Oficina de textos
Redação, produção e revisão coletiva de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
Curitiba 2019
Oficina de editoração
Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais Subsídios para o estabelecimento de rotinas na editoração de textos institucionais de gestão e programa pela União dos Escoteiros do Brasil; plataforma multiusuário, fluxograma editorial, redação coletiva, uso avançado de Word, fundamentos de revisão. Facilitador: Públio Athayde, IM, OFL.
Curitiba 2019
Oficina de editoração Redação, produção e revisão coletiva de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais Públio Athayde, OFL, IM <publio@souescoteiro.or.br>
Resumo da proposta
Esta apostila apresenta algumas das bases teóricas que subsidiarão a oficina de editoração: redação, produção e revisão coletivas de textos que será levada a cabo pelos Escoteiros do Brasil com o objetivo de se criarem rotinas e de produção de textos no âmbito da instituição. O objeto material da proposta serão os textos de todos os tipos: normativos, procedimentais, programáticos e institucionais que serão produzidos no âmbito da UEB, com foco no trabalho cooperativo da produção. A oficina terá caráter eminentemente prático, mas reconhecemos a necessidade de um superestrato teórico que balize as propostas de operacionalização e as rotinas que se implantarão na redação coletiva e na adaptação, tradução, compilação e outras tarefas editoriais com a finalidade de conferir-lhes profissionalismo na qualidade e nos procedimentos, ainda que boa parte do trabalho seja distribuído a voluntários. O desafio é alinhar em uma oficina de poucas horas e de forma bem prática conhecimentos teóricos complexos e transferi-los de forma sintética e pragmática para incrementar, em pouco tempo e de forma sistêmica, a ampla produção de textos que nossa instituição requer. O propósito é despersonalizar a autoria, mas com rotinas e fluxos de trabalho que canalizem as experiências das pessoas e propiciem uma aceleração da produção com incremento qualitativo.
Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
Agradecimentos
Agradeço à DEN pela confiança emprestada a mim na criação e aplicação desta oficina de produção coletiva de textos. Agradeço pela acolhida de minha proposta e pela oportunidade que me dão de, organizando alguns conhecimentos, apresentar estas ideias que, segundo creio, poderão contribuir no incremento qualitativo e na dinâmica de produção de textos de todos os tipos pela UEB por intermédio de seus colaboradores e voluntários. É preciosa para mim a oportunidade de compartilhar conhecimentos que tenho construído em meu exercício profissional, colocando-os ao serviço de nossa causa e de nossos objetivos institucionais. Obrigado por responderem positivamente aos problemas que venho apontando quanto aos textos em nossa Organização, dando-me a oportunidade de contribuir para saneá-los. A seara dos textos é sempre ingrata: os autores nunca terão coligido todos os argumentos, raramente eles terão sido ordenados de forma irrepreensível, a editoração nunca será tão perfeita que não se lhe apontem defeitos depois de acabada, a revisão, minha messe das últimas décadas, será sempre uma busca pela inalcançável perfeição. Em todo esse contexto de imperfeições, sobra-nos a noção e o consolo de “fazer melhor possível” que nos é tão cara. Obrigado a todos que me proporcionam a oportunidade de propor um incremento ao “melhor possível” de cada um e que possamos chegar a um resultado bem melhor que o que temos alcançado em nossos textos – sem nenhuma crítica vazia aos autores precedentes, a quem agradeço ao cabo. Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
Siglas e abreviaturas UEB – União dos Escoteiro do Brasil POR – Princípios, Organização e Regras TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação DEN – Diretoria Executiva Nacional
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Sumário Resumo da proposta ....................................................................................... 5 Agradecimentos ............................................................................................... 6 Siglas e abreviaturas ....................................................................................... 7 Sumário ............................................................................................................. 8 1 Introdução ................................................................................................ 11 1.1 1.1.1 1.1.2 1.1.3 1.1.4 1.1.5 1.1.6 1.1.7 1.1.8 1.1.9 1.1.10
2
Produção de textos com ferramentas colaborativas ........................... 19
2.1 2.2 2.3 2.3.1 2.3.2 2.3.3 2.4
3
Breve esboço teórico ......................................................................................... 38 Retórica da acessibilidade ................................................................................. 40
Fluxograma editorial ............................................................................... 45
4.1 4.2
5
Produção textual em ambientes eletrônicos....................................................... 45 Implicações dos (hiper)textos para editores e autores ....................................... 47
Word avançado ........................................................................................ 51
5.1 5.1.1 5.1.2 5.1.3 5.1.4 5.1.5 5.1.6
6 6.1 6.2 6.3
Controle de alterações nos textos...................................................................... 20 Controle de alterações ramificado ..................................................................... 22 Redação colaborativa ........................................................................................ 24 Redação colaborativa presencial ............................................................................... 27 Redação colaborativa a distância .............................................................................. 29 Redação colaborativa simultânea .............................................................................. 31 A necessidade da revisão .................................................................................. 34
Redação coletiva ..................................................................................... 38
3.1 3.2
4
Conceitos básicos.............................................................................................. 11 Língua e texto ............................................................................................................. 11 Produção e produto .................................................................................................... 12 Redação...................................................................................................................... 13 Editoração ................................................................................................................... 14 Copidesque ................................................................................................................. 14 Tradução e versão ...................................................................................................... 14 Adaptação ................................................................................................................... 15 Compilação ................................................................................................................. 16 Preparação ................................................................................................................. 16 Revisão ....................................................................................................................... 17
Ferramentas necessárias .................................................................................. 51 Controle de alterações................................................................................................ 51 Comentários................................................................................................................ 51 Comparação de versões ............................................................................................ 51 Aplicação de estilos .................................................................................................... 52 Estrutura de tópicos .................................................................................................... 52 Índices e sumários ...................................................................................................... 53
Plataforma multiusuário .......................................................................... 54 Conceituação..................................................................................................... 54 A plataforma em uso na UEB............................................................................. 55 Usabilidade ........................................................................................................ 55
7 Fundamentos de revisão ........................................................................ 57 8 Oficina-piloto............................................................................................ 61 Referências ..................................................................................................... 67
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Escoteiros do Brasil
1 Introdução 1.1
Conceitos básicos
1.1.1
Língua e texto
Língua natural (língua humana, língua idiomática, ou somente língua ou idioma) é qualquer linguagem desenvolvida naturalmente pelo ser humano, de forma não premeditada, como resultado da facilidade inata para a linguagem possuída pelo intelecto humano. Vários exemplos podem ser dados como as línguas faladas e as línguas de sinais. A linguagem natural é normalmente utilizada para a comunicação. Texto é qualquer tipo de manifestação linguística autoral (um ou mais autores), passível de ser interpretadas pelo leitor de acordo com seus conhecimentos linguísticos e culturais. “Texto é uma unidade linguística de sentidos que resulta da interação entre quem o produz e o leitor/ouvinte.”1 Em artes gráficas, o texto é a parte verbal, linguística, por oposição às ilustrações. Todo texto tem aspectos formais, estrutura, elementos que estabelecem relação entre si e elementos de relacionamento contextual, supratextual, infratextual... Dentro dos aspectos formais temos a coesão e a coerência, que dão sentido e forma ao texto. Coesão textual é a relação, a ligação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto. A coerência está relacionada com a compreensão, a interpretação do que se diz ou escreve. Um texto precisa ter sentido, isto é, precisa ter coerência. A qualidade do texto pode ser julgada pelo grau de
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(Mendonça)
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correspondência entre o conteúdo da mensagem emitida e a interpretação dela. “O texto é resultado de um processo em que os sujeitos interagem através da linguagem.”2
1.1.2
Produção e produto
A produção de textos se desenvolve por meio de um conjunto de operações mentais, que são realizadas em três níveis ou instâncias: a) a criação de uma base de orientação; b) o planejamento do texto; c) a linearização. Esses três conjuntos de operação não ocorrem de modo linear nem estanque; no processo de produção espontâneo, eles podem ocorrer simultaneamente, um influenciando e modificando o outro. A criação da base de orientação diz respeito às condições de produção: considerar o seu lugar social e o dos interlocutores, a finalidade e o conteúdo do discurso; trata-se de definir os parâmetros que vão orientar processo de escrita (o que tenho para dizer? para quem vou escrever? com que objetivo? em que circunstâncias? em que condições meu texto será lido?). O enunciador planeja globalmente seu texto, perguntando-se “como dizer?”. Nessa instância, define como organizar e inter-relacionar os conteúdos (o que tem a dizer) e que modelo de texto é adequado para a situação: que gênero discursivo e que tipo textual atendem seus objetivos e funcionam melhor naquela interação. A elaboração do texto propriamente dita é o conjunto de operações que se destinam a registrar o que foi pensado. O que o enunciador tem para dizer (o tema e seus desdobramentos), sua compreensão da situação de interlocução, a decisão
2
(Fiad & Val) Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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sobre o gênero e o tipo adequados devem ser “traduzidos” em texto. No entanto, a linguagem, falada e escrita, se manifesta linearmente: falamos e escrevemos uma palavra de cada vez, uma frase depois de outra frase, embora as ideias nos venham de maneira global. Assim, “botar o texto no papel” significa linearizar as decisões tomadas na criação da base de orientação e no planejamento global do texto. O enunciador se pergunta: como colocar em palavras, frases, parágrafos? E, ao mesmo tempo em que “lineariza”, não pode perder de vista o que planejou dizer, nem se esquecer de seu objetivo, seu interlocutor, das condições em que seu texto será lido. Na instância da linearização, o enunciador vai formular frases e parágrafos que devem estar conectados e articulados entre si, compondo um todo coeso e coerente, que é o texto. Mas o processo de produção não termina aí. Se o texto se vincula à base de orientação e ao planejamento, essas duas instâncias devem ser retomadas quando o produto está finalizado, para se avaliar a adequação do texto à situação comunicativa, a seus objetivos, ao gênero e ao tipo escolhidos, aos conteúdos planejados e sua organização. Essa avaliação vai orientar a reescrita, em primeiro lugar, e à revisão – quase que em paralelo. Reescrito e revisado o texto, concluída sua versão final, ele deve ser encaminhado ao leitor previsto – publicado.3
1.1.3
Redação
Processo de redigir (escrever) um texto. É atividade presente na cultura civilizada desde a invenção da escrita, considerada um campo profissional e artístico
3
Adaptado de (Cardoso & Val). Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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na literatura, na produção de roteiros, na elaboração de relatórios e documentos, na publicidade e no jornalismo, entre diversas outras áreas.
1.1.4
Editoração
Editoração é o gerenciamento da produção de publicações, incluído todo tipo de material de comunicação impresso ou eletrônico, reproduzido em gráfica ou em série, como CDs, fitas e até websites e redes sociais. A editoração é o processo de transformar as ideias em informação acessível e útil para um certo grupo ou para certa finalidade, compreendendo as etapas de: seleção de originais, preparação dos originais, projeto gráfico, diagramação, revisão e produção gráfica para a impressão. Portanto, inclui a edição de textos (na qual se inserem os processos de redação, reescrita, preparação, revisão) e a arte (ligada à área de design). Por ser abrangente, o conceito de editoração é mais amplo que o de editoração gráfica, uma das fases do processo de produção editorial que compreende a diagramação/composição e a pré-impressão.
1.1.5
Copidesque
Copidesque (copy desk) ou passagem de texto é o trabalho editorial que um redator ou revisor de textos faz ao formatar mudanças e aperfeiçoamentos num texto.
1.1.6
Tradução e versão
Tradução é uma atividade que abrange a interpretação do significado de um texto em uma língua (o texto fonte) e a produção de um novo texto em outra língua com sentido equivalente. O texto resultante também se chama tradução. Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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O conceito tradução é empregado para referir-se a textos em língua estrangeira que são traduzidos para a língua nativa, enquanto o termo versão refere-se ao contrário: textos nativos que são vertidos para uma língua estrangeira. Essa distinção é um pouco antiga, mas ainda é bem aceita. No contexto de documentos, geralmente uma versão sempre é uma melhoria da versão anterior, sendo que o original é o menos evoluído. Geralmente se chama de "cópia" uma versão idêntica ou muito semelhante à original.
1.1.7
Adaptação
A partir da ideia de adaptare, adaptação é o ato ou o efeito de adequar ou ajustar um texto a determinado contexto ou meio a fim de ser aceito – ou compreendido. Trata-se da adequação do assunto, da estrutura textual, da forma, do estilo e do meio aos interesses e às condições do leitor, ou a diferentes objetivos comunicacionais. É crescente, contudo, a confusão no que tange a classificação de um texto como adaptado – qual a diferença entre adaptar e traduzir? Ou ainda: não seria todo texto uma tentativa de adaptação, no sentido em que o autor deve traduzir sua voz discursiva para tornar-se compreensível e agradável? A essa confusão conceitual, acrescente-se a gerada pelos recursos funcionais da adaptação propriamente dita – por que e quando adaptar um texto? A adaptação é uma tradução intersemiótica em que a base de orientação, o planejamento ou a linearidade do texto alvo não se prendem ao texto fonte.4
4
(Mastroberti, 2011) Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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1.1.8
Compilação
Reunião, coleção de textos, documentos ou trechos de fontes diversas, sem originalidade, por ser mera recolha de textos anteriores de outros autores, passíveis traduções e adaptações concomitantes. Atenção: a compilação é um procedimento lícito, não constitui plágio, todavia não se dispensam jamais as referências às fontes.
1.1.9
Preparação
A preparação de textos também é chamada de preparação de originais ou copydesk (copidesque). É uma leitura atenta a problemas de coesão (mau uso de conectivos, por exemplo); fluidez textual (ordem dos elementos na frase, naturalidade da frase em português); uniformidade de expressões; se ocorreram saltos de tradução; ou se a tradução está com “cara” de inglês simplesmente traduzido para o português, por exemplo. A preparação de textos: é feita no Word; dá sugestões de estilo; verifica continuidade e padronização textual; interfere em trechos para conferir mais clareza ao texto; verifica correção gramatical e sua adequação ao contexto. Este trabalho faz, na verdade, um aprimoramento do texto, em que pode ser necessária a sua reescritura ou uma nova organização. Além disso, no ramo editorial, a preparação pode incluir o cotejo, que é a conferência de uma tradução em relação ao texto original, a fim de identificar falhas no serviço do tradutor.
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1.1.10 Revisão “Revisão, em sentido lato, significa fazer alterações em qualquer ponto no processo de escrita. Envolve a identificação de discrepâncias entre o texto pretendido e o produto, decidindo o que pode ou deve ser mudado no texto e como fazer as alterações desejadas de modo operacional. Mudanças podem afetar o significado do texto e podem ser maiores ou menores. Também, podem ser feitas alterações no pensamento do escritor antes mesmo de o texto ser escrito. Isso inclui pensar, comparar, decidir e escolher, para, em seguida, tomar medidas.”5 Define-se a revisão de texto como as interferências no texto, visando a sua melhoria. Essas mudanças podem atingir palavras, frases ou parágrafos e ocorrem por cortes, inclusões, inversões ou deslocamentos. A pessoa encarregada desta tarefa é revisor de textos, cujo papel é verificar, com o editor da matéria, o orientador ou coautores, se há erros de ortografia, se a matéria está corretamente direcionada aos factos citados, entre outros. Tratando-se de um processo de autorrevisão, as mudanças são feitas pelo próprio autor sem a ajuda de um colega ou do revisor. O revisor exerce uma função essencial na preparação de textos para a circulação pública. Embora muitas vezes a ocupação seja identificada com as áreas de Jornalismo e Edição, a revisão é parte do processo de elaboração de qualquer produto que utilize linguagem verbal (jornal, revista, livro, publicidade, encartes de CDs e DVDs, embalagens de produtos...), bem como na finalização de trabalhos acadêmicos. No entanto, muitas empresas reduziram ou mesmo eliminaram as
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(Athayde, Magalhães, Gannam, & Alves, No prelo, p. 71) Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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equipas de revisores após a introdução da informática nas redações, como se os corretores ortográficos pudessem suprir a sua falta, o que está longe de ocorrer. Também é raro que as instituições de ensino e pesquisa estejam dotadas de revisores de textos, embora a contratação desse serviço seja comum na academia. É recorrente a ideia equivocada de que a revisão de textos se restringe à correção de aspectos gramaticais. A revisão vai muito além da simples correção, pois a coerência interna e externa do texto devem ser observadas. Entende-se como coerência interna a adequação da língua ao gênero textual. O texto literário, por exemplo, não poderá ser revisado com os mesmos critérios utilizados na revisão de um texto acadêmico, e mesmo dentro de cada um desses gêneros existem usos específicos que identificam diferentes comunidades de escrita. Vinculada à coerência interna, há o princípio da não contradição, que consiste em se evitar afirmações que se contradigam ao longo do texto. Como coerência externa, entendese a relação do conteúdo do texto com a realidade extratextual. Por exemplo, o uso de conceitos, no interior do texto, que não se compatibilizem com determinada realidade constitui um rompimento da coerência externa. Idealmente, qualquer texto destinado à circulação pública deveria ser submetido a diversas fases de revisão; as primeiras e a última pelo próprio autor, mas outras pessoas devem revisar o trabalho para que os diversos tipos de problemas sejam reduzidos ao mínimo.
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2 Produção de textos com ferramentas colaborativas Uma das grandes mudanças tecnológicas que estamos vivenciando é o surgimento de ferramentas colaborativas cada vez mais sofisticadas para a produção de textos, permitindo, inclusive, a contínua colaboração do revisor de textos. Essa tecnologia revoluciona a sociedade permite produzir e distribuir textos em escala nunca concebida. O uso quase hegemônico do Word como software colaborativo em rede possibilita a cooperação contínua e em tempo real na produção e distribuição de mídia, inclusive e principalmente textos. Essa facilidade permitiu o surgimento de um novo tipo de produção do conhecimento (commons based peer production). O controle de alterações e versões é uma ferramenta tecnológica com profundas implicações na produção de textos e nos serviços de revisão, passando a ser elemento essencial em software como o Word. Sem a possibilidade de reverter mudanças e de colaborador um conhecer as alterações propostas por outros, a barreira de editar texto em conjunto seria quase insuperável. Com o controle de revisões – manter registro de cada alteração e dar a ela visibilidade imediata, mantendo a possibilidade de reverter contribuições – se tornaram viáveis projetos como a Wikipédia e passou a ser possível a continua interação entre autor, orientador e revisor durante a produção ou a finalização do texto de uma tese de doutorado, por exemplo. O modelo de controle de alterações da Wikipédia ou dos editores de texto em rede ou em sequência é relativamente simples: todas as alterações (revisões, inclusões, exclusões, comentários) são armazenadas em arquivos de metadados.
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Esses modelos novos de trabalho cooperativo já fazem parte do mainstream e é possível trabalhar em interfaces simples o suficiente para pessoas comuns (usuários de Word, sem conhecimentos técnicos de informática) poderem colaborar dessa forma. Os sistemas de controle de alterações são importantes e vale a pena conhecer os conceitos.
2.1
Controle de alterações nos textos A grande inovação que os softwares de editoração de textos introduziram no
controle de versões é o código que representa o gerenciamento das contribuições. O controle de alterações é um destas ideias que devia ser mais conhecida e implementada pelos usuários. O controle de alterações é baseado na ideia de que um texto, como arquivo ou artefato digital, está evoluindo e tem história. No modelo diverso, geralmente adotado, o tempo é discreto (quando o texto – ou parte dele – é dado por concluído, ele é encaminhado ao revisor) e é o autor que determina quando cada revisão da obra é feita, salva e preservada para fazer parte da história do trabalho. Esses instantes são chamados de revisões, versões ou commits. A forma mais simples de controle de alterações é em sistemas usados por uma pessoa apenas, num editor de texto (Word e OpenOffice têm uma ferramenta chamada “Controlar alterações”). Isso já representou grande avanço no sentido de que não é mais necessário se preocupar com erros e enganos, ou mudanças de ideia, já que se pode sempre voltar à versão anterior, sem maiores dificuldades – desde que o comando de Controlar Alterações (Ctrl+Shift+E) esteja acionado.
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Controle linear da evolução do texto é necessidade básica atualmente. A sofisticação que ultrapassa a funcionalidade do modelo acima é o repositório central. Agora, diversas pessoas podem colaborar e contribuir no mesmo documento que está guardado num lugar central e canônico, um armazenamento em nuvens – ou se podem redistribuir rotineiramente os arquivos entre os colaboradores com um editor (o autor, o orientador ou o revisor, no caso de uma tese) centralizando e administrando as colaborações. Por exemplo: Alice trabalha em sua versão do manual em casa e envia para o repositório central quando terminar (Dropbox, OneDrive, Google Drive). Roberto faz a mesma coisa e edita e comenta sua versão do manual em casa. Ao ele enviar sua versão para o repositório, é possível que surja um conflito, um lugar no arquivo que tanto Alice como Roberto editaram. É preciso que haja uma forma de resolver esses conflitos. O sistema pergunta ao último que tentou salvar sua versão qual versão das conflitantes vai valer. Isso permite que Alice trabalhe no manual, ou no capítulo, sem ser necessário interromper a redação, enquanto Roberto considera o texto a seu tempo e modo. Ganha-se tempo.
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O autor e o editor de um manual podem interferir no texto em paralelo. É muito útil colaborar via rede com um grupo de pessoas. De um certo modo, a Internet e a Web são os grandes propiciadores dessa filosofia de interação. Hoje em dia, esse modelo já está bem aceito e entendido até por pessoas que não são técnicas em editoração. O modelo de colaboração em rede, commons based peer production, já está mudando a relação de trabalho na produção e editoração de textos científicos.
2.2
Controle de alterações ramificado No exemplo acima, a história do documento é linear. Veja por exemplo a
história de uma página no Wikipédia: é uma sequência simples de versões. Muitas vezes, entretanto, é natural desenvolver um documento de modo paralelo – e por mais de dois colaboradores simultaneamente. Mas é sempre boa ideia incorporar as mudanças em cada ramo de contribuições no documento central periodicamente, para evitar muitos conflitos de versões na mesclagem final. A maior vantagem nesse modo ramificado de evoluir um texto é que é possível trabalhar em duas ou mais ideias novas em paralelo, ou criticando-se Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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mutuamente as inovações. Os ramos têm a sua própria história, seguem linhas próprias de evolução, com a vantagens de poder reverter enganos ou ideias a não serem consideradas. Após um tempo trabalhando em universos produtivos paralelos, os ramos são unificados de novo. A comparação e mesclagem são partes essenciais do processo; as ferramentas de Comparação, no Word e congêneres propiciam o trabalho. O modelo chamado de controle de versão distribuída combina controle de versão ramificado com colaboração em rede. Nesse modelo mais sofisticado, Alice e Roberto podem trabalhar no documento independentemente, nos seus espaços de trabalho locais, mas ainda ter todas as vantagens de controle de versões ramificado: controle da história, a segurança de poder reverter erros. De vez em quando, compartilham o trabalho fazendo mesclagens entre dois dos seus respectivos ramos. Há ferramentas que tornam o processo de fazer ramos e mesclagens muito natural e fácil. Isto encoraja tentativas de desenvolvimento arriscadas e ousadas porque é muito fácil simplesmente abandonar um ramo, um raciocínio, ou descartar uma alteração e recomeçar. É natural trabalhar em várias frentes ao mesmo tempo, desde que há um entendimento entre as parte envolvidas. Da mesma forma do exemplo anterior, o revisor de textos pode passar a ser o terceiro ator na redação, interagindo com os autores em tempo real, agregando suas sugestões e alterações propostas ao texto concomitantemente à redação e à orientação. O benefício é enorme para a qualidade e para a economia de tempo. O que se faz tradicionalmente é enviar o texto ao orientador depois de dado por
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concluído pelo autor e de aprovada a redação pelo editor – fazendo-se em sequência contínua o que agora pode ser feito em paralelo.
O autor, o editor e o revisor podem cooperar no texto de modo interativo. Nesse processo de cooperação, a mudança realmente profunda é social. A possibilidade agora é o modelo em que todos podem copiar o repositório (baixar o arquivo do texto), fazer suas contribuições locais devidas, com todas as vantagens do desenvolvimento ramificado e, finalmente, se comunicar com os demais contribuintes, apontando para um eixo comum aos colaboradores com todas suas contribuições.6
2.3
Redação colaborativa A natureza da leitura e da escrita baseadas em mídias e ambientes digitais
abertos (Internet, Web) envolve processos de tratamento diferentes e implica abordagens mais complexas que as atividades metacognitivas durante o processamento de redação linear do texto. A escrita colaborativa, com a ajuda das
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ferramentas de sistemas abertos (hipermídia cooperativa), leva os autores a melhor compreensão dos processos cognitivos e comunicativos inerentes e, portanto, a gerir melhor a construção social do conhecimento. Na perspectiva da redação e da revisão cooperativa de texto, usar ambientes virtuais demanda do usuário a (re)estruturação do texto de um escritor (ou do editor), adicionando anotações e comentários, o que cria uma rede de comentários cruzados, revelando todas as etapas da construção do conhecimento. A resolução de problemas nessa situação de redação continuada a distância prova para ser mais eficiente que aquela feita cara a cara, especialmente para autores menos propensos à argumentação oral e que obtêm poucos benefícios das interações verbais. Enquanto novas tecnologias mudam a relação entre editor e autores sobre como escrever e revisar os textos, os próprios textos diferem em sua eficácia comunicacional com base em seu grau de complexidade e sua forma de construção. As alterações no status de planejamento, escrita e revisão baseiam-se na utilização de um processador de texto primário – limitado a substituição, remoção, troca e movimentação de fragmentos textuais – sem produzir maior desempenho, permitindo que seus usuários observam a predominância do processo de avaliação e planejamento da escrita em si. No entanto, estes resultados são diferentes quando os envolvidos no processo usam processador de texto mais avançado (ou têm pleno domínio da ferramenta), com acesso a corretores ortográficos e fazendo uso das ferramentas de indexação de texto, comentários, controles de alterações e outros recursos um pouco mais sofisticados. De fato, autores e revisores gastam menos tempo planejando e mais rapidamente entram no processo de escrita devido à facilidade que é oferecida a eles para retornar ao texto e revisá-lo. O texto produzido em computador apresenta qualidade superior em relação ao texto produzido Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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com outros instrumentos (ditado, datilografado ou manuscrito – por exemplo), por causa da abundância de revisões feita possível com o processamento eletrônico de texto e pela possibilidade de interferência externa (a presença-ausente do revisor) contínua e contígua. A velocidade do intercâmbio eletrônico, maximizado pelo partilhamento em tempo real, melhora a eficiência do processo de produção e revisão, na medida em que promove o reprocessamento semântico na revisão, permitindo que o produtor possa receber retorno sobre o texto e as propostas de interferência, confrontando suas ideias às de seus pares, como membro de um ambiente social que aumenta a motivação e qualidade do produto. A internet aparece como “mídia por excelência” e, como tal, pode ser descrita como um “sócio-ware”, um ambiente mediando escrever e co-escrever, em ampla gama de interações cooperativas que têm contribuído para o surgimento de um novo paradigma da cognição. Como a cognição é ou não é especificada, assistida, ou restrita pelos fatores socioculturais, constitui a questão teórica e metodológica central para o desenvolvimento futuro da ciência cognitiva. No contexto multicultural, essas formas de revisão cooperativa remota podem crescer ainda mais e se tornarem mais complexas, tomando em conta aspectos linguísticos e culturais características das representações cognitivas que lhe forem inerentes. A redação cooperativa remota via internet se encaixa no campo da aprendizagem colaborativa à distância e opera frequentemente no contexto multicultural e recai no âmbito exploratório do contexto digital. Essas aberturas do âmbito da redação devem estabelecer as bases para experiências de contexto digital que levem em conta tanto os contextos locais, ou Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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seja, específico para uma cultura e um sistema de valores e usos das ferramentas cognitivas internas, são a linguagem, a escrita e os textos, mas também das ferramentas externas – os recursos da informática. Essa adaptação aos valores e contextos locais se encaixa em novos campos de pesquisa e novos resultados textuais de processos cognitivos interagentes.7
2.3.1
Redação colaborativa presencial
A natureza da leitura e da escrita baseadas em mídias e ambientes digitais abertos (internet, web) envolve processos de tratamento diferentes e implica abordagens mais complexas que as atividades metacognitivas durante o processamento de redação linear de um texto. A escrita colaborativa, com a ajuda das ferramentas de sistemas abertos (hipermídia cooperativa), leva os autores a melhor compreensão dos processos cognitivos e comunicativos inerentes e, portanto, a gerir melhor a construção social do conhecimento. Na perspectiva da revisão e a da revisão cooperativa de texto, usar ambientes virtuais (TIC) demanda do usuário a (re)estruturação do texto de um outro escritor (ou do revisor), adicionando anotações e comentários, o que cria uma rede de comentários cruzados, revelando todas as etapas da construção do conhecimento. A resolução de problemas nessa situação de revisão continuada a distância prova para ser mais eficiente que aquela feita cara a cara, especialmente para autores menos propensos à argumentação oral e que obtêm poucos benefícios das interações verbais. Enquanto novas tecnologias mudam a relação entre revisor e autor sobre como escrever e revisar os textos, os próprios textos diferem em sua eficácia
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(Keimelion - revisão de textos, 2016) Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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comunicacional com base em seu grau de complexidade e sua forma de construção. As alterações no status de planejamento, escrita e revisão baseiam-se na utilização de um processador de texto primário – limitado a substituição, remoção, troca e movimentação de fragmentos textuais – sem produzir maior desempenho, permitindo que seus usuários observam a predominância do processo de avaliação e planejamento da escrita em si. No entanto, esses resultados são diferentes quando os envolvidos no processo usam processador de texto mais avançado (ou têm pleno domínio da ferramenta), com acesso a corretores ortográficos e fazendo uso das ferramentas de indexação de texto, comentários, controles de alterações e outros recursos um pouco mais sofisticados. De fato, autores e revisores gastam menos tempo planejando e mais rapidamente entram no processo de escrita devido à facilidade que é oferecida a eles para retornar ao texto e revisá-lo. O texto produzido em computador apresenta qualidade superior em relação ao texto produzido com outros instrumentos (ditado, datilografado ou manuscrito – por exemplo), por causa da abundância de revisões possíveis com o processamento eletrônico de texto e pela possibilidade de interferência externa (a presença-ausente do revisor) contínua e contígua. Através de páginas e blogs pessoais, assim como por seus canais de áudio e vídeo, os indivíduos criam sua própria personagem virtual na web sem qualquer consciência de quem sua audiência final pode realmente ser (ou seja, sem consciência extensional de destinatários específicos). No entanto, eles muitas vezes têm uma ideia de quem o público potencial pode ser (ou seja, com consciência intencional do tipo de destinatário). Às vezes, os indivíduos fornecem recursos de informação para a web como um subproduto durante alguns processos de auto-organização de seu próprio conhecimento. Essa forma de comportamento aparentemente Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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cooperativo é predominante na web. Em essência, o objetivo do socioware é facilitar comportamentos pró-sociais emergentes para organizações virtuais auto-organizadas.8
2.3.2
Redação colaborativa a distância
A tecnologia da informação oferece continuamente novas ferramentas e novos ambientes que permitem criar uma série de recursos a favorecer as interações cooperativas na produção coletiva e na revisão de textos cooperativa. Essas ferramentas e ambientes novos – sejam sistemas fechados de multimídia (sistemas de hipertexto fechado) ou ambientes de sistemas hipermídia abertos, ambientes em rede – facilitam as intervenções no texto em seus diferentes aspectos. Algumas vezes considerados pouco confiáveis, devido à diversidade de abordagens, à heterogeneidade e a fraqueza das metodologias utilizadas, ainda ajudam na pesquisa avançada e produção cognitiva, usando ferramentas de revisão de texto para abrir horizonte a autores em início de carreira. A noção de “letramento”, que não se limita à capacidade de ler e escrever, mas alcança todas as atividades da vida mediadas pela escrita, evolui com o desenvolvimento de novas ferramentas e sistemas de comunicação digital. Transita-se entre necessidade de planejamento mínimo na produção manuscrita, cujo primeiro rascunho é para revisão, a uma possibilidade de negociação mais flexível, com uso de processamento de texto. A ferramenta de computador, projetada como artifício cognitivo, permite diferentes formas de solução de problemas de acordo com os dois tipos de escritores: os “metódicos” ou “planejadores”,
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contra os “oportunistas” ou “descobridores”, que aderem à concepção romântica de escrever, evoluindo na redação linearmente, como o leitor avançará sobre o texto. A revisão cooperativa mediada por computador permite que autores, exibindo habilidades menos assertivas em termos de planejamento para compensar o déficit estrutural dos primeiros escritos, operem em contínua reestruturação do texto – produzindo de forma menos orgânica e mais racional, guiado pelos comentários e sugestões de um revisor cooperativo mais crítico. Há situações de escrita nas quais o processo de cooperação entre autor e revisor não é completamente dominado, por exemplo, nas instituições de ensino superior. A revisão cooperativa (ou colaborativa), a revisão do texto com a completa interação entre escritor e revisor, cria a situação de comunicação em que podem surgir pedidos de esclarecimento, com imediata resposta à demanda. Estamos falando de revisão de textos completamente integrada a reescrita autoral. Não estamos falando tão somente de cooperação no sentido co-laborativo, fazer junto, laborar junto; estamos estendendo e ampliando o sentido de revisão cooperativa também no sentido da cooperação linguística, o princípio geral que dá conta da cooperação entre sujeitos em situação comunicacional. Assim, partimos dos axiomas linguísticos (existência, identidade e identificação) e alcançamos os recursos de programa e mídias compartilhados que permitem a vinculação semântica sincrônica e abordagens de acordo com os custos e variáveis cognitivas e, segundo as habilidades dos sujeitos. A revisão de texto cooperativa torna possível a comparação das perspectivas de diferentes atores com foco no escritor e promove a atividade de revisão fundamentada remotamente. Permite a implementação de estratégias mais eficazes e atividades de compreensão de
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leitura para o reprocessamento da escrita em toda sua complexidade sintática e semântica. Os sistemas de apoio contribuem para a melhoria do desempenho dos autores iniciantes em situações que permitem interação contínua e feedback constante entre autor e revisor. Não é a ferramenta, mas seus usos derivados que geram novos comportamentos reflexivos e, em particular, são as trocas orais e escritas que acoplam escritores iniciantes e revisores durante a negociação dos atos de revisão.9
2.3.3
Redação colaborativa simultânea
Na redação cooperativa realizada remotamente (cada colaborador em seu espaço), a interação entre pares é facilitada por processadores de textos que permitem que escritores incluir comentários no seu produto (o Word faz isso!). A escrita colaborativa e a revisão de texto processada remotamente (revisão cooperativa a distância) envolvem processos específicos e, portanto, referem-se a modelos diferentes que temos de tentar integrar ao mesmo paradigma teórico. Essas tarefas são atividades conducentes à produção na era do digital, mas requerem mais investigação e nova concepção de letramento e produção de textos. A perspectiva que inspirou todas as teorias de aprendizagem baseadas nas TIC: construtivismo, sócio-construtivismo, teoria da cognição de atividade, cognição distribuída, evidenciou a eficácia do trabalho colaborativo, a natureza social da aprendizagem e da produção. Com base em múltiplos pontos de vista, a revisão cooperativa remota permite, através das trocas e da reflexão comuns, construção
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cooperativa do conhecimento, mesmo em áreas nas quais os processos cognitivos da textualização estão mal estruturados. A perspectiva que inspirou todas as teorias de aprendizagem baseadas nas tecnologias da informação e comunicação (TIC): construtivismo, sócio-construtivismo, teoria da cognição de atividade, cognição distribuída, evidenciou a eficácia do trabalho colaborativo, a natureza social da aprendizagem e da produção. Com base em múltiplos pontos de vista, a revisão cooperativa remota permite, através das trocas e das reflexões comuns, a construção cooperativa do conhecimento, mesmo em áreas nas quais os processos cognitivos da textualização estão mal estruturados. As TICs tornaram-se um dos blocos de construção fundamentais da sociedade moderna. Agora, muitos consideram a masterização das habilidades básicas e conceitos das TIC como uma parte inevitável do núcleo de educação e, consequentemente, da produção de textos. Para esse fim, vários novos modelos estão evoluindo em resposta às novas oportunidades que estão se tornando disponíveis por integrar as bases do conhecimento, em especial as baseadas na web e ambiente de produção cooperativa com armazenagem nas nuvens. A integração efetiva de tais aplicações, no entanto, depende, em grande medida, da familiaridade e habilidade com o ambiente de aprendizagem de TI. Revisores e autores precisam saber exatamente como as TICs podem ser usadas como ferramenta de produção de textos. Nesse contexto, é preciso que os revisores adquiram algumas capacidades específicas, bem como sejam capazes de interagir com autores que as dominem. A necessidade básica é sabe utilizar as TICs como ferramenta para novos fins de
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produção, pesquisa, comunicação, resolução de problemas e contínuo desenvolvimento profissional. Especificamente, será necessário: 1. Aplicar criticamente os princípios de integração das TICs na revisão cooperativa; 2. Desenvolver e facilitar as produções textuais e revisão baseadas nas TICs; 3. Analisar e avaliar o conteúdo apropriado e contexto para o uso das TIC; 4. Utilização das TICs com eficiência na investigação, resolução de problemas e revisão baseada em projetos de produção de textos; 5. Integrar as TICs adequadamente em atividades de produção e revisão. Como a cognição é ou não é especificada, assistida, ou restrita pelos fatores socioculturais, constitui a questão teórica e metodológica central para o desenvolvimento futuro da ciência cognitiva. No contexto multicultural, essas formas de revisão cooperativa remota revisões cooperativas remotas podem crescer ainda mais e se tornarem mais complexas, tomando em conta aspectos linguísticos e culturais característicos das representações cognitivas que lhe forem inerentes, inclusive passando pelas inserções dos envolvidos em socioweres e mídias sociais. A velocidade do intercâmbio eletrônico, maximizado pelo partilhamento compartilhamento em tempo real, melhora a eficiência do processo de produção e revisão, na medida em que promove o reprocessamento semântico na revisão,
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permitindo que o produtor possa receber retorno sobre o texto e as propostas de interferência, confrontando suas ideias às de seus pares, como membro de um ambiente social que aumenta a motivação e qualidade do produto. A internet aparece como “mídia por excelência” e, como tal, pode ser descrita como um sócio-ware, um ambiente mediando escrever e co-escrever, em ampla gama de interações cooperativas que têm contribuído para o surgimento de um novo paradigma da cognição. Sociowares são ambientes mediados por computador (CMEs) para apoiar a comunicação, o conhecimento e processos sociais que aceleram interações cooperativas virtuais. O inquérito e a resposta à informação, a disseminação de ideias e a rede social são exemplos de interações cooperativas virtuais. A proliferação de home pages e blogs pessoais, com linkagens cruzadas fez o processo de exploração na web (a navegação) uma experiência social. Tal experiência, aparentemente intrínseca e recompensadora, pode ser caracterizada como serendipismo e não necessariamente orientada para tarefas (como no grupo de trabalho tradicional).
2.4
A necessidade da revisão Por muito tempo, a revisão foi concebida essencialmente como uma ativi-
dade para melhorar a produção verbal escrita. Hoje, ela é considerada um processo de controle editorial diferente, em que o planejamento também está envolvido. As novas abordagens da revisão de textos têm três pontos de alcance: o exercício do controle do processo por editores experientes, os custos do tratamento implícitas por esse controle e as condições que permitam ampliar o controle do processo produtivo.
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No contexto da produção textual atual, define-se a revisão como tudo o que é feito para atingir um objetivo no texto em algum momento, com certa finalidade e implicando algum custo. Enfatizam-se as dimensões importantes da atividade a serem levadas em conta, como a qualidade do produto, ou o custo da produção e seus efeitos no mercado. Assim, a revisão passa a abranger o tratamento de controle na resolução de problemas que antes eram o conjunto de tarefas editoriais e contribuir para a sua realização, sem necessariamente se fazer notar nessa realização de funções ou pré ou pós-editoriais. As interações entre componentes e sistemas editoriais próprios são gerenciadas pelo revisor sênior que aloca os recursos necessários para que os diferentes componentes estejam sempre funcionando. O sistema de controle contribui para avaliar o produto da atividade nos sistemas com os quais interage. Além disso, essas análises derivadas do processo de revisão podem ajudar a orientar a atividade dos sistemas de produção e edição textuais, aumentando a conectividade e interação entre eles. O controle dos elos entre estes sistemas permite uma operação oportunista descrita em termos de interação entre tratamentos descendentes para a resolução de novos problemas mal definidos, incluindo a finalidade do produto, cujo alcance não pode ser feito imediatamente. O planejamento oportunista é muito comum entre os editores. Ele é materializado por fases de planejamento e implementação de texto como produto ou formulação e implementação alternada de produção e edição. Os tratamentos ascendentes são feitos a partir da ação do escritor para reunir informações sobre a obra. Esse conjunto de informações é necessário para monitorar o andamento do plano de escrita. Tratamentos descendentes são
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especificação da finalidade e do conhecimento e dependem, por sua vez, do processo de planejamento editorial. As interações entre esses processos permitem o controle oportunista da produção textual à impressão. O controle geral de trabalho em atividades cognitivas diferentes e complementares, incluindo a produção de textos complexos, requer um modelo de controle baseado na moderna concepção de revisão, que compreende agora o módulo de controle, fazendo interface entre o conhecimento geral do produtor, o autor ou equipe de redação, e processos para revisão agrupados no esquema de trabalho. A integração desses dois tipos de tratamentos no controle da produção textual passa à responsabilidade do revisor sênior. A revisão textual adquire o papel de um módulo de controle especializado, responsável pela integração dos diferentes processos envolvidos, constituindo o modelo proposto de revisão que já se vê no mercado. A nova proposta é esclarecer e incrementar as diferentes habilidades envolvidas na revisão. Elas diferem na recuperação da memória de longo prazo, nos níveis metacognitivos e cognitivas do produto e, assim, atribuem ao processo de revisão uma dupla função: planejar e verificar. No nível cognitivo, há três categorias de conhecimento (temático, linguístico e textual), três estratégias principais (estratégias de raciocínio, estratégias de compreensão e estratégias de produção, que incluem os de revisão de texto) e representação do texto revisado. O nível metacognitivo compreende modelos de conhecimento e compreensão das estratégias de leitura e interpretação textuais. As trocas entre estes dois níveis permitem colocar a gestão do conhecimento no nível cognitivo, planejada com base em modelos de gestão do conhecimento (quando,
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como e por que levantar essas informações para estar presentes no texto). Elas também contribuem verificando tratamentos cognitivamente operados. Fazendo a distinção entre os níveis metacognitivos e cognitivos, o revisor pode usar apropriadamente o conhecimento; quando essa utilização não é guiada ou controlada pelo nível metacognitivo, quem tem algo a dizer (o autor) não está necessariamente comprometido com quando, como e porque dizer. Estes dois tipos de formalização textual nos convidam a considerar dois níveis de controle integrado, uma para o texto, ou seja, o produto da atividade, o outro em relação à atividade de produção global, que é o planejamento e a execução da tarefa editorialmente.10
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3 Redação coletiva 3.1
Breve esboço teórico A necessidade da adoção de práticas de redação colaborativa é um dos pon-
tos defendidos e constitui nossa proposta central, o que diverge da prática consuetudinária definida pela redação a partir de um viés discursivo da linguagem. Admitir esta postura possibilita, inclusive, a alteração contínua de um dado trecho do texto, fazer “contribuições semânticas" (ou textuais) quando, na opinião do editor, tal mudança tiver por finalidade auxiliar na clareza da interpretação textual. Por outro lado, a equipe de autores não deixa de salientar explicitamente seu posicionamento sobre as alterações feitas, uma vez que o procedimento requer e inclui o destaque das intervenções feitas no texto e que tiveram sempre por intuito deixar a produção textual mais clara para o leitor. O que justifica a pertinência da proposta de reescrita de trechos é ter como objetivo de trabalho facilitação para o destinatário final do produto textual e consequente ampliação da compreensão do material. Essa postura teórica permite também buscar melhor compreender o estatuto dos autores do texto a partir das situações em ele está inserido, bem como tentar entender a natureza das relações dialógicas estabelecidas e dar voz ao editor para que ele exponha sua posição no processo do qual faz parte ativa. O trabalho de editoração de textos é um movimento de dupla antecipação entre um saber conceitual e outro saber adquirido na situação concreta de desenvolvimento da redação, cabendo ao editor considerar cada uma dessas antecipações como constitutivas do processo e perceber que o não concretizado faz parte da atividade tanto quanto
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o faz o efetivamente realizado: as proposições recusadas levam os autores à reflexão e ao próprio questionamento da estrutura argumentativa ou expositiva. Os atos enunciativos dos autores e a reflexão do editor sobre sua própria atividade comprovam que o fazer colaborativo é constitutivo da atividade da equipe de redação, evidenciando-se aí a construção, por vezes tensa e conflituosa, de diálogos, bem como a presença e o contato entre diferentes posicionamentos dos atores do trabalho e dos demais envolvidos com a atividade, voltados para o fim comum da produção de um texto adequado aos destinatários finais. Em vista justamente da existência desses diálogos é que as negociações necessárias para o resultado permitem a caracterização do trabalho de produção de texto como um agir conjunto, cooperativo e colaborativo, sem que isso apague, insistimos, as tensões, constitutivas ou casuais, que aparecem no decorrer da atividade. A contribuição adicional da revisão é o uso de procedimentos teórica e praticamente válidos do ponto de vista do objeto examinado e não a imposição das teorias ou de metodologias ao objeto. Trata-se a revisão de textos de intervenção que parte de categorias prévias, mas também de princípios da teoria dialógica, de estudos ergológicos e ergonômicos e das propostas dialógico-interativas, princípios esses que, em diálogo permanente entre si e com vista à finalidade do objeto, levam a categorias e processos de análise, do ponto de vista da demanda dos clientes em seus vários aspectos: o texto e suas nuanças são equacionados sob múltiplos olhares analíticos. Destacamos ainda que propomos trabalhar com as vozes dos autores do de cada texto como envolvidos diretamente com os processos de redação, no intuito de demonstrar o modo que compreendemos as contribuições individuais e os
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papéis desempenhados nessa perspectiva laboral coletiva, o que o que é vital para complementar a produção textual e respectiva editoração. Dar voz aos autores cria um espaço de discussão no qual autores, editores e revisores são, igualmente, sujeitos em diálogo no aperfeiçoamento da comunicabilidade textual, permitindo assim o entendimento da rede de interlocução que constitui o texto e o contexto e esta forma específica de estruturação da atividade editorial, constituindo assim o lócus em que a produção coletiva adquire pleno sentido.11
3.2
Retórica da acessibilidade Observando-se a produção corrente de textos no contexto dos Escoteiros do
Brasil, considerando o ritmo de trabalho, a pressa ou a premência dos prazos, as decorrências da interação entre trabalho voluntário e profissional, infere-se que os textos não sejam concluídos como deveriam, impossibilitando ao revisor colaborar antes, durante e depois da produção; antes, durante e depois da elaboração do projeto e de seu desenvolvimento; descarta-se a colaboração que poderia orientar a produção, instruir a construção do discurso retórico e, finalmente, mas não menos importante, corrigir e aferir a comunicabilidade, consistência e acessibilidade do produto textual. A revisão é o tempo em que se verifica se os autores conseguiram impor às palavras ordem para produzir um texto tão eficaz e eficiente que tenha materializado a intenção de comunicação do emitente, alcançando o destinatário sem ruídos
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indesejáveis. Tende-se a considerar a revisão como tarefa auxiliar – mas essa postura é um equívoco: a revisão é parte do processo de produção texto. O que não se pode não ignorar para a comunicação escrita eficiente são os estágios da retórica clássica que determinam a composição dos discursos, passando por inventio – dispositio – elocutio – memoria – actio – prolepsis – revisão: para produzir um bom texto deve-se primeiro reunir as informações, então fazer o roteiro do trabalho – ou o esquema a ser observado, depois escrever e, finalmente, proceder à revisão. São as aplicações das boas constantes aristotélicas do ethos (forma pela qual o autor convence o leitor de que está qualificado para falar sobre o assunto, como a formação ou autoridade adquirida podem influenciar o leitor), do pathos (trata-se de captar a empatia do leitor pelo uso de apelos emocionais externos o julgamento objetivo do conteúdo; pode ser feito por metáforas ou outras figuras de retórica pertinentes ou apresentar o tema de forma que evoque emoções favoráveis – o pathos é fortemente prejudicado em textos truncados, obtusos, confusos ou permeados de erros fáticos ou linguísticos) e do logos (uso da razão lógica e do raciocínio indutivo e dedutivo na construção do argumento, recorrendo à objetividade, estatística, matemática, raciocínio indutivo, paralelismo – exemplos, raciocínio dedutivo partindo proposições aceitas para extrair conclusões específicas, tudo para alcançar conclusões; argumentos logicamente inconsistentes ou enganadores são as falácias: erros lógicos propositais ou acidentais). Os cânones da retórica servem de guia para a criação de mensagens e argumentos persuasivos. Atuando sob tais balizas, o editor afere o processo de desenvolvimento de argumentos, o estilo – determinando pela forma de apresentar os argumentos; a organização dos argumentos para o efeito pretendido; a
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apresentação das ideias, a entrega por signos, imagens, gestos, pronunciação, elocução, tom e ritmo utilizados ao apresentar a persuasão; e o processo de aprender e memorizar o discurso e as mensagens persuasivas. No campo teórico, há um debate intelectual sobre a definição de retórica em Aristóteles. Alguns acreditam que Aristóteles defina a retórica como a arte da persuasão, enquanto outros pensam que ele a define como a arte do julgamento. A retórica como arte do julgamento significaria que o leitor discerne os meios disponíveis de persuasão com uma escolha. Aristóteles também diz que a retórica está preocupada com o julgamento porque o leitor julga o ethos do autor. Uma das mais famosas proposições aristotélicas foi a ideia de topos (também conhecidos como tópicos comuns ou lugares–comuns). Embora o termo tivesse uma ampla gama de aplicativos (como técnica mnemônica ou exercício de composição, por exemplo), ele se referia mais frequentemente aos “assentos do argumento” – a lista de categorias de pensamento ou modos de raciocínio – que um autor poderia usar para gerar argumentos ou provas. Os tópicos foram, portanto, uma ferramenta heurística ou inventiva projetada para ajudar os autores a categorizar e assim reter melhor e aplicar tipos de argumentos usados com frequência. Por exemplo, como muitas vezes vemos efeitos como causas, uma maneira de inventar um argumento (sobre um efeito futuro) é discutindo a causa (que será “como”). Este e outros tópicos retóricos derivam da crença de Aristóteles de que existem certas maneiras previsíveis em que os seres humanos (particularmente os não especialistas) tirem conclusões das premissas. Baseado e adaptado de seus tópicos dialéticos, os tópicos retóricos tornaram-se uma característica central da posterior teorização retórica e são inteiramente aplicáveis às proposições de
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um manual de procedimentos, para um relatório técnico ou para a redação de textos normativos, para a criação de textos programáticos e pedagógicos. A retórica é a arte do discurso em que um escritor ou orador se esforça para informar, persuadir ou motivar públicos específicos em situações específicas. Como sujeito do estudo formal e de uma prática cívica produtiva, o revisor de textos tem desempenhado papel central na tradição europeia. A retórica tipicamente fornece heurísticas para entender, descobrir, e desenvolvendo argumentos para situações particulares; a contribuição do revisor de textos em projetos de fulcro empresarial ou acadêmicos pressupõe, obviamente, que ele possa contribuir em tais esferas da comunicação. O editor controla o sucesso de todas as fases do processo editorial, certificando-se de que o texto contenha todas e só as informações relevantes (inventio), organizadas funcionalmente (dispositio) e que a renderização linguística responda aos requisitos formais (elocução). Nesse sentido, renderizar é o ato de compilar um texto e obter o produto final de um processamento editorial, é realinhar toda aquela sequência de imagens, signos, significados e significantes que foram montados na linha retórica e precisam ser condensados em parágrafos e capítulo. No caso específico de manuais ou textos normativos, textos não criativos em geral, a seleção de informações é o aspecto mais problemático para o editor, que deverá ser familiarizado com o objeto material do texto e ter a possibilidade de entrevistar continuamente os autores e outros consultores; de tal modo, ele fica instrumentalizado para verificar a precisão de informações e para resolver determinados problemas de dados ou de lógica.
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A prestação de informações macrotextuais requer ordem lógica (retórica) já no primeiro projeto do texto: a sucessão de capítulos e de instruções com base nas várias fases de processamento lógico constituem exigência de gênero bastante bem estabelecida, então, superada essa questão, a atuação do editor será referente ao conteúdo material, comunicacional e linguístico. Muitas vezes, a editoração é focada especialmente no plano significativo, que requer o controle de muitos fatores, ou de confrontos com o jogo de espelhos dos estilos de escrever inadaptados à comunicação técnica e científica que, no entanto, por motivos não linguísticos, têm certo prestígio: essa forma de expressão foi chamada “jargão” ou “antilingua” (um idioleto usado por um grupo social para evitar que outsiders entendam o que está sendo dito). Cabe ao editor considerar especialmente se o texto é conciso e preciso, cabe intervir para estabilização de questões lexicais, sintáticas, semânticas tanto quanto as conhecidas conferências ortográficas: a consequência é o aumento do paralelismo formal do texto. É essencial a análise consciente e compreensão objetiva de cada etapa da redação, caso contrário o procedimento coletivo poderá introduzir no texto problemas retóricos graves.12
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4 Fluxograma editorial No contexto de (hiper)textualidade da produção coletiva, o editor de textos tem que estar igualmente familiarizado com os gêneros e variações linguísticas inerentes ao texto eletrônico, ao hipertexto e às mensagens subliminares. A segmentação das ideias é diferente, a coesão é proposta por elos que muitas vezes remetem os autores a outros textos, há mais portas abertas para entrar ou sair daquele escrito que quando se trabalha com a produção linear segmentada. A apresentação visual da informação eletrônica torna-se muito mais complexa que os elementos do formato clássico do ensaio. Os autores que prestem atenção ao fazer essas escolhas para um documento produzido coletivamente são menos propensos a se contentar com o texto provisório das versões de trabalho. A escrita colegiada privilegia as habilidades conjugadas, ao passo que o ensaio tradicional privilegia as habilidades individuais. O editor que vai colaborar nesse tipo de (inter)texto não pode ser restrito – nem pode se restringir – à edição do conteúdo verbal que integrará o produto, pois as mensagens todas se conectam e as finalidades são o aperfeiçoamento da comunicação e o incremento qualitativo e quantitativo da produção.
4.1
Produção textual em ambientes eletrônicos O mundo atual das pessoas intelectualmente ativas parece ser composto
igualmente de três partes: reuniões presenciais com clientes, colegas, superiores e subordinados; uma comunidade eletrônica estabelecida pela leitura, escrita e outras mídias na internet; e o mundo discursivo dos textos acadêmicos, técnicos, manuais e outros impressos divulgados pela mídia tradicional. Mas, mesmo no local Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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de encontro eletrônico, permanecem os textos com alguma precedência sobre as outras mídias. As comunidades de discursos a que os autores de nossos dias são convidados permanecem moldadas pelos de vários tipos de discurso: as metáforas dos retóricos e dos linguistas; descrições de escritores básicos; instalações e projetos de escrita ligados a cursos e livros didáticos – adstritos à cultura livresca. A diferença é que as discussões que se costumavam desdobrar em revistas e livros a um ritmo vagaroso durante anos, agora ocorrem em ambientes eletrônicos e comunidades virtuais em que o ritmo da discussão acelerou incrivelmente. Lemos artigos de hipertexto em revistas eletrônicas. Muito da nossa conversa profissional ocorre em listas de discussão. Discussões evoluiriam para projetos colaborativos, como apresentações de conferências, artigos de revistas e livros. Nossas organizações profissionais mantêm websites substanciais. Conferências são anunciadas em sites da Web e podem ser acompanhadas por listas de discussões ou grupos de WhatsApp. A publicação de livros e a realização de conferências são apregoadas em posts de blogs e as listas de discussão, bem como em sites da Web e em anúncios em revistas impressas. Livros aparecem para impressão direta na Web ou sob demanda e em versões digitais completas ou parciais, servindo tanto para fazer propaganda para a editora quanto para apoiar os professores que os adotam em classe. Criam-se os próprios sites profissionais como recurso cada vez mais relevante e, sempre mais, vemos os textos que produzimos para ensinar ou negociar como textos acadêmicos válidos ou recursos profissionais da maior importância.
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4.2
Implicações dos (hiper)textos para editores e autores Qual o impacto que esse novo conceito de textualidade tem sobre o que
estamos fazendo em nossas reuniões, em nossos escritórios, consultórios e oficinas diariamente? Nossas reuniões de rotina com voluntários, colaboradores, parceiros incluem mais elementos síncronos ou assíncronos? Videoconferência ou email? Qualquer um há de notar que cada vez se fazem mais e mais reuniões, consultas e conferências pela Web. O resultado é que não só nossas práticas cotidianas de redação e leitura, mas todos os textos com que temos contato ativa ou passivamente refletem os novos recursos de comunicação em ambientes eletrônicos, pois a influência entre os gêneros é constante e a fluidez das ideias e paradigmas da comunicação não devem ser vistas como males. A textualização em ambientes eletrônicos proporciona benefícios bem maiores que os prejuízos que possam ser, eventualmente, detectados. Não que esses benefícios ocorrem para todos, em todos os ambientes, mas os que já ocorrem têm sido observados por muitos professores e investigadores que se reúnem com os alunos em salas de aula virtuais, e alguns desses benefícios já se tem como consolidados: 1. Talvez o maior benefício seja o engajamento dos trabalhos em ambientes eletrônicos. A maioria das pessoas gostam de usar computadores, ainda que não seja para redigir, mas ninguém foge de postagens e e-mail, de comentários e mensagens de texto de todos os tipos; a escrita geralmente resulta em mais interesse e participação, portanto, mais recorrente leitura e produção de mais texto.
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2. Quando alguém se envolve em conversa por texto escrito, não só produz mais texto, mas a consciência do público aumenta, amplia-se a noção de alteridade na interpretação da mensagem e da necessidade de clareza e eliminação de ruídos ou lacunas comunicacionais. Passa a haver mais propensão a (re)pensar sobre como se comunica um ponto específico para um determinado leitor depois de algumas experiências de conferência ou e-mail que exijam esclarecimentos para se negociar o significado. Esse tipo de consciência é mais difícil de se desenvolver na textualização tradicional, quando autores produzem o texto em forma de ensaio ou dissertação convencional para um leitor genérico ou abstrato. 3. Como todos conversam nesses ambientes virtuais, vemos frequentemente não só uma voz de mais autoridade impor sua escrita, mas a construção (lúdica) de múltiplas identidades interativas. Conscientes dessa dinâmica, os interlocutores desenvolvem a percepção de questões tais como o tom adequado e outros efeitos que se podem criar pela escolha de palavras, sintaxe, pontuação, emoticons. 4. Essa interação textual pode resultar em realinhamento da autoridade na relação comunicacional. Quem tenha usado um ambiente comunicacional síncrono de computador aprende que a voz do professor, do chefe ou do consultor é apenas uma de muitas. Isso resulta em discussão que pode parecer caótica em comparação à interação de sala de aula tradicional e presencial ou nas reuniões profissionais e acadêmicas as mais diversas. No entanto, investiu-se em maior troca de
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opiniões do que na discussão presencial centralizada, os envolvidos no processo têm a oportunidade de falar ou escrever equivalente à da autoridade envolvida; finalmente, podendo ser levado mais a sério por professores, colegas ou clientes – inclusive na medida em que os argumentos não estejam mascarados pelos estereótipos de cada interlocutor. 5. Ambientes eletrônicos contribuem substancialmente para a escrita colaborativa e intertextual. É fácil trabalhar em textos eletrônicos em grupo; com efeito, qualquer conferência eletrônica é necessariamente um texto produzido colaborativamente. Faz-se referência a cada um dos outros textos e documentos conhecidos da Web de modo tão fácil como recortar e colar. Em tais ambientes, pode-se desenvolver segmentação e síntese de habilidades, bem como atribuição de significados a unidades de texto mais curtas. 6. Integrando o revisor ao processo da discussão e produção textual, ele passa a ser um nó na malha comunicacional, podendo detectar falhas comunicacionais que sejam despercebidas pelos interlocutores e que se mostra bastante frequentes nos ambientes de intertexto sincrônico. Um texto pode ser composto pela seleção de importantes blocos de texto de uma conferência com edições relativamente simples, com o acompanhamento de pequeno segmento explicando o valor analítico que os fragmentos tinham para os autores. Por exemplo, alguém pode escolher um segmento que mostre como seu pensamento sobre um tema evoluiu ao longo da discussão com um ou mais dos
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seus pares. Nesse caso, a intervenção do revisor pode ser parte do processo editorial, ou posterior à edição.13
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5 Word avançado 5.1
Ferramentas necessárias
5.1.1
Controle de alterações
A ativação do recurso Controlar Alterações oferece a possibilidade de se acompanhar a evolução de trabalho fazendo alterações que se tornam fáceis de identificar. Elas são como sugestões que se pode revisar e depois removê-las ou torná-las permanentes.
5.1.2
Comentários
Anexar seus comentários a partes específicas de um documento torna seus comentários mais claros. Se outra pessoa estiver comentando no documento, responder aos seus comentários permite que você tenha uma discussão, mesmo quando você não está no documento ao mesmo tempo. Tenha em mente que outras pessoas podem editar seus comentários. Os comentários em um documento do Office são armazenados no arquivo, portanto, qualquer pessoa com acesso de edição ao seu arquivo pode editar o comentário.
5.1.3
Comparação de versões
A opção “Comparar” da barra de revisão compara dois documentos e exibe apenas a diferença entre eles. Os documentos comparados não são alterados. A comparação de gerar documentos com alterações é exibida, por padrão, em um terceiro novo documento.
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Se você quiser comparar as alterações de vários autores ou revisores, não selecione essa opção. Em vez disso, “Combinar” revisões de vários autores em um único documento.
5.1.4
Aplicação de estilos
Os estilos dão uma aparência consistente e profissional ao documento. A uniformidade de estilo confere consistência e coerência (ergonomia visual) ao texto. Podem-se usar estilos para aplicar rapidamente um conjunto de opções de formatação de forma consistente em todo o documento. Se você quiser opções que não estão disponíveis dos estilos internos e temas disponíveis no Word de formatação, você pode modificar um estilo existente e personalizá-lo para atender às suas necessidades. Você pode alterar a formatação (como o recuo de texto, cor e tamanho da fonte) nos estilos aplicados a títulos, cabeçalhos, parágrafos, listas e assim por diante. Você também pode selecionar o texto formatado em seu documento para adicionar novo estilo à “Galeria de estilos”.
5.1.5
Estrutura de tópicos
No Word, as estruturas de tópicos também são chamadas de listas de vários níveis. O modo de exibição de estrutura de tópicos ajuda a gerenciar a estrutura e títulos de um documento sem se percam no texto. No modo de exibição de estrutura de tópicos (clique em Exibir > estrutura de tópicos), você usar Ferramentas de estrutura de tópicos para mover e editar títulos, alterar níveis de título e mover o texto. Também se pode controlar o quanto se vê dos detalhes.
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5.1.6
Índices e sumários
Os sumários no Word se baseiam nos títulos do documento. São decorrentes da estrutura de tópicos. Um índice remissivo lista os termos e os tópicos descritos em um documento, junto com as páginas nas quais eles aparecem. Para criar um índice remissivo, marque as entradas de índice fornecendo o nome da entrada principal e a referência cruzada no seu documento e construa o índice remissivo. Você pode criar uma entrada de índice para uma palavra individual, frase ou símbolo, para um tópico que se expande por um intervalo de páginas, ou que se refere a outra entrada, como "transporte. Consulte Bicicletas." Quando você selecionar texto e marcá-la como uma entrada de índice, o Word adiciona um campo XE (entrada de índice) especial campo que inclui a entrada principal marcada e qualquer informação de referência cruzada que você optar por incluir. Após marcar todas as entradas de índice remissivo, você escolhe um design do índice e cria o índice concluído. O Word reúne as entradas de índice remissivo, as classifica alfabeticamente, faz referência aos seus números de página, localiza e remove entradas duplicadas da mesma página e exibe o índice no documento.
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6 Plataforma multiusuário 6.1
Conceituação A partir da necessidade de ampliar e diversificar o acesso à informação, con-
siderando o avanço de tecnologias e mudança no formato de utilização de redes para atingir diferentes objetivos, apresentam-se inovações em programas colaborativos online que favorecem o aumento de interação e redução de distâncias entre usuários, ampliando possibilidades de edição e participação simultânea em tarefas de produção coletiva de textos, análises, preparação e revisão. A plataforma de multiusuários possibilita o agenciamento online de diversas ferramentas, favorecendo o acesso de agentes internos e externos em sua edição, o que amplia possibilidades de aprimoramento de conteúdo e alinhamento de objetivos estratégicos, por meio de construção colaborativa. Alguns benefícios do uso dessas plataformas se apresentam na forma de economia de recursos, facilidade de acesso em diferentes dispositivos, utilização de ambientes digitais, celeridade na troca de informações, engajamento e motivação dos colaboradores, fomento de rede colaborativa, chuva de ideias, proximidade entre agentes, redução na duplicidade de dados e informações, bem como afastamento da possibilidade de conflito de versões entre arquivos gerados por diferentes coautores. Adaptar ferramentas considerando as variantes espaço-tempo de seus usuários apresenta-se como função necessária em tempos de velocidade e quantidade de informações que são trocadas diariamente no ambiente online; a organização de redes de colaboração possibilita, por meio de plataformas multiusuário, a
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interação dos diversos agentes que contribuem na maximização qualitativa da eficácia nos resultados.
6.2
A plataforma em uso na UEB A plataforma de multiusuários atualmente em uso na União dos Escoteiros
do Brasil (UEB) é a Microsoft Office 365, uma suíte de programas com vários fins, como: criação de textos, planilhas de controle, agendas compartilhadas, desenvolvimento de apresentações, gerenciamento de e-mails, armazenamento de arquivos na nuvem, entre outros. O acesso à plataforma é feito por meio institucional e todos os associados podem utilizar seus aplicativos, basta ser um usuário habilitado − criado e liberado pelo setor de tecnologia da instituição. Isso é possível graças à parceria existente entre União dos Escoteiros do Brasil e Microsoft. Essa ferramenta também pode ser utilizada entre os profissionais escoteiros e as equipes de trabalho voluntário, no desenvolvimento de material educativo, gestão estratégica e outros, facilitando e acelerando o processo de criação, revisão e correção.
6.3
Usabilidade De maneira geral, a plataforma facilita processos internos, garantindo efici-
ência e produtividade no desenvolvimento e gestão dos documentos e publicações institucionais. Sua utilidade pode ser destacada nos seguintes aspectos: a) Produção de documentos internos, de maneira colaborativa, contando com o envolvimento tanto do corpo profissional quanto de equipes voluntárias; Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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b) Definição do nível de interação das pessoas envolvidas na elaboração do texto; c) Organização e gestão das alterações e edições feitas nos documentos de
trabalho; d) Integração dos componentes envolvidos no processo criativo.
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7 Fundamentos de revisão Em qualquer contexto, inclusive no da UEB – que nos toca, concluída a redação de um documento pelos autores, é a fase de revisão que mais empresta credibilidade ao conteúdo, pela intervenção do linguista, possivelmente um profissional externo e necessariamente alterno: o revisor final não pode ter tido contato com a produção do texto. O autor, na verdade, está envolvido pelo texto e, quando relê ou reescreve o resultado de seu projeto, ele já conhece o conteúdo e antecipa as informações e conclusões, ficando impossibilitado de identificar as lacunas ou incoerências lógicas. Para que se obtenha o grau de legibilidade desejado, a comunicabilidade fluida, para o texto se inserir adequadamente no gênero em que se pretende, perfeitamente compreensível para aqueles a que ele se destina, os autores deve ter familiaridade com os conceitos expressos no texto – conhecimento de causa. Por outro lado, o revisor tem um ponto de vista diferenciado, que lhe permite avaliar o texto e a experiência global de ler de forma mais objetiva (ligada ao objeto textual como mídia), para identificar problemas específicos que interferem com o entendimento e a compreensão. Entrando em contato com o texto, o revisor deve construir do zero um modelo mental e isso ocorre independentemente de sua experiência de escopo técnico sobre o objeto, porque sua capacidade de análise não depende muito do conhecimento da matéria textual, mas trata o texto como absoluto comunicacional – informação que deve ser completa em si, que expõe os objetivos, desenvolve argumentos e apresenta conclusões, não obstando que tais etapas estejam implícitas. Por essa razão, não é necessário que o revisor tenha formação técnica na área de Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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conhecimento a que o texto está afeto, mas é imperioso que ele seja especialista em língua. Isso faz parecer que o autor apresenta o texto para revisão ao exame de um leigo, que alega identificar melhor as dificuldades do destinatário. Revisão geralmente envolverá profissionais pouco experientes em escotismo ou no objeto técnico a que o texto se reporte, ela permite um acórdão de usabilidade do produto textual, seja ele um manual técnico ou uma norma, pois o objetivo dos processos de revisão é a qualidade textual e retórica do texto, e eles não requerem conhecimento anterior ou experiência além do campo da linguística. A revisão de um manual de procedimentos, um relatório técnico, um parecer, uma norma ou de um texto didático, como todas as atividades relacionadas à comunicação, admite diferentes estratégias porque implica a análise de variáveis. A técnica redacional tem basicamente dois pontos de referência: a materialidade, o objeto fundamental do texto, substancialmente conteúdo extralinguístico em trâmite entre a fonte e o destinatário, mas quem escrever ou reescreve só tem controle conteudístico sobre tais elementos; a subjetividade – por outro lado – que é afeta aos códigos comunicacionais estabelecidos e solicitados no processo de expressão e interpretação com melhor ou pior aderência ao texto, porquanto só pode formular hipótese sobre como o segundo lerá o que o primeiro escreveu. É impossível saber exatamente que leitura terá o destinatário do produto textual. O poder de controle do autor sobre o texto finda quando da publicação. O objetivo da revisão pode não ser a clareza absoluta, a que é impossível chegar, mas será a busca do coeficiente de clareza e da economia linguística considerados aceitáveis com base em critérios estabelecidos, porém difusos. A experiência do revisor no campo da linguística não o autoriza a intervir de forma
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arbitrária, mas permite a ele identificar e eliminar desnecessárias complexidade e ambiguidade visando reduzir o esforço de decodificação necessário ao destinatário. Essa operação não é óbvia, porque clareza e economia linguística podem se apresentar em conflito: para ser claro, deve-se escrever de forma explícita e completa, ao passo que o texto curto e com poucos detalhes é muito mais fácil para emissor e receptor, mas pode não apresentar todos os dados ou argumentos. Os revisores profissionais que se ocupam do texto não criativo devem pesar benefícios e desvantagens de várias soluções para chegar ao cometimento mais conveniente entre o respeito ao produto autoral comunicativo, situação em que o texto se insere, e sua eficácia e eficiência comunicacionais. Naturalmente, tais considerações são alheias ao texto estético criativo, mas se aplicam fortemente aos manuais e às normas, por exemplo. Para responder com eficiência e objetividade às demandas do texto, a revisão deve ser balizada por um padrão composto por direções concreta e precisas que alinhem os recursos da interferência sobre o texto. Esse padrão permite também não se perder de vista a linha mestra do trabalho original e não se deixarem de fora possíveis melhorias. O revisor colabora para alcançar o mesmo objetivo presuntivo do autor, a revisão deve ser pautada pela adaptação de um ao outro, subsunção do revisor aos autores: editores e revisores devem compartilhar perspectiva e estratégias comuns. As correções do revisor devem também ser seletivas e afetas exclusivamente a problemas de compreensibilidade e a casos em que as recomendações do guia de estilo foram rejeitadas sem razão. Dessa forma, lograse reduzir o tempo necessário à revisão e se respeita a diretriz de mínima interferência no texto, eliminando só os erros eventuais e a escolhas inadequadas; não se trata de reescrever com base na própria preferência. Redação, produção e revisão coletivas de textos: Oficina-piloto e propostas iniciais
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Desse ponto de vista, o parâmetro de legibilidade oferece a vantagem de ser objetivo: considerando o texto antes e depois a revisão, apesar de não exaustiva ou extensiva, constata-se a utilidade das alterações feitas. Enquanto o escrever autoral abre um leque de direções muito disperso para qualquer um que escreve, em incontáveis digressões da própria individualidade, o revisor e o percurso da revisão devem construir ferramentas de escolhas com vistas à comunicação eficaz: o revisor não é um antagonista dos autores.14
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8 Oficina-piloto Esquema básico e PPT. 21 de setembro de 2019. 9h
Introdução
Apresentação da proposta e das motivações.
9h15
Texto e textualização
Noções básicas de texto e textualidade, textualização e contextualização.
10h
Produção colaborativa
Fluxo de produção de textos e ferramentas colaborativas. Gestão da produção colaborativa.
11h
Editoração
Fluxo da editoração. O papel do revisor de textos. Limites da revisão, preparação e composição.
12h
Almoço
13h30
Word
Ferramentas avançadas. Atalhos. Formatação; criação de modelos;
14h30
Criação coletiva: ciclos de criação.
Exercício de criação coletiva de um documento. Instruções sobre uso da plataforma da UEB.
16h00
Conclusão
Complementação das questões que ficarem em aberto. Propostas para seguimento da oficina. Avaliação.
17h
Encerramento
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Referências
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