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O legado da negritude
O legado da
Eduardo Ribeiro, Lindolfo Monteverde e Mãe Zulmira são exemplos de como negros e negras influenciaram a cultura e vida no Amazonas
negritude
Homens e mulheres negras marcaram a história do Amazonas Mencius Melo – Da Revista Cenarium
MANAUS – Em celebração ao Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, a REVISTA CENARIUM apresenta o legado de homens e mulheres negras que marcaram a vida de centenas de pessoas no Amazonas. São três personagens que foram escolhidos pelos papéis singulares que desempenharam na cultura, história e memória do Estado.
O primeiro deles é Eduardo Ribeiro, que amealhou oposição política da região amazônica. Parte da elite da borracha o via como um “negro forasteiro”. De acordo com o historiador Otoni Mesquita, há registros do preconceito. “Em artigos de jornais à época, autores se referiam a ele como ‘a mancha negra na nossa história’”, aponta Otoni.
Mesmo com forte oposição, Eduardo Ribeiro deixou grandes “digitais” no Estado. É dele o crédito pelas grandes obras, como o Teatro Amazonas e o Palácio da Justiça. De vida atribulada, o parlamentar ainda tentou o Senado da República no Rio de Janeiro, mas retornou a Manaus onde morreu aos 40 anos de idade.
LINDOLFO MONTE VERDE
Lindolfo Marinho da Silva nasceu em Parintins, no Amazonas, no dia 2 de janeiro de 1902 e morreu na mesma cidade em 27 de julho de 1979. Versador popular, Lindolfo é conhecido como Mestre Lindolfo Monte Verde, que, se- Zulmira nasceu no dia 3 de setembro gundo os registros da família, ele adotou de 1923 em Manaus e morreu no dia 13 ‘Monte Verde’ para se referir aos montes de maio de 2007 na mesma cidade. Moverdes da África. radora do bairro Cachoeirinha, cedo se
Neto de escravos maranhenses, Lin- mudou com a família para o que viria dolfo possui poucos registros históri- ser o bairro Morro da Liberdade, zona cos, já que viveu a vida inteira em uma sul da capital amazonense.
cidade pequena e com poucos recursos tecnológicos para fazer o registro de sua atuação. Mas, mesmo com as limitações do mundo amazônico, Mestre Lindolfo criou uma das bases do maior evento folclórico do Brasil.
Em algum lugar entre os anos 1910 e 1920, Lindolfo criou o Boi Garantido. A data oficial da associação folclórica Boi-Bumbá Garantido é 1913. Com voz potente, criatividade e um talento nato para criar versos, Lindolfo deixou uma marca indelével. “Meu avô era um gênio da cultura popular, está aí o Garantido para provar”, exaltou seu neto, Ivo Monteverde.
MÃE ZULMIRA
Símbolo do sincretismo religioso que marca o Brasil de tantos negros, Mãe
No Morro tornou-se filha do Terreiro de Santa Bárbara. Começara ali o reinando de uma das maiores mães de santo do norte do Brasil. Reverenciada e amada por sua comunidade, Mãe Zulmira recebia em seu terreiro caravanas de fiéis de todo o País. Sua fama correu longe e Zulmira virou enredo da escola de samba do bairro.
Em 1989, o samba ‘Axé Mãe Preta’ embalou a Reino Unido da Liberdade em seu primeiro campeonato no Carnaval de Manaus e tocou nas rádios do Rio de Janeiro. Tamanho sucesso transformou Mãe Zulmira em símbolo da negritude amazônica. “Mãe Zulmira é a alma do nosso bairro e o coração da nossa comunidade”, declarou o músico Marcos Moura, morador do Morro da Liberdade.