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Fumaça e aquecimento
Frota de veículos da Amazônia Legal emite até 12 milhões de toneladas de CO² por ano, diz Inpe Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – A frota de veículos de 9,6 milhões da Amazônia Legal, entre carros, motos e ônibus, emite entre 8 milhões a 12 milhões de toneladas de dióxido de carbono - CO² - todos os anos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) repassados à REVISTA CENARIUM. O volume de emissão, embora represente apenas 2% do total de CO² emitido pelo desmatamento na região, ainda representa um perigo para o aumento do efeito estufa.
O dado é confirmado pelo pesquisador do Inpe, na região, Jean Ometto, considerando a quantidade de gás carbônico que os veículos lançam na Terra e o levantamento realizado pela reportagem, com base na frota de veículos da Amazônia brasileira, disponibilizada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
O gás carbônico, ou dióxido de carbono (CO²), é um gás presente na atmosfera e está associado ao efeito estufa, sendo considerado prejudicial ao meio ambiente e um dos responsáveis pelo aumento do aquecimento global.
De acordo com Jean Ometto, outros fatores também devem ser considerados para obter a quantidade aproximada de CO² emitida pelo número da frota, como emissão de quilograma do gás por litro de gasolina, o uso de combustível
renovável, a quantidade existente de veículos com tecnologia flex, que permite o abastecimento do transporte com gasolina ou álcool, a idade média da frota da região, quanto, em combustível, um veículo gasta, em média, anualmente, entre outros.
“Devemos lembrar que, mais ou menos, metade dessa frota (4,75 milhões) usa só etanol (combustível renovável). Admitindo essa quantidade, os veículos emitiriam em torno de 8 milhões a 12 milhões de toneladas de CO² por ano. Estamos falando de um valor que é menos de 2% do desmatamento na Amazônia brasileira, mas que não significa que podemos deixar de economizar, porque a redução da circulação de veículos envolve também outros benefícios. Precisamos estar atentos com a redução no meio urbano para ter qualidade de vida”, analisou o pesquisador à REVISTA CENARIUM.
Entre os benefícios obtidos com a menor circulação de veículos nas cidades, pontua o pesquisador, estão a redução de poluição do ar (material particulado, ou seja, partículas finas como poeiras), menor produção de dióxido de nitrogênio, enxofre, entre outros poluentes.
De acordo com o pesquisador, quando um carro é movido somente à gasolina, a emissão de CO² por litro de gasolina é de dois quilos no período de um ano, o que não é muito diferente quando se fala em diesel.
“No Brasil, o carro que roda somente com gasolina emite em torno de 2,5 quilos de CO² por litro de combustível, isso, por exemplo, se ele não tiver Etanol. De 23% a 27% da gasolina brasileira é etanol. Essa emissão de CO², que é contabilizada para inventário, é a emissão que vem de combustíveis fósseis. Porque no etanol a emissão de carbono é zerada, sendo considerada energia renovável”, esclarece Ometto.
DESMATAMENTO
O desmatamento no Brasil é ainda o setor, do inventário de emissões, que mais emite gás carbônico em território nacional, com quase 2 bilhões de toneladas do poluente anualmente, de acordo
Crédito: Ricardo Oliveira
com os dados de 2018 e divulgados em 2019 pelo Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes) do Inpe.
Ao considerar todas as formas de emissão do gás na atmosfera, os números fazem do Brasil o sétimo maior emissor global de CO², o que representa entre 2,5% a 3% do total no mundo. Somente a Amazônia Legal foi responsável por emitir 400 milhões de toneladas de gás em 2018, número ainda mais alto em 2019, com a emissão de 570 milhões de toneladas do gás.
Os dados de emissões de CO² são calculados a partir de um sistema do Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), que é liberado anualmente, em novembro. “Acredito que a emissão não vá mudar, inclusive porque vem aumentando o desmatamento na Amazônia a cada ano”, disse Jean Omeetto.
LIGAÇÃO
O ambientalista e superintendente do Instituto Internacional de Responsabilidade Socioambiental Chico Mendes, José Coutinho, observa que o sistema de transporte de pessoas e mercadorias sempre esteve associado à geração de alguma forma de poluição, seja atmosférica, sonora ou visual.
Para ele, o nível de organização e controle das atividades de transporte sejam públicos, privados ou individual pela população são condicionantes impor
O Amazonas tem uma frota de 944.345 mil veículos e está em quarto lugar entre os Estados da Amazônia Legal
Jean Ometto, pesquisador do Inpe.
O pesquisador do Inpe, Jean Ometto, aponta que a redução da circulação de veículos envolve diversos benefícios que influenciam na qualidade de vida
VEÍCULOS POLUENTES
Acre Amapá Amazonas Pará Rondônia Roraima Tocantins Maranhão
Mato Grosso
Amazonia Legal
Total Brasil
Fonte: Denatran
297.813 208.839 944.345 2.154.037 1.046.677 233.205 735.456 1.803.422 2.256.068 9.679.862 106.010.452
Rua de Manaus enfumaçada no período das queimadas
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS
tantes para explicar os diferentes índices de poluição veicular.
“Em Manaus, observando a rotina diária nos centros urbanos, isso não incomoda a população. Na maioria das vezes, a poluição não é perceptível, mas não quer dizer que os veículos não estejam poluindo. Com esse número crescente do transporte circulando na cidade, para um clima quente e úmido como é o nosso [na Amazônia], isso poderia ser evitado se os proprietários dos veículos cuidassem melhor e mantivessem as manutenções preventivas”, pontuou.
Segundo Coutinho, na capital amazonense, ainda é possível perceber veículos circulando emitindo fumaça preta pelo escapamento, lançando no meio ambiente, prejudicando, principalmente, a saúde da população.
“As poluições veiculares causam impactos, tanto ambientais, quanto de saúde pública, causados pelos motores e as fuligens expelidas pelos escapamentos que ficam encrostados nas plantas, calçadas e prédios, nas fachadas dos imóveis. O principal poluente nesta categoria é o dióxido de carbono (CO²)”, explicou Coutinho.
VEÍCULOS POLUENTES
Os dados do Denatran, atualizados há menos de um mês, mostram que Mato
Grosso é o Estado que mais possui veículos na Amazônia Legal, com 2.256.068 milhões de veículos entre carros, motos e ônibus. Em segundo lugar, aparece Pará, com 2.154.037 milhões de veículos.
Completam a lista, respectivamente, os Estados de Maranhão (1.803.422 milhão), Rondônia (1.046.677 milhão), Amazonas (944.345 mil), Tocantins (735.456 mil), Acre (297.813 mil), Roraima (233.205 mil) e Amapá (208.839 mil).
ESTUDO
Na capital amazonense, um estudo desenvolvido com pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) apontou que houve uma queda de 64% nos níveis de material particulado (poluição do ar) na área urbana, em Manaus, em consequência da diminuição das atividades industriais e da mobilidade urbana, durante o isolamento social decorrente da Covid-19.
De acordo com dados do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU), em Manaus, durante os meses em que a doença esteve mais acentuada, o órgão informou que observou uma redução de, pelo menos, 30% na circulação de veículos nos principais corredores de tráfego da cidade.