N. 32. Ano V. Março 2012.
coordenação editorial e moda Margarida Brito Paes margarida@parqmag.com Direcção de Arte Valdemar Lamego v@k-u-n-g.com Publicidade Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com periocidade: Mensal Depósito legal: 272758/08 Registo ERC: 125392 Edição Conforto Moderno Uni, Lda. NIF: 508 399 289 PARQ Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000-251 Lisboa t. 00351.218 473 379 Impressão BeProfit / SOGAPAL 2730-120 Barcarena 20.000 exemplares
Ágata C. de Pinho Carla Carbone Cláudia Gavinho Cláudia Matos Silva Diana de Nóbrega Davide Pinheiro Eduarda Allen Francisco V. Fernandes Inês Monteiro Ingrid Rodrigues Júlio Dolbeth Margarida Brito Paes Maria João Teixeira Maria São Miguel Marta Ferreira Pedro Dourado Pedro Lima Pedro Pinto Teixeira Roger Winstanley Romeu Bastos Rui Miguel Abreu
Parabéns
FOTOS André Brito Kind&Naked Laura Palmer Le-Joy Luís de Barros Mário Príncipe Nian Canard Nuno Palha Pedro Janeiro Sal Nunkachov
Quase sem perceber, cumprimos mais um ano de existência (e já são quatro!), o que nos faz sentir ainda muito verdes mas com alguma segurança. É uma espécie de fase de adolescência que nos faz viver num estado de ansiedade latente, com a necessidade de provar que ainda conseguíamos mais, caso tivéssemos mais oportunidades. Cada número ainda é vivido como sendo o primeiro e encarado como uma oportunidade de celebrar as nossas palavras iniciais, em prol de uma nova cultura de características urbanas que, acreditamos, está a crescer. Nesta edição destacamos na grande entrevista Rosangela Rennó, uma artista brasileira que consideramos ser uma das mais importantes na área da política das imagens e nos tem levado a pensar sobre as formas como a sociedade lembra ou esquece o seu passado. Depois, não podíamos deixar de contribuir para a polémica em torno do maior fenómeno musical da temporada, Lana Del Rey, nem podíamos esquecer a originalidade dos M83. Ainda muito importante, trazemos um artigo com o testemunho de vários criadores, entre eles Moby, que falam sobre as oportunidades de desenvolver uma carreira sustentável tendo a internet como uma janela aberta para o mundo. Como é uma edição de aniversário, quisemos celebrá-la pedindo a quatro fotógrafos que admiramos para, cada um, desenvolver uma imagem celebrativa. Agora é só escolherem a vossa favorita.
STYLING Bárbara do Ó Ivan Martins Margarida Brito Paes Nelson Vieira Sónia Jesus
por Francisco Vaz Fernandes
Ilustração Bráulio Amado
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distribuição Conforto Moderno Uni, Lda. A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq. Todos os direitos reservados. Copyright © 2008—2011 PARQ.
editorial
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editor Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com
TEXTOS
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Director Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com
Assinatura anual 12€.
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Real people 06 — Clemente Cebrián 10 — Luís Gama you must 12 — 15 You Must Shop 16 — 49 Isabel Brison Benjamin JeanJean Guy le Tatooer Hand&Craft Prana Feist Jornal Pedal Raw Sounds Curve Id Red Bull BC One
F — Luís de Barros S — Bárbara do Ó Make-up — Elodie Fiuza Hair — Pini M — Daniela Hanganu (Central) ass. F — Felipe Serralheiro vestido Storytailors, colar H&M, botas Dr. Martens
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Soundstation 50 — M83 52 — Lana Rey 54 — Leonard Cohen Grande Entrevista 56 — 61 Rosângela Rennó Central Parq 62 — 65 Reportagem Guimarães 2012 66— Cinema Florbela 68 — Cinema Takeshi Kitano 70 — 73 Digital PressPausePlay
F — andré brito S — nelson vieira Make-up — Tinoca Hair — Juliana Lamares M — Daniel Coutinho (Central) ass. F — Mariana Rocha coordenado de LUIS BUCHINHO, colar cervical e Restrição de Punho OLGA NORONHA, brinco MAUS MARIA by MIRIAM MATOS
Moda 74 — 81 82 — 89
5 Glass House
Parq Here 90 — 95 Restaurante: The Decadente Places: Novo Cais do Sodré, Champanharia da Baixa, Maria Gonzaga, MoMo 96— Bebidas: Dois em Um, Hot Mango 97— Guia de Compras 98— Dia Positivo: Trendy Trash
F — Nian Canard S — Sónia Jesus Make-up&Hair — Joana B M — Marco e Nuno Moreira (Central)
roupa Alexandra Moura
F — Mário Príncipe S — Margarida Brito Paes Make-up — Tânia Doce Espelho Hair — Marco Pinheiro Meu M — Ana Casian (Central) ass. F — José Lage roupa Ricardo Dourado
Re a l Peop le
Cle m e nte Ce b r i á n
El Ganso é uma marca espanhola com toques britânicos que em poucos anos ganhou presença em vários países. Criada em 2004, pelos irmãos Alvaro e Clemente Cebrián, a marca tem um toque fresco, refinado e preppy. A propósito da inauguração da sua nova loja em Lisboa, encontrámos Clemente que nos deu a conhecer o universo da El Ganso.
F — Laura Palmer
T — Marta Ferreira
Clemente Cebrián
P: Porque decidiu com o seu irmão investir na área têxtil e criar uma nova marca? C: Quando estávamos a estudar na universidade em Madrid, íamos sempre para Londres trabalhar no que calhava durante as férias. Na altura, reparávamos que havia um estilo de roupa que gostávamos mas que não se via em Espanha nem em grande parte da Europa. Tentámos criar esse estilo para Espanha e em seguida percebemos que também podíamos exportar para outros países.
P: El Ganso parece realmente ter um estilo britânico, contudo é uma marca espanhola. Não é um contra-senso? C: Em Espanha dizem-nos que a marca tem um estilo britânico mas em França e na Itália dizem que tem um estilo novaiorquino. Ou seja, cada sítio tem uma perspetiva de estilo diferente. O que tentamos é criar um estilo cosmopolita
trazendo cores mais chamativas, tal como gostamos em Espanha. Não acreditamos que seja um estilo 100% britânico. P: O que pensam trazer de novo para o mundo competitivo da indústria da moda? C: Tentamos produzir roupa para homem e mulher com qualidade e design e com algo pessoal que diferencie a El Ganso
de outras marcas. Em termos de preço, temos valores muito razoáveis, o que permite chegar a público muito alargado. P: A política de preços da Inditex poderá ser um exemplo? C: Estamos entre as marcas mais caras e as marcas do grupo Inditex. Temos preços próximos da Massimo Dutti mas de resto tudo é diferente, porque tentamos dar algo de diferente e acrescentamos autenticidade e realismo ao produto. Por exemplo, esse senhor de kilt no poster atrás do balcão é o nosso tio em Edimburgo. Tentamos que tudo seja real. P: A vossa loja de Lisboa ficou bastante bonita. O que encontraramos aqui de autêntico? C: Estas caixas de madeira são comprados numa fábrica antiga, têm 50 anos e não foram feitas para uma loja. O poster, como expliquei, é feito a partir de uma foto do meu tio tirada em 1978 em Edimburgo. A barca é de Bilbau e todo o resto vem de casas antigas e aqui e acolá há algo que nos liga a elas. Nada apareceu por acaso, tudo contribui para a autenticidade da marca. P: Porquê “El Ganso” e esse logotipo? C: O logo foi desenhado pelo nosso tio. Chama-se Jose Mosquera e é um pintor respeitado. Escolhemos o ganso como logotipo porque em Espanha tem algo de divertido e elegante. Em Espanha dizemos que alguém está a fazer “El Ganso” quando está a fazer palhaçada com o propósito de ser divertido. Depois, o ganso parece-nos um animal elegante.
El Ganso Rua Nova do Almada, 79 Chiado — Lisboa
www.elganso.com
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Shop at camper.com
To&ether with Bernhard Willhelm by Camper
Camper shop, Av. de Roma 55b, Lisboa Telf 217 961 635 Camper shop, Rua de Sta Justa 85 (Baixa), Lisboa Telf. 213 422 068
Re a l Peop le
L uís G a m a
T — Pedro Pinto Teixeira
Luís Gama Luís Gama é um designer industrial tornado concept artist. Faz parte de uma nova espécie de artistas que não desprezando o calor da era analógica também não consegue ser indiferente às vantagens apresentadas pelos novos meios digitais. As máquinas não estão a chegar, elas já estão no meio de nós.
I — Luís Gama
Doomb, Luís Gama.
www.luisgama.com
Auto-Retrato, Luís Gama. P: O tipo de trabalho que tu desenvolves destina-se geralmente à indústria de audiovisual, nomeadamente ao cinema e à indústria de videojogos. O que estás a fazer em Portugal? L: Comecei a trabalhar como concept artist há cerca de um ano e por isso ainda tenho muito a aprender. Para um concept artist o cinema é o Santo Grall, o que é o mesmo que dizer que é a área em que é mais dificíl penetrar, por ser onde a concorrência e a exigência são maiores. O que faço agora é trabalhar todos os dias com esse objetivo em mente. Existe uma espécie de caminho que todos os artistas têm que percorrer e que
inclui, por exemplo, criar arte para jogos digitais, fazer ilustrações para o setor editorial ou desenhar cartas de RPG (Role Playing Games). Se ou quando surgir a oportunidade de ir lá para fora e trabalhar em cinema, presumo que o farei, sobretudo por acreditar que poderei crescer bastante equanto artista e enquanto pessoa.
P: Existe um caráter anárquico no teu trabalho, não é fácil encontrar uma temática ou procura específica. Concordas com esta afirmação? E se sim porque é que achas que isto acontece? L: Sim, concordo. Desde sempre cultivei múltiplas influências e não só ao nível das artes plásticas. Acho que isso contribuiu
um bocado para a vontade que tenho de experimentar muita coisa. Dou por mim a falar menos e a produzir cada vez mais, se não gostar do resultado... paciência, sigo em frente! Para além disto, exige-se a um concept artist a capacidade de adaptação a vários estilos de representação e temáticas, estas temáticas são sempre definidas pela direção de arte. A noção de equipa e de divisão de tarefas dita, obrigatoriamente, que o caminho a percorrer seja diferente de alguém que controla todo o processo de criação. P: Gostarias de destacar algumas pessoas que tenham de influenciado o teu percurso e o teu trabalho? L: Pessoalmente, o meu pai sem dúvida, sempre me apoiou e acreditou em mim, ainda para mais nesta era de doutores e engenheiros. A nível profissional destacaria os grandes mestres como o John Singer Sargent, o William Turner ou o Norman Rockwell. Atualmente gosto bastante do trabalho de pessoas como o Richard Schmid, o Jeremy Lipking ou o Craig Mullins. P: O que é que te faz feliz? L: Acordar sabendo que vou fazer aquilo que gosto, definir o meu horário e ter, normalmente, tempo para fazer aquilo que quero.
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You Mus t Shop for Men
Foto — Pedro Janeiro
Re ady, S et, G o!
capacete Barbour, mala Onitsuka Tiger, casaco Antony Morato, perfume Bang Marc Jacobs, ténis vermelhos Adidas, ténis azuis Converse, cinto Lacoste, relógio Nixon
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Re ad y, S et, Go!
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Styling — Sónia Jesus
Yo u Mus t S ho p fo r Me n
caveira Black xs, headphones WESC
ténis Puma by Alexander Mcqueen, perfume Black XS, óculos Ray-Ban, relógio Nixon
ténis e relógio Lacoste, perfume Davidoff Champion
mala Fred Perry
You Mus t Shop for Women
Foto — Pedro Janeiro
Re ady, S et, G o!
mala Lacoste, sandálias Puma by Hussein Chalayan, ténis Adidas, pólo Lacoste, perfume Habit Rouge Guerlain, body lotion J.S.Douglas Sohne, baton Dior, gloss Guerlain
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Re ad y, S et, Go!
ténis Puma, Asics e Diesel
3 biquinis Puma, óculos Ray‑Ban, creme Good-Skin Labs, tónico facial Douglas
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Styling — Sónia Jesus
Yo u Mus t Sho p fo r Wo m e n
polo Fred Perry, relógio Komono, verniz Anny e Sinfulcolors Professional
Isabel Brison apresentou recentemente na Galeria Carlos Carvalho uma série de fotografias onde a artista recorre a manipulações digitais conglomerando vários tipos de construções até criar um corpo estranho e esquizoide no centro de uma paisagem urbanizada. Na verdade, a artista recicla e contextualiza uma velha temática que se refere ao impacto do desenvolvimento e crescimento dos centros urbanos na era capitalista. É uma temática que não é tão clara quando nos referimos ao centro das cidades e ao polo financeiro mas que se torna evidente quando observamos o que resta do movimento de deslocação urbana. Encontramos espaços que tiveram uma vida própria e que se tornaram obsoletos, tendo sido abandonados porque o centro nevrálgico
se deslocou, estabelecendo uma nova centralidade. Esta própria questão está mais enfatizada num outro trabalho exposto, Suburbia Fantastica (2012), que consiste numa projeção de vídeo que nos torna conscientes da câmara deambulante, sem aparente destino pelos subúrbios de Lisboa, ao som de um texto de 1926 de Lovecraft . Neste, como noutros contos, Lovecraft insiste em descrever poderes ocultos que fugiam à capacidade de compreensão da sociedade positivista americana. Esta mesma sensação percorre o espetador porque, em geral, é chamado
Is abe l B r i s o n
T — Francisco Vaz Fernandes
You Mus t
a estabelecer conexões entre o descrito e a imagem, aumentando apenas o grau de incerteza. Como se depreende do trabalho de Isabel Brison, a ideia de ruína e de subúrbio aparecem lado a lado, repetindo uma consciência que surge no final
do séc. XIX quando alguns pensadores se apercebem do impacto que a revolução industrial tem na paisagem inglesa. Na verdade, o movimento romântico desconfiava dos benefícios do desenvolvimento e olhava com nostalgia o património arcaico e os ideais humanistas em que se baseara a sociedade ocidental. Os jardins ingleses, com as suas falsas ruínas muitas vezes exóticas, seriam o lado visível desse pensamento que, no fundo, persistiu durante todo o modernismo. Tanto as fotografias dos Becher como de Robert Smithson na segunda metade do séc. XX ainda documentam ruínas resultantes do impacto do capitalismo na paisagem norte-americana. Também em Isabel Brison os destroços contribuem para a imagem idílica. Estabelecem‑se numa zona de fronteira onde o subúrbio está entregue a uma poética do caos que é simultaneamente o espaço da liberdade, na qual a artista pode fundar o seu corpo de trabalho. Muitas das imagens do vídeo fazem-nos relembrar Pasolini, particularmente o filme Mamma Roma, onde toda a ação dos adolescentes se desenvolve em baldios, tendo ao fundo uma fronteira constituída por uma linha de prédios novos, ameaçadores, à qual grande parte da existência humana está confinada.
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You Mus t
Envolto pela atmosfera do surf e do skateboard, Benjamin JeanJean é um jovem artista francês cujo trabalho artístico se destaca da banalidade. À conversa com a PARQ procurámos saber um pouco mais deste promissor designer e fotógrafo.
B e njam in Je a n Je a n
Magritte, Eicher e Breton, são nomes de referência para JeanJean. Com efeito, é no surrealismo que vai buscar a inspiração necessária ao seu trabalho, fazendo desenhos e fotografias que parecem ter sido tirados de autênticos sonhos.
Quer seja através das suas fotos ou de desenhos que chegam a exigir 150 horas de trabalho, o artista procura fazer o que gosta e fazê-lo bem, um trabalho que poderá ser visto no seu website ou na próxima exposição da Galeria Mondopop, em Roma.
T — Marta Ferreira
www.rvca.com
Depois do café, é tempo de ver as ondas, tirar fotografias e desenhar. Este é o dia de Benjamin JeanJean, jovem artista que viu no papel um confidente através do qual desenvolve desenhos onde funde uma heterogeneidade de elementos contemporâneos.
Desta forma, a qualidade do seu trabalho já lhe possibilitou a colaboração com a RVCA, tendo tido a oportunidade de tirar as fotos da primeira coleção da marca para a Europa.
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SAGATEX, LDA – Tel: +351 22 5089160 – sagatex@net.novis.pt
You Mus t
G uy le Ta to o e r
T — Marta Ferreira
www.guyletatooer.com
Provando que a tatuagem não se resume a agulha e tinta, Guy le Tatooer é exemplo de que também o corpo pode ser a tela de uma verdadeira obra de arte. Distinguido pelo seu talento, o artista apresenta um portefólio identificável em qualquer parte do
De facto, nas tatuagens do artista francês, existe o predomínio dos tons cinza e preto, que exibem a qualidade e atenção prestada ao pormenor. Quer esteja no seu estúdio em Toulouse ou noutro lugar, Guy deixa a sua marca em desenhos que revelam o
Guy é, sem dúvida, irreverente. Exemplo disso foi a sua exposição na Galeria Gimpel & Muller, em Paris, onde equiparou a tatuagem a outra forma de arte, expondo-a num museu. Ao emoldurar diversos braços de cera tatuados, Guy mostrou a singularidade do seu trabalho, marcado pela minuciosidade com que executa as tatuagens, conseguindo um excecional resultado onde o preto e branco são tudo menos ausência de cor.
www. parqmag. com
mundo, uma obra obrigatória para os autênticos admiradores de arte. Filho de pai tatuador, Guy le Tatooer cedo percebeu que este também era o caminho que tencionava seguir. Com apenas 12 anos, começou a trabalhar em Noumea (Nova Caledónia), desenvolvendo um trabalho artístico definido por blackwork.
gosto pela tatuagem tradicional, embora também seja entusiasta das tendências inglesas e argentinas. Com efeito, é nas viagens que vai buscar muita da sua inspiração e, por isso mesmo, não exclui uma visita a Lisboa. Hoje com 30 anos, diz que não há boa ou má forma de se tatuar mas sim gostos diferentes, e o gosto de
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You Mus t
Hand & C r a f t
A importância do design nas sociedades contemporâneas fez com que se apostasse cada vez mais nessa formação. Contudo, a indústria do design não acompanhou esse
para o plano internacional uma linguagem menos massificada e industrializada do design. Contudo, a outra face da moeda resultou em edições de autor reduzidas, dirigidas
no essencial a coleções que entretanto proliferaram, tornando as produções inacessíveis ao comum dos mortais. No entanto, esta passagem por expressões mais pessoais, onde
Drop Stools, por Objeti
desenvolvimento, o que levou muitos designers a procurarem o seu próprio espaço, o mesmo seja dizer, a fundar as suas próprias empresas. Neste aspeto, a Holanda foi pioneira e durante a década passada os percursores desta nova atitude trouxeram T — Francisco Vaz Fernandes o elemento craft estava mais presente assim como a reciclagem de materiais, trouxe novas perspetivas para a indústria. Hoje, temos exemplos de pequenas empresas e de jovens designers que exploram os conhecimentos locais e ancestrais que não resultam de uma tecnologia sofisticada e cara para, a partir daí, acrescentarem valor de design. Neles reside a vontade de construir projetos onde o aspeto manual e a autenticidade estão mais presentes do que a questão tecnológica porque o toque e a sensação das coisas Babilonia, por Jahara Studio
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Hand & C r a f t
Yo u Mus t
ganha um novo valor. É o caso da Jahara Studio que tem feito grande parte da sua produção a partir de materiais recolhidos das favelas, integrando no processo comunidades desfavorecidas. Em termos de reciclagem, os norte-americanos da Objecti, empresa fundada em 2009, integram conhecimentos tradicionais de produção com elementos reciclados provenientes
o seu produto na qualidade da madeira maciça que não precisa de importar da Indonésia. Toda a produção passou a ser feita in loco e os modelos modernistas ocidentais são adaptados a tecnologias locais, o que faz com que tenham uma outra expressão. Por fim, temos que incluir a portuguesa Riluc, que aproveita os conhecimentos de uma metalomecânica
local para o desenvolvimento de peças de design.
Riluc Mouse coffe table, por Toni Grilo
Sidetable Tuju, por Inch Furniture
Shanghai Chair, por Inch Furniture
de casas demolidas. A Ok Design, uma pequena empresa dinamarquesa, atua no México onde reabilita um antigo modelo de cadeira mexicana muito popular nos anos 70, recorrendo a um conhecimento de execução que se estava a perder, feito a partir de uma pequena oficina local. Já a Inch, uma pequena empresa suíça, funda
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Acapulco Chair, por Ok Design
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V hils + B árbar a B e l o
www. parqmag. com
Dividida entre o lápis e a agulha, Bárbara desde cedo se deixou seduzir pelo mundo artístico. Contudo, só aquando da entrada no curso de Design de Moda no Gudi, no Porto, é que o sonho começou a solidificar-se. Detentora de um traço inconfundível, depressa Horse Tears, Bárbara Belo
T — Marta Ferreira
Twin Sisters, Bárbara Belo, para Zara
se sentiu motivada a entrar em concursos onde apresentava as suas coleções. E apresentou em 2007, no Portugal Fashion, e em Paris, Vanity uma coleção muito elaborada que certamente fazia advinhar um lugar ao sol caso houvesse investimento. O seu gosto pelo que é único, pelas referências clássicas e pela execução manual são uma característica fortemente presente no seu desenho, com bastante detalhe e riqueza de execução manual. O talento de Bárbara não deixa ninguém indiferente, até mesmo quando falamos de marcas como a Zara, com a qual já colaborou, fornecendo estampados da sua autoria para peças de jersey masculinas, um projeto que confessa ter sido interessante pelo facto de se ter privilegiado a execução manual dos desenhos. Com projetos em mãos, só nos resta então saber quando voltaremos a falar desta jovem que, decerto, tem ainda muito para colorir.
Vhils @ Miami 2011 A editora alemã Gestalten lançou recentemente um livro dedicado a Vhils que reúne os seus trabalhos mais importantes. Marc e Sarah Schiller da Wooster Collective afirmam no seu prefácio que, nas mãos de Vhils, "o vandalismo se transforma na arte da criação". Este artista, com formação em pintura, interessouse desde cedo por intervenções no espaço público, tendo começado incialmente por produzir stencils. O seu reconhecimento dáse quando começa a "escavar paredes", dando uma expressão única no contexto da arte urbana. O livro está à venda online na página da Gestalten, por 39,90€. T — Maria São Miguel
Vhils @ Nuarte 2011
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Mo vi e s
Herdeiro da tradição humanista e cómica de Chaplin e Renoir, do burlesco de Tati e do realismo poético de Clair e Carné, Kaurismaki constrói um conto de fadas num bairro de pescadores da cidade
portuária de Le Havre, na Normandia, populado por pessoas de hábitos e rotinas atemporais, que se movimentam entre uma padaria, uma mercearia e um café. Como protesto à velocidade da era digital, filma cenas longas e silenciosas sobre cenários teatrais, iluminados artificialmente. A trama remete para Casablanca: o engraxador Marcel Marx vê‑se na obrigação moral de ajudar um refugiado africano a chegar a Londres. Para isso, conta com o apoio dos vizinhos e do sinistro inspetor Monet, e formam uma espécie de “nova internacional pós-comunista”, cunhada pela consciência social, fraternidade e união. O happy end contraria os presságios da mulher de Marx, que sofre de cancro terminal, e mostra que os milagres acontecem, num mundo onde se expõe o verso da moeda. Com uma economia técnica espantosa, reflete sobre a problemática dos refugiados na Europa e sobre a “Europa sem fronteira”.
Simin e Nader estão casados há 14 anos e decidem separar‑se, uma vez que ela quer deixar Teerão e proporcionar à filha um crescimento em condições mais justas. Nader recusa-se a deixar o país porque tem a seu cargo o pai com Alzeihmer. É então que contrata uma mulher tradicional da classe baixa, com uma filha pela mão e outra que esconde dentro de si. O trabalho demasiado pesado, fá-la ter vários acidentes e leva Nader a despedi‑la. A partir daí desenha‑se uma luta de classes, género e crenças religiosas, suportada por um enredo complexo onde pequenas decisões têm graves repercussões. A filha do casal tem nas mãos uma injusta decisão a tomar, num dos finais em aberto
mais belos da História do Cinema. A simpatia é reservada às crianças desprotegidas —que se vêem crescer num mundo de injustiças sociais e politicas— e ao idoso que perdeu a memória. É o primeiro filme de sempre a arrecadar três ursos no Festival de Berlim — melhor filme, melhor ator e melhor atriz— e está na corrida aos Óscares nas categorias de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Argumento Original.
T — Inês Monteiro Março de 1900, em plena Belle Époque. Entramos no dia-a-dia das raparigas que dão corpo a um requintado e melancólico bordel parisiense. Vítimas das doenças da sociedade, são punidas com sífilis, gravidezes e encontros sexuais humilhantes. L’apollonide é um clube onde cavalheiros se encontram para conversar, beber e fumar e onde o relacionamento social é tão importante quanto o sexual. O filme mostra a dinâmica das raparigas em grupo e
entre os seus clientes. Rico em texturas, dános os contornos da ansiedade e tragédia destas odaliscas. A lírica da câmara cria uma claustrofobia exuberante, uma espécie de gaiola dourada
onde as prostitutas da alta‑sociedade vivem. Há claras alusões à pintura de Manet, Renoir e Toulouse‑Lautrec, tanto na pose e nos detalhes técnicos, como nos figurinos e na iluminação. A
inesperada utilização de música moderna em várias cenas cruciais pinta não só um retrato triste do fim de uma época, como relata uma tragédia contemporânea.
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You Mus t
Nike & Pr a n a
www.prana.com.pt
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Nike & Pr a n a
De nome invulgar, porém bastante sugestivo, Prana é o nome da banda que nos habituámos a ouvir pela forma alternativa como apresentam os seus temas, numa fusão de magnéticos ritmos sonoros que vale a pena conhecer. -A-n-asuadeira de turco Nike, casaco Nike Sportswear Better WindRunner, t-shirt Nike Sportswear Geometrics, calções Nike Sportswear Time Out Tempo Shorts, meias American Apparel, ténis Nike Sportswear Cortez Classic OG Leather
Quem diria que as tardes com os amigos nos jardins de São João da Madeira acabariam por culminar num projecto musical bastante mais sério? De facto, foi a partir do momento
energia e emoções, integrando o público no seu espectáculo. Depois de terem feito parte da selecção Fnac Novos Talentos, o grupo conheceu uma maior projecção nacional, que acabou por incentivar a evolução para Trapo Tapézio, um trabalho mais maduro e ponderado, que conta uma história em que os capítulos vão sendo lidos através das músicas do álbum. Etanol é um dos temas presentes em Trapo Trapézio, tendo servido de cenário ao primeiro videoclip da banda. Falamos de um single diferente,
T — Marta Ferreira
F — Nuno Palha
S — Ivan Martins
M-U&H — Daniela Reis
-M-i-g-u-e-lpunhos de turco Nike, casaco Nike Sportswear Better WindRunner, tank Top Nike Sportswear, calções Nike Sportswear Alumni Shorts, meias American Apparel, ténis Nike Sportswear Cortez Classic OG Leather -J-o-ã-oóculos Wayfarer Rayban, casaco Nike Sportswear AW77 Vintage Marl Logo FZ , t-shirt Nike Sportswear Get into the Gear 10K Tee, calças Nike Sportswear N98 Pant, ténis Nike Sportswear Cortez Classic OG -D-i-o-g-ocasaco Nike Sportswear N98 Jacket, t-shirt Nike Sportswear GF CX1 Team Tee, calções Nike Sportswear Stadium Shorts, meias American Apparel, ténis Nike Sportswear Cortez Classic OG
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em que os devaneios musicais do Miguel e do João começaram a ser levados mais a sério, que os dois elementos iniciais deram lugar a quatro, passando a contar com o Diogo e com a Ana, elemento feminino que faltava para “amaciar a piano a pedra rugosa” da banda inaugural, completando o núcleo. Embora sendo um nome inusual, Prana foi escolhido por conseguir transmitir os objectivos de uma banda jovem que procura fazer boa música e dar concertos recheados de
ao começar com um assobio que fica nas nossas cabeças, um pequeno detalhe demonstrativo da atenção prestada ao pormenor. Esta é, sem dúvida, uma banda caracterizada pelo espírito livre e despreocupado, que não se prende a nenhum género em particular, proporcionando ao ouvinte uma heterogeneidade rítmica que acaba por nos surpreender em cada trabalho. Depois de já terem provado o seu mérito com um álbum pincelado a cores de circo, resta agora saber o que contará o próximo álbum?
You Mus t
Fe i s t
Esta é a mesma menina que, em 2004, cantava sobre a natureza de um sentimento tantas vezes fugaz como o amor mas que conseguia tornar fácil ignorar o facto, pelo modo simplesmente adorável como cantava aquela Gatekeeper e entregava o equilíbrio doce certo, a um
estilísticas-musicais estão longe de ter fim. Não que How Come You Never Go There não seja uma excelente música de apresentação do álbum, mas muitos de nós estão prontos a aninhar-se aos seus pés, de sorriso no coração, a ouvir a Confert Me. For sure.
18.03.2012 Coliseu dos Recreios T — Ingrid Rodrigues assunto tão sério —Her performance was so lovely that it's easy to skip over the fact that she's singing about the often fleeting nature of love... Que, em 2007, e com sentido de humor, embelezou a technicolor o seu sucesso com o álbum The Reminder e a 1234 , música de uma —If the exuberance of the song
wasn't obvious enough, the brilliant music video sold it even more, with the grand choreography took the song to a whole— exuberância bastante
óbvia a ofuscar a melancolia escura de um relacionamento a cair aos pedaços (foi bonito vê‑la ficar um pouco irritada). Ela mesma, vem ao Coliseu dos Recreios, em Lisboa, a 18 de Março, e ao Coliseu do Porto, no dia seguinte, para a apresentação do álbum Metals, lançado em novembro de 2011, no qual Leslie Feist manteve elementos ténues folk de trabalhos anteriores mas em divergência e com uma habilidade imaculável, conseguiu conferir-lhe um tom ainda mais
nostálgico, quase flutuante, devido à sua voz profundamente versátil. Num álbum que oscila entre nuances de jazz e blues, Feist confirma mais uma vez o seu profundo conhecimento musical e que as suas explosões
19.03.2012 Coliseu do Porto
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Yo u Mus t
Pe dal + S o ci a l
Mergulhados numa metrópole que grita por rapidez, o barulho dos carros torna-se ensurdecedor. A paisagem mudou e com ela também os nossos hábitos. Estaremos confinados a uma era em que a bicicleta caiu em desuso? O jornal Pedal prova o contrário, uma iniciativa
Cycle 78 € Nos últimos anos, a coleção de lifestyle da Puma tem-se concentrado no que chamamos as afterhours, tanto do desporto como do trabalho, com coleções pensadas para os bons momentos da vida. Daí que, ultimamente, o mote tenha sido seja feliz,
Cycle 78 € divirta-se, emocione-se, socialize e descontraia. Por isso, de toda a coleção, queríamos destacar um modelo old school da marca, o Puma Clyde, originalmente criado por Walt Frazier em 1973. Em camurça, distingue-se pelo logotipo em dourado. De que nos mostra que a palavra “bicicleta” nada tem de arcaico. No início de 2012, os leitores puderam ampliar o seu leque de escolhas. Falamos do Pedal, um jornal fundado por 4 jovens que aliaram o gosto pela bicicleta ao design e às artes gráficas. Tal como qualquer criança, também Bráulio, Luís, Filipe e João recordam os passeios de bicicleta da infância, veículo que nunca os deixou de fascinar. Desta forma, a criação do jornal Pedal foi um desafio através do qual procuraram atingir tanto as pessoas que andam como as que não andam de bicicleta, criando uma publicação cultural onde o
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leitor pode encontrar ilustrações e fotografias (analógicas) de artistas, textos pessoais, críticas a livros e filmes, BD, editoriais de moda e sempre uma reportagem e uma entrevista. Com 5000 exemplares presentes de Norte a Sul do país, o jornal tem ainda a particularidade de, em Lisboa, ser distribuído de bicicleta, fazendo lembrar os emblemáticos filmes norte‑americanos. Embora recente, este jornal mensal promete continuar a crescer, surpreendendo todos aqueles que queiram “pedalar”.
referir um outro modelo original dos anos 70, o Puma Faas 300, criado para a corrida com barreiras, agora para galgar a calçada de forma muito mais leve, graças à tecnologia BioRide.
T — Marta Ferreira
T — Maria São Miguel
Faas 300 90 €
T — Maria São Miguel
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Ra y - B a n
A Ray-Ban sempre esteve ligada às grandes estrelas da música. O guitarrista Johnny Marr, da banda pop dos anos 80 The Smiths, foi chamado a desenvolver um projeto musical, o Ray-Ban Raw Sounds, em que juntou bandas com diversos estilos que marcam a atualidade. Au Revoir Simone, Best Coast, Mona e Tom Vek compuseram cinco peças individuais a partir do repto lançado por Johnny Marr. Todo o projeto foi fotografado
Au Revoir Simone
Tom Vek
Johnny Marr com RAY-BAN Signet
por Pat Graham e filmado por Poppy de Villeneuve que simultaneamente dão a conhecer a coleção Ray-Ban Raw Sounds, inspirada nos grande ícones da música que popularizaram alguns modelos da marca. Para quem goste de modelos mais exclusivos, Johnny Marr criou, em paralelo, um modelo homónimo: Ray-Ban Signet, em bronze cinzento, lentes azuis e com a assinatura na extremidade das hastes. Há apenas 1500 pares, disponíveis na loja online da Ray-Ban. www.rayban.com
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漏 ModaLisboa 2012 / Photo: Pedro Ferreira / Make-up: Ant贸nia Rosa / Hair: Helena Vaz Pereira Model: Margarita | Best Models / Dress Painting: Marta Cruz Lemos / Design: thisislove studio
You Mus t
Cu r ve I D T Margarida Brito Paes
Tudo começou com o novo modelo de calças Levi's Curve ID Ankle Skinny, que chegam nesta estação em cores pastel, doces e femininas. Um pouco mais curtas que os habituais modelos da marca e ultra skinny, são o par perfeito para um dia alegre nesta nossa cidade cheia de luz. Imbuídos desta jovialidade e energia convidámos Mafalda Matos, Jessica Athayde e Teresa Tavares para filmarem uma produção exclusiva para a PARQ. Vestidas com as Levis Curve ID, as três atrizes encarnaram na perfeição o espírito divertido da marca, entre cenas caseiras e urbanas, sempre com um sorriso na cara e um olhar aguçado. A primeira a chegar foi Mafalda Matos e, vestida de azul, percorreu a Avenida da Liberdade, descontraída e natural como num verdadeiro passeio
Mafalda Matos primaveril. Já Jessica Athayde levou-nos a comprar flores no Príncipe Real, onde os violetas das pétalas e o violeta das suas calças se misturaram de forma harmoniosa e doce. Por fim, e já com a noite a começar a cair, encontrámo-nos com Teresa Tavares que brindou a cidade com uma explosão de confétis do alto da Fonte Luminosa. Um vídeo a não perder, que captou o lado mais inocente de três atrizes que marcam esta geração.
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Yo u Mus t
Cu r ve I D
Foto Sal Nunkachov
Styling Margarida Brito Paes
Hair Joana Bernardo
Make-Up Dulce Doce
www. parqmag. com
Teresa Tavares
Jessica Athayde
www.levis.com
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You Mus t
L agae t & BC On e
Lagaet é um artista extraordinário, com um domínio invejável do corpo e um entendimento profundo do que significa ser um b-boy. Na reta final de 2012, o b-boy que representa as cores da Momentum Crew do Porto foi a Moscovo como participante de pleno direito da final do Red Bull BC One 2011. Um circo, uma orquestra que tocava breaks, elefantes e cavalos no backstage, danças tradicionais de cossacos e uma eletrizante prestação por parte dos 16 melhores b-boys do mundo contribuíram para uma noite
capitais mundiais desta cultura. Portugal, entretanto, voltará a estar na Rota do Brasil, ao ser um dos 27 países a organizar Cyphers, que abrirá caminho
F — Dean Treml inesquecível. Roxrite arrecadou o cinturão mais cobiçado no universo do hip hop e Lagaet não foi capaz de impor o seu estilo único mas, no final, os pedidos de autógrafos revelavam que a história deste b-boy ainda tem muitos capítulos pela frente. «Um b-boy não desiste», explicou Lagaet, «isto está cá dentro e não há nada que o tire». É desta forma arrebatada que os representantes desta cultura se referem ao que fazem. Os breaks debitados pelo DJ despoletam uma reação que não podem controlar. E quando chega a hora da batalha, não há quem os pare. Será assim também em 2012, ano que o BC One se desloca até ao escaldante Rio de Janeiro, sem dúvida uma das
Newcomers Week que irá permitir a um dos 16 b-boys nacionais presentes poder reclamar um lugar na qualificativa holandesa que abre caminho para a final da Red Bull BC One, no Brasil. Para que tudo seja “à séria”, a Red Bull BC One Cypher – Portugal terá dimensão internacional com a presença de júris, um host e um DJ de renome mundial no circuito do b-boying. «Um b-boy não desiste», explicou-nos Lagaet em Moscovo. É por isso que, neste momento, 16 b-boys portugueses sonham com um lugar no círculo do Rio de Janeiro. O caminho começa a Norte, na Exponor, no próximo dia 27 de abril.
T — Rui Miguel Abreu
às provas qualificativas que escolhem b-boys para a edição 2012 do Red Bull BC One. A Cypher portuguesa decorrerá na Exponor, num evento integrado na
www.redbullbcone.com
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Yo u Mus t
The Cham pio n + Or i g i ns
The Champion 49€
A Keds nasceu com a criação de um sapato inovador com sola em borracha, no ano de 1916. The Champion é o antepassado dos ténis que conhecemos e que é reinventado à quase um século. Os Keds são os seus descendentes mais próximos e têm marcado gerações e gerações com as suas linhas simples, solas brancas e cores fortes. Perfeitos
T — Maria São Miguel
Eagle Origins 89,90€ Para este verão, a Merrell volta à coleção de modelos Origins, uma das novidades da estação passada que celebrou os 30 anos da marca recriando um dos primeiros modelos inspirados no calçado de montanha. Estes modelos em pele ou em lona oleada e perfurada são também
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Solo Origins 79,90€ amigos do ambiente, graças às palmilhas e sola interior em borracha EVA reciclada para maior conforto e absorção do impacto, e à sola exterior em borracha reciclada. No que se refere às novidades absolutas, a Merrell lança a linha Momentum com dois
T — Margarida Brito Paes
para looks descontraídos, fáceis de usar e divertidos, fazem parte da infância e adolescência de todos nós. Em 2012, chegam com novos materiais, cores e padrões numa coleção que vai muito para além do clássico modelo Keds.
Rant Mid 64,90€
Ebro Chukka 99,90€ modelos —Rant e Ebro Chukka— a pensar no público urbano, procurando assim trazer toda experiência do calçado outdoor com o conforto e a resistência de um sapato usado no dia-a-dia. O Rant é um modelo vulcanizado e o Ebro Chukka toma a forma de um mocassin desportivo.
L i ve T — Margarida Brito Paes
You Mus t
A coleção de verão da Lacoste L!ve para homem inspira‑se em três grandes temas: acampamentos de verão, a vida aquática e os anos 90. O primeiro traz para a próxima estação cores fortes e padrões vintage renovados. O crocodilo da Lacoste também cresce de tamanho, enfatizando o lado old school da coleção. A vida aquática remete-nos para o universo da vela e dos desportos
aquáticos. Destacam-se um corta‑vento com costuras seladas a quente, um croco em silicone e também um casaco navy em algodão lavado. Os calções de banho, os pólos e as t-shirts são estampados com referências náuticas. Já a inspiração dos anos 90 traz-nos cores vibrantes e padrões inspirados em cartoons. Uma coleção jovem com um estilo muito preppy.
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Yo u Mus t
T — Pedro Resende
Ro y al B lac k + L o uis Vuit to n & Mar c Ja co bs
A marca brasileira de Oskar Metsavaht apresentou a coleção Royal Black para a estação quente que se avizinha a passos largos. Aproveitando um 2011 que comemorou as ascendências e descendências de uma África que povoa o mundo, o criador homenageia desta forma a população africana no Brasil. Um black and gold que eleva à realeza o sangue africano, numa mistura efusiva de materiais,
cortes e cores, conjugados numa coleção desprendida, descomprometida, despojada de intencionalidades secundárias para comunicar expressivamente a intenção e o conceito. Como o próprio criador o diz, o processo começa com “uma cena, uma história, um estilo, um conceito que crio a partir de algo que eu desejei ou vivi. Deste ponto, eu crio o clima, a atmosfera, os looks e as atitudes.”
Mala - cama de campanha de 1891, criada por Louis Vuitton
O Musée des Arts Décoratifs, em Paris, recebe de 9 de Março a 16 de Setembro uma exposição que comemora duas das mais brilhantes carreiras no mundo da moda: Louis Vuitton e Marc Jacobs. Estes dois designers são os alicerces de uma das maiores marcas de luxo mundiais e marcam o mundo da moda de forma incontestável. Ambos estiveram à frente da casa
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francesa em alturas complicadas, Louis Vuitton no início da industrialização e Marc Jacobs no auge da competitividade e globalização, duas fases decisivas na evolução da indústria da moda, onde ambos se destacaram enquanto designers. Todos estes motivos fazem desta exposição não apenas uma viagem pelas carreiras destes dois homens mas, também, uma
revisão da história da moda e da sua evolução tecnológica e conceptual. O espaço foi concebido por Gainsbury e Bennet, ocupando dois andares: o primeiro ocupa-se dos míticos baús de Louis Vuitton e o segundo apresenta uma seleção dos modelos mais emblemáticos criados por Marc Jacobs. T — Margarida Brito Paes
You Mus t
Grupee
Fi t
Getlegg
Myguy
Bootzee
Uma rapariga que é gira com apenas umas calças de ganga e uma t-shirt branca, é gira de qualquer maneira. Qualquer mulher sonha com o dia em que acorda, veste um par de jeans e um top e fica deslumbrante… Mas afinal qual é o segredo para o conseguir? O segredo está nos jeans, têm de ser o jeans perfeitos. Talvez por isso marcas como a Diesel tenham aperfeiçoado durante anos o tratamento do denim, em busca
Fairlegg
Highkee
das lavagens e cortes perfeitos. Em 2012 essa procura continua com a linha Fit Your Attitude, são 6 novos modelos, cada um pensado para uma ocasião diferente: Grupee, para uma saída à noite; Getlegg,
T — Margarida Brito Paes
as típicas calças de ganga, perfeitas para qualquer ocasião; Bootzee, para ir trabalhar, mais sofisticadas mas muito confortáveis; Highkee, de cintura subida inspiradas nos anos 50, são a escolha certa para uma saída à noite; Myguy, as boyfriend jeans reinventadas, descontraídas e cheias de estilo, ótimas para passear pela cidade no fim-de-semana; e, por fim, as Flairlegg , largas em baixo, as mais trendy da coleção.
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B e rnhard Wi l l h e l m
Yo u Mus t
A relação entre a Camper e o designer de moda Bernhard Willhelm é longa. Começa em 2008, quase no princípio da linha Together que a marca de sapatos espanhola lança para enfatizar a relação entre o design de ponta e a tradição das técnicas. Nesse sentido, entre os muitos designers que colaboram em todas as estações, Willhelm, provavelmente o mais irreverente
T — Maria São Miguel
de todos, tem sido o mais fiel. Os sneakers com um perfil híbrido e único que criou para homem e mulher são hoje uma das suas imagens de marca e continuam
das pelotas dando-lhes uma versão mais leve e urbana. Além dos sneakers, Willhelm acrescentrou para o pico de calor vários modelos de sandálias.
Para mulher, as sandálias (com salto alto ou raso) trazem algumas palavras impressas em várias tiras. Para homem, existe um modelo de sandálias com
www.camper.es
a ter todas as estações novas versões. Esta estação, o modelo camuflado ganha tons e cintas refletoras com um toque disco. Ainda em matéria de sneakers, Willhelm fez uma releitura
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impressões que nos remetem para as fitas que se usam para vedar recintos. No conjunto, temos uma coleção urbana e distinta para quem sabe que a diferença começa pelo calçado.
You Mus t
Essentia Low Já vai longe o tempo em que quando se falava em Havaianas só nos vinha à cabeça a imagem das míticas chinelas de enfiar no pé. Hoje em dia a marca brasileira é muito mais do que chinelos de praia e tem linhas de sapatos,
S um m e r + Fr e d
Urbis Summer Mid ténis e até de botas de borracha. Para o próximo verão, apresenta dois modelos inovadores de ténis: o Urbis Summer, que mantém o conforto das solas Havaianas combinando-o com um design moderno, onde o
Urbis Summer tecido é trabalhado de forma a criar um efeito de quadrados respiráveis; e o Essentia, que relembra os clássicos sneakers de forma estreita e elegante, com sola pespontada e cores fortes que gritam: Brasil!
T — Margarida Brito Paes
T — Margarida Brito Paes
www.fredperry.com
O estilo intemporal de Fred Perry é perfeito para todas as mulheres que gostam de roupa casual mas com um toque bastante clássico. Os pólos e os ténis são a sua grande referência, em coleções muito completas que privilegiam a malha e o algodão, baseando‑se sempre no estilo desportivo de décadas passadas. Para a primavera feminina de
2012, a marca revisitou mais uma vez o passado, contandonos três histórias: Team Travel, Track and Field e Downtime. Três linhas com um toque um pouco vintage como já vinha acontecer na coleção de inverno, desta vez com o xadrez a marcar um presença mais forte e os padrões florais em cores mais suaves.
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Yo u Mus t
A ce ss ó r i o s
A editora Sete Dias Seis Noites, imbuída da máxima de Fernando Pessoa “a minha pátria é a língua portuguesa”, alia o mote à literatura. Nesse sentido criou blocos em que cada página é diferente propondo a cada dia citações de importantes autores. Todos podem aprender a gostar de Florbela Espanca, Fernando Pessoa, José Saramago, entre outros autores internacionais, como Cervantes e Shakespeare. T — Pedro Dourado
T — Margarida Brito Paes Jovem e feminina, há muito que a Miu Miu deixou de ser vista como uma segunda linha da Prada, sendo hoje uma marca reconhecida e com um caráter muito próprio. A casa italiana criou uma linha em cores pastel cheia de cristais e formas retro. Perfeitas para usar durante toda a estação, tanto durante o dia em looks girly ou retro, como durante a noite em looks onde não falta o glamour dos brilhantes. T — Margarida Brito Paes
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Inspirados nos campos de batalha, os novos relógios Diesel revelam a robustez e eficácia de uma verdadeira arma de guerra. Munidos de funções únicas como múltiplos fusos horários, cronómetro e iluminação LED, prometem deixar qualquer amante de relógios apaixonado. Os mostradores são originais, em castanho, as braceletes plaqueadas e as de couro têm um aspecto envelhecido. Um estilo perfeito para enfrentar os combates do dia-a-dia.
Uns óculos Cazal são inconfundíveis, até pela forma como o acetato e o metal aparecem integrados. Hoje, os modelos vintage ou as recriações são muito procuradas porque as suas formas e lentes degradé permitem um look retro-futurista. Estão disponíveis na André Ópticas e são fundamentais para quem quer reviver a sério o disco do anos 70.
T — Margarida Brito Paes
You Mus t
A Nokia apresentou o novo Lumia 900, o seu primeiro Windows Phone compatível com redes LTE (4G). Este novo smartphone vem com um processador de 1.4GHz single‑core, ecrã de 4,3 polegadas amoled Clear Black, com 800x480 de resolução e câmara de 8 megapixels, com lentes Carl
Desenvolvida para fotógrafos amadores e profissionais, a PowerShot G1 X cria uma nova e prestigiosa categoria no topo da lendária série G da Canon e redefine a performance atingível por uma câmara compacta.
Zeiss. O novo topo de gama da Nokia tem o mesmo design do Lumia 800 e do N9, é construído em policarbonato, vem com aplicações exclusivas como o Nokia Drive para navegação GPS e outras aplicações resultantes da parceria com o canal CNN e a Electronics Arts.
T — Maria São Miguel
A Canon apresenta a PowerShot G1 X , uma nova e revolucionária câmara compacta com um sensor CMOS grande, desenhada para produzir níveis de qualidade de imagem e controlo DSLR num corpo metálico extremamente portátil.
Te c
Para quem gosta de aliar imagem e tecnologia o novo Asus Zen é perfeito. É um notebook, ultra fino, ultra leve e ultra rápido Equipado com processador Intel Core i5 de segunda geração. É incrivelmente rápido e reacende‑se em dois segundos, com uma espontaneidade similar à dos smartphones. Para quem gosta de pequenos detalhes que fazem a diferença tem um SonicMaster, desenvolvida em parceria com a Bang&Olufsen Ice Power que permite um som similar a uma boa Hifi.
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Yo u Mus t
O mais recente Black XS L’Excès para homem expressa uma atitude rock sofisticada. Além de um novo conjunto olfativo, a grande novidade é a
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Esta primavera, a maquilhagem da Dior surge em tons pastel, com um espírito bucólico. Os rosas, os verdes e os cinzas claros estão em destaque nos lábios, nos olhos e nas unhas. A Garden Clutch é o produto‑estrela da coleção.
butter, shower cream e sabonetes. Muito doce! Body butter, 200 ml, 14 € Body Scrub, 200 ml, 12€ Sabonetes individuais, 100 ml, 3 €
T — Cláudia Gavinho
Simplesmente, não vai ser possível resistir a este aroma. A The Body Shop lançou uma linha completa para o corpo com aroma a chocolate: body butter, body scrub, boody lotion, lip
Beaut y
participação de Iggy Pop nos spots publicitários. Eau de toilette spray, 50 ml, 43 €
Verniz verde nenúfar Waterlily, 24,80€ Batom Rose Corolle, 33,30€
O marinheiro cede o seu lugar a um Don Juan completamente assumido. O novo per fume de Gaultier é viril, sem complexos. O top model basco Jon Kortajarena
é o protagonista da campanha e dá a cara e o corpo a Kokorico.
Há um novo homem Only the Brave, rebelde e corajoso. A nova fragrância evoca a determinação e auto‑confiança de quem usa as tatuagens
como obra de arte e as encara como parte de um estilo de vida.
Eau de toilette spray, 50 ml, 54 €
Eau de toilette spray, 50 ml, 48,18 €
You Mus t Shop
S n e a ke r s
havaianas
puma
le coq sportif
adidas
wesc
merrell
reebok
adidas
le coq sportif
onitsuka tiger
cat
element
onitsuka tiger
nike
cat
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Yo u Mus t Shop
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Shoes
pepe jeans
keds
sperry
purificacion garcia
geox
camper
lacoste
goldmud
diesel
palladium
adidas
melissa
fly
ugg
camper
You Mus t Shop
salsa
diesel
Bags
eastpak x chris van assche
ugg
energie
wesc
adidas
pepe jeans
billabong
purificacion garcia
55dsl
puma
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Yo u Mus t Shop
billabong
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T- s h i r t s
levis
mango
bench
pepe jeans
volcom
diesel
lacoste l!ve
salsa
rvca
55dsl
pepe jeans
bench
S o u n ds ta ti on
M83
T — Pedro Lima
M 8 3
Estreia 12.03.2012
LUX
Hurry up, We're D r e a m i n g
www.ilovem83.com
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S ound s ta ti on
Com o novo álbum Hurry Up, We’re Dreaming, os M83 fizeram‑nos desejar não acordar de um sonho demasiado grandioso para ser interrompido.
Foi desta que Anthony Gonzalez apontou para as estrelas, sem medo que a bala lhe acertasse em cheio entre os olhos. Com o duplo álbum Hurry Up, We’re Dreaming , o músico francês natural de Antibes, dominou a arte de transformar cada canção num épico emotivo de proporções olímpicas. Aliás, Gonzalez foi mais longe, ao combinar as exigências conflituosas da pop comercial com o rock experimental em faixas realmente gigantescas. Desde 2001, com o álbum de estreia homónimo e os seguintes Dead Cities, Red Seas & Lost Ghosts e Before the Dawn Heals Us, os M83 vieram a aperfeiçoar‑se na arena post‑rock e eletrónica cósmica. Mas foi só em 2008, com o aclamado Saturdays = Youth, que a banda criou um território próprio de paisagens sonoras assombrosas, assentes em evocações de adolescência, imagética cinematográfica impregnada em nostalgia e desamparo, sintetizadores anestesiantes, vocais sonhadores dispostos em camadas, guitarras futuristas injetadas de efeitos digitais e uma celebração descomplexada a Kate Bush e Jean-Michel Jarre, que
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M83
abriram caminho para o monumental álbum de 22 faixas, em que até os interlúdios se sorvem avidamente.
sobrepostas de synths capazes de encher estádios, baixos em síncope cardíaca ou solos de saxofone a la Cut Copy.
Anthony Gonzalez está mais maduro e confiante do que nunca. A voz atingiu novas amplitudes, as letras tornaram-se mais imersivas e a produção ficou cada vez mais detalhada. No entanto, mantém-nos bem próximos de si a orbitar subtilmente pelas suas memórias mais íntimas. O próprio nome do disco remete para as recordações de infância do cantor e das suas fantasias, fazendo uma retrospetiva da vida de Gonzalez desde miúdo, passando pela adolescência e como adulto. Temas como Raconte-Moi Une Histoire (nome da revista com uma cassete de contos narrados que a sua mãe lhe comprava quando tinha 5 anos) ou OK Pal (que relembra episódios de adolescência como “quando conheces alguém que realmente te compreende”), narram a vida de Anthony como um diário aberto para quem quiser ler.
N e s t a a u d i çã o s o m o s confrontados com duas realidades. Por um lado, o tom urgente e introspetivo do álbum, por outro a dupla identidade de Gonzalez como entusiasta de pista da dança e trovador solista. Por isso não estranhamos quando saltamos da euforia nu-disco efervescente de Midnight City, o single inaugural, para o cosmonauta espectral Intro, numa inesperada colaboração com Nika Danilova, do projeto goth-pop Zol a Jesus. Da doçura inocente e ensolarada de Raconte-Moi Une Histoire, com palmas e vocais de criança, para as guitarras aceleradas, percussão aguerrida e vozes arrancadas das entranhas de Reunion e The Bright Flash ou num regresso ao passado às batidas oitocentistas de Claudia Lewis, dominadas pela mestria funkrock do slapbass.
Hurry Up, We’re Dreaming é uma experiência catártica e desconcertante. A falta de uma narrativa clara não choca, afinal continuamos a saltar de sonho em sonho. Um álbum sem refreio, criado como um filme com tema de abertura e créditos finais que não esconde uma profunda paixão pela sétima arte e uma admiração romantizada pela música dos anos 80, presente em texturas
Quando Gonzales descreveu a sua nova produção, resumiu-a como “muito, muito, muito épica”. E não estava enganado. Apesar da palavra estar cada vez mais vulgarizada, “Hurry Up, We’re Dreaming” é digno de tal ambição, que nos transporta numa montanha russa de emoções maiores do que a vida. Uma fantasia a que nos agarramos com a força que o corpo nos permite e que tentamos, a todo o custo, prolongar.
S o u n ds ta ti on
L ana d e l Re y
T — Davide Pinheiro
Lana
D e l Os meios justificam os fins R e y
www.lanadelrey.com
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S ound s ta ti on
Ouve-se um canto de serpente. Uma voz grave, quase barítono, cobre camadas de música cinematográfica, milimetricamente dispostas para evidenciar a cantora. As canções de Lana Del Rey parecem feitas de estatística e a verdade é que a dimensão do fenómeno pode ser avaliado de forma muito objetiva. Não há no mapa presente sequer quem lhe faça frente no trono das expectativas, o que em época de descrença alumia ainda mais a candeia.
Born To Die, o álbum, é apenas um capítulo definitivo de uma história que muitos carateres já fez correr e que promete ser mais do que uma bolha em ponto de efervescência adolescente, isto é, pronta a rebentar. A grandeza adquirida graças à viralidade determina uma previsão que supera largamente as cartas do horóscopo: Lana Del Rey é uma estrela pop do presente que, graças à velocidade de propagação da informação e à partilha de conteúdos em redes sociais e outros suportes, praticamente não chegou a pertencer à "classe média". Nem há dois anos, Lana Del Rey era Lizzy Grant e gravava um álbum homónimo por 7500 euros com a ajuda do produtor David Kahne, conhecido pelo seu trabalho com Regina Spektor, por exemplo. O disco esteve dois meses à venda no iTunes antes de ser retirado quando a artista foi descoberta pela editora atual. As canções estão disponíveis no YouTube para
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L ana d e l Re y
exercícios comparativos e, a julgar pelos comentários, não são poucos aqueles que o fazem. A vontade manifestada pela própria em reeditá-lo por alturas do verão parece mais um ato de gestão para limpar a imagem fake do que propriamente um ato espontâneo de recuperação do passado. É que além de todas as alterações estruturais que a mudança para uma multinacional e decorrente
É a nova estrela pop, capaz de ocupar um centro esvaziado pela dispersão. Lana Del Rey define um tempo marcado pela viralidade em que o processo é o fim e a obra o meio.
aposta global obrigaram, Lizzy Grant —o seu nome verdadeiro até é Elizabeth— passou a ser Lana Del Rey, uma inspiração siamesa entre Lana Turner e Ford Del Rey. A construção da personagem passou também por um reforço labial de botox, além de outras transformações apenas ao alcance dos cirurgiões mais competentes. O que se depreende do processo que a elevou ao estrelato num ápice é que a música foi apenas um meio para atingir um fim. As referências assumidas (de Bob Dylan aos Nirvana) pouco ou nada se refletem
num conjunto de canções que revelam uma identidade duvidosa e, sobretudo, excesso de mecânica. O que a previsibilidade do álbum não indiciava era um falhanço tão rotundo na hora do confronto com o microfone. Já se notava grande cautela na gestão da relação entre Lana Del Rey e os palcos mas nem os maiores detratores poderiam esperar uma prestação tão desastrosa no Saturday Night Live. Regozijaram-se os mais críticos e desiludiram-se aqueles que a defendiam arreigadamente. No momento em que não podia mesmo falhar, deixou uma imagem de desorientação como quem não sabe o que fazer ao microfone. As versões de palco de Video Games e Blue Jeans tomaram proporções gigantescas no contexto de uma comunicação cada vez mais rápida e viral mas para trás havia todo um trajeto de antecipação capaz de produzir milhões de cliques no YouTube. O mais importante nesta história não é a música mas antes a forma como ela é comunicada. Ou, por outras palavras, a forma como o processo se tornou tão ou mais importante que a obra. É que à saída de Born To Die, metade do álbum já era conhecido o que não impediu que se tratasse de um acontecimento. Mesmo com a digestão feita antes sequer de a refeição completa ser servida. Há um mundo em mudança, o da comunicação e, sem redefinir as regras, Lana Del Rey soube jogar com elas. As canções aparecem lá pelo meio.
S o u n ds ta ti on
L e o nard Co h e n
Leonard
T — Ingrid Rodrigues
PĂłs 7, Hallelujah
C o h e n www.leonardcohen.com
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S ound s ta ti on
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Old Ideas é um álbum de
músicas assim, que não nos deixam conter e nos trazem tudo aos olhos. Que são a melhor síntese. Peças de um puzzle que bem poderia ser nosso e forçamos que encaixe naquela nossa noite. E encaixa. No fim, limpamos a cara e prometemos sempre que só voltaremos a deixa-nos importunar quando a razão nos notificar e o coração estiver a fazer a sesta. Mas as promessas não se fazem de visão turva e com a alma virada do avesso. É preciso deixar as feridas expostas ao ar para assim deixar cicatrizar. Não interessa a quantidade de areia e cinza e memórias e alcatrão e suspiros e sangue e rum que tenham em cima. Não, não interessa mais. O importante é o riso que chega quando todas as esperanças são frustradas e as opções são poucas. Sim, por vezes, uma
Amansa. Apazigua. E com subtis investidas melhora. As feridas saram mais rápido e são mais bonitas. De voz vacilante e entoando letras de um lirismo incomum, as músicas de Leonard Cohen obrigam a um ritual de entrega que só se consegue na comparência de grandes espíritos com uma interpretação intensa e contida, sensual. Conseguem emudecer qualquer coração e vivem eternos-internos em nós. Esta é uma época de exageros e hipérboles em que a palavra perdeu o seu significado. Old Ideias é, no verdadeiro sentido, um primor. O requinte da perfeição. (1966)
de vida numa linguagem compreensível, mutilada e intervalada através de mostras de (i)moralidades e explosões de amor. Por ali, não se espera pelo sinal verde para dar o passo e não nos é permitido o medo de fechar os olhos e deixar vir o escuro. “I'm old and the mirrors don't lie” — diz Cohen em Crazy to Love You, e nós agradecemos esse reflexo enrugado de quem já aprendeu que as rotinas e rituais são vitamina C e que a vida é uma cidade de encontros e desencontros mas que estamos cá e que aguentamos porque há quem diga que o amor são os cinco segundos finais de uma música dele. E nós acreditamos. Amen e Show me the Place são prova de, como de forma incansável, Leonard Cohen, continua a desenterrar relíquias dos terrenos baldios do coração e da alma humana que a maioria de nós prefere esquecer ou não tem a coragem de explorar.
“Um santo não resolve esse caos; se pudesse, o mundo teria mudado há muito tempo”*. Mas acalma.
Leonard Cohen
Old Ideas é toda uma lição
Já é sabido que Leonard Cohen nos faz dar nome a todas as feridas. E que faz questão de escarafunchar carne, alma, vísceras adentro e ir mais dentro e mais fundo e mais além de todos os outros. Mas com ele chega também a certeza que um dia todas as feridas aparecerão cicatrizadas.
pessoa incorre nessa bizarria que é ter sentido o ridículo e rirse de si própria. Enfim, podia ser pior.
* Beautiful Losers
A maturação é processo imper feito, incómodo e doloroso quando tudo o que precisamos é de amor, bem‑querer. Percorrer linhas tortas faz parte. Atravessar a estrada sem olhar e torcer o pé, também. Mas fechar os olhos e ver azul, confundir crer com querer e nunca deixar de acreditar em canções de embalar, também. O tempo é escrito a sugestões de expiação para o equívoco luxurioso e fé equivocada e Cohen sabe disso.
L e o nar d Co h e n
Q&A
Ro s ânge la Re n n ó
Rosângela
Deise Lane, Zorki 11 , do projeto A última foto, 2006 Fotografia a cores e câmara fotográfica Zorki 11, emolduradas (díptico) Fotografia: 82,8 x 54,9 x 9,3 cm Câmara: 17,5 x 15 x 9,3 cm Parte de um dos 43 dípticos realizados com a colaboração de 43 fotógrafos profissionais convidados a fotografar o Cristo Redentor usando câmaras mecânicas de diversos formatos, câmaras de chapa 9x12 cm do início do séc. XX e câmaras Reflex para filme 35mm da década de 80, que Rosângela Rennó tinha colecionado ao longo dos últimos 15 anos. As câmaras e a última foto registada constituem o trabalho exposto.
A Vida 56
Q& A
Ro s ânge l a Re n n ó
R e n n ó
Rogério Reis, Yashica Mat Fotografia a cores e câmara fotográfica Yashica Mat 124B, emolduradas (díptico)
e
a
M or te
Fotografia: 67,8 x 67,8 x 12,5 cm Câmara: 20 x 18 x 12 cm
das Imagens 57
Q&A
Ro s ânge la Re n n ó
Lição de Realismo Fantástico, 1991—2000 Fotografias a p&b, em papel RC, 101 x 630 cm, cada Coleção e cortesia da artista
O Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian apresenta uma retrospetiva da artista brasileira Rosângela Rennó que marca duas décadas de trabalhos em torno de questões relativas à imagem. A artista, residente no Rio de Janeiro, cedo teve acesso a um palco internacional, tendo sido convidada a expor em várias bienais como a de Veneza (1993 e 2003), a de Berlim (2001) e a de São Paulo (1994 e 2010), entre muitas exposições individuais em vários centros de arte. O seu trabalho constrói-se a partir de fotografias, negativos e slides, na maior parte das vezes encontrados, que servem de matéria para o desenvolvimento de instalações multimédia onde o lugar social da imagem está em foco. E é precisamente mergulhando no que se poderá chamar de arquivo morto, constituído por imagens anónimas cuja identidade o tempo apagou, que Rosângela desconstrói os alicerces de uma sociedade, observando especialmente aquilo que se quis esquecer. Amnésia e memória são dois elementos que atravessam parte do seu trabalho, que tanto ganha uma comovente carga poética como política. E apesar de muito do seu trabalho se referir a um contexto social brasileiro, a passagem do tempo apaga os aspetos individuais deixando assim em evidencia a dimensão abrangente do seu universo. Em exposição até 6 de maio no CAM. T — Francisco Vaz Fernandes F — Cortesia da Galeria Vermelho
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P: A Rosângela não é uma desconhecida em Portugal, várias vezes aqui mostrou o seu trabalho e, inclusivamente, é representada por uma galeria portuguesa, como tal, não precisa de grandes apresentações... O que iremos ver de novo nesta exposição? R: A Isabel Carlos (diretora do CAM) e eu tentámos fazer uma exposição que tivesse uma leitura mais ou menos linear do meu trabalho desde 1991, data da obra mais antiga desta mostra. Adotámos a estratégia de desenvolver um percurso que complementasse o que nunca sido mostrado em Lisboa. Ainda assim, vão aparecer algumas obras que puderam ser vistas anteriormente só que, agora, integradas num contexto evolutivo, onde ficam evidenciadas as questões exploradas de cada momento. O mesmo acontecerá no catálogo,que será bastante completo.
Biblioteca, 2002. Grupo 1 (vitrines 20,25,27 e 28). Parte de 37 vitrines com álbuns de fotografia a P&B e fotografia a cores laminada sob acrílico, mapa e arquivo de aço. F— Eduardo Eckenfels
P: Vai ser uma espécie de catálogo raisonné? R: O catálogo não tem o objetivo de ilustrar todo o meu percurso mas tem cerca de 400 páginas... Na verdade, a exposição segue de Lisboa para o Fotomuseum Winterthur, na Suíça, onde a minha obra é menos conhecida. Que me lembre, apenas participei em duas exposições na Suíça e estou pouco representada nas coleções públicas suíças. Por isso, seguimos a estratégia de privilegiar a documentação de grandes instalações e de obras montadas e apresentar outras obras, além das que estão na exposição. O catálogo ficou muito bonito porque tem muitas imagens e vai ser possível ver os conjuntos completos, muitas vezes instalados de formas diferentes, dependendo das condições dos lugares onde foram expostos.
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P: Ou seja, são imagens comparativas, que permitem ver como a obra foi instalada num determinado sítio ou noutro? R: Exato. Isso dá uma melhor compreensão do trabalho e ajuda especialmente na Suíça, onde o meu trabalho é menos conhecido. Penso que o catálogo complementa a exposição em si. Nunca tinha feito um catálogo assim, bem maior e mais completo do que a própria exposição. P: E relativamente à exposição, também foram privilegiadas as grandes instalações ou houve outro critério? R: Não há nenhuma grande instalação. Acabámos por fazer pequenos conjuntos que não foram vistos em Portugal. Por exemplo, não dava para montar toda a Biblioteca ou a Última Foto, então criámos pequenos grupos que saíram de projetos maiores. Queria que houvesse um sentido de percurso e, como tal, era mais interessante mostrar o maior número de séries e revelar as conexões que existem entre elas do que estar a privilegiar apenas duas ou três grandes instalações. P: Então vamos ter versões mais reduzidas de algumas das suas grandes instalações? R: Justamente, porque eu já fiz instalações de projetos específicos na Cristina Guerra e no Museu do Chiado, então achei que estava na hora de mostrar os outros conjuntos, mesmo que em versões mais reduzidas, de forma a permitir uma visão mais global do meu pensamento plástico. P: Muito do seu trabalho parece partir do universo arqueológico já que escava bem fundo algumas camadas da cultura material, sedimentadas e caídas em esquecimento. É daqui que recolhe materiais para um desenvolvimento plástico? R: Há duas coisas envolvidas na minha pesquisa que, na verdade, é o que me atrai enquanto produtora de imagens e de objetos. Uma, é investigar a origem específica de cada arquivo, de cada fotografia ou de cada coleção que acaba caindo na minha mão. É fundamental para mim conhecer as origens dessas imagens. Funciona mais ou menos assim: é preciso contextualizá-la para poder descontextualizá-la e então recontextualizá-la. Eu aprendi a ter esse rigor e respeito por cada uma das etapas da pesquisa na escola de arquitetura. O uso da interdisciplinariedade dentro do meu trabalho leva-me a respeitar as especificidades de cada disciplina que está envolvida nessa produção. Mas existe uma outra arqueologia que talvez eu tenha descoberto mais recentemente: gostar de redescobrir e de rever a própria historia da fotografia. Não só a historia da fotografia mas a história social da fotografia. Mapear os usos, as funções sociais e entender a sua importância dentro da evolução do processo fotográfico. P: E quando começou esse interesse? R: Primeiro senti um envolvimento afetivo e emocional com a fotografia e mais tarde veio a compreensão de que eu não precisava de fazer as minhas próprias imagens para usar a fotografia como um campo
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de expressão e um campo de interlocução com o espetador. Na verdade, eu posso prescindir do ato fotográfico e continuar dentro do universo fotográfico propriamente dito. Uma coisa não invalida a outra. O ato fotográfico é apenas um gesto. Existe todo um léxico envolvido, desde a produção, à edição até à finalização, que são muito mais interessantes do que o ato em si. Acho que foi aí que me envolvi, com essa liberdade eu podia dialogar com os vários usos e funções da imagem... E o meu interesse pela pesquisa de imagens dentro de modalidades diferentes vem daí. P: Mesmo antes de ser artista, tinha uma pulsão de colecionadora, tinha interesse por objetos antigos? R: Eu não diria que tivesse percebido isso antes, mas sempre fui muito multidisciplinar. Penso que no tempo da escola tinha vários talentos: quis ser física, astrónoma, paleontóloga e artista, tudo ao mesmo tempo... arqueóloga inclusivamente, isso é muito engraçado! Mas o envolvimento com as coleções veio pelo entendimento da multiplicidade da imagem e das coleções —que não são propriamente coleções, tornam-se coleções pela reunião de objetos que não têm muito em comum. Quando contactei, pela primeira vez, o estúdio de fotografia mais conhecido do Rio de Janeiro, que estava prestes a colocar no lixo todos os negativos reunidos ao longo de sei lá quantos anos, entendi a dimensão do que significa “arquivo morto”. Apenas nessa altura percebi o que era um arquivo, que nunca foi propriamente um arquivo mas, na verdade, já era um “arquivo morto” e já estava destinado ao lixo. Foi desse volume que nasceram várias das minhas preocupações, não só em relação ao processo fotográfico como, também, a um possível ciclo de vida da fotografia. Detetar a morte da imagem e a função que ela cumpre são tarefas simples, o que é difícil saber é quem decreta, e porquê decreta, a sua morte. P: Pensando na história do Brasil, essa massa anónima de negativos fotográficos tem uma força poética porque, no essencial, são tudo o que resta de traços de vida… R: É isso mesmo. Quando nos deparamos com essa massa anónima, constituída por esses fantasmas de gelatina, somos chamados a pensar em várias situações: desde as questões inerentes à própria existência daquela imagem, ao que ela representa enquanto fantasma isolado ou o que ela representa dentro de um contexto, dentro de um conjunto, nessa massa. Representa especialmente o indivíduo pobre, desprovido de bens. Muitas dessas fotos são feitas, precisamente, porque o indivíduo precisa de fazer os seus documentos de identificação. Uma coisa leva à outra e, inevitavelmente, não deixo de pensar no nosso Brasil, nos nossos arquivos, no desrespeito pela memória. Não porque não se respeite o passado mas porque se tem pressa para chegar no futuro. Nós temos um presente complexo e um futuro melhor é o que se espera e se tenta alcançar. Dentro desse quadro, não há muito tempo para se cuidar daquilo que passou. Aliás, como dizia o geógrafo Milton Santos, “quando estamos a
falar de uma sociedade que tem fome, a última coisa que essa sociedade vai dar importância é ao seu passado”. É óbvio que ela não tem o menor interesse nisso. O problema é que muitas vezes certos setores da sociedade utilizam essa necessidade, que o brasileiro tem de pensar sempre adiante, para apagar episódios e fatos incómodos, que convêm ser esquecidos. P: E relembrar esse passado, trouxe‑lhe algum dissabor? R: Tive uma vez um problema. Convidada a participar numa coletiva de brasileiros dentro da programação da Feira do Livro de Frankfurt, onde o Brasil era o país homenageado, a própria comissão brasileira tentou censurar meu trabalho. Os organizadores não queriam que o meu trabalho fosse exposto porque, segundo eles, mostrava uma imagem negativa do Brasil. É uma situação que não é única é, até, recorrente quando não interessa que certas coisas ou temas sejam abordados. O meu trabalho só foi mostrado porque o curador, Paulo Herkenhoff, na época, defendeu a sua pertinência e ameaçou cancelar a exposição, que envolvia outros artistas, caso o trabalho fosse retirado. P: Por curiosidade, o que estava a gerar polémica nessa obra? R: É um trabalho intitulado Atentado ao Poder que, inclusivamente, vai ser mostrado na exposição do CAM. É constituído por um conjunto de 13 fotos de cadáveres fotografados, recolhidas diariamente nas primeiras páginas dos jornais mais populares do Rio durante os 13 dias em que decorreu o Fórum Global, dentro da conferência “Rio 92” [Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que reuniu grande parte dos lideres mundiais]. Não queriam que o trabalho fosse mostrado mas, ainda assim, tiveram o gosto de o reproduzir na publicação do evento num tamanho mínimo, tentando disfarçadamente diminuir a sua importância e seu impacto dentro da mostra, que se chamava “A espessura da luz”. P: Hoje o Brasil é visto como a sexta potência mundial, com um crescimento invejável. Isso trouxe-lhe alterações na perceção da realidade à sua volta e em termos de produção do trabalho? R: Essa sensação de riqueza não nos deixa mais felizes porque muito disso é uma grande ilusão, uma fantasia. Existe uma melhoria na qualidade de vida de uma forma geral mas existe muito mais propaganda e investimento na “autoestima” do brasileiro do que uma melhoria realmente efetiva. Existe muita coisa maquilhada no Brasil. O que ficou muito claro para a maioria das pessoas atentas aos fenómenos da corrupção, é que o Brasil tem uma capacidade absolutamente fantástica de produzir riqueza. O Brasil é um país riquíssimo habitado por gente muito pobre. O dinheiro escapa, simplesmente desaparece e não é revertido em reais benefícios, tão necessários para as comunidades carentes. Existem pagamentos de propina [luvas] em todos os níveis, desde o policial na esquina, passando pelo fornecedor de medicamentos para os hospitais públicos do interior, até ao político
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que vende favorecimentos de todo tipo. São tantos os casos de desvio de verdadeiras fortunas que você fica imaginando quanto dinheiro é gerado para desaparecer dessa maneira. Estamos a tornar-nos num país riquíssimo, o único problema é que a população continua muito pobre. P: E em termos de condições de produção, houve de facto uma melhoria? R: Algumas coisas, inclusive, pioraram, porque os meios de produção, hoje, são caríssimos. Estamos a viver uma alta de preços sem precedentes. É mais barato comer bem em Lisboa ou em Paris do que no Rio de Janeiro, é mais caro produzir uma fotografia no Brasil do que na Europa. Na verdade, coincidência ou não, eu acabei por produzir um trabalho chamado Menos-valia [leilão], que era uma espécie de estudo de caso. O projeto visava transformar objetos adquiridos nas feiras de segunda mão em obras de arte. O meu sistema começava pela seleção e transformação de alguns objetos que foram expostos na 29ª Bienal de São Paulo, em 2010, onde foram leiloados por um leiloeiro oficial e adquiridos por colecionadores de arte juntamente com um certificado, na última semana da exposição. O momento em que este trabalho acaba por emergir não pode ser considerado uma coincidência.
Menos-Valia [leilão], 2010. Os 73 objetos que constituem este projeto, exposto pela primeira vez na 29ª Bienal de São Paulo, foram encontrados e adquiridos em diversas feiras de artigos usados e a sua “denominação de origem” está identificada no próprio objeto. Ao serem selecionados, recompostos, transformados e recontextualizados, esses objetos passam por sucessivas agregações de valor material e simbólico até ao seu destino final, definido no dia 9 de dezembro de 2010, quando foi submetido a leilão dentro do próprio pavilhão da Bienal.
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Existe, sim, uma hiper valorização da arte brasileira, existem preços obscenos. Na verdade, o mercado de arte não faz o menor sentido e, parece-me, nunca fez. Isso tudo é muito interessante pois faz-me pensar, cada vez mais, no valor, no significado e na serventia do que é chamado “arte”. Continuando, acho que ela a mim, serve-me para entender melhor o mundo, compartilhar as minhas dúvidas e, talvez, ordenar o meu próprio caos. No momento em que isso entra numa espiral de especulação, escapa do meu controlo e, ao mesmo tempo, passa a distanciar-se do objetivo inicial. Isso deve acontecer com vários artistas. Acho que esse trabalho em particular lidou com estas questões com uma boa dose de humor e colocou o meu próprio valor como artista em jogo. É claro que, dentro dessa perspetiva, aumentou em muito minha própria autoestima. P: Apesar de Menos-valia [leilão] ser formalmente próximo de outros trabalhos, tem um comentário social mais vincado e dirigido ao próprio meio em que se move. Como foi recebido pelos seus pares? R: Foi visto como um jogo que deu certo. Uma espécie de “golpe de mestre”... P: Apesar do obscurantismo em que a massa anónima vive, o Brasil sempre conseguiu ter uma elite cultural que acompanhou as vanguardas, especialmente na literatura e nas artes plásticas, ao invés de outros países da América Latina. O mesmo se pode dizer da sua geração que, a partir de alguns nomes entre os quais incluo a Rosângela, ganhou relevância internacional. No seu entender, a que se deve esse fenómeno? R: Eu não saberia avaliar isso tudo mas houve alguns episódios que impulsionaram a arte brasileira ao longo das últimas décadas, principalmente. Mas acho que isso aconteceu em escalas diferentes também noutros países, com as devidas porporções. O Brasil é muito maior que os demais países da América do Sul. No caso do Brasil, houve o reconhecimento internacional da obra de grandes artistas como Lygia Clark e Helio Oiticica, já falecidos na época das suas grandes retrospetivas na Europa. Houve também a inserção da arte brasileira no mercado internacional pelas mãos dos maiores galeristas da década de 90, principalmente, Marcantônio Vilaça e Luisa Strina. Há, com certeza, outros fatores relevantes mas acho que esses dois foram decisivos. P: Por fim, o seu percurso internacional nunca lhe trouxe vontade de se instalar numa dessas grandes metrópoles onde aparentemente as oportunidades estão a cada esquina? O Rio foi sempre o melhor sítio para viver? R: Nunca tive vontade de mudar de país, talvez ainda pense em passar 3 ou 6 meses, ou talvez um ano, noutro lugar, mas nem saberia apontar qual ou, pelo menos, em que continente. Acho que as idiossincrasias brasileiras e as próprias dificuldades impostas pelo quotidiano do Rio de Janeiro alimentam muito o meu trabalho. Ainda tenho muito que fazer, morando lá.
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Guimarães
A Cultura
à porta de
Rodrigo Areias, realizador e Ricardo Areias, arquitecto, no CAAA
casa
Se até a Time Out Singapura, que fica do outro lado do mundo, aconselha os seus leitores a visitarem Guimarães neste ano de 2012, porque é que nós, que somos portugueses, não rumamos a norte e ficamos a conhecer a cidade que, este ano, se orgulha —e nos orgulha— de ser a Capital Europeia da Cultura? Foi isso que fizemos, pusemo-nos a caminho e só parámos em Guimarães. T — José Reis F — Le-Joy
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E tanto nos falaram do Centro para os Assuntos da Arte e Arquitetura (CAAA), que foi por aqui mesmo que começámos. Em plena baixa da cidade, entre armazéns industriais mais ou menos abandonados e o fervilhante motor da cidade que é o mercado de produtos frescos, fica um edifício que, se fosse construí-
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que me motiva a deixar Lisboa e a criar uma estrutura na minha cidade”. Rodrigo Areias fala até num “momento de viragem”. Se, há uns anos, falar na produção de 50 filmes em Portugal era impossível, hoje, com este evento e com meios de produção próprios, o impossível vira possível, estando previs-
Elenco do Teatro Oficina no espaço da Companhia do em Nova Iorque, seria apenas mais um, mas porque foi feito em Guimarães é o edifício do momento. Os motivos: ser uma nova incubadora criativa multidisciplinar, um novo local de exposições e de mostra de trabalhos de jovens artistas, e o único edifício da cidade, até à data, de cor preta, dos “pés à cabeça”. A Fábrica Preta, como é carinhosamente apelidada entre os habitantes da cidade, pouco habituados a arremessos criativos deste calibre, “era uma antiga fábrica têxtil, um edifício fechado há oito ou nove anos”, começa por explicar Ricardo Areias, o arquiteto responsável pelo feito. O CAAA abriu portas a 1 de outubro do ano passado mas o espaço está em constante mutação, entre os dois andares do edifício. “Neste momento, temos cá sediados o laboratório de criação digital, o laboratório de arte e arquitetura, o programa de fotografia Reimaginar Guimarães [dinamizado pelo fotógrafo Eduardo Brito, que procura revitalizar o acervo fotográfico da associação Muralha, da cidade] e espaços para residências artísticas e exposições”, revela. Já o irmão, o realizador Rodrigo Areias, fica com a responsabilidade da componente cinematográfica e pela gestão da plataforma do produção audiovisual da Capital Europeia da Cultura (CEC 2012), também com sede no CAAA. “Esta é a oportunidade de passarmos de meros consumidores a produtores de cinema. É este discurso
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tas estreias de filmes-encomenda de realizadores tão insuspeitos como Aki Kaurismaki ou Peter Greenaway, sem esquecer um portento chamado Jean-Luc Godard, que aceitaram o convite e filmam a cidade de Guimarães durante este ano.
Oficina com oito produções É um momento de viragem em toda a cidade e toda a cidade “sofre” com o que a CEC 2012 deixará para o futuro. Que o digam os atores do Teatro Oficina, que vão usufruir de um novo auditório quando a Plataforma das Artes, o empreendimento mais vistoso da CEC, estiver operacional no antigo Mercado Municipal da Cidade e que irá acolher o espólio do artista plástico José de Guimarães. A única companhia de teatro da cidade, que este ano terá oito produções a estrear em vários locais, será uma das felizardas com a atribuição do novo espaço. Por agora, dividem-se entre os espaços existentes na cidade. A primeira peça estreia já a 8 de março, no espaço da estrutura teatral. “É um texto e encenação de Lautaro Vilo, chama-se Cosmos e é quase uma peça de teatro radiofónico”, revela Diana Sá, uma das atrizes da companhia que, este ano, aumentou o número de atores do elenco —de dois passaram a ser seis. “Este é um momento importante para a cidade
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Pedro Bastos, artista plรกstico e visual no espaรงo que intervenciona
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e eu, enquanto atriz, não podia estar num sítio melhor”, revela. “Sou atriz da companhia há dez anos e sinto que tem havido um crescimento do número de público mas ao mesmo tempo existe um aumento da exigência dos espectadores. Este evento serve para compensar uma população com um crescente interesse cultural”. “O timing é perfeito”, lança Emílio Gomes, outro dos atores da companhia.
Artes plásticas em todo o lado É perfeito também para as artes plásticas na cidade, quer no espaço público quer em galerias e espaços mais ou menos convencionais (em armazéns abandonados). Que o diga Pedro Bastos, artista plásti-
revela Pedro Bastos. O mesmo sente Nuno Machado, outro dos artistas da cidade, atualmente com uma instalação no Paço dos Duques e que, em breve, irá levar a cabo uma ação de rua de cariz social dirigida a um público “dos 30 aos 80 anos, com uma componente musical” mas que ainda não pode revelar. Segundo o próprio, “se o objetivo da capital é a criação de um centro artístico, é algo que está a conseguir, pois o trabalho que está a ser realizado é excelente”. Palavras que encontram ainda eco em Luís Ribeiro, um dos elementos do Laboratório das Artes, uma estrutura criada em 2001 para potenciar a criatividade emergente na cidade. Com um edifício centralmente colocado —mesmo ao lado do renovado Largo do Toural— Luís Ribeiro diz que este “é
Luís Ribeiro e Nuno Machado, no Laboratório das Artes co, cineasta e dinamizador cultural numa associação cultural chama “Ó da Casa”. Atualmente, intervenciona um armazém anexo ao CAAA para o tornar em alguma coisa que ainda não sabe o quê. “A ideia é criar aqui o meu atelier, mas ainda não sei o que isto vai dar”, conta, entre camadas e camadas de madeira carcomida e material inutilizado. “A ideia é aproveitar os materiais existentes, reaproveitá-los, utilizar o espaço devoluto e construir algo de raiz. Talvez um conjunto de ateliers, talvez novas galerias de arte”,
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o momento da cidade”. O também artista plástico e professor é ainda o responsável pelo projeto Memórias Coletivas Singulares que surge integrado no programa associativo Tempos Cruzados. “Desafiei nove artistas plásticos a refletirem sobre várias associações da cidade”. É o caso da Associação Convívio, onde as artistas plásticas Isabel Ribeiro e Mafalda Santos estiveram em residência artística e que agora apresentarão pinturas murais alusivas ao local. O resultado será dado a conhecer ao público a 20 de abril.
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circuito
Florbela Fora do
Dalila Carmo e Albano Jerónimo
e
no
comercial
Dalida Carmo
feminino Depois de Quinze Pontos na Alma, Vicente Alves do Ó assina o seu segundo filme, uma viagem ao coração da poesia de Florbela Espanca, interpretada por Dalila Carmo, num momento de writer's block e busca de inspiração. T — Ágata Carvalho de Pinho
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Florbela
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Nome incontornável da poesia portuguesa, Florbela Espanca produziu ao longo dos seus 36 anos de vida uma obra poética rica e tocante, agitada mas delicada também. “Ó Mulher! Como és fraca e como és forte! Como sabes ser doce e desgraçada!”, escrevia. Foi uma das primeiras mulheres a frequentar o ensino secundário em Portugal, altura em que leu algumas das obras que mais a influenciaram, entre elas Dumas, Camilo Castelo Branco e Garrett. Muitos conhecem os seus versos —por os terem lido na escola, por os ouvir declamar espontaneamente a uma mãe ou avó, ou por que um dia os encontraram sem querer numa das prateleiras da biblioteca em casa. Está na altura de os revisitar, sugere Vicente Alves do Ó, e à mulher que os escreveu como fruto da sua experiência, de uma vez só alimento e obstáculo ao próprio ato de escrever. Fugir a sete pés do estereótipo? Sim, também é essa a ideia.
(que conta também com Ivo Canelas e Dalila Carmo no elenco), Vicente Alves do Ó fala de Florbela como a concretização de um projeto muito pessoal, que reflete um amadurecimento e uma aprendizagem muito prática, depois do desafio que foi o seu primeiro filme. A estreia está prevista para dia 8 de março, mesmo a tempo de celebrar de forma especial o Dia Internacional da Mulher. Já no dia 14 de fevereiro, o filme O Que Há de Novo No Amor? (realizado não por um mas por seis realizadores, produzido pela Rosa Filmes) veio celebrar o Dia de São Valentim. E se celebrar datas com filmes temáticos apropriados à ocasião se tornar um hábito? Bem, pode ser uma forma de promoção que incentive o público português a ver cinema nacional, quem sabe. Florbela, produzido por Pandora da Cunha Telles — Como Desenhar
Dalila Carmo e Ivo Canelas
Dalila Carmo interpreta a poetisa alentejana lado a lado com Albano Jerónimo, que dá vida a Mário Lage, o seu terceiro marido, e Ivo Canelas, o irmão, Apeles Espanca, cuja morte foi para ela um dos acontecimentos mais dolorosos. Não fosse o filme uma viagem ao mundo interior de uma personagem feminina de carne e osso (e tinta e papel), o elenco é forte em contribuições femininas: Soraia Chaves, Maria João Abreu, Anabela Teixeira, Rita Loureiro e Rita Brutt também marcam presença. Depois de Quinze Pontos na Alma
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um Círculo Perfeito (2009) de Marco Martins e América (2011) de João Nuno Pinto, que tem feito sucesso em festivais por todo o mundo— será distribuído pela Ukbar Filmes. Vicente Alves do Ó é claro nas suas intenções: o filme deve conquistar o público fora do circuito comercial, seguindo o exemplo de O Filme do Desassossego (2010) de João Botelho, que contou com um número feliz de espectadores. A ideia, explica o realizador, é exibir o filme no maior número possível de salas pelo país fora e durante mais do que duas semanas.
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Cinema
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No trabalho de Takeshi Kitano alguma coisa angustia. Da tão ardilosa violência à beleza imensa brutal, os seus filmes cumprem um só papel: transformar o corpo num arremesso frágil contra o tempo, inimigo sempre cruel e voraz. Numa coreografia bem ensaiada e bem filmada, Outrage comprova isso. T — Ingrid Rodrigues
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Assim, sem mais nem ontem, Takeshi Kitano dá um passo atrás e volta a construir um filme gangster, melhor dizendo, yakuza (termo usado para definir a máfia japonesa). Dedos decapitados a palitos que trespassam corpos. Momentos de pancadaria brutais, com dentes ou a ausência deles, e uma cena que envolve uma cabeça, uma corda e um carro de luxo —e mais não digo. Digamos só que neste filme se podem encontrar novas formas de chacinar corpos e novos métodos inventivos de carnificina para deleite dos espectadores mais sedentos de sangue.
Em antítese, Outrage narra uma guerra sangrenta entre fações rivais do gangue criminoso Sanno-kai, de Tóquio, numa luta obstinada e implacável pelo poder (ou usurpação dele), vários clãs yakuza disputam os favores do Padrinho. Elevando-se na organização, conspirando, fazendo falsos juramentos, negócios paralelos e pactos na prisão. Suspeitas, traições, conflitos e interesses são só algumas das palavras-chave que vão ter lugar nesta trama. Os diálogos ruidosos entre as personagens infligem uma certa agilidade à ação, com o zoom a criar tensão e a tornar o filme mais di-
Inserido na vida pós-moderna, Takeshi Kitano dialoga com o passado e o futuro com a mesma destreza com que vive o presente. Surpreendeu todos quando em 2002 resolveu revelar o seu lado mais arrebatador e nos apresentou a obra-prima Dolls (cento e vinte minutos de pura poesia, delicada, suave, crua e profunda.) Em Dolls, estão presentes todas as diferentes facetas do amor e da dor que andam de mãos dadas num abstracionismo romântico sem comparação. Mostrou-nos as possibilidades e impossibilidades. Os encontros e desencontros. E com uma linguagem muitíssimo própria, cada fotograma encerrava a beleza e o fatalismo da felicidade efémera, frágil e impossível.
nâmico. A música é bem trabalhada e, para atingir o clímax, vale-se de cortes rápidos e de planos curtos, criando um certo êxtase para depois gerar, no desfecho, um alívio e uma sensação agradável. Em Outrage as personagens têm uma vida, aparentemente, sem sentido e sem muitos sentimentos. Justiça, dever, dedicação, coragem, benevolência, polidez, modos refinados, veracidade, sinceridade, dever, lealdade, indiferença à morte e honra, são alguns dos valores contemplados e distorcidos. O cinema de Kitano traduz culturas tão distintas e, através dos seus personagens isolados e perdidos, reflete sobre as suas apreensões e o seu modo de ver a sociedade atual.
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P a u s e Era Durante a última década, a criatividade e o talento de milhares de milhões de pessoas foi libertado de uma forma sem precedentes e a cultura humana mudou para sempre. PressPausePlay é um documentário sobre esperança, receio e a Internet, baseado em entrevistas a alguns dos mais importantes nomes da era digital. T — Diana de Nóbrega
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www.presspauseplay.com
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David Dwosky & Victor Koehler, realizadores do documentário PressPlayPause Desde 1927 que a revista TIME publica anualmente a edição especial Person Of the Year, destinada a homenagear a pessoa, grupo, ideia ou objeto que mais influenciou os eventos do ano. Mohandas Gandhi, Elisabeth II, John F. Kennedy e Martin Luther King integram a lista de pessoas que a revista americana selecionou pela extraordinariedade e percurso pioneiro, marcado por ideias, movimentos ou episódios que mudaram o mundo. Fortalecia-se, assim, a teoria “Grandes Homens” iniciada pelo filósofo escocês Thomas Carlyle, que afirmava que “a história do mundo se resume a biografias de grandes homens”. Acreditava que apenas alguns homens, poderosos e célebres, conduziam o destino coletivo. Este ideia foi aceite como uma verdade durante séculos.
Até que surgiu a Internet Quando, em 2006, a revista TIME considerou que a Person of the Year era “VOCÊ” (sim, VOCÊ —apontava a capa da revista) era já óbvio que o poder de influenciar o curso da História tinha mudado de mãos. A consciência de comunidade e as colaborações artísticas ergueram-se sobre o egos de elites, consideradas culturalmente superiores, assumindo um poder nunca antes experienciado na História. Decorria a democratização das indústrias criativas e a ruína das empresas megalómanas. O documentário premiado PressPausePlay criado pela agência criativa sueca House of Radon, debruça-se exatamente sobre esse poder. A provar a sua experiência está o facto do filme estar disponível gratuitamente na web para quem quiser ver, guardar, analisar ou escrever sobre ele, como é o caso deste texto. Tendo trabalhado em indústrias criativas durante vários anos, David Dwosky e Victor Koehler, os realizadores de PressPausePlay, ouviam queixas recorrentes sobre o desaparecimento de modelos de negócio e as crescentes perdas de lucro como consequência da pirataria. Até que decidiram demonstrar ao mundo uma perspetiva que parecia esquecida. “Sentimos que uma parte importante da história tinha sido perdida”, explicaram à PARQ. “Esta é uma revolução cultural sem precedentes. Claro que existem muitos problemas nas indústrias criativas causados
pelas inovações tecnológicas, mas existem também novas oportunidades para a criação”. O documentário não pretende dar respostas certeiras sobre o futuro da criatividade e do talento na era digital porque este, dizem, nunca foi tão imprevisível. Pretende-se, antes, apontar questões pertinentes sobre a definição e impacto de tal poder. Será que a democratização da cultura na era digital é sinónimo de melhor arte, melhores filmes, melhor música, melhor literatura, ou estarão os verdadeiros talentos afogados num vasto oceano digital de cultura de massas? Qual será o destino das indústrias criativas tal como as conhecíamos? Algumas das figuras mais influentes da era digital analisam no documentário estas e outras questões: Moby, que dispensa apresentações; Seth Godin, génio do marketing; Scott Belsky, CEO e fundador do website de partilha criativa Behance; Keith Harris, produtor da lendária editora discográfica Motown; Sean Parker, criador do extinto Napster, entre muitos, muitos, outros, arriscam as suas melhores apostas sobre a revolução cultural em curso. “Pode ter sido arriscado fazer um filme sobre algo que está em tão rápida transformação, onde nada está definido e não se consegue distinguir entre os heróis e os vilões”, explicaram os jovens criativos de Estocolmo, “mas quisemos apenas criar um testemunho dos dias de hoje e documentar os aspetos positivos e negativos desta nova cultura democratizada”. Entre os aspetos positivos contam-se as histórias de jovens que conseguiram criar as suas realidades profissionais e artísticas independentes no mundo digital. Estes nomes comuns criaram algo de extraordinário com a mesma tecnologia que permitiu que outros pirateassem. Uma subversão dos antigos modelos de negócio estava criada. “Há alguns anos as pessoas comuns não criavam coisas. Hoje todos são artistas”, afirma Moby. “Já não existe mistério nas técnicas de criação artística porque toda a informação está na Internet, já não é necessário dinheiro e existem muitas formas de se fazer o que se quer”.
Moby, músico Os entrevistados acreditam que tantas mudanças criam uma sensação de entusiasmo mas também um certo receio. “Ninguém sabe de onde o próximo pagamento vai chegar, mas estamos bastante entusiasmados com
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Pre ss Pa u s e P l a y
PressPausePlay live a possibilidade de criar e comunicar a nossa criatividade tão livremente”, sublinha Seth Godin, que afirmou que o conceito de indústria estava morto e disponibilizou o seu livro Unleashing the Idea Virus gratuitamente na Internet, o que lhe valeu vários convites de editoras, milhares de milhões de downloads e o estatuto de superstar do marketing. “O entusiasmo vem principalmente da liberdade de se saber que se tomam decisões próprias e que não se está dependente das decisões de terceiros, que também são seres humanos”, afirma o escritor David Weinberger. “Agora os talentos podem trabalhar por si, representar-se a si próprios e organizar as suas carreiras online”, explica o criador do website Behance, “os jovens podem construir as suas próprias empresas e marcas com um investimento e recursos mínimos”. E os exemplos de sucesso são inúmeros, como podemos comprovar tanto pelas histórias que ilustram o documentário, como pelo percurso dos entrevistados.
Robyn, música
David Weinberger, escritor “Quando olhamos para décadas da história em que houve mudanças revolucionárias desejámos por vezes ter estado presentes, porque era tudo tão emocionante”, diz entusiasticamente Seth Godin. “Isto é ainda maior do que isso. E a maioria das pessoas continuam a ignorar o que se passa e a concentrarem‑se na ideia de que há uma recessão. Esta é a maior oportunidade que você já teve!”, garante. Você.
Scott Belsky, fundador do Behance
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fotografia Kind and naked
styling Sónia Jesus
ass. styling Maria João Rocha
j-o-ã-o: t-shirt RVCA camisa ganga DIESEL calças ganga Levi’s cinto e mala Tommy Hilfiger botas Merrell óculos escuros Komono relógio Nixon
make-up&hair Joana B.
colaborador especial Pivete
Agradecimentos: Carlos Tavares —Takargo
modelos Elite Lisbon Ben, Diogo Filipe, Fábio Coentrão, Francisco Cymbron, João Mota
j-o-ã-o: t-shirt Billabong camisa Lee calças Levi’s botas Diesel mochila Lee óculos escuros Moscot na Óptica do Sacramento relógio Nixon
f-r-a-n-c-i-s-c-o: camisa Insight
calções Lee botins Diesel relógio Komono
d-i-o-g-o: pólo Fred Perry calças Element sapatos Dkode chapéu G-star Raw relógio Nixon
f-谩-b-i-o: camisa DIESEL
d-i-o-g-o: p贸lo Fred Perry chap茅u Gant rel贸gio Nixon
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b-e-n:
t-shirt Lee camisa Diesel óculos Moscot na Óptica do Sacramento
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j-o-ã-o: camisa Antony Morato
f-r-a-n-c-i-s-c-o: camisa Insight blus達o Diesel
d-i-o-g-o: camisa e calças Lee mochila Diesel chapéu Tommy Hilfiger
f-á-b-i-o: pólo Lacoste L!VE casaco e botas Diesel calções Wesc
f-r-a-n-c-i-s-c-o: camisa Lee blusão, calças e botins Diesel relógio Nixon
b-e-n: camisa 55DSL calças e mochila Diesel relógio Komono óculos Moscot na Óptica do Sacramento
f-á-b-i-o: camisa e calças Levis casaco RVCA relógio Nixon
j-o-ã-o: t-shirt G-star Raw camisa Lee lenço Gant óculos escuros Moscot na Óptica do Sacramento
b-e-n: pólo Fred Perry blusão 55 DSL
fotografia Nian Canard
styling Bárbara do Ó
make-up Tânia Doce
modelo Karine Louback (Just)
ass. fotografia Tamy
top transparente e soutien cor de rosa H&M calções de camurça ADIDAS
t-shirt verde estampada DIESEL corpete de napa branco H&M
vestido verde transparente H&M top amarelo REEBOK
top laranja neon H&M calções lilas PEPE JEANS
camisola de malha azul H&M calções verde escuro NIKE SPORTSWEAR sandalias de pele laranja DIESEL meias vermelhas MANGO
blusa verde H&M calções cor de rosa MANGO mochila amarela REEBOK
camisola de malha cor de rosa claro MANGO leggings amarelas NIKE SPORTSWEAR
Parq Here
Vis—à—Vis
Fanny & Fr e d
The Decadente por Fanny & Fred
Fanny e Fred já tinham ouvido falar do The Independente, um hostel integrado num edifício apalaçado, e até já tinham conhecido o chefe Nuno Bandeira de Lima durante uma degustação promovida por uma amiga comum, Sancha Trindade, do blogue Lisboa na Ponta dos Dedos. Desde então, Fred pas-
estrategicamente desarranjada. A par de outros projetos recentes com decoração semelhante, Fanny não percebia se era uma tendência ou apenas uma circunstância de quem começa e dá maior ênfase à qualidade e criatividade da cozinha. Já Fred, não perdia tempo com embróglios e, olhando à volta, só via van-
os vestidos enquanto honrava o fiel amigo, um bacalhau confitado com mel e amêndoas (13,5€). Ainda tiveram tempo para partilhar um cheesecake com Queijo da Serra cremoso e doce de tomate que seria o segundo momento alto da noite. De facto, essa receita que pouco teria de portuguesa leva uma adap-
sou a fazer com sucesso um chutney de maçã e cebola roxa que aprendeu na ocasião. E foi por aí que começou, mesmo não sendo grande fã do enchido: pediu a morcela grelhada com o tal chutney (6€) servido à parte numa mini frigideira. Fanny, que procurava algo mais leve, deliciou-se com uns camarões picantes (7€) e comentava que para uma segunda-feira a casa estava relativamente cheia. Os nefastos sinais de crise passavam ao lado do The Decadente e Fred & Fanny brindavam a isso com um branco da Casa de Santar. A vista de Fanny perdia-se por velhos louceiros, balanças e outros objetos inusitados recuperados das casas das avós que, reunidos, faziam uma decoração ecléctica,
tagens. Naquele caso, o ambiente transmitia-lhe o calor e a informalidade própria de um hostel, onde se espera partilha de experiências de viagem, se possível. Só lamentava não ter jantado na esplanada traseira mas logo se esqueceu disso quando experimentou o bife de picanha com ovo cozido em longa cozedura a 65 graus (13,5€) que considerou ter sido o melhor momento da noite. Não se inibiu de segredar, sufocado por uma gargalhada final, que a textura cremosa do ovo cozido que espalhava sobre a picanha fazia do ovo a cavalo um parente pré-histórico. Fanny nem sempre entendia esse humor e preferiu desviar a conversa para terrenos amenos, comentando a cerimónia dos Óscares, os prémios e
tação que lhe dá uma graça nacional. É aqui que uma cozinha gourmet inspirada dá uma volta de 360 graus e encontra uma solução que podia ser tipicamente rural. À saída ainda tiveram tempo de se debruçarem sobre o Miradouro de São Pedro de Alcântara e comtemplar a noite. Tudo parecia perfeito.
The Decadente Rua de São Pedro de Alcântara, 81 Lisboa T.: 213 461 381
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O novo Cais do Sodré O Cais do Sodré ganha uma nova vida, estando de repente envolto num surpreendente movimento de reabilitação. Longe, ficaram as noites escuras e sombrias de caráter duvidoso que facilmente se associava àquela zona e hoje é um dos locais mais in de Lisboa, que abraça alguns dos projetos mais inovadores que a cidade já viu. Para um roteiro com poucos passos mas muitas sensações, basta ir até à Rua Nova do Carvalho.
quem quiser dançar livre de qualquer preconceito), mas também se quer cultural e dinâmico onde a troca de ideias, as parcerias e a criatividade têm um lugar cativo.
conservas —muitas, mas muitas latas de conservas. Em frente, mesa brancas e cadeiras pretas ocupam o espaço que em quase tudo se mantém igual aos tempos em que era uma loja de pesca. Mas, e agora, o que se faz ali? Comem-se conservas! É verdade, por muito estranho que pareça, é um espaço dedicado exclusivamente às conservas, os melhores petiscos são vindos diretamente da lata mas não de uma lata qualquer… de uma lata 100% portuguesa onde não falta o sabor do nosso mar. Uma excelente sugestão para quem quer uma refeição diferente num espaço com muita história, é assim o Sol e Pesca! Assim termina um roteiro rápido e curto mas que vale a pena descobrir, onde não falta a tradição e a boémia, que são vizinhas e companheiras no renovado Cais do Sodré!
Começamos pela porta nº19, cuja fachada discreta não deixa adivinhar as gravuras eróticas da autoria de Mário Belém, com as paPovo
Pensão Amor redes forradas a tecido encarnado, os espelhos no teto e os candeeiros de berloques. Um espaço que respira o ambiente das casas de madame no final no século XIX, onde se podem alugar livros e filmes eróticos e ir ao cabeleireiro, entre muitas outras coisas, já que a ideia é que o espaço funcione como uma pensão onde artistas e projetos podem alugar o seu espaço dentro da Pensão Amor. Assim, este não é apenas um espaço diferente onde se respira uma liberdade sem tabus (existindo até um varão para
Saímos agora deste mundo outrora clandestino e seguimos até ao nº 3236 onde, na calçada podemos ver o antigo nome “Arizona” mas, se olharmos em frente, rapidamente encontramos outro que o substitui: Povo. Este é um projeto que pretende recuperar a tradição das antigas tascas portuguesas onde a conversa, o fado e os petiscos andam sempre lado a lado. Mas o Povo não é uma casa de fados, nem uma tasca, é antes um “laboratório do fado” onde há espaço para artistas da casa, para novos talentos e até para o improviso espicaçado pelo bom vinho de um jantar castiço, num lugar cuidadosamente restaurado que casa o moderno com o tradicional. Os espetáculos decorrem de terça a quinta-feira e aos domingos e já culminaram na gravação de um álbum. Mas este Povo não é só fadista, também é fã de outras músicas do mundo e promete trazer para a sua casa outras vozes e ritmos. Depois do fado há que manter a tradição e, por isso mesmo, dirigimo-nos até ao nº44 daquela mesma rua. Espera-nos uma montra que deixa antever uma enorme vitrina repleta de anzóis, iscos e latas de
Sol e Pesca
T — Margarida Brito Paes F — Laura Palmer
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Champanharia da Baixa
O nome não nos levava ao engano e, de facto, a Champanharia da Baixa no Porto é um bar devoto ao champanhe onde podemos encontrar garrafas a 50 euros (ou mais) mas também de flutes de espumante a 1,90 €. Ou seja, instalado na zona boémia do Porto, este espaço não quer ser um local demasiado seletivo onde, para além do champanhe, oferece uma carta com dois vinhos brancos e tintos e cerveja. E tudo isso pode ser acompanhado
Champanharia da Baixa Largo de Mompilher, 1—2 Porto T.: 220 962 809
www.champanheriadabaixa.com
por um pequeno serviço de restauração que inclui tapas, entradas, carpaccios e pratos quentes. Um peito de pato fumado com geleia de Vinho de Porto (4,90€) ou uma terrina de foie gras (8,90€) pareceu- -nos suficientemente atraente para justificar uma visita. Para quem esteja mesmo com vontade de jantar, existem três pratos quentes que rondam os 8,50€. Em termos de espaço, a champanheria é constituída por uma esplanada, uma sala basicamente dominada pelo balcão —que tem um toque de pub inglês— e, por fim, uma pequena sala interior com sofás e mesas redondas que é a jóia da casa. Confortável e acolhedor, com algo de salon dos anos 20, ficámos completamente conquistados pela seleção de fotografias na parede com estrelas do cinema em momentos que bebiam ou brindavam com champanhe.
T — Maria São Miguel
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Maria Gonzaga
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www.ateliermariagonzaga.blogspot.com
Maria Gonzaga Estrada dos Prazeres, 57—59A Lisboa Maria Gonzaga é uma das mais importantes figurinistas do país, com uma enorme experiência na confeção de trajes de época e pioneira na criação de figurinos, que não se ficou apenas pela confeção de réplicas fieis à história. Soube olhar mais além e arranjou uma solução inovadora para o seu negócio: começou a alugar os projectos que lhe eram encomendados, sendo-lhe estes depois devolvidos. Deste modo, armazenou um enorme espólio de peças vintage únicas e, na maior parte das vezes, nunca usadas. Agora, passada
T.: 213 950 163 T — Margarida Brito Paes uma longa carreira a investir nos figurinos de cinema, abre uma loja com todas as suas peças, que podem ser vendidas ou alugadas. A Loja Vintage Maria Gonzaga é o lugar ideal para encontrar peças de época e com histórias muito especiais, o sonho de qualquer amante de história da moda!
MoMo MoMo é o novo restaurante pan-asiático do Casino de Lisboa que resulta da parceria estabelecida entre o Casino de Lisboa e o Grupo Lágrima para a área da restauração. Oferece a riqueza e o exotismo da cozinha do Oriente com pratos que têm por base as tradições culinárias da China, do Vietname, do Japão, da Índia e da Tailândia. Um dos pontos-chave deste restaurante
MoMo Casino de Lisboa Alameda dos Oceanos T.: 218 929 000
é Paulo Morais, chefe especializado em cozinha asiática com mais de 20 de experiência marcados por um crescente sucesso que o levaram a dirigir o Furusato (Estoril), o Midori (Hotel Penha Longa), o sushi- bar da Bica do Sapato (Lisboa), o QB Essence (Oeiras) e, finalmente, o Umai, onde, juntamente com a chefe Anna Lins, faz uma cozinha de autor, de inspiração asiática. O
espaço é igualmente um dos pontos fortes já que a maior parte das mesas distribui-se ao longo de uma parede de vidro com uma vista de 180 graus. Para quem não se sentir muito aventureiro, recomendamos o menu de degustação com sete pratos com um preço de 42 euros, que pode incluir Pão naan com chutney de manga, Caranguejo de casca mole crocante com molho de abacate e de malagueta, seguindo-se, nos frios, uma seleção de sushi e sashimi e, nos quentes, Dim Sum Momo, Siumai e Há kau. A Bento Box vem com Som Tom Thai (salada de papaia verde, bacalhau fresco assado com molho de miso e legumes assados) e Satay de porco com molho de amendoim, puré de batata-doce e erva limeira. Para terminar, uma trilogia de sobremesas. T —Maria São Miguel
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Co ck ta i l s
Dois em Um
Hot Mango • 5 cl de Absolut Mango • 5 cl de sumo de tangerina • 2 cl de sumo de limão natural • 2 cl de xarope de açúcar • 1/2 colher de sopa de raspa de tangerina • 1/2 colher de café de paprika
Os vinhos que sugiro desta vez, embora provenientes de regiões opostas, têm um perfil e caráter semelhantes: são robustos, muito bem estruturados e com potencial para excelente envelhecimento. E, como nesta altura do ano, me apetece beber vinhos que aquecem o corpo e a alma, não posso deixar de sugerir o Terrus 2007 e o Altas Quintas 2007.
Começando pelo Douro, o Terrus 2007 é um vinho que reflete muito bem a localização geográfica onde tem origem bem como as castas que o compõem (Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão, Cabernet Sauvignon e Shiraz), que lhe conferem uma enorme complexidade aromática. É um vinho de cor muito carregada, com aromas de notas de fruta vermelha e preta bastante madura, bem conjugadas com a madeira (estágio de 12 meses em carvalho francês) que este ano está, na minha opinião, um pouco menos pronunciada). Na boca, é um vinho "gordo", mineral, cheio de força, taninos muito pronunciados mas bem integrados, com um final de boca longo.
Colocar todos os ingredientes num copo de shaker cheio de gelo, agitar 7 vezes e verter o conteúdo para um copo alto, cheio de gelo, com a ajuda de um coador.
O segundo vinho que sugiro é um alentejano da zona de Portalegre, Altas Quintas 2007, proveniente de um terroir a mais de 600 metros de altitude. As castas que lhe dão origem são Aragonês, Trincadeira e Alicant Bouschet, usuais naquela região, contudo, este vinho tem um perfil mais fresco resultado da elevada altitude das vinhas. No nariz é um vinho complexo, com notas de fruta preta compotada, tabaco e especiarias. Na boca é um vinho fresco, encorpado, com taninos marcantes mas bem integrados com um estágio em balseiros e posterior estágio em barricas durante 18 meses. Final longo, muito longo...
Terrus, 2007, 16€ Altas Quintas, 2007, 16€ T — Romeu Bastos
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D iap o s i t i vo
Trendy Trash
Definitivamente, não está inscrita no sindicato dos “super-heróis” de banda desenhada. Porém, Miss Trendy de estilo irrepreensível, pela noite dentro calça as luvas de borracha roxas sarapintadas à laia de cristais Swarovski. Nem a Wonder Woman conseguiria os feitos desta mulher maravilha, residente na Bobadela. Miss Trendy, operadora de call center, sempre impecavelmente maquilhada, nunca repete indumentárias e, com o bom gosto
Diapositivo por Cláudia Matos Silva www.claudiamatossilva.pt.vu
costumeiro, é uma ávida “olheira” do que serão as novas tendências. Diz‑se à boca pequena nos corredores aquando do coffee break, que deverá absorver as páginas da Vogue como se tratasse de hóstias abençoadas. Mas nada disso, das revistas de moda compra apenas as que trazem ofertas, e eventualmente, passa os olhos pela secção de livros e filmes. É noite de nevoeiro cerrado, Miss Trendy, não costuma depender
I — Bráulio Amado www.braul.io
das condições meteorológicas para se fazer à vida. É 1h25m da manhã, florescem por entre o imenso manto escuro luzes alaranjadas. Vêm aí os bandidos, recolhem tudo o que apanham e as turbinas do camião deglutem, sem dó nem piedade, o útil e o inútil. Não há tempo a perder, e com dois contentores de avanço, Trendy vasculha com receio da fava e calha-lhe o brinde; uma cesta com peças vintage de marcas como Ralph Lauren e Calvin Klein. Não se deixa intimidar pelas turbinas do carro do lixo que continuam a persegui-la. Ainda vai a tempo de reclamar um portátil IBM funcional, uma Playstation 1 e uma coleção de cassetes de vídeo antigas, onde se destaca o Breakfast at Tiffany’s. Tanto Holly, do clássico de Blake Edward, como Miss Trendy são duas “bonequinhas de luxo” com um felino em tom de caramelo que as aguarda em casa. A grande diferença é que Holly procura um marido rico e Trendy só quer um bom achado.
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