Mercado de Capitais

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Ano 1 | Número 3 Maio 2012 Publicação da:

Small Caps Mercado de capitais propõe ‘mutirão’ para tirar ações da sombra

Mercado Global Os recursos que ajudam a decifrar a China

Relatórios

gigantes Padrão contábil internacional tornou os balanços trimestrais mais detalhados e abrangentes, inserindo na vida dos analistas o desafio de lidar com uma montanha de informações sem prejudicar o ritmo de trabalho

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Job: 18699-003 sumario.indd 2 -- Empresa: Neogama -- Arquivo: 18699-003-AFM-BRA-An Marcas mais Valiosas 41x27.5_pag001.pdf

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SUMÁRIO

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6 Expediente 7 Carta ao leitor 8 Panorama Global 10 Ações Mercado se une para tentar fazer deslanchar o mercado de small caps

14 Mercado global Foto de Capa: 123RF/ Lane Erickson

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A tática dos estrategistas de grandes instituições financeiras para conseguir enxergar a realidade chinesa através da muralha que protege os dados de sua economia

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18 Capa

Mais detalhados e completos, relatórios trimestrais viram uma montanha de informações a desafiar a agilidade no trabalho dos analistas

23 Política monetária Juros reais atingem menor nível de toda a história. Se esta faixa for mantida por longo período, país pode passar por importante mudança estrutural

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27 Congresso

A sustentabilidade na tomada de decisão de investimentos é destaque no 22º Congresso Apimec, que ocorrerá em agosto

28 Headhunter Christian Klemt, um gestor do equilíbrio

31 Dicas culturais

32 Resenha “Política Monetária: ideias, experiências e evolução”, de José Julio Senna, por Lucy Souza

33 Articulista

convidado Ricardo Tadeu Martins, analista

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EXPEDIENTE

EDITORA

Quadro Diretivo da APIMEC Nacional PRESIDENTE

Lucy Aparecida de Sousa VICE-PRESIDENTE

David Rodolpho Navegantes Neto CONSELHO DIRETOR

Lucy Aparecida de Sousa David Rodolpho Navegantes Neto Alexandre Guimarães - Presidente da Apimec Distrito Federal Célio Fernando Bezerra Melo Presidente da Apimec Nordeste José Domingos Vieira Furtado Presidente da Apimec Minas Gerais Luiz Guilherme Ferreira Dias Presidente da Apimec Rio Marco Antônio dos Santos Martins Presidente da Apimec Sul Reginaldo Ferreira Alexandre Presidente da Apimec São Paulo

DIRETORIAS

JB PÁTRIA EDITORA LTDA. PRESIDENTE Jaime Benutte DIRETOR Iberê Benutte ASSISTENTE DA DIRETORIA Patricia Torre COMERCIAL Otto Bush ADMINISTRATIVO / FINANCEIRO Gabriela S. Nascimento JORNALISTA Kelly Souza

REVISTA MERCADO DE CAPITAIS Publicação mensal da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais CONSELHO EDITORIAL Lucy Sousa, Alessandra Rigos, Alexandre Guimarães, Cristiana Pereira, Francisco Petros, Geraldo Soares, Luiz Roberto Calado, Marco Antônio do Santos Martins, Mauro Cunha, Octavio M. R. de Barros, Ricardo Tadeu Martins PUBLISHER Jaime Benutte EDITORA Maria Alice Rosa PROJETO GRÁFICO E ARTE Belatrix Ltda. DIRETOR DE ARTE Marcelo Paton IMPRESSÃO IBEP Gráfica

Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações, Anatec.

MARKETING & COMUNICAÇÃO

Alessandra Rigos EDUCAÇÃO FINANCEIRA E SUSTENTABILIDADE

Eduardo Werneck RELAÇÕES COM O MERCADO

Antonio Jorge Vasconcelos da Cruz RELAÇÕES INSTITUCIONAIS

Milton Leobons TÉCNICA

Hélio Darwich ADMINISTRATIVA/FINANCEIRA

A Revista Mercado de Capitais é uma publicação da JB Pátria Editora www.patriaeditora.com.br Dúvidas ou sugestões: mercadodecapitais@patriaeditora.com.br Não estão autorizados a falar pela revista, bem como retirar produtos, pessoas que não constem neste expediente e não possuam uma carta de referência assinada pelo presidente.

Marco Antonio de Almeida Panza

Apoio:

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Carta ao leitor

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vantagens de um balanço mais completo, as dificuldades para verificar todas as informações e a inevitável construção de uma maneira diferente de trabalhar, mais de acordo com a realidade atual. Do relatório, o leitor pode “voar” até a om a terceira edição da nossa revista, já podemos ver o quanto

este projeto vem contribuindo para enriquecer a visão que temos de nosso próprio trabalho e do nosso papel no mercado de capitais. Da autorregulacão à certificação internacional, das pressões da rotina dos analistas ao mercado de small caps, vários assuntos da maior relevância para nós compõem a pauta de apenas um trimestre de vida da publicação. Agora, acrescentamos mais uma questão importante no trabalho de qualquer analista: o modelo de apresentação dos relatórios trimestrais. Desta vez, nossa capa mostra como os analistas estão se adaptando ao volume

China para ver como os estrategistas de grandes instituições financeiras fazem para conseguir enxergar a realidade econômica através das barreiras de um regime político completamente fechado. Pode também voltar ao Brasil e perceber que aqui o mercado também ainda está fechado...para as small caps - condição que, se depender dos segmentos envolvidos com este mercado, está com os dias contados. Estes e outros assuntos esperam por você nas próximas páginas. Boa leitura! Lucy Sousa Presidente da APIMEC

do relatório, que em muitos casos chegou a dobrar por conta da adoção do IFRS. Ao buscar esta resposta, descobrimos quais as

Mande suas sugestões e críticas para: mercadodecapitais@apimec.com.br

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PANORAMA GLOBAL

Qualificação afinada

Foto: divulgação/IBGC

Entidades certificadoras do mercado de capitais deram início ao processo de criação de um guia de melhores práticas unificado para seus segmentos. Em abril, na primeira reunião do Comitê Consultivo das Entidades Certificadoras, foi acertado que seus integrantes deverão apresentar suas propostas nos próximos meses para que, no próximo encontro presencial do CCEG, em outubro, comecem a ser definidas as recomendações. O Comitê é formado por Apimec Nacional, IBGC, Abrapp, Anbima, Ancord, Febraban, ITA, IIA Brasil, CFC e BM&FBovespa. Foi criado em novembro, com o objetivo de discutir padrões de qualidade dos processos de certificação profissional, identificar as melhores práticas dos programas de educação continuada e facilitar a troca de experiência entre os segmentos. “Acreditamos que este trabalho terá grande impacto na valorização das certificações dessas entidades e contribuirá para manter elevado o padrão de qualidade das certificações”, diz o secretário do Comitê, Marcos Jacobina, também coordenador do IBGC.

De vento em popa

A repercussão do projeto de um novo Código Comercial brasileiro, que prevê reformas importantes na Lei das S.A., está mais animada no Congresso Nacional do que entre os juristas consultados pelo próprio Fábio Ulhoa Coelho, o autor da proposta.

A compra da Geração pela Plural/Flow e a perspectiva de novas fusões acenderam o sinal amarelo no mercado de trabalho dos analistas. “Talvez já estejamos sentindo o reflexo dessas movimentações’, diz Vinícius Corrêa e Sá, superintendente de Supervisão da Apimec Nacional, argumentando que, nos últimos dois meses, não houve crescimento da base dos analistas credenciados, aqueles que estão autorizados a elaborar relatórios de análises. Dados da Apimec mostram que o número se mantém em 941 desde março, o que é incomum. “De um mês para outro sempre tem um crescimento, ainda que pequeno.” Um outro indício desta situação é o aumento no número de analistas licenciados: de 216, em março, para 226 em abril. “Muitos analistas se licenciam quando a área de research é reduzida”, afirma Corrêa e Sá.

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Foto: Flávio R. Guarnieri

Sinal amarelo

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Foto: Agência Brasil

Parcimônia ou paulada?

O interlocutor de Dilma As reuniões recentes da presidente Dilma Rousseff com o empresariado visam aproximar o governo do setor real da economia, exatamente quando se mexe na área financeira. O interlocutor privilegiado da presidente no momento chama-se Jorge Gerdau.

Muita gente no mercado já ventila a possibilidade de os juros básicos ficarem bem abaixo de 8% até o final do ano. Ironicamente, há quem diga que a palavra “parcimônia”, utilizada na última Ata do Copom para se referir às próximas quedas de juros, pode significar, na prática, uma mega redução, em 30 de maio, de 100 a 150 pontos de uma só vez na taxa básica. Com o risco do PIB abaixo dos 2,7% de 2011, tudo é possível. Parcimônia vira “paulada” nos juros.

Duas mãos Na mesma medida provisória (563), o governo concedeu diversos incentivos fiscais e aumentou as exigências tributárias de algumas empresas. Um dos setores atingidos foi o de exportação de commodities, por meio da nova regulamentação dos preços de transferência. Essa mudança na lei já agitou alguns departamentos de relações com investidores.

Rating brasileiro A Autoridade Europeia dos Mercados de Valores Mobiliários (Esma) aprovou as regras definidas pela CVM na Instrução 521/12, que regula a atividade de classificação de risco de crédito dentro do mercado de valores mobiliários. Com o aval da Esma, as regras brasileiras passam a ser consideradas equivalentes às da União Europeia e podem ser utilizadas pelas instituições da Europa.

Ex-LAC A Receita Federal parece ter abandonado a ideia da criação do Livro de Ajuste da Convergência (LAC), que iria substituir o Regime Tributário de Transição (RTT), instituído para para fazer a transição da legislação do imposto de renda para o padrão IFRS.

Altíssima frequência

84%

das operações em bolsas de valores nos Estados Unidos já são feitas pelo sistema de alta frequência, segundo dados do Morgan Stanley divulgados pelo Financial Times

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AÇÕES

Todos pelas

Foto: Fotolia

pequenas

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Depois do convênio para estimular a cobertura de análise, surgem mais propostas nos segmentos ligados às small caps para tentar vencer o desafio de fazer deslanchar o mercado

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É

como se várias pessoas, cada uma vinda de um segmento de mercado de capitais, estivessem na mesma sala, mas as conversas só ocorressem entre pequenos grupos, não entre todos. Até que decidem falar ao microfone. E descobrem que estavam todos buscando soluções para o mesmo problema, mas isoladamente, com pouca chance de resultado. A comunicação, no entanto, permitiu unir as pontas e, agora, o que parecia ser um desafio específico de cada segmento, virou uma espécie de “mutirão” em boa parte do mercado.

mercado de small caps no Brasil. “Este será o ano da virada para as small caps”, concluiu, depois do seminário, a diretora de Relacionamento com Empresas e Institucionais da BM&FBovespa, Cristiana Pereira. As condições para o crescimento não poderiam ser mais favoráveis. O mercado de capitais apresenta uma liquidez robusta, a taxa de juros está em seu menor nível histórico e deve estimular a ida de grandes instituições, como os fundos de pensão, para a bolsa de valores. “É agora ou nunca porque condições melhores do que as que temos hoje será difícil conseguir de novo”, disse o presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), Luiz Fernando Rolla. Eles sabem, porém, que a tarefa não será fácil. Os fundos

Luiz Fernando Rolla, do Ibri: “Condições melhores do que as que temos hoje (para desenvolver o mercado de small caps) será difícil conseguir de novo”

de ações small caps, que investem em pequenas e médias empresa, começaram bem este ano, liderando em rentabilidade na bolsa - no primeiro trimestre, bateram em 14,55%, enquanto o Ibovespa fechou o período acumulando 13,67%. Em relação ao desempenho anual, o Índice Small caps acusou queda menor que o Ibovespa no ano passado (-16,63%, ante -18,11%) e foi superior em valorização em 2009 e 2010. Mas não é para estes ativos que os investidores estão olhando. Na verdade, mesmo que quisessem, eles não conseguiriam enxergar estas ações. Jogar luz sobre elas, concluíram os participantes do seminário, não depende de uma ou duas ações, mas uma série de medidas em todos os segmentos. O convênio Apimec/ BM&FBovespa, por exemplo, vai estimular a produção de relatórios de análise por instituições independentes, com a bolsa financiando a cobertura durante dois anos para as companhias listadas no Bovespa Mais e a Apimec desempenhando a função de gestora e fiscalizadora do processo. As small caps que não estão no Bovespa Mais terão o apoio e a intermediação da Apimec, mas precisarão financiar os próprios relatórios. “A ideia é boa, mas poderia ser reconfigurada. Em vez de a empresa que não está no Bovespa Mais financiar todo o relatório, um custo pesado para Mecado de capitais

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Foto: Flávio R. Guarnieri

Esta situação resume o que significou o encontro entre analistas, corretores, companhias abertas de média e pequena liquidez, representantes de Relações com Investidores e da BM&FBovespa no seminário “Empresas Small Caps - A busca da liquidez”, realizado em abril pela bolsa e a Apimec em São Paulo. O evento, promovido para divulgar recente convênio entre as duas entidades, se transformou no início de uma ação conjunta para tentar vencer o desafio de fazer deslanchar o

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Alexandra de Hann, da IdeiasNet, quer eventos em que empresas como Petrobras e Vale não roubem a atenção dos potenciais investidores de small caps

uma small cap, talvez fosse melhor pagar uma mensalidade e a Apimec gerenciar a cobertura”, sugeriu Alexandra de Hann, CFO da IdeiasNet. Para o mercado, relatórios de análise são importantes, mas, sozinhos, seriam insuficientes para tornar as empresas conhecidas. É preciso também tornar frequente a realização de eventos para debater sobre o mercado de small caps e também para apresentar empresas do segmento no Brasil e no exterior. Alexandra conta que esteve recentemente no Chile e percebeu que os investidores querem investir nesta área no Brasil, mas não conhecem as empresas. “Não temos um evento organizado só para as small e mid caps no Brasil - ‘em que Vale e Petrobras estejam excluídas’, brincou - para atrair fundos estrangeiros. Sem isso, fica muito difícil a gente se apresentar ao mercado lá fora. Somos pequenos, não somos conhecidos, não estamos no Financial Times ou no Wall Street Journal o tempo todo. Este é um esforço que pode ser feito”, afirmou Alexandra. A proposta foi plenamente aceita. BM&FBovespa, Apimec e 12

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Ibri se comprometeram a incluir o tema small caps em sua agenda de eventos para este ano. Lucy Sousa, a presidente da Apimec Nacional, disse que o segmento passará a integrar o Brazil Day, ocasião em que companhias nacionais são apresentadas para investidores norte-americanos. Realizado a cada dois anos em Nova York, o Brazil Day terá sua 6ª edição em outubro. Ela também anunciou durante o evento que a Apimec vai criar a categoria “small cap” em seu prêmio anual para as companhias abertas. A bolsa também quer mais eventos. “Já vínhamos estudando uma maneira de utilizar a estrutura da bolsa para reunir empresas do segmento e

apresentá-las aos investidores no Brasil e também no exterior. Fora do Brasil talvez seja um pouco mais desafiador, mas aqui nós pretendemos fazer”, disse Cristiana. Outra ideia que a diretora da bolsa considerou plenamente exequível e prometeu estudar com atenção foi a de inserir no site da BM&FBovespa um podcast dedicado à apresentação de empresas de menor liquidez aos investidores. Até os relatórios de análise destinados à cobertura de blue chips podem ajudar a impulsionar a expansão do segmento de baixa liquidez. Doris Wilhelm, diretora de Relações com Investidores da Forjas Taurus e integrante do Conselho de Administração do Ibri, propôs que os relatórios passem a conter uma espécie de “short report”, um destaque dedicado a indicar oportunidades do mercado de small caps. “Seria um relatório curto, mas pelo menos colocaria a empresa no radar dos investidores”, afirma. Ricardo Tadeu Martins,

Clodoir Vieira, da Souza Barros: reuniões semanais para apresentar small caps aos clientes

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coordenador do Comitê Consultivo do Analista da Apimec, disse que pretende levar a ideia para o CCA. “É uma sugestão muito bem-vinda porque às vezes o profissional não tem tempo para fazer uma análise aprofundada, mas pode perceber uma boa oportunidade e indicar”, disse Martins. Se depender dos primeiros resultados deste ano, 2012 poderá render muitos destaques. “Acreditamos que as small caps tenham hoje um bom espaço para crescer e estamos acompanhando este mercado bem de perto”, diz Clodoir Vieira, analista de investimentos da Souza Barros. Segundo ele, a corretora tem desenvolvido um trabalho específico com profissionais de RI de pequenas empresas. “A cada semana, convidamos um diretor para apresentar sua empresa aos nossos clientes”, explica. Este mutirão para tirar da sombra as small caps passa também pela valorização dos profissionais de Relações com Investidores no segmento. Segundo o presidente do Conselho Administrativo do Ibri, toda a empresa é obrigada a ter um profissional de RI, mas na maioria das small caps a função é exercida junto com outra - quem responde por ela, por exemplo, é o diretor financeiro. “Falta uma estrutura de RI, um profissional para se comunicar com o mercado por meio de um trabalho amplo, que envolva divulgação das informações, presença em conferência, realização de encontros com analistas. Enfim, que faça parte do planejamento estratégico da empresa”, afirma Rolla. Não adianta, segundo ele, o mercado crescer e a empresa ter

Doris Wilhelm, da Forjas Taurus: ideia para colocar as pequenas empresas “no radar dos investidores”

uma boa visibilidade se não houver um profissional preparado para aproveitar da melhor maneira a oportunidade. Neste caso, como na produção de relatórios de análises, no trabalho sistemático de divulgação da companhia ou para mantê-la listada na bolsa, um dos principais entraves citados pelas companhias de pequeno porte é o custo. “Estamos muito focados nesta questão. No caso do custo das transações, não sei se operacionalmente seria simples, mas é claro que a questão sempre pode ser avaliada. Em relação aos relatórios, temos o convênio. O que importa é que estamos na primeira de muitas discussões para criar um ambiente que permita melhores condições”, disse Cristiana. Os custos, no entanto, não dizem tudo quando o assunto é a resistência das próprias small caps para desempenhar também o seu papel nesta espécie de mutirão para reforçar a própria liquidez. Isso porque muitas companhias querem atrair investidores, mas não querem ficar totalmente expostas a eles. “As empresas não se sentem confortáveis quando o relatório tem tons negativos. E não é preciso nem indicar venda. Só com a recomendação de manutenção a empresa

já se sente mal”, afirma o analista autônomo Bernardo Carneiro. Sem se expor, porém, volta-se ao “dilema de Tostines”, como costuma definir Cristiana: a empresa não tem liquidez porque o investidor não a conhece, e o investidor não a conhece porque ela não tem liquidez. Para o presidente do Conselho de Administração do IIbri, é necessário que o mercado perceba que hoje o financiamento das empresas não é mais como no passado. “Antigamente, a empresa ia ao banco, que fazia uma análise de crédito e liberava o financiamento. Estava resolvida a questão. Hoje, os recursos precisam ser buscados no mercado de capitais. E quem está à frente deste trabalho é o RI”, afirma. “No final das contas, o que estamos tentando é desenvolver o mercado para que as empresas possam se financiar e aproveitar as oportunidades que virão.” MeRcado de capitais

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MERCADO GLOBAL

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enigma

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Foto: 123RF

Decifrar os dados que podem indicar os rumos da economia do país asiático exige uma leitura específica, que se tornou um pouco mais desafiadora com os recentes sinais de desaceleração

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s olhos do mundo inteiro estão voltados para a China. Enquanto a economia da Europa enfrenta sua pior crise em décadas e os Estados Unidos ainda ensaiam uma recuperação, o gigante asiático segue firme na rota que promete transformá-lo na locomotiva da economia global. A velocidade, porém, já não é a de um trem-bala. A máquina chinesa começa a dar sinais cada vez mais claros de que o tempo de taxas anuais de crescimento de dois dígitos ficou para trás. Neste ano, as previsões apontam para um crescimento entre 8% e 8,5% do PIB, um ritmo forte, mas muito menos exuberante. Esta revisão de expectativas só reforça o que, para os estrategistas financeiros e analistas de mercado de capitais, sempre foi um grande desafio: decifrar o enigma chinês. dos países tem o mesmo peso em mandarim. “Os resultados de vendas de automóveis, por exemplo, ajudam a medir o aquecimento da economia chinesa melhor do que os números do PIB, já que são fornecidos pelas empresas e não pelo governo”, diz Cristian Souza, economista sênior do Banco Santander. Já o balanço de comércio exterior de outros países permite checar os números chineses. “Você confere os dados de exportação da China para os Estados Unidos, por exemplo, pelos

Lóes, do HSBC : “Ter um analista lá faz com que eu consiga trabalhar, do Brasil, com dados obtidos em primeira mão”

Fotos: divulgação

Uma das principais barreiras para analisar a situação da China é o fato de a segunda maior economia do mundo ter um regime político fechado, com dados macroeconômicos pouco confiáveis. Tentar romper este bloqueio envolve uma série de medidas que vão desde um mapeamento estrutural específico até um olhar diferenciado em relação aos dados econômicos. No aspecto estrutural, muitas instituições, principalmente as internacionais, consideram fundamental ter profissionais trabalhando na região. “Temos alguns dos melhores analistas da Ásia e isso nos dá uma vantagem interessante, porque eles estão em contato direto com as empresas chinesas. Vou pelo menos uma vez ao ano para lá”, conta Rodrigo Barros, analista do setor de mineração do Deutsche Bank no Brasil. “Ter um analista lá faz com que eu, estando aqui no Brasil, consiga trabalhar com dados obtidos em primeira mão”, explica o economista-chefe do HSBC para a América Latina, André Lóes. Na hora de analisar as informações, nem sempre um indicador importante na maioria

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Foto: Sérgio Zacchi

números de importação registrados no mercado norte-americano. O resto não tem muito como confiar, se você não tiver acesso direto à informação”, diz Barros, do Deutsche, considera a China uma variável imprescindível no setor que acompanha, a mineração, e diz que não há uma fórmula mágica para decifrar os sinais emitidos pelo país. “De um modo geral, procuro não olhar apenas os fatores voláteis, dando mais peso aos indicadores que podem afetar o cenário de longo prazo”, diz. Uma das variáveis mais difíceis do cenário chinês é a política, com seu processo sucessório pouco transparente. Recentemente, Bo Xilai, secretário do Partido Comunista de Chongqing e uma estrela ascendente da política no país, foi destituído do cargo e preso, acusado de corrupção, na crise política mais grave ocorrida na China nos últimos 20 anos. Bo era

prazo, a economia chinesa está entrando em um novo ciclo. Segundo ele, é um momento de transição delicado, em que o país deixa de priorizar a exportação e a moeda depreciada para estimular o mercado doméstico, em razão da necessidade de aumentar a inclusão social, reduzindo a poupança

Desaceleração deve se manter suave, em cenário de pressão Inflacionária apontado como um dos favoritos para chegar ao posto de secretáriogeral do PC chinês e considerado um adversário do grupo que vem controlando o país nos últimos anos. “Sendo um país fechado, esses fatores políticos têm ainda mais importância, mas prefiro não comentar detalhes. Por enquanto, essa mudança no quadro político não teve influência na economia”, diz Lóes. Para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, independentemente das tensões políticas ou dos fatores de curto 16

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interna e aumentando o consumo. “Não vai ser uma mudança abrupta, mas de longo prazo”, diz. O processo, no entanto, não é simples, uma vez que o país terá de enfrentar novas dificuldades, como as pressões da inflação e da demanda interna. “Tudo isso leva a crer que teremos uma fase mais moderada de crescimento no país”, diz o estrategista do Bradesco. Ao mesmo tempo, estimular o consumo será outro

Souza, do Santander: dados sobre vendas de automóveis ajudam mais nas análises do que o PIB

grande desafio. “O chinês não poupa porque quer, mas porque precisa, uma vez que o país não tem rede de proteção social. É preciso criar essa rede para que a mudança dê certo”, diz ele. O risco de que esta desaceleracão ocorra de maneira brusca é considerado muito pouco provável. Para Artur Passos, economista da equipe de análise macroeconômica do Itaú-Unibanco, o pouso será suave, com o crescimento do PIB passando de 10,4%, em 2010, para 9,2%, em 2011, e chegando a 8% em 2012 e 2013, com boa parte desta dosagem de desaquecimento induzida pelo próprio governo chinês. No entanto, o “pouco provável” não chega a ser um “impossível”. Se a retirada de estímulos ao crescimento econômico tiver

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impacto maior que o planejado, há meios de o governo compensar este efeito com medidas fiscais e monetárias, “de modo que a China só deve crescer abaixo de suas metas de crescimento (7,5% para 2012 ) em caso de uma recessão global”, avalia Passos. De qualquer maneira, o impacto desse freio suave já pode ser sentido no Brasil. Um dos sinais está na queda de preço das commodities, que representam cerca de 80% de toda a exportação brasileira para a China e cerca de 60% das vendas externas totais. “Por causa das previsões sobre a China, o índice de preços das commodities recuou 2% em março”, diz Souza, do Santander. “Outro efeito é sobre o câmbio: esse comportamento das commodities levou o dólar para R$ 1,80 e estabeleceu um novo patamar cambial”, diz. Os setores de mineração e empresas de logística ligadas às exportações também estão entre os que sentiram a desaceleração chinesa. “Mas cabe ressaltar que a participação das exportações no PIB brasileiro não é grande (cerca de 10% do PIB) e a economia brasileira é muito diversificada, de modo que é possível absorver uma desaceleração externa”, analisa Passos, do Itaú Unibanco. “Mantidas as demais variáveis, uma desaceleração de dois pontos percentuais na China representaria uma perda de 0,5 ponto no crescimento do PIB brasileiro”, estima Lóes, do HSBC,

Rodrigo Barros, Deutsche: processo de urbanização chinesa pode favorecer setor de mineração

para quem, mais que o Brasil, o desaquecimento do gigante asiático deve afetar vizinhos como a Argentina, o Chile e o Peru; e menos o México, que é mais ligado aos Estados Unidos. Rodrigo Barros, do Deutsche, vê perspectiva mais otimista em relação à influência da China no setor de mineração. “Apesar das oscilações de curto prazo, acreditamos que o processo de urbanização da China vai continuar.” Ele calcula que, se o consumo per capita de aço na China chegar ao mesmo nível

eles não estão mais interessados em acumular dólares e se tornaram agressivos investidores internacionais”, diz. O fenômeno não teria a ver apenas com a necessidade de garantir insumos. “Eles querem diversificar os ativos, para não depender tanto dos títulos do Tesouro americano, e estão

Novas previsões sobre a China causaram queda no preço das commodities no Brasil dos Estados Unidos, será de 600 quilos por pessoa nos próximos 15 anos, “o suficiente para manter a demanda por minério de ferro em alta, de forma sustentável, por duas décadas.” Octávio de Barros, por outro lado, observa que, mais do que a China exportadora, os analistas brasileiros terão de ficar cada dia mais atentos à China investidora. “Com US$ 3 trilhões em reservas,

investindo também em outras áreas, com interesses até no setor financeiro”, afirma. “É uma evolução natural: à medida que um grande país exportador fica mais rico, fica mais caro produzir nele e as empresas acabam procurando alternativas no exterior”, diz Lóes, do HSBC. Para ele, isso levará a China a investir não apenas nos setores de commodities, mas também em indústrias. “É possível que eles usem o México como plataforma para exportar para os Estados Unidos, por conta do Nafta.” No Brasil, esses investimentos industriais seriam voltados para atender o mercado doméstico. “O câmbio não ajuda, a carga trabalhista é alta e temos uma economia fechada e pouco competitiva para isso. Aqui, o investimento chinês será concentrado nas commodities e na infraestrutura para escoar essa produção”, prevê. Mercado de Capitais

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Pesadelo

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Mais informações, dados detalhados e longas notas explicativas deram aos relatórios trimestrais uma amplitude muito maior, mas também transformaram os balanços em uma montanha de papel quase invencível para o analista

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s relatórios trimestrais das empresas estão mais encorpados a cada dia. A mudança no padrão contábil utilizado pelas empresas brasileiras fez com que esses relatórios ficassem bem mais detalhados e abrangentes, com uma quantidade muito maior de dados, informações e longas notas explicativas. Há casos em que o tamanho dos balanços financeiros ultrapassa 100 páginas. Se hoje o analista conta com um diagnóstico muito mais completo e aprofundado das companhias, também se vê a cada trimestre diante de uma espécie de montanha de papel quase invencível em sua rotina já bastante atribulada.

Só por conta da adoção do padrão contábil internacional, o IFRS (International Financial Reporting Standards), instituído pela Lei 11.638/07 para dar uniformidade e mais transparência às demonstrações financeiras das empresas brasileiras, os relatórios dobraram de tamanho, segundo Ricardo Florence, presidente executivo do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri). Tanto quanto as empresas brasileiras ainda experimentam um período de adaptação ao IFRS, os analistas também

buscam meios de trabalhar com a nova realidade dos relatórios sem subtrair o tempo que precisa ser dedicado às demais tarefas diárias. Para fazer o trabalho bemfeito, dependendo da urgência, pode ser necessário levar o material para a casa, pois nem sempre o horário do expediente é suficiente. “Para fazer a análise você precisa estudar muito e, se tiver de soltar o material rapidamente, pode precisar trabalhar de noite ou no fim de semana”, diz Pedro Galdi, estrategista-chefe da Mercado de capitais

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SLW, em São Paulo. Ele disse que nunca precisou passar por esta situação, mas já teve de conferir o resultado de empresas em casa. “Antes, conseguir informações como custos de produção era um inferno. Por outro lado, os relatórios viraram um monstrinho de papel em cima da nossa mesa”, diz. No entanto, pesquisar a fundo os detalhes desses demonstrativos vai depender muito do tamanho das equipes de analistas. “Está tudo lá, só que equipes mais enxutas podem ser obrigadas a se ater ao básico. Afinal, você não pode 20

Sandra Peres, da Coinvalores: “O tempo que perco agora procurando números no relatório eu perdia antes, correndo atrás deles nas empresas”

parar o atendimento a um cliente para ficar lendo balanços.” Para Leila de Almeida, analista da consultoria Lopes Filho, no Rio de Janeiro, embora os novos relatórios tenham trazido mais abertura e rigor em relação aos dados, ainda não cumprem totalmente a sua função. Segundo a analista, mesmo quando não causa problemas tão extremos, o exagero de informação nos reportes provoca perda de tempo. “Muitas notas explicativas não explicam nada e somos obrigados a ligar para a empresa, para pedir uma ‘explicação da explicação’”, diz. Ela critica também o formato escolhido pela CVM para disponibilizar os relatórios. “É difícil de imprimir o material, que muitas vezes sai espelhado, e a janela de textos é pequena demais para

Fotos: Flávio R. Guarnieri

“Muitas notas explicativas não explicam nada”

se ler diretamente na tela do computador”, diz Leila. Diante do grande volume de páginas, muitos profissionais usam os releases das empresas como instrumento de apoio. “No primeiro momento, para apresentar o resultado aos investidores imediatamente, de um modo mais simples, o release dá conta do recado”, afirma Galdi. “Depois é preciso ler o relatório para aprofundar a análise.” Mathias Dietrich, diretor de análise da corretora Solidus, de Porto Alegre, conta que usa bem mais o release do que o relatório. “Como temos um viés de investimentos de mais longo prazo, isso não faz tanta diferença para nós, pois boa parte dos dados dos relatórios de grandes empresas se repete a cada três meses, então recorremos a eles quando

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Fernandes, advogado especialista em IFRS: “É como bula de remédio. Você lê todos aqueles efeitos colaterais terríveis e pensa: meu médico nunca me disse isso!”

achamos necessário”, diz. Dietrich admite que o release pode ser usado para fazer marketing da companhia, ao destacar apenas os resultados positivos, omitindo os problemas, mas diz que cabe ao analista filtrar as informações e detectar quando isso ocorre. “Se a empresa diz que está tudo maravilhoso e os números só pioram, é hora de buscar as informações que não estão escritas ali”, recomenda. Nem todas as empresas e todos setores tiveram de alterar a apresentação de seus relatórios. Companhias com atuação no mercado global já trabalhavam com o padrão contábil internacional, por exemplo. “Empresas que tinham muitas coligadas já apresentavam relatórios bastante grandes”, diz Sandra Peres, analista de consumo da Coinvalores, em São Paulo. Já no setor de alimentos os relatórios aumentaram. Sandra cita o caso da precificação de ativos biológicos, que passou a ser obrigatória. “Isso é uma informação bastante útil, que antes era mais difícil de obter.” No fim, afirma ela, o jogo acaba zero a zero. “O tempo que perco agora procurando números

no relatório eu perdia antes, correndo atrás deles diretamente nas empresas.” Um outro efeito do excesso de informações é que ele aumenta a possibilidade de divergências entre empresas e analistas. Quanto maiores forem os relatórios e as notas explicativas, maior será a possibilidade de interpretações que levem a mal-entendidos. Para Alexandre Montes, analista de setor energético da Lopes Filho, a própria adoção do IFRS é questionável na área de energia, se consideradas as peculiaridades do segmento. Os critérios, segundo ele, não funcionam bem num mercado tão estritamente regulado. Entre outras modificações introduzidas no balanço das empresas, o novo padrão contábil acabou, por exemplo, com os antigos ativos e passivos regulatórios,

“Você não pode parar o atendimento a um cliente para ficar lendo balanços”

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“Agora o foco vai deixar de ser a quantidade e passar a ser a qualidade”

que englobavam as perdas e ganhos provocados por custos não gerenciáveis - os causados por fatores externos ao controle da empresa. Antes, esses valores eram lançados à parte, em uma conta especial, e só eram absorvidos no balanço financeiro no exercício seguinte. Agora, precisam ser lançados imediatamente. “Isso provoca muita volatilidade e pode criar lucros ou prejuízos ilusórios, transformando o balanço em peça de ficção. O analista precisa redobrar sua atenção”, alerta. Além disso, muitos relatórios trimestrais repetem boa parte dos dados contidos nos balanços anuais, que muitas vezes são pouco relevantes para a análise do trimestre. “As informações ficam poluídas pelo excesso”, critica o advogado Edison Fernandes, sócio do escritório Fernandes, Figueiredo Advogados e especialista em 22

Pedro Galdi, da SLW: “Os relatórios viraram um ‘monstrinho de papel’ em cima da nossa mesa”

IFRS. O advogado acredita que ao menos uma parte desse tsunami informativo seja devida aos auditores e aos departamentos jurídicos das empresas, que, na ânsia de dar todas as informações que a lei exige, acabam colocando tudo. “É como bula de remédio, que também parece que foi escrita pelo departamento jurídico. Você lê todos aqueles efeitos colaterais terríveis e pensa: meu médico nunca me disse isso!”, compara. Para Ricardo Florence, presidente executivo do Instituto Brasileiro de Relações com os Investidores, Ibri, apesar dos eventuais exageros, o IFRS foi extremamente importante para a padronização da linguagem

contábil entre as empresas brasileiras de capital aberto e para melhorar a qualidade da governança corporativa. Agora, a implantação do padrão contábil internacional entra em uma nova fase. “O foco deixa de ser a quantidade e passa a ser a qualidade da informação. Nós, do setor de RI, somos o elo que traduz para nossos acionistas o que o mercado quer ouvir”, afirma. Essa nova etapa passa por encontrar o ponto de equilíbrio entre a transparência e a concisão. “O próprio mercado é o agente regulador que vai dizer qual é o formato mais adequado para transmitir de modo simples e inteligente os dados que ele deseja”, resume Florence.

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POLÍTICA MONETÁRIA

Agora

vai?

Juros reais atingem mínimo histórico e obrigam bancos e empresas a reverem estratégias para se adaptar a uma nova realidade, que pode valer por uma reforma estrutural

A

economia brasileira ostenta atualmente a menor taxa de juros reais de toda a sua história. Se, em média, os juros básicos menos a inflação chegaram a mais de 11% ao ano no primeiro mandato do presidente Lula, agora as taxas giram entre 3% e 4%. A queda muda a perspectiva de bancos, empresas e investidores de longo prazo e leva a economia brasileira a um novo cenário: investimentos como a renda fixa tradicional perdem fôlego e outros, como renda variável e títulos de crédito privado, ganham destaque. Ao mesmo tempo, trata-se de uma oportunidade de ouro de levar as taxas de juros praticadas no Brasil ao nível internacional. Por isso, os economistas consideram o momento de extrema importância para o país. “Se o nível dos juros reais for sustentável por um longo período de tempo, teremos o equivalente a uma grande reforma estrutural”, diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Mecado de Capitais

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Octavio de Barros, do Bradesco: “Não estamos vivendo tempos normais: nas economias maduras, os juros reais estão negativos e nem por isso a atividade econômica acelerou”

Foto: Divulgação/Bradesco

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Uma série de fatores conjunturais contribui para que os juros reais no país se encontrem tão baixos. Um deles é o forte desaquecimento da economia internacional, que ajuda a diminuir a pressão inflacionária. Num cenário como esse, as taxas baixas não fazem o mesmo efeito que antes. “Não estamos vivendo tempos normais: nas economias maduras, os juros reais estão negativos e nem por isso a atividade econômica acelerou por lá”, observa Barros. Naturalmente, há diferenças entre o Brasil e os países desenvolvidos. Especialmente no que se refere à demanda, que por aqui continua forte, ao contrário do que se vê hoje na Europa e nos Estados Unidos. Ainda assim, no front interno, uma certa desaceleração da economia local contribui para tornar sustentável a queda dos juros reais. “Os fatores que afetam o crescimento no Brasil hoje estão muito mais ligados à dinâmica da indústria internacional do que aos juros”, afirma Barros. Assim, diante da crise internacional e de sua própria dinâmica interna, o Brasil pode 24

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fazer com que os juros reais convirjam definitivamente para um patamar mais baixo, como Polônia, Chile e México já fizeram em tempo de turbulência. Além disso, juros mais baixos podem atender uma necessidade do mercado. Hoje, o país conta com um mercado de crédito mais robusto, que cresceu nos últimos anos oferecendo prazos de financiamento mais longos, num cenário de juros e spreads elevados. Isso, no entanto, precisa mudar, para que o segmento continue a crescer. “Agora que o volume de crédito chega perto dos 50% do PIB, o endividamento das famílias inviabiliza a continuidade dos juros elevados”, observa Carlos Kawall, economista-chefe do banco de investimento J.Safra. Na prática, a primeira vítima da queda nos juros reais são os investimentos de baixo risco, como fundos atrelados ao CDI, que durante anos garantiram rentabilidade suficiente para investidores de longo prazo, caso dos fundos de pensão. Agora, com prêmios cada vez menores na renda fixa tradicional, a tarefa ficou muito mais difícil. Com isso, a maioria das entidades de previdência complementar procura alternativas para cumprir suas metas atuariais, diversificando investimentos. Para Roberto Teixeira de Carvalho,

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Foto: Fabio Pozzebom/ABr

membro da Comissão Técnica Nacional de Investimentos da Abrapp, o novo cenário pode levar a um aquecimento imediato da economia real e, consequentemente, a uma elevação geral no preço dos ativos, com impacto positivo para as ações na bolsa. No entanto, os economistas alertam que não se deve esperar um novo momento de euforia no mercado de capitais. É que embora os juros mais baixos sejam favoráveis à renda variável, a relação riscoretorno não é positiva neste momento. “Nos Estados Unidos, os juros caíram a zero e nem por isso a bolsa retomou o patamar de 2007”, alerta Kawall.

Economistas alertam: não se deve esperar um novo momento de euforia no mercado de capitais Luiz Fernando Figueiredo, economistachefe da Mauá Sekular, explica que a resposta do mercado de ações aos juros baixos deve ser moderada por causa do ritmo de crescimento da economia: “As empresas não estão dando muito retorno em suas margens”, diz. Ele destaca, no entanto, que o admirável mundo novo dos juros baixos traz boas oportunidades em outras classes de ativos, como investimentos de renda fixa pré-fixados, com prazos mais longos, ativos de crédito e imóveis. Um dos investimentos que deve ganhar forte impulso com o novo cenário da economia são as emissões de títulos de crédito privado. “Com juros em baixa, as empresas são motivadas

a abrir seu capital ou a emitir títulos de dívida, com foco em expansão de suas atividades”, explica Carvalho. O próprio governo brasileiro estimula o uso desse instrumento financeiro ao isentar de impostos fundos ligados a setores que considera estratégicos, como o de infraestrutura. O mercado de títulos privados é especialmente benéfico para as empresas brasileiras que não tinham acesso a financiamento no mercado externo. “Para as empresas que dependem do mercado externo e captavam recursos no exterior, a queda dos juros não faz tanta diferença”, diz Kawall. Para que essas projeções se concretizem e o Brasil realmente consolide um patamar mais baixo de juros reais, os investimentos precisam

Carlos Kawall, do J. Safra: “Endividamento das famílias inviabiliza a continuidade dos juros elevados”

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A Queda - Selic real média (IPCA) 1999-2014 2º governo FHC

1º governo Lula

2º governo Lula

1º ano governo Dilma

Governo Dilma (*)

12 11 10

11,27%

9 8 7 6

8,73%

4,95%

5 4 3

5,67%

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3% a 4%

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(*) Média estimada | Fonte: Bloomberg, Bradesco

“Economia deve voar baixo por um período relativamente longo”, diz Figueiredo, da Mauá Sekular

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acompanhar as flutuações da demanda e do consumo. Um aquecimento na atividade industrial, que reduza os estoques das empresas, acompanhado de um quadro de recuperação global, também poderia fazer com que os juros baixos voltassem a exercer pressão inflacionária, obrigando o BC a interromper a trajetória de queda da Selic. No entanto, os economistas não consideram esse cenário provável no curto prazo. “A economia deve voar baixo por um período relativamente longo”, prevê Figueiredo. Isso pode levar o Brasil a sustentar por bastante tempo um nível baixo de juros neutros, aqueles que não provocam inflação ou deflação na economia. “O nível de juros neutros para a economia brasileira vinha sendo de 5,5% de juros reais, mas todos esses fatores externos trouxeram esse patamar para 2% a 3%. Nesse

ambiente é possível manter baixos os juros reais por mais tempo.” Ainda mais depois que outro obstáculo para uma redução ainda maior dos juros reais caiu recentemente, com a mudança na fórmula de remuneração da poupança, que passa a corresponder a um percentual da taxa Selic para os novos depósitos, em vez do rendimento anual de TR + 6,17% ao ano. Para os especialistas, essa reforma tira um limitador para novos cortes da taxa básica. “Faz todo sentido. O redutor do rendimento vai impedir uma fuga de recursos dos fundos de investimento para a caderneta. Isso mantém a estabilidade dos fluxos do mercado, mesmo em caso de quedas ainda maiores na Selic”, avalia Kawall. O economista, no entanto, observa que a medida tem muito pouco efeito sobre os spreads bancários. “A queda do spread depende de outros fatores, como a melhoria das garantias de crédito e de uma mudança na tributação, entre outras medidas. Mas o fato é que o tema ganhou importância política e vai continuar na agenda do país”, conclui.

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22º CONGRESSO APIMEC

Um dos destaques do evento que será realizado em agosto na capital paulista é o painel em que especialistas vão discutir como integrar a questão ambiental às análises de investimentos

Lucro sustentável

A

ssunto imprescindível em qualquer debate sobre o futuro, a questão da sustentabilidade ambiental terá um painel exclusivo no 22º Congresso Nacional da Apimec, que será realizado em São Paulo nos dias 30 e 31 de agosto. “Incorporando a Sustentabilidade na Decisão de Investimentos”, o título do painel, reunirá especialistas como Marcela Zonis, gerente da rede brasileira do PRI (Princípios para o Investimento Responsável ), uma iniciativa das Nações Unidas em parceria com investidores institucionais para estimular a integração de temas ambientais, sociais e de governança corporativa nas tomadas de decisão de investimento e gestão. “Ainda há muitos analistas de investimentos que não sabem da importância do business nessas questões (ambientais, sociais e de governança)”, afirma Marcela. “O que queremos é mostrar o link entre esses aspectos, o retorno financeiro, e como é muito mais simples do que parece integrar isso à tomada de decisão de investimentos”, diz. Ela diz que, se o analista percebe esta ligação, ele passa a fazer toda a diferença na hora de cobrar melhorias na empresa. “Hoje alguns analistas já fazem isso, mas ainda não é o mainstream.” Ela diz que não existe um estudo capaz de mensurar o impacto exclusivo da questão ambiental no comportamento das aplicações, argumentando que esta ligação muda conforme o segmento. Em alguns casos, o histórico do preço das ações deixa o vínculo evidente, diz ela, citando o caso do vazamento de uma plataforma operada pela British Petroleum no Golfo do México em 2010. “O que falta

é know-how para que os analistas consigam identificar os fatores que envolvem cada setor e integrá-los às suas análises.” Aos que consideram ainda muito vaga a ligacão entre sustentabilidade ambiental e retorno financeiro, Marcela argumenta que o que está acontecendo no mundo inteiro é exatamente a busca de uma espécie de “metodologia” padrão para quantificar este impacto. O mais importante, diz ela, é que não há mais dúvidas em relação a este vínculo. “O movimento de investimento responsável é global, cada vez há mais ferramentas para quantificar o impacto da sustentabilidade nos negócios e, portanto, considerá-lo na análise de investimentos. Não dá mais para usar a desculpa de que esse aspecto é vago.” Ela pretende comprovar a tese apresentando casos concretos no Congresso. “Vamos mostrar que isso não é uma questão de ambientalistas, de sonhadores, mas sim uma questão de negócios.”

“Cada vez há mais ferramentas para quantificar o impacto da sustentabilidade nos negócios. Não dá mais para usar a desculpa de que esse aspecto é vago”, diz Marcela

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Christian, equilíbrio um gestor do

Fotos: Valmoci Vasconcelos

Ao combinar a rotina de trabalho à prática de corrida de rua, o analista que hoje é administrador de carteiras na Solidus encontrou a fórmula para neutralizar o estresse e fazer um investimento de longo prazo na própria saúde

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Christian na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre: “A corrida é um presente que dou a mim mesmo”

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É

sagrado: pelo menos duas vezes por semana, Christian Klemt e sua namorada, Joana, se encontram depois do trabalho para fazer juntos uma corrida que passa por vários bairros de Porto Alegre, cada vez em um percurso diferente. Cerca de 10 quilômetros depois, a sensação que toma conta dos dois é como a de vestir uma medalha depois de uma maratona. “É como se você zerasse toda a carga de tensão acumulada no dia-a-dia. Dá um sentimento de renovação. A corrida é um momento meu, é um presente que dou a mim mesmo”, conta Christian, analista que fez sua estreia no mercado de capitais há 15 anos e hoje atua como gestor de investimentos da corretora Solidus. Foi no esporte que ele encontrou o exato contrapeso à rotina alucinada do trabalho, conquistando para si um raro troféu: o equilíbrio.

Filho de amantes do esporte - seus pais são doutores em Educacão Física -, Christian sempre gostou de se exercitar. Já experimentou o surf - “mas a praia fica longe de Porto Alegre e, no inverno, faz muito frio”. Já jogou muito futebol - “é preciso juntar gente para uma partida, então ficou complicado”. E já teve sua fase de tenista - “é ótimo, mas sempre depende de encontrar parceiro para poder jogar”. Até que, nesta espécie de busca da modalidade esportiva perfeita, encontrou a corrida de rua, que pode ser feita em qualquer cidade, a qualquer hora e sem depender de ter ou não parceria. “Você acaba conhecendo aspectos da cidade que não observava antes, descobre lugares novos,

diferentes, históricos. Se desliga da rotina”, resume. Se a corrida acontece a céu aberto e com tempo para apreciar o que está à volta, o trabalho é dentro de um escritório e geralmente exige passar horas de olho só no computador, absolutamente concentrado nas informações. “É estressante. Lidamos com dinheiro, investimentos, então a responsabilidade é muito grande”, diz. É um outro tipo de corrida, que se passa dentro da mente. “É pela informação e pelo processamento desta informação. Quanto mais rápido você processar as informações e tomar as decisões adequadas, mais chances de sucesso você terá”, afirma Christian, que também é vice-presidente da Apimec-Sul.

Para ele, nenhuma atividade se sobressai em relação à outra. “Cada uma traz uma satisfação diferente. No trabalho de gestão, quando a gente corre atrás, acha uma empresa interessante, investe nela e dá bons retornos, é muito gratificante. É uma realização”, conta Christian. O gestor da Solidus foi eleito pela Apimec Nacional o Melhor Profissional de Investimentos de 2007. Na época, ele tinha dez anos de mercado de capitais, onde começou como estagiário na corretora Geração - hoje Geração Futuro. Depois de quatro anos, foi para a Solidus, onde trabalhou como gerente de análise, até assumir a função de gestor, há cerca de quatro anos. “Quando comecei tínhamos MeRcado de Capitais

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uma crise por ano. “A Bolsa era bastante elitizada, os volumes transacionados nela eram baixos e a economia brasileira estava numa situação bem mais frágil. Foi assim até 2002, quando os “ventos” passaram a soprar a nosso favor”, ressalta, dizendo que a experiência adquirida nesses tempos turbulentos é útil para lidar com as atuais crises.

visualizar estes ciclos”. Christian também vê o Brasil com otimismo, mas sem euforia. “Ainda há muitos ajustes que precisam ser feitos e a crise externa pode até ser uma oportunidade.” Para o gestor da Solidus, aprender o maior número de variáveis que envolvem o funcionamento do mercado financeiro é fundamental para

“No trabalho, a corrida é outra: quanto mais rápido você processar as informações e tomar as decisões adequadas, mais chances de sucesso você terá” “Aprendi a não me empolgar muito nos momentos de alta do mercado e também não me desesperar nos momentos de baixa. Se existe um consenso entre os economistas, este consenso é o de que todas economias se movem em ciclos. Os melhores gestores são os que conseguem 30

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um investidor obter sucesso. Ele costuma estimular seus clientes a investirem também na própria educação financeira. Assim eles poderão entender que há muitos fundamentos por trás da oscilação de uma ação. “Entre 2003 e 2008, muita gente achou que ficaria rica investindo em

Christian, com a namorada, Joana: corridas de cerca de 10 quilômetros por dentro dos bairros da capital gaúcha

ações, se esquecendo de procurar entender o que realmente estava acontecendo. Quanto maior a educação financeira dos investidores, mais maduro será o nosso mercado”, afirma Esta bagagem toda se mistura ao esporte com harmonia, na cabeça de Christian. “Em nossa área existe esta tradição do happyhour. Saímos do trabalho, onde passamos o dia todo sentados, e depois vamos para um bar, onde continuamos sentados, tomando cerveja. Se a gente imaginar o efeito disso no longo prazo nós que gostamos de planejar investimentos em longo prazo -, é uma ação que não dá para recomendar”, afirma. “Claro que é preciso ter esses momentos de descontração, mas, sem um equilíbrio, o corpo terá de pagar a conta lá na frente”, analisa.

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DICAS CULTURAIS

Como Israel e Cingapura viraram potências em apenas uma geração e o que estes países ensinaram ao mundo? Dois livros explicam o sucesso destes pequenos países, Nação Empreendedora (sobre Israel) e Singapore’s Sucess. Os autores judeus recheiam a narrativa de casos e histórias de vida, em um estilo mosaico, menos linear, como mostra a primeira história do livro, com o Carlos Ghosn, brasileiro presidente do grupo Nissan e Renault. Já o livro sobre Cingapura, ainda sem tradução no Brasil, tem uma linha mais ‘economista’, recheado de análises e tabelas.” Luiz Calado economista

Os bastidores da crise de 2008 estão muito bem retratados no documentário Trabalho Interno (Inside Job), premiado com o Oscar da categoria no ano passado. O filme faz uma retrospectiva, mostrando os personagens da crise e o que aconteceu antes, durante e depois deste momento histórico” Ivanor Torres analista de investimentos

“Em Oportunidades Disfarçadas,, Carlos Domingos traduziu de forma simples e agradável o processo de transformação de empresas em grandes sucessos, principalmente em momentos não usuais. Sendo publicitário, o autor foi muito feliz na liguagem utilizada, proporcionando uma leitura de fácil compreensão para todos os que queiram se inspirar naqueles que encontraram ‘oportunidades muito bem disfarçadas’” Marcos Saravalle analista de investimentos

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RESENHA

“Política Monetária: ideias, experiências e evolução”, de José Julio Senna Por Lucy Sousa, presidente da Apimec

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m dos temas mais complexos da ciência econômica, a questão monetária é apresentada no livro “Política Monetária: ideias, experiências e evolução”, do economista e professor José Julio Senna, de maneira tão clara, objetiva e interessante, que já é literatura indispensável para romper resistências e dificuldades do aprendizado na área e tornar o assunto totalmente acessível a qualquer leitor interessado no assunto. O livro tem quatro partes, nas quais o autor aborda a história da moeda e dos sistemas monetários; o surgimento e a consolidação dos bancos centrais; a teoria e a prática da política monetária; e a política monetária no Brasil, cobrindo, assim, toda a história e teoria envolvendo a área monetária. Nas páginas iniciais, o leitor aprende sobre as funções da moeda e suas primeiras representações, como a moeda-mercadoria, que envolveu ouro, prata e até grandes pedras, acompanhando o percurso que resultou no papel-moeda, que acabou dando origem ao moderno sistema bancário. O autor faz uma ótima retrospectiva da história dos Regimes Metálicos, desde o surgimento da moeda cunhada, na Grécia, entre 620-600AC, até o surgimento do padrão ouro. Ao mesmo tempo, mostra como os Estados enfrentaram desde os primeiros tempos o problema monetário fundamental: a relação de troca entre a moeda e as demais mercadorias. Ao abordar o processo evolutivo dos bancos 32

centrais, o professor José Julio Senna explorou alguns questionamentos - por exemplo, por quê os BCs devem deter o monopólio de emissão de moeda? -, as funções dos bancos centrais, o surgimento de sistemas financeiros paralelos ao sistema tradicional a partir de 2007 nos Estados Unidos - bancos de investimentos, fundos de hedge, etc. -, a criação do Banco Central Europeu (BCE) e o euro. Em relação à teoria e prática da política monetária, o livro aborda o período dominado pelo conceito das equações quantitativas (Hume, Fisher, Marshall e Wicksell) até sua superação, na década de 1930, com a publicação das obras de Keynes: Tratado sobre Reforma Monetária, Treatise e a Teoria Geral, que podem ser consideradas “a luta de um homem para se livrar da teoria quantitativa” - com destaque para a maior delas, a Teoria Geral. O autor desmistifica a relevância de Keynes no “New Deal”, mas destaca a aceitação das ideias keynesianas na politica econômica do pós II Guerra Mundial. Na última parte o leitor percorre toda a história da política monetária no Brasil, começando pela “tradição da moeda inconversível”, a fundação do Banco do Brasil por D. João, e o início da emissão de papel-moeda com lastro em ouro, que acabou sendo levado de volta para Portugal, tornando a moeda fiduciária! No último capítulo, uma história mais bem conhecida: as reformas financeiras no séc. XX, dos anos 60 à introdução do regime de metas de inflação, em 1999. De 1999 a 2009 a taxa observada de inflação ficou dentro da banda na maior parte dos anos. Resumindo, é uma obra de fôlego, de mais de 500 páginas, com ótimas referências bibliográficas, muito útil para formação acadêmica e agradável de ser lida. Apenas pode-se observar que faltou citar alguns autores, mesmo que para serem criticados, a começar por Marx, que escreveu texto relevantes sobre mercadoria e dinheiro e a contribuição de autores keynesianos sobre não neutralidade da moeda e inovações financeiras.

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Articulista convidado |

Ricardo Tadeu Martins

IPO’s traduzidos para o investidor

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uando há uma oferta pública inicial de ações (IPO), é divulgado um prospecto - documento oficial da operação - de inúmeras páginas (400, 500), com informações envolvendo tudo o que se refere à empresa. Geralmente 10% dessa oferta é destinada ao investidor pessoa física, que tem sido fundamental para o crescimento de nosso mercado e respondido com grande interesse nessas operações. No entanto, ele acompanha o processo “no escuro”, tamanha a dificuldade de acessar um documento que não foi preparado para ele. A partir de 2004, os IPO’s foram - junto com o Home Broker e a educação que as corretoras de valores possibilitaram aos investidores - os propulsores da inclusão das pessoas físicas na rotina da Bolsa. A excessiva liquidez que tomou conta dos mercados emergentes a partir de então atingiu o ápice em 2007, com 76 ofertas, deixando “mal acostumado” o investidor, que tinha quase sempre na estréia da ação em Bolsa a oportunidade de venda da posição com bons lucros, às vezes até sem desembolsar dinheiro - os “Flippers de IPO’s” -, conferindo no entanto liquidez ilusória às ações. As empresas buscam aumentar a liquidez das suas ações, ter cobertura de analistas e integrar os principais índices da Bolsa. No entanto, o que se viu foi a liquidez de muitas empresas de IPO’s minguar. É certo que muitos IPO’s foram precificados muito altos, mas em vários casos os investidores pessoas físicas poderiam ter obtido maior valorização para suas ações, em vez de “flippar”.

A decisão cabe ao investidor. Exceto quanto ao intervalo de preços sugeridos pelos coordenadores da operação, as informações do prospecto não fazem referências a projeções de resultados e a premissas de valuation que possam induzir o investidor de forma equivocada. As informações são defasadas e há a sessão específica “Fatores de Risco”. O investidor acaba buscando informações pelo mercado, em jornais e revistas ou limitandose ao “Take One”, material de marketing autorizado, que geralmente não está disponível junto com o prospecto. O que se propõe é que essas mesmas informações do prospecto, a exemplo do “Take One”, sejam apresentadas a esse investidor de maneira objetiva, sequencial e com múltiplos extraídos das contas dos demonstrativos financeiros disponibilizados, a ponto de o investidor poder fazer comparações. O analista de valores mobiliários pode demonstrar em “Relatório de Apresentação da Oferta” o que a empresa faz, seus produtos e serviços, suas unidades industriais, quem são seus controladores, para quem vende, qual sua estratégia de negócio, quais os riscos envolvidos no negócio, seu endividamento, qual tipo de oferta – se primária ou secundária – quem está vendendo as ações, a que se destinam os recursos captados, etc. Ou seja, um relatório básico, ágil, depositado na Superintendência de Supervisão do Analista de Valores Mobiliários, da Apimec, sob a ICVM 483 e o Código de Conduta. Queremos chegar a uma abordagem do prospecto que atenda às necessidades e interesse desse investidor pessoa física, não descaracterizando o padrão atual, mas ampliando a divulgação onde as informações são trabalhadas e colocadas de tal forma a simplificar o entendimento desse investidor. Ricardo Tadeu Martins é analista credenciado - CNPI, economista, gerente de Pesquisa da Planner Corretora de Valores, vice- presidente da Apimec SP, coordenador do CCA Comitê Consultivo do Analista de Valores Mobiliários e membro do Conselho Editorial da revista Mercado de Capitais

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