N. 33. Ano V. abril 2012.
coordenação editorial e moda Margarida Brito Paes margarida@parqmag.com Direcção de Arte Valdemar Lamego v@k-u-n-g.com www.k-u-n-g.com Publicidade Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com periocidade: Mensal Depósito legal: 272758/08 Registo ERC: 125392 Edição Conforto Moderno Uni, Lda. NIF: 508 399 289 PARQ Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000 -251 Lisboa t. 00351.218 473 379
distribuição Conforto Moderno Uni, Lda. A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq.Todos os direitos reservados. Copyright © 2008—2011 PARQ.
Ágata C. de Pinho Carla Carbone Cláudia Gavinho Cláudia Matos Silva Diana de Nóbrega Davide Pinheiro Eduarda Allen Francisco V. Fernandes Inês Monteiro Ingrid Rodrigues José Miguel Bronze José Reis Júlio Dolbeth Margarida Brito Paes Maria João Teixeira Maria São Miguel Marta Ferreira Paula Melâneo Pedro Dourado Pedro Lima Roger Winstanley Romeu Bastos Rui Miguel Abreu
Portugal não é só noticia pelas más noticias mas, também, pelas melhores. É um país que continua a despertar curiosidade, o que o tem qualificado entre os melhores destinos de férias para este ano. Ou seja, um tesouro, do qual nem sempre temos consciência, caso contrário, teríamos mais cuidado com o nosso território e prestávamos mais atenção a tudo quanto produzimos, com muita qualidade. É, sem dúvida um discurso nacionalista, naquilo que pode ter de mais positivo com aquela distância que não nos cega e nos permite investir apaixonadamente em nós. A PARQ sempre foi entendida como um catalisador que reúne um pouco do melhor dos portugueses dentro de um enquadramento internacional. Esta edição é mais uma vez um pouco disso. incluímos jovens realizadores de cinema, músicos, artistas, criadores moda, todos aqueles que contribuem para um Portugal especial.
FOTOS Bernardo Motta Filipa Alves Laura Palmer Maria Meyer Maria Rita Nian Canard Nuno Palha Pedro Janeiro Ricardo Teixeira Sal Nunkachov
A Parq é especial. Tenha um momento espacial, de preferência, num espaço verde.
por Francisco Vaz Fernandes
STYLING Ema Mendes Eva Lima Margarida Brito Paes Nelson Vieira Sónia Jesus
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Impressão 20.000 exemplares
editorial
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editor Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com
TEXTOS
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Director Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com
Ilustração Bráulio Amado
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Assinatura anual 12€.
Parq maga zine
Real people 04 — Nuno Sota 06 — José Filipe Costa
N. 33. Ano V. abril 2012.
62 — Reportagem ModaLisboa 64 — 67 Arquitectura Filip Dujardin
08 — Damara Inglês you must 10 — 13 You Must Shop 14 — 43 Miguel Palma Moov Alighiero e Boetti Joana Pais Quentin de Coster Adidas Urban Sounds
68 — Cinema IndieLisboa 70 — Cinema
72 — Moda
PunchFest Katabatic Shame Aya Koretsky Soundstation 44 — Tenda Electrónica Rock in Rio
Cosmopolis
Zombie Boy
Moda 74 — 81
Hunter 82 — 89 Beauty School Drop Out Parq Here 90 — 96 97— Guia de Compras 98— Dia Positivo: The Evil Machine
46 — Grimes
F — Nuno Palha S — Eva Lima M — Sushy Kun (Face Models) Art Director — Paulo Pamplona Make-up — Tânia Carvalho Photo Retouching — Sebastian Reuter Executive Producer — Ana Mafalda
48 — Gente de Palenque Moda 50 — 55 Special Adidas 40 th Anniversary
camisa em denim DIESEL t-shirt em seda LBK na Maison calções em lantejoula KOH TAO na Maison bóne em palhinha DIESEL colar, pulseiras e anéis tudo AURELIE BIDERMANN na Maison
Central PArq 56 — 61 Entrevista Fabio Novembre
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Re a l Peop le
Nun o S o ta www.bicirodagira.com
o S F — Nian Canard
T — Marta Ferreira
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Começou com um blogue e hoje é um espaço físico. A RodaGira está situada no nº 14 da Rua da Misericórdia, em Lisboa, e lá poderá encontrar componentes, acessórios e toda a personalização possível na criação de uma bicicleta. Nuno Sota, responsável da loja, conta que, além do site, os amantes do veículo têm agora à disposição uma loja com bicicleta únicas, criadas peça a peça com as cores e o design bem ao gosto do cliente. P: Como surgiu a loja RodaGira? N: A RodaGira começou inicialmente por ser um blogue dedicado à utilização de bicicletas urbanas. Passados alguns meses, o blogue deu origem à loja online. Com o constante aumento de encomendas, passou a existir a necessidade de ter um espaço físico no centro da cidade. P: De todos os projetos já feitos, qual foi o mais aliciante? N: Uma das bicicletas que mais gozo me deu criar foi a Daccordi, do André, vocalista dos Linda Martini, por ser um quadro de pista italiano com uma beleza e um valor acima da média.
Dentro de dias irei construir duas bicicletas com dois quadros 8bar e um cinelli e a expectativa é enorme! P: Como tem sido a receção do público? N: A receção tem sido ótima. O facto de estarmos agora a responder a esta entrevista é um bom exemplo disso. Tudo surgiu e tem crescido de uma forma mais rápida do que alguma vez foi imaginado ou planeado. Acredito que tudo isto se deve ao esforço constante que tem sido feito para ter o site atualizado com novos produtos e, acima de tudo, com stock.
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P: Quais são as vossas perspetivas para o futuro? N: Nunca esperámos estar onde já estamos. Vamos manter o mesmo ritmo, um passo de cada vez, e desfrutar o momento. Procuramos tornar a loja física cada vez mais sólida e competitiva. Um dos projetos em que estamos a trabalhar é a criação de produtos e componentes da RodaGira enquanto marca, e será esse o nosso próximo passo.
Re a l Peop le
Jo s é Filipe Co s ta
T — Francisco Vaz Fernandes
José
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Cos ta
F — Pedro Janeiro
e estrangeiros, misturaram-se, entraram em projetos comuns que redefiniam a noção do que era viver em coletividade. Pessoas que eram supostamente apenas trabalhadores rurais, sem palavra a dizer, tornaram-se, por exemplo, contabilistas de uma cooperativa. Aprenderam a ter uma voz política, mobilizaram-se para tomarem o seu destino nas suas
José Filipe Costa quis conhecer o lugar e os protagonistas da ocupação da Torre Bela, propriedade agrária do Ribatejo que, através do registo cinematográfico de Thomas Harlen, se tornou num dos símbolos do período revolucionário. Desse encontro, 37 anos depois dos acontecimentos, nasceu Linha Vermelha, um dos filmes mais surpreendentes sobre a história recente de Portugal, que ganhou o prémio de Melhor Longa‑Metragem Nacional no IndieLisboa. muitas vezes as imagens de Harlan para ilustrarem um acontecimento, do género “aquilo aconteceu assim, como se vê no filme”. O Torre Bela substituía-se assim à memória da experiência direta. Tudo já se confundia. Por outro lado, notei algum desconforto em relação à ocupação que tinha ocorrido no contexto do PREC. P: Este é um período controverso que, na verdade, tem sido marginalizado, para não dizer esquecido. O que justifica recordá-lo? J: Porque foi um período formador daquilo que Portugal é hoje. O PREC foi como que um sismo que fez mexer as placas tectónicas da sociedade. Desse movimento libertou-se uma energia incrível. Pessoas de classes sociais diferentes, do campo e da cidade, portugueses www. parqmag. com
P: Já tinhas feito um doutoramento sobre cinema documental português durante os anos da revolução em Portugal, com um enfoque sobre Torre Bela (1975) de Thomas Harlan. Com Linha Vermelha, voltas a revisitar o filme e os protagonistas de Torre Bela. Qual foi o teu interesse em reavivar esta memória? J: No início do projeto, a ideia era usar o filme como meio de entender o que tinha mudado na vida dos ocupantes entre 1975, altura em que foram filmados, e a atualidade. Quando comecei a filmar apercebi-me de que o documentário de Harlan desempenhava um papel central na maneira como eles recordavam o que ali tinha acontecido. Ou seja, os ex-ocupantes invocavam
Wilson Faustino Filipe, em Torre Bela
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próprias mãos, num país com uma estratificação social rígida e conservadora. E neste movimento, uma equipa de filmagens como a de Harlan também teve importância. A sua presença na cooperativa Torre Bela era uma maneira de dar força à causa dos ocupantes e dizer-lhes que o mundo precisava de conhecer a revolução em Portugal. P: Como foi o processo e as principais dificuldades? J: O processo de ganhar a confiança de pessoas nas aldeias vizinhas da Torre Bela foi, por vezes, moroso, outras vezes rápido. No início, alguns mostravam dúvidas quanto à nossa presença nas aldeias: para quê estar a mexer em algo que se tinha passado há tanto tempo? Para outras pessoas, era uma maneira de retornar a algo que os tinha colocado no mapa da história recente de Portugal. As entrevistas com o Thomas Harlan foram incrivelmente reveladoras e instigantes. Foi também uma corrida contra o tempo. Harlan estava consciente do seu estado de saúde e foi muito generoso e corajoso na forma como se disponibilizou a dar as entrevistas. Foi, aliás, nessa sequência que ele demonstrou uma vontade de doar os materiais que restaram das filmagens a Portugal. Vieram recentemente de Itália para a Cinemateca, onde estão a ser restaurados.
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Re a l Peop le
Dam ara In g l ê s
F — Maria Meyer
T — Margarida Brito Paes
Damara
Inglês É o seu cabelo verde e rapado que chama mais a atenção mas é o seu estilo que nos conquista. Damara Inglês é uma das figuras mais notadas na ModaLisboa e é a autora e protagonista do blogue Fashion Masturbation. Irreverente e atrevida, fala‑nos sobre si e sobre o seu estilo marcante. www.fashionmasturbation.blogspot.pt P: És das figuras mais fotografadas na ModaLisboa, como defines o teu estilo? P: Defino o meu estilo como sintoma das múltiplas personalidades que tenho. Sei dizer que gosto de vintage, mas não sei dizer se vivo nos anos 80 ou 60... Sei que gosto do atual, mas também não sei bem em que atual me enquadro. Limito‑me a vestir de acordo com o dia, o humor, a música que acabei de ouvir ou o artista plástico que acabei de descobrir algures no google ou no tumblr. Sei que saltos altos, cores e cintura definida são os pontos em que todas estas referências se intersetam. P: Tens um blogue de moda, o que o distingue dos restantes? P: Cada bloguer imprime a sua personalidade. O meu começa pelo nome, Fashion Masturbation, assumindo a moda como um ato de auto-satisfação, um ritual íntimo em que a opinião alheia
não é relevante. Partindo deste universo intimista, acabo por ter mais liberdade em relação aos conteúdos, tanto posso escrever sobre uma festa, ou uma loja interessante como sobre uma simples tarde à beira-rio a beber vinho com os amigos. P: Estás a tirar design de moda. É esse o caminho que queres seguir ou pretendes continuar a ver os desfiles como crítica? P: Logo a seguir à moda tenho outras paixões, ler e escrever. Inspiro moda e expiro escrita, portanto, aliar os dois seria o ideal, pretendo fazer jornalismo de moda na universidade. P: Qual é a tua perdição: roupa, sapatos, carteiras ou outros acessórios? P: Todos! Há peças de roupa que acabam comigo! Sou louca por sapatos, principalmente de salto alto. Pretos,
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coloridos, abertos ou fechados... De todas as cores, formas e tamanhos: eu amo saltos! Adoro carteiras vintage e, embora tenha algumas, não costumo usá-las, acabo sempre por usar um saco básico preto que me trouxeram como souve‑ nir de Paris. Às vezes tenho too much going on num look e uma mala básica é o ideal. Brincos vintage são o meu vício, a minha perdição, o que me leva a considerar a Feira da Ladra como um dos melhores lugares do mundo! P: Porquê? P: Porque roupa é roupa, sapatos são sapatos e acessórios (incluindo carteiras) são acessórios, todos acabam por desempenhar papéis diferentes num outfit... Posso estar com a roupa ideal, mas sem os sapatos certos e sem aqueles brincos de mola gigantes que complementam a minha cabeça rapada e contrastam com o meu cabelo verde, não estou pronta.
colar MALENE BIRGER, cinto PEPE JEANS, caneta CAREN D`ACHE , phones URBANEARS na SkyWalker, clutch HOSS, relógio ADIDAS, sandália CAMPER
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T h e Color s of Il l usion
Foto — Bernardo Motta
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ass. Foto — Pedro Jorge Melo
lenço MISS SIXTY, sapato COHIBAS, óculos rosa RAY-BAN na André Ópticas, ténis ADIDAS, fio JOANA CAPITÃO na Akira, perfume DAISY MARC JACOBS, perfume DAISY EAU SO FRESH MARC JACOBS , óculos vermelhos SUPER RETRO FUTURE na Skywalker, carteira LOUIS VUITTON
Styling — Margarida Brito Paes Yo u Mus t Sho p fo r Wo m e n
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The Co lo r s o f Il l u s i o n
colar PLATADEPALO, suspensórios DIESEL, caneta CAREN D`ACHE, óculos MYKITA na André Ópticas, sapatos FRED PERRY
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Foto — Bernardo Motta
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ass. Foto — Pedro Jorge Melo
cinto TOMMY HILFIGER, canetas CAREN D`ACHE, óculos SUPER RETRO FUTURE na André Ópticas, botas MERREL, gravata MICHAEL BASTIAN GANT, ténis ONITSUKA TIGER, phones WESC, relógio NIXON, relógio DIESEL
Styling — Margarida Brito Paes Yo u Mus t S ho p fo r Me n
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The Co lo r s o f Il l u s i o n
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Miguel Palma T — Francisco Vaz Fernandes Com uma solução semelhante à que já tínhamos visto em Linha de Montagem, exposição realizada recentemente no CAM, Miguel Palma apresenta agora na Fundação EDP, no Porto, vários projetos congregados em estantes que garantem ao conjunto uma unidade visual.
cultura ocidental lançar-se na era industrial sob a crença de um desenvolvimento que viria a traduzir-se num acesso a um melhor nível de vida da humanidade e que, em geral, foi cumprido mas, ainda assim, deixou um lastro negativo menos visível. Por essa razão, o seu
Atelier Utopia, vista geral, exposição no CAM Se no CAM tínhamos uma mesa que aludia à ideia de linha de montagem e, por isso, ao universo industrial que está, de uma forma geral, na mente do artista, aqui encontramos estruturas metálicas básicas que usamos para montar prateleiras que servem para stocks domésticos ou industriais. No entanto, o que de facto encontramos é um conjunto de projetos que o artista foi desenvolvendo e que, na verdade, são apenas maquetes que um dia poderão mudar de escala. Como já é habitual, grande parte deles tem uma componente mecânica que permite a produção de som, projecção de imagem ou, ainda, movimento. O trabalho de Miguel Palma alimenta-se de um certo positivismo que permitiu à
Atelier Utopia, detalhe trabalho vive dessa ambivalência, onde o utopismo se cruza com um sentido crítico subtil. Nesse sentido, o seu trabalho evoca as aspirações e os desejos humanos muitas vezes manifestos em bem materiais ou nas grandes conquistas tecnológicas, como pode ser exemplo o Concord, uma das peças centrais desta exposição, que aparece enterrado na vertical num bloco de cimento.
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Curiosamente, todos os grandes símbolos técnicos são remetidos para réplicas que estão sempre presentes em abundância no trabalho de Palma, sejam eles aviões ou automóveis, na maior parte das vezes sujeitos a uma motorização. Por essa razão, a crítica tem sido unânime quando se refere à obra do artista, afirmando tratar-se de um trabalho cheio de mecanismos que manifestam uma tensão permanente entre o mecânico e o natural, entre a natureza e o artificial, um chavão que provavelmente poderia merecer uma releitura. Ou seja, mediante a imposição de um mundo
Concord globalizado cada vez mais imaterial e abstrato, o artista celebra a evocação do som e do movimento a partir das suas referências a engenhos mecânicos e às grandes descobertas científicas o que, a meu ver, celebra a materialidade. Em todo o processo, liberta-se uma certa candura que substancia a magia deste artista que parece não ter abandonado o quarto de brinquedos, propondo-nos, contra um mundo abstrato, um mundo utópico revestido de uma certa nostalgia. até 01.07.2012 Atelier Utopia Galeria Fundação EDP Porto Entrada Livre
You Mus t
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Arquite c t u r a
T — Marta Ferreira
Com atelier no Príncipe Real, em Lisboa, MOOV é o projeto de arquitetura de António Louro, José Niza e João Calhau. Um grupo que nada tem de convencional uma vez que, como afirmou António Louro à
O do projeto». Este estúdio de arte e projeto, ativo desde 2003, conta já com vários prémios, publicações internacionais e a participação em conferências e exposições tanto em Portugal como no
Bairros Críticos, Lisboa Arte Pública, 2009/2010
Moribor, projecto de um Museu de Arte Contemporânea, Eslovénia, 2009
Fundecor new Headquarters, Costa Rica, 2011
PARQ «não trabalha só na vertente arquitetural mas também no campo artístico, fazendo instalações no espaço público ou estabelecendo parcerias com colaboradores‑satélite que se organizam em função da especificidade
O
estrangeiro. Quanto a novidades, aguarda‑se um espaço performativo móvel que está, neste momento, a ser desenvolvido pelo MOOV e que promete surpreender o público.
Kitchain, instalação para o Belluarf Bollwerk Festival, Suíça, 2009 www.moov.pt
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SAGATEX, LDA – Tel: +351 22 5089160 – sagatex@net.novis.pt
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Alighiero e Boetti integrando no processo comunidades de estudantes, deficientes ou, mesmo, refugiados de guerra que interpretavam as regras. Os seus mapas mundi, provavelmente a série de trabalhos mais conhecida, foram desenvolvidos por comunidades afegãs durante a guerra
até 27.04.2012 Tate Modern, Londres www.tate.org.uk
Longe do discurso crítico viria ainda a desenvolver um trabalho muito interessante com deficientes, que apenas tinham que preencher com uma caneta esferográfica o quadriculado de grandes folhas de cartolina. Depois de preenchidos, levantavam-se autocolantes em forma de vírgula para se ver o fundo da car-
Autoritratto (Mi fuma il cervello), escultura em bronze e jatos de ácido sulfúrico, 1993 Alighiero e Boetti foi um dos artistas italianos que participou na primeira exposição de Arte Povera mas, durante muitos anos, divergiu dos fundamentos do movimento e
Mappa, trabalho têxtil produzido por tribos afegãs, 1971 mesmo das premissas do entendimento da arte contemporânea, passando a ser uma figura secundária. Agora, a Tate Gallery em Londres vem justamente render homenagem a um dos artistas mais importantes da segunda metade do séc. XX, que procurou dar uma dimensão universal ao seu trabalho. Os seus trabalhos eram desenvolvidos a partir de regras simples e objetivas, fáceis de interpretar por outros. Com isso, era possível que todo o seu trabalho fosse desenvolvido à distância por segundas pessoas,
Mettere al mondo il mondo, esferográfica sobre papel, projecto realizado com deficientes, 1973 russo‑afegã, criando então uma relação de apoio aos refugiados de guerra que encontravam aí um meio de financiamento. As regras eram novamente simples: representar os países bordando as respetivas bandeiras. Apesar do programa parecer bastante restrito havia, ainda assim, um espaço interpretativo que o artista deixava ao acaso. Esta abertura do campo da arte ao artesanal explica o desaparecimento deste artista, que seguia num caminho formal inverso a uma visão objetivista, herdeira de uma cultura industrial americana dominante.
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tolina que, interpretados a partir de um quadro alfabético, estabeleciam uma frase. No aspeto geral, o trabalho resulta numa aparente superfície uniforme (fazendo até uma referência ao minimalismo americano) mas, na verdade, as pequenas variações de cores que resultam do lado manual fazem ressaltar toda a subjetividade, em contraponto à pintura monocromática minimalista que saía do espírito objetivista americano.
T — Francisco Vaz Fernandes
JUST add color
The chUck Taylor all STar spring color collecTion
* BASTA JUNTAR COR. Colecção Cor de Primavera Chuck Taylor All Star.
You Mus t
De s i g n
T — José Miguel Bronze A identidade ainda não se perdeu, ficou antes mais forte. Que o digam Joana Pais e Quentin de Coster, que aqui colocamos em comparação de estratégias. A designer portuguesa, formada em Milão e residente em Londres,
transportou Portugal para Milão num pinguim transformado em “gallo portoghese”, desenvolvendo uma perspetiva nostálgica que não foge às questões atuais. A riqueza gráfica portuguesa está patente no seu trabalho, onde
belga, de 21 anos, prefere chamar arte-industrial ao design. Acredita que os limites entre a arte e o design devem ser explorados e, dessa sua investigação, resultam projetos como Indiscipline. Para de Coster, a Bélgica é um país
A globalização das retóricas
Superfarm, Joana Pais, 2011
Superfarm, Joana Pais, 2011
Kòkò Smart, Joana Pais diz-nos que Portugal deve ser usado como fonte de referência no design. «Portugal dá-nos uma vantagem enorme em relação ao resto do mundo que os designers portugueses deveriam saber usar em seu favor», diz. É o caso do seu projeto Kòkò Smart, no qual
a relação entre o património cultural e o design aparecem em estado de mútua valorização. Já Quentin de Coster defende a necessidade de conceitos fortes por detrás dos projetos, como forma de valorização num mercado saturado. O designer
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Citrange, Quentin de Coster, 2008
Yo u Mus t
De s i g n
www.joana-pais.com que, historicamente, desenvolveu a sua identidade através de um processo de observação de culturas, elemento que se mantém. É essa identidade pragmática que se evidencia no seu trabalho. A banalidade não assiste a
www.quentindecoster.com
nenhum destes dois novos talentos. Segundo Joana Pais, «o design vai seguir uma vertente cada vez mais global». É uma situação que «não se fica pela identidade e pelo branding, estende‑se atualmente
aos objetos, ao espaço físico e à internet», afirma a designer que ingressou, também, na crescente área dos serviços. Com o projeto Superfarm, que expôs na Semana do Design de Milão em 2011, transpôs o
Spot, Quentin de Coster, 2011
mundo dos produtos naturais para uma plataforma online que privilegiava a produção local. Os objetos apresentados por Quentin de Coster, Citrange (produzido pela Royal VKB) e Spot, são dois exemplos atuais de retórica e industrialização que colocam em evidência referências díspares mas pertinentes. Tanto podem vir de um material, como de um processo ou, até, de uma atitude observada. Ambos acreditam na diferenciação para singrar na área e apelam às suas raízes nos respetivos trabalhos, acreditando que o globalizado, no design, é um grupo diversificado das várias unicidades.
Citrange, Quentin de Coster, 2008
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You Mus t
Mú s i ca
A Adidas vai celebrar em Portugal os 40 anos da marca com um festival de música e arte urbana que vão acontecer no dia 5 de maio na LX Factory, em Lisboa. Intitulado Adidas – Urban Souds by Myspace, o projecto aproveita os diferentes espaços da LX Factory adaptando as salas de concertos conforme o perfil do local. Por
U rban S ound s
05.05.2012 LxFactory, Lisboa www.myspace.com/ adidasurbansounds
Ka taba t ic
T — Maria São Miguel
T — Maria São Miguel
exemplo, a livraria Ler Devagar terá uma vocação para receber cantautores e a Vila Louise irá acolher projectos electrónicos. Sabe-se que no total serão 10 palcos e que DANGER, um nome incontornável do electro francês, será cabeça de cartaz. Outros nomes já falados são The Legendary Tigerman (em dj set), Beautify Junkyards, Manuel Fúria, doismileoito e Cavaliers of Fun mas, ainda assim, um programa muito incompleto quando se pretende algo com grande impacto.
Punch Fes t by M obi t to
Katabatic é um projeto musical lisboeta com 8 anos de existência e um EP editado, Vago (edição de autor, 2007). É uma banda post‑rock de sonoridade marcadamente instrumental numa vertente mais psicadélica, progressiva e contemporânea. A formação é a clássica do rock, com guitarra, baixo e bateria, onde a vocalização é pontual, apoiada com criativos elementos de percussão
T — Maria São Miguel A 21 de abril realiza‑se o primeiro festival organizado pela revista online Punch Magazine. O PunchFest by Mobitto é um festival de bandas, associações e marcas emergentes em Portugal. Este evento vai ter lugar na Taberna das Almas, em Lisboa, e conta com as bandas doismileoito, Capitão Fausto e Moullinex. Ao cartaz juntam-se ainda IVVVO, Cut Slack, Stereo Parks, Exotique e Mansell. O PunchFest
by Mobitto reúne num só recinto um festival de música, uma galeria de arte e um showroom. Além de música, o festival apresenta exposições de ilustração, design, street art e animação, com curadoria do coletivo de arte Off/cina, enquanto a Lunchbox Creations traz ao evento uma exposição de fotografia e uma instalação com um photo booth preparado para fotografar todos os festivaleiros.
e eletrónica. Heavy Water, agora editado, estará disponível ao público em abril e é o primeiro álbum dos Katabatic. A edição é conjunta da Raging Planet (Lisboa) com a Raising Legends (Porto). Heavy Water tem produção de Makoto Yagyu e Fábio Jevelim, masterização de Chris Common e a participação de Tiago Sousa no tema que lhe dá o nome.
www.myspace.com/katabatic
21.04.2012 Taberna das Almas, Lisboa www.punch festival.com
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You Mus t
Cinema
Shame Ainda que tenha estreado há algum tempo, não podemos passar ao lado de Shame, a segunda longa-metragem de Steve McQueen, com Michael Fassbender e Carey Mulligan, um dos filmes mais falados dos últimos meses e, certamente, um dos grandes deste ano. Depois da fome, McQueen filma o sexo numa Nova Iorque escura e depressiva por onde Brandon vagueia à noite com o intuito de satisfazer os seus ímpetos carnais. No apartamento recebe mulheres e
como a Irlanda, onde nasceu, ou Nova Jersey, onde foi criado (“We’re not bad people, we just come from a bad place”). A sua rotina é perturbada quando a irmã Sissy lhe aparece em casa. Ele sente‑se desconfortável ao seu lado e afasta-a, enquanto ela o contacta e exterioriza a sua frustração. À medida que se apercebe do fosso que criou entre si e o mundo, Brandon tenta relacionar-se saudavelmente com uma mulher mas está completamente fora de jogo nas lides do amor. A partir daí,
escape, e onde o orgasmo é a apoteose de um peso atroz. O seu fardo vem da vergonha que o impossibilita de se expressar. O desprezo que sente por si mesmo tornou-se familiar mas cravou-lhe o vazio na alma e incapacitou-o de criar intimidade com alguém. O sexo é seco, frio, sem ponta de sensualidade. Há muitos corpos nus, mas o que corre dentro dos personagens nunca é revelado. Sabemos que queria ter sido pianista de uma outra época, daí os vinis de música clássica —a valorização do que não pode
T — Inês Monteiro
vê pornografia, quando a noite de engate não supre o efeito desejado: neutralizar uma dor plantada há muito num lugar
enterra-se no seu próprio calvário: durante uma orgia assistimos ao seu desespero, quando o sexo deixou de ser prazer e se tornou
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ter. Mais do que ter vindo de um sítio errado, Brandon nasceu num tempo errado, sem autenticidade. Fassbender encarna um personagem mecânico e intransponível mas que se emociona com a fragilidade da irmã, a única mulher que ama e que por isso o aprisiona. Um drama profundamente humano sobre a discrepância latente entre amor, sexo e família, num tempo em que a fronteira privado/ público, real/irreal se esbate a passos largos e vivemos todos juntos (n)um grande vazio.
You Mus t
Cinema
Aya Kore tsk y Não pudemos estar lá, quando Aya subiu ao palco para receber o prémio de melhor longa‑metragem no Festival de Cinema Luso-brasileiro (bem como no Doclisboa) mas, sabendo da sua personalidade reservada, resta-nos imaginar um misto de alegria e pânico. Para além das montanhas (Yama no Anata —no original), é a história autobiográfica da cineasta Aya
assimilou o melhor que as duas culturas lhe ofereceram, criando uma sensibilidade cinematográfica pouco frequente. Profundamente ligado às temáticas que mais lhe interessam —o exílio, a memória e os afetos— o documentário Para além das montanhas expõe a realidade de uma forma muito pessoal e o encorajamento da sua equipa e de amigos (em que se destaca o produtor Miguel Clara Vasconcelos e o montador Tomás Baltazar), assim como a crença de que a mensagem era maior do que ela, fizeram-na levar para adiante este projeto. Aya Koretsky
Koretsky e da sua família que, no início dos anos 90, decidiu abandonar Tóquio para viver nos arredores de Coimbra para tomar conta de uma quinta em estado de quase total abandono. Sob a forma de documentário, com diálogos em off, uma fotografia e uma montagem que nos fazem crer estarmos num sonho, Aya submerge-nos em perguntas, num inquérito em torno da sua infância, procurando as explicações possíveis para
este percurso tão singular. Transbordante de emoção, mas de uma sobriedade notável, somos levados a crer que Aya
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T — Maria João Teixeira
ho n u j 3 0 e 1, 02 0 rs e : : h t o i o a r m b 6 z e n i t 25 e 2 r a m e nzales) h
t Go : : ” e s p e o n D o “ j y ie n n m e a j K : & : a I I g I e ie V u o L azari & ” e l be i t t v i j L “ d ( : : d k n N r a O o b X I w s a D t x J a e :: D scot i y d e v e r h masters t a : : H dj diction Mau) u ad a o M e r + e r t e s i h : Rat op : o o l t a a n lvador s e i a S R e ( é Z s lif + r e o ing sé Bel w o s J fe) : f : o o n s i z g a ag kin Maia/X Wi
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Mo d a
5 0 anos H a vaiana s A história das Havainas começa em 1962 quando inspiradas pelo modelo japones Zori, surge no Brasil o primeiro par de chinelos de borracha que mudaria para sempre a forma de caminhar daquele país. Práticas
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80, uma forma de controlar o preço e garantir que estes chinelos azuis e brancas se mantinham ao alcance do povo Brasileiro. E assim foi durante anos, até que um dia devido a um acidente técnico, o azul passou
T — Margarida Brito Paes
usar a cor como uma das suas grandes armas. Já tinham conquistado o Brasil e as classes mais baixas, agora faltava conquistar a classe média brasileira e o mundo, tarefa que rapi-
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Modelo comemorativo dos 50 anos com as cores originais e confortáveis e baratas começaram a ser o calçado de eleição da classe trabalhadora, sendo inclusivamente
a verde, dando origem ao primeiro lote de Havainas de cor diferente. O sucesso foi imediato e passou
Havaianas Concept Store, São Paulo, Brasil classificadas como bem de primeira necessidade pelo estado nos anos
a ser uma inspiração para a marca que a partir desse dia começou a
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damente foi cumprida, sendo hoje as Havainas uma marca global e usada por todas as pessoas. Só em 2010 venderam 190 milhões de chinelos. Hoje em dia a marca está fortemente presente em todo mundo, com uma delegação dos Estados Unidos e outra na Europa; os seus produtos já não se limitam a chinelos, tendo uma gama de calçado que vai desde os ténis às botas de borracha sempre em cores alegres e divertidas. Este ano esta marca com melhor onda do planeta comemora 50 anos e para assinalar a data lança um modelo exclusivo de chinelos que vai com toda a certeza nos pés de todo o mundo! www.havaianas.com
Descobre a Nova Colecção Onitsuka Tiger em onitsukatiger.com
You Mus t
Mo d a
Diana
B ouça N ova
Conheceram-se no Curto Circuito da SIC Radical e nós, já cheios de saudades, voltamos a juntá‑los para alimentar essa relação de amor-ódio que existe entre os dois. Eles, em perfeito estado de inconfidência, revelam-nos o melhor e o pior de cada um.
Diana Bouça Nova sobre o Rui O que mais gostas nele? O sentido de humor. O que menos gostas nele? O fato de ser um desarrumado de primeira.
e
Onde não o imaginas num Sábado à noite? No meio da confusão. Que é que ele gostava de ser por um dia? O Jon Stewart. Quem é que ele odiava ser por um dia? Ser mais um.
fotografia Nian Canard
L
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ass. de fotografia: Maria Gilles
E
blusão Lacoste L!ve
produção Conforto Moderno
O que podias fazer com ele? Outro programa de televisão ou de rádio. O que não podias fazer com ele? Ir a uma feira ou a um mercado. O que é que ele dispensa? Pessoas interesseiras. O que é que ele não dispensa? Vinho. Onde o imaginas num Sábado à noite? A jantar em casa de amigos.
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Como o vês daqui a 20 anos? Vejo-o ainda mais giro, com cabelo branco e com uma carreira de que se orgulha! Como não o vês mesmo daqui a 20 anos? Frustrado, desanimado ou sozinho.
Yo u Mus t
Rui Rui Pêgo sobre a Diana O que mais gostas nela? A determinação. O que menos gostas nela? Mexe-se muito a dormir.
Mo d a
T — Marta Ferreira
Pêgo O que é que a Diana não dispensa? A minha presença. Chega a ser doentio. Onde a imaginas num sábado à noite? Em Vila do Conde. Onde não a imaginas num sábado a noite?
polo com motivo camuflado Lacoste L!ve
make-up
Alex Me
para AR
L
!V
E
hair Ricardo Mendes
para Facto —Bairo Alto
O que podias fazer com ela? Um bébé. O que é que não podias fazer com ela? Ser excessivamente inteligente. Ela não gosta. O que é que a Diana dispensa? Adoçante. E faz mal.
No estádio do Benfica a atirar petardos. Quem é que ela gostava de ser por um dia? Coco Chanel. Quem é que ela odiava ser por um dia? Alguém medíocre ou alguém que trabalha numa portagem.
Como é que a vês daqui a 20 anos? Líder de uma seita, onde toda a gente fala bem português e é forçado a usar a expressão "riquinho". Como é que não a vês daqui a 20 anos? Derrotada.
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www.lacoste.com/live
Diana: saia, pólo com print leopardo e relógio Lacoste L!ve Rui: calças e pólo com print de madeira lacoste l!ve
You Mus t
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G ir l 5 5 Desenhada a pensar num público bastante jovem, a 55DSL propõe alternativas para todos os gostos e estados de
irreverentes, e Midnight Sun, onde o glamour ganha tons metálicos. Uma coleção muito completa, que vai desde
que nunca lhes falte uma opção. Assim, a coleção divide-se em três grandes grupos: Day Trippin, onde as riscas
T — Margarida Brito Paes
www.55dsl.com espírito, possibilitando que as raparigas 55 continuem a brincar com diferentes estilos, sem
multicolores surgem em nuances de pastel, Posh Punk, com estampados marcantes em looks
as divertidas t-shirts a vestidos atrevidos, em peças que se adaptam facilmente à agitada
Fl y ing Este verão, a Fly London reafirma o seu espírito jovem e irreverente com uma coleção onde as solas ganham uma dimensão especial. A
e diversificada vida de qualquer jovem.
T — Margarida Brito Paes
juntar às antigas solas trabalhadas, que deixam em cada pegada a assinatura Fly através dos seus desenhos únicos, vêm juntar-se agora divertido desenhos
pintados nas solas dos sapatos masculinos. Mas as inovações não se ficam por aqui, também as sandálias do modelo Loren contam com cunhas bastante
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vistosas, onde as riscas alegres completam de forma fresca qualquer look de verão.
You Mus t
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M a t ilha
Cycle
Crew T — Maria São Miguel
F — Laura Palmer
A Matilha Cycle Crew nasceu entre colegas, na conhecida agência criativa Brandia, que decidiram usar a bicicleta como meio de deslocação diário. O seu exemplo passou a ter uma página de fãs no Facebook e, atualmente, junta mais de 1300 seguidores. Entre as atividades que já desenvolveram destacam um muito concorrido
necessidades de um ciclista urbano que procura um look street adequado. As Levi’s 511 Slim são perfeitas: além do tratamento que as torna impermeáveis à água, têm um sistema que protege dos odores. Além disso, vêm com faixas refletoras, nomeadamente, na dobra das calças na zona do calcanhar para ajudar a
aumentar a visibilidade. Já o blusão Trucker é equipado com bolsas nas costas e, mesmos os seus bolsos frontais, são pensados nos movimentos naturais de quem anda em cima de uma bicicleta.
www.facebook.com/matilhacyclecrew
Vs
brunch no Jardim da Estrela, que serviu para que muitos ciclistas deixassem as ciclovias e viessem efetivamente ocupar a cidade. Encontrámo-nos com Luís Stone (designer gráfico) e Fernando Augusto (copy writer), membros fundadores da Matilha Cycle Crew, que aceitaram o convite da PARQ para conhecer as novas Levi’s Commuter , uma linha que vai de encontro às
L ev i's
Commu ter 34
www. parqmag. com
Yo u Mus t
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O d d Per Holkenet e Karin Jimfelt-Ghatan fundaram a Odd Molly há nove anos na Suécia e de forma inesperada, as suas primeiras
M o l l y
sua essência, continua muito intimista e feminina, dirigida a uma mulher que sabe tirar prazer das coisas simples da vida. Porpõem um
quais acrescentam uma profusão de rendas, bordados e aplicações em crochet, detalhes que se revelam fundamentais para completar o espírito
da marca. O resultado é uma colecção com um estilo muito étnico, onde a simplicidade ganha relevância e e onde cada peça tem uma história.
Odd Molly, backstage do desfile SS2012 criações foram vendidas ainda em papel. Hoje vendem em 1300 locais à volta do mundo, mas apesar deste enorme crescimento a marca, na
vestuário prático mas muito especial onde os matérias naturais, sejam sedas ou algodões mantêm-se como predilectos, aos
www.oddmolly.com
T — Margarida Brito Paes
C AT Vs Rose Engana-se quem pensa que a CAT se resume a botas de trabalho. Na verdade, a marca está mais trendy do que nunca e pisa as passerelles em desfiles tão cool como os de Martine Rose. A designer londrina
confessa-se uma fã da CAT desde os seus tempos de maria‑rapaz e teve o modelo CAT Colorado como um verdadeiro objeto de desejo durante muito tempo. Assim, o resultado desta colaboração só podia
CAT Colorado SS12
ter sido apaixonante. Estas botas históricas, que acabam de fazer 20 anos, completam na perfeição os looks irreverentes de criadora, onde não faltam o denim e os padrões coloridos.
Edição especial CAT x Martine Rose AW12
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Martine Rose SS12, botas CAT
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L e Coq S p
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Le Coq Sportif junta, na próxima estação, o desportivo e o trendy, numa coleção tão abrangente que tanto apresenta bodies como calções de ganga com a cintura subida (para ela) e t-shirts ou pólos (para ele). Linhas contemporâneas, repletas de cores vibrantes com as melhores opções tanto para uma ida ao ginásio como para um fim-de‑semana ao ar livre. Uma coleção muito prática mas cheia de estilo. www.lecoqsportif.com
Red S e
coleção um toque luxuoso sem nunca perder o lado cool. O lookbook apresenta homens de barba com o cabelo penteado, tatuagens e óculos intelectuais, uma saborosa mistura entre o clássico e o street que vai conquistar muitos homens.
www.replay.it
A linha 100% made in Italy da Replay apresenta um verão elegante, com modelos casuais mas requintados, caso das calças com pregas e dos casacos. Replay Red Seal é a linha de denim mais sofisticada da marca, com tratamentos e lavagens de excelência que conferem a esta
T — Margarida Brito Paes
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H
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Depois de três fatídicos anos a estudar Engenharia de Computadores, conseguiu finalmente dar o primeiro e mais importante passo em direção a um sonho, ingressando em Design de Moda e Têxtil em Castelo Branco. Um sonho que hoje é uma
g
o moda», afirma. É neste patamar
Costa: «ainda não estou muito ligado ao mercado porque não é a minha prioridade mas, claramente, não é um produto para grandes massas e, sim, para um nicho de mercado mais ligado à indústria da moda, dos apaixonados às pessoas que, na realidade, trabalham na
de moda de autor para um nicho muito específico que Hugo pretende crescer, se bem que esteja mais focado em criar do que em vender. As suas peças estão disponíveis para compra no seu blogue e no Facebook.
F — Maria Meyer
www.hugocworks.blogspot.com.es
T — Margarida Brito Paes
Hugo Costa, AW2012 (Bloom/Portugal Fashion) realidade, já que Hugo Costa é um dos designers a apresentar na plataforma Bloom do Portugal Fashion. Para a próxima estação, este promissor designer de roupa masculina apresentou uma coleção inspirada na cultura apache durante o período pré-colonial, com referências a tradições e simbologias, bem como ao artesanato e à reutilização de matérias-primas. Também a paleta cromática se mostrou surpreendente, com muitos tons de coral e laranjas. Cores inesperadas, quando pensamos no mercado português, mas nada que assuste Hugo
C
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Ocean a c
R Para celebrar a sua participação na Volvo Ocean Race, a Camper lançou a coleção Ocean Race, uma linha de calçado técnico e casual para homem e mulher. O Water Race baseia-se num
T — Maria São Miguel
Water Runner modelo running e é um dos sapatos mais leves que alguma vez se produziram. É um excelente exemplo da investigação ao nível da performance e do design que a marca tem aplicado aos seus produtos que, mesmo sendo mais técnicos, como é o caso deste,
e
Seamar nunca perdem o espírito artesanal que sempre esteve na base da marca de Maiorca. Disponível em várias cores, é construído com detalhes específicos do mundo da vela que exigem uma secagem rápida, capacidade de resistência e ultra-leveza. Porque não usá‑los
www.camper.com
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para assistir à chegada dos primeiros veleiros a competir na Volvo Ocean Race que chegam a Cascais a 31 de maio?
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A ce ss ó r i o s
8 dia s Foi em 1917 que a Persol criou o seu primeiro modelo de óculos, desenhados a pensar no conforto, na proteção e numa visão perfeita, valores que seguem a marca até aos dias de hoje. A sua nova campanha reflete os 8 pilares em
Seven ties
que a Persol assenta: inspiração, design, estrutura, beleza, toque, harmonia, perfeição do polimento e perfeição meticulosa. Uma campanha original, pensada como os oito dias Persol, que traz oito jovens cineastas como protagonistas. A Dinh Van Joaillier inspirou-se nos anos setenta para criar a sua coleção Seventies, pautada pela simplicidade e pelas formas geométricas. Os diamantes, o ouro branco e as pedras naturais juntam-se de forma harmoniosa neste verdadeiro tesouro, perfeito para usar com looks retro. São peças imbuídas de um espírito de outros tempos, onde não falta a cor e o grafismo.
Yi Zhou
T — Margarida Brito Paes
Asa Mader
A r t Deco
Patrizia Pepe voou até ao mundo dos insetos e, para o verão de 2012, criou uma coleção de acessórios colorida e irreverente onde não faltam asas. Colares, pulseiras, alfinetes de dama e
carteiras enchem-se de borboletas e libelinhas, numa coleção com uma clara influência da Belle Époque e da Art Deco. Peças marcantes que dão um toque especial a qualquer look.
O. D. M A marca O.D.M destaca‑se pelo design inovador. Os seus relógios apresentam detalhes únicos e inesperados que os tornam verdadeiras peças de design. Para o verão de 2012 apresenta o Gummy Me, que tem um mostrador em forma de coelho/raposa em que os olhos servem de mostrador das horas e dos minutos. Além disso, é um relógio que tanto pode ser usado no pulso como de pé, em relógio de mesa.
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Hi g h -Te c
O Nokia 808 é primeiro smartphone com tecnologia de imagem PureView. O público tem agora à sua disposição um telemóvel com sensor de alta resolução que conta com uma lente Carl Zeiss de 41 megapixeis, tudo isto para seja possível aos clientes da marca captar imagens de extraordinária qualidade. Uma novidade que a Nokia quer ver aplicada a todos os seus futuros smartphones.
Câmara
Pure View
S
www.olympus-europa.com Gosta de fotografia de moda? A Olympus EM-5 da série OM-D pode dar uma grande ajuda. Com um sensor de 16 milhões de pixéis, ISO de 200 a 25 600 ISSO, ecrã traseiro de 3 polegadas rotativo e vídeo full HD, a câmara sincroniza com
flashes até 1/250 para que não haja mais problemas com o uso do mesmo em exteriores. Inspirada na sua antiga série analógica OM, a Olympus EM-5 apresenta um design retro, seguindo a tendência atual.
w i s s Or iginal
A coleção Original, um bestseller da Victorinox Swiss Army, tem um novo modelo: o cronógrafo Original. Lançado em 1989, o Original foi o primeiro relógio
T — Maria São Miguel
www.victorinox.com da marca e é agora revisitado numa versão com novos detalhes e materiais. É um relógio suíço, com movimento quartzo e caixa em fibra de nylon e bisel de alumínio.
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B e l eza A primeira incursão da rainha da pop no universo da perfumaria tem muito de íntimo e pessoal. Segundo as palavras da própria, a mais antiga memória que tem da mãe era o perfume. “Ela cheirava sempre a
A Calvin Klein acaba de lançar a sua nova coleção de maquilhagem e, como é apanágio da marca, a abordagem que faz à beleza é simples, descomplicada e desafia os estereótipos culturais. Com ousadia, a coleção é dirigida a todas as idades e géneros, dividindo-se em
três linhas: look real (bases fluídas, compactas, corretores de tez), define yourself (máscaras, lápis, eyeliners, blushes, iluminadores, bronzeadores) e add intensity (sombras de olhos, batons, glosses, vernizes). A descobrir em breve! Calvin Klein • 3 in 1 Face Make Up SPF 8 (30 ml) – 29,90€ • Máscara – 19, 90€ • Sombra de Olhos 4 cores – 37,90€
gardénias e tuberosa, uma mistura intoxicante femini‑ na e misteriosa, e eu quis re‑ criar esse perfume de uma forma fresca e nova, hones‑ ta e ousada – daí o nome”.
Como em tudo o que faz, Madonna envolveu-se profundamente no processo e trabalhou com o perfumista para criar uma
Para quem tem espírito de colecionadora, o perfume Daisy de Marc Jacobs é, sem dúvida, um desafio. Há variadíssimas edições limitadas, com variantes olfativas que vão da água-de-colónia floral ao perfume mais intenso. As embalagens são dignas de figurarem num canteiro de flores pop, com frascos transparentes, bran-
A coleção Candy Face da Yves Saint Laurent já está nas perfumarias. A grande novidade é o blush que vem numa textura inovadora em gel. Este blush, que mais parece um gloss para os lábios, não é pegajoso (tem, aliás, uma base aquosa bastante leve) e dá um aspeto re-
composição olfativa que deve tanto à luz como à escuridão, um pouco a lembrar o clássico Fracas de Robert Piguet, abrindo com notas de gardénia, tuberosa e neroli, um coração de jasmim, benjoim e lírio branco, e uma base de baunilha, âmbar e almíscar.
cos, pretos ou vermelhos e as flores em borracha dourada, azul, verde ou rosa. Uma panóplia de cores e de cheiros que agora é aumentada com as miniaturas Petite Flowers On the Go!, duas flores que podem ser levadas para qualquer lado e transportadas na mala com as versões Daisy original e Daisy Eau So Fresh, mais doce e frutada.
frescante e luminoso às maçãs do rosto. O gel é aplicado diretamente com os dedos, o que permite controlar a aplicação do produto e a pigmentação que se pretende. Em quatro tonalidades suaves que resultam muito naturais na pele: carmim, coral, rosa e lilás.
Madonna • Truth or Dare (50 ml), eau de parfum
Marc Jacobs • Petite Flowers On the Go! (20 ml) eau de toilette – 38,00€ • Daisy Eau So Fresh (75 ml), eau de toilette – 69,89€
T — Cláudia Gavinho
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Yves Saint Laurent • Voile de Blush – 28,45€
You Mus t Shop
h&m
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Ye llo w & Pi n k
wesc
adidas originals
camper
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alexander mcqueen
vans
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fly london
komono
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havaianas
Yo u Mus t Shop
G re en & B l u e
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volcon
converse / marimekko
diesel
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fred perry
replay
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patrizia pepe
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adidas originals
cat
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T E N
Te nda E le c t r ó n i ca
E lec tónica O equilíbrio e alto nível da programação eletrónica do Rock In Rio deste ano prolongam a boa seleção de 2010. Estreantes, renovadores e clássicos, cabem todos num cartaz que destoa do restante festival.
Como em 2010, a Tenda Eletrónica do Rock In Rio tem um cartaz equilibrado e rico. Não é surpresa porque
é natural. Mas, tal como no palco principal, cada um dos cinco dias corresponde a um género ou nicho de público. E,
D A Azari & III esse preceito só sucede uma salvo o primeiro, em que não vez mas destoa do perfil da há uma linha identificável, torestante programação, o que dos os outros se distinguem
Rock in Rio 44
claramente entre si. O conceito de festival familiar plasmado em nomes como Bruce Springsteen ou os próprios Metallica —uma banda que, à medida que o tempo avança, tem vindo a reduzir o peso da carga metaleira e que estará no Parque da Bela Vista a recordar o álbum homónimo de 1991 que uniu conservadores e progressistas — e complementado com um palco Sunset, em que se promovem encontros improváveis em palco, poupa o espaço dedicado à música eletrónica dessa obrigatoriedade. Por isso, a vinda de nomes bem-amados como Magician, Azari & III, Jamie Jones, Maceo Plex, Masters At Work, DJ Harvey e Dixon quase torna este espaço num paraíso isolado no contexto do Rock In Rio. Há dois anos, esse all-star game era defendido por Major Lazer, Drop The Lime, Jamie XX, Gui Boratto, Dubfire, Deadmau5 e Green Velvet, entre outros honrosos representantes. Um dos fenómenos recentes da noite lisboeta pertence à Bloop, progressivamente mais falada pelas matinés que têm percorrido clubes como o Twins, o Absolut e o piso 0 da Kapital. Pois se as festas da editora portuguesa arrastam cada vez mais gente, uma noite de Rock In Rio é-lhes destinada. A noite do primeiro de junho começa com os "embaixadores" locais da Bloop —Magazino, José Belo e Zé Salvador— continua com os brasileiros Kings of Swingers (formados por
S ound s ta ti on
Ro ck i n R i o
É a 26 de maio, o dia em que o rock dos anos 90 volta ao poder com Smashing Pumpkins, Linkin Park, Limp Bizkit e Offspring que, curiosamente, o coletivo cabeça de cartaz na Tenda Heineken recupera também a mesma década, embora num outro período. Os Azari & III estilizam o momento rave que marcou a transição dos anos 80 para os 90 sem a vergonha de fazer canções pop à Technotronic como Reckless For Your Love e Hungry For The Power. Pelo meio, o debutante Magician traz a vertente pop do nu-disco a Lisboa mas a noite só fica completa com o contributo
produção para outros artistas como Rihanna ou… Jay-Z. Tocam também os brasileiros Life Is a Loop e Leo Janeiro e os portugueses Tha Lovely Bastards, MC Johnny Def e Bis Boys Please. Para a minoria que ainda a procura a noite com a música como fim, nomes como os dos Masters At Work estão intimimamente ligados a uma época de fundação. Para quem ainda conheceu as míticas raves dos anos 90, Little Louie Vega e Kenny Dope Gonzales são incontornáveis. Dez anos de ausência de clubes portugueses serão interrompidos a 2
25—26.05.2012 01—03.06.2012 Rock in Rio Lisboa
T — Davide Pinheiro
Renato Ratier e DJ Mau Mau) e termina com um tríptico de três dos mais celebrados DJs e produtores do agora chamado sexy house: Dyed Soundorom, Maceo Plex e Jamie Jones. Se há género que tem movimentado produtores e DJs —alguns vindos de correntes que nada têm a ver com a música negra— é o nu-disco, que passa pela reconfiguração do legado disco sound através de recursos tecnológicos do presente. O house e o electro são parentes próximos e é nesse caldeirão que caíram os Punks Jump Up, uma dupla britânica filiada na editora
Chase & Status francesa Kitsuné, autora de da Discotexas Band, de remisturas para gente como Mirror People (Rui Maia Gossip, Kele ou Chromeo. dos X-Wife) e do radialista Miguel Quintão. No primeiro dia, 25 de maio, o destaque vai por inteiro para os Chase&Status, um duo de produtores há muito descoberto pela geração dubstep, com uma agenda interminável na
Um par aí so à par te
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de junho, com os Martinez Brothers, Johnwaynes, Miguel Rendeiro e DJ Poppy a complementarem. É de forma eletrónica que o Rock In Rio termina, com DJ Harvey, DJ Vibe, Dixon, DOP e os Stereo Addiction preparados para se fazerem aos clássicos.
S o u n ds ta ti on
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T — Pedro Lima
F — Raphael Ouellet
G
Gr i m e s
Fu t ur o
I r r e s i s t í vel www.grimesmusic.com
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S ound s ta ti on
Visions é o quarto álbum da prolífica artista nascida em Vancouver, Claire Boucher. Depois de se mudar para
Grimes
editora 4AD (Cocteau Twins, Bon Iver, St. Vincent), Grimes deixa para trás os ambientes lo-fi para abraçar
O novo álbum de Grimes, Visions, faz‑nos ansiar por um mundo dominado por ciborgs com ritmo cardíaco. Fomos visitar o universo paralelo de Claire Boucher e deixámo‑nos perder na sua irresistível visão de futuro. Montreal, a cantora estreou-se em 2010 com Geidi Primes, seguindo-se Halfaxa, nesse mesmo ano —sem dúvida um dos primeiros registos da vaga witchhouse e lo-fi R&B— e o EP Darkbloom (2011), onde deu os seus primeiros passos como produtora. Aqui juntou o lado
experimental dos seus primeiros trabalhos com uma estética pop hiperfuturista. Um percurso impressionante, se pensarmos que tem apenas 24 anos. No primeiro lançamento pela
uma sonoridade “tudo-em-um”, onde parece atirar todos os sons que gosta ou que consegue fazer com a sua voz para um caldeirão de influências tão vastas como Enya, TLC, Aphex Twin e géneros que orbitam entre o shoegaze, IDM, new age, bubblegum, psicadélico, experimental, industrial e glitch. Por muito que tente descrever com uma lista de adjetivos como etéreo, assombrado, futurista ou escapista, parece que apenas raspo a superfície do que é, na verdade, a sonoridade de Grimes. Um emaranhado de canções gravitacionais sem estrutura intencional, cheio de contradições entre o lado emotivo e robótico, numa constante tensão entre a tecnologia e o carnal. Música electropop com coração pulsante, num caos de ritmos digitais desconstruídos em mil fragmentos que parecem não pertencer a este mundo. Claire Boucher torna a linguagem binária sensual, impregnando cada tema numa aura transcendental de nostalgia para a qual muito contribui o seu falsete de oitavas
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praticamente impossíveis de atingir (não é por acaso que aponta Mariah Carey como ícone), entre o timbre adocicado de menina e o arrepio sombrio e operático de Zola Jesus ou Fever Ray. Um poder vocal hipnótico e engenhosamente texturado por camadas de guinchos ou suspiros, repetidos em loop e soltos em reverberações celestiais, que nos deixam à deriva num estado de prazer semiconsciente. A viagem eclética de Visions oscila entre canções de enorme sensibilidade pop como Skin , versões delirantes e atmosféricas (Be a Body, Nightmusic), ambientes de batalhas travadas por robots espaciais (Eight) ou cheerleaders cósmicas (Circumambient), ou excelentes momentos de euforia dançável como nos contagiantes singles Oblivion e Genesis . Canções talhadas ao pormenor com elementos sonhadores, apontamentos borbulhantes de pop coreana coberta por um manto sombrio inspirado no dubstep de Burial ou nos sintetizadores noturnos dos Depeche Mode. Há uns anos a artista disse em entrevista “I try to imitate things, and then I fail horribly, and then it’s just… something different”. É precisamente este
“algo diferente” que torna o som de Grimes tão único e indecifrável como um encontro imediato de terceiro grau. Uma estranha e intrigante combinação que nos afasta da nossa zona de conforto com a sua sonoridade extraterrestre, perfeita para os amantes da mais bizarra ficção científica.
S o u n ds ta ti on
G e nte de Pal e n q u e
Gen te de Palenque
T — Rui Miguel Abreu
Das gentes de Palenque emerge agora uma história singular onde África, liberdade e futuro são coordenadas possíveis.
A f r o - Colômbia, o r i t mo da h i s t ó r i 48
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S ound s ta ti on
G e nte de Pa l e n q u e
No início do documentário que está na base do mais recente lançamento da Soul Jazz, Jende Ri Palenge (“Gente de Palenque”, na tradução) que surge com selo da Soul Jazz Films, um descendente de escravos, que é parte da mais antiga comunidade de negros livres das Américas refere que está na Colômbia por “acidente”: «devíamos estar no continente negro, em Angola». E começa assim uma história de dor, identidade e ritmo absolutamente singular, um novo exercício de descoberta musical para que a editora
facto um retrato de uma alma particular que, a exemplo do fado, a UNESCO também distinguiu como sendo património imaterial da humanidade. Foi na década de 70 que um fenómeno particular aconteceu em Palenque, quando pequenos sound systems ambulantes se estabeleceram na área ajudando a criar uma fértil cena musical onde África e uma herança latina se cruzavam em idênticas proporções criando uma mistura altamente percussiva e profundamente dançável. À semelhança da cultura de sound systems na Jamaica,
londrina contribui de forma decisiva ao dar à estampa este extraordinário objeto. São 2 cds (ou 5 lps!) mais um dvd e um encarte profusamente ilustrado onde a história de Palenque é iluminada por palavras e ideias. E, sobretudo, por sons. Santiago Posada e Simon Mejia viveram em São Basílio de Palenque durante três meses e filmaram o dia-a-dia destes descendentes de escravos procurando a raiz da sua identidade, construindo de
também em Palenque essa tecnologia ligava afinal as gentes a um sentir ancestral em que a música cumpria sobretudo um papel social. Já no século XXI, a dupla responsável por este documentário instalou na cidade um estúdio onde gravou o material agora apresentado no primeiro cd, música de raiz na verdadeira aceção da palavra assinada por coletivos com nomes como Son Malagana, Son San, Curramberos de Gamero ou Sikito. A parte seguinte da aventura
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passou pela entrega destas gravações a criadores “ocidentais”. Osunlade, Deadbeat, Kalabrese, Matias Aguayo, Subway, Kromestar ou Jay Haze ligam a história de Palenque às modernas encarnações dos sistemas de som, apontam os estímulos rítmicos primevos ao centro das pistas de dança e ao cosmos, carregam nos baixos e extraem poder hipnótico dos padrões repetidos em rituais de celebração com cor local. Trata-se de um encontro de culturas. Ou talvez a expressão mais correta seja até reencontro de culturas, quando o futuro e o presente e o passado se entrelaçam até já não haver distinção possível. Com dinheiros de descendentes de potências coloniais (o fundo do Príncipe Claus da Holanda apoiou o estabelecimento do estúdio na comunidade, para que esta largamente indocumentada tradição possa finalmente ser fixada) recupera-se afinal uma música que resultou de um desejo insuperável de liberdade, uma espécie de grito primal que era, no fundo, um regresso a casa. As pessoas de Palenque podem estar ali por acidente, mas a história fez do acidente uma nova marca de identidade, ao mesmo tempo que manteve vivas as ligações originais ao continente que perderam com os fluxos dessa mesma história. Ainda não se disse, mas já se deve ter percebido: é mais um lançamento extraordinário da incontornável Soul Jazz.
Fa s h i on
rou pa e téni s d a colecção Adidas Or igi nals S S20 1 2
Adidas 40 t h A nnive r s a r y
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A d i d a s 4 0 t h Anniver sar y
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Fa s h i o n
Fa s h i on
rou pa e téni s d a colecção Adidas Or igi nals S S20 1 2
Adidas 40 t h A nnive r s a r y
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Fa s h i o n
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fotografia Filipa Alves www.filipaalves. com
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A d i d a s 4 0 t h Anniver sar y
ass. fotografia Luís Figueiredo ass. produção Ana Oliveira
Agradecimentos: Santa Casa da Misericórdia do Porto, Dry Drill www.drydrill.com, Hélder Couto, Zé Miguel.
styling Nelson Vieira www.nelsonvieira.net
hair stylist Pêlos cabelos com produtos JOICO
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make-up Tinoca
modelos Karacter: Ricardo Barbosa, Pedro Colaço e Gabriela Vilarinho modelo Central: Carla Sofia
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ro upa e té nis da co le cção Adidas Originals S S 20 1 2
Adidas 40 t h A nnive r s a r y
Lx
0 Fa 5.0 ww ct 5 or .2 ad w y, 01 id .my Li s 2 as s bo ur pa ba ce a ns .co ou m nd / s
Fa s h i on
A d i d a s 4 0 th a n n i ve r s a r y
Corria o ano de 1972, quando se deram dois grandes acontecimentos dignos de registo: os Jogos Olímpicos de Munique e o nascimento da Adidas Originals que introduzia um novo logo, o celebre Trefoil que depressa se tornou ícone da cultura urbana. Este ano a Adidas festeja os 40 anos do Trefoil com festival, —Adidas Urban Sound— que une música e arte. Dia 5 de Maio na Lx Factory ver pág.22. rou pa e téni s d a colecção Adidas Or igi nals S S20 1 2
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A d i d a s 4 0 t h Anniver sar y
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Fa s h i o n
ro upa e té nis da co le cção Adidas Originals S S 20 1 2
Q&A
Fabio No v e m b r e
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Him&Her, 2008, para Casamania. material: polyethylene technology: Rapid protyping + Rotomoulding "I've always loved the Panton Chair. I wanted to go further. Only the human body can do that".
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Q& A
Fabio No ve m b r e
F — Pasquale Formisano
N o v e m b r e
Strip, 2011, para Casamania. material: polyethylene technology: Rapid protyping + Rotomoulding
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"A seating born from a surface that gently folds on itself, elegant as a woman skirt slit that opens to new visions. Symmetry is rare in nature and its research moves towards abstraction renouncing to the lively matter. Strip is a bloomed flower that invites you to seat dressing the body on one side and undressing it from the other."
Fabio No ve m b r e
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Fabio Novembre ostenta aquela espetacularidade que todos os grandes designers apresentam num dado momento nas suas carreiras, quando o seu trabalho já não pode ser mais posto em causa e o seu caminho é o da excelência e da admiração. Das peças mais espantosas criadas por este designer, a peça Him & Her concilia um laivo de surrealismo com um rasgo de contemporaneidade, preocupações ambientais e crítica social. Os objetos de Novembre têm tudo e, acima de tudo, sensualidade. Por detrás de peças que aludem ao sensualismo revela-se, no entanto, e em entrevista, um homem espiritual, sério, em busca do que verdadeiramente admira: a sabedoria. www.novembre.it
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Q& A
Fabio No ve m b r e
P: O seu design sensual terá sido um pretexto para suplantar a herança deixada pela expressão industrial, insípida, que invadiu a nossa cultura material durante décadas? Um design que exprime a vida e não a máquina? Pretende, como afirmou à revista Frame, «amar até morrer»? F: A verdade é que há muitas razões para se ser sensual, mas cada um de nós terá que encontrar a sua. Eu costumo dizer que este não é mais o tempo para se ser persuasivo. A única forma para nos ligarmos às pessoas é através da sedução. A sensualidade é uma força primária que se relaciona com os nossos instintos de sobrevivência. Mas, admitamos, valerá a pena sobreviver se não estivermos apaixonados?
Nemo, 2010. material: polyethylene technology: Rapid protyping + Rotomoulding
que servem para caçar mas sou definitivamente aquele que, depois de um ritual de sobrevivência, sente a necessidade de esboçar o acontecimento nas rochas da caverna. P: Em tempos pronunciou, numa entrevista: «O presente, para mim, é qualquer coisa que devemos viver intensamente porque é um dom ser um homem contemporâneo no meu tempo. Eu sou o agora. Agora». Será por essa razão que intervém nos velhos ícones do design? Para lhes dar algo do presente? Alguns dos seus objetos parecem evocar ícones dos anos 60 e 70. F: A evolução não é negar o passado. Sir Isaac Newton disse um dia: «Se consegui ver mais além foi por me debruçar nos ombros dos gi‑ gantes». Acredito que seleciono criteriosamente os meus gigantes e trabalho muito para chegar aos seus ombros. O objetivo mantém-se: tentar ver mais além. P: Alguns dos seus objetos que lembram fortemente os ícones dos anos 70 e da pop art acabam como que “cortados” ao meio. Como, por exemplo, a cadeira Strip. Esta ação transmite uma preocupação em relação à dimensão do espaço, dentro e fora ou externo e interno? F: Logo no instante em que nascemos desenvolvemos um sentido do dentro e do fora. E mesmo a metáfora sexual é sobretudo sobre deixarem-nos entrar ou permanecermos do lado de fora. Os objetos merecem intimidade, uma complementaridade sensual com os nossos corpos. Eles nasceram para isso. P: Essa urgência do dentro e do fora, tem algo a ver com o facto de ser arquiteto? F: Acho que tem a ver com o facto de ser um ser humano. Os nossos antepassados usavam as cavernas como as suas primeiras casas e eram os seus instintos que os puxavam para adaptarem
F— Settimio Benedusi "Every man lies, but give him a mask and he will be sincere." Oscar Wilde
P: Por vezes parece escrever a história do design, não tanto porque usa ostensivamente a tecnologia como primeira preocupação mas porque faz uma abordagem mais conceptual do design, por outras palavras, subvertendo os significados do design. F: Os significados do design… Tenho que admitir que, mesmo depois de tantos anos na área, não consigo reconhecê-los. Vamos colocar as coisas desta forma: imaginemos que estamos a viver na era das cavernas. Bem, não sou propriamente aquele que esculpe as ferramentas
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HP — Special project for Reebok and Wallpaper, 2011. F— Settimio Benedusi
Q&A
Fabio No ve m b r e
Per fare un albero, 2009. material: fiberglass, spray paint car, steel technology: cnc process, molding, steel welding
F— Giuseppe Modeo
"... Spending almost more of our time in motorcars rather than at home is a result of our restless mobility. Trees and motorcars, which increasingly compete with each other for space in our urban landscape, have merged into one single object to become the symbol of a new lifestyle..."
os espaços no seu interior. Quando os primeiros sinais do que hoje dizemos ser arquitetura vieram ao de cima, foram apenas uma consequência das necessidades internas. P: Disse um dia que tinha a visão de que ficar velho, para si, significava «tornar‑se sábio». O design é uma atividade que é habitualmente associada ao novo: novas ideias, novos materiais, novas técnicas, novos designers... Não tem medo de ser superado por estas novas gerações? F: Ainda acredito no que disse. Alguns dos mestres que ficaram são fontes de sabedoria. Se formos pacientes o suficiente para os ouvirmos… Não acho que o problema do novo seja apenas exclusivo do design. É uma contradição espalhada por toda a nossa sociedade. As expectativas de vida aumentaram muito mas, no princípio, o que todos queremos é sangue novo, o que torna as pessoas ansiosas quanto a atingirem os seus objetivos, perdendo a capacidade para saborearem o momento. A vida é um caminho longo e cada fase tem os seus prós e os seus contras. Vamos aprender a viver um dia de cada vez, o mais intensamente possível. Esta é a minha única sugestão. P: Acha que o design poderá tornar‑se, um dia, numa atividade madura? F: O design é uma atitude natural no ser humano. O único ser vivo capaz de alterar o ambiente
segundo as suas necessidades é o homem. Claro que este impulso causou vários problemas ao nosso planeta. A vida consiste numa escolha de prioridades e o design é isso. Um bom designer deveria ser, primeiro que tudo, uma boa pessoa. Os seus desejos de mudança nunca deveriam envolver qualquer modo de prevaricação. P: Minimização, desmaterialização. Não serão ameaças para a cor, para a criatividade, para a verdadeira vida? F: Tenho a noção de que pertenço ao último reduto dos defensores da tridimensionalidade: o design é o último media que nos faz recordar que somos realmente de carne e osso. De que no final de todas as coisas, lá nos encontramos, rodeados de matéria, de pessoas que podemos tocar, abraçar, levar para a cama… P: Como lida, na prática, com todas estas preocupações relacionadas com o ambiente e a progressiva desmaterialização que teremos de encarar, mais dedo ou mais tarde, no futuro? F: O difícil equilíbrio entre os seres humanos e o ambiente é muito bem explicado em The Matrix e pelo personagem Agente Smith, um alienígena. Ele diz-nos: «Tentei classificar a vossa espé‑ cie e cheguei à conclusão que os humanos não são propriamente mamíferos. Qualquer mamí‑ fero neste planeta desenvolve instintivamen‑ te um equilíbrio natural com o ambiente à sua
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volta, mas os humanos não. Pelo contrário, os humanos multiplicam, multiplicam até que to‑ dos os recursos são consumidos. A única forma que os humanos encontram para sobreviverem é espalharem-se e procurarem outros lugares. Há outro organismo no nosso planeta que se‑ gue o mesmo padrão: os vírus. Os seres huma‑ nos são uma doença, um cancro neste planeta. Vocês são a praga, e nós somos a cura». Será que queremos que alguns dos aliens sejam a cura? P: Poderia contar-nos um pouco mais a história da peça Per Fare un Albero e SOS? F: Para fazer uma árvore é preciso que se dê uma explosão muito lenta da semente. Sendo que se trata de um processo lento, nós, pelo contrário,
acrónimo de Sofa Of Solitude é um grito coletivo de ajuda. Neste arquipélago de solidão individual, onde o uso do espaço é um abuso de poder, o Sofa of Solitude é uma solução homeopática, uma gaiola suspensa carregada de pessimismo negro. O grito de SOS e a inabilidade para comunicar é a condição existencial onde cada tentativa para amar resulta fracassada. P: Embora não tivesse nascido com o dom natural para o desenho, as suas formas e cores resultam numa grande fluidez e sensualidade. Que mensagem pretende transmitir aos estudantes de design que também se sentem desconfortáveis no desenho?
S.O.S — Sofa of Solitude, 2003.
F— Settimio Benedusi
"S.O.S. is a collective cry for help. In this archipelago of individual solitude, where the use of space is an abuse of power, Sofa Of Solitude is a homeopathic solution, a gilded cage suspended inside volumes of black pessimism. Inability to communicate is the existential condition on which every attempt to love runs aground."
somos capazes de fazer as coisas acontecer de forma muito rápida. E fizemo-lo, com a câmara de Milão e com a Fiat, inventado uma pequena solução para a necessidade que esta cidade tem de se ver verde e de fazer as pessoas sorrir e pensar. Acredito que as árvores é que são os nossos verdadeiros anjos, e não seres sobrenaturais alados. As árvores, de que tanto dependemos, são companheiras de vida e produzem-nos o oxigénio. O resultado do nosso estado incansável de movimento é passarmos a maior parte do tempo nos nossos carros e cada vez menos nas nossas casas. As árvores e os carros, que cada vez mais competem entre si por um lugar na nossa paisagem urbana, tornaram-se num só objeto e no símbolo de um novo estilo de vida. O SOS,
F: O processo começa com a minha necessidade de contar uma história. Primeiro escrevo um script onde o cliente, a localização e os materiais são os personagens da minha história. A minha principal preocupação é o sentido da história que estou a querer contar, os resultados surgem como consequência. A mensagem que eu poderia transmitir seria: nunca confundir o meio com a mensagem. O meio muda, a mensagem não. P: Consumo, sensualidade, surrealismo, ambiente. Consegue colocar tudo isso num só objeto de design? F: Está, por acaso, a falar na minha peça Him & Her? (sorrisos)
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Re p or ta g e m
Mo da L i s b o a
Foram quatro dias cheios de luz e moda. O Terreiro do Paço encheu-se de curiosos, fotógrafos, bloggers, jornalistas, modelos e designers para
Freedom
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mais uma edição da ModaLisboa. Sob o tema Freedom abriram‑se três salas, criando uma dinâmica de movimentação absolutamente nova.
T — Margarida Brito Paes
F — Sal Nunkachov
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Do primeiro dia vale a pena registar a coleção de Luís Buchinho que, inspirada na calçada portuguesa, contou com uma excelente confeção e coordenados elegantes, sempre fiéis à assinatura do designer. A paleta cromática variou entre os neutros e os azuis (sendo quase sempre utilizado mais do que um painel de cor em cada peça) e o retângulo apareceu como forma base de grande parte do trabalho, tendo sido utilizado em abas de casacos ou calções e em painéis de vários coordenados.
Ricardo Dourado para o mundo dos gangs, onde não faltaram os símbolos “roubados” da Mercedes em chamativos dourados, ou os ténis bufallo tão usados nos anos 90. A ideia de força e de luta surge nos ombros extralargos das camisolas de homem e nos bolsos, que se querem grandes, tanto em calções como em casacos. Acolchoados e napa gravada foram dois dos materiais que marcaram fortemente a coleção, conferindo-lhe uma caráter bastante rebelde.
Os desfiles voltaram a ganhar interesse no terceiro dia com Valentim Quaresma que, nesta edição, se apresentou em desfile. As suas peças únicas, em tons prateados e chumbo, desceram da cabeça até ao peito. Seguiramse Os Burgueses que, inspirados n’O Principezinho, apresentaram uma coleção envolta num espírito country que trouxe um cuidado redobrado com os detalhes. Não faltaram pormenores como fechos, botões de mola, rotação minuciosa de pinças, acabamentos em cabedal e machos nas costas das peças. Maria Gambina, por sua vez, retomou a essência desportiva numa coleção repleta de assimetrias. Outro detalhe interessante foram os estampados utilizados nas peças e os fantásticos sapatos. No quarto dia fomos transportados por
Depois da rebeldia chegou o sabor “Agri… Doce” com Alexandra Moura, numa coleção que trabalhou os contrastes, levando para a mesma passerelle linhas pesadas e estruturadas a par de linhas fluídas, um confronto entre a cidade e o campo, entre o austero e o romântico. Uma viagem que começou feita de pretos, em tecidos com detalhes como nervuras, em peças de linhas longas onde a assimetria e o detalhe foram fundamentais, e seguiu num salto até românticos roseirais, com sedas e transparências, onde o estampado não ganhou apenas a dimensão de padrão mas, também, de aplicação. Assim se escreveu o melhor da ModaLisboa em mais uma edição marcante e inovadora que nos convida a crescer enquanto país criativo.
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T — Paula Melâneo
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Filip Du j a r d i n
Dujardin
e a ficção www.filipdujardin.be
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A r q u itec tura
Filip D u j a r d i n
É um fotógrafo belga que tem desenvolvido projetos de fotografia com forte conexão à cultura arquitetónica e à ficção. Faz parte do conjunto de quatro fotógrafos convidados para uma residência artística em Guimarães, onde retrataram o seu olhar sobre o território do concelho da cidade, no âmbito da Capital Europeia de Cultura 2012.
Dujardin iniciou os seus estudos em história de arte, com especialização em arquitetura, e só mais tarde em fotografia. Os seus primeiros trabalhos de fotografia de arquitetura levaram-no a querer explorar as propriedades escultóricas dos edifícios, na sua capacidade de mutação formal, dentro de limites de credibilidade. Um dos melhores exemplos dessa pesquisa é a série fotográfica Fictions, onde Dujardin constrói ficções a partir de fragmentos de realidade. A sua ferramenta de trabalho é o formato digital e o computador funciona como mesa de ensaio virtual. Hoje usa software 3D para muitos dos seus estudos mas, no início, o método passou pela construção de modelos em cartão e até mesmo com os legos dos seus filhos. Partindo de um conjunto de imagens de edifícios existentes em Gent, a sua cidade natal, nos anos 60 e 70, inicia o processo com a desconstrução das imagens. A manipulação é assim o ponto de partida para a busca. Dujardin disseca corpos e elementos —arquétipos da arquitetura como portas, janelas, telhados, pilares ou varandas— juntando as partes obtidas a outras formas, sobrepondo-as, recompondo volumetrias e texturas diversas, de tijolo, betão ou pedra. Como resultado, obtém novas construções
ou edifícios improváveis: tipologias sem janelas, casas formadas por telhados empilhados, vulgares edifícios de escritórios com consolas gigantescas, fachadas onde se cruzam inúmeras estruturas improváveis. Apesar disso, as imagens refletem uma vivência quotidiana, quase familiar, e os materiais têm um aspeto arcaico, usado. As suas composições lembram alguns desenhos de Escher, são tangentes ao irreal mas mesmo assim reais. O imaginário de Dujardin não atende a constrangimentos técnicos, financeiros ou espaciais. As imagens que cria são descontextualizadas da sua envolvente, como esculturas colocadas em espaços indefinidos. Uma crítica subtil à arquitetura formalista, ao seu papel e integração nos tecidos urbanos, aos valores culturais e sociais por detrás da própria ideia arquitetónica. Dujardi n a s su me esse ponto de vista crítico, questionando “quando é que um edifício pode deixar de
ser um edifício?” e até onde pode chegar a manipulação digital, entre o familiar e o fantástico, num limite de verosimilitude.
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A rq uitec tura
Filip Du j a r d i n
Missão fotográfica: Paisagem Transgénica É uma das exposições atualmente patentes em Guimarães 2012. O projeto, comissariado pelo arquiteto Pedro Bandeira e pelo fotógra-
os quatro fotógrafos estiveram em Guimarães para dar início a esta “missão”. Dujardin fotografou o território, concebendo uma reflexão estética sobre o património e a indústria locais. No conjunto de fotografias da exposição, está uma icónica —e polémica— imagem onde se funde a iconografia mais cliché
fo Paulo Catrica, iniciou com o desafio a quatro fotógrafos para observarem a arquitetura e a paisagem do Vale do Ave, a que o geógra-
do castelo com uma fábrica. Contrariamente aos trabalhos anteriores, aqui Dujardin usou imagens de monumentos, num cruzamento de
fo Álvaro Domingues chama Paisagem Transgénica. Com Filip Dujardin está o sueco J.H. Engström, o italiano Guido Guidi e a norte-americana Katalin Deér. Em 2011,
pedigree entre a construção nobre e as composições de unidades industriais ou estruturas de periferia da cidade. Um mundo que perde a sua suposta “perfeição”.
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Indie L i s b o a
Uma boa razão para sair de casa e ir ao cinema, o IndieLisboa está a chegar e mantém-se fiel a uma máxima: mostrar filmes que o público português ainda não viu, de novos autores e de nomes consagrados, de vários géneros e durações, com temas que vão tornar os dias mais ricos, para miúdos e graúdos. Como é já costume, a programação apresenta dois focos, desta vez inseridos dentro de duas das secções do festival: nas Sessões Especiais, Parabéns, Viennale celebra o 50º aniversário do Festival de Cinema de
Indie Lisboa
diretor da Viennale, estará em Lisboa para apresentar o programa. O bando suíço, na eminência de uma consagração internacional —como comprova o prémio que Ursula Meier acaba de receber da Berlinale por L’Enfant d’En Haut—, apresenta filmes verdadeiramente importantes para um olhar cinematográfico novo, com o apoio da Swiss Films e da Embaixada da Suíça. Do programa constam: Garçon stupide (2004), Comme des voleurs (à l'est) (2006), Un autre homme (2008), Low Cost (2010) e Toulouse (2011), de Lionel Baier, Les épaules solides (2002) e Tous à table (2001), de Ursula Meier, Mon frére se marie (2006), de JeanStéphane Bron, Complices (2009) e Son jour à elle (1998), de Frédéric Mermoud. Será exibido ainda um conjunto de curtas da ECAL que nunca passaram no IndieLisboa selecionadas por Lionel Baier, que tem carta branca do festival. A abrir esta 9ª edição está Dark Horse, de Todd Solondz, na sessão oficial de abertura que acontece no dia 26 de abril, pelas 21h30. Esta é a história de Abe (Justin Bartha), um trintão que ainda vive com os pais, entre os brinquedos de uma juventude que nunca mais acaba. Quando conhece uma rapariga cujo crescimento foi igualmente interrompido (Selma Blair), poderia ter encontrado a sua alma gémea... Mas as coisas não vão ser assim tão simples. Le Skylab, de Julie Delpy, mantém o tom cómico e o universo infantil com um regresso à memória das primeiras vezes, num filme autobiográfico que encerra oficialmente o festival a 5 de maio, às 21h30. Take Shelter, de Jeff Nichols, no Cinema Emergente, foi premiado pela Semana da Crítica e pelo júri FIPRESCI em Cannes, e será o último filme exibido no IndieLisboa, no dia 6, domingo. Também no Cinema Emergente está Michael, de Markus Schleinzer, filme que arrepiou o público e a crítica do festival de Cannes com uma transposição para a ficção da história real e chocante de Natascha Kampusch. Este ano não há Herói Independente mas Werner Herzog, escolhido para a secção em 2009, regressa com
Agora
Viena e apresenta cinco décadas em cinco filmes. Inserida no Cinema Emergente, a seleção Cinema Suíço – Um Bando à Parte mostrará os filmes dos quatro realizadores que constituem o coletivo Bande à part Films: Ursula Meier, Jean-Stéphane Bron, Frédéric Mermoud e Lionel Baier. A relação que o IndieLisboa mantém com o Festival de Cinema de Viena já tem história, sendo que o segundo representa uma fonte de inspiração na seleção de uma programação que atribui a mesma importância e valor a todos os filmes. Neste foco de homenagem, o IndieLisboa escolheu um filme representativo de cada década do festival austríaco. Os anos 60 chegam com Daisies (1966), de Vera Chytilová, e os anos 70 com Cuidado com Essa Puta Sagrada (1971), de Rainer Werner Fassbinder. Dos anos 80 sente-se The Last of England (1988), de Derek Jarman, e a marcar os anos 90 está um filme francês —La terre des âmes errantes (1999), de Rithy Panh. O novo milénio abre com Los Angeles Plays Itself (2006), de Thom Andersen, que dá conta das várias representações desta cidade no cinema. Hans Hurch,
o espectador
está no
centro
Um outro cinema chega à capital, de 26 de abril a 6 de maio. Ideias que não se esgotam, filmes que nascem e criam raízes na mente e na imaginação dos espectadores, uma programação que revisita o passado, valoriza a memória e projeta um futuro absolutamente novo. 68
C i n ema
Ind i e L i s b o a
o documentário Into the Abyss, uma coleção de conversas com o texano Michael Perry, homicida que aguarda a sua vez no corredor da morte, e com os que mais sofreram com os seus crimes. Abel Ferrara é outro realizador já habitual no festival que apresenta, em estreia portuguesa, 4:44 Last Day on Earth, a propósito do fim do mundo, sem Wuthering Heights, absolvição ou fuga possíde Andrea Arnold vel. William Dafoe e Shanyn Leigh são o casal protagonista que aceita o seu destino mas reserva-se o direito de escolher a melhor forma de passar o tempo que ainda lhes resta. Com Wuthering Heights, Andrea Arnold, uma das realizadoras mais ousadas da cinematografia
A música continua a ter um papel de relevo na programação. Na secção IndieMusic acompanhamos nomes como Neil Young, no documentário Neil Young Journeys, ficamos a conhecer melhor a história do rock, punk e não só, nas vozes de Iggy Pop, Jim Morrison, John Lennon, Brian Jones, Jeff Buckley e Frank Zappa, em Wild Thing, as raízes do Punk in Africa, a origem da música "brega" brasileira em Vou Rifar meu Coração e uma avó que gravou mais de 50 álbuns depois dos 70 anos com Grandma Lo-fi. Sigur Rós (Inni), Andrew Bird e TV On The Radio também vão passar nas salas do festival. Há três filmes portugueses que integram a secção musical: Estrada para Mazgani, um road mo‑ vie de Rui Pedro Tendinha que acompanha a tournée “Song of Distance”, R. Stevie Moore —Tape to Disc, um documentário de Nuno Monteiro sobre o músico que auto-editou mais de 400 álbuns, e Meu Caro Amigo Chico, um documentário de Joana Vaz sobre a
4:44 Last Day on Earth, de Abel Ferrara
The Last of England, 1988 de Derek Jarman influência de Chico Buarque nas criações de artistas portugueses como JP Simões, Sérgio Godinho, Manel Cruz e Camané, entre outros.
T — Ágata Carvalho de Pinho
www.indielisboa.com
britânica contemporânea, adapta de forma exemplar e tocante o clássico de Emily Brontë, trabalho que lhe mereceu o prémio para melhor fotografia em Veneza.
Dark Horse, de Todd Solondz
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Co s mo p o l i s
C o s m o p o l i s
compulsivos
Comportamentos
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e impetuosos
Cro n e n berg
T — Ingrid Rodrigues
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C i n ema
Co s m o p o l i s
Desbastando a extensa filmografia (que já se estende ao longo cinco décadas), podemos dizer que é uma das mais particulares no panorama atual da sétima arte, com os seus diálogos densos e narrativas perturbadoras. Segundo as palavras do próprio David Cronenberg, «não existem doenças mentais, ou antes, todo o tipo de doença mental tem uma tradução física» que oscila entre a química e o caos, a volatilidade e instabilidade cintilante, a capacidade de modificar, transformar e transmutar. De exibir a decadência, o parasitismo, a mutilação ou mutação. Cronenberg fabrica um cinema-corpo-de-horror morfológico e venério usando a simulação que se entrelaça entre a destruição alegórica e a corrupção orgânica do corpo e se reinventa e expressa através de movimentos antinaturais em colocações anatomicamente incorretas dos membros. Cria monstros a partir de partes dum corpo, Frankensteins ou Modernos Prometeus do cinema, por assim dizer. Dono de uma cria-
mulher num jogo de sedução imposto que tinha tudo para terminar num confronto desastroso. Em Spider, apresenta um rapaz perturbado que vê o pai matar brutalmente a mãe e a substitui-la por uma prostituta. «Todos os pecados dei‑ xam marca», é frase que perdura até hoje depois de nos ter sido introduzida uma das mais notórias famílias do crime organizado londrino em Eastern Promises, onde as vidas ficam no fio da navalha, numa angustiante cadeia de crimes e enganos. Em 2011, em A Dangerous Method, ensina-nos que o prazer não exclui a dor. Segundo o comunicado da distribuidora, Cosmopolis, que estreia a 31 de maio, «é uma obra frenética e visual, numa unidade de tem‑ po e lugar —24 horas em Nova Iorque» protagonizada por Robert Pattinson na pele de Eric Packer, um bilionário recém-casado de apenas 28 anos que percorre as ruas de Manhattan em busca de um novo penteado, um corte de cabelo perfeito e que, dentro da sua limusine (que
Uma limusine, um tiro na própria mão, surto, traição, um rato gigante andando por Manhattan e a limusine fica parada no trânsito, um caminho diferente, um ataque de anarquistas e o funeral de um rapper. Interessado? Just buy the ticket.
tividade desafiadora e provocatória, as suas personagens-demónio são tormento para os espectadores, forçando-os sempre ao inesperado, ao fora de lugar, a um sentimento de inadequação ao lugar onde se encontram. Procura medos, portanto. Começou a fazê-lo em 1969, em Stereo, removendo cirurgicamente a habilidade de fala a sete jovens, incitando à comunicação telepática para que os pudéssemos observar como ratos de laboratório, induzidos a afrodisíacos e outras drogas, expostos a uma inerente “perversidade de polymorphous”, ou seja, um quadro de antagonismo e violência. Em Videodrome, seduziu plateias com um vibrante pesadelo de ficção científica sobre um mundo onde as imagens de vídeo podem controlar e alterar a vida humana. Induziu calafrios, em meados dos anos 80, com a famosa cena final de Geena Davis a dar a luz em The Fly. Produziu um thriller psicológico sobre a vida bizarra de dois irmãos, Elliot e Beverly, que se apaixonam pela mesma
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serve de plateau para grande parte do filme), se deixa sugar para um labirinto de ações rocambolescas e apostas na bolsa impensadas e díspares. O certo é que, numa espiral de comportamentos compulsivos e impetuosos, o jovem vai perder a sua fortuna e esposa, só não sabemos se consegue o corte de cabelo tão desejado. Produzido pelo português Paulo Branco e filmado em Toronto, com Sarah Gadon a fazer de esposa de Packer, fazem ainda parte do elenco Samantha Morton, Juliette Binoche, Paul Giamatti e Kevin Duran. Cosmopolis é baseado num livro do mesmo nome da autoria de Don DeLillo e é já falado para a lista de nomeados aos Óscares em 2013. E diz-se que a união entre David Cronenberg e Robert Pattinson poderá ser o que o ator precisava para se distanciar da imagem de vampiro moralista que brilha ao sol. A ver.
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T — Diana de Nóbrega
Rick Genest tornou-se um ícone da moda e está atualmente a dominar a indústria. Coberto com tatuagens que o transformam num morto‑vivo, é uma presença excecional no centro das atenções dos media. 72
ao sucesso
Do bizarro
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Mod a
Zo mb i e B o y
Rick Genest é um jovem como qualquer outro. Elegante, educado, carismático e algo introvertido, este canadiano de vinte e seis anos cresceu numa família tradicional em Châteauguay, nos subúrbios de Montreal, na província do Quebec. Introspetivo e com ideias vincadas sobre a vida, beleza e criatividade, Genest já tinha o potencial para se tornar um ícone de moda em 2010, quando recebeu uma mensagem de Nicola Formachetti no Facebook. O estilista pessoal de Lady Gaga e diretor criativo da lendária casa de moda parisiense Thierry Mugler estava fascinado por algumas imagens suas que tinha visto numa revista e, em janeiro de 2011, voou para o Canadá. O objetivo era a produção da campanha Thierry Mugler outono/inverno em que Genest teria um papel principal. Os resultados foram tão surpreendentes que o jovem modelo foi imediatamente convidado a encabeçar a passagem de modelos masculina da marca na Semana da Moda de Paris. Seria a primeira vez que saíria do país e, coincidentemente, que entraria num avião. Na Europa, Rick Genest estabeleceu-se definitivamente no mundo da moda e seria convidado a participar no videoclip de Lady Gaga Born This Way. Depois disso seguiram-se viagens à volta do mundo e participações que lhe valem um currículo brilhante como a sessão fotográfica de Steven Klein para a edição de primavera 2011 da revista Arena Hommes Plus, a colaboração no novo filme de Keanu Reeves, 47 Ronin, a presença na Semana da Moda de Berlim e do Rio de Janeiro, aparições na Vanity Fair, Vogue Homme Japan, Vogue Italia, GQ, HighsNobiety, Neo2, a sessão fotográfica com Terry Richardson, editoriais em muitas outras revistas de moda e até um artigo sobre ele na revista Forbes. Bem, mas talvez estejamos a deixar de lado uma parte importante da história. Rick Genest é mais conhecido como Rico, Zombie ou Zombie Boy. As suas tatuagens, na sua maioria assinadas pelo artista Frank Lewis, são tão extraordinárias que Zombie Boy é inesperadamente belo, um acidental objet d'art. O esqueleto e o cérebro expostos, os insetos, as teias de aranha, o retrato de Grim Reaper e o símbolo biohazard no peito ajudam a unir a sua ilustração anatómica de uma narrativa de morte e decadência. Genest possui dois recordes
do Guinness: um para a quantidade de tatuagens de insetos (176) e outro para ao número de tatuagens de ossos humanos (mais de 139). Do ponto de vista puramente estético, o trabalho é admirável na sua composição geral, estrutura repetitiva coerente e elaborada padronização. O alto contraste da tinta preta contra a sua pele pálida produz resultados óticos excecionais apesar das imagens perturbadoras. Mas Genest e a sua ascensão são mais densos do que a tinta que lhe cobre o corpo. Durante a adolescência, o agora Zombie Boy foi diagnosticado com um tumor cerebral que lhe obrigou a uma espera contínua e instalou a incerteza sobre o que o futuro lhe traria. Durante esta fase, Genest refletiu sobre a vida, a morte e sobre si próprio como uma personalidade individual. Nunca mais foi o mesmo. Aos dezanove anos fazia parte de uma comunidade de “ocupas” entusiastas de punk rock e o seu projeto de tatuar totalmente o seu corpo começava. Na mesma altura, lançava o seu circo de freak shows itinerante, que ainda produz. Numa entrevista recente no projeto Avant-Garde Diaries, Rico The Zombie esclareceu que o seu foco é viver a vida um dia de cada vez. A moda ou as suas performances são apenas duas formas de viver mas não são as únicas: «Eu aprecio tudo o que é diferente e que ajuda as pessoas a abrirem a men‑ te». Consegue-o, sem dúvida. «A beleza está nos olhos de quem vê», afirmou. Este zombie humano desafia-nos a repensar ideais de beleza e reflete, na sua imagem, os tabus mais obscuros da sociedade atual: a morte e a fealdade. Rick Genest assumiu o controlo da sua aparência. Ele é totalmente senhor de si próprio e considera-se perfeito como é, com as escolhas que fez. Talvez essa seja a razão da sua popularidade estrondosa: as suas tatuagens intrigam e inspiram um público fiel representado em mais de 50 000 seguidores no Twitter e 65 grupos ou páginas dedicadas a ele no Facebook. Estes fãs vêem além do visceral e querem saber tudo o que podem sobre o misterioso performer, modelo e ator conhecido como Zombie Boy. Quando lhe perguntam sobre a possibilidade de influenciar novas gerações responde: «Você tem que fazer o que gosta, senão estará a fazer algo que odeia. O meu desejo é que todos façam o que amam» disse, acrescentando rapidamente: «Mas não tome drogas».
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fotografia Pedro janeiro
camisa e calções G-STAR cinto e suspensóriosDIESEL
camisa ACNE na Por Vocação colete ANTONY MORATO
t-shirt FRED PERRY cinto de caça no El Corte Inglés
calções CARHARTT, relógio NIXON, botas FLY LONDON
Camisa em pele e calças DIESEL t-shirt LEVIS
echarpe ANTONY MORATO botas GOLDMUD
chapéu BARBOUR
camisa ADAM KIMMEL na Por Vocação gravata H.E. by MANGO
camisa verde à cintura TOMMY HILFIGER calças com suspensórios DIESEL
óculos de sol THOM BROWNE na André Ópticas cinto de caça no El Corte Inglés chapéu CAMEL ACTIVE
t-shirt OSKLEN
echarpe DECÉNIO
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relógio NIXON
saco DIESEL blazer ACNE na Por Vocação camisa GANT
echarpe BACCUS cinto ao ombro crocodilo PLATADEPALO colete no El Corte Inglés cinto PEPE JEANS calças G-STAR botas PALLADIUM
camisa PEPE JEANS
colete HACKETT
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calรงas ANTONY MORATO
calças e casaco ensebado BARBOUR
óculos BARTON PERREIRA na André Ópticas
fotografia Ma r i a r i ta
make-up&hair joana b
modelo Central Models daniela hanganu
B e a u t y school
out
drop
styling margarida brito paes + sónia jesus
calções Lighting Bolt camisa Wesc
casaco vintage na Vèronique colete Diesel
carteira Pepe Jeans óculos Isson na Óptica do Sacramento
camisa Pepe Jeans
casaco Rvca
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calções Lacoste camisa vintage na Vèronique camisa de ganga Rvca
cinto Caramelo carteira Pepe Jeans anel e relógio Storm sapatos Fly brincos Mango bicicleta Vanmoof nr.6 na Old Scooter
vestido N체mph saia Pepe Jeans Heritage pala Lacoste cinto Gl체en
sapatos Zilian fio Storm fio e pulseira Wesc
rel처gio Komono carteiras Replay porcos Kare
casaco Patrizia Pepe
贸culos Chilli Beans
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brincos Mango
vestido Gant
saia Pepe Jeans
blusão Mango lenço produção
óculos Fendi pistola Kare
calçþes Levis camisa de ganga Wesc
top Nuno Baltazar pulseiras e brincos Mango
anel Plata de Palo sapatos Diesel mala Fred Perry
saia Miss Sixty camisa Pepe Jeans
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colete Replay óculos Isson na Óptica do Sacramento
Parq Here
Fanny & Fr e d
Por ta s do S ol Vis—à—Vis por Fanny & Fred Depois de uns dias de sol de verão, uma descida de temperatura acompanhada de chuva até parecia bem vinda. Mas não, ou pelo menos, para os planos que Fanny e Fred que tinham traçado de jantar no Portas do Sol. Já tinham passa-
de legumes, arroz basmati, chutney papadums (14 euros) para segundo. Já Fred, que tinha pedido salada de rúcula com pesto de pinhões e chevre gratinado (6 euros) e camarão tigre com malagueta (14 euros), comentava a polémica em tor-
do final da tarde, sendo justificaval uma carta para jantares simples e descomprometida, adaptada a um espaço polivalente. Fred viu na possibilidade de aceitar pedidos até à meia noite uma vantagem, dada a escassa oferta da cidade, e razão
Salada de magret de pato com figos
do excelentes tardes na esplanada e, da última vez que ali se esticaram numa tarde de preguiça, foram surpreendidos com uma carta de jantar que lhes despertou a curiosidade. Por isso, ali estavam, a atravessar as portas de correr de vidro que se encontravam semifechadas dada a ventania. Sem uma única vivalma na esplana, dirigiram-se a uma mesa junto a um painel de pinho de cor clara que aquece um interior de betão à vista. Fanny adorou a arquitetura do espaço e, mesmo não se lembrando de momento do nome do arquiteto responsável pelo espaço, não se absteve de falar do excelente nível da arquitetura portuguesa, enquanto escolhia salada de magret de pato com figos (7 euros) para entrada e caril
no da Parque Escolar e tinha pena que a qualidade do ensino não podesse passar também por candeeiros do Siza Vieira. É sabido que, mesmo quem mora num bairro social construído pelo Siza, se sente dignificado e valorizado nesse património. Mas não havia nada que proporcione mais prazer do que um prato simples bem executado, comentava Fred no final da sua salada de rúcula. Fanny voltou a encontrar esse mesmo prazer no caril de legumes, o que os levou, posteriormente, a uma longa conversa com o diretor da casa, Miguel Cristo, que explicou as razões e o formato da carta que, nos seus dois meses, ainda estava à experiência. Até então, tinham uma carta de snacks que se mostrava insuficiente a partir
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provável de voltar. Fanny ainda pediu um bolo de chocolate (3,5 euros) muito cremoso que combinava bem com o frio da noite, o suficiente para se sentir reconfortada. Saíram, sem antes avistar o extenso Mar da Palha comprovando, em silêncio, pela milésima vez, a magia de Lisboa.
Portas do Sol Largo das Portas do Sol Lisboa T.: 218 851 299
Parq Here
Rua do Ouro, 277 Lisboa
é precisamente um jardim vertical cheio de plantas naturais que reveste uma das paredes, permitindo um permanente contacto com o
Merrel Flagship Store
A Merrell abriu a sua primeira flagship store em Portugal que reflete o espírito aventureiro da marca. Situada na Rua do Ouro, muito
P l a ce s
, nomeadamente dos expositoes, são na cor natural da madeira ou reciclados, como é o caso do balcão de atendimento que é uma antiga mesa de marceneiro. Além do calçado, que é o elemento forte da marca, esta flagship store leva-nos ao universo da Merrell que, atualmente, oferece uma linha de roupa completa, assim como mochilas e outros acessórios sempre com a mesma filosofia de proporcionar um material resistente, simples e desportivo para quem gosta de atividades outdoor. A loja têm ainda acesso a um serviço cafetaria instalado no primeiro andar que funciona de forma independente. O Grémio do Carmo mantém o espírito da Merrell, proporcionando bebidas e refeições ligeiras com opções orgânicas e biológicas de qualidade.
Merrell Flagship Store
perto do Rossio, em Lisboa, oferece 54 m2 dedicados à marca de outdoor mais conhecida do mundo, criando um ambiente onde não faltam apelos à natureza e as preocupações ambientalistas que os fãs da Merrell gostam de partilhar. Um dos elementos centrais
cheiro a terra, perfeito para quem olha um produto Merrell. Depois, nada como sentar numa rocha , que na verdade é um pufe criado pelo artista plástico João Parrinha, para nos sentirmos numa espécie de oásis em pleno centro urbano. Todos os restantes materiais da loja
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T — Margarida Brito Paes
2008
201?
w w w.p a r q m a g .co m Desde 2008
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Parq Here
P l a ce s T — Francisco Vaz Fernandes
L uí s B u c h i n h o Luís Buchinho abre a sua segunda loja, desta vez na Foz do Douro, mantendo a sua primeira na zona da Baixa. Para o estilista, são os públicos diferentes que justificam este segunda espaço comercial. Situado na Esplanada do Castelo, com cerca de 50 m2, o novo espaço foi concebido pelo artista plástico Armando Ferraz que procurou criar um espaço aparentemente minimal mas rico em detalhes que passam por texturas, cores e materiais, numa clara interpretação do espírito das coleções de Luís Buchinho. À entrada, o cliente circula no interior de uma moldura preta que é, simultaneamente, a montra e só depois passa para a zona da loja, predominantemente cinza. A questão das cores é uma descoberta, como provam o azulão dos provadores ou a zona do
Luís Buchinho Esplanada do Castelo, 113 Foz do Douro T.: 226 173 002
balcão em cobre a contrastar com o azul claro do fundo. Outra solução curiosa prende-se com a questão da iluminação. Tanto a iluminação de leds a marcar as arestas principais do espaço como o alinhamento de furos negros que transmite um luz indireta, marcam o ritmo e sublinham o efeito de caixa e de espaço cénico, iniciado pela moldura negra montra.
S t i v a l i No dia 21 de março abriu um novo espaço na Avenida da Liberdade. A STIVALI deixou a sua antiga morada e está agora no número 38B daquela que é a Avenida mais sofisticada de Portugal. Há cinco anos que Manuel Casal e Eckhard Frank desejavam ter um espaço único e assim que a oportunidade surgiu aproveitaram-na, até porque, segundo os próprios, este era o “momento ideal para a mudança”. Com esta nova loja, a cliente STIVALI passou a beneficiar não só de uma maior área de atendimento, com mais zonas de exposição e maior privacidade, como também de uma melhor funcionalidade do espaço.
Quanto a novidades, o destaque vai para o corner Chanel —exclusivo em Portugal— que, pela primeira vez, incorpora móveis desenhados pelo arquiteto Peter Marino, responsável pela imagem Chanel, bem como uma montra exclusiva com o layout da marca.
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Hoje com 32 pessoas no grupo, a STIVALI continua a distinguir-se pela qualidade das peças e pelo atendimento personalizado oferecido pelas suas personal stylists, funcionárias de grande confiança das clientes. Conhecidos por terem sido pioneiros na introdução de marcas em Portugal como Gucci ou Prada, a STIVALI é um espaço único no país que procura estar em permanente inovação e atualização, oferecendo produtos de grande qualidade, sempre na vanguarda da moda.
T — Maria São Miguel
Pa rq Here
P l a ce s
FonteCruz Hotel Situado em plena Av. da Liberdade, o novo Fontecruz Hotel propõe o conforto de um cinco estrelas num ambiente de design com uma certa informalidade que os espanhóis sabem dar aos seus projetos. O grupo, com seis unidades e uma experiência de oito anos, concretiza um dos seus amores, instalar uma unidade
espaço aberto à cidade que oferece um champanhe bar e uma cafetaria com acesso a uma esplanda ajardinada, onde são servidas refeições à base de tapas. Na verdade, são versões gourmet da comida tradicional espanhola como, por ser exemplo, um gaspacho servido com pequena cama de cebola
Praline A viver em Lisboa desde 2006, Béatrice Dupasquier é a respeitada pasteleira francesa que trouxe para Lisboa a doçaria do seu país. Atraídos pelo cheiro a crois‑ sants acabados de sair do forno, os clientes facilmente se deixam seduzir pela pastelaria Praline, situada na Rua dos Poços Negros. Foi com o seu pai que Béatrice começou a sentir o fascínio pela cozinha, que lhe transmitiu “o orgulho pela cul‑ tura gastronómica muito rica da nos‑ sa região [Borgonha]. Quando vim a Lisboa fiquei apaixonada pela cidade, a luz, os azulejos, a cultura, o povo… Já guardei as malas”, disse Béatrice
à PARQ. Com uma produção artesanal, neste espaço o cliente tem à disposição doces que vão desde o mil-folhas ao Paris-Brest, SaintHonoré, Charlottes, Opéra ou mesmo o Amazonia. O espaço ideal para todos os que queiram provar um pouco de França. caramelizada ou uma sopa de cenoura com sabor a coco com quadrados de manga e mini croûtons. Uma das zonas mais agradaveis é esplanada traseira, que bem poderia converter-se na jóia da coroa. Se fosse em Madrid, onde as esplanadas dos hotéis são atualmente um dos pontos altos da vida social, seria certamente um dos hot spots deste verão. T — Maria São Miguel
hoteleira em Lisboa dando assim o primeiro passo para a sua internacionalização. Muito longe do minimalismo impessoal dos grandes hotéis, este projeto responde a imagem de um boutique hotel, cheio de detalhes na decoração e cada quarto é único. A parte social no piso térreo é bastante ampla com uma receção, até, discreta, um espaço
T — Marta Ferreira F — Ricardo Teixeira
FonteCruz Hotel
Praline
Av. da Liberdade, 138-142 Lisboa
R. do Poço dos Negros, 51 Lisboa
T.: 210 410 000
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www.pastelariafrancesa.com
Parq Here
S
Be b i d a s
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v
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www.3cervejeiros.pt
Alberto Abreu, Arménio Martins e Pedro Sousa são os três mosqueteiros da cerveja artesanal portuguesa que, dando os primeiros passos em direcção o sucesso, precisam apenas de aumentar a produção para um mercado que esgota rapidamente os seus stocks. Produzida no Porto, a Sovina lançou inicialmente dois tipos de
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a
T — Maria São Miguel
cerveja: a Munich Helles (alc. 4,9% vol.) e a Amber (alc. 5,6% vol.). Neste momento junta ao seu portfolio a Indian Pale Ale (alc. 5,4% vol.) e a Dry Stout (alc. 4,9% vol.) de cor negra, que podem ser vendidas em garrafas de 33cl ou 75cl mas, também, em barris de 30l ou 50l. No Natal lançaram uma edição especial, a Bock (alc. 7,5%vol), uma cerveja
mais alcoólica e adaptada ao gosto comum que, tal como as outras, é uma cerveja 100% malte, não filtrada e sem corantes nem conservantes. Todo o gás é produzido naturalmente pela levedura. Com um design muito apelativo, a Sovina é, certamente, uma cerveja a jogar noutro patamar, necessária para quem gosta de ter outras opções.
Q uin ta do Côa 20 0 8 Não sigo como um ditado as críticas de vinhos que leio, nem tão pouco os vinhos mais pontuados pela Wine Spectator, até porque depois de atribuírem a sua classificação a determinados vinhos, os preços são demasiadamente inflacionados para que os possa comprar. Contudo, há algumas exceções, como é o caso deste Quinta do Côa Tinto 2008. Proveniente da Região Demarcada do Douro, mais precisamente do Vale do Côa, este vinho traz ao peito duas condecorações —91 pontos Wine Spectator 2009, 89 pontos Wine Spectator 2010— atribuições com as quais concordo plenamente. O Quinta do Côa 2008 é um vinho com um perfil gastronómico, robusto, encorpado que teve origem nas castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz que, na Quinta do Côa,
são trabalhadas de acordo com o sistema de agricultura biológica. A colheita de 2008 deu a este vinho uma cor violeta muito carregada e um nariz perfumado com aromas de groselha, amoras, café e chocolate. Na boca é um vinho aveludado, com notas de frutas vermelhas maduras e notas de barricas bem conjugadas, com um longo e persistente final de boca. Tudo isto faz deste Quinta do Côa 2008 uma boa aposta pelo valor de 9 euros.
T — Romeu Bastos
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Pa rq Here
A VIDA PORTUGUESA Rua Anchieta, 11 — Lisboa T. 213 465 073 ADIDAS T. 214 424 400 www.adidas.com/pt AFOREST DESIGN T.966 892 965 www.aforest-design.com ANA SALAZAR Rua Do Carmo, 87 — Lisboa T. 213 472 289 ANDRÉ ÓPTICAS Av. Da Liberdade, 136 A Lisboa Telf. 213 261 500
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D iap o s i t i vo
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The Evil
Torcida —a opulenta e jovem Mariquinhas do Bairro da Boavista— personalidade vincada, buço afiado, chinela no pé e tantas vezes, por “dá cá aquela palha”, de mão na anca. A velha Mariquinhas era uma história completamente diferente. Maleitas a que os médicos respondiam com placebos e bicos malditos de papagaio transformaram-na numa espécie de mascote do Bairro. Figura dócil, sozinha numa humilde casinha. Se em nova diziam, à boca pequena, ter sido abandonada pelo filho Chico devido ao seu caráter inflexível e conflituoso, hoje, coitadinha, defendida pela vizinhança, todos se referem a ela como vítima de ingratidão pelo ser que um dia colocou no mundo. O Engenheiro Francisco abriu o portão da sua moradia em Cascais, já pronto a soltar os cães e assim afugentar, o que lhe pareceu uma pedinte. Espantou-se ao reconhecer, Júlia Má, mulher do Bairro onde nascera. Inconfundível no formato
Machine
das sobrancelhas, ninguém esquecia o olhar velhaco da mais caridosa alma de Lisboa e arredores, tão injusta e malevolamente alcunhada. A velha Mariquinhas recebe uma maquineta a que os putos do Bairro chamam de robô. Rumba, a nova tecnologia na limpeza do lar! Afinal Chico dera ouvidos à pobre Júlia Má, mesmo fechando-lhe rudemente o portão na cara. Rumba aspirava as velhas tabuinhas da casa da Mariquinhas. Tardes infindáveis, a manta nos joelhos, a Fátima Lopes na televisão e a Rumba laburando sem parar.
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Quem diria, tal como num fado, que a fatalidade estaria à espreita. Error... Error... dizia Rumba atordoada, demente, como num último suspiro ...Error... Error. Mariquinhas, em pânico, julgando perder a sua única companhia, sucumbiu ali mesmo. Seria encontrada pouco tempo depois abraçada ao robô, que insistia ...Error... Error... Rumba não deixara Mariquinhas, precisava apenas de escovas novas. Nunca ficaram esclarecidas as verdadeiras intenções do Engenheiro Francisco, enviando complexa geringonça à velha mãe. O cadáver ainda quente e já em casa da Mariquinhas se montava um leilão bem popular. O espelho, a colcha, o cofre forte, o fogão e todo o resto desapareceram num instante. E, por incrível que pareça, até das próprias janelas lhe arremataram as tabuinhas.
(Crónica inspirada no fado O leilão da Mariquinhas, de Alfredo Marceneiro)