PARQ issue 35

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N. 35. Ano V. Setembro 2012.

PARq magazine

Director

TEXTOS

editorial

Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com

Ágata C. de Pinho Anabela Oliveira André Godinho Carla Carbone Cláudia Gavinho Diana de Nóbrega Davide Pinheiro Francisco Vaz Fernandes Inês Monteiro Ingrid Rodrigues José Miguel Bronze José Reis Júlio Dolbeth Margarida Brito Paes Maria João Teixeira Maria São Miguel Marta Sousa Ferreira Pedro Dourado Pedro Lima Ricco Godinho Roger Winstanley Romeu Bastos Rui Miguel Abreu

Talvez uma das partes positivas desta crise seja a tomada de consciência de que temos de estar mais atentos ao mundo em nosso redor. Não apenas em relação ao que se passa na nossa cidade ou no nosso país, mas mais além. Contudo, na maior parte das vezes, um além não passa de uma outra capital europeia. Nada pior do que a falta de horizontes. Hoje, a curiosidade empurrra-nos para muito mais longe e para países sobre os quais pouco sabemos. Para a nossa geração, sonhar é um processo que se impõe. Apesar do tema da imigração aparecer hoje na nossa sociedade como algo fraturante, entre as elites é, há alguns anos, uma perspetiva de futuro. Optar por estudar lá fora com o objetivo de se estar mais bem preparado e conseguir as melhores ofertas de trabalho a nivel internacional é, já, uma regra. Felizmente ou infelizmente, a mobilidade é uma condição da modernidade, estejamos ou não adaptados. E, felizmente, somos uma geração muito mais adaptada do que as antecessoras e, como tal, preparada para as grandes conquistas.

editor Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com coordenação editorial e moda Margarida Brito Paes margarida@parqmag.com Ricco Godinho ricco@parqmag.com Direcção de Arte Valdemar Lamego v@k-u-n-g.com www.k-u-n-g.com Publicidade Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com periocidade: Mensal Depósito legal: 272758/08 Registo ERC: 125392 Edição Conforto Moderno Uni, Lda. NIF: 508 399 289 PARQ Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000-251 Lisboa t. 00351.218 473 379 Impressão TEXTYPE 20.000 exemplares distribuição Conforto Moderno Uni, Lda. A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq.Todos os direitos reservados. Copyright © 2008— —2012 PARQ.

FOTOS Bernardo Motta Carla Pires Frederico Teles Filipe Alves Javier Domenech Le Joy Mafalda Silva Maria Meyer Nian Canard Silvia Lopes

Ilustração

Nesta edição, espreitamos com curiosidade a China, o seu mercado de consumo e o mercado editorial. Formos surpreendidos com um ritmo acelerado que dita que revistas de moda sejam impressas quinzenalmente. Temos ainda um artigo sobre a América Latina, vista a partir da perspetiva dos seus fotógrafos. Em destaque, a entrevista aos realizadores João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, que se prestaram a uma fantástica produção fotográfica a acompanhar uma entrevista sobre o seu último filme, “A Última Vez Que Vi Macau”.

Bráulio Amado

por Francisco Vaz Fernandes

STYLING Collec7ive Margarida Brito Paes Ricco Godinho Tiago Ferreira Wilma Byrd

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PARq magazine

Real people 04 — DMA 06 — Paulo Pascoal 08 — Salomé Lamas you must 10 — 13 You Must Shop 14 — 43 Hélio Oiticica Horácio Frutoso

N. 35. Ano V. Setembro 2012.

soundstation 44 — Orlando Higginbottom 46 — Salto 48 — Tom Moutton Central PArq 50 — 57 Entrevista João Pedro Rodrigues & João Rui Guerra da Mata 58 — 61 Fotografia Esquizofrenia Tropical

62 — 65 Trabalho Office Sweet Office 66 — 67 Cinema The Future 68 — 69 Design Remy Tejo & René Veenhuizen 70 — 71 Moda Winter Trends 72 — 73 Moda Beijing Calling Moda 74 — 83 Underwater

Rita Gomes

84 — 91 Let's get physical

Damien Hirst

Parq Here

Jack Philips

92 — 96

Oslo, 31 de Agosto

97— Guia de Compras 98— Viagem ao Fim por Bráulio Amado

F — Nian canard S — tiago ferreira ass. S — João Almeida e Carolina Mencia Make-up — Bia Verri Hair — André Neto Oliveira para MetroStudios

M — andré fernandes (Central Models) look completo Adidas Originals

Assinatura anual 12€.

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Real People

Vítor d'Andrade e João Villas-Boas compõem a dupla de DJ’s D.M.A. (Disco My Ass), atividade que têm desenvolvido de forma despretensiosa em paralelo com a sua carreira de atores. Em cada noite que atuam, vestem uma personagem cujo figurino exige grande cuidado. O sucesso bateu‑lhes a porta com uma música soft e festiva que hoje se encontra nos grandes sucessos nacionais.

Como surgiu a ideia de aparecerem como uma dupla de DJ’s?

No verão do ano passado fizemos uma viagem de autocaravana pelo Sul da Península Ibérica, durante mais ou menos um mês e

meio. Nessa viagem, enquanto um conduzia, o outro punha música. Começámos a "brincar" com a ideia de sermos DJ's ambulantes. Em janeiro deste ano, fomos convidados para tocar na festa de Carnaval da ILGA. Criámos um nome para a nossa dupla e, pelos vistos, a coisa correu bem. A partir daí, começámos a ser convidados para tocar em vários sítios e não temos parado.

Já tinham trabalhado juntos?

Sim, no espetáculo A Cacatua Verde, de Arthur Schnitzler, apresentado no TNDM II pelo Teatro da Cornucópia, no início de 2011. Também fizemos algumas performances juntos (para o

M. coletivo Mente e no Festival Alcântara) e temos um projeto mais ambicioso em fase de pré-produção.

E qual é estilo de música das vossas noites?

Não temos um estilo definido. Somos mais pós‑modernos do que kitsch. Tanto podemos saltar de uma música popular portuguesa para eletrónica mais recente como de um euro-disco dos anos 80 para Pixies. O nosso único lema

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M o c s Di

ss A y

é tocarmos aquilo de que realmente gostamos. Se ser um DJ popular é pôr a malta a dançar, sim, gostamos e queremos ser populares.

Por que razão procuram ter uma certa semelhança física?

A questão da semelhança física deve-se mais a facto de ambos termos barba. Vistas bem as coisas, um de nós é mais para o ruivo e o outro mais moreno. Desde a primeira vez que tocámos que nos vestimos de maneira idêntica (afinal, somos uma DUPLA de DJ's). A partir daí, decidimos criar sempre uma espécie de "uniforme" diferente para cada ocasião, o que nos tem dado algum trabalho. Mas, ao mesmo tempo, faz parte da nossa verdadeira profissão (a de atores). Dá‑nos muito gozo inventar roupas novas e fazer cartazes novos para cada festa.

Porquê o nome D.M.A. (disco my ass)?

O nome D.M.A. (Disco My Ass) surgiu depois de um brain-storm de horas! A verdade é que dá para imensas leituras... Deixamos isso ao critério de cada um. Não temos nada contra a música disco, pelo contrário.

A. texto — Maria São Miguel

foto — Filipe Alves (www.silverbox.pt)

D.

D.M.A.



styling — Ricco Godinho. Paulo veste coordenado completo da Lacoste L!ve

o Voo Direto, com atores portugueses e angolanos. É preciso que haja mais projetos assim.

os Estados Unidos.

Olhando para o teu exemplo até era de esperar que houvesse mais cooperação entre os dois países. Na tua

Paulo Pascoal começou a sua carreira como ator aos 15 anos, participando a série espanhola Al Salir de Clase. Contudo, seria em Nova Iorque, onde estudou no The Juilliard School, que diversas possibilidades iriam surgir. Foi modelo na campanha da Swatch Skin e bailarino em vídeo clips para Janet Jackson, Mariah Carey, Infernal, Bruce Cockburn ou Kardinal Offishal, entre outros... Uma experiência que o encorajou a lançar‑se em Angola, com o seu primeiro álbum pop, todo em inglês. Porém, é através da representação que continuamos a vê-lo nos écrans.

Trocar de registo faz parte desta indústria, isto é, é importante saber como estimular o público e reinventarmonos, seja pela parte visual ou pela nossa colaboração com o talento. Em cada projeto que faço, gosto de criar um personagem exclusivo, pois isso ajuda‑me a desempenhar melhor o papel e a deixálo para trás quando já não o preciso.

Vamos ver-te brevemente na série “Depois do Adeus”. Como foi a experiência?

És dos poucos atores a conseguir trabalhar em Angola e Portugal. Senteste, por isso, mais internacional?

Considerando o difícil que é poder sustentar uma carreira em países diferentes, sim, sinto-me um privilegiado porque, no fundo, sou de Angola e de Portugal. Nunca residi em Portugal mais de 6 anos e, por isso, não tenho a nacionalidade portuguesa, mas nasci em Lisboa, o meu cordão umbilical ficou aqui e sinto-me

Sendo uma pessoa muito polivalente, também já estiveste na área da música, onde o aspecto visual era um dos garantes do sucesso. Como geres essa parte?

ligado por vínculos afetivos e culturais. Angola é a terra das minhas origens, onde comecei a dizer as primeiras palavras e a dar os primeiros passos, a terra dos meus pais e minha, onde sou cidadão nacional, apesar de já não viver em Angola há mais de 18 anos. Vivi entre Portugal, Espanha, Canadá e

perspetiva, quais são as principais barreiras? Acho que essas barreiras começam finalmente a serem rompidas! Há cada vez mais produções angolanas feitas em Portugal, assim como já houve portuguesas feitas em Angola. Há dois anos atrás fiz parte da primeira coprodução entre a Semba e a SP, a série

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Vai estrear brevemente na RTP e faço o papel de Filipe Perdigão, um jovem cabo-verdiano que vive em Lisboa e trabalha no Café Kwanza. É um “engatatão”, inconsequente e preguiçoso. A trama anda à volta do que era ser um imigrante africano em Portugal em 1975. O projeto é produzido pelo Nuno Marvão para SP produções, dirigido e realizado pelo Sérgio Graciano e pela Patrícia Sequeira! Foi maravilhoso trabalhar com tanto talento português, aprendi imenso e espero que venham muitos mais depois deste!

texto — Francisco Vaz Fernandes

Paulo Pascoal

foto — Filipe Alves (www.silverbox.pt)

Real People



Salomé Lamas que se apropria tanto das ferramentas dum como do outro. E porque já expus num contexto de white cube numa ou noutra circunstância.

Porquê a ousadia de te colocares em posições de risco, nos teus filmes?

Normalmente é mais difícil convencer alguém a fazer

é complicado). Esta é a minha visão do documentário, algo em que procuro um embate com a realidade. Por vezes, começa com uma imagem, com o desejo de habitar uma realidade que me é desconfortável ou desconhecida. O processo tem muito a ver com várias coisas:

Procuro situações que eu não possa controlar, em que possa existir algo maior que eu. E de qualquer forma, o filme acaba por dizer tanto sobre ti, como sobre o universo sobre o qual te debruças. Voltando ao risco, este está relacionado com uma ideia de pulso (e não com um exploração de limites pessoal, pois penso que essas questões pessoais se devem explorar na vida não no cinema).

Salomé Lamas é uma realizadora dividida entre o documentário e a vídeo arte. Este ano, esteve presente em dois festivais de onde trouxe 2 prémios: Novo Talento Fnac para Encounters With Landscape (3X), no IndieLisboa 12 e Melhor Documentário para A Comunidade, no Curtas Vila do Conde.

Muitas pessoas vêem‑te como profissional das artes plásticas, quando, na verdade, fazes filmes. Como explicas isto?

Não faço a mínima ideia. Acabei por fazer sempre um trabalho de charneira entre as artes plásticas e o cinema, um trabalho que tenta explorar uma linguagem intermédia,

para o ocupado). Até que o comum se torne “extraordinário”, até que o acidente (por vezes um acidente literal) tenha lugar, ou que o simples ato intrusivo provoque algo em ti ou na realidade que procuras traduzir.

Mas no momento que estavas a cair da montanha, pensaste: não volto a repetir?

aquelas coisas (com meios de produção “familiares”). Há situações em que tens de ser tu, porque te diz respeito a ti, porque estás a tentar provocar algo e a pensá-lo à medida que acontece. De qualquer forma, o risco é medido (podes torcer o pescoço, partir qualquer coisa, mas sobrevives, não

—a— A escolha de um território para habitar que seja fértil; —b— A duração da ocupação desse espaço ao qual não pertences, e o embate gerado por essa presença (que é tão estranha para o ocupante como

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Não. Foi uma situação terrível mas naquele momento pensei: os bombeiros hão-de me vir buscar! Claro que não voltei lá a seguir, mas tentei incorporar esse acidente no filme. Eu tenho uma vida muito certinha, porque não fazer assim umas coisas? Como já referi o risco é medido...

texto — André Godinho

foto — Filipe Alves (www.silverbox.pt)

Real People


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You Must Shopping sapatos em pele encanastrada LOUIS VUITTON, bengala Antiquário Ianuarius, calças em tartan GANT • colete FRED PERRY, boina HACKETT, galochas HAVAIANAS • camisola

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You Must Shopping botins FLY LONDON, cremes de rosto CAUDALIE, pulseiras MANGO, blusão tartan LACOSTE L!VE • chapéu bowler e lipgloss H&M,

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You Must

Arte

Hélio Oiticica

No contexto do ano do (1) “Museu é o mundo”. Brasil em Portugal, cheO objetivismo e a ga ao Museu Berardo relação do artista com uma exposição retroso real estabelece ponpetiva com assinatutexto — Francisco Vaz Fernandes tes com as vanguarra de Hélio Oiticica, das, mas, no entanto, (1938-1980) figura chaao contrário de artistas ve na vanguarda brasileira dos anos 70. O artis- minimalistas, como Carl André ou Donald ta, que morreu com apenas 43 anos, conheceu Judd, que tinham uma perspetiva muito formal um reposicionamento internacional do objeto de arte, o artista brasileiro aquando da realização da sua primantém uma organicidade que admeira retrospetiva em França (1992), vém da sua observação das favelas. por Catherine David, diretora do Mesmo que a escultura de Carl Jeu de Peume e, posteriormente, Andre possa ser atravessada, ainda curadora da Documenta X. A mosassim continha a ser um objeto contra seguiu para Roterdão, Sevilha, figurado num espaço enquanto a séMineapolis, Rio de Janeiro e, finalrie de peças designadas Penetráveis mente, Lisboa, onde foi acolhida pela (1967) por Oiticica, são espaços haFundação Calouste Gulbenkian. bitados com materiais diversos, desAssim, para o público portuconexos, sem obedecer a qualquer guês, este será o segundo encontro tentativa de estetização, tal como com Oiticica, mas agora sem o exoobservava nas favelas onde todas tismo do desconhecido que a sua obra as construções básicas obedecem a paradoxal levantava, à data. Hoje é uma ordem prática de sobrevivência. um artista estudado com dimenTambém em Bólides (1965), são internacional que sobrevive Hélio Oiticica, Miro de um conjunto de peças de pequeaos discursos de uma "Arte rena dimensão, podemos ver agloMangueira com bandeira, lacional", que nessa época des- 1964. Foto Desdemone Bardin. merações de materiais enconpontavam em França, a partir trados ocasionalmente, onde se repete, mais uma vez, a observação de objetos realizados nas favelas a partir de dejetos. Foi ainda através observação de rituais do animismo africano, praticados nas favelas, que Oiticia contactou com a dança e se serviu dela para criar uma das obras mais originais, os Parangolès (1964), obra constituída por panejamentos ou telas animadas por um corpo que as veste. Por esse processo a obra ganha uma dimensão desmaterial que, nas palavras de Oiticica, “deriva de uma desinibição intelectual e de um processo de livre expressão". Desta forma, o artista investiu numa ritualiTropicália, PN2 e PN3, zação da sua obra cuja dimensão dionísia demonstra 1967. (Penetraveis) ser absolutamente contrária à opção apolínea do minimalismo americano, à época tão preeminente. de obras de Deleuze e Guatarri, onde, por vezes, o trabalho de Oiticica parecia assentar como uma luva. O artista começou a sua carreira integrado no movimento neo-concreto brasileiro através do questionamento do ilusionismo da representação na pintura. Cedo explorou o quadro enquanto objecto, indo até aos seus limites, passando para o seu reverso, até criar composições em que este passava a fazer parte de uma construção habitável, nomeadamente em Grande Núcleo (196066). Esta atitude enquadra-se numa contestação ao estatuto das obras de arte e aos circuitos da sua consagração. Desta forma, a contestação, as políticas Exposição dos Parangolés: Capa 21 museológicas e a sala branca a que as obras esXoxoba, Capa 5 Mangue, Capa 18 Nirvana, tavam confinadas, levariam Oiticia a dizer que o Capa 16 Guevarcália. Foto MHKA.

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EROICA FALL WINTER 2012

Este Outono os amantes da bicicleta vão poder acompanhar a nova temporada da Le Coq Sportif durante a corrida ciclo-turística italiana, L’Eroica. Depois da incrível viagem pelo Tour de França em bicicleta, vestido pela marca francesa, chegou a vez da Itália receber os motivados corredores amadores.

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Arte

You Must

Horácio Frutuoso

Foi na Galeria Tous Tous, (2) um puzzle onde no esna cidade do Porto, que sencial se constrói uma Horácio Frutuoso atmosfera fantasmaapresentou o seu congórica. O virtuosismo do junto de pinturas, detexto — Francisco Vaz Fernandes artista, tanto no domísenhos e objetos, renio do desenho como da pintura, com referênferentes ao universo marítimo. O projecto incluiu ainda uma perfor- cias a cânones antigos, ajuda a construir um desmance realizada no dia da inauguração, intitula- compromisso com o presente, refugiando‑se na da A Mocidade Heróica e Destemida, que consis- nostalgia de um eldorado não identificado. É interessante que tia num tableau vivant onde um marinheiro todos os elementos, era tatuado ao mesmo apesar das suas relações tempo que ecoava, na com o presente, remesala, um mix do hino retem, no essencial, para publicano e do hino moo passado, fazendo até nárquico português, inreferências a valores natercalados com músicas cionais cujo o sentido é, de intervenção da época na verdade, difuso. Ou do 25 de Abril e excertos seja, sem excesso interde cartas enviadas pelos pretativo, esta exposisoldados da guerra coção pode ser compreendida como um hino a lonial às suas famílias. Pátria Amada, óleo sobre tela.

A boy in war, óleo sobre tela. Performance A Mocidade Heróica, tatoagem Air Portugal A exposição, intitulada “• • • – – – • • •”, que significa S.O.S em código morse, usado antigamente para pedidos de socorro nos navios, remete-​​nos para um universo particular, relativamente distante do espectador e, por isso, propício a efabulação. É este, aliás, o elemento subjacente na exposição proposta por Horácio Frutuoso, onde elementos subjectivos e ficcionais são prevalecentes. Sem estabelecer qualquer linearidade entre os diferentes elementos expostos, eles aparecem como

um não futuro, onde todos os elementos se encontram mergulhados numa nostalgia vaga, que não salva, mas alimenta a alma. Daí que se possa concluir que é esta exposição que dá corpo ao sintoma de um trágico destino colectivo, no qual um povo inteiro aparece à deriva de um mar incerto.

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You Must

Arte

Rita Gomes

Conheci a Rita Gomes, (3) Rita sentiu, desa alma da Wasted Rita, de sempre, um fascínio no facebook e a partir pelo ser humano que a daí fiquei fã dos seus delevava a passar horas a senhos. É que depois de texto — Francisco Vaz Fernandes ouvir e a observar pesse conhecer um, quesoas. Talvez seja essa a remos mais, torna-se finalidade da sua arte, um vício. Fico com a sensação de ter descober- “que faça sentido para tanta gente, e que seja uma to um filão de ouro que é necessário explorar até reflexão da sociedade que me rodeia.” O seu método de trabalho é simples: traà exaustão! balhar até à exaustão, ter espírito de sacrifício e uma força de vontade que nunca mais acaba. Da secretária para cama e da cama para a secretária, as ideias vão fluindo de tal forma que chega a tornar-​​se impossível ter tempo para materializar tudo em vinte e quatro horas. Já por várias vezes saiu da cama às 5 horas da manhã para

.a. ita k . a dR ste a W

criar algo muito rápido, para se libertar da pressão das ideias e voltar a adormecer. É desta forma que Rita Gomes traduz o seu trabalho “exausti-

vo e sufocante mas, ao mesmo tempo, a melhor coisa do mundo”.

O desenho apareceu na sua vida como forma de alívio, confessa a criadora. Um dia, começou a escrever e a desenhar coisas do seu dia-a-dia, as quais publicava diariamente no seu blog. Estava longe de adivinhar que iria ganhar um pú-

blico de diferentes meios, idades, e partes do mundo. “Às vezes chego a achar insultuoso que tanta gente se identifique com algo que me é tão íntimo”, diz.

Não gosta de definir o seu estilo, mas se tivesse um teria que se chamar anestilismo, “um

estilo que recebe estímulos de todos os outros estilos, mas que se está um pouco a borrifar para eles”. Mas, apesar disto, Rita não deixa de se identificar com muitos dos adjectivos que se formularam à volta dos seus desenhos, como rudez, indelicadeza,

sarcasmo, punk, descuido, espontaneidade, politicamente incorrecto, provocante, irreflectido, crítico e “com tomates”.

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You Must

Arte

Damien Hirst

Esta temporada, Tate Modern, conhecido museu britânico de arte moderna, apresentou uma das exposições mais mediáticas de sempre, não tivesse ela a assinatura de Damien Hirst, artista que atualmente mais ódios e amores alimenta, não deixando ninguém indiferente. Nascido em Bristol, em 1965, Damien tornou-se num dos artistas mais proeminentes da sua geração. Obras como, The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living (1991), onde se vê um tubarão a flutuar num tanque ou, mais re-

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texto — Anabela Oliveira

para o contacto direto com algumas das obras mais icónicas do artista, nomeadamente Spot

Away from the Flock (divided), 1995. Foto Prudence Cuming.

For the Love of God, 2007, platina, diamantes e dentes humanos. Foto Prudence Cuming. centemente, For the Love of God (2007), que apresenta um crânio cravejado de diamantes, foram amplamente mediatizadas e facilmente reconhecíveis pela maioria da população mundial. Para a Tate, esta exposição é a primeira grande mostra do trabalho de Hirst, em Londres, e uma oportunidade

Paintings, uma tela onde são representados círculos uniformes, cada um com uma cor diferente, ou Pharmacy (1992), onde recria uma farmácia dentro da galeria, com vitrinas cheias de caixas de medicamentos metodicamente organizados. Uma das partes mais controversas da exposição refere-se a The Natural History, que apresenta vários animais dentro de tanques, preservados em soluções líquidas. Aos críticos, o ar-

Pharmacy, 1992. Foto Prudence Cuming. tista diz que uma ovelha numa dessas soluções parece muito mais serena.

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A sua obra não deixa ninguém alheio, ao desafiar o expectador a pensar sobre as quatro coisas que considera ser as mais importantes na vida: a religião, o amor, a arte e a ciência.

“Num trabalho de arte tento sempre dizer algo e negá-lo ao mesmo tempo”, diz Damien Hirst para quem a verdade re-

side não no que é absoluto mas em dualidades. Por isso mesmo, temas como a vida e a morte, a beleza e o horror são dicotomias presentes na maioria dos trabalhos de Hirst, que, apesar da controvérsia da sua obra, no final, não deixa de exibir uma mensagem positiva para a Humanidade.

The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living, 1991. Foto Prudence Cuming.

Sympathy in White Major, Absolution II, 2006, detalhe.



You Must

Design

Jake Phipps

A consola Stellar de (5) Jake Phipps é inspirada nos minerais da pedra preciosa ametista. As zonas de superfície lisa texto — Carla Carbone que revestem a consola de Phipps, e que ocupam a área mais vasta da peça, contrastam vivamente com a área turbulenta composta pelas 900 minissecções, angulosas, em espelho. Segundo o designer, estas mudanças seccionadas, fragmentadas, em reflexo, criam uma dispersão óptica que fracciona a luz e o ambiente que o circunda. Stellar provoca, assim, um efeito cintilante para quem a vis-

lumbra, e uma sensação de dinamismo sem precedentes. A consola, vibrante e sugestiva, foi realizada em aço inoxidado polido, e tem como dimensões 140cm x 40cm x 80cm. Phipps criou ainda um espelho para acompanhar a consola Stellar, baseado nos efeitos de corte do diamante. O mesmo espelho irradia, na superfície, um anel de 750 secções espelhadas, influenciando, tal como a consola, a luz e o ambiente que o rodeia. Jake Phipps formou‑se na escola John Makepeace Furniture Design, Parnham College, e em 1999 começou a fazer as suas peças. Formou o seu estúdio em Londres no ano de 2005, concentrando-se no desenho de peças destinadas a uma produção em larga escala. O primeiro produto de Jake Phipps foi a finíssima cadeira desdobrável ISIS, produzida pela conhecida editora Gebruder Thonet-Vienna.

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You Must Depois da sua estreia, em 2006, com Reprise —que contava já com o actor Anders Danielsen Lie—, a segunda longa-metragem do realizador norueguês Joachim Trier, esteve em competição no Lisbon & Estoril Film Festival’11. Este trabalho reflecte sobre a (im)possibilidade da escolha, sobre o arrependimento e a (in)capacidade de nos relacionarmos com segundos, sem os desiludir, disse na altura o realizador. A personagem principal do seu filme, Anders, é um ex-toxicodependente com demasiado tempo e poucas ambições. Dada a sua disponibilidade e amabilidade, escuta aqueles com quem se cruza, porque sente já não ter nada para contar. O som está magistralmente trabalhado de forma a provocar no público a sensação de ouvir com os seus ouvidos, como quando escuta conversas separadas num café ou quando sai para a rua e, em vez de ouvirmos os carros que cruzam a estrada, continuamos absortos no seu mundo interior, que transporta demasiados pensamentos para se concentrar no meio ambiente. O tema é pesado, mas os planos são belos, limpos, dotados de uma fotografia exemplar que nos acaricia o desconforto. Há também espaço para os

Cinema

Oslo, 31 de Agosto, de Joachim Trier (6)

texto — Inês Monteiro

pequenos gestos. Os primeiros vinte minutos são dedicados à longa conversa que tem com o amigo, com piadas sobre Proust, onde percebemos a intenção do

protagoniza o filme, sempre de cara crispada, deixando escapar sorrisos desmaiados em algumas ocasiões, como quando vai à pendura na bicicleta, numa das cenas mais belas do filme. O seu personagem é um desistente, recordando ao amigo o que este uma vez lhe disse:

“Aqueles que se querem auto-destruir não devem ser impedidos pela sociedade”. Ninguém

quer que Anders parta, mas ninguém acredita na sua recuperação. A irmã está tão amedrontada com a sua saída da clínica de desintoxicação que nem consegue encontrar-se com ele, mandando a namorada no seu lugar. Os pais estão em Nice a passear. O amigo diz-lhe para se encontrarem numa festa, na qual nunca aparece. Todos esperam, envergonhados, o dia em que a espera termine. É por isso que não o

personagem, para onde o filme caminha, mas isso é de menor importância, pois o que conta não é o destino, mas a viagem. 30 de Agosto é o dia em que Anders se des-

pede da sua cidade e dos seus amigos, recorda conversas de outros tempos, e de algum modo responsabiliza os pais pela sua situação. Anders Danielsen Lie

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conseguem encarar. Porque não é só o fado que é trágico. A ignorância e a possibilidade de escolha também não são “pêra doce”.



You Must

Cinema

Rust and Bones (7)

texto — Ingrid de Brito Rodrigues

Com estreia agendada para 18 de Outubro, Rust and Bone (De Rouille et d'Os) de Jacques Audiard (premiado em 2009, com O Profeta, no Festival de Cannes), é um filme que oscila entre momentos de força física e de fragilidade emocional e que tem como epicentro a descoberta do amor incondicional em toda a sua definição formal. As personagens, constantemente levadas ao limite, onde o denominador comum é a violência e a dor, são profunda e intrinsecamente desestabilizadoras.

corpo a Ali, um homem simples sem grandes ambições que, subitamente, fica responsável por um filho de 5 anos que mal conhece. Rust and Bone é um prenúncio de uma estória demasiado próxima e real para não nos minar. É daqueles filmes do qual se gosta (muito) sem precisarmos de nos esforçar para isso.

Com Marion Cotillard a interpretar Stephanie —uma mulher de traços perfeitos, treinadora de baleias, detentora de uma autenticidade e segurança numa combinação deliciosa— e Matthias Schoenaerts que dá

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You Must

Cinema + Música

7 días em la Habana

L aurent Cantet, (8) espaços relevantes da Pablo Trapero, Juan cidade, fazendo do exCarlos Tabio, Gaspar pectador um turista caNóe, Elia Suleiman, paz de “mandar lixar” o Julio Medem e Benicio “kumbaya my lord kumdel Toro, são os 7 reabaya“ e em pleno pullizadores que, em 7 dias mão solicitar um mojito e percorrendo 7 circuitexto — Ingrid de Brito Rodrigues numa mão e um chatos turísticos distintos ruto na outra, só para (cada capítulo aconteconcluir. ce num dia da semana), mos- funciona como um cartão-posCom estreia agendada tram toda uma parafernália de tal ou um autocarro panorâmi- para 13 de Setembro, o filme, recantos não cliché da cidade, co daquele que percorre todos os poderá ser a mais exaltada anque servem de tologia da cidade encenação a escom o mais estórias indepentranho e inexplicável sentimendentes com um to de esperança ponto em comum: um festie inamovível atival de cinema. tude de espera, A particionde a música pação de Emir e a dança são Kusturica na outro dos rascurta de Pablo gos definidores Trapero, 7 días de um povo e de en La Habana, uma Terra.

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Tempest de Bob Dylan texto — Ingrid de Brito Rodrigues

Há meia década que a música de Bob Dylan apela e estimula a mudanças de consciência da realidade, sustentando sempre a tradição subversiva de canções com mensagens secretas. Subtis, mas poderosas. E Tempest faz prova disso. Com lançamento agendado para 11 de Setembro, como já havia feito em discos como Time of Mind (1997) e Modern Times

(2006), o novo álbum de Bob Dylan capta a atenção e intriga; não só por recorrer, mais uma vez, ao seu pseudónimo, Jack Frost, para assinar a produção do CD, mas também, por ser possível encontrar citações de músicas dos Beatles, uma faixa épica de 14 minutos inspirada numa cena em particular do filme de 1997, Titanic, um tributo a John Lennon e, por fim, um coro que nos vai instigando com um “I'll

pay in blood, but not my own".

Já para não passar a caneta de tinta florescente ao facto de The Tempest ser o nome da última tragédia escrita por William Shakespeare. Estaremos nós perante a última celebração da lenda viva ao seu legado?

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You Must

Música

Boom

Há um “Boom” dentro (10) ano, foram só 25 mil do recinto e outro que a provar que há uma vem nas notícias. imensa minoria dispoHá droga, clanível para celebrar a culro, mas essa realidade texto — Davide Pinheiro tura do "trance" e não não só é enfrentada e fotos — Sílvia Lopes só. combatida pela orgaA faceta medinização, como encobre tativa do festival com "yoga" e outras disciplia bela dimensão de um festival que pode usar com propriedade a pala- nas espirituais é igualmente importante e não choca com a dimensão libertadora de quem, durante vra "experiência". É disso que se trata, afinal, um escape à ci- uma semana, vive numa rave. Esteticamente, tra-

vilização urbana e o mergulho num mundo alternativo envolto na beleza natural das margens da barragem Marechal Carmona, em Idanha-a-

ta-se da beleza de um festival que demora qualquer coisa como três meses a ser montado. Cada árvore tem uma definição, cada jogo de luz, uma

Nova. O concelho está agora para o Boom como a Zambujeira do Mar para o Sudoeste. Não é Las Vegas, mas o que lá se passa por lá fica. Não há pontos de carregamento do telemóvel porque o ob-

jetivo é o oposto; pretende-se que quem vá se liberte das amarras do quotidiano. E na edição deste

identidade —este ano, por exemplo, um artista responsável por palcos de Coachella, Gerard Minakawa, criou uma estrutura em bambú. Faz sentido num recinto com quilómetros de distância em que nunca há uma sensação de claustrofobia e os quatro palcos são distribuídos espaçadamente para não se acotovelarem. E a música? É um motivo, como há outros, mas mesmo quem procure nas batidas o prato principal, há oferta variada desde o tecno ao chill-out passando pelo drum'n'bass e pela música étnica. À imagem do que acontece na gastronomia, aliás, em que sobressai uma predominância vegetariana e as grandes cadeias não são bem-vindas. É por tudo isto que já há quem conte os dias até ao próximo Boom. Até daqui a dois anos.

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Moda + Design

You Must

Together

A colecção Together é (11) formas como aos mauma das mais embleteriais. Este ano, um máticas da Camper e modelo oxford feminiresulta de uma parceno com sola em cunha ria com designers de retexto — Margarida Brito Paes tornou-se um dos sapanome. Apesar de vários tos estrela da coleção. criadores já terem colaPor fim, borado, nas últimas coleções a Together firmou- Bernhard Willhelm, de quem se espera sempre -se em três nomes fundamentais, o que vem con- uma explosão criativa, apresentou uma grande cotribuindo para o amadurecimento do projecto. leção de modelos masculinos e femininos onde preOu seja, valece o patchwork e os contrastes de cores, alcom Veronique gumas delas néon, tudo Br anquinho, encom referência aos anos contramos sobretudo 80. Um sapato feminino uma pesquisa focada no classicismo das forcom salto transparente mas, na nobreza do dee splashes de cores posenho e dos materiais, Veronique Branquinho dia personificar toda a propondo algo austero coleção. e minimalista. É ainda de refeJá com Romain rir que todos os modeKremer, somos deparalos desenvolvidos pelos dos com uma desconscriadores são pensados trução dos clássicos, o para fazer parte dos que confere um aspeclooks que apresentam Romain Kremer Bernhard Willhelm to futurista, tanto às em passarelle.

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Lotocoho + Vista Alegre texto — Ricco Godinho

Nos últimos anos, a Vista Alegre tem desenvolvido um programa que procura a aproximação de jovens designers ao

uma marca de joalharia contemporânea, sediada em Espanha. Os jovens desenvolveram vários trabalhos em porcelana, apre-

exploram questões relativas à identidade, consideraram que a passagem pela Vista Alegre serviu para aprofundar o cariz

quotidiano da fábrica, em Ílhavo. Anna Tomich Hockensmith e Jorge López Conde foram os últimos designers residentes e são os fundadores da Lotocoho,

sentados recentemente na Who’s Next, feira de tendências em Paris. Os designers da Lotocoho que, nos processos criativos,

ibérico do seu trabalho, daí que tenham recorrido a referências que vão desde o touro, ao cavalo, passando pelas damas, pássaros, entre muitos outros.

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You Must

Moda

Jeremy Scott

Tânia Doce

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texto — Ricco Godinho

texto e foto — Maria Meyer styling — Sara Mousaco Curado make-up — Tânia Doce

Extravagância é a palavra que melhor define a parceria de Jeremy Scott com a Adidas Originals, para a temporada Outono — Inverno 2012. Nesta coleção de streetwear, predominam as cores vibrantes, o uso de estampados exuberantes como o animal print, ou mesmo teclados de computador, numa referência clara aos hábitos do público-alvo. O universo infantil foi, igualmente, uma das referências, contando com a presença de ursos de peluche, que, desta vez, se misturam com borboletas e motivos florais com evocações ao universo Manga.

Foi no meio da natureza, com os pés enterrados na areia e folhas no cabelo que encontrámos Tânia Doce, uma das importantes Make Up artists nacionais. Tânia foi modelo e o primeiro contacto com o mundo da maquilhagem acabaria por acontecer neste mesmo universo. À primeira oportunidade, aproveitou para tirar um curso que lhe permitisse adquirir conhecimentos básicos de maquilhagem. A partir daí, nunca mais parou e a dedicação a esta arte passou a ser absoluta, pois só desta forma considera que se possa progredir na carreira. Por isso não fala de sacrifícios, porque faz tudo com gosto. Para Tânia Doce, maquilhar tornou-se um vício. Quando pega nos pinceis esquece-se dos problemas e alimenta a sua auto-estima com os resultados. Maquilhar os melhores modelos nacionais, acaba fazer parte do seu quotidiano, mas confessa que também adora dedicar-se a pessoas comuns, porque cada uma representa um desafio singular onde há sempre elementos a valorizar. Depois, há os casos problemáticos, peles/​olhos difíceis, que são um verdadeiro desafio para qualquer profissional, “…Isso dá-​​me pica, e quando a opinião final

é boa, enche-me ainda mais a alma!”

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Moda

You Must

International Talent Suport (15)

texto — Ricco Godinho

Todos os anos o ITS, International Talent Support, avalia quatro categorias principais: moda, acessórios, fotografia e joalharia.

manuais e tecnológicos. Já Isabel Vollrath, da Berlin Weißensee School of Art, jogou com o efeito cénico, com referências aos contos de fadas, não deixando indiferentes o júri e o público especializado. Isabel foi também umas das premiadas desta edição, presidida pela dupla Viktor&Rolf.

Ichiro Suzuki. Foto Giovanni Giannoni/EVE Neste concurso, realizado em Trieste (Itália), com o apoio da Diesel, são avaliadas as propostas de um selecionado grupo de finalistas das melhores escolas de moda de todo o mundo. Este ano, a décima edição, não foi das mais brilhantes.

Marius Janusauskas, Sleeping Beauties. Ichiro Suzuki, do Royal College of Art, ganhou o prémio mais importante, o Fashion Collection of the Year, com uma coleção masculina que se destacou pelos efeitos gráficos.

Emma Montague. Foto Elio Germani / EVE Isabel Vollrath. Foto EVE / Daniele Braida.

Marius Janusauskas, Sleeping Beauties. O Diesel Award, considerado o segundo prémio do concurso, foi para Marius Janusauskas, da Royal Academy of Fine Arts de Antwerpia, que apresentou uma coleção muito rica em detalhes

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Marius Janusauskas, Sleeping Beauties.


You Must

Moda

Legendary Raw (16)

texto — Ricco Godinho

Para esta estação, a Cat apresenta uma linha de homem e mulher, inspirada no princípio do século XX. A Legendary Raw é, pois, uma linha de botas vintage que segue o modelo do calçado

de trabalho de uma sociedade herdeira da revolução industrial, agora readaptado às novas tecnologias e ao conforto de um sapato moderno. Os vários modelos com atacadores ou fivelas

apresentam detalhes costurados à mão, que garantem uma maior autenticidade. Seguramente essenciais para um look do tipo “Novos Pioneiros”.

Stella Coffee Dark Brown

Lolita Dark Brown

The Dempsey Russet

Fred Perry Authentics (17)

texto — Ricco Godinho

Nesta estação, a Fred Perry regressa às suas origens, com modelos inspirados na workwear britânica dos anos 30 e 40. Procuraram fundir o clássico com o actual, usando essencialmente

motivos tais como as riscas Breton, tartans tradicionais e xadrezes escovados, em tons de carvão. O nível de autenticidade que procuraram imprimir ao produto final levou a que a marca

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fizesse um levantamento exaustivo da sua história, para que assim fossem encontrados os fabricantes e as técnicas de produção tradicionais ingleses, que ainda subsistem em solo britânico.


Moda

You Must

Cais do Sodré Cabaret

Foram as glamorosas (18) vida que assumem. O noites de cabaret e a roguarda-roupa de ambos tina decadente das dépassa muito pela procucadas do início do sécura de clássicos, réplicas lo XX, que deram asas ou originais. Desde lojas ao projecto iniciado vintage até à Feira da em 2007, o "Cais Sodré Ladra, Sara e Carlos Cabaret". Sob influêncompõem o look dos cia dos ícones do passado, Sara Vargas, que dá tempos a preto e branco. vida à personagem Señorita Scarlet, e Carlos A construção de um espectáculo não dispenSilva, personificando Carlos Deluxe, criaram um sa uma pesquisa prévia, para que abordagem seja

projecto que reproduz a vivência das décadas onde o burlesco era a distração dos marinheiros que pelo Cais do Sodré passavam. Hoje contam com 6 bailarinas e apresentam espetáculos

que nos remetem a um passado de glamour e loucura. O rock'n'roll traduz-se no dia-a-dia de Sara e Carlos, já que a influência da estética dos anos 40/50 representa mais do que um gosto visual. Música, roupa e atitude, caracterizam todo o estilo de

&

fidedigna à década em questão, remetendo para o exotismo de Carmen Miranda, ou a austeridade negra dos anos 30. Já a música pode ir até à década de 60, incluindo artistas portugueses.

75 anos Ray-Ban

texto e styling — Collec7ive foto — Javier Domenech nas fotos: Señorita Scarlet, Rita Michélle d'Orleans e Mónica Lilly Blanche

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A Ray Ban comemora os 75 anos com uma edição especial de lentes amareladas, no clássico modelo aviador. Sara afirma que a marca é um ícone das décadas pelas quais é apaixonada e, como tal, assumem um papel importante na construção de um visual diário.


You Must

Moda

Fly London (19)

texto — Ricco Godinho fotos — Javier Domenech styling — Collec7ive

Fly London Banshee e Nina Com coleções tão ecléticas quanto inovadoras, a aposta na diferença aliada à qualidade já faz parte do ADN da Fly London. Este inverno, a marca portuguesa apresenta um calçado que conta com elementos como a camurça e as peles foscas, sempre com muitos detalhes. Destacamos os modelos Banshee, sapatos e botins de cunha, elaborados com jogos geométricos em camurças

com cores contrastantes e os Boudoir abotinados, onde voltamos a ter uma fusão de diferentes tipos de pele. Já os Nina e os Alice são modelos clássicos do anos 40 e 50, agora revisitados, onde encontramos elementos contemporâneos, como tachas e solas compensadas. Estes são apenas alguns dos destaques da colecção FLY LONDON, fotografados pela equipa da Parq.

Fly London Boudoir, Banshee e Alice

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Moda

You Must

Skinny (20)

texto — Maria São Miguel Inspiradas nos anos 90, as novíssimas Curve ID Bootcut Skinny são uma reinterpretação da Tapered, um modelo justo na perna e largo no tornozelo, que cria um efeito de pernas alongadas. Esta linha apresenta uma grande variedade de acabamentos e de detalhes femininos, aliados às fundamentais silhuetas Curve ID (em vez de tamanhos!). No essencial, são três modelos:

os Slight Curve —graciosamente reto—, o Demi Curve —elegantemente proporcional— e o Bold Curve —com curvas bonitas—, fruto de um acurado estudo das formas e proporções de mais de 60 mil mulheres, para que fosse criado o par de jeans perfeito, adequado a cada tipo de mulher.

D&G Gold (21)

texto — Maria São Miguel

A coleção Gold Edition SS’12 da D&G é uma linha exclusiva de óculos de sol que evidencia a paixão dos designers pelo ouro, elemento que esteve muito presente na sua última coleção de mulher. Fabricados em Itália, os

Fio a Pavio (22)

texto — Marta Ferreira

Colorir o mundo através da sua arte é a missão assumida por Sara. Licenciada em arquitectura, foi num período de maior incerteza que decidiu arriscar

“(…) dei ouvidos ao que algumas amigas, e o meu marido, teimavam em dizer-me (…) e coloquei mãos ao trabalho”. Sara dedica-se à criação de acessórios com identidade própria, peças únicas que procuram acompanhar ou-

tras marcas de grande qualidade. Desde as primeiras pulseiras ao “boom” conseguido através do facebook, o “bazar de acessórios despretensiosos”, como Sara gosta de apelidar, está prestes a tornar-se uma marca registada, com a FIO A PAVIO a caminho da internacionalização. Sara confessa que trocar a arquitectura pelos acessórios não foi fácil, mas não se arrepende da decisão “(…) Tenho recebido mui-

tas encomendas, e isso permite-me conhecer a pessoa para quem estou a criar e divirto-me imenso (…) hoje posso afirmar que sou feliz!”

óculos possuem armações feitas em ouro de 18 quilates e contam com lentes polarizadas de última geração. Os modelos femininos possuem um design vintage e estão disponíveis em ouro branco ou amarelo de 18 quilates. Já a versão masculina, baseia-se no modelo Aviator e tem a particulariadade de poder dobrar-se num ângulo de 45°, podendo ainda ser pendurados ao pescoço ou no bolso dos jeans por uma corrente.

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You Must

Tecnologia

Galaxy Note (23)

texto — Maria São Miguel

A Samsung continua a arranjar bons argumentos para competir com a Apple. O novo Galaxy Note 10.1 apresenta um processador mais rápido que o iPad e traz uma caneta digital do tipo stylus. Apesar da menor resolução de tela, com o Note

10.1 é possível utilizar simultaneamente dois aplicativos, dado que a tela se pode dividir. Essa função deve-se ao processador de núcleo quádruplo e aos 2 gigabytes de memória do Galaxy Note 10.1, que funciona com o sistema Android.

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EOS M

texto — Maria São Miguel A nova EOS M é a primeira câmara de sistema compacto da premiada série EOS da Canon. Oferece tudo o que uma grande câmara profissional pode oferecer, mas em formato compacto. Ou seja, conta com um

sensor APS-C CMOS de 18 megapixels, ISO 100-6400 (expansível até 12800 no modo H) para vídeos, ISO 100-12800 para fotos, microfone estéreo integrado, processador de imagem DIGIC 5 e suporte para cartões SD/SDHC/

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SDXC. A EOS M tem ainda lentes intercambiavais que dão ao consumidor a possibilidade de ter um mini-estúdio que quase cabe no bolso, mantendo ainda assim o aspecto lúdico das compactas.


Beleza

Universo floral É um jardim estranho e maravilhoso. Não sabemos se estas flores são inocentes ou venenosas. Sabemos de um coisa: são flores magnéticas. Flora Botanica, o novo perfume da casa Balenciaga dirigida por Nicolas Ghesquière, é um perfume aberto ao imaginá-

rio que evoca os jardins exóticos do séc. XVIII. A musa e imagem do perfume é a actriz Kristen Stewart.

Flora Botanica, Balenciaga, eau de parfum, 30 ml, 58,27€

You Must

Beauty (25)

texto — Cláudia Gavinho transmitindo, simultaneamente, a energia jovem e irreverente de Nova Iorque e a frescura elegan-

te da linha 212. São dois perfumes jovens, inebriantes e super cool que prestam a devida homenagem à arte de rua e proporcionam encontram perfeitos e inesperados.

212 Body Spray Woman, Carolina Herrera, 250 ml, 30€

Olhar cristalino

Cítrico e ácido O mais recente membro da família olfactiva de 212 vem num frasco pulverizador, a fazer lembrar as latas de spray de tinta, e combina a essência de um jovem urbano de Nova Iorque com a elegância do universo 212. Com um design inovador, inspirado na arte de rua, o seu aroma fresco e intenso seduz, tanto na sua versão masculina como feminina. O Body Spray para homem é uma fragrância cítrica onde se inclui a laranja ácida e a hortelã fresca.

212 Body Spray Men, Carolina Herrera, 250 ml, 30€

Cítrico e doce Na versão feminina, o aroma cítrico é suavizado e adocicado com a bergamota e a mandarina

A Clinique acaba de lançar um creme de olhos especificamente concebido para atenuar a aparências das olheiras a curto e a longo prazo. Este novo produto protege contra a irritação e as agressões ambientais, reforça a estrutura de suporte e a função de barreira da pele e proporciona resultados imediatos graças

à tecnologia óptica incorporada na sua fórmula. Com um aplicador ergonómico, promete reduzir visivelmente as olheiras ao fim de 12 semanas.

Even Better Eyes Dark Circle Corrector, Clinique, 10 ml, 45€

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Clássico reinventado Do lendário Eau Savage, passando pelo Fahrenheit até ao Dior Homme, as grandes composições olfactivas masculinas da Dior possuem uma identidade única. Nesta estação, este último perfume surge modulado com a introdução da nota de co-

ração de íris da Toscana. Ao volante do seu carro desportivo, Jude Law encarna a imagem de Dior Homme com a mesma intensidade de sempre.

Dior Homme Sport, Dior, eau de toilette, 50ml, 59€

Elixir negro O perfume de Lady Gaga é a primeira fragrância de cor negra, vem num frasco em forma de ovo, foi concebido em colaboração com Nick Knight e é inspirado numa das suas mais memoráveis passagens pela passadeira vermelha, quando chegou aos Grammy Awards num ovo. É um aroma floral onde se destaca o ingrediente estrela, a beladona,

misturada com açafrão, damasco e gotas de mel. O vídeo da campanha, da autoria do fotógrafo Steven Klein, foi lançado primeiro no Japão e só depois nos EUA e na Europa.

Fame, Lady Gaga, eau de parfum, 50 ml, 44€


You Must Shopping

osklen

fly london

aldo

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diesel

nike

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tory burch

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40


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Soundstation

Orlando Higginbottom

todos os exageros, a resposta europeia a Nicolas Jaar. Ambos partilham paternidade culta, formação académica e prática tecnológica. O resultado? O tacto de quem sabe escrever grandes canções a partir da solidão, de quem passa temporadas à frente de um computador a manipular software. Uma outra questão é transversal a ambos: a relativa inclassificabilidade da sua obra, localizada algures entre a bass music e, no caso de Higginbottom, do house —o nova-iorquino com ascendência chilena tem no minimal menos canónico um outro ponto de partida. Os dois, no entanto, nunca deixam de fazer canções pop com uma estrutura clara e definida e, muito importante no caso de TEED, com uma atenção ao depuro vocal que faz de Trouble um dos álbuns mais estimulantes e um dos raros que ainda justifica audições do primeiro beat ao último suspiro. Não é exagero, cada vez a expressão longa-duração merece menos atenção de quem ouve mas, parafraseando o título, vale a pena encontrar a solução para este problema. Higginbottom é um cérebro com coração, um racional da música de dança, algures entre o abstraccionismo dos Simian Mobile Disco e a apetência para refrões dos Hot Chip, capaz de dosear massa cinzenta e açúcar em doses certas. Esta é a era dos produtores, dos Canções como Closer e Your Love homens que compõem na solidão dos podiam ser remisturas de alto gabarito, portáteis e tablets. Alguns têm mãos pagas a peso de…euros para garantir para manipular o software e coração cartões de consumo ilimitado nas para escrever canções. Orlando pistas de dança aos originais. Mas não, Higginbottom é um deles. Um este dinossauro com olhos postos no “dinossauro” responsável pela criação de futuro percorre o caminho inverso. um álbum que ainda vale a pena ouvir. Tudo começou há três Orlando Higginbottom anos quando editou três EP pela editora é filho de um professor, o maestro do de Joe Goddard, dos Hot Chip, que coro da New College da Universidade o levaram ao encontro de Friendly de Oxford, e deu ele próprio aulas de Fires, Katy Perry e Lady Gaga, para música. Tem apenas 22 anos e é, passe a quem assinou remisturas. Logo aí, ficou

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Orlando Higginbottom

Soundstation Higginbottom lá estava pronto a vencer a prova do tempo, a mesma que agora enfrenta com Trouble, uma daquelas colecções de canções que precisa mais do YouTube e do Soundcloud do que das tabelas de vendas porque, essas, verdadeiramente, pouco ou nada querem dizer em 2012. A referência jurássica não tem, contudo, que ver com alguma hipotética ponte temporal entre passado e presente mas apenas com a necessidade de encontrar um nome quando se registou no MySpace. Esta é a história oficial contada pelo próprio autor e que, apesar de destruir o mito que se podia gerar à volta do seu alter-ego, adensado pelos fatos de dinossauro que habitualmente usa em palco, é reveladora de simplicidade.

traçado que Higginbottom não seria um purista, mas antes um produtor capaz de cruzar géneros como BPMs para chegar a uma ideia de electrónica flexível que nunca se descaracteriza. Essa abertura ao diálogo traduz-se em ritmos uptempo que, não raras vezes, são cobertos por vozes de meia-estação. As bases são densas e a variedade rítmica a constante de uma equação que, por essa razão, não cansa. A personalidade de sanguessuga valeu-lhe o convite do maior dinossauro da pop, desde David Bowie ao eterno adolescente (pelo menos ao espelho) Damon Albarn, para embarcar em direcção à selva africana, a fim de concretizar o projecto DRC Music.

TEED está para 2012 como Calvin Harris para 2007 quando cruzou, com pertinência e entusiasmo, disco e electro. Antes, muito antes, de se ter embebedado com fama e festas em Ibiza. Higginbottom, uma inteligência que se percebe à distância, tem tudo para não ser assim.

texto — Davide Pinheiro

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Soundstation

Salto

texto — Pedro Lima

estimulantes da pop eletrónica nacional, com presença nos principais festivais como o Optimus Alive, Super Bock Super Rock ou EDP Paredes de Coura. New Max, mais conhecido pelo projeto Expensive Soul, emprestou os seus dotes de produção às malhas grudentas do álbum homónimo lançado em julho, onde as guitarras são (quase, mas não só) nota dominante. As canções dos SALTO aliam grandes melodias de intensidade luminosa a refrões cantados em português que se colam aos ouvidos. Trata-se de estruturas rítmicas de raiz oitocentista, inspirada pelos New

Os SALTO constam na lista de candidatos a revelação do ano. Com o álbum de estreia em nome próprio, a dupla do Porto oferece‑nos a banda sonora para um verão escaldante na cidade, preenchido por fins de semana acelerados que só terminam à segunda de manhã. Foi em 2007 que o duo portuense, formado por Guilherme Tomé Ribeiro e Luís Montenegro, pisou pela primeira vez o palco do Teatro Sá da Bandeira. Tinham apenas 16 anos. Ao fim de cinco anos, viriam a tornar-se num dos nomes mais

Order ou Pet Shop Boys, aliadas a um groove que flui sem esforço e contagia cada músculo do corpo. A coluna vertebral dos SALTO é o indie-pop, mas a dupla demonstra uma elasticidade de ginasta olímpica, combinando estilos e influências sem fazer ranger os dentes. Uma capacidade de reinvenção surpreendente e um apurado sentido de atualidade, tanto na construção da harmonia como das letras. A abrir o cardápio é-nos sugerido o single Deixar Cair, tema com frescura típica dos 20 anos, guitarras aguerridas e synths em cascata, letra

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Salto

Soundstation Mas as surpresas continuam a fluir com o intimismo pós‑dubstep a la James Blake de Sem 100 ou o maravilhoso e experimental 888:88, que daria a adição perfeita no alinhamento do álbum do aclamado dubsteper britânico SBTRKT. Já mais para o final, o balanço fácil de Coração Bate Fora e a reluzente Canção Diagonal, munida de um reverb sonolento que preenche os registos chillwave para explodir num dueto rico e envolvente, com baixos elásticos e teclados que serpenteiam para salas escuras do clube às 4 da manhã num

Giorgio Moroder numa canção chamada Não vês Futebol, mas a verdade é que resulta sem atrito, juntando a atitude hedonista dos Despe e Siga ao space-disco de Lindstrøm. Soa mal? Claro que não. Se O Teu Par nos dá vontade de saltar com os braços no ar como se ninguém estivesse a ver, o instrumental Arcade e o curtissímo Intro (Saber Ser) introduzem uma sonoridade forjada no 8-bit de jogos de arcada e no boogie sensual do californiano Dâm-Funk. A atmosfera ideal para uma noite de descontrolo.

crescendo de eletrónica feroz, suja e pecaminosa, que traz à memória as batidas assanhadas dos Justice. É fácil apontar comparações aos SALTO. Contudo a sua música não deixa de soar a novidade, pecando apenas por momentos de pós-produção excessiva em que a frieza do digital se sobrepõe ao calor humano. Mas, no seu todo, esta é uma impecável obra de personalidade vincada que confirma que a idade não é prova de talento e que estes “putos” pertencem a uma nova geração pop com muitas cartas para dar.

fotos — Paulo Cunha Silva

cheia de rebeldia e uma vontade enorme de nos escapar pela garganta. Já Poema de Ninguém baixa o ritmo cardíaco para pôr a voz morna de Guilherme Ribeiro em destaque, numa balada romântica e não correspondida, enriquecida pelo lamento das guitarras e texturas de sintetizadores disco. Outro dos cartões de visita é Por Ti Demais, faixa ao estilo Two Door Cinema Club, altamente dançável, com o trinómio guitarra‑baixo‑bateria a atingir temperaturas febris e vocais carregados de emoção e excessos de amor. Pode parecer estranho misturar os sintetizadores cósmicos da era de

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Soundstation

Tom Moulton

No âmbito de uma série de luxuosas reedições de material da editora Proto‑Disco, a Philadelphia International, surge agora uma caixa com quatro cds que reúnem a nata das reedições do mestre Tom Moulton para essa histórica casa.

King Records (casa de James Brown, por exemplo) e na área de vendas da RCA. Moulton recorda, nas páginas de Turn The Beat Around, da autoria de Peter Shapiro (colaborador regular da Wire), que “a porcaria, a graxa e a falta de sinceridade” patentes na indústria

Tom Moulton teve o seu primeiro contacto com a cultura dos clubes em 1971, quando visitou o célebre Boatel, um hotel e clube gay de Fire Island, Nova Iorque. Mas Moulton não era propriamente um novato no mundo da música, tendo já trabalhado no departamento de promoção da

da música o levaram a abandonar o seu trabalho para se dedicar a uma carreira de modelo. E foi nessa qualidade que Tom Moulton foi convidado a visitar o Boatel. É ainda nas páginas de Turn The Beat Around que Moulton relembra que algo não batia certo na pista de dança do Boatel: as pessoas

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Tom Moulton

Soundstation

dançavam os temas soul que o DJ lhes oferecia, mas quando estavam mesmo em sintonia com o tema, no seu auge, a música acabava. Os singles de sete polegadas, com os seus 3 minutos de música, não conseguiam conquistar as pessoas que procuravam na pista um fio condutor, uma narrativa. Foi então que Moulton propôs ao dono do Boatel criar uma cassete de 45 minutos em que estas quebras no ritmo não se fariam sentir.

Norman Whitfield, na Motown, começaram, no início da década de 70, a dilatar o groove, aproveitando grupos como Harold Melvin & The Blue Notes, O’Jays ou os Temptations para criar autênticas suites alimentadas por vigorosas células rítmicas e dramáticas secções de cordas. As editoras já tinham percebido que os clubes eram uma excelente forma de divulgação das novas experiências nos terrenos da soul e, por isso, quando Tom Moulton começou a “Um lado de 45 minutos levou-me 80 frequentar os gabinetes de promoção à horas a fazer”, contou Moulton à procura de versões instrumentais para revista Record Collector. “Eu queria ser as suas mixes, chamou a atenção das melhor do que um DJ, queria capturar pessoas certas. E assim, Tom Moulton aquilo a que eu chamo uma suite. Começar mudou a forma de pensar na indústria e num ponto e durante legou para a posteridade 45 minutos prender as não apenas um pessoas, controlá-las...” suporte como o maxi, Como mas igualmente um é normal acontecer conceito tão importante com todas as ideias como a remistura. revolucionárias, a mix Na caixa de Moulton não que a Harmless edita resultou à primeira. O agora, encontradono do Boatel, por se material de Tom exemplo, recusou-se Moulton para os a passar a cassete e O’Jays, Intruders, só no Sandpiper, um para Billy Paul e para clube-restaurante de as Three Degrees, Fire Island, é que as para os People’s mixes de Moulton Choice, Archie Bell começaram a angariar público. Com & The Drells, Lou Rawls, Teddy a encomenda de novas cassetes, Tom Pendergrass e The Futures. TrataMoulton percebeu que tinha que se, enfim, de uma verdadeira arca do prolongar algumas das músicas para tesouro. É por aqui que começa a história assim rentabilizar o seu trabalho, e foi aí que todos os sábados à noite continua que começou a fazer pequenos edits — a levar milhares a festejar sob a bola de estendia introduções e duplicava breaks espelhos, um pouco por todo o mundo. para poder extrair de uma canção a sua Tom Moulton foi, então, impulsionador mais-valia rítmica, indo ao encontro da mudança de face do planeta. das necessidades da pista de dança. A perda de influência do formato clássico da canção pop de três minutos não se fazia sentir apenas na texto — Mário Rui Abreu cabine do DJ —a música estava a mudar até nos estúdios: Kenneth Gamble e Leon Huff, em Filadélfia, e o produtor

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Grande Entrevista

Jo達o Pedro Rodrigues

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João Rui Guerra da Mata

Grande Entrevista

texto — Francisco Vaz Fernandes fotos — J. Sousa → Le-Joy

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styling — Paulo Cravo


Grande Entrevista

João Pedro Rodrigues

O cinema português volta a ganhar destaque, desta vez no Festival de Locarno, onde a longa-metragem A Última Vez Que Vi Macau, da dupla de realizadores João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, foi reconhecido com o Boccalino d'Oro para melhor realização, distinção atribuída por um grupo de jornalistas e críticos de cinema. Recebeu ainda uma menção especial do júri do Festival de Locarno, especialmente endereçada à "extraordinária" personagem Candy, pela "sua poderosa presença através

da ausência, que ressoou para o júri como representante da imensa coragem do cinema português num tempo em que as faltas dos governos e dos sistemas sociais ameaçam a arte cinematográfica no mundo inteiro." O filme começou por ser um do-

Crítica do último Festival de Cannes, e o João Rui foi o diretor de arte. Ambos produzidos pela Blackmaria do João Figueiras, assim como a longa. Eu continuarei a realizar os meus filmes e a co-realizar filmes com o João Rui.

J - R:

O João Pedro é o ator de O que arde cura, a minha primeira curta a solo. Eu tinha sido o ator de Parabéns!, a sua primeira curta. Continuarei a trabalhar nos filmes do João Pedro como sempre fiz. A nossa colaboração sempre existiu, continuará igual.

cumentário sobre Macau, tendo por base as memórias “ficcionais” do território onde João Rui Guerra da Mata residiu na infância, mas acabou por se tornar numa ficção com ambiente de film noir. Encontrámo-nos com os realizadores João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, com 20 anos de trabalho comum, para conhecer todo o seu processo de produção que conduziu até A última vez que vi Macau.

Em A última vez que vi Macau, pela primeira vez, aparecem os dois a assinar um filme. A que se deve essa mudança? J - R:

Na verdade, não é a primeira vez. Em 2007, o João Pedro convidou-me para co-realizar a curta-metragem China China, que partiu de uma ideia original minha e de um argumento escrito pelos dois. Em 2011 realizámos a curta Alvorada Vermelha, filmada em Macau. Sinceramente, não penso que haja qualquer mudança, nestes casos fazia sentido assinarmos os dois.

J - P:

Sim, nada mudou realmente. O João Rui sempre trabalhou nos meus filmes, fosse como ator, diretor de arte, argumentista ou assistente de realização. No caso das duas curtas e desta longa, A Última Vez Que Vi Macau, que ambos realizámos, achámos que fazia sentido assinarmos em conjunto.

De qualquer forma, continuam a aparecer filmes assinados individualmente como é o caso da curta-metragem O que arde cura, do João Rui. Como convivem com a situação de fazerem filmes a dois e fimes individuais?

Existem cada vez mais casais de artistas que acabam por assumir uma espécie de estética dual. Pensam que isso resulta de uma vantagem criativa ou tem um sentido prático ou, mesmo, empresarial das carreiras? J - P:

J - P:

O João Rui escreveu o argumento, no qual eu colaborei, concorreu ao ICA, teve o subsídio e realizou o filme. Eu realizei a curta Manhã de Santo António, que foi o filme de encerramento da Semana da

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Assinámos filmes juntos mas não quer dizer que, a partir de agora, todos os nossos filmes sejam realizados pelos dois. Vou continuar a realizar sozinho, aliás, estou neste momento a preparar uma nova longa-metragem chamada O Ornitólogo, que só não está a avançar mais depressa porque o subsídio que me foi atribuído há mais de um ano ainda não foi libertado pelo ICA (Instituto de Cinema e Audiovisual).


João Rui Guerra da Mata J - R:

Vivemos juntos há 20 anos. Existe uma cumplicidade muito grande e uma convergência de gostos. Claro que que isso é uma vantagem artística e tem um sentido prático, não porque seja mais fácil trabalhar com quem se vive mas, porque existe uma complementaridade. Em relação ao "sentido empresarial das carreiras" não é um assunto que considere ou tenha, para mim, qualquer interesse. Só os filmes interessam, só o cinema interessa.

Grande Entrevista J - P:

Fomos três vezes a Macau, ao longo de três anos. Logo na primeira vez, percebemos que não nos interessava fazer mais um documentário sobre Macau, assim como não nos interessava filmar o "exótico", só pelo simples facto de ser "exótico". O território inspirava-nos ficções... Foi como se Macau "falasse" connosco e nos orientasse pelo caminho a seguir.

E, em termos financeiros, que ginástica tiveram de fazer para o concretizar, imaginando que um orçamento para um filme documental seria bem menor do que uma longa metragem exige? J - P:

Embora tenhamos tido os apoio logísticos da Fundação Oriente e do Instituto Cultural de Macau, sem os quais teria sido muito difícil fazer este filme, a verdade é que só tínhamos o dinheiro do subsídio para documentário. Em termos práticos, isso refletiu‑se na composição da equipa de filmagens, ao todo éramos seis pessoas. Nós os dois, a Leonor Noivo, que exercia várias funções, entre elas, assistente de realização, produção e anotação, o Nuno Carvalho e o Carlos Conceição (em períodos diferentes) na captação de som, a Filomena Silvano como consultora científica e, por vezes, uma tradutora chinesa. Embora tenha sido muito cansativo, o facto de ser uma equipa muito reduzida permitiu-nos ter uma liberdade extraordinária. Em Portugal chamámos o meu diretor de fotografia de sempre (e também da curta do João Rui), o Rui Poças, e uma equipa de maquinistas e eletricistas para filmar uma cena essencial do filme, o número musical com a Cindy Scrash.

J - R:

Este filme foi pensado para ser um documentário mas acabou por se transformar numa ficção. Em que momento o filme sofreu esta evolução e que mudanças tiveram que operar para a concretizar? J - R:

Concorremos e ganhámos um subsídio para realizar um documentário sobre Macau, ancorado nas minhas memórias da infância vivida em Macau e nas memórias do João Pedro que, sem nunca ter ido a Macau, conhecia o território através do cinema, da literatura e da pintura. Desde o início partimos da premissa de que todas as memórias são ficções e este filme talvez seja uma ficção transvestida em documentário ou um documentário transvestido em ficção...

Ao longo desses três anos, quando vínhamos a Portugal, visionávamos e catalogávamos o material filmado. Tínhamos 150 horas de material e queríamos fazer uma longa-metragem relativamente curta, à maneira dos filmes de série B. Durante a montagem —o filme foi montado por nós e pelo Raphaël Lefèvre— a produtora francesa Epicentre Filmes, que distribuiu a maior parte dos filmes do João Pedro em França e vai distribuir este filme, aliou-se à Blackmaria como co-produtora e, recorrendo a subsídios franceses, originou a entrada de algum dinheiro, numa altura em que o ICA está completamente bloqueado. Depois, a Escola de Artes Le Fresnoy - Studio National des Arts Contemporains, onde o João Pedro foi professor no ano letivo de 2010/11, também entrou na produção. Sem o apoio francês todo o processo teria sido mais complicado, senão impossível.

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Grande Entrevista

João Pedro Rodrigues

João Pedro Rodrigues (J - P) Fato de gola clássica de trespasse simples de dois botões azul escuro, DRIES VAN NOTEN, camisa de popeline branca com encaixe frente cor bege, DRIES VAN NOTEN, laço preto. Tudo na Wrong Weather.

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João Rui Guerra da Mata

Grande Entrevista

João Rui da Mata (J - R) Fato com gola smoking azul escuro DRIES VAN NOTEN, camisa branca Wrong Weather, laço azul escuro, DRIES VAN NOTEN. Tudo na Wrong Weather.

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Grande Entrevista O filme é uma viagem às memórias de infância do João Rui Guerra da Mata. Como foi viver o impacto entre as imagens da memória e aquelas que a realidade oferece? Em que medida isso condicionou o desenvolvimento da narrativa? J - R:

Se me permites uma correção, o filme não é uma viagem às minhas memórias. A última vez que vi Macau é um filme que tentámos que fosse lúdico, ambientado num clima entre o film noir, a ficção científica e a série B, onde entram algumas memórias pessoais que se intrometem entre o documentário e a ficção. Dito isto, passaram 30 anos desde que eu saí de Macau sem nunca mais lá ter voltado, nunca imaginei encontrar o território igual ao tempo em que lá vivi.

Considero que as memórias são ficções, vão variando de acordo com os nossos interesses mas a verdade é que Macau está muito diferente, a área do território quase duplicou, a expansão urbanística é assustadora. Se existem algumas considerações e critícas a Macau no nosso filme isso deve-se a eu não concordar com algumas decisões que os últimos governantes portugueses tomaram, assim como não concordo com algumas decisões dos governantes chineses. Acho, por exemplo, inadmissível que praticamente ninguém fale português, tendo em conta que Macau esteve sob administração portuguesa durante 400 anos. Estas considerações pessoais tinham de afetar a narrativa porque, embora seja uma ficção, o personagem

João Pedro Rodrigues principal tem o meu apelido e, no fundo, são as minhas recordações do território.

Como surge a personagem Candy e porque escolheram o mesmo ator de Morrer como um homem? J - P:

A Cindy é uma atriz, se me permites a correção.

Obviamente, porque escolheram novamente a Cindy Crash? J - P:

Acho que a Cindy tem algo que vem do passado, tanto de Hollywood como da trupe de atores do Fassbinder

nos anos setenta, uma melancolia que desagua na alegria, é das pessoas mais divertidas e profissionais que conheço.

J - R:

Nós adoramos a Cindy Scrash! Ela é uma superstar, no sentido Warholiano, a nossa Cindy Superstar, transvestida de Candy Darling, transvestida de Jane Russell!

No filme Morrer como um homem, apesar de ficcional, havia várias interferências do quotidiano underground lisboeta, tanto nas personagens focadas, como na escolha dos atores. Em que medida o documental despoleta o caráter ficcional do vosso cinema?

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João Rui Guerra da Mata

Grande Entrevista

J - P:

Os meus filmes partem sempre de uma investigação sobre a realidade. Depois o que me interessa é transfigurar essa realidade mas partindo sempre do concreto, das pessoas e dos lugares.

J - P:

Depois do Festival del Film Locarno, onde obteve uma menção especial do júri e o prémio Boccalino d'Oro da crítica independente, A última vez que vi Macau vai ser exibido no Toronto International Film Festival (TIFF), no New York Film Festival (NYFF), no Vancouver International Film Festival (VIFF), no Festival do Rio de Janeiro e no Busan International Film Festival (BIFF) na Coreia do Sul, o maior festival de cinema asiático do mundo.

Já li várias declarações vossas nas quais refutam que a vossa obra seja colocada numa categoria de cinema gay. Em que medida isso poderia condicionar a leitura do vosso cinema? J - R:

J - R:

Não concordo com a designação de "cinema gay", prefiro "cinema queer". Objetivamente, existe cinema queer e ainda bem que assim é, no entanto, acho todos os rótulos, sejam eles quais forem, demasiado redutores. Os festivais de cinema queer, por exemplo, são muito importantes na medida que permitem dar visibilidade a uma comunidade e a filmes que, de outro modo, dificilmente seriam vistos e o cinema existe para ser visto. Por exemplo, minha curta-metragem O que arde cura, que foi premiada no Festival de Locarno, vai passar com o Parabéns!, do João Pedro, no Queer Lisboa deste ano, depois de ter tido estreia no IndieLisboa. E isso deixa-me muito feliz.

J - P:

Já em 18 de Outubro, vai ser possível ver o nosso filme em Lisboa. A última vez que vi Macau será o filme de abertura do Doc Lisboa, onde está a concurso na Competição Internacional. E existem mais festivais internacionais já confirmados mas ainda não temos autorização para falar deles.

Qual o vosso próximo projeto? J - R:

Nunca fiz cinema para caber numa ou determinada caixa ou armário, se assim lhe preferires chamar.

O vosso cinema tem tido a capacidade de criar imagens paradoxais que alargam os estereótipos mais enraízados na sociedade. Em que medida pretendem abanar o universo em que vivemos?

Em co-realização, estamos a filmar uma curta para o Festival de Vila do Conde intitulada Mahjong. É uma ficção que se passa na Varziela, nos arredores de Vila do Conde, a maior comunidade chinesa do norte de Portugal. E temos um subsídio aprovado pelo ICA para outra curta em Macau que se vai chamar Hotel Central. Isto quando o dinheiro for desbloqueado. A irresponsabilidade de extinguir o Ministério da Cultura veio complicar ainda mais as coisas.

J - P:

J - P:

A minha ideia nunca foi abanar nada nem ninguém, foi antes ter um ponto de vista pessoal em relação às personagens, histórias e maneira de fazer cinema. É óbvio que quero falar de coisas que me inquietam, os meus filmes são sempre, e irremediavelmente, pessoais, mas não quero com isto dizer que os faço para mim, tento é ser honesto comigo próprio pois acho que é a única maneira de chegar aos outros.

J - R:

Todos os assuntos devem ser falados, discutidos livremente... Nenhum assunto deve ser tabu. Se isso é, ou não, abanar o universo, não sei, talvez seja.

Estou a terminar uma curta encomendada por Guimarães Capital da Cultura e a preparar uma nova longa intitulada O Ornitólogo.

Qual o vosso top 5? J - R:

Assim de repente... Vertigo, de Hitchcock, o Cancioneiro de D. Dinis, Ramones dos Ramones, Grande Palácio HongKong em Lisboa, Whisky Sour, preparado pelo Bruno Abreu no Baliza Bar.

J - P:

Ganharam vários prémios em Locarno, o que trouxe grande visibilidade ao vosso mais recente filme. Qual vai ser a trajetória imediata em termos de divulgação?

Não consigo fazer um top 5, a Ásia é o meu top five...

Agradecimentos a gerencia do Hotel Infante Sagres, Porto

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Š Melba Arellano Shanik, da sÊrie Carretera Nacional, 2011.

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© Nicolás Wormull Sem título, da série Chocolate on my jeans, 2010.

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Fotografia

Fotografias de jovens autores emergentes da América Latina retratam realidades urbanas, quotidianos comuns, fetiches e sonhos, símbolos e crenças, no Photoespaña 2012. O Instituto Cervantes apresenta Esquizofrenia Tropical, exposição inserida na seção oficial da 15ª edição do Photoespaña. Trata-se de uma perspetiva sobre a fotografia latino‑americana contemporânea, comissariada pelo brasileiro Iatã Cannabrava, e que reúne 14 projetos fotográficos de 16 autores de 6 países —Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, México e República Dominicana.

© Jorge Taboada Alta Densidad (detalhe), 2011. Caraterizada por situações extremas, vincadas pelas diferenças sociais, a América Latina espelha-se na enorme pobreza de certos estratos sociais face a economias vertiginosamente ascendentes. Se este desenvolvimento económico de hoje deveria trazer uma atmosfera de conforto e otimismo, diminuindo diferenças face à ascensão e estabilidade da classe média, a verdade é que não deixam de persistir graves dramas sociais, como a pobreza, a violência ou a prostituição. Em cerca de 200 imagens, a exposição fala-nos dessa bipolaridade através de diferentes visões sobre as realidades esquizofrénicas que afetam estes países —as pessoas, o espaço físico comum e o espaço vivencial. Confrontam‑se situações urbanas improváveis, tradições e religiões, com a procura da novidade e a perseguição de ambições, individuais ou colectivas, impostas pela sociedade contemporânea. A pluralidade da linguagem artística leva-nos do estilo documental ao artístico, passando pelo autobiográfico. Ocupando o espaço central da exposição, a megalópole de crescimento desenfreado toma proporções avassaladoras, numa observação altamente crítica sobre a arquitectura e a cidade.

O brasileiro Tuca Vieira apresenta dois trabalhos: Paraisópolis, uma icónica imagem aérea da fronteira da segunda maior favela de São Paulo com o bairro rico do Morumbi, e Copan, uma série de 104 fotografias que, montadas num grande mosaico, retratam o edifício ondulante com o mesmo nome. Desenhado por Oscar Niemeyer na década de 50, o Copan tem sobrevivido na urbanidade paulista, entre a glória do modernismo e a degradação provocada pela intensa ocupação dos seus 1.160 apartamentos. Vieira refere, "os edifícios que mostro são alterna-

tivas extremas de convivência e vamos ter que viver cada vez mais próximos uns dos outros. No momento em que os mercados e os líderes globais fracassam, é preciso olhar para a vizinhança, para quem está ao lado. O pacote da Grécia é importante, mas dizer bom dia ao vizinho também", diz o fotógrafo brasileiro. Outras visões urbanas são Alta densidad de Jorge Taboada (México), que documenta a complexidade visual de bairros de lata e a formação de novos e homogéneos espaços urbanos, e Escultura do Inconsciente de Tatewaki Nio (Brasil), uma crítica ao boom imobiliário de São Paulo, onde “glamorosos” edifícios convivem lado a lado com ruínas, questionando beleza e estética. Em torno deste núcleo, nos espaços circundantes da exposição, os ensaios fotográficos caminham para escalas mais humanizadas, entre viagens ao quotidiano e reportagens intimistas. Com uma perspetiva mais pessoal e desdramatizada, o chileno Nicolás Wormull exibe o conjunto Chocolate on My Jeans. Um trabalho de “uma fotografia por dia”, que retrata a sua própria realidade doméstica, de pai que, diariamente, toma conta dos seus filhos. Melba Arrelano (México) traz-nos Carretera Nacional, nome de uma via do estado mexicano de Guerrero, onde passou parte da sua infância. Nesta série são redescobertas as suas memórias, retratando diversos personagens e detalhes do local.

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© Pedro David Apodi Apodi, da série Aluga-se, 2008.


Fotografia

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Aluga-se é o trabalho do brasileiro Pedro David, elaborado em diversas visitas a apartamentos para alugar. Um exercício de contemplação, na busca do sonho, onde a cor se funde com a luz e a sombra. Já em Juárez, Memory Log Book, Mayra Martell (México) percorre um caminho mais problemático, na busca da memória de Ciudad Juárez, cidade que à poucas décadas atrás tinha um papel económico relevante e que hoje é o decadente palco de guerras do narcotráfico e mesmo do desaparecimento de numerosas mulheres.

© Tatewaki Nio Escultura do Inconsciente #4, 2007. Os outros artistas participantes: Lucia Baragli (Argentina), Guadalupe Casasnovas (República Dominicana), Patricio Crooker e Alfredo Zeballos (Bolívia), José Luis Cuevas (México), Alejandro Kirchuk (Argentina), Alejandro Olivares (Chile), Inés Tanoira e Franco Verdoia (Argentina). Com Esquizofrenia Tropical, o Instituto Cervantes dá continuidade às três edições anteriores do Photoespaña, através da divulgação de trabalhos de jovens fotógrafos emergentes da América Latina. Anteriormente, foram organizadas as exposições Peso y levedad (2011), Encubrimientos (2010) e Resiliencia (2009).

texto — Paula Melâneo

© Tuca Vieira Paraisópolis, 2009.

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Com o passar do tempo, verdadeiramente lar, o seu local de trabalho, cada vez mais portugueses auspiciosos. Ao contrário de rentabilizando tempo e se aventuraram outrora, hoje a rotina diária custos. Entrevistados pela no novo mundo do não é mais “trabalho, casa, PARQ, os casos que se empreendedorismo, casa, trabalho”. Muitos seguem disponibilizaram-se a edificando projetos portugueses fizeram do seu contar como tudo começou. (1) Catarina Simões e Vítor Vasconcelos, 32 anos Atelier Utopia Designers Em 2006, Catarina trabalhava numa empresa de mobiliário em Paços de Ferreira e Vítor era designer num gabinete em Lisboa. Amigos desde 2005, ambos sentiram que as suas ideias e conceitos só passariam a realidade trabalhando como freelancers. Foi assim que surgiu o UTOPIA DESIGNERS. Com formação académica em design, foi em casa que iniciaram a sua actividade profissional e só mais tarde decidiram alugar um atelier. Depois de

fato de, à data, terem empregos estáveis. Da força de vontade destas duas pessoas nasceu um atelier de design particularmente reconhecido pelo seu serviço de design de packaging (indústria farmacêutica) e office space-planning. Embora reconheçam que mudar foi a melhor decisão, Catarina e Vítor admitem que este é um percurso difícil que requer muita perseverança “É preferível começar por trabalhar

por conta de outrem (…) depois com as ideias arrumadas, arriscar”. É esta a principal recomendação

deixada pela UTOPIA DESIGNERS, um atelier com ambiente familiar cujo sucesso se deve em muito à organização da dupla, um elemento fundamental para “ultrapassar obstáculos e voltar rapidamente à pista”. (2) João Pinheiro, 26 anos Diretor-adjunto do Jornal Pedal e estafeta na empresa Camisola Amarela

um ano e meio no espaço, Catarina e Vítor voltaram a trabalhar a partir do lar, mas desta vez numa casa maior, uma decisão que dizem não se arrepender “(…) o atelier é a nossa casa e mais do que isso, é o motor da nossa vida”, afirma Catarina. Estes profissionais arriscaram dar o salto, apesar da distância que os separava e do

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Há três anos que pedalar é uma atividade presente na vida de João Pinheiro. Amante confesso de bicicletas, João conseguiu unir o prazer ao trabalho através do JORNAL PEDAL, uma publicação mensal destinada a todos os habitantes citadinos que vêm neste veículo de duas rodas a opção certa. Ao lado de 5 pessoas, João dirige um jornal que desde o primeiro minuto foi alvo de grande atenção mediática e de uma receção bastante positiva. Seja em casa ou em jardins, o local de reunião do grupo do PEDAL nada tem de convencional, o que permite a esta equipa ter uma plataforma aberta para fazer do jornal “(…) tudo o que quisermos”, afirmou João Pinheiro em entrevista. Com o lançamento da sétima edição em agosto, a publicação promete continuar a surpreender tanto o público que já lhe é fidedigno como os que estão agora a descobrir este veículo. Sendo ainda estudante, João Pinheiro é também estafeta na empresa CAMISOLA AMARELA. Apesar de inusual no nosso país, este serviço de estafeta em bicicleta é, desde há décadas, uma atividade corrente em países como Londres, Nova Iorque ou São Francisco. Seguindo o exemplo internacional, foi em 2010 que João decidiu juntar-se à empresa, fazendo entregas “(…) de uma forma mais ecológica, sustentável e por vezes até mais rápida”, disse João. A estranheza das pessoas nos primeiros momentos deu lugar a uma aceitação cada vez maior, ao ponto de contar que fez um serviço para um gabinete de advogados da CML e quando chegou, recebeu uma salva de palmas. João é assim exemplo de alguém que abdicou do escritório para trabalhar “sobre rodas”, em projetos que acredita e que lhe dão gozo, mas sobretudo projetos onde

trabalha ao lado de pessoas de quem gosta e em quem confia, condição que, na sua opinião, é essencial ao sucesso. (3) Sandra Moura Santos, 41 anos Atelier Teia e Trama Começou por ser JÁ A FORMIGA TEM CATARRO mas, dada a extensão do nome, hoje é TEIA E TRAMA, um atelier que desenvolve projetos na área têxtil/gráfica, confecionando figurinos para a área do espectáculo, para clientes particulares e também têxteis para o lar que se aliam à fotografia, estamparia e gráficos. A responsável, Sandra Moura Santos, conta que tudo começou quando ainda trabalhava para um estilista de renome, numa altura em que também dava aulas. Durante este período, Sandra não deixou de ser solicitada para realizar trabalhos dentro da área do espetáculo e daí até à criação do seu próprio atelier foi preciso dar um salto e correr riscos dos quais a própria admite não se arrepender “(…) desistir des-

te projeto pessoal é algo que não está nos meus horizontes”, confessa.

Embora continue a dar aulas em part time, Sandra trocou o atelier de outrem pelo seu próprio atelier, uma mudança de vida que lhe possibilitou controlar custos, evitar deslocações e ser ela própria a gerir o seu tempo. Para tudo isto, afirma que é imprescindível ter “uma boa dose de

disciplina e bom senso para conseguir separar a vida

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Trabalho

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profissional da pessoal”. Apesar de nunca ter pen- Max Lamb ou Philippe Starck. Mas mais imporsado em si como uma mulher empreendedora, Sandra admite que esta classificação vai ao encontro da sua metodologia de trabalho pois, para além do seu próprio atelier, também dá aulas particulares de costura, modelagem e design têxtil, assim como workshops. Para aqueles que ponderam empreender o seu próprio projeto, Sandra deixa algumas dicas: é essencial construir uma boa rede de contatos, escolher uma área que dê prazer e um rendimento razoável e dedicar gran-

de parte do tempo à atividade. Foi desta forma que Sandra montou o atelier TEIA E TRAMA, um projeto que lhe permitiu ver que podia fazer um bom trabalho e dedicar-se “de corpo e alma” a algo que a realiza. (4) Zé Pedro Abreu, 27 anos

tante que isso, esta formação internacional permitiu a Zé Pedro perceber que não era o Design mas sim a Publicidade que o motivava verdadeiramente. Foi na RMAC/BBDO que teve o seu primeiro contacto com a publicidade “(…) precisava

urgentemente de ver trabalho produzido e de solidificar as minhas bases e descobri que entrar numa agência multinacional era o caminho mais rápido”, con-

ta. Trabalhou também para os SILVA!DESIGNERS, num tempo em que continuou a apostar na sua

própria carreira através da participação em concursos internacionais. A visibilidade além-fronteiras conseguida através destes concursos foi determinante para que Zé Pedro conseguisse chegar a mais clientes e assim criar a sua própria agência em casa, a WORK PLAY & WORK. Hoje faz parte uma rede de crowd source que conta com profissionais espalhados por todo o mundo empenhados no desenvolvimento de campanhas publicitárias. “Trabalho, a partir

de casa, para Londres, Sidney, Nova Iorque e Rio de Janeiro”, diz Zé Pedro.

Diretor Criativo na Work Play & Work Contar histórias reais, com pessoas reais e juntá-las às marcas é o que mais fascina Zé Pedro na Publicidade. Desde cedo que percebeu que o queria trabalhar numa área criativa e foi com este mesmo intuito que se formou em Design pela Universidade de Aveiro, tendo passado pelo Politécnico de Milão e apostado em programas de estágios internacionais que lhe permitiram trabalhar com designers como os irmãos Campana,

Ainda que, na sua opinião, nem todas as pessoas tenham competência para fazer do lar o seu local de trabalho, Zé Pedro vê neste modelo a liberdade e o retorno directo que muitas vezes não se encontra trabalhando para outrem. “(…) embora exija disciplina e responsabilidade extrema (…) a sensação de accomplishment é absolutamente fantástica”.

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texto — Marta Sousa Ferreira fotos — Carla Pires


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Cinema

Segunda longa-metragem escrita, realizada e protagonizada por Miranda July, depois da sua estreia em 2005 com Me and You and Everyone We Know. Have you ever been outside? Um casal, na casa dos 30, vive num apartamento colorido e caótico, cada qual agarrado ao respectivo macbook. É nesta altura que decidem adotar um gato a quem só resta meio ano de vida. Os dois parecem certos de que será um grande feito dar parte das suas vidas a um animal indefeso que precisa deles para sobreviver —e do qual o casal precisa para que se possam sentir grandes. Só que o gato, afinal, com algum jeitinho, pode durar uns bons 5 anos aos seus cuidados, e aí a coisa começa a pesar-lhes. Vejamos: quando o gato morresse, já teriam 40 e já não poderiam fazer nada com as suas vidas, porque dos 40 aos 50 é um pequeno passo e depois dos 50 acabou. Por sorte, o felino está nos cuidados intensivos e lá terá de permanecer por um mês. Sendo assim, o casal decide largar os empregos e fazer algo com propósito e significado durante os 30 dias de liberdade, dado que o gato irá ser um fardo, assim como um filho.

Sophie (Miranda July), professora de dança para crianças, está obcecada com o sucesso no Youtube do vídeo de uma colega, e o objectivo de vida dela —sendo a vida esses 30 dias— é gravar uma coreografia por dia e pô-la online, de modo a ser reconhecida. Claro que a sua obses-

são com o vídeo da outra e o seu estilo totalmente distinto, atrofia-a, frustra-a e impossibilita-a de levar o projecto avante. Necessitando estabelecer contacto com alguém, envolve-se com um desconhecido que até não se importava de partilhar a vida com ela, e Sophie responde-lhe: “If

you watched me all the time I wouldn’t have to do anything”. Ou seja, atingido o objetivo, vai-se o

Adotar o gato seria para eles uma espécie de preparação para o próximo nível —o filho, entenda-se— mas 5 anos —e tendo em conta que depois dos 50 não há nada a fazer— é um tempo consideravelmente longo.

encanto. Só não alcançando esse objetivo se continua na estrada, a desbravar terreno. Sophie falha completamente na sua descoberta. Não a vemos crescer, nem iluminar-se, nem mudar de atitude, nem conseguir o que queria, que não sabemos o que é, porque ela também não. É uma mulher perdida na inércia, com o relógio biológico a dar horas e com a força e o medo do instinto maternal a bater-lhe à porta. Em casa sentia-se protegida, sem grandes distrações ou atrações, mas agora, fora do seu forte,

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Cinema

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descobre uma parte adormecida dentro de si - a selvagem: “I have to tell you something. One thing is that I’m wild.” Tudo o que faz é irresponsável, despropositado e em nada preenchedor, mas, no final, arca com as consequências e fica a saber o que não quer. Jason (Hamish Linklater), por seu turno, é um pouco mais altruísta nas suas escolhas, escolhas essas que advêm de uma premissa maior: o estar atento e alerta para aquilo que o mundo tem para lhe oferecer, assim como o que Jason pode dar ao mundo. Rompendo com o seu emprego de apoio técnico informático, junta-se a uma organização ambientalista e vai de porta em porta tentar vender árvores. No entanto, não é em nenhuma dessas portas que encontra uma ligação, mas sim na porta onde vai comprar um secador para Sophie. É aqui que Jason faz um amigo, com quem almoça, enquanto a namorada está com o amante e dá por si escondida den-

mortalidade e a eternidade: “Living is just the beginning”. Sophie e Jason não mais encontram o caminho de casa —“This is a totally new land now”— mas podem ter encontrado o seu próprio caminho. Não chegam à meta que estabeleceram —Paw-Paw— mas talvez essa meta não lhes tivesse sido destinada. The Future é um excelente exercício sobre o pânico dos trintões que estudaram para ter um emprego satisfatório, mas que vêem os anos passar e esse dia não chega, acabando por se conformar com o que têm e pensar em constituir família ou simplesmente “mandar tudo à fava” e fazer umas quanta loucuras, enquanto ainda há tempo. Outra característica curiosa prende-se com as semelhanças físicas entre Sophie e Jason, com os seus cabelos encaracolados, reflectindo sobre a possibilidade de pesso-

tro da sua camisola protetora, incapaz de compreender e dominar as entranhas. A grande revelação de Jason acontece quando pede a Sophie para se calar, no momento em que esta se prepara para dizer algo que vai mudar o rumo das suas vidas. Com a entrega e aprendizagem a que Jason se submeteu durante o mês, consegue parar o tempo para refletir sozinho. Mas o seu amigo —a lua— está a olhar por ele e ajuda-o a descobrir a aceitação dentro de si. Quando Jason consegue finalmente restabelecer o compasso do tempo, os dias tinham passado, só que ele tinha-os perdido. A vida para além dele continuou o seu caminho. Jason nunca chega a escutar o que Sophie tinha para lhe dizer, assim como Paw-Paw, o gato, que nunca chega a ser resgatado pela família de acolhimento. Mas Paw-Paw também encontra a aceitação e leva-nos a meditar sobre a

as que partilham o mesmo espaço durante muito tempo se começarem a parecer-se um com o outro e a perder a individualidade. O mundo de July é muito particular e não costuma ser percebido com meias medidas: ou se gosta muito ou não se gosta nada. Mas até os haters conseguem distanciar-se e dar-lhe, pelo menos, o mérito de criar uma atmosfera própria para personagens singulares com uma pitada de magia e fantástico que pode ir desde uma camisola com vida própria, a um gato e uma lua que falam ou mesmo poderes sobre o tempo. July segue assim o traço de realizadores como Wes Anderson ou Noah Baumbach. É difícil ficar indiferente a qualquer um deles.

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texto — Inês Monteiro


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Design

texto — Carla Carbone

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Design

Fazer uma cadeira concebida num material tão pesado como o betão parecer tão leve como uma cadeira insuflável, daquelas

que nos lembram as cadeiras coloridas dos anos 60, e que boiavam alegremente nas piscinas, é, obviamente, uma tarefa difícil. Foi a pensar no espaço público, na durabilidade dos materiais e, ao mesmo tempo, na suavidade visual que tejo remy e René Veenhuizen aceitaram o desafio. Tejo Remy e René Veenhuizen produziram uma forma de cadeiras com a aparência insuflável a partir do enchimento de “sacos” de plástico, ou moldes em pvc (à prova de água), com matéria mole de betão, reforçada depois por fibras em metal e aço. Os moldes são colocados numa posição invertida e a matéria do betão é vertida a partir

Central Parq dos pés da cadeira. As pernas são sujeitas a um reforço em aço. O betão, ele próprio, contém ainda pequenas fibras em metal para conferir maior estabilidade à estrutura. As peças levam dois dias a solidificar. Findo o tempo, retiram-se os moldes. Posteriormente, são precisas duas semanas para que a matéria fique definitivamente seca. Depois, é só sentar! O betão —dotado de resistência, durabilidade e solidez— é um material geralmente associado à construção, monolítica. Encarado, nos nossos dias, como um material quase corriqueiro, porque mundano e existente em qualquer construção. Tejo Remy queria fazer peças que fossem, simultaneamente, suaves, táteis e orgânicas, mesmo que fossem feitas a partir de um material habitualmente associado a construções resistentes e rudes. Outros exemplos da aplicação do betão na construção de peças de design surgem do estúdio alemão PaulsBerg, da associação Raelsan Fratello Architects, do estúdio dinamarquês Komplot ou da marca sueca Nola. Florian Schmid bordou um assento em betão com fio vermelho, dando-lhe a aparência de um material maleável, apesar de se tratar de um betão do tipo canvas CC (uma solução impregnada de cimento).

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Central Parq

Oriental → Dris Van Noten

Moda

texto — Margarida Brito Paes

Chegou Setembro… o ano novo da moda! Estamos perante um novo ciclo que começa com tendências invernosas, prontas para sair à rua. Longe ficaram os calções de denim e os tons pastéis. Agora as cores querem-se garridas ou obscuras e os tecidos opulentos.

Oriental → Antonio Marras Algumas das tendências parecem já ter um lugar cativo nas passerelles de inverno. É o caso do estilo militar, com os seus casacos respeitosos, cheios de bolsos e botões; o mesmo se passa com os looks equestres que

Pepluns → Haider Ackermann

Oriental → Proenza Schouler

não dispensam as botas altas, os chapéus e as calças justas em baixo. Mas, se algumas coisas se mantêm inalteráveis de uns anos para os outros, existem outras que vêm revolucionar a próxima estação! Parece que alguns criadores embarcaram rumo ao Oriente e de lá trouxeram os tecidos, as cores e as formas das suas coleções. Falamos de casos como o de Dries Van Noten, Proenza Schouler, Gucci e António Marras; sendo que este últim o ap ro p rio u-se destes símbolos Pepluns → orientais sobretudo em detalhes como Christian Dior golas, um outro elemento que volta a ser tendência, surgindo em desfiles como Louis Vuitton, Rodarte, Marni e fazendo já parte do espólio de inverno em lojas como Bimba&Lola e Tara Jarmon.

Cabedal texturado → Alexander Wang

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Cabedal texturado → Filipe V. Baptista


Moda

Central Parq

Um outro detalhe que passou do verão para o inverno, transformando-se numa tendência incontornável, são os Peplums ("abas” em forma de folho que, na estação passada, adornaram saias e casacos); mas, se outrora surgiram como doces e femininas, agora aparecem com uma força e confiança quase masculina,

Cabedal texturado → Chanel

Padrão Geométrico → Kenzo

Cabedal texturado → Giambista Valli

são mais rígidas e vêm acompanhar looks minimais. Haider Ackermann e Christian Dior são dois bons exemplos desta mudança. Quem também se transformou para esta estação foi o cabedal, surgindo ago-

Padrão Geométrico → Prada

se tinha cansado de viajar, levando grande parte dos designers até ao tempo do barroco e do rocócó para que de lá trouxessem os dourados, as pedras e os bordados, numa opulência só vista em séculos de reis e rainhas e que agora conta com o veludo como grande novidade. Contudo, se a riqueza dos vestidos de outrora

Veludo e Brocado → Gucci

ra envernizado e texturado, o que leva a uma perda do seu ar natural em prol de um look mais tecnológico e futurista que acompanha os metalizados e plastificados, numa verdadeira viagem ao futuro. E se uns viajam no tempo em direcção ao futuro, outros recuperam elementos do passado, como os padrões geométricos e coloridos dos anos setenta, estrelas do desfile da Prada e igualmente presentes na passerelle da Kenzo, de Giambattista Valli, entre outros. Mas a máPêlo Colorido → quina do tempo ainda não Matthew Williamson

decidiu aparecer, também os famosos “dandys” deram o ar da sua graça, oferecendo às mulheres o que antes terá sido extremamente masculino. Falamos de lenços, camisas de colarinho bem apertado, casacos cintados e materiais acetinados, sendo a Miu Miu e Etro duas das marcas responsáveis por esta tendência. Na minha opinião, as grandes novidades da próxima estação são os materiais usados. Presentes no topo da lista estão os brocados e os veludos devoré, que vêm acompanhados pelo pêlo cheio de cor, em versões absolutamente exuberantes —quase Veludo e Brocado → caricaturas dos tradicionais Stella McCartney casacos de peles—, opções divertidas e cheias de atitude para uma das peças mais controversas da estação.

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Pêlo Colorido → House of Holland


Central Parq

De que forma a ascensão das marcas de luxo europeias na China altera o panorama da moda mundial, da imprensa e da publicidade? Há cerca de um ano, cinco dias após o desfile da sua coleção masculina em Milão, a equipa PRADA voou para a China. O objetivo seria organizar um evento megalómano, único e memorável na Academia Central de Beijing do Museu de Belas Artes. A noite dividiu-se entre os desfiles das colecções feminina e masculina Primavera/ Verão 2011, a apresentação de peças exclusivas criadas especialmente para a ocasião e uma dinner party, numa confraternização que juntou criativos, editores e celebridades no espaço desenhado pela unidade de pesquisa do OMA de Rem Koolhaas, a AMO. Mais que um consílio PRADA, a noite tornou-se memorável porque marcou uma viragem no mundo da moda de luxo, assinalando a conquista do mercado asiático pela marca italiana. A PRADA teria observado um aumento de 51% dos seus lucros, apenas na China, no ano precedente. As perspetivas de futuro, prevêem que, dentro de dois anos, o crescimento das vendas dos artigos da marca, na Ásia, excedam as europeias. Mas o sucesso da casa de moda de Miuccia Prada é apenas um exemplo do que está a acontecer no mercado de bens de luxo dos países asiáticos. Outros nomes como Gucci, Hermes, Tod's, Ermenegildo Zegna, Chanel, Louis Vuitton e Salvatore Ferragamo estão a reforçar a sua presença na China como resposta à procura frenética por artigos de luxo que se tem verificado. Procura essa

Consumo acompanhada pelas revistas de moda de uma sociedade que, até há pouco tempo, restringia a utilização de certas tonalidades de vestuário. Contudo, ao contrário do referido anteriormente, estas revistas procuravam, encaixar centenas de páginas de campanhas publicitárias multimilionárias. Como reflexo desta tendência, no ano passado, o New York Times escreveu que os editores da Cosmopolitan haviam decidido dividir as suas edições mensais em duas, dada a impossibilidade de impressão de tão grande número de páginas. O mesmo aconteceu com a revista Elle, que conta agora com cerca de 700 páginas.

A Vogue China também acompanhou a tendência, acrescentando quatro novas edições ao seu plano anual, para assim conseguir manter os acordos publicitários. Como resposta à corrida pela publicidade nas primeiras páginas das e ao consequente aumento de volume das publicações, a Hearst, editora da maioria das revistas de moda da China, chegou mesmo a criar sacos para que os seus leitores conseguissem transportar as compactas publicações. E qual é a razão para este fenómeno? Os leitores chineses têm uma sede insaciável de informação sobre luxo

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Consumo e as revistas de moda são a única fonte oficial deste tipo de conteúdos. Segundo uma estatística libertada pela Hearst, estas revistas são maioritariamente lidas pelo público feminino, com idade média de 29,5 anos e solteiras. Esta mulher de que se fala, possui um salário médio mensal de 1,585 euros e gasta 759 euros por estação em relógios de luxo, 795 euros em bolsas de designer e 863 euros em roupa. Isto apenas se torna possível porque a maioria destas fashionistas (ou fashion victims?) são filhas únicas e vivem em casa dos pais ou avós, que pagam as suas despesas —o que torna “disponível” grande parte do seu rendimento.

Central Parq Quem se lembra da cena do documentário The September Issue em que o editor Tom Florio revela, numa conferência de imprensa repleta de jornalistas, que aquela —Vogue norte-americana Setembro 2007— seria a a maior edição de sempre? Mas face aos acontecimentos no Oriente, a Vogue norte-americana não quer perder a sua posição. Um porta-voz da revista, afirmou que o record do maior

Chen Man para a M.A.C. SS2012

Partindo destas premissas, não é difícil imaginar o quanto o mercado da publicidade quer entrar neste panorama de mercado. Enquanto na Europa e na América do Norte já não existem artigos de luxo e cosméticos que satisfaçam todas as necessidades do público —sendo as cirurgias plásticas um recurso utilizado por muitos para melhorar a aparência— na China este mercado ainda está em desenvolvimento, e exibe tendências únicas. Neste país, a beleza é considerada um balanço entre atributos físicos e inteletuais, que podem ser naturais ou melhorados. Desta forma, a beleza física é vista pelo público chinês como um resultado de cuidados com o exterior. Para eles, a beleza é parte de uma vida feliz, o que explica o seu interesse em artigos de luxo e cosméticos. Num discurso recente, organizado pelo website Ted.com, em Londres, o economista Martin Jacques afirmou que, na sua opinião, 2020 será o ano em que a China irá dominar a economia mundial. Esta irá ultrapassar o poder dos E.U.A e da Europa e, em vez de ser influenciada, a China passará a influenciar. Para quem cresceu nos anos 70 ou 80, repleto de séries norte-americanas e ídolos pop, este cenário é difícil de imaginar. Para a Vogue norte-americana também.

número de páginas será batido na Vogue norte‑americana de Setembro de 2012. A revista com capa de Lady Gaga terá 658 páginas de publicidade, o que marca um crescimento de 14% desde o ano passado. Aparentemente, a Vogue norteamericana pretende contrariar o rumor de que a publicidade está em declínio entre as revistas de moda do país. A publicação de moda mais lendária do mundo irá ainda lançar um concurso no Facebook onde se propõe que os leitores adivinhem o número de páginas da revista. Os 100 leitores que se aproximarem do número real irão ganhar o novo livro Vogue Editor's Eye autografado pelas editoras da glossie. A ironia é que, enquanto o jovem ocidental apenas aposta na sua sorte, no Oriente, dezenas ou centenas de jovens adquirem o seu terceiro, quarto ou quinto artigo de luxo, isto, claro está, falando apenas desta estação.

texto — Diana de Nobrega

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fotografia Nian Canard

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fotografia JosĂŠ Ferreira ass. fotografia Mafalda Especial

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modelo Central Models Laura Matias

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Parq Here Um calor forte temperado pela brisa fresca que corria à noite nas ruas de Lisboa encarregava‑se de relembrar Fanny da magia da cidade. Rente aos muros da Sé, caminhava ao lado de Fred num silêncio religioso, atenta aos burburinho dos cafés e das casas. Acabavam de chegar ao seu destino, o restaurante Esperança. Sentados no interior, rodeados pelo sorriso estampado de turistas estrangeiros em férias, não deixaram de olhar com cobiça para as mesas que o restaurante tem ao ar livre, do outro lado do passeio, junto ao muro de pedra calcária. Conformado com a sorte, Fred, entusiasta da cozinha italiana, pediu um carpaccio de polvo (8,75 euros) e um sfizio di asiago (5 euros). Fanny deliciou-se com as fatias finas de molusco marinho e lascas de nozes e alcaparras que se misturavam com o azeite fino. Era mais pessoa de debicar do que de grandes apetites. Já Fred, não tinha conseguido terminar

Vis—à—Vis

(1)

Esperança texto — Fanny e Fred

Na verdade, sob efeito de um calor que enfastiava, Fanny guardava pouco apetite para uma pizza di fichi (16,75 euros) com figos e presunto. De massa

bem fina, sem o típico pomodoro, estava seca e estaladiça. Fanny entretinha-se a cortar pedaços que enrolava com os dedos, levando‑os distraídamente à boca quando o tema

os dois queijos grelhados aromatizados com fatias de presunto introduzidas na massa mole, servidos por contraste com uma compota de mirtilo, absolutamente irrepreensível. Fanny mantinha-se estoica face ao líquido fresco da sangria de pessego. Satisfazia‑se com os olhares vindos das outras mesas direcionados à grande jarra de litro.

de conversa passava a ser o Bairro Alto. Conheceram-se no Bairro e viveram intensamente aquelas ruas no início do milénio mas hoje lamentavam o deconforto das multidões. Por isso, este segundo Esperança, com uma decoração semelhante mas mais espaçoso, trouxe-lhes de volta a tranquilidade de uma ida ao restaurante. Basicamente, a car-

ta é a mesma. E porque teria de mudar —perguntava Fred, observando que, no essencial, cumpria com brio a oferta que se esperava de um restaurante italiano. E o entusiasmo com que apreciava as vieiras do seu prato de linguini (16,50 euros) ajudava a dar mais enlevo às afirmações que ia tecendo ao longo da noite. Por fim, nada de sobremesas, nem um gelado Santini os tentou. Um passeio pela Rua Cruz dos Poiares, rumo à Baixa, era suficiente para um remate feliz.

Esperança Sé Rua São João da Praça, 103 Lisboa T — 218 870 189

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Parq Here O BCN tem um nome que faz alusão à cidade de Barcelona mas a sigla referese a Beber & Comer by Nova Mesa. Esta referência não é por acaso, porque pretende ser um bar de tapas criado pelo restaurante Nova

Mesa, estabelecido há cerca de três anos na Praça das Flores, em Lisboa. Mais do que repetir o sucesso, Cédric Lecler procurou investir num menu de fusão bastante completo Doze anos depois de ter fechado por questões de segurança, Ana Batel, Eduardo Duarte e Rui Gonçalves resolveram remodelar este clube e, no mês de maio, abriram portas, prontos a receber espetáculos de referência. Para a reconstrução do espaço tiveram a preciosa ajuda de Marcos Sousa Santos que manteve as estruturas originais, onde podia ter intervido

Lojas

(2)

BCN

texto — Maria São Miguel que pode ser servido a qualquer hora e com vários própositos. Ou seja, adequa-se a quem procura uma pausa e uns dedos de conversa em torno de uma bebida e uma tapa, e a quem procura uma refeição mais completa. Por essa razão, foram criados menus de 19 ou 21,5 euros que combinam várias tapas, incluindo bebida, para quem se sinta perdido em termos de porções. Há boas razões para gostar do BCN. Para além de um ambiente

criativo e informal da decoração, também as tapas estão de acordo e são uma evolução das propostas tradicionais. Por exemplo, as batatas bravas incluem um engenhoso furo que serve de recipiente ao molho e são servidas de forma dramática numa tábua de lousa polvilhada com pimentão. Mas o que realmente recomendamos para quem se queira iniciar é uma terrine de foie (8 euros) com uma crosta caramelizada

(3)

Ritz Clube texto — Maria São Miguel

pontualmente com formas, cores e materiais que proporcionassem ao espaço uma atmosfera contemporânea. O teto da sala de espetáculos foi reconstruído como o original, a

partir de fotografias, e as estruturas de ferro reapareceram já que, na verdade, o que se procurou foi recriar o espaço antigo do Ritz. E, de facto, toda a atmosfera do hall, predominantemente branco, e as salas adjacentes (vermelha para o wine bar e verde para a cafetaria) são, nessa transição de cores, o melhor do conjunto. Em termos de colaborações, de notar também a intervenção nas fardas da dupla de criadores Os Burgueses, e a parte

94

de queijo de cabra servida com compota e fatias de pão de nozes. De chorar por mais. BCN Largo Rafael Bordalo Pinheiro, 18 Lisboa T — 213 966 287 gráfica, notável, do atelier Maga. Todos, no conjunto, exploraram uma certa ideia de sofisticação e de modernidade que estava por detrás da decoração contemporânea do original Ritz Clube.

Ritz Clube Rua da Glória, 57, Lisboa 3ª a 4ª e Dom., 19h – 4h 5ª a Sáb., 19h – 6h Encerra à 2ª. Cerveja 2,5€, Whisky 5€


Lojas

Parq Here

(4)

Skinlife

texto — Maria São Miguel fotos — Maria Mayer

Com uma coleção única e exclusiva de perfumes, maquilhagem e produtos de pele e cabelo, a SkinLifE é o

de crise, as pessoas querem gastar o seu dinheiro em qualidade”, afirma Dennis, um dos responsáveis. Situada na Rua Paiva de

no país. Dennis já trabalhou num resort de Spa exclusivo, fez a make-up de vários filmes e programas de televisão e também colaborou com marcas de renome, como Creme de la Mer. Com igual sucesso profissional, Patrick,

espaço obrigatório do público apreciador de marcas de beleza com

Andrade, em Lisboa, a loja surgiu pelas mãos de Dennis e Patrick,

verdadeiro apaixonado por sobrancelhas, foi make-up artist

dúvida um espaço especial, propõe aos seus clientes “um

o mais alto padrão de qualidade de todo o mundo. “Em períodos

que ofereceram a Portugal marcas outrora inexistentes

da Chanel Benelux e responsável pela maquilhagem de

estilo de vida com o toque pessoal de Patrick e Dennis”.

95

grandes eventos. O serviço personalizado oferecido pela loja é outro dos pontos a favor. Que tal tomar comer um croissant, beber um sumo de laranja ou um café enquanto a sua maquilhagem está a ser aplicada? Sem


Parq Here

Bebidas

(5)

A Absolut Elyx é a nova edição da vodka Absolut, que trás como novidade um processo de destilagem manual numa coluna de alambique de cobre de 1929. É uma vodka a competir no mercado premium recorrendo a uma experiência de séculos, passada de geração em geração pelos destiladores de vodka suecos. É tudo manual sem qualquer tecnologia ou computador a controlar.

Recuso-me a acreditar que o verão esteja a terminar, e prefiro imaginar que os dias de verão se vão suceder. Por isso mesmo, as minhas sugestões vão ao encontro do meu desejo de calor e de me refrescar com vinho branco, bem fresco! O primeiro vinho que sugiro, da autoria do énologo Francisco Montenegro, Bétula 2011, trata-se de um vinho feito pela junção de duas castas, Viognier e Sauvignon Blanc que originam um vinho cheio de aroma, frescura e bons momentos de prazer. O Bétula tem uma cor amarelo palha, no nariz tem notas minerais e fruta branca pouco madura. Na boca é um vinho com boa estrutura, em sintonia com o nariz, acidez bem integrada com notas de tosta muito

Elyx

texto — Maria São Miguel

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Vinhos

texto — Romeu Bastos

Segundo os entendidos, este novo Absolut Elyx tem um sabor levemente floral e no essencial é mais cremoso e suave na boca permitindo que seja consumido preferencialmente de forma pura com uma simples pedra de gelo para que se possa desfrutar totalmente do seu sabor. Para quem achar ainda assim agressivo no palato, é igualmente perfeito em martinis e cocktails clássicos onde a sua pureza e textura sobressaem.

leves da barrica onde fermenta o Viognier. Tem um final longo e é o vinho ideal para acompanhar pratos de peixe gordos ou mais condimentados. O segundo vinho, trata-se do vinho da Quinta do Gradil, feito inteiramente a partir da casta autóctone da região do Douro, Viosinho. É um vinho de cor amarelo pálido, frutado, mineral com acidez a sobressair mas equilibrada. Trata-se de um vinho seco, com boa presença de boca mas ainda a precisar de um tempo em garrafa. Acompanha bem uma salada composta e peixes grelhados.

Bétula 13€ Quinta do Gradil Viosinho 6,00€

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