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MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
AMAZÔNIA DEVASTADA
Crédito: Ricardo Oliveira
Desmatamento no primeiro semestre de 2020 é 25% maior do que em 2019
Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium
MANAUS – Nos seis primeiros meses deste ano, o desmatamento na Amazônia brasileira registrou um recorde de 3.070 quilômetros quadrados. A área devastada marca um aumento semestral de 25% na comparação com os 2.446 quilômetros quadrados desmatados no mesmo período do ano passado, de acordo com o relatório feito a partir de observações de satélite do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Os dados foram ainda confirmados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) em 17 de julho, dias após as duas maiores apreensões de madeira ilegal no Amazonas e no Pará, que, somadas, resultaram em cerca de 4 mil metros cúbicos de madeira retiradas da floresta.
Com base nos dados oficiais divulgados pelo Inpe, o desmatamento atingiu 1.034,4 quilômetros quadrados em junho, contra 934,81 quilômetros quadrados no mesmo período em 2019, o pior mês de junho da série histórica iniciada em 2015.
A extração ilegal de madeira, a mineração e a pecuária em áreas protegidas são as principais causas de destruição, que, em 2019, superou pela primeira vez desde 2008 a marca de 10 mil quilômetros quadrados, de acordo com outro sis
Carlos Nobre, climatologista.
Crédito: Mayke Toscano Secom MT
tema de observação por satélites do Inpe, o Prodes, mais ajustado que o Deter.
O desmatamento parece não dar trégua, apesar da presença militar incorporada à vigilância ambiental e da pressão internacional e empresarial.
A tendência provoca alarmes devido ao início da temporada de secas em junho. Em 2019, o desmatamento disparou em julho, a 2.255,33 quilômetros quadrados de superfície na Amazônia.
A temporada seca também é o período de incêndios em áreas desmatadas, que este ano provoca uma preocupação dupla, tanto por seu impacto ambiental como pelo fato de que a fumaça geralmente provoca um aumento das doenças respiratórias, que acontecerá em plena pandemia do novo Coronavírus.
FLORESTA DE PÉ TRAZ RIQUEZAS
Durante a webconferência “Desmatamentos e Queimadas na Amazônia”, promovida pelo Tribunal de Contas do Amazonas (TCE), também em 17 de julho, o climatologista Carlos Nobre e o ex-presidente do Inpe, Ricardo Galvão, debateram sobre o crescimento das queimadas e do desmatamento na região amazônica.
Para um dos maiores especialistas do mundo na Amazônia, o climatologista Carlos Nobre, a Amazônia em pé, associada a uma nova indústria, trará riquezas muito maiores que a gerada por sua destruição.
“A floresta amazônica integra o sistema climático que sustenta a agricultura e o PIB do País. Vem da Amazônia boa parte da umidade, as chuvas, das quais dependem o Brasil e a América do Sul. É um sistema que existe há milhões de anos e está sob ataque”, afirma o cientista.
Segundo Nobre, a floresta amazônica é um ecossistema único, diferente das florestas tropicais, pois ela evoluiu com a maior biodiversidade do planeta, criando condições para sua própria existência. Além disso, ela tem um sistema biológico com capacidade de reciclar os nutrientes e de gerar grande parte de chuva, por isso ela se mantém viva.
Nobre aponta alguns fatores como os responsáveis pelo desaparecimento da floresta amazônica. “O que causa esse risco ao desaparecimento da floresta amazônica são fatores antropogênicos, as mudanças climáticas, o aquecimento global, o desmatamento regional e as queimadas, o aumento da vulnerabilidade da floresta amazônica ao fogo. Esses são os três fatores que estão acontecendo ao mesmo tempo, eles interagem e o efeito sinergístico deles leva ao risco do desaparecimento da floresta”, avalia o pesquisador.
Dados do Inpe apontam que o desmatamento atingiu 1.034,4 quilômetros quadrados em junho deste ano, o pior mês de junho da série histórica iniciada em 2015
25%
O desmatamento na Amazônia brasileira registrou aumento de 25% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. O recorde de 3.070 quilômetros quadrados desmatados neste ano superou os 2.446 quilômetros quadrados do ano passado.