PARQ 60

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ABSOLUT BARRIOS

texto Tiago Manaia fotografia Rui Palma styling Ruben de Sá Osório styling assistant Sreya make-up + hair Andy Dyo

Tripla atualidade para J OA N A BA R R I O S , apresentadora de dois programas de televisão e um filme a estrear em breve no cinema. A atriz também é blogger. Na internet costuma partilhar moda enquanto pensamento. Mãe de dois filhos, esteve em tempos ligada à noite, foi porteira da discoteca Lux. É um símbolo de hiperatividade. Conversa calmamente connosco num carro em direção a Lisboa, evoca com frequência o Alentejo que a viu nascer. O iPhone que tem nas mãos brilha sem parar com notificações, estamos longe da pré-história.

P:  Quando fizeste a apresentação pública da Absolut Creative Competition lembravas algumas das crenças da marca e de como são importantes na época que vivemos. A Absolut defende inclusão, igualdade de género e pede às pessoas para celebrarem o seu lado único. Tem sido fácil manter a tua originalidade ao longo da tua carreira de atriz?

P: Nunca ninguém te disse para focares?

JB:  Não tem sido um percurso particularmente tortuoso. Tenho tido a sorte de procurar, e ter sido encontrada por pessoas que praticam o mesmo código de valores que eu. Tenho encontrado gente que valoriza a minha dispersão. Estou a falar do T E AT RO P R AG A , do M A N U E L R E I S e falo do espaço de alegria e libertação que é o Canal Q (apresenta em itinerância Super-swing). Estou a falar da Bertrand, que esteve aberta às minhas vontades relativamente ao livro que fiz de receitas. E agora com o Armário, programa que apresento na RTP2. Tu enquanto indivíduo encerras imensas coisas em ti, porque não trazer isso para o teu âmbito de trabalho?

JB:  Claro que sim. Mas a minha natureza nem sequer me permite ser só uma coisa. Aconteceu isso com o M A N E L R E I S . Nunca pensei ser porteira de uma discoteca até ele vir falar comigo.

P: Quando trabalhas para marcas também sentes que és livre? Nunca te pediram para não falar?

P:  O ator acaba por ser um intérprete, no teu caso estás ligada ao Teatro Praga onde és mais que isso, és uma artista no seu todo...

JB:  Se me forem procurar para fazer de princesa indefesa, faço. Mas se calhar não faço aquela coisa que procuram. Mas já fiz personagens como intérprete.

P:  E o que te impede na tua atividade virtual de não fugir para o lado da ficção? Procuras o real?

JB:  É óbvio que tenho muitas coisas que são ficcionais, mas acho que o real não é assim tão mau quanto isso. Nem tão pouco glamoroso, nem tão pouco interessante. Mas também não me sinto muito pressionada a ser uma pessoa que partilha muito.

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JB:  Nunca me disseram que não podia não dizer alguma coisa. Até porque o meu trabalho com marcas chega por haver esta identidade e defesa muito séria de valores. É um conjunto de ideias que me permite sentir confortável a fazer o que faço. É óbvio que não consigo dissociar o meu trabalho de uma posição social e política, e de uma chamada de atenção para muitas causas e questões. Embora faça uma coisa meio a brincar e irónica, nunca deixo de procurar verdade no meu discurso. Especialmente neste tempo em que é possível camuf lar a realidade com 59 mil filtros. Ou seja, a internet faz-nos viver no tempo do não tempo. Podes hoje publicar uma fotograf ia que tiraste há 5 dias e evocar uma série de coisas de outro tempo. O que é o real?


P:  O ativismo nunca te vai largar?

JB:  Claro que não, é impossível.

P:  O teatro que fazes é ativista, o filme do G A B R I EL A B R A N T ES , Diamantino (deverá estrear em 2019) também...

P:  Quiseste ser atriz para dialogar com os outros?

P:  Sentes que estás a encontrar interlocutores ou um público?

JB:  Sim.

JB:  Para a televisão, entrevistava no outro dia a minha atriz preferida, a PAU L A S Á N O G U E I R A , e ela disseme uma coisa genial: “Há pessoas que são atores durante um ano, e depois desistem ou deixam de ser. Mas quando escolhes isto e continuas ao fim de dez anos sem desistir, é porque é uma forma de estar na vida.”

JB:  As redes sociais são uma espécie de autoestrada de comunicação. É bom ver a quantidade de pessoas que fazem stories quando sai um episódio novo do Armário. E recebo mensagens do género: “nunca pensei que pudesse haver um programa onde se debatessem temas tão importantes, dentro de uma categoria que é tão menosprezada e associada a coisas muito fúteis e a frivolidades”. Para mim a moda, o teatro, os textos, a roupa, a forma como tu te moves —tudo é comunicação. Todas as coisas que faço convergem para a mesma coisa: abrir uma linha de diálogo. Mas se calhar a linha de diálogo que quero abrir ainda não é a banda larga. Ainda é daquelas coisas que tens de ligar e ficar à espera que o modem diga que sim. Obrigado ao Dino Parque da Lourinhã e à Letícia da Costa Gonçalves.

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ABSOLUT CRE ATIVE COMPETITION

FESTA DE LANÇAMENTO, RIVE ROUGE EM LISBOA

Ainda antes de entrar na festa da Absolut avistámos André Januário, retocava a maquilhagem no espelho de um carro estacionado perto do Mercado da Ribeira. Num movimento rápido despiu o blusão de penas que trazia vestido, para desvendar uma camisola de lentejoulas verdes. Nunca mais ninguém na rua lhe tirou os olhos de cima, até ele entrar no Rive Rouge.

01 Joana Barrios apresentou o evento Absolut Creative Competition

02 Bill Onair 03 Josh Quinton, David Motta, André Januário 04 Pedro Miguel Morgado e Rita Gonçalves 05 Bernardo de Lacerda e Teresa Lucas 06 Eduarda Abbondanza

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07 A campanha da revista Toiletpaper que nasceu da colaboração entre Maurizio Cattelan Pierpaolo Ferrari e Micol Talso

08 André Abreu e Rui Palma 09 Aurora Pinho cantou 4 temas: Trans‑phoenix, Apocalypse, Devil Shaved My Head, Get The Guns Out

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ARE YOU NEXT? CONCURSO ABSOLUT CRE ATIVE COMPETITION

De que se trata esta competição? Desde 1985 que a A B S O LU T colabora com centenas de artistas dos mais ousados ​​e famosos do mundo. Estamos agora numa missão global para descobrir o próximo H A R I N G , B R I T TO ou T H O M AS . Se é um artista ou designer, esta é a sua oportunidade de lançar (ou acelerar) a sua carreira, participar numa competição global vista pelos melhores artistas do mundo e ganhar 20.000€. O CONCURSO TERMINA A 31 DE JANEIRO. AS NOSSAS CRENÇAS Todos os géneros são iguais. A igualdade de género não é apenas um problema das mulheres, mas uma questão humana fundamental que afeta todos nós. Os nossos direitos, responsabilidades e oportunidades nunca devem depender do facto de termos nascido homem ou mulher. Todos têm o direito de viver livres e de forma igual. Não importa de onde vimos, somos todos humanos. Não importa o sangue ou a raça, a crença ou a cor, há mais coisas que nos unem do que as que nos separam. Não importa de que parte do mundo somos, devemos partilhar as nossas semelhanças enquanto celebramos aquilo que nos torna únicos. Todos devem ser livres de se expressar. O verdadeiro fundamento dos direitos humanos é a liberdade de expressão, que permite criar

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um futuro melhor. Acreditamos que ninguém deve ser forçado ao silêncio, e todos merecem o direito de se expressar, seja qual for o meio que utilizam. As pessoas devem ser livres para amar quem querem. Desde o início dos anos 80, apoiamos a comunidade LGBTQ+. É uma convicção nossa muito forte de que um mundo colorido, diversificado e respeitoso é algo para o qual todos nos devemos esforçar e trabalhar. Todos devem ser exatamente quem são e amar exatamente quem querem. COMO PARTICIPAR? Desenvolva uma criatividade. Certifique-se apenas que inclui a forma da garrafa Absolut (faça download dos materiais e templates em www.absolut.com/pt/competition ). 1. Deixe que uma das nossas crenças o inspire na sua criação. 2. Adicione a forma da garrafa Absolut de uma maneira claramente visível. 3. Faça arte. Mais informações em www.absolut.com/pt/competition


O JÚRI NACIONAL DA ABSOLUT CRE ATIVE COMPETITION texto Tiago Manaia fotografia Rui Palma

Na primeira fase da A B S O LU T C R E AT I V E C O M P E T I T I O N e após o encerramento do período de candidaturas, será escolhido um vencedor nacional. Os trabalhos nacionais serão avaliados por J OA N A AS TO L F I e A L E X A N D R E M E LO. As candidaturas devem ser entregues até dia 31 de Janeiro.

Os micromundos criados por J OA N A AS TO L F I , levam-nos quase sempre de volta à infância —momentos em que os sonhos superam a realidade. Artista, arquiteta e criativa, há quem diga que J OA N A AS TO L F I é sobretudo uma “encantadora de espaços”. Nas suas mãos tudo ganha uma vida nova, e tanto nas vitrines das lojas que imagina (para a Hèrmes ou a Claus Porto), como nos restaurantes que desenha (o Bairro do Avillez ou Belcanto), em tudo se sente o seu gosto pelos objetos com história. Recupera‑os em todo o tipo de lugares. O universo AS TO L F I é alimentado pelo humor e a realidade dos sítios mais castiços de Lisboa —cidade que voltou a ver com olhos de turista, quando há 13 anos regressou de uma longa temporada em Itália. Há também a sua paixão pelas pessoas, não interessa de onde veem, quer sempre ouvir o que têm para contar. O seu olhar impôs-se, e este furor que se grita à volta da capital portuguesa deve muito ao seu toque.

O artista internacional B O S E K R I S H N A M AC H A R I junta-se também ao júri português para avaliar as candidaturas da Absolut Creative Competition. A competição começa aqui, mas pode levar‑te a percorrer o mundo.

Quando percorremos os arquivos da discoteca Frágil é possível ver em 1984, A L E X A N D R E M E LO numa animada conversa com o cantor A N TÓ N I O VA R I AÇ Õ ES . De que falavam na altura? Há mais

Joana Astolf i 06

de trinta décadas que convive de perto com todo o tipo de talentos, em diversas áreas ligadas à cultura. Tem sido um nome essencial na crítica de arte contemporânea e esteve ligado à emergência de artistas como J U L I ÃO S A R M E N TO, ou RU I C H A F ES . Em 2007, como curador da E L L I P S E F O U N DAT I O N , trouxe a Portugal uma exposição do agora designer da marca francesa Celine —H E D I S L I M A N E . M E LO tinha descoberto uma série de fotografias originais feitas por S L I M A N E na Costa da Caparica. Escreve regularmente para publicações nacionais e internacionais. A possibilidade de poder ler algumas das ideias que lhe atravessam o pensamento é tentadora.

Alexandre Melo


ABSOLUT TIMELINE

© The Absolut Company AB 1999 / Nam June Paik

© The Absolut Company AB 1992 / Angus Fairhurst

Aqui passamos em revista algumas das colaborações artísticas da marca nas últimas décadas.

ABSOLUT FAIRHURST.

1999, Absolut Paik. O artista coreano N A M ‑ B O R N PA I K é considerado o fundador do videoarte e foi um dos primeiros membros do movimento internacional de arte Fluxus nos anos 60. A sua celebração da garrafa Absolut é uma cornucópia de cores, luzes e sons brilhantes.

©Armand Arman 1989

© The Absolut Company AB 1998 / Maurizio Cattelan

1992, Absolut Fairhurst. O padrão cruzado nesta obra Absolut, é feito a partir de etiquetas de plástico. Essas etiquetas, geralmente anexadas à mercadoria de lojas de roupas, eram uma das ferramentas favoritas de A N G U S FA I R H U R S T, um dos membros fundadores da Britart nos anos 90.

ABSOLUT PAIK.

ABSOLUT ARMAN. BLACK YELLOW MAGENTA CYAN

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17.09.2004

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BLACK YELLOW MAGENTA CYAN

1989, Absolut Arman. Esta campanha apresenta uma escultura criada a partir de 98 caixas de garrafas Absolut e pincéis colados a um pedaço de madeira contraplacado. O artista francês A R M A N D A R M A N é um dos cofundadores de o movimento Nouveau Réalisme.

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31.05.2005

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1998, Absolut Cattelan. O artista italiano M AU R I Z I O CAT T E L A N é conhecido pelo seu trabalho satírico. A sua colaboração com a Absolut mostra um rato aparentemente de ressaca, dentro de uma garrafa vazia.

2015, Absolut Thomas. M I C K A L E N E T H O M AS recorre à história da arte ocidental e à arte pop, para desenvolver ideias sobre feminilidade, beleza, raça, sexualidade e género. Para a Absolut quis imaginar como as definições convencionais de beleza poderiam ser desconstruídas.


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J OA N A BA R R I O S e Dino foram fotografados por RU I PA L M A . J OA N A BA R R I O S usa um vestido, N U N O BA LTA Z A R , brincos e botas M A N G O. Dino usa boina, casaco, camisa e colar da O U T R A FAC E DA LUA . Obrigado ao Dino Parque da Lourinhã.

PARQ: Revista de tendências de distribuição gratuita. Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2oesq. 1000-251 Lisboa Assinatura anual: 12 euros

Director: Francisco Vaz Fernandes (francisco@parqmag.com)

Editor: Francisco Vaz Fernandes (francisco@parqmag.com) Editor de Moda: Rúben de Sá Osório

Design: Valdemar Lamego (www.k-u-n-g.com)

Periocidade: Bimestral Depósito legal: 272758/08 Registo ERC: 125392 Edição: Conforto Moderno Uni, Lda. NIF: 508 399 289 Propriedade: Conforto Moderno Uni, Lda. Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2oesq. 1000—251 Lisboa Telef: 00351 218 473 379

Impressão: Eurodois. R. Santo António 30, 2725 Sintra 12.000 exemplares Distribuição: Conforto Moderno Uni, Lda.

A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da PARQ. Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 — 2018 PARQ.

Editorial: Sessenta

Roger Winstanley

Que número mais perfeito para uma edição que encerra o ano em que cumprimos os nossos 10 de vida acatando sempre a nossa missão de dar voz a um estar jovem e urbano. Procuramos estar atentos ao melhor que desponta em solo nacional procurando equacioná-lo com as trends internacionais. Estivemos e estamos sempre de braços abertos para acolher a franqueza com que nos abordam. Muitos de vós acham que têm espaço na PA RQ e contactam-nos para encontrar esse lugar. Na maior parte das vezes são propostas bem razoáveis que de facto fazem sentido na PA RQ. No fim contas é esse diálogo tão espontâneo que enriquece todas as nossas edições. Nesta, de natal trouxemos várias perspetivas do Japão de hoje e questões sobre o futuro que se discutem em Berlim. Também não quisemos deixar de partilhar o nosso entusiasmo pelo S E N H O R D O U TO R que promete dar que falar.

www.parqmag.com

Perto da quadra do Natal resta-nos desejar-vos boas festas e porque não oferecer a PA RQ aos vossos queridos.

Textos

Rui Miguel Abreu

Carla Carbone

Sara Madeira

Carlos Alberto Oliveira

Sara Silva

Débora Nobrega

Fotos

Francisco Vaz Fernandes

Andy Dyo

Joana Teixeira

Frederico Santos

João Patrocínio

Nuno Vieira

Liliana Pedro

Pedro da Silva

Luís Sereno

Rita Menezes

Margarida Santos

Styling

Maria São Miguel

Ana Beatriz Alves

Patrícia César Vicente

Pedro Aparício

Rafael Vieira

Rúben de Sá Osório

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Francisco Vaz Fernandes

DEZEMBRO 2018


You Must

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Scenario in the Shade The Haas Brothers Outcast Manufacturers Kissi Usuki Clara Não Sara House that Jack built Vai e Vem Cds Perks of beeing Human Barbar Inês + Kruella Raf Simmons + Magic Line Joalharia Portuguesa Beleza You Must Buy

Soundstation

32 Noname 34 The Good The Bad & The Queen Central Parq

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Atelier Bow-Wow Lost in translation Berlin Q Senhor Doutor

Fashion ed.

46 Walk in the park 56 ... Parq Here

64 Massimo Dutti Steve Madden 66 Quorum

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DEZEMBRO 2018


J O N A H F R E E M A N + J U S T I N LOW E SCENARIO IN THE S HADE texto por Francisco Vaz Fernandes

MAAT

Scenario in the Shade

Av. Brasília, Lisboa → 25 de Fevereiro de 2019

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O MAAT apresenta no espaço a partir de agora reservado para vídeo-projeções, uma obra complexa de JONAH FREEMAN & JUSTIN LOWE. Scenario in the Shade foi apresentada pela primeira vez na bienal de Instambul em 2017 e é composta por um trajeto entre diferentes salas com diferentes ambientes esquizofrénicos, culminando num espaço com vários vídeo-projeções, que enfatizam o carácter onírico de uma realidade que não está tão longe do nosso quotidiano. Ou seja, é um trabalho que refere que esse universo transfigurado está à distância de um afastar de uma cortina. É isso mesmo que acontece no MAAT quando atravessamos uma porta de um típico contentor e nos deparamos com uma sala vitoriana decrépita. Não podemos deixar de pensar em Alice no País das Maravilhas quando atravessa o espelho. A partir daí não voltamos a ter contacto com a realidade exterior. Deixada a luz intensa de uma típica sala de exposições, entramos num emaranhado de corredores escuros com salas estranhas e ambientes díspares. YOU MUST SEE

Tanto podemos estar numa cave secreta repleta de antigos aparelhos tecnológicos de um suposto hacker, como podemos passar por corredores anónimos repletos de dejetos, para depois passarmos a uma sala hi-tec. Aí, em montras e prateleiras bem iluminadas aparecem acessíveis os produtos que são grande parte reflexo de um escape, da forma como uma sociedade lida com as suas ansiedades. Basicamente, JONAH FREEMAN & JUSTIN LOWE fazem uma colagem de cenários prováveis. Lidam com a grande escala arquitetónica, da mesma forma como realizam pequenas composições de colagens em papel. São recortes que criam uma visão retrospetiva do lastro da ruína que os ideais de cada geração deixam. Destroços que em geral alimentam uma cultura underground que germina nas brechas. Referem-se mais diretamente às subculturas juvenis californianas que não tendo estado contempladas nos ideais da América criam então cenários no espaço e no tempo que não colam na perfeição. Estaremos perante um retrato da América bipolar de Trump?


FRED PERRY STORES: NORTE SHOPPING - PORTO ARRÁBIDA SHOPPING - GAIA RUA DO OURO, 234 - LISBOA FRED PERRY CORNERS: MARQUES & SOARES PORTO EL CORTE INGLÉS GAIA EL CORTE INGLÉS LISBOA

LISTEN TO BLACK / CHAMPAGNE / CHAMPAGNE

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T H E H A A S B R OT H E R S FLINSTONES texto por Francisco Vaz Fernandes

N I KO L A I e S I M O N H A AS são bem a imagem do novo self-made man americano. Criados em Los Angeles sem qualquer formação artística, estes dois jovens já viram as suas obras chegar aos exclusivos leilões de design contemporâneo promovidos pela leiloeira Christie's. Ao que se sabe a sua única escola foi a Rriiccee, a banda de música experimental de V I N C E N T G A L LO. Mesmo sem reconhecer o seu talento musical, a sua experiência, segundo os irmãos H A AS , foi libertadora, ajudandoos a ultrapassar as suas inibições e a chocar com as atitudes mais convencionais. Esquecidos estes primeiros passos nas áreas culturais, já em 2004 eram referidos pela sua produção de móveis, “The Haas Brothers”. Num armazém, no centro de Los Angeles, os irmãos H A AS começaram a dar forma ao seu universo, ignorando em grande parte questões como a funcionalidade, o carácter minimal e a reprodutibilidade que estavam no cerne de anos de história do design.

http://www. thehaasbrothers.com

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YOU MUST SEE

Em colisão com a tradição, as criações dos irmãos H A AS são povoadas por séries únicas de criaturas peludas que parecem ter saído de uma série de desenhos animados, como por exemplo, os Flinstones. Esta relação com a memória juvenil, não é de desprezar no entendimento das suas criações. É uma relação propositadamente procurada pelo carácter empático que geram. O sorriso, afinal, desarma os mais céticos. No entanto, o seu trabalho capta também zonas de sombra. Os seus bichos de peluche evocam com ironia a taxidermia e os abusos de uma classe privilegiada que gostava de expor nos seus salões, os seus troféus de caça. De resto, a atenção que se tem dado aos irmãos H A AS explica-se pelo crescente interesse em colecionar peças de design, o que faz com que se procurem peças únicas e que evidentemente transpirem luxo.



A N D R E I A S A N TA N A OUTCAST MANUFACTURERS texto por Francisco Vaz Fernandes fotos por Francisco Sousa Ferreira © Galeria Filomena Soares

Depois de uma individual na Fundação de Serralves, na sequência da atribuição do prémio revelação do Novo Banco, A N D R E I A S A N TA N A volta a expor na Galeria Filomena Soares, novos projetos construídos em ferro. Tanto em Serralves, «História da falta» (2017) como agora, “Outcast Manufacturers”, os títulos referem-se a procedimentos técnicos e materiais envolvidos na produção de objetos manufaturados que um dia deixaram de ter utilidade e daí passaram a descontinuados e consequentemente esquecidos. Desenterrá-los e dar-lhes visibilidade é o culminar de um processo de pesquisa que se torna uma verdadeira arqueologia que, por sua vez, dá lugar a um trabalho artístico. O projeto de A N D R E I A S A N TA N A restitui essas técnicas de produção e integra-las no seu próprio processo criativo, saltando assim de uma aparente esfera formal para algo onde a artista inscreve o seu gesto num todo social, ganhando assim uma nova amplitude. A materialidade formal de A N D R E I A S A N TA N A acaba por escavar uma velha tensão entre o campo das ditas artes plásticas e outras artes, ditas aplicadas, onde podemos incluir o design e de certa forma a arquitetura. Falamos de relações que o projeto modernista procurou esvaziar devido à sua dificuldade crescente em se relacionar com o objeto, em particular com o útil.

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YOU MUST SEE

Ao imprimir no convite da exposição a imagem de uma sala dos anos 50, onde se pode ver várias formas em ferro que animam um painel que faz parte de um todo arquitetónico, acreditamos que as formas e a materialidade dos objetos nunca negaram uma visão mais abrangente do mundo material onde a artista inscreve a sua própria produção. Descobrir, identificar e catalogar são processos próprios de uma linguagem arqueológica que certamente lhe impõem barreiras à sua própria subjetividade. As suas obras ficam, assim, abertas a uma subjetividade contida que não lhe retira a espontaneidade. Encontramos nas suas formas um organicismo que não é alheio à morfologia da natureza. Cada peça de A N D R E I A S A N TA N A , apesar de configurar um volume, é essencialmente apercebida num plano, com uma leitura favoravelmente bidimensional. São obras que não ocupam um espaço, constituem-no, configuram-no, permitindo ver para além de cada elemento.



K IS S I US SUK I texto por Joana Teixeira

http://www. kissiussuki.com

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Jovem, artista e lituana. Justė Urbonavičiūtė é o seu nome, K I S S I U S S U K I é a sua heterónima ilustradora. Natural da Lituânia, Justė desenha para entreter —gosta de criar composições surreais e absurdas, que finaliza com cores garridas que fazem os olhos chorar por mais. As suas ilustrações, com uma pitada de humor nonsense, não devem ser levadas a sério. São cor-de-rosa, são berrantes, são bizarras na sua imagética colorida —mas também são, ao mesmo tempo, desenhos simples pelos quais qualquer pessoa com queda para a arte moderna se pode facilmente apaixonar. A PA RQ falou com a Justė para saber mais sobre o seu mundo cor-de-rosa.

P:  Como é que a arte entrou na sua vida? KU:  Desde criança que desenho. Costumava sentar-me sozinha no meu quarto a desenhar raparigas vestidas de cor-de-rosa em todos os cadernos (que é mais ou menos o que faço agora). Mais tarde decidi fazer da arte apenas um passatempo e tirar um curso de Inglês na universidade. Mas, felizmente, em vez de começar a trabalhar numa agência de traduções fui comprar tinta cor-de-rosa. E foi aí que a minha carreira começou —há 5 anos.

YOU MUST SEE

P:  O seu estilo artístico é... KU:  Vivo, arrojado e divertido! P:  Que mensagem pretende passar através das suas ilustrações? KU:  Gosto de fazer as pessoas rir. Gosto que se relacionem com o meu trabalho. Gosto de fazer cócegas nos seus olhos com bonitas combinações de cores. P:  A cor é definitivamente uma característica do seu trabalho. Porquê? KU:  Simplesmente gosto de cor. Mesmo quando compro tintas mais escuras, acabo sempre por usar tons cor-de-rosa ou roxos. P:  Quão importante é a arte nos atribulados dias de hoje? KU:  A arte foi sempre importante! O que mais gosto na arte dos dias de hoje é a variedade de métodos e ferramentas que usa – e a liberdade imensa que um artista tem de afirmar aquilo em que acredita. É tão inspirador!



CL AR A NÃO, CL AR A S IM! texto por Sara Silva

Não é novidade para ninguém que a PA RQ, volta e meia, escreve sobre artistas portugueses. Porém, é a novidade desta edição, falar sobre a ilustradora, escritora, designer, dona de casa, dona de si e mulher de mais uns 7 ou 8 ofícios, de seu nome, C L A R A N ÃO. Na verdade, sentimos alguma pressão ao redigir este artigo, pois estamos perante uma expert nas palavras e na construção das frases mais aleatórias, mas, ao mesmo tempo, mais fixes e honestas de sempre! Em conversa com a PA RQ, C L A R A , começa por dizer que já quis ser professora de Português e até Pediatra, antes de imaginar, sequer, que a arte de se expressar, de trabalhar e de viver seria, atualmente, o seu caminho. Recordou-nos um episódio muito interessante, em que refere, que sempre fora boa aluna a todas as disciplinas e Físico-Química e Educação Visual eram as suas preferidas. Sabia sempre tudo de cor e nos testes estava sempre prepa-

rada, até que num, em particular, sentiu-se “traída” pela dita falta de estudo e no momento, deu-lhe uma branca, achando que não iria correr bem. Muito pelo contrário! Clara, como ela própria disse “sabia que sabia” e de imediato, conseguiu dar resolução ao problema, acabando por ter uma avaliação de 100%. A artista ressalvou este momento, dada a importância que tem no seu dia-a-dia, dizendo: “Ainda hoje penso neste teste quando penso na vida em geral. Podemos estudar imenso as opções, ser minuciosamente cautelosos, mas quando sabemos, sabemos, é só ter coragem de afirmar (ou negar)”. E é, dentro desta incrível lucidez, espírito livre e sonhador, que vamos conhecendo e querendo saber mais sobre C L A R A . Comanda o seu próprio destino, aplicando a criatividade ao serviço da ideia, inspirando-se nas pessoas e na sua vida pessoal, para, no final, transmitir a mensagem. E é literalmente uma mensagem, a expressar da maneira mais “bruta”, todos os “sentimentos e demandas”. Divide o seu trabalho em duas vertentes, sendo, uma delas, o formato sketch, no qual, utiliza marcadores à mão ou, até, tinta-da-china com pincel, em folhas brancas, para uma ilustração mais rápida e momentânea e o formato de bordado, exigindo outra preparação e mais reflexão sobre a mensagem que pretende abordar. Não hesita em referir, que o seu trabalho lhe dá imenso gozo e a gratificação que sente, é imensa, por saber, que as pessoas se identificam tanto com as suas mensagens e ilustrações.

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E melhor do que vermos as palavras de CLARA nas redes sociais, é mesmo encontrá-la em exposições pelo nosso país fora e também no país vizinho. Já expôs em Lisboa no Artroom, em Guimarães na Área 55, na Galiza no Festival da Poesia do Condado em conjunto com a artista portuguesa, MARIANA MALHÃO e até já esteve à conversa como oradora, na Universidade Lusófona do Porto. De momento, a artista esteve inteiramente dedicada ao seu relatório-dissertação de tese, do qual, o tema “relação fabular entre Desenho e Escrita”, partiu de um nobre projeto em que esteve envolvida enquanto organizadora: oficinas de story-telling e ilustração com as crianças hospitalizadas no Hospital São João do Porto. Como podem ver, C L A R A N ÃO, é uma artista de mão cheia! E para o futuro, promete brindar-nos com mais colaborações, projetos pessoais e exposições. Vamos, certamente, aguardar ansiosamente por mais e, claro, ainda melhor! Ou não seria o trabalho da artista uma referência na arte no nosso país. Tudo tão pessoal e honesto, que se torna impossível não nos revermos nas palavras e no encanto de C L A R A .

http://www. claranao.com

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SAR A texto por Joana Teixeira

“Sara” é a carta de amor de B RU N O N O G U E I R A a B E AT R I Z BATA R DA . A ideia original da série partiu da sua cabeça de génio que, não tão frequentemente quanto gostaríamos, nos brinda com odisseias trágico-cómicas. Desta vez, B R U N O criou “Sara” —a atriz dramática que não consegue chorar. Ofereceu esta personagem complexa a M A R C O M A R T I N S , o realizador desta série de 8 episódios que recentemente contou os seus dias na RTP. Esta é uma sátira moderna ao mundo audiovisual. Sara Moreno é uma atriz de sucesso, que, ao desaprender a arte de chorar, se vê confinada a um calvário de situações caricatas e emoções intensas. B E AT R I Z BATA R DA incarna esta personagem brilhantemente —com todos os gestos, peculiaridades e expressões às quais tem direito. Aclamada pela crítica, “Sara” é uma sátira que arrasa por completo o estado do audiovisual português, ao ponto de incluir uma telenovela na sua narrativa, com direito a um genérico original. Diferentes registos (comédia, paródia, tragédia) coexistem na revolução conceptual que é este enredo. E a personagem principal da trama, Sara Moreno, é complexa nas suas diversas camadas —tão reais quanto caricaturadas ou até mesmo surreais.

“Sara” é mais um laivo de genialidade de B RU N O N OGU EI R A , materializado em poesia visual por M A RC O M A R T I N S e interpretado na perfeição por B E AT R I Z BATA R DA —qual declaração de amor-ódio à cultura audiovisual portuguesa. Quem não viu, pode ver na RTP Play.

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YOU MUST WATCH


L A R S VO N T R I E R THE HOUS E THAT JACK BUILT texto por Margarida Santos

Depois de uma pausa de sete anos, L A R S VO N T R I E R volta a Cannes com o filme “The House That Jack Built”. No momento em que compramos o bilhete (e as pipocas) para ver um filme de L A R S VO N T R I E R já sabemos que vamos ser desafiados, que vamos sentir uma certa inquietação e que a nossa crença vai ser questionada. L A R S VO N T R I E R traz para a arte cinematográfica o lado obscuro da mente. O espectador, ao ver os seus filmes, sente desconforto, o que leva muitas vezes a saltar da cadeira. E este último filme não podia ser diferente. “The House that Jack Built” é um drama dinamarquês que se passa nos anos 70, nos Estados Unidos da América. Um filme chocante sobre Jack (M AT T D I L LO N ), um serial killer que ao longo de 12 anos comete cada crime como se fosse uma obra de arte. É uma viagem, em forma de monólogo, de 155 minutos à mente perturbada de um assassino que pode chocar o público mais sensível. Um filme com algumas cenas mais gore, como T R I E R já nos tem habituado, mas distingue-se desse género porque oferece ao espetador mais do que violência gratuita. Neste “drama psicológico” nem tudo é sinistro. Podemos encontrar partes que apelam ao humor. Por último, deixo uma mensagem transmitida no trailer que me intrigou bastante. Ao chegar ao segundo minuto do trailer, Jack diz-nos que há quem acredite que as atrocidades demonstradas na arte são desejos internos do artista que não os pode concretizar por viver numa sociedade civilizada. Se isto vos fizer pensar e sentir uma certa inquietude, este filme é para vocês.

“The House that Jack Built” vai estrear nas telas de cinema portuguesas a 3 de janeiro de 2019.

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MÁRCIA VAI E VEM texto por Patrícia C. Vicente

Decidimos falar com a M Á RCI A sobre o seu novo trabalho, Vai e Vem. Uma voz portuguesa que temos acompanhado e ver crescer ao longo dos anos. Das suas experiências em cima do palco, sobre a inspiração para as suas letras e todo o seu crescimento na música, com a música e para a música. Se um artista pensa em desistir? Sim, pode acontecer. Mas nunca o fez e é por isso que hoje conhecemos uma das melhores autoras portuguesas da sua geração.

P:  M Á RC I A , já passaram quase dez anos depois do lançamento do primeiro EP com 5 temas. Quase uma década a crescer enquanto compositora, autora e cantora. Mudava alguma coisa no seu percurso? Se sim, o quê? M:  Se pensasse apenas no percurso profissional (e não familiar) mudaria algumas coisas, sim. Mas a vida segue os seus caminhos, e os objectivos vão mudando, e a cada momento corresponde aquilo que acreditamos que é melhor na altura. P:  Do álbum Vai e Vem, há quanto tempo estava a trabalhar nele? M:  Trabalhei um ano, entre gravar as maquetes e o momento de saída do disco, mas as canções compus o longo dos dias e dos anos. Há duas canções que já têm 4 ou 5 anos… P:  Já há muito que se diz que o amor é uma fonte inesgotável para quem escreve. As suas letras são muito honestas. A M Á RC I A escreve sobre amor, em diferentes estágios. Enganos, desilusões. Em músicas como “Tempestade” e “Do que eu sou capaz” passa uma mensagem de confiança e positiva. Bebe das suas experiências para se inspirar? Ou absorve das histórias á sua volta? M:  Faço as duas coisas. Só consigo falar do que sinto ou já senti, mas às vezes sou convidada a sentir aquilo que outra pessoa, que me confidencía as suas experiências, sente —ou aquilo que eu imagino que ela sente. É um exercício de empatia. Gosto de entender os outros, mostrar que também sei que todos temos dias e momentos difíceis. É isso que nos mostra que não estamos sozinhos, tal como a música.

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P:  A M Á RC I A não é o caso de um fenómeno de sucesso, do dia para a noite. Tem conquistado o seu espaço na música de forma sólida e consistente, tornando-se uma das melhores autoras da sua geração. De alguma forma tem sido programado este crescimento gradual ou aconteceu de forma natural, quase sem se aperceber? M:  Saber que posso viver da música foi (e é) uma conquista de vida. Só isso é que foi uma ambição e demorei muito a chegar aí. De resto, não escolhi ter um sucesso gradual. Ele é gradual porque corresponde a uma conquista lenta. Uma pessoa pode considerar que ser mãe, mulher, viver em liberdade e conforto, sendo apenas cantora e compositora, é o sucesso. Então aí sinto um sucesso enorme. P:  Durante o seu percurso, houve algum momento em que tivesse pensado em desistir? Nada na vida é fácil, mas na música assim como em outras áreas, por vezes surge aquela vontade de desistir. Seja porque não nos identificamos ou porque as coisas não acontecem como idealizamos. Já lhe aconteceu? Se sim, como ultrapassou? M:  Sim, pensei se desistir de editar discos seria uma hipótese quando me apercebi das dificuldades de os fazer chegar ao público. Mas não sei desistir de nada. Sou persistente, teimosa, e raramente aceito que alguém me diga “não vais conseguir”. Além disso, sei que tenho um público que bebe as minhas canções da mesma forma vital com que eu as escrevo. Não saberia desistir de fazer música. As canções são uma maneira de desabafar. Seria muito infeliz se não escrevesse canções...

YOU MUST LISTEN

Leia a entrevista completa em www.parqmag.com


CDS BOAS NOVAS texto por Carlos Alberto Oliveira

Com os olhos postos em 2019, eis oito discos que aguçaram de sobremaneira a curiosidade, a avaliar pelas pistas reveladas neste ano que findará num instante.

01— O novo álbum da Norte Americana SHARON VAN ET TEN, Remind Me Tomorrow,

tem data marcada de lançamento para 18 de janeiro. Acerca do disco a artista comenta: “Eu quis ser mãe, cantora, atriz, ir à escola, tudo isto com a camisola com nódoas, restos de comida no cabelo e sentia-me uma confusão, mas estou aqui. Este disco é acerca de perseguir as nossas paixões”. A artista apresentou como primeiro single “Comeback Kid”.

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02— A banda do prolifero B R A D F O R D C OX , os D E E R H U N T E R , está de volta com um novo álbum chamado Why Hasn’t Everything Already Disappeared?. O novo registo de originais sairá a 18 de janeiro via 4 AD. O seu primeiro single apresentado foi “Death in Midsummer”. O disco foi produzido por CAT E L E B O N , T H E BA N D, BEN H. ALLEN III, e BEN ET TER. 03— Também a 18 de janeiro será lançado o novo álbum dos G O DA R K , Neon Young, pela Bella Union. Acerca do disco a banda revela: "Este álbum é como se fosse o seu próprio animal. Soltá-lo é importante". "Numb" foi o levantar do véu

do que se pode esperar do novo álbum.

04— A banda britânica TOY regressa com o seu quarto álbum de estúdio Happy in the Hollow que será posto à venda a 25 de janeiro. Durante a reta final deste ano foram revelando os singles “The Willo”, “Energy” e "Sequence One". Acerca deste último single a banda comenta: "Sequence One" retrata a passagem por uma zona de guerra pós-apocalíptica com o seu mais que tudo."

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05— Os B EI RU T anunciaram o seu novo disco Gallipoli , sucessor de No No No de 2015. Acerca do tema título, Z AC H C O N D O N escreve: "encontrámos por acaso numa cidade medieval na ilha de Gallipoli uma procissão encabeçada por um padre a carregar o santo padroeiro da cidade, pelas ruas sinuosas e estreitas, acompanhados pelo que parecia ser toda a cidade. No dia seguinte escrevi a música de uma assentada, apenas parando para comer." O disco sairá a 1 de fevereiro do próximo ano.

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06— "Dolphin" foi a primeira música a ser revelada do novo álbum de PA N DA B E A R , Buoys, que será lançado via Domino a 8 de fevereiro de 2019. O seu sexto álbum é co-produzido pelo seu colaborador de longa data R U S T Y S A N TO S . O disco foi gravado em Lisboa, Portugal, cidade que L E N N OX adoptou como sua casa. 07— Os texanos H A R L E M não gravaram material novo desde que em 2010, ano em que editaram o álbum Hippies pela Matador. A banda decidiu cessar as atividades em 2012. Entretanto reagruparam-se e têm trabalhado no seu novo álbum. O novo disco que se chama Oh Boy, será lançado no dia de S. Valentim de 2019. Para adocicar o ouvido avançaram com “Swervin” como primeiro single do novo disco.

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08— Quem também tem um disco novo na calha é CA S S M C C O M B S , que sairá a 8 de fevereiro via Anti- Records. O álbum de seu nome Tip of the Sphere foi produzido por SA M OW EN S (aka SA M E V I A N ) e teve como primeiro single “Sleeping Volcanoes”. YOU MUST LISTEN

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T I AG O LO U R E I R O PERKS OF BEING HUMAN texto por Luís Sereno fotos por Rita Menezes produção e styling por Luís Sereno modelo Vlada Kikh (Best Models) make-up por Hugo Bizarro Agradecimentos a Era uma vez no Porto.

@tiago_m_loureiro

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TIAGO LOUREIRO apresentou a sua última coleção cápsula na edição Multiplex da Moda Lisboa, no contexto da plataforma Workstation —plataforma que uniu a visão de fotógrafos com mostras de ilustradoras e apresentações em formato happening de cinco designers de moda. A coleção parte de uma reflexão por via da obra The Garden of the Earthly Delights, de BOSCH. TIAGO equacionou quais seriam estas consequências pecaminosas da vida terrena no mundo actual e espelhou, num trabalho gráfico que se assemelha a um toile du jouy, temas como gentrificação, desflorestação, aquecimento global, poluição aquática,etc, numa interpretação distópica. Com um tema tão acertivo e actual, o impacto dá-se também pela força dos detalhes e da tipologia de construção das peças. Estas partiram de um blazer masculino e de umas calças com pregas de uma coleção anterior, que, através de draping, assumiram novas formas e contornos, as quais apresentam grande versatilidade no modo como podem ser usadas. A paleta assenta nos nudes, com vários tipos de brancos, beges e rosa pálido, tendo o estampado mais detalhes mais vividos —destaca‑se a qualidade do desenho à mão. Os tecidos vão de mousseline a algodões, crepes e linhos.


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YOU MUST WEAR


Há três anos que a cerimónia Blogs do Ano premeia os inf luenciadores que trazem um je ne sais quoi de irreverência à blogosfera. Na edição passada, BÁ R BA R A I N ÊS levou para casa o prémio de blog de moda do ano. Nesta rede social partilha looks, viagens e lugares a visitar. Numa conversa exclusiva com a PA R Q, a fashionista revela que a sua caminhada no digital começou de forma natural e que o segredo é manter-se fiel a si mesma.

P:  Como te sentes ao saberes que ganhaste o prémio de blog de moda do ano? B:  Uma alegria enorme porque ao olhar para trás nunca pensei que isto fosse acontecer algum dia. Aconteceu naturalmente e fico muito feliz porque é realmente algo que adoro fazer, uma paixão mesmo.

O B LO G D O A N O VA I PA R A . . . BÁRBAR A INÊS texto por Liliana Pedro

L AT TE x K RUELL A D’ ENFER texto por Joana Teixeira

Latte Lisbon Rua Nova do Almada, 61, Lisboa

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P:  Segundo os especialistas, o mundo da blogosfera está a perder a sua relevância. Como te posicionas em relação a isso? B:  Eu mantenho-me fiel ao meu trabalho. Acho que dizem isso está a acontecer cada vez mais e o nosso trabalho pode acabar por perder a credibilidade. Contudo, acho que se eu me manter

A marca de streetwear portuguesa L AT T E convidou K RU E L L A D ’ E N F E R para uma colaboração exclusiva. A artista produziu cinco telas únicas, em exposição na loja física da L AT T E , com pormenores deliciosos que combinam o imaginário singular de K RU E L L A D ’ E N F E R com a estética da L AT T E . Esta parceria nasceu da admiração dos criadores da marca pelo conhecido trabalho da artista, e foi adaptada ao universo da YOU MUST SEE

f iel ao que faço e trabalhar com os produtos/marcas em que acredito, vai tudo correr bem.

P:  Sentes que o instagram está a sobrepor-se ao blog? B:  A nível de números, sim. O instagram destaca-se pela sua rapidez e facilidade. Quem lê o blog é quem realmente está interessado em ver mais de mim, como por exemplo as fotografias que não estão no Instagram ou as peças de roupa. P:  No futuro, o que podemos esperar de ti? B:  Vou manter-me no registo que tenho tido até agora, em que partilho muito do meu estilo pessoal. Dedicação vão ter sempre da minha parte. Virão novos projetos a nível profissional (estou mega entusiasmada), mas ainda não posso revelar isso.

http://www. barbaraines.pt

cultura de sneakers e streetwear. Além da exposição, foi criada uma série limitada de t-shirts com uma das telas estampada —made in Portugal e com a etiqueta da L AT T E .

http://www. lattelisbon.com http://www. kruelladenfer.com


F R E D P E R RY R AF S IMMONS texto por Maria São Miguel

A FRED PERRY, para além da coleção Authentics , passa a vender na loja de Lisboa, a sua coleção premium que resulta da colaboração com RAF SIMONS. E uma coleção que oferece‑nos uma desconstrução do estilo streetwear, uma das temáticas que o designer de origem belga, tem conseguido levar ao nível superior de moda. Aliás ninguém como o atual diretor criativo da Calvin Klein, para fazer releituras da moda que se vive na rua e trazê-los para a alta moda,

mantendo o mesmo espírito de irreverência que estava na sua origem. Por isso o casamento entre RAF SIMONS e a FRED PERRY, com tudo que a marca tinha para oferecer, um extenso arquivo marcado por relações fortes com as sub-culturas juvenis londrinas só poderia ser perfeito, inspirador e duradouro. A colaboração está para se manter com coleções cada vez mais perto de nós porque sentir as peças na mão ainda é importante para muitos.

Fred Perry Rua Áurea, 234, Lisboa

FILA MAGIC LINE texto por Maria São Miguel

Em 1979 a F I L A equipou a lenda do montanhismo R E I N H O L D M ES S N E R na sua escalada do monte K2, a segunda montanha mais alta do mundo (tecnicamente mais difícil que o Everest) através de uma rota exigente apelidada de "The Magic Line". Quase uma década depois, a F I L A apresentou a coleção Magic Line, uma interpretação da natureza exigente deste trilho, em artigos de performance de inverno com toque arrojado de estilo. Agora, a F I L A revisita a sua coleção de 1988, relançando a Magic Line como uma coleção de moda enraizada no legado de conquistas da marca. Esta coleção apresenta silhuetas vindas diretamente dos arquivos com detalhes em polar e padrões com uma dinâmica de cor original. Tudo dedicado a um streetwear progressivo, impactante e arrojado.

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PORTUGUES ES EM AMESTERDÃO texto por Liliana Pedro

A Joalharia contemporânea portuguesa marcou presença na Internacional Jewellery Art Fair, em Amesterdão. O evento, que se realizou de 9 a 11 de novembro, reuniu cerca de 150 criadores de mais de 40 países. O nome de Portugal esteve representado por D I O G O DA L LOZ , B RU N O DA RO C H A , S O P RO, A N A B R AG A N ÇA , A N A J OÃO, C EC Í L I A R I B E I RO, J OA N A S A N TO S , M AT E R J E W E L L E RY TA L ES e T E L M A DA DÃO. A PA RQ entrevistou, três destes joalheiros. A experiência vivida na feira e o panorama da joalharia nacional foram os assuntos de destaque da conversa.

ANDREIA QUELHAS LIMA 42 a n o s , J o a l h e i r a

Como é que se sente ao representar Portugal neste grande evento de joalharia e o que é que temos de especial? É com grande satisfação que participamos pela segunda vez nesta feira, juntamente com outras marcas/designers portugueses. Neste tipo de eventos temos a oportunidade de apresentar o nosso trabalho e partilhar um conjunto de ideias com outros criadores internacionais. Nesta feira, como o público é o consumidor final, temos ainda a vantagem do contacto direto. A nossa joalharia tem história, tradição, qualidade, criatividade e design. A conjugação destes fatores aliada à competitividade dos nossos produtos, coloca a joalharia portuguesa em destaque.

TELMA FERREIRA, 37 anos, Arquiteta e designer de jóias A presença de Portugal em eventos internacionais é importante para a Joalharia Portuguesa? A presença em eventos internacionais é importante para qualquer sector de negócio, e a joalharia não é excepção. No caso particular da TelmaDA ainda depreendo mais essa importância por

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se tratar de uma marca com um design arrojado pela formas geométricas e utilização de materiais habitualmente não usados neste segmento. No contexto de joalharia contemporânea, a verdade é que “lá fora” estão 50 anos à frente. O público tem uma mente mais aberta para assimilar novas expressões artísticas, valorizando mais o design do que o material. E a arte é isso. A Sieraad para a TelmaDA foi importante por isso.

31 anos, Designer de produto Como é que olha para o mercado de joalharia nacional? É um mercado difícil de entrar ao inicio, principalmente com coleções contemporâneas e que requer colecções mais consensuais com materiais nobres como a prata e o ouro. Ainda assim, as oportunidades vão surgindo e o mercado vai-se desenvolvendo para a joalharia de autor.


TONYMOLY texto por Sara Silva Chegam os dias mais festivos e, com eles, chegam também as preocupações com a nossa pele, que pede uma maquilhagem mais glamourosa nesta altura do ano. Os produtos TO N Y M O LY vêm para nos socorrer e dar aquele “extra‑glow” à nossa pele, permitindo cuidar a fundo das impurezas e outras imperfeições. Para além de ser uma marca dedicada aos nossos cuidados diários, também, as suas embalagens, fazem com que queiramos comprar tudo! Super em voga, a marca TO N Y M O LY apresenta produtos num formato incrivelmente adorável, cheio de estilo e, claro, sempre com a missão de tratar da nossa pele da forma mais saudável. É caso para dizer que a entrada no novo ano vai ter ainda mais brilho!

BURBERRY HER texto por Sara Silva

INNER GLOW LIP COLOR

A nova fragrância BURBERRY HER é o objeto de referência ideal para quem se identifica a 100% com o espírito aventureiro e vibe londrina. HER é uma verdadeira experiência vibrante, floral e frutada, que reflete a atitude atrevida da mulher. É, sem qualquer dúvida, o espírito britânico num frasco! A fusão das bagas de frutos com o almíscar e o âmbar fazem com que esta combinação seja explosiva e inesquecível.

texto por Sara Silva CH INS IGNIA texto por Sara Silva

Na correria do dia a dia, muitas vezes esquecemo-nos dos cuidados essenciais a ter com a nossa pele, sobretudo na maquilhagem diária. Para nos facilitar a vida, a M A K E U P FACTO RY desenvolveu, a pensar nas nossas necessidades, o batom Inner Glow. Um produto imprescindível na nossa rotina, que nos oferece uma excelente pigmentação de cores variadas, entre os tons mais neutros e os mais intensos, combinando um cuidado intensivo e uma cor brilhante. Agora não há desculpas! Inner Glow é o produto perfeito para um look leve e uma sensação suave e agradável, todos os dias.

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Com o Natal aí à porta, a euforia das prendas e o pensamento habitual do “mas o que é que lhe vou oferecer este ano!?”, é a altura perfeita para fazermos um balanço do que há de novo por aí. No mundo das fragrâncias, por exemplo, há novidades e das boas! CA RO L I N A H E R R E R A lançou recentemente as edições limitadas CH INSIGNIA . Disponível para mulher e homem, YOU MUST WEAR

este perfume é, nada mais nada menos, do que a incorporação de ingredientes de alta qualidade, provenientes do Oriente. E, sendo esta experiência um tributo à sabedoria oriental, o seu conteúdo não poderia ser mais harmonioso. CH INSIGNIA é a fragrância do momento! Um autêntico objeto de desejo, para todos os apreciadores do luxo e elegância.


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01— Fila 02— Puma 03— Reebok

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04— Le Coq Sportif 05— Adidas 06— New Balance

07— Nike 08— Asics 09— Converse x Miley Cyrus YOU MUST BUY

10— Stradivarius 11 + 12— Merrell 13— Palladium


LOEWE SOLO ELLA

perfumesloewe.com


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noNAME noNAME N O N A M E noNAME noNAME SEM NOME, MAS COM ALMA texto por Rui Miguel Abreu FAT I M A H WA RN ER tem falado pouco, mas quando fala, como aconteceu quando recentemente conversou com a norte-americana Fader, demonstra desarmante franqueza e não teme alienar boa parte da sua base de apoio quando explica que muitos dos seus fãs estão equivocados ao olharem para ela como a antítese de CA R D I B : “Não sou. Sou apenas a FAT I M A H ”. A artista que assina NONAME (era NONAME GYPSY até perceber que a comunidade cigana poderia sentir-se ofendida) é de facto diferente porque é única: na aparência de “girl next door” pode ler-se a projecção de uma normalidade invulgar num mundo que já só se encara através de filtros; na resistência à exposição mediática —além de dar poucas entrevistas, NONAME tem presença residual nas redes sociais, não faz vídeos... —será possível entender uma inabalável determinação de fazer o que tem a fazer, mas de acordo com as suas regras, com as suas ideias; e na sua decisão de ser completamente livre, sem depender sequer de qualquer tipo de acordo com alguma plataforma de streaming, como fez o seu camarada CHANCE THE RAPPER, entende-se um respeito desmedido pela sua própria personalidade criativa: “Não me agrada ter que esperar que alguém aprove para onde posso levar a minha ideia”, explicou a RAWIYA KAMEIR da Fader, deixando claro que pagou todas as despesas de produção de Room 25 do seu próprio bolso. N O N A M E mantém-se resolutamente independente porque tem dado passos cautelosos desde que surgiu no mapa da modernidade urbana norte-americana com alguns versos em Acid Rap, trabalho do seu conterrâneo

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C H A N C E T H E R A P P E R , artista que depois permitiu que brilhasse um pouco mais ao convidá-la para Coloring Book . A atenção decorrente desse trabalho deu-lhe amplitude para desenhar uma auspiciosa estreia com Telephone, mixtape de 2016 que a levou para a estrada onde acumulou o suficiente para investir neste Room 25. FATIMAH WARNER foi criada pelos avós em Chicago, donos de um negócio de jardinagem. Foi protegida dos perigos da grande cidade, nunca rendeu na escola, leu muito pouco, quase não escutou músicas enquanto crescia, passava o tempo a ver televisão. Mas algures entre o ter crescido artisticamente em modo isolado e o seu processo de descoberta do mundo, N O N A M E ergueu uma distinta personalidade artística, com uma voz carregada de pequenas nuances de modulação, um bálsamo numa era de grandes vozes que não escondem os superlativos instrumentos com que foram dotadas. Room 25 está, portanto, condenado a figurar em lugares cimeiros de listas que distingam o melhor que 2018 nos ofereceu porque brilha por méritos próprios, sem necessitar de um contexto ou de uma vaga de fundo, sem se apoiar em contribuições de nomes de uma qualquer elite artística, sem surgir embrulhado em grande campanha de marketing, servido por vídeos brilhantes ou carregado por um qualquer poder político urgente, com a força de alguma mensagem que aglutine o mundo. É apenas Noname a dizer quem é, ao que vem, nos seus próprios termos, no seu próprio tempo. E isso é tão precioso. Em 2018 ou em qualquer outra altura.

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theGOODtheBAD&theQUEEN MERRIE LAND theGOODtheBAD&theQUEEN MERRIE LAND theGOODtheBAD&theQUEEN MERRIE LAND

O INCRÍVEL MUNDO DA BRITÂNIA texto por Carlos Alberto Oliveira 34

SOUNDSTATION


theGOODtheBAD&theQUEEN Mais de uma década depois, os THE GOOD, THE BAD & THE QUEEN lançam Merrie Land pela sua editora, a Studio 13 label. Trata-se do segundo disco de originais desta superbanda, que reúne PAUL SIMONON (THE CLASH), TONY ALLEN e SIMON TONG (THE VERVE, BLUR e GORILLAZ). Para a sua produção, os créditos vão para o colaborador de longa data de DAVID BOWIE, TONY VISCONTI, que co-produziu o disco e que colabora inclusive nos coros no single “Gun To The Head”. O disco foi concebido sob o espectro do Brexit, a saída de Inglaterra da União Europeia. De acordo com uma conferência de imprensa, o disco é como se fosse uma carta de despedida de uma era, uma série de observações e reflexões vividas pelos britânicos em 2018, e um hino ao país de hoje, uma Grã-Bretanha que tenta ser inclusiva, mas que vive atualmente numa espécie de crise Anglo-Saxónica. É como se de um fim de uma relação se tratasse, questionando-se o que pode ser salvo. Não é a primeira vez que DAMON ALBARN resgata o quotidiano dos britânicos como sua musa. Já com os BLUR, sobretudo em Modern Life is Rubbish e Parklife, os estilhaços do dia a dia das suas gentes povoavam as canções. Embora as vidas quotidianas dos ingleses sejam retratadas na sua restante discografia, a verdade é que ultimamente ficaram circunspetas aos melindres citadinos da metrópole Londres. A realidade do Reino Unido como um povo, como uma unidade, só voltou a ganhar espaço neste novo disco. E abraça a ancestral britânia com a melodia pop que tão bem arquiteta. A riqueza lírica compõe as canções. Estamos perante um livro aberto. Uma alma desventrada e nua. Como um romance, queremos ouvir e absorver com todos os nossos sentidos. Como tal, mergulha-se numa profunda narrativa em “Merrie Land”, o tema título. E “Gun to the Head”, segue a mesma linha, num registo que se assemelha em tudo à paranóia e ao fantástico mundo de GEORGE ORWELL. Às páginas tantas somos surpreendidos por um krautrock sinfónico em “Nineteen Seventeen”. Os CAN são uma referencia inegável. Por outro lado, quem conhece a obra discográfica de ALBARN, reconhece-lhe o crédito de um mágico capaz de espantar o seu público. Os resgates à rica herança musical da nação estendem-se um pouco por todo o disco. Provavelmente será por isso que “Drifters and Trawlers” evoque uma espécie

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de soul punk que os THE CLASH piscavam o olho de quando em vez. E o folk ganha também aqui uma nova roupagem. As memórias de DAVID BOWIE estão bem presentes em “The Great Fire”, e mais uma vez a sinfonia melódica predomina. A voz ecoa sobre cenários de um filme noir. Os coros cunham o dramatismo que acompanha o storyboard. O cenário está montado para as personagens saltarem para a nossa imaginação. A própria discografia do mentor da banda serve de caldeirão para cozinhar “The Truce Of Twilight”, onde ecoam elementos utilizados sobretudo nos álbuns dos GORILLAZ e até dos BLUR em temas presentes no seu álbum homónimo. O grande momento de descompressão acontece com “Lady Boston”. Em muito, graças ao coro THE CÔR Y PENRHYN, do país de Gales. Uma pausa merecida no carrocel da vida. Um instante par a entr ar luminosidade através do céu cinzento. Um breve momento para respirar. Longe dos ruídos dos dia s alucinados consumidos no quotidiano, que não permitem ouvir os nossos pensamentos. Provavelmente o elemento mais difícil e complexo do disco reside no tema “The Last man to leave”, devido aos órgãos fantasmagóricos e para os arranjos à la orquestra circense decadente, não descurando o recurso ao spoken word. O cenário é como se tratasse de um maestro de cerimónia a evacuar um teatro prestes a ruir. “The Poison Tree”, a derradeira canção de despedida, encerra as hostes do disco. Não sem antes lançar uma esperança de que talvez não seja um fim, mas sim um novo começo. Não há como escapar à retórica, mas a verdade é que com o passar to tempo tudo se encaixa novamente nos trilhos. Merrie Land é um carrocel introspetivo do quotidiano de uma nação, expondo a sua ansiedade sobre um futuro incerto. Analisa e confronta um passado nem sempre glorioso, evidenciando aqui e ali as suas fraquezas e dif iculdades, com um melancólico saudosismo. E levanta questões sobre o seu futuro. Perspetiva-se uma nova vida com uma hesitante expetativa, deambulando entre uma esperança luminosa e uma amarga melancolia. A dúvida sobre o futuro instala-se, mas é preciso dar um passo ao seu encontro.

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atelierBOW-WOW atelierBOW-WOW BOW-WOWatelier BOW-WOWatelier atelierBOW-WOW atelierBOW-WOW BOW-WOWatelier BOW-WOWatelier atelierBOW-WOW atelierBOW-WOW BOW-WOWatelier BOW-WOWatelier atelierBOW-WOW atelierBOW-WOW t exto por Paula Melâneo

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A Trienal de Arquitectura de Lisboa trouxe à capital YOSHIHARU T S U K A M OTO, fundador do atelier B OW-WOW com M O M OYO K A I J I M A , durante o ciclo de conferências internacionais Distância Crítica, que intercala cada edição da Trienal. Este atelier japonês, criado em Tóquio em 1992, desmultiplica o seu trabalho de arquitectura entre construção de edifícios, pesquisa e intervenções artísticas. Grande parte da sua produção é inspirada na realidade urbana das grandes metrópoles, em particular da cidade Tóquio: densamente povoadas, com pouco espaço disponível e a preços de metro quadrado astronómicos. Nas suas pesquisas sobre a paisagem urbana têm feito o levantamento de situações singulares de ocupação, que levou à publicação de guias de arquitectura. Por exemplo em “Made in Tokyo” listam-se exemplos pouco comuns da utilização do espaço ou o cruzamento de programas improváveis, derivados dessa escassez de terrenos na capital japonesa, como centros comerciais em baixo de viadutos ou linhas férreas, cemitérios atravessados por túneis ou uma escola de condução de super-carros na cobertura de uma grande superfície comercial. Outro guia é “Pet Architecture”, onde são retratadas “micro-arquitecturas”, pequenos edifícios que preenchem espaços reduzidos na cidade e são alvo de personalizações pelos utilizadores. Na obra construída do atelier B O W - W O W destacam-se também as ocupações desses reduzidos lotes, tipicamente estreitos e longos. São uma nova geração de “Machiya” (casa de cidade), inspirada nas tradicionais moradias citadinas e toma a forma de edifícios de pequenas dimensões em que os espaços habitacionais se distribuem por vários pisos, dentro de uma filosofia asiática de apropriação, caracterizada pelo minimalismo e a efemeridade. Por vezes integram pequenos pátios, oferecendo uma área exterior privada e aumentando a qualidade do espaço interior, com luz natural e um pouco de verde. Os desenhos que produzem para documentar os seus projectos são característicos, graficamente muito elaborados, onde cortes e plantas perspectivados revelam a potencial ocupação dos espaços. Actualmente têm igualmente projectos, de menor ou de maior escala, realizados fora do Japão, como nos EUA, na Bélgica, na Dinamarca ou em França. O espaço público, e a sua capacidade relacional, é outro tema amplamente pensado pelo atelier. Em diversas intervenções artísticas têm explorado o que definem como “micro espaço público” (onde, para além de pequeno, micro significa também individual), recriando os encontros e os comportamentos que ocorrem na cidade, incentivando a participação e activação do espaço comum. Exemplo disso foi “Furnicycle”, o trabalho apresentado na Bienal de Xangai em 2012, onde a funcionalidade de bicicleta se cruzava com o mobiliário (bicicleta-mesa ou bicicleta-banco) criando novos objectos para a socialização no espaço público. Mas mais do que os próprios objectos, as suas intervenções pretendem originar situações ou processos que resultem na reunião informal dos utilizadores, dando lugar a que as pessoas se apropriem e adaptem os espaços. Nas palavras de T S U K A M OTO : "O espaço público de menor dimensão poderá ser aquele para apenas uma pessoa". Mais recentemente apresentaram “Piranesi Circus” na Bienal de Arquitectura de Chicago 2015, e participaram na Bienal de Arquitectura de Veneza 2016 com “The Timber Network”.

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Esta foi a última conferência de Distância Crítica, aguardamos agora a próxima edição da Trienal que tem o tema “A Poética da Razão” e irá acontecer entre 3 de Outubro e 2 de Dezembro de 2019.

ARQUITECTURA


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JAPÃO


O Japão pode não ser um destino na bucket list de todos, mas está presente, com certeza, no imaginário de cada um. Seja pelos desenhos animados que acompanharam a geração dos anos 90 —Dragon Ball, Navegantes da Lua , Doraemon—, seja pelo catálogo de Anime pelo qual passamos hoje os olhos na Netflix, seja pelo sushi que comemos ao fim de semana, ou pelos filmes que imortalizaram este país a mais de dez horas de distância de Portugal. Após várias horas de viagem, o jet lag marca a chegada ao Oriente. As oito horas de diferença horária não perdoam as pálpebras, que começam a pesar logo à saída do aeroporto —afinal, a nossa cabeça ainda vai na madrugada enquanto no Japão já é outro dia. Perdemo-nos no trânsito a caminho de Tóquio, e absorvemos pela primeira vez, com os olhos entreabertos, o urbanismo japonês. Onde estão os arranha-céus? Fora do centro e das grandes avenidas, os prédios são baixos, as casas são minimalistas e, sendo esta uma capital com 14 milhões de pessoas, a arquitetura das habitações é simples, compacta e tradicional. Há casas que nem percebemos que são casas. Há restaurantes que nem sabemos que são restaurantes —e não saber ler Kanji (os caracteres japoneses) também não ajuda. O choque cultural é suave, é uma ode ao célebre slogan censurado de Fernando Pessoa: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Durante o dia a cidade vive em azáfama, as estradas são largas e as passadeiras compridas, e há tantos peões quanto bicicletas. Entrar num supermercado é uma experiência por si só. Há frutas que nunca vimos e outras hiperbolizadas em tamanho (as uvas são gigantes!). Há snacks curiosos e doces calóricos, como em qualquer parte do mundo, mas com a singularidade de aqui alguns sabores serem mesmo estranhos. Não resistimos a empilhar nos braços sacos e sacos de KitKat —aparentemente, uma obsessão dos japoneses no que toca a chocolates. São sabores que nunca vimos à venda do nosso lado do mundo e podia ficar aqui por duas páginas a descrevê-los. Mas, afinal, o que comem os japoneses? Sushi? Sim —mas, surpreendentemente ou não, o sushi parece ser underrated no Japão (esta perceção é provavelmente o resultado do quão overrated é na Europa). E depois de visitar vários supermercados, lojas de conveniência e mercados de rua, concluímos que os japoneses adoram frango frito, carne e peixe grelhados no carvão (sempre com quantidades injustificáveis, mas deliciosas, de molho) e, claro, ramen, muito ramen, ramen em todo o lado e a qualquer hora. E pedir uma refeição sem falar japonês é uma experiência que nos faz compreender o poder da linguagem gestual e a sorte que temos de alguém ter inventado menus com imagens. Quando a noite cai, enquanto as zonas residenciais adormecem sob o breu, o centro ganha uma vida nocturna que encandeia os olhos. Néon, luzes, ecrãs, billboards. A quantidade exponencial de informação visual que o nosso córtex recebe —e a forma lenta e confusa como tenta processá-la— faz-nos compreender o verdadeiro significado de estar em Tóquio. Mas, no meio de tanto estímulo imagético e de tanta hipérbole visual e sonora, a essência cultural japonesa perde-se, dissipa-se. Caracterizados pela simpatia e boa educação, fazem tantas vénias quantas são as palavras que dizem, tentam ajudar o turista perdido sem falar outra língua senão o japonês, e vivem vidas socialmente organizadas —andando do lado certo da rua, descendo do lado certo das escadas, fazendo uma fila do lado certo da plataforma. Mas, se olharmos através de uma lupa, encontramos a desorganização na esfera pessoal de cada um. Acorrentados à tecnologia, perdidos na sua individualidade. É uma sensação estranha essa, a de ser tão bem-recebido num país com uma cultura e língua completamente diferentes, onde não é só o significado das palavras que se perde na tradução, como também as ligações emocionais.

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texto por Joana Teixeira fotos por João Padinha @joaopadinha

LOST IN LONGING No Verão de 2018, J OÃO PA D I N H A decidiu, de um dia para o outro, viajar sozinho para o Japão. Tóquio fê-lo perceber que quanto maior a cidade, maior é o sentimento de solidão. Maior é a expressão ansiosa de quem procura um porto seguro. A fotografia analógica entra em campo por querer explorar fora da sua zona de conforto. “No digital deixamos, muitas vezes, de nos preocupar com certos aspetos como o ângulo e a luz, por haver maior espaço de experimentação —o que nos leva a fotografar continuamente até uma imagem servir. No analógico tem de haver um certo cuidado, não existem disparos contínuos nem ecrã para saber como ficou.” Inspirado no trabalho de SA R A H BA H BA H e WO N G K A R -WA I , utilizou a imagem analógica —muitas vezes descuidada e amadora— para retratar situações que geram ansiedade, fazendo lembrar stills de filmes antigos onde as cores fortes e garridas são uma constante. E, assim, partilhou a sua visão de Tóquio com a PA RQ.

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Berlin Q Berlin Q Berlin Q Berlin Q Berlin Q Berlin Q Berlin QPARAUMQUESTIONAR CONVITE Berlin Q O que constitui um bom governo em tempos de agitação política? Como o ciberespaço se pode tornar um ambiente respeitoso? Como pode uma sociedade livre ser alcançada ou defendida? Como a engenharia genética mudará a nossa sociedade? Estas são questões essenciais que todos devemos abordar. A conferência Q Berlin Questions deu o primeiro passo. O ambiente é particularmente sombrio no antigo complexo industrial. O painel de oradores está preparado. Câmaras, luzes, som —as tecnologias estão ao nível de uma grande produção. Estas ultrapassam mesmo alguns dos melhores concertos da atualidade. Mas desta vez a transmissão é mesmo só para a Internet. Estamos no coffee break. Tempo para o público, claramente privilegiado e composto maioritariamente por empresários alemães de poupa e estilo reconhecidamente M Ü N C H N E R (Google it), que pagou bem pelo evento, confraternizar. Exceção para a imprensa e a guest list dos oradores. Mais de 500 convidados provenientes de todo o mundo, especialistas em diversas áreas, juntaram-se a 15 de Dezembro para discutir temas essenciais —justiça social e económica, progresso técnico, ética e identidade cultural.

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O currículo dos oradores era brilhante a a sua diversidade fora do habitual. Entre eles contavam-se N I G H AT DA D, diretora da Digital Rights Foundation no Paquistão, S T Y L I C H A R A L A M B O U S , editor da plataforma de notícias online sul-africana independente Daily Maverick, C H A D S A N D E R S , com a Google e uma série com S P I K E L E E no currículo, I VA N L A M L O N G -Y I N , líder estudantil e o presidente do partido pró-democrático Demosistō de Hong Kong e V I C E N T E F OX , ex-presidente do México e um dos mais ferozes críticos do presidente Trump. “Berlim é uma cidade de liberdade e tolerância, que, nestes tempos, a torna o local ideal para discutir os maiores desafios que a sociedade enfrenta. Pela segunda vez, convidámos algumas das melhores e mais corajosas mentes do mundo para nossa cidade”, disse B U R K H A R D K I E K E R , diretor administrativo da visitBerlin, a organização do evento. Todos concordaram que não sabemos o que vem aí, mas que o presente assenta numa mudança tectónica. A revolução digital, que afirmam que está ainda no início, será tão ou mais significante como o evento da criação da imprensa. Mas, como devemos abordar estas mudanças radicais na sociedade?

SOCIEDADE


DA N I E L D O M S C H E I T- B E RG é um ativista alemão, especialista em segurança de TI e defensor da transparência. Com JULIAN AS S A N G E , ele ajudou a construir a plataforma WikiLeaks e representou a organização como porta-voz. O alemão está hoje envolvido em vários projetos na Internet relacionados com privacidade e anonimato, além de promover a descentralização das suas infraestruturas. Em Brandenburg rural, ele ensina crianças sobre eletrônica e tecnologia e cultiva vegetais num jardim partilhado. No passado, além de escrever o livro “Inside WikiLeaks” D O M S C H E I T‑ B E RG trabalhou para várias empresas da Fortune 500. Ele desafiou a audiência a imaginar que teríamos nascido há 600 anos, numa cidade a algumas centenas de quilómetros a sul de Berlim. O privilégio que hoje tomamos como garantido —ler e escrever— não era para todos, mas apenas para uma pequena percentagem da civilização. Teríamos de ter nascido na família certa (a maioria estaria excluída desse grupo) ou juntarmo-nos a um mosteiro ou grupo religioso específico (a maioria também não iria dar esse passo) para aceder a essas atividades. Claro que para o sexo feminino a possibilidade seria ínfima. Como consequência, esses poucos privilegiados tiveram a chance de escolher o que devia constituir a civilização e o que seria valorizado. A estas se juntou rapidamente a capacidade de enriquecer. Na cidade de Wittenberg foi então produzida uma máquina capaz de imprimir livros através do que chamaríamos hoje de uma campanha de crowdfunding. Este excerto da história coincide com a atualidade no que diz respeito ao desenvolvimento de uma sociedade que, num curto espaço de tempo, teve acesso a grandes quantidades de informação. E, segundo D O M S C H E I T- B E R G , sempre que há uma revolução de comunicação segue-se, normalmente, uma revolução de poder. Mas hoje, ao fazermos parte de uma sociedade em definição, temos a oportunidade de observarmos e intervirmos no seu potencial. E continuou, “se todos trabalharmos juntos para que estas inovações atinjam o seu potencial para o ser humano, em vez de o manifestar capital apenas para algumas empresas que hoje são muito mais poderosas do que qualquer coisa que já tenha existido, podemos beneficiar a todos”. C H A D S A N D E R S transmitiu, no geral, o mesmo convite á acção. O "black entrepreneur", como se define, é a estrela em ascensão multi-hifenizada da nova série que S PIKE L EE irá produzir. O programa, intitulado "Archer", é uma comédia e thriller sociológico que captura a vida de um génio e iconoclasta afro-americano de 20 e poucos anos que mora em Brooklyn e que desenvolveu uma aplicação de encontros com leitura de química sexual. O personagem central é descrito como um “young black M A RK Z UCK ERB ERG", e a história vai viajar entre Nova York, Silicon Valley e Berlim. Antes de ser comprado pelo diretor de “Do The Right Thing”, S A N D E R S tentou vender a série que a escreveu umas dezenas de empresas que, em geral, lhe disseram que o plot era muito irreal e que chegaram a propôr que a personagem principal não fosse afro-americana. “Mas vocês têm um programa com uma mulher que dá á luz dragões”, retorquiu, “não podemos antes substituí-lo por um dragão?”. O projeto é vagamente baseado na vida de S A N D E R S , um empreendedor de tecnologia que anteriormente foi sócio na Dev Bootcamp, uma escola intensiva de codificação que acabou por ser vendida para a Kaplan por milhões de dígitos. S A N D E R S passou os primeiros quatro anos de sua carreira na Google. Ele fundou recentemente a agência de desenvolvimento de negócios Archer Genius Management, que é a base para o título da série. Tal como D O M S C H E I T- B E RG , que abandonou a WikiLeaks devido ao desencanto com a forma como a empresa era gerida, S A N D E R S , contou como o estilo popularmente descontraído da empresa-monopólio, a que chama de Moo-gle, e o seu slogan “bring yourself to work”, com calções cargo e hoodies, são apenas uma substituição para o fato e gravata tradicionais, e como se

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cansou de ver os seus colegas a serem promovidos quando faziam metade do seu trabalho. O conhecimento tornou-se móvel. Quem tem um smartphone carrega consigo todo a sabedoria a que a nossa civilização já teve acesso. Esta é uma grande chance, a de estes aparelhos estarem todos ligados. Hoje, o homem mais rico do mundo está a cerca de cinco segundos de separação da mulher mais pobre do planeta. Nunca estivemos, como espécie, tão perto uns dos outros e é realmente fundamental estarmos em contacto. É essencial falarmos sobre diferenças culturais e encontrarmos pontos em comum, e descobrirmos onde nós, como espécie, queremos ir. Mas para isso é essencial que todos nós sejamos parte da conversa. Esse era o desafio que DA N I E L D O M S C H E I T‑ B E RG colocava Ao contrário de outras conferências, o Q Berlin Questions abrangeu toda a cidade, trocando o seu cenário cinza pelo cinza da capital e transformando Berlim em mais um palco. As excursões guiadas tiveram lugar após as discussões e levaram os participantes a instituições e projectos de envolvimento cívico que lidam com os tópicos discutidos no Q. Entre eles contaram-se o Connect Women, um projetco da Terre de Femmes para apoiar refugiadas do sexo feminino após a sua chegada a Berlim e a Flussbad Berlin eV., uma sociedade dedicada a transformar o canal Spree.

texto por Diana Nóbrega

SOCIEDADE

Berlin Q Berlin Q Berlin Q Berlin Q


Senhor Doutor Sr. Dr. Sr. Dr. Sr. Dr. A saúde da música vai bem, dá sinais de vida, respira ar fresco e felizmente parece estar tudo bem. Mas foi exatamente por esse motivo que fomos falar com o SENHOR DOUTOR. Não precisamos de receitas, nem de um atestado, não precisamos de fazer exames para saber que os batimentos estão bons e que a continuarmos assim vamos ter cada vez mais qualidade de vida musical. Contudo, queríamos saber o que o pensa o SENHOR DOUTOR sobre a música que se faz em Portugal, assim como queríamos mais informações sobre este projeto que se diferencia dos cantores, autores e bandas portugueses que conhecemos de hoje em dia. Com uma “escola da vida” e com letras que nos apresentam personagens inspirados em pessoas do nosso quotidiano —e não digam que não— tem uma opinião sobre a vida de cada um e faz um relato da mesma. Este personagem S E N H O R D O U TO R é médico de doenças já curadas, ele é engenheiro para quem tudo se resolve com um reiniciar de computador, ele é arquiteto de mesa de cabeceira, ele é um especialista em quase nada, no entanto, é o típico campeão de matraquilhos da sua rua, a personagem mais bem-afamada entre os seus amigos da missa de domingo. Finalmente descobrimos o verdadeiro talento deste S EN HO R D O U TO R , a música. Não acreditam? É ouvirem. Por agora ficam com um prognóstico.

P:  O S E N H O R D O U TO R é uma personagem criada e pensada. Desde a forma de vestir, seja pela forma de cantar, assim como pelas letras que contam histórias sobre a vida de alguns personagens. Tem uma estética muito própria e seja no videoclipe de “Miguel”, como na roupa que usa e pela sonoridade, é muito conceptual. As músicas do S EN HOR D O U TO R são um relato sobre a vida de alguém. Como surgiu a ideia para este projeto? Como foi feita a “construção” do S E N H O R D O U TO R? SrD:  O S E N H O R D O U TO R surgiu, antes de mais, pela música que foi criada e que não cabia na estética de outros projetos onde tocava, na altura os P I N TO F E R R E I R A . Como músico, sempre me cativou pensar uma narrativa em redor da banda, do personagem, das músicas. Para mim, essa componente, quase que “romântica”, é bastante importante. Neste caso, com o S E N H O R D O U TO R , o tom burlesco de algumas músicas, aliado a algumas letras, criou uma personagem “dândi”, mas manchada de nódoas, deixadas pela inevitável natureza que o criou. “Senhor

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Doutor” é uma expressão com peso. Desde sempre que me lembro de ter uma carga imediata na postura dos outros. “Ah sim, senhor Doutor. Com certeza, Senhor Doutor.” Ninguém ousa questionar um “D” e um “R” em consonância, mesmo que seja um título fictício. O S E N H O R D O U TO R é um jogador, um “bluffer”, que vai a jogo mesmo com uma mão tremendamente baixa. É a personificação da “fina flor do entulho”. É aquela pessoa que não sabe dimensionar-se, não sabendo a sorte que a inconsciência acarreta. Alguém que é esperto demais para o meio onde nasceu, mas fraco em demasia para sair dele. No entanto, ali, é um S E N H O R D O U T O R e exige ser tratado como tal. P:  O público é cada vez mais exigente e voraz, o que levou á saturação de alguns géneros musicais, o revisitar de outros e ainda a criação/exploração de outros géneros. Acredita que a música portuguesa que hoje é ouvida por um público mais jovem, é apenas uma moda? SrD:  As músicas são sempre fruto do seu tempo. Seja de uma forma melódica, por algo que esteja a ser mais usado no momento, seja nas letras e temas que a completam. Daí se exigir aos artistas a capacidade de se reinventarem, por mais que a sua música seja boa. Verdade é, que uma música boa é sempre uma boa música, seja hoje, seja num futuro próximo, ou mais longínquo. No entanto, este é também um exercício interessante para os músicos. Cada vez mais existe uma relação estreita entre os artistas e o consumidor da nossa arte. Claro está, que o objetivo não é fazer música da moda, unicamente porque existe alguém a fazê-la e porque é um produto testado e comprovado em alguma parte do mundo. No entanto, temos de

MÚSICA


ir ao encontro do que o público quer ouvir, tendo também a obrigação de nos tornarmos distintos dentro deste panorama. Para mim, essa é a melhor parte da capacidade de reinvenção de um músico. Reconheço que a mesma nem sempre é fácil. Mas é um desafio por demais interessante. Quanto ao facto de ser uma moda, o que se ouve hoje, acredito que existem artistas no panorama nacional que se vão fazer ouvir daqui por décadas, tal como ouvimos muitos dos nomes do “El Dorado” da música portuguesa e, dos quais continuamos a gostar e continuam a influenciar o nosso trabalho. P:  O S E N H O R D O U TO R tem uma linguagem simples, direta. Com letras facilmente compreendidas e que contam histórias. Nomes como D E S P E E S I G A , F Ú R I A D O AÇ Ú CA R são responsáveis por músicas portuguesas que em português contavam histórias com um cunho de humor, tinham facilidade em ficar no ouvido e criar impacto, atualmente ainda são ouvidas e muitos sabem as letras de cor, uns porque são de esse tempo e assistiram ao fenómeno na altura, outros mais jovens conheceram estas músicas mais recentemente através de festas, onde os revivalismos musicais e a cultura vintage ganham popularidade. Qual a sua opinião? Daqui a 30 anos vamos ouvir as músicas que hoje o S E N H O R D O U TO R canta? SrD:  Eu tenho um plano rígido para a educação daqui por 30 anos. Criar salas, onde as crianças estarão amarradas às cadeiras e forçadas a ouvir os meus temas, como consequência de um mau comportamento. Podemos alargar isto também para lares de idosos e estabelecimentos prisionais. Brincadeira, claro! Eu gostaria de pensar que sim, no entanto, sei que estes temas apenas não morrerão, caso eu mesmo tenha a capacidade de, daqui por 30 anos, fazer temas novos e que nessa altura façam sentido. Só desta forma, quem estiver cá, nessa altura, poderá dizer o que pensa do S E N H O R D O U TO R , ou criar um silêncio constrangedor em redor dessa mesma questão. Aplicando um tom mais sério, não ousaria pensar em tornar-me num mito. É natural! É fruto do tempo rápido que vivemos. Mas sim, gostava imenso de ter a energia suficiente para continuar a fazer música e a escrever letras que se assumam como atuais daqui por 30 anos e não ficar preso num determinado período. Mas para isso, inúmeras são as variáveis que terão de se alinhar. P:  O S E N H O R D O U TO R é empático. O público diverte-se a ouvir as letras e gosta da música que é tocada. O que é que as pessoas ainda não sabem sobre o S E N H O R D O U TO R? E o que é que podem esperar? SrD:  O que não sabem, não podem saber, caso contrário teria de vos matar! Existem verdades constrangedoras e meias verdades, um pouco mais ainda. Se o meu lema é “mais vale parecer, do que ser”, não me posso expor tão perigosamente. Na verdade, eu adoro criar uma empatia com o público. Nem sairia minimamente contente de um concerto, se não ouvir risos, se não sentir que o público está completamente dentro da música, dentro da letra. Esse é o meu maior objetivo, quando vou tocar. Muitas das vezes nem o engano importa. Aliás, o engano até torna o concerto mais bonito, mais orgânico. Importa sim, que o público esteja comigo nos temas, que cante os refrões quando é suposto, que se dê um relacionamento e que se apaixonem ambas as partes. Isso é o mais bonito nos concertos. P:  Preconceitos á parte. O SENHOR DOUTOR é uma personagem que é caricata, as letras das suas canções contam histórias que nos fazem rir. No entanto, está num patamar que é música. As pessoas riem e divertem-se com o SENHOR DOUTOR, mas não existe “um gozo” ao SENHOR DOUTOR como

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acontece a certas pessoas que cantam em português, com letras que ficam no ouvido e quase que servem “exclusivamente” como alvo de chacota. Gozam de certa popularidade em determinado tempo, por se considerar um mau produto e acima de tudo um “produto gozável”. Exemplo: MARIA LEAL. Isto não acontece ao SENHOR DOUTOR que criou um personagem propositadamente, mas que, no entanto, tem-se afirmado e é levado a sério. Muito conceptual, mas num patamar acima, faz música. Para além da parte da música do SENHOR DOUTOR ser genuinamente boa. Como expectador desses “fenómenos”, porque é que acha que isto acontece periodicamente na música portuguesa? Como é que o SENHOR DOUTOR consegue ser levado a sério? SrD:  Eu acho que isto se prende, na sua maioria, com o propósito do projeto e da música que o mesmo representa. Quem faz uma determinada música, a certa altura terá de a defender, dentro do panorama em que ela vai, inevitavelmente, cair. Eu defendo a minha desta forma. Sim, é verdade que existem estórias de personagens caricatas, existem relatos de desamores lavados a “baba e ranho”, um rapaz que se apaixona por um “dia da semana”, mas, confesso que o humor de certas letras é, apenas, uma forma de tentar chegar a algo mais sério, mais pensado. E fico feliz que esta componente se compreenda, pois, cada vez mais, não me faz sentido dissociar a minha música da escrita que a acompanha. P:  Acha que existem preconceitos dentro da música portuguesa? Seja do público ou entre artistas? SrD:  Isso tende a desaparecer. Acredito que a exigência do público de hoje, também tenha contribuído para que qualquer “extravagância” do artista, seja ela, também, mais facilmente compreendida. Quanto a preconceito entre os artistas, não me faz sentido. Podemos, certamente identificarmo-nos mais, ou menos, com o trabalho de alguém, mas termos uma atitude de preconceito para com determinado trabalho, é igualmente expor o nosso ao preconceito. P:  Qual a sua opinião sobre a popularidade da música portuguesa nos dias de hoje? SrD:  A música portuguesa vive uma época fantástica. Seja cantada na nossa língua, seja cantada noutra, ou não seja cantada, de todo, a verdade é que vivemos um tempo de composição, como há muito não testemunhávamos. Os músicos estão mais atentos. Também nós somos consumidores diários de música, também nós lemos, também nós somos frutos de uma globalização que nos torna comuns e frutos de entidade cultural que nos distingue. É um misto de equilíbrio e desequilíbrio entre estas variáveis, que irá contribuir para que os temas sejam mais ricos e a música e mensagens subjacentes, sejam mais fortes e contributivas. Depois desta “consulta” ficámos a saber que o S E N H O R D O U TO R é educado, não tem medo de partilhar as suas opiniões (assim como se pode perceber pelas letras que canta). Para quem ainda não ouviu e vai ouvir pela primeira vez o tema “Miguel”, asseguro-vos que é impossível ficar indiferente. Por aqui, acreditamos que o S EN H O R D O U TO R padece de um caso sério de sucesso que todos nós vamos poder testemunhar. Os nossos agradecimentos e continuação de sucesso ao JORGE e a toda a equipa da Vachier & Associados.

MÚSICA

texto por Patrícia César Vicente


WALK IN THE PARK fotos por N U N O V I E I R A styling por A N A B E AT R I Z A LV ES hair por B E AT R I Z T E X U G O modelos A N N A - L I S A and M A RYA N A (Just Models) styling assistant M A R I A PA I S A N A special thanks to TO U G H LU C K

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Mariana: casaco FOREVER 21, ténis MERRELL RUNNING Anna: pólo DOCKERS, calças SARA MAIA, ténis MERRELL RUNNING

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↑ Mariana: conjunto azul SARA MAIA, camisa LEVIS Anna: top COS

↑→ Mariana: sweetshirt TOMMY HILFIGER, calças COS, ténis MERRELL Anna: t-shirt SELVA in OUTTOLUCH LISBON

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↑ ↑ Mariana: Mariana: conjunto azul SARA MAIA, camisa LEVIS, top CONSTANCA ENTRUDO, long sleeve BORN AUTHENTIC, brincos STYLIST´S OWN calças BORN AUTHENTIC, sapatos CROCS ↓ Mariana: conjunto BORN AUTHENTIC, cap NEW ERA, botas DR. MARTENS. Anna: vestido COS Fotógrafo convidado, italiano, vegan, usa mochila SCOTCH & SODA

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Mariana: casaco SARA MAIA, calรงas DOCKERS, sapatos BIRKENSTOCK Anna: t-shirt VOLCOM, jeans LEVIS, cachecol REALITY STUDIO in OUTTOLUCH LISBON

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Mariana: casaco e calรงas SARA MAIA Anna: t-shirt VOLCOM, calรงas vintage in CHICLETE PORTO, sapatos PALLADIUM

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Mariana: knitwear SCOTCH & SODA, calças STYLIST´s OWN, botas MERRELL

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Anna: top CONSTANร A ENTRUDO, calรงas SARA MAIA, sapatos CROCS

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Mariana: “Get together shirt” STYLIST´s OWN, jeans LEVIS , sapatos PALLADIUM Anna: long sleeve VOLCOM, calças vintage DICKIES in CHICLETE PORTO, sapatos PALLADIUM

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Anna: t-shirt VOLCOM, calções CONSTAÇA ENTRUDO, botas MERRELL

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“Man is least himself when he talks in his own person. Give him a mask, and he will tell you the truth.” Oscar Wilde

fotos por F R E D E R I C O S A N TO S styling por P E D RO A PA R Í C I O make-up por S A N D R A A LV ES ilustrações por M A FA L DA F I A L H O assistante de fotografia P E D RO M O U R A S I M ÃO styling assistant CA R LOTA B OT E L H O modelos B E R N A R D O CAS CA I S (L'Agence) YA K I V (Just Models)

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← blazer INÊS TORCATO, colares CAIO MAHIN

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↑ casaco e camiseiro INÊS TORCATO, ténis CONVERSE, colar PEDRO SEQUEIRA


↑ colares PEDRO SEQUEIRA

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↑ gola NAIR XAVIER, polo FRED PERRY x RAF SIMONS, saia BY MALENE BIRGER, botas DR. MARTENS

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↑ camisola FRED PERRY, casaco INÊS TORCATO

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↑ trainer e camisola FRED PERRY, blazer INÊS TORCATO

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↑ bomber e Sweat LACOSTE, calções NYCOLE BRAND, botas ERMENEGILDO ZEGNA

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↑ camisas BARBOUR, ténis CONVERSE, meias WEST MISTER

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MAS S IMO DUT TI texto por Francisco Vaz Fernandes

MASSIMO DUT TI Avenida da Liberdade, 193 Lisboa

A Avenida da Liberdade, em Lisboa, acolhe a mais recente loja M AS S I M O D U T T I que nasce num edifício histórico no coração da capital portuguesa. Para trazer ao nível de luxo, a experiência de loja, a I N D I T E X contou com a colaboração de L Á Z A RO RO S A -V I O L Á N , um designer de interiores espanhol conhecido em Portugal pelos decores criados para J N C Q U O I , que se encontra do do outro lado da avenida. Para o novo projeto optou por criar um ambiente eclético de um típico palacete do século XIX apresentando várias atmosferas densas e ricas em detalhes que acomodam, as

coleções de mulher na cave e piso térreo estando reservado o andar superior às coleções de homem, que contém uma área exclusiva de Personal Tailoring. Os acessórios não foram esquecidos e têm morada garantida na antiga torre da casa, enquanto a perfumaria ocupa a antiga cozinha. Junto às caixas há um espaço reservado para livros de design e moda que resultam de uma colaboração com a editora alemã Taschen. Nas traseiras foi recuperado um pequeno jardim criado por J ES U S M O R A I N E que futuramente terá uma cafetaria adjacente.

STEVE MADDEN

Steve Madden, famoso designer de sapatos e acessórios para mulher e homem, abriu no passado mês de Julho a primeira loja em Portugal, na Rua D. Pedro 93-95, no Príncipe Real, em Lisboa. Estabelecida em Nova Iorque, hoje está presente em 80 países com mais de 330 lojas em todo o mundo, Lisboa junta-se agora a esta grande família. Steve Madden tem apostado na evolução da marca traçando um caminho único no mundo da moda internacional, inspirando-se no pulsar das grandes metrópoles, no estilo urbano e no rock & roll: “O que me inspira é ver o que as pessoas usam nas ruas de Nova Iorque a Londres. Caminhar e sentir o asfalto em todo o mundo é a minha inspiração”. Selena Gomes, Katy Perry, Lady Gaga, Rihanna, Taylor Swift, Becky G ou Kate Moss são algumas das celebridades que habitualmente escolhem as suas criações para os seus looks da passadeira vermelha e do dia a dia.

texto por Maria São Miguel

STEVE MADDEN Rua D. Pedro V, 93 Principe Real – Lisboa

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PARQ HERE


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PARQ HERE


QUORUM

QU O R U M Rua do Alecrim 30B, Chiado, Lisboa

Desde Junho, o restaurante Q UO RU M no Chiado passou a estar entregue à equipa do Chef TIAGO S ANTOS que trouxe para esta mesa da capital, um país inteiro. O projeto do jovem geógrafo que trocou uma carreira universitária pela cozinha, passa por resgatar muita da cozinha tradicional portuguesa, indo ao encontro dos processos e sabores que sobrevivem em lugares recônditos, trazendo-os para o patamar da cozinha contemporânea. Depois de uma passagem pela Universidade de Harvard, onde se formaria em ciência e cozinha, palmear o nosso país na descoberta da sua riqueza e diversidade culinária, foi como uma necessidade para voltar a respirar. Nestes momentos, sente que é o ainda geógrafo que há em si a falar mais alto. Nesse sentido, o Chef T I AGO S A N TOS procura que todo o seu conhecimento técnico global adquirido se coloque ao serviço dos nossos sabores e tradições, potenciando-os. Ou seja, quando provamos, uns raviolis de camarão rosa da costa, mergulhados um caldo de um cozido português, ainda que os ácidos dos enchidos sobressaem, somos transportados para sabores do Japão, suscitando-nos dúvidas e desafios que, no final de contas, apenas espevitam o nosso interesse pelos nossos sabores mais profundos.

Ter. 19h30 → 23h30 Qua. → Dom. 12h30 → 15h e das 19h30 → 23h30 Encerra à Seg.

O Q U O R U M tem uma carta semanal que é constituída por duas entradas (12 euros), dois pratos principais (28 euros) e duas sobremesas (9 euros).

texto por Francisco Vaz Fernandes

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PARQ HERE

Há ainda um serviço de degustação, com cinco momentos: Mar Português (49 euros); e outro com 7 momentos: Viagem a Portugal (69 euros) que pode ser acompanhado por várias listas de harmonizações de vinhos com diferentes preços. Optamos pela Viagem a Portugal, fomos logo surpreendidos de início por um pão com chouriço, que na verdade era um pequeno invólucro de massa fina que levado à boca se desmanchava, soltando todos os sucos inerentes a um enchido. Um efeito surpresa que, imediatamente foi ultrapassada pelo ovo de tomatada. Uma pequena gema de ovo solitária que em três colheradas nos remeteu para o Alentejo mais profundo. Ficámos de imediato impressionados pela destreza técnica exigida em conseguir manter o aspeto insuspeito de uma gema do ovo, que na verdade, depois de sugada, é substituída pelo líquido da tomatada. É ainda de referir uma das sobremesas, a Laranja dos Pobres , receita oriunda do Alentejo, onde as laranjas eram amargas e como tal, eram consumidas com azeite e mel para se poderem comparar em doçura às do Algarve. Nesta sobremesa, o Chef retoma a tradição, resgatando o fio generoso de azeite, mas recria-a, segundo as regras de uma cozinha contemporânea. São gestos de grandiosidade cultural como estes, onde o local se pensa no global, que trazem diversidade criativa à gastronomia do Chef T I AGO S A N TOS , proporcionando-nos uma experiência inesquecível.


women´s

38. 712511 Lat, -9.139364 Long

MerrellPortugal

Merrell.pt

Icepack Polar


Men´s

38. 712511 Lat, -9.139364 Long

MerrellPortugal

Merrell.pt

Moab Adventure Mid


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