. É por isso que, passados 20 anos, orgulho-me de ver nascer a primeira Rádio de Fado em Portugal - a Amália FM - 92.0 – a 6 de Outubro. Sem vergonha e com identidade cultural, Fado é o destino que todo o português leva consigo para onde quer que vá


heineken green ray lux frágil 23 de setembro Fotografias de Luísa Ferreira

83 – Parq Here | Party



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