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JORNAL DE NOTÍCIAS DOMINGO 22/12/13
PAULO JORGE MAGALHÃES / GLOBAL IMAGENS
//Política
A condição económica do país não é razão para não se regionalizar. Eé preciso discutir o papel dos municípios, que vão assumindo competências sem contrapartida financeira”.
ENTREVISTA //PAULO CUNHA Presidente do Conselho Regional do Norte
“O Norte precisa de ser refundado” Alexandra Figueira e Paulo Ferreira politica@jn.pt
leito presidente do Conselho Regional do Norte (órgão que junta todas as autarquiasdaregiãoe20entidades ligadas ao tecido empresarial e académico) no passado dia 17, Paulo Cunha, edil de Famalicão, assume na sua primeira entrevista um discursoderutura. Queracabarcom a“pequenez” emquearegião se deixa mergulhar e criar uma rede em que da diversidade nasça a unidade. Na palavra e na ação. O seu nome não foi consensual entre os autarcas. Não parte numa posição fragilizada no momento em que, por causa dos fundos comunitários, é preciso um presidente forte? O meu nome não foi consensual à partida, foi-o à chegada. Eissovalorizaaeleição, namedidaemque o processo de eleição é mais rico quando o consenso é um resultado e não uma premissa. Que objetivos pretende atingir no mandato? Antes de tudo, aproveitar este novo ciclo de fundos comunitários para guindar o
E
Norteapatamaresdiferentes dos atuais.Aregião é umadas mais pobres da Europa. Nos últimos 30 anos, perdemos poderdecompraededecisão. É altura de reganhar influência e relevo. O que é que está ao seu alcance fazer? Quem lidera um órgão com estas competências tem de ser um polo agregador de vontades, interesses e intenções, demodoque oNorte alcance a preponderância que deve ter. Essa preponderância não pode ser individual, tem de nascer do grupo. Faz sentido concertar posições com a Região Centro? Primeiro, é preciso que o Norte se constitua como um bloco. Hoje temos muitas pequenas células, cada uma à procura do seu próprio espaço, fruto da inércia da região. Está a referir-se a movimento como a Frente Atlântica que juntou os municípios do Porto,Gaia e Matosinhos? Não. Nada impede que haja movimentos desses dentro da região. É preciso é que não se sobreponham a ela. Devemos criar uma linha de ação conjunta sem que isso se traduza na perda das diversidades que existem na região. A pretexto da defesa da região, nãopodemosdescaracterizar
cada uma das sub-regiões ou dosespaçosalternativos, chamem-se eles Frente Atlântica, ComunidadesIntermunicipais ou Quadrilátero Urbano [Braga, Guimarães, Famalicão e Barcelos], muito menos cada um dos concelhos ou freguesias. Temos de falar comoumbloco, massemprejuízo da diversidade que o marca. Olhemos para um caso prático. Os estaleiros de Viana do Castelo não mereciam uma tomada de posição conjunta da região? É um bom exemplo do que não aconteceria se a região funcionasse. A influência do Nortenãopodeacontecerdepois do problema, tem de acontecernaformação dadecisão. Passa-se o mesmo com os fundos comunitários: o Norte não pode ser chamado apenas para os executar, tem deserchamadoparaosdiscutir e programar. A pluralidade de vozes e de objetivos não pode colocar em causa a linha de ação conjunta de que fala? O problema do Norte é que houve uma excessiva tentação para procurar um único ator, uma única voz. Não podemos perder mais tempo à procura desse porta-voz: isso contribuiu, em boa medida, para que a região marcasse
“O problema do Norte é que houve uma excessiva tentação para procurar um único ator, uma única voz” passo. O Norte não pode ter um só protagonista, tem de ter vários. Acha que já tem peso política na região para fazer parte dessas vozes? Sereiapenasumacordadessa voz. Aminha ambição, enquanto presidente do CRN, não é ser a voz da região. Às vezes, queremos ser o resultado, quando devemos ser apenas um dos contributos para o resultado. O Norte tem falhado na criação de um lóbi com capacidade de influência? Claramente. O meu objetivo é pôr as entidades a falar umas com as outras: as universidades com os politécnicos e com as associações empresarias, os municípios com
as CIM, comaGalizae Castela e Leão... Uma das atribuições do Conselho Regional é dar parecer sobre a proposta da CDDR-N para a alocação dos fundos comunitários e a definição da estratégia para o Norte. No seu caso, vai apenas benzer a criança, porque ela já nasceu. Não podemos interferir no passado, emboraexistaainda uma janela de oportunidade para que possamos marcar nos eixos do programa as necessidades da região. Mas há um problema a montante, queéacapacidadedeinfluênciadaregião.Achoqueacomponentenacionalfoialémdo limitenoprocessodedecisão. As regiões forampouco ouvidas. E o Norte não foi ouvido porquê? Porque não se faz ouvir. O esqueleto dos próximos fundos está montado e a ser discutido com Bruxelas.Tinha a expectativa de que as regiões e os municípios fossem sendo mantidos a par das negociações? Sabe quantas CIMdo Norte têmumplanoestratégicodefinido neste momento? A do Alto Minho tem. Exatamente. Issonãoénormal. As regiões também têm responsabilidade. Todos os
atores regionais têm culpas nesteprocesso.Acoisaestáao contrário: devíamos adaptar oseixoscomunitáriosàsprioridades regionais e não o contrário. Está a propor quase uma refundação da Região Norte... Se calhar é isso que é preciso. Temos de ter uma plataforma com vários eixos e vários atores, despersonificando a região. Que estratégia defende para o uso de fundos comunitários no Norte? Aposta na competitividade e internacionalização. E aqui é muito importante o trabalhodasautarquias: têmdeser agentes propulsores destas duas áreas. Temos de saber aproveitaroFundoSocialEuropeupararequalificarrecursos humanos. Importante é que o Governo saiba o que o Norte quer. E sabe? Senãosabe, vaisaber. Queixamo-nosmuitasvezesdadinâmicade“papão” deLisboa, mas a verdade é que nós próprios assumimos, por vezes, uma posição de pequenez. Imaginemos que o Governo decide travar o processo dos fundoscomunitáriosparaouvir as regiões. O que é que o Norte tem para dizer? Nada. Temos de construir discurso e mensagem. v