DIÁRIO DO PROFESSOR (12 A 16 DE ABRIL)
Nesta minha segunda semana de estágio, contei com a presença da minha orientadora de estágio. Devo dizer que inicialmente fiquei mais nervosa do que o habitual, mas rapidamente disfarcei os meus nervos e comecei a minha semana de trabalho. No Conselho de Planificação, definimos o trabalho para a semana, as inscrições para o Ler, Mostrar e Contar, assim como para os Livros e a Leitura. Depois de determinadas as tarefas dos alunos para a semana, distribuí os PIT’s. Enquanto os alunos iam planificando as suas actividades para a semana, disse-lhes que deveriam
marcar
as
actividades
em
que
tinham
mais
dificuldades, e que deveriam ter em atenção a gestão do tempo, para que não marcassem muitas mais actividades do que aquelas que eram capazes de fazer. Apesar de muitos alunos já serem capazes de fazer uma boa gestão do PIT e de marcarem o seu trabalho de acordo com as suas dificuldades, nem todos têm essa capacidade, por isso é sempre importante apelar aos alunos que tenham consciência do trabalho que vão marcar. Antes da Escrita Livre a B. M. apresentou à turma a sua história da Mala Era uma vez…. Para a elaboração do “Planeta dos Doces” a aluna contou com a ajuda da irmã. Apesar de esta só a ter ajudado a passar o texto no computador, o texto estava muito
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bem escrito e muito imaginativo. Acho que este envolvimento da família com a realidade escolar é muito importante, pois permite que ambas as partes se envolvam, dando ainda a oportunidade de os alunos conhecerem outros modelos de escrita para além dos da escola. Depois da aula de música foi o tempo da Matemática Colectiva. Como na aula anterior tinha sido começado a ser explorado o decímetro,
demos
continuidade
a
esta
actividade.
Foram
distribuídos os metros, já com os decímetros marcados, e iniciei uma conversa com os alunos. Comecei por relembrar-lhes das medições que tinham feito e dos pedacinhos que tinham ficado, perguntando-lhes em seguida o nome que esses pedacinhos poderiam ter. A A. R. respondeu-me: “São centímetros”, o J. respondeu-me:
“São
milímetros”.
Disse-lhes
que
também
o
poderiam ser, mas que não tinha sido isso que tinham marcado, pois para serem centímetros teríamos que ter dividido o metro em 100 partes iguais e para serem milímetros teríamos que o ter dividido em 1000, e que nós o tínhamos dividido em 10. A L. respondeu-me logo em seguida que esses pedacinhos eram os decímetros. Na minha ideia todos os alunos tinham entendido que o decímetro era a décima parte do metro e que os tinham descoberto de forma a facilitar as medições, ou seja, para que pudessem ter medidas mais exactas. Como pensei que esse conteúdo estava assimilado, pedi que todos os alunos dividissem
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o seu metro em 10 partes iguais que ilustrassem cada decímetro. Por essa altura comecei a aperceber-me de algumas confusões. A C.
perguntou-me:
“Professora
é
para
desenhar
em
cada
rectângulo?”, ao que respondei: “Isso não é um rectângulo.”. Logo em seguida o D. disse: “É um quadrado perfeito.” Voltei a explicar que a décima parte do metro era o decímetro, e que este existia para medir coisas que tinham menos de um metro. Perguntei ao grande grupo se estes achavam que eram importante existir uma medida mais pequena que o metro, neste caso o decímetro, ao que todos me responderam que sim, à excepção do H.. expliquei novamente que este servia para medir coisas mais pequenas, ao que ele me continuou a responder que o decímetro não era importante. Pedi-lhe que viesse à frente e pu-lo de costas com a L. e disse-lhe que aquele pedacinho de diferença nas suas alturas não poderia ser medido com um metro e por isso tinham que existir medidas mais pequenas. Pensei que o aluno estava a ser teimoso ou que estivesse na brincadeira comigo, mas só na quinta-feira é que me apercebi que realmente ele não tinha compreendido. Na parte da tarde, no Tempo de Estudo Autónomo, estive a trabalhar com o J. Nesta sessão de trabalho não estivemos a trabalhar em nenhuma dificuldade específica, estive apenas a orientá-lo nos seus trabalhos. Primeiro o J. escreveu um relato do dia-a-dia, neste texto fiz-lhes apenas algumas perguntas
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para que este pudesse organizar melhor a sua escrita. Depois do texto, o aluno fez uma ficha de tabuadas, durante a elaboração da mesma foi ajudando-o para que este conseguisse arranjar estratégias que lhe facilitassem a memorização das tabuadas. O que mais me admirou foi o facto de este aluno ainda não se ter apercebido que o produto nas multiplicações não varia se alternarmos o coeficiente com o multiplicador, ou seja, que 3x5 vai apresentar o mesmo resultado que 5x3. Depois de o aluno se ter apercebido disso o seu cálculo mental ficou mais rápido. Na quinta-feira, ao ler o Plano do Dia, expliquei que este tinha sofrido alterações, devido ao facto de estes não terem Educação Física. Disse-lhes que na parte da manhã iríamos fazer um dos jogos tradicionais que estes tinham pesquisado. O R. disse-me logo: “Professora, podemos fazer o jogo do Mata ou o da Cabra-Cega”. Respondi-lhe que era uma óptima ideia, pois por coincidência, eram os jogos que eu tinha preparado. No habitual Circuito de Comunicação, Ler Mostrar e Contar, todos os alunos inscritos apresentaram uma história. A crescente evolução nos trabalhos expostos, dificultam os meus comentários às apresentações, pois como os trabalhos estão bons, não sei o que lhes dizer para que possam melhorar. Neste momento para além de
estar
bastante
atenta
aos
textos,
também
o
estou
aos
comentários dos colegas, pois tento sempre orientá-los para que possam,
também
eles,
comentar
construtivamente.
Nas
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apresentações desta quinta-feira, apenas sugeri à L. e à M. que melhorassem os seus textos, pois haviam aspectos que poderiam ser melhorados, principalmente nas concordâncias. Após este momento fomos até ao pátio jogar o jogo da CabraCega. Este momento para além de ter sido bastante divertido, correu
bastante bem. Nem todos os alunos
tiveram
a
oportunidade de ser a Cabra-Cega,
mas
também esses gostaram do jogo. Durante o jogo apercebi-me da facilidade que
estes
tinham
para
se
reconhecer. A turma é pequena, o que facilita esse aspecto. Outro aspecto que tive a oportunidade de reparar foi como eles são o mais honestos possíveis, pois numa das vezes em que eu estava a pôr a venda o F. disse-me: “Professora, mais para baixo. Assim consigo ver.”. Quando regressámos à sala, disse-lhes que tinha gostado muito do jogo, e que me agradava bastante a ideia de eles terem sido capazes de reconhecer os colegas. Disse-lhes também que como este jogo tinha corrido bastante bem, iríamos, noutra altura, jogar a outros jogos.
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Depois do intervalo, foi o tempo da LĂngua Portuguesa.
bastante este nunca uma
lengalenga,
Estava ansiosa
momento, tinha nem
para pois
trabalhado tinha
visto
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ninguém
a
Comecei
assim:
“Neste
fim-de-semana
fui
passear,
e
acreditam vi!!!”. que
fazê-lo.
Eles
vocês no
nem
que
eu
começaram:
“O
foi professora, o que foi?” . Assim
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continuei: “Se vocês vissem o
que
eu
vi,
nem
iam
acreditar, uma galinha com cadela
pintos a
e
ladrar”.
uma Os
alunos começaram todos a rir,
uns
ainda
disseram
que
era
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mentira. Continuei: “Mas não ficou por aqui… Se vocês vissem o que eu vi, nem iam acreditar, uma cobra a tirar água e um cavalo a dançar.”. A L. respondeu-me lengalenga,
professora.”.
Em
seguida
logo:
afixei
“Isso
no
é
quadro
a a
lengalenga completa e pedi-lhe que fossem repetindo aquilo que eu ia dizendo. Continuámos a exploração da lengalenga, ora dizendo-a mais alta, ora mais baixa. Após este exercício, definimos
gestos
que
pudessem
facilitar
a
memorizar
da
lengalenga. Fiquei pouco à vontade com
esta
situação,
pois
tinha
plena noção que para os adultos a figura que eu estava a fazer era bastante cómica. Quando ia pôr a canção, para que todos pudéssemos cantar a lengalenga, o computador começou a reiniciar, assim passei logo à etapa seguinte da minha planificação, fazendo uma lista de palavras terminadas em “ar”. Depois de todos os alunos terem tido a oportunidade para participar, pus a canção e com a ajuda dos gestos
pré-escolhidos,
pedi-lhes
cantámo-la
que fizessem
uma
duas
quadra
vezes.
Seguidamente
nova usando
os dois
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primeiros versos da lengalenga. Os alunos compreenderam logo a lógica da construção da lengalenga, pois escreveram com o sentido da mesma, mas sempre com a preocupação de rimar. Após terem terminado a quadra e a respectiva ilustração, leramna para toda a turma. Para terminar o exercício voltámos a cantar
a
canção.
10 No
tempo
Colectiva,
voltámos
refeitório poderem medições. bastante
de à
para voltar
Esta
Matemática
zona
os a
alunos fazer
actividade
significativa,
do
pois
as foi
todos
puderam aperceber-se por que é que tinham descoberto os decímetros. O H. disse: “Agora já percebi porque é que é importante. Pois antes eu pensava que era um metro e um pedacinho, mas quando voltámos a medir eu vi que eram 9 decímetros.”. Quando chegámos à sala pedi que o H. explicasse à turma porque é que os decímetros eram importantes.
Esta
afirmação mostrou-me que este tinha sido o momento da descoberta, e não o da semana anterior. Como dos decímetros também tinham ficado pedacinhos, vimos que se fizéssemos o mesmo que tínhamos feito com o metro, ou seja, dividir o decímetro em 10, íamos encontrar o centímetro. Antes da aula terminar questionei-os acerca de que unidades de
medidas utilizariam para medir diversos objectos, ao qual me responderam acertadamente. Após o almoço o J. apresentou à turma o livro “O Diário de um banana 3”. Depois de o aluno ter apresentado o livro, disselhe que ele tinha feito bem em trazer aquele livro para apresentar à turma, visto já muito conhecerem o “Diário de um banana 1”, só que achava que era pouco tempo que ele o iria deixar na biblioteca da escola. O aluno concordou comigo e decidiu deixá-lo por uma semana. Depois dos Livros e a Leitura, a M. apresentou a sua história da Mala Era uma vez…. A história tinha como título “Uma aventura no
rio encantado”, apesar de mais extensa do que as histórias habituais, esta também possuía bastante qualidade. No Tempo de Estudo Autónomo, estive a trabalhar com o J.. O nosso trabalho assentou-se nas unidades de medida. Como na parte da manhã ele esteve a fazer medições utilizando o decímetro, penso que percebeu porque é que este era importante. Coloquei-lhe algumas questões: “Para encontrar um decímetro tenho que dividir o metro em quantas partes?”, “Para encontrar o centímetro tenho que dividir o metro em quantas partes?”, “Para medir a mesa que unidade de medida é que utilizaria?”, “e para medir a borracha?”. Na quinta-feira, no Balanço do Dia, disse à turma que estava receosa em fazer todas as actividades que fizemos naquele dia,
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pois a última vez que tínhamos feito um jogo não tinha corrido assim tão bem, mas que desta vez todos se tinham portado bem. Achei que era importante dizer-lhes, pois não devemos falar dos maus momentos, devemos também reconhecer quando fazem um bom trabalho, pois todos gostamos de ver o nosso trabalho reconhecido.
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Na aula de sexta-feira, após o Plano do Dia, foi escolhido o nome para
a
rádio
da
situações
é
consenso,
este
sala. difícil foi
Como
nestas
entrar
em
decidido
por
votação. Para isso escrevi algumas propostas dos alunos quadro e em seguida li-as e eles levantaram o braço
na
sua preferida. Nesta eleição deveria pôr ao
lado
de
cada proposta o número de votos que esta teve, mas apenas limitei-me a dizer qual tinha sido o nome mais votado. Se eu tivesse posto o número de votos em frente de cada proposta os alunos teriam uma percepção imediata de qual rádio era a mais votada. Em seguida os alunos escolheram aquilo que queriam que
a sua rádio tivesse. Depois do lanche foi o Tempo de Trabalho de Projecto. Neste tempo fui
rodando por todos os projectos, mas no que eu estive mais tempo foi no projecto sobre os Livros. Estive com as alunas a ver o que seria mais importante de toda a informação que dispunham. É muito difícil não ser mais um elemento no projecto, pois por diversas vezes estava a dizer-lhes “acho que isto é importante”. Mas quando as alunas me perguntavam “isto é importante?”, respondia-lhes dizendo “Vamos ler o vosso plano e ver se isto responde à vossa pergunta:”. No Tempo de Estudo Autónomo estive a fazer melhoramento de texto com a M.. Este trabalho correu bastante bem, até parecia que ela sabia precisamente qual era a resposta que eu queria ouvir. Quando lhe perguntava como é que ela achava que ficava melhor ela fazia a concordância correctamente. Depois de ajudá-la no melhoramento de texto, estive a ajudar o J. e a T. numa ficha de tabuadas. O Conselho de Cooperação é sempre feito com o olho no relógio. Mal
entrámos
na
sala,
depois
do
almoço,
disse-lhes
que
avaliassem o seu PIT, e que dessem a opinião sobre um, de um colega. Foram escolhidos quatro alunos para apresentarem o seu trabalho à turma. É interessante ver que mesmo aqueles alunos que não fizeram um bom trabalho, oferecem-se para mostrá-lo à turma. Por vezes até parece que é um pedido de ajuda, como se quisessem dizer: “Não consigo organizar-me, preciso que me ajudem.”. No caso da C. foi diferente, a aluna conseguiu
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terminar o seu PIT, fazendo mais do que aquilo que tinha marcado, mas tinha feito quatro problemas. Disse-lhe que em fez de fazer tantos problemas poderia ter feito outras coisas, por exemplo qualquer coisa de Estudo do Meio, visto ter apenas feito um exercício de cada. A M. como começa de cima para baixo, no seu PIT, e não teve tempo para terminá-lo, não fazendo nenhum exercício de Estudo do Meio, disse-lhe que deveria arranjar outra estratégia, que para a próxima até poderia começar ao contrário. Na leitura do Diário de Turma, senti-me bastante aflita, pois um assunto que eu pensava que não iria ser tão debatido, foi discutido durante bastante tempo. A minha aflição não estava em não saber o que dizer, mas sim em como dar por encerrado o assunto e passar ao próximo. Quando adoptamos a posição de não policiar os alunos e de tentar pô-los no lugar do outro fica muito mais fácil de gerir, porque assim permitimos que estes se expressem à vontade sem passarem por constrangimentos. Penso que esta semana foi bem conseguido, pois todos os objectivos propostos foram conseguidos. Mas também experienciei que nem sempre a teoria vem antes da prática, e que o mais importante é que os alunos manuseiem o material para que os conteúdos não se tornem abstractos.
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