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SUCESSO EM PORTUGUÊS / PORTUGUESE SUCCESS
NO REINO DO BOTAO \\\ P R O D U Z C E R C A D E 1 2 M I L H Õ E S D E B O T Õ E S P O R D I A , S I N T É T I C O S E E C O L Ó G I C O S , PARA MERCADOS TÃO DISTINTOS COMO O EUROPEU, O CHINÊS OU O NORTE-AMERICANO. POR VER TUDO REDONDO, A LOUROPEL QUER ABOTOAR O MUNDO. \\\ L O U R O P E L P R O D U C E S 1 2 M I L L I O N S Y N T H E T I C A N D E C O L O G I C A L B U T T O N S A DAY FOR MARKETS AS DIFFERENT AS EUROPE, CHINA AND NORTH AMERICA. AT THIS RATE IT WON’T BE LONG BEFORE MUCH OF THE WORLD’S SHIRTS WILL BE FASTENED THANKS TO THIS PORTUGUESE BRAND. por/ b y A NA P I M E N T E L
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\\\ A fábrica de Famalicão é a única a nível mundial a trabalhar com tecnologia ecológica, registada e patenteada no fabrico de botões. \\\ The Familicão factory is the only one in the world with registered and patented ecological in button technology.
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velino Rego cresceu entre botões. No ano em que nasceu, o pai, Carlos Rego, montou duas máquinas de produção na cave da casa que a família tinha no lugar da Gândara, em Vila Nova de Famalicão – a terra do Vale do Ave que também foi mãe da indústria têxtil portuguesa. Queria fabricar botões “à sua conta”, recorda o filho. Os oito anos de dedicação à fábrica Santo António tinham sido suficientes para perceber que, apesar de jovem, era capaz de arriscar naquele que considerava ser o futuro do setor: a polimerização de resinas, que é como quem diz, o poliéster. Tinha 20 anos e vivia no Portugal conservador de 1966. Estivesse o termo “empreendedorismo” na ordem do dia e Carlos Rego não teria escapado ao rótulo. Empreendedor, sonhador, trabalhador, ou simplesmente, corajoso, uma coisa é certa: quase 50 anos depois, saem diariamente das mais de mil máquinas da Louropel entre 9 a 12 milhões de botões para os quatro cantos do mundo. O segredo: mercados externos, ou melhor, tecnologia. Ou ainda melhor: inovação. Corrijo, o segredo da Louropel é a exportação inovadora. “O meu pai começou a trabalhar um passo à frente do que se fazia na altura”, conta Avelino Rego. Em plena década de 60, decidiu começar a fábrica com a que era considerada a tecnologia de ponta da altura, as resinas de poliéster, uma invenção norte-americana da década de 50 à qual teve acesso enquanto trabalhou na Santo António. “Primeiro, importou as placas, mas três anos depois começou a transformar as resinas de poliéster internamente”, lembra. Aos 47 anos, o sócio-gerente da Louropel refere-se ao pai com o carinho que lhe é devido. Diz que já na altura era um homem com visão de futuro, atento às novas tecnologias e que, mais tarde, insistiu com o filho para que frequentasse o ensino superior. Mas Avelino Rego tinha a Louropel inscrita nas veias e quando acabou o curso técnico de Administração e Comércio, pediu ao pai para ir trabalhar para a fábrica. Aos 18 anos, começou a colaborar diretamente com a produção a tempo inteiro, visto que antes já ajudava o pai fora do horário da escola. Treze anos depois, assumiu o primeiro cargo de gerência. Hoje, a Louropel emprega 243 colaboradores e exporta para 24 países. Os botões portugueses estão em mercados tão distintos como o norte-americano, brasileiro, sueco, alemão, chinês, indiano ou o grego.
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velino Rego grew up amongst buttons. The year he was born, his father, Carlos Rego, set up two machines in the basement of their family home in Gândara, in Vila Nova de Famalicão, which was also where the Portuguese textile industry began. He wanted to make buttons “of his own”, his son recalls. The eight years spent at the Santo António factory had been enough for him to understand that, although he was young, he was willing to take a risk in the area that he believed to be the sector’s future: resin polymerization, which means polyester to you and I. He was 20 years old and lived in the conservative Portugal of 1966. If the word “entrepreneur” had been coined at the time, Carlos Rego would have been labelled as such. Enterprising, ambitious, hardworking or simply courageous, one thing is sure: almost 50 years later, almost one thousand Louropel machines produce between 9 and 12 million buttons a day for the entire world. The secret: external markets, which means technology. Or rather: innovation. More precisely: innovative exportation. “My father began working one step ahead of usual practice at the time”, says Avelino Rego. In the 1960s, he decided to set up a factory with what was considered cutting-edge technology, polyester resin, which was a North American invention from the 1950s he had access to when working at Santo António. “Initially, he imported the material; however, three years later, he began manufacturing the polyester resin internally”. Aged 47, the managing partner of Louropel mentions his father with great affection, describing him as a man with great vision, who was keenly aware of new technologies and someone who insisted that his son went into higher education. However, Avelino Rego had Louropel in his blood, and when he finished his course in administration and commerce, he asked his father if he could start working in the factory. Aged 18, he began working full-time in production, having already gained experience helping his father outside of school. Thirteen years later, he took on his first managerial position. Today, Louropel employs 243 workers and exports to 24 countries, including North America, Brazil, Sweden, Germany, China, India and Greece. The decision to focus the efforts of the Famalicão factory abroad was taken in 1995, when the crisis in the clothing sector began being felt in the Vale do Ave region, forcing the closure of various textiles factories,
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NÚMEROS / NUMBERS
1966 \\\ início de atividade \\\ start of operations
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A decisão de virar a fábrica de Famalicão para o exterior deu-se em 1995, quando a crise no setor do vestuário se começou a sentir na região do Vale do Ave, obrigando ao encerramento de várias fábricas têxteis que eram suas clientes. “O meu pai era um homem da terra. Na altura, era atrativo levar a empresa para Espanha, mas quisemos ficar aqui”, conta. Foi aí que pai e filho decidiram que o futuro da Louropel passava pela internacionalização. Próximo passo: investir em duas novas unidades industriais e em equipamentos com tecnologia de ponta, numa operação que totalizou mais de 30 milhões de euros, suportada, sobretudo, por capitais próprios. A inauguração deu-se onze anos depois, em 2006.
which were regular customers. “My father was a local lad. At the time, moving the company to Spain was attractive, but we wanted to stay here”, says Avelino. It was then that father and son decided that the future of the company lay in internationalisation. The next step was investing in two new industrial units and the latest technology, which meant spending over 30 million euros, most of which was their own. The units began operating eleven years later in 2006.
APOSTA NOS BIODEGRADÁVEIS
Atualmente, os mercados externos representam cerca de 80% da produção total da empresa. “Se queríamos exportar tínhamos de ter produtos diferenciados, de alta gama e, para isso, tivemos de apostar em equipamentos que nos permitissem apresentar um produto diferente dos da concorrência”, explica. Do que se fala? De botões ecológicos, a cereja no topo do bolo da Louropel. Avelino explica que a fábrica de Famalicão é a única a nível mundial a trabalhar com tecnologia ecológica, registada e patenteada no fabrico de botões. Além de reaproveitar os resíduos gerados pelo próprio processo de fabrico, utiliza na confecção dos botões biodegradáveis produtos naturais como papel reciclado, farinha de sêmola, algodão, leite em pó, ureia, pó de corno natural, serradura de madeira e fécula de batata, entre outros. “Os botões de resina polimerizada produzem toneladas de resíduos e o meu pai sempre achou que seria importantíssimo conseguir reaproveitá-los. Eu também tinha essa sensibilidade e decidimos avançar”, conta. Dado o primeiro passo, foram à procura do conhecimento necessário para levar a ideia avante. “Esta patente foi adquirida há vários anos a uma empresa italiana, tendo estado, desde então, a ser permanentemente desenvolvida e aperfeiçoada pela equipa de técnicos da Louropel”, revela. Na fábrica nortenha, não é só a matéria-prima que é importante – o produto tem de manter a sua aptidão para o uso e um design que se coadune com as tendências da moda. É um equilíbrio arriscado, mas essencial para quem quer inovar. E não está a inovação naquilo que Avelino Rego considera o ADN da empresa?
INVESTING IN BIODEGRADABLES
External markets currently account for around 80% of the company’s total production. “If we wanted to export, we had to have differentiated, high-end products, and so we had to invest in equipment that allowed us to offer a product that was different to the competition”, he explains. What is he talking about? Ecological buttons, the icing on Louropel’s cake. Avelino explains that the Famalicão factory is the only one in the world working with registered and patented ecological technology in button production. In addition to reusing the waste generated by the manufacturing process, for the biodegradable buttons it uses natural products, like recycled paper, semolina flour, cotton, milk powder, urea, natural horn powder, sawdust and potato starch, amongst others. “Polymerized resin buttons produce tons of waste and my father always thought it would be really important to reuse it. I felt the same and we decided to forge ahead with the project”, he says. After these initial steps, they went in search of the necessary knowledge to implement the idea. “This patent was acquired by an Italian company quite a few years ago, and has been permanently developed by Louropel’s team of technicians since then”, he reveals. In the northern factory, it’s not just the raw materials that are important – the product has to be consistently practical and boast a design that is in keeping with the latest fashions. It’s a risky balance, however, one that is essential to those who want to innovate. And isn’t innovation part of what Avelino Rego considers the company’s DNA? In 2014, biodegradable buttons represent around 25% of Louropel’s total production. They are mostly destined for North America and Germany, which were the first countries to take an interest. Avelino Rego tells us that the product hasn’t been easily accepted but raising client awareness has paid dividends. This year’s challenge is different: creating a button collection based on a combination of raw materials.
243 \\\ número de colaboradores \\\ number of staff employed
€13 000 000 \\\ faturação em 2013 \\\ turnover in 2013
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\\\ países em que está presente: Alemanha, Inglaterra, França, Suécia, Espanha, Itália, Ucrânia, Estónia, Lituânia, Holanda, Bulgária, Suíça, Irlanda, Bélgica, Roménia, Croácia, Grécia, China, Índia, Bangladesh, Sri Lanka, Brasil, Estados Unidos da América e Austrália. \\\ countries where Louropel buttons are sold: Germany, England, France, Sweden, Spain, Italy, Ukraine, Estonia, Lithuania, the Netherlands, Bulgaria, Switzerland, Ireland, Belgium, Romania, Croatia, Greece, China, India, Bangladesh, Sri Lanka, Brazil, United States and Australia.
80% \\\ exportação em 2013 \\\ exports in 2013
25% \\\ dos botões produzidos são ecológicos \\\ of buttons produced are ecological
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\\\ Na carteira de clientes encontram-se nomes como Ralph Lauren, Armani, Valentino, Kenzo ou Massimo Dutti. \\\ The company’s customers include names like Ralph Lauren, Armani, Valentino, Kenzo and Massimo Dutti.
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Em 2014, a produção de botões biodegradáveis representa cerca de 25% da produção total da Louropel. Vão, sobretudo, para o mercado norte-americano e alemão, os primeiros a aderirem à tendência. Avelino Rego conta que a aceitação do produto não tem sido fácil, mas que o trabalho de sensibilização junto dos clientes tem valido a pena. O desafio para este ano é outro: criar uma coleção de botões baseada na junção de matérias-primas.
BOTÕES MADE IN PORTUGAL
Quando Lupita Nyong’o, a estrela de 12 Anos Escravo, chegou à cerimónia dos Globos de Ouro de 2014, ninguém ficou indiferente ao vestido com que atravessou a passadeira vermelha. Encarnado, elegante, arriscado, levou a que algumas bloggers de moda a considerassem como uma das mais bem-vestidas da cerimónia. A criatividade da peça deve-se ao estilista norte-americano Ralph Lauren, e, embora não seja certo que o vestido de Lupita Nyong’o tivesse botões, se os tinha quase de certeza eram da Louropel. A Ralph Lauren é uma das suas principais clientes e parceira da marca há cerca de dez anos. “Foi o primeiro grande nome a ter sensibilidade para o botão reciclado”, conta Avelino Rego. Na carteira de clientes da maior fábrica a produzir “só botões no mundo” encontram-se outros nomes como Armani, Valentino, Kenzo ou Massimo Dutti. Em Itália, a família Rego criou uma outra empresa para fazer a promoção e distribuição dos produtos junto das marcas italianas. Os primeiros países a terem contacto com os botões portugueses foram o Brasil e a França. No mercado brasileiro, Avelino Rego conta que só é possível entrar com produtos de alta gama, por ser mais difícil e complexo. Mas nem por isso a família desistiu e os botões Louropel continuam a conquistar o planeta. A última aposta do famalicense foi o Sri Lanka, no ano passado, e em 2014 são o Irão e o Vietname que captam a sua atenção. Além dos novos destinos, o foco para este ano está na diversificação dos produtos e no reforço da posição da empresa nos mercados em que opera, sobretudo o asiático. Objectivo: conseguir apresentar 20 vezes mais modelos e matérias-primas. A Louropel nasceu na cave do Sr. Carlos Rego. Quando a produção começou a aumentar, o ex-operário comprou mais máquinas, colocou-as na parte exterior da casa, cobriu-as com placas de plástico e deu emprego a umas tias. Quase 50 anos depois, o filho emprega 243 pessoas em três unidades industriais e fatura cerca de 13 milhões de euros. Só nos últimos 12 anos, investiu mais de 50 milhões de euros em projetos de ampliação e modernização na região do Vale do Ave. Já olhou para os seus botões hoje? u
> ‘MADE IN PORTUGAL’
Ralph Lauren is one of Louropel’s biggest customers and has been a partner of the brand for around ten years. “It was the first big name to be interested in the recycled button”, says Avelino Rego. Other customers include Armani, Valentino, Kenzo and Massimo Dutti. In Italy, the Rego family created another company to promote and distribute their products to Italian brands. The first countries to come across the Portuguese buttons were Brazil and France. Avelino Rego tells us that the only way into the difficult and complex Brazilian market is with high-end products. However, this didn’t put the family off and Louropel buttons continue to conquer the planet. The push last year was in Sri Lanka, and in 2014, it’s Vietnam and Iran. In addition to new destinations, this year’s focus is on product diversification and consolidating the company position in the markets in which they operate, particularly in Asia. The goal: to offer 20 times more choice and raw materials. Louropel took its first steps in Sr. Carlos Rego’s basement. When production began increasing, the ex-factory worker bought more machines, putting them outside his house, covering them with plastic sheets and employed some of his aunts. Almost 50 years later, his son employs 243 people in three industrial units with a turnover of 13 million euros. Over the last 12 years alone, the company has invested over 50 million euros in extending and modernising operations in the Vale do Ave region. Have you looked at your buttons today? u
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