Outros quadros da Arquitetura no Brasil

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QUADRO DA ARQUITETURA NO BRASIL



OUTROS QUADROS DA ARQUITETURA NO BRASIL



Autores Amanda Resende Barros Ana Luiza Ferreira Bonutty Anderson de Souza Quintella Chagas Anna Clara Dusanek Guedes Bianca Cristina Naimeg Bruna Matos do Nascimento Catarina Ferolla Vasconcelos Clara Villares Valadares Gabriel Olegario Batista Silva Gabriella Sevilha Ferreira Giovana Lemos Vieira Gleiderson Roger Lima de Oliveira Isabelle Silvera e Silva Joyce Emily Ataide Rodrigues Julia Coura Bonifácio Juliana Alencar Almeida Araujo Kamilla Oliveira Silve Lucas Carvalho de Jesus Lucas Neves Dias Matheus Lukashevich Santos Nickolas Pinto Garcia Pedro Henrique dos Santos Sales Pedro Paulo Drumond Almeida Rafael Torga Bellardini de Castro Raquel Santos Leal Raquel Suelen Linhares de Souza Stella Andrade de Padua Carvalho Taina Bandeira da Silva Costa Tainara Lelis de Miranda Renata Marquez e Paula Lobato (orgs.)



Sumário Nota introdutória 0. A cidade no Brasil Lote Urbano e Arquitetetura no Brasil 1. Lote urbano e arquitetura 2. O lote urbano colonial 3. A implantação da arquitetura no século XIX 4. A implantação da arquitetura no século XX 5. Brasília 6. Uma nova perspectiva Arquitetura Brasileira no Século XIX 1. O neoclássico na Academia Imperial 2. O neoclássico nas províncias 3. Interpretação do neoclássico 4. As condições da arquitetura na segunda metade do século 5. A evolução das técnicas construtivas 6. As residências 7. Crítica do ecletismo Sobre o Patrimônio de Cultura



Nota introdutória Partindo do entendimento da História da Arquitetura como uma disciplina que reduz o pensamento e a produção existente àqueles reconhecidos pela academia, ignorando a diversidade existente para além de seus muros, a coleção erratas é uma proposta de subversão de um dos principais pilares dessa história: os livros. Quais processos ficaram fora da história? Quais as violências não enunciadas no processo de edificação das obras e monumentos? Quais os outros métodos e tecnologias existentes/possíveis que não são considerados? Quem também produz arquitetura mas (ainda) não foi reconhecido? Qual o caso que se contrapõe ao modelo apresentado? Qual o discurso não-oficial compartilhado como memória por alguma população? Nesta edição, trabalhamos com livro de Nestor Goulart produzindo breves erratas que tensionam aspectos do conteúdo tratado pelo autor. Esperamos que este livreto funcione, para o eventual leitor uma forma de lembrá-lo que, por mais que possa parecer, a arquitetura e sua história vão muito além do que ali está apresentado. Arquitetura, Arte e Ciências Humanas I UFMG, Janeiro de 2021



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A cidade no Brasil



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A cidade encoberta Como se formaram as cidades brasileiras? Quais foram os elementos materiais e simbólicos que a determinaram? Neste capítulo será proposto um olhar arqueológico sobre as cidades em busca das verdades encobertas pela historiografia que trata a urbanização no Brasil, entendo essa compreensão como fundamento essencial à leitura do Quadro da Arquitetura no Brasil.


Anterior ao estudo da arquitetura brasileira, há que se compreender o substrato material e subjetivo a partir do qual ela foi formada. Parte crucial dessa estrutura são as cidades coloniais, ou pelo menos as cidades das quais Nestor Goulart e a maioria dos autores tratam como cidades. Por outro lado, falar sobre a cidade colonial, inevitavelmente, nos levará a pensar sobre sua arquitetura e, mais ainda, sobre a relação causal entre sua materialização e a violência. Digo isso em contraposição às inúmeras passagens do livro Quadro da Arquitetura no Brasil em que Goulart relaciona qualquer tipo de precariedade estética ou construtiva à mão de obra escravizada, deixando a entender que o grande problema da escravidão fosse, na verdade, a inabilidade dos escravizados em realizar, sob atroz opressão, as técnicas construtivas européias, e não a violência em si. Existem, claro, muitos outros motivos para negarmos essa relação, no mínimo, incoerente, mas decidi começar por aquilo que acredito ser uma das principais causas desse tipo de perspectiva: a compreensão da cidade e dos modos de fazer arquitetura a partir do referencial europeu e, portanto, colonizador. Para isso proponho uma reflexão sobre a gênese das cidades brasileiras a partir de alguns autores que se prestaram a escavar, cuidadosamente, nosso passado pré e pós colonial e por isso propõem novas perspectivas em contraposição à historiografia europeia nas quais Goulart se baseia em seu livro. Não tenho a pretensão de esgotar o tema neste capítulo, até porque não carrego conhecimento nem palavras suficientes para isso, apenas a vontade de despertar em quem lê o desejo de escavar que me foi despertado. Afinal, nada melhor que muitas mãos reunidas em um trabalho de escavação. Investigar a gênese das cidades brasileiras pode ser um exercício confuso e, até certo ponto, metalinguístico. Nessa jornada se faz necessário o emprego de uma postura arqueológica que seja capaz de recriar um passado encoberto ou, muitas vezes, apagado pela violência colonial e, por isso, confuso. Também se descobre que muitas perguntas se transformam em suas próprias respostas, desvelando uma conversa matalinguística desenhada pela ausência. Quando perguntamos sobre a arte, a epistemologia e a cultura pré-colonial encontramos lacunas produzidas pelo extermínio. Muitas destas perguntas ecoam em si mesmas já que suas respostas foram apagadas. Em outras palavras, a metalinguística da arqueologia pré-colonial reside na descoberta de que a ausência é, quase sempre, respondida com a própria ausência. Um esforço muitas vezes inconsciente nos leva a preencher a ausência com narrativas importadas, as quais se organizam no sistema de ensino, não por acaso, dentro de uma disciplina chamada história geral, cuja maior parte da carga-horária é dedicada, na verdade, à história européia. E são nessas condições que aprendemos sobre a cidade. Mas como considerar que em um contexto diametralmente oposto ao da metrópole colonial, em termos materiais, ambientais, geográficos, sociais ou simbólicos, tenha se desenrolado aqui um processo de formação urbana sequer semelhante ao europeu? Os livros de história (ou de arquitetura) nos confundem em


generalizar particularidades, mas para além isso, deixam de contar aquilo que de fato queremos saber. Isso porque há quem diga que as primeiras cidades se formaram a partir da chegada dos portugueses em nosso território, dogma dificilmente contestável quando levamos em conta a epistemologia fundante da teoria e história da arquitetura e do urbanismo que nos foi imposta e a partir da qual o entendimento daquilo que é cidade se manteve permanentemente fixado à experiência européia. E nada melhor que o livro de Goulart para exemplificar como a violência colonial está impregnada em nosso imaginário coletivo, subjetividade e, certamente, em nossa epistemologia. Porém a confusão não se encerra aqui. Há quem diga, por outro lado, que neste velho território há muito existiam velhas comunidades sedentárias que dispunham de organização territorial e cotidiana complexas que (por que não?) poderiam ser chamadas de cidade, como algumas encontradas em estudos arqueológicos na Amazônia. Organizações distintas daquelas novas que se formavam na europa. Mas a confusão está longe de acabar. Existem, ainda, cidades outras que começaram a se formar em território brasiliense a partir da invasão colonial e por isso carregam em si diversos traços lusitanos, essas sim são as cidades hoje conhecidas como primeiras e que de fato o são quando consideramos a cidade como fruto da urbanização industrial. Isso significa que elas passaram por processos semelhantes àqueles vividos pelas cidades europeias? Podemos imaginar que não. Então por que no Brasil estudamos a cidade como produto da industrialização do campo? Em que se aplica, aqui, a conhecida linha contínua e unidirecional que liga o feudo à cidade industrial? Bom, são perguntas difíceis de serem respondidas uma vez que o surgimento de cada cidade brasileira encontra no extrativismo sua verdadeira gênese e, nesse sentido, muitos foram os produtos extraídos que levaram à concentração e organização de pessoas formando comunidades nas quais se desdobraram processos distintos entre si. Pode-se dizer que “As cidades foram erguidas seguindo dois critérios básicos: primeiro, a proximidade de um “recurso natural” para ser explorado e saqueado em benefício dos invasores e da potência colonial; e, segundo, contar com fontes de água para resolver as necessidades básicas de sobrevivência. Essas cidades coloniais não podem ser compreendidas sem essas características fundantes, constitutivas de seu espírito. Ao se saberem invasoras de um território alheio, o que obrigava a despossessão dos povos originários, constituíram-se a partir de uma lógica de proteção, de defesa militar diante desse inimigo que ia se constituindo no “outro” a ser batido pela dominação colonial: o indígena-rural. Essa foi a marca inicial de nossas cidades.” (IBÁÑEZ, Mario Rodríguez. 2013)

A partir desse trecho, podemos inferir o tamanho da riqueza encoberta ou simplesmente apagada para que essas cidades fossem construídas. Por outro lado, tamanha vastidão territorial me induz a chamar atenção para alguns recortes mais próximos, com os quais tenho maior familiaridade, como é o caso das cidades mineradoras. Essa escolha, no entanto,


nem de longe esvazia a discussão, pelo contrário, as cidades mineradoras podem ser consideradas fundamentais à compreensão de todo o processo de urbanização que se iniciou no brasil a partir da invasão portuguesa. Mais que isso, nos permitem construir uma linha (ou forma) historiográfica particular na qual essa importância e especificidade se justificam “principalmente no desenvolvimento de uma cultura urbana que floresceu nas cidades mineiras no século XVIII, marcada pela precocidade, intensidade e concentração, e que merece atenção especial por estarem na base da urbanidade e política brasileiras.” (MONTE-MÓR, 2001, p. 1) Com base nesse argumento, Monte-mór propõe uma interessante inflexão entre as conhecidas fases constitutivas da cidade europeia, demonstrando como na gênese e estrutura das cidades mineradoras ocorreu uma inversão. Ao passo que na Europa elas se formaram a partir da urbanização do campo, que a precedia, aqui isso ocorreu de forma inversa. A indústria de extração do ouro é quem determinou a criação da cidade, enquanto o campo passou a se desenvolver para e por causa dessa atividade. Aqui, o boom demográfico vivido pela industrialização na Europa se deu como consequência da mineração, que atraiu um enorme contingente de pessoas para as áreas mineradas. Assim foi definida uma urbanidade precoce e abrupta, sem que fossem antes experienciados o campesinato e a política, ambos desenvolvidos a fórceps para viabilizar o sistema extrativista. Nesse ponto já conseguimos imaginar como a materialidade dessas cidades pode ser entendida como meio e produto da sociedade colonial mineradora, reproduzindo, inclusive, as inúmeras contradições desse sistema. Todos esses processos tampouco se desenvolveram de forma autônoma. A cidade mineradora passou a desempenhar papel essencial na construção da modernidade na europa, sustentando um sistema global cujo elemento central era o ouro, no entanto seguia sujeita à administração portuguesa. No texto Fisionomia das cidades mineradoras Monte-mór descreve como essa materialidade se constitui como produto direto da mineração, “As descobertas ou primeiros achados expressivos de ouro definiam o assentamento e implicavam também a construção imediata de capelas, toscas que incialmente fossem, nos morros, outeiros ou encostas adjacentes onde depositar as imagens trazidas na empreitada e agradecer aos santos de proteção, ao Cristo ou à Virgem. Os arraiais se organizavam então em torno das capelas e se estendiam pelos caminhos de acesso às áreas de mineração. Assim, o tecido urbano resultante era via de regra linear, compondo-se espontaneamente à medida que caminhava a mineração e se fortaleciam suas interligações. Dada a distribuição do ouro em várias grotas e córregos, senão distantes entre si pelo menos separadas por acidentes geográficos, diversas eram as nucleações que surgiam ao longo dos caminhos. O caminho principal, ou caminhos principais, logo ou tarde recebiam ordenações que os transformavam em espaços institucionalizados, garantindo localização privilegiada para o comércio e abastecimento e não mais tratados apenas como espaços de produção, mas já subordinados a controle de ocupação urbana voltados para a reprodução. A rua Direita, herança


portuguesa tão encontrada nas cidades mineiras, reflete as tentativas de normatização e ordenação desse espaço urbano em formação.” (MONTE-MÓR, 2001, p. 4)

Agora, uma vez entendida a indissociável relação entre grande parte das principais cidades formadas a partir do século XVII e o sistema extrativista mineral, podemos compreender como as relações apresentadas por Goulart à respeito do traçado e loteamento urbano brasileiro se assemelham àquelas que vinculavam a precariedade construtiva à mão de obra escravizada. Isso porque os problemas decorrentes dessa urbanização devem ser relacionados a processos sociais muito mais profundos. Goulart, no capítulo Lote urbano e arquitetura associa o desenho urbano no Brasil e suas limitações contemporâneas ao fato de terem sido produzidos sob os preceitos tecnológicas e estéticos da época, novamente desconsiderando as particularidades locais e a violência que o tornam, de fato inadequado ao território e sociedade brasileiros. Sabemos, por outro lado, que toda violência desencadeia fenômenos de resistência que, ainda que contemporâneos, respondem ao passado colonial que se estende sem respostas. Portanto, é preciso buscar, antes de tudo, as outras formas de existir no mundo que foram apagadas. Hoje muito se fala sobre os problemas do extrativismo predatório que fundou nossas cidades, mas há que se dizer que os povos originários que detém saberes ancestrais profundamente conectados à Terra sempre souberam dos perigos trazidos por essa ganância. O xamã Yanomami Davi Kopenawa, no livro A queda do céu, nos alerta para a importância de mantermos os minerais subterrâneos protegidos no subsolo para a manutenção da qualidade de vida no planeta, descrevendo como a mitologia Yanomami compreende a preservação dessa riqueza “Omama escondeu seu metal lá no meio dos morros das terras altas, onde também fez jorrarem os rios. É de lá que surgem os ventos e o frescor da floresta. É de lá que vem sua fertilidade. Quando fazemos dançar a imagem desse pai dos minérios, ela se apresenta a nós como uma montanha de ferro subterrânea, cheia de imensas hastes fincadas em todos os lados. Omama a colocou nas profundezas do solo para manter a terra no lugar e impedir que a ira dos trovões e dos raios a faça tremer e a desloque. “ (ALBERT, KOPENAWA, 2015, p. 32-41 )

Não por acaso esse é o primeiro livro escrito por um Yanomami. Demorou muito para que começássemos a pensar em ouvir o que os verdadeiros donos do Brasil têm a nos dizer. Ainda estamos longe, mas é certo que muitas evidências nos levam a entender a extração do ouro e outros metais não somente como uma irreversível violência contra a natureza, mas também como elemento fundamental da formação do território brasileiro como ele é hoje e, principalmente, como instrumento de colonização permanente e, portanto, reprodutor de violências e contradições. Por isso compreender as cidades contemporâneas passa pelo entendimento de que foram fruto dessa intervenção e que, sobretudo, simbolizaram uma rup-


tura cruel com as formas de vida e outras cidades que existiam e poderiam ter se desenvolvido de forma autônoma em nosso território, sob a presença dos povos nativos ausentados na história. A gênese dos entraves urbanos está aí. Assim como a solução está na potência disruptiva dos marginalizados. Assim, faço um convite àqueles que chegaram até aqui para escavarmos nossas cidades coloniais em busca das resistências urbanas dissidentes que reforçam a presença das culturas pré-coloniais no cotidiano urbano passado e atual. Como seriam essas cidades impedidas de existir? ou seriam anticidades?


Lote Urbano e Arquitetura no Brasil


MODOS DE LER Lote urbano e arquitetura no Brasil

Bianca Cristina Naimeg Gabriella Sevilha Ferreira ACR032 - 2020/2


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Lote urbano e arquitetura


OOinício início Conhecida Conhecidacom com“Meio “MeioCaminho CaminhododoCarro” Carro”a avila vila possuía possuíauma umaestrada estradamuito muitofrequentada frequentadapor porviajantes viajantes e etropeiros. tropeiros.Havia Haviapoucas poucascasas casase epoucos poucosmoradores. moradores.


Anos 1887 A criação da estrada de ferro em 1886 e a construção do Matadouro em 1887 dinamizou o bairro e intensificou a urbanização.Fábricas, imigrantes, novas residências marcaram essa nova fase.


O aspecto rural foi sendo substituído pelo aspecto urbano As fábricas existentes como a de fósforo , cerveja , chocolate foram abandonando o local e o bairro passou a assumir um carácter residencial mais forte. Novos loteamentos foram feitos, principalmente destinados a classe média .


O bairro foi caminhando para o seu forte uso residencial e com a presença de alguns comércios e serviços


Anos 1970 A implantação do metrô , a verticalização e o adensamento transformaram a dinâmica do bairro. Passou por maior especulação imobiliária e gourmetização, sendo hoje praticamente exclusivo de uso residencial


As residências e os traçados foram evoluindo conforme o seu loteamento . Antes presenciávamos casas esporádicas, com construção simples que eram espelhadas pela forma do bairro em si, com suas ruas esburacadas. Com o tempo, os lotes passaram a ser modificados e voltados para a classe média e investimentos urbanísticos, surgindo casas mais modernas. Os lotes urbanos se adaptam mais facilmente às modificações do plano econômico social do que ao plano arquitetônico. Principalmente com a instalação do Matadouro que foi notável uma alteração mais urbanística do que arquitetônica .


Referências VILA Mariana: História do bairro de São Paulo/SP. Direção de Daniel Solá Santiago. Produção de Luanda Moraes. Realização da Prefeitura de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura. Roteiro: Júlio Rodrigues. São Paulo: DSS Produções, 2009. (27 min), son., color. Disponível em: . Acesso em: 20 dez. 2020. BARBOSA, Eunice . Evolução do uso do solo residencial na área central do município de São Paulo. 2001. São Paulo. SÃO PAULO. Prefeitura de São Paulo. Caderno de propostas dos planos regionais das subprefeituras quadro analítico Vila Mariana. Dez. 2016. MASSAROLO, Pedro Domingos. O bairro da Vila Mariana. História dos bairros de São Paulo. São Paulo: Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo, 1971. REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. 13 ª edição . Perspectiva . 7 de jun. 2019. CARVALHO, Clara Cristina . Os setores médios e a urbanização de São Paulo : Vila Mariana de 1890 a 1914 . Anais Eletrônicos do XXII Santos Encontro Estadual de História da ANPUHSP. - SP . 2014. ARQUIAMIGOS – Associação Amigos do Arquivo Histórico de São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 20 dez. 2020 CARVALHO, Clara. Os setores médios e a urbanização de São Paulo; Vila Mariana , 1890 a 1914. Guarulhos- SP . 2016 . Dissertação (Mestrado em Filosofia , Letras e Ciências Humanas na Universidade de São Paulo).


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O lote urbano colonial










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A implantação da arquitetura no século XIX *capítulo não escolhido para o trabalho por nenhum grupo


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A implantação da arquitetura no século XX



Cap. 4 - A implantação da arquitetura no século XX Diante da leitura do capítulo e, tendo posse de outras informações relacionadas ao conteúdo nele discutido, provenientes de outros livros e estudiosos sobre o tema da história da arquitetura brasileira, é possível apontar a carência de algumas informações relevantes ao seu estudo e que aqui serão aprensentadas. Divididas em três partes referentes a 20 anos cada, essa parte do texto mostra uma breve descrição histórica das principais característivas arquitetônicas e urbanísticas adotadas em cada uma das duplas de décadas do século XX, até os anos 60, período no qual o estilo Moderno da arquitetura iniciou e se consiolidou no Brasil. Todavia, por mais que o conteúdo possua várias referências de citações de construções e edifícios nas duas maiores cidades do país, ainda acho que elas sejam insuficientes, e que algumas inserções poderiam acontecer para um maior dinamismo do texto. Dessa forma, não objetivando deturpar ou desfigurar a obra original de Nestor Filho, mas apenas fazer um estudo mais aprofundado e ilustrativo, trago aqui um ensaio diagramático que complementa, exemplifica e desenvolve as ideias do autor. Pedro Henrique Sales Semestre 2020/2 Trabalho final da disciplina Arquitetura, Arte e Ciências Humanas I (ACR032) Orientadoras: Renata Marquez e Paula Lobato Universidade Federal de Minas Gerais


1900-1920 → A sociedade e os edifícios ainda tinham características fortes ligadas aos esquemas rígidos do trabalho escravo recém abolido. → Aspectos de uma vida rural se misturavam à paisagem dos centros urbanos que cresciam continuamente. → Surgimento do modelo de casas residenciais de subúrbio que rememoravam casas de interior (classes média-alta). - Chácaras adaptadas para o ambiente urbano.

Belo Horizonte - 1910

Vila Penteado, São Paulo - 1920

p.54 p.58

→ As residências de baixa renda eram cortiços ou vilas que aglomeravam juntas várias casas ou cômodos, partilhando um pátio comum.


p.58

Rio de Janeiro - 1920

→ Nas construções comerciais, edifícios de vários andares possuiam um estilo arquitetônico que ainda seguia os mesmos padrões coloniais (estilo neocolonial).

Edifício Parc Royal, Belo Horizonte - 1923 Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro - 1920 p.60


1920-1940 → Início do desenvolvimento industrial e das transformações tecnológicas de importância no país.

primeiras

→ Persistiam os lotes urbanos herdados do século XIX, onde se construíram os novos e imensos prédios de concreto. → Atendimento às exigências do novo mundo contemporâneo apenas com adaptações na arquitetura, sem levar em conta o urbanístico. → Agora, residências de classe média eram “tentativas” de replicar os padrões da classe alta, de uma forma mais modesta e improvisada, que acabava por gerar alguns problemas na vida prática.

Exemplos de casas de “classe média” se tornaram um padrão muito comum por todo o Brasil: Interior do Pernambuco e de São Paulo, respectivamente.

p.67 e 68


→ De outro lado, a classe alta passou a adotar um sistema adaptado de “bairros cidade-jardim”.

Avenida Paulista, São Paulo - 1930

p.71

→ Surgiam os novos edifícios de apartamentos que, ainda sim, em sua disposição funcional, seguia padrões semelhantes aos encontrados nas casas. - “As construções industriais”.

p.79 Edifício Lívia Maria, Avenida São João, São Paulo - 1938


→ Os edifícios comerciais entraram em um processo de de intensa verticalização, seguindo a um padrão arquitetônico próximo ao urbanismo francês do século XIX.

Rua Chile, Salvador - 1951

p.82

1940-1960 → Período de intensa industrialização e urbanização para o Brasil. → O movimento de Arquitetura Moderna procura aproveitar ao máximo os novos recursos industriais. → Reexaminação da relação entre a arquitetura e a extrutura urbana, surgindo modelos de edifícios mais eficientes. → Em todo o campo da construção civíl passa-se a utilizar o concreto em lajes, vigas e colunas. → O aspecto funcional passa a ser amplamnete valorizado, e altera o uso e a disposição de casas e outros edifícios. Decadência do fachadismo.

p.90


→ As “caixas de concreto” das novas residências funcionalistas são agora inseridas em terrenos ainda menores.

Residência Taques Paulo - 1960

Bittencourt,

São

Campo Grande - 1950

→ Prédios condominiais mistos se tornaram a nova solução para a grande demanda que surgia. - Grandes edifícios com lojas, galerias comerciais e torres residenciais. → As “caixas de concreto” das novas residências funcionalistas são agora inseridas em terrenos ainda menores.

Condomínio do Edifício Arcângelo Maletta, Belo Horizonte - 1957

Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, Rio de Janeiro - 1947


QUADRO DA ARQUITETURA NO BRASIL - NESTOR GOULART REIS FILHO

1 2 0 122 0 L I2R POAR /I E8N0AEJ U S S I

1 2 E M U L2O3V0 R / C9A 9.5$ ROF

5 5 - B B R R A A S S Í Í L L I I A A

HISTÓ T R IAAVSE E L TMOE M TH ÓER IUAN S KCNAONW DN ANGAS


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Brasília


5 -

B R A S Í L I A

REF.PAG 98 E 99 - QUADRO DA ARQUITETURA NO BRASIL - NESTOR GOULART REIS FILHO

H I S T Ó R I A S

O Futuro da Construção Civil

C A N D A N G A S

O escritor Euclides da Cunha utilizava o termo “Candango” para designar o sertanejo de aparência triste e cansada. Historicamente, ele faz referência também aos pioneiros construtores de Brasília, migrantes, principalmente do Norte e Nordeste, que viajavam na carroceria dos caminhões durante 45 dias em estradas de terra batida até o local demarcado para a construção de Brasília. (Memorial da Democracia, 2017)

INSTITUTO DURANGO DUARTE 2020.

A mão de Obra da Tecnologia

"Os avanços tecnológicos no canteiro de obra não foram acompanhados de avanços no contexto social e trabalhista dos operários em Brasília."

RETIRANTES CHEGAM PARA TRABALHAR NA CONSTRUÇÃO DA NOVA CAPITAL, EM JANEIRO DE 1959. (FOTO: ARQUIVO PÚBLICO DO DF)

Os Guerreiros e Os Candangos Na praça dos Três Poderes foi instalada a escultura “Os Guerreiros”, de Bruno Giorgi, logo apelidada de “Os Candangos”, pois era uma homenagem aos operários que construíram Brasília. No dia da inauguração, os milhares de operários a admiravam e diziam: “Olha nosso monumento! Os candangos somos nós!” (Memorial da Democracia, 2017).

OS GUERREIROS, BRUNO GIOGI

“Lá chegavam tangidos pela seca e pela miséria na expectativa de um futuro na nova cidade, ideário do nacional-desenvolvimentismo brasileiro, símbolo de prosperidade, tecnologia e avanço: um novo mundo.”


5 - B R A S Í L I A

No canteiro de obras da futura capital, pairava soberana a poeira da terra vermelha, fina e gurdenta oriunda dos cortes e terraplanagens. Nos acampamentos das construtoras, cada quarto tinha dois beliches — ou, às vezes, “treliches”, três camas sobrepostas. Todos queriam dormir na mais alta, porque, mesmo durante a noite, a poeira entrava nos alojamentos pelas frestas das paredes de tábua. Os que dormiam nas camas mais baixas costumavam acordar tossindo, fungando e com o rosto empoeirado. (Memorial da Democracia, 2017)

ARQUÍVO PÚBLICO DE BRSÍLIA

Vermelhos de Poeira

As Candangas Invisíveis

LAVADEIRAS FONTE: REVISTA

METRÓPOLE

“Brasília é a mulher que teve coragem de ir para dentro do país e fazer o país florescer”

Durante a Construção de Brasília, embora muito poucas em comparação a quantidade de homens, também vieram mulheres atraídas pelas oportunidades de trabalho. Eram professoras, enfermeiras, engenheiras, médicas, comerciantes, agricultoras e prostitutas. Algumas delas relatam a vinda acompanhadas dos maridos, mas todas transparecem o espírito de aventura do qual eram imbuídas ao empreender a mudança(Vieira ,2017). Mas paralelamente, ainda enfrentavam o perigo da violência sexual.

“Eu trabalhava lavando roupa para os peão. Que aqui tinha emprego pra quem tinha estudo, vinha de longe, quem não tinha, ia lavar roupa, ia dar comida para os peão, fazer marmita. Era os monte, era todo santo dia. Eu levantava de noite, três horas da manhã eu levantava pra lavar roupa, esfregar, fazia um forro no meio do quintal, botava uma vasilha grande assim pra ferver, que só limpava fervida, porque era muita poeira, às vezes era até de óleo.” (Josefa Carmelita, Lavadeira)


PAU-DE-ARARA CANDANGOS CHEGANDO EM BRASÍLIAFONTE: DOCUMENTÁRIO POEIRA E BATOM NO PLANALTO CENTRAL

PARTO NOS ALOJAMENTOSFONTE: DOCUMENTÁRIO POEIRA E BATOM NO PLANALTO CENTRAL

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“Em 58, 59, 60 na inauguração, em 3 anos eu fiz tantos partos que eu não sei quantos foram. Atendia nos acampamentos e era longe pra sair de uma construção pra outra construção. E eu com a bolsa de parto, porque eu levava até água fervida pra dar o banhozinho, chegava lá não tinha água às vezes, então era luva, o instrumental cirúrgico e água e remédio dos olhos do neném, tudo tinha que levar. Então eu fui mais útil vindo pra cá do que eu imaginei.” (Cacilda Rosa Bertoni, Enfermeira-Parteira)

“Vim de Currais Novos, no Rio Grande do Norte, de paude- arara. Uma lona cobre o carro, né, e tem bancos assim, a gente vai sentando, vai sentando, até completar aquele caminhão de gente, o joelho encostando nas costas do outro. Menino vem no colo ali, espremidinho. Eu mesmo vinha grávida, né, um barrigão que só vendo. Quando chegava no lugar que a gente descia todo mundo assim, no mato, perto de um córrego. Quem trazia comida pronta, dava um jeito de esquentar, e subia novamente. Terminamos a viagem com 10 dias.” (Josefa Carmelita, Lavadeira)


ANTES DA CONSTRUÇÃO DA ESCOLA, AS AULAS ERAM DADAS AO AR LIVREFONTE: HISTÓRIAS DE BRASÍLIA

PAU-DE-ARARA CANDANGOS CHEGANDO EM BRASÍLIAFONTE: DOCUMENTÁRIO POEIRA E BATOM NO PLANALTO CENTRAL

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"Desenhava, Calculava, dia e noite, porque Juscelino deu um prazo: 'Eu quero para 5 anos, o que deveria ser em 50.' " (Mercedes Ribas Parada, Calculista e Desenhista de Mapas)

“E eu morava em Belo Horizonte, então tinha saído a novidade de começar a construir a mudança da capital, do Rio de Janeiro, para… ainda não sabia o lugar, mas devia ser ou em Minas, como as pessoas queriam né, ou aqui em Brasília. Então nesta ocasião eu resolvi, sem nem mesm falar com o marido, que ele mandasse a mudança que nós íamos mudar de Belo Horizonte. E assim nós mudamos aqui pra Brasília. Morei no Núcleo Bandeirante na primeira avenida, não tinha ainda nada. E nós então conseguimos uma casa de madeira, muito simples, mas era grande. Só nessa minha casa no Núcleo Bandeirante é que tinha água. Nas outras não tinha.” (Maria das Neves Morici, Professora)


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“[...] Se prostituir para conseguir carona, se esconder da polícia. A ilegalidade e a necessidade gerando os percursos e situações que essas mulheres vão viver, localizando-as à margem de um processo, escondidas da história.” (Vieira, 2017- Corpo Feminino e Modernidade na Construção de Brasília)

FILA DE OPERÁRIOS EM UM DOS CABARÉSFONTE: POEIRA E BATOM NO PLANALTO CENTRAL

“A Placa das Mercedes! Aonde era.. posso falar?... a casa das prostitutas. Ali no parafuso mesmo só tinha era o mulheril, né, e todo mundo ia pra lá, os home tudo ia pra lá. Era aquela coisa doida, tudo pra lá. Mas era dividido, elas eram impedida de vir pra cá pro Núcleo Bandeirante. Elas só frequentava a Vila Parafuso e a Placa da Mercedes.” (Hilda Ribeiro, Auxiliar de Enfermagem) “A porcentagem ali era o seguinte:é tanto de chave, e eles proibia a gente de falar. Naquela época era 15 cruzeiros da chave, 15 da mulher. Mas aquele da mulher, ela já tinha que deixar 5 que era pras outras despesas, o álcool, o sabonete, o uso do banheiro. Tirava aquela porcentagem pra eles, que era pra não ficar de graça, pra eles não ter prejuízo. A mulher podia ter, mas eles não. Era complicado. Uma vida muito humilhante, quer dizer, além de você estar lá, trabalhando pra você, cê tem que trabalhar pra dona. Ela dá o café, dá o almoço, dá a janta, ainda tem que dividir o que ganha com elas.” (Noeme Luís)

“E à noite as mulheres eram muito linda, todas vestidas de longo, calçada de sapato alto, meias… ninguém podia ir pro salão sem meia, nem o sapato, brilhando no pé. Porque sapato torto, mulher não fazia sala não, mal vestida também não. E aqui era muito bonito, sabe, vinha gente e vinha os políticos também, vinha muito aqui, vinha muito deputado aqui como Juscelino, né. Juscelino frequentou aqui, sentado aqui onde eu estou. Aqui tinha uma mesa grande. E ele veio muitas e muitas vezes aqui, os seguranças ficavam lá fora esperando ele. Porque ele também não ligava pra nada não, ele era mulherengo. E ele tinha conhecimento né, com a dona da casa, a gente tratava ele muito bem né, um presidente, cê já pensou um presidente na casa da gente? Ah, cê tá louco” (Yone Rodrigues) “Então lá eu consertando cama, que era cama quebrada que não acabava mais, e fui conversando com as mulheres que ficavam ali. E essa menina de Goiânia, eu conversando com ela e com as outras, ela falou “olha, a loucura, você não imagina. No dia do pagamento passava em cima da gente de 80 a 120 homens”. (José Perdiz) “Da mesma forma que foram trazidas, as prostitutas foram expulsas. Após cumprirem o seu papel de apaziguar os ânimos sexuais que inquietavam os trabalhadores na construção da cidade, e, tendo esta sido inaugurada, a zona foi extirpada.” ((Vieira, 2017- Corpo Feminino e Modernidade na Construção de Brasília)


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"As mulheres, eu vejo assim, dois grupos bem distintos: um grupo que veio acompanhando o marido e ficou meio à margem; mas houve outro grupo de mulheres que foram mexer com flores, que foram mexer com cabeleireiro, que foram mexer com agrimensura…Então essas mulheres se engajaram. Elas chegaram trazidas pelos maridos, ma elas não ficaram paradas esperando o marido andar não. Elas começaram a se mexer: não, não vou ficar parada no espaço não, vou entrar na luta, e foram pra luta.[...]Muito corajosas, um grupo grande de mulheres muito, muito corajosas." (Cosete Ramos, Profesessora Caseb)

INAUGURAÇÃO DE BRASÍLIA NO PALÁCIO DO PLANALTO. FONTE: DOCUMENTÁRIO POEIRA E BATOM NO PLANALTO CENTRAL.

INAUGURAÇÃO DA CATEDRAL METROPOLITANA, PRIMEIRA MISSA REALIZADA EM BRASÍLIA. FONTE: DOCUMENTÁRIO POEIRA E BATOM NO PLANALTO CENTRAL.

“É notável que em certos eventos oficiais ou religiosos a presença feminina tenha sido marcante e propositalmente registrada pelos veículos de divulgação de imprensa.”(Vieira, 2017- Corpo Feminino e Modernidade na Construção de Brasília)

"Eu acho que se não houvessem mulheres em Brasília, Brasília não teria sido construída como foi. Não é que as mulheres fossem pras obras, fossem mexer com betoneira, pegar martelo, bater prego, não é isso. Elas davam a retaguarda sem a qual os homens não fariam, entende." (Helena Maria Viveiros, Escritora).


5 - B R A S Í L I A

REF.PAG 100 - QUADRO DA ARQUITETURA NO BRASIL - NESTOR GOULART REIS FILHO

P A R A

A

V I D A

C O N T E M P O R Â N E A

A N T I - E S C R A V I S T A No Tempo de Brasília

A capital foi construída a galope, em apenas 42 meses Brasília pode ser inaugurada. Contudo, existem muitas pontas soltas na narrativa da construção de Brasília. Segundo o historiador Deusdethi Júnior, professor do UniCeub, somente na década de 1980 foram sistematizados os depoimentos dos operários que foram deixados de lado pela história oficial.

CONSTRUÇÃO DO CONGRESSO NACIONAL LOCAL: BRASÍLIA/DF DATA: 1958-1960 FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO DF

"O presidente tinha a meta de entregar a capital em abril de 1960. Conseguiu.”- Roosevelt Brandão, presidente do Clube dos Pioneiros de Brasília.

“Diante do curto prazo, o canteiro de obras era a sala de aula, entretanto, não eram passíveis erros. A obra precisava continuar...”

CONGRESSO NACIONAL, C. 1958. ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, BRASÍLIA, DF.FONTE: INSTITUTO MOREIRA SALES

O MINISTRO DA SAÚDE MÁRIO PINOTTI DIZ QUE "CANDANGO SUPORTA 12 A 14 HORAS DE TRABALHO DIÁRIO"(1960)FONTE: G1, DISTRITO FEDERAL

Segundo relatos dos trabalhadores, os acidentes de trabalho ocorriam com frequência devido à falta de equipamentos de segurança, fiscalização e inabilidade dos operários.

“Eu pegava empreitada de 200 horas e com dois dias eu dava ela pronta, dois dias e duas noites. Trabalhava dois dias e duas noites direto assim. Parava, só parava pra almoçar, e à meia-noite tomar o café, o lanche. Aí baixava eu, minha pá e minha picareta e não queria saber.” (Clementino Cândido, Operário)


Conta-se que o auditório “Dois Candangos” da Universidade de Brasília recebeu esse nome devido a um acidente com dois operários soterrados durante a construção. (Memorial da Democracia, 2017).

CONGRESSO NACIONAL, C. 1959. ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, BRASÍLIA, DF.FONTE: INSTITUTO MOREIRA SALES

5 - B R A S Í L I A

ARQUÍVO PÚBLICO DE BRSÍLIA

TRABALHADORES DURANTE CONSTRUÇÃO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, POR HEINZ FOERTHMANN / ACERVO FUNDAÇÃO DARCY RIBEIRO

Um trabalho realizado pelo pesquisador Hélio Queiroz, autor do livro “1.001 coisas que aconteceram em Brasília e você não sabia”, reafirma os relatos dos operários. Ele estimou que a construção dos prédios principais e os anexos da Esplanada dos Ministérios registrou, em média, três acidentes de trabalho por dia.

"Era constante... A gente via só o pessoal cair de cima, mas nós não podia encostar, que eu trabalhei também uns dias lá na Construtora Nacional, eu trabalhei inclusive nos dois prédios do Congresso Nacional, na parte da Câmara dos Deputados e na parte do Senado, elas foram armadas, concreto, mas eram divididas embaixo, de tijolo, então trabalhava inclusive, tijolo à vista. Trabalhei nas duas partes. Agora, a gente só sabia que tinha caído operário lá, a gente corria pra ver, mas eles tinham uma equipe de bombeiro, formada inclusive pela firma, e que não deixava ninguém encostar. Quando um chegava, eles já isolavam o local, cobria o pessoal com um pano, com uma roupa, qualquer coisa, e tiravam. Naquele tempo nem perícia existia. Aí ninguém sabia qual era o operário. Mas sempre aparecia as malas, abandonada, e cama abandonada. Às vezes a gente sabia através das camas, que o dono não aparecia mais." (Manoel Silva, Operário)


5 - B R A S Í L I A

Contra Farra, Dor de Barriga

REFEITÓRIO DO CANTEIRO DE OBRAS DO IAPI. FONTE: MÁRIO FONTENELLE/ARQUIVO PÚBLICO DO DF

OPERÁRIOS SE APERTAM NAS MESAS DO REFEITÓRIO DO SAPS, NA CANDANGOLÂNDIA.(FOTO: ARQUIVO PÚBLICO DO DF)

Nos fins de semana, para garantir a permanência dos operários no canteiro de obras do aeroporto comercial e impedir que saíssem para festas nas cidades vizinhas, o engenheiro Atahualpa Schmitz, deixava de ferver os talheres usados no acampamento. Sem higiene, os restos de laticínios se convertiam em ácido butanoico provocando dores de barriga.

“Nosso lazer era esse: contar história do passado, das pessoas que a gente tinha deixado na terra da gente. Cada um contava a sua história”. O lazer? Quase ninguém nessa época tinha lazer. Aqui não tinha lazer. Aqui tinha que ser igual porco: comer, trabalhar e dormir. […] o ânimo era o melhor possível, o pessoal animado, todo mundo atrás do seu eldorado, não é? Foi muito bom, foi uma época assim, que as amizades da época, era uma amizade, a gente via que tinha, mais sincera, não é?... Eu achei muito bom, isso de ter vindo para Brasília. Talvez se tivesse que começar tudo de novo eu repetiria isso. Mesmo já sabendo de todo o sofrimento que passei.” (Manoel Silva, Operário, 1990).


5 - B R A S Í L I A

ARQUIVO PÚBLICO DE BRASÍLIA

As condições na qual viviam os candangos nos campos de construção de Brasília, culminavam em manifestações que muitas vezes eram reprimidas pela Guarda Especial de Brasília (GEB)(Fernandes, 2018). Na Vila Planalto, a construtora Pacheco Fernandes tinha 1300 operários em seu acampamento. No Carnaval de 1959, os chefes da construtora Pacheco Fernandes autorizaram o corte da água, para que sem banho, os operários não deixassem o alojamento. Além disso, o pagamento do salário no sábado ficou retido.

OPERÁRIOS DE OBRAS NA ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS FAZEM PROTESTO

O Massacre da GEB

A maioria dos jornais da época minimizam o acontecido, pois é um dos muitos fatos que mancham a história da construção da Capital. Os dois únicos jornais que noticiaram de forma mais coerente com os relatos dos candangos foram o BINÔMIO e o Jornal O Popular. Até hoje, não se tem um registro oficial do número de vítimas, nem a identificação dos mortos. Em uma entrevista feita pelo cineasta Vladimir Carvalho com Oscar Niemeyer e Lucio Costa para o documentário "Conterrâneos Velhos de Guerra", ambos demonstram frieza e afirmam desconhecer o evento.

A situação já estava crítica quando no domingo, dia 8 de fevereiro, a cantina serviu comida estragada. Diante disso, houve uma revolta entre os operários e a Guarda Especial de Brasília (GEB) foi chamada para intervir e começou a espancar os envolvidos, e outros que não haviam participado da quebradeira. Mais tarde, os soldados da GEB retornaram em maior número e com mais armamento, entraram nos alojamentos e começaram a disparar contra os trabalhadores que dormiam nas beliches. (Memorial da Democracia, 2017).

“Chacina? Eu nunca vi. Se tivesse sabido, não teria dado a menor importância. Nenhuma. São episódios. Do ponto de vista da construção da cidade, são episódios. Agora, a imprensa é que gosta de traumatizar as coisas. Falta de assunto. Não tomei conhecimento, não fui informado do episódio, mas se tivesse não teria dado a menor importância.” (Lucio Costa , 1990)


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Conterrâneos (Zé Ramalho) Eu venho vindo de longe Decisão antiga Trazendo nas mãos de espinho A ferramenta amiga Que pesam nos ombros largos Cidade e fadiga Pesam nos ombros amargos Cidade e fadiga De uma asa a outra asa Sou a distância da viga De uma asa a outra asa Entre chegada e partida Sou tudo que sou, candango Quando brasília ser ia Do plano piloto, plano Brasília ainda seria

Véspera da grande folia Trouxeram a boia pro rancho Sentida azeda feria Tantas fomes Tantas sedes Erguendo pedras, paredes Fadiga assim Em plena festa, agonia Diante de nós a boia Azeda, velha, ruim É carnaval do país Nas distâncias do sem fim Povo ilude a alegria Entre blocos, serpentinas Pandeiro e tamborim Entre ferros retorcidos Da cidade em construção O frevo de alguns fervidos Gelando no caldeirão Eu vou para esta festa A minha da construção Cruzo os braços e olho fundo No poço do caldeirão.

MEMORIAL DO MASSACRE ERGUIDO NA VILA PLANALTOFONTE: HISTÓRIAS DE BRASÍLIA.

Era sol sobre a poeira Bandeira erguida Era livre a suadeira Nos intervalos da lida Chegava ao rancho a comida Certa vez, em vaga data

“Matam tanto operário. É um regime de merda. Qual a importância de matar um lá. Tão matando todo dia aí, invadindo favelas.” (Oscar Niemeyer, 1990)


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REF.PAG 101 - QUADRO DA ARQUITETURA NO BRASIL - NESTOR GOULART REIS FILHO

M O R A D I A

C A N D A N G A

Chegando no Planalto Central, o candango era encaminhado ao órgão da Novacap responsável pela triagem dos operários: o Instituto de Imigração e Colonização (Inic). Após isso, ele obtinha um cartão de identificação que lhe permitia circular pelos acampamentos. Após o fichamento, o migrante era conduzido ao almoxarifado, onde recebia colchão, cobertor e travesseiro. Em seguida, podia fazer uma refeição na cantina do acampamento da construtora contratante ou num dos restaurantes administrados pela Nocavap. Os serventes eram alojados em grandes galpões. Já os mestres de obra dormiam em pequenos quartos de madeira. (Memorial da Democracia, 2017)

ALOJAMENTO DE OPERÁRIOS, EM 1958. (FOTO: MÁRIO FONTENELLE/ARQUIVO PÚBLICO DO DF)FONTE: MEMORIAL DA DEMOCRACIA

Alojamento

Na região conhecida como Sacolândia, muitos barracos eram feitos com sacos de cimento vazios que, quando molhados, endureciam, por causa dos resíduos. Essas moradias surgiram primeiramente na Cidade Livre, mas a verdadeira Sacolândia surgiu numa invasão de terras promovida por operários demitidos.Aproximadamente 400 alojamentos desse tipo foram construídos entre as quadras 105 e 106 Sul, e mais tarde removidos.(Memorial da Democracia, 2017)

SACOLÂNDIA, 1958.FOTO DE MARCEL GAUTHEROTFONTE: ACERVO DO INSTITUTO MOREIRA SALLES, RIO DE JANEIRO.

Sacolândia

Na época da construção, todos pensavam que os candangos iriam embora depois da inauguração da capital. A Cidade Livre, atual Núcleo Bandeirante, por exemplo, o principal acampamento dos trabalhadores, tinha existência limitada ao período da construção. Os lotes foram cedidos em sistema de comodato, Desse modo, a escritura não era definitiva e os terrenos deveriam ser devolvidos à Novacap no final de 1959.(Agência Brasília, 2019).

CASAS DO NÚCLEO BANDEIRANTE, EM SETEMBRO DE 1958. FOTO: ARQUIVO PÚBLICO DO DF.

Cidade Livre / Núcleo Bandeirante


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A P Ó S

A

C O N S T R U Ç Ã O ,

R E M O Ç Ã O

A


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ARQUIVO

Pedreiro Waldemar (Blecaute)

DEMOLIÇÃO DE BARRACOS NA VILA PLANALTO EM 1968. FONTE: PÚBLICO DO DF

Você conhece o pedreiro Waldemar? Não conhece?Mas eu vou lhe apresentar De madrugada toma o trem da Circular Faz tanta casa e não tem casa pra morar Leva marmita embrulhada no jornal Se tem almoço, nem sempre tem jantar O Waldemar que é mestre no ofício Constrói um edifício

DEMOLIÇÃO DE BARRACOS NA VILA PLANALTO EM 1968. FONTE: PÚBLICO DO DF

ARQUIVO

“Cabô, todo mundo saiu fora, cabô... e se a polícia pegasse qualquer mulher na rua prendia, um bocado foi pra Papuda. Cabô e não teve mais colher de chá pra ninguém não. Cabô, a polícia fez muita covardia,a GEB, o exército, sabe…enchia os caminhão de mulher sabe, e levava pra Alexânia, deixava lá na estrada… um bocado levou pra Luziânia, muita amiga minha foi… eles batiam demais, sabe...foi muita covardia naquela época.” (Noeme Alves)

“Foi de uma hora pra outra. O juiz mandou fechar e já entrou com os trator derrubando tudo. Foi só um prazo de 24h... “sai de baixo, vamo derrubar”. Passou o trator, os trem era tudo de madeira, né? Foi moendo tudo ali acabou. “E vocês desapareçam!” Cada um teve que caçar seu destino, eu vim pra cá, outras foram pra Luziânia, outras foram pra Cristalina, outras foram pra Formosa, outras pra Goiânia...e sumiu tudo. Desapareceu uma da outra.” (Noeme Luís)

E depois não pode entrar Você conhece o pedreiro Waldemar? Não conhece mas eu vou lhe apresentar De madrugada toma o trem da Circular Faz tanta casa e não tem casa pra morar.


5 -

B R A S Í L I A

1 0D 4 A- A QR UQ AU D IRTO A RNQOU B I TREAT SUIR REFR . PEAFG. P1A0G1 -9 8Q, U9A9DER O E TDUAR A L A- N O B R A S I L - N E S T O R G O U L A R T R E I S F I L H O NESTOR GOULART REIS FILHO

D A

U R B A N A

A sobreposição ao longo da rua sugere uma semelhança plástica entre as habitações tradicionais do período colonial (SUPERIOR), cuja forma se preserva em Ouro Preto e as habitações unifamiliares consideradas inovadoras no plano de Brasília. (INFERIOR). Onde termina Ouro Preto e onde começa Brasília?

Crítica às pequenas concessões de flexibilidade Ainda no contexto de Brasília, houve crítica mesmo às mais singelas concessões de flexibilidade para edificações, isso se manifestou na grande homogeneidade das formas e estilos empregados.“Sabe-se que muitas vezes os andares superiores [dos edifícios comerciais] são utilizados como residência dos lojistas, contra os planos iniciais, mas essa é certamente a solução mais prática para o comércio dessa escala. Também nesse caso as partes do fundo abrem-se para ruas de serviço, racionalizando-se a circulação. Faltou apenas um enquadramento arquitetônico mais rigoroso para essa parte.”)

SOBREPOSIÇÃO DE RUAS DE OURO PRETO E BRASÍLIA. PRODUÇÃO AUTORAL.

P A I S A G E M

N O V A

EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO

C U R T A S

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B R A S Í L I A

JANEIRO DE 2021

ISABELLE SILVEIRA E SILVA PEDRO DRUMOND ALMEIDA RAQUEL SANTOS LEAL TRABÁLHO À DISCIPLINA ACR032 ARQUITETURA, ARTE E CIÊNCIAS HUMANAS I


5 -

B R A S Í L I A

A UAARDQRUOI TDEA T UARRAQ N ER ST REFQ . PUAAGD1R0O 1 -D Q UO I T EBTRUARSAI L N- ON B AO SR I L G- O U L A R T R E I S F I L H O NESTOR GOULART REIS FILHO

R E F E R Ê N C I A S BEZERRA, Euclídes. Brasília: 21 fotos da época da construção. Incrível História. 2017. Acesso em 07/01/2020: https://incrivelhistoria.com.br/brasilia-21-fotos-construcao/ CAPUTO, Denise. Documentário: A saga das Candangas Invisíveis. Brasil. 2008. Acesso em 07/01/2020: https://www.youtube.com/watch?v=DTy3t69E3Pg CARVALHO, Vladmir. Documentário: Conterrâneos Velhos de Guerra. Brasil. 1991. Acesso em 07/01/2020: https://www.youtube.com/watch?v=iDcz3Uw21wI CUNHA, Hudson. Conheça as ocupações pioneiras, nascidas com Brasília. Hudson Cunha. 2019. Acesso em 07/01/2020: http://hudsoncunha.com.br/conheca-as-ocupacoes-pioneiras-nascidascom-brasilia/ FERNANDES, André. Vida Candanga: os trabalhadores na construção de Brasília e o massacre da GEB de 1959 - a memória como um campo de disputas. UNB. Brasília, 2018. Acesso em 07/01/2020: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/21674/1/2018_AndreFilipeDeOliveiraFernandes_tcc.pdf HISTÓRIAS DE BRASÍLIA. O massacre na Pacheco Fernandes. Histórias de Brasília. 2019. Acesso em 07/01/2020: https://historiasdebrasilia.com/2019/02/19/o-massacre-na-pacheco-fernandes/ MEMORIAL DA DEMOCRACIA. Trabalhadores e pioneiros. Memorial da Democracia. Acesso em 07/01/2020: http://memorialdademocracia.com.br/card/construcao-de-brasilia/5 MOREIRA, Braitner; CARVALHO, Letícia; CARDOSO, Marcelo et. al. Operários concretados nos prédios de Brasília - mito ou verdade?. G1-Distrito Federal. Brasília. 2018. Acesso em 07/01/2020: http://especiais.g1.globo.com/distrito-federal/2018/operarios-concretados-nos-predios-de-brasiliamito-ou-verdade/ FREITAS, Conceição. Candangas: mulheres que inventaram Brasília, que foi inventada por homens. Metrópoles. Acesso em: 07/01/2021: https://www.metropoles.com/materiasespeciais/candangas-mulheres-que-inventaram-brasilia-que-foi-inventada-por-homens MOURÃO, Tânia; QUARESMA, Tânia; GASPAR, Mônica. Documentário: Poeira e Batom no Planalto Central. Brasil. Acesso em 07/01/2020:https://www.youtube.com/watch?v=9rxJUc8kbSk&t=3127s REIS JÚNIOR, Reinaldo. CIDADE, TRABALHO E MEMÓRIA: OS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA (1956-1960). PUC-MG. Belo Horizonte, 2008. Acesso em 07/01/2020: http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/CiencSociais_ReisRL_1.pdf RODRIGUES, Gizella. Nascidas com Brasília: as ocupações pioneiras. Agência Brasília. 2019. Acesso em 07/01/2020: https://agenciabrasilia.df.gov.br/2019/10/24/nascidas-com-brasilia-as-ocupacoespioneiras/ VIEIRA, Denise. CORPO FEMININO E MODERNIDADE NA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA - Uma leitura a partir do cinema. UNB. Brasília, 2017. Acesso em 07/01/2020: https://docplayer.com.br/77289065-Corpo-feminino-e-modernidade-na-construcao-debrasilia.html



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Brasília


Por Gabriel Olegário Batista Silva

ERRATA: BRASÍLIA

Imagem 1: Plano piloto Fonte: <https://novaescola.org.br/conteudo/2438/projeto-brasilia> acesso janeiro 2021

Brasília realmente teve um planejamento urbano bastante intensivo antes do início de sua edificação seguindo os pilares do modernismo da Carta de Atenas e das ideias de Le Corbusier. Contudo, afirmar que sua consolidação foi efetivamente proveitosa é um equívoco, o foco de seus planejadores realmente teve a intenção de elaborar uma cidade que fosse mais setorizada e que suas conexões fossem realizadas de maneira rápida já que o incentivo de adquirir automóveis era crescente.


ERRATA: BRASÍLIA

Imagem 2: Congestionamento em uma das principais vias da Brasília Fonte: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-08/mesmoplanejada-brasilia-enfrenta-congestionamentos-e-impoe-desafios> acesso janeiro 2021

A setorização excessiva da cidade que é uma das tendências do modernismo fez com que a nova capital adquirisse uma dificuldade de articulação entre esses setores. Se por um lado as grandes avenidas facilitam a utilização do automóvel, quando esse se torna a única forma de locomoção eficiente, a quantidade de veículos também aumenta, o que gera para a cidade problemas com engarrafamentos constantes. Além disso, mesmo que o sistema de transporte coletivo seja bem planejado ele dificilmente foge do meio tradicionalmente adotado no Brasil que é o ônibus. Como consequência, o deslocamento seja por caminhada ou bicicletas passa a ser uma dificuldade física do indivíduo na cidade.


ERRATA: BRASÍLIA

Imagem 3: Eixo monumental de Brasília Fonte: <https://alo.com.br/interdicao-no-eixo-monumental-para-ensaio-daposse-presidencial/> acesso janeiro 2021

A concepção paisagística da cidade existente também foca em outras questões que ignoram o pedestre. Se a monumentalidade arquitetônica é o principal foco, parques bastante arbóreos impediriam a visualização das edificações, logo, a existência de imensas praças, canteiros e rotatórias com apenas gramados buscando a estética da cidade jardim fazem com que sair de uma edificação ou do veículo coloque o cidadão em uma batalha contra o clima tropical da cidade com temperaturas elevadas.


ERRATA: BRASÍLIA

Imagem 4: Trabalhador em frente à contrução do atual Congresso Nacional. Fonte: <https://nominuto.com/noticias/brasil/candangos-sinonimo-decoragem-e-perseveranca/51066/> acesso janeiro 2021

É de incoerência também pensar que a concepção de uma cidade modernista vá de encontro à uma de seus pilares teóricos que é a garantia de casa e condições adequadas de vivência para todos os seus moradores. As mãos responsáveis por literalmente edificar a cidade, ou seja, os pedreiros e “peões” vieram de todo o país buscando por melhores salários e oportunidades de emprego, mas apesar desses dois fatores esses trabalhadores foram submetidos a condições de moradia insalubres nas redondezas da cidade e condições de trabalho que exigiam esforço e perigo contínuo à integridade física deles.


ERRATA: BRASÍLIA

Imagem 5: Ônibus conexão Asa Norte. Fonte: <https://www.aovivodebrasilia.com.br/dftrans-promove-mudancaem-linhas-de-onibus-de-ceilandia/> acesso janeiro 2021

Pode-se afirmar que Brasília não é o melhor exemplo de como planejar cidades para o futuro, mas ela certamente cumpriu muitas de suas expectativas de planejamento, mas não se pode atribuir todos os problemas urbanos da cidade exclusivamente a um planejamento considerado ultrapassado, a estruturação atual da cidade também segue uma padrão do restante das principais cidades brasileiras. Da mesma forma que os trabalhadores que edificam a cidade são colocados nas áreas periféricas da capital e que hoje se tornaram as famosas cidades satélite.


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Uma nova perspectiva


Errata – Uma nova perspectiva Criar espaços para pedestres com grandes estruturas arquitetônicas e definir o espaço de uso, priorizando veículos e delimitando a cidade é realmente uma nova arquitetura ou um retrocesso do nosso modo de acessibilidade ao espaço urbano?

A nova arquitetura das cidades deve priorizar a

mobilidade

ativa,

no

que

incentiva

o

uso

da

cidade

seu

maior

aproveitamento, onde os espaços públicos sejam utilizados, as emissões de carbono reduzidas e a prioridade para o pedestre e não para carros. Hoje percebe-se que as cidades estão cada vez mais ofertando espaços para o veículo automotor, reduzindo os problemas de trânsito e com isso cada vez mais reduzindo as áreas de acesso e convívio dos pedestres. Os passeios são cada vez menores e as faixa as de trânsito aumentam. Com esse incentivo e benefícios de se utilizar um carro, as escolhas das pessoas serão se deslocar pela cidade com um carro. O problema não é optar por um veículo automotor para se deslocar, mas sim,

todos optarem por esse tipo de deslocamento, devido a

infraestrutura

ofertada,

gerando

uma

sobrecarga

nessa

infraestrutura e “forçando” a melhoria da daquilo que já existe e já é desigual.

01


“Se o ambiente tem o poder de influenciar nossas escolhas e hábitos, então é possível planejá-lo para que incentive escolhas mais sustentáveis. E as ruas completas oferecem uma forma de fazer isso." - Priscila Pacheco apud Delaqua (2020).

De acordo com a

WRI Brasil (2017), ruas completas são

desenhadas para dar segurança e conforto a todas as pessoas, de todas as idades, usuários de todos os modos de transporte. O conceito tem como base distribuir o espaço de maneira mais democrática, beneficiando a todos. Não existe uma solução única de Rua Completa. Todas as melhores alternativas de desenho urbano podem ser incorporadas desde que respondam ao contexto local da área onde se localizam, reflitam a identidade da rua e as prioridades daquela comunidade.

Rua Joel Carlos Borges, onde está a estação Berrini, em São Paulo, recebeu intervenções com base em conceitos de Ruas Completas (foto: Pedro Mascaro/WRI Brasil)

02



Por esse motivo apesar de ter muitas passarelas em vias de trânsito rápido, acontecem atropelamentos. o pedestre não quer caminhar (se esforçar) a mais do que o necessário. Porque o pedestre que deve sair do seu nível de deslocamento para que o carro continue sua rota sem interferências? Por que o contrário é tão improvável? E para aqueles que tem algum tipo de mobilidade reduzida? Como essas pessoas ficam?

Linha Amarela – Rio de Janeiro FONTE: http://m.cbn.globoradio.globo.com/rio-de janeiro/2015/03/04/EM-DOIS-ANOS-AO-MENOS-244-PESSOASSAO-ATROPELADAS-POR-ATRAVESSAR-POR-BAIXO-DE-PASSARELAS.htm

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Para exemplificar essa dificuldade do uso da passarela, podemos citar uma intervenção que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) fez na Av. Cristiano Machado, próximo ao Viaduto Henrique Lisboa (antes do Ouro Minas, sentido Bairro/ Centro). A demanda de travessia era tão grande e o acesso a Estação de Transferência Ouro Minas era somente por passarela, onde foi necessário a implantação de travessia sinalizada na avenida, em baixo da passarela existente e abertura de acesso em nível a Estação, devido ao números de acidentes no local.

Av. Cristiano Machado sentido Bairro/ Centro. Em 2017, antes da intervenção.

Av. Cristiano Machado sentido Bairro/ Centro. Em 2019, após a intervenção.

FONTE: GOOGLE STREET VIEW, 2020.

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Av. Cristiano Machado sentido Centro/Bairro. Em 2015, antes da intervenção.

Av. Cristiano Machado sentido Centro/Bairro. Em 2019, após a intervenção.

FONTE: GOOGLE STREET VIEW, 2020.

Uma simples intervenção pode mudar completamente uma paisagem urbana, garantir um melhor acesso e reduzir as diferenças na prioridade de circulação.

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Qual cidade você vai construir? PARA CARROS

Cidade de São Paulo FONTE: /https://falauniversidades.com.br/cidade-sem-carros-e-possivel

PARA PESSOAS

Nova York: ciclovias e calçadas mais largas Créditos: Blog To

Observe que a cidade para as pessoas também tem espaço para os carros. A ideia aqui não é banir, mas sim priorizar as pessoas.

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"O domínio dos carros em nossos bairros teve um efeito

particularmente desmobilizador na mobilidade ativa das crianças;

reduzindo suas oportunidades de brincar, socializar e acessar suas comunidades de forma independente." - Natalia Krysiak apud Delaqua (2020).

Esse aspecto da análise é importante pois a cidade deve ser planejada para as pessoas e não para os carros. Isso irá contribuir e muito para a qualidade urbana da cidade. Jan Gehl descreve muito sobre esse assunto em seu livro intitulado “Cidades para pessoas”. Sobre a construção de Brasília, Gehl (2013) descreve que a escala do pedestre foi um desastre, visto que o espaço urbano proposto foi grande demais e nada convidativo, onde a escala a nível dos olhos não foi considerada. Logo, não se pode dizer que a arquitetura apresentada pelo livro Quadro da Arquitetura no Brasil, de Nestor Goulart, em sua primeira parte, capítulo 6, é uma verdade absoluta. Muitas dessas obras construídas segregam os pedestres no espaço urbano, mesmo com as melhores intenções dos seus projetistas. A verdade é que cada vez mais está se perdendo o espaço urbano para os carros e cada vez menos a cidade é planejada para as pessoas. Esse cenário precisa mudar,

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DELAQUA, Victor. Mobilidade ativa como possibilidade de uma cidade melhor. 2020. 07 Jun 2020. ArchDaily Brasil. ISSN 0719-8906. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/940876/mobilidade-ativa-comopossibilidade-de-uma-cidade-melhor>. Acesso em: 03 jan. 2021. GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo, Perspectiva, 2013 . 280 p. ISBN 8527309807. Disponível em: <https://www.academia.edu/28505069/Livro_Cidade_para_pessoas _Jan_Gehl>. Acesso em: 30 dez. 2020. WRI BRASIL. Afinal, o que são Ruas Completas? 2017. Disponível em: <https://wribrasil.org.br/pt/blog/2018/07/afinal-o-que-sao-ruascompletas>. Acesso em: 05 jan. 2021.

Autor: Kamilla Oliveira Silva, 2020.

08


Arquitetura brasileira no século XIX



1 2

O neoclássico na Academia Imperial O neoclássico nas províncias


MODOS DE LER Capítulos 1 e 2: “O Neoclássico da Academia Imperial” e “O Neoclássico nas províncias” Júlia Coura e Juliana Alencar.


1O

´ neoclassico da Academia Imperial

“[...] guiaram-se de perto pelos do Velho Mundo” “contratação da missão cultural francesa, chefiada po Lebreton [...]”

Venha aprender o que os franceses têm a ensinar sobre a verdadeira Arquitetura! Aqui, na Universidade do Brasil. ASS. Coroa Portuguesa.

1


“[...] aproveitar alguns dos aperfeiçoamentos das técnicas de países mais adiantados da Europa”

“ [...] os recursos eram importados do continente europeu.”

“[...] predominou uma arquitetura de influência neoclássica, difundida pela Missão Francesa e pela Academia Imperial.”

O que levou à vinda dos franceses ao Brasil? Questões políticas na França? Oferta da Coroa Portuguesa?

“[..] em que se promova e difunda a instrução e conhecimentos indispensáveis aos homens destinados [...]”

Para quem o acesso ao conhecimento era dispensáveis?

2


“[...] ambientes com características urbanas e européias, cuja operação exigia o afastamento dos escravos[...]”

3


“Por essa razão, ficou restrita apenas aos meios oficiais e às camadas mais abastadas do litoral [...]”

Quem eram os membros dos meios oficiais? Eram a maioria? Ou apenas uma pequena parcela?

“[...] cuja existência dependia, fundamentalmente, do trabalho escravo. O escravo continuava a ser mão-de-obra para a construção como para o funcionamento das casas [...]”

“Traziam-se da Europa vidros, ferragens, [...] e até mesmo telhas de madeira para portas, janelas e estruturas de telhado.”

“[...] que constituiu diversos edifícios de importância como a antiga Alfândega [...]”

“A persistência deste detalhe (bandeira com ferro forjado), ainda nas obras do início do século XX, é certamente um indício de seu acerto; exemplos significativos podem ser encontrados [...] pelo edifício da Alfândega [...]”

4


“Conservando-se as condições de vida econômico-social do período colonial [...]”

5


“[...] a diferenciação entre esses locais [...] os de serviço, onde ainda pesava a sombra dos escravos.”

As dinãmicas sócio-políticas se alteraram com a chegada do Neoclássico?

“[...] pois o funcionamento dessas residências, nos exemplos mais perfeitos, implicava na substituição de mão-de-obra escrava, sempre grosseira e imperfeita, por criadagem européia.”

Grosseira e imperfeita?

“ ‘Envergonhando-se da jaca, da manga, da fruta-pão, do dendê, do próprio coco da Índia, saboreados às escondidas…’ ”

Vergonha dos próprios costumes e cultura?

6


2

´ ´ O neoclassico nas provincias

“Os elementos estruturais sempre grosseiros, construídos de taipa de pilão, adobe ou pau-a-pique”

“as pinturas eram aplicadas sobre as paredes de terra, socada pelos escravos, com o objetivo de criar a ilusão de um espaço novo”

“jardins [...] de plantas européias, com roseiras e cravos protegidos do exterior por meio de muros elevados”

“estava presente o horror pela paisagem tropical”

“O acabamento externo sofria do mesmo fachadismo, revelado na superficialidade dos detalhes”

1


Davi Kopenawa, líder e xamã Yanomami, é eleito membro da Academia Brasileira de Ciências Dezembro 2020

“europeização” “europeização”

“As construções aproveitando a mão-de-obra escrava, eram rudimentares.”

RES

O AUT

2


“No interior, procurava-se imitar os costumes das residências mais refinadas do Rio de Janeiro.”

“papéis decorativos importados da Europa”

“janelas pintadas nas paredes com vistas mais “civilizadas””

“Os elementos neoclássicos limitavam-se, quase sempre , aos enfeites de gesso e aos papéis decorativos importados, aplicados sobre paredes de terra, socadas por escravos.”

3


BRASIL que queria ser

Europa


3

Interpretação do neoclássico


Releitura do capitulo INTERPRETAÇÕES DO NEOCLÁSSICO do livro “Quadro da Arquitetura no Brasil” de Nestor Goulat Reis Filho Modos de ler Projeto final - ACR 032 Anna Clara Dusanek Guedes Clara Villares Valadares Profª: Renata Marquez 2020-2


O Neoclássicismo no Brasil floresceu, principalmente, a partir da chegada da Missão Artística Francesa, em 1816, a qual propunha uma aproximação com a estética e a cultura européia, buscando ambientar a Corte portuguesa, recém-chegada em terras brasileiras. Apesar da Independência não implicar em mudanças bruscas na arquitetura, houve uma ressignificação de valores, os quais difundiram o estilo neoclássico e, mais tarde, o eclético pelo Brasil. Entretanto, é possível perceber uma diferenciação entre o Neoclássico oficial e a versão provinciana. O primeiro, marcado e financiado pela Corte, se localizava em grandes centros pelo litoral, principalmente o Rio de Janeiro, e era feito, majoritariamente, de importações e mão de obra livre estrangeira. Já o segundo, refletia a tentativa dos brancos-senhores, os Barões do Café, em se aproximar dos padrões europeus difundidaos pela Corte, esses eram feitos em sua maioria por escravos e se adaptavam aos padrões construtivos dos país. A busca pela reprodução do ambiente europeu atráves das importações reflete a total dependência cultural do Brasil em relação á Europa, a qual era a única referência aceita na visão eurocentrica da elite brasileira. Alguns exemplos dessa grande influencia europeia na arquitetura serão apresentados posteriormente, levando em consideração ambientes urbanos, além do exetrior e interior de edificações.

Essa identificacão com interesses europeus implica na rejeição das condições de existência da sociedade brasileira. Isso se expressa pela rejeição dos padrões que não venham legitimados pela marca do “europeísmo”.

REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil P. 142


A cópia

Avenida Central, Rio de Janeiro, Imagem: Mark Ferrez, Álbum da Avenida Central 1910.

O europeu

Avenida Champs-Élysées Négre, Charles


O urbano

A cópia da cópia

Avenida Afonso Pena, Belo Horizonte, 1958. Arquivo Nacional. Fundo Agência Nacional.

Tendo como referência a cidade luz, Paris, Pereira Passos se inspirou no estilo dos bulevares franceses, como o da Avenida Champs-Élysées, para reformar o Rio de Janeiro. A grade avenida retilínea, bem arborizada e alargada foi copiada no projeto da antiga Avenida Central do Rio, atual Av. Rio Branco. Para que essa reforma ocorresse, aproximadamente, 600 edifícios tiveram que ser demolidos para que a via pudesse ser alargada. Em sua maioria esses edifícios eram cortiços e casebres, dos quais seus donos, uma população de mais baixa renda, tinham pouquíssimos dias para sair de suas casas após o aviso de despejo. Além do alargamento, o paisagismo da nova avenida foi cuidadosamente escolhido, assim como as novas edificações erguidas que tinham características do ecletismo, que aproximavam o Rio ainda mais do modelo parisiense. Em Belo Horizonte, anos depois, a Avenida Afonso Pena também passou por uma reforma para ficar mais parecida com a Avenida Central do Rio e a Avenida Champs-Élysées. A via foi alargada, assim como no Rio de Janeiro, os antigos fícus foram cortados e os bondes foram desativados para aumentar as pistas para automóveis.


O europeu

Panthéon de Paris por volta de 1890.Fonte: Commons Wikimedia

A cópia

Fachada Escola Nacional de Belas Artes.RJ. Fotografia: Marc Ferrez,1890. Fonte: Commons Wikimedia

O exterior

As fachadas das edificações neoclássicas apresentam diversas semelhanças, entre elas a clareza construtiva e simplicidade das formas, contrariando os exageros do barroco. Além disso, há presença de colunas, arcos plenos e busca pela simetria que recuperam aspectos da Antiguidade Clássica grega e romana, a qual se tem como referência. Tais aspectos foram reproduzidos em território brasileiro em diversos exemplos, entre eles o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a Academia Imperial de Belas Artes. Ambos possuem caracteristicas que se inspiram na arquitetura que foi difundida na Europa e é possível perceber uma extrema semelhança entre tais edificações e a Ópera de Paris e o Panteão,respesctivamente, ambos localizados na capital francesa.


A cópia da cópia

Palacete dos Gaviões - Cantagalo, RJ Imagem: Prefeitura Municipal Além de tais reproduções monumentais na capital, as fazendas e residênciais rurais da época também buscavam refletir os aspectos europeus tão valorizados, como é possível perceber no Palacete dos Gaviões em Cantagalo, interior do Rio de Janeiro. A residência utiliza das colunas e da simetria para tentar se aproximar das caracteristicas difundidas pela Corte.

O europeu Ópera de Paris, Academia nacional de música. Entre 1890 e 1900. Fonte: Commons Wikimedia

A cópia Teatro Municipal do Rio de Janeiro, início do século XX. Foto de Augusto Malta.


O europeu

Étienne Bouhot - Vue intérieure du Panthéon - P14 Musée Carnavalet. 1 janeiro de 1810 Fonte: Commons Wikimedia

A cópia Interior da Casa França Brasil. Rio de Janeiro. Fotografia: Pedro Agilson / Oca Lage


O interior

Buscando reproduzir o ambiente europeu, a Corte, e consequentemente os brancos-senhores, refletiam no interior das edificaçõe uma valorização da decoração e a utilizaçao de diversos ornamentos importados da Europa, fazendo das salas de estar verdadeiros palcos para a intensa vida social da elite.

A cópia

Interior do Museu Imperial, antiga residência de verão da Família Real construido entre 1845 e 1864. Petrópolis, Rio de Janeiro

A cópia da cópia Interior da Fazenda Resgate Bananal, interior de São Paulo.


[...] Corte do Rio de Janeiro, durante o século XIX, o foco de onde se irradiava a civilização pelo Brasil REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil P. 141

Qual civilização ?

A outra civilização Igreja de São Sebastião no Morro do Castelo Convênio Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, Leipzig/ Instituto Moreira Salles


Morro do Castelo visto da Igreja do Carmo Gutierrez, Juan Coleção Mestres do Séc. XIX Do outro lado da sociedade existe a “outra civilização”. O morro. O lugar em que as ruas eram desordenadas e estreitas, o saneamento básico não chegava e tinha como reputação a insalubridade e a violência. Essa área não seguia a logica europeia tão estimada pelo restante da cidade e tinham “A aparência de eterno canteiro de obras” ( Márcio Moraes Valença ). Os casebres e barracões que predominavam nesses locais não tinham as características do neoclássico, eram construídos de com materiais simples e de forma precária, sem muito conhecimento formal e por isso eram repudiados pelo restante da população.

Cronologicamente a cidade começa no Morro e desce em direção ao Largo do Paço, quando essa região vai assumir seu papel político, de protagonista da cidade. E o Morro começa a perder relevância, vira um local de difícil acesso, com moradias de menor valor, as casas maiores se transformando em casas de cômodos, mudanças que em última instância levam às decisões de removê-lo. E obviamente também há grandes interesses imobiliários por trás da decisão. BURGI, Sergio Curador da exposição “O Paço, a praça e o morro”


Imagens : AGILSON, Pedro - Oca Lage. Casa França-Brasil. Disponível em: <http://arqguia.com/ obra/casa-franca-brasil/?lang=ptbr>. Acesso em: 04 jan 2021 Avenida Afonso Pena, Belo Horizonte. 1958. Arquivo Nacional - Fundo Agência Nacional. BOUHOT, Étienne. Vue intérieure du Panthéon - P14 - Musée Carnavalet. 1810. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:%C3%89tienne_Bouhot_-_Vue_int%C3%A9rieure_du_Panth%C3%A9on_-_P14_-_Mus%C3%A9e_Carnavalet.jpg> Acesso em: 04 jan 2021 FERREZ, Marc. Avenida Central, Rio de Janeiro. 1910. Álbum da Avenida Central FERREZ, Marc. Fachada Escola Nacional de Belas Artes RJ. 1890. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=marc+ferrez+escola&title=Special:Search&profile=advanced&fulltext=1&advancedSearch-current=%7B%7D&ns0=1&ns6=1&ns12=1&ns14=1&ns100=1&ns106=1#/media/File:Escola_Nacional_de_Belas_Artes_-_8.jpg > Acesso em: 04 jan 2021 GUTIERREZ, Juan. Morro do Castelo visto da Igreja do Carmo. 1894. Coleção Mestres do Séc. XIX INSTITUTO, Moreira Salles. Igreja de São Sebastião no Morro do Castelo. 1890. Convênio Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, Leipzig/ MALTA, Augusto.Theatro Municipal do Rio de Janeiro, início do século XX. Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin/357121445455358300/>. Acesso em: 04 jan 2021 MORATO, Andre. Interior do Museu Imperial Petropolis.2019. Disponível em: <https:// blogmeudestino.com/museu-imperial-de-petropolis-rj>. Acesso em: 04 jan 2021 NÉGRE, Charles. Avenida Champs-Élysées. Disponível em : <https://oscarenfotos. com/2012/05/01/galeria-charles-negre/#jp-carousel-12708> Acesso em 27 dez. 2020 PREFEITURA, Cantagalo. Palacetes dos Gaviões. Disponível em: <http:// www.ipatrimonio.org/cantagalo-palacetes-dos-gavioes/#!/map=38329&l oc=-21.95769352496945,-42.42117404937744,13> . Acesso em: 04 jan 2021 WIKIMEDIA Commons. Panthéon de Paris, 1890 Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Panth%C3%A9on_de_Paris_vers_1890.jpg> Acesso em: 04 jan 2021 WIKIMEDIA, Commons. Paris, l’Opéra, Académie nationale de musique. Entre 1880 e 1900. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Palais_Garnier#/media/File:Paris,_l’Op%C3%A9ra,_Acad%C3%A9mie_nationale_de_musique.jpg> Acesso em: 04 jan 2021.


Referências: REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro na Arquitetura no Brasil- 9° edição. Editora Perspectiva SA. ESPACOINTEGRADOMORGENLICHT. O Rio que queria ser Paris. Disponível em : <https:// espacomorgenlicht.wordpress .com/2013/09/02/o-rio-que-queria-ser-paris/> Acesso em 27 dez. 2020 MULTIRIO. A Avenida Central. Disponível em : <http://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/estude/historia-do-brasil/rio-de-janeiro/66-o-rio-de-janeiro-como-distrito-federal-vitrine-cartao-postal-e-palco-da-politica-nacional/2913-a-avenida-central> Acesso em 27 dez. 2020 MULTIRIO. A cidade entre favelas e parques proletários. Disponível em : <http://multirio. rio.rj.gov.br/index.php/estude/historia-do-brasil/rio-de-janeiro/71-um-rio-de-muitos-janeiros/3362-a-cidade-do-rio-entre-favelas-e-parques-proletarios> Acesso em 27 dez. 2020 MILLEN, Maya. O Paço, a praça e o morro. Disponível em : <https://ims.com.br/por-dentro-acervos/o-paco-a-praca-e-o-morro/> Acesso em 27 dez. 2020



3

Interpretação do Neoclássico



" Com

a

independênCia,

senho-

os

res de terras e esCravos assumiram da

a

as

responsabilidades

diretas

expansão europeia nesta área. arquitetura

duas versões: o

da époCa firmou-se em

neoClássiCo ofiCial,

da Corte, quase todo feito de importações.

e

a versão

provinCiana, simplifiCada,

feita por esCravos, exteriorizando nos detalhes as ligações dos proprietários Com o poder Central.

"


" Sua interpretação parece, contudo, construir um dos problemas mais delicados da Arquitetura do Brasil. Trata-se, aparentemente, de uma transformação sui generis, pois conservando-se as bases econômico-sociais da vida brasileira, os mesmos proprietários rurais, senhores das mesmas terras e dos mesmos escravos, ocupados no fornecimento do mesmo tipo de produtos agrícolas para exportação, passam quase subitamente a consumir um novo tipo de arquitetura, em suas residências rurais e nos centros urbanos. "



barões do império

Corte imi-

tando

agentes da civilização

soluções artísticas que significa o seu poder

mesmas o


É interessante observar que, mesmo consideradas todas as adaptações sofridas no Brasil pelo Neoclassicismo ou por outros movimentos artísticos, verifica-se uma tendência, justamente nas camadas consumidoras dessa arte, para afirmar a sua desnacionalização e o seu caráter exclusivo de importação, bem como a ausência nela de originalidade e de valor artístico próprio. Essa posição correspondente a uma tentativa de provar a perfeição desses copismos, e portanto o caráter europeu dessa arquitetura e seus proprietários, mas significa ao mesmo tempo uma negação da vida local e, em última análise, da história local e de si mesma.


Essa identificação com interesses europeus implica na rejei-

ção das condições de existência da sociedade brasileira.

Isso se expressa pela rejeição dos padrões que não venham legitimados pela marca do "europeísmo". Em relação ao meio natural, pela rejeição da paisagem tropical, das plantas brasileiras, ou das africanas e asiáticas aqui aclimatadas.

No plano de arquitetura, explica-se desta forma a adoção generalizada de padrões urbanos de habitação nas residências rurais e toda a artificialidade de sua organização e a insistência da negação

da paisagem local.




4

As condições da arquitetura na segunda metade do século


O Antagonismo entre a valorização de novas técnicas e o surgimento de cortiços no século XIX.

Joyce Rodrigues e Raquel Suelen Linhares de Souza

​O capítulo analisado para elaboração desta crítica foi:

As condições da arquitetura na metade do século XIX, do livro Quadro da arquitetura no Brasil, escrito pelo autor Nestor Gulard. No capítulo em questão nos é apresentado as influências de algumas transformações sociais e econômicas da época que ocasionaram o aparecimento dos cortiços no Brasil. O processo de imigração de europeus teve início logo após o fim do tráfico de escravos. Querendo apagar a herança escravocrata brasileira, o governo passa a estimular a entrada de imigrantes europeus, a fim de promover o "branqueamento" da população.

Fonte: Rede Brasil Atual


A extinção do tráfico de escravos coincidiria com a alta do preço do café junto aos mercados externos. Deficitário durante o período que vai de 1840 a 1844, o comércio deste produto ganharia outro impulso a partir de 1845. A economia cafeeira da região do Vale do Paraíba controlada pelos históricos "barões do café" e que chegará a deter 78% da produção nacional - entra em declínio a partir das duas décadas finais do século XIX. Terras esgotadas, a escassez de mão-de-obra escrava, entre outras razões, explicam tal declínio. Se por um lado isto ocorria naquela região, por outro o café entrava em expansão em uma nova área chamada de Oeste Paulista. Os fazendeiros substituíram as lavouras de cana-de-açúcar, em queda de preço, pelo café em expressiva ascensão.

Fonte: Jornal do Comércio


A abolição da escravatura aconteceu no Brasil, em 13 de maio de 1888, por meio da Lei Áurea, ratificou a extinção do trabalho escravo dos negros em nosso país. A abolição da escravatura foi o resultado de um processo de luta popular, que contou com a adesão de parcelas consideráveis da sociedade brasileira, além de ter sido marcada pela resistência dos escravos.

Fonte: Comece o dia feliz

A influência do positivismo se espalhou na organização da sociedade republicana, ainda no século XIX, estimulando o culto ao cientificismo, desafiando a dominação católica ao mesmo tempo em que pregava a necessidade de uma Igreja da Humanidade, que primava pela religião positiva, pelo o culto à ciência. É


importante destacar que a Reforma Constant de 1890, baseada nos fatos e na demonstração científica. Outro processo importante foram as instalações das primeiras indústrias, concentradas no sudeste do país, devido aos

lucros obtidos pela economia cafeeira,

nomes importantes como Barão de Mauá,tiveram significativa importância nesse processo. Todos esses eventos nos levam a perceber que tal época foi marcada por grandes eventos de tecnologia e inovação, novas tecnologias como a implantação de indústrias e inovação de princípios e ideias tais como o positivismo, porém a crítica que propomos ao capítulo é: porque em uma época de ascensão em tecnologias e ideais, o surgimento dos cortiços foi possível ? O texto explica muito bem os motivos pelos quais o cortiços se formaram ao longo do tempo, devido ao grande êxodo rural, trabalhadores migraram para a cidade em busca de novas oportunidades, e não as conseguiram, sem ter para onde ir não tiveram outra opção a não ser se aglomerar nas encostas de morros, construindo suas casas em condições de insalubridade, muitas vezes sem as necessidades básicas de coleta de esgoto e água potável.


A grande questão é como diante de um cenário tão otimista, onde tínhamos mão de obra imigrante, trazendo novas tecnologias da Europa todo tempo, permitiu que tais instalações fossem levadas a diante ? Qual era a dinâmica dessa população? Quais foram os primeiros cortiços do Brasil? Quais soluções o poder público tomou para amenizar a situação? Mais do que explicar as causas do surgimento desses cortiços,

é

necessário

conhecê-los

melhor,

suas

dinâmicas, sua evolução ao longo do tempo ou sua decadência ao longo do tempo. Em contra proposta gostaríamos de apresentar esses cortiços que são tão importantes para história do nosso país e fazer uma análise também de como eles estão hoje em dia. Os cortiços surgiram em São Paulo no século 19, em dois momentos: após a abolição da escravatura, nesse periodo os negros foram morar em casarões no centro, e a partir de 1890, início do processo de urbanização e industrialização da cidade. Entre 1890 e 1940, a população de São Paulo aumentou quase 22 vezes. No entanto, a infra-estrutura urbana não acompanhou esse crescimento. Já no Rio de Janeiro a origem das favelas na cidade remonta ao Brasil colonial. Em 1808, 30% da população


carioca é expulsa de suas casas para dar moradia aos acompanhantes

da

família

real portuguesa. Para

permanecerem no centro da cidade inúmeras famílias passam a residir em habitações coletivas, cortiços. Histórias sobre os cortiços aparecem nos livros de literatura brasileira como em O cortiço, escrito por Aluísio Azevedo, porém seria interessante estudar a fundo as bases e fundamentos desses cortiços, como era a dinâmica de crescimento dele, quais pessoas procuravam o cortiço, e porque ? quais os materiais eram usados, quantas pessoas uma mesma casa abrigava, uma série de questionamentos que poderiam ser melhor explorados, para que no

futuro como

arquitetos e urbanistas possamos lutar para que todas as

classes

sociais

tenham

moradias

dignas,

entendedores e conscientes da história do nosso país. Outro

ponto

também

tem

que

ser

levado

em

consideração os chamados no passado de cortiços e hoje conhecidos como favelas, são vistos como problemas urbanos até hoje, em tempos da pandemia do

novo

coronavírus, o assunto sobre a super

aglomeração em favelas foi novamente levantado e discutido.


Concluímos então que muito interessante seria, ser acrescentado neste capítulo do livro mais informações, exemplos, discussões sobre os a formação dos cortiços, quais as medidas foram tomadas em relação a eles, qual a visão dos arquitetos e urbanistas sobre os cortiços, desde de sua formação.

Fonte: Arte, cultura e leitura blog


Referências Bibliográficas RAMOS GUIMARAES , Joao Carlos. Histórico das favelas na cidade do Rio de Janeiro. Ipea desafios do desenvolvimento, Ipea desafios do desenvolvimento, ano 7, n. 67, p. 1, 19 nov. 2010. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_conte nt&view=article&id=1111:catid=28&Itemid=2. Acesso em: 2 jan. 2021.

SANTANA SILVA, Samara. Os Cortiços e a cidade do Rio de Janeiro durante seu processo de modernização na virada para o século XX¹. Encontro estadual de história , Ipea desafios do desenvolvimento, p. 1, 5 nov. 2015. Disponível em: http://www.encontro2018.bahia.anpuh.org/resources/a nais/8/1535059482_ARQUIVO_Corticosfinalanpuh.pdf. Acesso em: 2 jan. 2021.

CARVALHO , Janaina. Conheça a história da 1ª favela do Rio, criada há quase 120 anos: Morro da Providência foi ocupado por combatentes e ex-escravos em 1897. Cidade faz 450 e tem grande parte da população vivendo em comunidades.. G1: G1, 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/rio-450-anos/noticia/ 2015/01/conheca-historia-da-1-favela-do-rio-criada-ha-q uase-120-anos.html. Acesso em: 6 jan. 2021.



5

A evolução das técnicas construtivas


Um olhar mais justo Matheus Lukashevich Santos

Analisar a arquitetura brasileira da segunda metade do século XIX como um objeto de importação é importante para delimitar o que de fato foi injetado no país em formas prontas de execução. Entretanto, examinar o desenvolvimento nacional de uma arquitetura própria torna-se ainda mais essencial, em virtude do abafamento do progresso interno em virtude da europeização da cultura. Direcionar o olhar aos trabalhadores manuais seja, talvez, a melhor opção para visualizar os bastidores da arquitetura no Brasil, que se iniciou nos primeiros anos da colonização. A profissão de pedreiro, tal qual é conhecida nos dias de hoje, surgiu no país em 1549, através de uma comitiva de pedreiros portugueses, que chegou junto do primeiro governador-geral da colônia, Thomé de Souza, com o intuito de construírem, na Terra de Santa Cruz, algumas das primeiras edificações. Trouxeram ao Brasil um repertório de técnicas construtivas transmitidas de forma oral e acumuladas por mestres e aprendizes ao longo de séculos, sendo João Ribeiro o


profissional mais antigo datado em um documento de 1573. Em homenagem a ele, foi dado ao personagem que se seguirá o mesmo nome, de forma a manter o anonimato na entrevista realizada. João tem 59 anos, ensino fundamental incompleto e é casado, com três filhos. É pedreiro há 40 anos e respondeu algumas perguntas sobre sua rotina de trabalho ao longo do tempo. Como você começou a trabalhar nessa profissão? Morei na roça até os sete anos. (...) Minha família não influenciou muito na minha escolha, mas minha mãe achava ruim, pois ela dizia ser um serviço ruim, pesado, principalmente porque trabalhava na chuva. Quais funções você diria ser responsável por realizar em uma obra? Eu faço de tudo, do início ao fim da obra, da base até ficar pronto. (...) Algumas coisas, como a parte elétrica e a hidráulica, em alguns casos, ficam complicadas e eu transfiro o trabalho para outro. (...) Normalmente tenho


um ajudante, mas não gosto muito, prefiro trabalhar sozinho. Comentário do autor: o trabalho a tão duras condições e de sustentação de tantas outras funções deveria ser, por si só, um fator de valorização máxima do ofício, algo que, até hoje, praticamente não ocorreu. Como funciona o seu planejamento da obra?

processo

de

A planta e o projeto eu não faço. (...) Não faço a compra dos materiais, só em casos especiais, quando o cliente pede algo que esteja faltando. A compra é toda por conta do cliente.

Quão responsável você se sente pela realização e finalização de uma obra? O responsável [engenheiro] pela obra quase nunca vai ao local. Eu resolvo praticamente todos os problemas, (...) trabalho oito horas por dia e em alguns casos fico até sem dormir.


Você sente necessidade de trabalhar junto de arquitetos ou engenheiros? Como você enxerga a importância dessas profissões no ramo da construção? Arquiteto e engenheiro não podem faltar né [risos], o arquiteto primeiro, depois o engenheiro. (...) Mas, às vezes, o engenheiro só aprova a construção da casa quando ela já está pronta. Comentário do autor: a estruturação de uma edificação não funciona sem a participação do trabalho manual de pedreiros e serventes, contudo, o reconhecimento e a admiração do trabalho concluído são direcionados quase que inteiramente a arquitetos e engenheiros. Como você aprendeu as técnicas necessárias para se trabalhar no ramo da construção? Tudo que aprendi me foi ensinado pelas pessoas com quem trabalhei desde o começo. Você já fez ou pensou em fazer algum curso relacionado à profissão?


Nunca fiz, nem senti necessidade, (...) às vezes uso a internet para isso. Comentário do autor: da mesma forma que as técnicas construtivas são transmitidas de forma oral de geração a geração no Brasil, baseadas principalmente na prática, tal foram elas passadas e desenvolvidas da mesma maneira pelos antepassados europeus. Muito se preza pela importação das técnicas prontas, mas pouco se preza pela sua origem e o desenvolvimento delas, ontem e hoje. Entretanto, tal visão não significa a negação das outras formas de evolução e transmissão de conhecimento, como a escrita. Em uma escala de zero a dez, como você classifica a importância da sua profissão no ramo da construção? Ah, acho que nove... Eu sou importante né [risos], mas acho que não chega a dez. É... nove mesmo. Você percebe um aprimoramento, ao longo dos anos, nas técnicas de construção que você utiliza?


As técnicas de construção mudam um pouco, mas os eixos são basicamente os mesmos. (...) O que eu mais sinto que melhorou foram as ferramentas, como a serra, o riscador de cerâmica... (...) A tecnologia das lajes também melhorou, mas muita gente ainda usa o jeito antigo, que é um pouco pior. (...) As argamassas e cimentos novos também são melhores.

Comentário do autor: o depoimento de João representa a união dos esforços práticos e teóricos para a evolução das técnicas construtivas, em que a prática testemunha o sucesso e/ou a falha das tecnologias, e a teoria as aperfeiçoam (não sendo esse processo necessariamente estruturado sempre dessa maneira). Para você, qual a melhor maneira de buscar novos conhecimentos relacionados à sua profissão? Ah, é só ter interesse no assunto que você consegue conhecimento das coisas em qualquer lugar.


Você já sofreu preconceito em virtude da sua profissão? Não, não, nunca. Você está satisfeito com os resultados do seu trabalho? Estou muito satisfeito, pois dele que vem o sustento, né? Mas já está ficando difícil, estou sentindo muitas dores na coluna, tendo que tomar alguns remédios. (...) O trabalho é muito pesado, eu não paro em feriado, nem tiro férias, (...) estou há quarenta anos sem férias. Comentário do autor: João exemplifica com seu depoimento que o estudo e evolução não se pautam exclusivamente no nível de escolaridade e em referências acadêmicas, mas no esforço e no interesse, permitindo-o aprender e crescer pelos meios disponíveis. Mesmo tendo João não identificado nenhum tipo de preconceito em virtude da sua profissão ao longo dos anos, sabe-se que essa realidade não é igual a muitos outros companheiros de profissão. Responsáveis,


em grande parte, pela evolução das técnicas construtivas, no Brasil como em outros países, em especial no continente europeu (parte do objeto de estudo), não têm seu esforço reconhecido da maneira ideal. É necessário que não se lance um olhar à arquitetura do século XIX e brasileira, em geral, somente como um objeto de importação europeu, associado quase que imediatamente ao trabalho exclusivo de arquitetos e engenheiros, mas como um compilado de esforços transmitidos de forma oral e prática através de séculos, tanto no Velho, como no Novo Mundo. Reconhecendo-se as funções inerentes a cada parte do erguimento da arquitetura, é possível não somente atribuir o devido valor a cada parcela, mas aperfeiçoar a produção e as técnicas, atingindo patamares de evolução nunca atingidos.

Referências CERICATO, Jacinta. Datas comemorativas cívicas e históricas. Editora Paulinas, 2008, 344p.



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As residências


AS NÃo rE SI DÊN CIAS ANDERSON DE SOUZA QUINTELLA CHAGAS


A forma de habitação mais comum, nas primeiras décadas do século XXI e com tendência de crescimento, é a não-residência. Há um déficit habitacional gigantesco e uma escancarada divisão entre a cidade formal e a cidade informal. Apesar desta segregação nos saltar aos olhos cotidianamente, o pensamento colonizado traça uma linha invisível entre a cidade formal e a informal que impede qualquer forma de emancipação ou regulação social desses territórios e só sobra a violência, a inexistência, como apontado por Boaventura de Souza Santos em seu conceito de pensamento abissal. As ocupações urbanas se constituem como uma forma de resistência e um ato político que fundamentam a luta por moradia digna e de inclusão cidadã. Este trabalho se propõe a uma nova leitura do capítulo “As residências” do livro Quadro da arquitetura no Brasil, de Nestor Goulart, por meio de uma imersão fotográfica proposta em uma oficina realizada durante o ARQUISUR, Cartografia das

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Controvérsias: Histórias e Memórias na Produção do Espaço do Centro Expandido de Belo Horizonte. Novas reflexões propostas, construídas com os atores desses territórios, propõe-se a investigar tais questões por meio de cartografia das controvérsias. O que é patrimônio de uma cidade? Que dispositivos transformam a memória de alguns em história de todos? Que narrativas dão visibilidades a alguns eventos enquanto outros caem no esquecimento? Quem são as vozes silenciadas e suas memórias? A proposta aqui é a de cartografar duas ocupações urbanas em Belo Horizonte por meio de uma imersão fotográfica: a ocupação Pátria Livre na Vila Senhor dos Passos e a ocupação Carolina Maria de Jesus na região do hipercentro. Os registros buscam dar visibilidade a esses atores que têm sempre suas trajetórias apagadas e propor a urgente discussão dos movimentos de luta por moradia, por trabalho e principalmente, o direito à cidade.

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ocUpAção pátRIA LIvrE 5


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“... Quando cheguei do palácio que é a cidade os meus filhos vieram dizer-me que havia encontrado macarrão no lixo. E a comida era pouca, eu fiz um pouco do macarrão com feijão. E o meu filho João José disse-me: – Pois é. A senhora disse-me que não ia mais comer as coisas do lixo. Foi a primeira vez que via minha palavra falhar. Eu disse: – É que eu tinha fé no Kubistchek. – A senhora tinha fé e agora não tem mais? – Não, meu filho. A democracia está perdendo os seus adeptos. No nosso paiz tudo está enfraquecendo. O dinheiro é fraco. A democracia é fraca e os políticos fraquíssimos. E tudo que está fraco, morre um dia. ... Os políticos sabem que eu sou poetisa. E que o poeta enfrenta a morte quando vê seu povo oprimido. “ “ ... Depois fui lavar roupas. passou um senhor e perguntou-me: – O que escreve? – Todas as lambanças que pratica os favelados, estes projetos de gente humana.” Carolina Maria de Jesus

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ACR032 - Arquitetura, Arte e Ciências Humanas I modos de ler - trabalho final Professora Renata Marquez + Doutoranda Paula Lobato


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As residências


Outras residências



AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.



AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.



AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.


“ ...

...

“ AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.


Referências: REIS FILHO, Nestor Goulart. ​Quadro da Arquitetura no Brasil​. São Paulo:

Perspectiva.

AZEVEDO, Aluísio. ​O cortiço​. 30. ed. São Paulo: Ática, 1997.

Fotos de cortiços e casas populares​. Disponível em:

<​https://www.ifch.unicamp.br/cecult/mapas/corticos/cortimagens1.html​> Acesso em: 03 de janeiro de 2021. Cortiços eram melhores que as favelas​, 2018. Disponível em: <​https://caosplanejado.com/corticos-eram-melhores-que-favelas/​> Acesso em: 15 de dezembro de 2020. Cortiços de SP surgiram no século 19​, 2020. Disponível em: <​https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1109200005.htm#:~:text=Os%20corti% C3%A7os%20surgiram%20em%20S%C3%A3o,Paulo%20aumentou%20quase%20 22%20vezes​> Acesso em: 15 de dezembro de 2020. Reforma Urbanística de Pereira Passos, o Rio com cara de Paris​. Disponível em: <​http://educacao.globo.com/artigo/reforma-urbanistica-de-pereira-passos-o-rio-comcara-de-paris.html​> Acesso em: 15 de dezembro de 2020.


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Crítica do ecletismo











Sobre o patrimônio de cultura


modos de ler:

patrimônio de cultura análise das entrelinhas da visão do autor sobre patrimônio cultural e as problemáticas que podem surgir a partir dessa. por LUCAS CARVALHO DE JESUS


1 A VISÃO DO AUTOR O Patrimônio de Cultura, assim como a maioria das coisas na arquitetura e história brasileira, foi e continua sendo utilizado de maneira, muitas vezes, estereotipada e equivocada, baseados na forma ocidental de se ver as coisas. Essa errata busca analisar criticamente essas questões a partir da fala do autor sobre patrimônio cultural, visto que durante o texto ele não define o que exatamente é patrimônio cultural para ele. A abordagem segue a linha de pensamento, que a partir da leitura do texto foi possível o entendimento da visão do autor sobre o assunto.

1.1 A CiDADe De SÃO pAUlO Apesar de ser dotada de um patrimônio histórico e artístico da mais alta significação, mesmo em escala nacional, essa região vem assistindo a um progressivo empobrecimento da vida cultural de sua população. Esse processo de desorganização torna-se ainda mais absurdo porque vem ocorrendo exatamente na área cuja população dispõe dos melhores níveis de instrução e do mais elevado poder aquisitivo médio do País. (p.196)

O primeiro momento que me permitiu começar a entender o que ele enxerga como patrimônio cultural são esses trechos sobre São Paulo. A partir disso, surge a primeira problemática a ser levantada: a limitação do patrimônio cultural, e da cultura como um todo, a instrução dos seus usuários. Através desses trechos é possível perceber que o autor acredita que pessoas que possuem elevada instrução e consequentemente fazem parte de uma classe social elevada, deveriam ter uma vida cultural mais rica. Esse tipo de conclusão, gera e reforça um estereótipo de que a cultura socialmente aceita é a cultura dominante, ou seja a cultura vista como “culta”. Uma favela por exemplo, seguindo essa linha de pensamento, teria uma produção cultural “pobre”. O próprio projeto de criminalização do funk, que foi colocado nos dias atuais, demonstra que esse enriquecimento e essa vida cultural colocada como “rica” não abrange todo tipo de cultura, como a dos pobres, dos negros e dos diversas outros individuos sociais. 2


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1.2 AS AfiRmAçõeS “a preservação de seus exemplos mais significativos” “selecionam-se algumas obras, consideradas notáveis por seu significado artístico ou histórico” “preservar as manifestações culturais mais importantes do país”

A partir dessas questões, percebe-se que o autor faz várias colocações, inseridas por ele como importantes, mas não deixa claro exatamente o que seriam essas afirmações. Questões podem ser realizadas a partir dessas frases: O que seriam os exemplos mais significativos? O que seriam obras notáveis? Notáveis para quem? O que seriam essas manifestações mais importantes do país? Apesar de não deixar evidente no texto, ao se entender a visão do autor, considerando a própria abordagem sobre São Paulo, uma das análises possíveis é que essas obras e manifestações notáveis muitas, e na maioria das vezes, representam uma pequena parcela da população, a parcela instruída e com dinheiro da população. Esse tipo de pensamento atua justamente contra a diversidade cultural, a partir do momento que reforça as diversas problemáticas presentes na sociedade até hoje.

1.3 O DinheiRO e A CUlTURA Ao decorrer do texto, o autor cita várias vezes que a falta de investimento no patrimônio cultural e na sua conservação condena os edifícios e obras artísticas ao abandono, a destruição e descaracterização. Entendemos que em uma sociedade capitalista o dinheiro ocupa um papel importante, entretanto, torna-se necessário também uma análise para além disso. A grande questão aqui, talvez seja, o que ele próprio considera como cultura e como patrimônio cultural, e não só ele, mas a sociedade e também as pessoas responsáveis por definir que algo é ou não é patrimônio, o que essa própria definição condena diversas obras, autores, tradições ao abandono, a destruição e a descaracterização. Ou seja, e as obras que são condenadas a essas questões por outros motivos que não sejam financeiros? Podemos perceber então, a partir desses três eixos de análise sobre a cidade de São Paulo, as afirmações e o dinheiro, o que o autor considera como patrimônio cultural. Essa visão de patrimônio, que eu considero limitada, nos conduziu até os dias atuais e abre espaço para a segunda parte dessa análise: as pessoas, as obras e as culturas que ficam para trás, ou seja, as consequências desse tipo de pensamento. 4


2 AS peSSOAS, AS ObRAS e AS CUlTURAS qUe fiCAm pARA TRáS “preocupação...com a possibilidade de se encontrar caminhos para que as manifestações de nosso patrimônio de arte e história, conservados com tantos cuidados e sacrifícios venham a ser utilizados, mais largamente para o enriquecimento da população.”(p.192)

A partir desse trecho é possível realizar diversos questionamentos, como:

A partir desses questionamentos, podemos pensar que o patrimônio da forma como colocado pelo autor, intensifica e reforça o esquecimento das pessoas, das obras e das culturas que ficam para trás. Em 2019 foi publicado no Brasil, o livro sobre o Tebas2, um arquiteto negro que viveu durante a escravidão e que foi condenado a exclusão e teve depois de muitos anos sua obra reconhecida. Assim como ele, de acordo com a arquiteta e urbanista Tainá de Paula1, vários arquitetos orgânicos, nomenclatura que a mesma utiliza para designar os arquitetos sem diploma, essencialmente negros foram condenados a inexistencia e tiveram suas obras, muitas vezes, demolidas por terem sido feitas por negros e eles não serem dignos desse tipo de trabalho. Essa situação nos permite questionar claramente as diversas pessoas que foram esquecidas na sociedade por não fazerem parte da classe dominante e nos permite questionar o próprio papel da literatura na forma como ela nem sequer cita que existiam pessoas que não possuíam diplomas mas faziam trabalhos que deveriam ser reconhecidos, como é colocado no próprio livro sobre o Tebas2: 5


“A literatura tradicional brasileira, entretanto, sempre reforçou a negação de escravizados talentosos como Tebas, que não é, portanto, um caso isolado. Assim como ele, muitos outros escravizados também foram invisibilizados, tendo sido negados como pessoas capazes, conhecedoras de importantes saberes e que buscavam, de uma maneira ou de outra, uma vida mais digna. Na arquitetura e no urbanismo contemporâneos isso não é diferente.”(p.126)

Junto a isso, surge também o debate das estátuas brasileiras e o que elas reforçam. De acordo com a antropóloga Karen Shiratori, o problema exatamente não é a presença das estátuas, mas a homenagem a figuras escravocratas e genocidas. No Brasil, existem algumas estátuas dos bandeirantes, como o Movimento às Bandeiras em São Paulo, figuras exaltadas sempre como heróis nacionais, que ainda estão espalhadas pelo país3. A grande questão, que poucos contam, é que esses foram responsáveis pelo genocidio de diversos indigigenas e negros. No próprio livro, no seguinte trecho, essa questão é exaltada sem nem sequer comentar o outro fato, de extrema importância, da história:

“Do século XVII e do início do século XVIII, período predominantemente pelas atividades bandeiristas - cuja importância para a formação brasileira é desnecessário ressaltar - resta, ainda, nas proximidades e mesmo dentro da cidade de São Paulo, exemplos numerosos de obras, entre antigas casas rurais, capelas, pinturas e peças de talha, notáveis pelas suas características de simplicidade e apuro formal.”(p.200)

Durante a história da Arquitetura Brasileira, ocorreu uma série de demolições e negações de construções ecléticas e coloniais sem registro acadêmico e muitas vezes negros, que naquela época não foram consideradas patrimônio por puro preconceito. O Cais do Valango no Rio de Janeiro, por exemplo, ficou por muitos anos soterrado porque diversos arquitetos indicaram que este lugar que passou mais de milhões de negros em transporte não era digno de história e memória1. Essas abordagens nos permitem analisar algumas das formas como o patrimônio e a cidade patrimonial brasileira foram construídas e talvez questionar o que exatamente essa cidade representa atualmente. 6


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3 A impORTânCiA DO ReCOnheCimenTO Chimamanda Adichie alerta para o perigo de uma só história e que essa única história rouba a dignidade de diversos seres humanos4. No âmbito do patrimônio cultural, é importante que as pessoas se reconheçam, não só nos lugares, no dia a dia, mas na própria literatura. Nesse sentido, entendendo patrimônio cultural através de uma visão que eu coloco como ampla, que não se limita a questões de instrução e de que algo pertence a cultura dominante e deve ser socialmente aceito, mas sim, com uma visão que considera como isso não só os bens materiais, mas os imateriais, de cada cultura diferente, independentemente de qualquer fator. A partir disso, eu proponho um exercício, utilizando do último capítulo desse livro, que eu acredito que seja de grande responsabilidade, para marcar e incentivar o reconhecimento da sua cultura e da dos outros. A ideia é a seguinte: faça uma reflexão sobre a sua cultura, desde suas crenças, tradições, movimentos a obras que possuem um significado para você. Após isso, em uma folha, desenhe, cole figuras ou imagens que representem essa escolha de um lado e do outro escreva um pouco sobre o que ela representa pra você. Depois é só colocar nesse envelope e se divertir com os cartões dos outros.

nós somos o nosso

no passado e no presente

RefeRênCiAS [1] DECIFRANDO o Direito à Cidade: Entre os “slogans urbanos” e a cidade real: qual projeto de cidade?. Intérpretes: Tainá de Paula. São Paulo: Instituto Polis, 2020. (140 min.). [2] FERREIRA, Abilio; CERQUEIRA, Carlos Gutierrez; YOUNG, Emma; JACINO, Ramatis; CHIARETTI, Maurílio (org.). Tebas: um negro arquiteto na são paulo escravocrata (abordagens)). São Paulo: Idea - Instituto Para O Desenho Avançado, 2019. 132 p. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1W0aYPjrFsaPqv0CF6dzhWm8ySe6ppUP1/view. Acesso em: 04 jan. 2021. [3] QUEIROZ, Luiza. Pode haver espaço nas cidades brasileiras para monumentos escravocratas?: estátuas que prestam homenagem a figuras racistas começam a ser derrubadas em diversos países. no brasil, o tema traz à tona questionamentos sobre inclusão e acesso ao espaço público. veja o que pensam especialistas no assunto. 2020. Disponível em: https://casavogue.globo.com/Arquitetura/Cidade/noticia/2020/07/ pode-haver-espaco-nas-cidades-brasileiras-para-monumentos-escravocratas.html. Acesso em: 04 jan. 2021. [4] THE danger of a single story.Intérpretes: Chimamanda Adichie.Tedglobal,2009.(19 min.).Disponível em: https://www. ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_the_danger_of_a_single_story#t-52926. Acesso em: 05 jan. 2021.


erratas


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