24 a 30 de abril de 2022 - Ano XXIX - nº 1.263
“Que todos sejam um” Caderno especial comemorativo dos 25 anos de ordenação episcopal do Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. 1997 - 25 de abril - 2022
(Jo 17, 21)
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CADERNO ESPECIAL
EXPEDIENTE: Caderno especial comemorativo dos 25 anos de ordenação episcopal do Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. 1997 - 25 de abril - 2022
Parte integrante do Jornal Testemunho de Fé, edição nº 1.263, de 24/04/2022
24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
Jornalista Responsável: Carlos Moioli; Revisor: Carlos Gustavo Trindade; Diagramadora: Elizabeth Eiras
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022
CADERNO ESPECIAL
3 FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
Ordenação episcopal No dia 26 de fevereiro de 1997, o Papa São João Paulo II nomeou o monge cisterciense Dom Orani João Tempesta para ser o terceiro bispo da Diocese de São José do Rio Preto (SP), aos 46 anos. Recebeu a ordenação episcopal no dia 25 de abril de 1997, em São José do Rio Pardo (SP), sua terra natal, pelas mãos de seu antecessor, Dom José de Aquino Pereira, e dos coordenantes Dom Dadeus Grings, então bispo de São João da Boa Vista (SP), e Dom Luís Gonzaga Bergonzini, bispo da Diocese de Guarulhos (SP). Adotando o lema: “Que todos sejam um” (Jo 17, 21), governou a diocese riopretense de 1º de maio de 1997 até 13 de outubro de 2004, quando foi eleito para a Arquidiocese de Belém, no Estado do Pará.
Eleito sucessor dos Apóstolos, Dom Orani foi ordenado em São José do Rio Pardo, sua terra natal
Orani João Tempesta, abade da Abadia Cisterciense de São José do Rio Pardo, foi ordenado por Dom José de Aquino Pereira no dia 25 de abril de 1997
Um dos coordenantes de Dom Orani foi o então bispo diocesano de São João da Boa Vista (SP), Dom Dadeus Grings
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CADERNO ESPECIAL
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Dom Orani no mosteiro: de monge e abade cisterciense a cardeal da Santa Igreja
C
CARLOS MOIOLI
ertamente muitas pessoas se
do mosteiro, e foi superior do mesmo
assustam ao saber ou se lem-
por muito tempo, vice-prior de 1974 a
brar que o Cardeal Tempesta é
1984; depois prior até 1996. Até então,
monge de um mosteiro cisterciense,
as Constituições de nossa Congregação
onde foi o primeiro abade. Isto porque
Cisterciense de São Bernardo, na Itália,
ele é muito dinâmico e pastoral. Mas
permitiam só uma abadia, a do abade
a vida monástica tem também a sua
presidente, na Itália. Lembro-me até
dinâmica alternado o ‘Ora et labora’
hoje do dia em que Dom Orani, direto
(oração e trabalho), e este trabalho
do Capítulo da Congregação de 1996,
pode ser o manual, o da acolhida nas
de Roma, ligou para nosso mosteiro,
hospedarias nos mosteiros, e no servi-
“aos prantos”, de emoção, contando
ço pastoral nas paróquias. Assim, Dom Orani, desde que o conheci, na década de 1970, foi sempre muito antenado com a comunicação, sem deixar de viver intensamente o ritmo monástico. A pasta com documentos pessoais
que fomos aprovados, por unanimidade, como abadia. Assim Dom Orani foi eleito nosso primeiro abade, escolhendo como lema “Oportere magis prodesse”, da Regra de São Bento, Capítulo 64,8: “É mais útil servir que presidir”. Cumpriu plenamente este
de Dom Orani, guardada cuidadosa-
lema, pois como nosso superior, fa-
mente no arquivo interno do mostei-
zia muitas reuniões. Tinha o dom da
ro, traz uma riqueza de documentos,
escuta, do aconselhamento. Tínhamos
escritos, depoimentos deste “monge
reuniões demoradas e até cansativas,
que virou cardeal”, nome de um livro
mas que davam oportunidade para que
sobre sua biografia. Ele é o filho caçula
cada monge desse sua experiência, até
da família, nasceu há poucas quadras
chegar a um consenso.
Da esq. para a dir., os monges cistercienses Dom Edmilson Amador Caetano, hoje bispo de Guarulhos, Cardeal Tempesta e padre Paulo Celso Demartini Ao mesmo tempo que era o supeARQUIVO PESSOAL
rior do mosteiro, era também o pároco da Paróquia São Roque, contígua ao mosteiro em poucos metros. Trazia as melhores autoridades para pregar nossos retiros e cursos especiais aos monges e paroquianos. No seu governo o mosteiro cresceu em número e tamanho, com o aumento do prédio, especialmente dos chamados lugares regulares, como o claustro, oratório, sala capitular, refeitório, celas dos monges etc. Foi ele que, já como arcebispo de Belém, veio dedicar a Igreja Abacial, terminada por seu abade sucessor, Dom Edmilson Amador Caetano, que também foi nomeado bispo, antes de Barretos, e agora bispo de Guarulhos. Fato notável é que os dois primeiros abades de nosso mosteiro foram ordenados bispos, e que Dom Orani ordenou seu sucessor no mosteiro como bispo da Santa Igreja. O cardeal cisterciense, como monge, participava de todos os atos comunitários e ofícios litúrgicos. Dom Orani era o coordenador diocesano de pastoral, animando toda a Diocese de São João da Boa Vista (SP). Como primeiro monge do mosteiro
Monges cistercienses e Dom Orani (último da primeira fileira à direita)
(já comemorou neste ano 50 anos de
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022 profissão solene), deu novo impulso
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CADERNO ESPECIAL de São José do Rio Preto, arcebispo
Olhando o que aconteceu com ele de
Ó Deus, dê nos uma ajuda
na paróquia, animando o grupo de
de Belém do Pará e hoje é cardeal do
lá para cá, podemos dizer: o humilde
ama ajuda que nos ajude
jovens chamado TUCAF (Todos uni-
Rio de Janeiro! Bem, já tivemos dois
foi elevado. E quem se eleva em Deus,
a compreender vossos desígnios
dos como amigos felizes). Até hoje,
papas cistercienses (Beato Eugênio
eleva consigo todos os demais:
a olhá-lo com outros olhos;
pelas redes sociais, tem um grupo
III e Bento XII), e Dom Orani é o
“Ó Deus;
os olhos da vossa bondade .
desses “jovens de outrora”, que estão
nosso 41º cardeal.
eu vos agradeço por tudo,
Quero amar, Senhor,
de nada sou digno,
Quero dar-me Senhor,
mas como tens me ajudado
Ensina-me, ajuda-me,...”
conectados com notícias e orações. Dinamizou novos movimentos na paróquia, como o Caminho Neocatecumenal, o Focolare, a RCC, e as CEBs. Era muito unido ao bispo Dom Tomás Vaquero, que o ordenou, e que
Devo a ele minha vocação monástica. Sempre foi um pai, amigo e irmão, em todas as fases de minha caminhada
cação. Outra pessoa que já é Serva
ele tem mandado para nosso mosteiro.
de Deus, por também estar neste
Com o tempo pensamos em fazer um
processo de beatificação, foi a dona
espaço de exposição em nosso mos-
Lourdinha Fontão, sua madrinha de
teiro, acessível às pessoas.
quis que no seu sarcófago fosse colocado “leiga e mãe de família”. Ela chegou a profetizar, na década de 1980, que o padre Orani, então pároco e prior, seria, um dia, bispo e...
que eu sempre vos ame,
placas recebidas em sua homenagem, troféus, medalhas e outras outorgas
e atuante na paróquia. O Vaticano
Ó Senhor,
monástico-sacerdotal. Centenas das
agora está em processo de beatifi-
oração. Era muito unida ao mosteiro
nestes últimos tempos.
que eu sempre vos busque que eu possa levar-te a todos, a todos os meus irmãos, Iluminai-me Senhor, só com Vossa assistência
e irmãos de hábito cisterciense da Abadia Cisterciense Nossa Senhora de São Bernardo. DOM PAULO CELSO DEMARTINI O.CIST. ABADE EMÉRITO E ATUAL PRIOR DO MOSTEIRO, E PÁROCO-REITOR DA PARÓQUIA SANTUÁRIO SÃO ROQUE, DE SÃO JOSÉ DO RIO PARDO (SP)
Ao mesmo tempo que era o superior do mosteiro, era também o pároco da Paróquia São Roque, contígua ao mosteiro em poucos metros
e que retrata os seus pensamentos de 20 de janeiro de 1968 a 23 de abril de 1970.
creveu um verdadeiro projeto de vida.
-pardenses, paroquianos do São Roque
Tu o fizeste em mim.
páginas, guardado em nosso arquivo,
e primeiro abade, foi nomeado bispo
em nome dos seus conterrâneos rio-
só poderia fazer se
escreveu no seu diário pessoal de 166
No dia 23 de abril de 1970, ele es-
25 anos de sua ordenação episcopal,
poderia qualquer coisa fazer
Impressionante o que Dom Orani
Papa. Bom, depois de ser nosso prior
Aqui vão os nossos parabéns pelos
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
Dom Orani com seus pais, Achille e Maria Bárbara, Lourdes Fontão e paroquianos de São José do Rio Pardo
Dom Orani diante da Matriz de São Roque, em São José do Rio Pardo
Santinho de lembrança da ordenação sacerdotal
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Sacerdote incansável FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
Dom Orani e padre Paulo Celso Demartini no final do Encontro de Jovens “Uma luz no meu caminho”, em São José do Rio Pardo, na década de 1980
H
Há pessoas em nossas vidas
Evangelho, pelas coisas de Deus. Nos
Hoje, vivemos numa sociedade em que
que passam por ela e deixam
ensinou a ter zelo pela nossa paróquia.
o jovem é muito poupado, na própria
marcas que nem o tempo,
nem a distância conseguem apagar. Estou falando de um homem de Deus, simples, humilde que arrebanhava muitas pessoas. Eu conheço Dom Orani desde abril de 1977, eu tinha apenas 16 anos e fui fazer
Éramos todos bem jovens, mas Dom Orani nos dava responsabilidades, e isso nos entusiasmava, nos animava. Assim como ele, que não ficava parado, ele fazia com que nós também não ficássemos.
Igreja também o é.
houve uma época em que nos reuníamos em 150 pessoas. Muitos se perderam pelo caminho,
O fato de Dom Orani nos inserir nos
mas grande parte participou da co-
vários trabalhos, nos motivava a não
munidade de jovens até se casarem. E
querer parar de caminhar, e a buscar sempre mais, a sermos perseverantes. Dom Orani era tão carismático que
muitos estão na Igreja até hoje, e estão à frente de comunidades, são catequistas na paróquia.
um encontro de jovens na Paróquia São Roque, em São José do Rio Pardo (SP), ele era um padre bem novinho, tinha sido ordenado em dezembro de 1974. Nem eu nem a maioria dos jovens pertencíamos juridicamente à paróquia. Morávamos longe dela e íamos a pé todos os domingos, para nos reunir e escutar uma palavra. Dom Orani sempre nos acompanhava, nos ajudava demais, nos orientava, nos colocava à frente de muitos trabalhos: na zona rural, na catequese, nas quermesses, nas visitas a orfanatos, asilos etc. Nos confiava a direção dos TLCs, dos encontros de férias “Uma luz no meu caminho”, dos retiros de Carnaval, preparava conosco, sempre teve um zelo muito grande. Ele despertou em nós o amor pelo
Lourdes Fontão, Dom Bonifácio Cicconofri, Dom Tomás Vaquero (bispo de São João da Boa Vista) e Dom Orani, no final da década de 1980
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CADERNO ESPECIAL
estivesse cheia, arrumava um tempinho para cada um. Nos sentimos privilegiados por termos participado de todos os momentos da sua vida, da sua história, tanto aqui em São José do Rio Pardo como em São José do Rio Preto, no Rio de Janeiro, em Roma. Mesmo estando longe, faz o possível e o impossível para se fazer presente para celebrar os casamentos dos nossos filhos. Geralmente volta para o Rio na madrugada, nem dorme. Ele é demais. Veio para celebrar várias bodas de prata, inclusive a nossa. Foi inesquecível. Todos nós o admiramos muito pelo exemplo que é para toda nossa Igreja, pela sua simplicidade, humildade, que permanecem até hoje. Como dizia a serva de Deus Lourdinha Fontão, “Esse menino vai longe”. Dom Orani (o terceiro sentado) e monges do Mosteiro Cisterciense de São José do Rio Pardo, em 1980 Tudo isso é fruto daquilo que Dom Orani plantou. O João, meu marido, o conheceu alguns anos depois. Na época ele nos colocou como responsáveis pelo dízimo da paróquia.
carta a ele, dizendo o quanto ele era
Sempre recebeu a todos na sua casa,
importante nas nossas vidas, na nossa
uma vez eu e minha família ficamos
caminhada e agradecendo por todo bem
hospedados lá. Com todo o trabalho
que fez a nós, e a todos os jovens, casais,
que tinha, ainda arrumava tempo
idosos que passaram por ele.
para ver se todos estavam bem aco-
Ele nem tinha assumido a Diocese
Ele sempre foi um homem à frente de seu tempo. Fazia filmes conosco, nos entrevistando, e depois passava
modados.
de São José do Rio Preto e eu fazia as
Nos recebeu no Rio de Janeiro, e isso
contas com quantos anos ele voltaria
sempre fez com que todos daqui quises-
para São José.
sem visitá-lo. Mesmo que sua agenda
Parabéns Dom Orani pelos seus 25 anos de ordenação episcopal, que Deus o conserve sempre assim. Agradecemos a Deus pela oportunidade que nos deu de caminharmos ao seu lado durante muitos anos. Obrigada por tudo que sempre fez pelos jovens, pela nossa paróquia, por toda a nossa Igreja, pela minha família! DIVA MARIA SECCO CAPOANO (ESPOSA DE JOÃO CAPOANO NETO), SÃO JOSÉ DO RIO PARDO (SP)
experiência do dízimo em nossas vidas e isso atraía as pessoas.
CARLOS MOILI
para as comunidades, ali contávamos a
Sempre foi um sacerdote incansável, sempre se desdobrou para atender a todos, para ouvi-los, dava assistência a todos os movimentos da paróquia. Fez o casamento da maioria dos jovens, e foram muitos. Batizou nossos filhos, nos visitava no hospital quando tínhamos os filhos, ia nos aniversários das nossas crianças. Um pastor sempre presente, Dom Orani é amigo, irmão, pai na fé. Sempre se fez presente nos momentos alegres e nos tristes também. Foi nosso catequista quando participava da comunidade Neo Catecumenal. Um homem muito iluminado, que nos colocava na verdade e nos ajudava. Experimentamos uma mistura de alegria e tristeza, quando ele foi nomeado bispo. Me lembro até hoje que escrevi uma
Dom Orani (o segundo à frente) ao lado do núncio Dom Carlo Furno, de Dom Tomás Vaquero, Dom Bonifácio e monges do Mosteiro Cisterciense de São José do Rio Pardo, na década de 1980
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CADERNO ESPECIAL
Dom Orani com os jovens FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
Dom Orani e jovens do TUCAF (Todos Unidos Como Amigos Felizes), em 1981
P
arece que foi ontem!
cisterciense do Mosteiro Nos-
foi crescendo cada vez mais e
para todos os outros também.
eram toda noite durante uma
Sim, foi há alguns anos.
sa Senhora de São Bernardo,
“Orani”, assim como o cha-
Meu irmão de coração.
semana e terminavam com
Apenas 40 anos, mais
que fica também nessa mes-
mávamos, sempre presente.
ou menos. Éramos jovens e
ma cidade, anexo à Paróquia
Ele nos preparava para dar-
sonhadores. Eu era um rapaz
de São Roque. Era vigário
mos catecismo na zona rural
nos meus 20 anos e adorava
dessa paróquia. Ele aparen-
e, ao mesmo tempo, ajudá-
jogar futebol aos domingos
tava ser uma pessoa muito
vamos as famílias carentes,
junto de amigos. Naquele
dinâmica e demonstrava um
trabalhávamos em quermesse
tempo, o futebol ainda era
grande carinho pela Igreja.
do padroeiro São Roque e
diversão e todos se respeita-
Foi aí que eu o conheci. Mais
fazíamos vigílias orientados
vam e se alegravam sempre
tarde, seríamos grandes ami-
por ele. Tínhamos diversão
nos campos da vida.
gos.
também: futebol, com muita
E foi nesse tempo, indo
Saindo desse encontro
para a faculdade, dentro do
fomos motivados a nos reunir
ônibus que eu fui convidado
aos domingos, às 14h, para
para participar de um encon-
darmos continuidade nos es-
tro chamado TLC, que signifi-
alegria e participação. Nessa época, chegamos a 150 jovens participantes e todos com muito entusiasmo e perse-
Ainda nessa época, fui convidado pelo padre Orani
Eram proferidas palestras
Cruzes, onde havia mais um
por nós mesmos que nos fa-
encontro diocesano de jovens,
ziam estudar e passar nossas
e algumas vezes almoçava
experiências e vivências para
com ele no mosteiro. Percebia
nos ajudar e a outros também.
sua simplicidade e humildade
E assim sermos educados
para com todos igualmente.
nessa fé de Cristo. Tudo isso
Posso até contar uma passa-
com a supervisão do nosso
gem em que, um certo dia, eu
querido amigo e irmão padre
entrei na cozinha do mosteiro
Orani.
e o vi comendo apenas arroz com jurubeba. Fiquei impres-
tudos e ter uma espiritualida-
sabíamos disso, e esse grupo
sionado com sua humildade.
ca Treinamento de Liderança
de para aumentar a nossa fé.
recebeu o nome carinhoso de
Esse era o seu jeito verdadeiro
Cristã. Isso aconteceu em
Foi formado um grupo de jo-
TUCAF, que quer dizer Todos
de ser.
outubro de 1976. Gostei muito
vens e padre Orani era o nosso
Unidos Como Amigos Felizes.
das palestras proferidas, por-
incentivador. Ele participava
que era uma esperança de coi-
junto conosco e nos ajudava a
sas novas para nós jovens. E o
dar pequenas palestras sobre
diretor espiritual era o padre
temas fortes da Igreja, fé, es-
formado há dois anos que se
perança, amor, caridade etc.
chamava Orani João Tempes-
Essas reuniões eram feitas
ta. Esse TLC foi realizado na
no porão do mesmo mosteiro.
minha cidade São José do Rio
Ele nos indicava para estudar
Pardo, interior de São Paulo,
o Documento de Puebla e o
no Colégio Santa Maria.
Catecismo Holandês. A partir daí, nosso grupo
dida por Dom Orani.
para viajar para Mogi das
verança. Éramos felizes e
Padre Orani era um monge
uma missa no sábado, presi-
Outro acontecimento importantíssimo também, o qual não poderia deixar de mencionar, foi a gincana entre jovens de nossa Paróquia
Depois de muitos encon-
São Roque junto com todas as
E deu tão certo que a
tros e reuniões, padre Orani
outras paróquias da cidade.
maioria deles permanece até
sugeriu que fizéssemos um
Movimentou não só nós que
hoje engajada em algum mo-
encontro chamado “Uma
participávamos, mas uma
vimento da Igreja. Ficamos
Luz no Meu Caminho”. Era
cidade inteira. Foi tão grande
muito amigos de padre Orani,
realizado em julho nas férias
esse evento que fomos para
eu particularmente sempre
escolares, no qual muitos
a praça central na escadaria
me confessava e conversava
jovens podiam participar.
da Matriz São José, e foi um
com ele. Sempre foi muito
E, sim, eram arrebanhados
grande sinal para a juventude.
atencioso nunca reclamava
muitos e muitos jovens! Che-
Todos se perguntavam “De
ou mostrava cansaço. Padre
gando a contar com até 200
onde vem toda essa alegria
Orani era um pai para mim e
participantes. Essas reuniões
dessa moçada em participar
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022 de gincana cristã”, e esse foi
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sacerdócio, outros ainda de
do nosso lado. Qualquer queda
um gesto de reprovação sua,
tecimento nas nossas vidas,
um legado que aquela turma
irmãos leigos consagrados e
ou desvio de caminho lá es-
ele me acalmou e com um
tudo por causa daquele padre
da década de 1970 deixava
assim por diante. Foi muito
tava ele. Sempre pronto a nos
sorriso me disse apenas: “Foi
simples e carismático. Sem
para uma pequena cidade do
produtivo todo esse tempo
guiar, por isso éramos segu-
bom acontecer para mostrar a
perceber ele nos educou e
interior.
e deu muitos frutos até nos
ros no que fazíamos, porque
você que não é um santo!!!!”.
mostrou o verdadeiro cami-
dias atuais.
tínhamos a certeza de ter um
Uma alegria imensa de fazer parte dessa turma e desse
Eu mesmo conheci minha
tempo. Nunca mais esquece-
esposa nesse grupo. Eu já
remos a sensação de amor e
participava e ela veio depois.
de amizade que tínhamos al-
Dom Orani sempre na nossa
cançado. Todos aqueles anos
retaguarda, nos aconselhando
foram de muito aprendizado
e foi meu grande mestre para
de fé, mas de convívio social
poder seguir meu caminho.
também.
Ele foi abençoar meu noivado,
Muitos de nós, ou melhor, todos somos amigos até hoje,
fez meu casamento e batizou meus três filhos.
amigo e um protetor. Tenho que contar um outro acontecimento em minha vida
Pois é, todas essas vivências foram nos modelando e educando para a vida!
ligado diretamente com Dom
E assim o tempo passou
Orani. Estava eu ajudando
e esse padre querido fez tão
numa quermesse, juntamente
bem sua missão que foi es-
com vários outros jovens,
colhido para ser bispo na
quando um certo indivíduo se
cidade de São José do Rio
equivocou comigo por causa
Preto. Ficamos muito felizes
de uma cadeira, na qual eu
por ele, pois seu trabalho de
estava arrumando para essa
evangelizador foi reconhecido
namoramos, casamos, fomos
Sou muito agradecido a
festa. Houve uma discussão
e edificado. Mas ao mesmo
compadres e temos até um
Deus por ter me colocado nes-
e por pouco não chegou aos
tempo ficamos tristes, pois
grupo de WhatsApp, junta-
se caminho e junto de Dom
tapas. Fiquei muito chateado,
“perdemos” nosso padre,
mente com o Cardeal Orani
Orani. Ele foi meu alicerce
porque eu era um jovem que
nosso grande amigo e irmão.
João Tempesta. E ainda, de
para a vida adulta.
estava dentro da Igreja e não
Porém, Deus sabe o que faz e
poderia ter acontecido isso.
faz bem feito que chegou até
vez em quando, nos reunimos
É bom lembrar que tudo
Mas por que estou falando
que fazíamos era supervi-
disso, o que tem a haver com
sionado por Dom Orani que
Dom Orani. Exatamente, tem
E falando nisso, alguns
nos ajudava, mas ao mesmo
tudo a ver, pois quando eu
de nós conheceram seus
tempo nos deixava trabalhar
esperava receber uma chama-
namorados(as) aqui. Outros
e aprofundarmos na fé. Ensi-
da de atenção por parte dele,
Hoje, vejo que tudo que
descobriram a vocação do
nava a pescar e ficava sempre
uma punição ou até mesmo
passou foi um grande acon-
para matar a saudade e pôr a conversa em dia.
o cardinalato. Ele mereceu e
nho que nos leva a Deus. E assim com seus exemplos e modo de viver foi nos levando a procurar uma fé adulta e que naquele tempo, muitos jovens começaram a participar do Caminho Neocatecumenal. Posso finalizar dizendo que ele foi nossa estrela guia, o nosso porto seguro e até hoje permanece no nosso coração. Como padre, como bispo, com cardeal e quem sabe Papa, pois nossa querida serva de Deus Lurdinha Fontão já falava dele: “Esse Menino vai longe. Vai ser Papa”!
merece tudo isso. Louvado
Nossos parabéns pelos 25
seja Deus e viva o nosso Car-
anos de sua ordenação epis-
deal Orani João Tempesta!
copal.
Cardeal Tempesta com membros do TUCAF, em 2019, quando celebrou os 50 anos de vida monástica, em São José do Rio Pardo
DENIS JOSÉ LODOVICHI MEMBRO DO CAMINHO NEOCATECUMENAL
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24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
CADERNO ESPECIAL
Nosso irmão, Orani FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
tomaram parte mais de 60 mil pessoas, representando toda nossa rica e vasta região”. Dom Lafayette esteve à frente da diocese durante 35 ininterruptos anos, criando 27 paróquias, sempre
um esteio para os rio-pretenses. No
acompanhado dos inseparáveis mon-
fragor do conflito, ele fez uma pro-
senhores Braz Baffa, Joaquim Manoel
messa: se não houvesse derramamen-
Gonçalves e Gregório Naffria.
to de sangue na área da sua diocese, edificaria uma igreja em devoção a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. No início de setembro as forças federais entraram em São José do Rio Preto. Nenhum morto, apenas um delegado ferido por acidente. A cidade ganhou a Basílica Menor Nossa Senhora Aparecida, na Boa Vista. Menos de dez anos depois de sua posse, em plena guerra mundial, Dom Lafayette fez o mundo católico voltar seus olhos para São José do Rio Preto ao realizar o I Congresso Eucarístico.
Com a sua aposentadoria, em 1966, a diocese esteve sob a administração do bispo auxiliar Dom José Joaquim Gonçalves, prata da casa e sobrinho do monsenhor Joaquim Manoel Gonçalves, enquanto os fiéis aguardavam por quase dois anos a nomeação do novo bispo. Ele chegou em agosto de 1968. Português de Trás-os-Montes, Dom José de Aquino Pereira havia completado 48 anos quatro dias antes de sua nomeação como segundo bispo de Rio Preto.
Foram cinco dias que levaram o médico
Dom José encontrou uma diocese
João Deoclécio da Silva Ramos, editor
endividada, que estava dilapidando
do jornal “A Folha”, registrar que o
as propriedades para pagar contas.
congresso foi “um espetáculo verda-
Sua primeira providência foi chamar
deiramente impressionante em que
os credores e fazer acordos. Devagar,
Dom Lafayette Libânio, primeiro bispo de São José do Rio Preto rimeiro chegou Lafayette Libâ-
P
Neste enorme território com mais
nio. Mineiro de Pouso Alegre,
de 25 mil quilômetros quadrados,
com fala tranquila, na flor da
Dom Lafayette tinha apenas 15 cidades
idade, nem jovem nem velho. Um
com paróquias: Ariranha, Catanduva,
homem no vigor de seus 45 anos que
Cedral, Fernando Prestes, Ibirá, José
soube rodear-se de companheiros
Bonifácio, Mirassol, Monte Aprazível,
prontos para a messe. Dom Lafayette
Nova Granada, Potirendaba, Santa
tinha pela frente a nobre tarefa de erigir uma diocese nos cafundós do sertão paulista. São José do Rio Preto já era um polo regional, em plena efervescência econômica, dominando uma região de pequenas cidades e vilarejos distantes, com poucas estradas e um trem que aqui fazia a volta. Era um viradouro de trem, portanto, ponta de trilhos e boca do sertão. Apesar de
Adélia, Tabapuã, Tanabi e Uchoa. Para piorar o cenário, o Brasil estava em crise e São Paulo em pé de guerra, cujo conflito armado estourou em julho de 1932, um ano e meio após sua posse. A revolução contra o governo federal ganhou contornos regionais, passando a ser uma guerra “dos paulistas contra os mineiros”.
polo regional, a cidade era demografi-
Hábil, de coração aberto, o mi-
camente pequena dentro de território
neiro Lafayette Libânio contornou a
do tamanho da Bélgica.
situação, manteve a paz e tornou-se
Dom Orani, terceiro bispo de São José do Rio Preto. Foto oficial, em 1997
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CADERNO ESPECIAL CARLOS MOIOLI
sacudida, em 13 de outubro de 2004, após sete anos de bispado, com a notícia de que o Papa João Paulo II o estava transferindo para a Arquidiocese de Belém, no Pará. Ele mesmo escreveu: “Eu sempre imaginei permanecer na Diocese de São José do Rio Preto até a aposentadoria”. A ausência de Dom Orani abriu um vácuo. Era como se de repente, católicos e não católicos, tivéssemos perdido a figura fraternal de Dom Orani. Não a figura paternal, porque não era assim que o víamos. Ele era como o irmão que estava indo embora para terras distantes, levando seu sol para brilhar em outras terras. E todos nós nos rejubilamos quando tivemos a notícia que ele fora levado, pelas mãos do Papa Bento XVI, para comandar a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, uma das mais importantes das Américas e
O segundo bispo de São José do Rio Preto, Dom José Aquino Pereira, e Dom Orani dialogando, ele reorganizou as finan-
jovens estavam acostumados com o
viou missionários para a Amazônia,
ças e remodelou a Igreja Diocesana. Ao
pragmatismo de Dom José.
instalou o diaconato permanente,
renunciar ao cargo por causa da idade, ele havia ordenado 40 padres e atraído para a diocese diversos sacerdotes da Polônia, Itália e Portugal. Em 1997, ele despediu-se do bispado, entregando 97 paróquias, das quais 21 em São José do Rio Preto. Ergueu uma nova e moderna Catedral para São José, inaugurada em 19 de março de 1987, e deixou várias instituições religiosas em funcionamento. No dia 26 de fevereiro de 1997, quatro meses antes de completar 47 anos, o abade cisterciense Orani João Tempesta foi nomeado terceiro bispo de Rio Preto pelo Papa João Paulo II. Os fiéis, os sacerdotes e demais religiosos aguardavam com certa ansiedade e muitos tinham na memória o jeito tranquilo de Dom Lafayette, e os
Neste clima de ansiedade, a Igreja rio-pretense recebeu o sorridente e amável Orani, que logo conquistou o coração de todos, principalmente da imprensa e da juventude. Com o lema episcopal “Que todos sejam um”, ele realmente colocou em marcha o sinal da unidade visível que apregoava. Promoveu a comunicação, renovou as pastorais e trouxe novas práticas como a Rede de Comunidades e a evangelização de casa em casa. Criou novas
lançou o Censo Diocesano, criou os departamentos de administração, contabilidade, imprensa, publicidade e marketing, e conquistou uma emissora rádio educativa, a Interativa. Com ele, a diocese assumiu a Obra Social São Judas Tadeu e instalou o Tribunal Eclesiástico para apurar o milagre atribuído ao padre Mariano de La Mata, e conquistou a elevação da pequena igreja de São Bom Jesus dos Castores à categoria de santuário.
comunidades paroquiais, incentivou
Entre tantas coisas, ele trabalhou
a formação de novas pastorais, como
pela criação da Diocese de Catanduva e
da Saúde, da Educação, da Família, da
lançou as bases para a criação da Dio-
Liturgia, do Dízimo, da Vocação, da Esperança, das Exéquias e, principalmente, a de Comunicações.
cese de Votuporanga. E quando todos esperavam que ele ficasse por aqui, como seus antecessores, a diocese foi
Pela primeira vez, a diocese enCARLOS MOIOLI
Bandeira do Projeto Comum - Rede de Comunidades
Pais de Dom Orani, Achille e Maria Bárbara
do mundo católico. Ao ser declarado cardeal pelo Papa Francisco, nós, rio-pretenses, nos sentimos todos incardinados, como se ele levasse em seu peito cardeal todos nós. Cardeal arcebispo Dom Orani João Tempesta, da Ordem de Cister, filho da brasileira Maria Bárbara de Oliveira e do imigrante italiano Achille Tempesta, de Rieti, do Lácio, não nasceu rio-pretense, mas é como todos nós: filhos, netos e bisnetos de imigrantes europeus, africanos, asiáticos e de nossos nativos índios. Para nós, Dom Orani é o irmão que partiu, mas está sempre presente em nossos corações. LELÉ ARANTES HISTORIADOR, JORNALISTA E AUTOR DO LIVRO “HISTÓRIA DA DIOCESE DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO – 90 ANOS” ARQUIVO PESSOAL
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24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
CADERNO ESPECIAL
Os sinais de Deus passeiam por toda parte S
CARLOS MOIOLI
ete anos, sete meses e sete dias.
da Região” (fundado em 1950), tive a
Esse foi o tempo contado dia a
sorte de ser escalada para seguir este
dia que durou o governo dio-
homem de tantos exemplos, atitudes
cesano de São José do Rio Preto (SP), administrado pelo bispo Orani João Tempesta, monge cisterciense que até então dirigia o Mosteiro Nossa Senhora de São Bernardo, em São José do Rio Pardo (SP). No dia 26 de fevereiro de 1997, ele foi convocado para seu primeiro cargo de bispo em São José do Rio Preto, estreando numa di-
e impressões. Orani Tempesta já chegou na diocese com seu lema unificador para o seu primeiro cargo episcopal: “Venho para ser o sinal da unidade visível entre vocês, para que todos sejam um, a fim de que o mundo creia em Jesus Cristo”.
mensão mais difícil da já difícil jor-
Aqui em Rio Preto, sua escolaridade
nada de um religioso. Tinha jovens 42
de bispo. Até então, não existia uma
anos de vida.
aproximação muito unânime entre
Ele veio sorridente, parecendo não se incomodar com o peso da missão. O rosto risonho, aliás, é sua marca pessoal. Quando se tem Cristo no peito,
os fiéis e seu pastor, no caso o bispo emérito Dom José de Aquino Pereira, português de Trás-os-Montes. Era relação de muito respeito, mas
leva-se o riso no rosto, isso é mate-
pouca
mático. Outra coisa logo notada foi o
nato e verdadeiro motor no cresci-
gesto recorrente de inclinar a cabeça
mento da diocese (foi o segundo bis-
para ouvir o interlocutor. Pergunta-
po), Dom Aquino cometeu o gran-
mos a uma psicóloga e terapeuta ho-
de ‘pecado’ de demolir a Catedral no
lística. Ela disse: “É um sinal avan-
centro da cidade, sede física do epis-
çado de comunicação, de querer ouvir
copado nas celebrações, enfrentando
o outro, dar-lhe importância, uma deferência e poder atendê-lo.” E este gestual é visto até hoje... que bom.
proximidade.
Empreendedor
o protesto da cidade e da mídia. A população não o ‘perdoou’, mas o estrago estava feito, tendo-se de conviver
Ordenado sacerdote em 1974, ele
para sempre com uma catedral sem
passou a fazer o caminho da roça de
ligação com a história rio-pretense e
um recém-padre (foi vigário coope-
sem identidade de templo cristão, to-
rador da Paróquia São Roque, substi-
talmente contrária aos traços arquite-
tuto de capelas e comunidades rurais
tônicos dos anos 1970, ano da recons-
e outros serviços) enquanto estudava
trução.
muito, alcançando formação superior em comunicação, filosofia, parapsicologia etc. Em 1984, foi eleito vice-prior do mosteiro e, em 1990, promovido a prior; foi reeleito; ampliou os espaços físicos do mosteiro; tornou-o abadia; converteu-se no primeiro abade cisterciense nascido no Brasil. Em 1997, nomeado bispo de Rio Preto, outra boa surpresa. Foi nessa parte da avalanche que eu entrei em contato com ele por telefone e não o abandonei mais, nas entrevistas boas e nas ruins, nos momentos solenes e nos momentos tri-
Desde o dia 1º de maio de 1997, Orani João Tempesta se tornou o segundo bispo de São José do Rio Preto, cidade bonita e forte, que gosta de padres, se tornam amigos logo e assim aconteceu então com aquele religioso chegado sozinho e simples de São José do Rio Pardo. Lembro-me do seu passeio inaugural pela cidade, triunfalmente em cima de um caminhão do Corpo de Bombeiros, pronto para ‘incendiar’ a diocese com o seu grande, enorme coração.
viais da Igreja de Deus. Como repór-
Certo dia de 1997, fui convidada
ter e depois editora do jornal “Diário
pelo bispo Dom Aquino para anunciar
Em 2000, quando completou 50 anos de vida na imprensa escrita o novo bispo;
Daí em diante, persegui-o por sete
terminada a entrevista, Dom Aquino
anos, sete meses e sete dias com uma
me deu uma foto de corpo inteiro de
convivência quase diária, uma ami-
Dom Orani e um número de telefone
zade que é rara e preciosa entre jor-
do mosteiro cisterciense de São Ber-
nalista e fonte. Além de rara, de uma
nardo anotado na foto. Perguntei-
sinceridade valiosa. Principalmente
-lhe: mas ele atende? (não é muito
quando a pauta se tratava de momen-
fácil entrevistar por telefone um clé-
tos embaraçosos da vida rio-pretense,
rigo nomeado, às vezes é impossível).
com episódios diocesanos. Ele com-
Mas animei-me com a foto: era um homem jovem e muito sorridente, vestido com o hábito cisterciense, os
preendia o papel da imprensa, nós compreendíamos o seu zelo com as coisas da Igreja.
braços abertos, pronto para abraçar
De imediato, a cidade se apaixonou
alguém. Do outro lado da linha, a 319
por ele: logo recebeu o título de Ci-
quilômetros de distância, ele atendeu
dadão Honorário da Câmara Munici-
o telefone, amistoso na voz, animado
pal e foi se tornando indispensável
no tom.
na vida da comunidade. Simplici-
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022
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CADERNO ESPECIAL
FOTOS: CARLOS MOIOLI
Posse como bispo de São José do Rio Preto, no dia 1º de maio de 1997
Com Dom José de Aquino Pereira, no dia da posse
dade na autoridade é uma caracte-
moveu cursos, retiros, congressos
rística de poucos. Também tem este
e reciclagem para leigos e padres;
e populosa. E instalou-a com todas
velas e hospitais do Rio até a acolhi-
atributo.
formou a Pastoral da Comunica-
as formalidades. Eu estava lá.
da do Papa Francisco na 28ª Jornada
ção (à qual deu apoio irrestrito); da
São infindáveis suas obras e cria-
em Rio Preto, o bispo Orani iniciou
Educação; dos Políticos; dos Em-
ções, um apostolado verdadeiro, uma
o projeto “Construindo Comunida-
presários; lançou o Censo Diocesano
história de conexões felizes com o
des” com a instalação da Rede de
(inédito) e comemorou com gran-
povo de Deus, um mundo também de
Comunidades, projeto esse queri-
diosidade os 70 anos de criação da
construções políticas, sempre priori-
do pelos padres para disseminar
Diocese de Rio Preto. Foi ao Vati-
zando a Igreja de Deus. E nesse meio
o Evangelho. Iniciou o mutirão de
cano pedir a criação da Diocese de
tempo, ainda assumiu responsabi-
evangelização de casa em casa; pro-
Catanduva, cidade vizinha, católica
lidade pelo Mosteiro Cisterciense de
Entre outras inúmeras iniciativas
Claraval (MG). Segue a vida, e então ele sobe o território brasileiro e vai ser arcebispo lá em Belém do Pará. Uma semana depois, já saudosa, entrevistei-o por telefone sobre um assunto pendente na diocese rio-pretense. Ele me atendeu calmamente, mas avisou que estava conhecendo um conjunto de palafitas para saber como vivia o povo pobre e sem esperança. Segundo telefonema tempos depois: “Estou no meio de invasão de uma igreja pela população devido aos estragos da chuva. Vamos lá!”. Forneceu a entrevista assim mesmo. Título de Cidadão Rio-Pretense concedido pela Câmara Municipal
estava lá também, e fiquei honrada quando ele saiu de um cortejo com o Papa Francisco no corredor central de hospital para doentes de Aids e outras doenças severas, apenas para me abraçar e se colocar à disposição para informações. Na minha penúltima viagem ao exterior em 2014, a principal pauta era cobrir a cerimônia de cardinalato de Dom Orani, tornando-o um dos sete cardeais do mundo que compõem o Conselho Cardinalício, que toma decisões importantes da Igreja do mundo inteiro junto com o Papa. Novamente, ele me viu no meio da multidão (na Basílica de São Pedro, em Roma, cabem mais de 60 mil pessoas, sentadas) e atravessou o corredor central para um abraço, agora de cardeal... Vi-o por último no Dia de São José deste ano de 2022, missa do padroeiro na Catedral e posse do sexto bispo de
Para o cargo de arcebispo metropo-
Rio Preto, Dom Villar. A missa não ti-
litano, recebeu o pálio simbólico das
nha começado, e ele estava lá fora, de
mãos do então Papa Bento XVI, em
pé, esperando o povo chegar, tirando
2005, (pálio é uma espécie de gola de
foto com quem conhecia e não conhe-
lã, com seis cruzes bordadas, repre-
cia, abraçando a todos, ele é assim de-
sentando a união com o sucessor do
mocrático.
Apóstolo Pedro).
No dia do cardinalato em feverei-
Lá no Pará derreteu-se de amo-
ro de 2014, o Papa Francisco leu uma
res pela devoção do Círio de Nazaré,
carta aos cardeais: “Cardinalato não é
a maior procissão católica brasileira
promoção, não é honra ou decoração.
(em outubro) com duração de 15 dias
É um serviço e exige que se alargue o
em Belém e público de 2 milhões de
olhar e se amplie o coração.”
fiéis. A vida continua e eis que Dom Orani é transferido para a Arquidiocese do Rio de Janeiro, onde está até hoje. Com a jornalista Cecilia Demian, durante encontro da Pascom
Mundial da Juventude, em 2013. Eu
Na programação, desde visitas às fa-
Os sinais de Deus passeiam por toda parte. CECILIA DEMIAN JORNALISTA, ADVOGADA, ESCRITORA, CATÓLICA, COAUTORA DO LIVRO “ORANI, PASTOR DA UNIDADE”
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24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
CADERNO ESPECIAL
Dom Orani, apóstolo inquieto A
FOTOS: CARLOS MOIOLI
o celebrarmos os 25 anos de
nidades paroquiais. Logo no início
sagração episcopal de Dom
de seu pastoreio, realizou um Censo
Orani João, Cardeal Tempes-
Diocesano para conhecer seu campo de
ta, podemos, com alegria, dizer que
atuação e lançar projetos que fossem
essa admirável trajetória iniciou-se
ao encontro do anseio do povo e que
na Diocese de São José do Rio Preto
pudessem colocar a Igreja diocesana
quando o religioso foi nomeado ter-
em unidade com a Igreja no Brasil.
ceiro bispo diocesano. Durante os sete
Para tal, trabalhou e incentivou o
anos que esteve na condução dessa
projeto “Ser Igreja no Novo Milênio”,
grande diocese do noroeste paulista,
respondendo, assim, ao desejo do Papa
podemos identificá-lo como o pastor
João Paulo II de preparar a Igreja para
da unidade, bispo da comunicação e
o novo milênio a fim de realizar uma
da pastoral.
evangelização que pudesse atingir
O monge Orani João foi nomeado bispo diocesano de São José do Rio Preto pelo Papa São João Paulo II, em fevereiro de 1997, e assumiu o pastoreio desta comunidade do povo de Deus em maio daquele mesmo ano. Diferentemente do que muitos diziam e pensavam, que um monge não teria a práxis pastoral, o bispo mostrou que verdadeiramente era um apóstolo inquieto e trouxe à diocese um dinamismo renovado, característica principal de sua pessoa. Foi buscar no coração sacerdotal de Jesus seu lema episcopal “Ut Omnes Unum Sint”: “Que todos sejam um”, expressão que também traduz o que o epíscopo tinha claro em sua mente e coração, e sentimento que é manifestado em sua carta pastoral para a diocese “venho para ser o sinal da unidade visível entre vocês, para que todos sejam um”.
o maior número de pessoas. Nessa vários subsídios, realizou visitas às paróquias e propiciou formações e reflexões religiosas para as comunidades. Um trabalho tão integrador gerou frutos e culminou na primeira Festa da Unidade da Diocese de São José do Rio Preto, evento que reuniu milhares de fiéis em uma só celebração. No campo pastoral, nosso bispo Orani incentivou a criação de 27 novas comunidades, entre paróquias, quase paróquias, santuários, reitorias e uma paróquia do rito Maronita. Uma da Igreja em todo o território da diocese, com isso, investia na compra de espaços para instalar uma futura comunidade, sobretudo nas regiões mais distantes ou periféricas dos centros urbanos. Também incentivou e implantou, de maneira mais sistemática, várias das muitas pastorais e movimentos, cabendo destaque para
to, Dom Orani se destacou em diversas
a pastoral da saúde nas comunidades,
frentes de atuação, no campo religio-
que trouxe relevante formação para
so, político, social e cultural. Trouxe
os agentes voluntários e os preparou
um novo vigor, sobretudo na pastoral,
para o atendimento dos doentes nos
implementando projetos relevantes
hospitais dos respectivos municípios
de evangelização como a Rede de
da diocese. Outra pastoral que teve
Comunidades (uma nova maneira de
uma atenção especial do bispo foi a
ser Igreja próxima das pessoas e com
Pastoral da Educação e do Ensino Reli-
a valorização das famílias), a evan-
gioso. Com seu jeito todo carismático,
gelização de casa em casa, a criação
ele mesmo ia convidando os agentes,
de novas comunidades paroquiais. No
enviava-os para fazerem cursos de
seu novo olhar de quem guia os irmãos
formação em âmbito nacional e mo-
incentivou a formação de novas pas-
tivava-os a serem presença de Igreja
torais e movimentos, reestabeleceu
no meio em que estavam inseridos.
maneira significativa a formação do clero e a dimensão missionária, enviando missionários para a Amazônia.
Celebração dos 70 anos da diocese rio-pretense
de suas preocupações era a presença
Como bispo de São José do Rio Pre-
organismos diocesanos, fomentou de
Primeira Assembléia Diocesana de Pastoral, em 1997
perspectiva, Dom Orani elaborou
Festa da Unidade
Com seu coração de pastor, nada escapava ao seu cuidado: incentivou os trabalhos junto às famílias com um olhar misericordioso, sobretudo
Como mentor de todos os movi-
para as famílias de segunda união,
mentos, ele tinha um olhar voltado
promovendo encontros, celebrações e
para as reais necessidades das comu-
uma acolhida toda especial no seio da
Retiro do Clero na cidade de Atibaia
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022
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CADERNO ESPECIAL
Igreja. Outra dimensão que incentivou
dotais e religiosas. Na sua caminhada
citude pastoral, o bispo Orani criou
“o bispo das comunicações”, e nesse
e deu subsídios para que acontecesse
diocesana ele ordenou 30 presbíteros
e instalou o Tribunal Eclesiástico
âmbito dedicou-se plenamente em
a unidade na diocese foi por meio da
para a Igreja de São José do Rio Preto,
Diocesano para fazer com que a jus-
inserir a Igreja nos meios de co-
Pastoral da Catequese, formando cate-
e fazia questão de receber, sabia ouvir
tiça também acontecesse no âmbito
municações sociais, uma vez que os
quistas e líderes para evangelizar des-
e ajudar cada padre que o procurava,
da comunidade cristã. Essa semente
documentos da Igreja apresentam a
de a mais tenra idade até os adultos.
era solícito com os padres doentes
plantada no ano de 2004 germinou e
comunicação como geradora de fra-
e também idosos, dedicando-se a
deu muitos frutos, hoje o tribunal se
ternidade e comunhão. Como bispo,
visitá-los para levar sua solidarieda-
tornou interdiocesano, atendendo as
seu desejo era que a comunicação
de paterna. Incentivou os trabalhos
cinco dioceses do Sub-Regional RP II
acontecesse de maneira clara e fosse
da Pastoral Vocacional, ampliando o
da CNBB.
expressão da evangelização. Uma de
Tinha Dom Orani uma preocupação especial para com as crianças e idosos. Por meio da Pastoral da Criança e da Pessoa Idosa implementou frentes de ações e trabalhos a partir da constatação das necessidades apontadas pelo censo realizado na diocese. A juventude também contou com uma atenção singular no seu pastoreio, a realização de encontros formativos para as lideranças juvenis incentivava os jovens a serem protagonistas nos trabalhos de evangelização e na construção da “civilização do amor”, sobretudo de outros jovens. “Convoco todos vocês para um grande diálogo com os jovens: os que estão estudando nas escolas,
número de agentes leigos para promoção vocacional, seja masculina ou feminina. A formação dos futuros padres estava entre as prioridades do seu governo.
Investiu de maneira
sistemática na promoção de cursos para ajudar na formação humana, intelectual, espiritual, afetiva e comunitária dos seminaristas do seminário propedêutico e dos cursos de filosofia e teologia. Com o intuito de ampliar o processo formativo, criou a Associação Rio-pretense Católica de Ensino (ARCE), mantenedora do Centro de
Um dos maiores legados deixado por Dom Orani na diocese do interior paulista foi a criação da Diocese de Catanduva, a primeira do Brasil no ano do Grande Jubileu. Sabemos que para erigir uma nova diocese o projeto tem que partir do bispo que esteja disposto a abrir mão de uma parte significativa de sua diocese. Dessa forma, sempre
que receberam uma sólida formação, para implantar a Pascom nas diversas comunidades paroquiais.
“bispo das comunicações“ foi seu in-
uma Igreja particular no Noroeste do
gresso no Conselho Superior do Insti-
Estado de São Paulo.
tuto Brasileiro de Comunicação Cristã
têm uma posição melhor, os que não
e, também, os leigos que desejam re-
grande diocese não é tarefa fácil, re-
encontram espaços na Igreja”, eram
alizar os cursos de filosofia e teologia.
quer muita aptidão e habilidade de
palavras impulsionadoras de Dom
Ainda com a proposta de valorizar as
gestão, características marcantes em
Orani. Com a convocação do Sínodo
vocações ministeriais, como na Igreja
Dom Orani. Além dos bens existentes
da Juventude e o Ano da Juventude
dos primórdios, instituiu o diaconato
na diocese, em seu tempo de bispado
no ano de 2002, o pastor deixou claro
permanente, uma proposta de serviço
nesta diocese, construiu a nova cúria
sua opção preferencial pela juventude.
da caridade do Concílio Vaticano II
diocesana, prédio que concentra toda a
que, na diocese, deu inúmeros frutos.
administração da diocese e que abriga os departamentos: jurídico, administrativo, fiscal, e também pessoal para melhor atender as necessidades das paróquias, que segundo ele, “quem vê a cúria, deve ver a Igreja diocesana”. A sua preocupação sempre foi com o bom acolhimento das pessoas que fossem procurar esses serviços, para tal, além de investir na formação dos profissionais, ele celebrava a santa missa diariamente para os colaboradores, antes que eles iniciassem seus
(Inbrac), organização mantenedora da RedeVida de Televisão, com sede na diocese rio-pretense. Ele também se empenhou, junto ao Ministério das Comunicações, para conseguir várias concessões de rádios, dentre elas uma rádio educativa com frequência modulada. A emissora recebeu o nome de Interativa e até hoje é um dos principais meios de comunicação da diocese. O sistema de comunicação da diocese foi fortalecido por meio do site, “Jornal Diocese Hoje”, e por várias rádios, e essa rede comunicativa fez com que o bispo monge despontasse em nível nacional, assumindo, assim, o setor de comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e tornando-se maior autoridade no campo da comunicação da Igreja Católica.
trabalhos. Outra importante obra
Hoje, Dom Orani, como cardeal da
deixada pelo bispo foi a construção
Igreja, certamente é uma das maiores
da sonhada Casa do Clero, uma casa
autoridades eclesiásticas do Brasil e
que abrigasse os padres ao final de
do mundo, isso se dá pelo fato de seu
seu ministério, ou os padres que pre-
inquieto coração, desejoso de fazer
cisassem de tratamentos. O suntuoso
com que Jesus Cristo se faça presente
prédio conta com diversas instalações,
em todos os rincões, seja nas periferias
inclusive com enfermaria para apoiar
ou nos centros urbanos, e esperançoso
no tratamento e recuperação dos pa-
de que a vida floresça cada vez mais
dres enfermos e uma excelente área
nos corações dos fiéis. Celebrar seu
de lazer, pois o local foi construído,
Jubileu de Prata é para toda a Diocese
também, para a integração e convi-
de São José do Rio Preto um louvor a
vência fraterna do clero.
Deus pela vida desse incansável pas-
Certamente a maior característica do bispo Orani, que o projetou no cenário nacional, foi a Comunicação. Tanto é notória sua habilidade coSínodo dos Jovens
várias regiões pastorais da diocese
se lançar no cenário nacional como
Administrar economicamente uma
Leitorato do padre Gerson, em 22 de março de 1998
participação de leigos advindos das
esforços para que fosse criada mais
de Jesus que forma os futuros padres
FOTOS: CARLOS MOIOLI
ção (Pascom) com uma significativa
mento do povo cristão ele não mediu
zantes, os desempregados e os que
Ainda para demonstrar sua soli-
diocesana da Pastoral da Comunica-
Fato determinante para Dom Orani
Estudos Superiores Sagrado Coração
Orani foi ancorar as vocações sacer-
a constituição de uma coordenação
pensando no bem estar e bom atendi-
universidades, cursos profissionali-
Um dos principais zelos de Dom
suas primeiras ações na diocese foi
municativa, que ele era denominado
tor que iniciou seu intenso e profícuo ministério apostólico nestas terras de São José. PADRE GERSON CARLOS CAVALIN PRESBÍTERO DA DIOCESE DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (SP)
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24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
CADERNO ESPECIAL
No barco da vida, Dom Orani navegou a serviço do povo D
o Rio Pardo ao Rio de Janeiro, o Cardeal Orani João Tempesta, O.Cist, testemunha o “navegar em águas mais profundas”
(Lc 5, 10)
com passagens pelo Rio Preto e por seus
“Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens” (Lc 5, 10)
“afluentes” na Amazônia. Do interior do Estado de São Paulo, onde nasceu e deu seus
primeiros passos como bispo, ao exercício do ministério episcopal em uma das mais desafiadoras megalópoles do mundo, o religioso teve a sua atuação “ungida” pelas águas; as mesmas de onde o Senhor fez sair “tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam” (Lc 5, 6) ou das quais “apareceu” a padroeira do Brasil que, como Mãe de Jesus, igualmente se manifesta em uma das maiores festas marianas do planeta: o Círio de Nazaré (que Dom Orani celebrou nos seus quatro anos como arcebispo na terceira arquidiocese mais antiga do país, Belém do Pará).
“Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15)
Celebração dos 150 anos de São José do Rio Preto
S
ão José do Rio Pardo foi elevada à condição de abadia em setembro de 1996. Em dezembro daquele ano, o monge Orani João Tempesta fora confirmado seu primeiro abade. O entendimento humano, considerado aquele chamado à missão, muito provavelmente
orientou o pensamento acerca de um tempo maior de permanência na função. Não aconteceu! Pouco mais de dois meses depois, em 26 de fevereiro de 1997, o Papa, hoje São João Paulo II, fez do abade o terceiro bispo diocesano de São José do Rio Preto. No Noroeste do Estado de São Paulo, a diocese rio-pretense tinha contornos gigantescos; tanto que a partir dela, anos mais tarde, surgiram as igrejas particulares de Catanduva e Votuporanga. Outro desafio seria suceder Dom José de Aquino Pereira, no posto por quase 30 anos. No dia 25 de abril de 1997, Dom Orani fora ordenado na sua cidade Natal e tomara posse na diocese no dia 1º de maio onde, vez ou outra, declara “ter aprendido a ser bispo”.
“Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas” (Jo 10, 11)
Encontro do Beraká, promovido pela RCC
N
essa
etapa,
fortemente
e
que
chamadas
a
descentralizar
interes-
os territórios paroquiais para
sa a esse texto, vale
permitir alcançar o objeti-
o resgate das ações pastorais
vo das Diretrizes Gerais da
realizadas por Dom Orani
Ação Evangelizadora da Igre-
no início de seu episcopa-
ja (2019/2023): “evangelizar
do (e que se refletem, hoje,
no Brasil cada vez mais urba-
em realizações hodiernas da
no, pelo anúncio da Palavra de
Igreja). Não cabe, porém, um
Deus, formando discípulos e
ordenamento cronológico fiel
discípulas de Jesus Cristo, em
de tudo o que foi realizado
comunidades eclesiais missio-
uma vez que, tão assertivas propostas ou seguem tal qual foram concebidas ou são o alicerce daquilo que figura em construção. Por outro lado, seria impossível relatar em um único texto todo o bem gerado pelo, agora, Cardeal Tempesta.
nárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus, rumo à plenitude”. Há mais de 20 anos, no final da década de 1990, Dom Orani já era um entusiasta das Redes de Comunidades. Contemplada no Plano de Pastoral, foi prio-
Hoje, também via Confe-
ridade na diocese e um dos
rência Nacional dos Bispos
trabalhos de maior enverga-
do Brasil, as lideranças são
dura do bispo à época.
Congresso Eucarístico Diocesano realizado em 11 de junho de 2000 Sabedor de que “onde
ja”, conforme ensina Santo
Orani passou a se “bilo-
está o bispo aí está a Igre-
Inácio de Antioquia, Dom
car” por meio dos textos
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022 de apresentação dos sub-
ninguém,
sídios da Rede de Comu-
proclamar o Evangelho).
nidades, mas não só; também em artigos publicados em diversos veículos ou no diálogo verdadeiro, franco e aberto com a imprensa. Como já exposto, e em
17
CADERNO ESPECIAL usá-los
para
Da destacada articulação (em um período em que as redes sociais e o “ciberespaço” ainda ganhavam contorno), o epíscopo fora confirmado presidente da Comissão
uma leitura particular, as
Episcopal
dimensões territoriais da
Educação, Cultura e Comu-
Diocese de São José do Rio
nicação da CNBB, ofício que,
Preto à época exigiam a
posteriormente, se desdobra-
difusão de mensagens por
ria na presidência do Conse-
todos os meios possíveis
lho de Comunicação Social do
(e Dom Orani soube, como
Congresso Nacional.
Pastoral
para
a
nizada pela Arquidiocese de
Ainda no noroeste paulis-
de preparação e organização,
São Sebastião do Rio de Janei-
ta, a agenda do bispo diocesa-
já visualizavam uma fase
ro que, então, já contava com
no mais parecia um mosaico:
o religioso como seu arcebis-
eram
especial: as missões de casa
po metropolitano. O encontro
celebrações e o sempre cres-
foi, igualmente, o primeiro
cente desejo de estar com o
grande sinal do “jeito Fran-
povo. Desejo esse que ardia
cisco de ser”; pastor sempre
quando da preparação para
Orani para a Arquidiocese de
desejoso de carregar o “chei-
as Santas Missões Populares.
Belém do Pará. Era 13 de ou-
ro das ovelhas”.
Os diocesanos, entre etapas
tubro de 2004.
encontros,
reuniões,
em casa. Foi em meio a essa expectativa que veio a notícia da transferência de Dom
“Que todos sejam um” (Jo 17, 21)
Inauguração da Casa do Padre da diocese rio-pretense
F
oram sete anos de trabalho no noroeste paulista. É a Palavra de
Deus que indica que o número sete faz referência ao completo... Dom Orani tão bem ocupou espaços que o único vazio por ele gerado se deu no coração dos diocesanos rio-pretenses que enviaram em missão um grande pastor. Em uma época em
Caminhada pela Paz do Sínodo da Juventude, em 2001
C
onsiderados os desafios atuais, é impossível pensar a Igreja sem bases sólidas fincadas no processo comunicacional que exige domínio da linguagem e disposição aos novos meios; realidades verificadas por Dom Orani quando, ainda presidente da Comissão da CNBB para o setor, foram retomadas as discussões para a criação do Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (efetivado como documento número 99).
ca, no noroeste paulista, foi
Ainda quando bispo de São José do Rio Preto, Dom Orani desejou “caminhar junto” com os jovens. À épo-
plantada no coração de Dom
que a Amazônia passava a ser elencada com mais for-
ça como prioridade da Igreja, o agora arcebispo já tinha muito a partilhar na Região Norte do país.
uma; e que se encaixa per-
Para não ser injusto, é preciso citar outra realização do religioso em terras paulistas: a Festa da Unidade. O evento, a cada ano, se firmava como um impulso para a vida pastoral da Diocese de São José do Rio Preto. Diante de tantas ações proféticas, essa seria apenas mais
cardeal: nas margens do Rio
de sua inspiração a realização de uma ampla consulta para perceber as realidades, conhecer os anseio e tocar o rosto dos mais novos: o Sínodo da Juventude foi um sinal profético que hoje faz sintonia com a convocação do Papa Francisco em prol de uma “Igreja Sinodal” que viva a comunhão, incentive a participação e oriente para a missão. Aquela “semente sinodal” Orani certamente frutificou, anos mais tarde, na Jornada Mundial da Juventude orga-
Missa de envio das Santas Missões Populares
feitamente no contexto das celebrações pelos 25 anos de ordenação episcopal do Pardo ou do Rio Preto, navegando na Amazônia ou no Rio de Janeiro, “todos somos um” na alegria por tão frutuoso ministério. ANDRÉ BOTELHO JORNALISTA, DIOCESE DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (SP)
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CADERNO ESPECIAL
25 anos de dedicação, amor, entrega e partilha N o dia 25 de abril de 1997, Dom
ni sobre a Pastoral da Comunicação
Orani João Tempesta foi sa-
(Pascom).
grado bispo por Dom José de
Aquino Pereira, assumindo como terceiro bispo diocesano de São José do Rio Preto, no Estado de São Paulo, no dia 1º de maio de 1997.
Nessa época, a cidade de Catanduva pertencia à Diocese de São José do Rio Preto como região Leste.
Dom Orani João deu início também
às reuniões no Regional Sul 1 onde
participavam as oito sub-regiões do Regional Sul 1. Eu participava como secretária do RP 2 e do Regional Sul 1. Muitos encontros foram realizados com frequência para ressaltar a implantação, a importância e o objetivo
No ano de 1998, Dom Orani João
da Pascom. Dom Orani João sempre
convocou uma reunião com agentes
presente e animando as pastorais
de toda a diocese. O objetivo da reu-
através de encontros realizados pelas
nião era para organizar a Pastoral da
Irmãs Paulinas.
Comunicação, da qual ele era o bispo referencial no Regional Sul 1.
Em 1999, aconteceram vários encontros: em Araras, 12/03; em Ada-
Formadas as equipes por região, eu
mantina, 17/09; em São José do Rio
fiquei coordenadora da Região Leste-
Preto, 20/02, 21/08, 30/06, em Jales,
Catanduva. Ele realizou o primeiro
10/10.
encontro que aconteceu na cidade de Brodosky, na Arquidiocese de Ribeirão Preto (SP), nos dias 18 a 20 de setembro de 1998, na Casa Dom Luiz III, reunindo 25 dioceses do Regional Sul 1 e vários meios de comunicação. A partir desse encontro, foram realizadas missas mensais na RedeVida de Televisão com a Sub-Região do RP2, com as dioceses de Jales, São José do Rio Preto, Catanduva e Bar-
FOTOS: CARLOS MOIOLI
Nos estúdios da RedeVida
Praticamente a identidade da Pascom nasceu com os encontros realizados por ele, pois até então, não se ouvia falar da Pastoral da Comunicação nessa região. Dom Orani João foi transferido para Belém do Pará em 2004, mas, mesmo assim, continuou organizando encontros da Pascom, como foi o 5º Muticom, de 15 a 20 de julho de 2007.
retos. Após as mesmas, as equipes
Enquanto ele esteve à frente como
iam para o Bispado de São José do Rio
bispo referencial, eu participei de to-
Preto para reunião com Dom Ora-
dos os encontros. Tendo as atas em
Equipe da Pascom da diocese rio-pretense quatro cadernos que
“Aprendei de mim que sou manso e
entreguei para o pa-
humilde de coração” tem muito a ver
dre Marcus Vinicius
com ele. Por onde passou ninguém
quando foi eleito co-
esquece dele.
ordenador do Regional Sul 1, juntamente com Dom Vilson
a ele, em um de seus aniversários:
de Oliveira, que se
Dentro de Diocese de São José do
tornou o bispo refe-
Rio Preto, existe alguém, consagrado
rencial.
a Deus,
Ele
sempre
foi
presença nas suas responsabilidades, valorizando o trabalho
dos
Ouvidor do Espírito Santo e Mantenedor da devoção ao Sagrado Coração de Maria. Da
leigos,
Ordem cisterciense, que prima pela
sempre tendo uma
comunicação, unidade e fraternidade
palavra de ânimo,
entre as pessoas.
de
agradecimento
para que os trabalhos fossem realiEncontro Regional de Comunicação em São José do Rio Preto
Eu fiz um acróstico em homenagem
zados. O versículo:
Ri com quem ri e sofre com quem chora. Ama sua vocação de maneira tal que
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CADERNO ESPECIAL
FOTOS: CARLOS MOIOLI
Da esq. para a dir., Dom Pedro Fré, Dom Orani, Dom Antonio Mucciolo e Dom Diógenes Silva Matthes durante aniversário da RedeVida, em Barretos se dedica totalmente às necessidades
tempo e o transforma, docemente, de
das pessoas, seja durante o dia ou à
12 para 15, 18 horas se for preciso.
Em entrevista para a RedeVida missa na RedeVida de Televisão. De-
Preto, Catanduva, Jales e Barretos,
pois, reli na posse dele em Belém do
que vieram até aqui orar pelo senhor.
Pará.
Vai, meu irmão, vai para tua nova
Muito se doa, quer ver a paz entre
“Aprendei de mim que sou manso e
missão, em terra nova, anunciar Je-
humilde de coração!”. Este versícu-
sus Cristo e o seu Evangelho, servin-
“Não” é uma palavra que não exis-
as pessoas, não gosta de confusões,
lo, irmãos e irmãs, sempre foi muito
do ao povo de Deus.
te em seu vocabulário, pois se restar
prefere renunciar a algo do que mu-
bem vivido pelo bispo de São José do
meia hora do seu tempo, por certo
dar o ritmo de trabalho de alguém.
Rio Preto, Dom Orani João Tempes-
noite, verbalmente ou virtualmente.
será de alguém que pedir. Isto sem contar as horas dedicadas aos internautas que o procuram. Junto a sua dedicação, claro que existe o espírito do desprendimento, o carinho e a fidelidade de um monge autêntico e perseverante, que sabe aquilo que busca para levar aos irmãos na fé. O coração de monge, o báculo do pastor e a mão que unge, refletem nele o semblante de Cristo. Tão silencioso diante dos problemas, que ninguém percebe se sofre. Entregue às atividades, esquece o
Estas são algumas das qualidades de vida que ele possui, pois, para relatar todas, é preciso saber observá-lo e, atentamente, pois gosta do anonimato e não do aparecer. Terno e simples, prático e organizado, observador e silencioso.
ta, agora eleito arcebispo de Belém do Pará. Esta mansidão, Excelência Reverendíssima, sentimos de perto durante estes anos que convivemos contigo. Nossa Senhora aos pastorinhos, em Fátima. Grande coincidência, também foi o seu adeus a Rio Preto com
José do Rio Preto, que aniversaria
a nomeação recebida. A Senhora está
nesse 23 de junho.
contigo.
Parabéns, Excelência Reverendíssima, Dom Orani João Tempesta.
agraciados, estamos lhes enviando,
de Dom Orani para Belém do Pará, na
estranhar um pouco, sem dúvida, os costumes e os usos locais, mas não imporás suas ideias, não apresentaParaíso. Não dirás nunca que no lugar que te criastes as coisas estão bem melhores. Oferecerás simplesmente o testemunho de sua fé, de sua esperança e de seu amor. E darás sua vida até o
Por isto, Belém do Pará, vocês foram
Esta mensagem eu li na despedida
dições diferentes. Chegando lá, vais
rás o lugar que te viu nascer como
Dia 13 de outubro foi o adeus de
Assim é um pouco o bispo de São
Aprendamos com ele.
Tu te aproximarás com muito carinho de um povo com cultura e tra-
a pedido do Papa, na realidade, um dom de Deus, que vocês sentirão com
fim, até as consequências. Missão é sempre ir à Galileia, às galileias dos continentes.
o decorrer do tempo. Ele é incansá-
Que Nossa Senhora Aparecida e de
vel. Cuidem bem dele por nós! Só que
Nazaré te protejam sempre em todos
ao recebê-lo, irmãos de Belém, vocês receberão também, o nosso coração, pois ele está levando. Não tem como separar, não é, dom, o senhor sabe disso, pois é o coração do filho para o pai, que recebeu sempre só carinho e atenção, através do manto do pastor. Coração destas quatro dioceses aqui presentes, que representam o Sub-Regional do
os lugares por onde passares. Agora é hora de partir! Desata e enrola de uma vez a sua rede, pega a sua mochila, despede-se de quem te ama e a quem tu amas e vai em frente. Segue o teu caminho e não olhes para trás Todos nós vamos rezar por ti! Vamos acender velas aos pés da Santa de Nazaré e Aparecida. Vai com Deus! Ainda resta uma esperança: continuas sendo o ‘Bispo da Comunicação’, por isso teremos que nos ver de vez em quando... se não dom... aí o setor vai chorar... Que Deus te proteja sempre!
RP 2, setor de comuniCom agentes da Pascom em Encontro de Comunicação do Regional Sul 1
cação: São José do Rio
SÔNIA FERNANDES DIOCESE DE CATANDUVA (SP)
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24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
CADERNO ESPECIAL
FOTOS: CARLOS MOIOLI
Criação da Diocese de Catanduva N o próximo dia 25 de
Todos nós, que tivemos
abril deste ano, lou-
a feliz oportunidade de co-
varemos e agradece-
nhecer Dom Orani de perto,
remos a Deus pelo Jubileu de
reconhecemos nele um pastor
Prata Episcopal de Dom Orani
que se doa em sacrifício e
João Tempesta, de quem a
precede o povo santo de Deus
Providência Divina se serviu
na caridade, nutre-o com a
para o pastoreio do povo de
palavra, confirma-o com os
Com padre Synval Januário, responsável pela documentação da criação da Diocese de Catanduva
Deus em sua Igreja.
sacramentos e, consumindo
este bispo e cardeal da Igreja
Na vida há acontecimentos e datas que não podemos esquecer e no que diz respeito à vida e ao ministério ordenado, muito mais se torna importante fazer memória,
a vida por Cristo e a salvação dos irmãos, esforça-se para
culto litúrgico, identificando-
Foi graças à dedicação e
como servo e testemunha da
-se com a realidade da cruz,
empenho de Dom Orani,
caridade divina e da verdade
que é doação, amor e entrega
quando ainda bispo de Dio-
se conformar à imagem do
no mundo e fiel ministro da
próprio Cristo e continua-
reconciliação.
mente testemunha a fé e o amor no Senhor.
Celebrar com Dom Orani esta data jubilar é celebrar a
aos irmãos e à Igreja, fazendo da sua vida um sacramento intenso e fecundo.
principalmente como atitude
Nossas orações se elevam
vida, pois o bispo não é ape-
Nossa Diocese de Catandu-
de ação de graças pelo dom
aos céus nesta data festiva
nas o homem da liturgia, mas
va, no Estado de São Paulo,
recebido.
a Deus para que confirme
aquele que faz da sua vida um
diocese ainda nos seus 22 anos de juventude, tem muito a agradecer a Dom Orani por sua existência.
Com o padre José Luiz na Praça de São Pedro, em 6 de julho de 1999
cese de São José do Rio Preto (SP), que hoje somos uma Igreja particular. O desejo de que Catanduva pudesse um dia tornar-se diocese vinha de longa data.
CHEGOU O ANO DE 1999. Dois anos depois de sua posse como bispo em São José
Assinando a ata de criação da Diocese de Catanduva
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CADERNO ESPECIAL
FOTOS: CARLOS MOIOLI
Com o primeiro bispo de Catanduva, Dom Antônio Celso de Queiroz, no dia da criação da diocese, 25 de março de 2000 do Rio Preto, e após meses de
muito enfermo, atendeu os
que, se a solicitação da criação
a instalação da diocese e posse
Nós reconhecemos o pastor
trabalho, é finalizado o iter
requerentes no dia 6 de julho
da possível Diocese de Catan-
do primeiro bispo diocesano
precioso que Dom Orani é
dos documentos necessá-
de 1999, em audiência, às 10h,
duva fosse aprovada, provavel-
ocorreria 45 dias depois, às
nas mãos de Deus, e nesta
rios exigidos pelo Dicastério
dia muito quente em pleno
mente o seria dentro de alguns
16h, no dia 25 de março de
data tão significativa, com o
Romano responsável pela
verão em Roma, protocolou as
anos; fala-se na altura de cinco
2000, na Festa da Anunciação,
respeito e a admiração que
criação de novas dioceses, a
vias dos documentos exigidos
a sete anos de espera.
na Igreja escolhida como a fu-
sempre mereceu, lhe dedica-
Congregação para os Bispos.
para tal assunto e, naquela
tura Catedral, a Paróquia Nossa
mos de todo o coração estas
Senhora Aparecida, dado que a
palavras sinceras: feliz Jubi-
Igreja Matriz de Catanduva era
leu Episcopal!
Dom Orani João Tempesta, então bispo diocesano de São José do Rio Preto, viaja à Roma para protocolar na referida congregação os documentos, requerendo a
ocasião, informava que o assunto da possível criação da Diocese de Catanduva entraria na pauta da primeira reunião da Congregação para os Bispos que aconteceria no mês de outubro do mesmo ano,
criação da então Diocese de
logo após as férias de verão
Catanduva.
na Europa.
Tive a feliz oportunidade de
Nesta mesma data, era
acompanhar Dom Orani nesta
também entregue ao núncio
viagem, a seu convite. Dias
apostólico do Brasil, à época
felizes hospedados no então
Dom Alfio Rapsarda, pelo
mosteiro cisterciense romano
então chanceler da Cúria
da Basílica da Santa Cruz, em
Diocesana de São José do Rio
Jerusalém.
Preto, padre Manoel Bezerra
Era prefeito da congregação à época o Cardeal Lucas Moreira Neves, brasileiro, que, embora na ocasião estivesse
de Lima, cópia dos mesmos documentos que estavam sendo entregues em Roma. A expectativa à época era a de
Surpresa geral foi quando para o dia 9 de fevereiro de 2000, apenas sete meses depois do protocolo na Congregação para os Bispos, Dom
estruturalmente muito pequena para tal.
Nós lhe parabenizamos e pedimos as bênçãos de Deus
Orani João convoca todo o
Por tudo isto, somos imen-
e que a Virgem Mãe Santíssi-
clero e o povo de Deus para
samente agradecidos; pelo
ma o cubra e proteja com Seu
um comunicado oficial, ainda
esforço, zelo e dedicação e,
Manto Celestial, estando à
em segredo pontifício, às 12h,
principalmente, por Dom
frente de todas as dificuldades
na Basílica Menor de Nossa
Orani ter sido fiel amigo e pai
e obstáculos que se puserem
Senhora Aparecida, em São
espiritual que nos conduziu,
em seu caminho.
José do Rio Preto.
amorosamente, como bispo
Nesta ocasião solene, Dom Orani comunicava oficialmente
diocesano até a data de 9 de fevereiro de 2000.
Nossos sinceros parabéns a Dom Orani neste dia tão grandioso de seu jubileu epis-
a criação da Diocese de Catan-
Que todos saibam que so-
copal, e que a ação do Espírito
duva pelo Papa João Paulo II e
mos muito felizes e sentimo-
Santo lhe impulsione cada vez
anunciava que o primeiro bispo
-nos agraciados por ter tido
mais a assumir sua missão no
diocesano seria Dom Antonio
Dom Orani em nosso meio
episcopado.
Celso de Queiroz, até então
naqueles anos, parte in-
bispo auxiliar da Arquidiocese
tegrante de nossa história
de São Paulo (SP) e, ainda, que
diocesana.
PADRE JOSÉ LUIZ CASSIMIRO PÁROCO DA PARÓQUIA SÃO JOSÉ, EM ITAJOBI, DIOCESE DE CATANDUVA (SP)
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CADERNO ESPECIAL
Dom Orani, comunicador dos planos de Deus FOTOS: CARLOS MOIOLI
sus Cristo às pessoas através dos meios de comunicação social. Com sua competência soube articular de forma harmoniosa o diálogo entre as redes de TV de inspiração católica no Brasil, fazendo nascer o primeiro programa de notícias da “Igreja no Brasil”, transmitido em rede por todas as TVs. Além de promover a unidade das TVs católicas, estava ainda, sempre presente para dinamizar a integração sempre maior da RCR (Rede Católica de Rádio) com os desafios pastorais da Igreja no Brasil. Posso afirmar que Dom
Com o padre Roberto Luiz na Missa da Comunicação realizada no Santuário da Vida, em São José do Rio Preto
T
ive a honra de trabalhar com o arcebispo do Rio de Janeiro,
Cardeal Orani João Tempesta, O.Cist, e escrever sobre esse homem de Deus é um verdadeiro desafio, pois as palavras
são
insuficientes
para expressar a rica experiência de viver um apostolado desafiador ao seu lado. Nos conhecemos em julho do ano de 2000, em São Carlos (SP), por ocasião de um encontro
de
comunicação
promovido pelo Regional Sul 1 da CNBB, que reunia agentes da Pastoral da Comunicação, comunicadores e jor-
com surpresa e alegria. Naquela reunião, na sede do Regional Sul 1 da CNBB, aconteceu a eleição para o novo assessor regional de comunicação. Fui eleito naquela ocasião, mesmo sendo estranho para a maioria dos 16 participantes. Daquele dia em diante iniciamos uma nova jornada que se estendeu por sete anos de intensos trabalhos.
paço em sua agenda para
sereno, reto, de confiança e
todos. Daí eu creio aconte-
conciliador.
cer o seu lema: “Ut Omnes
Orani foi e é um homem colocado por Deus na missão da evangelização com
Era impressionante a sua
os meios de comunicação.
participação, engajamento e
Um homem que não carece
conhecimento dos conteúdos
de lentes, pelo contrário, as
estudados em cada reunião
lentes corriam em sua cap-
da comissão regional e nos
tura, tentando acompanhá-
reanimava os seus assesso-
diferentes eventos que acon-
-lo na velocidade com que
res, coordenadores das sub-
teciam nas diferentes dioce-
-regiões
coordenadores
ses do Estado de São Paulo
diocesanos da Pascom com o
para pensar, estudar e cons-
Um homem de diálogo,
seu comportamento sempre
truir uma Igreja que leva Je-
sempre acessível e próximo.
Unum Sint” – “Para que todos sejam um”. Estava sempre com todos e, o mais impressionante, nunca com semblante
cansado.
e
Aliás,
abraçava o tempo e os novos desafios da evangelização.
Nos primeiros anos, até meados de 2003, fui seu assessor para o Setor de Comunicação no Regional Sul 1 da CNBB. Dom Orani sempre se fazia presente em todas as
nalistas ligados aos veículos
reuniões, mensais, na sede
de comunicação católica do
do Regional. Na época, ele
Estado de São Paulo. Naquela
era bispo da Diocese de São
ocasião, o próprio Dom Orani
José do Rio Preto (SP), nos-
se aproximou de mim e per-
sas reuniões aconteciam em
guntou: “Você que é o padre
São Paulo e as distâncias que
que foi paulino e está à frente
poderiam parecer dificuldade
da Pastoral da Comunicação
nunca impediram sua pre-
na Diocese de Santo Amaro?”
sença em todas as reuniões
Respondi que sim. Daí ele
e encontros regionais de co-
me estendeu o convite para
municação realizados. Para
eu estar na próxima reunião
um bispo que tem de acom-
do Setor de Comunicação que
panhar dezenas de pastorais,
aconteceria na sede do Re-
movimentos
gional, em São Paulo, no dia
dentro de uma diocese, Dom
18 de agosto. Acolhi o convite
Orani sempre tinha um es-
e
associações Com o padre Roberto Luiz durante encontro da Pascom, em São José do Rio Preto
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022
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CADERNO ESPECIAL FOTOS: CARLOS MOIOLI
de Deus, desde sua residên-
culturas e denominações re-
cia até à Catedral da Sé, onde
ligiosas, sempre cultivando o
aconteceu a celebração euca-
diálogo e o respeito com os
rística em que tomou posse.
diferentes.
Foi como que um primeiro ensaio de muitas caminhadas. Foi o seu “primeiro Círio”! O caminhar, na manhã quente da capital Belém, de um pastor que anda com suas ovelhas. Agora sim, tem diante de si novos desafios. Dali em diante, sem abandonar sua cultura paulista, vai se adaptar à cultura do norte do Brasil, convivendo com o jeito amazônico, estranho até então. Equipe de Comunicação do Regional Sul 1 da CNBB
De monge paulista, ago-
Dom Orani sempre esteve
proposta aos novos desafios
superava o cansaço com seu
ra é pastor de uma enorme
aberto a todos os meios de
que sempre nasciam.
dinamismo e com a oração
porção do povo de Deus nas
de um homem rico em espi-
realidades tão diferentes que
ritualidade. Tudo afunilava
o norte do Brasil lhe apre-
na Eucaristia, fonte e ápice
sentava. Nada foi obstáculo,
da vida cristã.
tudo foi presença da graça
comunicação, atendendo jornalistas de todos os veículos de imprensa local, nacional e internacional. Transmitia uma palavra acertada, sem
Como homem conciliador, Dom Orani sempre valorizou muito o trabalho de todas as pastorais, movimentos e as-
de Deus, que sempre o en-
sociações. Atento aos sinais
E, para um homem que está
dos tempos, com competên-
sempre de coração aberto aos
cia e criatividade, era visto
apelos da Igreja, recebe a
como quem possuía uma pa-
nomeação para ser arcebispo
lavra que guiasse a ação pas-
metropolitano da Arquidio-
Em Belém, os trabalhos
toral diante dos desafios. As
cese de Belém do Pará (PA).
aumentaram e, obviamen-
reuniões preparatórias aos
Toma posse no dia 8 de de-
te, a responsabilidade dian-
Muticoms, Encontros Regio-
zembro de 2004, em Belém
te da grande rede conhecida
nais de Comunicação, Sicom
do Pará, dia em que a Igreja
como a Fundação Nazaré de
(Seminário Internacional de
celebra a Festa da Imacula-
Comunicação. Televisão, rá-
Comunicação),
e
da Conceição. Também ele,
dio, portal e jornal arquidio-
responsáveis pelas TVs de
Dom Orani, escolheu esta
cesano distribuído até nas
Em 2003, vem um novo
inspiração católica e tantos
data sabendo da necessidade
bancas de jornais. Tudo era
desafio: foi eleito presidente
outros grandes eventos pa-
de proteção que teria da Mãe
púlpito para um homem que
para a Comissão de Comu-
reciam absorver as forças de
de Jesus. No dia de sua posse
sabia dominar perfeitamente
nicação, Cultura, Educação
Dom Orani, mas ele sempre
caminhou com aquele povo
a comunicação com todas as
temer os temas mais polêmicos, afinal sempre esteve afinado com as realidades da conjuntura local e nacional. Os temas globais nunca o intimidaram para apresentar uma resposta, uma proposta, conciliadora frente aos desafios que assolavam o povo de Deus frente à vulgarização dos valores humanos.
diretores
volveu, e da força do Espírito Santo presente neste fiel sucessor dos Apóstolos.
e Ensino Religioso da CNBB em nível nacional, com sede em Brasília. Aumentam os compromissos e as viagens se tornam mais longínquas. Agora os esforços se estendem para acompanhar toda a realidade da comunicação na Igreja em todo o Brasil. Novamente fui convidado por Dom Orani a acompanhá-lo como assessor nesta missão, agora em nível nacional. É sempre uma honra trabalhar com ele, mas é importante saber que se está ao lado de um homem incansável. Muitas vezes vi Dom Orani virar 48 horas acordado, acompanhando,
estudando,
buscando respostas, e disponível para apresentar uma
2º Mutirão Brasileiro de Comunicação, realizado na cidade de São Paulo, em 2000
Em 2007, deixei de ser assessor do Setor de Comunicação da CNBB, mas com uma alegria muito grande em meu coração de estar tão junto deste homem que me ensinou a não se cansar diante dos desafios pastorais da Igreja no Brasil, no que tange o trabalho com a Pastoral da Comunicação Social. Posso afirmar que quem conviveu e trabalhou com Dom Orani pode dar graças a Deus pela oportunidade única de ter crescido e amadurecido na fé e na missionariedade. Para mim, Dom Orani é amigo, irmão e pai em tantas vezes que sentávamos para dialogar propostas para desafios que a evangelização enfrentrava. Hoje, como arcebispo da Arquidiocese
Metropolitana
do Rio de Janeiro, Dom Orani é modelo de um homem que comunica as coisas de Deus, fazendo-se um com os outros, cultivando o diálogo para comunicar a construção de uma cultura de unidade e de paz. Ele é uma experiência de Deus na vida da gente! PADRE ROBERTO LUIZ PRECZEVSKI DIOCESE DE SANTO AMARO, SÃO PAULO, SP
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24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
CADERNO ESPECIAL
Dom Orani, um pastor amigo E
FOTOS: CARLOS MOIOLI
sperar um novo pastor é sempre um momento
de grande expectativa.
Foi assim esperado Dom Orani entre nós. Chegava um paulista, desconhecido, com ares de seriedade e distância, tão diferente do seu antecessor, simples, amigo e tão próximo. Mas, afinal, quem foi Dom Orani em terras paraenses? Não demorou a passar de ilustre desconhecido, que queria se inculturar, conhecer suas novas ovelhas. Assim foi entrando devagarinho nas diversas camadas sociais, fazendo-se presente, querendo realmente conhecer o seu povo. Para isto escutava, olhava, questionava para saber realmente onde estava. Queria saber se poderia implantar uma forma nova de governar, sem distância,
Procissão do Círio de Nazaré, na Avenida Presidente Vargas, em Belém, em 2006
nem autoritarismo. E o povo
no seu novo chão, superan-
ideias na cúpula do seu go-
foi aproveitando todas as
gue novo nas reuniões dos
paraense, com suas mar-
do distâncias, diminuindo
verno, acostumado com o
ocasiões para ir onde o povo
vigários episcopais, deixar
cas indígenas, desconfiando
as diferenças. E começou a
jeito simples de seu ante-
clama por uma presença. Era
circular um jeito novo de
a princípio, foi vendo com
sentir logo que havia campo
cessor, mas fiel às rubricas
necessário levar a sua equipe
pensar e de agir. E foi abrin-
quem poderia contar como
para implantar uma forma de
e protocolos, tão próprios
para lá, saindo da sua área de
guia e companheiro de ca-
governo mais próximo do seu
minhada. Assim as reuniões se sucederam, as visitas começaram e ele, o Pastor, começou a mostrar sua origem simples, sem barreiras, nem protocolos. Começou a pisar
povo. E foi lá pelas periferias da cidade, onde está a realidade nua e crua, sem máscaras, nem rodeios. Mas como inserir suas
da hierarquia? Era preciso ter paciência, esperar a hora certa! Sua presença deveria se fazer sentir em toda parte, aproximando o povo, dialogando, tocando na realidade de todas as ovelhas. Assim
circunscrição urbana, abrindo o seu coração para o desconhecido, visitando e lançando as sementes de pequenas comunidades periféricas. Era necessário colocar san-
do espaço! Era necessário ser uma presença efetiva entre os religiosos, grande parcela do seu pastoreio, muito atuante na pastoral da Arquidiocese de Belém, e se perguntou: Quem poderia representá-lo lá, tornando-se também muito próximo dele, ou melhor, levando o seu pensamento às congregações religiosas e trazendo-as para as decisões? E perseguiu a ideia, até que conseguiu a nomeação de uma religiosa, introduzindo-a no grupo dos vigários episcopais, onde os assuntos da arquidiocese eram debatidos e decididos. Uma forma nova de governo, uma descentralização de poderes, uma experiência de sinodalidade, bem semelhante ao pensar do nosso Papa, que quer uma Igreja em saída, sem rodeios, nem divisões. E o novo começou a surgir com a proximidade de um pensamento feminino, mais
Com Dom Vicente Zico e o clero da arquidiocese de Belém do Pará na Festa de Pentecostes de 2005
solto e menos formal, uma
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CADERNO ESPECIAL
DIVULGAÇÃO
pitada de sal novo, com o gos-
panhássemos, sem esperar
to bem diferenciado. E o Papa
por tempo bom, nem hora
Francisco está agindo assim,
convencional. Surgiam as ne-
quebrando as estruturas pe-
cessidades de visita e lá íamos
sadas e ultrapassadas.
nós, tornando-nos presença
Com certeza havia reação no grupo tradicional, resistência de alguns, mas tudo ia acontecendo de maneira simples, sem convenções, nem protocolos. As reuniões começaram a receber um toque feminino, que suavizava o peso da caminhada e das reflexões, muitas vezes áridas e desgastantes, como acontece com qualquer grupo humano. As tarefas começaram a ser distribuídas indiscriminadamente e, muitas vezes, Dom Orani contava com a habilidade feminina para tocar feridas abertas e situações delicadas, que requeriam habilidade e distância do ocorrido. E a equipe ia se harmonizando cada vez mais, assumindo o novo que começava a surgir, se estendendo ao clero em reflexões e encontros programados. Aí Dom Orani assumia sua postura com firme delicadeza, apresentando a todos sua maneira de pensar e agir. E a nossa Igreja começou a se tornar a casa de todos, quebrando barreiras e estruturas, que condicionam e afastam.
Era necessário ser uma presença efetiva entre os religiosos, grande parcela do seu pastoreio, muito atuante na pastoral da Arquidiocese de Belém.
solidária e fraterna, dando apoio, procurando ajudar e trazendo notícias de novos campos para as reuniões dos vigários episcopais. Assim todos descobriam, e passavam a conhecer as situações e problemas. A representante dos religiosos (as) passou a ser aquele olho e aquele ouvido, que percebe o que há pelos arredores da vida, partilhando, refletindo e buscando soluções em conjunto. E não parávamos no tempo!
Com colaboradores da Cúria Arquidiocesana de Belém do Pará
As Novas Comunidades,
tava acontecendo e lhe desse
gado o dia, no local marcado,
Orani foi transferido para o Rio
que começaram a surgir na
um retorno! Nada escapava
entrávamos sob os olhares
de Janeiro! Esta notícia, dada
nossa arquidiocese, e que
aos olhos atentos e delicados
curiosos e inquietantes dos
pela TV Nazaré, caiu como um
necessitavam de um acom-
do nosso pastor!
que iriam participar, que
raio em nosso meio. Depois do
chegavam, sem saber de que
primeiro momento do grande
tratava. Aquela religiosa, che-
susto, começávamos a pensar
gando com seus apetrechos,
que a Arquidiocese de Belém,
instalando aparelhagens que
tão bem agraciada por Deus, já
panhamento mais próximo e um discernimento mais preciso, chamaram a nossa atenção e requereram maior tempo para visitas in loco. E passaram a ser seguidas com atenção e cuidado. Ficamos conhecendo a força apostólica de umas e a espiritualidade de todas, questionando certas manifestações exóticas de se expressarem, mas respeitando o seu caminho específico.
Uma descentralização coordenada se fazia sentir em todos os campos, sem nunca chegar à indiferença, mas sempre cobrando o acompanhamento, interessando-se pelo caminho feito e ajudando, sempre que necessário. Pedia de seus colaboradores a mesma atitude de interação e compromisso. Os assuntos reservados não eram tratados na reunião, mas nos aten-
O Dia da Vida Consagrada,
dimentos individuais, que
2 de fevereiro, passou a ser
fazia com presteza, apesar da
celebrado com destaque, em
sua agenda, sempre cheia de
local mais visível, como a
compromissos.
Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, e transmitido pelos meios de comunicação, especialmente a TV Nazaré, e se divulgou na arquidiocese como prioridade e com mais atenção, como continua até os nossos dias. A comunicação passou a ser mais clara e frequente.
Não é possível deixar de descrever uma de suas façanhas de seu governo. Chegando o Advento, ele colocou na reunião dos vigários que sentia a necessidade de uma mulher fazer a reflexão, no dia da reunião do clero, em preparação para o Natal. Era óbvio, que os colegas vigários
Os problemas e dificuldades
lembrassem que tinha uma
internas de cada comunidade
figura feminina no grupo. A
seriam utilizadas na transmissão!... Afinal aconteceu dentro do prazo estipulado, deixando tempo regulamentar para as perguntas... Foi um momento interessante e inesquecível, a ser agradecido a Deus pela oportunidade e pela confiança do arcebispo! Os sacerdotes passaram a conhecer e a saber que entre
era muito pequena para a ação apostólica de nosso arcebispo. Ele já tinha conhecido a Amazônia, deixado as suas grandes marcas por aqui e criado um grande círculo de amigos fiéis que, marcados por ele, continuam ainda hoje a segui-lo, admirando-o e acompanhando os seus passos.
as mulheres estão também
Agradecemos a Deus a pre-
cabeças pensantes e comuni-
sença de Dom Orani em nosso
cadoras capazes de transmitir
meio, suas lições de vida, sua
algo interessante e profundo.
amizade, desejando a conti-
Os tabus iam caindo!
nuidade do seu serviço que,
Nesta pequena, mas densa convivência, pudemos sentir quão forte é a amizade, que se estabelece entre as pesso-
nestes 25 anos de entrega e dedicação, vão deixando marcas no coração do povo e tecendo uma Igreja em comunhão, que
as, que convivem com Dom
constrói a unidade no silencio-
Orani e os laços que se criam
so trabalho do dia a dia.
na simplicidade do seu modo de ser, que são capazes de selar um compromisso sério no trabalho que com ele
foram olhados com atenção e
ideia foi aprovada por todos,
As visitas e missões a novos
carinho, com destaque para
menos pela que foi lembrada.
campos começaram a sur-
as doenças e problemas pes-
Era um desafio muito grande
gir, descobrindo carvoarias,
soais das irmãs, ajudando a
e uma novidade a ser aceita
Assim caminhávamos em
grupos que se formavam
solucioná-los e/ou colocan-
pelo grande grupo, formado
simplicidade, mas com muita
espontaneamente, sem pro-
do-nos no caminho da busca
por ilustres e competentes
ação, na nossa arquidiocese,
gramação e integração com
de solução. Quantas vezes ele,
sacerdotes. Mas, afinal, o que
lançando sementes, preparan-
o corpo eclesial, trabalhos
em viagem, ligava ao saber de
fazer diante de tanta insis-
do o terreno para uma eficaz
até então desconhecidos.
algum acontecimento daqui,
tência? Seria o Espírito Santo
evangelização, quando nova
Queria que víssemos e acom-
pedindo que visse o que es-
o grande mensageiro. Che-
ação de Deus nos atinge: Dom
realizam. Assim o Reino se constrói!
Obrigada Dom Orani pela sua presença amiga e frutuosa entre nós! Obrigada pelos seus 25 anos de intenso e dedicado serviço ao povo, que Deus lhe concede! Que sua missão continue iluminada e abençoada por Deus! Belém, 17 de abril de 2022 IRMÃ MARIA LÚCIA CÂMARA, SSD CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS DE SANTA DOROTEIA DA FRASSINETTI
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24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
CADERNO ESPECIAL
Dom Orani, o Pastor da Amazônia
E
FOTOS: CARLOS MOIOLI
m 8 de dezembro de
Aprendeu a se programar
2004, Dom Orani João
pela chuva amazônica, que
Tempesta iniciou seu
cai furiosa e teimosa a cada
ministério episcopal como
tarde, que a princípio, até as-
arcebispo metropolitano de
susta, mas que depois tudo se
Belém do Pará. O início de
acalma. Encontrou um povo
sua missão em terras paraen-
colorido, alegre, acolhedor,
ses inaugurou, também, seu
uma mistura, tão rica e tão
encontro com uma nova re-
própria, que forma a identi-
alidade, muitas vezes, ainda,
dade cultural daquele povo.
desconhecida do Sul e Sudeste
Eis que chega outubro, ou-
do Brasil. Foi o encontro com
tubro em Belém é diferente.
a Igreja viva que existe na
Desde sua chegada, Dom Orani
Amazônia.
havia participado de várias
Esse encontro não poderia
reuniões de apresentação e
ser mais significativo, pois é,
de planejamento do Círio de
justamente, Belém do Pará o
Nazaré. Mas agora, iria teste-
Portal da Amazônia. A partir
munhar aquilo que, até aquele
de Belém iniciou-se todo o
momento, era contado por ou-
processo de interiorização da Amazônia nos idos do século
tros. Fez questão de participar
Procissão do Círio de Nazaré em Belém do Pará, outubro de 2007
de tudo e ver tudo o que acontecia. A partir daí Dom Orani
XVIII. E a partir de sua posse
não era mais o mesmo, foi
canônica, a Amazônia passa
tocado por essa manifestação
a ser, novamente, desbrava-
de fé daquele povo, de forma
da. É um encontro com uma
tão intensa, que podemos di-
região rica, não apenas pela
zer que existe o Círio antes e
sua biodiversidade e suas flo-
depois de Dom Orani.
restas intocadas, mas, acima de tudo, encontro com um
Dom Orani percebeu que
povo, com uma cultura exu-
essa manifestação tinha que
berante, com uma Igreja com
ser compartilhada e conhe-
rosto amazônico, uma Igreja
cida do resto do Brasil e do
Amazônida.
mundo, e fez do Círio de Nazaré um importante, para
Ali, não chegou como quem
não dizer, o mais importante
tem respostas prontas para
instrumento de evangelização
tudo, mas chegou como al-
da Igreja de Belém. E esse era
guém disposto a conhecer,
o mote que fazia questão de
compreender e encontrar
ressaltar: “O Círio é acima
as pessoas que tornam essa
de tudo, evangelização”. To-
região tão rica em fé, cultura
mou a iniciativa de convidar
e criatividade. Mas, também, uma região com dificuldades, desafios, dores e sofrimentos.
para cada dia da quinzena
Círio de Nazaré, em Belém do Pará, 2007
do Círio (são 15 dias de festa
assumiu, para si, o cuidado
Dom Vicente, Dom Orani foi
reio. Vislumbrou uma Igreja
após a grande procissão do
Sua tarefa não era fácil: che-
com Dom Vicente, acolheu e
encontrando espaço no cora-
em expansão, com muitos
2º domingo de outubro) um
gava para substituir o grande
cuidou como quem cuida de
ção daquele povo.
templos em construção, as
bispo de uma região do Brasil,
D. Vicente Joaquim Zico, que
um pai. Na residência episco-
dificuldades de uma grande
iniciou a visita da imagem pe-
cidade e, ao mesmo tempo,
regrina de Nossa Senhora de
com as características pró-
Nazaré às capitais, começan-
prias daquela região.
do por São Paulo, passando
pastoreou aquele povo com
pal, Dom Orani fazia questão
zelo e carinho, muito estima-
que D. Vicente sentasse à
do por todos, um mineiro que
cabeceira da mesa, sempre
assumiu a alma e o próprio
o convidava a acompanhá-
Iniciou sua missão em dezembro de 2004 e logo fez questão de conhecer toda a realidade, visitou todas as
por Belo Horizonte e já estava
regiões episcopais e territó-
Descobriu que os rios são
-lo nas grandes celebrações
rios paroquiais, ocasião para
ruas, que quando é inverno
da arquidiocese, sempre lhe
encontrar-se com o clero e
em todo Brasil, lá é verão e
concedia a palavra. Esse cui-
conhecê-lo melhor, em me-
vice-versa, conheceu novos
dado e esse carinho com Dom
nores grupos. Ouvindo, per-
sabores, descobriu um ritmo
Homem incansável e cui-
Vicente acabaram tornando-
guntando, compreendendo,
diferente de levar a vida. Per-
dadoso, não mediu esforços
-se cuidado e carinho com o
em seu coração, as comple-
cebeu que no calor amazônico
para organizar a Cáritas Me-
Desde sua chegada à Be-
povo paraense. Ao ver esse
xidades daquela realidade em
uma reunião marcada às 14h
tropolitana, que ficou sob a
lém, Dom Orani acolheu e
jeito carinhoso de cuidar de
que ora iniciava seu pasto-
nunca começa antes das 15h.
responsabilidade dos diá-
ser do paraense, que com seus cabelos brancos e seu sorriso, simples e sincero, alcançava o coração daquele povo. E parece que alcançou, também, o coração do novo arcebispo.
agendada a primeira visita à Cidade Maravilhosa, antes de ser nomeado arcebispo do Rio.
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022
CADERNO ESPECIAL
27 FOTOS: DIVULGAÇÃO
Tomando açai com farinha (com a governadora Ana Júlia Carepa) em uma das ilhas de Belém do Pará
Em pastoral nas ilhas da região de Belém do Pará conos permanentes, e como
com os bispos da Amazônia.
Belém em 16 de abril de 2009,
principal ação executou vários
Nos diversos encontros, tanto
na Praça Santuário, em frente
projetos junto às comunida-
do Regional como no encon-
à majestosa Basílica-Santuá-
des ribeirinhas. Comunidades
tro dos bispos da Amazônia
rio de Nazaré, em santa missa
essas que passaram a contar
Legal. Em 2007, foi um dos
concelebrada por grande par-
com uma presença missio-
bispos da Amazônia presentes
te do clero e diante de uma
nária constante, através da
na V Conferência do Epis-
multidão de fiéis. Dom Orani
Comunidade Mar a Dentro,
copado Latino-americano e
deixava as terras paraenses,
mas que por diversas vezes
Caribenho. Essa experiência
mas com as sementes que
recebia a visita do arcebispo
do V Celam foi imediatamente
lançou e com o amor com
de Belém.
acolhida em Belém, surgindo
que pastoreou aquele povo,
o projeto “Belém em Missão”,
podemos afirmar que nunca
dando um rosto missionário
deixará de ser lembrado como
àquela Igreja que tem a mis-
o Pastor da Amazônia.
Mergulhou na cultura e assumiu a própria alma do paraense, o jeito caboclo de ser. Dom Orani fazia-se pró-
são como sua vocação natural.
ximo, sem grandes ceri-
Outro elemento importante
mônias, e era comum um
do pastoreio de Dom Orani,
padre relatar: “Dom Orani
em Belém, foi o cuidado e
passou aqui pra tomar um
desenvolvimento da Rede
café”. Conhecia cada um pelo
Nazaré de Comunicação, com
nome, inclusive muitos lei-
rádio, TV, jornal e portal
gos e leigas, ativos nas ações
na internet. Dom Orani não
pastorais. Não foram poucas
poupou esforços, tanto nas
vezes que presenciamos Dom
iniciativas de modernização
Orani, diante de um pedido
de equipamentos e estruturas,
de agenda, pegar o telefone
como do avanço da progra-
e reorganizar os horários de
mação e da integração de toda
modo a poder atender a mais
a Amazônia Legal, através do
um compromisso, que para
sinal da TV Nazaré e de suas
ele não era, simplesmente,
repetidoras, levando cultura,
um compromisso, mas opor-
fé, informação e, acima de
tunidade de ser presente, de
tudo, integrando toda a ação
estar próximo.
da Igreja presente na Região
Essa proximidade mani-
PADRE CARLOS AUGUSTO AZEVEDO DA SILVA VIGÁRIO PAROQUIAL DA PARÓQUIA DIVINO ESPÍRITO SANTO E SÃO JOÃO BATISTA, NO MARACANÃ
Nos estúdios da Fundação Nazaré de Comunicação CARLOS MOIOLI
Amazônica.
festava-se no contato com o
Em 27 de fevereiro de 2009,
povo, no contato com o cle-
Dom Orani é nomeado arce-
ro, mas também e de modo
bispo de São Sebastião do Rio
muito evidente no contato
de Janeiro, despedindo-se de
Com Dom Vicente Zico, no dia da posse em Belém do Pará, 8 de dezembro de 2004
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24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
CADERNO ESPECIAL
Dom Orani João: força e coragem! CARLOS MOILI
Como presidente da Comissão Episcopal para a Cultura, Educação e Comunicação Social, durante coletiva de imprensa na sede da CNBB, em Brasília
N
os meus 89 anos de
período, também, o abade de
primordial era a cordialidade,
Orani João: a capacidade de
e na nossa amizade pessoal,
idade tive a graça de
Claraval – que na época era
sorriso sempre largo, sempre
ouvir, a disponibilidade em
também, quando ele me no-
conviver muito, numa
bispo – renunciou por limite
servindo e muito solícito.
servir e a alegria de sempre
meou membro da Comissão
verdadeira amizade, com o
de idade. A Santa Sé Apostó-
estabelecer consensos – sem
de Educação – para tratar do
Eminentíssimo Senhor Car-
lica nomeou Dom Orani João
nunca renunciar ao essencial
ensino religioso escolar.
deal Orani João Tempesta,
como administrador apos-
O.Cist., arcebispo metropoli-
tólico da Abadia Territorial
tano de São Sebastião do Rio
de Claraval – 25/05/1999 a
de Janeiro, RJ.
11/12/2002 (no final de seu
Nossa amizade começou quando eu era o terceiro bispo diocesano de Luz, no oeste de Minas, e Dom Orani João era o 4° bispo diocesano de Rio Preto (26/02/1997 a 08/12/2004). Digo Rio Preto porque naquela quadra a Diocese era de Rio
governo a abadia deixou de ser territorial e de ter um bispo nomeado à sua frente – e Dom Orani João continuou o seu belo trabalho pastoral em São José do Rio Preto. E, na condição de administrador apostólico de Claraval, Dom Orani João pode participar das
Preto. Foi graças ao dina-
reuniões do Regional Leste 2
mismo de Dom Orani João
da CNBB – a qual a Abadia de
que a Santa Sé, atendendo ao
Claraval – fazia parte. A sua
seu pedido, mudou o nome
presença era amena, aprecia-
da Diocese de Rio Preto para
da e muito querida por todos
São José do Rio Preto. Nesse
os bispos. A sua característica
Era interessante – neste tempo – observar como Dom Orani João tinha uma ligação muito forte com o servo de Deus Dom Luciano
do Magistério da Igreja e da ação evangelizadora da Igreja no Brasil.
Nesta época, – o Presidente José Sarney – presidindo o Senado Federal – nomeou
Pedro Mendes de Almeida –
Dom Orani João foi eleito
Dom Orani João como mem-
SJ – arcebispo de Mariana,
por nós bispos para a Co-
bro titular do Conselho Na-
MG. Ambos faziam parte do
missão Episcopal Pastoral
cional de Comunicação Social
INBRAC – Instituto Brasileiro
– CONSEP – Conselho Perma-
do Senado Federal, como
de Comunicação Cristã – que
nente e Conselho Econômico
representante da sociedade
administrava a RedeVida de Televisão – que tinha sede, estúdios e uma bela capela consagrada por Dom Orani
da CNBB. Foi o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura, Educação e
civil – 2004/2007 – sendo que exerceu até a presidência deste importante colegiado.
Comunicação Social da CNBB
Nomeado em 13 de abril
– no período de 08/05/2003,
de 2004 – como arcebispo
tendo exercido o primeiro
de Belém do Pará – fez um
Fui observando naquela
mandato e sendo reeleito
excelente trabalho pastoral
convivência episcopal um
para um segundo mandato.
nas terras paraenses. Digno
traço que sempre distin-
Foi um momento de muito
de nota foi a maneira cordial,
guiu a personalidade de Dom
crescimento para todos nós
elegante e edificante com que
João,
em São José do Rio
Preto.
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022
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CADERNO ESPECIAL
FOTOS: CARLOS MOILI
Com Dom Antonio Maria Mucciolo, então presidente do INBRAC, na Dedicação do Santuário da Vida, na sede da RedeVida, em São José do Rio Preto, no dia 30 de novembro de 2000 tratou seu antecessor, meu amigo Dom Vicente Zico – que vinha a ser irmão de Dom Belchior Joaquim da Silva Neto, CM – de quem fui bispo coadjutor e sucessor frente à Diocese de Luz. Em Belém, tive a graça de pregar o retiro anual do clero. Em 27 de fevereiro de 2009, o Papa Bento XVI nomeou Dom Orani João como arcebispo metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro. Sua posse, na Catedral Metropolitana, se deu em 19 de abril de 2009, e fiz questão de participar, ficando inclusive uns dias a mais hospedado com ele. Dom Orani João, de imediato, distingiu-me com a graça de pregar o retiro para todas as turmas do clero do Rio de Janeiro quando tratei da espiritualidade sacerdotal. DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA (MG)
Reunião do INBRAC, mantendeora da RedeVida, na cidade de São Paulo
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24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
CADERNO ESPECIAL
E
O Pastor da Unidade
m 25 de abril, Dom
Enquanto jornalista da Ar-
a estruturação e o desenvolvi-
Orani João Tempesta
quidiocese do Rio de Janeiro,
mento do Vicariato para a Co-
completa 25 anos de
tive o privilégio de acompa-
municação Social, mostrando
episcopado, dos quais 13 eu
nhar durante muitos anos a
a importância que dá aos
tive o privilégio de acompa-
Trezena de São Sebastião e
trabalhos de evangelização
nhar bem de perto. Foi em 19
muito aprender com o nosso
nas diferentes plataformas.
de abril de 2009 que a Arqui-
pastor. Observando Dom Ora-
diocese de São Sebastião do
ni, aprendi que muito mais
Rio de Janeiro ganhou o seu
importante do que evangeli-
18º arcebispo. No discurso de
zar com palavras é transmitir
posse, em uma Catedral lota-
o amor de Deus através das
da, Dom Orani falou sobre o
atitudes.
seu lema episcopal “Para que todos sejam um” e sobre o desejo de lutar pela unidade em um mundo tão violento e intolerante.
Dom Orani é assim: não obstante o calor de 40 graus do verão carioca, nem o cansaço de 13 dias de caminhada e celebrações, rezava a missa
Na ocasião, ele ressaltou a
em todas as comunidades com
diversidade de dons e carismas
o mesmo ardor missionário
da Igreja que faz a razão pri-
na primeira e na última visita
meira da evangelização! Rapi-
do dia. Não existe uma co-
damente foi possível perceber
munidade da Arquidiocese do
que esse lema seria norteador
Rio de Janeiro que não tenha
do seu governo, que ele não
recebido a sua visita pastoral
mediria esforços para que a
e a vitalidade de sua presença.
unidade fosse alcançada.
Enquanto jornalista, eu
Construtor de pontes, ho-
não poderia deixar de destacar
mem do diálogo, Dom Orani
o grande comunicador que
é acolhido e respeitado nas
Dom Orani é. Com ele aprendi
mais diversas realidades des-
e continuo aprendendo sobre
sa grande cidade! Para pregar
informação de qualidade e
a unidade e conhecer o seu
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
É sempre um grande prazer entrevistá-lo, um homem com informações claras e diretas. Dom Orani nunca recusa uma entrevista, está sempre solícito aos pedidos dos repórteres, independente dos veículos que trabalhem. Para o nosso pastor, comunicar é ir ao encontro do outro e isso muito eu admiro. No início do período pandêmico, enquanto o mundo tentava entender o que estava acontecendo, quando fomos obrigados a nos afastar das nossas paróquias, Dom Orani não teve dúvidas, agiu rápido e foi para os estúdios gravar para que, através dos meios de comunicação, nenhuma pessoa ficasse sem o conforto
Casamento de Leanna e Lucas as religiões; recebe políticos;
ele é referência em minha
e transmite, em todas as oca-
vida. Durante os 13 anos de
siões, uma mensagem funda-
arcebispado no Rio de Janei-
mentada no amor de Deus por
ro, tenho o prazer de com ele
todos, sem distinção.
partilhar a vida. Um homem
Em sintonia com o Papa
que muito me inspira. Com
Dom Orani vai ao encontro
Francisco, Dom Orani é um
suas orientações me formei
evangelização através dos
do pobre e dos que mais so-
“pastor com cheiro de ove-
em comunicação social e con-
rebanho, ele literalmente an-
meios de comunicação social.
frem. Muitas vezes o acompa-
lhas”, próximo do seu povo,
cluí o mestrado. Dom Orani
dou por todo o Rio de Janeiro.
Um homem do seu tempo,
nhei nas periferias, nos presí-
amigo do clero, acolhedor e
assistiu o meu casamento e
Estendeu as festividades do
que está sempre atento ao
dios e pude ver a sua abertura
generoso para com todos. Está
batizou o meu filho. Com ele
padroeiro por 13 dias e pe-
desenvolvimento tecnológico
e diálogo. Vai ao encontro das
sempre atento às mensagens
partilhei alegrias, conquistas
regrinou com São Sebastião
e às plataformas de comuni-
mais diferentes manifestações
do pontífice e às diretrizes
e, principalmente, orações.
culturais; dialoga com todas
para a nova evangelização.
Através dele me sinto mais
incansavelmente.
cação. Ele sempre incentivou
espiritual.
Eu poderia escrever ainda sobre muitas outras qualidades do Dom Orani, afinal
Leanna Scal entrevistou Dom Orani quando ele recebeu o cardinalato no Vaticano, em 2014
Batismo do filho José Pedro
próxima de Deus! LEANNA SCAL JORNALISTA
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022
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CADERNO ESPECIAL
Coração humilde e caridoso N
este próximo dia 25 de abril, é momento de oferecermos inúmeras preces e louvores a Deus pelos 25 anos de sagração episcopal de nosso amado pai e pastor arquidiocesano. Aquele que, incansavelmente, desde o seu sim à
vocação sacerdotal, reza e trabalha para corresponder a tão belo dom. Um Jubileu de Prata é profunda ocasião de ação de graças ao Senhor, haja vista as grandes lutas que cada ministro ordenado enfrenta incessantemente, sobretudo nos tempos difíceis em que vivemos. Dom Orani nasceu em São José do Rio Pardo, em 23 de junho de 1950, ingressando na Ordem Cisterciense em 1° de fevereiro de 1968, pouco antes de completar 18 anos. Ou seja, jovem, mas com profundo desejo de atender ao chamado do Senhor. Tendo sido ordenado em 7 de dezembro de 1974, foi eleito bispo da Diocese de São José do Rio Preto (SP) em 26 de fevereiro de 1997, ano em que o Brasil receberia a marcante visita daquele que o elegeu para o episcopado: São João Paulo II. Assim como o “João de Deus”, Dom Orani traz em seu ministério episcopal um
Trezena de São Sebastião nas ruas do Saara, no Centro do Rio
profundo desejo de comunhão e unidade em toda a Igreja, escolhendo como seu lema “Ut omnes unum sint” (“Para que todos sejam um”)
(Jo 17,21a).
Como dito no Diretório para o Ministério Pastoral dos Bispos, a Apostolorum Successores: “A diversidade das vocações e dos ministérios que estrutura a Igreja particular exige que o Bispo exerça o ministério da comunidade não isoladamente, mas juntamente com os seus colaboradores, presbíteros e diáconos, com a contribuição dos membros dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica, que enriquecem a Igreja particular com a fecundidade dos carismas e o testemunho da santidade, da caridade, da fraternidade e da missão”
(AS, 63).
E é exatamente isso, um dos principais aspectos
que se destacam na atuação do nosso pastor por onde ele passa. Foi o terceiro bispo da Diocese de São José do Rio Preto (SP), governando de 1º de maio de 1997 até 13 de outubro de 2004, quando foi eleito para a Arquidiocese de Belém, no Estado do Pará, assumindo seu ministério em 8 de dezembro do mesmo ano. Em 2009, Dom Orani tomou posse como arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro, assumindo um lugar muito especial no coração de cada fiel da Com a imagem de São Sebastião aos pés do Cristo Redentor
Cidade Maravilhosa. O testemunho do povo de Deus não nega sua presença como verdadeiro reflexo do Cristo Bom Pastor. “No exercício do seu poder sagrado, o bispo deve revelar-se cheio de humanidade, como Jesus, que é perfeito homem. Por isso, no seu comportamento devem brilhar aquelas virtudes e os dotes humanos que brotam da caridade e que são justamente apreciados na sociedade”
(AS, 47).
Dentre tantas iniciativas e missões empenhadas na Arquidiocese do Rio de Janeiro, destaca-se a Trezena de São Sebastião, que anualmente leva os fiéis a encontrarem com Dom Orani e o escutarem pronunciar palavras sempre muito edificantes e necessárias para uma realidade tão singular como a do povo carioca, um chamado a confiar na intercessão do padroeiro da arquidiocese, as lutas de cada dia. Outro momento marcante em seu ministério na arquidiocese se deu em 2013, quando o coração de Dom Orani acolhia todo o mundo na Cidade Maravilhosa, sobretudo o Papa Francisco. Com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), mais vidas, histórias, famílias puderam conhecer o quanto o pai e pastor, escolhido pelo Nos estúdios da Rádio Catedral durante o Terço Mariano
Senhor para zelar e conduzir a Igreja do Rio de Janeiro, tem um coração humilde e caridoso, a exemplo de quem o elegeu. Elevado ao colégio cardinalício pelo Papa Francisco em 2014, o Cardeal Tempesta permanece se doando e oferecendo cada suor e lágrimas por aqueles a quem o Senhor o confiou. “Porquanto, todo sumo sacerdote tirado do meio dos homens é constituído em favor dos homens em suas relações com Deus. Sua função é oferecer dons e sacrifícios pelos pecados” (Hb 5,1).
Portanto, não deixemos de rezar e suplicar ao Senhor para que conceda ao
nosso cardeal as graças necessárias para continuar correspondendo a sua missão e seu chamado de ser sucessor dos apóstolos em casa lugar a que Ele o conduzir.
Reunião no Vaticano
PADRE WILLIAM BERNARDO DA SILVA PÁROCO DA PARÓQUIA SÃO MIGUEL, EM MAGALHÃES BASTOS
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CADERNO ESPECIAL
Um episcopado a serviço da educação brasileira e católica
E
GUSTAVO DE OLIVEIRA
ntre os anos de 2016 e
ticos, muitos pais acabaram
2019, por designação do
optando, mesmo forçosa-
arcebispo Cardeal Orani
mente, pela rede pública de
João Tempesta, e após quatro
ensino. Todavia, não somente
anos de serviços prestados ao
a questão financeira moti-
Tribunal Eclesiástico, onde
vava a migração dos alunos,
atuei como notária juramen-
havia também (e é cada vez
tada, tive o privilégio de inte-
mais crescente) uma parcela
grar a competentíssima equipe
muito significativa do laicato
de jornalistas do Sistema de
desejosa de poder oferecer aos
Comunicação da Arquidiocese
filhos educação de qualidade
do Rio, órgão do então Vica-
nos colégios católicos.
riato Episcopal para a Comunicação Social e Cultura.
Temas como sexualização precoce, ideologia de gêne-
Educadora por formação
ro, pautas LGBTQI+, aborto,
(Letras) e possuindo uma
descriminalização das dro-
não pouca experiência com a
gas, analfabetismo funcional,
doutrinação ideológica pra-
interferência no direito dos
ticada, há décadas, nas ins-
pais na educação dos filhos,
tituições de ensino superior,
ridicularização do valor e
mormente nas universidades públicas, não tardou para que eu manifestasse ao editor-chefe do Jornalismo ArqRio, nosso querido Carlos Moioli, o meu interesse pelas pautas relacionadas à Educação. A Divina Providência fez convergirem essas disposições com a urgência de se dar respostas à crise das instituições católicas de ensino; esta não só do ponto de vista econômico, embora, na prática, fosse a questão mais preocupante, dado o aumento do número de escolas católicas fechando as
seus predecessores, sobretudo
Com maior recorrência,
de fato, do Plano Municipal,
os cardeais Dom Sebastião
iniciaram-se os ciclos de For-
uma vez que isso represen-
Leme e Dom Eugenio Sales.
mação Continuada, com en-
taria a presença da Igreja na
família na formação moral e
construção desse documento2.
religiosa das crianças e jovens;
E o povo atendeu ao chamado
a consequente confrontação
do pastor: educadores, pais
com a autoridade dos pais,
e lideranças arquidiocesanas
por parte de não poucos edu-
lotaram as galerias e mar-
cadores; também a crescente
caram presença na tribuna
e sistemática desconstrução
da Câmara Municipal, com
da família tradicional, como
o valioso apoio do então ve-
resultado de uma pedagogia
reador Cláudio Castro, hoje
promotora do arrefecimento
governador do estado.
dos valores morais e cristãos, entre outros abusos “educacionais”, começaram a incomodar o laicato e o clero arquidiocesanos mais esclarecidos a respeito desses temas e que, por isso mesmo, são mais atentos e mais sensíveis a essas pautas, inclusive, no que
a crises financeiras, geradas
respeita às políticas públicas
seja por transferências, seja
engendradas e habilmente in-
pela diminuição de matrículas
troduzidas nos Planos Nacio-
de alunos novos e, conse-
nais (PNE) e Municipais (PME)
quentemente, pela perda de
de Educação, no âmbito dos
O empobrecimento das fa-
de educação, se apropriassem,
do papel preponderante da
portas, notadamente, devido
arrecadação.
Conferência do professor Felipe Neri no Curso dos Bispos
Três Poderes, nas três esferas: União, estados e municípios.
Por outro lado, começava a ascender um ramo cada vez mais numeroso de fiéis leigos interessados em escolas genuinamente católicas; que restaurassem e oferecessem uma educação desvinculada dos vieses ideológicos progressistas e secularizantes, que, a galope, contagiam os projetos pedagógicos de escolas públicas e particulares, e os quais, lamentavelmente, não raro, incidem também nas escolas católicas.
Motivado por leigos, padres, religiosos, e reunindo todo o governo arquidiocesano em torno dessa causa, em especial, os bispos auxiliares Dom Antonio Augusto Dias Duarte e Dom Paulo Alves Romão, os quais, à época (2018), eram bispos referenciais da Pastoral Familiar, da Juventude, da Educação e do ensino religioso, e também o bispo auxiliar emérito Dom Karl Joseph Romer, diretor do Instituto Superior de Ciências Religiosas e secretário emérito do Pontifício Conselho para a Família, o arcebispo abriu de par em par os espaços da arquidiocese, nas paróquias, no Centro de Estudos do Sumaré, e, sobretudo, no Edifício São João Paulo II, a fim de oferecer a atualização pedagógica de um sem número de interessados, entre educadores e pais (católicos
contros de formação e espiritualidade em que são tratados os grandes temas e subtemas ligados à educação, ciência e fé, mormente à luz da escolástica católica, do Magistério e da Doutrina Social da Igreja (DSI), além do quanto de melhor, nas últimas décadas, a intelectualidade católica tem produzido, dentro e fora do âmbito acadêmico, através de grandes expoentes que vêm prestando um valioso serviço à sociedade e à Igreja, exercendo papel relevantíssimo no atual cenário sociocultural e sociopolítico, especialmente nas audiências públicas, cujos temas sob constante ataque político-ideológico são: a Educação e a Família; e, vale lembrar: expoentes também quando da discussão de projetos de lei e de políticas públicas que envolvem os outros temas anteriormente citados.
Exemplo disso foi o apelo
Diante desse cenário e dos
ou não), bispos de todo o país,
A título de ilustração des-
econômica de 2016, a pior
do arcebispo a uma atuante
seus riscos para as futuras
seminaristas e formadores,
taco dois acontecimentos
já ocorrida no país-, obrigou
participação dos educadores
gerações do rebanho que ora
através de congressos, sim-
emblemáticos, sendo o pri-
muitos pais a transferirem
católicos e da Pastoral da
lhe está confiado, não me-
pósios, seminários etc., que
meiro deles a segunda edição
seus filhos para colégios que
Educação nas discussões do
nos sensível ao problema,
eram amplamente divulgados
do Congresso da Educação
lhes oferecessem melhores
PME ocorridas em março de
demonstrou-se efetivamen-
em programas da Rádio Cate-
Católica, promovido pelo
condições para honrarem com
2016. O cardeal insistia muito
te atuante o arcebispo, no
dral, da WebTV Redentor e re-
Instituto Sophia Perennis,
os pagamentos das mensa-
para que as escolas católicas,
quanto dele exigiu o zelo pela
gistrados em reportagens do
com o apoio da Arquidiocese
lidades; em casos mais crí-
como parte da rede nacional
educação católica, na linha de
jornal “Testemunho de Fé”3.
do Rio de Janeiro e do Insti-
mílias, durante a recessão
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022
33
CADERNO ESPECIAL
GUSTAVO DE OLIVEIRA
Da esq. para a dir., Edgard Leite, Rogerio Pires, padre Thiago Azevedo, Cardeal Tempesta, Chris Tonietto e Márcio Gualberto tuto Antonio Royo Martin, em
identidade, a missão de levar
não acompanharem o que
lestra “Contribuição da Igreja
uma educação integral forma
2018. O congresso foi orga-
a criança à real finalidade da
seus filhos leem, vão entregar
Católica para a Educação no
o homem segundo a sua dig-
nizado pelo Prof. Felipe Nery
educação, que é encontrar
nas mãos dos professores,
Brasil” e, na oportunidade,
nidade”, asseverou.
Martins Neto, presidente do
a verdade”, disse à época o
das escolas, o que há de mais
recordou o relevantíssimo
renomado professor.
precioso na vida deles: a for-
papel e legado dos jesuí-
mação moral. E a escola de
tas, que, chegados em 1549,
hoje não está preocupada com
deram início ao processo
isso”, assegurou Gurgel. Além
educativo no país: “Um dos
destes, participaram também
expoentes desse trabalho
o professor Thomaz Giuliano
pioneiro foi São José de An-
e o maestro Dante Mantovani.
chieta, que justamente por
Observatório Interamericano de Biopolítica e do Instituto Sophia Perennis, com o objetivo de despertar, tanto nos pais como nos educadores,
Com ele participaram ainda: o jurista, professor, escritor e também membro do Instituto
uma reflexão para se perceber
Sophia Perennnis, Rodrigo
o declínio da educação hoje.
Monteiro Gurgel Santos, que
No que respeita à educação
abordou o tema “O jovem e
católica, segundo Nery, “a
a literatura” e fez uma séria
escola católica tem, na sua
exortação aos pais: “Se vocês CARLOS MOIOLI
Outra participação de peso neste congresso foi a do padre José Eduardo de Oliveira, da Diocese de Osasco (SP). Padre José Eduardo recordou o ensinamento do grande Santo Tomás de Aquino, para quem o desenvolvimento intelectual se dá em três operações fundamentais que, por sua vez, constituem a arte de ensinar; são elas: a leitura (em profundidade), a meditação (reflexão sobre o que o intelecto absorveu da leitura, quando então ocorre a experiência da verdade) e a contemplação (a percepção da realidade de que há uma ordem que dá consistência profunda às verdades
Apóstolo do Brasil”, lembrou D. Orani. E passando pelos outros momentos históricos da educação em nosso país, desde o período Pombalino até a Proclamação da República, Dom Orani aportou ao momento atual por que
gravidade dos tópicos levantados durante o congresso e zeloso por oferecer uma resposta pastoral à altura, cria o Vicariato Episcopal para a Educação, em 15 de outubro daquele mesmo ano (Dia dos professores e de Santa Teresa d’Avila, doutora da Igreja) e com a missão de acompanhar e evangelizar no ambiente da educação. O vicariato está assim constituído: Bispo referencial: Dom Paulo Romão
passa a educação brasileira,
Vigário episcopal: Pe. Thiago
enfatizando os desafios en-
Azevedo
frentados pela Igreja e pelos
Vigário episcopal adjunto: Pe.
educadores católicos: “Com
Jorge Luiz Vieira
a separação entre Igreja e
Assessor eclesiástico da Pas-
Estado, conforme a Consti-
toral da Educação: Pe. Wagner
tuição Republicana de 1891,
Augusto Moraes dos Santos
promoveu-se uma laicização da sociedade, e foi retirado o ensino religioso do currículo das escolas. Esses desafios
Assessor eclesiástico do Setor Universidades: Pe. Douglas Navarro
persistem e até se agravam
Como desdobramento do
na atualidade, sob a roupa-
congresso, dos encontros de
gem de novas ideologias. A
formação continuada e da
Igreja caminha no apren-
criação do Vicariato para a
dizado de conviver com as
Educação, deu-se um maior
divergências dos novos tem-
engajamento e uma mais
Anfitrião do evento, Car-
pos, mas conserva vivo seu
efetiva mobilização pastoral
deal Tempesta proferiu a pa-
testemunho de que somente
do arcebispo, desta vez, em
acumuladas): “Este foi o modelo que produziu as mentes mais geniais da história da Humanidade”, ressaltou o padre José Eduardo.
Congresso de Educação Católica
isso ficou conhecido como
Animado pela riqueza e
34
24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
CADERNO ESPECIAL CARLOS MOIOLI
Com o retorno das atividades
desejaria fomentar em toda
paroquiais, superado o con-
a Igreja, ao propor o “Pacto
finamento do período pan-
Educativo Global”.
dêmico, Cardeal Tempesta protagonizou, recentemente, a implementação de um projeto que, se não realiza de todo, ao menos “esbarra” no que fora proposto em 2019, no Curso Anual dos Bispos, no que tange a “possibilidades para as escolas paroquiais atualmente”.
Padre Thiago Azevedo, Dom Paulo Romão e padre Jorge Luiz Viiera da Silva torno do tema “Igreja e es-
e que não deve ser ignorado
não deixava dúvidas quanto
cola”, escolhido para o Curso
“por uma questão política e
ao envolvimento sempre mais
Anual dos Bispos, realizado
ideológica”, disse o secretário.
crescente do cardeal com o
no Centro de Estudos no Sumaré, em fevereiro do ano seguinte, 2019. O evento trouxe novamente à cena, entre os palestrantes, o professor
Naquele mesmo mês, poucos dias depois, Dom Orani promoveria, através do recém-criado Vicariato Epis-
tema da educação. Dom Paulo Romão trataria dos “objetivos e metas da educação na Arquidiocese do Rio de Janeiro”.
de Ciências e Educação Su-
e, por isso mesmo, exem-
perior a Distância do Estado
plares e com alcance para
do Rio de Janeiro (Fundação
além dos limites geográficos
Cecierj) - órgão vinculado à
da Arquidiocese do Rio de
Secretaria de Estado de Ci-
Janeiro, dada a popularidade
ência, Tecnologia e Inovação
que possui e a influência que
(Secti)) - para a implantação
exerce, além-fronteiras, o
de polos de pré-vestibular
Cardeal Tempesta.
social nas paróquias. O Acordo de Cooperação foi celebrado no dia 28 de março entre o arcebispo do Rio de Janeiro e o presidente da Fundação
aguerridos representantes do
lugar no Colégio Santo Antô-
para o simpósio e também
laicato católico do Regional
nio Maria Zaccaria, no Catete,
para o vicariato recém-criado.
Leste 1, no âmbito do poder le-
com o tema: “Igreja e Edu-
É o que se depreende, tam-
gislativo estadual e federal, em
cação no século XXI”. Foram
bém, das palavras do vigário
defesa da Vida, da Família e da
palestrantes nesse evento, o
episcopal, naquele contexto:
Educação, respectivamente: o
professor Felipe Nery, o bispo
“Queremos conhecer as linhas
deputado Márcio Gualberto e a
referencial para a educação,
educacionais do nosso tempo,
deputada Chris Tonietto.
Dom Paulo Alves Romão, o
bem como os valores educa-
então monsenhor Antônio
cionais defendidos pela Igreja.
A relevância dos temas, alia-
Luís Catelan Ferreira, mem-
Entendemos que um educador
da à influência do cardeal,
bro da Comissão Teológica
católico não pode negligenciar
atraíram para esse evento,
Internacional e, hoje, bispo
da problemática e da urgência de ações pastorais concretas e incisivas nesse âmbito.
também, a presença do então secretário executivo adjunto do Ministério da Educação, Eduardo Miranda Freire de Melo, que, na ocasião, se pronunciou nestes termos: “A Igreja Católica e as demais Igrejas cristãs cumprem um papel muito importante na disseminação
auxiliar; estiveram presentes ainda: o vigário episcopal, padre Thiago Azevedo, e o vigário episcopal adjunto,
a fé, por causa da ciência, nem negligenciar a ciência por causa da fé”, pontuou padre Thiago, na ocasião, ao jornal “Testemunho de Fé”.
padre Jorge Luiz Vieira da
Na homilia, Dom Orani ra-
Silva, além dos assistentes
tificou: “Temos uma missão
eclesiásticos do vicariato:
muito importante. Nesse dia,
padre Wagner dos Santos e
falamos de forma específica
padre Douglas Navarro.
sobre a educação católica, porém o vicariato é destinado
promovidos no âmbito arquidiocesano, e graças à notoriedade e o nível de excelência dos palestrantes, que despertam interesse e favorecem a divulgação e transmissão dos eventos, pelas redes sociais, e mais notadamente, pelas mídias arquidiocesanas. Todavia, nada disso seria possível tampouco visível, não fossem as disposiTempesta, com sua já notória e
polos de distribuição de ma-
peculiar missionariedade, apli-
terial didático e de aulas on-
cada também, como vemos,
-line. E sobre este novo gesto
em prol da educação brasileira
pastoral em benefício da edu-
e católica.
cação em nossa arquidiocese, Dom Orani manifestou seu entusiasmo pelo fato de que a parceria vai ao encontro da Campanha da Fraternidade deste ano, a qual teve como tema “Fraternidade e Educação”. Para ele, a educação
O simpósio levou os pre-
passa pela educação cristã, a
documentos da Igreja sobre a
partir de seus fundamentos,
educação católica: a Carta En-
uma vez que o próprio Jesus
cíclica sobre a Educação Cristã
disse: ‘Ide e ensinai a todos os
“Divini illius magistri”, do
Neste ano de 2022, Dom
cardeal antecipou-se e ante-
povos’. O secretário também
Papa Pio XI, e a Declaração
Orani impulsiona, mais uma
cipou, com contornos muito
estendeu suas considerações
“Gravissimum Educationis”,
vez, a Arquidiocese do Rio de
peculiares da tradição esco-
ao ensino religioso confessio-
do Papa São Paulo VI. A pa-
Janeiro a um maior compro-
lástica arquidiocesana, o que,
nal, ressaltando a importância
lestra do bispo referencial
metimento com a educação.
a posteriori, o Papa Francisco
nosso município”, afirmou.
são abordados, nos eventos
ções e provisões de Dom Orani
sentes à reflexão de dois
caminhada educacional de
fundidade com que os assuntos
No momento, 16 paróquias
tradição da educação no Brasil
sendo presença da Igreja na
Obviamente, também pela relevância, abrangência e pro-
fazem parte do projeto, como
e no formato da educação. A
à educação como um todo,
desmantelaram a educação no
torais muito transformadoras
mão e o traçado cardinalícios
bispos participantes acerca
trução dos paradigmas que
Educação, e a Fundação Centro
Educação Católica, que teve
atualmente”, esclareceu os
brasileiro, para a descons-
da, tem viabilizado ações pas-
vam também presentes dois
des para as escolas paroquiais
revisão pedagógica do ensino
do Vicariato Episcopal para a
deram a conhecer, portanto, a
formando?” e as “Possibilida-
contribuído para o debate e a
pelo menos. Em contraparti-
Simpósio Arquidiocesano da
qual perfil de pessoas estamos
no Rio de Janeiro, muito têm
Brasil, nos últimos 50 anos,
Cecierj, Rogerio Pires.4 Esta-
educação existente no Brasil:
arcebispado de Dom Orani,
Refiro-me à parceria entre
Tais “objetivos e metas”
os “Problemas do modelo de
o episcopado e os 13 anos de
a Arquidiocese do Rio, através
copal para a Educação, o I
Felipe Nery, que, abordando
Como é possível constatar,
faz parte das preocupações da Igreja, daí estar presente nos documentos, sobretudo, os pontifícios. Em um certo sentido, profeticamente, o
FLÁVIA AUXILIADORA ALVES MUNIZ MESTRE E DOUTORA EM LETRAS ITALIANAS (UFRJ), JORNALISTA E TRADUTORA. FOI REDATORA DO JORNAL “TESTEMUNHO DE FÉ”. COMO LEIGA CATÓLICA É MEMBRO DA LEGIÃO DE MARIA. É EX-DIRETORA ACADÊMICA DO CONSÓRCIO CEDERJ, DA FUNDAÇÃO CECIERJ E, ATUALMENTE, PRESTA ASSESSORIA À PRESIDÊNCIA, JUNTO À DIRETORIA DE POLOS REGIONAIS DO CEDERJ 1 In: https://g1.globo.com/economia/ noticia/pib-brasileiro-recua-36-em-2016-e-tem-pior-recessao-da-historia.ghtml 2
Jornal Testemunho de Fé, n. 944, p. 4
3 Edições e respectivas páginas do Jornal Testemunho de Fé referenciadas neste artigo: n. 944 (p. 4). n. 1053 (pp 12-13), n. 1096 (pp. 7; 12-14). Há diversas outras reportagens sobre o tema e que podem ser acessadas pelo link: http://digital.maven.com.br/pub/otestemunhodefe 4 In: https://arqrio.org.br/arquidiocese-e-cecierj-firmam-parceria-pela-implantacao-de-polos-de-pre-vestibular-nas-paroquias/
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022 DIVULGAÇÃO
Todos sejam um paixão delas, porque estavam
fé para nós. Dom Orani con-
Esses diálogos foram levados
aflitas e desamparadas, como
vidou a minha família para
de forma semanal para as
ovelhas sem pastor.” Em ce-
almoçarmos com ele. E, cer-
mídias sociais, e espalham
nários de desastres naturais,
cados de vários outros irmãos,
esse exemplo e a verdade de
durante a pandemia, ou em
recebemos uma palavra de
que no diálogo pode sim ha-
diferentes expressões das
fé e encorajamento que nos
ver a paz ente as diferentes
aflições humanas, a preocu-
guardou naqueles momentos
religiões. Sob sua orienta-
pação com os necessitados
difíceis, nos encoraja e nos
ção, esses diálogos sema-
sempre foi uma tônica de
fortalece até os dias de hoje.
nais transmitidos por várias
Dom Orani.
Pastor Silas e a esposa Selma no cardinalato de Dom Orani, no Vaticano
S
35
CADERNO ESPECIAL
Outro aspecto importante
Eu e minha esposa tivemos
a se salientar é o papel do
a honra de estarmos presen-
Dom Orani na pacificação da
tes em Roma quando Dom
relação entre as diversas re-
Orani foi criado cardeal pelo
ligiões. Criador e líder de um
Papa Francisco, em fevereiro
grupo de líderes religiosos
de 2014. Foi uma experiência
chamado Diálogo & Paz, Dom
singular. Ouvimos de muitos
Orani se posiciona e instiga
a importância desse passo
outros líderes religiosos a
para a Igreja Católica no Rio
se posicionarem, à busca de
ou pastor evangélico,
o ambiente correto para que
de Janeiro e no Brasil. Embora
ações práticas que revelem
creio no batismo do
se cumpra o clamor do Filho
seja inusitado ter um pas-
um diálogo inédito entre as
Espírito Santo e nos
Jesus ao nosso Pai Celestial
tor evangélico e sua esposa
diferentes expressões de fé.
dons de Deus concedidos ao
para que “todos sejam um”.
convidados para o ato papal
Por mais que divirjam em
Corpo de Cristo. Estamos
O acolhimento fraterno do
de criação de um cardeal ca-
seus rituais e práticas de fé,
celebrando 25 anos de orde-
coração de Dom Orani a todos
tólico, digo que essa é mais
Dom Orani promove o respei-
nação episcopal de Dom Orani
os cristãos nos dá uma grande
to, o conhecimento mútuo,
João Tempesta, hoje cardeal
uma amostra da atmosfera
esperança de ver o amor, a
o diálogo e a paz entre as
arcebispo da Arquidiocese
fé, a fraternidade e a recon-
de inclusão que Dom Orani
religiões. Percebo nessa ini-
do Rio de Janeiro. Considero
ciliação prevalecerem mesmo
expressa.
muito importante estarmos
em cenários que historica-
conscientes do que estamos
mente foram turbulentos. O
celebrando. A jornada minis-
entendimento e mão sempre
terial de Dom Orani é marcada
estendida aos nossos irmãos
pelo clamor de Jesus Cristo:
ortodoxos é outra marca de
“que todos sejam um” (São
Dom Orani. Realmente vejo
João 17:22). Esse homem de
em Dom Orani uma voz un-
Deus exala uma profunda re-
gida por Deus para promover
velação da necessidade básica
tal unidade. Cristãos de todos
da unidade dos cristãos - e
os continentes e de todas as
esse é um fundamento desse
expressões têm acorrido a
abençoado episcopado.
essa plataforma de diálogo
Sob a cobertura espiritual de Dom Orani, a Arquidiocese do Rio de Janeiro abriga a plataforma de diálogo entre cristãos “Somos Um”, a qual hoje atinge os cinco conti-
ecumênico e de unidade que reside sob as asas de Dom Orani. E outras plataformas
Os nossos corações se encontram no clamor pela unidade dos cristãos. Dom Orani e eu já tivemos oportunidade de expressar juntos a dor pelo pecado da divisão que atormenta o cristianismo e de juntos orarmos pela unidade dos cristãos.
ciativa um exemplo em que outros setores da nossa sociedade poderiam se espelhar e aprender a concordar em discordar, sem jamais perder o respeito e, por que não, o amor uns pelos outros. Num clima isento de proselitismo, conhecer o próximo e entender os fundamentos de sua fé,
Quando tempos turbulentos
nos aproxima no coração sem
cercaram a mim e a minha
ter que existir a uniformidade
família, Dom Orani, assim
de expressão religiosa. É um
como outros irmãos católicos,
projeto ousado, repito, criado
foram uma rocha de amor e
e liderado por Dom Orani. CARLOS MOIOLI
mídias têm sido um alento para milhares de pessoas do bem e um alerta semanal de que coisas podem sim ser transformadas através da boa convivência em paz e comunicação de coração. O caminho da unidade entre cristãos, do diálogo e paz entre religiões, a meu ver, reflete o coração de misericórdia e pacificação que caracteriza o episcopado de Dom Orani. Na simplicidade de uma amizade em Cristo, clamo ao Altíssimo pela proteção e direção de nosso cardeal arcebispo, a quem amamos e respeitamos, pedindo a Deus por sua saúde, integridade física e, acima de tudo, que continue sendo guiado pelo Espírito Santo de Deus na sua missão de encontrar respostas e apoio para os pobres e necessitados, para os que nos últimos tempos perderam as condições mínimas de dignidade humana, para a unidade de Igreja de Jesus Cristo e para a promoção do diálogo e paz entre as religiões. Deixo aqui, a quem interessar possa, a minha expressão pessoal de admiração e
de ecumenismo também se
respeito a Dom Orani. Quero
abrigam e crescem sob o mi-
parabenizá-lo pelos 25 anos
nistério de Dom Orani.
de ministério episcopal, mas
nentes e revela essa missão
Dom Orani tem o dom di-
de reconciliação, perdão e,
vino da oratória e, evidente-
acima de tudo, unidade en-
mente, pratica o que prega. A
tre cristãos de todas as ex-
sinceridade de coração e a im-
pressões. Cristãos católicos,
pressionante disponibilidade
protestantes tradicionais,
a todos nos dá a liberdade de
evangélicos, pentecostais,
dizer que temos entre nós um
ortodoxos, neopentecostais,
verdadeiro coração de pastor
enfim, todas as expressões
para orientar as ovelhas de
da fé cristã moram no coração
seu rebanho. No Evangelho
de Dom Orani. Dom Orani não
de Mateus 9:36, lemos: “Ao
mede esforços para promover
ver as multidões, teve com-
eu precisava expressar alguns dos detalhes que podem a ajudar a muitos a entenderem o impacto desses 25 anos, assim como instigar a expectativa do que é possível vir pela frente quando temos um líder humilde, simples e guiado por Deus. SILAS ESTEVES
Expo Religião, em 2021
PASTOR PRESIDENTE DO MINISTÉRIO BETESDA, EM NITERÓI (RJ)
36
24 A 30 DE ABRIL DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ
CADERNO ESPECIAL
CARLOS MOIOLI
O cardeal do diálogo
Cerimônia inter-religiosa aos pés do Cristo Redentor no dia 18 de janeiro 2021, que marcou o início da vacinação contra a Covid-19 no Rio de Janeiro
A
diversidade religiosa é um traço de nossa cultura. Somos um povo
religiões de matrizes africanas,
formalmente a missão da Igreja
de Janeiro, Dom Orani João Tem-
rado por um cardeal em todo o
a rejeição, a perseguição e a
Católica.
pesta, o sexto cardeal da cidade,
mundo. Em decorrência deste
destaca-se como um baluarte
composto por muitas etnias,
às questões étnicas. Todavia, o
trabalho, surge a Comissão
muitos credos, muitas origens
desenvolvimento de novas pro-
e vertentes. O reconhecimento
postas sociais voltadas ao povo
destas variantes é o próprio
oprimido e excluído, por parte
relevo das possibilidades ofe-
da Igreja Católica, e as atitudes
recidas pelo Criador. Contudo,
inclusivas para com as popu-
nem sempre tal compreensão foi
lações vulnerabilizadas foram,
assim tão abrangente.
gradadativamente, reformando
Os primeiros estrangeiros que pisaram neste solo trouxeram consigo suas expectativas e verdades. Desde o início do período colonizatório brasileiro, no entorno de 1530 d.C., a liberdade e o respeito aos diversos cultos já aqui existentes entre os indígenas, assim como aos ritos e credos trazidos pelos africanos, não fizeram parte da pauta dominante. Apesar dessa integração, as relações entre a Igreja Católica e os cultos afro não foram sempre amenas. São inúmeros os relatos, os documentos históricos, assim como narrativas imortalizadas em livros e na dramaturgia, que nos remetem a uma era de hostilidades e de rejeição às práticas afro-brasileiras. As relações se mostraram bastante tensas e pouco amistosas. Este clima se estendeu, desde o Brasil Colônia até, aproximadamente, a década de 60, do século XX.
demonização são transversais
positivamente esses vínculos. Hoje, não há dúvidas, a Igreja Católica é uma grande aliada da liberdade de credo e uma reconhecida promotora do diálogo inter-religioso. Somente observando o histórico citado podemos dimensionar a proporção desse movimento católico em prol da unidade. Ressalte-se que a construção do diálogo entre as religiões foi erigido, ao longo do tempo, graças ao empenho de figuras e ações memoráveis. Em 1965, no Concílio Vaticano II, foi produzido o documento denominado Nostra Aetate, o qual afirma que a Igreja “exorta por isso seus filhos a que, com prudência e amor, através do diálogo e da colaboração com os seguidores de outras religiões, testemunhando sempre a fé e vida cristãs, reconheçam, mantenham e desenvolvam os bens espirituais e morais, como também os valores socioculturais
Após 34 anos da convocação do Dia Mundial de Oração pela Paz, o Papa João Paulo II, em 27 de outubro de 1986, marcou história ao convidar lideranças de diversas religiões para um encontro de oração pela paz na cidade de Assis, na Itália. Este encontro significou importante paradigma para o catolicismo, no que diz respeito ao diálogo inter-religioso. Na ocasião, João Paulo II declarou: “Antes as religiões ou estavam umas contra as outras, ou eram indiferentes. Hoje, vemos que as religiões, fortes pelas suas diferenças, são colocadas a serviço de um projeto para a Humanidade”2. Desde aquele evento, a cada ano, novos encontros foram promovidos no mundo inteiro, para repercutir o que os católicos passaram a chamar de “espírito de Assis”. Em 2016, 30 anos após o evento protagonizado por João Paulo II, o Papa Francisco repetiu o gesto. Entretanto, Francisco conferiu ao diálogo inter-re-
do diálogo entre os diferentes credos. Aqui no Rio de Janeiro, onde exerce o episcopado desde 2009, D. Orani atua em uma diocese de referência mundial.
do Direito com as mais variadas confissões religiosas. Tal comissão já protagonizou
que já foi capital da República,
interlocuções junto a diversos
é a atual capital do estado e
órgãos nacionais e internacio-
consiste em um município cuja
nais, a Comissão Parlamentar
referência cultural extrapola
de Inquérito sobre Intolerância
seus limites geográficos. Apesar disso, é ainda uma das cidades com maior desigualdade social, marcada por casos de racismo
Religiosa no Estado do Rio de Janeiro; o Conselho Nacional de Justiça; e o Parlamento Belga.
e de intolerância religiosa, em
A atuação de D. Orani é, sem
que pese os avanços nessa área.
dúvida, paradigmática. Trata-
Somente até abril de 2022, foram registrados 29 episódios de intolerância religiosa junto à Coordenadoria Executiva de Diversidade Religiosa do Rio de Janeiro. No Brasil, registrou-
-se de um homem que, embora muito à frente de seu tempo, resgata exemplos cristãos dos mais memoráveis e inspiradores. Orani João Tempesta, já é
-se um aumento dos casos de
um nome na história: o Cardeal
intolerância religiosa, da ordem
do Diálogo.
de 141% em relação ao ano an-
PAI MÁRCIO DE JAGUN
terior, que teve 243 denúncias,
ESCRITOR, ADVOGADO, PROFESSOR DE CULTURA YOÙBÁ, BABALORIXÁ E FUNDADOR DO INSTITUTO ORÍ
segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Justamente neste cenário, em
profundo. Segundo Francis-
2020, D. Orani resolveu criar
co, “o diálogo inter-religioso é
um fórum denominado Diálogos
uma condição necessária para a
pela Paz, convidando líderes
paz no mundo, e também é um
religiosos de diversas matrizes
dever para os cristãos como para
para integrá-lo. Dentre eles: ju-
outras comunidades religiosas”
deus, muçulmanos, protestantes
(EG, n. 250, 2013, p. 142) .
e de matrizes africanas4.
O preconceito racial e religioso
que entre eles se encontram”
estão entre nós há muito tempo.
(NA, 2) . Com isto, o diálogo
Na esteira do papado de Fran-
Trata-se do primeiro grupo
Notadamente no que alude às
inter-religioso passou a integrar
cisco, o cardeal arcebispo do Rio
desta natureza criado e lide-
1
Paz5, integrada por operadores
Vale dizer que o Rio de Janeiro,
ligioso um status ainda mais
3
Inter-Religiosa de Juristas pela
1
Fonte: https://www.vatican.va/archive/
hist_councils/ii_vatican_council/documents/ vat-ii_decl_19651028_nostra-aetate_po.html. Consultada em 30 de março de 2022. 2
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/ news/2020-10/fratelli-tutti-assis-padre-dellolio-fraternidade.html. Consultada em 23 de março de 2022. 3
Fonte: https://franciscanos.org.br/vidacrista/
papa-francisco-e-o-dialogo-inter-religioso/#gsc. tab=0. Consultada em 23 de março de 2022. 4
O autor é membro do grupo Diálogos pela Paz, desde a sua fundação, como representante do candomblé. 5
O autor também integra esta comissão, pelo candomblé.
TESTEMUNHO DE FÉ | 24 A 30 DE ABRIL DE 2022
CADERNO ESPECIAL
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O pastoreio de Dom Orani pelos olhos de uma jovem católica A primeira vez que escrevi para Dom Orani, eu tinha 17 anos. No e-mail direcionado ao arcebispo, narrei as dores e alegrias de servir em meio a uma comunidade.
Naquela época, eu não era jornalista, não era redatora do jornal “Testemunho de Fé”, não era alguém com uma vasta experiência de vida. Era apenas a Priscila, uma jovem da Paróquia São José Operário, no Complexo da Maré. Entretanto, o fato de ser apenas mais uma jovem no meio de tantos não interferiu no tratamento de Dom Orani que, prontamente, respondeu aos meus anseios.
Priscila Xavier (à dir.) com integrantes da equipe de comunicação da arquidiocese, no Panamá
Alguns anos depois, já formada, comecei a trabalhar na Arquidiocese do Rio e, escondida dentre as muitas mesas do sétimo andar do prédio São João Paulo II, acompanhava e testemunhava a missão e a entrega de Dom Orani. Muitas foram as pautas. Trezenas, novenas, missões, procissões, celebrações. Incansavelmente, ele estava em todos os lugares. Em todas as paróquias. Em todas as pastorais. Enquanto eu, no auge de meus 20 anos, ofevaga para subir os muitos morros que percorremos, o arcebispo subia, quase que flutuando. Certamente, os anjos o sustentavam. Era algo fora do comum.
Priscila Xavier (no centro) e Fátima Lima entrevistaram Dom Orani durante a JMJ, no Panamá
Em 2019, recebi a missão de cobrir a Jornada Mundial da Juventude, no Panamá. Era a realização de um sonho e um grande presente de Deus, o que me permitia unir duas de minhas paixões: o jornalismo e o serviço. E mais uma vez, lá estava Dom
Orani, em meio aos jovens, em meio às autoridades, com os mais pobres, com os mais abastados. Nunca houve acepção de pessoas da parte dele. O cardeal sempre esteve no meio de todos, servindo a todos, igualmente. Eu me recordo das muitas missões. Era comum as crianças se aproximarem do arcebispo. Afinal, o próprio Cristo nos pede que deixemos que as crianças se aproximem. E, com ele, não era diferente. Quantos idosos, do Apostolado da Oração, intercederam pelo pastor, o bom pastor que sabe conduzir seu rebanho pelo caminho do bem. “Dom Guarani”, “Dom Guaraná”, foram muitos os nomes que ouvi, durante as celebrações na Catedral Metropolitana, no início do pastoreio na arquidiocese. Entretanto, apesar disso, o clamor dos anciãos era uníssono: “Que ele seja tal como o Bom Pastor”. Certamente, a prece continua sendo atendida. Dez anos depois de minha primeira carta, escrevo este artigo. Não somente como a ovelha que segue o bom pastor, mas também como aquela que intercede por ele. Que o bom Deus o conserve, Dom Orani, na fidelidade e no amor ao serviço à Igreja. Que sua vida de entrega seja um testemunho vivo, uma ponte capaz de conduzir as ovelhas, de todos os tipos, cores e pensamentos, ao Reino de Deus. Afinal, todos somos chamados para o céu. Mas, viver um pedaço dele aqui na terra é bom demais! FOTOS E TEXTO: PRISCILA XAVIER JORNALISTA
Priscila Xavier (à esq.) junto com integrantes da equipe de comunicação da arquidiocese no Panamá
Peregrinos brasileiros, bispos e sacerdotes na JMM do Panamá