ANEXO

Page 1

99 ideias para um cinema de rua – micrópolis caderno de campo – vânia medeiros cartilha contracódigos –juliana biancardine coleção pensamento da américa latina – fernando lara editora temporária – clara meliande e tania grillo guia fantástico de são paulo – ángela león hortas livres / free gardens – lanchonete.org objetos da floresta – andrea bandoni outras palavras – editora da cidade revista piseagrama

1


anexo é um guia construído a partir de entrevistas com editores e autores de publicações presentes na biblioteca colaborativa da 11a Bienal de Arquitetura de São Paulo. Proposta integrante da Chamada Aberta Utilidade Pública, reúne uma série de perguntas que procuram situar cada uma das práticas editoriais no contexto em que são feitas, em relação a alguns desafios existentes hoje e, de forma mais abrangente, às cidades.


99 ideias para um cinema de rua – micrópolis

99 ideias para um cinema de rua 3


Como surgiu a ideia de fazer esta publicação? A ideia da publicação surgiu assim que o trabalho “99 ideias para um cinema de rua” inicialmente exposto na mostra Habitáculo no Cine Theatro Brasil foi finalizada, como forma de estender a discussão posteriormente e para além do restrito público da exposição. Como escolheram como meio de expressão/trabalho a publicação impressa, o editorial? Qual a relevância do formato impresso para veiculação de suas ideias e/ou discussões? Primeiramente, acreditávamos que o formato do trabalho por si só já funcionava bem em um formato impresso, já que é composto por desenhos seguidos de textos curtos, com linguagem bem acessível. Em segundo lugar, como se trata de 99 desenhos e textos diferentes, achávamos que o formato digital não era o meio mais confortável para a leitura e difusão posterior do trabalho. Mais uma vez, o formato impresso respondia de forma eficaz à essa demanda. Hoje existe uma enorme diversidade de assuntos, formatos e decisões possíveis a um material impresso. O que norteou as tomadas de decisão para a criação dessa publicação? A ideia inicial era que a publicação trouxesse em seu projeto gráfico a ideia de que o leitor estivesse levando a exposição no bolso. Dessa forma, decidimos manter o mesmo formato e conteúdo dos 99 quadros expostos na parede da exposição (cada um em formato quadrado contendo um desenho e um texto). Isso nos levou ao formato final do livro, que conta apenas com os desenhos, da mesma forma com a qual eles eram expostos, encadernados com lombada aparente, como se tivéssemos pegado todos os quadros da exposição e os transformado em uma espécie de bloco de notas.


Quais os limites que vocês veem atualmente no formato de publicação impressa? A maior dificuldade encontrada hoje é a questão do financiamento para a impressão do livro. Após cerca de dois anos tentando contrapartidas e financiamentos privados para a impressão, conseguimos enfim realiza-la por meio de Lei de Incentivo à Cultura (processo igualmente lento). A existência dessa publicação impressa dialoga com alguma plataforma digital? Como vocês vêm essa relação? A existência dessa publicação dialoga mais com a exposição para a qual este trabalho foi realizado. Embora ele possa ser – e será – disponibilizado em formato digital para download, acreditamos que, para este trabalho de forma específica, o melhor formato de leitura é o impresso.

O que vocês acham da construção de um lugar de trocas entre publicadores? Qual a relevância disso para a constituição de redes? Achamos essencial a criação de uma plataforma de trocas entre publicações, principalmente publicações que tratam de questões espaciais (que hoje não possuem lugar de expressão). Tal espaço poderia gerar importantes discussões sobre difusão, produção e demais dificuldades que todo produtor de publicação necessariamente tem que lidar.

5 99 ideias para um cinema de rua – micrópolis

Além da publicação que separamos como mediadora desse diálogo, existe alguma outra que conte um pouco sobre o processo particular de vocês? Atualmente estamos desenvolvendo uma publicação chamada “Enciclopédia Prática do Morar”, resultado também impresso de um trabalho de investigação espacial e antropológica realizado na Vila Itororó, no contexto da residência artística Goethe na Vila.


Um dos grandes desafios para a produção editorial (especialmente a independente) são os mecanismos de distribuição. Como vocês entendem essa parte do processo? Como lidam com a distribuição de sua publicação? Essa é uma das etapas que necessitam maior organização e incentivo num contexto de publicação independente. Nossas publicações são distribuídas por nós mesmos, através de feiras, sites, divulgação via facebook e contato com algumas lojas físicas. Entretanto a gestão dessa distribuição é ainda um campo de grande dificuldade. A publicação impressa funciona como dispositivo de deslocamento em direção ao outro. Como vocês percebem isso em relação à publicação de vocês? Como vocês avaliam que elas chegam ao público? Recebem algum feedback? É difícil responder a essa questão, uma vez que a publicação das 99 ideias está em processo de impressão e ainda não foi distribuída. Entretanto, em se tratando de outros trabalhos, percebemos que é sempre importante e bem vinda a compilação em formato informativo (seja impresso ou digital), como meio de difundir e democratizar as discussões que nos interessam. Isso gera um campo fértil de discussão com outras pessoas e outros meios, e evidentemente uma releitura e evolução dos nossos trabalhos por outras pessoas. Como funciona (ou como funcionou) a estrutura de trabalho para produzir essa publicação? De quantas pessoas é formado o editorial e qual a estrutura básica de operação? Esse trabalho em específico demandou um grande número de pessoas. Na época da exposição, tínhamos um período curto de 2 meses para a produção de todos os textos e desenhos. Nesse momento, participavam do coletivo 7 pessoas. Contratamos uma colaboradora fixa e ainda pedimos


ajuda a cerca de 5 amigos para a produção das bases dos desenhos (que eram esboçados em Sketchup antes de se tornarem desenhos produzidos à mão). Para a produção da publicação propriamente dita, mobilizamos cerca de 4 pessoas do coletivo mais uma contratação de designer para a produção da capa. Como foi financiada a impressão dessa publicação? Em que isso implica, para vocês? A impressão está sendo financiada via Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Embora seja uma satisfação ter verba disponível para produzir uma grande tiragem (1.000 exemplares), o processo da Lei foi extremamente lento e difícil. O trabalho foi produzido em 2015 e só agora, em 2018, estamos em processo de impressão.

As respostas recolhidas foram posteriormente transformadas nos desenhos e textos que compõem a série. As narrativas textuais e ilustradas buscam vincular a cada uma dessas especulações questões mais amplas sobre a cidade, a zona central de Belo Horizonte, e a noção de patrimônio arquitetônico. Algumas vezes de forma cômica, outras de maneira crítica, os textos realizam um vai-e-vem entre questões particulares ao edifício do Cine Brasil, sua história e suas espacialidades, e discussões mais amplas sobre a vida urbana.

7 99 ideias para um cinema de rua – micrópolis

De quais modos vocês recebem e processam questões sociais, políticas e econômicas dentro de seu trabalho? Primeiramente, as 99 ideias que conformam o eixo central do trabalho foram recolhidas em três ações na rua, em intercâmbio com os transeuntes das imediações do Cine Brasil na Praça Sete quando o trabalho foi realizado; o que para nós é uma importante questão social e polícia (mostrar uma diversidade imensa de vozes e pontos de vista dentro do mesmo trabalho.


Por fim, a abordagem adotada para transformar as 99 propostas em material gráfico e textual privilegia a acessibilidade do trabalho, com desenhos simples e narrativas curtas. Muitas vezes, os desenhos e textos adotam um tom cômico e/ou lúdico com o objetivo de aproximar o leitor de forma leve das problemáticas que são discutidas no trabalho. A publicação aborda tema(s) relevante(s) para informação e acesso dos cidadãos. Como se deu a escolha desses temas? Vocês entendem a publicação com um objeto que pode ser utilizado de forma educativa?De forma mais ampla, entendemos que este trabalho, por seu processo de criação, captura as camadas imateriais que constituem as maneiras de entender o patrimônio arquitetônico, o centro de Belo Horizonte e a vida na cidade. A principal fonte das “99 Ideias” foram as três ações realizadas com os transeuntes da Praça Sete, em que trocávamos uma xícara de café ou uma rifa por respostas a perguntas como “Se você ganhasse o prédio do Cine Theatro Brasil, o que você faria com ele? Como ele seria?” ou mesmo “Como seria se o Cine Theatro Brasil fosse transformado em”. As respostas coletadas apontam para os repertórios de cidade dos usuários da Praça Sete e a interação desses repertórios com o imaginário coletivo sobre o Cine Theatro Brasil. Através destes procedimentos, o trabalho busca tratar a questão do patrimônio em articulação com questões urbanísticas mais amplas e de uma maneira mais próxima ao cotidiano dos habitantes de Belo Horizonte. Acreditamos que esta abordagem, principalmente ao circular em formato impresso, é importante para retirar da discussão do patrimônio seu caráter frequentemente engessado e distante e, acima de tudo, envolver os cidadãos no debate.


caderno de campo – vânia medeiros

caderno de campo 9


Como surgiu a ideia de fazer esta publicação? A partir de uma provocação do projeto político-pedagógico Contracondutas, da Escola da Cidade. Houve, no âmbito deste projeto, um chamado aberto a artistas interessados em propor obras que discutissem relações de trabalho análogo ao escravo na construção civil. A partir de minha pesquisa sobre os cadernos de desenho enquanto texto pessoal e social, propus a sete trabalhadores da construção que desenhassem sua rotina de trabalho durante um mês. Como escolheram como meio de expressão/trabalho a publicação impressa, o editorial? Qual a relevância do formato impresso para veiculação de suas ideias e/ou discussões? Desde o princípio, a ideia foi veicular os desenhos produzidos no projeto através de uma publicação impressa. Acredito que é uma forma democrática de veiculação da obra de arte, além de ser um formato que, neste trabalho, propicia uma fruição que interessa à minha pesquisa, que é a “leitura” das imagens apresentadas. Hoje existe uma enorme diversidade de assuntos, formatos e decisões possíveis a um material impresso. O que norteou as tomadas de decisão para a criação dessa publicação? Desde o princípio, tomei a decisão de optar por um projeto gráfico simples, que permitisse a visualização dos cadernos sem rebuscamento no design. A limitação de recursos levou à escolha de papéis mais em conta, o que não afetou a qualidade e visualidade do livro, em minha opinião. Quais os limites que vocês veem atualmente no formato de publicação impressa? Principalmente os altos custos de impressão e a pouca quantidade de editais e chamadas abertas que ajudem os artistas a financiarem seus projetos.


A existência dessa publicação impressa dialoga com alguma plataforma digital? Como vocês vêm essa relação? A publicação está disponível para download no site do projeto Contracondutas. Considero importante porque amplia o acesso ao conteúdo para pessoas interessadas no tema, embora o livro impresso ofereça uma experiência de fruição mais interessante.

O que vocês acham da construção de um lugar de trocas entre publicadores? Qual a relevância disso para a constituição de redes? É de grande importância para os publicadores os encontros, tanto para intercambiar experiências de produção e distribuição, quanto para a formação do olhar, para o conhecimento das diferentes maneiras de construir o objeto-livro. Um dos grandes desafios para a produção editorial (especialmente a independente) são os mecanismos de distribuição. Como vocês entendem essa parte do processo? Como lidam com a distribuição de sua publicação? É um desa-

11 caderno de campo – vânia medeiros

Além da publicação que separamos como mediadora desse diálogo, existe alguma outra que conte um pouco sobre o processo particular de vocês? Em 2014 criei a plataforma Conspire Edições, tanto para o desenvolvimento de projetos próprios, quanto para colaborações com outros criadores. A editora se volta para a produção gráfica de publicações relacionadas etnografias experimentais, processos colaborativos, narrativas urbanas e de viagem. Acredito que todas as publicações da Conspire partem de uma investigação gráfica comum e são feitos de maneira independente, seja na produção, seja no financiamento. Todas as publicações feitas até agora trazem essa pesquisa e podem ser vistas no site: http://cargocollective.com/conspireedicoes


fio grande. Geralmente é feito sem sistematização, os livros são deixados sob consignação em algumas lojas e vendidos nas feiras, que têm se multiplicado. O que é bom. Mas acho que um dos temas principais nos encontros de publicadores deveria ser a questão da distribuição. A publicação impressa funciona como dispositivo de deslocamento em direção ao outro. Como vocês percebem isso em relação à publicação de vocês? Como vocês avaliam que elas chegam ao público? Recebem algum feedback? Tenho recebido feedback das pessoas que tiveram contato com o livro e ele tem sido sempre positivo, nota-se que o tema é de interesse não só de artistas e arquitetos, mas também de pesquisadores de outras áreas como a antropologia. O que é uma alegria. Como funciona (ou como funcionou) a estrutura de trabalho para produzir essa publicação? De quantas pessoas é formado o editorial e qual a estrutura básica de operação? A concepção do trabalho e o projeto gráfico do livro são da artista Vânia Medeiros, que teve como colaboradores o fotografo Tiago Lima e a encadernadora Ayelén Gastaldi. O livro consta de desenhos de 7 trabalhadores da construção civil - Adauto de Oliveira Santos, Fernando Alves dos Santos, Fresnel Fleuricin, José Fernandes, Luiz Alves Nogueira, Marcelo Santos Bispo e Márcio Siqueira de Almeida, que receberam, por cada hora de encontro semanal com a artista, o equivalente a uma hora de trabalho deles na obra. Os desenhos eram feitos por eles em suas casas e os encontros semanais eram para partilhar a produção de cada semana. Como foi financiada a impressão dessa publicação? Em que isso implica, para vocês? O projeto foi


totalmente financiado através do Contracondutas. Esse apoio foi determinante para a realização do projeto e do livro. Sem esse recurso, a impressão da tiragem não teria sido possível. De quais modos vocês recebem e processam questões sociais, políticas e econômicas dentro de seu trabalho? Questões sociais e políticas atravessam meu trabalho como artista, bem como as outras publicações da Conspire de diferentes formas. Cada publicação desenvolve uma narrativa conceitual e gráfica própria.

13 caderno de campo – vânia medeiros

A publicação aborda tema(s) relevante(s) para informação e acesso dos cidadãos. Como se deu a escolha desses temas? Vocês entendem a publicação com um objeto que pode ser utilizado de forma educativa? A escolha do tema de Caderno de campo foi uma confluência entre minha pesquisa pessoal sobre os cadernos de desenho e a provocação do Contracondutas. Acredito imensamente no potencial educativo dos trabalhos de arte, sobretudo nos processos mais contemporâneas, que não se prendem a nenhuma linguagem específica. Nesse contexto, o livro tem um valor enorme enquanto dispositivo porque permite amplo acesso e fruição que perdura no tempo (na maioria das vezes).


cartilha contracódigos


Como surgiu a ideia de fazer esta publicação? A pesquisa que gerou essa publicação parte de interpretações feministas em relação a disciplina da Arquitetura e foi realizada como um trabalho de conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio. Nesse contexto, surge a dúvida sobre como um trabalho, a principio, individual poder gerar trocas e multiplicar-se. Então a cartilha, assim como o site, surge do desejo de pensar um trabalho acadêmico como uma ação política, ela se organiza em algumas práticas corporais que chamei de contracódigos e foram pensadas por diversas pessoas.

Como escolheram como meio de expressão/trabalho a publicação impressa, o editorial? Qual a relevância do formato impresso para veiculação de suas ideias e/ou discussões? A distribuição da cartilha proporciona uma troca direta com o público. Essa troca presencial foi importante para o trabalho e para o envolvimento do público com a proposta. Entendo a cartilha como um corpo pensante do trabalho que tem um papel importante de seduzir e convidar. Além disso, a apropriação de uma ferramenta político-partidária tradicional foi uma escolha potente para um trabalho que busca questionar formas de ação política, fugindo de um conteúdo que oferece respostas ou diretrizes claras, as práticas querem despertar a curiosidade. Hoje existe uma enorme diversidade de assuntos, formatos e decisões possíveis a um material im-

15 cartilha contracódigos –juliana biancardine

A publicação funcionou como um convite para desnaturalizar os códigos que domesticam nossos corpos e para ampliar o debate levantado pela pesquisa à margem da arquitetura: feminismo e subversão de projeto, em relação as presenças de uma lógica patriarcal e machista dentro da escola de arquitetura.


presso. O que norteou as tomadas de decisão para a criação dessa publicação? Optei pelo formato da cartilha em função do seu caráter didático e familiar e sua relação com uma maneira patriarcal e imperativa de se pensar a ação política - que é questionada com essa publicação. A cartilha pretende provocar uma ação a partir de sua distribuição, com o desejo de ampliar o espaço de experimentação dentro da escola de arquitetura. Essa definição do espaço de ação e, consequentemente, do público foi fundamental para a definição de alguns aspectos do projeto gráfico e do conteúdo, pensados para serem distribuídos em escolas de Arquitetura e Urbanismo brasileiras. Além disso, o baixo custo de impressão e a fácil montagem também foram fatores decisivos para a criação da publicação. Quais os limites que vocês veem atualmente no formato de publicação impressa? No contexto do trabalho acadêmico a maior limitação é o custo de impressão. Além disso, tinha pouca experiência com o campo da publicação impressa, então esse processo de criação aconteceu como uma pesquisa paralela que acompanhou e cruzou a pesquisa acadêmica. Apesar de ter sido um limitador, a constante busca por técnicas simples e baratas, como a xerografia e os diversos testes de materiais tornou difícil entender um formato final para a cartilha, o que fez sentido com sua proposta. Seu conteúdo, assim como seu projeto gráfico, esteve em constante reformulação e pesquisa e ainda está aberto a mudanças. A existência dessa publicação impressa dialoga com alguma plataforma digital? Como vocês vêm essa relação? Sim, o site www.contracodigos.com disponibiliza o conteúdo textual da pesquisa, as práticas contracódigos e alguns registros de práticas


realizadas. Apesar da cartilha ter sentido por si só, ela funcionou como ferramenta de divulgação do site para que a pesquisa pudesse ser acessada livremente. O objetivo não era apenas distribuir a cartilha, mas provocar uma reflexão crítica, um diálogo com quem a recebe e, além disso, despertar o interesse para acessar o site e, através dele, participar do processo, enviando sugestões de práticas ou registros de práticas realizadas. A cartilha ocupa um papel de sedução, é uma ferramenta de provocação para despertar o desejo de participação do trabalho. Além da publicação que separamos como mediadora desse diálogo, existe alguma outra que conte um pouco sobre o processo particular de vocês? Não.

Um dos grandes desafios para a produção editorial (especialmente a independente) são os mecanismos de distribuição. Como vocês entendem essa parte do processo? Como lidam com a

17 cartilha contracódigos –juliana biancardine

O que vocês acham da construção de um lugar de trocas entre publicadores? Qual a relevância disso para a constituição de redes? Acredito que a construção de um lugar assim é uma iniciativa potente para ampliar as possibilidades de publicação em diferentes contextos. Falando a partir da minha experiência como alguém que idealizou uma publicação estando fora de uma rede de publicadores, imagino a importância que um lugar assim poderia ter tido no meu processo. Principalmente na troca de experiências, apenas por saber que é possível se fazer uma publicação como trabalho de graduação de arquitetura e urbanismo, por exemplo, já torna essa possibilidade mais concreta para estudantes que tenham interesse.


distribuição de sua publicação? Por ter trabalhado individualmente na produção, distribui gratuitamente no espaço da escola, em ocasiões que apresentei o trabalho e em pontos dentro da própria universidade. Essa escala de distribuição me permitiu um diálogo direto com o público o que me fez receber críticas e contribuições fora do sistema formal de participação através do site. A publicação impressa funciona como dispositivo de deslocamento em direção ao outro. Como vocês percebem isso em relação à publicação de vocês? Como vocês avaliam que elas chegam ao público? Recebem algum feedback? É justamente pelo contato com o outro que a publicação fez sentido para o trabalho. O site funcionou como canal claro para esse feedback que foi muito positivo dentro da faculdade, recebi algumas colaborações que ampliaram a cartilha contracódigos e possibilitaram quatro edições a partir das novas colaborações. Além das pessoas que enviaram questões ou sugestões pelo site e as contribuições não registradas e que ocorreram no processo de distribuição da cartilha. Por estar inserida no contexto da academia, alguns momentos de apresentação aberta do trabalho me permitiram ter esse feedback, não só de professores avaliadores, mas de outras pessoas que puderam entrar em contato com o trabalho. Como funciona (ou como funcionou) a estrutura de trabalho para produzir essa publicação? De quantas pessoas é formado o editorial e qual a estrutura básica de operação? A operação foi feita individualmente, apenas a produção do conteúdo se ampliou para as pessoas que enviaram colaborações pelo site.


Como foi financiada a impressão dessa publicação? Em que isso implica, para vocês? A publicação não contou com apoio da universidade, então paguei por todos os custos de impressão. Isso limita o alcance do trabalho, mas me permitiu realizar todas as etapas num ritmo coerente com um trabalho acadêmico. Apenas 70 exemplares foram distribuídos o que me proporcionou trocas mais diretas com quem entrou em contato com o trabalho.

A publicação aborda tema(s) relevante(s) para informação e acesso dos cidadãos. Como se deu a escolha desses temas? Vocês entendem a publicação com um objeto que pode ser utilizado de forma educativa? O tema reflete um contexto político e um envolvimento pessoal com a luta feminista. Entendo que estou inserida num cenário em que mulheres se unindo para criticar um modelo

19 cartilha contracódigos –juliana biancardine

De quais modos vocês recebem e processam questões sociais, políticas e econômicas dentro de seu trabalho? O trabalho parte de interpretações feministas sobre a disciplina que estou inserida então tem uma relação muito direta com essas questões, na medida em que questiona o padrão vigente do ensino de arquitetura e busca entender suas relações com nosso cenário político. O desejo da cartilha é a desnaturalização de códigos que normatizam nossa expressão corporal e, apesar de partir do desenho arquitetônico, é uma provocação que se aplica em diversos contextos. O trabalho chama para um despertar de um corpo pensante, para um fuga da domesticação que nossos corpos sofrem. Entendo a realização das práticas da cartilha como um ato político que parte de questões internas do espaço da escola de Arquitetura e se desdobra para a rua e para a casa, para o público e o pessoal.


vigente. Então entendo essa publicação como uma ferramenta para potencializar debates e dar voz a essa luta. Nesse sentido, entendo que essa ferramenta pode ser utilizada de maneira educativa, indo além da criação de conteúdo informativo, pensando uma forma de gerar e multiplicar questões e de provocar debates. A cartilha não pretende informar, mas sim chamar para a ação e envolvimento do público. Quais os desafios encontrados ao propor uma publicação como trabalho de conclusão de curso, atualmente? Além do desafio claro dos custos para a produção, a publicação fez parte do trabalho como estratégia para diluir a autoria e desacelerar a pesquisa, duas questões que não se encaixam com as expectativas do trabalho de conclusão de curso. Esse tipo de ação ainda enfrenta resistência dentro da academia pois multiplica questionamentos mais do que alcança resultados e conclusões, que são frequentemente exigidos em um ambiente ainda muito masculino com foco na eficiência e na realização de metas.


coleção pensamento da américa latina – fernando lara

coleção pensamento da américa latina 21


Como surgiu a ideia de fazer esta publicação? A plataforma Nhamerica surgiu por conta de minha frustração com a distribuição de livros na América Latina. Todos nós professores doutores de programas de pós-graduação trocamos livros quando nos encontramos em eventos diversos. Este esquema de distribuição claramente não atende as 400 escolas, 10.000 professores, 100.000 alunos e 200.000 arquitetos do Brasil, pra não dizer do resto da América Latina. Depois de criada a plataforma conversei com a Editora Romano Guerra sobre a possibilidade de publicarmos e-books sobre temas da América Latina, usando o repositório de Vitruvius.com.br como base principal. Também queríamos que todos os livros fossem bilíngues. Para os 3 primeiros da Coleção Pensamento da América Latina (Guerra, Teixeira e Leonídio) acabamos fazendo os livros x4 (12 no total). Edições separadas em Português e Inglês, cada um deles impresso e ebook. Como escolheram como meio de expressão/trabalho a publicação impressa, o editorial? Qual a relevância do formato impresso para veiculação de suas ideias e/ou discussões? Nós, os consumidores de livros, somos apaixonados pelo objeto, ainda não adotamos o formato digital como “livro de verdade”. Mas para que o livro possa chegar a Teresina ou Feira de Santana o formato ebook é muito mais eficiente. Por isso pensamos esta coleção com os dois formatos. Hoje existe uma enorme diversidade de assuntos, formatos e decisões possíveis a um material impresso. O que norteou as tomadas de decisão para a criação dessa publicação? O foco de minha


pesquisa é o continente americano. A linha editorial desta coleção tem a América Latina como foco, porque sabemos que existe interesse dos estudantes e professores e uma carência enorme de material bibliográfico (não só em Portugues, em qualquer língua). Quais os limites que vocês veem atualmente no formato de publicação impressa? A dificuldade de distribuição.

Além da publicação que separamos como mediadora desse diálogo, existe alguma outra que conte um pouco sobre o processo particular de vocês? Uma estorinha pessoal. Quando saiu o meu Modern Architecture in Latin America eu fui convidado a dar 3 palestras na Europa. Queria ter o livro a venda nas palestras e contactei o editora. Me passaram para o distribuidor que disse o seguinte: você precisa contactar uma livraria que vai encomendar o livro e coloca-lo a venda no local da sua palestra. Mas como eu vou achar uma livraria em Munique? Deixei pra lá e dei as palestras em junho de 2015 sem ter o livro a venda. Acontece que em agosto eu daria uma palestra na Escola da Cidade em SP. O Toninho, dono da livraria que funciona no IAB, ali do outro lado da rua, já tinha me falado que queria o livro pra vender. Passei os contatos pra ele e fiquei tranquilo. Passou

23 coleção pensamento da américa latina – fernando lara

A existência dessa publicação impressa dialoga com alguma plataforma digital? Como vocês vêm essa relação? Sim, os livros desta coleção saem em formato impresso e ebook. Para que o livro possa chegar aos 5000 municípios brasileiros (150 deles tem escola de arquitetura) o formato ebook é muito mais eficiente. Por isso pensamos esta coleção com os dois formatos.


mês de julho inteiro e nada do distribuidor responder ao Toninho, que me escreveu reclamando que não tinha tido resposta. Escrevi um e-mail duro pro diretor da editora e pro distribuidor dizendo: olha, na Europa você disse que eu precisava achar uma livraria. Tá aqui a livraria de SP e eles querem 100 exemplares, porque você não responde? A resposta do distribuidor: __Prezado professor, eu tenho 6.000 livros no meu catálogo. No Brasil tenho convenio com Saraiva, Laselva e FNAC. Não tenho tempo nem disposição de vender pra mais ninguém. Assim fica difícil né? O que vocês acham da construção de um lugar de trocas entre publicadores? Qual a relevância disso para a constituição de redes? Acho genial a iniciativa. Pode contar comigo. Um dos grandes desafios para a produção editorial (especialmente a independente) são os mecanismos de distribuição. Como vocês entendem essa parte do processo? Como lidam com a distribuição de sua publicação? Ver a resposta do ítem 6. No caso dos livros em inglês usamos a plataforma Igraham Spark que imprime e envia pelo correio uma cópia de cada vez. Eu adoraria ter uma plataforma destas no Brasil. A publicação impressa funciona como dispositivo de deslocamento em direção ao outro. Como vocês percebem isso em relação à publicação de vocês? Como vocês avaliam que elas chegam ao público? Recebem algum feedback? Ainda não deu tempo de medir a reação do público além das festividade de lançamento (inverno de 2017). Como funciona (ou como funcionou) a estrutura de


trabalho para produzir essa publicação? De quantas pessoas é formado o editorial e qual a estrutura básica de operação? A Editora Romano Guerra tem o seu pessoal trabalhando na formatação e revisão. Para esta coleção contratamos o design gráfico (Goma Oficina), as traduções, e Natalli Kussonoki que faz a formatação do e-book. Todo o resto foi feito por mim, Silvana Romano e Fernanda Critelli. Como foi financiada a impressão dessa publicação? Em que isso implica, para vocês? Um custo total de aproximadamente R$ 7.000 por cada um dos três livros foi financiada por mim e pela Romano Guerra com apoio dos autores nos custos de impressão.

A publicação aborda tema(s) relevante(s) para informação e acesso dos cidadãos. Como se deu a escolha desses temas? Vocês entendem a publicação com um objeto que pode ser utilizado de forma educativa? Sim, a coleção foi pensada como apoio didático desde o início.

25 coleção pensamento da américa latina – fernando lara

De quais modos vocês recebem e processam questões sociais, políticas e econômicas dentro de seu trabalho? Editar livros significa lutar pela cultura, pelo empoderamento e pela democratização do conhecimento.


editora temporária


Como escolheram como meio de expressão/trabalho a publicação impressa, o editorial? Qual a relevância do formato impresso para veiculação de suas ideias e/ou discussões? As duas editoras, Clara Meliande e Tania Grillo, são designers gráficas. Entendemos a publicação como um formato de pesquisa de linguagem, de criação de algo coletivo, de parceria estreita entre os envolvidos. Fazer publicações como forma de aprender sobre um assunto, uma técnica, sobre se relacionar com o outro. Sobre ser impresso, essa é a graça para um designer (risos!). Nosso questionamento desde o início era fazer pequenas tiragens para não ter encalhe e nem desperdício de dinheiro; modos de impressão que se preocupassem com economia de materiais, soluções que não desperdiçam, acabamentos manuais. Hoje existe uma enorme diversidade de assun-

27 editora temporária – clara meliande e tania grillo

Como surgiu a ideia de fazer estas publicações? A Editora Temporária é um projeto que surgiu do interesse de duas designers de questionar o livro impresso no momento que vivemos, marcado pelo aumento de tecnologias digitais para leitura, escassez de recursos naturais e acesso mais amplo a meios de impressão por demanda. A editora acontece quando há recursos disponíveis, através de editais de fomento.A segunda edição que fizemos (os 3 livros que estão expostos na Bienal de Arquitetura de São Paulo) surgiu da vontade de produzir um conteúdo crítico em relação às transformações urbanas que estavam acontecendo na cidade do Rio de janeiro por causa da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Transformações massivas decididas pelo poder público com ausência de debate público e envolvimento da população. A ideia era aproveitar que o momento de euforia já havia passado e entender o que restou.


tos, formatos e decisões possíveis a um material impresso. O que norteou as tomadas de decisão para a criação dessa publicação? Nosso desejo com o projeto era reunir pessoas interessadas em pensar publicações como linguagem, como um processo de estruturação de um pensamento. Era muito importante criar um grupo de troca e poder trocar com pessoas de fora do processo também. Por isso, o espaço de trabalho precisava ser público, termos a estrutura à mostra, termos a equipe trabalhando em um local que geralmente abriga uma exposição. Era necessário para poder gerar um diálogo. Na hora de escolher os projetos, escolhemos os temas sem conhecer os autores. Tem um risco embutido, um risco enorme de não dar certo. Para termos a equipe concentrada no projeto e recursos bem planejados, funcionamos em períodos curtos de duração, mas intensos em produção. Na segunda edição, o processo durou 3 meses, do primeiro encontro com a equipe até o lançamento. A limitação de tempo exige foco, planejamento e objetividade mas também ousadia para arriscar. Existe um sentido de urgência no fazer da editora. Em paralelo a isso, ao trabalhar com pequenas tiragens, acabamento manual e parceiras intensas, o formato do livro muitas vezes é intrínseco à narrativa. E o livro gerado ao final do processo é, na maioria dos casos, um recorte surpreendente do que havia sido proposto inicialmente pelo autor. Quais os limites que vocês veem atualmente no formato de publicação impressa? O limite é apenas financeiro, de orçamento. Hoje em dia é muito mais fácil imprimir livros de tiragem pequena, através dos meios digitais (laser, indigo), risografia... Quando nos formamos, só era possível imprimir em offset ou xerox. Xerox colorida era caríssima para se pensar em fazer um zine por exemplo.


A existência dessa publicação impressa dialoga com alguma plataforma digital? Como vocês vêem essa relação? Um dos focos de nossa pesquisa com o projeto da editora é justamente questionar que tipo de livro vale a pena imprimir em um momento que se anuncia a iminente morte do livro impresso e de efervescência de tecnologias digitais para leitura. Pelo fato de ter essa questão tão central no processo, por trabalharmos com pequenas tiragens e, consequentemente, por criarmos livros que integram forma e conteúdo, os livros editados perdem algumas de suas especificidades e recursos ao passarem para o meio digital.

Além da publicação que separamos como mediadora desse diálogo, existe alguma outra que conte um pouco sobre o processo particular de vocês? Sim, temos a página do facebook que registra como foi a chamada pública; e montamos uma exposição no CCD simultaneamente à ocupação (no mesmo espaço que ocupamos) com o processo, registro dos estudos, tentativas e erros dos livros (posso enviar um arquivo de um livrinho com o registro da exposição). Ela ainda está lá no espaço! Ela é uma linha do tempo do projeto.

29 editora temporária – clara meliande e tania grillo

Nós usamos o facebook para poder dialogar com uma comunidade que acompanha o projeto. Fizemos as chamadas de projeto para virar livro e o convite para o lançamento através dessa plataforma. Como os livros estão esgotados, queremos disponibilizar arquivos em pdf mas ainda não sabemos se será através do facebook ou se vamos criar um site, pois também queremos exibir os vídeos dos livros sendo manipulados, achamos que é uma forma efetiva de entender a tridimensionalidade deles. Como nossas tiragens são sempre pequenas, o digital é uma forma de disponibilizar a mais pessoas o conteúdo produzido.


Temos também a primeira edição do projeto, que publicou 4 livros, entre eles o Processo Impresso, que é um registro do processo de desenvolvimento dos outros 3 livros. Seguem as descrições dessa edição: A-125 Autoras: Juliana Borzino e Juliana Frontin / Designer: Miguel Nóbrega Livro-coleção de série de postais produzidos através da transformação analógica de escritos e fotografias encontradas em diversas partes da cidade. São fotografias antigas com as imagens desvanecendo aos poucos. O processo de impressão do livro busca reforçar essa transformação das fotografias com o uso de objetos de impressão analógicos – carimbo, fotocopiadora, solvente para tintas, máquina de escrever e duplicadora – para reproduzir as imagens da frente e anotações do verso. O processo analógico traz perdas de informação por um lado e ganhos de ruídos por outro, que, por sua vez, transformam as imagens em algo novo, desvinculado de seu original. Essas fotografias e escritos foram reunidos neste livro ao acaso e formam uma coleção devido a sua condição de transformação e reprodução, mas, ao mesmo tempo, o formato de postal estimula que essa coleção se disperse novamente. Cidade-andaime: estruturas transitórias na cidade contemporânea Autor: Pedro Évora / Designer: Luiz Arbex Uma investigação sobre o papel das estruturas arquitetônicas transitórias que, por sua adaptação e flexibilidade às condicionantes que atuam na cidade, tornaram-se indissociáveis do metabolismo da urbe. Mas como seria então caso tais estruturas não existissem? E ainda, como será quando os andaimes ou as escoras forem a própria arquitetura? O projeto gráfico de Luiz Arbex procura evidenciar o tema da


transitoriedade presente na pesquisa, e na própria condição de sua publicação em uma editora temporária, por meio de um layout e uma encadernação que não se apresentam fixos, definitivos. Ao contrário da tradição livresca da permanência e da linearidade, a proposta se aventura na investigação de outras dinâmicas de leitura e fruição do livro impresso. Caderno de Observações ou Coreografias do Cotidiano Autora: Emika Takaki / Designer: Tania Grillo

Editora temporária: processo impresso Autora e Designer: Clara Meliande O livro registra a feitura dos outros 3 livros - “A-125”, “Cadernos de Observações ou Coreografias do Cotidiano” e “Cidade-andaime: estruturas transitórias na cidade contemporânea”, através do recolhimento e edição de rastros dos processos. Foram coletados estudos de layout, material original das pesquisas,

31 editora temporária – clara meliande e tania grillo

Um caderno-livro-mapa sobre o movimento do corpo na cidade. Fragmentos e alguma poesia de observação do movimento das pessoas na cidade do Rio de Janeiro. Através de percepções compartilhadas entre a autora e a designer o livro foi desenvolvido para novas possíveis percepções do movimento do corpo na cidade: caminhar à deriva, aleatoriamente, sem um objetivo além do próprio caminhar e observar a cidade. Mapas, textos e imagens se intercalam, conversam, se interrompem.... e o leitor/performer escolhe por onde continuar. Faz parte do jogo ser observado no ambiente urbano, sentir-se vulnerável, deixar se perder para encontrar respostas que antes talvez estivessem ocultas no caminhar cotidiano, inconsciente e coreográfico. O material utilizado levou em consideração os fragmentos da tese de doutorado da autora e seus vídeos de observação do movimento das pessoas na cidade.


experiências de impressão e desenhos esquemáticos. Foi pedido também que cada autor junto com o designer, escrevesse um texto sobre o projeto de fazer o livro. O que vocês acham da construção de um lugar de trocas entre publicadores? Qual a relevância disso para a constituição de redes? Acreditamos que seria super interessante. Mas como um espaço físico restringe a troca a moradores de uma mesma cidade, talvez ter também um espaço virtual seja mais rico e amplo. As feiras de publicação já são uma espécie de rede e sintimos falta de participar pois, por nós não termos os livros para vender, nós não nos apresentamos como expositores. Um dos grandes desafios para a produção editorial (especialmente a independente) são os mecanismos de distribuição. Como vocês entendem essa parte do processo? Como lidam com a distribuição de sua publicação? Nós distribuímos gratuitamente os livros no dia do lançamento. A publicação impressa funciona como dispositivo de deslocamento em direção ao outro. Como vocês percebem isso em relação à publicação de vocês? Como vocês avaliam que elas chegam ao público? Recebem algum feedback? Recebemos muitos pedidos de pessoas que não puderam estar presentes no lançamento para adquirir os livros. Tentamos fornecer também o conteúdo em arquivo digital para atingir um grupo maior de pessoas. Mas a distribuição online tem uma perda expressiva com a falta de tridimensionalidade e materialidade dos livros impressos. Muitos arquitetos relataram que ficaram impressionados com o Zonzo, deram para seus filhos. Soubemos


que ele foi assunto de reunião na Secretaria de Urbanismo da cidade do Rio de Janeiro, dando visibilidade ao projeto feito na comunidade da Babilônia. Muitos amigos vieram me contar que a Muralha tinha um texto delicioso, que tinha adorado a experiência de lê-lo.

Como foi financiada a impressão dessa publicação? Em que isso implica, para vocês? Nós só funcionamos com financiamento através de editais.

33 editora temporária – clara meliande e tania grillo

Como funciona (ou como funcionou) a estrutura de trabalho para produzir essa publicação? De quantas pessoas é formado o editorial e qual a estrutura básica de operação? A Editora Temporária é um projeto de editora mas também de ocupação de um espaço público. Interessada em desenvolver livros que falassem de assuntos prementes a cidades, o projeto precisava ocupar fisicamente um espaço para que virasse um ponto de encontro, um centro de discussão. Nas duas edições ocupamos temporariamente o Centro Carioca de Design por nos oferecer uma parceria de infraestrutura, como espaço, internet, luz, segurança. A equipe conta com as duas editoras, uma produtora e os designers e autores selecionados. Os designers são convidados pelas editoras e os autores são selecionados através de chamada pública de projetos dentro de um tema específico determinado por nós. Eles trabalham em dupla. Nessa edição, disponibilizamos 2 computadores e uma impressora jato de tinta. Decidimos em grupo que as impressões finais seriam feitas externamente em risografia. Na primeira edição, alugamos uma impressora A3 laser colorida como opção de teste e impressão final para dois livros. Em ambas, contamos com parceiros terceirizados para acabamento, como impressão em risografia; impressão em indigo; impressão em serigrafia, dobra e encadernação.


Fomos premiadas no Pró-Design, programa de fomento do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro em 2013. Em 2017, ganhamos o Rumos Itaú Cultural. Por isso que somo temporária, acontecemos quando podemos e sempre com pequenas tiragens. Nossa política é disponibilizar os livros de graça, no dia do lançamento. Por isso as edições se esgotam tão rapidamente. De quais modos vocês recebem e processam questões sociais, políticas e econômicas dentro de seu trabalho? Por coincidência, ou talvez por um interesse em comum das editoras nos temas relacionados a arquitetura e urbanismo, as duas primeira edições do projeto Editora Temporária foram voltados para pesquisas relacionadas a cidades. O tema, na primeira edição mais amplo, na segunda, mais específico, determinou os projetos que recebemos de autores interessados em participar de cada uma delas. Nós entendemos que a publicação pode ser o registro de uma idéia, de um processo, de um diálogo. No momento que escolhemos os projetos, escolhemos em conjunto com os designers, para eles indicarem as pesquisas que os sensibilizam, que eles têm vontade de contribuir. Tentamos escolher um conjunto que faça sentido como coleção. Como na segunda edição o tema era bem específico (explorar as mudanças urbanísticas pelas quais o Rio de Janeiro passou nos últimos anos devido a Copa e aos Jogos Olímpicos), procuramos pesquisas que ofereciam uma visão crítica ou poética do assunto. Recebemos em torno de 117 inscrições de pessoas entre 12 e 70 anos, do Rio de Janeiro, São Paulo e até da Colômbia! A pesquisa do Zonzo nos tocou profundamente apesar de não ser tão relacionada com as áreas mais alteradas urbanisticamente (mas tinha a upp,


As questões políticas e sociais aparecem (ainda bem) porque escolhemos pesquisas que inicialmente já indicavam que essas questões tinham uma importância. Como tínhamos o apoio privado (Rumos Itaú Cultural), estávamos totalmente isentos para criticar a prefeitura, o estado, ou qualquer instituição pública. Se é para publicar algo de maneira independente, que seja com risco, com crítica, com consistência e com um projeto visual que reflita tudo isso. A publicação aborda tema(s) relevante(s) para informação e acesso dos cidadãos. Como se deu a escolha desses temas? Vocês entendem a publicação como um objeto que pode ser utilizado de forma educativa? Os temas foram escolhidos através de uma chamada de pesquisas, que podiam ser acadêmicas ou não, poderiam estar concluídas ou em andamento, pois entendemos que a publicação é

35 editora temporária – clara meliande e tania grillo

a mudança da comunidade em ter se tornado mais turística). Entendemos que dali podia sair um manual -manifesto feito por crianças da comunidade, dar voz a elas e mostrar que elas poderiam ser autoras de um livro para outras crianças, parecidas ou não com elas. No caso da Muralha, o projeto inicial proposto era voltado para uma deriva na região portuária, que passeava principalmente por pontos importantes para a história da população negra. Existia já a intenção de um resgate de uma história pouco contada numa área que foi, possivelmente, a mais afetada pelas mudanças recentes no Rio de Janeiro. No processo, o Thiago descobriu um mapa com o muro e nós todos concluímos que o passeio deveria ser feito seguindo o mais próximo possível, o desenho que o muro fazia. No livro do Elilson, o assunto da mobilidade e as propostas dele como performer já abordavam o marginal, o excluído, o pedinte.


uma forma de recorte, que ela pode conduzir a pesquisa para outras direções. Era importante privilegiar pessoas ou grupos que não costumam ter espaço na grande mídia ou nas editoras convencionais. Nos interessava também, selecionar pesquisas que tivessem uma abordagem crítica ou poética de assuntos relevantes ao tema proposto e à atualidade. Os livros impressos vêm perdendo espaço na educação tradicional para outras mídias. Esse é mais um motivo para fazer livros em formatos diferentes e explorar maneiras não usuais de narrativa. Apesar de não terem sido pensados para serem didáticos, esperamos que possam ser usados de forma educativa sim, por diversos perfis, inclusive para áreas como design, edição, arquitetura, história. De onde vem a decisão de trabalhar a edição de livros “que produzam pensamento sobre design e cidade”? Qual a relevância dessa interseção, para vocês? Como já dissemos anteriormente, nossa intenção com o projeto Editora Temporária era justamente trabalhar publicações de forma crítica e explorando parcerias mais estreitas entre autor e designer. Dessa forma, a contribuição de cada um envolvido na elaboração do livro é parte da pesquisa e as diferentes dinâmicas revelam diferentes possibilidades. Nesse sentido o próprio processo da Editora, durante a ocupação, já produz um pensamento sobre design que, no caso da última edição, ficou exposto no Centro Carioca de Design depois do fim do projeto. Já o tema cidade esteve presente nas duas edições realizadas anteriormente por ser um assunto que, como editoras, achamos importante debater nesse momento no Rio de Janeiro, tendo em vista o planejamento e uso do espaço urbano, assim como as transformações recentes pelas quais passou. Acre-


ditamos que em qualquer tema escolhido para ser trabalhado na Editora Temporária pensar o design, será sempre central ao desenvolvimento do livro.

editora temporária – clara meliande e tania grillo

37


guia fantástico de são paulo


Como surgiu a ideia de fazer esta publicação? Quando me mudei pra São Paulo (vindo da Espanha) quis conhecer e documentar a cidade. Também acho que no fundo procurava razões para gostar da cidade e isso me levou ao formato de guia turístico, como uma maneira de visualizar as belezas de São Paulo. Assim que cheguei na idéia de fazer um guia pensei que tinha que publicá-lo.

Hoje existe uma enorme diversidade de assuntos, formatos e decisões possíveis a um material impresso. O que norteou as tomadas de decisão para a criação dessa publicação? O guia foi um projeto muito pessoal e por isso acabei o editando eu mesma. Isso me deu total liberdade para fazer o livro, também como objeto, que eu queria. As ilustrações, em preto e branco, e o formato de guia foram determinantes. Também o caráter pessoal do processo de descoberta da cidade me fez vê-lo um pouco como um caderno de viagem. Minha principal referência na estética dos desenhos foi o ilustrador francês Benoit Guillaume, o que também marcou a identidade gráfica do livro. Queria transmitir rapidez e a sensação do lapiz, a sujeira.

39 guia fantástico de são paulo – ángela león

Como escolheram como meio de expressão/trabalho a publicação impressa, o editorial? Qual a relevância do formato impresso para veiculação de suas ideias e/ou discussões? Desde o primeiro momento quis brincar com o formato de guia turístico pelo fato de São Paulo não ser uma cidade considerada turística. O turismo cria uma narrativa para um lugar com o objetivo de agregar valor simbólico e convertê-lo em destino turístico. Acho divertido criar essas narrativas para lugares que são especiais e que não são considerados turísticos, porém, que podem sê-lo se mudarmos a maneira de olhar para eles.


Quais os limites que vocês veem atualmente no formato de publicação impressa? Acho que a distribuição e a dificuldade principal no mundo da publicação, especialmente para pequenos editores. Eu não trabalho exclusivamente com livros então talvez minha visão é superficial, mas acho difícil entrar em circuitos de distribuição mais generalistas. E também não é sempre fácil cobrar as vendas. A existência dessa publicação impressa dialoga com alguma plataforma digital? Como vocês vêm essa relação? Antes de publicar o guia, uma introdução aos dois primeiros capítulos em formato fanzine foi apresentada em feiras de publicações independentes. Nesse momento criei uma página de facebook para divulgar o projeto, anunciar as datas das feiras… e quando chegou o momento de fazer o crowdfunding já tinha uma rede de pessoas interessadas no livro. Neste caso em particular a pagina do fb foi importante para financiar e distribuir os exemplares. Além da publicação que separamos como mediadora desse diálogo, existe alguma outra que conte um pouco sobre o processo particular de vocês? Esta é minha única publicação O que vocês acham da construção de um lugar de trocas entre publicadores? Qual a relevância disso para a constituição de redes? Acho importante porque como autor ou pequeno editor você está em uma posição de inferioridade frente a editoras maiores e grandes livrarias. É difícil entrar no circuito de grandes livrarias e personalmente não acho justas as condições que existem para os autores. A criação de circuitos alternativos faz possível a publicação de pequenas tiragens ou propostas fora do padrão.


Um dos grandes desafios para a produção editorial (especialmente a independente) são os mecanismos de distribuição. Como vocês entendem essa parte do processo? Como lidam com a distribuição de sua publicação? A primeira edição do Guia foi distribuida através do crowdfunding. Foi uma experiência interessante porque serviu para viabilizar o projeto e entregá-lo diretamente aos apoiadores, sem mais intermediarios.

A publicação impressa funciona como dispositivo de deslocamento em direção ao outro. Como vocês percebem isso em relação à publicação de vocês? Como vocês avaliam que elas chegam ao público? Recebem algum feedback? Não tenho muita experiência no mundo editorial, mas acho que tenho tido bastante feedback e sempre muito positivo. A página de facebook do livro tem sido a via de comunicação principal com o público, mas também, as feiras de publicações. Como funciona (ou como funcionou) a estrutura de trabalho para produzir essa publicação? De quantas pessoas é formado o editorial e qual a estrutura básica de operação? A estrutura foi mínima pois eu sou a autora e editora do Guia. Por ter sido un processo tão pessoal sabia exatamente como queria que fosse o livro, mas procurei ajuda técnica para lidar

41 guia fantástico de são paulo – ángela león

Para a segunda edição eu já não morava no Brasil e a via principal de distribuição tem sido a Banca Tatuí. A Banca vende publicações independentes e o espaço é do pessoal da editora Lote42. Tenho deixado exemplares em outras livrarias, mas o papel da Banca e da Lote42 tem sido fundamental. Além de ficar com muitos mais exemplares, o que me ajudou com a logística, tem levado o Guia em muitas feiras de publicações.


com a produção, para procurar provedores e gráfica. Como foi financiada a impressão dessa publicação? Em que isso implica, para vocês? A primeira edição do Guia foi financiada e distribuida através do crowdfunding e teve um apoio econômico da Embaixada da Espanha no Brasil. Foi muito bom materializar o livro sem ter que investir dinheiro e ver que tinha um público para ele. Como o processo todo da primeira edição acabou muito rápido, fiz uma segunda edição financiada por mim. Para a distribuição procurei livrarias especializadas e a experiência não foi sempre positiva, porque as vezes foi difícil cobrar as vendas. Mas a resposta do público continua sendo boa e por isso neste momento estou pensando em fazer uma terceira edição. De quais modos vocês recebem e processam questões sociais, políticas e econômicas dentro de seu trabalho? A cidade é uma obra coletiva em continua transformação, reflexo da sociedade, da política e da economia. Na medida em que se representa a cidade estamos representando a paisagem urbana, mas também o cotidiano, a cultura, o uso do espaço público… no caso do Guia desenhei minha percepção pessoal de São Paulo, sem muitas pretensões, de maneira intuitiva. A publicação aborda tema(s) relevante(s) para informação e acesso dos cidadãos. Como se deu a escolha desses temas? Vocês entendem a publicação com um objeto que pode ser utilizado de forma educativa? Eu acho que o Guia apresenta uma revisão do imaginário de São Paulo, de como a vida é ou poderia ser na cidade. Por trás da brincadeira do formato de guia turístico, tem uma visão critica que acho construtiva no sentido de querer desenvolver o


potencial de espaços que não são valorizados. Também é uma reflexão sobre a vida urbana paulistana mas ao mesmo tempo sobre fenômenos que se repetem em muitas cidades, como podem ser a relação com seus rios, a desaparição das salas de cinema…

guia fantástico de são paulo – ángela león

43


hortas livres / free gardens


Como surgiu a ideia de fazer esta publicação? A ideia da publicação surgiu como forma para disseminar entre um público diverso e os participantes membros de ocupações da luta pelo direito à moradia, os resultados de uma oficina conjunta (realizada no âmbito da residência de Jakub Szczesny em um movimento de moradia no centro de São Paulo) onde foi construída coletivamente uma horta vertical dentro da própria ocupação São João. A partir dessa experiência surgiu a vontade de disponibilizar um material numa linguagem ilustrada e prática, afim de promover maior alcance do processo e democratização do conhecimento adquirido.

Hoje existe uma enorme diversidade de assuntos, formatos e decisões possíveis a um material impresso. O que norteou as tomadas de decisão para a criação dessa publicação? Como mencionado acima, as tomadas de decisão foram norteadas por uma preocupação ao alcance da informação disseminada, algo pensado a todo tipo de público, com diferentes graus de ensino formal ou classe social e também no

45 hortas livres / free gardens – lanchonete.org

Como escolheram como meio de expressão/trabalho a publicação impressa, o editorial? Qual a relevância do formato impresso para veiculação de suas ideias e/ou discussões? A decisão do formato cartaz surgiu com o objetivo de deixar as informações acessíveis de forma prática, já que se tratavam de instruções para construção de hortas e um mapa de plantas companheiras e antagônicas. A opção pelo impresso também foi norteada visando facilitar a disseminação entre moradores das ocupações – visto que nem todos os participantes tinham hábitos ou familiaridade com as novas tecnologias – bem como o uso de consulta da publicação ao tê-la presente exposta no espaço físico.


uso prático desse impresso, que se trata de um manual. A facilidade de circulação do material também foi levada em conta para a decisão do formato cartaz dobrado. Quais os limites que vocês veem atualmente no formato de publicação impressa? Acreditamos que os limites da publicação impressa passam pelo posicionamento político que nem sempre se têm consciência, nas tomadas de decisões ao equacionar o público que se quer alcançar (a tiragem e distribuição), a escolha de suporte (tipo de papel ou material), formato e tipo de impressão. Existe muito trabalho humano envolvido para o desenvolvimento de publicações impressas e a forma da publicação, além da escolha do lugar onde será impresso, impacta diretamente sobre como se dará este trabalho. Nossa preocupação passa bastante pelo lugar de como pensar estes processos de forma mais justa a todas as partes e, da melhor maneira possível, sustentável em relação ao meio ambiente. Além disso, em comparação ao formato de publicação virtual e mídias digitais, pode-se dizer que o limite da publicação impressa está na sua vida útil (material efêmero) e a relação da tiragem (que é limitada) com a quantidade de público que se quer alcançar. Mas para isso pode-se traçar inúmeras estratégias de circulação que envolvam não só a divulgação online do conteúdo como a publicação em formatos digitais de apoio ao impresso. A existência dessa publicação impressa dialoga com alguma plataforma digital? Como vocês vêm essa relação? O guia “Hortas Livres” especificamente tem apenas uma versão em arquivo pdf que pode ser disseminado online e impressa, mas não uma plataforma onde o conteúdo possa ser navegado de forma interativa – o que seria incrível, mas por limites


orçamentários e de tempo, na época, acabou não sendo realizado. Acreditamos que há um espaço potente a ser explorado entre a mídia impressa e digital, onde uma soma à outra em suas especificidades e possibilitam diferentes relações com o conteúdo tratado. O espaço virtual pode agregar discussões públicas e conectar em tempo real a outras iniciativas e discussões criando novas redes e intercâmbios.

Editada pela Edições Aurora / Publication Studio São Paulo temos a publicação que surgiu do processo curatorial coletivo Cidade Queer intitulada “Cidade Queer: uma leitora” (2016) e o livro “Residência Ocupação Cambridge”, um dos desdobramentos da residência de Ícaro Lira na Ocupação do Hotel Cambridge, coordenada pelo MSTC – além de outras peças gráficas durante o ano de 2017 ligadas à presença de Lanchonete.org na rua Paim. De forma geral, a Edições Aurora tem como forma de trabalho um envolvimento grande com o conteúdo a ser publicado, acompanhando de perto os projetos e processos que foram disparadores desses livros realizados em parceria. Essa colaboração entre a editora (Julia Ayerbe e Laura Daviña) e Lanchonete. org possiblitou publicações com conteúdo muito bem editado e cuidado e onde os processos de impressão e decisões de design foram pensados dentro da

47 hortas livres / free gardens – lanchonete.org

Além da publicação que separamos como mediadora desse diálogo, existe alguma outra que conte um pouco sobre o processo particular de vocês? Enquanto Lanchonete.org junto à Laura Daviña (designer e idealizadora da Edições Aurora / Publication Studio São Paulo, editora independente parceira), desenvolvemos as duas publicações do processo do projeto Zona da Mata (2016).


especificidade conceitual e viabilidade financeira de cada projeto, com envolvimento de parceiros e preocupação social e política. O que vocês acham da construção de um lugar de trocas entre publicadores? Qual a relevância disso para a constituição de redes? Acreditamos que a publicação impressa, ao disseminar conteúdo político, tem como vocação intrínseca para a criação de redes, conectando quem publica e quem lê. Mas para além disso, a troca entre publicadores é uma preocupação constante da Edições Aurora que criou o “Projeto Publicadores” realizando duas edições de “Encontro de Publicadores” em parceria com a Tenda de Livros e o coletivo Ocupeacidade, editando o livro “Entre, à maneira de, junto a publicadores”, como desdobramento dos resultados da pesquisa e encontro. O projeto é uma iniciativa para compreendermos o cenário atual da publicação independente no Brasil e região latino-americana, com intuito de contribuir para possíveis estratégias e estabelecimentos de novas práticas de circulação e formação de público. Nos encontros foi discutido a crescente demanda por publicações impressas (a despeito da nossa vivência constante nas redes virtuais) e formas e estratégias de disseminação e circulação, como feiras, pontos de venda etc. Além disso o segundo encontro teve foco na questão da publicação como estratégia política. Além da vocação de disseminação de conteúdo, foi discutido o posicionamento político frente à decisões na forma da publicação – impressa ou virtual, e se impressa, em qual papel e em quais condições de trabalho – e impactos das mesmas. Um dos grandes desafios para a produção editorial (especialmente a independente) são os mecanismos de distribuição. Como vocês entendem essa


Com os livros “Cidade Queer: uma leitora” e “Residência Ocupação Cambridge” a estratégia contou mais com as ferramentas de distribuição da Edições Aurora, ou seja: lançamentos públicos para ativação do conteúdo por meio de discussões abertas, participação em feiras de publicações, venda no espaço da editora (Casa do Povo) e em pontos de venda específicos que acatam esse tipo de publicação (ex. Banca Tatuí, Taperá Taperá, livraria da Escola da Cidade). O livro “Cidade Queer: uma leitora” especificamente também contou com diversos momentos de divulgação junto à exibições do minidocumentário realizado também como desdobramento do projeto Cidade Queer, além de um lançamento da versão reduzida em espanhol em Quito (Equador) e da versão em inglês em Nova Iorque (EUA). A publicação impressa funciona como dispositi-

49 hortas livres / free gardens – lanchonete.org

parte do processo? Como lidam com a distribuição de sua publicação?A circulação das publicações é algo que deve ser levado em conta desde o início da decisão de se publicar algo, já que o intuito de uma publicação é chegar no leitor. A vida pública do livro, a ativação da publicação em meio às pessoas, é primordial para a Edições Aurora e estratégias para disseminação do material impresso começam a ser pensadas e levadas em conta desde a realização do projeto editorial e gráfico. Ao fazer o guia “Hortas Livres”, por exemplo, pensamos no formato do cartaz dobrado por este também facilitar a distribuição “mão-à-mão” entre moradores de ocupações do centro de São Paulo. Ou seja, este tipo de distribuição foi a estratégia desde o princípio. Lanchonete.org já tinha em mente alguns pontos principais de distribuição, onde colocaríamos lotes de exemplares e estes seriam levados e distribuídos aos poucos.


vo de deslocamento em direção ao outro. Como vocês percebem isso em relação à publicação de vocês? Como vocês avaliam que elas chegam ao público? Recebem algum feedback? Uma das estratégias da Edições Aurora / Publication Studio São Paulo é proporcionar momentos em que a vida pública do livro é ativada. Para além da circulação entre as pessoas, as publicações são discutidas nesses momentos de lançamentos, exibição de filmes, discussões e falas. Ou seja, além do feedback dos leitores (que também podemos ter durante as feiras de publicação onde estamos editoras e leitores, frente a frente) podemos perceber, nesses momentos, um engajamento direto com o conteúdo das nossas publicações. Esse deslocamento do outro (leitor) em direção à editora também é importante para estarmos atentas às nossas decisões editoriais, além de possibilitar a vida do livro e seu conteúdo que é mais amplamente ativado. Como funciona (ou como funcionou) a estrutura de trabalho para produzir essa publicação? De quantas pessoas é formado o editorial e qual a estrutura básica de operação? O poster “Hortas Livres”, especificamente, foi desenvolvido por um produtor editorial, uma designer e um tradutor – visto que o pôster é bilíngue. A ideia do impresso era ser simples e didático e o conteúdo foi solicitado pelo produtor editorial que articulou diferentes parceiros e autores. O design foi pensado para abarcar esse conteúdo já com a definição do formato, o que facilita o “encaixe” do conteúdo específico e produção das ilustrações (que foram realizadas especificamente para a publicação). De maneira geral, o processo editorial da Edições Aurora envolve a realização de projeto editorial, projeto gráfico, edição, revisão, preparação, diagrama-


ção e produção (impressão e encadernação). E essas etapas são definidas pela editora (Julia Ayerbe) e designer (Laura Daviña), a realização das mesmas fica a cargo da expertise específica de cada uma e contratação de terceiros (revisores, tradutores, produtores gráficos etc.) é realizada caso julguemos necessário. A produção, especificamente, é definida segundo a demanda de tiragem e especificidade técnica de cada publicação. A editora conta com equipamentos de impressão e encadernação que possibilitam a produção de livros em escala média mas que também têm limitações em relação à quantidade de cores impressas e tipo de encadernação. De modo que, em determinados casos, recorremos para a produção em gráficas ou outros parceiros.

Em relação à outras publicações da Edições Aurora, as fontes financiamento variam, tendo sempre algum investimento por parte da editora, seja como tempo de trabalho investido ou financiando insumos e serviços extras. O retorno deste investimento é esperado pela venda das publicações. De quais modos vocês recebem e processam questões sociais, políticas e econômicas dentro de seu trabalho? Questões sociais, políticas e econômicas são prioridades no pensamento editorial da Edições Aurora, o posicionamento político da editora pode ser visto desde o processo editorial e envolvimento com o conteúdo, as decisões formais da publicação, como nas e estratégias de circulação:

51 hortas livres / free gardens – lanchonete.org

Como foi financiada a impressão dessa publicação? Em que isso implica, para vocês? Essa publicação foi financiada pelo Goethe-Institut São Paulo, como reverberação da parceria iniciada na própria oficina das hortas.


A criação de parcerias e articulações em diferentes âmbitos durante o processo editorial de acompanhamento da publicação (principalmente no caso dos livros “Cidade Queer: uma leitora” e “Residência Ocupação Cambridge” ), possibilita para a editora a criação de redes, tanto como apoio quanto para ampliar, complexificar e diversificar o campo de disseminação e discussão política. As decisões formais da publicação passam diretamente por decisões políticas. A forma e força de trabalho envolvida na produção do livro é definida no momento da decisão estética do mesmo. Escolhas como o uso do fitilho e capa dura, por exemplo, acarretam em tempo de trabalho manual. Trabalho este que muitas vezes é subvalorizado e realizado em condições precárias. A escolha do tipo de papel, a preocupação com o formato e aproveitamento do mesmo, e decisão de cores e tipo de impressão também tem impacto ambiental e político. A opção da Edições Aurora pelo envolvimento direto na produção do livro (tendo em seu espaço equipamentos para tal) vem justamente tentar encontrar uma via social, política e econômica mais sustentável. A criação de estratégias de circulação que envolvam um público variado, de diferentes graus de ensino formal ou classe social, também tem impacto social e político. A publicação aborda tema(s) relevante(s) para informação e acesso dos cidadãos. Como se deu a escolha desses temas? Vocês entendem a publicação com um objeto que pode ser utilizado de forma educativa? Definitivamente. Esta publicação tem exatamente como escopo democratizar o conhecimento adquirido a partir da prática da construção coletiva de uma horta vertical com famílias e pessoas


de um público variado de São Paulo. O fato de ter sido dentro de uma ocupação pelo direito à moradia teve como objetivo expandir temas de soberania alimentar, muitas vezes restrito uma classe mais alta, a todas as pessoas ali envolvidas – e não somente as que ali estavam, relevando a importância da disseminação da informação impressa a diferentes casas e pessoas.

hortas livres / free gardens – lanchonete.org

53


objetos da floresta


Como surgiu a ideia de fazer esta publicação? Essa publicação surgiu como parte inerente do projeto Objetos da Floresta, uma pesquisa de um mês pela Amazônia visando identificar e registrar objetos da Floresta Amazônica que mostrem uma relação forte/ sustentável entre homem e natureza no século 21. A publicação mostra os achados da expedição e os objetos revelam um modo de vida alternativo, muito diferente do nosso. Esse projeto foi financiado pela Funarte (MINC) e o site é www.objetosdafloresta.com – importante falar que trata-se de uma publicação independente.

Hoje existe uma enorme diversidade de assuntos, formatos e decisões possíveis a um material impresso. O que norteou as tomadas de decisão para a criação dessa publicação? Como disse, a publicação já estava prevista como forma de finalizar a expedição do projeto, contando seus resultados. Sabíamos que na área do design brasileiro são poucas as publicações e muito menos as gratuitas, bilíngues e online. Quando resolvemos fazer a publicação impressa, o custo foi o maior problema. Conferindo uma linguagem vernacular que se amarra à identida-

55 objetos da floresta – andrea bandoni

Como escolheram como meio de expressão/trabalho a publicação impressa, o editorial? Qual a relevância do formato impresso para veiculação de suas ideias e/ou discussões? A publicação está disponível online de forma gratuita, essa era a intenção principal do projeto. No entanto, como alguns locais de exposição e bibliotecas pediam a versão impressa, resolvemos fazer algo diferente do online. Por isso surgiu o pocket book impresso, em folhas coloridas e off set colorido. Acredito que a publicação online tenha mais alcance, mas não substitui o impresso já que este têm uma materialidade com mais identidade.


de do projeto e com o talento de um designer gráfico que viu as limitações da gráfica e trabalhou com elas, conseguimos materializar o livrinho. Quais os limites que vocês veem atualmente no formato de publicação impressa? Na minha opinião a logística e a distribuição, assim como a relação com as lojas, são fatores limitantes para a difusão das ideias do livro. O custo também é alto, mas em termos de satisfação, o impresso ganha. A existência dessa publicação impressa dialoga com alguma plataforma digital? Como vocês vêm essa relação? Sim ( já mencionado). Essa relação é importantíssima, são complementares. Além da publicação que separamos como mediadora desse diálogo, existe alguma outra que conte um pouco sobre o processo particular de vocês? Não, infelizmente. O que vocês acham da construção de um lugar de trocas entre publicadores? Qual a relevância disso para a constituição de redes? Acho interessante! Um dos grandes desafios para a produção editorial (especialmente a independente) são os mecanismos de distribuição. Como vocês entendem essa parte do processo? Como lidam com a distribuição de sua publicação? A publicação tem pequena tiragem e conta com distribuidores esporádicos, além de venda online no próprio site do projeto. A publicação impressa funciona como dispositivo de deslocamento em direção ao outro. Como vocês percebem isso em relação à publicação de vocês? Como vocês avaliam que elas chegam ao público? Recebem algum feedback? Recebo fee-


dbacks, mas não sei se eles são exatamente devido à publicação impressa. Mas creio que qualquer publicação gera sim novas formas de conexão. Como funciona (ou como funcionou) a estrutura de trabalho para produzir essa publicação? De quantas pessoas é formado o editorial e qual a estrutura básica de operação? Foram 2 editores: eu e o designer gráfico Florian Jakober, que é suíço. Ele veio para o Brasil para realizar este trabalho. Tínhamos um estagiário e o processo durou 1 mês de trabalho intenso. Os textos foram revisados e além do contato com estes revisores tivemos contato com consultoria científica para o livro e com a autora do prefácio.

De quais modos vocês recebem e processam questões sociais, políticas e econômicas dentro de seu trabalho? Creio que o trabalho respira um posicionamento claro de preocupação social, seja com os conhecimentos tradicionais, com sustentabilidade da floresta ou das populações envolvidas na temática. A publicação aborda tema(s) relevante(s) para informação e acesso dos cidadãos. Como se deu a escolha desses temas? Vocês entendem a publicação com um objeto que pode ser utilizado de forma educativa? A publicação com certeza pode ser utilizada de forma educativa. A escolha do tema do projeto foi feita justamente pela necessidade desta discussão e da falta de outros livros ou projetos abordando o tema de forma concisa e acessível.

57 objetos da floresta – andrea bandoni

Como foi financiada a impressão dessa publicação? Em que isso implica, para vocês? Ela foi financiada incialmente com pequeno aporte da verba do MINC, e depois investimento pessoal da autora. Isso implica em grandes apostas para que funcione, mas colho os frutos deste trabalho até hoje.


outras palavras


Como surgiu a ideia de fazer esta publicação? A série Outras Palavras surgiu a partir da ideia de publicar e divulgar em forma de texto o conteúdo de algumas palestras que ocorrem cotidianamente na Escola da Cidade. Pensadores de diversas áreas são convidados para falar aos estudantes semanalmente nos Seminários de cultura e realidade contemporânea e quisemos aproveitar essa produção estimulada pela faculdade para concretizar em pequenos livros as falas mais marcantes que ocorreram aqui.

Hoje existe uma enorme diversidade de assuntos, formatos e decisões possíveis a um material im-

59 outras palavras – editora da cidade

Como escolheram como meio de expressão/trabalho a publicação impressa, o editorial? Qual a relevância do formato impresso para veiculação de suas ideias e/ou discussões? A Editora da Cidade está inserida em uma faculdade de arquitetura e urbanismo, de modo que a publicação impressa é de grande importância e valor tanto para difundir como para arquivar a produção intelectual do corpo discente e docente. Tanto no sentido da execução de um projeto de livro que se concretiza na impressão, a partir das escolhas de papel, tipo de impressão, encadernação, etc, como também do aprendizado deste processo. Vemos ainda a importância do livro estar presente em nossa biblioteca e que circule por outras, pois acreditamos nesse espaço de mediação direta da pessoa que pesquisa com as publicações. Ainda que disponibilizemos alguns materiais no site da Escola, achamos importante haver a publicação impressa por esse contato possível. Muitas vezes, o objeto livro é levado por professores ou estudantes nos locais por onde circulam e lá o deixam como presente e divulgação das ideias produzidas aqui ou do repertório arquitetônico elegido pelo coletivo desta Escola.


presso. O que norteou as tomadas de decisão para a criação dessa publicação? Os assuntos elegidos no caso dessa série já são norteados pela curadoria do Seminário, atualmente feita pelo professor José Guilherme Pereira Leite, que assina um texto curto sobre a série presente em todos os volumes. São temas de interesse à arquitetura e ao urbanismo, desenvolvidos por pensadores de outras áreas. A impressão é feita na gráfica digital que faz parte da Escola da Cidade, a Gráfica Flavio Motta. Sendo assim, optamos por um projeto gráfico, feito pelo Três Design, que fosse de simples execução e baixo custo. Quais os limites que vocês veem atualmente no formato de publicação impressa? A pequena tiragem (digital), ainda é uma conta difícil de fechar para nós. A logística de distribuição também é um gargalo, especialmente porque não vendemos online. A existência dessa publicação impressa dialoga com alguma plataforma digital? Como vocês vêm essa relação? Os livros da série Outras Palavras se relacionam diretamente com a plataforma Baú (escoladacidade.org/bau/), que consiste num grupo de alunos que registram e editam as palestras que ocorrem aqui, disponibilizando no site esses vídeos. Os livros não são exatamente a transcrição das palestras, mas são baseados nessas falas. Acreditamos que uma coisa alimenta a outra e permite que os saberes circulem de diversas formas conforme as necessidades ou práticas de cada ouvinte ou leitor. Além da publicação que separamos como mediadora desse diálogo, existe alguma outra que conte um pouco sobre o processo particular de vocês? Cada publicação conta um pouco de nosso processo. O último lançamento que realizamos no ano pas-


O que vocês acham da construção de um lugar de trocas entre publicadores? Qual a relevância disso para a constituição de redes? A conversa entre publicadores é muito importante e frutífera quando o pensamento é colaborativo e de troca. Em 2017 participamos de uma coedição muito interessante com a N-1 Edições e com a Autonomia Literária, do livro Negri no trópico 23º 26” 14’, em que a união das três editoras deu força para a concretização dessa publicação de peso com pouco recurso. O livro foi selecionado com um dos melhores livros de filosofia do ano pela revista de crítica literária Quatro cinco um. Um dos grandes desafios para a produção editorial (especialmente a independente) são os mecanismos de distribuição. Como vocês enten-

61 outras palavras – editora da cidade

sado foi o livro André Vainer e Guilherme Paoliello, vol. 4 da Coleção Arquiteturas. Esse livro foi feito por um grupo de estudantes, junto aos professores que conceberam a coleção e aos próprios arquitetos nesse caso, que hoje são professores na Escola da Cidade e atuaram juntos de 1978, ainda estudantes, a 2009. Muitos colaboradores do escritório atualmente seguem suas trajetórias individuais ou coletivas e alguns lecionam também na Escola. O livro seleciona as principais obras dos arquitetos, sobre as quais foi feito um trabalho de pesquisa em seus arquivos, recuperando fotografias, redesenhando os projetos etc. Também foram produzidos alguns textos pelos organizadores do livro e por uma arquiteta convidada, além de entrevista em que os estudantes também participaram. No caso desta publicação, ela foi o impulso para que o acervo dos arquitetos fosse visitado e agora divulgado nessa edição. O processo de produção do livro é ao mesmo tempo pedagógico e de relevância para a cultura arquitetônica brasileira.


dem essa parte do processo? Como lidam com a distribuição de sua publicação? Essa publicação especificamente nós vendemos na própria Escola, na Banca e com a Rizoma livros que é um coletivo de algumas editoras que se organizam para distribuir seus livros e possuem um ônibus-loja, de modo que a porcentagem que fica com a distribuidora é baixa, não implica em lucro, porém em sustentar a iniciativa. Assim conseguimos distribuir os livros da Outras Palavras com um preço de capa que avaliamos como razoável, considerando que são feitos em impressão digital por demanda na Gráfica Flavio Motta. Alguns outros livros que temos nós distribuímos com a WMF Martins Fontes, porém a taxa de distribuição é alta e são poucos livros que conseguimos distribuir com eles, apenas os de maior tiragem ou que tiveram apoio financeiro via edital. Entendemos esse esforço mais como divulgação a nível nacional da Editora, mas não é viável para todos os nossos títulos. A publicação impressa funciona como dispositivo de deslocamento em direção ao outro. Como vocês percebem isso em relação à publicação de vocês? Como vocês avaliam que elas chegam ao público? Recebem algum feedback? Como comentamos anteriormente, isso faz muito sentido para nós, especialmente na relação entre os professores e estudantes de outras faculdades. As publicações comunicam, identificam um repertório de ideias, de referências e de arquiteturas. Elas fortalecem vínculos. Ainda somos uma editora pequena, mas temos um público específico que acompanha nossa produção e vê importância na existência dessa editora, isso alimenta nosso trabalho. Como funciona (ou como funcionou) a estrutura de trabalho para produzir essa publicação? De quan-


tas pessoas é formado o editorial e qual a estrutura básica de operação? A estrutura da Editora da Cidade é formada por três professores que coordenam o núcleo de comunicação da Escola, uma editora executiva e quatro estagiários, estudantes na Escola da Cidade, que trabalham no período da manhã. Os três primeiros volumes da série foram desenhados e diagramados por um estúdio externo à Escola, que trabalhou conosco por um tempo. Os três próximos que estão no prelo já foram diagramados pelos estagiários da Editora. A revisão é feita por profissionais externos e da área, de modo pontual. E tivemos também colaborações de ilustradores ou fotógrafos que estudam ou lecionam aqui geralmente.

De quais modos vocês recebem e processam questões sociais, políticas e econômicas dentro de seu trabalho? – A publicação aborda tema(s) relevante(s) para informação e acesso dos cidadãos. Como se deu a escolha desses temas? Vocês entendem a publicação com um objeto que pode ser utilizado de forma educativa? Os temas escolhidos são assuntos relevantes já selecionados pelos professores da Escola da Cidade para estudantes de arquitetura e urbanismo, bem como para o público geral, pois as palestras são sempre abertas a quem quiser chegar. A partir desse leque de assuntos, nós selecionamos as falas que acreditamos que tenham um peso para

63 outras palavras – editora da cidade

Como foi financiada a impressão dessa publicação? Em que isso implica, para vocês? A impressão dessa coleção é feita em pequenas levas com verba do nosso caixa próprio e conforme as vendas imprimimos mais exemplares. Por ser de baixo custo conseguimos fazer assim tranquilamente.


compor um livro e repercutir ainda mais cada um desses discursos. Buscamos textos que discutam perspectivas democráticas sobre as cidades de modo geral, a partir de variadas áreas, temos por enquanto como autores: uma historiadora, um psicanalista, um sociólogo, uma doutoranda em Teoria literária e Literatura Comparada, um filósofo e um antropólogo. Alguns temas discutidos são as ocupações dos espaços públicos, as transformações e conflitos urbanos, sobreposições de interesses em lugares específicos, o caso do minhocão em São Paulo, a presença da população negra na cidade, a constituição de locais de encontro de grupos que se identificam etc. Quais os desafios e os potenciais em ser a editora de uma Escola de Arquitetura? Um desafio nosso e de qualquer editora que não tenha um cunho comercial é de produzir publicações de qualidade e conseguir divulgar o trabalho a valores acessíveis. O fato de serem livros com pequenas tiragens dificulta esse processo conforme comentamos. Seria muito bom ter mais editais e apoios abertos a publicações do tema. Os potenciais são muitos pois há uma produção constante na faculdade e uma “força de pesquisa” em movimento que alimenta a Editora e poderia ser melhor canalizada ainda. Aos poucos vamos criando essa cultura da produção de publicações a partir das investigações já realizadas no andamento do curso. A revista Cadernos de Pesquisa da Escola da Cidade por exemplo traz algumas pesquisas daqui e de outras faculdades que participam das jornadas de iniciação científica da Escola.


revista piseagrama

revista piseagrama

65


Como surgiu a ideia de fazer esta publicação? Surgiu com o edital do programa Cultura e Pensamento do MinC em 2010. Já havíamos feito alguns livros e revistas acadêmicas, e sentíamos falta de uma publicação que partisse da arquitetura e do urbanismo para discutir o mundo de forma ampliada, sem as limitações acadêmicas e para um público amplo. Como escolheram como meio de expressão/trabalho a publicação impressa, o editorial? Qual a relevância do formato impresso para veiculação de suas ideias e/ou discussões? O edital do MinC previa a publicação de 4 revistas de abrangência nacional com 6 edições bimentrais e tiragem de 10 mil exemplares distribuidos gratuitamente. Uma vez selecionados, a publicação impressa deixou de ser uma escolha para se tornar a regra. Nesse momento, nossa opção foi por ampliar o alcance e as possibilidades editoriais, disponibilizando também online e gratuitamente todo o conteúdo. Atualmente, após 11 edições da revista e depois de uma reestruturação da edição impressa com o fim dos recursos do edital, a edição impressa ganha outra relevância, uma vez que se propõe a ser uma experiência de leitura tátil, com textos mais longos e ensaios de imagens autônomos. Hoje existe uma enorme diversidade de assuntos, formatos e decisões possíveis a um material impresso. O que norteou as tomadas de decisão para a criação dessa publicação? A discussão acerca do espaço público, das possibilidades de vida em comum, e o desejo de interferir no imaginário, prospectando outras formas de vida. Quais os limites que vocês veem atualmente no formato de publicação impressa? Limite orçamen-


tário e de distribuição, uma vez que imprimir uma revista com qualidade custa caro e distribuir milhares de exemplares, fazendo que que estes cheguem às mãos dos reais interessados, é um desafio difícil e complexo. A existência dessa publicação impressa dialoga com alguma plataforma digital? Como vocês vêm essa relação? O site é um espelho e um prolongamento da versão impressa, apesar das possibilidades audovisuais, etc. Mas a grande dificuldade é mesmo produzir mais conteúdo na temporalidade da internet, cada vez mais efêmera e voraz. Entretanto, que todos os conteúdos estejam disponíveis online sempre foi uma premissa da PISEAGRAMA, visando atingir estudantes, interessados e distraídos, que não necessariamente precisam conhecer e comprar a revista impressa.

O que vocês acham da construção de um lugar de trocas entre publicadores? Qual a relevância disso para a constituição de redes? De certa forma as feiras de publicações acabam por configurar lugares de trocas e de construção de redes informais. Mas o mais difícil é criar redes com objetivos comuns, como a distribuição das publicações por exemplo. Pois estas requerem, mais do que afinidades conceituais, uma organização e uma gestão coletiva, envolvendo rotinas burocráticas e recursos. Um dos grandes desafios para a produção editorial (especialmente a independente) são os me-

67 revista piseagrama

Além da publicação que separamos como mediadora desse diálogo, existe alguma outra que conte um pouco sobre o processo particular de vocês? Feita por nós?


canismos de distribuição. Como vocês entendem essa parte do processo? Como lidam com a distribuição de sua publicação? Ao longo dos anos, desde o fim da distribuição dos 6 primeios números pelo MinC, vimos tentando aprimorar e ampliar a distribuição, mas o sistema de vendas por consignação vigente nas livrarias e a precarização dos Correios são desafios às vezes intransponíveis para publicações independentes em um país das dimensões do Brasil. A publicação impressa funciona como dispositivo de deslocamento em direção ao outro. Como vocês percebem isso em relação à publicação de vocês? Como vocês avaliam que elas chegam ao público? Recebem algum feedback? Recebemos menos retornos dos que gostaríamos, alguns elogiosos e outros relacionados à dificuldade de distribuição da publicação: revista não chegou ainda, veio amassada, etc. Como funciona (ou como funcionou) a estrutura de trabalho para produzir essa publicação? De quantas pessoas é formado o editorial e qual a estrutura básica de operação? Inicialmente por 4 editores, em um segundo momento com 2 estagiários que se tornaram editores-assistentes após a conclusão da graduação, e atualmente estes seis mais uma estagiária. Desde o início um estrutura de trabalho flexível e não especializada onde todos fazem e opinam sobre tudo, com dois encontros semanais. Tentando melhorar a distribuição e a comunicação com os leitores, algumas tarefas como contatos com livrarias, gestão de vendas e redes sociais ficaram sob a responsabilidade de pessoas específicas. Como foi financiada a impressão dessa publicação? Em que isso implica, para vocês? No início com recursos do programa Cultura e Pensamento do


MinC (edições 1-6) os números 7 e 8 através de um financiamento coletivo que angariou 1.001 colaboradores-assinantes e desde então com recursos de assinaturas que são complementados com edital de lei de incentivo municipal. De quais modos vocês recebem e processam questões sociais, políticas e econômicas dentro de seu trabalho? Sem separações, compartimentações ou hierarquias. Mas sempre respeitando a temporalidade semestral da revista, o que implica em conteúdos que sejam relevantes para além das urgências sociais, políticas e econômicas que assolam o noticiário.

Talvez mais do que educativa, a função de uma publicação como a PISEAGRAMA, seja ser “transformativa”, desfazendo paradigmas, discutindo ideias prontas, combatendo pré-conceitos, apresentando perspectivas, colapsando hireraquias, coexistindo formas de vida diversas e divergentes e projetando imaginários compartilháveis.

69 revista piseagrama

A publicação aborda tema(s) relevante(s) para informação e acesso dos cidadãos. Como se deu a escolha desses temas? Vocês entendem a publicação com um objeto que pode ser utilizado de forma educativa? Os temas são pensados e organizados como uma agenda, um projeto para repensar o mundo e as formas de vida instituidas a partir de recortes temáticos.


publicação como modo de fazer arquitetura

Versão editada e impressa no contexto da pesquisa realizada por Paula Lobato. UFMG, junho de 2018


71


anexo Paula Lobato e Lucas Kröeff


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.