Parq48

Page 1


PARQ DIRECTOR Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com EDITOR Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com COORDENAÇÃO EDITORIAL Rui Lino Ramalho rui@parqmag.com COORDENAÇÃO DE MODA Daniel Ribeiro Sérgio Simões DIRECÇÃO DE ARTE Valdemar Lamego v@k-u-n-g.com www.k-u-n-g.com PERIOCIDADE: Bimestral DEPÓSITO LEGAL: 272758/08 REGISTO ERC: 125392 EDIÇÃO Conforto Moderno Uni, Lda. NIF: 508 399 289 PARQ RUA QUIRINO DA FONSECA, 25 – 2 ºESQ. 1000-251 LISBOA T. 00351.218 473 379 IMPRESSÃO EURODOIS 12.000 exemplares

48

DEZ. JAN.

TEXTOS

EDITORIAL

Ágata C. Pinho Ana Rodrigues Beatriz Teixeira Carla Carbone Carlos Alberto Oliveira Diogo Simão Francisco Vaz Fernandes Joana Teixeira Marcelo Lisboa Maria São Miguel Mariana Viseu Pedro Lima Roger Winstanley Rui Lino Ramalho Rui Miguel Abreu Sara Bernardino Teresa Melo

BYE BYE 2015

FOTOS António Medeiros Débora Lino João Paulo Joelma Aguiar Silvia Martinez ST YLING Diogo Ribeiro Joana Borger Morgana Andrade Sérgio Simões

2015

Este 2015, seguramente, não me vai deixar grandes saudades. Tal como muitos dos leitores da Parq, aspiro um novo ano cheio de promessas. Nos últimos anos, tem sido sempre assim e temo que, pelo andar da carruagem, um dia vamos ser um daqueles países que desistiram da memória (ainda que glorioso), onde só passou a haver espaço para o futuro. A Parq, obviamente, tenta refletir o que resta deste país solarengo, onde a falta de meios é sempre colmatada pelo engenho criativo do povo. Desta vez, damos grande destaque ao fenómeno da comida de rua, uma sonoridade que no passado até fazia arrepiar a espinha. Hoje chega a ter uma dimensão gourmet e é um grande exemplo de que os jovens podem fazer mais e melhor. Leiam, e coragem, que há sempre espaço para mais uns quantos. A par disso, não queremos deixar passar ao lado a excelente exposição de um dos génios da arquitetura portuguesa, João Luís Carrilho da Graça, prémio Fernando Pessoa. A excelência da experiência completa na juventude irreverente dos projetos de Maarten de Ceulaer, outra inspiração para quem segue a Parq. Voltamos para o ano, prometendo mais otimismo. Votos de um excelente 2016 por Francisco Vaz Fernandes

DISTRIBUIÇÃO Conforto Moderno Uni, Lda. A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq.Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 — 2015 PARQ. ASSINATUR A ANUAL 12 euros

PARQ

(2)

www.parqmag.com


PARQ fotografado por JOÃO PAULO styling de SERGIO SIMÕES grooming LUCIANO FIALHO

48

DEZ. JAN.

2015

YOU MUST 04 06 08 10 –13 14 16 17 18 19 20 –21 22 23 24 25 26 27–29 30 31 32

La Mermaid Miguel Januário Jennifer Angus Spray Zero Girls in my room Jose Romussi Kambas Case Nerve Patti Smith Luaty Beirão Netflix The Hateful Eight MOW Inês Duvale Arminho Moda Nike Flash Pack Beleza Shopping

Arte Arte Arte Street Art Fotografia Arte Música Música Música Música Cinema Cinema Moda Moda Design Moda Running Beleza Moda

SOUNDSTATION 34 –35 36 –37

Kelela Grimes

Música Música

CENTR AL PARQ

ANDREA @JUST COM LENÇO NEW YORKER, CHAPÉU + CASACO INÊS DUVALE

38 – 41 42– 45 46 – 49

Gastronomia Arquitectura Design

Street Food Carrilho da Graça Maarten de Ceolaer FASHION

50 – 57 58 – 63

Moda Moda

City Dreams The Harder He Falls PARQ HERE

64 65 66 67 67

Topo El Clandestino Vertigo Climbing Center Dois Corvos Leonidas

Restaurante Restaurante Diversão Bebidas Loja

MARLON @JUST COM POLO FRED PERRY CASACO INÊS DUVALE

PARQ

(3)

www.parqmag.com


YOU MUST

PARQ

N.48

ARTE

L A

MERMAID TE X TO JOA N A TE I X E I R A

Uma sereia num mar de artistas por descobrir, NÁDIA DOMINGOS é uma jovem de 24 anos, licenciada em Design de moda, que nasceu de lápis e papel na mão. La Mermaid é o seu "eu artístico", a sua faceta "desbocada" que exterioriza visualmente os seus pensamentos e experiências do dia‑a-dia. É o

YOU MUST

seu lado revoltado, que sem filtros se atira para o papel e se espalha em coloridas imagens e frases curiosas. Confessa um prazer especial em desenhar auto-retratos, gatos humorísticos e personagens de filmes e literatura. La Mermaid não pensa duas vezes antes de ser sarcástica ou agressiva, e NÁDIA

(4)

DOMINGOS faz questão de a deixar correr à solta pelas redes sociais, espalhando sátiras simpáticas da vida real na forma de deliciosas ilustrações. Sem medo de sofrer represálias, continuará a nadar pela internet, a fazer cócegas nos nossos ecrãs com o seu diário ilustrado.

ARTE


Authentic Store Lisboa Rua do Ouro, 234 Authentic Store Porto Arrรกbida Shopping, Lj 107

FREDPERRY.COM


YOU MUST

MIGUEL PARQ

ARTE

N.48

TE X TO SA R A BER N A R D I NO

A CRÓNICA DE UM FIM ANUNCIADO

“El tiempo es superior al espacio” -

pode ler-se num estandarte pendurado numa sucata. As palavras

“La realidad es más importante que la idea” sobre a escultura

Portugal a Banhos de JOANA VASCONCELOS. As frases são da autoria do PAPA FRANCISCO,

ARTE

mas MIGUEL JANUÁRIO pediuas emprestadas. A ocasião? O PRINCÍPIO DO FIM, exposição patente na Galeria Underdogs entre 6 de novembro a 23 de dezembro. Esta é a terceira vez que o autor do projeto ±MAISMENOS± expõe na Underdogs, desta vez com

(6)

outra perspetiva, “com intenções mais fortes” afirma. Ao longo do seu percurso, tem-nos habituado a uma componente bastante interventiva –ele já esfaqueou a estátua de D. Afonso Henriques e jogou golfe em frente à Assembleia da República. Com os estandartes

YOU MUST


ARTE

PARQ

N.48

YOU MUST

J A N UÁ R I O FOTOS JO ELM A AGUI A R

A t é 23 Dez. 2015 y Underdogs Galler ém 56 a, A r m a z lh a P o d n a n Fer a Ru et www.under-dogs.n

que citam Sua Santidade, pretende “um momento de reflexão de fora para dentro da galeria”. Assim, a exposição “tenta estimular um pouco o pensamento crítico, mas com base numa experiência mais física, em que as pessoas são induzidas a percorrer caminhos”, explica o

YOU MUST

artista. O objetivo é causar distância, desconforto, um jogo de sensações. Com um pendor quase distópico, O PRINCÍPIO DO FIM anuncia o fim “dos valores da europa, os valores territoriais, a questão da mudança de paradigma religioso”, esclarece. Desta forma, põe em causa o

(7)

paradigma atual, numa “sociedade que se funde com o mercado”, indo assim em linha com a natureza contestatária do seu trabalho. “Esta é uma finalidade possível para onde estamos a caminhar”, conclui.

ARTE


YOU MUST

PARQ

ARTE

N.48

J E N N I F E R

ANGUS TE X TO RUI LI NO R A M A LHO

NÃO É INCEPTION. MAS É INSECTION. JENNIFER ANGUS é uma das principais figuras por trás da renovação da Renwick Gallery, em Washignton DC –primeiro museu de arte a nascer nos EUA, em 1874. É melhor prevenires-te com uma lata de Raid para a leitura deste artigo. Ouvimos muitas vezes dizer-se que as paredes têm ouvidos –o que só por si já é suficientemente insólito. Mas pronto, lá aceitamos a coisa, porque a polissemia e falta de literalidade da língua portuguesa acabam por nos acalentar o espírito. Agora, o que é que nos vai acalentar o espírito quando nos disserem que as paredes têm insetos, e que não são dois nem três, mas milhares? Há uma resposta plausível: a arte. Em nome dela, JENNIFER ANGUS percorreu o sudeste asiátio (Malásia e Tailândia) em busca de insetos que grande parte de nós nunca antes viu ou foi capaz de imaginar. Agora, mais de cinco mil desses insetos jazem nas paredes de uma sala cor-de-rosa na Renwick Gallery. Visto de longe, ainda se fica com a sensação de não passar de um mero wallpaper. A própria artista norte-americana faz questão de esclarecer as dúvidas: «Acontece muitas vezes as pessoas se questionarem se os insetos que uso no meu trabalho são reais. Sim, são reais, apesar de estarem mortos e secos. As cores deles são naturais. Eu nunca os pinto». Para esta instalação, intitulada “The Midnight Garden”, JENNIFER ANGUS dispôs os insetos de forma a gerar diversos padrões, como

ARTE

espirais, grelhas, círculos e até... caveiras. As quatro paredes da sala estão atulhadas de bicharada de cima a baixo. Entre as várias espécies utilizadas por ANGUS, contam-se, por exemplo, cigarras, escaravelhos e gorgulhos (‘que porra é essa’ perguntam vocês). Quanto a questões de foro mais ético, JENNIFER ANGUS garante que nenhuma das espécies com que costuma trabalhar está em risco de extinção, e chama mesmo a atenção para aquele que considera ser o verdadeiro problema: «Nós reconhecemos que as florestas são os pulmões do planeta, mas não se está a fazer o suficiente para proteger este recurso precioso. Apesar de nenhuma destas espécies

(8)

estar em perigo, é importante frisar que o seu habitat está a ser atacado. As florestas estão subordinadas à demanda humana pela agricultura e urbanização». Além disso, a artista tem o hábito de reutilizar os insectos que já colecionou em cada exposição que faz.

YOU MUST


INDIVIDUAL STYLE UNITED SPIRIT TASHA VLOGGER

*Estilo Individual | Espírito unido


YOU MUST

PARQ

STREET ART

N.48

S P R AY

Z E RO TE X TO M A R I A N A V I SEU Dos Jogos Olímpicos de 1992 ao nascimento da marca MONTANA. Dos anos dourados dos graffiti até à sua radicalização e punição. Barcelona foi das primeiras cidades europeias a dar vida e voz às paredes, embora hoje seja apenas palco e testemunho da opressão a esta cultura. Para uns, serão só rabiscos feitos por vândalos, para outros, serão tags e arte. Mas há, com unanimidade, um antes e um depois do spray ter chegado à Catalunha. Agora, numa altura em que o turismo atinge recordes imbatíveis, é tempo de falar e recordar com quem sabe e viveu na primeira fila a arte de rua, o que ela foi um dia, o que podia ter sido e o que talvez ainda venha a ser.

graffiti em Espanha. Se era ilegal? Era, mas a História sempre se fez dessas pequenas anarquias e elegâncias. Das grutas pré-históricas às paredes dos subúrbios de uma metrópole, ou a um simples portão no centro de Barcelona, a vontade de ilustrar por onde habitamos não esvaneceu ao longo dos séculos. A assinatura ou ícone, em spray, marcador ou stencil, é um grito silencioso e bem visível de um “eu estive aqui”. É uma impressão digital (ou visual) que às vezes reclama por mais do que uns minutos de fama: reclama pela atualidade. Vandalismo ou arte? A fronteira é ténue e indeterminável. Delimitá-la seria delimitar a condição

Poblenou

Revista Game Over

Seriam as três da manhã. A cidade dormia, não se via ninguém. Tinham mentido às mães para que pudessem sair de casa. E ali estavam eles, de mochila às costas, de capuz na cabeça; a passo apressado, quase a correr. Queriam chegar à estação, trepar a vedação e fazer bombing numa carruagem de comboio. Não interessava por onde começavam, queriam apenas escrever aquela caligrafia tão treinada e que depois os seus nomes viajassem pela cidade inteira. E nessa rebeldia de adolescentes, eram só e apenas a ambição de serem alguém maior, de através de um tag, algures em meados dos anos 80, implantarem a cultura do

STREET ART

do próprio graffiti. É uma guerra nas e entre as paredes e que, por não se ler como quem a escreveu um dia, pode ser mal amada e desafiar o status quo. O graffiter é, por isso, alguém com uma noção de tempo e espaço bem precisa, que ao provocar a efemeridade da sua obra, a espalha, publicitando-se gratuitamente. Anti herói ou não, arte ou pretensão, o que está em risco é uma multa que pode ascender à quantia de seis mil euros. Barcelona, a cidade catalã por excelência, era nos últimos anos da década de 90 e no início dos anos 2000, a Meca do grafiti, o lugar de passagem

(10)

YOU MUST


STREET ART

PARQ

N.48

obrigatória para apresentar uma obra. O mesmo ‘Ayuntamiento’ que deu muros e paredes aos writers e artistas, foi aquele que fez demolir um mural do KEITH HARING no centro da cidade. Hoje é capaz de gastar, através do seu gabinete especialmente direcionado para a limpeza de paredes e mobiliário urbano grafitado, quatro milhões de euros anualmente. As pessoas passam, as crianças crescem e a ilustração da rua não dura mais do que umas horas, apagada para sempre por uns braços invisíveis do poder que não preservam o que poderíamos chamar de memória. “O facto de existir muita permissividade e de a polícia não dizer absolutamente nada enquanto estavas a pintar, contribuíu para que o graffiti aumentasse impressionantemente em Barcelona. Até que se implementou a Ordenanza Cívica, e aí houve todo um decréscimo. Agora está a chegar ao fundo de verdade”, quem o diz é JUSTIN CASE, artista, escritor de graffiti e Barcelonês de coração. Fala com aquela voz magoada, de quem já sentiu que um dia o panorama era muito gracioso mas, claro, “nunca vai voltar a ser o que era”. Assegura que pensou que “com o novo Ayuntamiento, com a nova presidente ADA COLAU, existisse uma mudança no mundo do graffiti, mas não houve até agora”.

Barcelona, para ele, deixou-se morrer nessa promessa que foi um dia, no potencial de uma capital do graffiti. “Aos políticos diriam que não tem sentido nenhum gastarem tanto dinheiro a pintar os muros de cinzento: que invistam na educação, na saúde ou em outras mil coisas que necessitamos. É uma estupidez pagar mensalmente a pessoas para que nos pintem a cidade de cinzento”. Por que o que é que pressupõe uma cidade gris? “Nada de bom para ninguém, apenas uma cidade mais triste, mais aborrecida. Não tem sentido”. E nas primeiras palavras que disse nesta entrevista cabe toda a realidade do graffiti em Barcelona: “há um antes e um depois da MONTANA, mas também há um antes e um depois da Ordenanza Cívica”. Por isso, KAPI é o nome incontornável e incontestável para falar do panorama que ele próprio criou: do seu filho graffiti e da rainha MONTANA. Onde o esperamos, no café/galeria ao lado da atual loja MONTANA, a História também se sabe escrever em 14 caracteres da password do Wi-Fi: Art is not a crime. E isso basta para entender toda a envolvência. KAPI chega com aquela energia vibrante e com um sorriso rasgado de quem acredita na felicidade e na harmonia na vida. Fala com um à vontade genuíno, de quem a cada frase sente aquela paixão intensa a correr-lhe pelas veias. Ele é o cérebro e o cool hunter. KAPI é como um dos seus tags: que

El Pez, em St. Adriá

Edição limitada Montana 10 anos

Barcelona dos últimos anos do século passado era, para JUSTIN, um paraíso no mundo para pintar. “Não era um turismo do tipo adquisitivo, de ir a lojas muito caras e de gastar muito dinheiro, mas era o que podíamos chamar de turismo cultural”. Recorda os verões com enchentes estrangeiras, gente que percorria quilómetros com o único intuito de poder pintar livremente e a céu aberto. Mas, em 2007, tudo mudou. No mesmo ano em que proíbem de pintar o espaço público, mendigar, andar de skate e beber álcool na rua.

YOU MUST

YOU MUST

vai e vem, mas que permanece nessa mesma viagem que pode superar qualquer tempo de vida. Ele é esse miúdo que no primeiro dia que pôde sair de casa à noite foi pintar um comboio, o primeiro em toda a Espanha. Quando tinha 15 anos recebeu o livro “The Subway Art”, sobre os metros de Nova Iorque nos inícios dos anos 80. Por aí, entendeu a estética e o conceito que antes chegavam escassamente pelos fanzines a preto e branco. Agora confessa, quase em tom de anedota, que no início, quando tinha o seu grupo de graffiti de três pessoas, “para que parecesse que

(11)

STREET ART


YOU MUST

PARQ

N.48

STREET ART

marcadas, para não as repetirmos. Era tudo super organizado, simulávamos um cenário que não existia”.

Zosen e Nina

Poble Sec existia mais gente em Barcelona, tínhamos outro grupo com outros nomes, totalmente secreto.” Ou seja, de dia para dia, mudavam de identidade para que o panorama se assemelhasse, de facto, ao de uma grande metrópole. “Saíamos todas as noites com os nossos mapas, com as ruas que tínhamos bombardeado já

Mas KAPI foi crescendo, apercebendo-se que queria e podia viver do graffiti. Decoração, publicidade, eventos fizeram com que ele se fosse profissionalizando cada vez mais e que se apercebesse de uma falha no mercado: não havia tintas especializadas. Os únicos sprays que existiam eram de automóveis e a maioria roubava-os devido ao seu preço exorbitante. A palete de cores disponíveis também era bastante reduzida. Por isso, nos inícios dos anos 90, quando KAPI já tinha a GAME OVER MAGAZINE, a primeira revista que exportava o graffiti Espanhol para o mundo, pensou exatamente no que faltava: páginas a cores e tintas feitas especialmente para graffiters. A ideia explode

Chimeneas del Poble Sec e a ele junta-se MOOCKIE e o director comercial da marca de tintas FELTON, JORDI RUBIO. Os três criam uma primeira loja onde a “tinta fosse tão barata que não seria necessário roubá-la; com a marca FELTON fizemos uma loja onde se podiam comprar as latas mais baratas do que as lojas compravam à própria marca”. E

Opus e MVIN STREET ART

(12)

YOU MUST


STREET ART o boom foi imediato: “500 latas por semana, o que para a fábrica foi muito difícil de controlar. Mas que lhe dávamos em troca desta ajuda? Melhorávamos a marca. A ideia era que a marca pudesse realmente encaixar nas nossas necessidades e é aí que nasce o conceito de uma marca especialmente focada para o graffiti”. Conta que foi aí que tiveram que começar do zero, que foi nesse momento que uniram todas as forças, que JORDI deixou a FELTON

PARQ

N.48

dia”. E em poucos anos, MONTANA exporta para o mundo inteiro e é a marca mais copiada no mercado. A democratização da graffiti havia chegado definitivamente: “tinham o ginásio a cada domingo, com as mil pesetas de cada semanada que lhes davam as mães, os miúdos compravam cinco latas e podiam fazer várias peças”. E assim, sem que muitos passassem pelo getting up, a cidade explodiu em novos writers e novos ícones. A

YOU MUST pensado antes, responde com a rapidez de quem viveu, deu alma e sangue a um panorama novo que hoje tem tanto de banal como de romântico: “o graffiti não é anónimo, é totalmente egocêntrico. O tag é a essência do getting up. O hashtag posiciona-te dentro de um grupo de um modo anónimo, muito mais próximo das crews. Ou seja, tu sente-se identificado com um conceito ou um termo e usalo. Na rua se queres pertencer a

Zosen e criaram a marca MONTANA em 1994. E desde a planificação da loja com as tintas atrás do balcão para que ninguém as pudesse roubar, ao ar de galeria para que passasse em todas as inspeções ou até mesmo com as inovações como o spray de baixa pressão, a marca MONTANA implementou-se com toda a legitimidade necessária. De mãos dadas a esta nova marca esteve também o primeiro evento internacional de graffiti em Barcelona, em junho de 1994, onde foram apresentadas as primeiras latas com o mítico 94 na embalagem. “Começam a chegar muitos estrangeiros que vêm unicamente para comprar tintas, encher a mochila e ir embora. Esse era o valor da pintura”. Lembra-se que uma vez parou à porta um mini bus de matrícula alemã “para comprar as três mil latas que tínhamos na loja e voltar à Alemanha nesse mesmo

YOU MUST

época dourada começava agora. A partir de aqui é pulsar uma marca, uma loja, uma filosofia e uma paixão. O que tinha nascido anos antes no seio da cultura do Hip-hop espandese como projeto. Com MONTANA “é onde nasce tudo”, diz KAPI e, de uma outra maneira, “um certo poder”. E para ele isso significa “a sensação de missão cumprida”. Decide, a princípio dos anos 2000, deixar o cargo de Product Manager para reencontrar a sua criatividade. Hoje podemos encontrá‑lo algures a reunir informação para escrever um livro seu; algures no mundo dos Dj’s, no do break e também no do graffiti, claro, porque “ nunca é permanente o abandono, mas às vezes nem tiro fotografia nem nada”.

um grupo tens que ganhar isso: porque bombardeias mais que ninguém, tens um estilo brutal, fizeste algo perigoso. Nas redes, com o hashtag tudo isto não existe”. Mas mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e a rua resiste. Calada, rejuvenesce cada noite, a cada aerossol que se aproxima e lhe toca. E mais uma vez, são três da manhã para que se possa voltar a escrever.

E numa era em que a imagem vive num scroll diário na palma da nossa mão, perguntamos se poderá haver algum paralelismo entre o tag e o hashtag. E sem que o houvesse

(13)

STREET ART


YOU MUST

PARQ

N.48

G I R L S

FOTOGRAFIA

I N

M Y BEDROOM TE X TO JOA N A TE I X E I R A

FOTOS I VO L Á Z A RO

b w w w .g i r l s i n m y

Um quarto, uma luz natural e uma mulher sem tabus são os ingredientes do projeto Girls In My Bedroom do fotógrafo IVO LÁZARO. Em 2013, começou a convidar raparigas a despirem‑se de preconceitos para a sua câmara, numa experiência que se transformou num autêntico

FOTOGRAFIA

boom de sensualidade nas redes sociais. Inspirado pela rebeldia visual do incontornável TERRY RICHARDSON, IVO criou um novo sinónimo de sexy em Portugal: imagens de mulheres ao natural, à vontade com o seu corpo, que se despem à frente da sua câmara porque se sentem confiantes na

(14)

edroom.nu

sua pele e são tão poderosas vestidas como despidas –sem vulgaridades. Procura fotografar mulheres diferentes, mas sempre com aquele travo a "girl next door". Tudo muito "simples e natural", porque para bom entendedor, uma boa fotografia basta.

YOU MUST



YOU MUST

R

PARQ

ARTE

N.48

J O S E

O

M

U

S

S

I

TE X TO JOA N A TE I X E I R A Quando linhas e agulhas se encontram com fotografias, o resultado são imagens bordadas a cor que desafiam as leis da arte. O artista chileno JOSÉ ROMUSSI é especializado em quebrar as regras

ARTE

bordando com linhas coloridas sobre imagens antigas a preto e branco e fotografias contemporâneas de moda. Os desenhos e palavras bordados pelo artista expressam a sua perceção individual de beleza,

(16)

a qual funde com as fotografias, criando obras com uma nova identidade e uma estética diferente, que ganham novas emoções através da reinterpretação do conceito de beleza pela arte de bordar.

YOU MUST


MÚSICA

PARQ

YOU MUST

N.48

KAMBAS C A S E

TE X TO RUI LI NO R A M A LHO

FOTO JO ELM A AGUI A R

UMA CAIXA QUE DÁ CORPO À MÚSICA

O músico português FRED FERREIRA apadrinhou um novo projeto que pretende facilitar a venda de discos e merchandising. Senhoras e senhores: eis a Kambas Case (Caixa de Som). Numa altura em que, cada vez mais, se enraízam o download e os serviços de streaming de música, FRED FERREIRA decidiu pensar fora da caixa. Mas, curiosamente, fê‑lo dentro da caixa. A Kambas Case é uma pequena loja ambulante, com um formato idêntico a uma caixa de produção, destinada à venda de música em suporte físico (CD’s, discos em vinil, edições especiais de álbuns), para além de t-shirts e merchandising.

YOU MUST

A ideia do baterista português é que, mediante iniciativas como sessões de autógrafos e outras, estas lojas-caixa estejam presentes em concertos, festivais, digressões e até mesmo na rua, com o intuito de «fortalecer e divulgar mais ainda a música feita no nosso país». Os artistas e editoras com os quais FRED faz parceria estarão representados nas várias lojas existentes, sendo que «todos os artigos serão vendidos nos concertos de todos». Atrás de cada Kambas Case, em todas as suas deslocações, estará um vendedor especializado, com conhecimento de todos os artigos.

(17)

As primeiras quatro lojas portáteis foram estreadas no passado mês de setembro, no âmbito do NOS em D’Bandada, no Porto, mas FRED não se quer ficar por aqui. Além de artistas nacionais, o filho de KALÚ (Xutos & Pontapés) planeia vender outros discos, nomeadamente de artistas brasileiros não representados em Portugal. Ex-baterista dos BURAKA SOM SISTEMA, FRED FERREIRA participa atualmente em projetos como a BANDA DO MAR, 5-30 e ORELHA NEGRA.

MÚSICA


YOU MUST

PARQ

NERVE TE X TO ÁGATA C. PI NHO

FOTO CH I KOL A E V

Depois do álbum de estreia Eu Não das Palavras Troco a Ordem, o rapper NERVE apresenta Trabalho & Conhaque ou A Vida Não Presta & Ninguém Merece a Tua Confiança, editado pela Mano a Mano. Coleção de músicas cheias –de apontamentos sonoros, de palavras que falam sobre a ordem desordenada das coisas–, esta pode ser a receita ideal para agitar a rotina dos dias e combater a claustrofobia do sentido pré-​​​​processado. A PARQ esteve à conversa com o artista.

P: A música e as letras que escreves demonstram uma

densidade bastante interessante, que traz algo de novo ao cenário do rap em Portugal. Como funciona o teu processo criativo? N: Com o passar dos anos, tem-​​​​se tornado um processo mais demorado, ou pelo menos mais trabalhoso. A componente escrita, onde reside a maior parte do meu esforço, nem sempre, mas em muitos casos, (principalmente no novo álbum) funciona à base de “puzzles” construídos com ideias soltas que por acaso me lembrei e registei mais tarde no computador, numa pasta com dezenas de ficheiros. Começa com uma espécie de processo de “colheita”. Escolho uma ideia solta, começo a explorá-​​​​la e a tentar conjugá-​​​​la com outras que tenha registado e se enquadrem na mesma temática. O objetivo é transmitir o máximo de informação, mantendo o máximo de linhas de impacto e o mínimo de “palha”. Quanto ao “encaixe” da letra no instrumental, tanto acontece escrever para um instrumental específico como escrever sem ter ainda um instrumental definido. Neste último caso, frequentemente acontece ver-​​​​me obrigado a produzir o instrumental com a sonoridade específica que idealizei para a letra. P: Lanças agora o teu segundo álbum, sete anos depois do primeiro. Que direção vês para a tua obra? N: Durante os últimos sete anos, todo o meu tempo livre foi dedicado à música, tanto para colaborar em álbuns/ep’s/ mixtapes de outros músicos como a escrever, reescrever, gravar, regravar e misturar este álbum. Também tratei da parte gráfica, que só por si também representou um longo processo. O facto de ter dedicado esse tempo à música nestes anos torna esta ideia de “ausência” meio amarga, embora eu compreenda. Não acredito que um artista tenha de celebrar cada par de Primaveras com um álbum, mas daqui para a frente quero definitivamente lançar mais

MÚSICA

N.48

MÚSICA

projetos, mais pequenos, mas mais regulares. Tentar que, ao contrário deste álbum, a coisa não interfira tanto com as outras áreas da minha vida. Só isso. Não tenho planos de conquista mundial. P: És muito metódico na produção das músicas? N: Sim. A componente criativa é rápida, mas como referi na primeira resposta, a componente técnica (o método) representa um processo mais longo. As ideias que incluo nas letras surgem espontaneamente, em qualquer momento durante o dia, sem hora marcada. O que faço é apontá-​​​​ las num papel ou no telemóvel e esperar não me esquecer de as registar no computador quando chegar a casa. Depois, na componente técnica, de conjugação de várias ideias soltas, é onde recorro a um ou vários métodos para construir o tal “puzzle” que referi. Mesmo na gravação das letras, tenho uma ideia muito específica de como quero soar e da quantidade de vozes de fundo que quero utilizar em cada momento. Regra geral, acabo por utilizar muitas camadas de voz. Na produção de instrumentais, talvez por ser a área que menos explore das três (escrita, gravação, produção), o processo é mais experimental, mais livre e menos metódico. P: Que bandas/​​artistas te inspiraram? N: Dentro deste género, qualquer artista que tenha uma abordagem só sua. Tenho referências bastante díspares entre si em termos de temática ou sonoridade, mas qualquer uma delas tem uma identidade muito própria. Estamos a falar de imensas bandas, desde o Reino Unido ao Brasil, mas as referências basilares vêm essencialmente daquela escola de editoras norte-​​​​ a mericanas independentes, como a Definitive Jux, a Rhymesayers ou a Anticon, que na primeira década dos anos 2000 apresentaram várias mãos cheias de abordagens alternativas dentro deste género. Falava-​​​​se de um “indie rap”, na altura. Essas bandas tiveram um grande impacto na definição do que faço hoje. P: Falas sobre a procura do equilíbrio e na paz que pode resultar da aceitação do fracasso em atingi-​​​​lo. A música pode ser um interveniente que salva? N: Qualquer escape à rotina pode salvar, seja ele escrever umas linhas ou cuidar de orquídeas. Para mim, é essencial encontrar um escape fora da rotina. Se nesse escape conseguir encontrar alguma realização, ainda melhor. Nos últimos anos de produção deste álbum, esse escape tornou-​​​​ se uma espécie de auto-​​​​obrigação que já muito pouco se parecia com desanuvio ou prazer. No entanto, o cansaço e frustração que advieram do processo foram canalizados para escrever algumas faixas mais negativas que acabaram por integrar o disco e ajudaram a chegar ao produto final. Neste caso, a aceitação de que há momentos em que “a vida não presta”, aliada à vontade de produzir música, pode ter sido o que me “salvou” de uma prisão perpétua a procurar sei lá o quê.

(18)

YOU MUST


MÚSICA

PARQ

N.48

PAT T I SM ITH TE X TO TER ESA M ELO No aniversário dos quarenta anos do seu álbum mais simbólico, PATTI SMITH vai à procura da miúda que um dia disse “Jesus died for somebody’s sins, but not mine”. “Oh, to be reborn within the pages of a book”, é a frase que exala da sua

ideia inconsolável de permanência. Mas não será a transformação, por si só, uma perda invariável? O mistério da continuidade que une o passado, o presente, e eventualmente o futuro, mantém-se como uma das grandes perplexidades e mistérios

mais recente obra M Train (2015). Numa entusiasmante meditação sobre o tempo, a transformação e a capacidade esplendorosa do amor em contrariar a inevitabilidade da perda, PATRICIA SMITH reflete sobre a vida, ou melhor, a morte: do seu marido FRED SMITH, do irmão TODD SMITH, do seu melhor amigo ROBERT MAPPLETHORPE, do pianista RICHARD SOHL, assim como tantos outros. Ora mnemónico, ora sonhador, no fundo, o que emerge é um estranho mas sublime alívio da

da vida e SMITH contempla esta desorientação com a fluidez singular das suas palavras. O livro, embora já publicado nos Estados Unidos, só chega às livrarias portuguesas no início do próximo ano. PATTI SMITH tornou-se numa espécie de ritual, de experiência fervorosa perante uma geração ao rubro. Posiciona-se no mundo artístico e social, como um repositório de dever, de resiliência e de ternura, revelado sobretudo em Just Kids (2010), onde recorda a inebriante

YOU MUST

(19)

YOU MUST cidade de Nova York na década de 70 e especialmente a amizade com o fotógrafo e companheiro daquela época, MAPPLETHORPE. Em agosto de 2015, foi anunciado que este livro já estava a ser adaptado a série televisiva pela Showtime, tornando-se numa oportunidade única para aprofundar detalhes muito curiosos do percurso da cantora. Artista icónica, SMITH viaja na efemeridade dos grandes artistas para nutrir-se de inspiração. A máquina de escrever de HERMAN HESSE, o chapéu de palha de ROBERT GRAVE, a cadeira de ROBERT BOLAÑO, os talheres de RIMBAUD, a cama de VIRGINA WOLF. Com uma penetrante devoção da sua memória, a poetisa trá-los à terra, eternizando-os. No total, são setenta fotografias que unem os objetos à literatura e foram exibidas na sua maior exposição de fotografia até à data: Camera Solo. Foi em 2001 que PATTI tocou pela primeira vez em Portugal. Em 2007 voltou para promover o álbum Twelve. Este ano, depois de uma passagem pelo NOS Primavera Sound, no Porto, SMITH e a sua banda subiram ao palco do Coliseu dos Recreios na véspera do equinócio de Outono para mostrar a dramatis personae de Horses (1975). No palco, os decibéis libertam-se, a linguagem é muscular. Na plateia, sente-se uma telepatia ainda muito presente, descoberta num período onde o rock se libertara finalmente das correntes. As nuances, os twists, os arranjos, cada canção possuía uma fúria de continuar viva. Gloria trouxe consigo a juventude. Johnny, o enigmático protagonista de Land, saiu das suas surreais e cinemáticas aventuras, qual reflexo da periferia obscura de Manhattan. Redondo Beach surpreendeu-nos com o seu reggae. Birdland confundiu-nos com o desejo de um filho, a ausência do seu pai e uma visita alienígena. Break It Up recordou-nos JIM MORRISON. Ela era a raiva, a fuga, a miúda andrógena que conversou com ALLEN GINSBERG, escreveu para a JANIS JOPLIN e teve um romance com MAPPLETHORPE. Aos 68 anos, PATTI SMITH –uma das mulheres mais poderosas da história do rock– ainda busca a alegria, a abertura, o desejo das coisas. Mais do que uma lenda, PATTI SMITH já é imortal, tal como os seus heróis.

MÚSICA


YOU MUST

PARQ

N.48

MÚSICA

L U AT Y TE X TO A N A RO DR IGUES

A história recontada do músico e ativista que despertou o mundo para a realidade sócio-política angolana No passado dia 20 de Junho, 15 jovens ativistas angolanos foram detidos, sob suspeita de prepararem uma rebelião contra o líder angolano. De todos eles, LUATY BEIRÃO foi quem levou mais longe as suas convicções. Prolongada e reforçada a rigidez das medidas preventivas, LUATY BEIRÃO declarou uma greve de fome que duraria 36 dias –período crucial para atrair a atenção internacional sobre a situação político-social em Angola e denegrir irremediavelmente a imagem do Presidente JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS. Quem é este “Kamikaze angolano” que quer acordar um país inteiro?

O artista é elitista O artista é narcisista O artista faz canções de amor Mas, mano, está só a ser artista É autista, não se liga Quando incorre na heresia Vestindo símbolos de opressão Enquanto reclama justiça

“A morte do artista” –Ikonoklasta

Ter adoptado o alter ego IKONOCLASTA foi obra do acaso. A escolha do nome é conhecida, repetida em diversas entrevistas, e multiplicada pelo rodopio mediático, como se se tratasse de uma premonição acerca dos eventos mais recentes. Numa altura em que LUATY se costumava apresentar como BRIGADEIRO MATA FRAKUZX, reparou na

MÚSICA

entrada “iconoclasta” enquanto consultava um dicionário. IKONOKLASTA encara o peso histórico do combate à idolatria das imagens, a gíria juvenil e o ADN do ativista contemporâneo –consciente, pacifista, mediático, subversivo. O gosto pelas rimas surgiu ainda durante a adolescência, mas o ativismo, esse, veio com outras dores de crescimento: o inteletual. LUATY partiu para Plymouth aos 18 anos, para se licenciar em Engenharia Electrotécnica, onde encarou a realidade do seu país de um ponto de vista externo, informado pelo contato com ações de ativistas ingleses. Mais tarde, a conselho do seu pai, estudou Economia e Gestão em França, onde assistiu ao bloqueio da universidade de Montpellier. Todos estes eventos redefiniram as convicções de LUATY, então determinado a erguer as rimas como arma pacífica de mobilização da juventude angolana. O trabalho de longa data com o produtor MCK foi fundamental para estabelecer IKONOKLASTA como uma das mais importantes vozes angolanas. Enquanto BRIGADEIRO MATA FRAKUXZ ou IKONOKLASTA, nunca foi lançado um único álbum no circuito comercial –o propósito nunca foi o de vender, mas sim o prazer de fazer música e de a fazer chegar às pessoas. Lê-se numa troca de mensagens pública entre LUATY e MCK, acerca de uma futura colaboração: «Vamos lá fazer magia, sendo a única condição que me permito exigir a de que A MÚSICA/A ARTE e o prazer de fazê-la deverá ser o nosso único compromisso com este objetivo que agora nos fixamos. Não os ouvintes, não o retorno financeiro, mas unicamente a música e o prazer de fazê-la!». Por isso, a maioria dos temas são distribuídos em ficheiros que podem ser descarregados e partilhados gratuitamente; os vídeos (sejam

(20)

YOU MUST


MÚSICA

PARQ

YOU MUST

N.48

B E I R ÃO FOTOS DÉBO R A LI NO

Luaty beirão, enquanto Ikonoklasta, no seu único concerto em Lisboa, a 6 de dezembro de 2014, nas comemorações do oitavo aniversário do Musicbox músicas, atuações ou mensagens suas) circulam sem barreiras pelas redes sociais. Igualmente determinante foi a relação com o produtor e músico PEDRO COQUENÃO (também conhecido como DJ MPULA), figura por trás da FAZUMA, plataforma de criação e produção de artistas lusófonos com sonoridades reggae, hip-hop, kuduro…, que mantém duas rubricas semanais, “Música Enrolada” e “Música Quebrada” (na RDP África e Antena 3). Foi através da FAZUMA que PEDRO contactou com LUATY, uma amizade que acabaria por se transformar numa colaboração transversal a vários projetos. Em 2009, BATIDA assinava o seu disco de estreia, Dance Mwangolê, descrito como um encontro entre a música angolana da década de 60 e o ritmo da eletrónica contemporânea. Falar deste projeto é, sem dúvida, falar de PEDRO COQUENÃO, mas também da colaboração de outros músicos, entre os quais IKONOKLASTA. Apesar de outras passagens anteriores por Portugal, foi na companhia de BATIDA, que LUATY se estreou enquanto IKONOKLASTA em palcos nacionais, no quadro do 8º aniversário do Musicbox, onde também contou com a companhia de ALINE FRAZÃO, XEG, SIR SCRATCH e VALETE. Em 2010, a FAZUMA produziu também o documentário “É Dreda Ser Angolano”, inspirado pelo álbum Ngonguenhação, do COLECTIVO NGONGUENHA, outro projecto com a participação de IKONOKLASTA. Neste «mambo tipo documentário» faz-se um ponto de situação sobre a música angolana, destacando o seu papel interventivo e as formas de produção e circulação que permite. Sublinha-se o papel da rádio como forma popular de acesso à música e informação, mesmo nas camadas mais desfavorecidas. Percebe‑se

YOU MUST

que vozes como Ikonoklasta ou MCK são apenas a fração mais conhecida de um coro muito extenso, vozes como a de Shunnoz Fiel dos Santos, que no documentário se apresenta como «pensólogo», seguidor da «carreira de sofredor profissional» e »adepto da pobreza clássica».

Acredito nas palavras, não no conflito armado Porque numa guerra os inocentes são sempre os mais lesados Mas não se combatem canhões com discursos musculares Por isso frequentemente tento imaginar-me fardado Evito sempre descrever-me como um revolucionário Porque o discurso é bonito, mas saberei materializá-lo? Das palavras aos actos, será que aceitaria ser torturado? Ou se algum membro da minha família fosse ameaçado? “Revolução” –Ikonoklasta com Jimmy a.k.a. Supremo G Menos activo em termos musicais, LUATY BEIRÃO vem recentemente a repartir-se entre o ativismo e o papel de pai, acompanhando de perto os primeiros anos da sua filha. Daqui em diante, a sua história é demais conhecida e reproduzida pelo aparato mediático que se seguiu às detenções de Junho passado. A sua greve de fome foi noticiada internacionalmente e a sua imagem, já no hospital-prisão, reproduzida por órgãos de comunicação e redes sociais um pouco por todo o mundo. Tamanha exposição poderá ter sido uma das mais pesadas ações contra o governo Angolano, denegrindo irremediavelmente a imagem de JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS. O IKONOKLASTA fez-se ouvir.

(21)

MÚSICA


N E T F LI X YOU MUST

PARQ

N.48

CINEMA

TE X TO D I OGO SI M ÃO De certeza que o nome NETFLIX já te passou à frente. De certeza que o seu logótipo vermelho te suscitou algum tipo de interesse. Afinal de contas, filmes e séries são parte intrínseca da tua vida. Quer tenhas feito parte da geração dos videoclubes ou te consideres um perigoso ciberpirata, o NETFLIX tem algo para ti. Quer sejas um estudante universitário à procura da maneira mais rápida de te atualizares em relação às séries de que todos falam, ou uma mãe que quer rever com o filho os programas da sua infância, o NETFLIX tem algo para ti. Quatrocentos e oitenta e cinco séries, desenhos animados, filmes, espetáculos de comédia e documentários para todos os gostos e feitios. Queres rever clássicos do cinema como Grease, Goodfellas e Edward Scissorhands? Talvez te apeteça ouvir alguma barbaridade vinda do humorista KEVIN HART ou redescobrir alguns episódios de POKEMON totalmente dobrados em português. Talvez passar uma noite na companhia de Sherlock ou

CINEMA

Dexter? O NETFLIX proporciona‑te

uma miríade de conteúdos de grande qualidade, sempre com legendas (e no caso de desenhos animados, dobragens) em português. Outra das grandes vantagens do serviço é a possibilidade de acesso em qualquer lado. Imaginemos que estás a ver uma série no computador em casa e tens de ir às finanças. Enquanto esperas pela tua vez, caso tenhas acesso à internet, podes continuar a ver a série no teu telemóvel ou tablet, exatamente a partir do momento onde paraste. O mesmo se aplica se saíres do teu país de origem: basta fazer login e tens toda a programação ao dispor. O próprio serviço de streaming produz os seus conteúdos originais, tais como as séries Orange is the New Black, Bloodline, Daredevil, Narcos, e filmes como o recente Beasts of no Nation, que tem sido aplaudido pela crítica. Este investimento em conteúdo próprio pode gerar oportunidades para novos criadores nacionais, que vejam esta plataforma como um meio interessante para divulgarem o seu trabalho.

(22)

Não obstante, o pacote de conteúdos disponível no nosso mercado é minúsculo, quando comparado com, por exemplo, o do Reino Unido (3065), o do Brasil (3786) e, obviamente, o dos EUA (7230). Sim, existem muitos filmes, mas quantos clássicos indispensáveis ficaram de fora? E as séries da HBO como Game of Thrones e True Detective? A omissão mais gritante é a da série mais celebrada do NETFLIX, House of Cards, que está a ser transmitida pela SIC. O serviço parece um investimento no futuro: pagamos a taxa (7,99€ p/ mês) pelo serviço e pelo trabalho dos criadores, mas sem realmente termos assim tantos conteúdos de início. Estamos é, sem dúvida, a estimular a exploração do mercado nacional e a proporcionar a disponibilização de mais conteúdos internacionais no futuro. E se o primeiro mês de assinatura é grátis, não se perde nada em experimentar! Talvez o NETFLIX tenha algo para ti.

YOU MUST


CINEMA

PARQ

YOU MUST

N.48

THE H AT E F U L E I G H T TE X TO D I OGO SI M ÃO Janeiro. Um mês que, em Portugal, o cine‑ ma chega a outro pa‑ tamar. Depois da es‑ treia na América do Norte, os principais concorrentes aos pré‑ mios da Academia de Holly wood ata‑ cam os mercados in‑ ternacionais. É assim todos os anos: mas não é todos os anos que podemos com‑ prar um bilhete para um filme de QUENTIN TARANTINO. O nativo do Tennessee apresenta‑nos The Hateful Eight, a sua oitava película e segundo western. O filme –que esteve quase para não ser feito devido à partilha prematura do guião na internet– chega-nos com um elenco magnífico e uma banda so‑ nora composta pelo lendário ENNIO MORRICONE (e que contará, certa‑ mente, com algumas adições da co‑ leção pessoal do realizador). TARANTINO tem, desde Reservoir Dogs, em 1992, encontrado um nicho muito especial para libertar toda a sua ex‑ travagante criatividade. A violência, o humor, a música, a ação, o diálogo e as personagens memoráveis fazem dele uma das maiores lendas vivas da 7ª arte. No entanto, há um aspeto que nem todos os apreciadores das suas obras sabem: muito antes de existir um Universo Cinemático da Marvel, onde todas as histórias de super-heróis se cruzam de uma maneira ou de outra, o rebelde realizador começou a cons‑ truir o seu próprio Universo. Cada filme que escreveu passa‑se numa realidade paralela à nossa, estando in‑ terligados por pequenos easter-eggs que os fãs mais atentos têm vindo a des‑ cobrir ao longo dos anos. Isto confere uma tridimensionalidade e profundidade

YOU MUST

product placement, acaba por fazê-lo com marcas do seu univer‑ so. Quem não se lem‑ bra do hamburguer Big Kahuna que é masca‑ do por Jules Winnfield (SAMUEL L. JACKSON) em Pulp Fiction, ou da marca de cigarros Red Apple, cujas publicida‑ des aparecem em Kill Bill? Estas marcas sur‑ gem um pouco por todo o lado, mas principal‑ mente nos chamados “filmes dentro de filmes”. enorme a toda a filmografia do realiza‑ dor americano. Começando pelo mais óbvio: Vicent Ve g a , i nte r p r et a d o p o r J O H N TRAVOLTA em Pulp Fiction, é irmão do “cortador de orelhas” mais famoso do cinema: o Mr. Blonde de Reservoir Dogs, Vic Vega, interpretado por MICHAEL MADSEN. Ficou no ar a hipótese de um futuro filme retratar as aventuras dos dois irmãos, mas nunca se che‑ gou a concretizar devido à idade avan‑ çada dos atores.

Este talvez seja o con‑ ceito mais complexo e interessante do universo TARANTINO. Algumas das suas fitas, nomeadamente Kill Bill e From Dusk Till Dawn, são filmes que existem dentro da realidade parale‑ la. Nunca achaste a conversa de Mia Wallace (UMA THURMAN em Pulp Fiction) acerca da série em que partici‑ pou, Fox Force Five, um tanto ou quanto familiar? Nunca achaste a parte “fan‑ tasiosa” de From Dusk Till Dawn um pouco irregular para um filme com a assinatura do realizador americano?

O xerife Earl McGraw, papel desempe‑ nhado pelo actor MICHAEL PARKS, apa‑ rece em vários filmes do realizador. No caótico From Dusk Till Dawn (comanda‑ do por ROBERT RODRIGUEZ, mas com guião de TARANTINO), em Death Proof e nos dois volumes da saga Kill Bill.

Est a liberdade desmedida que QUENTIN concede a si próprio é ali‑ cerçada na sua inigualável escrita e imaginação sem limites. De que outra forma poderia prestar homenagem a todos os homens e mulheres que o ins‑ piraram a ser quem é hoje?

E por falar em Kill Bill, a sepultura de onde a Noiva escapa é a de Paula Schultz, falecida em 1893. Sem uma confirmação oficial, a suposição geral é que este poderá ser o túmulo da mu‑ lher de Dr. King Schultz (CHRISTOPH WALTZ) de Django Unchained.

Por isso, e porque o fim da sua carrei‑ ra está “para breve”, faz um favor a ti próprio: compra um bilhete para o novo filme de TARANTINO. Deixa-te relaxar confortavelmente na poltrona e segue‑ -o para o seu Universo. Tens acesso direto a uma das mentes mais contro‑ versas (e geniais) dos nossos tempos: sem filtros, sem distrações, sem nada. Só tu e ele. E sangue… Muito sangue.

Para além de personagens, existem tam‑ bém crossovers de marcas. Enquanto TARANTINO repudia tudo o que seja

(23)

CINEMA


M O W

YOU MUST

PARQ

MODA

N.48

UMA MARCA DE ROUPA DEMOCRÁTICA criadores s o a a t is v Ler entre .parqmag.com e m www

Há uma nova marca de roupa em Lisboa. Mas não é uma marca de roupa como as outras. Para a Man or Woman (MOW) não existe a palavra género. Mas existe –e muito– uma palavra alternativa a essa: adaptabilidade. A MOW nasceu em março de 2015, por iniciativa de JOÃO PATRÍCIO e MAURO CORDEIRO, com a ambição de se tornar uma das primeiras marcas de roupa gender-​​ free em Portugal. Uma peça MOW tanto pode ser vestida por homens, como por mulheres, embora não tenha sido feita a pensar neles ou nelas em particular.

MODA

www

TE X TO RUI LI NO R A M A LHO FOTOS M A R I A N A SI LVA

(24)

cial. i f f o w o .m

com

Ultrapassando o conceito de unissexo, os criadores pautam todo o seu trabalho por práticas de design alternativas, focadas em modelagem inclusiva e sistemas de adaptabilidade. Atualmente, a marca opera a partir do Mouraria Creative Hub (Centro de Inovação da Mouraria), a primeira incubadora de Lisboa a apoiar projetos e ideias de negócio das indústrias criativas, em especial nas áreas de Design, Media, Moda, Música, Azulejaria, Joalharia, entre outras. O espaço situa-​​se na Rua dos Lagares, 23 Travessa dos Lagares, 1 Mouraria.

YOU MUST


MODA

PARQ

YOU MUST

N.48

I N Ê S

D U VA L E

TE X TO TER ESA M ELO

FOTOS JOÃO PAULO

M A K E- UP LUCI A NO FI A LHO

ST Y LI NG SÉRG I O SI M Õ ES

M O DELO M A RLO N @J UST M O DELS

coordenados INÊS DUVALE e sapatos DR. MARTENS

Uma vanguarda de designers questiona a identidade de género e a sexualidade, os papéis e as posições do indivíduo masculino e moderno. A imagem do homem passivo torna‑se complexa e convence-nos de que, mais do que nunca, é transgressiva ao que foi concebido até hoje. Em Portugal, essa mudança sente-se quando chega INÊS DUVALE. Formada em Design de Moda pela UBI, na Covilhã, esta jovem trouxe à passerelle da plataforma Sangue Novo (Moda Lisboa, outubro 15) a sua mais recente coleção: La Résistence. Chegou, resistiu e revolucionou.

YOU MUST

O seu trabalho é uma espécie de narrativa e move-nos em torno da identidade, do realismo e do comentário social. O sport e street wear assinam as suas coleções, caracterizadas especialmente pela fluidez das peças oversized, sobreposição de tecidos e uma especial ênfase na conceptualização do acessório como algo elementar, identitário. Se os brincos de Karma e os originais óculos de Dreamers se destacaram, o chapéu de La Résistence define precisamente essa busca pela singularidade do resistente.

(25)

Com apenas 24 anos, INÊS traz consigo o prémio de melhor coleção masculina na 9ª edição do Concurso Acrobatic, três apresentações na Moda Lisboa e uma participação no Fashion Clash em Maastricht, na Holanda. As raízes das mais poderosas revoluções são, geralmente, silenciosas. DUVALE, na vanguarda pela liberalização dos conceitos obsoletos no mundo da moda, está a construir, gradualmente, um modelo novo que se opõe aos limites do poder institucionalizado: a liberdade para assumirmos o que realmente somos, sem limites.

MODA


ARMINHO

YOU MUST

PARQ

N.48

DESIGN

w w w.a r m i n h o. p t

TE X TO TER ESA M ELO

Da união entre o amor, a criatividade, a vontade e o gosto pelo vintage, nasce a ARMINHO, marca especializada em tipografia, encadernação e ilustração. Procurar e evidenciar a riqueza escondida em velharias e antiguidades é a motivação de RAQUEL e JOÃO. Ela é de Viseu e formou-se em artes plásticas. Ele, alentejano, é designer gráfico. Depois, foi a intuição. Fascinados pela roupa, decoração e, sobretudo, pelos cadernos originais produzidos durante décadas de 40 e 50, o casal transportou a inspiração handmade para a concretização de uma ideia muito peculiar, resolvendo adotar um conceito único: criar capas diferentes das vulgares por impressão digital. Como se de um regresso às origens se tratasse! Saíram das Caldas da Rainha e montaram um atelier no Porto, deliciosamente decorado com móveis antigos e restaurados, máquinas fabris obsoletas e muitas plantas. Neste espaço tão acolhedor, através da utilização de técnicas de impressão puramente tradicionais e artesanais, e sem recorrer à electricidade, nascem

DESIGN

(26)

cadernos de receitas, blocos, listas de compras, cadernos de viagens e reproduções de cartazes com ilustrações em aguarela, que captam a mesma essência dos livros antigos de história natural. Das baleias aos cactos, das algas às rochas…a natureza é a matéria‑prima de um resultado tão súbtil quanto delicado. O processo é feito com muito cuidado e o material utilizado é sempre o papel reciclado e português. As vendas são sobretudo online e para o estrangeiro, nomeadamente, países nórdicos, EUA e Austrália. Em Portugal, a ARMINHO está representada na loja Coração Alecrim, na Travessa de Cedofeita, no Porto.

YOU MUST


MODA

Dr. M A DR.MARTENS colaborou com MARK WIGAN para criar uma coleção cápsula para este outono/ inverno. A coleção, que conta com ilustrações do artista visual britânico feitas exclusivamente

ARTENS

PARQ

N.48

YOU MUST

TE X TO M A R I A SÃO M IGUEL

para a DR.MARTENS, é composta por seis botas, sete sapatos com três estampas diferentes, t-shirts, meias e uma mochila de nylon. MARK WIGAN, que confessa usar DR.MARTENS há mais de 40 anos,

explica que a coleção «explora o tema ‘a cidade à noite’, desde as ruas de néon de Shinjuku após o anoitecer às warehouse parties dos anos 80 em Londres».

w w w.d r m a r t e n s ,c o m YOU MUST

(27)

MODA


KO M O N O

YOU MUST

PARQ

N.48

MODA

Assente na qualidade e no design belga, a KOMONO apresenta coleções de óculos contemporâneos onde os detalhes são tudo. Neste inverno, o destaque vai para a parceria que celebraram com BALOJI,

artista nascido na República Democrática do Congo, que desenvolveu quatro modelos de óculos que exploram a elegância africana interpretada a partir de um legado colonial. Em acetato, a

imitar a malaquita com apontamentos dourados, esta coleção releva um certo luxo e ostentação para qualquer momento. Como em outros modelos, a KOMONO aposta num design clean, que

conjuga tendências ao nível global, produzido com um acetato italiano de grande qualidade. E tudo isso com uma política de preços baixos, o que tornou a marca num fenómeno de crescimento.

TE X TO M A R I A SÃO M IGUEL

S

GARRETT MCNAMARA regressa ao canhão da Nazaré com novas pranchas de cortiça, uma iniciativa do projeto Mboard, liderado pela Mercedes-Benz, que conjuga o recurso a

MODA

U

R

AND C O R K

tecnologia de ponta e a utilização de materiais de excelência, com o objetivo de desenvolver pranchas de alto rendimento. O material usado “blank” nas novas pranchas pertence à gama Corecork

e foi desenvolvido pela Amorim Cork Composites para oferecer resistência e flexibilidade às pranchas, atributos essenciais que lhes permitem suportar, com segurança, o impacto das ondas gigantes. Para

(28)

F

GARRETT MCNAMARA, “stringer” em cortiça vai certamente revolucionar a indústria do surf, dado que responde às necessidades da prática do surf e vai permitir salvar muitas árvores.

YOU MUST


A P A

MODA

PARQ

L

N.48

YOU MUST

H

Verdadeiros ícones do american sport style, os Khaki da DOCKERS são os mais conhecidos do mundo, preferidos por se adaptarem tanto a um look de trabalho, como de lazer. Mas manter-se como

YOU MUST

Alpha Skinny

w w w.d oc k e r s .c o m

TE X TO M A R I A SÃO M IGUEL

modelo de referência exige pequenas adaptações no corte, que deram origem a três modelos distintos: os Extra Slim – levemente mais justos que os clássicos–, Alpha Slim –com stretch– e os Alpha

Skinny que respondem às exigências da moda atual. Qual o modelo que melhor te favorece? Simples, basta ir a uma loja da DOCKERS experimentar a excelência do corte.

(29)

CAT A mais recente coleção outono/inverno da CAT aposta no seu passado, bebendo inspiração nos anos 90. Para mulher, a aposta clara é a reinvenção do modelo colorado, um modelo masculino por excelência, revestido de padrões e cor que conferem feminidade a um look que se quer andrógeno. Já os modelos masculinos vêm carregados de testosterona, tendo como referência o universo do trabalho.

MODA


YOU MUST

PARQ

N.48

RUNNING

PIAGGIO E - B I K E A PIAGGIO, companhia italiana que criou a célebre Vespa, estreia‑se na produção de bicicletas elétricas, com a PIAGGIO E-Bike.

O projeto resulta da já larga experiência da PIAGGIO no desenvolvimento de CVT (Continuously Variable Transmission). A energia é fornecida por

uma bateria Samsung lithium-ion de 250W. A bicicleta está equipada com um módulo GPS que pode ser utilizado como sistema anti-roubo e enquanto dispositivo de

transmissão de dados, através da conexão a um smartphone. Desta forma, o utilizador pode definir percursos, verificar a carga da bicicleta e criar programas de treino.

TE X TO RUI LI NO R A M A LHO

FLASH

PACK 2 0 1 5

Com a chegada dos meses mais frios e escuros, a NIKE empenhou-se em garantir aos amantes do running uma corrida segura e confortável. Para isso, a coleção Flash Pack

RUNNING

deste ano é composta por peças –vestuário e calçado– multicolores e refletoras, indicadas para sinalizar a presença dos atletas em ambientes de fraca visibilidade

e/ou iluminação. Marcado pelos pretos, azuis, verdes e roxos, em homenagem às auroras boreais, o Flash Pack inclui o colete Aeroloft Flash, os casacos Shield Flash Max Running e

(30)

Shieldrunner Flash Running, e as collants Epic Lux Flash Running, para além das sapatilhas LunarGlide 7, Air Zoom Pegasus 32, Air Zoom Structure 19 e Free 5.0.

YOU MUST


BELEZA

PARQ N.48 TE X TO BE ATR I Z TE I X E I R A

ACQUA DI PARMA

Para homem e para mulher, os coffrets de Natal da ACQUA DI PHARMA incluem uma colónia, um shampoo e um gel de banho numa caixa especial de Natal. O coffret colonia Essenza, pensado para os gentlemen mais sofisticados, conta ainda com um after-shave balm, num packaging tão elegante quanto um smoking.

KISS&LOVE

Coberta pelos famosos lábios SAINT LAURENT, a gama de edição limitada Kiss&Love vem celebrar o natal, em tons de vermelho e dourado. Um batom, uma paleta para os lábios e um touch éclat compõem a coleção que está a venda a partir dos 33 euros.

YOU MUST

YOU MUST

GWEN

GWEN STEFANI juntou-se à URBAN DECAY para ajudar a compor uma nova paleta de sombras para os olhos, de edição limitada. Para celebrar o casamento perfeito entre música e maquilhagem, cada sombra tem o nome de uma das canções da artista e no espelho pode até ler-se “Magic’s in the Make up”, um dos temas dos No Doubt. À venda na Sephora por 51 euros.

DECADENCE

O frasco fala por si. Em tons de ouro, verde esmeralda e preto, esta fragrância traz mais uma personalidade à família perfumada da MARC JACOBS: Daisy é doce, Lola é excêntrico e Decadence surge marcante, luxuoso e sensual. Só para as mais glamorosas.

(31)

BELEZA


YOU MUST

PARQ

DR. MARTENS

CHEAP MONDAY

LACOSTE

PEPE JEANS

PEPE JEANS

CAMPER

GOLDMUD

HUNTER

SHOPPING

SHOPPING

N.48

UGG

(32)

YOU MUST


SHOPPING

PARQ

YOU MUST

N.48

EUREKA X LUÍS CARVALHO

CAT

DR.MARTENS

NOBRAND

FRED PERRY

FRED PERRY

CAT

EXCEED

H WOOD

YOU MUST

(33)

SHOPPING


SOUNDSTATION

PARQ

N.48

KELELA

KELELA TE X TO RUI M IGUEL A BR EU KELELA

(34)

FOTO TI M SACCENTI SOUNDSTATION


KELELA

PARQ

N.48

A artista americana tem uma visão global da música: ascendência etíope, raízes no r&b americano, paixão pelo grime britânico. É absolutamente singular.

SOUNDSTATION

mas há outro modo que tenho conseguido atingir – momentos em que se grava alguma coisa e logo de seguida se está aos saltos no estúdio. Atingi esse estado com ARCA quando fizemos A Message".

KELELA acaba de editar o EP Hallucinogen, trabalho que sucede à mixtape de apresentação Cut For Me, que já data de 2013. Este novo conjunto de canções, que documenta o encontro da cantora com alguns dos mais relevantes produtores do momento, é sem dúvida um dos acontecimentos do ano. Apesar de ter nítidas ambições pop, KELELA não está propriamente interessada em atalhos: tem contrato com a marginal Warp, crucial selo por onde passa muita da modernidade electrónica, mas que é uma microscópica operação no magno esquema da música que move montanhas, playlists e tabelas de vendas; tem uma óbvia paixão por modelos incontornáveis como BJORK, DRAKE ou KANYE, mas nunca cede à tentação de mimetismo; quer escrever canções sobre amor e sexo, mas prefere usar as letras para questionar as próprias fundações da sua identidade e os mecanismos da sua insegurança. E para fazer tudo isso tem recrutado aliados de peso: neste EP,

O novo EP é variado, ousa despir a voz de KELELA do habitual manto de efeitos com que se mascara, oferece em Rewind um tom festivo que é inédito na paleta emocional que a cantora habitualmente explora, cita a malograda AALIYAH –talvez uma das primeiras estetas a projetar futuro no então estafado modelo R&B–, inspira-se em WEEKND –ele mesmo um cantor de ascendência etíope– e faz tudo isto sobre uma música que nunca oferece concessões à transparência pop, preferindo antes antecipar o futuro por via de uma fluída ideia de experimentação. KELELA sabe perfeitamente para onde vai, é uma artista de corpo inteiro e com a cabeça no sítio. Só não está interessada em seguir pelos mesmos caminhos da maior parte da presente geração pop. E quem ganha com essa opção somos nós.

volta a trabalhar com os produtores KINGDOM ou NGUZUNGUZU, mas beneficia também das ultra requisitadas assinaturas de ARCA (produtor venezuelano que já imprimiu a sua singular visão em trabalhos de KANYE, FKA TWIGS ou BJORK) ou de Dj DAHI (que se pode encontrar nas fichas técnicas de trabalhos de KENDRICK LAMAR ou DRAKE). Não se trata, no entanto –e KELELA faz questão de frisar isso em entrevistas–, de simples compra de beats como quem entra numa loja Prada à procura de novos acessórios, mas de uma colaboração em idêntico plano criativo, com KELELA a conseguir resultados impossíveis de obter em modo solitário. À Complex a cantora confidenciou algumas ideias sobre este processo: "Claro que escrever sozinha sentada ao meu computador pode ser uma experiência fantástica,

SOUNDSTATION

(35)

KELELA


SOUNDSTATION

PARQ

N.48

GRIMES

GRIMES TE X TO CA RLOS A LBERTO OLI V E I R A w w w.punc h.pt

GRIMES

(36)

SOUNDSTATION


GRIMES

PARQ

N.48

Percebe-se imediatamente pela capa do disco Art Angels, desenhado pela própria artista, que o universo

SOUNDSTATION

vibrações. Poderia ser a LANA DEL REY a cantar, ou até mesmo a RHIANNA num estilo diferente, mas a verdade é que GRIMES, ao explorar aqui os limites da maleabilidade da sua voz, distingue-se de qualquer outra performance das suas contemporâneas.

bizarro de GRIMES está de volta. A surpresa, porém, é que desta vez o bizarro é colorido, como se um filme de terror pudesse ter tantas cores quanto um conto de fadas. Mais uma vez, a produção do disco esteve a seu cuidado e cada música foi pensada ao ínfimo pormenor para ser um potencial single e ter uma execução irrepreensível ao vivo.

Em Venus Fly, a artista chama a si JANELLE MONÁE, num dueto que, em despique pelo protagonismo da canção, dá o mote para batidas fortes, tribais dir-se-ia, numa espiral de sons que parecem sair dos seus próprios batimentos cardíacos.

A sua complexidade e a riqueza de conjugação de elementos sonoros tão dispares, mas ao mesmo tempo tão concertados, justifica o tempo que dista de Visions. Afinal, tratam-se de quase quatro anos, que num mundo Pop podem significar uma paragem demasiado arriscada. Contudo, com GRIMES, não foi esse o caso. Este foi o tempo necessário para construir um mundo suficientemente amplo, onde o belo pode ser o monstro e o mostro pode ser o belo.

Já Artangels e, de certa forma, World Princess part II inscrevem-se na tradição Pop dançante dos finais dos anos 80 e princípios dos anos 90, desencadeando memórias de personalidades como os ACE OF BASE, LISA STANSFIELD ou até mesmo GEORGE MICHAEL. Contudo, é como se todas as lições de géneros músicas fossem escritas a giz branco numa ardosia e GRIMES os apagasse com um apagador já gasto e cheio de pó de giz de outras cores.

A faixa inicial do disco Laughing and not being normal dá o pontapé de saída para uma espécie de playlist à semelhança de um programa de rádio. É como se dissesse bem-vindo ao estranho e belo mundo de GRIMES, numa atmosfera barroca com camadas Pop açucarada, e elementos sonoros dignos de um filme Sci-Fi.

Se fosse outro álbum, seria estranho encontrar

Easily no seu alinhamento, sobretudo a seguir à faixa Artangels mas, nesta Pop invertida e convertida, faz

todo o sentido. Quando pensamos que dominamos a estrutura da música, GRIMES faz uma inversão de marcha e conclui o tema num patamar completamente diferente, mas estranhamente delicioso.

O mais recente single Flesh without Blood, visceralmente POP e contagiante, foi desenhado para dançar. A sua aparente simplicidade poderá induzir que a artista, anteriormente underground, produziu um produto fácil. Porém, os sons são poderosos, luminosos, arrojados e muito bem orquestrados. Nada foi deixado ao acaso. Ainda que de uma forma mais moderada, se é que isso é possível neste universo, Realiti é o tema mais próximo deste panorama.

O momento mais calmo chega com Life in the Vivid Dream, quase a fechar o disco, como que a marcar um fim pacificado para a festividade vivida ao longo do disco. Assim seria, não fosse a chegada de Butterfly, que, num contínuo espírito festivo, encerra Art Angels. Atenção, nenhum tema de GRIMES deverá ser ouvido sem se conectar ao seu universo. Ao fazê-lo, facilmente acreditamos que os anjos podem ser Elfos com asas e que estão entre nós. A grandeza de Art Angels reside na riqueza da sua diversidade musical. Uma vez premido o play, não desejamos consumir nada mais do que este mundo de Alice no País das Maravilhas distorcido, um universo encantatório e viciante. Primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Em Belly of the Beat, ilude-nos ou ilumina-nos –dependendo da perspetiva– de que tudo o que ouvimos já tinha forma neste plano astral, graças às suas guitarras escorreitas, aos Yeah-Yeah do refrão e aos breakbeats à anos 90, ainda que tudo idealizado de forma bem diferente do que estávamos habituados. Gloriosamente, Pin poderia ter saído do mesmo caldeirão de referências. O imaginário da artista é tão rico quanto o poder de estruturar uma música, como é o caso de Kill V Maim, que veste a pele de Michael, papel interpretado por AL PACINO no filme The Godfather 2, com a particularidade de que o ator pode mudar de género e viajar pelo espaço, como referiu a artista à revista Q. A completar o ramalhete, evoca um cenário habitado por um bando de cheerleaders coreanas ao som de Heavy Metal. A delícia da estranheza de GRIMES não seria melhor conseguida do que no tema Scream, com a participação do rapper Taiwanês ARISTOPHANES, transformando a música num macabro assalto aos filmes de terror, culminando num frenético jogo melódico de ping-pong entre guitarras e breakbeats. Não seria de espantar encontrar California numa banda‑sonora sobre os EUA, devido às suas solarengas

SOUNDSTATION

(3 7)

GRIMES


Street CENTRAL PARQ

PARQ

N.48

antecâmaras da futebolada ao cachorro na ressaca da saída à noite, passando pelo churro e pela fartura nas festas da junta de freguesia, a mítica roulotte sempre ocupou um lugar na tradição gastronómica portuguesa. Na opinião de MARIA JOÃO SANTOS, da organização do Str.EAT Fest, os últimos dois anos foram decisivos na modernização da comida ambulante e consequente enraizamento da Street Food em Portugal. A roulotte, embora ainda sirva estes propósitos, tem vindo a dar lugar às mais atrativas ‘food trucks’ customizadas, motas de três rodas (sobretudo as célebres Piaggio), bicicletas e até... caixotes do lixo reciclados. É, sem dúvida, a imagem que faz a primeira ponte entre cliente e produto, mas só a qualidade deste último poderá fidelizar o primeiro. Por cá, e um pouco por toda a Europa, a expansão deste conceito deve-se ao surgimento de um novo perfil de consumidor, que exige «uma cozinha económica, original e rápida», sublinha MARIA JOÃO. O Str.EAT Fest é um dos vários festivais de comida (e bebida) de rua que têm elevado este fenómeno a um novo patamar, ao criar «espaços únicos de convívio, onde os visitantes podem experimentar vários conceitos que normalmente estão espalhados pelas cidades». Num futuro não tão longínquo assim, os eventos esporádicos poderão vir a ser substituídos por localizações permanentes, onde coexistam vários conceitos. Mas, para isso, diz Maria João, é preciso que haja concertação entre todos os envolvidos: os conceitos de Street Food, as organizações e as autarquias. Por agora, estes restaurantes sobre rodas vão-se atravessando no caminho dos portugueses. Há melhor sítio para se comer do que na rua? (o sofá não conta).

Food TE X TO RUI LI NO R A M A LHO FOTOS SI LV I A M A RTI NE Z

Da fast-food, herdou o pragmatismo, a imediatidade e a aversão aos talheres, à mesa posta e ao assento. Da cozinha gourmet, herdou a qualidade dos ingredientes, o rigor estético e a autenticidade. Mas quem sai aos seus também degenera. A Street Food nasceu com o melhor de dois mundos, mas pôs os maus genes na borda do prato: a plasticidade e sendentarismo, da fast-food, e o empratamento microscópico, elitismo e preços upa‑upa, da cozinha gourmet. Desde os couratos nas

F

STREET FOOD

r

u

a

Fruta de Rua ou como transformar um castigo em recompensa Todos nós tivemos as nossas embirrações com a peça de fruta (já para não falar na sopa). Quem nos dera que fosse só a chicha com a batata frita e, para finalizar, o gelado ou o chocolate. A fruta era o elo mais fraco, adeus. No verão de 2014, CARINA OLIVEIRA, CARLOS RELVA e VERA LEIRIA quiseram torná-la no elo mais forte dos nossos dias. Pegaram numa Piaggio 200, pintaram-na de verde e framboesa, apelidaram-na de ‘Alfacinha’ e transformaram-na num autêntico pomar ambulante. A Frua pretende reinventar a nossa forma de comer fruta (e vegetais), levando-a para a rua de forma divertida, e acabar com os estigmas que a ela estão associados. Com o avançar dos anos, todos nós também começámos a pensar nas verdadeiras razões que nos levavam a rejeitar a fruta. Foi aí que surgiram as avós a descascá-la perfeitinha para nós –porque os pais já nem isso faziam. A nossa nova avó chama‑se Frua e quer combater a nossa preguiça com taças e sumos de fruta (para além das espetadas). Além disso, CARINA OLIVEIRA acredita que tudo depende da apresentação e da forma como a fruta é consumida: «o que cativa as crianças é ver as frutas coloridas num pau de espetada

STREET FOOD

ou num copo em que podem escolher a cor do garfo ou beber um sumo com uma palhinha super colorida». O comportamento do cliente Frua varia consoante a localização da própria ‘Alfacinha’: «em eventos com outras food trucks, a maioria das pessoas procura um produto complementar (bebida, sobremesa), enquanto que no nosso ponto fixo (junto ao Oceanário de Lisboa), as pessoas procuram algo para se refrescar, desfrutar do passeio ou lanchar», frisa VERA LEIRIA. A oferta de frutas e legumes nacionais da época é variada, complementada com algumas frutas tropicais, como a manga e o abacaxi. Cada sumo de fruta tem o nome de uma rua de Lisboa e cada taça o nome de uma praça lisboeta também. CARLOS RELVA recomenda que a PARQ desfrute –literalmente– da Rua Augusta (laranja, limão e gengibre) e da Praça Camões (laranja, mel e canela). Mais do que as máquinas, dentro da Piaggio 200 tem de haver amor e alegria. Já comeram fruta hoje?

(38)

CENTRAL PARQ


STREET FOOD

PARQ

N.48

On

the

CENTRAL PARQ

Wayffle O Waffle que poderia ter sido Waste

“Ueifal”, “Ueifar”, “Eifal”, “Veifal”, “crepe”... Quando se trata de um waffle, a fonética dos portugueses deixa muito a desejar. Para outros, a dúvida reside no género do substantivo. O cientificamente correto seria um “Uáfell”. Mas, em caso de dúvida, o melhor mesmo é não lhe chamar “crepe” –que é ofensivo. A pronúncia de On the Wayffle é diferente, mas isso devese ao trocadilho entre “waffle” e a expressão inglesa “on the way” (“a caminho de” ou “no caminho para”). O nome foi ideia de LUÍS CRESPO, de 23 anos, que

CENTRAL PARQ

iniciou este projeto ainda quando estudava na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, na altura com uma identidade totalmente diferente da atual. Em maio de 2015, On The Wayffle volta às ruas de Lisboa, numa alusão clara a Lavoisier: um contentor do lixo não se perde, transforma‑se. É verdade que o cheirinho das waffles não passa despercebido, mas muitos dos que se aprochegam pela primeira vez são levados pela perplexidade: “Isto são mesmo caixotes do lixo?”. Sim, são. Mas não se preocupem, «todos os contentores sofreram um tratamento minucioso e a única característica que persiste é o formato», garante LUÍS CRESPO. A receita On The Wayffle é original de Bruxelas, diferenciando-se dos waffles habitualmente encontrados em Portugal por se tratar de uma massa sem adição de açúcar. Tudo o que LUÍS nos pode desvendar é que «o segredo de um bom waffle está na massa, cuja receita não se diferencia pelo uso de ingredientes extraordinários, mas pela quantidade utilizada». Depois, vêm as coberturas, que –à exceção do chocolate Nutella – são todas caseiras: Mel, Doce de Morangos Frescos, Doce de Leite inspirado numa receita argentina e, o melhor para o fim, Creme de Pastel de Nata (acanelado ou não). A escolha é compreensivelmente penosa, mas o que vale é que nos deixam pôr todos os molhos e fé nos intestinos. Metade Nutella, metade Creme de Pastel de Nata seria a waffle perfeita para adocicar uma leitura da PARQ, segundo LUÍS CRESPO. Nos bastidores dos contentores e waffles mágicos, estão inevitavelmente a batedeira, o fogão, a waffle maker e o sorriso dos que recebem. Até ao momento, os waffles On The Wayffle têm estado pelo caminho em vários eventos públicos, mas «a localização fixa é um dos objetivos».

(39)

STREET FOOD


CENTRAL PARQ

PARQ

N.48

STREET FOOD

Focaccia

in

Giro

Giro, giro era papar uma focaccia

Uma coisa é comer clementina. Outra é comer na Clementina, onde encontramos uma bela focaccia. A Clementina é basicamente uma Ape Piaggio laranja, feita com materiais ecológicos e reciclados, na qual se move a Focaccia in Giro. O projeto surgiu há cerca de dois anos, por iniciativa de ENRICO POSTIGLIONI e ANGÉLICA PADUA, embora houvesse outra mão por trás –a da Avó GIOVANNA, nada mais, nada menos que a avó de ENRICO. «É a pessoa com quem aprendi a fazer a focaccia e que me inspirou no momento de iniciar este projeto. Quando comecei a preparar a focaccia baseei‑me no antigo livro de receitas que ela me deixou», revela o neto babado. A composição da focaccia é simples ‑farinha, água, sal, fermento, azeite e alecrim‑, mas o segredo da confeção «está na paciência e na qualidade dos ingredientes». No caso da Focaccia in Giro, a levedação dura 24 horas, o que permite cortar na quantidade de fermento e «obter um produto mais leve e fragrante», explica ENRICO. Apesar de se tratar de uma especialidade tipicamente transalpina, ENRICO encontra muitas semelhanças entre a gastronomia italiana e a portuguesa, semelhanças essas que procura harmonizar nas suas diferentes focaccias –a Melanzana, com

STREET FOOD

húmus, beringela e espinafres; a Funghi, com paté de cogumelos, queijo brie, amêndoas e rúcula; a Caponata, uma mistura agridoce de beringelas com pimentos, cebola, alcaparras, aipo e azeitonas; a Napoletana, com tomate, mozarella e pesto artesanal; e a Prosciutto, com presunto de Parma, Philadelphia e rúcula selvagem. À PARQ, ENRICO aconselha a Funghi, «elegante, ligeira, mas ao mesmo tempo cheia de conteúdo». As preocupações ambientais são apanágio da Focaccia in Giro, a começar pela construção da Clementina e pelo seu tejadilho autossustentável com uma horta da qual se retiram ervas aromáticas para a focaccia, e culminando na grande aproximação aos pequenos produtores locais, que usam menos químicos, para além da qualidade do produto ser «indiscutivelmente melhor». Uma rápida pesquisa no Google por “Ape Piaggio” vai ajudar qualquer um a perceber a perícia necessária para cozinhar no seu interior. Enrico diz que «a limitação do espaço obriga a uma organização quase maníaca que ajuda a ter tudo sob controlo». O mais impressionante é que este cubículo andante ainda tem frigorífico, forno, despensa e armazém.

(4 0)

CENTRAL PARQ


STREET FOOD

PARQ

N.48

CENTRAL PARQ

The Skinny Bagel O Bagel nosso de cada dia

Tem formato de donuts, pode ser comido como hambúrguer e sabe, mais ou menos, a pão, mas não é nenhum dos três. O bagel é –vamos chamar‑lhe sem qualquer desprimor– um ‘coiso’ redondo de origem judaica. É à boleia de uma Citroen H Van, de 1974, laranja na base e branca no topo, que os bagels vão fazendo sucesso por Lisboa. CATARINA PYRRAIT, mentora do The Skinny Bagel, conta-nos de que é feito e como se faz um bom bagel: «Primeiro juntam‑se os ingredientes, a base é farinha de trigo e água. Não leva ovos nem manteiga, como um croissant ou pão brioche. Depois, o pão é fervido em água, numa calda com mate e sal, cerca de dez segundos de cada lado, e depois de levedar vai ao forno. Os nossos bagels são caseiros e feitos com farinhas biológicas». Este bagel magricelas é extremamente multifacetado, já que calha bem ao pequeno-almoço, enquanto refeição principal ou até como sobremesa, dependendo se a combinação de ingredientes é doce ou salgada. Apesar de já bastante americanizado, o bagel pode muito bem conquistar os portugueses, quanto mais não seja pela nossa vocação generalizada para devorar pão. «Acredito e tenho esperança que fique

CENTRAL PARQ

enraizado em Portugal», afirma CATARINA. Quem visita o The Skinny Bagel pode escolher entre sete bagels diferentes: os salgados –salmão fumado, pastrami, peito de frango e vegetariano– e os doces –nutella, manteiga de amendoim e frutos vermelhos. À PARQ, CATARINA PYRRAIT não teve dúvidas em sugerir o Smoked Bagel (salmão fumado). O The Skinny Bagel encontra-se diariamente, até final do ano, no Jardim da Praça do Império, em Belém. Dentro da velhinha Citroen, não podem faltar um ponto de eletricidade, frigorífico, tostadeira, máquina de café, computador e depósito de água, para além da boa disposição.

(4 1)

STREET FOOD


CENTRAL PARQ

PARQ

N.48

CARRILHO DA GRAÇA

Carrilho da

Graça

em

retroespectiva

CARRILHO DA GRAÇA

(42)

CENTRAL PARQ


CARRILHO DA GRAÇA

PARQ

N.48

Do chão ao teto, uma parede branca recortada com símbolos aparentemente sem sentido: são na verdade linhas de código utilizado para representar texto. A estrutura que nos guarda, o Pavilhão do Conhecimento dos Mares, veio pela mão de CARRILHO DA GRAÇA, cuja exposição se encontra agora no Centro Cultural de Belém, até ao próximo dia 14 de fevereiro. Carrilho da Graça: Lisboa reflete o olhar do arquiteto sobre a cidade e a sua topografia acidentada e de linhas de território bem marcadas. Tudo a partir dos projetos que o próprio criou ao longo dos mais de 30 anos em que tem trabalhado a capital. Uma carreira extensa que vale a pena analisar.

P: Como é que começou o interesse pela arquitetura? CG: Se quer que lhe diga não me lembro, porque

sempre pensei que ia ser arquiteto, raramente tive dúvidas, sempre pensei nisso e pronto. Eu gostava muito de desenhar e pintar. Mas ao mesmo tempo gostava de observar os edifícios e de imaginar como é que seria construir e quase naturalmente… de repente tinha 17 anos, vim para Lisboa e comecei a fazer o curso de Arquitetura na Escola de Belas Artes.

P: Dos projetos que já realizou, qual foi

aquele que lhe deu mais gosto fazer? CG: Eu normalmente nem penso muito nisso, nem gosto muito do tema porque penso que é um pouco como os filhos, nós não vamos preferir porque todos têm características diferentes e todos são excecionais e extraordinários. Os projetos são processos muito longos, em média duram cerca de 10 anos, portanto quando eu começo as coisas são de uma maneira, depois vão evoluindo, são sempre relações muito longas. Este pavilhão foi começado a pensar em '95, há 20 anos. E quando comecei a pensar no Pavilhão, que era o Pavilhão do Conhecimento dos Mares, ainda não havia nenhuma ideia sobre a imagem que iria ter e a presença dos outros edifícios aqui na Expo, era assim uma espécie de mistério. E eu tentei fazer um edifício muito simples porque tinha estado na Expo de Sevilha em que havia uma colisão e uma grande confusão, uma tentativa de chamar a atenção e de prender as pessoas com imagens e coisas espantosas, e eu pensei que isso ia acontecer aqui em Lisboa, e que depois também aconteceria no interior do Pavilhão com a exposição que viesse cá ser montada. Portanto, eu quis que o Pavilhão fosse uma espécie de pausa, uma espécie de intervalo entre esses universos, o interior e o exterior. E eu queria fazer uma coisa muito mais simples, que fosse universal e curiosamente hoje o edifício mantém a sua presença, é extremamente simples e intenso, digamos assim.

CENTRAL PARQ

as linhas de festo, são as mais percorridas desde sempre, desde que o Homem habita o Planeta.

P: Sempre utilizou muito estas linhas altas. Porquê? CG: Porque elas têm visão para dois vales, têm uma

certa continuidade, e portanto em termos de segurança são mais interessantes e dão mais visibilidade. E se imaginarmos, na pré-história, são já muito percorridas e foram sempre percorridas até hoje. Em Lisboa, estão muito marcadas e fazem uma espécie de estrutura. E essa estrutura nunca pode ser alterada, porque mesmo as propriedades, mesmo a possibilidade de privatizar espaços, passa sempre entre estas linhas de água e estas linhas de festo. E essas propriedades são depois a base da expansão da cidade, são essas propriedades que são trabalhadas e desenvolvidas em sentido de urbanização. Portanto, é um pouco essa história que eu conto através de maquetes e de plantas antigas, plantas que nós fizemos especificamente e projeções em cima de maquetes com a topografia.

P: Ao longo da exposição são representados vários projetos que não foram concluídos.

CG: Para os arquitetos claro que é fundamental

conseguir construir, mas muitas vezes há projetos que ficam no papel, uma espécie de arquitetura do papel ou do cartão, mas que do ponto de vista das ideias e daquilo que se pensou para a situação, têm uma grande importância. Por isso é que eu apresento lá projetos que não se chegaram a realizar mas que são muito importantes para mim como reflexão, como experiência e como resultado. Todos os projetos são para os arquitetos uma forma de comunicação, ou seja, nós comunicamos com os não arquitetos ou com os outros arquitetos através da arquitetura.

P: Qual foi o impacto da última nomeação, como

membro honorário da Ordem dos Arquitetos, tendo em conta que já foi reconhecido tantas vezes? CG: Fiquei contente. Este é um reconhecimento interessante porque em certa medida é um reconhecimento dos colegas, da Ordem dos Arquitetos. Já me disseram que normalmente costumam atribuir esta distinção a arquitetos mais velhos do que eu… Acho interessante ter recebido agora.

P: Qual é que acha que é/foi o seu contributo para a arquitetura em Portugal? CG: Talvez este esforço por revelar em certo sentido os sítios onde vou fazer as intervenções, mas que não é invenção minha, mas que eu tentei sempre levar à prática.

P: Em relação à exposição… CG: A exposição tem a ver com o meu olhar sobre a

cidade de Lisboa, em que eu vivo desde os 17 anos. E é a maneira como eu olho para a cidade, naturalmente a partir de uma metodologia de observação do território, da paisagem, das cidades, que é universal e que se poderá aplicar a qualquer outro sítio, a qualquer outra cidade. Portanto, é uma maneira de olhar para o território e para a cidade. Basicamente há certas linhas, uma delas é o caminho da água. Isso são linhas que existem em qualquer território. E depois as linhas altas, que são normalmente as mais percorridas,

CENTRAL PARQ

(4

TE X TO SA R A BER N A R D I NO FOTO JO ELM A AGUI A R Fotos d os p roj etos c edi d a s p o r Fer nand o Gu er r a Fotos d a exp osiç ão c edi d a s p elo CCB CARRILHO DA GRAÇA 3)


CENTRAL PARQ

PARQ

N.48

CARRILHO DA GRAÇA

Pavilhão do Conhecimento, Lisboa

Edifício Santa Catarina, Lisboa

CARRILHO DA GRAÇA

Edifício Habitacional, Lisboa

(44)

CENTRAL PARQ


CARRILHO DA GRAÇA

PARQ

N.48

CENTRAL PARQ

Exposição Carrilho da Graça no CCB

Exposição Carrilho da Graça no CCB

CENTRAL PARQ

(45)

CARRILHO DA GRAÇA


CENTRAL PARQ

PARQ

N.48

Mutation Series

Transformations Fendi

Ma rten De Ceulaer TE X TO CA RL A CA R BO NE MAARTEN

MAARTEN

(4 6)

R ETR ATO TER I RO M K E Y CENTRAL PARQ


MAARTEN

PARQ

N.48

MAARTEN DE CEULAER (MC) foi contactado em Bruxelas, para uma pequena entrevista. O lugar para a conversa poderia ser um qualquer café ou esplanada, virados para uma praça ou jardim da cidade, mas o designer surpreendeu com a sua simpatia deliciosa ao convidar-nos para aparecer no seu atelier, situado no coração da cidade. À chegada, esperava um café e umas largas janelas com vista para a cidade. Ao contemplar a vista, uma longa luz dourada perpassava as vidraças e os edifícios evidenciavam o seu brilho, devido à cor acinzentada do céu, que é permanente na cidade. Ao longe, o Atomium, prateado, conferia um ar de modernidade ao horizonte. Lá fora, o ambiente é de trabalho, uma cidade que pulsa, e parece não dormir. A oportunidade era única. Por fim, ver as peças, in loco, entre conversas, era o ideal para conhecer o trabalho do designer.

CENTRAL PARQ

Gosto da atividade escultórica: começa-se do zero, de uma estrutura quadrada vazia, ou de uma forma orgânica, que cresce organicamente do nada, insere‑se uma bola aqui, inserem-se duas bolas ali, achamos que a estrutura ainda é pequena, então colocamos mais, e estrutura começa a crescer. É todo um processo de reflexão, que me agrada bastante.

P: Em Drawers, como em muitos outros trabalhos seus, a quantidade parece dominar, há muito de serial neles todos. Muitas gavetas, muitas bolas, umas grandes, outras pequenas. Muitas dessas peças surgem agrupadas, coladas. MC repete-as. Manifesta uma linguagem comum em todas elas. MC: Sim, é como em “molecule lamp”. É um candeeiro feito de moléculas separadas. Tratou‑se de um projeto de curso. São sobretudo pequenos elementos que se repetem um certo número de vezes e que depois se tornam objeto. P: A mesma linguagem, MC: Sim, a mesma ideia. P: A mesma agregação. MC: Sim. Gosto desta maneira modular de trabalhar. P: Há designers que, quando começam, têm aquela

P: A primeira pergunta consistia em debruçar a atenção sobre várias peças de MAARTEN e de como assumiam uma propriedade acentuadamente modular. MC: Após Balloon Balls, um mês ou dois depois da exposição em Milão, pensei seriamente em fazer peças de mobiliário maiores, mais complexas, mas eu gosto de fazer todas as coisas no meu projeto. Nas peças Suitcase pieces, não podia fazer tudo e dessa forma o projeto Balloon Balls foi realmente libertador. Então, pus‑me a pensar o que poderia fazer sozinho. Não sou um grande perito em carpintaria, não sou um grande perito em serralharia, não sou um grande estofador. Então, perguntava a mim mesmo como poderia fazer um sofá sem ser perito em nenhuma destas áreas. As coisas surgem de forma espontânea. Assim que tivesse os conceitos na minha mente, de como fazer mobiliário que se parecesse com vírus, bactérias, moléculas, ou um aspeto mutante, começaria a pensar como os poderia fazer sozinho, sem precisar de mais ninguém.

CENTRAL PARQ

ideia, pensam somente naquela peça, naquele ideal, como objeto. Como um todo. O que interessa é o resultado final que idealizaram, que imaginaram inicialmente. Perseguem uma forma. E depois trabalham‑na, esculpem-na, em peça única, única no sentido de forma, isolada, fechada, que deixa pouco campo para os outros a modificarem, pouco campo para lhe darem outro cunho. E MC tem uma forma singular de projetar as coisas, que é muito social, “tenho isto, tenho aquilo, e mais aquilo, mas posso juntar todas as coisas ou deixá-las simplesmente isoladas”. Que podem existir sozinhas, como objetos, de forma autónoma. MC Deixa-as em aberto, para que outros possam escolher a sua forma de interpretação final. Não impõe nada ao utilizador. MC: Gosto de pensar que somos todos diferentes e que todos temos diferentes necessidades. Por isso gosto de desenhar sistemas modulares que me permitam criar qualquer coisa que seja única para todos. Este candeeiro pode ter os tamanhos que eu quiser e o mesmo acontece com “suitcases”, ou com as peças Mutant pieces, entre outras coisas. Tento imaginar qualquer coisa e, graças a isso, posso fazer qualquer coisa que seja única para toda a gente. Qualquer coisa de único e de diferente.

P: É possível com os sofás? MC: Sim, porque posso fazer com que o sofá se adeque

ao cliente. Um pouco mais longo aqui, um pouco mais alto ali, porque o cliente é alto, ou porque o cliente é pequeno. Posso fazer com que o sofá se adeque a cada pessoa. O mesmo acontece com o room devider, falamos novamente de sistemas modulares. O projeto room devider, que agora desenvolvo, é feito de placas de madeira e de faixas em tecido. E as propriedades modulares destes elementos permitem que esses sistemas se tornem mais longos ou mais pequenos, arquitetonicamente, e conforme o desejo de cada um. Essa é que é a ideia.

(47)

MAARTEN


CENTRAL PARQ

PARQ

N.48

MAARTEN

Fendi Bench

Transformations Fendi, oak beam puzzle

Fendi Bench

Fendi Bench MAARTEN

(48)

CENTRAL PARQ


MAARTEN

PARQ

CENTRAL PARQ

N.48

P: O Projecto Room Devider, esteticamente, não parece imediatamente percetível, ou de fácil compreensão, à partida. MC: O projeto Room Devider está a ser desenvolvido para a editora Fendi. Podem ser misturadas faixas, podem ser unidas. São flexíveis. Podem ser aplicadas de diferentes maneiras. P: Criar formas diferentes. MC: Sim, de fácil transporte. Há placas e faixas, que

podem alongar ou diminuir, podem mudar a cor. Toda a gente pode criar a sua versão de room devider. O projeto era para a editora italiana Fendi e a editora deu-me o briefing deles. O dossier era bastante denso, com a história toda da editora, o seu background e onde iam buscar a inspiração, as cores, o uso dos materiais. Eu tinha que aparecer com um conceito e tinha que me basear no têxtil Pekin, um padrão de riscas, por exemplo: de castanho e preto. É muito difícil trabalhar a partir de um conceito destes. Então, eu surgi com a ideia de uma linha. Comecei a pesquisar onde a Fendi ia buscar a sua inspiração, às formas geométricas e abstratas do Futurismo e de Bauhaus, De Stjil, Mondrian, Van Doesburg. O que eles todos faziam era desenvolver padrões bidimensionais. Eu resolvi aproveitar este conceito e desenvolver padrões tridimensionais. Padrões que pudessem ser aplicados em objetos e assumir formas no espaço. Não queria fazer algo chique, mas algo que fosse conceptual. De maneira que pudesse ser aplicado em qualquer lado, em caixas, em soalhos.

Eindhoven tem bons professores que nos ajudam a pensar sem analisar demasiado. Gostam de despertar uma visão mais sensível e calorosa do design. Também havia muita competição, o que era bom para mim, de certo modo, mas duro. O que já não era possível encontrar na Bélgica. Se um estudante se formar na Bélgica, ninguém vai dar por ele, mesmo que o seu trabalho seja bom. Eindhoven estava demasiado exposta, estava a pensar no sucesso de MAARTEN BAAS.

P: DE CEAULER foi premiado com o Prémio

de Henry van de Velde, Jovem talento do ano. Como se sentiu quando recebeu a notícia? MC: Foi bom, antes disso tinha a sensação que na Bélgica as pessoas não sabiam muito bem o que estava a fazer, mas em simultâneo, eu já estava representado nas feiras em Milão, Miami. Na Bélgica, ninguém parecia conhecer-me, e este prémio foi uma forma de dizer: “ok, continua”. É uma boa motivação.

Gostaria de fazer algo que pudesse crescer por si próprio.

P: Multifuncional? Em diferentes identidades e diferentes

propósitos? Como em todos os outros trabalhos? MC: Sim, de certo modo, como todo o meu trabalho. Não tem sido um grande êxito comercial, ainda, mas combina na perfeição com um projeto de arquitetura.

P: O reconhecimento? MC: Sim, um reconhecimento.

P: Um projeto que poderia ser usado em

P: E as séries Grid, que tem a dizer sobre elas? MC: A série Grid apareceu com a ideia de estar, tudo

espaços para crianças brincarem.

MC: Sim, porque não…

à nossa volta, progressivamente, a transformar em virtual, em digital. Há coisas eletrónicas por todo o lado e para onde quer que nos viremos. Para onde quer que se vá, temos dispositivos eletrónicos nas cadeiras onde nos sentamos, ou microfones nos nossos casacos. Queria concentrar-me nesta ideia, de transformar o que é natural, como um pedaço de madeira, numa coisa digital, virtual, como um cyborg. O projeto Grid procurou transmitir esta ideia artificial, exatamente como na realidade virtual. Para mim, isto é como se trabalhássemos com um computador.

P: O projeto pile of suitcases parece funcionar como um

centro onde todas as outras coisas de MAARTEN se desenrolaram depois, a mesma paleta de cores. MC: Sim, reconhecem-se as cores. Foi feito de propósito, porque quis ter uma linguagem que fosse imediatamente reconhecível.

P: Aquando do projeto suitcases, estava em Eindhoven? MC: Sim, estava. P: Seria um designer diferente se não tivesse passado pela Academia de Eindhoven?

MC: Sim, seria. Eles conduziram-me na direção

certa. Fizeram-me pensar, repensar. Foram muito exigentes com os estudantes. Antes estava a palmilhar caminhos. A propriedade modular sempre fez parte do meu trabalho e os professores da academia nem sempre compreenderam. Estava um pouco perdido e eles guiaram-me. Guiaram-me nos materiais, por exemplo. Nem tudo eram conceitos. Ajudaram‑me a pensar em diferentes camadas do design.

CENTRAL PARQ

Grid Series

P: Pequenas camadas, layers? MC: Sim, com divisões, interações.

Não sei se consegui, mas tentei criar um objeto que parecesse estar a transformar-se em algo. Do natural ao virtual, digital. Por isso é que o objeto tem, no seu interior, algumas leds, que podem ser programadas, e o seu movimento escolhido. São esculturas de luz e não candeeiros. Esculturas de luz, numa combinação de madeira com leds.

(4 9)

MAARTEN


City

M A K E- UP SA R A CASTRO Agr ad ecim entos V illag e Und erground

FOTO A NTÓ NI O M EDE I ROS ST Y LI NG DA NI EL BA P TI STA R I BE I RO ST Y LI NG ASS.: JOA N A BO RG ES & R ITA CERQUE I R A H A I RST Y LI NG: W ELLI NGTO N DE OLI V E I R A

Dreams CAMISA DIESEL

(50)


VESTIDO CAROLINA HERRERA

(51)


ÓCULOS DE SOL FENDI COLETE MIGUEL VIEIRA SOUTIEN INTIMISSIMI ANÉIS ARISTOCRAZY SAIA E CALÇAS GANT BOTINS ZILLIAN

(52)


SOUTIEN EM ALGODテグ INTIMISSIMI SOUTIEN EM RENDA INTIMISSIMI SAIAS MIGUEL VIEIRA

(53)


VESTIDO E CAMISA LACOSTE CALÇAS PURIFICACIÓN GARCIA

(54)


CAMISOLA MIGUEL VIEIRA MALHA LACOSTE CALÇAS MIGUEL VIEIRA CARTEIRA PURIFICACIÓN GARCÍA

(55)


CASACO PURIFICACIÓN GARCIA CAMISOLA MIGUEL VIEIRA PULSEIRA ARISTOCRAZY CALÇAS MALENE BIRGER MEIAS HAPPY SOCKS SAPATOS COS

(56)


CAPACETE HARLEY DAVIDSON CAMISOLA LACOSTE COLETE ALPHAMOMENT CULOTES COS SANDÁLIAS LUÍS ONOFRE MALA DE VIAGEM MOSCHINO

(57)


The

Harder

He

Falls

FOTO JOÃO PAULO ST Y LI NG SÉRG I O SI M Õ ES M O DELO FR A NCI SCO R I PA DO @ wea re mo d el s M A K E- UP & H A I R LUCI A NO FI A LHO Agr ad ecim entos à loja Ret roshop ÓCULOS CUSCUZ, CACHECOL FRED PERRY T-SHIRT CHEAP MONDAY, CINTO PEPE JEANS CALÇAS DOCKERS, LEGGINS CHEAP MONDAY BOTAS PEPE JEANS

(58)


CAP FRANKLIN & MARSHALL CAMISOLA LEVI'S

(59)


GORRO FRANKLIN & MARSHALL COLAR CHEAP MONDAY CASACO CHEAP MONDAY CALÇAS DOCKERS JEANS CHEAP MONDAY

(60)


BLAZER DOCKERS COLAR CHEAP MONDAY CAMISOLA E LEGGINS FRANKLIN & MARSHALL TÉNIS NIKE

(61)


CASACO FRED PERRY T-SHIRT MANGO JEANS CHEAP MONDAY MEIAS FRANKLIN & MARSHALL TÉNIS CAT

(62)


ÓCULOS CUSCUZ CAMISOLA FRANKLIN & MARSHALL CALÇAS CHEAP MONDAY BOTAS PEPE JEANS

(63)


PARQ HERE

PARQ

N.48

PLACES

T O P O TE X TO FR A NCI SCO VA Z FER N A NDES

Das 12h00 às 24h00, aos dias de semana. Das 12h00 às 02h00, aos fins-de-semana. A cozinha fecha às 23h00. Encerra à segunda-feira.

TOPO Centro Comercial do Martim Moniz – 6 o Piso Praça Martim Moniz , Lisboa Telef: 215 881 322

Restaurantes em topos de edifícios com grandes vistas sobre Lisboa não há muitos, uma insuficiência pouco natural dada a topografia da nossa capital. Talvez por isso, o TOPO só venha frisar essa singularidade. Diríamos que seria a primeira, porque é igualmente singular que se encontre sobre um dos centros comerciais do Martin Moniz, ou seja, mergulhado no cosmopolitismo multicultural da cidade,

PLACES

pagando o preço de confrontar alguns preconceitos resistentes. Mas apanhar o elevador para esse 6ºandar vale mesmo pena, tendo já como garantido que tudo poderá ser diferente. Dada a configuração, o espaço não é de um restaurante convencional e convida‑nos, no essencial, a passar um bom tempo ao balcão a petiscar as variadas opções. A versão bar anda a paredes meias nessa fusão de conceitos

híbridos, onde até espaço galerístico é permitido, tudo isso sempre acompanhado de uma vista deslumbrante, se outra companhia faltasse. Ainda assim, passado o primeiro deslumbre, a cidade aos nossos pés deixa de ser motivo de distração, porque temos muito com que nos entreter, embalados pela melhor música dos DJs, não fosse um dos seus mentores, JOSÉ REBELO PINTO, o responsável pelas tardes Out Jazz.

(64)

Somos surpreendidos por umas mini chamuças de cor verde e por sandes rosas quase fluorescente de atum braseado, um apelo a todos os sentidos. Mais que engraçadinhos, são pratos de execução exímia, fora do vulgar, e uma motivação para nos fazer voltar. A proposta é que seja a qualquer hora, porque a lista de cocktails e de vinhos é igualmente tentadora e o terraço será certamente um ponto de referência da cidade.

PARQ HERE


PLACES

PARQ

E L

N.48

PARQ HERE

CLANDESTINO TE X TO RUI LI NO R A M A LHO

FOTOS JO ELM A AGUI A R

El Clandestino Rua da Rosa, 321, Príncipe Real, Lisboa Telef: 912 832 777 Todos os dias das 12h00 às 02h00 Aceitam-se reservas ‘Ceci n’est pas une restaurante clandestino’ poderia ser a legenda de uma fotografia do EL CLANDESTINO. O novo espaço –que de ilegal não tem nada– abriu em novembro, algures na fronteira entre o Bairro Alto e o Príncipe Real, em

PARQ HERE

Lisboa. A clandestinidade é imediatamente desfeita pela enorme parede envidraçada que separa a zona de refeições da própria cozinha. Dos típicos tacos mexicanos aos tradicionais ceviches peruanos, a oferta do EL CLANDESTINO não poderia deixar de passar

também pela guacamole, margarita e tequila. O acasalamento das duas gastronomias é feito, respetivamente, pelos chefes ANTÓNIO AMORIM e FÁBIO SOBRAL. Para além de bar e restaurante, o EL CLANDESTINO é também uma galeria de

(65)

arte, expondo trabalhos de artistas como GONZALO MARROQUIN, MACIEL e a incontornável escultura “A Favela”, da autoria dos irmãos BETE e GEZO MARQUES. Colorido e acolhedor, o espaço foi decorado por MARIA FERNANDES THOMAZ.

PLACES


PARQ HERE

PARQ

PLACES

N.48

V E R T I G O

CLIMBING CENTER TE X TO RUI LI NO R A M A LHO

Vertigo Climbing Center Av. Infante D. Henrique - Edifício Beira Rio Fração S, Lisboa Telef: 967 890 179

Não é apenas o título de um dos maiores clássicos do cinema ou de uma música dos U2. VERTIGO é também o maior rocódromo de Lisboa, senão mesmo de Portugal. O que é um rocódromo? É um espaço destinado

PLACES

2 a a 5 a das 14h00 às 23h00 Sáb. das 10h00 às 21h00 Dom. das 10h00 às 18h00

à prática de escalada. No caso do VERTIGO CLIMBING CENTER, esse espaço tem cerca de 400 m2, é seguro, divertido, e destina-se a todos os que procuram uma forma diferente de fazer desporto. O projeto foi

idealizado pelos arquitetos JOÃO QUINTELA e TIM SIMON, que optaram por reabilitar um antigo armazém à beira rio. Além da prática desportiva, o VERTIGO CLIMBING CENTER dispõe também de uma cafetaria e zona

(66)

de lazer, demarcada por uma imponente estrutura avermelhada, também ela escalável. Uma boa oportunidade para vestirmos o nosso melhor disfarce de João Garcia.

PARQ HERE


PLACES

PARQ

N.48

PARQ HERE

L E O N I D A S CORVOS

D O I S

TE X TO RUI LI NO R A M A LHO

TE X TO M A R I A SÃO M IGUEL

Chama-se DOIS CORVOS e combina com Sete Colinas. A nova marca de cerveja artesanal de Lisboa inagurou, no dia 20 de novembro, o TAP ROOM, onde será possível degustar e comprar dez variedades de cerveja no preciso local onde ela é produzida. A fábrica da DOIS CORVOS é, assim, transformada também numa loja, onde a cerveja pode ser adquirida em garrafas ou nuns elegantes growlers em vidro. A marca, lançada em 2013 por SUSANA CASCAIS e SCOTT STEFFENS, só este verão começou a ser comercializada em alguns restaurantes da capital, como o FÁBULAS, o CRUZES CREDO, a CERVETECA e a CASA AMARELA. A cerveja, essa, é feita à mão, de acordo com os métodos tradicionais e com ingredientes naturais. A Avenida –feita com malte pilsner premium–, a Metropolitan –a mais forte de todas, com 5,6% de graduação–, a Galáxia –com sabores de chocolate, café e caramelo–, a Saison –mais adocicada– e a Matiné –intensa e aromática– são algumas das tentadoras opções.

Bem a propósito para a época de Natal, a LEONIDAS –uma das mais conhecidas marcas do famoso chocolate belga– abre duas lojas em Portugal. Uma em Lisboa, na Avenida Álvares Cabral, outra no Porto, no Mercado do Bom Sucesso. A marca surgiu há mais de 100 anos em Gante, na Bélgica. Tem mais de mil lojas próprias em todo o mundo. Nas vitrinas da nova loja, o destaque vai para as pralines, os bombons de chocolate. Há mais de 80 variedades para escolher ao peso. Com recheio, sem recheio, de chocolate branco, negro, de leite, com nozes, amêndoa, fruta e até álcool. O difícil será mesmo escolher. Em alturas festivas, como no Natal ou Páscoa, a marca costuma ter algumas opções temáticas. Para oferecer, há caixas mais elegantes que pode encher com pralines.

Dois Corvos Cervejeira Rua Capitão Leitão, 94 – Lisboa Telef: 914 440 326 2 a a 5 a das 13h00 às 18h00, 6 a das 13h00 às 23h00 Sáb. das 17h00 às 23h00

PARQ HERE

(6 7)

PLACES



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.