Ano 1 | Número 2 Publicação mensal da:
Pressão em alta Analista vive uma luta diária contra o tempo para dar conta de uma carga de trabalho cada vez maior e de novas atribuições, mais abrangentes e complexas. É uma nova realidade forjada na globalização dos mercados
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Cobertura de análise
Certificação
Diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, fala sobre parceria com Apimec
CIIA, o passaporte para o mundo
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Job: 18630-031 sumario.indd 2 -- Empresa: Neogama -- Arquivo: 18630-031-AFW-BRA-Pg D AN The Banker Marca Valiosa 41x27.5_pag001.pdf
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Sumário
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10 6 Expediente 7 Carta ao leitor 8 Panorama Global 10 Certificação
Foto de Capa: 123RF/Nyul
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Chega ao Brasil a certificação internacional CIIA, o passaporte do analista de investimentos para trabalhar nos quatro cantos do mundo
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14 Convênio Aumentar o número de empresas listadas na Bolsa com cobertura de relatórios de análise. Este é o desafio que um recente convênio BM&FBovespa/Apimec quer vencer
18 Uma conversa O diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, e a presidente da Apimec, Lucy Sousa, conversam sobre os rumos do mercado de capitais e seu impacto para os analistas
22 Trabalho O mercado de capitais ficou muito mais complexo e mudou a rotina dos analistas de investimento, que hoje correm contra o tempo para dar conta de tantas atribuições
30 Headhunter Walter Mendes, o entusiasta da criatividade
33 Dicas culturais
28 Congresso Tarde do Analista, uma novidade no 22º Congresso Apimec, que ocorrerá em agosto
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EXPEDIENTE
EDITORA
Quadro Diretivo da APIMEC Nacional PRESIDENTE
Lucy Aparecida de Sousa VICE-PRESIDENTE
David Rodolpho Navegantes Neto CONSELHO DIRETOR
Lucy Aparecida de Sousa David Rodolpho Navegantes Neto Alexandre Guimarães - Presidente da Apimec Distrito Federal Célio Fernando Bezerra Melo Presidente da Apimec Nordeste José Domingos Vieira Furtado Presidente da Apimec Minas Gerais Luiz Guilherme Ferreira Dias Presidente da Apimec Rio Marco Antônio dos Santos Martins Presidente da Apimec Sul Reginaldo Ferreira Alexandre Presidente da Apimec São Paulo
DIRETORIAS
JB PÁTRIA EDITORA LTDA. PRESIDENTE Jaime Benutte DIRETOR Iberê Benutte ASSISTENTE DA DIRETORIA Patricia Torre COMERCIAL Otto Bush ADMINISTRATIVO / FINANCEIRO Gabriela S. Nascimento JORNALISTA Kelly Souza
REVISTA MERCADO DE CAPITAIS Publicação mensal da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais CONSELHO EDITORIAL Lucy Sousa, Alessandra Rigos, Alexandre Guimarães, Cristiana Pereira, Edson Garcia, Francisco Petros, Geraldo Soares, Luiz Roberto Calado, Marco Antônio do Santos Martins, Octavio M. R. de Barros, Ricardo Tadeu Martins PUBLISHER Jaime Benutte EDITORA Maria Alice Rosa PROJETO GRÁFICO E ARTE Belatrix Ltda. DIRETOR DE ARTE Marcelo Paton IMPRESSÃO IBEP Gráfica
Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações, Anatec.
MARKETING & COMUNICAÇÃO
Alessandra Rigos EDUCAÇÃO FINANCEIRA E SUSTENTABILIDADE
Eduardo Werneck RELAÇÕES COM O MERCADO
Antonio Jorge Vasconcelos da Cruz RELAÇÕES INSTITUCIONAIS
Milton Leobons TÉCNICA
Hélio Darwich ADMINISTRATIVA/FINANCEIRA
A Revista Mercado de Capitais é uma publicação da JB Pátria Editora www.patriaeditora.com.br Dúvidas ou sugestões: mercadodecapitais@patriaeditora.com.br Não estão autorizados a falar pela revista, bem como retirar produtos, pessoas que não constem neste expediente e não possuam uma carta de referência assinada pelo presidente.
Marco Antonio de Almeida Panza
Apoio:
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MERCADO DE CAPITAIS
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Carta ao leitor
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Também voltamos nosso olhos para as oportunidades de que dispõem hoje os analistas brasileiros no exterior, uma vez que está chegando neste ano ao Brasil a primeira certificação internacional que efetivamente abre ão tantos os assuntos
portas para atuar em outros países. No
que nós, profissionais
mercado brasileiro, uma parceria entre
de investimentos, temos
Apimec e BM&FBovespa vai estimular a
a analisar e debater em meio a este
cobertura de relatórios de análise das
acelerado processo de mudanças
empresas listadas, o que também deve
econômicas que o mundo está vivendo,
repercutir positivamente na ampliação
que muitas vezes fica difícil eleger o que
das oportunidades profissionais para
tratar primeiro ou em uma futura edição
os analistas. Em entrevista exclusiva,
de nossa revista. Mas quando surgiu, na
o diretor-presidente da bolsa, Edemir
reunião de pauta com nosso Conselho
Pinto, fala sobre este acordo, a estratégia
Editorial, a ideia de trazer para as nossas
de expansão da BM&FBovespa e a
páginas um retrato da rotina de trabalho
possibilidade de enfrentar concorrentes
atual do analista de investimentos,
no mercado doméstico.
ninguém teve dúvidas de que a questão era mais do que oportuna. Afinal, o
Estes e outros assuntos esperam por você
que mudou na vida do profissional
nas próximas páginas.
de investimentos com o processo de desenvolvimento e a globalização dos
Boa leitura!
mercados de capitais? Qual é a realidade do “analista global”? Nossa reportagem de capa foi buscar relatos e análises de quem
Lucy Sousa Presidente da APIMEC
vive e acompanha de perto esta realidade para propor esta reflexão.
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PANORAMA GLOBAL
Ao assumir, em abril, a presidência da Associação de Investidores do Mercado de Capitais (Amec), Mauro Rodrigues da Cunha manifestou preocupações com a situação atual do mercado de capitais. “É um momento desafiador, em que começamos a enxergar alguns pontos de retrocesso que precisam ser revertidos rapidamente”. Cunha vê, por exemplo, uma espécie de reprise dos anos 90 no tratamento dado hoje dos acionistas. “As ações não representavam valores estratégicos das companhias. É o que estamos vendo nos casos de troca de controle.” Segundo ele, isso ocorre por conta de brechas na legislação e também da “complacência” dos próprios acionistas em relação à defesa coletiva de seus interesses. “Vivemos a ‘ditadura dos pareceristas’ e a consequência econômica é desastrosa.” Cunha, que era vice da Amec, assumiu o cargo depois que o então presidente, Edison Garcia, se afastou por motivos pessoais.
Melhores práticas Começam a ser definidas as Recomendações de Melhores Práticas da Apimec para a elaboração de relatórios de análise fundamentalistas. A partir de sugestões e críticas apresentadas durante audiência pública, o Conselho Consultivo do Analista, da Apimec, aprovou em março a Recomendação CCA nº 01/2011, para que os analistas, ao elaborarem relatórios de análise fundamentalista, procurem incorporar aspectos relativos ao setor da companhia, metodologia de avaliação, riscos e fluxo de caixa, entre outros - itens que serão observados pela Superintendência de Supervisão do Analista de Valores Mobiliários (SSA) da Apimec. As recomendações vão compor posteriormente o Manual de Melhores Práticas dos analistas.
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Foto: divulgação
Desafios e retrocessos
Assembleia a distância
Os acionistas do Itaú Unibanco já podem votar nas assembleias a partir de qualquer parte do Brasil ou do mundo. Desde abril, o manual da assembleia de acionistas disponível no site de Relações com Investidores apresenta no portal “Assembleia na Web” a opção de voto eletrônico, que se dá por meio de uma certificação digital. No site, o investidor encontra também um modelo de procuração digital, com poder específico para o voto na respectiva assembleia. A ferramenta é inovadora no mercado brasileiro e o recurso é autorizado pela Lei 12.431/2011, que permite o voto a distância por meio de assembleia online.
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Harmonia na Fazenda
Saia Justa
Fotos: Agência Brasil
Já se especula o que o Bacen dirá na Ata do Copom da reunião de abril, quando os juros chegarão aos já pré-anunciados 9%. Ele ficará de saia justa se sugerir que os juros só poderão subir daí para adiante. Possivelmente deixarão a porta aberta para mais uma rodada de queda.
O relacionamento de Guido Mantega (foto à esq.) e Nelson Barbosa está bem melhor depois que a presidenta Dilma resolveu pacificar os temas de atritos. A harmonia agora é total na Fazenda.
Zum-zum-zum Rumores de que Fernando Pimentel vá para o Planejamento caso Miriam Belquior se candidate à prefeitura de Santo André. Nessa hipótese, Blairo Maggi iria para o Ministério da Indústria e Comércio. Esse é um zum-zum-zum em Brasília.
Fórum na Web Você tem dúvidas sobre a aplicação de uma regra específica do padrão internacional de contabilidade? Seu colega que trabalha em Hong Kong talvez possa ajudá-lo a descobrir o que fazer. Sim, esta situação é hipotética, mas não fictícia. Ela se tornou possível por meio do site www.cruf.com, o t, onde analistas do mundo inteiro podem interagir para debater sobre IFRS, buscar informações e também obter ajuda de colegas do exterior. O site foi recomendado por representantes do IASB em recente visita ao Brasil.
Conferência IGCN A 18ª edição da Conferência Mundial da ICGN (International Corporate Governance Network) será no Rio de Janeiro, entre os dias 25 e 27 de junho. Entre os palestrantes confirmados estão Maria Helena dos Santos Santana (CVM), Armínio Fraga (Gávea/ BM&FBovespa), Anne Simpson (CalPERS) e Simon Wong (Governance for Owners). O evento abordará temas como governança dos investidores institucionais, compliance e mídias sociais. Mais informações no site: www.icgn.org.
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Certificação
Passaporte para
o mundo
Foto: 123RF / Gunnar Pippel
Última barreira para os analistas no processo de globalização dos mercados de trabalho será derrubada este ano, com a chegada no Brasil da certificação CIIA, que abre oportunidades nos quatro cantos do mundo
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“O CIIA, por todo o processo que envolve, é mais do que uma habilitação para trabalhar no exterior. É um passaporte para ingressar literalmente no ‘mundo financeiro’”, afirma Jesús López Zaballos, diretor do CIIA na Espanha e América Latina e membro da ACIIA. A certificação está presente em 34 países da Europa, Ásia, África, Oceania, América Central e do Sul, e chega ao Brasil por meio de um convênio com a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec). O título é destinado a analistas com MBA Apimec-Fipecafi ou que já possuam o Certificado Nacional do Profissional de Investimentos (CNPI), e é reconhecido oficialmente pelas entidades reguladoras ou autorreguladoras dos países conveniados à ACIIA. É o primeiro a ter este alcance. Até então, os analistas podiam contar com títulos importantes, como o mais conhecido deles, o Chartered Financial Analyst (CFA), dos Estados Unidos. Embora respeitado no mundo todo como uma comprovação de alto nível de conhecimento profissional, o CFA autoriza oficialmente o analista a trabalhar somente no mercado
norte-americano, enquanto o CIIA pode ser traduzido como um CNPI internacional: uma vez obtido, confere ao profissional de investimentos a habilitação necessária para atuação em qualquer um dos 34 países. Por enquanto, o mercado norte-americano só reconhece oficialmente o seu próprio certificado. A falta de um título profissional capaz de refletir não um país ou outro, e sim uma economia globalizada, foi um dos motivos da criação da ACIIA e, consequentemente, de seu certificado, no ano 2000. “Na época, sentíamos a necessidade de ter uma entidade e também uma certificação que respeitassem a cultura dos países, as peculiaridades dos seus mercados, e ao mesmo tempo fosse capaz de preparar o profissional para o mercado global”, afirma Zaballos, que também é diretor-gerente da Federação de Estudos Financeiros, do Instituto Espanhol de Analistas Financeiros (IEAF). Em 2007, o britânico Financial Services Skills Council/Financial Service Authority (FSSC/FSA) aprovou o CIIA para certificar várias atividades de seu mercado,
Fotos: divulgação
e todas as fronteiras de mercado já desfeitas pelo processo de globalização financeira, uma das mais importantes para a carreira dos analistas de valores mobiliários brasileiros será apagada definitivamente neste ano. Agora, o analista brasileiro que desejar trabalhar no exterior ou construir uma carreira internacional poderá se candidatar à obtenção da certificação CIIA (Certified International Investment Analyst), criada pela Associação Internacional das Entidades Certificadoras dos Analistas de Investimento (ACIIA) dentro de um conceito de economia mundial globalizada, considerando a complexidade dos mercados e seus novos desafios.
Zaballos, da ACIIA: “Sentíamos falta de uma certificação que respeitasse as peculiaridades de cada país, e, ao mesmo tempo, preparasse o profissional para o mercado global”
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Antonio Cejuela IDADE:
35 anos
ANO DE CERTIFICAÇÃO CIIA: 2005 CARGO: CFO,
o que foi considerado um marco, por se tratar de Londres, centro financeiro mundial. Da China à Alemanha, da Índia a Hong Kong, o CIIA reúne hoje países que somam 60 mil profissionais, 10% deles já detentores do certificado. Para obter o título, eles foram aprovados em uma série de exames que serão realizados pela primeira vez no Brasil no dia 14 de setembro, com início do curso preparatório no dia 4 de junho. O curso terá 126 horas, com aulas à noite e conteúdo dividido entre sete temas. Em setembro, o candidato realiza quatro exames (ver quadro). O argentino Antonio Cejuela, de 35 anos, CFO (diretor executivo financeiro) da Puente Hermanos Sociedad de Bolsa, com sede em Buenos Aires, já tinha mestrado em Finanças quando decidiu ser um analista CIIA, em 2005. Achava que o curso universitário tinha sido predominantemente técnico e viu nos exames CIIA a 12
ou diretor executivo financeiro
possibilidade de testar melhor tanto o aprendizado teórico quanto o prático, de situações reais do mercado. “E, claro, com o mercado tão globalizado, sabia que, profissionalmente, só teria benefícios com um título que, além de inserir você em uma rede de contatos com colegas do mundo todo, comprova sem deixar dúvidas sua capacitação para trabalhar em qualquer país”, afirma Cejuela, que trabalha no mercado de capitais há 13 anos. “Posso apresentar a certificação do meu país, minha experiência e formação universitária, mas nem todos conhecem nossas universidades para constatar qual é minha qualificação. Seria muito mais difícil.” Nos planos de Cejuela, os destinos mais cotados para trabalhar fora de seu país são os Estados Unidos, a Costa Rica e o Brasil. Javier Lizán, espanhol de 41 anos que possui o CIIA desde 2009, atualmente diretorexecutivo de Negócios de Varejo do Santander em Madri, acredita que haverá uma exigência cada vez maior pela certificação CIIA tanto por parte dos organismos reguladores em todo o mundo como também dos clientes. Ele teve experiências de trabalho internacionais, entre elas uma passagem por Londres, a
INSTITUIÇÃO: Puente Hermanos Sociedad de Bolsa PAÍS: Argentina
Ciia QUEM TEM DIREITO Analistas certificados - CNPI MBA Mercado de Capitais Fipecafi COMO SE PREPARAR Curso preparatório começa dia 4 de junho e termina dia 5 de setembro. As informações sobre o curso estão no endereço http://www.fipecafi.org/extensao COMO SERÃO OS EXAMES • Conteúdo Global 2 (CG2), com as matérias Economia e Análise e Avaliação de Renda Fixa • Conteúdo Global 3 (CG3), com as matérias Análise e Avaliação de Derivativos, e Administração de Carteiras • Final 1, sobre Finanças Corporativas, Economia, Contabilidade, Análise e Avaliação de Ações • Final 2, sobre Análise e Avaliação de Renda Fixa, Análise e Avaliação de Derivativos, e Administração de Carteiras OBS: Exames Final 1 e Final 2 são elaborados pelo International Examinations Committee (IEC), da Association of Certified International Investment Analyst (ACIIA), e importados da Suíça Fonte: Apimec
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serviço do Santander, já com o diploma CIIA. “Toda vez que a gente amplia o conhecimento em relação aos produtos, aos mercados, crescemos como profissionais. Aos poucos você vai conhecendo as características e peculiaridades dos mercados e entendendo como funcionam, o que faz com que seu trabalho de gestão evolua”, afirma. Tanto Cejuela como Lizán argumentam que a derrubada das barreiras para exercer a atividade no exterior é muito importante na obtenção do certificado, mas dizem que há uma série de outras vantagens também no próprio país. “A certificação exigiu de mim um esforço muito grande na preparação para os exames - só isso já me fez avançar consideravelmente como analista. E também teve impacto importante na minha carreira, tanto que hoje desempenho uma função de diretoria”, diz o argentino. Lizán concorda: “O Santander é um banco global, tem projetos internacionais - em Nova York, Londres, no Brasil, na Polônia etc. - nos quais trabalham profissionais de todas as partes do mundo. São diferentes situações, produtos, legislações. Trabalhar com esta visão global hoje é fundamental nas instituições.” Segundo Zaballos, a expansão do certificado CIIA vem refletindo esta tendência. Em fevereiro passado, por exemplo, o Chartered Institute for Securities
PaÍSeS Na aCiia Alemanha Argentina Áustria Bélgica Brasil Cazaquistão China
Coreia do Sul Espanha Finlândia França Grécia Holanda Hong Kong
Hungria Índia Irã Itália Japão Lituânia Luxemburgo
Marrocos México Nigéria Peru Polônia Portugal Quênia
Reino Unido Rússia Suécia Suíça Tunísia Ucrânia
& Investment (CISI), associação inglesa de certificação de profissionais de investimento, passou a integrar a ACIIA; e para junho deste ano está prevista a criação da federação latinoamericana dos analistas de investimento, com Brasil, Peru, Argentina e México, e também Espanha e Portugal - mesmo sendo latino-americana. “O Brasil se prepara para consolidar seu crescimento e desempenhar um importante papel neste processo”, afirma Zaballos. Segundo ele, o futuro da certificação internacional é promissor, com a adesão ao CIIA crescendo “aos poucos, mas com qualidade”.
Javier Lizán IDADE:
41 anos
INSTITUIÇÃO: Santander
ANO DE CERTIFICAÇÃO CIIA: 2009 CARGO: diretor-executivo
PAÍS: Espanha
de Negócios de Varejo
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Parceria entre BM&FBovespa e Apimec vai estimular a produção de relatórios de análise para as empresas que, estando fora do campo de visão dos analistas das grandes instituições, ficam invisíveis para os investidores
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Cristiana Pereira, da BM&FBovespa: “É o ‘dilema de Tostines’: empresa não tem liquidez porque o investidor não a conhece, e o investidor não a conhece porque ela não tem liquidez”
Hoje, das 466 empresas que disputam a preferência dos investidores na BM&FBovespa, apenas cerca de 170 são pauta para os relatórios de análise produzidos no Brasil. “O que acaba acontecendo é que entramos naquele ‘dilema de Tostines’: a empresa não tem liquidez porque o investidor não a conhece, e o investidor não a conhece porque ela não tem liquidez. Sem conhecer, o investidor não compra. Sem o investidor comprar, a empresa não
Foto: Flávio R. Guarnieri
O
mercado de capitais começou o ano apostando em um novo recurso para tentar resolver um velho problema: a quantidade de companhias listadas na BM&FBovespa que são praticamente invisíveis para os investidores por falta de cobertura dos analistas brasileiros. Com os olhos das grandes instituições focados nas estrelas dos pregões, a maioria das empresas acaba escondida na exposição solitária de seus números.
tem cobertura. É um círculo vicioso”, afirma a diretora de Relacionamento com Empresas e Institucionais da BM&FBovespa, Cristiana Pereira. Para mudar este quadro, a BM&FBovespa e a Associação de Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Nacional) fecharam um convênio para estimular o aumento na cobertura de todas empresas de capital aberto no Brasil, com foco especial no segmento de small caps. Na visão da Apimec, o acordo também representa uma valorização do trabalho dos analistas e deve ampliar a oferta de vagas para os profissionais. O projeto vinha sendo estudado pelas duas entidades desde meados Mecado de capitais
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Antunes Sobrinho, da Desenvix: “Com a adesão ao convênio, reforçamos a boa governança e aumentamos a transparência da companhia”
do ano passado e entrou em vigor em janeiro. Pelo acordo, qualquer empresa poderá passar a ter cobertura de análise de uma instituição independente. Com exceção das companhias listadas no Bovespa Mais, caberá à própria empresa financiar a produção destes relatórios, que, por sua vez, terão de ser feitos por instituição escolhida em sorteio realizado pela Apimec. Só depois do sorteio é que a empresa saberá quem
analisará seus dados. Ao assinarem o contrato, a casa de análise e a companhia aderem a um termo de compromisso para a produção, no período de dois anos, de quatro relatórios: dois semestrais e dois anuais, que ficarão disponíveis para os investidores no site da BM&FBovespa. “A partir daí a empresa não poderá suspender a elaboração de nenhum relatório, que será obrigatoriamente divulgado no site da bolsa, independentemente de o resultado ser positivo ou negativo”, explica Cristiana. Além do sorteio das entidades independentes, a gestão e a fiscalização do convênio também estão a cargo da Apimec. Para a diretora da BM&FBovespa, a fiscalização sob responsabilidade da entidade autorreguladora dos analistas garante que os relatórios sigam as regras e condutas das melhores práticas da profissão. Depois de dois anos, se a empresa quiser continuar tendo seus dados analisados por meio de relatórios, o acordo será renovado, mas uma outra instituição, também escolhida por meio de sorteio da Apimec, assumirá o trabalho. “Não haverá vinculação com uma mesma casa de análise por mais de dois anos”, diz Cristiana. No Bovespa Mais as regras do convênio são idênticas, exceto no caso do patrocínio.
Índice Small Caps X Ibovespa Índice Ano
Small Cap – SMLL Data
Índice
Evolução anual
Ibovespa Índice
Evolução anual
2005
29/12
593,06
15,10%
33.455,94
19,60%
2006
28/12
872,68
47,10%
44.473,71
32,90%
2007
28/12
1.054,02
20,80%
63.886,10
43,60%
2008
30/12
493,78
-53,20%
37.550,31
-41,20%
2009
30/12
1.172,88
137,50%
68.588,41
82,70%
2010
30/12
1.439,56
22,70%
69.304,81
1,00%
2011
29/12
1.200,22
-16,63%
56.754,08
-18,11%
Evolução acumulada
132,86%
102,97% Fonte: BM&FBovespa
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O Brasil tem...
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mercado de trabalho e garantir o emprego dos analistas nas corretoras independentes”, afirma. Segundo ela, qualquer instituição pode participar dos sorteios, mas as que mais têm demonstrado interesse em participar do convênio são as independentes. Para estimular as empresas do mercado tradicional a terem cobertura de analistas, a BM&FBovespa e a Apimec têm divulgado o projeto a seus principais interlocutores no mercado e nos eventos que realizam. Um destes encontros, realizado em abril na sede da bolsa, em São Paulo, foi voltado para as small caps, segmento onde é rara a produção de relatórios de análise.
Foto: Flávio R. Guarnieri
Para atrair mais empresas e estimular a cobertura de análise no segmento, a bolsa vai patrocinar a produção dos relatórios nos primeiros analistas dois anos. O patrocínio é compromisso antigo com o segmento e não é novo, corretoras (*) diz Cristiana, mas agora será ampliado e terá mais visibilidade com o convênio. empresas listadas na Segundo ela, sem o convênio BM&FBovespa as empresas dispõe hoje de apenas duas alternativas para ter relatórios de análise: “Contratar companhias com diretamente uma instituição relatório de análise (*) para fazer a cobertura, o que teria pouco valor pelo critério de independência, ou fazer um trabalho de divulgação de seu desempenho juntos a bancos, (*) Número aproximado corretoras e investidores para Fontes: Apimec e BM&FBovespa tentar fomentar a liquidez de suas ações.” As duas empresas listadas no Bovespa Mais já aderiram ao convênio. “Com a adesão, nós estamos reforçando a boa governança e aumentamos ainda mais a transparência da companhia, criando assim um terreno sólido para a atração de futuros investidores, de modo a preparar-nos para um IPO futuramente”, afirmou José Antunes Sobrinho, CEO da Desenvix. Para os analistas, o acordo também abre novas perspectivas.“Este convênio, além do objetivo principal de resgatar empresas ‘abandonadas’ pela cobertura, também representa uma valorização do trabalho do analista”, diz a presidente da Apimec, Lucy Sousa. “No momento em que está crescendo tanto o mercado das ordens automatizadas, o que muitas vezes passa a ideia de que a análise fundamentalista está sendo deixada de lado, esta parceria reafirma a importância da atividade, contribuindo para melhorar o
Lucy Sousa, da Apimec: “Convênio também representa uma valorização do trabalho do analista”
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Fotos: Alexandre Tokitaka
UMA CONVERSA
Expor para
crescer
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este encontro com Lucy Sousa, da Apimec, o diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, fala sobre a importância do convênio entre as duas entidades para aumentar a cobertura de análise das companhias, cita outros projetos que compõem a estratégia de expansão da bolsa e analisa a possibilidade de ter concorrentes no mercado doméstico. Confira: Lucy Sousa - Das quase 470 companhias listadas na bolsa, 170 são acompanhadas por analistas. Como você vê o convênio entre BM&FBovespa e Apimec no sentido de ampliar a cobertura? Edemir Pinto - Hoje uma grande dificuldade de liquidez de alguns papeis é a ausência de cobertura de analistas. Quando decide vir para o mercado de capitais, a companhia 18
tem que ter esta visibilidade. Não basta estar listada na bolsa, precisa ter alguém informando o público sobre ela. Mas hoje há um número grande de analistas cobrindo poucas empresas, e muitos papeis com quase nenhum analista na cobertura. O convênio vai trazer uma série de surpresas, principalmente para o segmento de acesso, o Bovespa Mais. Se já é
difícil a falta de visibilidade para uma empresa do Novo Mercado que tem pouca liquidez, para quem vem para o mercado de acesso é muito pior. Nosso convênio vem nesta linha, em que a bolsa aposta e acredita na importância do analista para aumentar esta visibilidade. Creio que, aos poucos, teremos inclusive que reforçar cada vez mais este convênio.
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Diretor-presidente da Bolsa, Edemir Pinto, com Lucy Sousa, da Apimec: Convênio e ações para beneficiar corretoras devem ampliar oportunidades para os analistas
das nossas 86 corretoras ativas, mais de 50% tiveram prejuízo. Para tentar mudar esta situação, temos hoje dois grandes projetos. Um é voltado para o agente autônomo de investimento, para nós o grande reverberador dos ativos da bolsa. Por causa das dificuldades, muitas corretoras desmontaram a área comercial e não têm quem vá a campo tentar ampliar o leque de clientes. O agente autônomo pode ser esse profissional. Mas tem que ser trazido de forma consciente para o mercado, pois é ele que fará o contato com a pessoa física, por exemplo. Junto com as corretoras, queremos estimular a capacitação, a qualificação e a certificação profissional, e criar condições para que elas possam duplicar, triplicar ou quintuplicar o número de autônomos. LS – A nova regra de que o autônomo tem de ser exclusivo de uma corretora já foi absorvida? Houve muita resistência.. LS - Como a Bolsa vê o processo de concentração que ocorre entre as corretoras? EP - Esta concentração não é privilégio do Brasil. Se você olhar o mundo, a Europa, os Estados Unidos, verá processo parecido. Temos que tentar administrar isso, pois a bolsa só tem razão de ser se tiver capilaridade na distribuição de seus produtos. A legislação brasileira determina que todos os produtos de bolsa têm que ser distribuídos por corretores. Então, para nós, quanto maior o número de corretores, melhor. Nosso foco é aumentar este número. Só que o quadro atual é preocupante: no ano passado,
LS - E qual é o outro projeto? EP - O segundo projeto busca melhorar rentabilidade das corretoras. Fizemos um mapeamento e vimos que, do custo fixo da corretora, pelo menos 40% é destinado à infraestrutura - por exemplo, sistema de gravação, sistema de link, de rede, telas, back office, cadastro, todos obrigatórios para quem quer ser uma corretora. São custos que não têm efeito competitivo: tanto faz para o cliente que uma corretora tenha um sistema de gravação Sony e a outra, Panasonic. O que importa é ter o sistema. Então estamos estudando com as corretoras a criação de uma “nuvem”, onde serão colocados todos estes serviços. Todas as corretoras se ligariam à “nuvem” e receberiam o mesmo tipo de serviço. Assim, você passaria a contratar os serviços não para uma, mas para 86 corretoras. Com isso, os custos fixos devem cair entre 60% e 70%. Este estudo deve ser finalizado em maio.
É preciso tomar muito cuidado com a questão da concorrência neste tipo de atividade, que mexe com um risco sistêmico. Não é como fazer bolacha, chocolate” EP – Isso foi superado. De fato, houve resistência de autônomos e corretoras. Mas acho que a decisão da CVM foi sábia e nós apoiamos. Porque a mudança ajuda não apenas a CVM, mas a bolsa, como entidade reguladora, a supervisionar melhor as atividades de ambos. E define a responsabilidade de cada um. Acho que é uma medida que veio para ficar.
LS - Tomara que dê certo, pois houve um corte nas equipes de análise que sobrecarregou os analistas que foram mantidos... EP - O que você está colocando é muito importante porque, à medida que reduz o custo fixo, a corretora vai focar mais nos pontos de competitividade, disputar mercado. Vai investir mais na área de análise, MERCADO DE CAPITAIS
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Creio que, aos poucos, teremos que reforçar cada vez mais este convênio” que é um diferencial competitivo. Não tenho dúvidas de que isso vai provocar uma demanda por analistas no futuro. LS - A BM&FBovespa tem interesse em se expandir na América Latina, enquanto no Brasil há quem defenda que “seria bom ter outra bolsa”. Como se resolve a questão de a bolsa ser uma monopolista no mercado do Brasil e, ao mesmo tempo, querer se espalhar? Como a bolsa vê a ameaça de concorrência interna? EP - Este é um tema muito oportuno porque a CVM contratou estudos sobre o modelo do mercado 20
brasileiro, provavelmente para tomar algum tipo de decisão ou ratificar as que já vem tomando neste sentido. Nós trabalhamos com a possibilidade de competição no Brasil desde a fusão da BM&F/ Bovespa, em 2008, por conta da Instrução 461/07, da CVM, onde já está prevista esta concorrência. Às vezes, podemos passar uma impressão de que não queremos concorrência. Mas não é nada disso. O que queremos dizer é que , nos últimos 20, 30 anos, enfrentamos no Brasil muitos planos econômicos, crises. Só que nós - CVM, Banco Central, e as bolsas na época, BM&F e Bovespa - fizemos a lição de
casa e hoje temos um arcabouço regulatório que é exemplo para o mundo. Quando surgem iniciativas para que outras bolsas venham para cá com modelos inovadores, a minha preocupação é o regulador dar um passo atrás. Por exemplo: no Brasil temos o beneficiário final. Para uma bolsa montar um sistema olhando trade, risco, depositário em custódia, em nível de beneficiário final, custa muito dinheiro, mas elimina muito o risco sistêmico. Nos EUA e na Europa, não é beneficiário final. É em nível de corretor. Todos os beneficiários finais são acoplados em uma conta ligada ao corretor. O controle regulador é em cima do corretor. Espero que o regulador brasileiro jamais volte atrás e permita a alguém vir aqui e montar o modelo diferente de beneficiário final. Tivemos recentemente o caso da MF Global, grande corretora que foi considerada a oitava quebra nos EUA. E quebrou por conta de quê? Das contas do beneficiário final. Ela não tinha a segregação, como existe aqui. Portanto, o que defendemos é que o regulador não abra mão, não esmoreça, em relação a todo este avanço regulatório que temos, a exemplo deste modelo de beneficiário final. Outro ponto é que o mundo vive dois grandes processos de mudança: a fragmentação das bolsas e as operações via computador, de alta frequência. Hoje estes pontos estão na mesa de discussão de todos os organismos internacionais. Na WFE (federação mundial de bolsas), da qual participo, não há consenso sobre eles. Hoje, o único consenso é pela revisão. Na fragmentação, acreditam que foram longe demais; na alta frequência, que há muita liberdade para operar. Não que eu seja contra a alta frequência no Brasil. Nossa bolsa tem 10%
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do volume em alta frequência, e queremos 20%, 30%. Só que de uma forma gradual, consistente e com regras. Nas bolsas americanas este volume chega a 60%, 70%. LS - Incluindo a de Nova York... EP - Sim. Tivemos episódios recentes oriundos de alta frequência aliada à fragmentação de mercado. Em maio de 2010 tivemos, por exemplo, o flash crash na NYSE, quando vimos os papeis caírem 20%, 30% em segundos, sem nenhuma razão econômica ou de natureza comercial das companhias. Até hoje a SEC não explicou. Em relação à fragmentação em sistemas alternativos de negociação, há duas questões importantes: a formação de preços e o minoritário. Em 2010 estávamos com um projeto para atender um investidor que tinha uma grande quantidade de papel de grandes companhias, queria sair do mercado de uma vez e não podia, porque, se fizesse isso, derrubaria o preço. Tinha obrigatoriamente que sair aos pouquinhos, ao longo de uma semana. Tentamos criar um sistema alternativo onde os grandes lotes seriam negociados, mas com o preço do mercado principal. É um modelo mais ou menos de um dark pool, só que “tropicalizado” nos padrões de conservadorismo do regulador brasileiro. Levamos o sistema ao regulador, que disse: “Não é prioridade nossa. Não queremos fragmentar o mercado brasileiro”, deixando claro que a formação de preço de um mercado único era muito importante. Então, quando se fala de vir uma outra bolsa para cá, é preciso considerar os casos de oportunismo. Porque alguém vem aqui, olha os papéis das companhias e diz: “Vou negociar só os 5, 6 papéis mais
Na WFE (federação mundial das bolsas), único consenso hoje nas discussões sobre fragmentação de mercado e operações de alta frequência é pela revisão” líquidos. Tenho um conjunto de alta frequência lá fora, coloco aqui e pronto.” Agora, que valor tem isso para o mercado brasileiro? Para a sociedade, para o preço do papel? LS - Para os profissionais de investimento? EP - Para os analistas. Acho que o regulador já deu esta resposta. E aí alguém diz: “Seria bom ter outra bolsa completa”. Tivemos duas bolsas completas: a do Rio e a de São Paulo. Ter outra bolsa aqui não tem problema nenhum. O que eu acho é que, quando a gente teve essas duas bolsas, o mercado era pequeno, então uma tentou roubar o mercado da outra. Aí a Bolsa do Rio criou uma série de mecanismos e facilitações que acabaram atraindo o maior especulador da época, o Naji Nahas. E o que aconteceu? Quebrou a Bolsa do Rio! Portanto, é preciso tomar muito cuidado com a questão da concorrência neste tipo de atividade, que mexe com um risco sistêmico. Não é como fazer bolacha, chocolate. Hoje estamos com um volume de investimentos espetacular: de 2009 a 2014, serão R$ 1,1 bilhão de investimento para fazer uma atualização tecnológica de A a Z. Vamos aumentar a eficiência e reduzir custos do próprio mercado. LS - A taxa de juro real diminuiu, está rondando os 3%, e há quem ache que deverá permanecer neste
patamar. Isso é bom para a Bolsa. Neste contexto, quais são os planos para ampliar a base de investidores? EP - O potencial do mercado brasileiro é extraordinário. Mas para capturá-lo totalmente precisamos ter redução continuada da taxa de juro e aumento da poupança interna. Temos a meta de atingir 5 milhões de investidores em 2016/2017, contra os 580 mil que temos hoje, e alguns indicadores nos motivam. Uma pesquisa recente do IBGE indica crescimento das classes A e B, um dado importantíssimo porque, para que tenhamos uma cultura de investimento a médio e longo prazos, é preciso pegar uma classe mais amadurecida, que não está nesta febre de consumo que estão hoje as classes C e D - o que afasta este público dos investimentos. Nas classe A e B, tínhamos 13 milhões de brasileiros em 2004. Em 2014, serão 31 milhões. Cresce três vezes em dez anos! É um potencial espetacular e, lógico, com redução de juro e aumento desta poupança interna, você cria condições estruturais para que, de fato, o mercado de capitais exploda. Explodindo o mercado de capitais, aumenta o número de empresas listadas - nossa meta é ter 200 novas empresas até 2014. Portanto, o crescimento sustentável de 3% , 4%, 5% tem que continuar nos próximos quatro, cinco anos, para que tudo isso possa acontecer. Daí sim, poderemos triplicar o número de analistas no mercado. MERCADO DE CAPITAIS
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Mercado de capitais ficou muito maior e mais sofisticado, transformando a vida dos analistas em uma corrida diária contra o tempo para dar conta das novas atribuições, mas também acelerando sua qualificação profissional
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s dias estão cada vez menores na rotina dos analistas. Hoje, uma equação difícil no cotidiano desses profissionais é como conseguir encaixar mais atividades em uma agenda diária inflexível, sem deixar restar nenhum prejuízo na qualidade do trabalho. A cada ano que passa é preciso ler mais balanços, fazer mais relatórios de análises, participar de mais conferências por telefone, entrar em contato com uma quantidade maior de clientes e procurar saber de tudo absolutamente tudo - o que acontece no mundo e tenha algum potencial para repercutir no desempenho das companhias emissoras.
O desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro nos últimos anos e a inserção do país na economia internacional tornaram a função do analista de valores mobiliários bem mais abrangente e complexa - e em muitos casos, a mudança foi reforçada com redução de equipes. É sob a pressão dessas novas condições de trabalho que vem se desenhando o perfil do profissional de investimentos dos tempos de globalização. “O analista passou a ter novos desafios. Hoje o trabalho tem mais complexidade e exige um olhar global. O profissional precisa se preparar tecnicamente, com certificação internacional inclusive, para poder
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Martins, da Apimec: contratações só devem aumentar quando crise global der sinais de reversão
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informações das empresas passou a ser muito mais qualificada por conta da profissionalização maior da área de Relações com Investidores, a subordinação decisória saiu do Brasil e foi para o exterior e falar inglês, que era necessário, agora é imprescindível”, enumera Petros. Mudanças como estas transformaram o analista brasileiro. “A técnica do trabalho é mais sofisticada e a qualidade é muito maior, assim como a complexidade da avaliação dos resultados, que também aumentou.” Lucy explica que as grandes transformações no trabalho dos analistas brasileiros começaram no final dos anos 80, quando o processo de globalização dos mercados ligou o país à demanda do investidor estrangeiro, que tinha uma visão mais ampla e requeria informações enfrentar as novas demandas. Esta é como a comparação de dados de nossas a realidade atual do analista maduro, empresas com as de outros países, por sênior”, afirma Lucy Sousa, presidente exemplo, além das comparações entre da Associação dos Analistas e concorrentes nacionais. “Isso Profissionalis de Investimento já deu uma amplitude ao do Mercado de Capitais escopo da análise”, afirma. (Apimec). Nos últimos dez “Nos anos “Naquela época a gente anos, conta o presidente do 80 a gente fazia um relatório de análise Conselho de Supervisão do fazia um por mês. Hoje são cerca de 15 Analista (CSA) da Apimec, relatório de relatórios a cada trimestre”, Francisco Petros, houve um análise por conta André, nome fictício para aumento na necessidade de mês. Hoje são declarações de um analista conhecimento dos paradigmas cerca de 15 de um grande banco, de 40 externos dentro do processo relatórios anos, que aceitou participar analítico e a normatização da a cada da reportagem sob condição ativida foi substancialmente trimestre” de não revelar sua identidade. incrementada no Brasil. Além André Recentemente, ele reencontrou disso, o foco do analista em um happy-hour em São passou a ser divido entre Paulo vários colegas que suas necessidades perante as começaram a atuar na profissão junto instituições em que trabalha e os interesses com ele, na década de 80. Naquele dia, foi diretos dos clientes. Antigamente ele inevitável relembrar a vida de analista na trabalhava só para o banco. juventude e, sem querer, fazer um balanço “Passou a ser essencial ter uma descontraído da trajetória profissional. visão holística da empresa e não A conclusão, unânime na mesa do bar, apenas financeira. A obtenção de
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foi a bem-humorada máxima fará também viagens “Nos anos do “a gente era feliz e não internacionais para divulgar 90, os IPOs sabia”. Porque a tranquilidade seus relatórios sobre aumentaram daqueles tempos é quase outro companhias que estão e a rotina planeta, agora inatingível, abrindo capital e/ou de trabalho quando olham para trás. fazendo ofertas públicas, ficou Hoje André chega ao atividade denominada trabalho às 7h30, lê todo o “investor education”. frenética” noticiário possível até as 8h, No caso de André, porém, a Jorge quando participa de uma agenda atual é até “light” perto conference call com a equipe da rotina que ele tinha por para fazer um balanço do dia volta de 2006/2007. “Passei anterior e definir a linha de trabalho da cerca de dois anos sem nenhum fim de instituição naquele dia, e entre 8h30 e 9h semana de folga. Não me preocupava já está telefonando para cerca de 15/20 com a saúde. ‘A medicina está aí para clientes para passar as indicações da casa cuidar da gente’, pensava. Até que veio o antes da abertura do mercado. “Temos um esgotamento”, diz André. Com problemas papel essencial, que é o de comunicar aos de saúde, decidiu parar e ficou seis meses clientes as nossa ideias. É fundamental fora do mercado. Só voltou, diz, porque telefonar, mandar email, divulgar ao sentiu saudade do trabalho. máximo as nossas análises”, afirma. A partir das 10h, ele passa a buscar mais informações com diretores da área financeira ou de relações com investidores de várias companhias para obter mais subsídios para as análises. No começo da tarde, depois de cerca de 1h30 de almoço, participa de uma conference call com clientes e, uma hora depois, mais ou menos às 15h30, começa a escrever sobre seus achados para o pregão seguinte e, na sequência, faz seus relatórios. “Faço em torno de dois a quatro relatórios de até três páginas por semana e um de 20 páginas por mês”. O trabalho termina por volta das 20h, desde que nenhuma bomba atinja o noticiário econômico ou alguma empresa divulgue resultados depois do pregão, o que faz com que ele saia da instituição um pouco depois da meia-noite, para às 7h30 do dia seguinte estar lá de volta. Este é o roteiro típico de um analista nos dias de hoje. E se ele trabalhar em uma corretora de grupo financeiro com forte atividade de underwriting, Mercado de Capitais
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“Passei cerca de dois anos sem nenhum fim de semana de folga. Até que veio o esgotamento” André
Não há um levantamento preciso sobre o número de analistas que se afastou do trabalho por causa de estresse, mas, se estes casos ocorreram, estão entre os 205 profissionais que estavam de licença em março deste ano, o triplo de dezembro de 2010 (ver tabela). André admite que o excesso de trabalho também decorreu da vontade de ganhar mais dinheiro, e não de uma sobrecarga imposta. “Foi a melhor remuneração da minha vida. Quanto mais trabalhava, mais o salário aumentava”. Quem não tomou a iniciativa de assumir mais tarefas também teve de trabalhar mais depois de uma segunda onda que transformou o mercado de capitais brasileiro. Um analista de uma corretora independente, que terá aqui o nome fictício de Jorge, relembra as mudanças que ocorreram no país em 1994, quando saiu o Plano Real. Com a inflação sob controle, o mercado deslanchou. “Os IPOs aumentaram e a rotina de trabalho ficou frenética. Passamos a participar de “calls” diariamente - e com clientes internacionais também -, passamos a analisar muito mais empresas, participar 26
de uma série de eventos e as instituições começaram a exigir um inglês perfeito, falado e escrito. Assumimos a função de atrair cada vez mais investidores, trabalhar por isso também. Então o estresse passou a ser muito maior”, afirma. Na época, as grandes instituições tinham condições de ampliar seu quadros de analistas, mas as menores, ou independentes, não. E quando o mercado entrava em retração, as equipes eram enxugadas para reduzir custos. “Se a instituição tinha 10 analistas, passou a ter cinco. Quem acompanhava 10 empresas, passou a acompanhar 20, 30 companhias”, afirma Jorge. Simultaneamente, a revolução tecnológica ajudava a derrubar fronteiras, incluindo as que existiam entre as horas de trabalho e descanso. “A tecnologia trouxe muitos benefícios, mas ao mesmo tempo permite que você seja encontrado e ‘capturado’ para trabalhar a qualquer hora”, ressalta André. Em 2008, a crise financeira global voltou a sacudir o mercado de trabalho, provocando mais uma onda de cortes nas equipes de analistas, só que agora em um cenário onde os negócios estavam
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completamente internacionalizados e os investidores, mais exigentes. Ao mesmo tempo, os relatórios das empresas, por força de novas normas contábeis, ficaram mais detalhados, mais extensos. Muitas instituições tomaram o caminho da especialização e outras optaram por diversificar seus negócios, enquanto os analistas buscaram meios de se adaptar à nova realidade. “O trabalho que antes era mais minucioso, profundo, agora é muito mais objetivo”, diz Jorge. “Se antes eu escrevia três páginas, hoje escrevo uma, tento ir direto ao ponto. Preciso fazer mais relatórios, então eles têm de ser mais sucintos. Tenho que ter um olho clínico”, conta André. O que não pode acontecer, dizem os profissionais, é a qualidade cair. “Hoje o cliente sofre com o excesso de informação também. É preciso escrever menos com mais qualidade. Não dá para fazer um trabalho ruim. Sem contar que, hoje, o mercado é muito mais competitivo”, diz André. Muitas instituições reduzem preços para tomar clientes da concorrência, suas receitas diminuem e a queda é compensada com cortes que incluem as suas equipes. Ricardo Tadeu Martins, coordenador
do Conselho Consultivo do Analista (CCA), área da Apimec Nacional que, entre outras funções, acompanha a rotina dos analistas, diz que as instituições só deverão aumentar as contratações quando o mercado global começar a dar mostras de reversão da crise econômica. “Por enquanto, ainda não há sinais de reação”, afirma. André concorda: “Com todas as mudanças que ocorreram na nossa área, nenhuma é tão perversa quanto a estagnação ou a redução do tamanho do mercado para o nosso trabalho”.
Os Profissionais de Investimento no Brasil Credenciados Licenciados Certificados Total
dez/10 889 69 211 1169
mar/11 914 94 229 1237
jun/11 941 117 232 1290
set/11 952 154 249 1355
dez/11 936 203 277 1416
jan/12 937 200 277 1414
fev/12 942 203 279 1424
mar/12 941 218 282 1441 Fonte: Apimec
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22º CONGRESSO APIMEC
A partir desta edição, a revista Mercado de Capitais entra em contagem regressiva para o 22º Congresso Apimec, que será realizado na capital paulista em agosto, apresentando uma série de destaques do evento, como a Tarde do Analista
Foco no profissional
A
Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Nacional) se prepara para realizar em agosto o seu primeiro Congresso Nacional depois de ter assumido a função de entidade autorreguladora dos analistas de valores mobiliários, em outubro de 2010. A nova atribuição, que teve impacto na estrutura da associação, com a criação de novas divisões para desempenhar a função de supervisora do trabalho dos profissionais, também tem seus reflexos no tradicional evento, promovido a cada dois anos pela Apimec desde 1971. Este efeito estará representado no 22º Congresso Nacional da Apimec, marcado para os dias 30 e 31 de agosto, pela “Tarde do Analista”, um encontro que pretende aprofundar a discussão sobre desafios da rotina dos profissionais.
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“O Congresso em geral trata das questões do mercado de capitais como um todo e suas implicações para os analistas. Mas depois que a Apimec assumiu a função autorreguladora, sentimos a necessidade de chamar a atenção para questões específicas da profissão”, explica Ricardo Tadeu Martins, coordenador do Conselho Consultivo do Analista (CCA) da Apimec. No evento de estreia, que ocorrerá no dia 30 de agosto, os temas serão valuation, custo de capital das empresas, novos pronunciamentos do CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) e autorregulação. Entre os convidados estão o professor Carlos Antonio Rocca, consultor da Fipecafi e coordenador do Cemec (Centro de Estudos do Mercado de Capitais), que vai abordar “O Custo de Capital das Empresas”; Antonio Zoratto Sanvicente, professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) e José Claudio Securato, autor de vários livros sobre finanças e professor da Escola de Negócios Saint Paul, que vão falar sobre valuation. “Queremos debater o quanto o mercado brasileiro, depois de passar por uma grande evolução e amadurecimento nos últimos anos, já pode substituir a referência de dados internacionais por indicadores do nosso próprio mercado na avaliação de empresas”, explica Martins. Afinal, se no começo dos anos 90 o volume de negociações no mercado de capitais era baixo e poucas empresas participavam
Professor Antonio Carlos Rocca, do Cemec, será um dos palestrantes
dele - tornando necessária a adoção de referências no exterior, onde seus segmentos estavam consolidados -, hoje a situação é completamente diferente. “O volume de negócios cresceu, os investimentos estrangeiros aumentaram e mais empresas abriram capital. E muitos analistas continuaram usando informações externas em determinados setores, mesmo que esses dados estejam inseridos em um ambiente com regras diferentes, específicas do outro país. Continuar ou não com este critério é um debate que achamos necessário neste momento”, afirma Martins, dando uma ideia do tipo de debate que os participantes do evento vão encontrar na “Tarde do Analista”.
Pauta inclui valuation, custo de capital das empresas, pronunciamentos contábeis e autorregulação
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Walter, o entusiasta da criatividade Sócio da Cultinvest, analista que virou gestor premiado vem entrelaçando desde a juventude duas grandes paixões: o trabalho no mercado de capitais e o jazz
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stamos em 1978: o jovem analista de investimentos Walter Mendes sai do prédio em que trabalha, no Unibanco, na Praça do Patriarca, centro de São Paulo, atravessa caminhando o Viaduto do Chá e entra sozinho no Theatro Municipal para assistir ao primeiro grande show de jazz dos muitos que verá em sua vida. No palco, nada menos que Dave Brubeck. “Tinha 23 anos e fiquei absolutamente maravilhado. Nunca mais esqueci desta apresentação”, conta Walter, 56 anos, casado, pai de um casal e sócio da Cultinvest Asset Management. Hoje, olhando em retrospectiva, a cena é capaz de resumir de uma ponta à outra da praça as duas grandes paixões da vida de Walter, além da família: o mercado de capitais e o jazz.
Walter, no local preferido da casa, onde costuma ouvir seus discos de jazz: música para ser apreciada como se toma um vinho
Na história dele, essas duas paixões se entrelaçam o tempo todo pelo caminho. Walter, que também integra o Conselho de Supervisão do Analista da Apimec, começou a trabalhar como analista de investimentos no Unibanco, quando cursava a faculdade de Economia na USP. Sete anos depois, virou chefe do departamento de Pesquisa de Investimentos. Foi nesta função que ele começou a perceber que o mercado de capitais brasileiro estava começando a se internacionalizar, principalmente a partir do chamado Anexo 4 (Resolução 1.289/91, do CMN), que disciplinou a criação e administração de carteira de valores mobiliários no país por investidores institucionais constituídos no exterior. Com isso, os estrangeiros começaram a vir para o Brasil e exigir pesquisas mais complexas, sofisticadas, de acordo com o padrão de seus países. No início da década de 90, porém, a pesquisa no Brasil ainda estava começando a ser desenvolvida. “Percebi que precisava ter uma experiência no exterior, trabalhar em instituição estrangeira e conhecer o mercado internacional. Até que surgiu a oportunidade. Fui para a Schroder Investment Management.” A cidade? Nova York, a terra do jazz. E ele aproveitou. “Vi muitos shows que me marcaram, não só de artistas famosos, mas também de músicos que não são tão conhecidos e também são excelentes, o que é muito comum nos Estados Unidos.” Depois de seis meses, em 1994, voltou ao Brasil para presidir a Schroder Investment Management Brasil. Tinha virado gestor. “Um analista pode nunca vir a ser um gestor
de investimentos. Mas todo o gestor é também um analista. E eu nunca deixei de ser”, conta Walter, premiado pela Revista Exame Melhor Gestor de Fundo de Ações brasileiro em 2005, quando era Superintendente de Renda Variável do Itaú Unibanco. “Toda a equipe recebeu este prêmio, não só eu”, ressalta. Ele também é vice-presidente da Associação dos Investidores do Mercado de Capitais (Amec). A sorte de Walter é que, nesta época, o jazz estava em alta no Brasil, principalmente por conta dos Free Jazz Festival, que aconteciam anualmente no Rio e em São Paulo. “Vi shows incríveis de músicos como Miles Davis, Phill Woods, Chick Corea etc.” Ele não sabia, porém, que seria em Londres, para onde o trabalho o levaria a seguir, que viveria o jazz mais intensamente ainda do que em Nova York. “Fui a mais shows, vi artistas como McCoy Tyner, Ernestine Anderson, Airto Moreira e Flora Purin, e conheci muitas casas de jazz de Londres.” Dois anos depois, voltou ao Brasil para liderar, a partir de 2003, a área de Renda Variável do Itaú Unibanco.
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Fotos: Alexandre Tokitaka
Walter e sua coleção de cerca de 4.500 CDs: o trabalho o levou para a terra do jazz
Na época o banco precisava de alguém com experiência em pesquisa, em gestão e na área internacional - tudo o que descrevia exatamente o perfil profissional de Walter. “Foi uma experiência excelente. Havia um potencial enorme para a criação de produtos. Criamos vários na época.” Sete anos depois, Walter começou a sentir vontade de partir para uma espécie de “carreira solo”, mais independente, em uma instituição pequena, com amigos. “Chega uma hora em que você começa a querer ter mais autonomia, ser dono do seu nariz. O trabalho em grandes instituições é desgastante.” Conversando com um velho colega e amigo, Alexandre Zákia, soube que ele estava montando um asset que, entre outros produtos, teria um fundo inédito na América Latina: de vinho. Walter virou sócio de Zákia na Cultinvest, criada em 2010. “Só existem 20 fundos de vinhos em todo o mundo. E o nosso é o único que dá ao investidor a opção de resgatar o investimento em produto físico”, explica. A carteira do Bordeaux Wine Fund é composta por vinhos produzidos pelos 24 châteaux líderes de Bordeaux, na França, exclusivamente de safras com 32
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pontuação “extremamente elevada” do crítico de vinhos norte-americano Robert Parker. “Compramos o vinho em Bordeaux e estocamos em um armazém especializado de lá. Também temos um fundo offshore em Cayman. O fundo do Brasil investe 100% no fundo offshore, que por sua vez compra os vinhos”,
aroma. E o jazz, para quem gosta, é ouvido assim: com atenção, sentindo, apreciando.” A criatividade também liga o jazz ao mercado de ações, na percepção de Walter. “O trabalho de gestor ou de analista é muito criativo. É preciso ter disciplina, metodologia, suor, mas também tem uma ponta de arte na hora de tomar uma decisão: é olhar de um ponto de vista diferente, ter um insight, fazer uma combinação de elementos para chegar a uma conclusão. E a música é criatividade pura - que, no
“Um analista pode nunca vir a ser um gestor de investimentos. Mas todo o gestor é também um analista explica. O resgate em vinhos é restrito aos investidores que aplicam no fundo do exterior. Se o vinho é um ativo de investimento com o qual Walter trabalha, também é a bebida com que costuma apreciar sua coleção de discos de jazz, em geral nos fins de semana, em casa, com amigos e a família. “Se você ouve um ‘rockão’ ou uma música que toca direto no rádio, você toma uma cerveja, pois na verdade nem está sentindo muito o gosto, não presta muita atenção, toma por ser gelada. O vinho não. Para você beber legal, precisa degustar, apreciar, sentir o
jazz, onde há muita improvisação, está presente o tempo todo.” No ano passado, ele uniu as duas atividades que mais gosta ao apresentar, por cinco meses, um programa chamado “Momento Jazz” na rádio Mitsubishi FM, patrocinado pela Cultinvest. A criatividade é o combustível do entusiasmo com que Walter fala no trabalho e no hábito de ouvir sua coleção de cerca de 4.500 CDs na sala de seu apartamento, que fica da zona Oeste de São Paulo, no décimo andar do prédio no qual ele decidiu morar com a família, desde que viu, na fachada, o nome do edifício: Billie Holiday.
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Grande Demais Para Quebrar (Too Big To Fall) é uma beleza de produção, um filme bem marcante, que mostra como se deu a grande crise financeira de 2008. Tem um elenco de grandes atores e é interessante também por tratar de acontecimentos muito recentes em nossa memória” Sandra Peres analista de investimentos
Para quem gosta de curiosidades sobre bastidores, Margin Call - O Dia Antes do Fim é um ótimo filme sobre a evolução, alguns dias antes, da discusão sobre como proceder diante de um cenário de risco em mutação e quais as consequências no dia seguinte. Não deixem de ver!” Persio Nogueira Jr. gestor de investimento
“O livro A Lei das S/A Comentada, de Nelson Eizirik, é indispensável para todos os analistas. Em três volumes, que abrigam os 300 artigos da Lei 6.404/76, o mestre nos brinda com sua escrita clara e objetiva. Suas análises, interpretações e comentários nos ajudam a compreender este “monumento legislativo”, principalmente na parte “dinâmica” das companhias.” Leila Almeida gerente de análise de investimento
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