Abril de 2022 • Ano 03 • Nº 22 • R$ 15,99
DIA DO ÍNDIO DOS POVOS INDÍGENAS
Diversos, modernos, conectados e mobilizados, os povos indígenas buscam cada vez mais espaços de poder e assumem o controle de suas narrativas na resistência e luta por direitos
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Expediente Diretora-Geral Paula Litaiff – MTb-793/AM www.paulalitaiff.com paulalitaiff@revistacenarium.com.br
AGÊNCIA CENARIUM O MELHOR CONTEÚDO EM MULTIPLATAFORMA
Gerente Administrativa Elcimara Oliveira Supervisora de Recursos Humanos Edne Ramos Gestores de Conteúdo – On-line Omar Gusmão (1º turno) Eduardo Figueiredo (2º turno) Editora-Executiva – Revista Digital/Impressa Márcia Guimarães Editor-Executivo – TV Cenarium Web Gabriel Abreu
Fotojornalismo/Cinegrafia Ricardo Oliveira Jander Souza
Revista Cenarium On-line Revista Cenarium Impressa TV Web Cenarium
Foto da capa Diego Janatã Redes Sociais Ana Camargo Ana Beauvoir Jhualisson Veiga Designers Isabelle Chaves Thiago Alencar Projeto Gráfico e Diagramação | Revista Digital/Impressa Hugo Moura Núcleo de Revisão Adriana Gonzaga (On-line) Gustavo Gilona (On-line) Jesua Maia (Impresso) Secretária-Executiva Ana Pastana Supervisor de Logística e Marketing Orson Oliveira
Jornalismo que forma consciência
Ser indígena
“O jornalista medíocre informa por informar; o autêntico jornalista informa para formar”, a frase descrita na obra “Iniciação à filosofia do jornalismo”, de Luiz Beltrão de Andrade Lima (1918 – 1986), para referenciar Alceu Amoroso Lima (1893 – 1983), o “Tristão de Ataíde”, reflete o cerne da REVISTA CENARIUM ao ser recriada há exatamente dois anos.
O que é ser indígena? O que é ser indígena no Brasil? Questionamentos que permeiam a história do País. Questionamentos que os brancos, vindos da Europa, fazem sobre os povos originários desde que aportaram em terras tupiniquins, tupinambás, ianomâmis, pataxós, guaranis e outras tantas. Colonização? Invasão? Depende do lado em que se está.
Abril traz consigo duas datas significativas para a CENARIUM: dia 15, data do ingresso da revista na internet e 19 de abril, dia da conscientização dos Direitos dos Povos Indígenas, antes chamado “Dia do Índio”, termo que passou a ser questionado pelas lideranças dos povos após a histórica estigmatização social da nomenclatura e por omitir a diversidade dos povos em suas identidades, línguas e religiões.
Para este abril de 2022, a REVISTA CENARIUM dá eco às vozes que falam de um lugar de luta, resistência, superação, história, tradição, mas também de evolução, modernidade, conexão, organização. Nada mais justo do que eles e elas próprios falarem de si. Eles e elas sabem quem são.
Concebida, essencialmente, para debater as relações étnico-raciais no Brasil e o protagonismo dos povos originários e tradicionais da região amazônica, a CENARIUM trabalha para levar ao leitor muito mais que a notícia puramente informativa.
Núcleo de Reportagem – On-line/Digital/Impresso Ana Carolina Barbosa Bruno Pacheco Iury Lima – Correspondente/Rondônia Gabriel Abreu Marcela Leiros Priscilla Peixoto Wânia Lopes – Colunista/Brasília Yusseff Abrahim – Correspondente/Brasília Apresentação – Programa ‘Cenarium Entrevista’ Liliane Araújo
Editorial
Assine A REVISTA CENARIUM, de responsabilidade da AGÊNCIA CENARIUM, pode ser encontrada na versão impressa, com o conteúdo digital disponibilizado gratuitamente em www.revistacenarium.com.br, ou remetida fisicamente, por meio de uma assinatura mensal no valor de R$ 15,99 (frete grátis apenas para Manaus/AM).
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8h às 17h
Não há mais tempo e espaço para cidadãos que vivem à margem dos debates sociopolíticos e socioeconômicos. O resultado da falta de atuação social mais altiva se reflete no atual cenário financeiro que retirou o poder de compra de trabalhadores assalariados e vem gerando perdas de direitos, mesmo sem legalização, dos povos da Amazônia. Prova disso está na atuação criminosa de garimpeiros ilegais em Roraima que, nos últimos dois anos, vem promovendo um verdadeiro genocídio na Terra Indígena Yanomami com a permissão velada da Fundação Nacional do Índio (Funai), instituição que passou a proteger qualquer coisa, menos os povos indígenas. A perda de direitos também está nos ataques proferidos à Zona Franca de Manaus (ZFM), modelo econômico que ajuda a manter mais de 90% das florestas do Amazonas preservadas. Em meio aos ataques à Amazônia, é necessária a formação de uma sociedade com uma consciência despida de ideologias e vestida de identidade, mudança que só pode ocorrer a partir da atuação direta de uma imprensa comprometida com a responsabilidade de conscientizar e formar cidadãos.
19 de abril. “Dia do Índio”. Mas, “índio”? “Aquele que os portugueses viram ao não chegarem à Índia”, disse o influenciador digital Tukumã Pataxó. Índio, silvícola, primitivo, preguiçoso, não confiável, ignorante. Tudo isso disseram deles e delas. Escravizados, catequizados, usurpados, estereotipados, ridicularizados, tutelados. Tudo isso fizeram com eles e elas. Mas, eles e elas sabem quem são. Diversos, organizados, orgulhosos de si, conectados às tecnologias, na direção de suas narrativas, ocupando espaços de poder e de comunicação, eles e elas chegaram com força ao século 21. Nada foi dado. Tudo foi conquistado. De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, os mais de 305 povos indígenas do Brasil somam 896.917 pessoas. Destas, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que corresponde, aproximadamente, a 0,47% da população total do País. Mas, segundo informações do Instituto Socioambiental (ISA), estima-se que, quando os europeus chegaram aqui, eram mais de 1 mil povos, somando entre 2 e 4 milhões de pessoas. A grandeza, a diversidade e o desafio de tomar de volta seu espaço no País e caminhar junto à evolução dos tempos, mas sem perder a essência de tradições é o que queremos ecoar com a reportagem de capa desta edição. Com a palavra, jovens lideranças, influenciadores digitais, políticos, ativistas. Eles e elas sabem quem são.
De segunda a sexta-feira, exceto feriados.
Consultor Jurídico Christhian Naranjo de Oliveira (OAB 4188/AM) Telefone Geral da Redação (92) 3071-8790 Circulação Manaus (AM), Belém (PA), Brasília (DF) e São Paulo (SP)
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Paula Litaiff Diretora-Geral
Márcia Guimarães Editora-Executiva
Sumário
Leitor&Leitora
Abirl de 2022 • Ano 03 • Nº 22
💬 Conscientização Excelente a matéria de capa, “Para todos os corpos”. Importante conscientizar as mulheres a não se curvar diante das imposições feitas pela sociedade, acumulando em seu interior medos e transtornos lutando por aceitação. Cada ser é único e lindo a sua maneira. Aline Andrade Manaus - AM
💬 Defesa da floresta Parabéns pelas matérias de Meio Ambiente, precisamos dessa voz em defesa da nossa Amazônia. Saulo Costa Belém - PA
💬 Quebra de padrões Crédito: Acervo Pessoal
A REVISTA CENARIUM sempre indo contra os padrões, trazendo valorização da mulher quanto pessoa. Me senti representada nesta edição! Parabéns pela excelência! Deborah Souza Brasília - DF
💬 Sabor de pizza
💬 Respeito à diversidade “A REVISTA CENARIUM como sempre arrasando em suas matérias, trazendo consigo um assunto muito falado nos últimos tempos, o ‘biotipo ideal’. E o ideal é que devemos normalizar que seja da forma como a mulher em si se sentir bem, linda e única, porque todas nós temos nosso jeito único e inatingível. Temos que, sim, normalizar o caráter, porque somente ele para nos fazer uma mulher linda. Agradeço a REVISTA CENARIUM também por traze consigo um assunto não esquecido, mas também não muito falado, os povos indígenas e a nossa tão querida e amada Amazônia. É a única revista em que impõem o valor e a verdade por trás de tudo que acontece nela [a Amazônia].
Depois de ler a matéria da Mamma Mia, resolvi experimentar para ver se realmente é gostoso e valeu a pena, uma delícia! Sabor diferenciado. Parabéns pelo diferencial. André Campos Manaus - AM
14 Crédito: Ricardo Oliveira
30 Crédito: Cleia Viana | Câmara dos Deputados
► MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
Parabéns a CENARIUM pelo selo de qualidade do Jornalismo amazonense, reforçando ainda mais a credibilidade e seriedade da empresa com a sociedade de levar a informação técnica e de qualidade vista no seu trabalho.
Dara Luiza Oliveira
Livia Maria Silva Campos
Feira de Santana - BA
Manaus - AM
Meta ambiciosa.......................................................................10
CENARIUM: dois anos marcando presença da
Defensores da floresta............................................................12
Amazônia para o mundo.......................................................50
Transformando vidas..............................................................14
Propaganda ‘de milhões’........................................................56
► CENARIUM+CIÊNCIA Com a cabeça no espaço........................................................18
► PODER & INSTITUIÇÕES Amazônia sem Mato Grosso ................................................20
Da série ‘Cartas do Amazonas’: Manoel Urbano................21 Coluna Via Brasília ................................................................22
► ECONOMIA & SOCIEDADE DIA DOS POVOS INDÍGENAS Indígenas no século 21...........................................................24 Força, luta e resistência...........................................................32 Nossa capa Djuena Tikuna: o canto da Amazônia.............38
💬 E-mail: cartadoleitor@revistacenarium.com.br | WhatsApp: (92) 98564-1573
Dois anos de pandemia.........................................................44 Preço alto no Pará...................................................................46
‘Índio’, não!.............................................................................30
💬 MANDE SUA MENSAGEM
Crédito: Divulgação
Desastre quatro vezes maior..................................................08
► ARTIGO – MARCUS LACERDA
💬 Selo de qualidade
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‘Os Povos Indígenas estão resistindo’...................................40
► ARTIGO – GRACE BENAYON Representatividade feminina importa e vale a pena continuar, lutar e acreditar.....................................................59
► POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS Violação de direitos................................................................60
► MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS Impactos da guerra.................................................................62
► ENTRETENIMENTO & CULTURA Arte na Amazônia...................................................................64
► DIVERSIDADE Moda ‘GG’...............................................................................66
► ARTIGO – ODENILDO SENA O Último Biribá......................................................................68
MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
Desastre quatro vezes maior Desmatamento na Amazônia pode crescer até quatro vezes, de acordo com o relatório ‘Isolados ou dizimados’ Nicole Gomes – Da Revista Cenarium
REVISTA CENARIUM
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ANAUS (AM) – O novo relatório da campanha intitulada “Isolados ou Dizimados” aponta a Terra Indígena Jacareúba-Katawaki, localizada entre os municípios de Canutama e Lábrea, no sul do Amazonas, como uma das regiões que está sofrendo constantes invasões e, mesmo com registros da existência de indígenas isolados, segue desprotegida, desde dezembro de 2021. Logo, segundo o relatório, se o cenário não mudar e medidas do governo federal não forem tomadas, o desmatamento pode ser quatro vezes maior do que a média histórica de 2012 a 2016.
Políticas Ambientais
Crédito: Christian Braga | Greenpeace
3 milhões
Até julho de 2021, já foram desmatados 5.889,4 hectares no interior de Jacareúba, correspondendo a mais de 3 milhões de árvores derrubadas, segundo o Prodes/Inpe.
O relatório da campanha “Isolados e Dizimados” aponta que à medida que aumenta o desmatamento e diminui a quantidade de floresta no planeta, cai a capacidade da Terra de regular a temperatura. Logo, a tendência do efeito estufa e aquecimento global é intensificada. Para reverter esse quadro, é preciso direcionar a atenção para as políticas ambientais no País. “Uma medida primordial e urgente é a restauração da política ambiental no Brasil, em especial as ações de fiscalização ambiental e implementação dos mecanismos de gestão das áreas protegidas. Um segundo ponto, especialmente no período de eleição, é a sociedade civil cobrar e se informar sobre o que a atual política de governo tem promovido para a política ambiental, fomentando o crime ambiental”, defendeu Antônio Oviedo.
Desmatamento no sul do Amazonas pode alcançar 170 mil quilômetros quadrados em 2050, com risco de genocídio indígena, segundo o ISA 08
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O Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) registra 639 cadastros irregulares de invasores, que ameaçam mais de 60 mil hectares no interior da Terra Indígena. Além disso, segundo aponta o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes/ Inpe), até julho de 2021, já foram desmatados 5.889,4 hectares no interior de Jacareúba, correspondendo a mais de 3 milhões de árvores derrubadas. Esse mesmo território possui registro em estudo, desde 2007, e tinha uma portaria de Restrição de Uso, que era renovada durante dez anos seguidos. Entretanto, o acordo chegou ao fim em dezembro de 2021. Já a “Nova Funai” escolheu não tomar as medidas necessárias para garantir a proteção dos isolados dessas Terras Indígenas (TIs), de acordo com relatório publicado no dia 14 de março.
POVOS ISOLADOS O coordenador do Programa de Monitoramento de Áreas Protegidas do Instituto Socioambiental (ISA) Antônio Oviedo explicou como o desmatamento ameaça os indígenas isolados na Amazônia. “O desmatamento dentro dos territórios indígenas promove uma perda de biodiversidade e ecossistemas naturais que impactam a segurança alimentar desses povos. Os grupos isolados dependem da floresta para a coleta de produtos de extrativismo, para a fabricação de utensílios de suas malocas. Logo, os criminosos degradam e acabam com esses recursos da floresta, imprescindíveis para a reprodução social dos grupos isolados”, afirmou o pesquisador. Por outro lado, há também o desmatamento que ocorre fora dos territórios indígenas, com riscos para os grupos isolados. “À medida que a paisagem e o ambiente fora das terras indígenas ficam degradados com o desmatamento é gerado um “Efeito de Borda”, que também pode promover impactos negativos para dentro dos territórios indígenas. Por exemplo, quando na borda externa de uma terra indígena tem pastagens e os fazendeiros colocam fogo para manejar, muitas vezes, esse fogo invade as florestas e os ecossistemas das terras indígenas, e impacta nos recursos florestais desses povos”, explicou Antônio.
Petição para a proteção das Terras Indígenas Devido ao descaso com os povos isolados, a campanha “Isolados e Dizimados”, realizada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), junto ao Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Isolados e de Recente Contato (OPI) e com apoio das organizações aliadas está promovendo ações para dar visibilidade à violência e ao perigo que grupos nestas condições estão correndo. Para apoiar a causa, é possível acessar e assinar a petição www.isoladosoudizimados.org.
IMPACTOS AMBIENTAIS Ainda de acordo com o coordenador do ISA, existem inúmeros estudos que demonstram o papel da floresta na captura do carbono, característica importante para a manutenção do clima no planeta. “A principal causa de desregulação do clima é o efeito estufa, que é o excesso da liberação de carbono na atmosfera, a partir da queima dos combustíveis fósseis, que atua como um cobertor sob o planeta, mantendo a temperatura e dificultando as trocas de energia da terra com a atmosfera. Então, quanto mais a gente queima, mais a temperatura do planeta vai se elevando, ocasionado toda essa bagunça no clima. Antigamente, a gente tinha as quatro estações do ano bem mais delimitadas, hoje em dia, tem durante o período do verão a estiagem (chuvas no verão), de 20 a 30 dias, ou o inverso, como ocorreu, recentemente, em Petrópolis, no Rio de Janeiro”, contou Oviedo. 09
Meta ambiciosa
Crédito: Ricardo Oliveira
MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
Para reduzir carbono, Maranhão busca financiamento que incentiva a ‘economia verde’ Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
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ANAUS (AM) – Com uma meta ambiciosa que visa reduzir 16 milhões de toneladas de emissões líquidas de carbono entre 2022 e 2026, o Governo do Maranhão busca receber recursos da Coalizão LEAF, uma iniciativa público-privada global que visa mobilizar US$ 1 bilhão em financiamento para garantir proteção florestal, contribuindo para o crescimento verde dos países, por meio de investimentos sustentáveis. O Estado é reconhecido, desde o final de 2020, no programa autônomo e independente de certificação internacional Art-Trees, que elabora análises técnicas para assegurar a conservação das florestas e fazer com que também haja contribuição para o desenvolvimento socioeconômico dessas regiões, estimulando a ambição dos países e colaborar, ainda, com as metas do Acordo de Paris, adotado por 195 países em 2015, para deter o aumento de temperatura do planeta. Por meio da Art-Trees, são desenvolvidos e administrados procedimentos padronizados que registram, verificam e creditam reduções e remoções de emissões de gases do efeito estufa provenientes de desmatamento e degradação florestal, o REDD+, com captação podendo chegar a US$ 10 por tonelada de carbono que não é mais emitida. A partir do reconhecimento do programa, o Maranhão pode receber o financiamento da Coalizão LEAF, já que as propostas dos governos interessados em obter o recurso serão selecionadas com base na capacidade para atender aos requi-
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sitos do Art-Trees. Nas redes sociais, o governador Flávio Dino (PSB) lembrou do feito e disse que o Estado teve propostas tecnicamente aprovadas para se habilitarem a obter o subsídio financeiro de apoio à economia verde. “O Maranhão e outros Estados da Amazônia tiveram propostas tecnicamente aprovadas para se habilitarem a recursos da Coalizão LEAF, de apoio à economia verde. Quando o ciclo de trevas se encerrar no Brasil, creio que teremos ótimos resultados, inclusive com a retomada do Fundo Amazônia”, declarou o governador do Maranhão, em uma publicação no Twitter, no dia 28 de fevereiro.
COALIZÃO LEAF A Coalizão LEAF foi lançada em abril de 2021, durante a Cúpula do Clima, por um grupo de governos e empresas globais, em um dos maiores esforços público-privados para a conservação de florestas tropicais e subtropicais do mundo. A princípio, os participantes da iniciativa foram à Noruega, ao Reino Unido e aos Estados Unidos e as empresas Amazon, Airbnb, Bayer, BCG, GSK, McKinsey, Nestlé, Salesforce e Unilever, mais outros países e multinacionais também poderão entrar no programa, como o Brasil. O valor do financiamento para os participantes com propostas aceitas totaliza US$ 1 bilhão, que deve ser disponibilizado em um período de cinco anos, visando à proteção da floresta tropical em todo o mundo a longo prazo.
US$ 1 bilhão Estado busca garantir iniciativa público-privada global que visa proteger as florestas do mundo
O valor do financiamento no programa Art-Trees, da Coalizão LEAF, totaliza US$ 1 bilhão para participantes com propostas aceitas, que devem ser disponibilizados em cinco anos. 11
MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
REVISTA CENARIUM
Defensores da floresta
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Governador do AM lança programa que beneficiará 14 mil famílias em reservas ambientais Marcela Leiros – Revista Cenarium públicas; pessoas e comunidades; e finanças e investimento.
“Hoje, nós estamos lançando um programa muito importante. O maior programa de serviços ambientais do planeta, que vai beneficiar famílias que moram em Reservas de Desenvolvimento Sustentável. Famílias que estão no manejo de quelônios, do pirarucu, que vivem dos recursos da floresta, e produzem recursos de forma consciente”, disse Wilson Lima, no evento realizado em março.
Wilson Lima destacou que o objetivo é ampliar o recurso inicial. “Lançamos o fundo para apoiar a pesquisa, a ciência e a inovação na Amazônia. Já contamos com R$ 100 milhões e queremos chegar a R$ 500 milhões”, ressaltou o governador.
DEBATE INTERNACIONAL O evento reuniu lideranças de mais de dez países que debateram modelos de desenvolvimento para o futuro do planeta, priorizando a conservação ambiental e respeitando as populações tradicionais. A reunião anual da Força-Tarefa do GCF foi dividida em debates temáticos que se alinham com o Plano de Ação de Manaus (MAP), inicialmente discutido, em 2021, na Conferência das Partes, a COP26, em Glasgow, na Escócia. O MAP traça um caminho para a rede da Força-Tarefa do GCF nos próximos anos, abordando as áreas: conhecimento, tecnologia e inovação; governo e políticas 12
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Wilson Lima, governador do Amazonas.
AMAZÔNIA+10 O governador também lançou, durante o evento, o fundo Amazônia+10. A iniciativa busca promover a ciência, a tecnologia e a inovação na região amazônica, por meio de parcerias com fundações estaduais de pesquisa, governos, setor privado e organizações internacionais.
A parceria que possibilitou o lançamento do fundo foi desenhada no âmbito do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de CT&I (Consecti). O fundo Amazônia +10 envolve todas as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) do Brasil para o desenvolvimento de projetos científicos na região da Amazônia Legal. “É uma iniciativa que está alinhada a um dos quatro pilares do Manaus Action Plan, que é o de Ciência, Tecnologia e Inovação. É um fundo para o desenvolvimento de cadeias produtivas, atividades de recuperação de florestas, atividades vinculadas aos processos relacionados a serviços ambientais como carbono, por exemplo”, detalhou Eduardo Taveira, secretário de Meio Ambiente.
Governador do Amazonas, Wilson Lima, discursa em evento que reúne lideranças de mais de dez países
Crédito: Arthur Castro | Secom
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ANAUS (AM) – O programa estadual “Guardiões da Floresta” vai beneficiar 14 mil famílias que moram em Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) no Amazonas. A informação foi anunciada pelo governador do Amazonas, Wilson Lima, na 12ª Reunião Anual da Força-Tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas (GCF Task Force), realizada em Manaus, onde o programa foi lançado.
Crédito: Bruno Zanardo | Secom
O maior programa de serviços ambientais do planeta, que vai beneficiar famílias que moram em Reservas de Desenvolvimento Sustentável. Famílias que estão no manejo de quelônios, do pirarucu, que vivem dos recursos da floresta, e produzem recursos de forma consciente”
Projetos
Secretário de Meio Ambiente, Eduardo Taveira, durante a reunião do GCF Task Force, em Manaus
Os projetos a serem financiados serão mission-oriented, ou seja, serão orientados pelos desafios da Amazônia Legal. “Em junho, vamos lançar os editais. Teremos projetos ambientais, mas também voltados a ações específicas, aqueles problemas que são barreiras para o desenvolvimento da região. O objetivo final é dar uma melhor condição de vida aos nossos amazônidas, gerando mais empregos e renda, e resolvendo alguns problemas que eles têm no
dia a dia”, afirmou Jório Veiga, titular da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti). O Consecti irá coordenar o Amazônia+10 e terá a responsabilidade de receber, avaliar e aprovar os projetos de CT&I que venham a acelerar o desenvolvimento da Amazônia. Também será responsabilidade do Consecti distribuir os recursos, assessorar e acompanhar as atividades a serem realizadas.
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MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
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Transformando vidas
IMPACTOS POSITIVOS
Programa que ajuda a diminuir o desmatamento e a pobreza na Amazônia beneficia mais de 39,5 mil ribeirinhos e indígenas Ana Alverca – Especial para a Revista Cenarium
Crédito: Bolsa Floresta Social
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RASÍLIA (DF) – No coração da floresta amazônica, uma iniciativa vem mudando a vida de mais de 39,5 mil pessoas - em torno de 9 mil famílias ribeirinhas e indígenas -, há 14 anos, e ainda colabora com a diminuição dos índices de desmatamento e pobreza. É o Bolsa Floresta, considerado o maior programa de pagamento por serviços ambientais do mundo, com a entrega mensal de R$ 50 para pessoas de comunidades na Amazônia, que contribuem com a conservação do meio ambiente. Desde 2008 até março deste ano, o Bolsa Floresta foi executado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), uma organização sem fins lucrativos que possui mais de 14 anos de atuação, promovendo uma série de projetos ligados às questões ambientais. A partir de agora, a iniciativa será gerenciada pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e passará a ser chamada de: “Programa Guardiães da Floresta”. Além disso, o benefício será ampliado de nove para 14 mil famílias e o recurso passará de R$ 50 para R$ 100 mensais. “A FAS conseguiu transformar R$ 50 em auxílio na geração de renda, poços artesianos, ambulanchas, entre outros benefícios. O povo hoje tem acesso a água potável, saúde e educação, algo que a gente não vislumbrava anos atrás e que, hoje, melhorou muito”, avaliou Emerson Moreira, um dos beneficiários do programa e morador da comunidade Pindabaú, que fica na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Canumã, localizada entre os municípios de Novo Olinda e Borba.
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Crédito: Divulgação | Fas
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A FAS conseguiu transformar R$ 50 em auxílio na geração de renda, poços artesianos, ambulanchas, entre outros benefícios. O povo hoje tem acesso a água potável, saúde e educação, algo que a gente não vislumbrava, anos atrás” Emerson Moreira, beneficiário do programa e morador da comunidade Pindabaú, na RDS do Canumã, entre Novo Olinda e Borba.
Bolsa Floresta é considerado o maior programa de pagamento por serviços ambientais do mundo, com a entrega mensal de R$ 50 para pessoas de comunidades na Amazônia
As famílias beneficiadas com o programa vivem em 16 Unidades de Conservação (UCs) do Amazonas, de acordo com a Lei n.º 3.135/2007, que instituiu a Política Estadual sobre Mudanças Climáticas. São pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica, jovens em situação de risco, mulheres chefes de família, indígenas e demais moradores de comunidades tradicionais. Entre os cadastrados no programa, o destaque vai para as ribeirinhas, pois, aproximadamente, 86% dos favorecidos são mulheres chefes de família, uma média de 7,7 mil mães, que têm no benefício uma fonte de renda e empoderamento. “Ao longo desses 14 anos, a FAS buscou observar os mais elevados padrões de profissionalismo e ética, seguindo toda a legislação pertinente. Foram feitas prestações de contas anuais à Curadoria de Fundações do Ministério Público Estadual (MPE), além de prestações de contas adicionais ao Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM). Adicionalmente, a FAS
Recursos Todos esses benefícios para as comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia foram possíveis também por conta da doação que o Governo do Amazonas fez, em 2008, para a Fundação Amazônia Sustentável (FAS). Esses recursos foram corrigidos pelos rendimentos do Fundo FAS, totalizando R$ 28,74 milhões pagos às famílias beneficiárias, com término em abril de 2015. “Como a FAS é uma instituição sem fins lucrativos, com a missão de cuidar das pessoas que cuidam da floresta, o Conselho de Administração da FAS, composto por 13 pessoas de destaque estadual e nacional, tomou a decisão de alocar recursos próprios, para não deixar o programa acabar, em 2015, por falta de fundos”, disse Virgilio Viana. Com essa decisão, a FAS destinou R$ 63.061.486 (em valores históricos) para custear o programa até março de 2022, sendo R$ 28.710.761 do Governo do Amazonas e R$ 34.350.725 de verbas próprias da FAS. 15
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passou por 28 auditorias independentes realizadas por uma das maiores empresas de auditoria do mundo, a PwC, todas sem ressalvas”, comentou o superintendente-geral da FAS, Virgilio Viana. Além disso, a instituição monitorou o nível de satisfação das famílias beneficiadas com o Programa Bolsa Floresta, por meio de pesquisas independentes, que apontaram uma margem de erro de 3%. Essas pesquisas mostram que, em média, mais de 83% dos beneficiários nas UCs pesquisadas afirmam que a vida melhorou
Crédito: Ricardo Oliveira
86%
Aproximadamente 86% dos favorecidos pelo programa são mulheres chefes de família, uma média de 7,7 mil mães, que têm no benefício uma fonte de renda e empoderamento.
após a implementação da iniciativa. Ao longo do tempo, houve uma percepção de melhoria contínua na avaliação dos beneficiários.
MAIS SOBRE O PROGRAMA Para participar do Bolsa Floresta, os beneficiários têm adesão voluntária vinculada à participação em oficinas de capacitação em mudanças climáticas e serviços ambientais, e se comprometem a não desmatar novas áreas de roçado em florestas nativas. Eles também têm acesso a ações
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complementares nas áreas de geração de renda, melhoria da infraestrutura comunitária e empoderamento das associações. Na Reserva Extrativista do Rio Gregório (Resex do Rio Gregório), localizada entre os municípios de Ipixuna e Eirunepé, no oeste do Amazonas, quase na divisa com o Acre, as mudanças proporcionadas pelo programa são exaltadas pela comunidade. “Antes, as pessoas trabalhavam mais e ganhavam menos, à base do extrativismo ilegal de madeira”, disse o presidente da Associação de Moradores Agroextrativis-
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Ao longo desses 14 anos, a FAS buscou observar os mais elevados padrões de profissionalismo e ética, seguindo toda a legislação pertinente”
Virgilio Viana, superintendente-geral da FAS.
Virgílio Viana é o superintendente-geral da FAS Crédito: Michael Dantas
tas do Rio Gregório (Amarge), Delziano Pinheiro. Porém, ele reconhece que, no início, foi difícil trabalhar com a conscientização das famílias para o uso sustentável, porque a antiga cultura vinha dos pais e avós. Delziano aponta como as ações do projeto mudaram a mentalidade dos moradores. “Jovens que antes sonhavam ir embora para estudar e ter chance de uma nova
vida, agora, encontram motivos para ficar, com planos de se tornarem líderes locais”, completa. “Hoje, temos internet, o que sequer sonhávamos, e, com isso, fazemos videoconferência, recebemos atendimento de saúde por telemedicina, temos contato com o resto do mundo, mesmo estando em local remoto na floresta, a mais de 200 quilômetros da sede do município mais próximo, destaca.
Execução de programas Em 2021, o Bolsa Floresta representou 11,2% das atividades da FAS, com a execução dos programas Floresta em Pé, Empreendedorismo e Educação. Esses programas seguem alinhados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). “Essas iniciativas foram capazes de reduzir o desmatamento e aumentar a renda das comunidades onde atuamos. Com isso, a FAS conseguiu gerar um impacto positivo na vida de milhares de comunidades por toda a Amazônia. A renda média das famílias aumentou expressivamente – superando, em média, a linha da pobreza extrema – em uma trajetória diferente das comunidades onde a FAS ainda não atua”, comenta Viana. Outro resultado expressivo do Bolsa Floresta foi contribuir com a proteção de 10,9 milhões de hectares de florestas, 16
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o que representou uma queda de 43% na taxa de desmatamento nas áreas beneficiadas (2008-2020), de acordo com dados oficiais do governo brasileiro (Inpe/Prodes). No período de 2020-2021, o desmatamento nas áreas com atuação do Programa Bolsa Floresta diminuiu 55%, ao passo que nas Unidades de Conservação onde o Programa ainda não foi implementado aumentou 28%. Ao mesmo tempo, também houve um aumento de 202% na renda média das famílias (2009-2019) – comprovando a possibilidade de conservação da floresta e geração de renda em comunidades ribeirinhas. Tudo isso ocorreu com a aprovação de mais de 85% dos beneficiários, de acordo com pesquisa de opinião independente feita pela Action Pesquisa de Mercado, em 2019. 17
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Com a cabeça no espaço Malu Dacio – Da Revista Cenarium
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ANAUS (AM) – Geovana Sousa Ramos, de 21 anos, detectou 46 asteroides durante o projeto “Caça Asteroides”, atividade de Ciência Cidadã do International Astronomical Search Collaboration (IASC/Nasa) e de promoção das Ciências, em parcerias com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). As atividades aconteceram entre junho e novembro de 2021. A jovem, que cresceu no bairro Jorge Teixeira, Zona Leste de Manaus, revelou sonhos e projetos que almeja realizar. Tal qual os corpos celestes que detectou – não descobriu, como, muitas vezes, erroneamente divulgado –, Geovana voa alto e já é destaque, ainda no primeiro período da faculdade. “Quero focar em minha carreira internacional, para poder propagar a educação no meu País. Nunca vai ser só a Geovana, ali. É uma mulher, brasileira, nortista. E ainda representando o Norte e o Nordeste, regiões sempre invisibilizadas em nosso País”, conta.
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“Nunca um brasileiro trouxe um Nobel para a gente, mas se eu for lá para fora e correr atrás, eu vou trazer muito mais que um Nobel para nós”, destacou. Atualmente, Geovana vive no município de Tianguá, interior do Ceará, e cursa o 1º período de Licenciatura em Física, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE – Campus Sobral). “Quando me formei, em 2021, não abriram vagas na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a oportunidade no Ceará é muito boa para a minha área, há muitos investimentos em Astronomia, e eu me sinto muito abraçada pela minha faculdade, professores etc. Eles me incentivam em absolutamente tudo”, conta a estudante. Geovana acredita que ir para o Ceará foi a melhor escolha que fez e que não teria o mesmo apoio na capital amazonense. “Buscamos a melhor faculdade? Óbvio que sim. Porém, a melhor faculdade é aquela que apoia você, os seus sonhos, e a que eu estudo faz exatamente isso. Se eu disser agora para eles que preciso ir para Nasa semana que vem, eles vão me apoiar, seja financeiramente, dando forças e até ajudando a arrumar a mala, se preciso for”, explica. Geovana saiu de Manaus “na cara e na coragem” e contou com o apoio tímido da família. Ela mora sozinha e se dedica, atualmente, 100% à pesquisa e à educação. Estudando licenciatura, a linha de pesquisa da amazonense é astrofísica.
PESQUISA E DETECÇÃO Geovana explica que entrou na “corrida” nos últimos dias de projeto e foram disponibilizadas mais de 17.500 imagens captadas pelos telescópios do Pan-STARRS, gerenciado pela Universidade do Havaí.
Geovana Sousa Ramos, estudante de Física.
Geovana Sousa Ramos, 21 anos, cursa Licenciatura em Física, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
“Vi outros cientistas e pesquisadores participando e, mesmo sem entender, eu me dei a oportunidade de participar, não como líder, e já fiz logo a minha primeira detecção. Ano que vem, terá de novo e, certamente, vou ganhar o troféu de maior caçadora, porque, da segunda vez, fui como líder e detectei os outros 45 asteroides. Quem quiser formar equipe, pode entrar em contato comigo!”, convidou. Utilizando o software Astrometrica, foi possível identificar padrões de possíveis asteroides pertencentes à região entre Marte e Júpiter, ou em órbita próximo à Terra (NEOs), contribuindo com a detecção de novos ou melhorando na precisão das órbitas dos já conhecidos. Podem se passar de seis a oito anos, até chegar o momento da pesquisa em que a amazonense poderá decidir os nomes dos asteroides inéditos e, até mesmo, realizar a confirmação dos corpos celestes. “Tem muita gente que entra em contato comigo, querendo seguir a área e perguntando o que fazer, muitas crianças. Isso é a coisa mais linda que uma pessoa pode receber”, celebrou.
Crédito: Ricardo Oliveira
‘Quero trazer muito mais que um Nobel para o Brasil’, diz amazonense que detectou 46 asteroides
Nunca vai ser só a Geovana, ali. É uma mulher, brasileira, nortista. E ainda representando o Norte e o Nordeste, regiões sempre invisibilizadas em nosso País”
Honra ao Mérito Geovana recebeu certificados de reconhecimento assinados pelo MCTI e pelo IASC/Nasa e foi convidada pelo MCTI para participar da 18ª Edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília (DF), e recebeu medalha e certificado de honra ao mérito do astronauta
e atual ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes. “Mais uma vez, nunca vai ser só a Geovana. Nunca será sobre mim e isso é incrível. Estou só sendo uma ferramenta, mas tem uma galera comigo, quando eu olho para trás eu sei que tem o sorriso
de muitos envolvidos”, disse. “Não tenha medo de enfrentar seu propósito. Viva a sua verdade. Saia do padrão que é casa, dinheiro ou coisas materiais e vamos para algo verdadeiro. É mais que seu nome, é uma história. A sua história que você carrega e é isso que vale a pena viver”, finaliza. 19
PODER & INSTITUIÇÕES
ARTIGO – MARCUS LACERDA
Amazônia sem Mato Grosso 16,9 milhões de hectares Crédito: Noemi Pacheco | Fotos Públicas
Nota técnica apontou que saída do MT da Amazônia permitiria o desmatamento de 16,9 milhões de hectares de vegetação nativa
Com a saída do Mato Grosso da Amazônia, o Estado poderia realizar o plantio em 50% de suas áreas, segundo o autor do PL n.º 337/2022, deputado Juarez Costa
Em vez de lucros, desmatamento no MT trará prejuízos ao agro, aponta nota técnica da UFMG Yusseff Abrahim – Da Revista Cenarium
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RASÍLIA (AM) – Um prejuízo anual de US$ 2,7 bilhões por perda de produtividade. Esta é a projeção que o Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (CSR/UFMG) faz ao agronegócio, a partir da nota técnica divulgada no dia 17 de março sobre os efeitos do Projeto de Lei (PL) n.º 337/2022, que retira o Estado do Mato Grosso da Amazônia Legal. O estudo se concentra, especialmente, nas consequências climáticas da entrega de 16,9 milhões de hectares de vegetação nativa do MT ao desmatamento. “Nesse cenário, o agronegócio teria um prejuízo de US$ 2,7 bilhões anuais causados pela redução de produtividade
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em virtude das alterações nos regimes de chuva e o crescimento das emissões de gases do efeito estufa na casa de 5 gigatoneladas de CO2”, divulgou o órgão em seu perfil oficial no Twitter. O impacto descrito pelos cientistas surge na contramão da expectativa do autor do PL, o deputado Juarez Costa (MDB/MT), que sustenta a importância da medida em uma matemática simples do aumento da área de produção. Na prática, ao tirar o Estado do Mato Grosso da Amazônia Legal, os produtores rurais ficam desobrigados da preservação de 80% de sua propriedade, regulamentada pela Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei n.° 12.651/2012). “Nós somos do Centro-Oeste e podemos chegar a 50% nas nossas áreas de plantio”, declarou o deputado. Contudo, falta apenas combinar com o meio ambiente. No último mês de agosto, o Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima da ONU (IPCC) mostrou que o cenário das mudanças indica períodos secos cada vez mais prolongados na Ama-
zônia e no Nordeste brasileiros, bem como o aumento de chuvas fortes no Centro-Sul. As perdas pelos desequilíbrios do clima já atingem o Centro-Oeste, região que o PL n.º 337/2022 pretende beneficiar. No Sul, já são seis anos de perdas por seca, só nos últimos dez anos, segundo o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Eduardo Assad, que destacou perdas de café e laranja, aborto de porcas, morte de pintos e, em 2019 e 2020, a inédita morte de bovinos na fronteira Brasil-Argentina, em consequência das fortes ondas de calor. Além de permitir o desmatamento dos 16,9 milhões de hectares de vegetação nativa, a aprovação do PL n.º 337/2022 desobriga o reflorestamento de outros 3,3 milhões de hectares que, hoje, precisam ser recuperados, justamente o inverso da solução climática que, segundo o estudo da UFMG, tem apenas dois caminhos: preservação e reflorestamento. O PL n.º 337/2022 está em tramitação nas comissões temáticas da Câmara dos Deputados.
Acervo: Pessoal
Da série ‘Cartas do Amazonas’: Manoel Urbano Marcus Lacerda
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ra o mês de janeiro de 1998, ano em que as telas de cinema projetaram Titanic e Central do Brasil, pela primeira vez. O mesmo ano em que perdemos Tim Maia e Nelson Gonçalves. Eu havia chegado ao aeroporto de Manaus, ainda na madrugada fresca. Com muitas caixas contendo livros e medicações, tomei um táxi até a rodoviária, onde adormeci até o horário da partida do primeiro ônibus com destino a Manacapuru. A imagem de Manaus ficou esfumaçada pelo sono. O aconchego do assento e um sono profundo não me deixaram ver a balsa, que partiu do porto do São Raimundo. A minha primeira visão da Amazônia fora de frondosas árvores que emolduravam a Rodovia Manoel Urbano. Um vapor denso subia aos céus, fazendo ali um tráfego líquido o qual apenas anos mais tarde eu entenderia. Aquele vapor regaria boa parte do Brasil, permitindo a agricultura e a farta vida intertropical, desertificando-se do Centro-Oeste ao Sudeste. A rodovia estadual, malcuidada e esburacada, homenageava Manoel Urbano da Encarnação, primeiro explorador da região do Rio Purus. Morto em idade avançada, segundo relatos, foi homenageado como importante sertanista do Amazonas. A pequena rodovia, de pouco mais de 80 quilômetros, separava dois mundos tão próximos e tão distantes. De Manaus a Manacapuru, um par de horas nos transportava até uma Amazônia profunda. Manacapuru, à beira do Rio Solimões, foi meu primeiro intercurso com o mundo Amazônico.
Recebido por missionários canadenses, eu iniciaria ali a viagem que marcaria minha vida para sempre. Em uma Macondo embebida na umidade e no suor de um povo matizado, a ideia de que também aquilo era Brasil me fez ruborizar. Na beira, qualquer passarela improvisada de madeira entre bares e prostíbulos era suficiente para dizer ao jovem estudante de Medicina que ele nunca mais sairia dali. Durante meses, Manacapuru foi a minha única e deliciosa aventura juvenil. A pequena cidade não me deixou retornar tão cedo para a capital. Seu sistema de saúde tentava ainda se ajustar, dez anos depois da criação de algo que deveria ser pleno e único. Manacapuru era uma chaga aberta, entre casos de tuberculose, febre tifoide, malária, Aids, hanseníase e uma doença nova: a dengue. Eu, ainda que despertando do coma imposto pela vida acadêmica em Brasília, consegui ver muito pouco da tragédia tropical, mas o suficiente para que ela me abraçasse apertadamente. Na volta para Manaus, pelo mesmo túnel do tempo que separava Manaus da sua periferia conurbada, a certeza do compromisso assumido de viver o resto dos meus dias lutando pela saúde do povo amazonense.
lembro-me com carinho dos finais de semana em que a gente pretendia que a vida era boa, e que a violência e o lixo da ‘Princesinha do Solimões’ nunca iriam avançar tanto. Manacapuru é o lugar em que o mundo gira em outra velocidade. Sua conexão com os problemas de Manaus insiste em desprezar aquele que já foi o paraíso dos anjos. O mundo, afinal, gravita em torno de Manacapuru, numa eterna ciranda. Nós outros, ofuscados por capitais luxuosas e inverdadeiras, perdemos a dimensão da pequena cidade-flor. Em uma pequena casa de madeira, de fronte para a antiga fábrica de juta, o quarto sem ar-condicionado foi o primeiro lugar em que tive um olhar inteligente sobre mim mesmo e sobre o Brasil. Posso, portanto, dizer que eu nasci ali. Só por isso já terá Manacapuru encerrado sua boa ação. Por seus filhos e por Manoel Urbano, somos gratos à terra da grande nação Mura. Ali também “existem bravos que doam, sem orgulho, nem falsa nobreza”. (*) Médico Infectologista.
Hoje, 24 anos depois, é possível fazer o trajeto em pouco mais de meia hora. A ponte sobre o Rio Negro e uma rodovia, finalmente, duplicada trouxe esperança e promessa de dias melhores ao povo de lá. Quando passo pela Orla do Miriti, 21
Coluna Via Brasília
Crédito: Valter Campanato | Ag. Brasil
Todos os presidiários do presidente Estratégia de mirar prisão de Lula forçará Bolsonaro a defender seus “réus de estimação”
Centrão no comando 22
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Na lista dos “réus de estimação” de Bolsonaro figura o dono do seu partido, o PL, Valdemar Costa Neto. Quintessência do Centrão, cumpriu pena de prisão na Papuda por diversos crimes, dentre eles, corrupção ativa. Outro partido de seu grupo enrolado na justiça é o PP, que dá sustentação ao governo Bolsonaro no Congresso, liderado
por Ciro Nogueira (PP-SE), ministro-chefe da Casa Civil, e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara. Ciro controla o destino dos recursos do governo e ações de campanha. Já Lira, segue sentado sobre centenas de pedidos de impeachment de Bolsonaro, e conta com R$ 16,5 bilhões em emendas de relator RP9 para cooptação política.
Distância do MEC
Ciro e Lira, cujo partido nomeou uma fase da Lava Jato - o “Petrolão do PP”, pelo recorde de membros envolvidos na operação, são processados por diversos crimes, dentre eles corrupção. A nau dos condenados de Bolsonaro conta, ainda, com personagens como Roberto Jefferson (PTB-RJ), preso duas vezes: por crimes no escândalo do mensalão e ameaça à ordem democrática. E com o presidiário bolsonarista, foragido nos EUA, Alan dos Santos, blogueiro criador do Canal Terça-Livre. Este último preso também por crimes de ameaça à ordem democrática e à saúde pública, pelos ataques às instituições e propagação de Fake News sobre a pandemia e as vacinas.
Por falar em corrupção no governo, seu pecado mais recente envolve, quem diria, a forte base de apoio religiosa de Bolsonaro. Infiltrados no Ministério da Educação (MEC), grupos de pastores negociavam propinas e recursos para municípios indicados sem qualquer critério técnico, sob as ordens do presidente, assim “confessou” seu ministro, Milton Ribeiro. Ao enfurecer parte da bancada evangélica no Congresso, que não se viu agraciada, pode receber a penitência, em breve, ameaçam alguns líderes evangélicos. Com o episódio, Bolsonaro decidiu intensificar as viagens de sua campanha antecipada, e se distanciar do MEC.
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discursos racistas
Crédito: Ascom Semas Pa | Fotos Públicas
Crédito: Ricardo Stuckert
Crédito: Isac Nóbrega Pr | Fotos Públicas
O comando da campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro, que inclui ex-presidiários, condenados e réus, decidiu por seguir a mesma estratégia de 2018, quando o tema corrupção guiou as decisões da maioria do eleitorado. Tentará convencer que o governo Bolsonaro acabou com os malfeitos, centrando a artilharia na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, ao mirar no petista, pode resvalar em seu atual grupo político e em companheiros de partido e do Centrão com extensa ficha corrida, que hoje tomam todas as decisões econômicas e políticas do governo. Tá tudo dominado, diria um rap de sucesso.
Petrolão do PP
Entregando ‘ouro ao bandido’ Ex-presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o coronel reformado da PM de SP Homero Cerqueira representa, hoje, a Confederação Nacional de Mineração (CNM), junto com o empresário Bruno Cecchini, investigado por
extração ilegal de ouro. Reportagem da Agência Pública aponta a participação da dupla em encontros e audiências públicas sobre a legalização do garimpo na Área de Proteção Ambiental (APA) do Tapajós, no Pará. Cerqueira se diz “cabeça” da representação minerária no Brasil, e orienta “seus associados sobre mineração artesanal sustentável”, farsa repetida por integrantes do governo para avançar sobre as Terras Indígenas.
Levantamento da entidade “Quilombolas contra racistas” revela que autoridades do governo de Bolsonaro já proferiram 94 discursos racistas, em três anos. O estudo analisou casos expostos pela imprensa e redes sociais, e os recordistas de discursos racistas estão em cargos de direção do governo federal, como ministros, secretários e presidentes de autarquias. No entanto, até dezembro de 2021, somente um caso foi responsabilizado judicialmente. Sérgio Camargo, atual presidente da Fundação Cultural Palmares, e Bolsonaro lideram o número de falas racistas. É o “White Power” sendo puxado pelo chefe da Nação.
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DIA DOS POVOS INDÍGENAS
REVISTA CENARIUM
ECONOMIA & SOCIEDADE
Indígenas no século No mês em que se celebra o Dia do Índio, que ainda utiliza termo considerado pejorativo, a REVISTA CENARIUM houve vozes contemporâneas dos povos originários sobre o que é ser indígena na atualidade
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ouve vozes contemporâneas dos povos originários, e mostra que, se em outro tempo era preciso sair dos rincões do Brasil para reivindicar direitos, hoje as tecnologias oportunizam que o eco dessas vozes chegue ao outro lado do mundo. A comunicação tem aberto portas para a conquista dos mais diversos espaços de representatividade. Com relação à língua falada, o Censo 2010 identificou 274 línguas indígenas no Brasil. Com tanta diversidade entre os povos originários, a quebra dos estereótipos já acontece há algum tempo, mas a vontade de poder representar é algo que motiva indígenas como Tukumã Pataxó, de 22. Nascido e criado na cidade de Santa Cruz Cabrália, no extremo sul da Bahia, Pataxó cursa Gastronomia na Universidade Federal da Bahia (UFBA), tem mais de 180 mil seguidores nas redes sociais e busca produzir conteúdo com a finalidade de quebrar estereótipos. “Quando a gente vai para a ‘cidade grande’, para a capital, é outro mundo. Lá
eu pude perceber a questão do preconceito que está muito enraizado. Aí comecei a trazer esse conteúdo, postei no Facebook uma foto minha caracterizado e outra foto com a roupa normal e falei que eu podia estar na aldeia ou na cidade, trajado ou com roupa normal, e não deixaria de ser indígena porque isso está no nosso sangue, e isso viralizou. Vários outros indígenas entraram em contato comigo porque se identificaram. Para mim era só como aquilo acontecesse comigo, mas não”, contou Pataxó à REVISTA CENARIUM.
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A gente está evoluindo com o tempo. Temos internet e isso ajuda muito na luta. O celular virou uma ferramenta de luta, não é luxo” Tukumã Pataxó, influencer digital.
O influenciador ainda destaca que a tentativa de padronizar os indígenas é um dos pensamentos que devem ser quebrados. “O índio, para quem não sabe, é aquele que os portugueses viram ao não chegarem à Índia. Foi um nome dado aos povos indígenas e o índio é algo pejorativo, quando se fala do índio é como se falasse de todos os povos em uma pessoa só, mas somos várias nações. Atualmente, são mais de 300 povos indígenas”, enfatiza ele.
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
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Samela Sateré Mawé, jovem liderança indígena e estudante de Biologia. 24
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Os povos indígenas no Brasil são muito diversos e estão conquistando cada vez mais espaços tornando-se protagonistas de suas narrativas 25
Crédito: Acervo Pessoal
A gente precisa de possibilidades e oportunidades. (...) A gente está se apropriando e demarcando espaços, ocupando telas”
Crédito: Acervo Pessoal
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Crédito: Gabriel Uchida
ANAUS (AM) – Há séculos, os indígenas no Brasil travam batalhas por direitos básicos como demarcação de territórios, saúde e educação de qualidade, assim como pela quebra de estereótipos que os colocam em “caixas” e as tentativas de padronizar os mais de 896,9 mil indígenas – número indicado pelo último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010. Neste mês, em que se celebra o Dia do Índio, data que ainda utiliza um termo pejorativo, a REVISTA CENARIUM
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CELULAR VIRA FERRAMENTA DE LUTA Tukumã Pataxó também ressalta que os povos indígenas têm feito suas vozes serem ouvidas além das comunidades e os smartphones e a internet são as principais ferramentas que possibilitam a disseminação veloz do que é compartilhado em qualquer lugar do mundo. “Eu lembro que os mais velhos contavam que saíam daqui do extremo sul da Bahia e iam andando, sem saber como chegar até Brasília para lutar pela demarcação de território. Hoje em dia, a gente está evoluindo com o tempo. Temos internet e isso ajuda muito na luta. O celular virou uma ferramenta de luta, não é luxo”, compartilha ele.
NO AMAZONAS, A CONCENTRAÇÃO O Censo 2010 do IBGE ainda apontou que a região Norte concentra a maioria das
localidades indígenas: são 4.504, 63,4% do total, seguida das regiões Nordeste (1.211), Centro-Oeste (713), Sudeste (374) e Sul (301). Apenas o Amazonas tem 2.602 localidades indígenas e dos 10 municípios com maior concentração, sete estão no Estado. A cidade de São Gabriel da Cachoeira tinha 429 localidade na ocasião do Censo e é considerada a cidade mais indígena do Brasil. É no Amazonas que estão lideranças como Beto Marubo e Samela Sateré Mawé. Beto, indígena da etnia marubo, da aldeia Kumãnya no Alto Rio Içá e membro da Organização Representativa dos Povos Indígenas da Terra do Vale do Javari (Unijava), é referência na luta pela preservação dos grupos isolados no Vale do Javari, no Amazonas. À REVISTA CENARIUM, ele relembra os principais avanços conquistados pelos indígenas ao longo do tempo e os principais desafios a serem superados.
“Os avanços primeiramente são os dois artigos constitucionais que balizam as regras referentes ao direito indígena, em consonância com as leis internacionais, como o Artigo 169 da OIT [Organização Internacional do Trabalho] e os direitos dos povos indígenas da ONU [Organização das Nações Unidas], que é reconhecida no Brasil. Tem a questão da cotas para indígenas, assim como os negros, foi fundamental para essa conquista”, explica ele. “O principal desafio, ao meu ver, é dar a total autonomia para que a coletividade indígena possa dizer a forma com que quer sobreviver no atual contexto de mudanças, relacionadas à questão ambiental, com a inclusão das minorias no cenário nacional, tanto econômico, social e profissional. Mas respeitando a vivência, que a gente não perca as nossas especificidades, a nossa cultura, nesse processo avassalador da tecnologia do mundo moderno”, enfatiza Beto Marubo.
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Txai Suruí, liderança indígena de Rondônia, ganhou reconhecimento internacional ao discursar na COP-26 26
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Txai Suruí, jovem liderança indígena de Rondônia.
Crédito: Gabriel Uchida | Reprodução
Hoje a comunicação também é um instrumento de garantia dos nossos direitos. É através das redes sociais, da internet, que a gente consegue fazer as denúncias, desmistificar estereótipos racistas, que a gente consegue recontar a nossa história
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Crédito: Ricardo Oliveira
O principal desafio, ao meu ver, é dar a total autonomia para que a coletividade indígena possa dizer a forma com que quer sobreviver no atual contexto de mudanças” Beto Marubo, liderança indígena.
Da Amazônia para o mundo
Já Samela Sateré Mawé tem 25 anos e reside na Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé, em Manaus. Cursando Biologia na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a jovem ativista ambiental e comunicadora indígena enfatiza que a principal definição dos povos indígenas, no Brasil, no século 21 é a conquista de espaços. “Eu acho que nós povos indígenas estamos em todos os espaços, nas universidades, estamos ocupando espaços na política e na Medicina e continuamos mantendo nossa cultura”, ressalta ela, destacando ainda que a educação é o que mais tem possibilitado as conquistas. “Nós estamos conquistando a representatividade, mas o que precisa ser garantido é a educação de qualidade para que a gente consiga ingressar no ensino superior e se formar nas mais diversas áreas. A gente precisa de possibilidades e oportunidades”. É falando sobre ocupar esses espaços que Samela relembra dois importantes acontecimentos protagonizados pelos 28
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indígenas em 2021 e que tiveram na internet o motor propulsor: A COP (26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), em Glasgow, na Escócia, onde participou de painéis para discutir preservação e marcou presença na Marcha da Juventude pelo Clima e na Marcha Geral pelo Clima, e a mobilização contra o Marco Temporal em Brasília. “A causa indígena e a causa ambiental não podem se separar, porque a causa ambiental tem tudo a ver com territórios indígenas que são grandes protetores das questões ambientais, porque nós estamos no território e somos os principais defensores. Enquanto mulher, indígena, jovem, da Amazônia, sair daqui para falar em outro continente que as ações das pessoas afetam o nosso dia a dia foi muito importante, também triste, porque a gente não deveria estar se prestando a esse papel para as pessoas fazerem óbvio”, explica. “A internet é uma ferramenta de luta e resistência que a gente utiliza para lutar pelos nossos direitos. A gente está se apropriando e demarcando espaços, ocupando telas”, conclui ela.
“Hoje a comunicação também é um instrumento de garantia dos nossos direitos. É através das redes sociais, da internet, que a gente consegue fazer as denúncias, desmistificar estereótipos racistas, que a gente consegue recontar a nossa história. E isso passa não só por estar nas redes sociais, mas também por ser protagonista de quem está contando a nossa história, por exemplo: ser quem está filmando, quem está produzindo os conteúdos, não ser somente personagens desse conteúdo”, pontua ela.
Crédito: Beto Marubo
POSSIBILIDADES E OPORTUNIDADES
Assim como Samela, a Amazônia também foi ouvida pelo mundo por meio da ativista indígena do povo Paiter Suruí, em Rondônia, Txai Suruí. Aos 24 anos, ela atraiu os holofotes do mundo ao discursar na abertura da COP26 e sua fala atraiu críticas do presidente Jair Bolsonaro. Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé) e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia.
Beto Marubo, da aldeia Kumãnya no Alto Rio Içá é membro da Organização Unijava e referência na luta pela preservação dos grupos isolados no Vale do Javari
Txai ainda relembra que apesar dos avanços, a luta dos indígenas deve permanecer, principalmente no tocante aos constantes ataques contra os direitos territoriais dos povos originários. “Um dos desafios que a gente vem passando hoje é, inclusive, lutar contra ataques que a gente vem sofrendo do Legislativo, como o PL 490, que quer acabar com os nossos territórios indígenas, o PL 191 que quer permitir a mineração dentro dos nossos territórios, ainda quando nós estamos dizendo que não queremos”, conclui ela. 29
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‘Índio’, não! Sentido de coletividade - PL n.º 5466/19 quer alterar nome dado ao dia 19 de abril
A mudança na nomenclatura da data, celebrada no dia 19 de abril, e toda a repercussão que uma alteração desta natureza traz, tem por objetivo dar uma dimensão coletiva à cidadania indígena, que supere a referência étnica individual. “É importante frisar que a contribuição é ofertada pela coletividade e não pelo indivíduo isolado, como remete a ideia do termo ‘índio’”, a fala é da deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), autora da proposta que foi aprovada em dezembro de 2021, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, e que seguirá para o Senado, caso não surjam recursos para a votação no Plenário da Câmara. A declaração foi dada em matéria publicada no site da Câmara dos Deputados, à época da aprovação na CCJ. Joênia é uma das novas lideranças indígenas em âmbito nacional, que cumpre, desde 2018, o mandato como primeira 30
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mulher indígena eleita. Em relação ao projeto, além da representação equivocada da individualidade e isolamento, ela explica que o termo “índio” também remete à estigmatização, quando o ideal é ressaltar inteiramente o valor dos povos originários para a sociedade. “O propósito é reconhecer o direito desses povos, mantendo e fortalecendo suas identidades, línguas e religiões, assumir tanto o controle de suas próprias instituições e formas de vida quanto de seu desenvolvimento econômico”, comentou a deputada, à época.
AUTODETERMINAÇÃO SOBRE TERMOS Na tarefa da relatoria, onde uma das principais funções é realizar o estudo dos temas submetidos para a elaboração do parecer final, o deputado Wolney Queiroz (PDT-PE) concluiu que os termos “índio” e “tribo” são historicamente questionados pelos povos indígenas. “Tais categorias foram criadas pelos colonizadores como forma de reduzir a pluralidade de cerca de 1 mil etnias indígenas que existiam no País na época do ‘descobrimento’. Essa e outras reflexões levam a alternativas que fogem do senso comum, que trata cultura tão diversa de forma genérica reduzindo a diversidade das etnias brasileiras”, ressaltou.
A deputada federal Joênia Wapchana é a autora da proposta de lei que altera a nomenclatura da data de celebração dos povos indígenas
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O propósito é reconhecer o direito desses povos, mantendo e fortalecendo suas identidades, línguas e religiões, assumir tanto o controle de suas próprias instituições e formas de vida quanto de seu desenvolvimento econômico” Joênia Wapchana, deputada federal.
Crédito: Luis Macedo | Câmara Dos Deputados
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RASÍLIA (DF) - No mês de abril, as comemorações em torno da luta dos povos indígenas ganham protagonismo em todo o País. Embora diversas ações, debates e, principalmente, os protestos ganhem os holofotes, as disputas no campo simbólico também recebem atenção. É o caso do Projeto de Lei (PL) n.º 5466/19, que pretende alterar o nome da celebração do “Dia do Índio”, para “Dia dos Povos Indígenas”.
Crédito: Cleia Viana | Câmara dos Deputados
Yusseff Abrahim – Da Revista Cenarium*
Mesmo pela disputa simbólica, o PL n.º 5466/19 é apenas mais um dentre vários no mandato da deputada Joênia Wapichana. A única legislatura indígena, atualmente, na Câmara. “O projeto de lei que a gente está propondo no Congresso é no sentido de avançar em termos da consolidação dos direitos indígenas. Quero lembrar que o 19 de abril é o momento de reivindicar, apresentar nossas demandas, visibilizar e, acima de tudo, mostrar a nossa união, a nossa coletividade”, afirmou a parlamentar em matéria publicada no site da Câmara. Além da nomenclatura da data de celebração dos povos indígenas, há ainda o Estatuto do Índio, Lei n.º 6.001, de 19 de dezembro de 1973, que permanece com a utilização do termo que remete à estigmatização. O estatuto regula a situação jurídica dos “índios ou silvícolas” e das comunidades indígenas.
Por que 19 de abril? Caso aprovada, a proposta de alteração do nome da data para “Dia dos Povos Indígenas” revoga o Decreto-Lei n.º 5540/43 que instituiu o “Dia do Índio”, assinado pelo então presidente Getúlio Vargas. De acordo com publicação no site do Ministério da Educação, o dia 19 de abril foi escolhido para se comemorar a cultura indígena a partir do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, que ocorreu em 19 de abril de 1940, com o objetivo de reunir os líderes indígenas das diferentes regiões do continente americano e zelar pelos seus direitos. (*) Com informações da Agência Câmara de Notícias. 31
DIA DOS POVOS INDÍGENAS
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Indígenas fazem um minuto de silêncio no Acampamento Terra Livre pelos “parentes” que perderam a vida em 522 anos de Brasil
Força, luta e resistência Acampamento Terra Livre se reencontrou maior e mais jovem, em 2022 Yusseff Abrahim – Da Revista Cenarium
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RASÍLIA (DF) – Depois de dois anos, por conta da pandemia de Covid-19, o Acampamento Terra Livre voltou a ser realizado em Brasília (DF). A 18ª edição do maior evento indígena do Brasil reuniu, de acordo com a Articulação dos Povos Indígenas (Apib), mais de 6 mil representantes de 172 povos, entre os dias 4 e 14 de abril, forjando uma impressão quase unânime entre os participantes: o ATL estava de volta, maior e mais jovem.
“A juventude indígena não é o futuro deste País. Ela é o presente. Eles vieram trazer sua força neste acampamento, para dizer qual a sua preocupação e pautas prioritárias”, disse a coordenadora nacional da Apib, Sônia Guajajara. Como um dos atos mais importantes do evento, o lançamento da Carta Aberta contra o Projeto de Lei n.º 191/2020, que permite a mineração em terras indígenas, reuniu parlamentares, organizações da
Lembrança dos que tombaram No momento solene do Minuto de Silêncio pelos indígenas que morreram ao longo dos 522 anos de violência, a lembrança das antigas gerações se encontrou com a nova cara do ATL. A coordenadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, Txai Suruí, única brasileira a discursar na COP 26 nas Nações
Unidas, pediu justiça por Ari Uru-Eu-Wau-Wau, de 34 anos, encontrado morto com marcas de golpe pelo corpo no dia 18 de abril de 2020, na Linha 625 de Tarilândia, Rondônia. Crime, até agora, sem solução sobre o líder de uma etnia que sofre historicamente com ameaças, invasão, grilagem e desmatamento em suas terras.
“O Brasil é um dos países mais perigosos quando a gente vai falar sobre ativistas dos direitos humanos e o Ari era um guardião do seu território. Mais do que isso, a gente tem que lembrar que o Ari era amigo, professor, era pai e era filho. Eu cresci junto com ele e a vida dele foi levada brutalmente”, comentou Txai. 33
DIA DOS POVOS INDÍGENAS
REVISTA CENARIUM
Indígenas em marcha por demarcações Mais uma vez, os indígenas mostraram força e um poder de mobilização. A Marcha “Demarcação Já!” levou o recado da principal reivindicação dos povos originários até o Ministério da Justiça e o Congresso Nacional.
Crédito: Yusseff Abrahim
“Temos uma demanda reprimida de regularização fundiária aqui no Brasil, no quesito territórios indígenas, são 495 terras indígenas sem nenhum tipo de providência e isso gera conflito fundiário, insegurança jurídica, muita violência, criminalização de lideranças e um dado de 119 terras indígenas ainda na primeira fase de demarcação”, explicou o advogado da Articulação dos Povos Indígenas Lideranças indígenas e políticos no lançamento da Carta Aberta contra o PL 191/2020
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Ao contrário do que alguns pesquisadores afirmaram e do que alguns governos desejaram, nós ainda estamos aqui. Nós sempre vamos resistir”
Dinamam Tuxá, coordenador jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme Brasil).
sociedade civil e personalidades contrárias à proposta. “É uma carta construída com várias mãos para transmitir essa sensibilidade e essa urgência que não é apenas dos povos indígenas, mas da sociedade, do planeta, da Mãe Terra por um basta a toda essa destruição”, declarou a deputada federal, Joênia Wapichana (Rede/RR). Ressaltando a luta contra a exploração nos territórios como a mais antiga dos povos indígenas, a deputada criticou, em especial, as proposições que atropelam o direito às consultas prévias com os povos que habitam as áreas. 34
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do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme Brasil), Weibe Tapeba. Mesmo vivendo em uma realidade diferente da maior parte das etnias do Brasil, o jovem Kaxinawá Wasa Nawa representava os habitantes da Terra Indígena Katukina/Kaxinawá, no município de Feijó, no Acre, que tem seus 26.426 hectares devidamente demarcados. “Nossas duas etnias vivem em paz, mas, mesmo assim, estamos juntos nessa luta para somar com os outros povos que precisam da demarcação”, explicou Nawa, que é professor e membro da Organização dos Professores Indígenas do Acre.
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Dói muito ver notícias de crianças dragadas por maquinário de garimpo, de que nossos povos estão comendo peixe contaminado por mercúrio e sobre os que sofrem com as consequências das hidrelétricas” Joênia Wapichana, deputada federal (Rede/RR). Barracas do Acampamento Terra Livre, em Brasília (DF)
Crédito: Yusseff Abrahim
ECONOMIA & SOCIEDADE
“Vemos as consequências de ‘Belo Monstro’ (a hidrelétrica de Belo Monte), a garimpagem ilegal que está acontecendo com os Yanomami. Dói muito ver notícias de crianças dragadas por maquinário de garimpo, de que nossos povos estão comendo peixe contaminado por mercúrio e sobre os que sofrem com as consequências das hidrelétricas. É preciso barrar esse projeto da destruição”. Presente em várias atividades do evento, a ex-ministra Marina Silva reiterou a juventude do ATL, destacando a crescente representação feminina entre os povos amazônicos. “Como tantos parceiros históricos desta luta, como o cacique Raoni, esses jovens e essas jovens são a continuidade, veja a Vanda (Witoto), a Txai (Suruí) e todos que estão aqui. Elas nos dão a certeza de que essa luta, essa resistência, que começou há muitos anos, ela tem dado seus frutos”. Diante do que os indígenas chamam de “pacote de destruição” capitaneado pelo governo atual, Marina deixou claro que o momento é de marcar posição. “O direito dos povos indígenas é uma questão inegociável. É um inegociável político, é um inegociável ético, um inegociável cultural, um inegociável humanitário”. 35
DIA DOS POVOS INDÍGENAS ECONOMIA & SOCIEDADE
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Crescer e rejuvenescer
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O direito dos povos indígenas é uma questão inegociável”
Marina Silva, ex-ministra.
PERSONALIDADES E PARLAMENTARES O ATL traz a oportunidade para que cada delegação seja ouvida em dezenas de reuniões realizadas com parlamentares e personalidades conhecidas pela defesa dos povos originários e do meio ambiente.
Na avaliação do coordenador jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme Brasil), Dinamam Tuxá, reunir “mais de 7 mil indígenas em Brasília” foi o resultado da insistência histórica de um movimento de luta pela própria existência. Sobre o interesse dos jovens, ele entende que o aumento do impacto da atual política anti-indígena promovida pelo Executivo e Legislativo brasileiros, por reação, acaba despertando os jovens indígenas para a defesa de si mesmos e dos “parentes”. “Nosso movimento sempre foi grande e sempre teve essa pauta da juventude, do ser jovial. O ATL mostra, sim, uma nova cara, mas essa nova cara acontece
Wasa Nawa, jovem Kaxinawá da Terra Indígena Katukina/ Kaxinawá, no município de Feijó, no Acre
A juventude indígena não é o futuro deste País. Ela é o presente”
porque essa política que está em curso é uma política que está fazendo com que os povos indígenas, cada vez mais, se levantem e que venham reivindicar os seus direitos”. Para ele, quando a ideia da ação coletiva se consolida, cada jovem serve de agente multiplicador para que o acampamento cresça, a cada ano. “Trazer nossos jovens para esse processo de formação política, acompanhar essa adesão à nossa pauta, fortaleceu, sim, o nosso movimento nos últimos três anos. Cresceu muito. Ao contrário do que alguns pesquisadores afirmaram e do que alguns governos desejaram, nós ainda estamos aqui. Nós sempre vamos resistir”, disse Dinamam Tuxá.
Sônia Guajajara, coordenadora nacional da Articulação dos Povos Indígenas (Apib). A delegação de Rondônia foi ouvida pela coordenadora da Frente Parlamentar Ambientalista do Senado, a senadora Eliziane Gama (Cidadania/MA), que criticou a aprovação do pedido de urgência do PL 191/2020, pela Câmara dos Deputados, ao mesmo tempo em que uma multidão se reunia no “Ato pela Vida”, contra a matéria, do lado de fora do Congresso. A parlamentar advertiu, ainda, que os estudos não sustentam nem a urgência nem a necessidade de exploração das áreas.
Weibe Tapeba, advogado da Articulação do Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme Brasil)
“Pedi o Estudo da Consultoria do Senado e os dados são extremamente esclarecedores, e não é nenhuma novidade do que a gente já sabia: pouco mais de um 1% dos pedidos de exploração de mineração no Brasil inteiro estão direcionados às terras indígenas. E menos de 10% da exploração do potássio existe hoje nas Terras Indígenas, ou seja, este não é o lugar da exploração”.
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A parlamentar paraense também chamou a atenção para a jovialidade do evento. “Estou vendo que este ano o acampamento está muito maior, está, inclusive, com uma cara de juventude e isso é importante, porque essa luta não está acabando, ela está se renovando com cada jovem que carrega consigo essa esperança. Nós temos que seguir”.
Crédito: Yusseff Abrahim
Crédito: Yusseff Abrahim
Crédito: Yusseff Abrahim
Como parlamentar que iniciou a vida pública há dez anos contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, a deputada federal Vivi Reis (PSOL/PA) advertiu para os efeitos negativos dos grandes empreendimentos sobre as populações que não são ouvidas, como levar a miséria aos povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas.
Mulheres reunidas em momento de descontração, durante o Acampamento Terra Livre
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Crédito: Diego Janatã
ECONOMIA & SOCIEDADE
NOSSA CAPA
Djuena Tikuna: o canto da Amazônia Nascida em uma aldeia no interior do Amazonas, a indígena se tornou referência ao cantar a cultura de seu povo Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
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ANAUS (AM) – Na Aldeia Umariaçu, localizada no município de Tabatinga, no Amazonas, a 1.110 quilômetros de Manaus, nasceu Djuena Tikuna. Do seio da maior nação indígena do País, cresceu uma das maiores cantoras indígenas da atualidade. Hoje, Djuena se tornou referência ao cantar a cultura do seu povo, buscando manter viva, por meio da arte, a história, identidade e cultura dos povos originários, assim como os colocar como protagonistas na música. Ainda na juventude, Djuena desenvolveu sua arte ao acompanhar as manifestações culturais dos rituais de luta do movimento indígena amazônico. Quando morou em Manaus, descobriu o teatro e após a primeira aparição nos palcos, participou de outras montagens, inclusive no cinema, interpretando e compondo trilhas sonoras. É a primeira jornalista indígena formada no Amazonas e se tornou pesquisadora da musicalidade do povo Tikuna. Como palestrante, divide suas impressões
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sobre a temática da musicalidade indígena e de todo esse universo cultural produzido pelos povos originários, procurando sempre lutar pela quebra de paradigmas e estereótipos.
resistência. “A nossa luta não começou ontem, já está aí há mais de 500 anos”, lembra ela.
“Hoje, nesse atual cenário que nós povos indígenas estamos vivendo, cada liderança, cada artista indígena se coloca num cenário de luta. Então eu, enquanto artista indígena, cantora indígena, tenho me colocado para falar da nossa luta, da violação dos nossos direitos, principalmente desse governo genocida que a gente enfrenta”, diz ela.
Ainda segundo a cantora, por muito tempo os indígenas foram invisibilizados e silenciados, mas hoje as coisas mudaram, principalmente com a ocupação de espaços como as redes sociais.
Ainda conforme explica Djuena à REVISTA CENARIUM, ela acredita que o seu papel, enquanto artista e liderança, é ecoar as vozes. “Enquanto cantora, me manifesto por meio da minha cultura e arte porque a arte também é política. Por meio do canto eu transmito a mensagem de que o meu povo existe e resiste. Esse é o caminho que eu estou seguindo com as outras lideranças, com os movimentos indígenas que estão nessa caminhada de
VISIBILIDADE
“Hoje nós estamos conectados nas redes sociais, temos espaço de fala onde muitos jovens têm oportunidade de mostrar e afirmar quem são eles, sem perder as raízes e culturas. Estão mostrando quem nós somos, os nossos cantos, nossos rituais, a nossa diversidade. Hoje nós temos jornalistas, advogados, médicos, enfermeiros, temos indígenas sendo protagonistas e isso é muito importante”, acrescenta Djuena.
CARREIRA Desde criança, Djuena tinha em quem se espelhar. A avó materna sempre cantou canções improvisadas e a mãe é cantora
Crédito: Diego Janatã
DIA DOS POVOS INDÍGENAS
do grupo Wotchimaücü. Foi então que ela se inspirou e resolveu mostrar sua voz. Ao lado dos irmãos, montou o grupo Magüta, para se apresentar na feira Puka’a - Mãos da Mata, uma antiga feira indígena que acontecia no Centro Histórico de Manaus. “A cultura é a força dos nossos ancestrais e a afirmação da nossa identidade. Esses são os ensinamentos que a minha avó me passou, a minha mãe me passou. Esse é o caminho que eu continuo seguindo. São os nossos cantos ancestrais”, enfatiza ela. A partir de então a carreira da “filha dos Tikuna” ascendeu. Djuena participou da coletânea “Cantos Indígenas (2008)”, um trabalho que reuniu vários grupos de músicos indígenas de Manaus. Colaborou ainda com diversos festivais e eventos, como a RIO+20, Festival da Música Cidade Canção (Femucic), em Maringá (PR), Bienal de Cinema Indígena, Feira Literária Indígena, entre outros.
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A nossa luta não começou ontem, já está aí há mais de 500 anos”
Djuena Tikuna, atriz, cantora e jornalista.
Na área do cinema, além de ter interpretado papéis em diversas produções locais, assinou parte da trilha sonora de algumas produções, como: “Cachoeira”, “Floresta de Jonathan”. Como pesquisadora de música indígena, produziu o documentário “Wiyaegü: a música Tikuna”, um projeto que mostra um panorama das principais manifestações musicais desse povo. A cantora ainda celebra parcerias interessantes, como com o cantor japonês Ysuke, que veio a Manaus, gravar com a cantora, além de Daniela Mercury e Marlui Miranda. Idealizou, ainda, a 1ª Mostra de Música Indígena do Amazonas (Wiyae), evento que contou com a participação de 20 grupos indígenas, representando várias regiões do Amazonas. Em 2017, Djuena lançou seu primeiro disco, o “Tchautchiüãe (Minha Aldeia)”. Esse trabalho rendeu uma indicação ao Indigenous Music Awards, que acontece anualmente em Winnipeg, no Canadá. Já em 2019, ela lançou o mais recente trabalho, “Wiyaegü”, um livro CD em homenagem ao seu povo. Com esse projeto, saiu em turnê pela Europa, participando de festivais e realizando concertos próprios.
Djuena Tikuna vem desenvolvendo sua arte desde a juventude e tem conquistado espaços nacionalmente e em outros países 39
DIA DOS POVOS INDÍGENAS Quem é Txai Suruí
ECONOMIA & SOCIEDADE
Agora com 25 anos, Txai Suruí é estudante de Direito da Universidade Federal de Rondônia (Unir), coordenadora e assessora jurídica da ONG Kanindé, criadora do movimento Juventude Indígena de Rondônia e ativista pela preservação do meio ambiente e pelos direitos dos povos originários do País.
‘Os Povos Indígenas estão resistindo’
Ela é filha de um dos mais influentes líderes indígenas da atualidade, o cacique-geral do Povo Paiter Suruí, Almir Suruí, e da indigenista Ivaneide Bandeira Cardozo. Na língua indígena Kaxinawá, o nome de batismo da ativista, Walelasoetxeige Suruí, é carregado de significados poderosos, tais como: “mulher inteligente”, “gente de verdade”, “mais que amigo”, “mais que irmão”, dentre outros.
Txai Suruí fala sobre prêmio de destaque internacional, exaltando a resistência dos povos originários do Brasil
Aos 6 anos, Txai foi anunciada pela família como uma futura grande líder, legado que ela tem carregado, seguindo os passos de Almir.
Iury Lima – Da Revista Cenarium evento; um marco para a história da Nação e para o legado dos povos originários brasileiros.
“O recado que esse reconhecimento passa na defesa de nosso Estado é de que os povos indígenas estão resistindo e que isso está sendo visto, inclusive, internacionalmente”, disse a jovem em entrevista à REVISTA CENARIUM.
A Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Organização Não Governamental (ONG) da qual a ativista é integrante, comemorou o reconhecimento por meio das redes sociais. A entidade fez homenagem a Txai e relembrou que a jovem indígena foi perseguida pela cúpula bolsonarista, em Glasgow, após o discurso na Organização das Nações Unidas (ONU).
PRIMEIRO PRÊMIO DE TXAI SURUÍ Txai conta que ficou surpresa, pois não sabia que estava concorrendo à 12ª edição do prêmio. Ela foi a única escolhida na categoria Destaque Internacional, figurando entre outras ilustres personalidades consagradas nas demais qualificações; um total de 15 ativistas, entidades e projetos sociais.
Crédito: Nadja Kouchi
“Eu fiquei muito feliz de receber o prêmio. Eu não sabia que tinha sido indicada. Então, foi uma alegria muito grande, até porque foi o primeiro prêmio que eu ganhei na vida”, detalhou, com alegria, à reportagem. O prêmio é resultado do discurso que fez quase 200 líderes de todo o planeta silenciarem para ouvir a voz da floresta, guiada pelos ancestrais de Suruí, em novembro de 2021, durante a 26ª Conferência Climática de Glasgow, a COP26. Na ocasião, a jovem foi a única indígena brasileira a discursar na abertura do 40
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“E a importância desse prêmio é, exatamente, o reconhecimento pelo trabalho, que, não só eu, mas que as organizações das quais eu faço parte vêm fazendo e que os povos indígenas também vêm fazendo pelo meio ambiente”, disse a ativista.
MOTIVO DE ORGULHO
“Sua defesa pela Floresta Amazônica em pé jogou holofotes nas principais reivindicações dos ambientalistas brasileiros. Ao fim de seu discurso, na COP-26, em Glasgow, na Escócia, enquanto os vídeos de sua apresentação viralizavam na internet, ela foi abordada por um homem que teria lhe dito para “não falar mal do Brasil”. Segundo ela, na credencial que ele usava, era possível ver que ele fazia parte da delegação do governo brasileiro (…) No dia seguinte, mesmo sem ter comparecido à Conferência do Clima, o presidente a criticou em declarações que desencadearam uma onda de mensagens de ódio e preconceito direcionadas às redes sociais da ativista”, escreveu a Kanindé.
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O recado que esse reconhecimento passa na defesa do nosso Estado é de que os povos indígenas estão resistindo e que isso está sendo visto, inclusive, internacionalmente” Txai Suruí, liderança indígena.
Crédito: Nadja Kouchi
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ILHENA (RO) – Txai Suruí, agora, é a “Voz Mundial da Amazônia”. Esta foi a maneira como a ativista ambiental de Rondônia, representante dos Paiter Suruí, povo originário habitante da Terra Indígena (TI) Sete de Setembro, foi mencionada durante a entrega do principal troféu destinado aos defensores da Ecologia, no Brasil, o Prêmio Hugo Werneck de Meio Ambiente, Sustentabilidade & Amor, no final de fevereiro.
Txai Suruí e o pai, o líder indígena Almir Suruí Para Txai, o prêmio reflete o reconhecimento da luta pela preservação do Meio Ambiente e pela resistência das populações tradicionais
Prêmio Hugo Werneck
Txai Suruí foi a única escolhida na categoria Destaque Internacional, na 12ª edição do prêmio Hugo Werneck, tornando-se a ‘Voz Mundial da Amazônia’ Txai Suruí é homenageada nas redes sociais por prêmio recebido
Ao chegar à 12ª edição, o prêmio Hugo Werneck de Meio Ambiente, Sustentabilidade & Amor se tornou a principal forma de reconhecimento para ativistas e defensores da vida, da biodiversidade e dos ecossistemas naturais, no Brasil; o ‘Oscar da Ecologia’. O prêmio é realizado pela Revista Ecológico, no Estado de Minas Gerais, e reconhece os melhores projetos, cases e ações. Também destaca iniciativas de empresas, governos, pessoas, cidadãos, ONGs, instituições, representantes políticos e personalidades. Ao longo do tempo, já acumula mais de 1 mil inscrições e indicações, tendo premiado, até este ano, 151 vencedores do troféu. 41
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REVISTA CENARIUM
Dois anos de pandemia
Flexibilização de restrições Ainda segundo o governador, mesmo com a desobrigação valendo em todo o Estado, cada prefeitura deve tomar a medida de acordo com as suas necessidades e entendimento. Wilson Lima também anunciou a flexibilização nos horários de funcionamento e lotação de estabelecimentos. “Sem restrição de horário e de ocupação, desde que sigam os protocolos de saúde. Recomendamos que as pessoas que participem desses eventos tenham o esquema vacinal completo e atualizado. Esse é o apelo que fazemos”, finalizou o governador.
AM tem baixa de casos, 80% de cobertura vacinal e desobrigação do uso de máscaras
REDUÇÃO
No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o coronavírus era uma pandemia. Ao longo de 2020, 2021 e início de 2022, o Amazonas passou por duas trágicas ondas de contágio que resultaram na morte de mais de 14 mil pessoas e mais de 580 mil casos confirmados. Atualmente, segundo levantamento feito no site da Fundação de Vigilância em Saúde – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), o Estado tem mais de 80% da população, de 4,2 milhões de habitantes, com a cobertura vacinal completa, ou seja, pessoas que tomaram as duas doses iniciais do imunizante contra o vírus. O número de casos confirmados em 24 horas tem girado em torno de 500 e é, consideravelmente, menor do que o registrado no pico 44
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da disseminação da variante Ômicron, no início deste ano, quando o número de novos casos chegou a mais de 8 mil, em apenas um dia.
Avanço da cobertura vacinal e redução de novos casos, internações e óbitos por Covid-19 motivaram desobrigação do uso de máscaras no Amazonas
Devido a este cenário, o governador do Amazonas, Wilson Lima, anunciou, no dia 11 de março deste ano, a desobrigação do uso de máscaras, em lugares abertos, em todo o Estado. A medida foi anunciada após reunião do Comitê Interinstitucional de Enfrentamento da Covid-19, no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), na Zona Centro-Sul de Manaus. “Devido à redução de casos da Covid19, o nosso comitê decidiu e, a partir de hoje [11 de março], estamos publicando o decreto, recomendando a desobrigação do uso de máscaras em ambientes abertos, em todo o Estado do Amazonas”, anunciou o governador do Amazonas. “Recomendamos para as pessoas que têm acima de 70 anos, que usem as máscaras, porque essas pessoas são as que estão agravando, e são as pessoas em maior condição de vulnerabilidade”, afirmou. No dia 23 de março, o governador anunciou a decisão do comitê de recomendar a não obrigatoriedade do uso de máscaras também em locais fechados.
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O Amazonas teve, em janeiro, um pico e, desde 25 de janeiro, nós estamos acompanhando uma redução no número de casos, internações e óbitos” Wilson Lima, governador do Amazonas.
Crédito: Diego Peres | Secom
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ANAUS (AM) – A pandemia da Covid-19 completou dois anos e, após passar por maus momentos — como a crise da falta de oxigênio no início de 2021 — o Amazonas tem registrado avanços na cobertura vacinal e a diminuição de casos e internações pelo vírus, o que levou à desobrigação do uso de máscaras em lugares abertos e à recomendação da não obrigatoriedade do item de proteção em locais fechados.
Crédito: Ricardo Oliveira
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
“Hoje, temos 25 pessoas internadas, tanto em leitos clínicos quanto em leitos de UTI. São 12 pessoas internadas no interior do Estado, todas em leitos clínicos, e 53 municípios não apresentam nenhum paciente internado. A maioria das pessoas internadas tem acima de 60 anos. Daí a necessidade de termos um cuidado redobrado com idosos e também com pessoas com comorbidade”, ressaltou Wilson Lima, apresentando o cenário registrado em 11 de março deste ano. “O Amazonas teve, em janeiro, um pico e, desde 25 de janeiro, nós estamos acompanhando uma redução no número de casos, internações e óbitos. Com esse cenário, nós estamos mantendo uma média de 400 casos por dia, e com o avanço da vacinação foram possíveis flexibilizações, entendendo que nós precisamos ter responsabilidade”, pontuou a presidente da FVS-RCP, Tatyana Amorim.
Festival de Parintins Wilson Lima também anunciou a data do Festival Folclórico de Parintins, considerado um dos maiores do Brasil. O evento de boi-bumbá acontecia, anualmente, na ilha localizada a, aproximadamente, 369 quilômetros de Manaus, mas teve a tradicional realização suspensa, devido à pandemia. O governador do Amazonas, Wilson Lima, anunciou a desobrigação do uso de máscaras e a retomada do Festival de Parintins
A 55ª edição do Festival Folclórico de Parintins acontecerá nos dias 24, 25 e 26 de junho. A disputa entre Garantido e Caprichoso é o evento de maior renda da cidade de Parintins. 45
Preço alto no Pará
REVISTA CENARIUM
Crédito Roberto Parizotti | Fotos Públicas
ECONOMIA & SOCIEDADE
Estado tem a gasolina mais cara da Amazônia Legal, segundo levantamento do Brasil em Mapas Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
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ANAUS (AM) – O Pará apresenta o maior preço no valor da gasolina dentre os Estados que compõem a Amazônia Legal, com a gasolina sendo revendida ao consumidor por R$ 7,80. Os dados são do levantamento intitulado “Preço Médio da Gasolina nos Postos de Combustíveis no Brasil”, divulgado pela página oficial do Brasil em Mapas. A pesquisa, que considera quanto o brasileiro paga em média pelo litro da gasolina por Estado, aponta o Amazonas como o segundo com o maior valor no preço do produto na Amazônia Legal, chegando a até R$ 7,60 o litro, acompanhado de Tocantins, com o mesmo valor encontrado nas bombas pelos consumidores. Em seguida, Acre, Rondônia e Roraima aparecem marcando a mesma média de valor nos postos de combustíveis com R$ 7,50. No Mato Grosso e Maranhão, o preço médio é de R$ 7,40. A menor média fica para o Estado do Acre, com R$ 7,30.
OUTRAS REGIÕES Entre as outras regiões do Brasil, o valor mais baixo encontrado nos postos de combustíveis foi de R$ 6,80, no Estado da Paraíba, seguido do Rio Grande do Sul 46
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e Mato Grosso do Sul com preço final em 20 centavos a mais, fechando em R$ 7,00. O Estado de Goiás, assim como o Pará, ostenta o valor mais elevado do País registrando R$ 7,80, por litro vendido.
R$ 7,80
Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a média de preço do litro da gasolina no País está em R$ 7,26. Já o levantamento publicado pelo Brasil em Mapas apresenta a média de pesquisa nos postos de gasolina de R$ 7,47.
Levantamento divulgado pela página oficial do Brasil em Mapas aponta que a gasolina é revendida ao consumidor por uma média de preço de R$ 7,80, no Pará.
Amazônia Legal O conceito Amazônia Legal foi instituído em 1953, com a finalidade de planejar e possibilitar a promoção do desenvolvimento socioeconômico nos Estados da Região Amazônica. Conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Amazônia legal equivale a 59% do território brasileiro. Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins integram de forma total este território aliado a parte do Estado do Maranhão.
Os preços podem variar de acordo com os reajustes e realidade de cada região 47
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CENARIUM: dois anos marcando presença da Amazônia para o mundo REVISTA CENARIUM completa dois anos ocupando espaços de relevância social e ambiental Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
Como diz o primeiro anúncio da revista, “não é blog, não é portal, é revista digital. CENARIUM, da Amazônia para o mundo”, o periódico está no ar nas versões online, impressa e TV Web, com atualizações diárias voltadas, principalmente, ao 50
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meio ambiente, sustentabilidade, poder, economia, sociedade, política, mundo, à pluralidade e aos povos da Amazônia Legal, com sede em Manaus, capital do Amazonas. A estreia da CENARIUM aconteceu com a revista mostrando a realidade vivenciada pelas populações mais vulneráveis afetadas pelo coronavírus. A revista foi o primeiro veículo de comunicação do Amazonas a ter acesso ao dia a dia dos hospitais do Estado, acompanhando a rotina de socorristas da capital no atendimento a pacientes suspeitos de Covid-19. À época, ainda em abril de 2020, Manaus era considerada o epicentro do vírus no Brasil, com números aterrorizantes de mortes e com o colapso nos sistemas de saúde, público e privado, e funerário na cidade. Naquele momento, uma imagem ficou marcada na memória:
Crédito: Ricardo Oliveira
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ANAUS (AM) - A REVISTA CENARIUM completou, em 15 de abril deste ano, dois anos de fundação. Em abril de 2020, em plena primeira onda da pandemia da Covid-19, as plataformas digitais do Amazonas e do mundo ganharam um veículo de comunicação engajado em levantar pautas comprometidas com a informação de qualidade e credibilidade, num momento em que o combate às fake news se tornou essencial para a população. Ao longo desse período, paradigmas foram quebrados e temas sociais, ambientais, indígenas e sobre a diversidade estiveram à frente deste desafio jornalístico.
Fotografia feita pelo fotojornalista da REVISTA CENARIUM Ricardo Oliveira, mostrando o Centro de Manaus vazio durante a primeira onda da pandemia de Covid-19 51
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as valas comuns para o sepultamento de vítimas da Covid-19 no cemitério Nossa Senhora da Aparecida, no bairro Tarumã, Zona Oeste da capital. Em junho de 2020, na capa da segunda edição da revista impressa, a CENARIUM estampou um alerta à sociedade e aos gestores públicos: a iminência real de uma segunda onda da pandemia do coronavíCrédito: Ricardo Oliveira
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rus, com a teoria da imunidade de rebanho, defendida pelo presidente do País, Jair Bolsonaro (PL), descartada, posteriormente, por pesquisadores. No conteúdo jornalístico, um aceno das populações tradicionais ao chefe do Executivo Nacional, que insistia em chamar a Covid-19 de “gripezinha”.
Pautar a Amazônia com ética e senso crítico levou o periódico a se tornar referência na comunidade acadêmica e a participar de debates e palestras sobre a comunicação na era digital e a produção de matérias de cunho social. Instituições de Ensino Superior como Uninorte, Fametro, Marta Falcão e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) foram alguns dos cen-
tros de ensino que receberam a CENARIUM e promoveram a troca de conhecimentos entre os estudantes e a equipe de reportagem da revista. No chamado “faro jornalístico”, quando a população parecia ter esquecido da Covid-19 e a primeira onda indicava baixa, a CENARIUM flagrou, em setembro de 2020, uma “mega-aglomeração” de banhis-
tas na Praia da Ponta Negra, que ignoravam as recomendações de segurança sanitária propagadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As imagens do fotojornalista da revista, Ricardo Oliveira, mostrando o amontoado de gente, tomaram conta das redes sociais e viralizaram no Amazonas.
suspensão do acesso ao local por conta da pandemia, voltou a ser fechada pela Prefeitura de Manaus depois das fotos da aglomeração, sem preocupações, sob o sol manauara.
sido reaberta ao público após um ano de
Mesmo diante do medo do aumento do número de pessoas infectadas pelo coronavírus, por conta das inevitáveis aglomerações, as eleições municipais de 2020 foram confirmadas e agendadas para o dia 15 de novembro, para votações no primeiro turno, e, se necessário pelas cidades, para a data de 29 de novembro, para votações do segundo turno.
ELEIÇÕES 2020, COMÉRCIO, 2ª A Praia da Ponta Negra, que havia ONDA E CENARIUM NA EUROPA
Fotografia feita pelo fotojornalista da REVISTA CENARIUM Ricardo Oliveira mostrou a Praia da Ponta Negra, em Manaus, lotada em plena pandemia de Covid-19 e viralizou na internet
Em Manaus, para que a população pudesse conhecer os candidatos à prefeitura, a revista conquistou importante espaço no cenário político, ao estrear o programa “Estúdio C” e promover, entre 26 de outubro e 10 de novembro de 2020, uma sabatina técnica com os candidatos à prefeitura, que ficaram frente a um colegiado de especialistas em Administração, Direito, Economia e Meio Ambiente. No intervalo de tempo entre um turno e outro, a CENARIUM expandiu seu alcance de atuação, com a contratação de correspondentes em outros Estados do Brasil e no exterior, chegando à Europa, em novembro de 2020, com o objetivo de investir em uma apuração de qualidade sobre os fatos relevantes para a Amazônia. Além disso, a revista passou a contar com jornalistas no Pará e com uma equipe de relações públicas em São Paulo, para firmar a imagem do periódico na maior cidade brasileira. Com os novos gestores municipais eleitos, o que era temido com o fim das votações se tornou realidade: o início da segunda onda da pandemia no Amazonas, resultado de eventos promovidos por candidatos majoritários de Manaus e do interior, os comícios e carreatas. Em dezembro de 2020, um aumento de casos de Covid-19 fez o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), anunciar medidas para frear a contaminação do vírus, com a proibição do comércio não essencial no Estado. 52
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ECONOMIA & SOCIEDADE
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de agosto do periódico, de nome “Eles fizeram a Amazônia de Cobaia”, assim como “Custo Devastação” de julho, “Genocídio Yanomami”, de junho, e a “Pandemia de Fome”, de abril. Em novembro, a CENARIUM se tornou objeto de estudo em uma das maiores e mais renomadas instituições de ensino superior do Japão, a Universidade de Nagoya, classificada como a terceira melhor universidade do país asiático. As edições impressas da revista foram entregues à biblioteca da instituição pelo pesquisador em ‘Paz e Governança’, no Departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Nagoya, Rafael Lins. Em fevereiro deste ano, a revista recebeu três premiações por sua atuação na defesa
da igualdade social e racial, em evento promovido pelo Instituto Nacional Afro Origem (Inaô) Amazonas, em parceria com o Movimento Igualdade. A CENARIUM recebeu o reconhecimento em três categorias: ‘Consciência Negra’, ‘Mulheres em Destaque’ e ‘Igualdade’, sendo este último considerado o principal. Atenta aos conflitos mundiais, a REVISTA CENARIUM passou a receber, a partir do dia 1º de março de 2022, informações exclusivas enviadas pela produtora de conteúdos e mestre em Ciência Política Ana Reczek, que acompanha diretamente da Polônia toda a movimentação e o clima de tensão no leste europeu desencadeado pela guerra entre Rússia e Ucrânia,
bem como os entraves políticos em torno do embate. Partindo do princípio de se alinhar às produções de conteúdo jornalístico de qualidade e comprometidos com a ética, a CENARIUM aderiu à campanha “É Fato! Jornalismo Profissional com Credibilidade”, que promoveu conscientização sobre a importância do jornalismo profissional no Amazonas. A iniciativa deu início à busca pelo “Selo de Jornalismo Profissional” nos veículos de comunicação, com o objetivo de diferenciar os que produzem informação com responsabilidade daqueles que são focados apenas em conquistar audiência por meios antiéticos e sem compromisso com a checagem. Desde 2021, a REVISTA CENARIUM integra o acervo da Biblioteca Pública do Amazonas
O decreto suspendendo o funcionamento do segmento, no entanto, deixou trabalhadores insatisfeitos, que foram às ruas protestar, fazendo com que o Estado, em 27 de dezembro de 2020, autorizasse a reabertura do comércio não essencial. A medida poderia mudar mediante os dados diários de casos da Covid-19 e da ocupação de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) nos hospitais públicos e privados no Estado. As autoridades locais, contudo, foram pressionadas a repensar nas medidas de combate à Covid-19 com o crescente aumento no número de novos casos, mortes e internações nos primeiros dias de 2021, mediante a falta de oxigênio e leitos de UTI. Em 14 de janeiro do ano passado, o caos no sistema de saúde de Manaus estava instalado, fazendo do Estado o primeiro do País a sofrer com os impactos da segunda onda do coronavírus. No mesmo dia, o governador Amazonas decretou, pela primeira vez, toque de recolher. 54
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A REVISTA CENARIUM, no episódio fatídico e de relevância mundial, passou a integrar o jornalismo da TV Cultura, ao fechar parceria com a emissora nacional, em 15 de janeiro de 2021, para produzir reportagens diárias sobre a crise do oxigênio no Amazonas. A união entre os veículos de comunicação deu mais visibilidade à região e permanece consolidada em 2022.
jornalística no Estado de Rondônia e integra o rico acervo da Biblioteca Pública do Amazonas, com conteúdo autoral e exclusivo disponível mensalmente para consulta pública dos leitores.
Além disso, o jornalismo da CENARIUM pôde continuar levando ao Brasil, com maior potência, um espaço para que o público pudesse acompanhar, com um olhar preciso, sensível e diferenciado, as principais notícias sobre a pandemia, desde o colapso sanitário à chegada da vacina em solo amazonense.
Ainda no começo de 2021, a CENARIUM mudou a cara do jornalismo amazonense ao pautar a diversidade, nome da editoria comandada pela jornalista Priscila Peixoto. Junto ao novo ambiente voltado para o tema, a revista tratou de pontos importantes relacionados à igualdade de gênero, cultura, religião e beleza no contexto amazônico, somados às abordagens sociopolíticas, socioeconômicas e comportamentais presentes nas matérias jornalísticas do veículo de comunicação.
Em 2021, a revista instalou uma sucursal em Brasília (DF) para acompanhar e fiscalizar os projetos e ações que envolvem os Estados da Amazônia Brasileira nas esferas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Desde o ano passado, a CENARIUM também conta com equipe
Seguindo o rito de ampliar, cada vez mais, seu alcance, as versões impressas da REVISTA CENARIUM foram expostas na 91ª Feira do Livro de Lisboa, em Portugal, realizada entre os meses de agosto e setembro do ano passado. Os leitores portugueses puderam apreciar as edições
Crédito: Ricardo Oliveira
Crédito: Divulgação
Exemplares da REVISTA CENARIUM em exposição na 91ª Feira do Livro de Lisboa, em Portugal, realizada entre agosto e setembro de 2021
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Propaganda ‘de milhões’ ‘Dedicação e constância’ levaram trabalho de confeitaria de RO até Britney Spears, diz proprietário Iury Lima – Da Revista Cenarium
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ILHENA (RO) – Milhões de visualizações, quase 40 mil novos seguidores (e contando), canais de mensagens completamente congestionados e inúmeros pedidos de encomendas de outros países: assim tem sido a nova rotina da confeitaria Flakes, de Porto Velho, em Rondônia, depois que a cantora Britney Spears, uma das maiores divas da música pop em todo o planeta, compartilhou um vídeo em que a loja apresenta o produto que tem tudo para se tornar seu mais novo carro-chefe. Apesar do boom e da gratidão à artista, para o fundador e CEO Leonardo Borges, de 27 anos, o motivo do sucesso foi o trabalho dedicado à marca, desde 2016, época em que precisava de uma renda extra enquanto cursava Medicina. “Por trás disso, tem muito trabalho. Tem dedicação e constância. Se eu não tivesse melhorado a qualidade dos produtos, esse vídeo não teria chegado até ela. Desde quando comecei a fazer os doces, comecei a criar os conteúdos, vídeos e fotos que chamam a atenção”, contou.
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Agora formado, ele se dedica exclusivamente à confeitaria, devido ao sucesso desses últimos seis anos em sociedade com a mãe, Laura Vicuna Borges. Aliás, ter caído no gosto de figuras ilustres não é uma novidade, mas ele confessa que algo nessa proporção nunca havia acontecido. “Desde 2016, eu trabalho assim. Então, de lá para cá, muitas páginas famosas já postaram nosso trabalho. Figuras internacionais também já chegaram a postar, mas, alguém desse nível de alcance, com 40 milhões de seguidores, nunca. Então, foi surpreendente, sim. E, além disso, com um impacto nacional muito grande”, contou, esbanjando alegria. “Eu fiquei sem reação, na verdade. Comecei a receber várias mensagens no WhatsApp e achei que era brincadeira. Corri lá no Instagram para conferir e vi que era verdade. Fiquei sem reação, a princípio, pois alguém com tanto alcance postar sobre o nosso trabalho e ainda amar (…) foi algo realmente surpreendente” acrescentou o jovem empreendedor.
VIRAL MESMO ANTES O vídeo que deixou Britney Spears com água na boca já rendeu quase 8 milhões de visualizações no Instagram. Mas, antes mesmo disso acontecer, outras publicações da Flakes já haviam mostrado ao mundo o potencial do chocolate brasileiro feito em Rondônia. Na plataforma de vídeos da rede social, um deles chegou a 10 milhões de reprodu-
ções. Já no Twitter, foi assistido quase 50 milhões de vezes. “Esse vídeo, com certeza, ela viu porque viralizou faz umas três ou quatro semanas. Provavelmente, deve ter caído no “explorar” do insta dela, daí ela deve ter visto e decidido compartilhar”, teorizou Borges.
O Fundador e CEO da Flakes, Leonardo Borges, a sócia Laura Vicuna Borges, que também é mãe do jovem empresário, e o post de Britney Spears
OVO BRITNEY
Tendência ‘instagramável’ O termo pode soar mesmo estranho e diferente, mas este é “o modelo conceito” que o fundador Leonardo Borges quer seguir com a marca. Tanto que a unidade física da Flakes, em Porto Velho (RO), já passou por essa transformação. Em outras palavras, significa que o ambiente está bem mais a cara da rede social que tanto impulsiona as vendas. “Reinauguramos, há poucas semanas, e tudo começou no Instagram. Por isso, nós trouxemos essa pegada com vários cantinhos para fazer fotos. E esse é o modelo de loja conceito que a gente pretende expandir para outros Estados. A ideia é que cada cidade tenha sua produção local, para que as pessoas tenham a mesma experiência que os clientes de Porto Velho têm aqui”, revelou sobre o projeto de abrir franquias; um planejamento que já dura, mais ou menos, um ano.
Uma forma de agradecer à cantora foi batizar o ovo de páscoa que ela compartilhou com o seu nome: e assim nasceu o Ovo Britney – um sucesso de vendas logo no primeiro após o hype gerado pelo engajamento com quase uma centena de vendas durante o expediente. “Esse ovo de Páscoa já estava em nosso cardápio. Então, ali, no momento, eu pensei: vamos mudar o nome para ver a reação das pessoas e, rapidamente, a galera começou a compartilhar, interagir e gostaram bastante”, explicou Leonardo. “O dia inteiro foi com a loja movimentada e encomendas a todo vapor. São milhares de mensagens e a nossa equipe respondendo. Essa páscoa tem tudo para ser a melhor das nossas vidas”, comemorou o sucesso. Além da estrela internacional, fãs da cantora e pessoas de todos os lugares do mundo voltaram os olhos para os chocolates e a grande variedade de produtos artesanais, frescos e sem conservantes feitos pela Flakes. “Tem muita gente vindo atrás, de outros Estados, de outros países e, infelizmente, nós não fazemos envios. Nós temos uma produção limitada e a distância também
atrapalha um pouquinho, pela questão do frete”, detalhou o CEO da marca, que respondeu à cantora no direct e espera, ao menos, passar a receita da delícia para ela. “Estou esperando a mensagem dela, ainda. Mandei direct perguntando se eu posso entregar lá [nos Estados Unidos] para ela, ou, se eu posso ensiná-la a fazer o ovo de páscoa. Vai que cola”, brincou.
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Por trás disso, tem muito trabalho. Tem dedicação e constância. Se eu não tivesse melhorado a qualidade dos produtos, esse vídeo não teria chegado até ela” Leonardo Borges, fundador e CEO da confeitaria Flakes.
Futuro de (mais) sucesso A parceira de empreitada é Laura Borges, mãe de Leonardo. Sócia e cofundadora, ela não esconde o orgulho. “Tem momentos em que bate aquela emoção, aquela vontade de chorar por ver que todo o trabalho que a gente teve está refletindo em reconhecimento das pessoas”, declarou, emocionada. “Tudo dá trabalho, mas é gratificante quando o cliente vem à loja, elogia e gosta. Não basta ser bonito, tem que ser gostoso”, disse ainda. Além do projeto de abrir lojas franqueadas, o empresário também geren-
cia a Flakes Academy, que tem mais de 15 mil alunos e forma confeiteiros profissionais. “Eu comecei vendendo chocolates na faculdade de Medicina para ter uma renda extra e, assim, me formei. Foram plantões, loja, cursos, trabalhei também em posto de saúde, no meio da pandemia (…) Talvez, se eu não tivesse feito Medicina, eu não teria chegado a isso”, concluiu o jovem Leonardo. “Sou muito grata e que venha o que for de melhor pela frente”, finalizou a mãe do CEO e sócia da Flakes. 57
Crédito Arte: Isabelle Chaves
ECONOMIA & SOCIEDADE
ECONOMIA & SOCIEDADE
ARTIGO – GRACE BENAYON
Crédito: Acervo Pessoal
Representatividade feminina importa e vale a pena continuar, lutar e acreditar Grace Benayon
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Dia Internacional da Mulher frisa a importância da mulher na sociedade e na história de luta por seus direitos. No dia 8 de março de 1917, milhares de mulheres se reuniram num protesto, na Rússia, que ficou conhecido como “Pão e Paz”, e muito mais do que comemorar a ação destas pioneiras na luta por seus direitos, esta data é dia de refletir sobre as conquistas, desafios e avanços das mulheres em todas as esferas da sociedade. É dia também de relembrar das injustiças, discriminações, feminicídio, misoginia, da desigualdade salarial, social e de cidadania enfrentadas, diuturnamente, ao longo de toda a história da humanidade. Em diversos momentos, a participação feminina foi decisiva e mudou os rumos da história, mas, em poucos momentos, ela foi registrada com Justiça.
Crédito: Divulgação Flakes
Ao longo da história, outros acontecimentos recordam a luta das mulheres que faziam longas jornadas de trabalho, recebiam salários muito baixos e sequer tinham direito ao voto. Sem dúvida, houve avanços, mas ainda não o suficiente.
Rebatizado, o Ovo Britney foi sucesso de vendas logo no primeiro dia, após o boom das redes sociais 58
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Mais de 100 anos passaram da criação desta data emblemática e ainda temos que falar sobre os direitos das mulheres. O preconceito, infelizmente, persiste e deve ser combatido veementemente. Um caso estarrecedor que tem repercutido na mídia nacional e mundial foi a falta de decoro do segundo deputado estadual mais votado de São Paulo, Arthur do Val, conhecido como “Mamãe Falei”.
O parlamentar, empresário e youtuber, em áudios trocados com amigos, em um grupo de conversas pela internet, não apenas afirmou que as mulheres ucranianas são “fáceis, porque são pobres”, como também mostrou uma face oculta de muitos homens que acham que podem continuar fazendo, pensando e falando tudo o que quiserem para humilhar mulheres em situação de vulnerabilidade. Arthur do Val envergonha os parlamentares brasileiros com uma postura ofensiva não apenas às mulheres ucranianas, mas a todas as mulheres de seu País e ao seu eleitorado. Pela falta de respeito às ucranianas, até a namorada do parlamentar terminou o relacionamento antes mesmo dele pisar no Brasil. Uma atitude corajosa e coerente da parte dela. Inegável que conquistamos muito, mas ainda estamos longe do ideal. Precisamos incentivar, motivar e inspirar mulheres de todas as idades, crenças, raças, ideologias, partidos políticos e profissões. Nestes tempos tão conturbados e de guerra, faz-se necessário entender que a representatividade feminina importa, e que vale a pena continuar, lutar e acreditar. (*) Grace Benayon é formada em Direito, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), também já foi vice-presidente da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult). Em 2018, foi eleita como vice-presidente da OAB-AM na chapa de Marco Choy para o triênio 2019/2021. Em 2020, assumiu a presidência da OAB-AM, sendo a primeira mulher a assumir a presidência no Amazonas. 59
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No contexto da pressão pela aprovação de propostas legislativas, como os PLs 191/2020 e 490/2004, a simples existência destes pedidos representa uma grave violação aos direitos dos povos indígenas”, diz trecho do levantamento.
O RELATÓRIO Os pedidos ativos das mineradoras correspondem a uma área de 5,7 mil quilômetros quadrados (ou 572.738 hectares), significando o equivalente a três vezes a cidade de Brasília ou de Londres, capital da Inglaterra. Segundo o relatório, os requerimentos são para exploração de metais diversos, com destaque para o cobre, ouro, níquel, sais de potássio, zircão, cassiterita, bauxita e diamante. O levantamento, feito em parceria com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a Amazon Watch, com dados obtidos a partir de uma parceria com o projeto Amazônia Minada, do portal InfoAmazônia, aponta que o Pará é o Estado com a maior concentração de pedidos de mineração, com 143 requerimentos sobrepostos a 22 Terras Indígenas.
Os Waimiri-Atroari, no Amazonas, estão entre os povos indígenas mais afetados por pedidos de exploração de minério na Amazônia
Em seguida, estão o Amazonas (56) e o Mato Grosso (23). “O relatório, fruto de parceria entre a Apib e a Amazon Watch, também aborda o papel da indústria da mineração nas mudanças climáticas e na devastação da biodiversidade no Brasil. Além disso, o material expõe os impactos socioambientais da atividade sobre povos indígenas e suas terras, em especial, na Amazônia”, destacou a líder indígena Sônia Guajajara, coordenadora da Apib. As TIs Xikrin do Cateté, no Pará, e Waimiri-Atroari, no Amazonas, são as mais afetadas com os pedidos. Ao todo, cada uma possui 34 requerimentos. A lista das mais atingidas se completa com as terras indígenas Sawré Muybu, no Pará, com 21, e Apyterewa, no mesmo Estado, com 13. Já a etnia mais impactada é a Kayapó, com 72 pedidos. A lista segue com os Waimiri-Atroari (34), Munduruku (25), Mura (14) e Parakanã (13). De acordo com o levantamento, pelo menos cinco requerimentos estão em áreas onde vivem indígenas em isolamento voluntário, da etnia Apiaká.
Violação de direitos Relatório aponta terras indígenas mais afetadas por pedidos de mineração na Amazônia Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
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ANAUS (AM) – Oito empresas gigantes, brasileiras e internacionais, da mineração possuem 225 pedidos de exploração ativos protocolados na Agência Nacional de Mineração (ANM) sobrepostos a 34 Terras Indígenas (TI), segundo dados da quarta edição do relatório “Cumplicidade na Destruição IV”, que fala como mineradoras e investidores internacionais contribuem para a violação dos direitos indígenas e ameaçam o futuro da Amazônia. As terras indígenas Xikrin do Cateté, no Pará, e a Waimiri-Atroari, no Amazonas, estão entre as mais afetadas por esses pedidos. Segundo o documento, mesmo sendo contra a lei, a ANM recebe, registra e mantém em seus sistemas os requerimentos
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de pesquisa mineral e lavra garimpeira de grandes, médias e pequenas mineradoras, cooperativas de garimpeiros e empresários interessados na exploração de terras indígenas. A multinacional brasileira Vale e a mineradora canadense Belo Sun estão entre as que têm pedidos. Além delas, há a Anglo American, Potássio do Brasil, Mineração Taboca/Mamoré Mineração e Metalúrgica (ambas do Grupo Minsur), Glencore, AngloGold Ashanti e Rio Tinto.
“Esses requerimentos geram grandes impactos sobre a região e as comunidades locais, ao insuflar disputas e conflitos entre atores políticos e econômicos que defendem a mineração e as comunidades indígenas que tentam impedir que essa atividade invada e destrua suas terras e rios.
Mais pedidos Em novembro de 2021, o Amazônia Minada identificou 2.478 pedidos ativos e sobrepostos a 261 Terras Indígenas, no sistema da Agência Nacional de Mineração, cujos processos estão em nome de 570 mineradoras, associações de mineração e grupos internacionais. Segundo o relatório, essas empresas tentam explorar, juntas, uma área de 10,1 milhões de hectares (101 mil quilômetros quadrados) em todo o Brasil; quase o tamanho da Inglaterra. Por conta do histórico de impactos sobre territórios e povos indígenas, no Brasil e no mundo, o levantamento focou a pesquisa nas oito mineradoras apontadas. Segundo a pesquisa, essas mineradoras receberam um total de USD 54,1 bilhões em financiamento do Brasil e exterior, nos últimos cinco anos, sendo que as corporações sediadas nos Estados Unidos continuam entre as principais financiadoras. Juntas, as gestoras Capital Group, a BlackRock e a Vanguard investiram USD 14,8 bilhões, nas mineradoras, com interesses em Terras Indígenas e histórico de violações de direitos, aponta o levantamento.
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Os pedidos ativos das mineradoras correspondem a uma área de 5,7 mil quilômetros quadrados, o equivalente a três vezes a cidade de Brasília ou de Londres, capital da Inglaterra. Crédito: Ricardo Oliveira
Crédito: Ricardo Oliveira
POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS
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MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS
Impactos da guerra Da Revista Cenarium*
Consultados pelo O GLOBO, especialistas de diferentes regiões do mundo também citaram o impacto que a invasão da Ucrânia – ocorrida em 24 de fevereiro e que já completou dois meses – terá na busca dos países por maior autonomia energética. A guerra traz, ainda, como especula Ian Bremmer, da consultoria Eurasia, a possibilidade de provocar o “fim da globalização”, caso a China, unida à Rússia, se desvincule do Ocidente. Ela teve, lembra a chilena Paulina Stroza, repercussões na América Latina, com o ensaio de aproximação entre a Venezuela, de Nicolás Maduro, e a Casa Branca, de Joe Biden. Como ressaltou o acadêmico sul-africano Christopher Isike, a invasão pôs em foco a necessidade de reforma de todo o sistema internacional, 62
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para ele, organizado em uma hierarquia racista segundo a qual alguns povos podem ter suas soberanias violadas e outros não. Ao mesmo tempo, acautelam os especialistas, é cedo para cravar que os efeitos imediatos do conflito se consolidarão. Isso dependerá, por exemplo, de como evoluirá a recém-anunciada “parceria ilimitada” entre Moscou e Pequim. Dependerá, igualmente, de quanto durará a coesão da Otan, dadas as divergências que persistem entre seus países-membros e o desejo de integrantes da União Europeia de uma defesa mais independente de Washington. E, ainda, das repercussões do conflito na política dos EUA, onde um retorno do ‘trumpismo’ voltaria a pôr em xeque a liderança americana. (*) Com informações do InfoGlobo
Moradores de cidade na Ucrânia passam nas ruas ao lado de corpos estirados no chão
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Vejo, no futuro, uma reconfiguração de alianças em matéria de defesa. Uma transformação da aliança com os EUA, na Otan, para uma aliança europeia na qual os membros da UE definirão sua própria paz e suas fronteiras” Stella Ghervas, professora da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
Veja a opinião de especialistas: IAN BREMMER* “Rússia será desvinculada do Ocidente para sempre’ A Rússia será, permanentemente, desvinculada do Ocidente. Teremos uma nova Guerra Fria entre o G-7 e Moscou. E Putin estará econômica, política e geopoliticamente, em posição muito pior do que estava antes de invadir a Ucrânia, não importando o resultado da guerra. Outra certeza é a de que os europeus consideram esta agressão uma ameaça existencial para a democracia. Estão mais unidos e, em consequência, o populismo na Europa morrerá ou será reduzido significativamente. *Ian Bremmer é presidente e fundador da Eurasia, principal consultoria de risco político dos EUA.
STELLA GHERVAS* “A guerra fez a UE finalmente ficar de pé” Créditos: Yan Boechat
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ÃO PAULO (SP) – Uma guerra que poderá ter consequências tão importantes na definição da ordem global quanto a Segunda Guerra Mundial e a queda do Muro de Berlim. Um conflito que embute o risco de um confronto entre potências nucleares. Uma invasão ilegal, como a do Iraque em 2003, que num primeiro momento teve como efeitos diretos o fortalecimento da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, e um isolamento diplomático e econômico inédito de um país que é membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), a Rússia.
Créditos: Yan Boechat
Especialistas apontam efeitos da invasão da Ucrânia no mundo: ‘confronto entre potências nucleares’
Estudo o que chamo de Enlarged Europe (“Europa Ampliada”). Minha perspectiva se diferencia dos colegas que analisam o continente do ponto de vista exclusivamente ocidental, pois o encaro como um triângulo no qual um dos lados é Londres ou Paris, dependendo do período histórico, o outro é Moscou ou São Petersburgo, e o terceiro é Constantinopla, hoje Istambul. E é importante notar que, após a euforia com a expansão da União Europeia (UE) para o Leste, o bloco foi perdendo relevância como ator internacional. Desde o primeiro dia, notamos uma espetacular aceleração da recuperação da importância da UE como ator geopolítico. O bloco é, historicamente, lento em reagir, devido à necessidade de consenso.
Vejo, no futuro, uma reconfiguração de alianças em matéria de defesa. Uma transformação da aliança com os EUA, na Otan, para uma aliança europeia na qual os membros da UE definirão sua própria paz e suas fronteiras. *Stella Ghervas é professora da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, e autora de “Conquering Peace”.
ADAM TOOZE* “Ação do G7 impressiona, mas há rachaduras” A guerra na Ucrânia está em curso e o seu resultado final está bem longe de ser certo. O conflito pode se expandir, ao nível global, de uma maneira terrível, ou então continuar a ser um horror concentrado na Ucrânia, como aconteceu no caso sírio. Um aspecto crucial, que veio à tona, é que a geopolítica não depende somente do equilíbrio de poder do ponto de vista estatístico. A geopolítica não diz respeito só às grandes estruturas e ao tamanho das Forças Armadas. A guerra acrescenta a ela uma dinâmica imprevisível. A resistência popular pode mudar o curso dos acontecimentos, talvez não alterar o resultado final, mas os seus significados. Um colapso ucraniano, que muitos esperavam, é muito diferente de uma heroica resistência ucraniana derrotada. A possibilidade de acirramento, tanto em termos de violência quanto do moral das tropas, é difícil de calcular. Qualquer ilusão que tínhamos sobre o comércio internacional, como garantidor de uma ordem pacífica se esvaiu. *Adam Tooze é professor de História Econômica da Universidade Columbia, nos EUA.
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ENTRETENIMENTO & CULTURA
REVISTA CENARIUM
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Arte na Amazônia Produções amazonenses vão a leilão em prol do fortalecimento de territórios dos povos originários
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Malu Dacio – Da Revista Cenarium
Crédito: Jaime Amorim
Além de trazer luz para o formato artístico e ambiental, o projeto também tem cunho social e entende a importância do fortalecimento dos territórios de povos originários. O projeto ainda não definiu quem receberá o monte adquirido com as vendas, mas a priorização é para trabalhos de relevância social. “Então, estamos terminando de definir, mas será alguma iniciativa no Parque das Tribos. O leilão acontecerá de forma online e estaremos buscando parceiros para poder alcançar o maior número de possíveis compradores”, explica o artista.
Participaram do evento os artistas Thaísi, Mia Montreal, André Hulk, Chemie, Hadna Abreu, Adonay Garcia, Marcos Chico e Alessandro Hipz
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ANAUS (AM) – Após projetar artes produzidas por amazonenses em copas de árvores às margens do Rio Negro, o projeto artístico “Projeta Amazônia” agora planeja um leilão de oito obras expostas e produzidas para o projeto. Com data a definir, o leilão será realizado de forma virtual. Toda a renda arrecadada será doada a uma instituição dos povos originários, com projetos voltados à defesa e manutenção da Amazônia. Os valores serão definidos através de lance e o maior valor fica com a obra. O
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‘PROJETA AMAZÔNIA’ No dia 5 de março, a bordo de um barco, contando com uma equipe de produção e projeção, o ‘Projeta Amazônia’ percorreu as margens do Rio Negro, onde projetou trabalhos nas copas das árvores da floresta, por meio do estilo de projeção conhecido por vídeo mapping.
projeto é de autoria dos artistas Chico 1304 e Alessandro Hipz. À REVISTA CENARIUM, Hipz explica que o “Projeta” é essencial para a valorização da arte, ao ter um viés que liga cultura e defesa dos direitos ambientais. “A curadoria, primeiramente, teve o cuidado com a paridade entre os artistas selecionados. Chico e eu buscamos artistas com trabalhos já consolidados no cenário da arte urbana manauara, com isso chegamos aos nomes dos participantes”, disse Hipz.
Projeção de uma das obras nas copas das árvores à margem do Rio Negro
Uma das Oito obras vão a leilão e terão a verba adquirida destinada à causa dos territórios dos povos originários
Alessandro conta que os participantes saíram às 16h em busca de um local onde atendesse as necessidades para a projeção e retornaram às 2h do dia seguinte. Buscando a equidade, a difusão e a valorização da arte urbana de grafiteiros e grafiteiras amazonenses, o ‘Projeta Amazônia’ convidou oito artistas para realizarem
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A curadoria, primeiramente, teve o cuidado com a paridade entre os artistas selecionados. Buscamos artistas com trabalhos já consolidados no cenário da arte urbana manauara” Alessandro Hipz, artista urbano.
obras exclusivas e a disponibilizarem séries já produzidas, anteriormente, por cada grafiteiro e grafiteira selecionado, para compor as pinturas a serem projetadas. Com ênfase na floresta, o ‘Projeta Amazônia’ chama a atenção para manutenção e preservação do território amazônico através dessa narrativa. No ‘Projeta Amazônia’, além do cunho artístico, buscar reforçar a necessidade do engajamento da população para o cuidado do meio ambiente como forma de fortalecer a rede de proteção à Amazônia é fundamental. O projeto foi contemplado pelo Programa Cultura Criativa – 2021 – Prêmio Amazonas Criativo do Governo do Estado do Amazonas – através da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa. 65
DIVERSIDADE
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Em Manaus, é possível encontrar diversas lojas virtuais e físicas dispostas a atender às necessidades do público plus size, como a da empreendedora Karina Lasmar
Empreendedoras amazonenses apostam no mercado plus size e promovem empoderamento por meio da moda Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
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Não é só uma roupa, sabe? É um autocuidado, carinho e liberdade de poder escolher, se olhar no espelho e gostar do que vê” Karina Lasmar, empreendedora.
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Crédito: Reprodução Kl Moda Plus Size
ANAUS (AM) – Cada vez mais em evidência e ocupando espaço no mundo da moda e lojas de confecções, o mercado plus size tem sido um bom plano de negócio para quem pretende empreender e, ao mesmo tempo, ampliar opções para pessoas que vestem “GG”. Em Manaus, é possível encontrar diversas lojas virtuais e físicas dispostas a atender às necessidades deste público, empoderando e promovendo a autoestima por meio do vestuário. Ana Ferreira, de 43 anos, é um exemplo de empreendedora que investiu no ramo. Focada na moda para mulheres gordas, há cinco anos, a manauara segue firme no propósito de vestir o público feminino. Após perder o emprego e perceber que a moda ainda era um tanto quanto escassa para as modelos que vestem números maiores, Ana adotou a loja não só como fonte de renda, mas como missão de vida. “Lembro que a perda do meu emprego, que, até então, eu achava que era tudo para mim, aliado à dificuldade de encontrar modelos que atendessem minhas necessidades, foi um dos motivos de abrir a loja, embora já tivesse os tamanhos que eram, no máximo, até 48 e você não tinha muita opção. Era sorte achar e levar o que tinha”, relembra a empreendedora.
Com a loja intitulada @mulherão_ modas_plus_manaus, Ana conta que o nome não tem relação apenas com a forma física, mas também com a capacidade de se enxergar de várias formas o contexto da expressão ‘mulherão’. “É sobre aquela mulher que sabe que é capaz, entende? É sobre se amar”, explica Ana. Na leitura da autônoma, o mercado, atualmente, já possui mais opções para o público ‘GG’, algo positivo para a promoção da pluralidade local, sem abdicar das tendências de mercado presentes na loja física e virtual, e se tornou o principal sustento da empresária. “Me atento sempre ao que está em alta para atender nossas gordinhas maravilhosas”, diz.
em alguns casos já estavam desacreditadas em poder vestir algo e se sentir bela. “Não é só uma roupa, sabe? É um autocuidado, carinho e liberdade de poder escolher, se olhar no espelho e gostar do que vê. Certa vez me emocionei com uma moça que veio aqui e encontrou o que ela tanto queria e agradeceu em lágrimas, parece algo tão simples, mas quem passa sabe a importância que tem”.
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É sobre aquela mulher que sabe que é capaz, entende? É sobre se amar” Ana Ferreira, empreendedora.
CUIDAR DO PRÓXIMO Assim como Ana Ferreira, a modelo plus size e empreendedora Karina Lasmar, de 26 anos, também apostou no universo da moda feminina voltad para as ‘GG’. Com vários concursos de beleza plus size no histórico, Karina começou a estudar possibilidades para empreender no ramo, em 2014. Dona da @klmodaplussize, ela destaca que o diferencial da loja online é o atendimento personalizado para as clientes e preços acessíveis. Para Karina, mais que o ato de vender, a loja proporciona o acolhimento e cuidado com o público, por vezes, discriminado em lojas da cidade. Com produtos cheios de cores e modelagens, Karina destaca que as roupas são cuidadosamente escolhidas para valorizar as clientes. “Meus produtos fogem daquele vestuário tradicional, reto e sem cortes legais que antigamente faziam a mulher acima do peso usar. Hoje a mulher gosta, quer, deve e pode estar na moda do mesmo jeito de uma mulher magra. Se sentindo bem e confortável é o que importa”, explica. A loja virtual também se tornou a principal ferramenta de sustento da casa, com dois anos consolidada no mercado, Karina conta que já atendeu mais de 1 mil mulheres. Durante este período, a empreendedora afirma que já pode compartilhar momentos marcantes voltados à autoestima e empoderamento das clientes, que
Crédito: Reprodução Kl Moda Plus Size
Moda ‘GG’
EMPODERAMENTO E OPÇÕES
Modelos disponíveis na loja virtual de Karina Lasmar
Dados do mercado De acordo com a Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), entre os anos de 2018 a 2019, o mercado de moda plus size movimentou em torno de R$ 7 bilhões no Brasil. Segundo a Abravest, o setor apresentou crescimento de 21%, de 2018 a 2020. Segundo a Associação Brasileira Plus Size (ABPS), criada em 2016, visando representar empresas de varejo e insumos inseridos na cadeia de produção ao público plus size, o mercado é mais consolidado no Estados Unidos, onde as marcas plus size já atuam há mais de 100 anos. Uma matéria publicada pela Revista Vogue, em outubro de 2021, afirma haver mais de 600 lojas físicas em operação nos Estados Unidos e em expansão para outros países, e traz como exemplo a Torrid, uma gigante global e referência quando o assunto é vestuário plus size. De acordo com a Vogue, somente em 2020, a empresa que é atenta às tendências e vai contra os padrões tradicionais faturou com vendas online mais de US$ 973 milhões. 67
ARTIGO – ODENILDO SENA
REVISTA CENARIUM
O Último Biribá Odenildo Sena
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inha crescido ali, bem em frente à janela que dava para o quintal da velha casa. Ninguém sabia dizer se tinha sido plantado ou se nascera ao Deus-dará, como os pés de chicória e de urtiga que, sem quê nem para quê, da noite para o dia, ganhavam vida rente à cerca do quintal. Na verdade, não se sabia nem mesmo se ele tinha chegado antes ou depois da velha casa de madeira, que se equilibrava a um metro do chão sobre toras de acariquara. Era frondoso, mas talvez não passasse de uns cinco metros. O que não tinha de altura, como os que habitavam os quintais da vizinhança, compensava com seus galhos, que brotavam em extensão e abundância de folhas desde o tronco e se espalhavam frente ao vão da janela, como uma cortina natural a oferecer sombra e frescor a quem estivesse no quarto. O fato é que aquele pé de biribá, de idade desconhecida, era um membro da família, tal o carinho e os cuidados que se dispensavam a ele. E naqueles últimos meses, mais do que em outros tempos, sua intimidade com aquele velho pé de biribá tinha se estreitado como nunca. Bem diferente do tempo de menina e até adolescente, quando escalava os galhos densos em folhas pelo puro prazer de pegar o fruto madurinho com as próprias mãos, parti-lo ao meio, deliciar-se com a polpa branca, saborosa e doce, e cuspir os caroços à distância, às vezes assustando de propósito algum irmão ou irmã que estivesse distra-
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ído no quintal e era atingido por aquele projétil. Mas aqueles tempos de peraltices, em que via o todo, sem se interessar pelos detalhes, tinham ficado para trás, eram só lembranças grudadas na memória. Chamava-se Sofia. Deitada na rede colorida, que atravessava o quarto de uma parede à outra, aquele era seu pequeno mundo há meses, desde que o médico a havia diagnosticado com uma doença estranha e de nome esquisito. Fazia da rede, de onde só se levantava em casos extremos e com a ajuda da mãe ou dos irmãos, o seu posto de observação. E aquela janela, protegida pelo velho pé de biribá, era o seu limitado portal de contato com o mundo que pulsava lá fora. Talvez por isso mesmo o olhar aguçado que dispensava àquele pé de biribá tenha adquirido sentidos outros que agora se entrelaçavam com sua frágil existência. Diria mesmo que o sopro de vida que ainda parecia lhe restar era alimentado tão somente pelo ritmo dos pequenos movimentos que desfilavam diante de seus olhos e sussurravam em seus ouvidos. Foi quando Sofia percebeu, pela primeira vez, que as flores do biribazeiro brotam com a curiosa característica de sobreviverem tanto solitárias quanto aos pares. Foi quando, de olhos fechados, se deu conta de que, quando embaladas pelo vento, as folhas compridas do biribazeiro roçavam na parede de madeira em volta da janela do quarto e provocavam, num ritmo cadenciado, um som gostoso e preguiçoso que tão bem lhe afagava os ouvidos.
Crédito: Divulgação
Enquanto isso, de sua rede, com a cabeça apoiada em um travesseiro e a mente cansada da doença que, aos poucos, lhe consumia, fazia esforço para contar os biribás, mas se perdia no meio do caminho. A concentração lhe fugia ao controle. Além disso, eram muitos biribás, todos amarelinhos, e alguns se escondiam por trás das folhas que davam para o quintal.
Foi quando, também, observou que todos os dias o biribazeiro recebia a visita de um passarinho vistoso, de peito amarelo, que parecia vestir uma casaca preta que se estendia até a ponta do rabo e trazia no centro da cabeça um detalhe também na cor amarela. Ele fazia questão de anunciar sua chegada com um assovio gracioso, repetido em três tempos, que parecia dizer vim-vim-vim. O interesse daquele passarinho era sempre algum biribá bem maduro, onde mergulhava seu bico sucessivas vezes, e sucessivas vezes erguia a cabecinha cantando, como se comemorasse o sabor daquela deliciosa conquista. Mas, a presença do vim-vim-vim também lhe trazia um raro momento de conforto e alento. Era como se aquelas visitas diárias fossem feitas para ela, que prendia as mãos nos punhos da rede, erguia a cabeça com esforço e acompanhava os movimentos do passarinho com o olhar atento e um discreto sorriso, como se a canção que ele entoava também tivesse sido composta exclusivamente para ela. Deu-se, então, que, certo dia, o vim-vim-vim não apareceu para sua visita diária, embora o biribazeiro estivesse carregado e ostentasse fartura como nunca. Era final de maio. Em sua última safra da temporada, os biribás, amarelinhos e apetitosos, mostravam-se por inteiro aos olhos de quem quisesse ver. Sofia ficou um pouco triste com aquela ausência, mas resolveu lhe dar o benefício da dúvida. Só podia ter acontecido algum imprevisto para o vim-vim-vim ignorar aquela fartura.
No dia seguinte, o vim-vim-vim também não deu as caras. No outro dia, também não. E os dias foram se passando impiedosamente sem a presença daquela figurinha animada que, com sua simplicidade e com seu canto em três tempos, lhe davam alguma alegria e conforto. Absorta, pois, na ausência do passarinho, por quem tinha se apegado como a um ente da família, só então Sofia começou a perceber certo dia que os biribás, de tão maduros e a passar do ponto, estavam caindo com razoável velocidade. Como já não fossem tantos, de sua rede ela passou a fazer uma contabilidade diária das frutas desaparecidas. E nada do vim-vim-vim dar o ar de sua graça. Foi quando veio uma descoberta que ela não queria ter descoberto. Sofia notou que, à medida que os biribás sumiam dos galhos, ela se sentia mais debilitada, como se cada fruta que se desprendesse da árvore devorasse um pouco da vida que lhe restava. Mas, não entrou em pânico. Fechou-se em resiliência. Já há algum tempo, trabalhava com o fato de que sua passagem pela vida não ia muito longe. Era um sábado. A janela estava, como sempre, aberta. Os últimos raios de sol tinham sumido por trás do biribazeiro, apagando os movimentos animados das sombras dos galhos que dançavam alegres na parede do quarto. Uma névoa fina começou aos poucos a se alojar por entre as folhas, que, acariciadas por uma fina brisa que soprava manso naquele fim de tarde, roçavam contra a parede e provocavam um barulhinho monocórdico. A noite começava sua jornada.
ela, ao mesmo tempo em que dirigiu os olhos com as pálpebras já pesadas em direção à janela e, inevitavelmente, ao biribazeiro. Estranha coincidência. Um biribá, apenas um, de casca bem amarelinha, resistia preso a um galho que invadira o quarto no canto inferior esquerdo da janela. Foi inevitável a associação. Quando o último biribá escapar daquele galho naquela noite, escapará também meu derradeiro sopro de vida, balbuciou Sofia a si mesma. E, dominada pelo cansaço e pela fraqueza, acomodou o rosto no travesseiro e se entregou ao sono, sem qualquer resistência. Acordou de manhã achando-se estranha. Olhava para si, para seus braços, para suas mãos; afagou seu rosto, acariciou seus cabelos e, com ar de espanto, esquadrinhou detidamente cada detalhe do quarto, a ver se tudo era real. Aquele início de dia estava radiante. Os raios de sol abraçavam o biribazeiro por inteiro e aproveitavam qualquer brecha entre os galhos e as folhas para espalhar um pouco de luz no quarto. De repente, Sofia estendeu o seu olhar ainda um pouco cansado em direção à janela e seu rosto foi lentamente se contraindo até resultar num sorriso que, mesmo contido, via-se que estava carregado de emoção. O último biribá, que resistira à noite inteira, continuava preso ao galho e, agora, repousava sobre o parapeito da janela, como a se oferecer à Sofia. Ao longe, vindo de uma outra árvore no quintal, Sofia ouviu um canto de pássaro que lhe pareceu familiar. Depois de apurar bem os ouvidos, um outro sorriso, dessa vez mais largo e pleno de vida, se estampou em seu rosto. Era o canto em três movimentos do vim-vim-vim. (*) Odenildo Sena é linguista, com mestrado e doutorado em Linguística Aplicada e tem interesses nas áreas do discurso e da produção escrita.
Estirada em sua rede, Sofia olhava fixamente para o alto. Ocupava-se em observar os minguados e derradeiros feixes de luz do dia que insistiam em invadir o quarto, aproveitando-se das brechas no zinco do teto. Sentia-se fraca, como se algumas partes de seu corpo já não atendessem à sua vontade. Deve ser a despedida, pensou 69
Ou nós salvamos a Amazônia agora, ou ela nunca mais vai nos salvar. A Amazônia nos salva da falta de biodiversidade, da seca, das mudanças climáticas e até da fome. Duvida? Pois a floresta é a casa de milhões de espécies, protege as nascentes dos rios, ajuda a estabilizar o clima e a irrigar as plantações de alimentos do Centro-Sul. Porém, a Amazônia nunca esteve tão ameaçada. O desmatamento está batendo recordes. O Greenpeace Brasil está lutando para manter a floresta em pé há mais de 20 anos, monitorando o desmatamento,
© Valdemir Cunha / Greenpeace
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