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JORNAL DE NOTÍCIAS QUINTA-FEIRA 10/4/14
&
Artes //Vidas Leica veio revolucionar o conceito de fotografia
MOMENTOS
Nascida para captar a vida v Máquina fotográfica Leica
v Nomes míticos da fotografia,
surgiu há 100 anos, na Alemanha. Tudo começou por causa da asma
como Henri Cartier-Bresson e Robert Capa, eram apreciadores
Ana Vitória anavito@jn.pt
dá para fazer tudo. Fotografa o essencial. Costumo compará-la a uma espécie de carro desportivo. Também este não dáparaserutilizado em diferentes ocasiões”. Não obstante, o fotógrafo confessa que os melhores trabalhos do seu currículo – por exemplo, os que fazem parte do álbum “Portugueses” – foram todos feitos com recurso à icónica máquina. “A Leica foi uma câmara sempre voltada para captara história, as pessoas e a vida. Não é uma câmara de estúdio. É para sair à rua e captar avida”, como disse, recentemente, Hans-Michael Koetzle. Este jornalista e investigador alemão, especializado em História e Teoria da Fo-
Em abril de 1914, nascia a Leica, a primeira máquina fotográfica portátil da história. Foi o objeto de culto de nomes como Henri Cartier-Bresson e Robert Capa e revolucionou o conceito de fotografia. udo terá acontecido por causa da asma. Conta-se que o engenheiro Oskar Barnack padecia da doença e que, apaixonado pela fotografia e pela vida ao ar livre, pensou em diminuir o formato das pesadas máquinas fotográficas existentes na altura. Os primeiros protótipos surgiram durante os anos da I Guerra Mundial, na fábrica de materiais óticos Ernest Leitz, em Wetzlar, Alemanha. A primeira Leica (abreviatura de Leitz Camera) só apareceu no mercado em 1925, mas foi êxito imediato, sen-
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do a primeira realmente portátil, de 35 milímetros. E, dali em diante, aLeicatornar-se-ia uma marca de culto e revolucionaria a fotografia. Com a nova máquina, tornou-se possível disparar 36 fotografias de seguida. A câmara dotou os fotógrafos do poder da “invisibilidade”, graças ao tamanho e ao peso diminutos. “Passados 100 anos, continua a ser imbatível. O único defeito é ser tão cara”, diz o multipremiado fotógrafo e autor do programa “Fotografia total”, na TVI24, Luiz Carvalho, ele próprio utilizador da marca. “A Leica é robusta, discreta, muito fiável e tem uma qualidade ótica que, de facto, continua a superar qualquer outra máquina. E estas são, na essência, a razão do seu êxito”. Luiz Carvalho que comprou asuaprimeiraLeicaem segunda mão, em 1976, sublinha que esta não é uma câmara muito versátil. “Não
ÚNICA UNIDADE INDUSTRIAL DA LEICA FORA DA ALEMANHA ESTÁ EM FAMALICÃO
tografia e responsável pela exposição do jubileu, que será inaugurada em Hamburgo, em outubro próximo, escolheu mesmo algumas imagens captadas com a Leica nos anos 50 e 60 por fotógrafos portugueses, como Gérard Castello-Lopes e Sena da Silva. Hoje, a marca é uma autêntica lenda viva, ainda usada pelos fotógrafos mais importantes do Mundo. O brasileiro Sebastião Salgado, por exemplo, utilizou-a aquando do desenvolvimento do trabalho sobre as minas de ouro no Brasil. O mesmo acontecendo com a norte-americanaAnnie Leibovitz, que tem usado a Leica nas fotos de celebridades. “A marca soube adaptar-se às novas tecnologias sem nunca perder a essência. Por exemplo, lançou a M9, uma versão digital, e tem também uma M monocromo, que só faz fotografias a preto e branco, mas até nisso é muito especial”, conclui Luiz Carvalho. v
Fotografias icónicas Houve disparos notáveis feitos com a Leica, como o icónico retrato de Che Guevara, captado por Alberto Korda, o célebre beijo fixado por Alfred Eisenstaedt, em Times Square, que simbolizou a vitória dos Estados Unidos sobre o Japão, e a trágica imagem da menina
rigido por Billy Wilder, de 1953. A Leica também participou em clássicos como “La dolce vita”, de 1960, e “Chinatown”, de 1974. Brad Pitt fotografou com uma Leica M6 em “Jogo de espiões”, de 2001, Julia Roberts utilizou-a em “Closer”, de 2004, e Scartett Johansson passeou-se com uma em “Vicky Cristina Barcelona”, de 2008.
A fábrica portuguesa
vietnamita correndo nua depois de ser ferida por uma bomba, captada em 1972, por Nick Ut.
A Leica e o cinema O primeiro filme em que uma personagem usou a câmara foi em “Stalag 17”, di-
A fábrica de Lousado, em Vila Nova de Famalicão, é a única unidade da Leica fora da Alemanha. Cerca de 90% da máquina é feita em Portugal.