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Fogo na Amazônia

Queimadas na região batem recorde e preocupam ambientalistas. O número de focos de queimadas, até final de outubro de 2020, já superou o ano inteiro de 2019

Náferson Cruz – Da Revista Cenarium

Número de queimadas até outubro também supera o registrado nos meses de setembro de 2011, 2013 e 2016

MANAUS – As queimadas na Amazônia seguem o rastro do desmatamento e centenas de árvores são varridas do mapa em ritmo acelerado. O número de incêndios registrados neste ano na floresta já é o mais alto em uma década. Apenas nos primeiros dez meses, de janeiro a outubro de 2020, foi superada a cifra total de incêndios em todo o ano de 2019, com 93.356 focos, ante 89.176 no ano passado e 68.345, em 2018. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e foram divulgados no dia 1º de novembro. O ano atual também já supera diversos anteriores, como 2018 e 2016.

Apesar dos volumosos recursos gastos em operações militares, as queimadas na Amazônia crescem exponencialmente. O número de queimadas na Floresta Amazônica subiu 25% nos primeiros 10 meses de 2020 em comparação com um ano atrás, segundo dados do Inpe.

Outubro registrou um total de 17.326 focos de queimada, o que corresponde a mais que o dobro do número de incêndios detectados no mesmo mês no ano passado. Considerando somente os dados até o dia 22 de outubro, quando o Inpe havia registrado 13.574 focos de calor, o aumento já era de 73% em relação ao mesmo mês do ano passado. O número também já é 27% superior ao de outubro de 2018 e se encaminha para superar 2016 e 2017.

As queimadas vêm crescendo mês após mês desde junho deste ano. Em relação ao observado em 2019, agosto de 2020 teve um registro levemente inferior, mas, naquele mês, houve um problema com os satélites que acompanham o fogo no bioma, o que resultou em um valor subestimado. Na primeira quinzena de setembro, o número de queimadas também superou o registrado nos meses de setembro de 2011, 2013 e 2016. Segundo o instituto, a média diária de focos de calor encontrados em setembro foi de 1,4 mil. Somente em três dias da primeira quinzena de setembro, houve registro de mais de 2 mil focos.

Pesquisadores vinham alertando para um possível aumento das queimadas em 2020 por causa dos grandes e crescentes níveis de desmatamento dos últimos anos – fogo e desmate estão diretamente relacionados, porque, após a derrubada da mata, o fogo é usado para limpar o material orgânico no local. O uso de fogo na Amazônia foi proibido pelo governo federal no dia 16 de julho, por 120 dias. Agosto e setembro são os meses mais secos na floresta amazônica.

“Os números de focos de calor na Amazônia são tão ruins quanto em 2019 e a situação ainda é muito preocupante, pois a floresta segue sendo queimada e desmatada em taxas inaceitáveis”, disse à REVISTA CENARIUM, Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace, Organização Não Governamental (ONG).

Para Mazzetti, o atual cenário demonstra que estamos presenciando a mesma tragédia ambiental que se abateu sobre a Amazônia em 2019. Ela ressalta que os elevados números nos dados do Inpe são reflexo da política “antiambiental” implementada pelo governo Bolsonaro. Segundo ela, a atual política governamental enfraqueceu e tirou a autonomia dos órgãos de fiscalização, incentivando assim a impunidade.

“O pouco que o governo se propôs a fazer para “enfrentar” a destruição da Amazônia já foi pensado para não ter resultado e, claro, a gente não esperava nada diferente, uma oratória que proíbe o fogo, desassociada à forte fiscalização e com o emprego das Forças Armadas para fazer o combate ao desmatamento no lugar de órgãos com experiência nessa atividade, coloca a Amazônia nessa situação dramática que pode ser observada nas estatísticas”, disse a porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.

COMBATE FRAGILIZADO

Ao mesmo tempo em que o fogo cresce em 2020 e não só na Amazônia, o combate às queimadas é colocado em dúvida. No dia 22 de outubro, o Ibama anunciou, por falta de verbas, a interrupção da ação dos brigadistas contra as queimadas e a determinação do retorno de todos eles para suas bases.

A ordem atingia todos os biomas, inclusive o Pantanal, que enfrenta o pior ano de queimadas já registrado no bioma. No dia seguinte, 23, o governo anunciou a retomada imediata da ação de brigadistas.

FOCOS DE CALOR NO BIOMA AMAZÔNICO

2020 – de janeiro a outubro

93.356 FOCOS

2019 – de janeiro a dezembro

89.176 FOCOS

Fonte: INPE

87.000 88.000 89.000 90.000 91.000 92.000 93.000 94000

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