Catálogo de gravações de sons animais em Portugal

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Versão 1.0

Catálogo de gravações de sons animais em Portugal entre 1977 e 2010 Identificação para a sua preservação

Paulo A. M. Marques (coordenador) Susana F. Pereira Daniel M. Magalhães

ISPA – Instituto Universitário e Museu Nacional de História Natural e da Ciência Lisboa 2012


Estudo realizado no âmbito do projeto HC/000/2009 “Paisagens Acústicas Naturais num Mundo em Mudança: Preservar o Passado e Construir as Memórias do Futuro” financiado por fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e coordenado por Paulo A. M. Marques (Ph.D.).

Citação Marques, P.A.M., Pereira, S.F. & Magalhães, D.M. 2012. Catálogo de gravações de sons animais em Portugal entre 1977 e 2010: Identificação para a sua preservação. Versão 1.0. ISPA-IU & MNHNC. Março, Lisboa.

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Introdução Este catálogo foi desenvolvido no âmbito do projeto HC/000/2009 “Paisagens Acústicas Naturais num Mundo em Mudança: Preservar o Passado e Construir as Memórias do Futuro” financiado por fundos Nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Está integrado na pesquisa histórica sobre a Bioacústica em Portugal pertencendo a um conjunto de documentos que caracterizam o desenvolvimento desta área de conhecimento, o inventário dos gravadores de sons animais (Marques et al 2012a) e o catálogo de equipamento de usado na gravação de sons naturais (Marques et al. 2012b). As gravações dos sons animais são parte do nosso património científico e natural com valor histórico e científico que importa preservar. A sua melhor preservação só pode ser realizada após um levantamento que identifique objetos, os caracterize e documente. As gravações constituem uma memória ecológica acústica de um local num tempo e com tal insubstituível. Preservadas as gravações têm o valor de poderem ser usadas para fins que não os originalmente pensados e com isso contribuir para o aumento do conhecimento da biodiversidade. O catálogo de gravações de sons animais pretende identificar os detentores de gravações de sons animais, localizar e documentar as gravações realizadas em Portugal de modo a contribuir para a seu conhecimento e assim facilitar a sua futura preservação. Nomeadamente, este estudo documenta o conjunto de gravações identificado quanto à sua

abrangência temporal, taxonómica e espacial.

Pretende-se ainda caracterizar as gravações no que diz respeito ao volume de gravações (dimensão), suportes em que estão registadas, posse, localização e estado de depósito.

Catálogo de gravações de sons animais em Portugal

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Métodos A recolha da informação apresentada neste catálogo foi realizadas através de entrevistas e questionários realizados a autores de gravações (investigadores/gravadores) de sons de animais completada como com informação recolhida através de bases de dados de publicações científicas nas quais se identificaram artigos de bioacústica e seus autores. Para este fim foram consultados a plataforma ISI Web of Knowledge e o Google Scholar utilizando combinações de palavras-chave como “bioacoustics”, “Portugal”, “song” ou “call” (informação detalhada em Marques et al. 2012a). O âmbito temporal é de 1977 a 2010. Neste estudo designa-se por gravadores, as pessoas que tenham realizado gravações de animais ou estudado os sons animais usando gravações de outros. Previamente (Marques et al. 2012a) foram identificados 78 gravadores que realizaram gravações de sons animais em Portugal no período entre 1977 e 2010 tendo entrevistado ou inquerido 62,8% destes (num total de 14 entrevistas e 35 inquéritos). As entrevistas e inquéritos constituíram a base de informação do corrente estudo. Neste trabalho agrupou-se as gravações por autor sendo esta a unidade do catálogo. Caracterizou-se assim, para os autores com gravações próprias, a dimensão do seu conjunto de gravação, o suporte em que estão registadas, a localização, o local onde foram registados, o período temporal que corresponde às gravações e os grupos taxonómicos registados. Na caracterização do suporte físico em que as gravações estavam registadas foram identificadas as seguintes classes cassetes (tipo normal); cassetes DAT; HD que inclui discos rígidos e discos externos para além de cartões de memória; DVD/CD; Bobines e Bandas; e mini-discos, com os autores muitas vezes a utilizar mais que um tipo de suporte durante a sua atividade. A dimensão do conjunto de gravação foi estimada em GB (gigabites) tendo se calculado para os suportes não digitais um indicador de dimensão através duma estimativa da sua dimensão em GB. Para tal considerou-se uma digitalização a 16 bits e 44kHz (10.1 MB por minuto) e assumiu-se cassetes, minidiscos e bobines com uma duração de 60 minutos. Considerou-se ainda os CD como contendo 600 MB e os DVD 4 GB de gravações. A localização das gravações foi divida em classes de modo a contribuir para avaliar o risco de perda a que estão sujeitas, do menor para maior grau de risco de perda, em arquivo de sons (coleção biológica); no Xenocanto (sítio de internet de depósito de gravações dedicado aos sons das aves); em instituições científicas, de investigação ou conservação; com outros; e com o próprio. O local onde foram gravadas utilizando distritos, NUTII, e as designações norte, centro e sul de Portugal. A informação não determinada ou não determinável está assinalada com ND e apesar do esforço de recolha deve influenciar os resultados sobre estimando-os.

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Resultados e Discussão Identificar A lista de gravações inclui 47 autores, 60% do total autores identificados (78, Marques et al. 2012a), que detêm ou detiveram gravações próprias (Tabela 1), sendo que os restantes ou não tinha gravações próprias ou foi impossível recolher informação. Este Valor representa uma fracção importante da comunidade de autores de gravações. Documentar Geograficamente, e a uma escala regional, as gravações cobrem a maioria do território nacional (Tabela 1), com uma boa representação dos Açores e Madeira e a maior concentração de gravações a centro e sul do território continental. De salientar a existência de 4 autores que realizaram gravações em cativeiro. Na dimensão temporal, e considerando as gravações inventariadas, observa-se que as atividades de gravação cobrem todo o período da bioacústica (Tabela 1, Figura 1). Existindo um aumento do indicador (nº de autores de gravações em atividade) com o decorrer dos anos, especialmente entre o fim dos anos oitenta e o início dos século XXI. Padrão que reflete o aumento geral de investigadores em Portugal e do investimento em ciência (Marques el at. 2012a).

Intensidade de gravações

(Número de autores de gravações)

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2009

2007

2005

2003

2001

1999

1997

1995

1993

1991

1989

1987

1985

1983

1981

1979

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1977

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Anos Figura 1 – Variação da intensidade de gravação (medida pelo número de autores de gravação com atividade por ano).

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Os principais grupos de animais que produzem sons foram objecto de gravação ao longo deste período (Figura 2). As aves com o maior número de autores de gravações (Figura 2A) e em dimensão estimada de gravações (Figura 2B). Contudo, para alguns grupos o número de autores de gravações não corresponde à dimensão estimada das gravações como são o caso de mamíferos, marinho, morcegos e peixes (Figura 2B). Nestes grupos e apesar do número mais reduzido de autores de gravações existe uma elevada dimensão de material gravado.

A

B

Figura 2 – Variação da cobertura taxonómica utilizando como indicadores: A – o número de autores de gravações e B – indicado de dimensão em GB. Caracterizar As gravações identificadas correspondem a cerca de 6 TB, incluindo apenas as que foi possível realizar uma estimativa da dimensão, informação proveniente de 31 autores), com cada autor a deter cerca em média 0.200 ± 0.343 TB de gravações (variando entre 1 TB e 0.001 TB) (tabela 1). Dimensão suficiente para justificar a dedicação de um projeto específico. Os autores de gravações usaram diferentes tipos de suporte que vão de bobines até mini-discos e ainda discos rígidos e externos (Figura 3). Neste trabalho foi estimado a existência de cerca de 500 objetos que contém gravações, sendo o mais comum as cassetes, é ainda de salientar a existência de cerca de 50 bobines (Figura 3). Contudo uma fracção significativa destes autores detêm gravações em suporte tipo HD (i.e. discos rígidos, externos, cartões de memória) (Figura 3).

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Meio de suporte Figura 3 – Tipos de suporte utilizados para as gravações de sons animais. Número de unidades de cassetes, DAT, DVD/CD, Bobines (e bandas), Mini-discos e número de autores de gravações com gravações nos diferentes suportes incluindo HD (discos rígidos, externos e cartões de Memória).

Os resultados evidenciam que que a maioria das gravações identificadas se encontram na posse do próprio, mais de 80%, com apenas 14% em arquivo (Figura 4). Resultados que demonstra que a generalidade deste material se encontra com um grau moderado a elevado de risco devido à descontinuação da tecnologia em que estão suportados e assim como devido ao risco de perda por não estarem depositados em arquivos .

Figura 4 – Localização das gravações dos diferentes autores e gravações com o próprio, em arquivo de sons (constituído como coleção científica de história natural), na posse de instituições e no xenocanto (um sítio de internet no qual é possível depositar gravações e que segue critérios próximos de arquivo).

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Este trabalho identificou quase meia centena de gravadores com gravações próprias. Esta gravações representam um cobertura que à escala regional engloba todas a regiões de Portugal com uma boa representação incluindo os Açores e a Madeira. Temporalmente estas centram-se nas duas últimas décadas, altura em que se atingiu o maior de autores de gravações em geral (Marques et al. 2012a). Os principais grupos animais que produzem sons estão representados neste conjunto de gravações onde se destacam as aves em termos de autores dedicados e os peixes, mamíferos marinhos e morcegos em dimensão. Convêm salientar que existe a uma fracção das gravações não foi possível identificar devido à incapacidade de levantar todas as fonte de informação apesar da abordagem metodológica adoptada, esta gravações poderão ter um importante valor quer pela sua singularidade quer pela dimensão.. No seu conjunto a dimensão das gravações identificadas foi estimada em cerca de 6 TB, estando maioritariamente em formato digital, contudo uma fracção significativa encontra-se e outro suportes como cassetes ,DAT, Bobines ou CD/DVD. Suportes que levantam preocupações devido à sua vida média e ao facto de ser cada vez mais difícil encontrar equipamento que permitam aceder à informação encerra neles. No que diz respeito à posse verificou-se neste trabalho que cerca de 80% do material gravado se encontrar com os próprios e que uma fração minoritária se encontra já depositada entre elas as gravações pioneiras de Crespo e sua equipa. Factos que em conjunto salientam as gravações como um corpo de património significativo, do ponto de vista de abrangência espacial, temporal e taxonómica que está em risco moderado no que diz respeito ao suporte a grave relativamente ao local onde estão depositadas.

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Agradecimentos A equipa deste trabalho agradece a colaboração dos diversos autores de gravações que se disponibilizaram a contribuir para este estudo respondendo às questões da entrevista e do questionário.

Referências Marques, P.A.M., Magalhães, D.M. & Pereira, S.F. 2012a. Inventário dos gravadores de sons animais: Identificação de fontes primárias de informação para a história da bioacústica. Versão 2.0. ISPAIU & MNHNC. Março, Lisboa. Marques, P.A.M., Magalhães, D.M. & Pereira, S.F. 2012b. Catálogo de equipamento de usado na gravação de sons naturais: Identificação para a história da bioacústica. Versão 1.0. ISPA-IU & MNHNC. Março, Lisboa.

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Anexo Tabela 1 – Inventariação das gravações de sons animais existentes em Portugal por autor. Caracterização quanto à Dim- Dimensão em MB, tipo de suporte (HD- disco rígido, discos externos ou cartões de memória), localização onde se encontram as gravações com indicação da localização regional das gravações, período assim como o grupo taxonómico e disponibilidade para depósito. ND – não determinável/determinado. Tabela integrada na Base Documental da Bioacústica ASNP BDB0078. Autor

Dim

Suporte

Localização

Local

(GB) Alexander C. Lees Amélia Fonseca Ana Chumbinho Ana Rainho Ana T. Mamede António Ferreira Artur R. Serrano Brancolas Catarina Moreira Colm C Moore Danilo Russo Eduardo Crespo Gonçalo Cardoso Herman van Oosten Hugo Vitorino Rebelo Jerome Sueur João Nunes João Pargana Jonathan Gordon José Pedro Amaral

ND ND ND 700 40 2 ND 40 40 ND 10 ND 103 50 200 1.5 5 ND 100 ND

Periodo

Grupo taxonómico

(Ano) ND ND ND HD HD HD ND HD e DVD CD ou DVD ND HD, Cassetes cassettes e disquetes HD e Cassetes HD HD DAT HD ND HD ND

Xenocanto/Com o próprio Com o próprio Com o próprio Com o próprio Instituição Com o próprio Com o próprio Xenocanto/Com o próprio Instituição Com o prórpio ND Outro Instituição Xenocanto/Com o próprio Com o próprio Com o próprio Com o próprio Outro Com o próprio Com o próprio

Madeira Açores Baixo Alentejo Portugal Coimbra Setúbal Cativeiro Cativeiro Portugal Alentejo Madeira Portugal Coimbra Madeira Portugal Sul de Portugal Madeira Portalegre Açores Centro e Sul de Portugal

2008 2009 2001 1993-2010 2002-2007 1989 2001 2002-2010 2000-2010 ND ND 1977-1995 ND 2009 2001-2010 2001 2008-2010 1995-2004 1986-1996 ND

Aves Morcegos Aves Morcegos Aves Mamíferos marinhos Insectos Aves Anfíbios Aves Morcegos Anfíbios Aves Aves Morcegos Insectos Aves Anfíbios Mamíferos marinhos Anfíbios


Autor

Dim

Suporte

Localização

Local

(GB) José Quartau Luis Antero Luís Gordinho Luís Monteiro (falecido) Luís Vicente Magnus Robb Manuel E. Santos Margarida Ferreira Maria Clara Amorim Maria Inês Moreira M. Packert & J. Martens Mónica Silva Museu da Baleia Niels Bouton Paul James Paula Simões Paulo A. M. Marques Paulo Fonseca Paulo Fontoura Paulo Gama Mota Rafael Marquez Richard Ranft Roef Mulder Sarah Collin et al. Stefan Leitner Tito Alves Silva Vicente Palacios

24 100 5 ND 35 840 14 ND 1000 ND ND 1000 ND 2 ND ND 30 1000 3 700 36 50 2 ND 40 2 15

Periodo

Grupo taxonómico

(Ano) Bobines, DAT HD HD ND Bobines, cassetes, HD e CD HD, DVD e DAT HD, Bandas, CDs e DVDs ND HD ND ND HD e cassetes digitais Cassetes DAT HD ND Cassetes HD, DAT e cassetes HD, DVD e bandas de Uher Cassetes HD e cassetes Cassetes e bobines HD e cassetes HD ND CD Mini-­‐Disc HD e cassetes

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Outro Outro Com o próprio Outro Com o próprio Com o próprio Com o próprio Com o próprio Com o próprio Com o próprio Arquivo, Com o próprio Instituição Instituição Com o próprio Com o próprio Com o próprio Com o próprio, Arquivo Com o próprio Com o próprio Com o próprio Arquivo Arquivo, Com o próprio Xenocanto, Com o próprio Com o próprio Com o próprio Com o próprio Arquivo, Com o próprio

Centro e Sul de Portugal Coimbra Aveiro Açores Portalegre Portugal Sul de Portugal Portalegre Montijo e Cativeiro Alentejo Açores Açores Açores e Madeira Açores Madeira Sul de Portugal Sul de Portugal Cativeiro Amarante Coimbra e Baixo Alentejo Portugal Monsaraz Algarve Lisboa Madeira Centro de Portugal Norte de Portugal

1988-2005 ND 2010 1993-1995 ND 2001-2010 1987-2010 2002 1997-2010 1997 e 1998 2000 e 2001 1999-2010 2000-2010 2004-2007 1983 1997-2008 1999-2010 1986-2010 2003 1991-2002 1995-2002 1999 2010 2002 1996-1998 ND 2000-2010

Insectos Aves, Mamíferos Aves Aves Anfíbios, Aves Aves Mamíferos marinhos, Peixes Anfíbios Peixes Aves Aves Mamíferos marinhos Mamíferos marinhos Peixes Aves Insectos Anfíbios, Aves Insectos, Peixes Aves Aves Anfíbios Insectos Insectos, Aves Aves Aves Insectos, Aves Mamíferos

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