Ano 1 | Número 5 Julho 2012 Publicação da:
Análise
Para investidores, relatórios não estão refletindo evolução das assembleias de acionistas
Mercados São muitos os fatores que prometem devolver ao Rio o posto de forte polo financeiro
IPOs, do boom à crise Analistas retomam as lições deixadas pela overdose de ofertas públicas iniciais no Brasil em 2007 para refletir sobre o papel que exercem hoje no mercado
Sumário
20 6 Expediente 7 Carta ao leitor 8 Panorama Global 10 Órgão regulador A expectativa com as mudanças no comando da CVM Foto de Capa: 123RF
11 Congresso Painel sobre projetos de infraestrutura para o longo prazo está entre destaques do 22º Congresso Nacional da Apimec, em agosto
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MeRcado de Capitais
12 Demonstrativos financeiros
Analistas criticam qualidade e volume de dados dos Formulários de Referência, mas querem mantê-lo sempre à mão
16 Cobertura de análise Mudanças recentes têm tornado as assembleias de acionistas mais democráticas, com destaque para a participação dos minoritários. Os analistas precisam refletir este movimento em seus relatórios?
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16 20 Capa
A overdose de IPOs em 2007 deixou lições que repercutem até hoje para os analistas
32 Articulista
convidado Leandro Martins, analista
33 Dicas culturais
26 Mercados Rio de Janeiro atrai investimentos e tem condições de voltar a ser um polo financeiro importante no país
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Expediente
Editora
Quadro Diretivo da APIMEC Nacional Presidente
Lucy Aparecida de Sousa Vice-Presidente
David Rodolpho Navegantes Neto Conselho Diretor
Lucy Aparecida de Sousa David Rodolpho Navegantes Neto Alexandre Guimarães - Presidente da Apimec Distrito Federal Célio Fernando Bezerra Melo Presidente da Apimec Nordeste José Domingos Vieira Furtado Presidente da Apimec Minas Gerais Luiz Guilherme Ferreira Dias Presidente da Apimec Rio Marco Antônio dos Santos Martins Presidente da Apimec Sul Reginaldo Ferreira Alexandre Presidente da Apimec São Paulo
Diretorias
JB Pátria Editora Ltda. Presidente Jaime Benutte Diretor Iberê Benutte Assistente da DIRETORIA Patricia Torre COMERCIAL Otto Bush Administrativo / financeiro Gabriela S. Nascimento JORNALISTA Kelly Souza
Revista Mercado de Capitais Publicação mensal da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais conselho editorial Lucy Sousa, Alessandra Rigos, Alexandre Guimarães, Cristiana Pereira, Francisco Petros, Geraldo Soares, Luiz Roberto Calado, Marco Antônio do Santos Martins, Mauro Cunha, Octavio M. R. de Barros, Ricardo Tadeu Martins Publisher Jaime Benutte Editora Maria Alice Rosa Projeto Gráfico e Arte Belatrix Ltda. Diretor de arte Marcelo Paton Impressão IBEP Gráfica
Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações, Anatec.
Marketing & Comunicação
Alessandra Rigos Educação Financeira e Sustentabilidade
Eduardo Werneck Relações com o Mercado
Antonio Jorge Vasconcelos da Cruz Relações Institucionais
Milton Leobons Técnica
Hélio Darwich Administrativa/Financeira
Marco Antonio de Almeida Panza
Apoio:
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MeRcado de Capitais
A Revista Mercado de Capitais é uma publicação da JB Pátria Editora www.patriaeditora.com.br Dúvidas ou sugestões: mercadodecapitais@patriaeditora.com.br Não estão autorizados a falar pela revista, bem como retirar produtos, pessoas que não constem neste expediente e não possuam uma carta de referência assinada pelo presidente.
Carta ao leitor
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unanimidade, tamanha a importância do assunto para o mercado inteiro. Outro tema interessante é se as coberturas de análise estão envolvendo as assembleias de acionistas na justa medida ou se é o caso de prestar mais atenção nelas. esde que iniciamos
Além disto, trouxemos para o debate a
o projeto da
questão da apresentacão dos Formulário
revista, temos tido
de Referência, ferramenta corriqueira do
a preocupação de que ela contribua não
nosso trabalho.
apenas para refletir aspectos relevantes de nossa profissão, mas também suscite
Mais do que apresentar respostas,
interessantes e variados debates, a
queremos inspirar a discussão de
exemplo do que ocorre em nossas
ideias que possam contribuir com o
reuniões de pauta. Por termos em nosso
desenvolvimento do mercado de
Conselho Editorial representantes de
capitais brasileiro.
vários segmentos do mercado de capitais, os encontros acabam propiciando uma
Boa leitura!
visão muito rica e multifacetada de vários assuntos ligados ao nosso trabalho. Na reunião do nosso Conselho, a sugestão de analisar o mercado atual de IPOs sob o ponto de vista do trabalho dos analistas, tomando como marco a experiência do boom de 2007, foi aprovada por
Lucy Sousa Presidente da APIMEC
Mande suas sugestões e críticas para: mercadodecapitais@apimec.com.br
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PANORAMA GLOBAL
Informação com qualidade Informações desnecessárias, confusas ou mesmo a falta de dados importantes são problemas que se acentuaram após a adoção do padrão contábil internacional nas companhias brasileiras. “Você tem uma série de situações que prejudicam a todos, inclusive as próprias empresas, que, depois de publicarem seus balanços, ainda têm um gasto grande com a publicação de notas explicativas que muitas vezes só reproduzem conceitos, sem fazer conexão com a prática”, afirma Haroldo Levy, que está à frente do Codim e do CPC. Agora, uma parceria entre os dois comitês lançou um projeto para atacar este problema. Foi criado um grupo de 12 integrantes de vários segmentos de mercado que vai trabalhar pela definição de critérios que melhorem a qualidade da divulgação de informações nos demontrativos das empresas. Para tanto, contam com a participação ativa do mercado na pesquisa que vai colher sugestões e críticas que contribuam com o trabalho. Qualquer pessoa pode entrar em contato com o grupo e participar da pesquisa pelo email gtnotasexplicativas@facpc.org.br .
Os melhores do ano
Foto: 123RF
A Apimec Nacional anunciou no começo de julho os resultados da 39ª edição do Prêmio Apimec, que será entregue aos vencedores no dia 30 de agosto, durante o 22º Congresso Apimec, em São Paulo. Na categoria Profissional de Investimentos a vencedora foi a estrategista da Fator Corretora, Lika Takahashi. Na categoria Companhias Abertas, os prêmio foram para a Cemig, na categoria A, que é o o segmento de companhias com receita líquida anual consolidada em IFRS em 2011 acima de R$ 3 bilhões e que realizaram reunião Apimec nas seis regionais; e para a Eternit, na categoria B, que engloba companhias com receita líquida anual consolidada em IFRS em 2011 de até R$ 3 bilhões e que realizaram reunião Apimec em pelo menos três regionais. Luiz Fernando Rolla, da Cemig, foi eleito o Profissional de Relações com o Investidor e o jornal Valor Econômico, o melhor Veículo de Comunicação.
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MeRcado de Capitais
Bovespa Mais forte A Empiricus Research divulgou no começo de julho o primeiro relatório de análise para uma companhia do segmento Bovespa Mais: a Nutriplant, empresa de micronutrientes para produção de fertilizantes. O relatório aponta um potencial de crescimento de 78% para a empresa em um ano, elevando seu valor de mercado para R$ 63 milhões. A iniciativa faz parte do convênio entre Apimec e BM&FBovespa para ampliar a cobertura de análise das empresas no país.
Conexão Brasil-México
Exposição à alta Um estudo divulgado em julho mostrou que as ações das empresas sobem nos dias seguintes às suas apresentações para o mercado por meio das reuniões da Apimec. O trabalho, intitulado “As Reuniões Públicas como Importante Ferramenta de Relações com Investidores: Um Estudo de Evento sobre as Reuniões Apimec”, é de autoria do professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dr. Jairo Laser Procianoy, e da doutoranda da University of Michigan Ross School of Business, Nayana Riter. Com base em 739 eventos de 160 companhias entre os anos de 2005 e 2009, eles constataram que, dois dias depois das reuniões, os papéis tiveram retorno médio de 0,25%, acima do Ibovespa.
O governo eleito do México vem suscitando muita discussão sobre seu posicionamento em relação ao Brasil. Ao analisar o programa de governo do PRI, o Brasil é colocado como país central, seja para um relacionamento mais amplo ou para atingir outros mercados do continente e mesmo os integrantes do BRICS. Para o diretor da Brain, Luiz Calado, a relação comercial entre os países ainda tem muito potencial, pois está concentrada na compra e venda de automóveis e peças. “O Brasil tem uma ótima oportunidade de ampliar o leque de exportações e aumentar a atratividade para investimentos mexicanos.”
Relação comercial (em US$ bilhões) México - EUA:
449
México - América Latina:
37,6
México - Brasil:
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Fonte: Secretaria de Comércio Exterior do México
CVM no YouTube
A Comissão de Valores Mobiliários abriu recentemente o canal CVMEducacional no YouTube, onde divulga material audiovisual dos eventos de conteúdo educacional realizados pelo Programa de Orientação e Defesa do Investidor (Prodin). São conferências, congressos, palestras de seus representantes e divulgação de acontecimentos considerados relevantes. O endereço é http://www.youtube. com/user/CVMEducacional .
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ÓRGÃO REGULADOR
Expectativa com
CVM
No começo de julho o mercado ainda aguardava a divulgação do nome de quem iria substituir Maria Helena Santana na presidência da CVM
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ra grande a expectativa no mercado de capitais no início de julho, época de fechamento desta edição da revista Mercado de Capitais, em relação ao anúncio do nome de quem iria substituir Maria Helena Santana na presidência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), após conclusão do mandato de cinco anos, no dia 14 de julho. A definição seria anunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Conforme informações divulgadas pelo jornal Brasil Econômico, entre os nomes mais cotados para o cargo estavam os de Otavio Yazbek, Roberto Tadeu Antunes Fernandes e Luciana Dias - todos diretores da CVM -, mas o ministro ainda queria conversar com mais um indicado, cujo nome era mantido em sigilo, antes de fazer sua indicação para a presidente Dilma Rousseff. No dia 10 de julho a economista Ana Dolores foi nomeada diretora da Comissão e faltava apenas a indicação da presidência para fechar a composição do novo comando da CVM. Além do nome do novo presidente, o mercado
também especulava se Maria Helena Santana voltará para a BM&FBovespa. Foi na gestão de Maria Helena Santana que foi publicada, em outubro de 2010, a Instrução 483, que autorizou a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) a exercer a função reguladora do trabalho dos analistas de valores mobiliários. Ao todo, foram 77 instruções, que tiveram impacto em várias áreas do mercado, como a mudança no padrão contábil, regras para o registro de emissores e constituição e organizacão de bolsas de valores e mercado secundário. Além disto, foram julgados 274 processos, aplicados R$ 1,4 bilhão em multas e feitos 313 termos de compromisso, em um total de cerca de R$ 304 milhões. Ela foi a primeira mulher a presidir a CVM.
Na gestão de Maria Helena saiu a 483, Instrução que delegou função autorreguladora à Apimec
Maria Helena Santana, primeira mulher a presidir a CVM
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Mercado de Capitais
22º Congresso Apimec
Longo prazo
Levy, da OHL: “Precisamos começar a ver além de um horizonte de 12 meses”
urgente
Painel com representantes de empresas e do governo vai abordar as condições e os desafios para desenvolver os projetos de infraestrutura necessários para que o Brasil possa crescer com solidez
U
m dos temas de destaque do 22º Congresso Nacional da Apimec, que será realizado nos dias 30 e 31 de agosto, em São Paulo, reunirá representantes do governo federal e de empresas no painel “Projetos de Infraestrutura para o Crescimento no Longo Prazo”. Para Alessandro Levy, diretor de Relações com Investidores da OHL e um dos palestrantes, o assunto não poderia ser mais oportuno para o país. “O Brasil é um país muito criativo. Nós aprendemos muito com as crises sucessivas que tivemos, mas é preciso cada vez mais pensar mais longe. Estamos em um momento em que precisamos começar a ver além de um horizonte de 12 meses”, afirma.
Para ele, já está havendo uma mudança cultural nos últimos anos. Em vista da estabilidade e das perspectivas que se abriram para o Brasil, há uma preocupação cada vez maior com o futuro no longo prazo, mas ainda falta avançar muito neste aspecto. Levy diz que o desenvolvimento tão desejado pelo país depende de uma série de condições, que vão de um aumento na oferta de financiamentos de longo prazo a uma redução dos trâmites burocráticos que limitam os projetos de infraestrutura. Em relação aos financiamentos, ele diz que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode ter um papel importante, mas não será capaz de financiar todos os projetos de que o Brasil precisa. “O mercado
de capitais é eficiente, principalmente na questão de dívida, mas ainda é pouco desenvolvido no Brasil. Quando a gente vai para o mercado buscar dívida, encontra linhas de dívida de 5, 10 anos. Só que, muitas vezes, os projetos são de 25 anos”, afirma. “Deveria existir uma bolsa de títulos de dívida, onde tudo fosse mais organizado para que, quem quisesse sair, pudesse sair na hora em que desejasse”, diz. Ele também vê a carga tributária entre os entraves para a expansão na área de infraestrutura. “O que temos hoje no Brasil é um governo que precisa fazer obras de infraestrutura e empresas que podem e querem fazer estas obras. O que precisamos é juntar estas duas pontas.”
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DEMONSTRATIVOS FINANCEIROS
Informação
em
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excesso 12
Mecado de Capitais
Analistas dizem que a quantidade e a qualidade dos dados fazem do Formulário de Referência um instrumento pouco utilizado, mas não abrem mão de terem o recurso por perto
U
m instrumento importante para a transparência do mercado de capitais ou um calhamaço de informações redundantes e ilegíveis? Aparentemente, as duas alternativas não são excludentes quando falamos do Formulário de Referência, criado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2009 para substituir o antigo IAN (Formulário de Informações Anuais), ferramenta que vem sendo deixada de lado pela maioria dos analistas de mercado em suas avaliações, sendo usado apenas eventualmente para o esclarecimento de alguma dúvida pontual.
A ideia original era boa. Criar uma fonte de informações permanente e confiável sobre todas as empresas emissoras de títulos mobiliários do mercado, contribuindo para a qualidade no trabalho de avaliação dessas empresas. O objetivo era fortalecer a cultura de transparência e governança corporativa no mercado brasileiro. Na prática, porém, as informações são pouco consultadas. Dos mais de dez analistas contatados para esta reportagem, a grande maioria afirmou que quase nunca usa o formulário. Alguns demoraram até mesmo para lembrar do que se tratava. Raphael Cordeiro, sócio da Inva Capital, butique de investimentos de Curitiba, admite que, para ele, o documento é pouco relevante. “Hoje, os sites de Relações com Investidores costumam ser muito MeRcado de Capitais - mercadodecapitais@apimec.com.br
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Raphael Cordeiro, sócio da Inva Capital: “Hoje, os sites de Relações com Investidores costumam ser muito bons e realmente não preciso do formulário”
na BM&FBovespa e que adotam melhores práticas de governança corporativa. Nenhum deles foi considerado com nível “fácil” ou “muito fácil” de leitura, de acordo com o Índice de Legibilidade Flesch, que indica, a partir das variáveis de legibilidade, o nível de instrução aproximado de um usuário para a assimilação de um texto analisado. Do total, 78 apresentaram nível de leitura “muito difícil” e três foram considerados apenas difíceis. Outra queixa recorrente dos profissionais do mercado é a redundância. Grande parte das informações é simples repetição
Alguns formulários chegam a passar de 500 páginas, o que torna muito difícil que sejam estudados detalhadamente bons e realmente não preciso do formulário”, explica. “Mas é claro que é bom que essas informações estejam disponíveis em algum lugar, especialmente para aquelas empresas que não possuem sites de RI.” A principal causa do desinteresse pelo formulário é o excesso de informações. Alguns formulários chegam a passar de 500 páginas, o que torna muito difícil que sejam estudados detalhadamente. Além disso, o relatório é difícil de ler. Um estudo publicado em 2011 por pesquisadores da Universidade de Brasília avaliou 81 formulários de referência de empresas listadas 14
Mercado de Capitais
de dados presentes nos relatórios trimestrais ou anuais. “Há trechos inteiros que são puro ‘copia e cola’ dos outros relatórios”, afirma Rodolfo Amstalden, analista da consultoria Empiricus Research, em São Paulo. Com tanta dificuldade, não é de estranhar que a agilidade exigida no trabalho dos analistas faça com que eles busquem outras fontes de informação, recorrendo ao Formulário de Referência apenas em último caso. Néris Baggio, analista sênior da Banrisul Corretora, em Porto Alegre, afirma que dificilmente usa a ferramenta. “Vou direto ao site de Relações com Investidores
ou ao Resultado Trimestral”, diz. Ele argumenta que os investidores querem objetividade nas análises. “O cliente não quer ver tanto detalhe. Ele quer é saber se a Ambev vai fornecer bebida na Copa do Mundo e se ela vai ganhar com isso.” Amstalden, por sua vez, conta que sua equipe só acessa o documento em buscas específicas, como fatores de risco ou para saber se a remuneração dos executivos da empresa está muito acima da média do mercado. “Acho que se trata de uma ferramenta importante. Se as informações do formulário fossem separadas por tema em documentos diferentes, talvez ele pudesse ser mais efetivo”, diz. Leila Almeida, analista da consultoria Lopes Filho, compara o formulário a um dicionário, que você tira da estante de vez em quando, na hora em que precisa dele. Segundo ela, uma das principais vantagens dessa base de dados era a promessa de atualização permanente, uma vez que o antigo IAN era corrigido apenas uma vez por ano. No entanto, algumas empresas estão deixando de atualizar os dados como deveriam. “Se você pegar empresas brasileiras com ações na Bolsa de Nova York, verá que muitas dão mais informação no formulário 20F da Securities Exchange Comission do que no formulário daqui”, diz Leila.
Amstalden, da Empiricus: “Há trechos inteiros que são puro ‘copia e cola’ dos outros relatórios”
Mas também há quem aponte qualidades no formulário brasileiro. Mathias Dietrich, da Solidus, de Porto Alegre, cita a situação em que é o analista precisa avaliar uma nova empresa, com a qual ainda não está familiarizado. “Muita gente reclama que tem informação demais lá, mas faço outra leitura: quando você precisa de dados, é uma fonte importante a qual recorrer”, afirma. O documento também pode ganhar mais destaque como instrumento de avaliação, dependendo do foco da empresa de investimento ou da casa de análise. Quando se trata de fundos de longo prazo que buscam participar ativamente da gestão da companhia, o detalhamento do Formulário de Referência pode ser
Estudo com 81 formulários de referência concluiu que 78 apresentavam um nível de leitura “muito difícil” fundamental. “Nós utilizamos o Formulário em todas as análises que fazemos”, diz um analista de uma corretora de São Paulo que pede para não ser identificado por questões de compliance. Ainda assim, ele é crítico quanto às informações divulgadas pelas
empresas no documento da CVM. “Mesmo que o volume de dados tenha aumentado, não concordo que a qualidade tenha seguido a mesma intensidade. Algumas empresas não fazem uma boa abertura de seus financiamentos, por exemplo, e isso acaba penalizando minha avaliação.” A melhoria na qualidade e apresentação das informações, no entanto, depende em grande parte da cobrança do próprio mercado, aponta João Laudo de Camargo, conselheiro administrativo do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). “Inicialmente, a redação dos formulários seguia um modelo padrão, burocrático, mas a tendência é evoluirmos para um texto melhor. Quanto mais o formulário for usado, quanto mais os investidores e analistas cobrarem isso, melhor ele será”, conclui. Camargo, do IBGC: melhoria na qualidade e apresentação das informações dependerá em grande parte da cobrança do próprio mercado
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COBERTURA DE ANÁLISE
Efeito Foto: 123RF
assembleia
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Para a Amec, analistas não estão dando a importância devida às deliberações dos encontros de acionistas em seus relatórios, mas os profissionais argumentam que as decisões, quando relevantes, são consideradas
Mercado de Capitais
Mauro Cunha, da Amec: “Não há uma análise detalhada para verificar se o que foi decidido é positivo ou negativo para a empresa”
O
crescimento e a consolidação do mercado de capitais brasileiro nos últimos anos vem trazendo a reboque uma série de avanços em todas as suas áreas. Empresas, investidores e analistas são regidos hoje por Códigos de Ética e defendem a adoção de melhores práticas em seus segmentos. Entre as companhias abertas, a adoção do conceito de governança corporativa, que engloba todos os aspectos voltados para a profissionalização da gestão, vem proporcionando muitas mudanças, entre as quais está a qualidade das assembleias de acionistas.
Hoje a participação dos investidores é estimulada pelas empresas e por medidas do órgão regulador - como a autorização de acompanhamento via procuração ou à distância, por meio eletrônico -, e o chamado “ativismo” dos acionistas vem aumentando, principalmente o dos minoritários. Mais organizadas e mais representativas, as assembleias são as
instâncias onde o estágio da governança fica explícito. Para os investidores, porém, os analistas não estão dando às assembleias de acionistas a atenção devida. Para Mauro Cunha, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), na maioria dos relatórios dos analistas as assembleias são ignoradas ou citadas de forma burocrática, sem uma avaliação mais aprofundada sobre seus efeitos na administração ou nos resultados das companhias. “Não há uma análise detalhada para verificar se o que foi decidido é positivo ou negativo para a empresa”, afirma. A pedido da revista Mercado de Capitais, a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) fez uma pesquisa com relatórios fornecidos à entidade nos meses de abril e maio deste ano para verificar se as assembleias são MeRcado de Capitais - mercadodecapitais@apimec.com.br
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Para Amec, evolução recente do modelo societário brasileiro, que envolve um ativismo maior dos minoritários, não está sendo refletida nos relatórios citadas e qual o teor das informações divulgadas. A pesquisa envolveu uma amostragem dos relatórios enviados em PDF. A conclusão, segundo a Apimec, foi que os relatórios mencionam as deliberações de assembleias de acionistas nos casos em que elas são consideradas relevantes para o mercado. Segundo o coordenador do Comitê Consultivo
Levy, do Codim: fortalecimento dos minoritários faz parte do processo de maior governança e transparência dentro das empresas
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Mercado de Capitais
do Analista (CCA) da Apimec Nacional, Ricardo Martins, as assembleias não são destacadas nos relatórios dos analistas quando as decisões não têm influência no valuation das empresas, mas o procedimento é diferente quando, na convocação da assembleia, são anunciadas discussões de questões específicas que podem influir na avaliação do papel, como incorporações ou relações de trocas de ações. Também há casos de relatórios que citam uma Oferta Pública de Ações (OPA) para fechamento de capital e outros que descrevem desdobramentos que ocorrerão em assembleias futuras. “Em casos específicos, como em Assembleia Gerais Extraordinárias, imediatamente o analista entra em contato com a área de Relações com Investidores da empresa para se informar sobre o que será discutido e, se for relevante, já inclui isso em seu relatório”, explica o Martins. Além disso, argumenta, é da natureza do trabalho do analista estar permanentemente em busca de informações nas próprias companhias ou nos seus setores para poder fazer sua análise. Cunha acha pouco. Para ele, o modelo societário do país evoluiu muito, especialmente entre as empresas de capital pulverizado, abrindo caminho para que os acionistas minoritários influenciem de forma mais decisiva a administração das companhias, e os relatórios dos analistas “já deveriam refletir esse movimento”. Haroldo Levy, um dos coordenadores do Comitê de Orientação para Divulgação de Informações ao Mercado (Codim), também considera importante que essas mudanças sejam observadas pelos analistas. De
Adriene de Almeida, do IBGC: “Participação dos minoritários, quando for relevante, deve ser captada pelos analistas”
acordo com ele, a participacão maior e o fortalecimento dos minoritários faz parte do processo de maior governança e transparência dentro das empresas de capital aberto no Brasil, reproduzindo o que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos. Lá, diz ele, os acionistas já conseguiram promover mudanças inclusive na remuneração de altos executivos das companhias. Um exemplo recente, ressalta o presidente da Amec, foi a reunião do Conselho de Administração da construtora Gafisa, no dia 11 de maio, em que os acionistas minoritários conseguiram eleger quatro membros do conselho de administração da empresa, cujo valor de mercado vêm caindo nos últimos meses. “O episódio não mereceu mais do que um parágrafo na maioria dos relatórios”, afirmou. Martins, da Apimec, afirma que os analistas dispõem atualmente de tantos canais para obter informações das empresas que as decisões significativas, de alguma maneira, acabam sendo incorporadas aos relatórios. No entanto, ele reconhece que a questão da cobertura dada às assembleias “é importante e deve ser discutida pelos analistas”. Este debate, porém, não se restringe ao segmento destes profissionais. A participação dos próprios acionistas nas assembleias está aumentando, mas ainda é considerada insatisfatória pelo mercado e pelo órgão regulador, dentro do contexto de adoção dos princípios de governança corporativa. Foi para estimular uma presença maior dos acionistas nas assembleias que a Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) autorizou recentemente o voto pela internet e as empresas têm sido incentivadas a tornar seus encontros de acionistas mais profissionais e democráticos. Um exemplo é o Caderno de Boas Práticas para Assembleias de Acionistas lançado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Entre as recomendações está a criação de mecanismos que facilitem e estimulem o fluxo de informações entre os acionistas e a companhia, dentre os quais está o estabelecimento de procedimentos para o encaminhamento de perguntas pelos acionistas previamente à realização da assembleia. Para Adriene de Almeida, superintendente adjunta de Conhecimento do IBGC, as empresas só têm a ganhar com a participação maior dos acionistas nas assembleias. “Os minoritários têm condições de avaliar e fazer sugestões sobre a administração da empresa, exercendo o papel de consultores. E esta participação, quando for relevante, deve ser captada pelos analistas”, afirma. MeRcado de Capitais - mercadodecapitais@apimec.com.br
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ABERTURA DE CAPITAL
2007 no
quadro negro Tomar distância dos fundamentos, deixando-se levar pelo momento do mercado e por informações inconsistentes de empresas e setores iniciantes, é uma das lições que ficaram para os analistas após o boom de IPOs que precedeu a crise financeira global
C
olocados lado a lado, os gráficos do Ibovespa e das ofertas públicas iniciais (IPOs) parecem um o espelho do outro. Lá estão os movimentos de ascendência e queda, seus picos de alta e baixa, totalmente sincronizados. Os IPOs não fazem mais do que refletir os ciclos da Bolsa, com seus emissores vendendo e o mercado comprando na alta, e este é um dos motivos de julho ter chegado e apenas quatro ofertas públicas iniciais terem sido registradas no histórico de 2012 - um ano para o qual a BM&FBovespa previu cerca de dez vezes mais. A Bolsa vem há meses operando na faixa entre 50 e 60 mil pontos e é sabido que é questão de tempo para o ciclo atingir seu melhor momento. O que não se sabe é se por trás da baixa quantidade de IPOs neste ano está também um mercado escaldado pela experiência do boom de IPOs de 2007. 20
Mercado de Capitais
Um dos problemas para avaliar ações em 2007 é que muitos emissores eram empresas em fase pré-operacional ou de setores sem histórico apresentam resultados operacionais consistentes no curto prazo. Com isso, os indicadores são muito elevados, o que impede uma comparação com concorrentes de mercado que já têm histórico operacional. Ainda sobra a utilização do fluxo de caixa descontado, no qual a geração de caixa dos próximos anos é trazida a valor presente a uma determinada taxa de desconto. Como os resultados dos primeiros anos são incipientes, grande parte do valor das companhias pré-operacionais se encontra no futuro. Avaliar a qualidade da administração é outro problema para o analista, pois como
a empresa ainda não está operando, a análise tem que ser baseada no histórico dos administradores em outras companhias. Diante desse quadro, indicadores apresentados pela empresa com informações como a previsão de crescimento acabam assumindo um papel muito mais relevante para os analistas do que nos casos de companhias que já atuam efetivamente no mercado há mais tempo. “O analista fica numa situação complicada porque é difícil questionar uma informação divulgada por uma empresa que ainda não está em operação”, afirma ele.
Foto: Flavio R.Guarnieri
No ano que precedeu o estouro da crise global, quando a Bolsa operava no topo, foi atingida a impressionante marca de 64 ofertas. Hoje, muitos dos IPOs realizados em 2007 são exemplos semelhantes ao do recente fiasco protagonizado pelo Facebook. São os casos em que a empresa se apresenta ao mercado dizendo que vale muito e o mercado responde que só ela acha isso. Mas será que esta experiência deixou alguma lição para os analistas? Qual o papel destes profissionais, a quem cabe encontrar o valor condizente com o potencial da ação do emissor, neste contexto de IPOs, depois do que ocorreu em 2007? Para buscar esta resposta, é preciso rever o mercado daquele ano a partir de vários ângulos. Um deles é o fato de os bancos de investimentos, empolgados com a forte demanda por ações de companhias brasileiras na época, terem ofertado aos investidores diversas companhias ainda em estágio pré-operacional, o que se tornou um grande desafio para os analistas avaliarem estas ações na ocasião da realização dos IPOs, na opinião do analista independente André Rocha, que escreve o blog “O Estrategista”, do jornal Valor Econômico. Mas as instituições financeiras, diz ele, não podem ser as únicas responsáveis pela colocação dessas companhias nas condições em que foram apresentadas na bolsa. “Quem corroborou para que as ofertas tivessem sucesso foram os analistas buy side. Se eles não tivessem comprado, as ofertas teriam fracassado, como já ocorreu em outros casos”, afirma. São muitas as dificuldades para os analistas avaliarem com precisão as empresas em estágio pré-operacional. Métricas usuais como múltiplos preço por lucro (P/L) ou FV/EBITDA - têm pouca eficácia, segundo Rocha, porque as companhias não
Milioni: “Uma hora os fundamentos do mercado chegam”
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Foto: Regis Filho/Valor
Rocha, analista independente: “Quem corroborou para que as ofertas tivessem sucesso foram os analistas buy side”
Para a coordenadora da área de análise e estrategista do Banco Fator, Lika Takahashi, naquela época os analistas deveriam ter dado descontos maiores no valor das ações das empresas pré-operacionais ou de setores que não tinha histórico na Bolsa. ”Empresas que oferecem mais risco devem pagar um desconto e não foi isso que aconteceu”, afirma.
Evolução do Ibovespa
Fonte: Bloomberg
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Mercado de Capitais
Tanto quanto as empresas que ainda estavam em um momento pré-operacional, os setores novos ou incipientes envolvidos naquele boom dos IPOs são destacados pelos profissionais nesta análise crítica e autocrítica sobre a experiência de 2007. Nem sempre foram observados o potencial real dos setores que estavam entrando na Bolsa, o que
causou distorções nos preços das ações, um tanto incentivadas pelo excesso de liquidez que havia no mercado, observa o ex-presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (Apimec), Milton Milioni, também membro do Conselho de Regulação e Melhores Práticas do Mercado de Capitais da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Ele cita o exemplo dos IPOs de empresas do setor da construção, cuja maioria das ações oferecidas teve preços fixados no bookbuilding. “Houve casos de corretores divulgando que comprar ações de construtoras era o mesmo que investir em imóveis.” O setor tinha sido importante na bolsa brasileira nos anos 70, mas chegou a 2007 com raríssimas empresas de capital aberto. Não era tarefa simples para os analistas fazer a avaliação de uma empresa da área, que tem suas peculiaridades. “O ciclo operacional de uma construtora não bate necessariamente com o exercício fiscal”, ressalta Milioni, argumentando que a construção e a venda das
unidades de um empreendimento podem levar anos. Ultracapitalizadas, as empresas do setor acabaram não fazendo jus às expectativas que criaram quando fizeram seus IPOs. “As empresas pegaram aquele dinheiro quente e saíram comprando terrenos, que, claro, ficaram cada vez mais caros. Depois não conseguiram viabilizar os investimentos e começaram a perder dinheiro na bolsa”, relembra o expresidente da Apimec. Estudo realizado pela Apimec aponta ações das companhias que estrearam bem na bolsa em 2007 e depois decepcionaram. Mas há também casos em que o investidor que manteve determinadas ações na carteira ao longo desse período fez um bom negócio. Conforme o estudo, o setor da construção puxou a fila de IPOs e também a dos fiascos nos últimos anos. A PDG Realty, por exemplo, teve preço da ação estipulado no bookbuilding em R$ 14,00. No primeiro dia de negociação na bolsa, a cotação ficou estável. No dia 28 de junho passado, a ação valia R$ 3,38. Desempenho parecido mostrou
Há cinco anos ainda não havia saído a Instrução 483, da CVM, que trouxe novas exigências ao outorgar à Apimec a função autorreguladora dos analistas a Tecnisa, que estreou na bolsa com uma leve alta sobre o preço de lançamento (de R$ 13,00 para R$ 13,50), mas a cotação acabou caindo para R$ 7,10. Quem apostou no setor de shopping, em contrapartida, colheu excelentes resultados. As três maiores empresas do setor abriram capital na grande janela de oportunidade aberta há cinco anos. A BR Malls estreou com R$ 15,80 na bolsa (levemente superior ao preço do book, de R$ 15,00) e estava cotada a R$ 23,01 no dia 28 de junho. O Iguatemi estreou com R$ 33,60 (R$ 30,00 no book) e a ação terminou junho em R$ 40,86. A Multiplan teve uma pequena queda na estréia, de R$ 25,00 para R$ 24,00, e no fim do primeiro semestre registrava um salto para R$ 48,86. Em relação às empresas que estavam em fase pré-operacional
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Fonte: BM&FBOVESPA
na época, os resultados ainda são negativos. Conforme o lentamento da consultoria Economática, realizada a pedido da revista Mercado de Capitais, a rentabilidade nominal das ações da MPX Energia, do grupo EBX, do empresário Eike Batista, foi negativa em 8,04%, considerando o período desde a data do lançamento, em dezembro de 2007, até 22 de junho deste ano. A Brazilian Group Hospilaty (BGH), do ramo hoteleiro, teve rentabilidade nominal de -12,30% no mesmo período, enquanto a Agrenco registrou rentabilidade nominal de -97,31%. A companhia, do ramo do agronegócio, hoje está em fase de recuperação judicial. “Uma hora os fundamentos do mercado chegam”, diz Milioni, que também é sócio-diretor da MM Milioni Assessoria e Consultoria. Se há uma grande lição para os analistas com a experiência de 2007, é que eles não podem se deixar levar pelo momento do mercado e esquecer dos fundamentos que devem ser considerados na hora de avaliar uma ação. “O analista não tem de ser pessimista ou otimista. Ele tem de ser realista”, define Lika Takahashi, ao mencionar o caso das empresas que estão chegando à bolsa de valores. Rocha, embora considere o mercado atual mais criterioso, não descarta a hipótese de os problemas se repetirem. “As dificuldades para o analista avaliar empresas com essas características (as pré-operacionais) serão as mesmas”, afirma, ressaltando que, se o analista der um desconto exagerado no valor das ações, também poderá estar sendo arbitrário. Lika diz que, mesmo após a
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Ferreira: interesse dos fundos de private equity no Brasil pode levar a novos IPOs
euforia de 2007, surgiram casos de falhas na avaliação de empresas, que, segundo ela, apresentavam “histórias de crescimento” mas tinham dados pouco consistentes para que pudesse ser feita uma análise mais criteriosa. “Acho que o mercado gosta de fogos de artifício”, diz. Seria equivocado, porém, considerar que o preço com que a ação é apresentada aos investidores é uma responsabilidade exclusiva do analista. Esta definição é feita pelo conjunto de fatores que compõem o próprio mercado. “Suponha que o analista apresente ao emissor da ação um bookbuilding de 10 a 15. Se você é o vendedor, por qual preço vai querer vender? Por 15, é claro. Você então oferece a 15 e, se o mercado aceitar pagar, o preço será este”, explica Vinícius Corrêa e Sá, superintendente de Supervisão da Apimec Nacional.
Com a altíssima liquidez na bolsa em 2007, o mercado aceitava pagar o que era pedido. “Isto é mercado.” O momento era atípico e a euforia exagerada prenunciava a crise que viria logo depois e dura até hoje. Neste contexto, o analista, além de tomar os fundamentos como a base e o norte de seu trabalho, precisa estar cada vez mais capacitado. Uma das lições evidentes de 2007, segundo Milioni, é a importância da especialização dos profissionais para que possam cada vez mais evitar erros ocasionados por falta de informações de qualidade. “Há bons e maus analistas. É por isso que insistimos tanto no processo de certificação e formação dos profissionais”, diz o expresidente da Apimec. Há cinco anos ainda não havia saído a Instrução 483, da Comissão de Valores Mobliários (CVM), que outorgou à Apimec a
função autorreguladora dos analistas. Esta mudança implica uma série de acões que resultam na conquista de melhores práticas profissionais, como os programas de educação continuada e o reforço na supervisão das atividades. “Os bons analistas são aqueles que estão preparados para oferecer as melhores informações acerca dos fundamentos das empresas e dos setores, embora a decisão final de comprar caiba ao investidor”, acrescenta. Para o sócio-líder da Ernst & Young Terco para Mercados Estratégicos e Emergentes, André Ferreira, as experiências levaram os analistas a se tornarem mais prudentes. “Paradoxalmente, muitas empresas que tiveram ações lançadas em 2007 tiveram bom desempenho. Elas aparentemente decepcionaram porque entregaram 6 vezes acima do ponto inicial, enquanto o mercado esperava 10 vezes mais. Acredito que as expectativas passaram a ser mais realistas”, afirma. A reportagem procurou os principais bancos emissores na época, mas as instituições não confirmaram a concessão de entrevista até o fechamento da edição. Ferreira acredita que, se forem analisadas somente as perspectivas de crescimento da economia brasileira e a redução das taxas de juros, incentivando os investimentos em renda variável, o momento seria favorável para a realização de novas
IPO do Facebook, o fracasso que fez sucesso O IPO do Facebook, que rendeu US$ 16 bilhões, o maior da história das empresas de internet, vai entrar para a história por conta da decepção dos investidores após o início das negociações na Nasdaq, quando as ações da empresa, inicialmente cotadas a US$ 38, começaram a despencar. Segundo o professor de Finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA) da USP, Bruno Cals de
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Mercado de Capitais
Oliveira, isto não significa que tenha havido erro dos analistas na avaliação das ações da empresa. A razão está ligada às informações concedidas pela companhia, que não correspondiam à realidade. “A empresa divulgou, por exemplo, uma previsão de receita com publicidade na versão do Facebook para smartphones que era totalmente superestimada, o que
influenciou a avaliacão dos papeis”, diz Oliveira. Ele enfatiza que o problema nada teve a ver com os parâmetros adotados no processo de formação do bookbuilding, que foram corretos. “Tecnicamente o IPO do Facebook foi correto. O que tem de ser investigado é quem foram os responsáveis pelas informações equivocadas que foram divulgadas para o mercado”, destaca.
ofertas. No entanto, também há uma aversão ao risco que afeta o mercado. Em prazo mais longo, o cenário que ele vê é positivo. Ferreira cita a tendência de os fundos de private equity realizarem novas operações no Brasil. Uma das opções no futuro para “desinvestir” – quando buscam o retorno do capital investido - é a realização de IPOs, o que demonstra o interesse do mercado no médio e longo prazo. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informou que, na condição de órgão regulador, não considerava adequado se manifestar sobre a avaliacão de preços das ações no mercado de IPOs. Em relação ao desempenho do mercado, informou ter tomado medidas para estimular a participação de empresas de menor porte. “É uma preocupação da CVM entender as barreiras que essas empresas estão encontrando e, por isso, recentemente a autarquia formou um grupo de trabalho com o objetivo de buscar alternativas que viabilizem o uso do mercado de capitais por empresas de menor porte, de sorte que possam contar com essa fonte de financiamento para os seus projetos de investimento”, informou a área técnica da CVM. Para que 2012 corresponda, porém, às expectativas do mercado em relação aos IPOs seria preciso haver uma verdadeira enxurrada de operações de abertura de capital. Neste primeiro semestre, fizeram ofertas públicas iniciais na bolsa brasileira o banco de investimentos BTG Pactual, a locadora de veículos Locamerica, o fabricante de móveis Unicasa e a CCX, empresa do grupo EBX que atua no setor de mineração e carvão na Colômbia e ainda está em fase pré-operacional. O momento de volatilidade torna ainda mais complicado o trabalho de avaliação das ações, opina Raul Campos, diretor financeiro grupo Sinergy e ex-diretor de Relações
com Investidores (RI) da Petrobras. “Neste cenário, ou o investidor foge ou vai querer comprar barato”, diz. Ele acrescenta que o quadro de incertezas não é restrito somente à Europa, mas também ao desempenho da economia americana e do Brasil,
com as constantes revisões para baixo do crescimento do PIB. Isso até o mercado experimentar uma nova alta e o ciclo da bolsa lembrar aquele de 2007, quando muitas ações se lançaram do ponto mais alto, derrubando seus investidores.
Os IPOs de 2007 Emissor PDG Realty Rodobens Camargo Corrêa Tecnisa Iguatemi São Martinho GVT Anhanguera (Units) JBS Banco Pine Even BR Malls JHSF Heringer Metalfrio Bematech CR2 Agra Banco Sofisa Cremer Wilson Sons (BDRs) InPar Paraná Banco Log-In EZ Tec Banco Cruzeiro do Sul Marfrig Banco Daycoval Tegma Banco Indusval Multistock Redecard Minerva Banco Patagonia (BDRs) MRV Engenharia Triunfo Kroton Educacional (Units) Açúcar Guarani Banco ABC Brasil Springs Global Multiplan Cia Providência General Shopping Estácio Part (Units) Cosan Limited (BDR) Satipel SulAmérica BicBanco Trisul Tenda SEB Marisa Agrenco( BDR) Bovespa Helbor Amil BrasilBrokers Laep (BDR) Banco Panamericano BM&F MPX Tempo Participações
Total Registado (R$ Milhões) 724.50 448.50 600.30 910.00 548.68 423.68 1,076.40 512.33 1,840.00 594.77 460.00 696.07 432.40 349.58 452.95 406.63 353.71 786.04 504.54 584.03 705.97 756.00 604.80 848.25 542.15 644.20 1,020.51 1,092.47 603.98 260.00 4,642.69 510.60 483.80 1,193.40 589.95 478.77 765.62 699.30 655.50 1,062.01 609.38 313.95 513.98 2,420.75 457.57 775.00 821.53 366.66 693.45 474.38 506.00 766.12 6,625.52 267.33 1,400.70 699.18 583.75 777.02 5,983.70 2,203.82 452.81
Preço Book 14.00 19.50 14.50 13.00 30.00 20.00 18.00 18.00 8.00 19.00 11.50 15.00 8.00 17.00 19.00 15.00 20.00 8.50 12.00 17.50 23.77 17.50 14.00 14.25 11.00 15.50 17.00 17.00 26.00 17.50 27.00 18.50 48.38 26.00 9.50 39.00 13.50 13.50 19.00 25.00 15.00 14.00 22.50 21.05 13.00 31.00 11.50 11.00 9.00 33.00 10.00 10.40 23.00 11.00 14.00 950.00 7.50 10.00 20.00 1,006.63 7.00
1º dia 14.00 22.75 13.50 33.60 23.66 22.90 21.85 7.00 18.60 11.10 15.80 8.30 17.05 20.50 16.81 19.00 9.05 13.40 17.50 24.00 17.56 112.00 16.36 10.50 14.91 18.31 17.35 26.50 17.50 33.50 19.20 50.50 31.00 9.50 44.18 13.10 neg só em 26/9 19.30 24.00 15.00 14.00 22.26 21.11 12.41 30.60 neg só em 29/10
11.11 9.00 30.15 10.25 8.92 34.99 11.00 16.27 1,080.00 7.03 10.00 24.40 1,007.00 6.85
Em 28/6/12 3.38 10.40 5.34 7.10 40.86 20.11 5.65 12.50 6.60 23.01 5.80 11.92 3.84 4.00 4.85 3.08 16.25 30.49 1.50 7.25 20.13 1.48 8.55 8.90 30.00 6.50 32.85 8.05 36.00 8.76 7.55 28.74 9.55 2.60 48.36 6.20 9.40 25.19 10.15 15.29 5.75 2.36 22.30 0.24 8.60 19.50 6.46 0.43 5.00 30.02 4.19
Fonte: CVM/Anbima
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MERCADOS
Rio
financeiro
Foto: 123RF
Uma sĂŠrie de fatores contribui para transformar a capital fluminense em um polo importante para o mercado de capitais brasileiro, vinte anos depois de a cidade perder sua bolsa de valores
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Mercado de Capitais
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écadas de esvaziamento econômico no Rio de Janeiro fizeram um estrago e tanto no mercado de capitais da cidade. Foi uma longa trajetória de decadência que culminou com o fim das atividades da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, no começo da década passada. A revitalização econômica da antiga capital do Império e da República nos últimos anos, no entanto, reacendeu a esperança de reviver os tempos em que a cidade era um importante polo financeiro.
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Foto: Mattos Filho
Ximenes de Mello, do escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados, especializado em demandas corporativas: “Uma nova bolsa não é simplesmente mais um participante. Não é como trazer nova corretora ou banco investimento”
Uma série de fatores conspira para este ciclo de renascimento se confirme. A economia local é hoje impulsionada pelos investimentos no setor de óleo e gás e também por grandes obras de infraestrutura por conta da realização da Copa do Mundo, em 2014, e das Olimpíadas, em 2016, na cidade. O Rio de Janeiro também é sede dos principais investidores institucionais do país, como Previ, Petros, Valia e Fapes, entre outros, que funcionam cada vez mais como um motor de crescimento do mercado de capitais brasileiro. A capital fluminense tem ainda uma vocação importante na área
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Mercado de Capitais
de seguros, com a presença do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e de importantes seguradoras, além de ser a sede de importantes players no mercado de asset management, como Gávea Investimentos e Rio Bravo. Outra âncora para o renascimento financeiro está em aproximadamente 50 bilhões de barris de petróleo estimados nas jazidas do pré-sal. À parte os investimentos diretos da Petrobras para a exploração dessas reservas, será necessário criar um suporte industrial e de serviços para tornar viável o aproveitamento das reservas, depositadas a até 7 mil metros
de profundidade. “Estamos falando de uma cadeia completa de fornecedores que vai precisar de alavancagem financeira, e a maior parte dessas empresas está no Rio”, observa Álvaro Dantas, superintendente de Project Finance do Santander. A exploração do petróleo também vai alimentar a inovação em uma cidade que já é um importante polo de geração de tecnologia, com grandes universidades e centros de pesquisa, caso da PUC-RJ e a Coppe-UFRJ. Essa atividade científica, por sua vez, abre outra oportunidade no campo financeiro, pois exige uma indústria de private equity e venture capital que ajude a financiar essas iniciativas. “É muito importante ter tudo isso no mesmo lugar, pois você cria sinergias”, afirma Paulo Oliveira, CEO da Brain, Brazil Investments & Business. Além disto, a expansão do setor imobiliário também pode alimentar o ciclo virtuoso do mercado de capitais carioca. A menina dos olhos nesse segmento é o projeto do Porto Maravilha, que vai revitalizar uma área de cinco milhões de metros quadrados na Zona Portuária,
elevando de 22 mil para 100 mil o número de moradores na região e ampliando fortemente a oferta de imóveis residenciais e comerciais. A cereja do bolo nesse processo de revitalização do mercado de capitais carioca seria a reabertura da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Há empresas interessadas no negócio, como a americana Direct Edge, que quer reabrir o pregão na cidade em 2013. A questão é saber se caberia uma nova Bolsa de Valores no país. Hoje, 570 mil investidores estão cadastrados na BM&FBovespa, mas apenas 130 mil operam com regularidade. A decisão vai depender da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que encomendou um estudo à consultoria Oxera sobre os possíveis benefícios da abertura de novos concorrentes no mercado de ações brasileiro. A CVM agora avalia os resultados da pesquisa, que indicou que haveria liquidez suficiente para sustentar mais uma bolsa no país, mas ressaltou que os benefícios para o mercado seriam duvidosos, especialmente devido a entraves regulatórios. Além da questão da liquidez, há outras dúvidas sobre a viabilidade da operação. Tratase de questões referentes à estrutura de clearing, sistemas de autorregulação e integração entre a nova Bolsa do Rio e o mercado já existente, operado pela BM&F Bovespa. “Uma nova bolsa não é simplesmente mais um participante. Não é como trazer nova corretora ou banco investimento”, observa o advogado Renato Ximenes de Mello, do escritório Mattos
Investimentos para Copa e Olimpíadas, petróleo e vocação na área de seguros estão entre os fatores que alavancam a economia Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados, especializado em demandas corporativas. A questão é que as perspectivas de crescimento não dependem da bolsa, diz Oliveira. “O mercado de capitais no Rio vai acontecer independentemente da Bolsa. Para o mercado, o que mais importa é onde estão os operadores e não onde o pregão funciona”, afirmou o CEO da Brain. A subsidiária da americana Icap no Brasil é um exemplo de como, pouco a pouco, a Cidade Maravilhosa volta a ser um polo de atração para as empresas do setor financeiro.
O CEO da companhia no país, Alan Gandelman, reconhece que a decisão de instalar a sede da Icap no mercado carioca foi na contramão da maioria dos colegas e concorrentes. “Foi uma escolha feita em cima da aposta nos profissionais cariocas e da crença na capacidade de inovação do Rio”, explica. Profissional formado no Rio de Janeiro, Gandelman espera que as novas gerações de talentos
Oliveira, da Brain: “Para o mercado, o que mais importa é onde estão os operadores e não onde o pregão funciona”
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Foto: Ismar Ingber
Costa, presidente da Bolsa Verde: “Mercado financeiro pode ser uma alternativa ágil, pragmática e barata de transformar passivos ambientais em novos negócios”
Projeto do Porto Maravilha vai revitalizar uma área de cinco milhões de metros quadrados na Zona Portuária do mercado de capitais do Rio não precisem mais da ponte aérea para se desenvolver. “Normalmente, eles saem daqui para estagiar e trabalhar em São Paulo e só voltam quando são profissionais de sucesso, para montar seus próprios fundos. Com mais empresas aqui, eles não precisarão mais deixar a cidade”, conclui. Outra vocação importante são os negócios voltados para
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Mercado de Capitais
a sustentabilidade ambiental. No ano que vem deverá entrar em operacão a Bolsa Verde do Rio de Janeiro, a primeira bolsa ambiental do Brasil. O potencial do mercado é grande. Em Londres, o mercado de baixo carbono já movimenta 23 bilhões de libras esterlinas, sustenta 9 mil empresas e responde por 160 mil empregos, com destaque para o setor financeiro. Na Europa, o mercado de crédito de carbono
já é o segundo maior volume de negociação nas bolsas de commodities, atrás apenas do petróleo bruto. Segundo Pedro Moura Costa, presidente da Bolsa Verde, o novo mercado veio para atender a demanda do setor ambiental por serviços financeiros e – por tabela – gerar negócios que ajudarão a revitalizar o mercado de capitais no Rio. A ideia é criar novos instrumentos financeiros que permitam que as empresas cumpram a legislação ambiental. O Novo Código Florestal Brasileiro, por exemplo, é uma dessas oportunidades de negócio. “Será possível comprar créditos de reserva legal de terceiros para cumprir a exigência ambiental de reflorestamento de matas nativas”, explica Moura Costa. A BV Rio também vai operar com títulos de crédito de carbono e créditos de logística reversa, para o segmento de resíduos sólidos. A bolsa já dispõe de cadastros de empresas interessadas e está na fase de desenvolvimento das plataformas de negociação. “Queremos mostrar que o mercado financeiro pode ser uma alternativa ágil, pragmática e barata de transformar passivos ambientais em novos negócios”, conclui.
Em agosto temos um encontro marcado. O Congresso Apimec. Momento oportuno para avaliar o Mercado de Capitais. Participe.
Para mais informações acesse: www.congressoapimec.com.br
Realização
Organização
PATROCINADORES MASTER:
PATROCINADORES SENIOR:
EXPOSITOR:
PATROCINADORES:
APOIO DE DIVULGAÇÃO:
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Articulista convidado |
Leandro Martins
A importância da análise técnica
E
m um investimento em ações, as duas principais teorias utilizadas para selecionar os ativos para compor uma carteira de investimento são: a análise fundamentalista e a análise gráfica. A análise fundamentalista considera os fundamentos de uma empresa com base em interpretação de dados e indicadores disponibilizados e considerados verdadeiros. Tais interpretações são controversas e dificilmente conseguem prever o comportamento dos preços dos ativos, além de haver possibilidade de trabalhar com dados “maquiados” divulgados nos balanços e Demonstrações de Resultado de Exercício (DRE) das empresas analisadas, como temos visto vários exemplos nos últimos anos. Com isso, considero que a análise de balanços não é objetiva, visto que as informações dos balanços refletem os resultados passados da empresa, enquanto o que vai levar a uma valorização ou queda das ações serão os resultados futuros da empresa, ou seja, as expectativas dos investidores é que movimentam os preços das ações. Se os resultados passados nada influem sobre o futuro da empresa, o que diremos então dos resultados passados expostos de modo fraudulento, como em alguns casos que observamos em todo o mundo nos últimos anos. A análise gráfica, também conhecida como análise técnica, por sua vez, considera que todos os fatores necessários estão representados nos gráficos, na medida em que este traduz o comportamento do mercado (fundamentalistas, insiders, amadores, etc.) e avaliam, a partir dos gráficos, a participação desses investidores que influenciam na formação dos preços. Na teoria fundamentalista, além do investidor não possuir o timing da operação, ele não consegue aproveitar o zigue-zague constante das ações, muito menos se prevenir de fortes realizações. No entanto, 32
Mercado de Capitais
nada impede o investidor de efetuar um filtro de algumas ações a partir de critérios fundamentalistas com índices PL e PVPA, e a partir destas empresas aplicar todas as técnicas e ferramentas presentes na Análise Gráfica / Análise Técnica. Principais conceitos da Análise Técnica de Ações: • O preço de mercado representa um consenso, ao qual se dá o equilíbrio entre a oferta e a demanda da ação, e com isso o preço desconta todos os fatores possíveis (macroeconômicos, fundamentalistas, políticos, psicológicos, etc.); • Os preços formam-se dentro de tendências, ou seja, ocorrem períodos em que os preços oscilam segundo uma tendência de alta, de baixa ou lateral; • Certos níveis de preços são “gravados” pelo mercado, como topos e fundos, onde exercem forte resistência ou suporte para o avanço dos preços, mas, se rompidos, serão geralmente ultrapassados com grande intensidade; • A história se repete e, com isso, os padrões gráficos são identificáveis. Eles são baseados em padrões comportamentais, como ganância, medo, euforia e pânico, sempre presentes na natureza humana. A Análise Gráfica / Análise Técnica, além de identificar ações sobrecompradas (com preços muito elevados) e sobrevendidas (preços muito depreciados), consegue nos dar o tempo correto para efetuar uma ordem de compra e venda. Para isso é preciso, a quem faz Análise Gráfica, que tenha conhecimento suficiente para exercer tal atividade. Contudo, apesar da existência de regras claras e objetivas, a aplicação da Análise Técnica também envolve certo nível de experiência, adquirido com muito estudo e através de cursos, onde o aluno conseguirá absorver grande parte da experiência possuída pelo professor.
Leandro Martins é CNPI Pleno registrado pela CVM e Apimec, Mestre em Economia especializado em Análise Técnica de Ações e analista-chefe da Walpires Corretora. É responsável pelos sites www.seuconsultorfinanceiro.com.br e www.analisetecnicaacoes.com.br e autor do Livro “Aprenda a Investir”
DICAS CULTURAIS
Minha sugestão é o DVD João Bosco - 40 Anos Depois. Recentemente, inclusive, ele comemorou com um show gratuito para os sortudos que conseguiram se inscrever para obter ingressos.” Pedro Galdi analista de investimentos
Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, é uma obra que faz a gente pensar sobre o atual estágio da nossa sociedade. Tanto o livro quanto o filme.” Vinícius Corrêa e Sá administrador
“Memórias de um Operador da Bolsa é um clássico da literatura sobre o mercado. Foi escrito por Edwin Lefèvre e lançado em 1925. Conta a história de Jesse Livermore, um dos maiores operadores de bolsa do início do século passado, que no livro é apresentado com o nome fictício de Larry Livingston. O mais incrível é ver que o comportamento das pessoas que atuavam no mercado naquela época era muito parecido com o de hoje e que Livermore identificou que os preços oscilavam de maneira padronizada, sendo assim um dos pioneiros da Análise Técnica ocidental.” Filipe Botelho analista técnico
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