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↑ camisola em algodão ESTELITA MENDONÇA óculos e colares em metal da produção
O que te faz pensar seres uma pessoa da tua época? Não sei. Quando era mais novo sentia-me bastante deslocado da minha época. Não sei se é transversal a todos, mas há sempre um momento em que achamos que não nascemos na época certa. Isso acontece quando começamos a pensar em bandas que não são da nossa época, artistas que já morreram, e acabamos por pensar
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que nessa época é que eu seria feliz, porque era este tipo de música que queria fazer ou este tipo de cinema... Quando comecei a ouvir N I RVA N A , KU R T C O BA I N tinha morrido e por isso sentia-me deslocado uma geração. Pensava que devia ter nascido pelo menos uma geração antes, porque sabia nunca iria ouvir os N I RVA N A ao vivo. Sentia pena de não pertencer a essa geração que viu surgir os P I X I ES e todas as outras bandas que estavam no punk-rock nessa era.
TOP 5 SINTRA M E AT P U P P E T S M U R N AU OVA D E M A RU CA CU R A DA SUMO DE PERA
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camisola e saia metalizada GONÇALO PEIXOTO
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luvas em pele metalizada ELISABETTA FRANCHI brinco em metal e cristais SWAROVSKI
O que te faz sentir uma mulher da tua época? Acho que há várias épocas. Eu sintome de muitos tempos diferentes e de nenhum lugar específico. Talvez por isso seja muito desta época, por haver uma diversidade de épocas com maneiras de estar e de viver muito diferentes . Sou de todas ou
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então de época nenhuma. O tipo de vida e questões que os meus amigos do Brasil discutem são diferentes do tipo de coisas que na Europa se comenta. Jovens da minha idade em África terão outro tipo de debates. Nesse sentido lato, sinto-me de várias épocas.
TOP 5 J O H A N N S E BAS T I A N BAC H H I RO K A Z U KO R E E DA AÇ O R ES / PA R I S S U C O D E CAJ U H I E RO N Y M U S B O S C H
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J OA N A D E V E RO N A e CA R LOTO C OT TA fotografados por A N DY DYO. J OA N A veste vestido em organza e lurex G O N ÇA LO P E I XOTO, brinco em metal SWA ROVS K I . CA R LOTO usa casaco impermeável G O N ÇA LO P E I XOTO, camisa em algodão L I D IJA KO LOV R AT.
PARQ: Revista de tendências de distribuição gratuita.
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Michael Joseph
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Clíma x
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Aldous Harding
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Oito Discos
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Milan Design Week
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Play full Mess
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James Parry +
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Fred Perry vs Art Comes First
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Fora + Carolain Spencer
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Beleza
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You Must Buy
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Festival NEOPOP
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Theon Cross
Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2oesq. 1000-251 Lisboa Assinatura anual: 12 euros Central Parq 32
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Lilian Pacce
Editor: Conforto Moderno
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Carlos Bunga
Editor de Moda: Rúben de Sá Osório
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Espacialismo
Director: Francisco Vaz Fernandes (francisco@parqmag.com)
Design: Valdemar Lamego (www.k-u-n-g.com)
Fashion ed. Periocidade: Bimestral
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Fishing for Humanit y
Depósito legal: 272758/08
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Dá-me a mão... e leva-me
Registo ERC: 125392
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The Auburns
Edição: Conforto Moderno Uni, Lda. NIF: 508 399 289 Propriedade: Conforto Moderno Uni, Lda.
Parq Here
Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2oesq. 1000—251 Lisboa
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André Ópticas
Telef: 00351 218 473 379
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Lev
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Tem.plate
Impressão: Eurodois. R. Santo António 30, 2725 Sintra 12.000 exemplares Distribuição: Conforto Moderno Uni, Lda.
A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da PARQ. Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 — 2018 PARQ.
Textos
Rui Miguel Abreu
Carla Carbone
Sara Madeira
Carlos Alberto Oliveira
Sara Silva
Diana da Nobrega Francisco Vaz Fernandes
Fotos
Joana Teixeira
Ana Vieira de Castro
João Levezinho
Andy Dyo
Liliana Pedro
Frederico Santos
Luís Sereno
Rita Menezes
Margarida Santos
Sara J. Bento
Maria São Miguel Miguel Rodrigues
Styling
Patrícia César Vicente
Marta Lobo
Rafael Vieira
Margarida Lemos
Roger Winstanley
Pedro Aparício
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JUNHO 2019
FREDPERRY.COM
FRED PERRY STORES: NORTE SHOPPING, MATOSINHOS / PORTO ARRÁBIDA SHOPPING, V. N. GAIA RUA DO OURO, LISBOA SHOP-IN-SHOP: EL CORTE INGLÉS GAIA / PORTO EL CORTE INGLÉS LISBOA MARQUES & SOARES, PORTO
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A B O R DA D E I R A D E R UA AHENE AH texto por Joana Teixeira
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Aheneah é o pseudónimo de ANA
MARTINS, uma jovem natural de Vila Franca de Xira, que abraçou como missão artística a transposição do ponto-de-cruz de técnica tradicional para a arte urbana. Formada em Design Gráfico pela ESAD, nas Caldas da Rainha, ANA aprendeu a fazer pontode-cruz com a sua avó, mas bordar panos de cozinha não era experimentação suficiente —a técnica tinha que ser levada além do espaço tradicional. ‘Go BiG or Go Home’, em 2016, foi a primeira peça numa parede com assinatura de Aheneah —uma Nike Air Max multicolor composta por 400 pregos e vários metros de trapilho. YOU MUST SEE
Desde então os seus bordados urbanos já marcaram presença no festival WOOL, na Covilhã; numa das principais ruas de Vila Franca de Xira; e no Village Underground Lisboa. A arte de Aheneah promove a intemporalidade do ponto-de-cruz, trazendo esta técnica tradicional, e tão querida das nossas mães e avós, para a contemporaneidade —em forma de paredes e murais com composições intrínsecas, coloridas e realistas que simbolizam a simbiose perfeita de duas gerações completamente diferentes do ponto de vista artístico. Aheneah é a bordadeira urbana que está a espalhar ponto‑de‑cruz por esse Portugal fora.
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T R AV E L L E R S MICHAEL JOS EPH texto por Francisco Vaz Fernandes fotos por MichaelJosephphoto,
cortesia de Daniel Cooney, Fine Art, Nova Iorque
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Com um percurso dentro da tradição da fotografia de rua, M I C H A E L J O S E P H quis, no entanto, fugir aos estereótipos do fotojornalismo que de certa forma estão na génese deste género fotográfico, que foi muito forte na América. Lost and Found consiste num conjunto de imagens que cria retratos de uma pequena comunidade que rejeita a sociedade moderna e tem a particularidade de viajar pelos estados americanos de comboio ou à boleia, quando não a pé. M I C H A E L J O S E P H , consegue produzir retratos que fogem a um olhar piedoso e ao mesmo tempo voyeurista da desgraça alheia. O fotógrafo chama‑lhes travellers e na verdade são vagabundos que se deslocam sem destino, vivendo ocasionalmente em pequenas comunidades heterogéneas, mas com alguns elementos identitários comuns. A documentação desta comunidade foi sendo registada ao longo de 10 anos. Começou com um encontro casual com um deles quando o fotógrafo tinha em mente encontrar indivíduos que pudessem produzir retratos que transmitissem estranheza. Foi apenas no segundo encontro, também casual que o reconhecendo, M I C H A E L J O S E P H começou a ganhar a sua confiança e gradualmente foi introduzido a outros elementos
YOU MUST SEE
desta singular comunidade que também se deixaram fotografar. Ou seja, as fotografias de M I C H A E L J O S E P H não têm aquele elemento de espontaneidade que tanto associamos às fotografias de rua que vivem muitas vezes de um click único num momento feliz que fez a foto, mas que é irrepetível. É essa capacidade de produzir esses momentos únicos que captavam a atenção humana que criou o nome de grandes fotógrafos. No caso de M I C H A E L J O S E P H , o seu trabalho vive da realidade que nos é transmitida da rua, mas desvinculada da curiosidade do momento. Na verdade, as suas fotografias exigem um certo grau de intimidade e proximidade com as pessoas que retrata e, apesar de serem realizadas na rua, nos locais onde os travellers circulam, o fotógrafo procura fundos neutros que os descontextualizam da realidade que os envolve. Todo o seu trabalho tem um valor documental com carácter antropológico. Os retratos fotográficos de M I C H A E L J O S E P H são semelhantes àqueles que a sociedade burguesa nascida na revolução industrial explorou para si, para assinalar a relevância das suas vidas. É esse valor mais triunfante que no final de contas encontramos nos retratos de Lost and Found, apesar de todas as cicatrizes visíveis.
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d e G A S PA R N O É CLÍMA X texto por João Levezinho
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Nos anos 90, em França, uma companhia de dança contemporânea multicultural reúne-se para o ensaio geral de um espetáculo recente. Depois de várias horas dedicadas a esse mesmo ensaio e de uma pausa para relaxar, comer e beber um pouco, dão-se conta que o álcool que existe na mesma festa —sangria— está impregnado de LSD que alguém lá colocou de propósito. Assim, enquanto uns sobre o efeito do narcótico entregam-se à dança num transe frenético e hipnótico, outros são acometidos de visões e alucinações terríveis, que lhes toldam o espírito e os levam a ter atos hediondos. Este filme, do cineasta argentino G AS PA R N O É , é uma espécie de YOU MUST WATCH
musical “Chicago” dos marginais e alternativos. N O É desperta em nós, espetadores, uma curiosidade mórbida, uma líbido acentuada e um cinema em transe permanente de longos planos e sequências trepidantes, com uma música constante e alucinada que ao ser misturada com as danças destes atores revela-nos um conjunto compacto de emoções fortes. São momentos eletrizantes cheios de paranóia e psicose, de afetação geral, que tomam por completo o filme, assaltam‑no, com “socos” e “murros” que nos derrubam e nos fazem viajar entre o inferno e o céu a partir da mente daquelas personagens.
D E C O R AÇÃO A B E R TO ALDOUS HARDING texto por Carlos Alberto Oliveira
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Numa sociedade cada vez mais desligada de si mesma, A L D O U S H A R D I N G celebra a profundidade dos sentimentos e a conexão consigo própria no extraordinário terceiro disco Designer. Contando mais uma vez com a produção de J O H N PA R R I S H , a artista Neozelandesa lima as arestas das sonoridades exploradas nos discos anteriores e acrescenta sedutores apontamentos nos detalhes. Certamente graças a um orçamento superior, afasta-se ainda mais dos rótulos de artista gótica com fundações no Folk alternativo. Se o espectro de K AT E B U S H pairava nas suas canções, a sua graciosa capacidade vocal não se esgota neste disco e varia entre oitavas e contratempos, aproximando-se a tons vocais de N I C O. A completa capacidade vocal dita a sua grandiosidade e diversidade, permitindo habitar canções como “Damm”, onde o piano atravessa quase monocordicamente a canção, terminando com uma deliciosa secção de saxofones. É extraordinária a sua capacidade de imprimir tamanha intensidade e emoção nas vocalizações. Cada canção é um pedaço de si e os arranjos musicais cimentam uma coerência, que não é assim tão comum encontrar nos dias de hoje. Se para trás havia uma mancha nublosa, agora paira uma leveza e um brilho acolhedor.
YOU MUST LISTEN
Gravado em 15 dias em Bristol,
Designer foi talhado de coração aberto. “Heaven is empty” expressa
um minimalismo de cordas tão doce quanto acolhedor. Enquanto que “Pilot” despoja qualquer espaço assessório, onde piano e voz ditam um ritmo cinematográfico. Simples, mas incisivo. A faixa de abertura do disco “Fixture Picture” balança entre os tons pastorais e a dreamy pop, com pinceladas nas linhas de baixo a que os A I R nos habituaram. A evolução é lenta, quase imperceptível, pedindo uma atenção especial, focada num tempo e espaço, forçando‑nos simplesmente a desfrutar do momento, sem qualquer tipo de distração. Designer mostra A L D O U S H A R D I N G mais confiante, segura e madura enquanto artista. O seu coração aberto apela a memórias além das fonteiras da música. Constrói atmosferas que se assemelham a um romance de A L B E R T CA M U S , imagens que nos remontam para a tela de T E R R E N C E M A L I C K . Desarmante pela fragilidade, agarra-nos pela capacidade de criar espaços para nos apropriamos das suas emoções e as ilustrarmos à medida da imaginação.
CDS OIT O DISCOS
Os H O LY G H O S T ! anunciaram oficialmente o lançamento do seu terceiro álbum Work , sendo o seu novo single chamado “Escape From Los Angeles”. O disco sairá a 21 de Junho via West End Records.
A artista K A Z U M A K I N O, membro dos nova iorquinos B LO N D E R E D H E A D, lança-se numa carreira a solo com um álbum Adult Baby. Com data agendada mais para o final do ano, a artista avança que lançará também uma editora com o mesmo nome. Sob o desígnio de Kazu, já é possível ouvir o seu primeiro single “Salty”.
Após três anos os Y E AS AY E R regressam com o álbum Erotic Reruns, o sucessor de Amen & Goodbye, com edição marcada para dia 07 de junho pelo selo Mute. A banda apresentou a primeira faixa do seu novo trabalho do registro: “I’ll Kiss You Tonight”.
Os T H E D I V I N E C O M E DY têm um novo álbum a caminho de seu nome Office Politics que tem data marcada para 7 de Junho. Acerca do disco, N E I L H A N N O N comenta: "Tem sintetizadores. E música acerca de sintetizadores. Mas não entrem em pânico. Tem também guitarras, orquestras, acordeões e canções acerca de amor e ganância".
Os B L AC K K E YS vão lançar o seu nono álbum de estúdio Let’s Rock que tem data marcada de edição para 28 de junho através da Easy Eye Sound/Nonesuch Records. Acerca do disco PAT R I C K CA R N E Y comenta: "O álbum é uma homenagem à guitarra eléctrica".
Os H OT C H I P têm um novo álbum a caminho chamado A Bath Full Of Ecstasy, que tem data prevista de edição para dia 21 de Junho via Domino. Como single de avanço apresentam “Hungry Child”.
R AC H E L G O SW E L L dos S LOW D I V E juntou-se ao seu marido S T E V E C L A R K E , formou um novo grupo T H E S O F T CAVA L RY e lançou o seu primeiro single "Dive". O álbum de estreia homónimo dos T H E S O F T CAVA L RY será lançado a 5 de Julho pela Bella Union.
Gold Past Life é o nome do novo
texto por Carlos Alberto Oliveira
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disco dos F RU I T BAT S , projecto do ex-membro dos T H E S H I N S Eric D. Johnson. Acerca do seu mais recente single, com o mesmo nome, comenta: “É um disco acerca do amor, do destino e da natureza aleatória do universo”. O álbum sai a 21 de Junho via Merge Records.
N OT Í C I A S D O F U O R I S A LO N E MIL AN DESIGN WEEK texto por Francisco Vaz Fernandes e Antonio Lettieri
O mês de abril, no calendário de muitos, foca-se essencialmente na feira de design milanesa, o S A LO N E D E L M O B I L E , um evento de carácter mundial que tem conseguido manter o seu protagonismo, dando assim um contributo importante para a escalada de Milão a um dos maiores centros internacionais de negócios. Na verdade, é um evento que tem transbordado das suas fronteiras, ultrapassando em muito o âmbito restrito do design passando antes a ser um centro da criatividade e inovação. Ali podemos ver tudo o que se possa relacionar com a indústria do lifestyle em grande parte com uma vertente para o luxo. Por isso, já nos habituamos que o Fuori Salone, ou seja, o conjunto de eventos paralelos ao recinto da feira, sejam imensuravelmente maior que o próprio S A LO N E . O programa estende-se praticamente por toda a cidade albergando tanto projetos modestos e alternativos de jovens designers, como projetos sofisticados que consumiram um grande budget. É neste quadro que encontramos grande parte da indústria automóvel, da moda, do imobiliário e do lazer que aqui se fazem representar anualmente. Os investimentos em grandes receções são justificados porque, à partida, está garantido que durante essa semana vão estar em Milão as pessoas certas que dificilmente se encontrariam juntas noutra ocasião. Este ano, houve uma novidade no programa e para que este calendário se tornasse ainda mais relevante, Milão resolveu criar uma A R T W E E K que antecede a semana do Design com o claro objetivo de trazer mais
☺ IBRAHIM MAHAMA, A Friend, Instalação em Porta Venezia, promovido pela Foundation Trussardi →
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YOU MUST SEE
público culturalmente informado. De resto é uma estratégia semelhante à de Londres que em 15 dias de setembro vê acontecer, a F R I Z E A R T FA I R , a 10 0 % D ES I G N e a LO N D O N FAS H I O N W E E K , cruzando num relativo curto espaço de tempo, o público privilegiado da arte, do design e da moda. Tanto em Milão como em Londres procura-se que estes programas concentrados rivalizem pela supremacia da atenção mediática. Ou seja, pretende-se que estes eventos internacionais transformem estas cidades em capitais mundiais por um curto período de tempo. Por isso, a A R T W E E K de Milão, não deixou de ser vista como a cereja no topo do bolo, e que teve como projeto mais impactante na cidade, a proposta do artista ganês, I B R A H I M M A H A M A que cobriu as duas torres da Porta Venezia com sacos de serapilheira. Este projeto promovido pela Foundation Trussardi, faz referência ao comércio de matérias‑primas que vêm de África, que usa de forma recorrente esse tipo de sacos para acondicionar os seus produtos, pondo assim em foco a posição deste continente na cadeia comercial, marcado por desigualdades com repercussões políticas e sociais. Esta aproximação ao campo da arte é, no fundo, um percurso que o próprio design tem percorrido. Em muitos casos o design tem estado na sua fronteira, produzindo objetos únicos, como tem sido o caso recorrente da dupla dos S T U D I O J O B mas também de RO B E R TO S I RO N I que teve no programa do Fuori Salone uma das apresentações
de maior impacto. Numa mostra que intitulou Human Code fez uma referência aos avanços tecnológicos iniciais da humanidade com uma apresentação semelhante a uma sala de um museu arqueológico com as suas raridades, que passam em geral por produtos de alta qualidade e acabamentos de luxo. Este ano a feira trazia a sustentabilidade do planeta e a reciclagem como alguns dos temas centrais. É uma temática que vemos cada vez mais presente nas preocupações dos designers e que obviamente irá definir no futuro as formas como produzimos e consumimos design. A sectogenária, RO S S A N A O R L A N D I , uma das figuras históricas e incontornáveis do mundo do design, que sempre teve a capacidade de representar a vanguarda, investiu este ano neste tema e lançou um concurso sobre a utilização do plástico reciclável. Dado o seu protagonismo mediático foi sem dúvida o projeto mais comentado dentro desta área, um benefício para o jovem alemão, A L E X A N D E R S C H U L , o primeiro a ganhar o RO Guiltless Plastic, para a área do design, com uma cadeira feita a partir de uma chapa moldada e produzida totalmente a partir de plástico reciclado. Mas o design é para pensar o futuro e, este ano, casualmente ou não, houve vários projetos significativos que trouxeram referências à vida humana interplanetária. Este impulso terá a ver com os 50 anos comemorativos da primeira vez que o homem pisou a Lua. M I C H A E L M O R R I S lançou na feira um conjunto de casas que podem ser desenvolvidas em Marte a partir da tecnologia 3D com produtos locais. É um projeto que tem o apoio da NASA e do MIT. O seu envolvimento faz-nos pensar que provavelmente não estaremos a referir-nos a um futuro tão longínquo. Outro projeto que ganhou repercussão foi a Moon Gallery, que se apresentou em Milão com uma interface para pensar a vida na lua e que tem entre várias iniciativas, a proposta de uma primeira coleção de arte e design para serem enviados à lua. São na verdade mini-projetos, porque cada um deles tem que ser condicionado a uma grelha com quadrados de 10x10cm. As viagens espaciais também influenciaram A L ES S A N D RO Z A M B E L L I que apresentou um conjunto de projetos de iluminação que são muito inspirados na observação dos satélites. São candeeiros que refletem uma luz lunar e que
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☺ RO B E R TO S I RO N I , Human Code ↓→
☺ ALEX ANDER SCHUL,
Substancial chair →
YOU MUST SEE
parecem estar suspensos, fora das regras da gravidade. Também a M A R N I pareceu ser influenciada pela lua e apresentou uma coleção intitulada Moon Walk Home Collection num ambiente que fazia lembrar a crosta lunar. Aqui os produtos apresentados não se deixam fascinar pelo universo tecnológico, pelo contrário mergulham numa imagem nostálgica do futuro que parte de um conhecimento manual. Estas contrariedades são aliás uma das tendências do design atual. Entre as propostas de design em que o conhecimento manual e a exploração das tradições aparecem como uma referência do novo design, salienta-se o trabalho desenvolvido pela D O P P I A F I R M A . Nos últimos 4 anos esta empresa italiana dedicada a pequenas edições, tem procurado desenvolver parcerias que envolvam os designers com o conhecimento acumulado de artesãos e manufaturas europeias. Ou seja, procuram nestas pontes que estabelecem, modernizar e potenciar um conhecimento manual que está em vias de extinção, ao mesmo tempo que criam peças de design com um valor muito acrescentado. Nesta edição foram apresentados dezanove projetos, sendo três deles desenvolvidos em Portugal. S A N BA RO N , um francês que vive em Lisboa há vários anos, desenvolveu uma parceria com a V I S TA A L EG R E , uma relação, que, neste caso, já é de longa data e que tem contribuído para perceber a importância do design para a renovação de sectores tão tradicionais. Isso se as empresas portuguesas quiserem competir num palco mundial. Já E M M A N U E L BA B L E D, outro designer francês de grande relevância que recentemente mudou o estúdio de Amsterdão para Lisboa, desenvolveu um aparador com cumplicidade da mestria dos artesãos da Fundação Ricardo Espirito-Santo Silva, a nossa instituição de referência em termos de restauro ou criação de cópias de peças de mobiliário históricas. Por fim, o designer alemão C H R I S T I A N H A AS , recentemente a residir no Porto, desenvolveu um conjunto de coffee tables criadas pelo domínio técnico de J O S É V I E I R A , com oficina em São Torcato. Três propostas que são um bom exemplo do futuro do design europeu.
☺ ALEX ANDER SCHUL, Substancial chair →
☺ M I C H A E L M O R R I S , projeto de habitação para Marte ↑ ☺ S A M BA RO N c o m V I S TA A L EG R E para a Doppia Firma ↙
MIL AN DESIGN WEEK
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☺ A L ES S A N D RO Z A M B E L L I , Motusorbitas, projeto de iluminação ↑↗
☺ C H R I S T I A N H A AS com José Vieira para a Doppia Firma ←
☺ M A R N I , Moon Walk Homme Collection ↓↙
☺ E M M A N U E L BA B L E D com Fundação Ricardo Espírito Santo para a Doppia Firma ↑
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R I TA S Á P L AY F U L M ES S texto por Luís Sereno
R I TA S Á , uma das novas bloomers do Portugal Fashion, aponta-se como uma das designers mais irreverentes e atuais, preconizando um registo de trabalho muito identitário e concetual, não esquecendo a vertente comercial. R I TA S Á apenas se licenciou em 2017, pela Esad‑Matosinhos, mas já arrecadou várias menções e prémios pelas suas coleções. De entre as quais a inclusão na plataforma Sangue Novo da Moda Lisboa com a coleção “Diz-Orientation”, de seguida com a coleção “Telhados de vidro”, arrecada o prémio FASHIONCLASH e assegura a participação na Vancouver Fashion Week. Já em 2018, S Á integra a plataforma Bloom do Portugal Fashion, sobre a qual afirma que com os apoios desta organização, poderá atingir uma maturidade acrescida em termos de venda e presença internacional. Ao longo das recentes coleções apercebemo-nos que R I TA aposta em multifuncionalidade, em desconstrução dinâmica, numa estética que aporta a um certo minimalismo muito focado na construção das peças, nos detalhes e, sobretudo, no ecoar da estória que quer contar.
Fotografia R I TA M E N E Z ES Styling LU Í S S E R E N O Modelos J O S É N O G U E I R A (Central Models) e F R A N C I S CA Q U E I RÓ S
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YOU MUST SEE
No seu último registo, “Casa de ferreiro espeto de pau”, R I TA
mostra‑nos uma postura desleixada, um inacabar propositado, ao longo da coleção vemos peças fora do seu uso normal, detalhes que à partida não aparentam a sua função, etc. R I TA remete-nos para uma postura de desmazelo e diferenciação entre quando fazemos algo para outrem ou para nós. Graças a atilhos em várias peças, R I TA joga com a possibilidade destas poderem ter ou não bolsos que se aplicam facilmente, e a volumetria oversized leva-nos a um universo sem género. A uniformidade da cor, mais uma vez, ressalta o design e as silhuetas, tendo-se tornado numa imagem de marca. R I TA encontra-se a investir na sua própria marca, enquanto residente do Portugal Fashion, ao mesmo tempo que realiza trabalhos para outras marcas e faz figurinos de teatro.
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JA M E S PA RRY texto por Maria São Miguel
JA M ES PA R RY apresentou na loja VANS de Lisboa um conjunto de fotografias do seu universo de surf. O conhecido surfista de longboard inglês esteve em Portugal para o Vans Duct Tape Festival ao lado de outros veteranos como H A R RY B RYA N T, I VA N F LO R E N C E e A I N A R A AY M AT. O festival de praia teve a duração de três dias e apresentou sessões de surf, board shaping,
ações de limpeza de praia, sessões de cinema e exposições interativas de arte e fotografia, organizadas pela comunidade local. Ao nível de música ao vivo as noites foram animadas pela performance da lenda do skate J O H N CA R D I E L , assim como atuações de bandas como S U N F O OT, M I G H T Y S A N D S , K E PA , L E E A N N CU R R E N , S U N F LOW E R S , A L E K R E I N , e D I TC H DAYS .
ABSOLUT CRE AT IVE
Circus ou Times Square. Além disso passaria a ser a nova grande colaboração artística da ABSOLUT que conta com colaborações de artistas de prestigio, como K E I T H H A R I N G e A N DY WA R H O L .
texto por Maria São Miguel
S U S A N A JAC O B E T T Y, stylist e criativa de longa carreira na indústria da moda em Portugal, foi a representante nacional da Absolut Creative Competition disputando o prémio final com os finalistas dos 18 países participantes. O prémio final tinha um valor 20.000€ e permitia que o vencedor tivesse o se trabalho exibido num outdoor icónico, como por exemplo Piccadilly
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YOU MUST SEE
O concurso da Absolut Creative Competition teve início em novembro de 2018 e envolveu artistas de 19 países, com o objetivo de encontrar a próxima voz criativa da marca. O prazo de entrega das obras terminou a 31 de janeiro e foram registadas mais de 7500 participações criativas vindas de todo o mundo. Em Portugal registaram-se mais de 400 candidaturas, num total de 350 artistas a participarem.
FRED P E R RY VS ART COM ES FI RST texto por Maria São Miguel
A FRED PERRY é uma marca que gosta de apresentar colaborações, propondo ao longo do ano várias coleções cápsulas. Uma das coleções que começa a ser habitual resulta da parceria com SAM L AMBERT e SHAK A MAIDOH, a dupla que dá vida a Art Comes First . Os auto-proclamados, alfaiates itinerantes, de origem angolana, mergulham desta vez nas cores jamaicanas criando uma coleção que é uma homenagem ao reggae e ao fluxo imigratório jamaicano que se estabeleceu em Inglaterra nos anos 50. Assimilados pelas contra-culturas londrinas, estão directamente ligados ao movimento ska e o rocksteady que se desenvolve em Londres que teria um público entre os Punk. Todo este legado cultural ficou expresso em velhas capas de disco vynil que a dupla gosta de colecionar, e que foram o ponto de inspiração para uma linha de polos com um toque nostálgico. São apresentadas duas adaptações o original polo M12 Twin Tipped FRED PERRY que aparece em Preto, Regal-Blue e Island‑Green apresentando um lettering estampado em bold nas costas que diz: ‘FRED PERRY M12 CUSTOM-MADE WITH ART COMES FIRST. Já o polo em piqué em preto, vermelho-fogo e amarelo-vivo, traz nas mangas uma lista onde de um lado temos escrito FRED PERRY e do outro Art Comes First . Já ao peito o outro trás por baixo o conjunto das iniciais das duas marcas (ACFFF) bordados para além de uma etiqueta onde se pode ler a súmula do espírito deste polo. Ou seja, «A new tradition
for the modern nomad, this season Fred Perry and the London collective deliver parisian savoir faire, Mayfair refinement and borderless practicality.»
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YOU MUST WEAR
FOR A texto por Francisco Vaz Fernandes
A F O R A é uma marca de óculos de sol 100% nacional. O projeto começou com amigos que inicialmente tiveram um site de compra e venda de óculos vintage, mas que a dada altura começaram a encontrar limitações nesse negócio. Contudo foi uma escola onde passaram a reconhecer a qualidade de materiais assim como todo um conjunto de formatos possíveis. Ou seja, um primeiro passo para evoluírem para uma marca própria que procura no essencial dar qualidade e detalhe manual a valores de venda razoáveis,
sempre com o toque intemporal. Gostavam da área da moda e foi com um pé nesse segmento que em 2013 deram o primeiro passo com 5 modelos, inicialmente produzidos em Itália. No entanto, perceberam que conseguiam encontrar em Portugal um tipo de trabalho manual que deixou de existir la fora e desde 2016 passaram a produzir todos os seus modelos no norte do país. “Faz todo o sentido apoiarmos a produção nacional porque temos muita qualidade na produção e acaba por ser algo diferenciador”, refere M I G U E L BA R R A L , num elogio
ao Made in Portugal, que cada vez mais é reconhecido internacionalmente como um valor acrescentado. Mas por enquanto grande trunfo são as duas lojas da marca. A do Chiado foi o último passo dessa aposta porque para M I G U E L BA R R A L , “as lojas físicas permitem uma maior proximidade com o público e uma maior credibilização da marca junto dos consumidores. Ou seja, no futuro, esperam-nos mais modelos de óculos de sol, tal como lojas F O R A pelo país.
CA ROL A I N S PENCER texto por Maria São Miguel
CA RO L A I N S P E N C E R , mixing master internacional da SCHWEPPES, foi
a responsável pelos cocktails que harmonizaram com o menú criado pelo chef J OÃO RO D R I G U ES do restaurante F E I TO R I A , no Altis Belém. Os sabores a mar português que foram servidos vieram demonstrar as potencialidades dos novos premiun mixers da SCHWEPPES que o evento celebrava. A propósito das duas criações propostas, CA RO L A I N S P E N C E R afirmou que respondem aos valores em que acredita. Ou seja, trazer uma mistura de produtos naturais que no final resultam num cocktail cheio de sabores onde o álcool é um complemento diminuto. É nesse sentido que vê os novos SCHWEPPES tónicos
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YOU MUST SEE
como uma ferramenta sempre útil e com grandes potencialidades para quem precisa de estar sempre a inovar e apresentar novas receitas. Para a ex-modelo de 23 anos que começou a trabalhar em bares para pagar as contas, não antevendo a sua fulgurante ascensão no mundo da cocktailaria, as novas criações com menor grau de alcoólico respondem melhor às preferências da sua geração. Lisbonita by Carolain Spencer 15-20 cl limão 30 cl puré de morango 40 cl vodka 6 folhas de menta palmeadas 15cl Schweppes Premium Mixer Hibiscus
GUERLAIN A B S O LU S D'ORIENT texto por Liliana Pedro
O Médio Oriente é o ponto de partida da nova gama de perfumes da GUERLAIN. A coleção “Absolus d’Orient” é composta por cinco perfumes com aromas de bálsamos precisos, madeiras raras, especiarias fabulosas e essências exóticas.
MIU MIU T WI ST texto por Liliana Pedro
A MIU MIU tem uma nova fragrância no mercado. Chama— se Twist e é dedicada às mulheres fortes e contemporâneas. O perfume apela ao espírito jovem com ingredientes clássicos e sofisticados, como a bergamota verde e as folhas de maçã.
N OVA I M AG E M ANTHONY texto por Liliana Pedro
AC Q UA D I PA R M A BA R B I E R E texto por Liliana Pedro
A ANTHONY, marca de produtos de cuidado de pele masculinos, tem uma nova imagem e filosofia. Dos cremes hidratantes aos produtos de limpeza, Antony funde ingredientes naturais com tecnologia avançada.
A marca italiana ACQUA DI PARMA acaba de lançar uma nova linha de produtos de barbear. Barbiere apresenta fórmulas projetadas para barbear, fazer a barba, cuidar da barba e tratamento facial. Os produtos combinam funcionalidade e prazer sensorial.
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YOU MUST WEAR
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04— Birkenstock 05— Fila 06— Merrell
07— Dr.Martens 08— Puma 09— Faguo YOU MUST BUY
10— Pinko 11— Converse x JWA
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12— Salvatore Ferragamo 13— Lacoste 14— Eyevan
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15— Chloé 16— Komono 17— Polaroid
18— Dior Homme 19— Dior 20— Fendi YOU MUST BUY
21— Stella MacCartney 22— Elisabetta Franchi 23— Komono
N EOPOP FESTIVAL N EOPOP FESTIVAL NEOPOP FESTIVAL N EOPOP FESTIVAL NEOPOP FESTIVAL N EOPOP U N D E RWO R L D ↑
L AU R E N T G A R N I E R ☺ J a c o b K h r i s t ↑
M AC EO P L E X ↑
AMELIE LENS ☺ Mhedy Nasser ↑
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Seguramente um dos festivais de música eletrónica com maior ascensão internacional, o Neopop Festival a cada edição faz jus à sua já tradição de trazer os nomes mais excitantes e emergentes do género. O cenário histórico da cidade portuária Viana do Castelo, irá vibrar novamente em Agosto nos dias 7, 8, 9 e 10, com um alinhamento que conta com os gurus UNDERWORLD, LAURENT GARNIER, TALES OF US, JEFF MILES, por exemplo, e com nomes que dão cartas ao mais alto nível como AMELIE LENS, MACEO PLEX, RØDHÅD e SENSIBLE SOCCERS, só para falar de alguns. Mas estes são os que se destacam pela sua magistralidade. Dispensam qualquer tipo de apresentações, e certamente que até os mais distraídos não ficam indiferentes aos U N D E RWO R L D. Na vanguarda da cena techno underground desde os anos 90, brindaram o mundo com o fabuloso “Born Slippy (Nuxx)”, graças em muito à sua integração na banda sonora do incontornável filme T R AIN S P OT T ING. Regressando à sua melhor forma em 2016, com o álbum “Barbara Barbara, we face a shining future”, a dupla passou a marcar presença regularmente em festivais de renome internacional como o Coachela, Glastonbury ou Summer Sonic. L AU R E N T G A R N I E R , produtor musical francês e DJ, começou a tocar em Manchester no final dos anos 80, experimentando a euforia do Acid House. Conseguiu como poucos permanecer como uma referência, obtendo o reconhecimento e admiração generalizada. Tendo fundado a F Communications, editora base da sua criatividade até ao momento, mantem-se umbilicalmente ligado à exploração de sonoridades intemporais, sempre atento às mais recentes tendências e recorrendo sempre à experimentação e conquista de novas fronteiras.
O artista americano M AC EO P L E X , radicado em Barcelona, que começou como Dj aos 16 anos em Dallas, tornou-se um recorrente nome nas mais prestigiadas casas e festivais de música eletrónica espalhadas por este mundo. Com uma personalidade vincada, expõe o seu universo sonoro multifacetado através de uma série de personagens, transportando para o lado mais negro e complexo do techno (M A E T R I K ), os ritmos lentos e quebrados do IDM, do electro (M A R I E L I TO), do house groovy ou da Pop. Fundador da Ellum e Lone Romantic e do evento em nome próprio em Ibiza, Mosaic by M AC EO, empresta o palco a artistas das mais diferentes partes do mundo, sobretudo aos artistas mais estimulantes e emergentes. Embebido pela essência do espírito de Berlim, RØ D H Å D, nascido na parte leste da capital germânica, foi na aurora dos anos 90 que se rendeu às sonoridades techno, numa altura em que a cidade fervilhava em novas ideias e conceitos. O artista cujo nome deverá ler-se red head, alusivo ao seu cabelo ruivo, passou das festas ao ar livre para a organização de eventos de maior dimensão, como o Dystopian, que em forma de showcases percorrem hoje em dia a Europa ao som de nomes como R EC O N D I T E , A L E X . D O, F E L I X K ou do próprio, não esquecendo a sua editora homónima. Conhecido pela sua sonoridade albergadora das mais variadas matilhas do techno, as prestações de R Ø D H Å D são no mínimo trajetórias meteoricamente surpreendentes. Iniciando as suas atividades em 2010, os portugueses SENSIBLE SOCCERS rapidamente se tornaram numa banda de culto no panorama musical nacional. Os três álbuns editados até à data, “8”, “Villa Soledade” e mais recentemente “Aurora”. Este álbum tem produção de B FACHADA e um título que pareceu "lógico porque acaba por transmitir uma ideia de recomeço", como explicou à Lusa o teclista HUGO GOMES. Com um rico universo musical, que vai desde a música psicadélica, experimental ou eletrónica, com raízes no rock e pop, numa matriz tecida por camadas de guitarras, sintetizadores, vocais e percussões.
A belga A M E L I E L E N S , também conhecida como modelo, a quem J E A N PAU L G AU LT I E R apelidou de “Ma petite Belge”, ascendeu meteoricamente como poucos à estratosfera da música eletrónica. Desde a edição do seu EP Exhale em 2016, a artista figura nos maiores eventos internacionais, mergulhando de forma impressionante na conjugação do techno de um passado distante com as últimas tendências, com baixos pesados e batidas despojadas.
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Bem conhecidos do público português, os TA L E O F U S desenvolveram sonoridade própria, cruzando o disco, house, indie, techno, fibras melódicas e baixos imponentes. A sua história remonta até Milão onde CA R M I N E C O N T E & M AT T EO M I L L ERI se conheceram ainda muito joJEFF MILLS ☺ Jacob Khrist ↑ vens. Fundadores da L I V E A N D D E AT H , onde dão a conhecer grande parte do seu trabalho, assinaram pela Deustsche Grammophon para Neste festival a escolha dos artistas é consolidada com a a edição do álbum de estreia “Endless” e posteriormente capacidade que a organização tem para promover e propor“Endless remixes”. cionar um espaço idílico para acolher o público. Um lugar onde reina o sentimento de boa disposição, descontração, J E F F M I L E S , que deve à sua habilidade técnica como Dj, divertimento e a celebração da música. o nome pelo qual ficou conhecido no início dos anos 80, T H E W I Z A R D. Foi um dos grandes protagonistas da música Techno, sendo apelidado como o novo Techno de Detroit, na sua segunda geração, quer a solo quer juntamente com M I K E B A N K S e R O B E R T H O O D no projecto U N D E R G R O U N D R E S I S TA N C E , globalizando a sua sonoridade. A influência do fundador da Axis Records na música eletrónica atual é inegável, e a sua abordagem vanguardista projeta-o para o estrelato internacional, assegurando-o como cabeça de cartaz em festivais e prestigiados clubes por todo o mundo.
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SENSIBLE SOCCERS ☺ J o ã o Pe d r o ↑
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no subterrâneo da estação de comboios de Deptford que todas as quartas-feiras atrai uma multidão de músicos), mas também da música das rádios piratas que emitem a partir das torres da inner city —grime e hip hop, garage e dubstep, house e drum n’bass—, parte da tradição do jazz, mas recusa-se a ser contido aí, alargando-se de forma exploratória para terrenos nunca anteriormente explorados por outros executantes deste instrumento. Ter ao seu lado músicos de considerável fôlego técnico e de reconhecida bravura criativa como N U BYA G A RC I A e M O S ES B OY D, eles próprios exploradores de novas paisagens nos diferentes projectos em que estão envolvidos, dá a C RO S S uma segurança acrescida para se espraiar num conjunto de peças que são esculpidas pela composição espontânea que o improviso jazz proporciona, mas que são em igual medida balizadas pelo dub, afrobeat ou grime.
Para atear o seu Fyah , C R O S S requisitou aliás os serviços da saxofonista N U BYA G A R C I A e também do baterista M O S ES B OY D. Esse é o trio base de um álbum em que T H EO N C R O S S ainda conta com participações pontuais do seu irmão N AT H A N I E L C R O S S no trombone, WAY N E F R A N C I S no sax tenor, A R T I E Z A I T Z na guitarra eléctrica ou T I M D OY L E na percussão. E é impossível não ler no som da tuba de T H EO N , sobretudo no seu registo mais grave, o mesmo tom sombrio que inspirou nos últimos anos o hardcore continuum de Burial ou The Bug , um trovão fundo que parece ser a tradução musical do funcionamento das entranhas de uma mega-cidade como Londres, sobretudo à noite, quando o registo médio do tráfego diurno desaparece para revelar um drone grave que parece emanar dos circuitos que alimentam os grandes edifícios, do complexo sistema subterrâneo de transportes e, claro, das vibrações abafadas que dezenas de clubes equipados com poderosos sistemas de som deixam escapar pelas frestas das suas portas insonorizadas para as ruas. O som de C R O S S , resultado do seu complexo processo de crescimento como músico, dos incontáveis gigs informais em que vai participando (ele é um dos mentores do colectivo S T E A M D OW N e das suas escaldantes sessões num clube montado
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uR i M i g uel
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Fyah, a estreia em nome próprio do tubista T H EO N C R O S S , é um óptimo retrato da vibrante cena jazz britânica que parece ter encontrado eco generoso em Portugal uma vez que ao longo dos próximos meses vários serão os artistas —incluindo T H EO N , programado para o cartaz do Nova Batida, como de resto N U B YA G A R C I A — a apresentarem-se entre nós.
T H E O N é um líder cuja generosidade não se deve apenas imputar às limitações naturais do seu instrumento, muito usado como fonte de estímulos harmónicos para a voz solista predominante, mas também porque é esse realmente o espírito que emana do seu fogo particular. O músico tem passagem por Lisboa garantida pela presença no cartaz do Festival Nova Batida de que será, certamente, um dos pontos altos. E aí poderemos todos comprovar se o calor que se desprende deste Fyah é ou não real resultado de uma profunda combustão criativa que alimenta este músico.
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ZDB ZDB ZDB ZDB ZDB ZDB ZDB ZÉ DOS BOIS ZÉ DOS BOIS X X V – 1994 – 2019 ZÉ DOS BOIS ZÉ DOS BOIS 1994 – X X V – 2019 ZÉ DOS BOIS ZÉ DOS BOIS ZDB ZDB ZDB ZDB ZDB ZDB ZDB Exposição A R A R A , Oficina Arara (2018) Curadoria de B RU N O M A RC H A N D e N AT XO C H ECA☺ L a í s Pe r e i r a ↑
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Exposição Lua Cão, A L E X A N D R E ES T R E L A E J OÃO M A R I A G U S M ÃO + P E D RO PA I VA (2017) Curadoria N AT XO C H ECA ☺ L a í s Pe r e i r a ↑
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CULTURA
C R E D ☺ Ve r a M a r m e l o ↓
Entre bares e restaurantes, este velho edifício localizado no centro do Bairro Alto, em Lisboa, é um local de referência de criação, produção e difusão cultural contemporânea. Criadores e artistas de todo o mundo ligados à música, artes visuais e artes performativas já deixaram as suas pegadas neste emblemático espaço. “Um lugar com um ambiente agradável e descontraído que aposta em talentos emergentes”, é assim que TÂNIA, 34 anos, uma visitante regular, caracteriza a Galeria Zé dos Bois (ZDB). Este ano celebram-se 25 anos deste projeto. Fundada em outubro de 1994, ano em que Lisboa foi a Capital Europeia da Cultura, a ZDB mudou de espaço algumas vezes nos primeiros anos. No entanto, desde 1997, a missão deste projeto cultural passou para a Rua da Barroca, no antigo Palácio Baronesa de Almeida, onde viveu Almeida Garrett. Ao longo das últimas duas décadas, o papel da Galeria Zé dos Bois na cultura portuguesa e na divulgação de novas linguagens artísticas é inegável. Este centro cultural distingue-se de outros espaços pela programação e curadoria, que “substituiu a lógica da mera apresentação de projetos” e promove o “apoio à criação e à produção de obras nas diferentes disciplinas”, esclarece NATXO CHECA, um dos mais de dez fundadores da ZDB. Entre concertos de música, programas educacionais, cinema, teatro, apresentações de dança, residências e palestras, a associação cultural acolhe mais de 150 iniciativas artísticas por ano.
com amigos e artistas. Também no terraço, o ambiente é descontraído e durante o verão existem sessões de cinema ao ar livre. A programação de música é também motivo de contentamento para os visitantes do local. A ZDB tem dado visibilidade a artistas do mundo inteiro, que escolhem o local para promover expressões musicais distintas e alternativas. “Já vi concertos das minhas bandas favoritas a um preço bastante acessível”, confessa RUI, 26 anos, que em 2011 assistiu ao concerto da banda norte-americana REAL ESTATE no “Aquário”, nome atribuído à famosa sala da Zé dos Bois. Além da relação pessoal e calorosa com os visitantes, a aposta em criadores em ascensão é outro ingrediente que tem garantido o sucesso deste projeto. “A Zé dos Bois é uma plataforma que procura fornecer aos criadores os meios e o diálogo crítico que lhes permitam otimizar as suas propostas e multiplicar os seus efeitos”, explica NATXO CHECA. “Todos os criadores com quem trabalhamos, por diferentes motivos, são marcantes”, acrescenta.
Entre as inúmeras colaborações, o curador e programador do espaço cultural destaca as exposições Para Uma Ciência Transitória do Indiscernível – A Abissologia, de JOÃO MARIA GUSMÃO e PEDRO PAIVA (2008), Viagem ao Meio, de ALEXANDRE ESTRELA (2010), ou mais recentemente Lua cão (2018) de ALEXANDRE ESTRELA, JOÃO MARIA GUSMÃO e PEDRO PAIVA. No âmbito cinematográf ico sobressai o nome do diretor português GABRIEL ABRANTES, conhecido por filmes como A History of Mutual Respect (2010) e Palácios de Pena (2011). Já nos diversos projetos ligados à música e às artes performativas, o programador indica criadores como THURSTON MOORE, SEI MIGUEL, ANIMAL COLLECTIVE, KIM GORDON, BONNIE “PRINCE” BILLY, ANGEL OLSEN, PATRÍCIA PORTELA, JOHN ROMÃO, MALA VOADORA, Princess Nokia na Z D B (2016) ☺ L u í s M a r t i n s ↑ entre muitos outros.
Este projeto de iniciativa civil oferece uma programação cultural diferenciada das propostas institucionalizadas. “Num estado democrático adulto, pressupomos que quanto mais diversificada for a oferta cultural, mais integrada ela está na vida dos cidadãos. Uma maior oferta cultural, em princípio, permite mais liberdade de escolha e mais possibilidades de aproximação e fruição artística”, explica NATXO CHECA, também curador e programador artístico deste espaço cultural.
Ao refletir sobre a atual programação cultural das cidades, neste caso, de Lisboa, o curador da ZDB menciona que as “instituições culturais tornaram-se mais recetivas a propostas transgressoras e emergentes”. Propostas essas que há dez anos costumavam ter lugar, principalmente, na ZDB e em espaços geridos pelos próprios criadores. A forte aposta na cultura é também visível através do aumento do número de festivais de música em território nacional, que mobilizam cada vez mais pessoas. Atualmente, Lisboa oferece uma programação cultural diversificada, “mas isso não significa que exista uma política cultural concertada”. “Pensamos que pode ser benéfico refletir sobre a cidade e sobre políticas culturais”, acrescenta NATXO CHECA. O público deste centro cultural, batizado em honra do artista alemão JOSEPH BEUYS, “tem vindo a ser progressivamente mais abrangente” devido à vasta oferta cultural, sublinha o curador de artes visuais. Dentro das salas labirínticas, muitas pessoas admiram curiosamente os “objetos” culturais em exposição. Outras simplesmente aproveitam para beber um copo de vinho no bar Nº49, enquanto convivem
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A Galéria Zé Dos Bois celebra 25 anos de existência em outubro. No entanto, ao longo de todo o ano de 2019, o centro cultural oferece uma “programação fora-de-portas especialmente intensa” para encontros artísticos, divulga o curador. No dia 14 de maio, será inaugurada uma exposição que apresenta um recente corpo de trabalho de PEDRO HENRIQUES e uma exposição antológica de ANNE LEFEBVRE, fotógrafa experimental francesa, que reúne trabalhos produzidos nas últimas três décadas. Na música, depois do concerto de COLIN STETSON, no dia 8 de abril, a compositora e cantora JULIA HOLTER apresenta a 29 de maio, no Capitólio, o aclamado Aviary (2018), o seu último trabalho discográfico. O dia 7 de julho marca o regresso do americano KEVIN MORBY, que lançou em abril o seu novo álbum Oh My God (2019). Mais artistas e atividades serão desvendadas nos próximos tempos. Após mais de duas décadas, a comunhão entre cultura e originalidade continua a crescer na ZDB. Verdade seja dita, Lisboa é um polo artístico cada vez mais dinâmico e eclético graças a este espaço cultural. No futuro, NATXO CHECA garante que “o estímulo ao debate e à participação, o espaço dado à experimentação e ao risco, o apoio multivalente aos criadores e a aposta na otimização das suas obras” continuarão a compor a história da Galeria Zé dos Bois.
CULTURA
LILIAN PACCE LILIAN PACCE
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MODA
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MODA
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L I L I A N PAC C E foi considerada uma das quinhentas pessoas mais influentes da moda no mundo, revolucionou o jornalismo de moda. Já foi editora de moda, escritora, professora, apresentadora do programa de moda GNT Fashion durante dezoito anos, participou no comité de experts do prémio internacional LVMH. L I L I A N PAC C E é uma jornalista querida e conhecida pelos principais designers de moda e a forma como comunica com o público é única. A sua dedicação, curiosidade e conhecimento são muito mais do que uma imagem de marca, é uma forma de estar e comunicar sobre moda e comportamento.
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Com que idade surgiu a paixão e a visão tão apurada sobre a moda? Acredita que seja um dom com que se nasce ou é algo que se aprende? Não sei se tem um marco definido, mas a vida foi me dando vários sinais. Na adolescência, tinha um estilo muito próprio, gostava de me expressar através da moda e sempre soube que a roupa “fala”. E, como boa adolescente, meus códigos eram de rebeldia. O talento, o que a gente chama de “olho” é importante, é a mola propulsora. Mas é preciso lapidar esse olhar, estudar, se informar, se dedicar — there is no free lunch! Na fase da adolescência quem eram as suas referências e ícones de estilo? Meu armário só tinha jeans e camiseta, o que deixava minha mãe bem chateada... Até em festas eu queria ir de jeans, numa época em que os jeans ainda não tinham conquistado o status de luxo. Eu ia de S U P E R T R A M P e P I N K F LOY D a M A R I A BE THANIA e JOÃO GILBERTO. Sou uma pessoa de fases, mas nunca fui uma pessoa de ter ídolos —admiro muitas pessoas, mas nunca enlouqueci por causa de alguém que admirava. Em 1987 começou a fazer a cobertura dos desfiles de Paris, Milão, Londres e Nova Iorque para o Folha de S. Paulo, nessa altura, acreditamos que tenha sido uma boa oportunidade e o início de algo grandioso. Mas fazer a cobertura dos maiores desfiles do mundo implica um enorme trabalho e resiliência, pode nem ter metade do glamour que as pessoas pensam, mas são experiências e conhecimento para a vida. Das suas experiências dessa época, qual a melhor parte e a parte menos boa? A melhor parte é poder estar ao vivo no epicentro criativo da moda do mundo. É um privilégio. As capitais da moda, durante as temporadas, ficam efervescentes —tanto nas passarelas quanto nas ruas. É muita informação! A parte menos boa é que o Brasil não faz parte do chamado circuito E L I Z A B E T H A R D E N (Paris-MilãoLondres-Nova York), e tive que trabalhar muito para conquistar o acesso e o respeito dos gringos. Após trabalhar há alguns anos em moda, mudou-se para Londres e estudou no London College of Fashion e no Saint Martins School of Fashion , onde estudaram enormes talentos como A L E X A N D E R M C Q U E E N , G A L L I A N O e S T E L L A M C CA R T N E Y. Esta mudança de país foi determinante para a sua carreira, seja pelo curso, pela consolidação de conhecimento ou pelas pessoas que conheceu? Quando fui morar para Londres, eu já era editora de moda mas com formação auto-didata. No Brasil, as faculdades de moda estavam começando. Achei importante entender o processo criativo e resolvi estudar. Fiz desenho, modelagem, criação de coleção... e tive a certeza de não ter a menor vocação para estilista e que minha paixão era mesmo o jornalismo. Mas de lá para cá surgiram os diretores criativos, que não necessariamente conhecem modelagem ou desenho. Durante 18 anos teve um programa, GNT Fashion no canal GNT, que revolucionou a forma como as pessoas viam a moda no Brasil. Foi o primeiro programa a transmitir em directo grandes eventos de moda e durante esses dezoito
MODA
anos, deu a conhecer um lado da moda que até então, as pessoas não tinham visto. Aproximou as pessoas da moda, mudou mentalidades e expandiu o conhecimento das pessoas. Isso tem um enorme poder, responsabilidade e causa impacto numa sociedade. Era e é esse o seu principal objectivo? Sente que esse é o seu maior contributo? Sem dúvida! Como jornalista com formação em jornal diário, senti que precisava aproximar a moda e a pessoa que estava em casa assistindo a TV —já que, se ela não se identificasse com aquilo, ela mudaria de canal. Você pode admirar um VA N G O G H mesmo que não tenha condições de ter uma obra dele em sua casa. Com esse raciocínio, procurei mostrar o valor das criações de moda, o savoir faire, a força comportamental, a moda como radar de comportamento —e a inteligência dos principais players do mercado. E como tudo isso se relacionava com a vida de quem estava assistindo, já que a moda reflete o zeitgeist. Há muitos anos que é uma pessoa preocupada com questões sociais, ambientais e relacionadas com a sustentabilidade. Desenvolveu vários projectos pioneiros e acções de sensibilização, conseguiu usar a sua visibilidade para transmitir várias mensagens e ideias que foram sendo respeitadas. Há muitos anos atrás, mal se ouviam falar nestas questões ou preocupações. As grandes marcas de moda estão todas a aderir ao não uso de peles, pelo verdadeiro e a usar outros materiais alternativos. Trata-se também de uma moda, que vai acabar por passar? Na sua opinião, porque motivo as grandes marcas de luxo, deixaram de usar peles e pelo verdadeiro, passaram a usar pelo falso e continuam a cobrar os mesmos preços, sem fazerem distinção? LP: Tudo tem um preço. Desde que assisti ao documentário do AL GORE, Uma Verdade Inconveniente, minha cabeça mudou. Vi que sustentabilidade não seria apenas uma tendência e sim uma obrigatoriedade. Abracei a causa, lancei o site com a secção Reciclese em 2008 e muita gente achou que não ia dar certo falar de moda e beleza do ponto de vista da sustentabilidade social e ambiental. Hoje, é pauta obrigatória. Lancei a campanha pelas sacolas duráveis ou ecobags contra o uso da sacola de plástico descartável (fizemos uma exposição para conscientização e lancei o livro Ecobags – Moda e Meio Ambiente), me engajei contra o uso de canudinhos descartáveis, lancei o desafio #1LookPorUmaSemana. Nele, a ideia é você usar a mesma peça (uma ou duas do seu look) por 5 dias seguidos ou mais. Porquê? Para lavar e passar menos roupa, para fazer um exercício de estilo e de autoconhecimento, para mostrar que repetir roupa é legal (em contraposição ao #lookdodia), para valorizar a memória afetiva que uma roupa traz, etc. Na sua opinião quais são as principais diferenças entre aquilo que era considerado a moda de luxo de há 10 anos atrás e a moda de luxo dos dias de hoje? O luxo de antes tinha um caráter mais de ostentação, hoje é mais de experiência, de qualidade. E por qualidade entenda-se também o cuidado com os processos em si: impacto social, impacto ambiental, etc. Com as questões de sensibilização e informação, existe cada vez mais procura pelo vintage, roupa em segunda-mão. E os mais jovens são os primeiros a aderir e tem-se
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tornado “uma moda”. É importante por ter um tremendo impacto a nível ambiental e não só. Na sua opinião, estes novos hábitos de consumo podem ser um problema no futuro para as marcas e designers? Vivemos cada vez mais na era da economia compartilhada. Estamos migrando da valorização do descartável para a valorização do compartilhado. Quanto mais pudermos prolongar a vida útil de qualquer objeto, melhor será para todos. E os jovens de hoje continuam a ter desejo de moda, mas sabem que esse desejo pode ser atendido de diversas maneiras: trocando, alugando, comprando peças usadas, etc. Cada vez existem mais tendências por estação, a cada semana da moda existe cada vez mais diversidade e oferta dependendo de cada estilo, é tudo cada vez mais rápido. A moda tem vindo a perder qualidade por preferir a quantidade, ou não? Não acho. A moda está apenas acompanhando a velocidade da informação que a internet e as redes sociais criaram. A relação entre os designers e os media alterou-se nos últimos anos. Na sua opinião, é devido ás redes sociais? Redes sociais e internet em geral e não só na moda como na maioria das relações profissionais. Estamos vivendo uma era de grande transformação, os nativos digitais crescem com outra visão de mundo. Quais são as principais características necessárias para ser uma boa jornalista de moda? Gostar de trabalhar, de estudar, valorizar a história, ter faro para o novo – e ser curiosa. A L I L I A N fez parte do comité de experts do prémio LVMH, recebeu várias vezes o prémio de melhor jornalista de moda do Brasil e já foi indicada pelo Business of Fashion como um dos quinhentos profissionais de moda mais importantes do mundo. Para quem lê tudo isto e a seguir assiste aos vídeos do seu canal do Youtube, que já tem mais de 100.000 subscritos, fica surpreendido pela simplicidade com que explica e pela forma descomplicada mas eficaz com que ensina e partilha o seu conhecimento. É esse o seu principal segredo para chegar ás pessoas? Acho que sim. Nunca gostei da postura snob dos editores de moda até os anos 80... É jornalista, já colaborou com as maiores publicações de moda do mundo, já foi editora de moda, tem cinco livros publicados, um canal de Youtube com milhares de subscritores, tem um site com notícias e vários temas sobre moda, apresentadora de TV, publisher e já ganhou inúmeros prémios. Já fez, conquistou e alcançou tudo isto e ainda só vai a meio da vida. Já tem planos sobre novos projectos para a outra metade da sua vida? Tenho muitos planos! Quem não tem desejo, morre!
MODA
CARLOS BUNGA
A ARQUITETURA DA VIDA
CARLOS BUNGA CARLOS BUNGA A ARQUITETURA DA VIDA —
A ARQUITETURA DA VIDA
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ARTE
A uma dada altura, J Ú L I O P O M A R , numa conversa com SA R A M ATO S e P E D RO FA RO, sobre se era capaz, sem dificuldade, de se desfazer das obras que criava, respondeu, sem entraves: “no meu caso, não tenho problemas nenhuns em me desfazer das coisas. (...) por vezes, há uma questão de incapacidade quase física de ir mais além, quero dizer, de fazer as obras aproximarem-se do conceito de acabado. Mas se estão acabadas, quando acabou o “corpo a corpo, não tenho problema nenhum que saiam do atelier.”
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Há uma certa organicidade no modo como o artista estabelece o contacto com a obra, uma espécie de “corpo a corpo” como diria P O M A R . B U N G A pinta, rasga o cartão, liga as partes com fita adesiva. Estabelece conexões entre as várias disciplinas, evidencia as ambiguidades existentes entre elas, cria sub-disciplinas. Salienta uma “dialéctica dos opostos”. Por um lado, preocupa-se com o plano do suporte (o cartão), como se se tratasse de uma pintura, por outro deixa-se absorver pela estrutura que se dilui, ou complementa, no espaço arquitectónico. Há um certo despojamento em B U N G A porque o artista não se quer fixar em nenhuma disciplina. A catalogação, essa, já mora bem longe, no separatismo modernista. Como CAG E que criara os 4 minutos e 33 segundos de silêncio, composição concebida para nenhum instrumento ou combinação de instrumentos, o que de facto interessava era que tudo poderia ser música. À semelhança de CAG E , o que interessa ao artista, nas várias disciplinas, é o modo como, como meios, podem “criar uma experiência, seja visceral, conceptual ou de outro tipo, num ambiente determinado”. Os meios ficam assim, ao serviço das experiências, e dos actos individuais do artista, que estão bem presentes na obra de B U N G A . Como um dia terá dito K R AU S S , a nossa cultura ainda não se habituou a pensar de forma complexa, embora outras culturas o tenham feito com grande facilidade. Os labirintos são tanto arquitectura quanto escultura. Os jardins japoneses são tanto arquitectura quanto paisagem. Eram parte de um universo cultural, lugar onde a escultura era só mais uma parte.
ARTE
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texto p o
CARLOS BUNGA
CA R LO S B U N G A parece seguir esta linha de despojamento nas obras que expõe na exposição The Architecture of Life, Environments, Sculptures, Paintings and Films, MAAT. O artista utiliza habitualmente o cartão prensado nas suas instalações, que são geralmente site-specific, e que tocam domínios como a arquitectura, a escultura e a pintura —aquele material que associamos às coisas efémeras e perecíveis. Geralmente em grandes dimensões, o cartão dilui-se nos espaços, ou impõe-se como seu dimensionador. As superficies deste material são preenchidas a cor, pelo artista, para, logo de seguida, no momento do “corpo a corpo” com o material, serem cortadas e rasgadas. As estruturas salientam assim a vulnerabilidade do lugar, a “temporalidade do espaço”, como o artista bem fomentou da exposição realizada em 31 de Dezembro de 2009.
la Ca rbon e
ESPACIALISMO
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o p or R afa
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R E D U X ESPACIALISMO
REDUX
ESPACIALISMO REDUX Ninho, s é r i e O s E s p e c i a l i s t a s n a M i n a (2008) ↑
ESPACIALISMO
REDUX
S é r i e I d e i a , L u z e G r av i d a d e (2009) ↑
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ARTE
Os ESPACIALISTAS trabalham com o espaço —tanto o físico como o imaginado, ilimitado, elemento não balizado por quaisquer limites, o infinito. Usam ferramentas próprias e, à falta de alguma necessária para veicular uma determinada pulsão criativa, criam novos mecanismos. Colaboram, tabelam, idealizam translações, movimentam-se ou param —isto continua e ciclicamente. Entrevista-breve:
Ca n t o B r a n c o, s é r i e Ca n t o B r a n c o (2009) ↑↓
1. de colaborações & derivações: A vossa colaboração com o G O N ÇA LO M . TAVA R E S já vem de antes e virão a reencontrá-lo agora por ocasião da 2º BoCA para três conferências-performance, podem desanuviar-me um pouco este conceito de integração performativa-espacialista com a literatura? Sim, a nossa colaboração com o G O N ÇA LO M . TAVA R ES começa em 2008, com a ilustração fotográfica de textos e crónicas, em algumas revistas e jornais para os quais escrevia. Continua nos livros e deriva no nosso maior projecto conjunto, de sempre, o Atlas do Corpo e da Imaginação, uma espécie de (des)encontro, entre os temas por ele propostos e os temas que nós havíamos esquissado fotograficamente até essa altura, de modo performativo. O G O N ÇA LO tem no Atlas uma frase de que gostamos muito, que diz “Um fragmento é uma máquina de produzir inícios”, é esta a estratégia de montagem do Atlas, na sua relação entre texto e imagem. O Atlas é um livro cheio de livros. Neste sentido, as imagens podem ser lidas em ligação (des)encontrada com o texto, ou então, como uma estrutura narrativa autónoma, um outro livro paralelo, que se intersecta no infinito com a multiplicidade e transdisciplinaridade de temas e sentidos propostos. É este o segredo das imagens d`O S ES PAC I A L I S TAS ; elas existem de forma fragmentada, valem por si só, como fotossínteses de ideias e pensamentos a avulso, resultantes das práticas de espaço que levamos a cabo nos espaços quotidianos por onde passamos, e em conjunto, como narrativas fotográficas capazes de se constituírem como uma forma de escrita do corpo no espaço. As conferências-performance por ocasião da 2ª BoCA, com o GONÇALO M. TAVARES, não são mais que a espacialização performativa do Atlas do Corpo e da Imaginação ao vivo, onde o corpo do escritor, o corpo d`O S ES PACI A L I STAS , as palavras, os movimentos, os textos e os esquissos fotográficos, estão presentes, com a mesma estratégia fragmentada e des(encontrada) do livro. Para O S E S PAC I A L I S TA S , os gestos são as ideias do corpo, a folha de papel é o espaço errático em estado de espera e a máquina fotográfica o lápis electrónico, que regista todas as intensidades imaginárias, que somos capazes de fazer aparecer, na circunstância espacial em que nos encontramos. A integração performativa-espacialista com a Literatura acontece no início de qualquer projecto que levamos a cabo, não só nos sinais de pontuação da escrita, como as reticências que já performatizamos a várias escalas e em objectos/materiais diversos; nos jogos de Linguagem que espacializamos sob a forma de livros mas também nas p/referências literárias e filosóficas que transformamos em ensaios fotográficos no espaço arquitectónico, como aconteceu com a “A Fenomenologia do Redondo”, de G A S TO N B AC H E L A R D na Casa de Monsaraz dos arquitectos A I R ES M AT EU S . OS ESPACIAL ISTAS são por natureza transportadores de metáforas, conscientes de que uma metáfora é algo que se desloca e nos transporta de um lado para o outro. 2. dos objectos: A materialização do Kit Espacialista é também um objet trouvé, um gabinete de curiosidades ambulante (infinito, sempre a crescer, mutável). Como é o vosso processo de criação a partir de adereços —objectos— espaços (é este
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ARTE
também um foco para a vossa criação) que vão encontrando? Traçam no chão, contemplam e desenham, discutem com esquemas, fitacolam post-its? Todo o nosso processo de criação é revelado no Diário do Espacialista , uma publicação de autor, com carácter de manifesto que tivemos necessidade de criar, logo no início do projecto, como auto-resposta metodológica a essa mesma questão, onde definimos o que é, e faz um E S PAC I A L I S TA , e qual a importância do corpo, do espaço e dos objectos nas re/acções que levamos a cabo. O Kit Espacialista , é dividido em Kit de objectos encontrados e Kit de objectos transportados . O primeiro, é constituído por todos os objectos, espaços, pessoas e animais, que vamos encontrando, nas situações de espaço por onde passamos, o segundo, é essencialmente constituído por todos os objectos que antecipadamente pensamos e intuímos, pela imaginação da memória dos espaços onde anteriormente passamos e pelo corpo de pessoas que acrescentamos por afecção projectual. Os objectos, para OS ESPACIALISTAS são instrumentos de medi(a)ção das intensidades imaginárias, entre o corpo e o espaço. Estão na origem de um conjunto de exercícios ginástico/conceptuais de espaço, que têm como principal propósito, fazer aparecer a vocação artística do espaço onde nos encontramos, e exercitar o aparelho reprodutor artístico, latente em cada um de nós. Da relação, com os objectos, a repetição, aparece-nos como método fundamental de todas as reacções poéticas que desenvolvemos, não só do ponto vista performativo, mas também, do ponto de vista processual, pois muitos dos Kits de objectos que encontramos ou criamos, são conjuntos de objectos iguais, passíveis de serem manipulados enquanto materiais a diversas escalas; desde a escala da mão, à escala da casa, à escala da paisagem, até à escala da imaginação. Depende também da (il)imitação das nossas p/referências arquitectónicas e artísticas que consciencializamos a todo o momento, nas palavras, nos movimentos do corpo e do espaço, que realizamos à medida que caminhamos, com os pés e as mãos bem assentes na memória e na imaginação, de cada um d`OS ESPACIALISTAS e dos espaços onde nos encontramos.
de cada ES PAC I A L I S TA e da circunstância que cada um vai revelando a partir dos gestos que desenvolve, e que se ligam com os movimentos dos outros, criamos os processos de forma, que depois apresentamos publicamente. Cada projecto-presente, continua a pensar e a imaginar o anterior, à medida que vai acrescentando as intensidades dos novos espaços e dos objectos, onde nos encontramos. O Kit Espacialista de natureza por/táctil, não pára de aumentar, cresceu da escala do corpo para à escala do espaço, sob a forma de Laboratório de Arquitectura e Arte - Lar, instalado na Universidade Lusíada de Lisboa e de Loja do Espacialista , no Centro Cultural de Belém d`O S E S PA C I A L I S TA S . O “Lar” é um gabinete de curiosidades, repleto de fotografias, desenhos, maquetas e muitos objectos, provenientes de apanhas diversas, que servem as nossas práticas de investigação académica, arquitectónica e artística, onde a faculdade do toque é transdisciplinar. A Loja é uma espécie de caixa métrica, negra, de natureza
Errar é caminhar. E à medida que o fazemos lúdica e lucidamente, com a ajuda do esquisso fotográfico, enquanto dispositivo de percepção e pensamento em tempo real, resultante das re/acções e de/composições que vamos montando a partir das especificidades físicas e psíquicas
tecnológica e constelar, que espacializa muitos dos nossos conceitos de intervenção, uma espécie de atlas, constituído por postais, livros e sólidos geométricos, transformados em formas narrativas. Nela, conversamos com quem nos visita, e transformamos as palavras em objectos de
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Corpo sem Órgãos (2012) ↙↑
ARTE
natureza escultórica. É por natureza um espaço em que o encontro e o diálogo, são transformados em Escultura Social, segundo J O S E P H B EU YS e onde o ES PAC I A L I S TA está presente citando M A R I N A A B R A M OV I C. E depois há ainda o atelier Objecto como o suplemento mais arquitectónico d`O S E S PAC I A L I S TA S que deixamos a explicação do conceito para outra oportunidade. 3. dos lugares: O que acham da problemática dos não-lugares —existirá algum espaço em que O S E S PAC I A L I S TA S se sintam num zero absoluto de possibilidades criativas, existirá para vocês um não lugar (recordo-me assim de espaços opressores como The Void —um espaço claustrofóbico do L I B ES K I N D no Museu Judaico de Berlim ou o bunker do B EU YS)? Os não-lugares, com o sentido, com que M A RC AU G É os definiu, não são uma questão no nosso trabalho, mesmo em situações dessa natureza de espera ou passagem, como pode ser o espaço de um centro comercial, onde já desenvolvemos re/acções/construções de reabilitação artística, com o objectivo de revitalização desse não-lugar, partimos
S é r i e O s E s p a c i a l i s t a s n a s Re d o n d e z a s (2016) ↑↘
de cada um) em movimento e o torna diverso... Um canto branco, é para nós, o zero absoluto da criatividade arquitectónica, pronto para começar a ser construído, pensado e habitado… Mesmo quando perdemos os referenciais do espaço, como no espaço branco ilimitado do filme THX 1138, há o lugar-corpo-do-outro, que nos aparece como porta de saída e revela de novo, outro grau zero. Precisamos sempre de um suporte, que se predisponha a esperar o erro, como solução. No canto branco espacialista, o espaço e o corpo estão disponíveis, para estabelecer a ligação afectiva, que implica a construção de um lugar errático, capaz de nos colocar em movimento. O zero absoluto contém em si a possibilidade criativa de todas as manifestações de movimento. Só temos de errar... No início de cada projecto de arquitectura, há um sítio de intervenção que deseja intensamente transformar-se num lugar, com a ajuda do arquitecto habilitado da única ferramenta criativa humana, capaz de o transformar num lugar do corpo: a memória individual e colectiva em constante actualização. Não temos medo da apanha consciente do vazio. Temos medo de quem o consome diariamente, sem se aperceber, que se torna num bunker, num corpo não-lugar do humano, onde ilusoriamente se está protegido da dor. Entre a Dor e o Nada, preferimos como W I L L I A M FAU L K N E R , a Dor. A essencialização da forma vida como pretende J O S E P H B EU YS , é a única forma de transformarmos os não-lugares de espera e de passagem quotidianos, em lugares humanizados. Aquilo que aqui tentamos dizer, pode ser visto, até Setembro, no Museu Colecção Berardo na exposição “Constelações”, onde apresentamos o Canto Branco, em “constelação” com DA N F L AV I N e S O L L E W I T T. Aí revelamos de que modo as prácticas d`O S E S PAC I A L I S TA S são exercícios práticos, de re/acção poética e de consciencialização dialógica de códigos artísticos / arquitectónicos, com o objectivo de criação e descoberta do lugar do corpo, nos espaços que todos experimentamos.
sempre da ideia, que só o lugar do corpo nos interessa, e é esse espaço, independentemente da sua circunstância, que tentamos re/habilitar. Há cada vez mais seres humanos, que não são um lugar. Os não-lugares são a consequência do estado civilizacional em que vivemos, desprovidos de ligações com raízes. Acreditamos, que antes do não-lugar arquitectónico, há o não-lugar aberto (do corpo) humano, é esse que a todo o custo tentamos re/habilitar, através de sentidos imaginários que passam pela valorização e intensificação da criatividade, da experiência e da memória. Temos de reaprender o peso i/material do corpo, voltar a ligá-lo ao corpo material pesado do outro, como tarefa principal da imaginação. G AS TO N BAC H E L A R D, na Poética do Espaço escreveu que só um brinquedo pesado é susceptível de ser imaginado. Temos de aplicar ao corpo próprio e ao dos outros, essa ideia. Ser capaz de imaginá-lo como um fluído pesado, com ligações mais r/existentes, onde o peso é essencialmente intensidade. Para todos aqueles, como nós, que acreditam, que o espaço quotidiano que habitamos é uma emanação corporal dotada de criatividade, só a arquitectura do lugar do outro, como processo de ligação ao lugar do nosso corpo, pode desacelerar o processo distópico, de transformação em não-lugares em que nos estamos a tornar. Quanto ao zero absoluto, onde o nada é pré-existência, e nos questionamos como surgiu alguma coisa, não vemos nele uma não-possibilidade, um lugar de espera ou de passagem, características de um não-lugar, mas um lugar potencial de criação. Um lugar de espera do erro, que ao aparecer coloca o mundo (de passagem
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camisola LION OF PORSCHES
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VL A D →
vestido INTIMISSI
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CH LOE ←
VL A D ↑
blazer PINKO
camisa INÊS TORCATO
meias CALZEDONIA
camisola FAGUO
óculos POLAROID
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A N D R É Ó P T I CA S TRÊS EM UM texto por Liliana Pedro
A N D R É Ó P T I CA S - AT E L I E R C H I A D O Rua Serpa Pinto, 12 Lisboa Seg. → Sáb. 10:00 → 19:30
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Já abriu no Chiado a nova loja A N D R É Ó P T I CAS . O espaço é uma mistura de museu e atelier, onde é possível criar peças únicas e personalizadas ao gosto do cliente. Com um protejo único a nível nacional e internacional, a loja junta peças vintage e tailor made no mesmo espaço. Ao entrarmos no primeiro piso, somos levados numa viagem pelo tempo. Com assinatura de J OA N A AS TO L F I , a decoração é inspirada nos antigos cabinets de curiosités. No piso de baixo fica o atelier, com todas as ferramentas, materiais e livros PARQ HERE
técnicos, onde o cliente pode assistir à produção manual dos seus óculos. Aqui tudo é possível: desde produzir uma peça pensada e desenhada pelo cliente, até à reprodução de um modelo antigo. A insígnia Family Affair, criada especialmente para este projeto, é a nova aposta da A N D R É Ó P T I CAS . Com o compromisso assumido de elevar a marca e a própria indústria, a loja vai continuar a investir em palavras‑chave como experiência, savoir faire e alma, que definem a marca.
LEV BEBER ÁGUA FA Z BEM À SAÚDE texto por Liliana Pedro
L E V P O R TO Rua de Camões, 19 Porto T— 223 390 601
As lojas L E V têm uma nova decoração. As madeiras e o mármore branco, juntamente com as linhas puristas e o design harmonioso, tornam o espaço mais acolhedor. A embalagem também foi alterada. O preto das embalagens deu lugar ao branco. São o primeiro bar de águas da europa e abriram a sua primeira loja no Porto á cerca de 20 anos. O objectivo de revolucionar o mundo da nutrição continua a ser o lema do seu fundador, CY R I L D EC O R E T que ao longo dos anos, tem vindo a traçar um caminho na filosofia de bem-estar de uma forma distinta e pioneira. Hoje têm lojas em Lisboa, Porto, Guimarães e Coimbra, prevê alargar o conceito em território internacional. Na sua carta de águas, estão disponíveis mais de 50 tipos de
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água, provenientes de países como o Japão e a Suíça. Podemos encontrar águas com e sem gás, aromatizadas de forma natural (sem corantes, conservantes ou açúcar) ou simplesmente naturais. A L E X I S D U R A N D, o primeiro sommelier de águas no mundo, colaborou na escolha das águas, que têm como principais propriedades o efeito detox e energizante. Para as lojas renovadas trouxe agora uma parceria com a empresa C O M PA N H I A P O R T U G U E Z A D O C H Á , que criou quatro blends de chás funcionais, desenvolvidos por S E BAS T I A N F I LG U E R AS , com formação em tea sommelier e em tea blending. As águas podem consumir-se no local, mas também podem ser levadas para casa. Os preços variam entre 1,75€ e 12€.
T E M . P L AT E 800 M 2 M A RVI L A texto por Liliana Pedro
T E M . P L AT E Rua Projectada à Matinha, armazém F Marvila, Lisboa Seg. → Sáb. 10:00 → 18:00
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RU N E PA R K e RO B BY V E K E M A N S são os nomes que estão por detrás da loja de moda de luxo T E M - P L AT E . O conceito foi criado na Antuérpia, o investimento veio da China e a alma é portuguesa. Tudo começou em 2016 quando foram convidados pela FA R F E TC H a presidir a uma conferência de moda. Uma semana depois, nasceu a T E M - P L AT E . O conceito da marca pretende colocar no mapa da moda novos territórios. Quando o nome de Portugal surgiu em conversa, RU N E e RO B BY não hesitaram em escolher o território nacional para darem início a este novo projeto. Fugiram da Avenida da Liberdade, o epicentro da moda e do luxo, e decidiram abrir portas na freguesia de Marvila, o novo PARQ HERE
bairro das artes e da cultura da cidade de Lisboa. Num armazém de 800 metros quadrados, na Rua Projetada à Matinha, com um toque minimalista e uma vibe Nova Iorquina, podemos encontrar nomes como B U R B E R RY, G A N N I , JAC Q U E M U S e M A I S O N M A RG I E L A . A fazer pandã com o espaço e com o conceito da T E M - P L AT E , as peças de roupa, os acessórios e o calçado têm a originalidade, a irreverência e a juvenilidade no seu ADN. Mas a T E M ‑ P L AT E não se fica por aqui. Enquanto fazemos compramos, podemos visitar a galeria de arte com exposições temporárias. A seleção de produtos da T E M - P L AT E está disponível online em tem-plate-com.