Revista TOC - Abril 2014 (p. 20-23)

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Como humanizar um «bicho de sete cabeças»? I Conferência do Colégio da Especialidade de Contabilidade de Gestão

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Faculdade de Economia do Porto (FEP) formou muitos decisores e gestores que dão cartas intramuros e no estrangeiro. O Bastonário da Ordem foi mais longe e chamou-lhe país. Com mais ou menos solenidade, o minimalista salão nobre da FEP recebeu, a 28 de março, a I Conferência do Colégio da Especialidade de Contabilidade de Gestão, subordinada ao tema «No preCerca de quatro centenas de pessoas, senciaram in loco mais uma etapa de aprofundamento do relacionamento da Ordem com a academia, facto realçado por Domingues de Azevedo na abertura dos trabalhos. «No contexto de crise social é fundamental entender o resolução dos problemas das empresas, algumas a braços com exemplos das bases da contabilidade que en-

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tendo que os dirigentes da OTOC têm centou o Bastonário. «Bem sei que a contabilidade de gestão está associada a um “bicho de sete cabeças”, mas a percetibilidade da contabilidade é determinante e só é possível se se “popularizar” a contabilidade de gestão à dimensão das empresas de forma a

Colégio de Especialidade de Contabilidade de Gestão da Ordem referiu ser e que acontecimentos desta natureza servem para «despertar o interesse de

João Ribeiro não tinha tarefa fácil. Era o escolhido para o pontapé de saída. E partilhou com os seus ouvintes as suas interrogações: «Ter a primeira apresentação do dia é uma bênção ou -se de desmentir os maus presságios. O docente da FEP dissecou a temática do papel do controller na organização, bem como a inovação assente em instrumentos com conceitos muito simples, mas bastante úteis para as instituições, como é o caso do balanced scorecard. João Ribeiro, antigo controller de uma empresa, sentiu na pele a exigência desta função, e admitiu que «a complexidade crescente da gestão

acrescentou, «quando as empresas têm menos espaço de manobra despertam Oliveira foi o seguinte representante da FEP a intervir, com a dissertação soAmaro, moderou o primeiro painel dos trabalhos, subordinado ao tema «A contabilidade de gestão: um instru-

dade e controlo de gestão. O docente admitiu que este ramo da contabilida-


João Ribeiro

João Oliveira

de está a dar os primeiros passos, devido «à escassa regulamentação e instiestão em força, carregam grandes responsabilidades, sendo business partners com grande relevância nos dias que correm. E que deve saber um controller para desempenhar da melhor maneira o seu papel? «Conhecer o negócio, saber o detalhe do processo produtivo e melhorar o relacionamento pessoal, melhorar a análise crítica. No fundo, O orador apresentou, de seguida, uma curiosa investigação da Ordem dos Contabilistas do Quebec, no Canadá, a partir de brochuras que transmitem informação relevante sobre os valores e a mudança cultural. É nesta viagem pelo tempo que se pode observar a len70, 80 e 90. Do impacto causado pelas início do século XX, até à noção de «inde consultor e o valor acrescentado descontração e a informalidade foram que necessita de manter as competências tradicionais, em paralelo com a das nos tempos modernos. Sobre o futuro do segmento da contabilidade de gestão, João Oliveira não podia estar mais otimista. Trata-se de uma colégio da especialidade da OTOC «é um

Graça Amaro

Cláudio Silva

Contabilidade de Gestão aplicada à indústria do peixe «Fatores que contribuem para o (in) sucesso de um processo de implementação de um sistema de Contabilidade

tendeu-se «divulgar fatores que os contabilistas deverão ter em atenção aquando a implementação de um sistema de contabilidade de gestão e trazer para a esfera do trabalho do técnico

título é longo mas espelha o que se viu e ouviu ao longo de cerca de 40 minutos de apresentação de Cláudio Silva que trouxe à colação o caso de uma empresa de preparação e congelação de peixe, descrevendo com os pormenores essenciais, todas as fases do processo pela qual a entidade passou. «Iniciar a implementação de um sistema de contabilidade de gestão é iniciar um processo de mudança e isso implica

essencialmente técnicos, mas também os aspetos metodológicos relacionados com a implementação de um sistema de contabilidade de gestão, numa

docente universitário. Feito o diagnóstico das necessidades da empresa, o orador explicou passo a táculos que foi necessário ultrapassar e também aquilo que não foi possível implementar. Feito o balanço, Cláudio Silva apresentou alguns dos fatores que funcionaram de forma favorável à implementação do sistema de contabilidade de gestão, como o mercado competitivo, a procura de mercados internacionais, a expectativa de grande crescimento no mercado nacional ou o apoio do diretor de produção. No lado oposto, salientou a falta de disposição de contas, a divergência das pessoas encarregues pelos registos no sistema informático ou a falta de coordenação das pessoas chave da organização. Em resumo, sintetizou o orador, pre-

Modelos de gestão para a eletricidade e para a construção civil O tema, como fez questão de vincar o orador, não é novo, tem já algumas décadas mas deve continuar a merecer a melhor atenção dos gestores. «Controlo e repartição de custos de eletricidade ciou a importância que o registo, repartição e controlo dos custos de eletricidade pode e deve ter numa empresa. O docente universitário não tem dúvidas de que o modelo apresentado permite a «negociação de tarifas, eliminação de energia reativa ou a laboração

ainda para a importância do domínio das quantidades, vetor que considerou «fulcral. Só que nós, em Portugal, não costumamos ter essa preocupação. A criação de uma cultura de medida das quantidades é indispensável a um bom Seja como for, o também especialista do Colégio de Contabilidade de Ges-

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Paulino Silva tão não tem dúvidas de que «o modelo pode ter grande impacto na redução dos custos de eletricidade e pode ajudar a melhorar a qualidade de repartiO segundo painel do dia, moderado Faculdade de Economia da Universidade do Porto, dedicado às «Aplicações da Contabilidade de Gestão: estudo de da ao tema «Do controlo orçamental tradicional às ferramentas integradas de Gestão ( e balanced scorecard) – um exemplo para o Porque «acompanhar a estratégia das organizações contentando-se apenas com ferramentas de gestão tradicionais e rígidas, baseadas no mero controlo orçamental tradicional, não TOC trouxe o conceito de rolling forecast aplicado à construção civil, setor onde tem desempenhado a sua ativiinclui previsões dinâmicas que se traduzem em orçamentos efetuados em cada seis meses ou em cada trimestre (ao contrário do orçamento anual), que tem um horizonte de projeção de 12 do em acentuada e rápida mudança, a sua utilização acaba por trazer óbvias vantagens. O mesmo se poderá dizer do balanced scorecard (BSC), «um modelo de gestão que permite às organi-

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Aplicados estes modelos a uma empresa de construção civil portuguesa com projeção internacional, as vantagens, no entender do orador, são óbvias. «O setor da construção civil e, particularmente os seus projetos de maior dimensão, são exemplos ricos de como ferramentas integradas de gestão podem desempenhar um papel fundamental no teiro que sustentou ainda ser no «plano internacional que as alterações nas variáveis e a atuação da concorrência são mais fortes, tornando indispensável

Convencer: o papel fulcral dos TOC A sessão vespertina arrancou com «Performance management in the puPaulino Silva que tentou evidenciar a importância dos sistemas de medição de desempenho nas organizações e, no caso em concreto, no setor público da saúde em Portugal, num painel moderado por Amélia Ferreira da Silva, docente do ISCAP. Depois de explicar que os sistemas de medição de desempenho são «uma das componentes dos sistemas de controlo de gestão e representam uma das ferramentas mais utilizadas para aumentar a probabilidade de se alcançarem os objetivos delineados, quer pela gespassado em revista alguns deles, como o balanced scorecard, o ou o , Paulino Silva dispensou alguns minutos a falar sobre os sistemas de controlo de gestão, an-

tes de entrar na apresentação do estudo de um caso no serviço nacional de saúde que englobou três organizações de cuidados primários portugueses. Este foi, de acordo com o orador, o primeiro estudo que utilizou o modelo de gestão do desempenho de Otley para analisar as práticas de gestão de desempenho em organizações de cuidados primários. «Este modelo demonstrou ser muito útil no contexto do setor Apesar do estudo ter já praticamente uma década e de terem sido evidenciadas algumas das suas limitações, muitas das suas conclusões poderão manter-se atuais e, garantiu o orador, «já existem em Portugal extraordinários exemplos de preocupação com a medição e gestão do desempenho or«se os TOC provarem aos gestores, diretores e administradores que a Contabilidade de Gestão traz valor acrescentado. Sem isso, não há volta a dar. O TOC tem aqui um papel fulcral. Não há mais ninguém nas organizações que Luís Rodrigues analisou as normas internacionais de contabilidade como fonte de informação para a gestão de projetos e apresentou uma exposição que teve como pano de fundo a obtenção de informação de gestão para acompanhamento e controlo de projetos a partir das IAS 11 – Contratos de construção e IAS 18 – Rédito. O especialista do Colégio de Contabilidade de Gestão passou em revista


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Luís Rodrigues

Amélia Silva

os conceitos, centrando-se depois nos contratos de construção e projeto, na sua gestão, na determinação da percentagem de acabamento e nos indicadores para a gestão de projetos. «A informação obtida na sequência do aproveitamento para cumprir as normas contabilísticas IAS 11 e IAS 18 revela-se de grande importância porque permite aos gestores o conhecimento em tempo útil da performance dos seus projetos ou contratos, tomando as ações necessárias para atingir os

A cultura do risco lar da gestão da incerteza. O inesperado e o risco, temas tão atuais nas sociedades modernas, dominaram a sua intervenção. Antes de enveredar pela carreira de docente, o professor jubilado do ISCAL foi analista de risco no setor segurador. O vogal do Colégio da Especialidade de Contabilidade de Gestão da Ordem debruçou-se sobre as diretivas Seveso e Basileia, no seguimento de uma fuga de pesticidas na Índia e de um incêndio na cidade suíça, respetivamente, e as suas mento empresarial. Depois de admitir te preparados para adotar as diretivas mam são de enorme exigência para os domínio da Contabilidade de Gestão, nomeadamente na feitura do relatório

que analise o risco do negócio. Na conclusão dos trabalhos, José An-

metros quadrados de área para «conferir uma maior dignidade à instituição

de jogar em casa, na faculdade onde

na Invicta deverá rondar os seis milhões de euros, incluindo obras de readaptação. Domingues de Azevedo explicou

fez para não se repetir, sistematizando o papel e as competências do colégio a que preside, traçando o seu potencial de evolução num futuro próximo, elencando a investigação e a formação a qualidade do serviço prestado pelos TOC e intervir na cultura empresarial não abdica. E o que fazer perante o aumento da concorrência e a redução das avenças? Primar pela diferença, oferecendo serviços distintos. O professor da FEP lembrou que ser especialista não é uma nomeação vitalícia, até porque o título que é atribuído só tem validade de cinco anos. Como iniciativas que deverá ser promovido um inquérito as necessidades de formação sentidas neste segmento da contabilidade. OTOC no Porto terá nova casa Para o Bastonário, foi um dia cheio e intenso. Domingues Azevedo tinha a satisfação estampada no rosto. Percebia-se. Depois da sessão de abertura, desdobrou-se em reuniões e deu mais um passo para a aquisição das novas instalações da representação permanente no Porto, localizada na Rua Saraiva de Carvalho, à Batalha, que incluirá um centro de formação com capacidade para mil pessoas

para uma nova política de «reorientação de gastos. A Ordem pagou, em Lisboa e Porto, só em aluguer de espaços, uma média de 380 mil euros nos últimos três anos. A partir de agora estaremos a pagar o que é nosso. Isto é construir o fucurso um processo semelhante, com as negociações adiantadas. Depois de anunciar a boa nova aos membros da cidade Invicta, as palavras debate na FEP. «Não existe tradição de os membros utilizarem a contabilidade analítica como instrumento nas empresas, mas estou em crer que é crescente a percetibilidade da mais-valia destes instrumentos para os empresários, os destiSobre as oportunidades de negócio que se abrem, disse que a contabilidade pública é um dos terrenos por explorar em que este segmento contabilístico pode desempenhar um papel decisivo. Domingues de Azevedo alertou ainda que «quando os clientes se sentem seguros com o seu TOC eles não vão trocá-lo por outro que pratique aven-

Fotos e vídeos disponíveis no Flickr e no Canal do TOC

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