M I G U E L M A R C E L I NO
O NOVO I NT E ND E NT E K IN D N E S S
M I G U E L JA N UÁ R I O
PARQ MAGA ZINE
N.44. ANO VI . DE Z . 2014 TEXTOS
DIRECTOR Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com EDITOR Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com COORDENAÇÃO EDITORIAL Rui Lino Ramalho COORDENAÇÃO DE MODA Tiago Ferreira DIRECÇÃO DE ARTE Valdemar Lamego v@k-u-n-g.com www.k-u-n-g.com
Ana Margarida Meira André Silva Beatriz Teixeira Carla Carbone Carlos Alberto Oliveira Cláudia Azevedo Lopes Davide Pinheiro Francisco Vaz Fernandes Hugo Filipe Lopes Joana Teixeira Marcelo Lisboa Maria São Miguel Paula Melâneo Pedro Lima Roger Winstanley Rui Lino Ramalho Rui Miguel Abreu Sara Madeira Vânia Marinho FOTOS
PERIOCIDADE: BImestral DEPÓSITO LEGAL: 272758/08 REGISTO ERC: 125392 EDIÇÃO Conforto Moderno Uni, Lda. NIF: 508 399 289 PARQ Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000-251 Lisboa T. 00351.218 473 379 IMPRESSÃO EURODOIS 20.000 exemplares DISTRIBUIÇÃO Conforto Moderno Uni, Lda. A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq. Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 — 2014 PARQ. ASSINATURA ANUAL 12€
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António Bernardo Carlota Andrade Celso Colaço Herberto Smith Inês Silva Maria Rita Nian Canard Sal Nunkachov STYLING Ana Benedita Tiago Ferreira
EDITORIAL Bye Bye 2014 Custou a passar, custou. Ainda assim, a PARQ é uma fonte de otimismo, não porque não vejamos o que nos passa em redor, mas porque sobrevivemos nas frinchas de um mundo real, onde nos chegam sempre exemplos de coragem que nos levam a seguir esses percursos. Nesta edição, temos como destaque Miguel Januário, o senhor mais ou menos, algo que podia ser tão típico do conformismo português, mas que, conjugado com alguns lugares comuns, pode tornar-se a ponta de um pensamento destrutivo. Mas abrir brechas é ainda o que presenciamos todos os dias na zona do Intendente em Lisboa, onde diferentes agentes fazem, cada vez mais, acontecer coisas num sentido inclusivo, onde velhos e novos moradores se encontram. Nesta edição, procuramos alguns desses protagonistas, num gesto simbólico, já que cabiam muitos outros, provavelmente até mais emblemáticos. Voltamos para o ano , votos de um excelente 2015.
por Francisco Vaz Fernandes
N.44. ANO VI . DE Z . 2014
PARQ MAGA ZINE YOU MUST
M I G U EL M AR C EL I N O
O N OVO I N T EN DEN T E K IN D N ES S
M I GUE L JA N UÁ R I O
Fotografia: CELSO COLAÇO Styling: TIAGO FERREIRA Modelo: VITÓRIA @ Karacter Models Make-up & Hair: SANDRA ALVES
Biju Bubble Tea Room Quyen Dinh Narrador Relutante Boyhood Revista Gerador Keep it Simple Pi Piiii! Sound System Culture Por detrás das Sombras Joaquim Correia Superintendente Converse vs Polar Skate Ray-Ban Denim Verterra Ai Ai Ai headphones, Samsung Alpha, Ck One, Khiel's, Tom Ford, Only the Brave Shopping
Arquitetura Arte Arte Cinema Imprensa Cinema Feira Música Moda Moda Social Moda Moda Moda
04 06 08 10 12 14 15 16 17 18-19 20-23 24 25 26
Prendas Shopping
27 28-29
Música Música
30-31 32-33
Arte Arquitetura Televisão
34-39 40-43 44-45
Moda Moda
46-53 54-61
Noite
62-67
SOUNDSTATION
t-shirt ADIDAS x RITA ORA
Cooly G Kindness CENTRAL PARQ
M I G U E L M A RC E L IN O
O N OVO I N T E ND E NT E
Miguel Januário Miguel Marcelino Masters of Sex FASHION The Confinement of all The Beginners PARQ HERE
K IN D N ES S
M I GUE L JA N UÁ R I O
Fotografia: CELSO COLAÇO Styling: TIAGO FERREIRA
Cais do Sodré
Modelo: MATILDE @ Karacter Models Make-up & Hair: SANDRA ALVES macacão ADIDAS x RITA ORA, óculos de sol ALEXANDRA MOURA
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Arquitetura
Biju Bubble W W WW.WBWIJ. U B
T E A .C
U BBLE G U N DRY DUC K ER .C OM
YOU MUST
OM
No coração de Londres, encontramos matéria-prima portuguesa entre os vapores de uma infusão leitosa decorada com pérolas de fruta: o bubble tea. Os arquitetos GUNDRY&DUCKER inspiraram-se na frescura deste chá — bebido em Taiwan nos anos 80 — para criar um espaço amplo, moderno e sociável, em que o foco é a "cozinha líquida”, onde se prepara a infusão — o BIJU BUBBLE TEA ROOM. De modo a refletir a sua essência natural, conceberam um estúdio com apontamentos de cortiça portuguesa: bancos almofadados, degraus corridos e blocos que podem servir de mesa ou de apoio. O lado descontraído do chá vê‑se representado na paisagem interior, gráfica e vibrante, que rasga as paredes com cor. GUNDRY&DECKER reproduziram uma sala de chá moderna, com um conceito informal, que convida a experienciar infusões com sabor a design minimalista. "Um banco de cortiça e um bubble tea, por favor”.
Tea Room 4
T: Joana Teixeira
#WEARETIPPED
FREDPERRY.COM
SAGATEX, LDA — Tel:+351 225 089 153 — www.sagatex.pt
Tat too Ar t
YOU MUST
Quyen Dinh W W W.QU Y
E N - DI N
H .C O M
“Na arte, não há nada tão visualmente estimulante como as cores inalteradas do acrílico em tela”. QUYEN DINH é uma artista vietnamita que chegou nos anos 80 ao sul da Califórnia, com outros refugiados que desembarcaram na terra do Tio Sam à procura de liberdade. Nos Estados Unidos, encontrou o caminho de tijolos amarelos para construir o seu american dream, pintado com formas simples, contornos fortes e cores vibrantes — tal e qual como nos cartoons infantis ou nos livros de colorir. Autodidata na arte de pintar, QUYEN foge todos os dias para dentro de uma tela diferente, inspirandose na cultura pop e no estilo de tatuagem tradicional para reproduzir imagens graficamente curiosas, carregadas tanto de personagens introspetivas como de figuras culturalmente conhecidas. A sua veia de tattoo artist transportou-a da tela para a pele, tendo começado recentemente a tatuar os seus desenhos. No seu espólio de cor, tropeçamos em filmes de culto, como Pulp Fiction e Clockwork Orange, músicos intemporais, como MORRISSEY, enfermeiras tatuadas e cenários românticos com damas e cavalheiros dos anos 20. Fica a tentação constante ao olhar de brindar o corpo com um dos seus trabalhos.
Tattoo Prints 6
T: Joana Teixeira
SAGATEX, LDA — Tel:+351 225 089 153 — www.sagatex.pt
Narrador Relutante
YOU MUST
S A tey H nd er ito Vi rea l,L de , ov o 20 ely sti 0 lls 7,
Arte
Centrada no universo multicultural de Berlim, chega-nos uma exposição que acaba por ser uma das grandes surpresas no programa expositivo nacional. O “Narrador Relutante” é uma exposição comissariada pela curadora portuguesa ANA TEIXEIRA PINTO, que reside há vários anos em Berlim, onde é atualmente professora da Humboldt University. A pretexto de uma leitura sobre as “narrativas” na arte‑contemporânea, traz um conjunto de obras de 18 artistas de diferentes nacionalidades, onde se evidenciam as diferentes estratégias dessa prática. Em quase todos eles, a partir de vários medias, assistimos a um revisionismo de ideologias e de destinos, coletivos e individuais, onde o biográfico e o social se cruzam, construídos por narrativas de carácter ficcional, ainda que, por vezes, assente em factos históricos. São obras onde há uma evidente tentativa por parte do artista de encontrar uma ordem que possa dar um sentido ao presente individual ou coletivo. Desse inquérito sobre o passado, podia resultar uma exposição com um tom nostálgico, no entanto, perspetivas mais irónicas, sentidos duplos sobre a nossa cultura conduzem o espectador a memórias pessoais e a um entendimento emocional. AMÁLIA PICA relembra-nos episódios anedóticos, eclipsados pelos grandes momentos da história, como pode ser a chegada do homem à lua. HITO STEYERL constrói um documentário cómico, onde mistura imagens do homem-aranha com outras que resultam das suas peripécias em busca de umas antigas imagens bondage da artista, abrindo-nos as portas dos bastidores da indústria pornográfica no Japão. Já JOHN SMITH, numa das projeções de maior impacto, oferece-nos a destruição do bairro onde viveu, submetido ao novo plano rodoviário de uma Berlim unida, fazendo alusão à teia de aranha que cerca o cidadão, numa clara leitura do sentimento do homem moderno face ao seu entorno político-social. No ano em que se comemoram 25 anos da queda do muro de Berlim e, consequentemente, a falência das grandes correntes ideológicas do séc. XX, mas também, o fim do determinismo vanguardista no capítulo das artes, elementos profusamente explicados no texto introdutório da curadora, esta exposição é ainda uma boa oportunidade para refletir sobre uma das efemérides que marcam a atualidade.
, ica P a 's ali mion 11 m y A nd , 20 E ney r Jou
Room view Nina Beier,Shelving for Unlocked Matter, and Open Problems, 2013
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T: Francisco Vaz Fernandes
Cinema
Boyhood
YOU MUST
Doze anos. Foi o tempo que Boyhood levou a ser filmado. Se está com dificuldades em situar‑se no tempo, basta pensar que as rodagens do filme começaram no mesmo ano em que o Sporting foi campeão nacional pela última vez: 2002. É uma batelada de tempo, não é? É verdade que já houve outras produções que se estenderam por largos anos, mas estamos a falar essencialmente de casos relacionados com problemas de financiamento. Boyhood está fora desse baralho. A conceção de RICHARD LINKLATER foi tão básica quanto magistral: "Se é para fazer um filme sobre a mocidade, há que filmar a mocidade na sua literalidade”. Entre Julho de 2002 e Outubro de 2013, o realizador da trilogia “Before” reuniu o mesmo elenco três a quatro vezes durante cada ano para gravar, perfazendo um total de 39 dias de filmagens. Mason (ELLAR COLTRANE) é o epicentro de um relato que, mesmo pertencendo à dimensão ficcional, não poderia ser mais autêntico. Somos convidados a revisitar a ingenuidade da sua criancice, a efervescência da sua puerícia e a calibragem da sua maioridade. Boyhood poupa-nos daquelas transições infelizes em que a tela escurece e surge a patética "didascália”: “Ten years later”. A passagem do tempo deixa marcas indeléveis e não há maquilhagem nenhuma no mundo que seja mais real que a própria realidade. Vencedor de vários galardões internacionais e apontado ao Urso de Ouro em Berlim, Boyhood estreou nos cinemas portugueses no passado dia 27 de novembro.
DOZE ANOS ESCRAVO... DE UMA CÂMARA, DE UMA HISTÓRIA E DE UMA ESSÊNCIA.
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T: Rui Lino Ramalho
Imprensa
W.ACU LTU
R A P ORT
U G U E SA
.P T
WW
Revista Gerador
YOU MUST
O PEDRO, o MIGUEL e o TIAGO acharam que a ficha da Cultura estava há demasiado tempo desligada da tomada. Culparam a crise pela falta de eletricidade e decidiram procurar um gerador. Ligada agora à corrente, a Cultura Portuguesa surge mais energizada do que nunca, num formato pequenino que pode (e deve) ser colecionado. Chama-se Revista Gerador e vai estar nas bancas de três em três meses, sempre com um tema e design diferentes. A PARQ conversou com PEDRO SAAVEDRA, o artista-editor da Gerador. No café Vertigo, na Travessa do Carmo, em parte o berço da revista, PEDRO contou que a Gerador é feita por vários colaboradores de diversas áreas. Do teatro ao cinema e da banda desenhada à gastromonia, PEDRO prefere, no entanto, esquecer as categorizações habituais e chamar tudo isto de Cultura. A segunda edição já chegou às bancas e é uma homenagem a todos os "números dois” da Cultura Portuguesa. PEDRO explica-o: “Vivemos numa sociedade em que ganhar, ser o primeiro e ter a medalha de ouro são coisas sobrevalorizadas. E nós queremos valorizar o esforço. O segundo lugar não é o primeiro dos últimos, é ficar a um bocadinho de ser realmente o primeiro!”. Onde encontramos a Gerador? Um pouco por todo o lado. Há pontos de venda espalhados pelo país e tanto a Fnac como as papelarias Note também a têm. Para quem não quer perder nenhuma edição, basta procurar a Gerador no Facebook e fazer a subscrição.
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T: Beatriz Teixeira
Imprensa
YOU MUST
Keep it Simple
Se 1977 é conhecido como o ano em que o punk nasceu, 2014 ficará certamente conhecido em Portugal como o ano em que o género se tornou objeto de estudo. O projeto Keep It Simple Make It Fast (KISMIF), da responsabilidade da socióloga PAULA GUERRA, procura servir de arquivo, contexto e montra para todas as coisas punk lusitanas no período compreendido entre 1977 e 2012. Neste universo cabe um pouco de tudo, desde bandas até fanzines, passando por personagens marcantes ou episódios caricatos e, de alguma forma, relacionados com o punk rock nacional. E se é verdade que em plena era da informação a internet tem tudo e mais alguma coisa, não só há muitas vezes falta de contexto, como também a realidade nacional se pauta pela diferença, já que há ainda muito boa gente que não conhece a importância de bandas como os FAÍSCAS e os MINAS & ARMADILHAS, ou de fanzines como LIXO ANARQUISTA e CADÁVER ESQUISITO. E é aqui que entra o KISMIF, não só com a história duma cultura urbana ímpar, mas proporcionando também as estórias, que são muitas vezes aquilo que cimenta as lendas e permite que o culto viva na eternidade.
Make it Fast 14
T: Hugo Filipe Lopes
YOU MUST
Feira
Pi Piiii!
“ENCHE A BAGAGEIRA E FAZ‑TE À FEIRA”
Tens alguma tralha em casa ou coisas que já não usas? Uns pequenos “tesouros” que gostarias de vender? Restauras objetos? És artesão? Artista? São todos convidados a fazer parte da Feira da Buzina. Só precisas de carregar a bagageira do teu carro e fazer-te à feira. A Feira da Buzina já vai na sua sétima edição, a realizar-se no dia 14 de dezembro, e tem subjacente o conceito de car boot sales, ou seja, uma feira em que os vendedores enchem a bagageira do seu carro ou carrinha e a usam como expositor de venda para os seus produtos. Sob o mote “nada se perde e tudo se transforma”, a empresa de organização de eventos TAIGA que, além desta feira, organiza também o Stockmarket, pretende criar um espaço de exposição e venda neste conceito que põe o veículo de transporte em destaque. Aproveita para passar um domingo diferente a vender as tuas coisas ou à procura dos mais variados objetos. A entrada é grátis e qualquer pessoa pode inscrever-se como vendedor, através do preenchimento de uma ficha de inscrição disponível na página de Facebook e mediante o pagamento de 35€ + IVA, aplicável a viaturas ligeiras e comerciais, ou 45€ + IVA, para carrinhas, SUVS e Jipes. Esta feira conta ainda com ofertas para saciar o apetite dos ávidos compradores e vendedores e com performances de vários artistas ligados à arte urbana.
T: Vânia Marinho
F: Inês Silva
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Música
YOU MUST
Sound System
Um novo livro lançado pela ONE LOVE BOOKS documenta o peso da cultura de sound systems num enclave improvável de Inglaterra. O trabalho assinado em Sound System Culture – Celebrating Huddersfield’s Sound Systems por AL FINGERS, MANDEEP SAMRA e PAUL HUXTABLE é o que normalmente se classifica como um labour of love. Trata‑se de um incrível documento, amparado não apenas por textos académicos que dão conta da evolução da noção de raça na sede de um antigo império, mas também pela própria afirmação de identidade dos descendentes dos jamaicanos e do papel que a música representou nessa afirmação. E depois, claro, há os documentos visuais, riquíssimos: imagens de um vasto arquivo que demonstra como HUDDERSFIELD, situado nas Pennine Hills de West Yorkshire, se revelou um importante pólo na disseminação de uma cultura que é hoje absolutamente global.
W W W.ON ELO
V EBOO
K S.C OM
Heritage HiFi speaker boxes, manufacturado exclusivamente por Paul Axis (Huddersfield) para ser usado na exposição itinerante de Mandeep Samra que acompanha o livro Sound System Culture. Foto por Elliot Baxter.
oma s, elroy Th , Harry D : a d r e ey Da esqu ga Pu ss” Pu s sfield, g i er d B d “ u Orvelle arl Pu sey, H elle “Bigga v C r and sia O s oto corte ne Love Book F . 7 7 9 O 1 / y e s u Pu ss” P O facto de hoje, em Portugal, ser possível presenciar essa verdadeira massagem para a alma e para os ouvidos — que resulta da equilibrada gestão de frequências através dos crossovers que alimentam um som como o SIMPLY ROCKERS — é a prova de que esta cultura, originada na Jamaica e difundida para o mundo através de Inglaterra, há muito se implantou como uma linguagem global. Sound System Culture mostra, por isso mesmo, um dos princípios da história. ARMAGIDEON e ZION INNAVISION, o clube ARAWAK, a VENN STREET, o MATAMP ou o VALV-A-TRON são pontos cardeais de uma rosa-dos-ventos singular, que firma a traço grosso o papel de HUDDERSFIELD no mapa de uma cultura de Sound Systems que continua a evoluir até aos dias de hoje no Reino Unido e, consequentemente, no resto do planeta. Do ska e do reggae ao dub e ao dancehall e daí aos cruzamentos com a cultura de raves e ao arranque daquilo a que Kode9 chama o “hardcore continuum” — jungle, drum n’ bass, uk garage, two step, grime, dubstep, uk funky e todas as mutações bass possíveis e imaginárias. De HUDDERSFIELD ao NOTTING HILL CARNIVAL e daí às noites quentes do Cais Sodré, quando o SIMPLY ROCKERS comanda os médios, agudos e graves. Há toda uma história que continua a desenrolar-se. Em Sound System Culture, ela ganha visibilidade. E nobreza.
Culture
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T: Rui Miguel Abreu
YOU MUST
Moda
Por detrás
O MUSEU DO DESIGN E DA MODA (MUDE) acolhe até ao dia 25 de Janeiro, na Rua Augusta, em Lisboa, uma exposição que é uma autêntica viagem no tempo. Com óculos de 1750 até aos anos 2000, Por Detrás das Sombras representa uma parte da coleção da empresa familiar ANDRÉ ÓPTICAS e é composta pelos modelos que mais marcaram a História. Dos mais raros e antigos aos mais extravagantes e desejados, contam-se cerca de 400 óculos expostos nas gavetas da Sala dos Cofres, do MUDE. A PARQ esteve lá no dia da inauguração e teve a oportunidade de falar com ANDRÉ LEAL.
MUDE A do nd s C ré of Lea r Li es d l na sb o S oa M a . ud la e,
~~~ R. Augusta, 24 ~~~ Até 25 de Janeiro
Como é que óculos tão raros chegam até à André Ópticas? Alguns óculos são já do tempo em que os meus pais começaram a trabalhar na ótica. Também há armazéns que fecham, há outros colecionadores, há lojas que fecham e os stocks vão para leilão... Há uma variedade de formas. Mas como a coleção já está a atingir uma dimensão considerável e já temos praticamente tudo aquilo que gostávamos de ter, faltam-nos apenas os mais raros e isso vai sendo cada vez mais difícil de conseguir. E quantos óculos tem a colecção? Cerca de três mil. Em exposição estão apenas 360/380. Como é que foram escolhidos? Não foi fácil. A exposição está dividida em cinco núcleos. No primeiro, temos peças de entre 1750 até 1950 e aí a intenção é mostrar a evolução do objeto — antes de terem as hastes, depois de as terem, quando passam do metal para as massas... No núcleo seguinte, temos peças de autor e peças mais conceptuais. No terceiro núcleo, damos ênfase aos produtores do norte da Europa. No quarto núcleo, aos principais produtores de óculos extravagantes e as peças que ficaram em arquivo para videoclipes. No fim, damos destaque aos principais fabricantes do mundo, de Itália e França. Quais são os seus modelos favoritos? Talvez os Benjamin Martin, que envolveram uma busca de cerca de 13 anos. Como descreveria a exposição? É um flashback. Vemos os óculos primeiro enquanto objeto funcional e depois enquanto objeto de amor. Não é extensível a toda a gente, mas há cada vez mais pessoas que têm realmente um love affair com os seus óculos e que os usam não só para correção visual. Há muitas pessoas que usam óculos sem graduação e que os têm por ser um acessório para sair e para dar com determinado outfit.
das Sombras
T: Beatriz Teixeira
F: Inês Silva
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Moda
Joaquim
YOU MUST
Fotografia
CARLOTA ANDRADE
Produção
JOAQUIM CORREIA
JOAQUIM CORREIA é fascinado pelo mundo das artes. Gosta de explorar novos materiais, de desenvolver conceitos e de transpor isso para o vestuário. A vontade de criar roupa parte de uma necessidade que sente de materializar os conceitos que vai engendrando. E é isso que está expresso também na sua estética. JOAQUIM pega em emoções, numa parte mais intelectual do ser humano, e dá-lhes forma e textura, tornando-as visíveis e orgânicas. A PARQ falou com o designer para saber mais sobre “Epidemia”, a coleção que apresentou na passada edição da ModaLisboa. Fala-me desta coleção. “Epidemia” tem como conceito o contágio dos efeitos causados pelo tempo sobre as matérias‑primas. Foram concebidos moldes em ferro e gesso, projetados em negativos, a partir dos quais se criam as peças (não-tecidos), resultando numa silhueta direita, tridimensional e ampla.
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YOU MUST
Moda
Correia Cabelos
METROSTUDIO
Modelo
JOSINES
(DaBanda Model)
O que te deu mais gozo na criação desta coleção? Trabalhar com madeira e metal, por serem duas matérias-primas que nunca tinha experimentado, e ter dado continuidade à exploração do látex. As tuas coleções são muito à base dos tons de terra. Porquê? Os tons de terra refletem a oxidação e remetem para o “passar do tempo”. Os pigmentos são adquiridos através de elementos naturais, resultando em tons metálicos, castanhos e beges. O que é que te inspira? Quem é que admiras? A minha inspiração vem do conceito de trabalhar a parte intelectual e emocional do ser humano, dando formas e texturas aos sentidos e sentimentos. Eu admiro o ser humano e a capacidade que tem de evoluir. T: Beatriz Teixeira
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Social
YOU MUST
Superintendente O Intendente tem uma roupa nova. Renovado, o largo principal faz-se hoje rodear por pequenos espaços que trazem vida e cor a esta zona da cidade de Lisboa. E isso deve-se, em parte, aos muitos projetos que têm vindo a ser desenvolvidos pelos amantes do bairro. A PARQ foi saber quem são estes apaixonados pelo Intendente e por que é que tentam a todo o custo salvar a identidade deste bairro a que chamam casa, ainda que alguns nem lá tenham nascido.
PATRÍCIA & INÊS
W W.CASAIN
D E PE N D
E N TE.CO
M
W
Casa Independente
CASA INDEPENDENTE é a segunda casa de PATRÍCIA e INÊS e é suposto ser também o lar-doce-lar de quem a queira visitar. Com as portas sempre abertas, este é um espaço cultural onde há concertos, workshops e até um serviço de cafetaria. Isto tudo com um gostinho acolhedor. As cadeiras e sofás são da Feira da Ladra, o pátio tem flores, os bolos são caseiros e a música é sempre diferente. Do reggae ao rock, passando pelo funáná e não esquecendo o hip hop, cada dia é uma surpresa neste espaço, que tem como objetivo unir toda a gente, “do tipo fino ao gajo do Intendente”, usando as palavras de PATRÍCIA e INÊS.
20
T: Beatriz Teixeira
Social
YOU MUST
Superintendente
I N A M U I F FILIPPO r Designe
W W W.FI U M A N I.IT Italiano de origem, FILIPPO veio para Portugal para tirar um mestrado em Design no IADE e para testar as ondas da costa portuguesa. Ao Intendente chegou, por acaso, em cima do seu skate, há coisa de três anos. É impossível entrar na CASA INDEPENDENTE e não reparar no enorme mural à entrada, cuja pintura foi satirizada por FILIPPO. O acaso tornou-se hábito e por lá se mantém por causa dos copos e para fazer trabalhos de Design. Pippo, como é conhecido por todos, procura sempre abraçar projetos provocantes e frescos que façam as pessoas refletir. É obrigatório espreitar o seu site.
F: Herberto Smith
21
Social
YOU MUST
SAMUEL ARAÚJO Bike Pop
W W W.BI K E P OP.P T A vontade de promover a bicicleta enquanto meio de transporte sustentável fez nascer a BIKE POP, uma oficina social com preços especiais. O projeto é liderado por SAMUEL, que não quer que a cultura da bicicleta se perca e acredita no Intendente como uma boa zona para a dinamizar. É que para além dos moradores do bairro estarem a resgatar as suas bicicletas do sotão para lhes dar um novo uso, também os muitos imigrantes chineses e indianos, que ocupam o Intendente, querem recuperar os hábitos que tinham nas suas terras natais, onde a bicicleta é um transporte popular.
22
T: Beatriz Teixeira
Social
YOU MUST
JO Ú A R A O I N A N T ÓIntendarte E5G
F
OM /INT
E N DA RT
E
ACEBOOK.C
O INTENDARTE é um projeto comunitário aberto a todas as pessoas que procuram um espaço, quanto mais não seja para conversar. Entre crianças e idosos, a INTENDARTE acolhe todos aqueles que não querem andar pelas zonas menos boas do bairro. ANTÓNIO, há um mês como membro da equipa, confirma que o Intendente mudou, mas alerta que ainda há muito que fazer pois, ainda que o Intendente tenha uma roupa nova, estes projetos devem manter‑se firmes para continuar a dinamizar aquele que foi um dos mais problemáticos bairros da zona de Lisboa.
F: Herberto Smith
23
Moda
Converse
YOU MUST
A CONVERSE INC. apresentou a nova coleção Converse CONS Polar Skate Co.. São sete as peças que resultam da primeira colaboração entre a CONVERSE CONS e a marca sueca POLAR SKATE, fundada em 2010, por PONTUS ALV, embaixador da CONVERSE CONS. A nova coleção nasce do desejo de PONTUS ALV de criar uma linha de produtos que, tanto o próprio, como os seus amigos, quisessem usar. A POLAR SKATE CO., marcada por um sentido de diversão, estilo e criatividade, tem sido preponderante na cena do skateboarding a nível mundial. As Converse Pro CONS CTAS Pro em suede feitas à mão, em preto, bege e azul marinho, apresentam rostos felizes e tristes que adornam o calcanhar e o interior da lingueta e têm ainda uma palmilha Lunarlon para um maior conforto. A coleção Converse CONS Polar Skate Co. está disponível a um preço aproximado de 80€ para as versões baixas e 85€ para a versão alta.
Polar Skate 24
T: Rui Lino Ramalho
YOU MUST
Ray–Ban
A RAY–BAN continua a pautar as suas criações pela inovação. Numa nova coleção, especialmente virada para os acabamentos, a marca de óculos de sol produziu um modelo totalmente adornado com denim. DEBBIE HARRY, vocalista dos BLONDIE, já teve a oportunidade de os experimentar. Para o District 1937, evento de lançamento da coleção, em Nova Iorque, a RAY–BAN convocou os americanos BLONDIE, numa alusão à atitude inovadora que é —simultaneamente— apanágio da banda e da marca. Por encomenda de DEBBIE HARRY, IAN BERRY (aka Denimu) criou um retrato da vocalista 100% denim, onde não faltaram os Wayfarer, os primeiros óculos de sol feitos inteiramente deste tecido.
Denim T: Rui Lino Ramalho
25
Moda
Moda
Verterra
Verterra Mid Waterproof 129,90€
Verterra Waterproof 119,90€
YOU MUST
Verterra Waterproof 114,90€
Para não abrandar o passo em terrenos difíceis, a MERRELL apresenta a nova linha Verterra com modelos à prova de água específicos para senhora e homem. Apesar do aspeto de sapato de montanha, os Verterra foram construídos a pensar numa redução de peso para que se tenha a sensação de estar a usar uns ténis leves assegurando, ainda assim, a durabilidade e o conforto sobre os piores pisos. Assegurar uma maior liberdade de movimentos e ligeireza tornaram-se o foco deste novo modelo da MERRELL. A inovadora tecnologia Stratafuse™ produz gáspeas pouco volumosas e leves para um ajuste tipo luva ao mesmo tempo que proporciona uma maior agilidade. A sola intermédia MBound TRK proporciona feedback instantâneo em contacto com o solo, para uma passada mais precisa, seja sobre pedras, lama ou plantas. Relevos específicos na sola M Select™ GRIP aumentam o contacto com o solo para uma maior tração e estabilidade.
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T: Maria São Miguel
Prendas
YOU MUST
AIAIAI Anunciados como "auscultadores profissionais para djs e produtores” os TMA-1 da dinamarquesa AIAIAI são uma excelente escolha dentro da sua classe de preços competindo de igual para igual com as melhores ofertas da concorrência. E com alianças estratégicas com a STONES THROW ou a CARHARTT têm toda a "street cred" necessária!
o pináculo da sofisticação, orientado para o sentido estético, mas sem sacrificar a funcionalidade. Chamar-lhe telemóvel também pode ser redutor, até porque ambiciona desprender-se da vertente exclusivamente tecnológica do comum smartphone. "Telemóvel de passerelle” talvez lhe assente melhor. Disponível em preto, branco, prateado, dourado e azul, e com uma vasta panóplia de wearables, o Alpha é altamente camaleónico. A sua construção é compacta, consolidada pela introdução inovadora de um aro em metal. Além de tudo isso, é fino. Tenhamos em mente a polissemia da palavra: fino pelo requinte e fino pela espessura —6,7 milímetros.
CK ONE
ALPHA Não. Não é a primeira letra do alfabeto grego. Mas talvez seja o primeiro telemóvel do abecedário do design. Lançado em Portugal no passado dia 30 de setembro, o novo Samsung Galaxy Alpha é T: Rui Lino Ramalho
Foi exatamente há 20 anos que surgiu o CK ONE, a primeira fragrância unissexo. Aquele que foi, e continua a ser, um dos aromas da moda regressa com uma campanha comemorativa pelo olhar do fotógrafo MÁRIO SORRENTI. Também SORRENTI está de volta para registar, em fotografia e filme, a essência de CK ONE, ele que é o autor das icónicas imagens de KATE MOSS para a campanha original do perfume, em 1994. Tangerina, lavanda, violeta e flor de laranjeira ajudam
a compor a frangância mais cool e refrescante. Para cheirar a Primavera em pleno Inverno. A partir de 42,22 euros.
vida do criador. Podemos esperar o melhor, já que todos foram testados nos lábios do próprio FORD. Nas lojas a partir de 28 de Novembro.
KHIEL’S X CRAIG & KARL O Natal está aí e com ele chega mais uma colaboração da KIEHL’S para comemorar a época. O duo de artistas gráficos CRAIG & KARL deu uma nova roupa aos favoritos dos clientes KIEHL’S. Creme de Corps, Whipped Creme de Corps, Ultra Facial Cream e Calendula Toner surgem agora em embalagens de cores vibrantes, para dar mais vida à árvore de Natal! A partir de 24 euros.
DIESEL ONLY THE BRAVE WILD
LIPS & BOYS by TOM FORD TOM FORD lança 50 mini batons, que vão do tom mais clássico ao mais vibrante. Cada mini batom tem um nome diferente, em homenagem aos homens que marcaram a
T: Beatriz Teixeira
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Para os destemidos e aventureiros, que se sentem bem tanto na cidade como no meio da selva, a DIESEL apresenta Only The Brave Wild, com um aroma forte de essência de pimenta preta, noz moscada, lavanda e coco.
Shopping
YOU MUST
Bright Night 1. COS 2. Alexander Wang x H&M 3. Mango 4. H&M Studio 5. Pinko 6. Andy Warhol by Pepe Jeans 7. Cheap Monday 8. Pepe Jeans London 9. Prada 10. Cheap Monday 11. RVCA
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YOU MUST
Raw Day
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1. Diesel 2. COS 3. Gstar 4. Levis 5. Diesel 6. Levis 510 7. RVCA 8. Converse 9. CAT
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F: Pani Paul
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S OU NDS TATI ON COOLY G regressou em 2014 com Wait ‘Til Night, novo álbum na Hyperdub que pega na ideia de sex jams e a explora a partir de uma nova perspetiva.
MERRISA CAMPBELL tem-se mostrado bastante ativa a partir da sua base de Brixton, no sul de Londres. Quer seja a produzir beats para MCs locais ou a navegar pela história do “hardcore continuum”, tal como identificado pelo homem do leme da sua editora (Kode9), COOLY G, como assina, tem-se mostrado certeira nas suas produções, imprimindo uma clara marca autoral quer opte por se aproximar do drum n’ bass ou de um registo mais UK funky. E isso firmou-a como um valor seguro na cena bass londrina. Esse estatuto sai agora reforçado com Wait ‘Til Night, a sua segunda proposta de grande fôlego após a estreia no domínio dos álbuns com Playin Me, em 2012. As coordenadas, no entanto, voltam a alterar-se para este novo trabalho. Em entrevistas que foi concedendo, esta produtora revelou um típico mapa de aprendizagem tendo em conta o seu contexto cultural: dieta rigorosa de sons emanados dos sound systems enquanto crescia, sintonizando o seu ouvido com as mais baixas frequências desde tenra idade —reggae, dub e claro lovers rock eram presenças constantes na sua vida pelo lado do pai. As preferências da mãe equilibravam o espetro sonoro com deambulações pelo som dos clubes, do house ao hip hop, o que não deixa de ser curioso: o mapa formativo de COOLY G parece desenhar-se entre o exterior —o espaço ideal dos sound systems e do reggae e derivados— e o interior dos clubes. O dia e a noite é outra dicotomia possível.
Outro dos factos que as entrevistas de COOLY G revelam é o quanto a sua música serve para lidar com a realidade da vida. O tom das suas produções é sempre um eco emocional de algum episódio real, como se o que injeta nos sons através do computador fossem os seus sentimentos em relação ao que a rodeia: um amigo que é atingido a tiro em “Phat Si” ou uma explosão de felicidade repentina em “I Like”, tema do novo álbum, para dar apenas dois exemplos contrastantes. Musicalmente, o novo disco é um tratado noturno, denso nas atmosferas que desenha, mas económico na arquitetura de sons. COOLY G fala, aliás, em temas que foram concebidos muito rapidamente, como se fossem algo que necessitava de retirar com urgência do seu sistema. O R&B é obviamente um ponto de partida, uma base conceptual de inspiração, a partir da qual COOLY G desenha um novo universo, sensual, escuro, poderosamente evocativo, totalmente eletrónico. Algo que surge reforçado pelas suas letras, carregadas de fisicalidade, e pelas vozes, quase sempre processadas, sublinhando ainda mais a natureza sintética e plástica desta música. Nesse ponto, haverá ligações ao universo de FKA twigs, mas em Wait ‘Til Night há menos fantasia e mais realidade, menos subterfúgio e mais exposição direta. Como se não houvesse tempo a perder. Afinal de contas, a noite passa depressa. Este é também um disco que surge num momento especial da vida da Hyperdub, envolta, por um lado, na celebração de um passado que já conta dez anos de intensa atividade e, por outro, num debate interno com o seu próprio futuro, após os desaparecimentos prematuros de DJ RASHAD e SPACEAPE. COOLY G não será a força que preencherá tal vazio, mas oferece uma proposta suficientemente sólida para nos ancorar no presente. T: Rui Miguel Abreu
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Kindness
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KINDNESS abre os seus braços e efabula ao mundo a sua música interior, a partir do seu universo exterior. Com a ajuda de artistas convidados —DEVONTÉ HYNES (aka Blood Orange), KELELA, ROBYN, M.ANIFEST e TAWIAH— o segundo álbum do artista faz, desde logo, justiça ao nome que o designa: Otherness (“alteridade”). Nem sempre o segundo álbum de um artista resulta num caminho diretamente trilhado pela sua estreia. Na pele de KINDNESS, ADAM BAINBRIDGE inspira dos outros as suas inquietações, os seus amores e horrores, assumindo-se como um verdadeiro artista pop. Não são de estranhar, portanto, as comparações que lhe são feitas com PETER GABRIEL, por exemplo. Também não é de estranhar a excelência do som, todo ele sabiamente encadeado pelas mãos do reconhecido mestre JIMMY DOUGLASS. Provavelmente, a maior pista de que este álbum é um passo numa direção diferente ou, pelo menos, uma tentativa de o ser, está em sentirmos que o R&B e o Funk são as suas linhas mestras, em vez da já explorada eletrónica sintética. E a materialização orgânica do piano, do saxofone, da trompa e da harpa, colora as outras texturas musicais, criando dimensões mais próximas do Jazz. Não é só musicalmente que o álbum indicia um refinamento na construção das canções, facto também evidente nas letras, que estão mais ricas. Um dos melhores exemplos é a referência de “Fast Car”, de TRACY CHAPMAN, na voz do rapper M.ANIFEST em “8th Wonder”, onde a estrutura musical é suportada por trompas e uma melancólica atmosfera, ainda mais enriquecida pela introdução de uma harpa. “Geneva” é uma desarmante, poderosa e melódica canção, não tendo como resistir às palavras “if you could read my mind”. Momento introspetivo, mas ao mesmo tempo uma espécie de convite, ou desafio, para o ouvinte entrar no universo do artista. A voz de KELELA em “With You”, imprime um registo dramático ao R&B, cruzado com o Jazz, graças à forte presença dos solos de saxofone. A canção eleva-se ainda mais, quando se assiste a um subtil, mas bem marcado, sample do clássico single “Moments in Love”, dos ART OF NOISE.
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A colaboração com a artista sueca ROBYN em "Who Do You Love?" —com o seu registo vocal sexy a fazer lembrar, por vezes, JANET JACKSON— é a perfeita combinação para a secção de batidas, cordas e órgãos que, juntamente com os enclaves fraturantes na melodia, questiona quem ama, advertindo, quase de seguida, para que não se deixe que o barulho entorpeça a resposta. O tema do desamor vem com o apaixonante “Why Don’t You Love Me?”, onde HYNES e TAWIAH, em uníssono, cantam a interrogação mais dolorosa do amor, num crescente fervor sobre as batidas da bateria e de sintetizadores. Esta música cria a ilusão de que KINDNESS a compôs com facilidade, pois está tão bem interpretada emocionalmente que parece ter vida própria. O imponente “World Restart”, tema de abertura, denuncia uma crueza musical, talvez intencionalmente imprimida, como que a anunciar uma nova entrada no universo de KINDNESS, como que a delinear um outro caminho que não o talhado pelo álbum World, You Need a Change of Mind. Os acordes iniciais da viola em “For The Young” emprestam à construção R&B um ritmo folk, próximo das frases musicais latinas. Há uma dimensão intercultural de referências que confere globalidade e universalidade ao disco. O single “This Is Not About Us”, tal como o álbum Otherness numa perspetiva global, resulta numa virtuosa tentativa de KINDNESS dar alguma luminosidade à frieza robótica do eletro-funk dos anos 80 e transformála numa batida mais calorosa, graças ao funk e ao sumptuoso Jazzy R&B. É como se o som eletrónico dos anos 80 fosse mais próximo dos SOUL II SOUL do que a era funk do álbum Rhythm Nation de JANET JACKSON. Numa entrevista, ADAM BAINBRIDGE revela ser um viciado em musica pop. Tal intoxicação é denunciada música após música, pela paleta de referências e pelo uso e abuso de ambientes familiares, resultando num transformismo, formosa celebração de um novo estado de graça musical. O amor, o desamor, o desencanto e novamente o amor, tantas vezes tratados e retratados ao longo da história da pop, são afinal sentimentos já experimentados e vivenciados por todos. Nada mais franco e, por isso, mais desarmante, do que desencadear a nossa história através da melodia das canções que nos agarram pelo coração. As memórias estão na pele de toda a gente. Sejam elas quem forem. Estejam elas onde estiverem. T: Carlos Alberto Oliveira (punch.pt)
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Ele já jogou golfe no átrio da Assembleia da República, já trocou a roupa ao Fernando Pessoa do Largo do Chiado, já desfigurou as letras do hino nacional (A Portuguesa) e do hino da liberdade de Zeca Afonso (Grândola Vila Morena), já apunhalou D. Afonso Henriques pelas costas e já matou, encaixotou e velou Portugal. Vândalo? Criminoso? Usurpador? Não. MIGUEL JANUÁRIO. Com mais ou menos consentimento, ele lá vai reciclando muros e paredes para pôr o dedo na ferida. Os seus trocadalhos são do carilho e, por vezes, as iludências aparudem. Em 2005, começou a espalhar o símbolo ± pelas ruas, sem qualquer legenda. Depois, sob anonimato total, voltou às ruas para inquirir as pessoas: 70% delas disseram-lhe que reconheciam o logótipo do MaisMenos. Entre as 30% restantes, algumas julgavam tratar-se de um grupo fascista. Outras, que era a câmara municipal a marcar prédios para destruir. Nada disso. MIGUEL JANUÁRIO começou a usar o MaisMenos como um “representante das pessoas”. A PARQ quis saber mais. O que é que motivou o nascimento do maismenos e como foi o “período de gestação”? Estava a terminar o curso de Design de Comunicação, em Belas Artes, no Porto, isto há cerca de dois anos, e nós tínhamos que desenvolver um projeto final de curso. Na altura, eu senti a necessidade de criar um projeto de intervenção que questionasse o design, porque eu sentia que o design estava a funcionar quase como uma ferramenta para alienar e dar continuidade ao mercado financeiro. No fundo, acabava por servir como propaganda para esse mercado. Quis criar uma espécie de marca que fosse anti-marca e brincar com a questões do sistema ser paradoxal. Criei o MaisMenos, que representava o sistema financeiro, especulativo (daí o MaisMenos, para cima e para baixo), representava o design como energia, representava também a ilustração e a anulação. O teu público alvo, no fundo, é o comum transeunte. Não tens receio de que algumas pessoas sejam incapazes de decifrar as tuas mensagens ou que o significado que tu lhes quiseste dar seja desvirtuado? A ideia é essa. Desvirtuar um bocadinho a coisa. Eu sei que, às vezes, algumas frases podem ser para um público mais especifico, talvez para certas pessoas possam parecer indecifráveis, mas muitas delas não são. A ideia é que as frases, por vezes, também tenham duplo sentido. No fundo, são quase verdades universais. Pôr as pessoas a pensar acaba por ser o mais importante. Diz-me se estiver errado, mas este tipo de trabalho parece exigir mais suor de copywritter do que de designer, já que as tuas frases são algo ‘pobres’ em termos pictóricos. O que é que fazes para desenvolver a tua veia de escrita criativa? A ideia é mesmo essa. É manter a mensagem muito crua, muito direta, muito simbólica. Procuro que as coisas sejam sempre muito limpas, não só nas frases, mas nas instalações que vou fazendo, que seja sempre tudo muito straight to the point. Não o considero bem um trabalho de copy, é um trabalho contínuo, de procurar sempre encontrar algo, é um trabalho de muita pesquisa. Vejo-o mais
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como um trabalho de procurar ideias. É como se as palavras não fossem só palavras, fossem também imagens. É preciso ter uma ousadia fora do comum para desafiar da maneira que tu desafias. Por vezes, não sentes que podes estar a brincar com o fogo? Nada do que eu fiz até agora na rua foi propriamente ilegal. Eu vou é até ao limite da coisa, ao limite da legalidade, ou então à subversão total, ou seja, algo que deixa as pessoas confusas e sem saber bem se aquilo está dentro ou fora dos limites legais. É o tirar partido do sistema, como tirei em Guimarães quando contratei sete guardas à GNR. Há que saber lidar com isto a nível pessoal e a nível artístico. Que tipo de preparação implica cada um dos teus trabalhos? Que burocracias estão envolvidas e a quais delas te sujeitas? Na verdade, nunca me sujeito assim a grande coisa. Para executar uma coisa, vou à procura das pessoas certas ou dos materiais certos para criar um resultado. Para atingir fins, vou à procura dos meios corretos. Em termos de burocracias, acabam por não existir muitas, porque eu acabo por, muitas vezes —mais do que negociar permissões— negociar ideias. Normalmente, tenho a liberdade toda que quero para fazer aquilo que quero. E doutro modo também não faço. Ou então adultero. Onde se situa a fronteira entre espaço público e privado, entre liberdade de expressão e atentado à liberdade alheia? Essa fronteira é uma coisa muito relativa. A verdade é que, cada vez mais, o espaço privado tem conquistado o espaço público, e estamos a perder, cada vez mais, o espaço público. Se calhar, o papel daquilo que faço acaba por ser reclamar esse espaço público para as pessoas. Porque se daqui a uns tempos nós não tivermos espaço T: Rui Lino Ramalho
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CENTR AL PARQ público, vamos perder toda a nossa pertença das cidades, tudo passa a pertencer a alguém e deixa de ser nosso. Como sociedade, nós não devíamos ter esta apropriação daquilo que pertence a todos. O direito ao espaço público é um dos maiores direitos que temos porque a Terra é de todos e os interesses que estão sobre ela tiram-nos liberdades. Para um artista urbano, como seria o espaço público ideal? O espaço público ideal seria um espaço participativo, onde as pessoas pudessem falar, expor, um fórum onde as pessoas pudessem debater. Se existisse mais cultura, mais educação, mais formação, não seria preciso vigilância para por as pessoas a saber ser cívicas e a saber viver em sociedade. Quanto mais vigiarmos as pessoas, mais as vamos tornar amedrontadas e distantes daquilo que é essencial. Não é tanto o excesso de autoridade e controlo que resolve alguns dos problemas que temos. Infelizmente, acho que estamos, cada vez mais, a caminhar para um lado em que interessa ter pessoas menos inteligentes e mais obedientes. A arte urbana é uma construção alicerçada na descontrução? Não acho que seja bem assim. Acho que a arte acaba por ser quase como uma espécie de ciência, uma ciência do espírito, uma forma de ver e ilustrar a vida. É o espelho mais real do real, porque a vida é complexa que chegue, é mais estranha que a ficção. A arte é capaz de ser o que melhor representa quem somos, onde estamos, o que estamos a viver. Achas que, atualmente, em Portugal é preciso transgredir para progredir? Sem dúvida. Porque, na verdade, nós estamos a ser controlados em Portugal por um grupo gigante de transgressores-mor. Tudo aquilo que eles estão a criar acaba por ser transgressor. Toda a realidade que Portugal está a viver neste momento, política e social, é com base em crimes que estão a ser cometidos, a nível financeiro, a nível de corrupção, a nível de interesses privados e políticos. Se o que está a ser feito é uma transgressão, a única forma de progredir acaba por ser transgredir, porque tu estás a transgredir a transgressão. Se não a transgredires, simplesmente vais estar a ser cúmplice e a aceitar o estado em que estão as coisas. É fazer o direito porque o que está a ser imposto é o torto. É transgredir a transgressão, o que anula a nossa transgressão. Há alguma coisa de sagrado para o artista urbano ou tudo pode ser ‘profanado’? Isso varia muito. Depende da forma como cada artista aborda a intervenção. A rua é um suporte e tu podes viver da rua como tu entenderes. Cada um entenderá à sua maneira. São mil artistas, há mil maneiras diferentes de ver a rua. Tudo pode ser atualizado, tudo precisa de ser questionado, não tanto profanado. Sentes-te na pele de um conspirador ou de um contrapoder? T: Rui Lino Ramalho
Sou um contrapoder, porque os conspiradores são os outros. O poder é o conspirador. Mas isto é uma coisa que está a mudar, porque, ao início, diziam que o meu trabalho era muito conspirativo e, na verdade, dez anos depois, as pessoas revêem-se totalmente nele. As pessoas têm mesmo consciência de que se passa alguma coisa. Que tipo de resultados práticos é que achas que consegues produzir através dessas mensagens? Ficas satisfeito se, pelo menos, levares as pessoas a reflectir ou ambicionas chegar mais longe? Os resultados práticos eu percebo-os pela relação que vou tendo com as pessoas e pela forma como elas se relacionam com o projeto. Às vezes, são mensagens, partilhas de histórias. Outras vezes, basta uma reação até mais negativa para também ser um bom resultado. Pôr as pessoas a reagir negativamente também é interessante. Já tive coisas apagadas, uma frase apagada no meio duma parede toda suja, toda pintada, e a minha frase é que foi apagada, mais nada foi apagado. Eu pretendo chegar a esse debate constante, em que as pessoas encontram no MaisMenos uma espécie de plataforma para discutirem e deitarem cá para fora aquilo que querem dizer, seja a favor ou contra. Que possibilidades (ou probabilidades) tem a arte urbana de se tornar verdadeiramente interventiva e de se libertar (finalmente) dos estigmas do “património deteriorado” e “atos de puro vandalismo”? Vejo isso a desaparecer cada vez mais. Haverá sempre os dois lados, mas a verdade é que a street art está, cada vez mais, a fazer parte da realidade. Faz parte da nossa cultura visual. Há sete ou oito anos, nunca ninguém me iria autorizar para fazer uma frase e hoje já me pedem para o fazer. Portanto, sente-se essa aculturação da street art, as pessoas interiorizam. Preocupa-te a internacionalização do teu trabalho, no sentido em que —presumo eu— deve ser mais fácil para ti brincar com o português do que com outra língua? Não, não me preocupa. Aliás, é nisso que eu estou a apostar agora. Este ano foi fantástico, porque eu comecei mesmo a dedicar-me ao MaisMenos. O ano em que eu procurei começar a internacionalizar o meu trabalho foi este. Tem sido ótimo. Eu sinto que o projeto tem de sair do país, tem de crescer, e foi nisso que eu apostei neste ano. Obviamente que para mim o português vai ser sempre mais direto, mais interior e a minha referencia linguística. Mas todas as línguas terão isso. Também é uma oportunidade de aprender mais. É um novo caminho, é uma forma de pensar diferente. Apesar de querer estar fora, não quero esquecer o que está dentro, porque para mim é muito importante a referência que o meu trabalho tem em Portugal. O americano LAWRENCE WEINER é uma referência para ti? Para mim tudo são referências. É um trabalho que também usa a palavra, como há o TIM ETCHELLS, como há o RERO. É óbvio que eu vejo o trabalho dele, mas, às vezes, uma imagem pode-me inspirar mais do que a obra.
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Arquitetura Ritmada
Maquete do Museu da Música Mecânica, Palmela
Maquete da ampliação da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
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Casa sobre Armazém, Torres Novas
W W W.M A F: João Morgado
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Casa com Três Pátios, Benavente
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F: Fernando Guerra | FG+SG
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CENTR AL PARQ Nasceu em Ponta Delgada em 1981, cresceu em Lisboa e iniciou os seus estudos em música, no Instituto Gregoriano de Lisboa (1993-98). Mais tarde, optou por ingressar na Universidade Autónoma de Lisboa, onde terminou a licenciatura em Arquitetura, em 2005. A paixão pela música é grande e o piano acompanha-o no quotidiano, mas é no campo da arquitetura que conjuga as suas composições de harmonia/espacialidade, ritmo/estrutura e instrumentação/materialidade, num cruzamento das duas disciplinas. Como muitos arquitetos da sua geração, iniciou o seu percurso profissional fora de Portugal, valorizando essa contextualização e intercâmbio cultural na sua prática atual. Em Basileia, passou pelo atelier dos suíços HERZOG & DE MEURON, entre 2003 e 2004, fase que considera marcante na sua formação, quase como uma “segunda escola”. A posição geográfica da Suíça na Europa facilitou diversas viagens a outros destinos, visitando as mais diferentes obras de arquitetura, que fotografou intensivamente (ver instagram.com/miguel.marcelino). Após viver na Suíça, continuou a sua experiência internacional em Barcelona, onde colaborou com BONELL & GIL, de 2005 a 2007. No ano seguinte, de regresso a Lisboa, abriu o seu próprio atelier, uma estrutura de pequena dimensão que se mantém até hoje, de modo a garantir maior sustentabilidade perante o atual contexto económico.
envolvente, uma paisagem de montado onde se estende um grande terraço e a piscina. Em construção estão atualmente dois projetos de maiores dimensões, o Centro Escolar de Fonte de Angeão em Vagos, ganho num concurso público, em 2008, e o Museu da Música Mecânica em Palmela. A proposta do primeiro tem um desenho bastante característico, onde os espaços funcionais das salas de aula se destacam dos espaços comuns e de apoio e da circulação geral, como caixas autónomas. O outro edifício é também resultante do primeiro prémio de um concurso para o qual foi convidado em 2011. É um investimento privado promovido por um colecionador apaixonado de caixas de música e gramofones que quer partilhar os seus objetos numa exposição permanente ao público. Este edifício é um volume único, paralelepipédico, onde a entrada é marcada por uma inflexão das paredes de uma das fachadas. Este monólito fechado é iluminado através de um pátio central superior, em redor do qual se organizam os espaços interiores: o átrio, as circulações e os espaços de exposição. Este ano, MIGUEL MARCELINO integrou a ampla lista de participantes na representação oficial portuguesa na Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza 2014, o jornal HOMELAND – NEWS FROM
Centro Escolar de Fonte de Angeão, Vagos
O seu portfólio de projectos construídos conta com duas casas particulares, a Casa sobre Armazém e a Casa com Três Pátios, ambas concluídas em 2012. A primeira, em Torres Novas, nasceu da ampliação de um piso sobre um armazém já existente desde os anos 80, onde uma laje de cobertura saliente do volume funciona como varanda para os quartos e sala de estar. A outra casa, em Benavente, ganha o nome dos três pátios que caracterizam a sua vivência: um pátio grande a Sul, mais fechado, com a sombra de um grande sobreiro existente; um pequeno pátio que serve de apoio à casa das máquinas; e o outro pátio, a Norte, que se funde com a T: Paula Melâneo
PORTUGAL. Sob o tema Rural, realizou um dos seis projetos apresentados na publicação: a reabilitação e reconversão de uma antiga estrutura agrícola de celeiro, no limite do centro histórico da cidade de Évora. Em novembro, a sua proposta de ampliação da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa foi divulgada como a grande vencedora do concurso público. O seu projeto consiste numa extensão em forma de “L” de um edifício construído em 1972, criando assim uma nova praça em “U”, numa área do Hospital de Santa Maria com árvores de grande porte. Este é o grande projeto que vai preencher o ano de 2015, paralelamente à finalização da obra do Museu da Música Mecânica e a outras propostas privadas.
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Te l ev i s ã o
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LET´S TALK ABOUT SEX
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CENTR AL PARQ Numa sala de um hospital e sobre uma cama improvisada com macas, um casal tem relações sexuais; o seu corpo nu, pontuado com as ventosas que os ligam a monitores cardíacos e respiratórios. Noutra sala, uma mulher masturba-se recorrendo a um protótipo de um falo em acrílico com uma câmara de vídeo no interior chamado Ulisses. Por uma janela de vidro espelhado, dois médicos anotam medições, dados, verificam alterações. É assim que na série Masters of Sex, baseada na vida e carreira dos sexólogos William Masters e Virginia Johnson, é apresentada a metodologia da dupla. O objetivo era expandir o conhecimento acerca do sexo e sua mecânica, que apesar do avançado da época —a década de 1960 nos Estados Unidos da América— era praticamente inexistente. Mesmo a comunidade médica apenas se encontrava familiarizada com a vertente reprodutiva. Falar de sexo era tabu. Falar de prazer era proibido. A vida sexual era vista com embaraço, algo discutido entre quatro paredes, encoberto. Se algo não estivesse bem, o mais provável era ficar dessa forma para sempre pois não havia conhecimento suficiente para compreender o corpo humano e a sua estreita ligação com a sexualidade. Foi na tentativa de alterar essa noção que Masters e Johnson iniciaram a sua investigação. Masters, a fração científica interpretada pelo ator MICHAEL SHEEN, e Johnson, a fração humana e sensível que conseguia pôr as pessoas confortáveis, interpretada por LIZZY CAPLAN, recolheram informações de 694 indivíduos, publicadas na obra “Human Sexual Response”. Concluíram que o estímulo sexual tem três fases: fase da excitação, de Plateau (coito), a fase do orgasmo e a fase de resolução, onde a par da excitação sexual se iniciam reações fisiológicas básicas, para além da ereção e lubrificação. São exemplo disso reações como: mamilos intumescidos, tensão muscular, elevação e contração das pernas, contração do esfíncter anal —que proporciona mais intensidade ao orgasmo—, hiperventilação e taquicardia. Todas essas reações do corpo humano, involuntárias e resultantes apenas do nosso instinto sexual, eram até ao momento desconhecidas e elucidaram acerca da relevância do cérebro na dinâmica sexual, algo que até este estudo era completamente desconhecido. Atualmente, a importância do cérebro para a excitação sexual e a consciência de que o sexo é igualmente físico e mental é uma das grandes conquistas da sexologia. Popularizou-se a noção de que o corpo humano está desenhado para potenciar o prazer e, consequentemente, o sexo passou a ser considerado algo natural, instintivo, abandonando‑se as noções de pecado e de proibição a que estava associado. Previamente ignorada, foi na sexualidade das mulheres, agora considerada superior e bastante mais expressiva do que a masculina, que se verificaram grande parte das descobertas. Se, atualmente, a mística do orgasmo feminino e a importância do clitóris na sexualidade da mulher estão na agenda de qualquer sexólogo, foi com T: Cláudia Azevedo Lopes
Masters e Johnson que a discussão começou. Provaram, contrariamente ao defendido por FREUD, não haver diferença qualitativa entre o orgasmo vaginal e o clitoriano, desmistificando a utilidade do clitóris e permitindo a um maior número de mulheres a obtenção de prazer. Hoje em dia, a importância do clitóris é inquestionável e a sexologia foca-se agora em tentar saber mais sobre esse órgão feminino. Descobriram também que na mulher o orgasmo varia de intensidade e duração, e que nos homens a ejaculação é mais estandardizada e revelaram a capacidade de as mulheres atingirem orgasmos múltiplos. Todas estas descobertas foram essenciais para o desenvolvimento do feminismo, que se afirmava pela luta contra tudo que fragilizasse a mulher e a tornasse diferente do homem. Ao perceber o seu poder e potencial sexual, a mulher deixou de ser considerada a parte latente do sexo e foi encorajada a explorar a sua sexualidade. Nesse sentido, estes trabalhos foram muito importantes para a compreensão que temos atualmente do corpo humano e da maneira como funciona e se adapta durante o sexo, algo que os antecessores da dupla já se empenhavam em descobrir. Os primeiros avanços na disciplina são feitos por RICHARD FREIHERR VON KRAFFT–EBING, com o estudo “Psychopathia Sexualis”, de 1886, sendo o feito mais importante a desassociação entre homossexualidade —considerada por ele como uma doença genética— e insanidade, evitando o encarceramento dos pacientes sem possibilidade de tratamento. Em 1896, em plena época vitoriana ultra conservadora, HAVELOCK ELLIS publica “Sexual Inversion”, onde, pela primeira vez, a homossexualidade deixa de ser considerada uma patologia. Defendeu ainda, no livro “The Erotic Rights of Women”, de 1918, o direito de as mulheres desfrutarem, em semelhança aos homens, das experiências sexuais, numa época em que a sexualidade feminina apenas estava relacionada com a procriação. Em 1905, FREUD revoluciona todo o conceito ao apontar a infância como o começo do prazer sexual, contrariando a ideia de que só a partir da puberdade se dava esse despertar: a criança consegue obter prazer sexual através da alimentação, do beijo, da zona genital —ao brincar com os órgãos sexuais— e também através da defecação. Revoluciona ao revelar que a sexualidade é tão biologicamente intensa e espontânea que se expressa instintivamente. Outra noção revolucionária foi a associação entre sexo e prazer, contrariando a noção de que o sexo tinha como único objectivo a reprodução: se não se sentisse prazer no sexo, a continuidade da espécie estava comprometida. Mais tarde, ALFRED KINSEY revela quais os padrões de comportamento sexual na população americana, concluindo que cerca de 92% dos homens e 63% das mulheres em estudo se masturbavam —e que assim atingiam mais vezes o orgasmo em comparação com o coito— e que 37% dos homens e 13% das mulheres já tinham tido pelo menos uma relação sexual homossexual satisfatória. Este estudo abordou todo o tipo de relações sexuais —heterossexuais, homossexuais, pré-maritais e maritais, com crianças ou animais. A segunda temporada de Masters of Sex pode ser vista no canal TVSéries.
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fotografia CESLO COLAÇO styling TIAGO FERREIR A make-up&hair SANDR A ALVES modelos MATILDE SOARES, SOFIA MARTINS & VITÓRIA @ Karacter Models (Model Tour 2014)
M-a-t-i-l-d-e: fato de banho FILIPE FAÍSCA x VOKE SS15, brincos INÊS NUNES na Padaria 24, trelas CARHARTT, mochila REEBOK SS15
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M-a-t-i-l-d-e: casaco e vestido ALEXANDRA MOURA SS15, brincos SEBASTIテグ LOBO, trelas CARHARTT, tテゥnis ADIDAS, mala LOUIS VUITTON
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V-i-t-ó-r-i-a: body FILIPE FAÍSCA SS15, saia GANT, brincos INÊS NUNES na Padaria 24, phones CARHARTT x AI AI AI, luva ADIDAS x STELLA MCCARTNEY, meias ADIDAS, mala LOUIS VUITTON
S-o-f-i-a: camisola e saia LACOSTE, brincos INÊS NUNES x INÊS DUVALE SS15, luvas REEBOK, cinto e mala LOUIS VUITTON
S-o-f-i-a: camisola e calças PEDRO PEDRO SS15, brincos, pulseiras e anéis INÊS NUNES na Padaria 24
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V-i-t-ó-r-i-a: camisolão PEDRO PEDRO SS15, calças e caneleiras REEBOK SS15, anéis NININHA GUIMARÃES na Padaria 24, mala LOUIS VUITTON
M-i-g-u-e-l: casaco NIKE, calças ELEMENT, ténis CONVERSE
A-d-a-m: casaco NIKE, calças LEVIS, botas CAT
V-a-s-c-o: casaco NIKE, calças DIESEL, ténis PUMA
fotografia MARIA RITA styling MARIA BENEDITA ass. styling PEDRO LANÇA make-up&hair SUSANA MATHIAS GOMES modelos ADAM, VASCO COELHO & MIGUEL VIDAL @ Karacter Models (New Faces 2014)
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M-i-g-u-e-l: camisa e cardigan FRED PERRY, calças LEVIS, botas CLARKS, saco FRED PERRY e ténis MERRELL V-a-s-c-o: camisa e cardigan FRED PERRY, calças LEVIS, botas CLARKS
V-a-s-c-o: vestido CHEAP MONDAY, calças DIESEL, casaco e ténis NIKE A-d-a-m: vestido CHEAP MONDAY, calças DIESEL, casaco NIKE, ténis FRED PERRY
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A-d-a-m: calテァas PEPE JEANS, colares RITA FAUSTINO e colares NININHA GUIMARテウS DOS SANTOS na Padaria 24 M-i-g-u-e-l: polo LACOSTE, casaco FRED PERRY, calテァas LEVIS
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A-d-a-m: camisa e calรงas LEVIS, bomber GANT V-a-s-c-o: calรงas LEVIS
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A-d-a-m: t-shirt FRED PERRY, calรงas DIESEL M-i-g-u-e-l: t-shirt FRED PERRY, calรงas DIESEL, casaco LEVIS
V-a-s-c-o: calรงas LEVIS
Noite
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Cais do Sodré DA MÁ FAMA AO BOM PROVEITO
Já foi a mais importante zona marítima, distinto local para os intelectuais, mas também uma das principais zonas de prostituição e de passagem de espiões ou criminosos. Hoje em dia, no Cais do Sodré, coabitam antigos e novos moradores, num ambiente de diversidade e revivalismo que o tornaram num cool spot e que fazem desta zona um dos pontos obrigatórios da noite lisboeta. A primeira mudança no ambiente ocorreu durante a década de 1970, pelo som e ambiente de espaços como JAMAICA, TOKYO ou o SHANGRI-LA (hoje transformado no BAR DO CAIS), que eram o local de eleição de quem “não procurava prostituição”. Mais tarde —com o LOUNGE ou o EUROPA e, já no novo milénio, com o MUSICBOX—, dá-se a viragem definitiva desta zona. Com o aparecimento de novos moradores como a PENSÃO AMOR ou o renovadíssimo e único MERCADO DA RIBEIRA, atinge-se uma afluência que, como confirmam os que por aqui passam, já não se via há muito. A PARQ MAGAZINE foi dar uma volta pela noite cool do Cais e delineou um pequeno roteiro com os espaços que se destacaram.
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F: António Bernardo
T: Vânia Marinho
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Noite
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Cais do Sodré CASA DE PASTO
Escondido num primeiro andar da rua de São Paulo, este é um dos restaurantes mais curiosos e surpreendentes da cidade, com uma decoração ao estilo retrochique, que se veio a revelar uma verdadeira caixinha de surpresas. A ementa mistura bem os pratos tradicionais da cozinha portuguesa com outros onde se sente um toque personalizado, dos quais é exemplo o bife tártaro com manteiga de amendoim —trazido pelo chef consultor DIOGO NORONHA, vindo do recém-desaparecido restaurante PEDRO E O LOBO. Sendo uma cozinha de autor, criatividade e versatilidade são palavras de ordem no cardápio da CASA DE PASTO, onde uma refeição completa, com mais do que um prato, anda a rondar os 40 euros. O conceito do restaurante é inspirado nas tradicionais casas de pasto lisboetas de finais do século XIX, inícios do século XX. O ambiente recatado das salas de refeições pretende recriar a atmosfera de uma casa de família. No final da refeição, circula o tradicional carrinho de sobremesas.
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LAS FICHERAS Este é o restaurante mexicano mais popular do Cais. Talvez pelo seu ambiente que, mesmo quando visto de fora, nos chama a entrar. O seu nome inspira-se nas mulheres que trabalhavam nos cabarés mexicanos, a quem os homens entregavam uma ficha em troca de uma bebida, companhia ou dança. Daí surgiu a expressão ficheras. Este é um restaurante com uma ementa baseada em pratos tradicionais de Oaxaca, Puebla e outras regiões do México, e que pretende ir muito além do tex-mex (fusão entre as cozinhas americana e mexicana). Há que salientar os novos pratos deste inverno, onde se podem encontrar, entre outras, especialidades como batata doce com guacamole e polvo, uma mistura irresistível.
Da mesma equipa responsável pelo LAS FICHERAS, este espaço é especialista em tacos & burritos, margaritas & mezcal. Funciona de quinta a sábado, das 17h às 02h, e procura casar a comida com as várias formas de arte que se relacionam com a gastronomia em geral.
A decoração cria uma atmosfera distinta, exibindo elementos bem caraterísticos, como as máscaras das icónicas luchas libres mexicanas.
No MEZ CAIS, a proposta passa pelos clássicos da cozinha tex-mex, numa lógica de aperitivos que podem ser acompanhados por margaritas e mezcalita.
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MEZ CAIS
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Cais do Sodré CAFÉ TATI
Este é um espaço para o dia e para a noite. Com um ambiente informal, espontâneo e descontraído, faz a ponte entre o antigo e o moderno e, sem grande pretensão, oferece livros, jogos, wi-fi e uma programação cultural variada: Jazz às quartas, Músicas do Mundo às quintas e Jam Sessions durante as tardes de domingo. Este café, restaurante e, essencialmente, um espaço para estar ao longo do dia, está decorado com móveis antigos e objetos resgatados de lojas de velharias ou da Feira da Ladra. Foi, nos anos 50/60, um estabelecimento de refrescos chamado CASA DA BANANA, famoso pelo seu licor daquele fruto. Agora serve petiscos, almoços, jantares e brunch ao fim-de-semana.
QUERO-TE NO CAIS Um bar cuja decoração faz lembrar o antigo Cais do Sodré de marinheiros e pin-ups. Quando não chove, e dada a pequenez do espaço, o convite é para que o convívio se estenda para a rua. Conta sempre com DJ's convidados, cujas escolhas vão do rock ao reggae. Não faltam também os cocktails, o bom ambiente e preços acessíveis.
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Cais do Sodré
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O BOM, O MAU E O VILÃO
Este bar de cocktails dividido em pequenas salas é um dos espaços com melhor programação musical do Cais do Sodré. A música ao vivo começa pelas 22h, seguida, ao fins-de-semana, de um Djset que se prolonga até às 04h. Mantendo a estrutura de apartamento, num edifício de traça pombalina, a reconversão deu origem a um espaço diferente e cativante, onde se destaca a intervenção de diversos artistas. JOÃO MACIEL pintou a floresta que nos acolhe à entrada. Estas paredes com vida contam ainda com um Capitão América e um Super-Homem a dançar de garrafa na mão. Entre os grandes cadeirões e um piano, há também programação cinematográfica e outros eventos culturais. A música é eclética e toda a programação do espaço tem a curadoria da produtora de eventos VOID CREATIONS. O bar oferece uma vasta carta e para petiscar há tábua de presuntos e queijos ou prego do lombo em bolo do caco.
SOL E PESCA Outrora uma loja de artigos de pesca desportiva e profissional, este bar/café repesca —literalmente— elementos desse passado para a sua atual decoração. Esta sua ascendência serve também de inspiração à feitura do menu. Além dos copos de vinhos nacionais servem-se conservas acompanhas por pão alentejano. Aberto de terça a sábado, entre o período da tarde e a madrugada.
T: Vânia Marinho
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