QUADRILÁTERO Barcelos
Braga
Famalicão
Guimarães
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“ ESTE QUADRILÁTERO É UM PENTÁGONO “
Foi o tempero da diversidade que os juntou à mesma mesa, já lá vão mais de 10 anos. Isolados, não teriam escala. Juntos, descobrem-se mais fortes à medida que descobrem o poder da cooperação, forjada na ação comum: vizinhos, os municípios de Barcelos, Braga, Famalicão e Guimarães são um caso sério de ambições e potencial, que vence velhos bairrismos de campanário. Estão entre os mais jovens municípios do país. Somam, em conjunto, uma população de 600 mil pessoas. Polarizam uma universidade, a do Minho, com 20 mil estudantes e 1500 docentes doutorados. Concentram uma tradição e um dinamismo industrial ímpares. E são um polo emergente de vitalidade cultural, como ficou largamente demonstrado com as realizações da Capital Europeia da Cultura. Nascido para corresponder à necessidade de captação de fundos que pudessem financiar projetos transversais aos quatro municípios (Barcelos, Braga, Famalicão e Guimarães), este Quadrilátero inclusivo, que chamou para a mesa a universidade e a associação industrial minhotas, enfrenta agora um desafio: o de se transformar num projeto político de afirmação territorial, virado para a internacionalização. Os mais de 10 anos de caminho andado, em comum, mostram resultados positivos nas grandes vertentes mobilizadas pelo Programa Estratégico de Cooperação do Quadrilátero: Quadrilátero Digital, Quadrilátero Mobilidade, Desenvolvimento Urbano, Quadrilátero Cultural, Quadrilátero Criativo, Quadrilátero Empresarial e Quadrilátero em Rede. Mas a ambição de dar expressão política a esta nova centralidade permanece e germina entre os quatro municípios deste Quadrilátero que, doravante, contam com mais um parceiro firme: o nosso Jornal de Notícias. Este quadrilátero é um pentágono... AFONSO CAMÕES
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4-8
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Como se constrói uma microrregião
Como nasceu o Quadrilátero?
20-21
12-13
Entrevista: presidente da Câmara de Guimarães
14-15
16, 28, 39
17-19
Estudo da mobilidade: articulação de políticas
Artigos de Opinião
Retrato de empresa de sucesso: 3B’s
Entrevista: presidente da Câmara de Braga
22-29
29-31
Reportagem fotográfica nos quatro concelhos
Retrato de empresa de sucesso: Bosch
34-35
36-37
Entrevista: presidente da Câmara de V. N. Famalicão
Agenda 2020 vista a partir do Quadrilátero
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Entrevista: presidente da Câmara de Barcelos
47-49
44-46
Olhar minucioso para o evento internacional
Retrato de empresa de sucesso: Riopele
Retrato de empresa de sucesso: Digital Games Lab
Espaços da Quadrilátero
39-41
32-33
4 COMO SE CONSTRÓI UMA MICROREGIÃO
UNIÃO É PALAVRA DE ORDEM PARA ENFRENTAR DESAFIOS
Iniciada para ser um território de experimentação de políticas de planeamento urbano conjuntas, a Associação de Municípios de Fins Específicos Quadrilátero Urbano há muito que ultrapassou o modelo base das regiões francesas que serviram de exemplo para a sua criação. Mais do que pensar em que áreas podem trabalhar em conjunto, os municípios de Braga, Barcelos, Guimarães e Vila Nova de Famalicão viram na escala territorial a solução para a maioria dos problemas que assolam a região. Inseridos no sistema territorial composto pelas NUTS III do Cávado e do Ave, os quatro municípios formam um contínuo
territorial com cerca de 600 mil habitantes, dos quais 210 mil residem nos perímetros urbanos centrais. Estes dados demográficos estiveram na base da fundação desta associação municipal de fins específicos. E se os 600 mil habitantes não chegam para inserir a microrregião do Quadrilátero numa NUT II virtual, os 14 municípios que compõem as regiões limítrofes, correspondentes às Comunidades Intermunicipais do Cávado e Ave, são mais do que suficientes para fazer, desta região, uma das 231 regiões NUT II europeias, pois têm uma população residente que ronda um milhão de habitantes, de acordo
com os Censos de 2011. Mas, como frisa o especialista em economia territorial e autor da Agenda Base do Quadrilátero Urbano 2014-2020, José Marques da Silva, “esta não é uma região qualquer”. Tem características específicas que fazem dela um território promissor. Desde logo por ser a região mais jovem do país e uma das mais empreendedoras. Isso reflete-se na dinâmica industrial enraizada e na elevada intensidade exportadora, onde cada euro importado se transforma em 2,3 exportados, segundo dados do Eurostat refletidos na Agenda Base do Quadrilátero Urbano. A proximidade ao aeroporto Francisco Sá Carneiro e ao porto de Leixões, também são vantagens, aliadas aos “vizinhos” Galiza e Alto Minho. A massa crítica resultante dos estabelecimentos de Ensino Superior (Universidade do Minho, Lusíada e IPCA) insere--se no território através da dinâmica empresarial da Associação Industrial do Minho, do Centro Tec-
nológico das Indústrias Têxtil e Vestuário, Parque de Ciência e Tencologia Avepark ou Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia. Ou seja, cooperação é a palavra de ordem para atingir a escala pretendida, principalmente quando cada um dos quatro municípios tem características tão diferentes. Falar em escala, frisa José Marques da Silva, “não implica esquecer aquilo que cada município tem de bom”. Significa, antes, a adoção de políticas comuns que possibilitem o crescimento de, por exemplo, as imagens de marca de cada um dos concelhos. Assim, a imagem da fundação da nacionalidade que Guimarães tem, a imponência do artesanato de Barcelos, a capacidade exportadora de Famalicão e a fácil mobilidade em Braga, são vantagens que os restantes vão aproveitar. Isto, ao mesmo tempo que se multiplicam os benefícios de desenvolver características que são comuns aos quatro, como é a aposta na Cultura.
5 COMO SE CONSTRÓI UMA MICROREGIÃO
ESPECTADORES JÁ POUPARAM CINCO MIL EUROS
Sucesso Representantes das quatro cidades anunciaram números e nova imagem do cartão Quadrilátero
Se há exemplo bem-sucedido no seio do Quadrilátero é o cartão cultural. Lançado em 2012 com o objetivo de incrementar o consumo cultural nos residentes dos quatro municípios, os números registados até setembro deste ano demonstram que o objetivo já foi cumprido e os espectadores já pouparam 5 mil euros, no total. Cada utilizador do cartão poupa, em média, dez euros por ano ao assistir a espetáculos culturais. Isto, para além de pagar o investimento de 25 euros que o cartão custa. Daí não ser estranho que o número de cartões vendidos tenha disparado nos últimos dois anos. Dos iniciais 230, a associação Quadrilátero já registou, este ano, 832 vendas ou renovações, num número que quadruplicou e tem tendência a continuar a crescer. O custo de 25 euros anuais do cartão tem como principal vantagem o desconto de 50 por cento em todos os espetáculos organizados pelo Cen-
tro Cultural de Vila Flor de Guimarães, Teatro Circo de Braga, Casa das Artes de Famalicão e Teatro Gil Vicente de Barcelos. É nestas casas que se pode adquirir o cartão, ou através da página do Quadrilátero na Internet. Para além do desconto, o utilizador recebe convites para ensaios abertos gratuitos, inaugurações de exposições e outras atividades culturais. Também fica garantida a informação, através da newsletter mensal, para além de benefícios específicos que cada uma das “casas” culturais decide atribuir. Entre 2012 e o ano passado, o número de bilhetes vendidos com desconto passou de 1283 para 3626. Se, em 2012, cada espetáculo realizado tinha uma participação de 2 por cento de utilizadores com desconto, esse número passou para os 7 este ano. Para além disso, o cartão permite perceber até que ponto o utilizador tem capacidade de se deslocar aos municípios vizinhos para as-
sistir a espetáculos. Os dados reportados a setembro deste ano demonstram que um em cada quatro utilizadores do cartão se desloca, regularmente, aos concelhos fora da sua área de residência. Estes números são do agrado dos representantes das quatro autarquias, que tecem rasgados elogios ao sucesso da iniciativa. Ricardo Rio, presidente da Câmara de Braga, salienta que “é muito fácil recuperar o investimento feito no cartão, na frequência dos muitos eventos culturais que são realizados nestes quatro equipamentos de referência”. Para o autarca bracarense, estes números simbolizam “a qualidade da programação desses mesmos equipamentos culturais” e espera, por isso, que o cartão continue a ser um fator de atratividade turística. Já Paulo Cunha, presidente da Câmara de Famalicão, entende que estes resultados são “um sinal claro das virtudes que este projeto encerra”. Os quatro
6 COMO SE CONSTRÓI UMA MICROREGIÃO
PARA ALÉM DO DESCONTO, O UTILIZADOR RECEBE CONVITES PARA ENSAIOS ABERTOS INAUGURAÇÕES DE EXPOSIÇÕES E OUTRAS ATIVIDADES CULTURAIS municípios “permitem uma resposta de base regional em que o cartão é claramente uma ferramenta de aproximação”, acrescenta, ao passo que também frisa o facto de a programação ser importante: “Os quatro espaços também têm tido a preocupação de concertar a estratégia ao nível da programação, para que haja identidade e uma proposta comum”. Amadeu Portilha, vice-presidente da Câmara de Guimarães, não tem dúvidas de que esta parceria intermunicipal “funcionou” e “com certeza se vai estender a outros domínios”. Para o vimaranense, o cartão “teve o condão de permitir aproximar e criar maior
coesão territorial”. E lembra, por fim, que o desafio passa por continuar a fidelizar o público: “Ainda temos muito para percorrer, tendo a noção e a convicção de que de facto com este cartão esta aproximação se vai fazendo passo a passo”. Apesar de Barcelos ter entrado mais tarde no projeto – fruto da existência de muitos espetáculos gratuitos naquele Concelho – o vereador Carlos Brito não duvida que o Município barcelense “está a entrar em força neste projeto”. O responsável justifica a adesão motivada com o facto de este ser “uma clara vantagem para o espectro cultural das quatro cidades”.
7 COMO SE CONSTRÓI UMA MICROREGIÃO
Programação Paulo Cunha, de Famalicão, e Ricardo Rio, de Braga, elogiaram coordenação das quatro cidades
8 COMO SE CONSTRÓI UMA MICROREGIÃO
FORÇAS
Problemas na acessibilidade a relevantes polos tecnológicos e industriais do território e baixa capacidade de fixação de visitantes
Forte dinâmica industrial e elevada intensidade exportadora e reforço da capacidade competitiva das indústrias tradicionais (moda, design, joalharia, calçado)
DESAFIOS
Dispersão de empresas e do Sistema Científico e Tecnológico, o que dificulta o estabelecimento de parcerias e ganhos de escala
Elevada dinâmica de entidades regionais, infraestruturas e ensino com elevada reputação e massa crítica científica relevante em vários domínios
Participação no Eixo Atlântico dos quatro municípios e de Braga e Guimarães na Rede Portuguesa de Cidades Inteligentes
Rede de transportes públicos com baixa cobertura fora dos centros urbanos e elevada utilização do transporte individual
Facilidade de acesso à rede rodoviária, ferroviária, e relativa proximidade do Porto de Leixões e do Aeroporto Francisco Sá Carneiro
Complementaridade entre quatro municípios: está presente a especialização em alguns domínios da indústria, dos serviços e da agricultura
Declínio demográfico em Barcelos e Guimarães, elevados níveis de desemprego e níveis ainda reduzidos de qualificação de empresários, face a médias europeias
9 COMO NASCEU O QUADRILÁTERO
DE ONDE VEIO E PARA ONDE DEVE IR O QUADRILÁTERO Criado em 2003, o Quadrilátero materializa-se como Associação de Município para Fins Específicos em 2007 com o objetivo de implementar as “ações preparatórias” do programa “Política de Cidades Polis XXI” no âmbito das Redes Urbanas para a Inovação e Competitividade. Agregando os municípios de Barcelos, Braga, Famalicão e Guimarães, o Quadrilátero encontra-se agora numa encruzilhada. Prestes a entrar num novo ciclo de financiamento comunitário, como se deve posicionar? Mantém-se como um mero mecanismo para angariar fundos ou recupera a ideia original de ser um grande projeto político de afirmação territorial e internacionalização? José Mendes, vice-reitor da Universidade do Minho e coordenador da UMCidades, recorda como surgiu a ideia de uma união minhota que agregasse interesse comuns. “Nasce por volta de 2003, no seio da Universidade do Minho, e o principal impulsionador foi o então reitor, Guimarães Rodrigues”, afirma. Na altura, a ideia era conjugar os objetivos de alguns municípios, da Universidade e da Associação Industrial do Minho para dar escala a esta centralidade territorial. Inicialmente, o objetivo era agregar todas estes parceiros numa única entidade. Naque-
le ano celebra-se o primeiro protocolo e um acordo de princípio com os quatro municípios – Braga, Barcelos, Famalicão e Guimarães – e com a Universidade do Minho. Porém, mais tarde, em 2007, ao optar pela figura jurídica da Associação de Municípios de Fins Específicos, a Universidade, a As-
sociação Industrial do Minho e o Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal (CITEVE) têm de ser colocados num Conselho Estratégico. O Programa Estratégico de Cooperação do Quadrilátero estruturou-se em sete grandes operações: Quadrilátero Digital, Quadrilátero Mobilidade, Desenvolvimento Urbano, Quadrilátero Cultural, Quadrilátero Criativo, Quadrilátero Empresarial e Quadrilátero em Rede. “A ideia inicial, que era a de obter capacidade para candidatar projetos transversais aos quatro municípios, acabou por ser razoavelmente cumprida”, considera José Mendes, que foi avaliador externo do programa. “Até agora foi uma coisa positiva. Ultrapassou o bairrismo e pôs as pessoas a falar e a discutir sobre se deveria haver uma unidade supra-regional, mas poderia e deveria dar um salto de natureza política, de escala, para uma afirmação territorial e posicionamento internacional.” “Para ser uma marca e se afirmar como centralidade, o Quadrilátero devia ser um projeto de afirmação política. E devia ser fundado num acordo mais ambicioso”, argumenta. Isto porque, para José Mendes, os quatro municípios “isolados não têm escala”. Já em conjunto “têm uma popula-
ção de 600 mil pessoas, uma Universidade com 20 mil estudantes e 1500 docentes doutorados em mais do que um município, a indústria de Famalicão, as multinacionais em Braga e a cultura em Guimarães. Quando juntamos isso tudo, já se pode promover internacionalmente para atrair investimento direto ou uma promoção numa feira turística.” Segundo o vice-reitor e especialista em Planeamento Estratégico e Desenvolvimento e Ordenamento do Território, o desejável seria “criar uma centralidade que tivesse uma assinatura, uma marca territorial e um conjunto de valências e atrativos para outros voos e que não fosse apenas um instrumento para arranjar uns projetos conjuntos”. Porém, isso implicaria a delegação de competências, algo que poderá não ser visto com bons olhos pelos autarcas e, principalmente, pelas suas populações. “Eles respondem perante um eleitorado municipal, o que quer dizer que, no fim do dia, têm de satisfazer os seus munícipes porque não há um eleitorado do Quadrilátero. No limite, creio que até quereriam dar esse salto, mas o nosso sistema de organização e administração de território tem este problema. Eles respondem àquele eleitorado e têm é de dar para aquele eleitorado”.
10 INFOGRAFIA
NÍVEL DE ESCOLARIDADE - 2011
BARCELOS
BRAGA
GUIMARÃES
PORTO
V. N. FAMALICÃO
(POPULAÇÃO RESIDENTE COM 15 E MAIS ANOS) S/ NíVEL DE ESCOLARIDADE BÁSICO 1.º CICLO BÁSICO 2.º CICLO BÁSICO 3.º CICLO SECUNDÁRIO MÉDIO * SUPERIOR * Tipo de ensino extinto desde abril de 1974
11 245
7173 688
1024 15 972
12 261
22 038
20 058 20 163
20 688 32 200 9573
12 043
30 188 9333
10 441
33 911
41 867
19 775
21 501
30 771
27 000
26 282
17 593 939
1435
12 469
ALUNOS INSCRITOS NO ENSINO SUPERIOR 2013
ALOJAMENTOS FAMILIARES CLÁSSICOS 2012
PODER DE COMPRA PER CAPITA (%) 2011
93 076 35 323
11 955
13 887
18 355
11 368
216,88
161,65 85,78
83,92
104,17
72,59
323 868 138 240
56 037
67 476
86 423
48 309
59 965 1445
18 992 73
3262
114 770
29 212
EMPRESAS NÃO FINANCEIRAS 2012
LISBOA
11 INFOGRAFIA
PRESTAÇÕES SOCIAIS BENEFICIÁRIOS - 2013 1000
SUBSÍDIO SOCIAL DE DESEMPREGO
94
162
99
905
623
1378
PESSOAL DE SAÚDE ENFERMEIROS 2012
512
5028
8344 PESSOAL DE SAÚDE MÉDICOS 2012
SUBSÍDIO POR DOENÇA
1499
SUBSÍDIO DE ASSISTÊNCIA À 3.ª PESSOA
4256 276
413
1015
188
1842
1031
1229
934
1655
NADOS VIVOS 2012
SUBSÍDIO VITALÍCIO
90
SUBSÍDIO DE DESEMPREGO
9788
BONIFICAÇÃO POR DEFICIÊNCIA
5409
RENDIMENTO MÍNIMO
508
ABONO DE FAMÍLIA
PESSOAL DE SAÚDE FARMACÊUTICOS 2012
12 ENTREVISTA
“QUADRILÁTERO PRECISA DE PROJETOS À SUA ESCALA” É correto dizer-se que o Quadrilátero tem um problema de identidade? Ainda não tem uma forte identidade. Precisa de ser alicerçada. O Quadrilátero ou será um projeto político – porque ainda não é – ou será nada? Tem de ser um projeto político, porque tem de ter liderança política. E precisa de uma componente política muito forte, porque é uma associação criada por vontade destes quatro municípios. Depreende-se que, até aqui, em vez do famoso lema dos mosqueteiros – “um por todos e todos por um” –, tem sido cada um por si? Não foi liderado politicamente a não ser na sua fundação. Nos últimos anos, não houve reuniões estratégicas de trabalho por parte dos autarcas. De certa maneira, remetemos para a componente técnica todo o processo de afirmação. Acha que o Quadrilátero pode ou deve assumir um conjunto de competências que hoje são das câmaras? Não. O que se pretende com o Quadrilátero não pertence às competências das câmaras, nem a outras entidades que já operam no território. O Quadrilátero tem uma escala e precisa de projetos a essa escala. A ideia que dá é de que este é
um projeto sexy, mas com o único objetivo de ir buscar dinheiro ao quadro comunitário. Concorda? Do ponto de vista do conjunto, podemos competir com outras macrorregiões, porque somos um conjunto geográfico muito interessante. Está a assumir uma questão muito importante que é a escala. Mas, a escala, só por si, é uma palavra. Tem de ter políticas e estratégias.? O desafio é precisamente esse. Sabermos o que é importante fazer em conjunto. Não basta ter as coisas no nosso território. É preciso divulgar o que temos. E essa divulgação, será muito mais forte, se for feita em conjunto. Guimarães tem um gabinete de promoção de investimento, Braga criou o InvestBraga, as outras câmaras têm gabinetes semelhantes. Não fazia sentido um InvestQuadrilátero, justamente por causa da escala? Poderíamos e deveríamos ter criado uma única entidade de promoção e desenvolvimento. Depois, cada um procura áreas específicas, mas deveríamos ter harmonizado. Era bom haver uma estrutura de promoção económica e de captação de investimento dessas, um radar que visse globalmente. O que é que Guimarães aporta de mais importante ao
Quadrilátero? Não queria esquecer a marca industrial, mas temos a marca de identidade histórica, do património classificado e imaterial de capital europeia de cultura. A cultura é um bom exemplo de escala. Pelo que sei, o cartão cultural tem corrido bastante bem. Para a dimensão do Quadrilátero, a bilhética é pouco. Eu estou a lutar por uma gestão em rede dos equipamentos culturais de Guimarães. Por que é que não poderá haver uma gestão em rede dos equipamentos no Quadrilátero? Coordenados esses recursos, podemos tornar pujante este território. O principal problema dos municípios do Quadrilátero é económico, social, político ou outro? Eu diria que hoje o problema do Mundo e do país é político. Se as lideranças políticas andarem mal, tudo anda mal. Do ponto de vista do cidadão, eu diria que é económico. Este QREN, o 2014-202, é a última fonte de alimentação para este espaço? Obviamente, o Quadrilátero não aguenta mais quatro anos sem ser uma associação dinâmica e realizadora. Se não lhe dermos conteúdo bem visível, não tem condições para continuar. Há um problema com os
13 ENTREVISTA
Perfil Depois de oito anos como vice-presidente, o economista do PS sucedeu a António Magalhães na presidência da autarquia vimaranense
autarcas e eu também tenho esse defeito. Na defesa do nosso território, nós criamos muitos muros. E, às vezes, é difícil avançarmos. Isso é possível de ultrapassar se todos estiverem dispostos a destruir um bocadinho do seu muro, mas se um em vez de destruir ainda o levanta mais, isso não funciona. A perceção que eu tenho hoje é a de uma plataforma colaborativa sem muros. Não vejo em nenhum dos autarcas que não haja uma atitude proativa de construção. A dificuldade tem sido encontrar projetos envolventes e motivadores a este nível. Tem sugestões? Um é fácil, mas precisa de mais conteúdos à volta, que seria uma associação para projetos de divulgação. Outro é um projeto económico e que passa, desde logo, pelas infraestruturas de mobilidade. Ligar Braga, Famalicão e Barcelos. De Famalicão a Guimarães, criar uma linha ferroviária que liga à plataforma logística de Famalicão e segue em alta velocidade. É preciso trabalharmos numa rede de mobilidade ferroviária, mas associada a logística, criando junto dos terminais enormes armazéns onde o pequeno ou microempresário vai acumulando produção, até ter dimensão para ir pela via ferroviária.
14 ESTUDO DA MOBILIDADE
Os municípios do Quadrilátero, apesar de próximos entre si, têm taxas de utilização do transporte individual elevadas, de acordo com o estudo de mobilidade integrada elaborado pela associação composta por Braga, Guimarães, Barcelos e Famalicão. Em média, 66 por cento das deslocações são feitas de automóvel, sendo que metade da população tem carro e apenas um em cada dez utiliza transporte coletivo de passageiros. Para a avaliação dos principais problemas de mobilidade no território dos quatro concelhos, o estudo identificou quais as principais zonas urbanas, periurbanas e rústicas. No primeiro caso, as quatro cidades destacam-se ao nível da concentração de equipamentos. Na zona intermédia encontram-se três núcleos relevantes, que são as áreas compreendidas por Caldas das Taipas (Guimarães), Joane (Famalicão) e Lousado (Famalicão). As restantes foram consideradas rústicas. Esta divisão permitiu expor a falta de coesão entre as redes de mobilidade existentes, concretamente ao nível ferroviário. De facto, como constatou o estudo, entre 2000 e 2012 registou-se uma diminuição do uso de transporte coletivo de passageiros em todos os concelhos menos em Famalicão.
DOIS TERÇOS DOS HABITANTES DESLOCAM-SE DE CARRO Contudo, este também não é um dado positivo para o concelho famalicense, visto que já era (e continua a ser) aquele em que menos é utilizado este tipo de transporte, com uma percentagem de 6 por cento da população. Dos dados analisados destaca-se o forte crescimento da utilização de transporte individual. Em Barcelos aumentou 17 por cento, de 50 para 67. Em Braga o aumento foi de 12 pontos percentuais, de 53 para 65. Guimarães é, dos quatro, aquele em que o transporte individual é menos utilizado (63 por cento) mas foi o que registou um maior aumento (23 por cento). Já Famalicão apre-
senta o cenário inverso, pois é aquele em que o aumento foi menor (57 por cento para 69) mas é o concelho em que maior percentagem da população se desloca de carro. Apesar disso, nem tudo são pontos negativos no que concerne à mobilidade. O estudo refere, por exemplo, que “as deslocações a pé representam um peso apreciável”, com cerca de 22 por cento. Por outro lado, 84 por cento da população tem acesso a autoestradas em menos de 10 minutos, o que se torna relevante tendo em conta que a maioria das pessoas se desloca de carro. Destaque, também, para a boa acessibilidade rodoviária
a equipamentos escolares e de saúde, saturação média global da rede de estradas muito baixa (cerca de 25 por cento) e evolução muito positiva dos principais indicadores de sinistralidade, com uma redução do número de ocorrências em todos os concelhos. Para a excessiva utilização do transporte individual não é alheio o facto de “em termos médios, os tempos de viagem em transporte coletivo de passageiros serem cerca do dobro dos possibilitados em transporte individual”, refere o mesmo documento. Como maiores constrangimentos estão identificadas as necessidades de garantir uma oferta ferroviária homogénea a todo o território, nomeadamente em Guimarães, que não tem ligação direta a nenhum dos outros três. Como medidas concretas, o estudo aponta a prioridade para a criação de um Centro Operacional da Mobilidade que consiga recolher e analisar a informação sobre as principais dinâmicas de acessibilidade. Segue-se a urgência na criação de pontos de informação, virtual e física, bem como o lançamento de modelos mais atrativos de uso de transportes coletivos, como sejam, por exemplo, cartões promocionais de mobilidade entre os quatro concelhos.
15 ESTUDO DA MOBILIDADE
Uma das medidas apontadas pelo estudo de mobilidade inte grada do Quadrilátero Urbano para fazer face à elevada taxa de utilização do transporte individual é o controlo do estacionamento. Atualmente, “a manutenção do papel do automóvel como foco central do espaço das cidades cria maiores dificuldades de afirmação aos modos coletivos no acesso e serviço de distribuição nas zonas urbanas”, realça o estudo. Tal facto tem “impactos negativos em termos da qualidade do espaço público” bem como na “fluidez e segurança de circulação”. A síntese da oferta e procura de estacionamento nas zonas urbanas centrais dos quatro municípios revela que em Braga e Guimarães a oferta na via pública se encontra saturada de dia e de noite, apesar de serem estas as cidades que mais lugares disponíveis têm. No caso da cidade bracarense, a oferta presente na via pública aponta para um total de 13460 lugares de estacionamento. Destes, mais de 10 mil estão ocupados pela pr ocura legal e cerca de 5 mil pela procura ilegal, o que torna a procura maior do que a oferta. O mesmo acontece com os 7177 lugares disponíveis em Guimarães. Uma das causas para o estacionamento ilegal prende-se com o não pagamento de tarifas em zonas de estacionamento pago.
CONTROLO DO ESTACIONAMENTO PARA DISSUADIR CARROS
16 OPINIÃO
QUADRILÁTERO TRANSFORMADO NUMA CIDADE MÉDIA
LUÍS BRAGA DA CRUZ EX PRESIDENTE DA CCDRN
Um dos problemas da rede urbana nacional está na ausência de cidades de dimensão média, aquilo a que a política de ordenamento do território francês designa por “cidades médias” e que em França é costume considerar com uma população da ordem dos 300 mil habitantes. Em meados dos anos 60, os professores de Urbanismo – Antão de Almeida Garrett e António Barbosa de Abreu – ensinaram-me que um país com uma boa organização territorial devia ter uma equilibrada hierarquia de centros urbanos. Isso significava ter sucessivamente: áreas metropolitanas com mais de um milhão de habitantes, cidades grandes com meio milhão, cidades médias e assim sucessivamente até aos agregados com escassas dezenas de milhares. Nos últimos 50 anos, Portugal cresceu mal. Em mais de 80% do território, no chamado interior, perdeu metade da sua população, enquanto nos restantes 20%, na orla litoral, se verificou uma forte concentração demográfica em torno dos dois polos urbanos de Lisboa e Porto. No caso do Porto, já o urbanista inglês – Prof. Percy Johnson-Marshall – que por cá trabalhou e apresentou, em 1975, o Plano da Região do Porto, propusera a Região Metropolitana do Porto, como o semicírculo de 50 km de raio tendo o Porto como centro. Na sua opinião, justificavam-se ações de planeamento integrado nesta vasta e complexa área de conurbação urbana, tais eram as interações entre os seus muitos pequenos centros urbanos e a natureza dis-
persa do seu denso povoamento. Dentro deste domínio territorial destaca-se a Área Metropolitana do Porto, cuja geometria política tem vinda a ser alterada desde que a Lei de Bases das áreas metropolitanas foi aprovada, em 1991. Mas também são de relevar vários núcleos urbanos com forte protagonismo económico e social, sendo muito importante o eixo urbano Braga-Guimarães a que se podem naturalmente agregar cidades como Barcelos e Famalicão. Foi assim que se terá chegado à noção de quadrilátero e que se gerou algum consenso sobre a vantagem de concertar políticas urbanas entre os quatro municípios do coração do Baixo-Minho. Trata-se de um notável avanço, quando são conhecidas as velhas rivalidades entre algumas destas cidades, que projetos comuns como o da Universidade do Minho tem vindo a atenuar. Qual o balanço que se faz desta experiência? Que se saiba, houve convergência entre os quatro municípios em matéria cultural, sendo conhecidas as facilidades concedidas no acesso conjunto às respetivas agendas culturais. Poder-se-ia ir muito mais longe em temas de interesse comum, tanto de natureza económica como social, embora fosse necessário um esforço político dos quatros municípios para definir em conjunto as matérias onde se podiam explorar complementaridades, para racionalizar atuações e ter ganhos de escala. Dou exemplos. Cada um dos quatro municípios tem recintos de exposições onde
fazem feiras setoriais para a promoção da atividade económica, mas cujo impacto é meramente local. Se se concertassem, a oferta poderia ter outra dimensão atraindo um maior número de agentes e de visitantes externos. Falando em termos turísticos a conjugação de esforços poderia permitir a organização de uma agenda comum, de percursos turísticos conjuntos, cuja promoção também teria mais eficaz. O quadrilátero, como sistema urbano, poderia desempenhar as funções de uma cidade média, mas para isso teria de ter maior integração à escala do seu território supramunicipal, tanto em matéria de transporte públicos, como de equipamentos urbanos. Um passo importante poderia ser a transformação do Politécnico do Cávado, em Barcelos, no terceiro polo da Universidade do Minho. A UMinho ganhava dimensão e Barcelos beneficiava de um upgrading na oferta de Ensino Superior, com ganhos de racionalidade evidentes. Porém, há dificuldades pelo facto dos quatro municípios estarem distribuídos por duas comunidades intermunicipais (CIM). Como se sabe, no próximo período de programação 2014-2020 a descentralização da gestão dos fundos estruturais terá em conta esse nível de organização territorial, o que para o quadrilátero torna a vida mais difícil. Enfim, tudo muito difícil, por não haver no nosso país o escalão territorial adequado entre o nível central e o nível local para fazer política regional com plena legitimidade.
17 3B’S
170 investigadores O 3B’s alberga 170 investigadores de 20 nacionalidades diferentes. Destes, 70 são doutorados
18 3B’S
3B’S: DAS CALDAS DAS TAIPAS PARA O MUNDO
19 3B’S
Bandeira O 3B’s assume-se como “uma bandeira da região” que “dá autoestima às populações” sempre que aparece nas notícias
O que em 1998 era quase um sonho, tornou-se realidade em menos de duas décadas. Hoje, o 3B’s (Biomateriais, Biodegradáveis e Biomiméticos) da Universidade do Minho é um dos principais laboratórios a nível europeu e mundial. O seu fundador e diretor, Rui Reis, diz que nunca viu como um obstáculo o facto de estarem longe dos grandes centros de investigação. Pelo contrário, ao estarem em Caldas das Taipas têm coisas que não teriam se estivessem em Boston, Oxford ou Cambridge. Apesar dos muitos convites para “dar o salto”, Rui Reis garante que nunca irá defraudar as expectativas daqueles que acreditaram no projeto. “As coisas fazem-se sempre com uma certa ambição, mas não é normal termos chegado onde chegamos em tão pouco tempo. Era quase um sonho. Hoje é uma realidade”, confessa o diretor do 3B’s. Porém, Rui Reis e o laboratório querem mais. “Achamos que ainda podemos melhorar. A nossa lógica de funcionamento é crescer e ir para patamares ainda superiores.” As principais áreas de investigação do 3B’s são Engenharia Biomédica, Engenharia de Tecidos, Medicina Regenera-
tiva, Nanotecnologia e Células Estaminais. Atualmente, o laboratório conta com 170 investigadores, sendo que 70 são doutorados. Têm elementos de mais de 20 nacionalidades e conseguiram atraí-los até Caldas das Taipas. “É muito diferente estar aqui. Temos a consciência disso. Mas nunca vimos isso como um obstáculo. Mesmo sabendo que às vezes é verdade, nunca aceito como argumento que as coisas são mais difíceis de fazer aqui. Não é por isso que não podemos competir”. E as várias distinções e colaborações com prestigiados institutos e laboratórios de todo o Mundo provam-no. Por outro lado, o enquadramento regional e o apoio da Universidade do Minho e da Autarquia, que “têm sido incríveis”, são oportunidades para terem outras coisas que se calhar não teriam noutro local. “Se calhar não nos sentíamos tão úteis e como um exemplo para a comunidade de que é possível fazer coisas de qualidade aqui”, afirma Rui Reis.
Ao ser “um exemplo de investigação científica”, além dos fatores diretos de gerar empregabilidade oriunda de todo o Mundo e de ajudar a construir uma região de progresso e competitiva, há uma mais-valia emocional para a região. “Damos autoestima às populações. Sinto isso perfeitamente”, garante o diretor do 3B’s. “Ficam satisfeitas quando aparecemos nas notícias e conseguimos ser uma bandeira da região”. Daí o apoio e o reconhecimento que a Autarquia tem prestado ao laboratório e também a Rui Reis que, no ano passado, foi homenageado com o título de cidadão honorário de Guimarães. O investigador tem noção da importância que o organismo que dirige assumiu na região e por isso diz que não seria leal abandoná-lo, apesar dos muitos convites que já recebeu. “Quando se assumem compromissos com uma universidade, com a Autarquia e com as populações e com os investigadores não se tem todos os graus de liberdade. Sair seria
defraudar todas as suas expectativas”, considera. “Aceitar um convite, mesmo com um salário melhor e outra visibilidade, seria esquecer que isto foi um processo de construção coletiva e que tudo poderia colapsar se saísse e levasse algumas pessoas comigo”. Por isso, Rui Reis e o 3B’s vão continuar a investigar em áreas inovadoras a partir das Caldas das Taipas. Neste momento, há vários projetos interessantes em curso. Por exemplo, uma investigação na área da nanomedicina para entender as complexidades das relações entre os materiais e as células para a regeneração dos tecidos. Ou outro projeto inovador com materiais de origem marítima para aplicação médica. Neste último caso, estão a ser realizados estudos para a valorização, no campo da Medicina, de resíduos da indústria pesqueira e de algas. “Muito pouca gente tentou utilizar estes materiais para aplicações médicas e eles têm qualidades muito interessantes”, explica Rui Reis. Além destes projetos, o 3B’s vai continuar a dirigir o Instituto Europeu de Excelência na Engenharia de Tecidos e Medicina Regenerativa que tem 22 filiais em 13 países diferentes.
20 ENTREVISTA
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Concorda com a afirmação de que o Quadrilátero tem um problema de identidade? Não. Acho que durante muito tempo careceu de um compromisso, de uma vontade política. Neste momento, isso foi ultrapassado. O lema dos mosqueteiros – “um por todos e todos por um” – poderia ser o do Quadrilátero, mas o que se tem visto é cada um por si. A cultura foi essa. Durante muitos anos, não houve uma claríssima e empenhada vontade dos autarcas em estabelecer projetos comuns. Só quando o Governo vinculou o acesso a determinados fundos comunitários a iniciativas colaborativas é que começaram a surgir, mas numa lógica muito fracionada. É correto dizer-se que o Quadrilátero ou se transforma num projeto político ou se arrisca a não ser nada? Sim. Até porque a ideia de que era um mecanismo para aceder a financiamentos comunitários está a cair por terra, com as regulamentações do novo quadro comunitário. Este é um projeto sexy, mas muitos acham que não passa desse mecanismo para ir aos fundos. Deve ser mais do que isso ou não? Vai ser mais do que isso. Porque, agora, as câmaras não vão poder usá-lo para esse fim. A continuar, como irá continuar, poderá suscitar uma abrangência superior à que tem tido. Faz sentido que as câmaras possam abdicar das suas competências para que seja no Quadrilátero que se desenvolvam determinadas estratégias e políticas? Estamos a conversar muito intensamente. Desde setembro de 2013, temos mantido
uma cadência de encontros quase mensais. Há uma predisposição de todos para identificar áreas que poderão ser mais bem desenvolvidas a uma escala superior mediante a partilha de recursos. Por exemplo... Posso falar do sistema de gestão de transportes, do desen-
próprio país. E isso tem de ser potenciado. Obviamente que a questão de ganhar escala e utilizar um instrumento como a InvestBraga numa escala superior é algo que está claramente dentro das nossas premissas. Havendo regionalização, este espaço ainda faz sentido?
Perfil Professor de Economia no ISAG, Ricardo Rio, apoiado pela coligação PSD-CDS-PPM, terminou com 37 anos de governação socialista em Braga
“O PROBLEMA POLÍTICO JÁ ESTÁ ULTRAPASSADO” volvimento económico e do apoio ao empreendedorismo ou das redes de apoio à educação e da promoção da cultura. São funções que podemos desenvolver em conjunto, chamando à colação outros agentes que não os municípios. Em vez do InvestBraga, em vez do gabinete que Guimarães tem de captação de investimento, não fazia sentido haver um InvestQuadrilátero? Há oportunidade para essa colaboração. Há pouco, dizia que este era um projeto sexy. Eu acho que este é um território sexy. Tem a capacidade de ser, em termos de desenvolvimento, o território para o futuro do
Faz. Uma coisa é uma natureza administrativa formal com competências adstritas. Outra é esta partilha e otimização de recursos em benefício do território e dos seus agentes, desde logo da população. Quais são as políticas, as áreas que devem integrar o quadro comunitário de apoio? Obviamente, a competitividade e o apoio à inovação são centrais nesta interligação entre o tecido onde se produz o conhecimento e o tecido económico. As câmaras têm aqui um efeito catalisador e de articulação. É o que temos tentado fazer em Braga e pode ser
feito a uma escala superior. Além dos municípios, temos associações e um tecido económico, empresarial e industrial de muito relevo e temos centros de investigação de alta qualidade e estruturas universitárias. São instituições que, agregadas, criam uma massa crítica muito significativa e podem, obviamente, potenciar desenvolvimento económico. Cada um dos municípios aporta determinadas maisvalias. Braga tem o quê para dar ao Quadrilátero Tem muito. A componente da tecnologia, da nanotecnologia, o trabalho com o hospital e com a Escola de Ciências da Saúde, uma base industrial de vanguarda na área de eletrónica, as indústrias da metalomecânica e outras indústrias especializadas que estão a produzir para o setor da aeronáutica ou automóvel. Para lá daquilo que é um dos grandes atrativos e tem de ser um eixo central do desenvolvimento desta região, que é a componente turística. O principal problema dos municípios do Quadrilátero é económico, social, político ou outro? Eu diria que é um problema social, no sentido em que, sendo fruto do económico, se a economia funcionar, os problemas sociais tendem a ser resolvidos. Neste contexto, o problema do Quadrilátero ainda tem muito a ver com as dificuldades de empregabilidade, da reconversão do tecido industrial e das insuficiências em termos de qualificação em áreas relevantes. Esse é o grande investimento que tem de ser feito. Porque o desenvolvimento económico vem atrás e o problema político já está claramente ultrapassado.
GNRation Braga Legado físico da Capital Europeia da Juventude de 2012, promove atividades artísticas com ênfase no digital
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Centro de Inteligência Têxtil Famalicão Composta por um consórcio de associações do setor têxtil que se juntaram para promover a competitividade e inovação
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Cruzeiro do Galo Barcelos Símbolo da “Lenda do Galo” que popularizou o Galo de Barcelos e lançou a cidade como Capital do Artesanato
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Plataforma das Artes e da Criatividade Guimarães Emblemática herança da Capital Europeia da Cultura de 2012, alberga exposições, laboratórios e ateliês
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A POLÍTICA DE CIDADES NO CICLO 2014-2020
MANUEL C ASTRO ALMEIDA S E C R E TÁ R I O D E E S TA D O D O D E S E N V O LV I M E N T O REGIONAL
É hoje consensual que as cidades constituem um elemento de enorme importância para o desenvolvimento sustentável da Europa. Estima-se que mais de dois terços da população europeia (cerca de 350 milhões de pessoas) vivam em áreas urbanas, o que releva bem da importância que assumem as estratégias que potenciem as suas oportunidades de desenvolvimento. Serão estas estratégias e as políticas que lhes estão associadas que permitirão transformar as cidades em espaços de conectividade, de criatividade e de inovação e as transformem em centros de serviços de um espaço territorial mais alargado1. O próprio conceito de cidade está hoje em mutação: de um racional centrado nas suas fronteiras administrativas e tratadas de forma mais ou menos hegemónica será necessário, hoje, olhar para estes territórios salientando a sua diversidade e especificidade dentro da própria cidade (por exemplo ao nível mais micro do bairro ou de áreas específicas) bem como entender que a polis não se limita aos seus limites administrativos mas abrange uma realidade física e socioeconómica mais alargada como por exemplo no caso das áreas metropolitanas ou na difusão de aglomerações urbano-rurais. Os desafios que se colocam ao desenvolvimento dos sistemas urbanos implicam, assim, novos modos de governança que tenham em consideração várias escalas territoriais (supraurbanas, infraurbanas e interurbanas) que permitam às cidades trabalhar em conjunto e reforçar a coope-
ração e o funcionamento em rede com outras congéneres. As Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto desempenham, neste âmbito, um papel essencial. Mas não detêm o exclusivo da cooperação entre cidades próximas. A política pública, nomeadamente a financiada pela política de coesão tem, ao longo dos anos, apoiado um conjunto de ações de reabilitação do espaço urbano como forma de potenciar as condições de atratividade e de desenvolvimento económico, e assim da competitividade urbana. O acordo de parceria do Portugal 2020 refere explicitamente que, na perspetiva da política e do desenvolvimento urbano, assumem relevância os processos de regeneração e revitalização urbana nos principais nós estruturantes do sistema urbano nacional, contribuindo não só para a competitividade económica e para a atratividade desses centros, como também pelo impulso que proporciona à qualidade de vida e bem-estar dos seus habitantes, numa lógica de promoção de cidades mais compactas, privilegiando um uso mais eficiente do solo, menores deslocações dos seus habitantes e uma oferta de maior qualidade e mais racional de serviços públicos e coletivos. De forma a tornar as cidades mais sustentáveis, as intervenções deverão privilegiar áreas como a eficiência energética, a mobilidade, a habitação e regeneração urbana, a melhoria da eficiência no uso dos recursos, etc. Neste sentido, os apoios deverão prosseguir três grandes prioridades de investimento: i)
transição para uma economia com baixas emissões de carbono; ii) melhoria do ambiente urbano, revitalização das cidades e de áreas intervencionadas no sentido da recuperação e descontaminação de zonas industriais abandonadas e iii) regeneração física, económica e social de comunidades desfavorecidas. A criação de um eixo autónomo nos Programas Operacionais Regionais focalizado nos centros urbanos especificamente voltados para a promoção do desenvolvimento urbano sustentável constitui um exemplo (que não o único) da importância atribuída a estas questões no atual ciclo de programação. Para o efeito, serão mobilizadas neste eixo prioridades de investimento associadas à mobilidade urbana sustentável, ao ambiente urbano e à regeneração física, económica e social das comunidades e das zonas urbanas desfavorecidas. Importa por fim referir que é da responsabilidade de todos os níveis de governação (central, regional e local, em particular aos municípios e às entidades intermunicipais em parceria com agentes privados) garantir que o pleno potencial das cidades e aglomerações urbanas possa ser aproveitado em benefício dos seus cidadãos. Será, neste âmbito, o melhor contributo para os objetivos mais gerais enunciados no acordo de parceria relativos ao crescimento económico e à coesão social e territorial do país. 1 “Cidades de Amanhã – desafios, visões e perspetivas”, Comissão Europeia, 2011
29 BOSCH
59 bolseiros O protocolo entre a Bosch e a Universidade do Minho jรก permitiu o recrutamento de 35 engenheiros para a empresa e 59 bolseiros para a Universidade
30 BOSCH
FUTURO DA MULTIMÉDIA AUTOMÓVEL EM BRAGA
31 BOSCH
Investigação Os 14 projetos em curso irão culminar, pelo menos, no registo de dez patentes. Ao todo, serão investidos 19 milhões de euros até 2015
A Universidade do Minho e a Bosch Braga têm um curso 14 projetos de investigação que irão culminar, pelo menos, no registo de 10 patentes. O âmbito desta parceria abrange a pesquisa de novos materiais e de ferramentas inovadoras de produção para a tecnologia de interface homem-máquina na condução. Até 2015, o investimento total previsto é de 19 milhões e um protocolo assinado entre as duas instituições já permitiu o recrutamento de 35 engenheiros para a empresa e de 59 bolseiros para a Universidade. Em 1990, o principal objetivo da Bosch em Braga era a produção de autorrádios através de uma parceria entre a Blaupunkt e a Grundig. Em 2008, com a alienação da Blaupunkt, da venda direta e dos serviços de pós-venda, a divisão bracarense de Car Multimedia reorganiza-se e passa a dedicar-se ao desenvolvimento e produção de equipamento original para a indústria automóvel. Saem os autorrádios e entra, vinda da Alemanha, a produção de sistemas de navegação, na altura a última tendência da multimédia automóvel, e de controladores de caldeiras e sen-
sores de ângulo de direção. Hoje, Braga é a unidade produtiva da Bosch Car Multimedia na Europa e a maior fábrica do grupo em Portugal com cerca de 2000 colaboradores. Especializada em tecnologia e soluções de multimédia automóvel, a unidade acompanhou as mais recentes inovações e produz hoje tecnologia de vanguarda. Por exemplo, saem de Braga os “head up displays” para a BMW que permitem que o condutor veja todas as informações de assistência à navegação projetadas no para-brisas do veículo ou os “clusters” de instrumentos digitais para os principais fabricantes automóveis a nível mundial. Para se ter uma ideia, mais de 90 por cento da produção é exportada. No ano passado, a Bosch estabeleceu uma parceria com a Universidade do Minho para “acelerar o desenvolvimento de produtos e tecnologias inovadoras que respondam às últimas tendências do mercado,
tais como conectividade, soluções integradas e soluções ‘user-friendly’ altamente eficientes”, explica fonte da empresa alemã. Além disso, reforçou o investimento em investigação e desenvolv imento tecnológico (I&DT) com a contratualização de um projeto de mobilidade no setor automóvel no valor de 19 milhões de euros que está a ser desenvolvido nas instalações da Bosch e da Universidade do Minho. Segundo a Bosch, a Universidade do Minho foi escolhida porque, além de aparecer “nos principais rankings de universidades de excelência a nível mundial”, é “referência em Portugal pela qualidade do trabalho desenvolvido pelos seus investigadores nas mais diversas áreas”. Portanto, esta instituição dá garantias de que os produtos e serviços da Bosch “vivam a reputação de qualidade, fiabilidade e inovação presente na mente dos consumidores em todo o Mundo”. Para a empresa, o projeto de
I&DT “já está a trazer consequências positivas para as duas entidades envolvidas e para a região”. Desde logo, permitiu a criação de empregos altamente qualificados e a retenção de talentos com o recrutamento de 35 engenheiros para a empresa e 59 bolseiros para a Universidade. Por outro lado, “a parceria tem vindo a atrair a atenção dos principais clientes, dentro e fora do grupo Bosch, o que traz perspetivas de um desenvolvimento positivo do negócio no futuro” e a “atração de novos projetos para Braga”. Um dos objetivos da Bosch é, “numa perspetiva de crescimento, reforçar o papel como centro de desenvolvimento e de investigação” e “consolidar este ‘know-how’ produtivo com competências de desenvolvimento acrescidas”. Por tudo isto, a Bosch acredita que “é mais do que natural pensarmos que esta será uma parceria para manter no futuro”. Aliás, a empresa revela que já está a preparar uma candidatura para mais um financiamento que irá permitir que as tecnologias de ponta continuem a ser exportadas de Braga e de Portugal para os mercados mundiais.
32 EVENTO INTERNACIONAL
SEIS EIXOS PARA APROVEITAR FUNDOS COMUNITÁRIOS
O programa estratégico do Quadrilátero inclui, dentro das ações propostas no âmbito da operação Quadrilátero Cultural, a produção e realização de um evento internacional com o objetivo principal de projetar a Associação de Municípios de Fins Específicos para além das fronteiras do território nacional. O Evento Internacional do Quadrilátero concebido, e cuja designação proposta é “Contaminações in the edge”, pretende estimular, divulgar e promover projetos e iniciativas que, de forma original e inovadora, explorem o diálogo e os múltiplos cruzamentos criativos possíveis em três áreas centrais: arte, ciência e tecnologia. A edição de estreia ainda não tem data marcada mas o conceito já está desenvolvido. Assenta, sobretudo, em três tipos de iniciativas. O roteiro “Contextos de Contaminação”, que pretende ser um iti-
nerário de visitação de cariz turístico, lúdico e educativo, em que abordam diferentes contextos relacionados com a investigação e desenvolvimento, ciência, tecnologia e arte, exemplificando o potencial de contaminação entre estas áreas existentes no seio dos quatro municípios. Há ainda o festival “Fragmentos de contaminação”, que é um evento de média dimensão a ocorrer nos diversos espaços do Quadrilátero e que será centrado na apresentação pública de vários projetos como espetáculos, concertos, performances e exposições. O objetivo é que estas explorem as diversas contaminações possíveis entre o universo da arte, da ciência e da tecnologia. Por fim, está delineado o programa da conferência internacional “Dinâmicas de Contaminação” que pretende divulgar e sistematizar a mescla possível entre ciência, arte e
tecnologia. Prevê a realização de conversas informais a realizar em diferentes espaços do Quadrilátero, a execução de workshops que possibilitem a apresentação e demonstração de alguns projetos de contaminação, bem como a produção de uma grande conferência internacional capaz de atrair cientistas, investigadores e artistas reconhecidos. Destaque, também, para a presença da lista de patrimónios e manifestações culturais de natureza imaterial que vão estar presentes nestes eventos. No que concerne aos mais relevantes existe a olaria e o figurado de Barcelos, o bordado de Guimarães, os trabalhos em cerâmica tradicional, os bordados de crivo de Barcelos, os cavaquinhos e as violas de Braga, para além de vários artesãos, dos quatro concelhos, que continuam a desenvolver trabalhos em linho e tecelagem, cestaria, madeira, ferro e latoaria.
33 EVENTO INTERNACIONAL
GRANDE CONFERÊNCIA INTERNACIONAL ENCERRA PROGRAMA E PRETENDE ATRAIR CIENTISTAS, INVESTIGADORES E ARTISTAS RECONHECIDOS EM TODO O MUNDO
Temas Estão a ser preparados três eventos para internacionalizar o Quadrilátero em torno da Arte, Ciência e Tecnologia
34 ENTREVISTA
“CADA UM TEM A SUA FORÇA, A SUA IDENTIDADE E A SUA MARCA”
35 ENTREVISTA
Pode dizer-se que o Quadrilátero tem um problema de identidade? Se sim, porquê? O Quadrilátero tem de se reenquadrar em função das novas circunstâncias, temos que pôr o Quadrilátero ao serviço do território. O quadro comunitário Portugal 2020 está muito mais vocacionado para valorizar o território, torná-lo mais competitivo em contexto de rede com os agentes locais. Obviamente, também as câmaras, mas como elementos aglutinadores. Isso exige um processo aprofundado, porque eu entendo que tem um contexto de oportunidade que vai muito além dos fundos comunitários. Ainda que não os houvesse, mesmo assim justificava-se a existência do Quadrilátero. O Quadrilátero ou é um projeto político ou arrisca-se a não ser nada? Exatamente. Tem que ser um projeto político, que reúna a vontade desde logo dos autarcas, porque têm uma força que não pode ser negligenciada. É preciso que esse compromisso político seja bem sedimentado, e eu devo confessar que tenho notado por parte dos meus colegas uma enorme vontade e muito empenho para que este projeto seja bem sucedido. A ideia que existe é que até agora foi cada um por si e para si, e desde há um ano que é um por todos e todos por um. Neste momento, o Quadrilátero assenta em quatro pilares que estão coesos e concentrados num propósito, sabem convergir naquilo que é essencial e que deixam à margem aquilo que são as diferenças que existem, porque os territórios são diferentes. Há uma
lógica de identidade, mas não há uma similitude. Cada um tem a sua força, a sua identidade e a sua marca, mas sabemos unir-nos em torno disso. Que núcleo de competências deve ser entregue pelas autarquias ao Quadrilátero? Faz sentido que as câmaras abdiquem de competências? As câmaras não vão abdicar, têm é que assumir novas. A questão do empreendedorismo é um exemplo. É uma área em que a Câmara, muito mais que fazer, tem que criar condições para que se faça. Temos de deixar de ser o ator, para passar a ser o coreógrafo, para procurar os melhores atores.
Perfil Mestre em Ciências Jurídico-Políticas por Coimbra, Paulo Cunha,43 anos, é o rosto da coligação vitoriosa do PSD e CDS em Famalicão
E é preciso que os autarcas tenham esta capacidade de às vezes saberem encolher a favor do território. Encolher significa ajustar a sua dimensão àquilo que o território precisa. Que políticas diferenciadoras estão desenhadas, no âmbito do Quadrilátero, para aproveitar o próximo quadro comunitário? Nós já sabemos que dois terços do Programa Operacional Regional do Norte são dirigidos a empresas, emprego e conhecimento. São áreas onde as câmaras não tinham nenhuma influência, mas devem ter, no sentido de serem fatores agregadores, pois têm a dimensão institucional. Po-
dem facilitar, convocar os agentes e servir de referencial. Fala-se muito em diplomacia económica a nível internacional, mas também é preciso diplomacia económica dentro de fronteiras. No quadro que agora está a terminar, só cerca de seis por cento das empresas portuguesas tiveram acesso a fundos comunitários. E foram as grandes empresas, com dimensão internacional. A nossa ambição é passar de seis para 40 ou para 50. Mas não basta dizer que todos têm acesso aos fundos, porque na prática isso não acontece. Não têm escala, sentem-se afastadas e acham que é impossível chegar lá. As câmaras podem dar dimensão, acompanhamento e aconselhamento para que essas oportunidades sejam aproveitadas. Um exemplo relativo à tentativa de captação de investimento: no lugar de um InvestBraga, não deveria estar um InvestQuadrilátero? Isso vai acontecer naturalmente. É a mesma coisa que os espaços culturais. Não existe paralelo, dentro da Europa, equivalente ao Quadrilátero. Podemos, porventura de forma ousada, falar aqui numa eurocidade. Não do ponto de vista de os concelhos se fundirem, isso é uma ideia errada. O que é desejável são estas plataformas de interligação e comunicação entre eles. No contexto europeu, um concelho com 160 mil habitantes é uma cidade pequena. Se nós aparecermos à Europa como um território com 600 mil habitantes, é diferente. Essa é a realidade que temos de aproveitar. Cada um dos municípios aporta um conjunto de mais-valias. O que é que o
seu município tem para dar para este campeonato? Temos um ADN empreendedor e uma riqueza do ponto de vista da qualificação dos recursos humanos. Fomos o melhor concelho para estudar e temos feito um investimento muito grande na qualificação do ensino profissional. Do ponto de vista empresarial, temos a marca do têxtil bem vincada, mas temos uma enorme diversidade. O têxtil está muito marcado, mas o Vale do Ave e Famalicão têm muitos setores. E o facto de sermos líderes em setores que começamos a explorar há poucos anos, significa que este território, passe a expressão pretensiosa, é um chão fértil. Isso deve-se à dedicação dos empresários, mas deve-se muito à qualificação dos recursos humanos. As pessoas são o nosso forte. Onde poria a cruz nesta frase: o principal problema dos municípios do Quadrilátero é: a) económico, b) social, c) político, d) outro? Aposto no “outro”. Acho que a região tem um défice de investimento público. É um défice que porventura um Governo dificilmente agora conseguirá colmatar. Porque se olharmos para os últimos 20 anos e virmos, do ponto de vista da infra-estrutura pública, a região não recebeu investimento proporcional à sua participação no PIB. Mas eu não quero dizer que agora se deva fazer à pressa uma correção desse défice. Porque porventura nós precisaremos de investimento a outro nível, que será mais urgente do que a infra-estrutura. Por exemplo, a questão da mobilidade nas quatro cidades é uma questão que queremos resolver.
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Seis áreas Guia para a internacionalização do Quadrilátero identifica vetores para o crescimento empresarial
A ESTRATÉGIA COMUNITÁRIA “EUROPA 2020” IDENTIFICA TRÊS VETORES FUNDAMENTAIS DEDICADOS AO CRESCIMENTO E AO EMPREGO NA UNIÃO EUROPEIA
37 AGENDA 2020
Aprovada a 17 de junho de 2010, a estratégia comunitária “Europa 2020” identifica três vetores fundamentais dedicados ao crescimento e ao emprego na União Europeia. A visão europeia coincide com os objetivos definidos no âmbito do Quadrilátero empresarial, internacionalização do território e projeção de estratégias para o futuro. Em termos europeus, o vetor do “crescimento inteligente” visa desenvolver uma economia baseada no conhecimento e inovação. O “crescimento sustentável” pretende uma economia mais ecológica. Por fim, o “crescimento inclusivo” visa aumentar as taxas de emprego, bem como a coesão territorial e social. Para a prossecução destes objetivos , Portugal vai ter 25 mil milhões de euros em fundos comunitários, para investir até 2020. Estes dividem-se em 16 programas operacionais, regionais e temáticos. Para o Programa Operacional Regional do Norte, no qual se inclui o Quadrilátero, a verba disponível é de 3379 milhões de euros. Há, ainda, mais 12 mil milhões para o país todo, mas divididos pelas temáticas da Competitividade e Inovação, Inclusão Social e Emprego, Capital Humano, Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos, Desenvolvimento Rural e Mar. De acordo com o guia para a
internacionalização do Quadrilátero, elaborado no âmbito do projeto Quadrilátero Cultural, existem seis vetores considerados “basilares para a melhoria das condições existentes e para a criação de um ambiente favorável à dinâmica e crescimento empresarial. O primeiro é o desenvolvi-
de associações como esta se poderem candidatar aos projetos de modernização autárquica com um financiamento de 70 por cento da despesa elegível. O segundo vetor visa especializar o marketing territorial através da intensificação das ações de divulgação e promoção da imagem das cidades e
RELANÇAR A ECONOMIA COM FUNDOS EUROPEUS
mento de um modelo institucional de governança. Atualmente, o Quadrilátero é presidido, anualmente, por uma autarquia diferente. Este foi o modelo seguido, em concordância com a recomendação do guia para o Quadrilátero empresarial. Neste parâmetro, destaque para a possibilidade
região. Segue-se o aprofundamento da ligação entre o tecido empresarial e o Sistema Científico e Tecnológico Nacional. Aqui, a Universidade do Minho, o Instituto Politécnico do Cávado e Ave, bem como a Universidade Lusíada são elementos fundamentais, aliados a centros como o Cite-
ve de Famalicão, o Avepark de Guimarães e o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, com sede em Braga. Como quarto vetor, surge a criação de espaços e redes de excelência para fomentar o empreendedorismo e os negócios. Como exemplo de iniciativas passíveis de serem cofinanciadas, já existem várias plataformas de apoio à criação de empresas e ideias de negócio, como é exemplo o Concurso de Empreendedorismo da CIM do Ave. De referir que os quatro municípios já têm programas próprios de captação de investimento, sendo que nenhum deles exclui a hipótese de vir a ser criado um projeto regional. A quinta questão prende-se com a mobilidade e é uma das áreas em que o Quadrilátero mais está focado. Reduzir distâncias, adotar procedimentos bem sucedidos e melhorar as infraestruturas existentes são as prioridades. Como sexto vetor de ação, está a qualificação e atratividade do ambiente urbano. Neste contexto, o aumento de residentes com nível de escolaridade de Ensino Superior é um objetivo. Atualmente, na região do Quadrilátero, 12 por cento dos residentes têm curso superior. A média é igual à nacional mas inflacionada pelos 19 por cento de Braga, sendo que os restantes três Municípios estão abaixo da média.
38 OPINIÃO
UM QUADRILÁTERO POUCO POLÍTICO
JOSÉ MENDES VICE REITOR DA UNIVERSIDADE DO MINHO
Quando se juntam 600 mil pessoas, uma grande universidade pública, um dos municípios mais industriais e algumas das maiores exportadoras nacionais, dois milhares de doutorados, centros tecnológicos, a mais experiente estrutura de transferência de tecnologia e de proteção de conhecimento no país, um par de grandes laboratórios internacionais de investigação, um parque de ciência e tecnologia, uns quantos centros de incubação e aceleração de empresas, uma capital europeia da cultura, um centro histórico património da Humanidade e dois clubes de futebol profissional de elite, tudo isto num espaço geográfico pontuado por quatro cidades separadas entre si por não mais de 20 quilómetros, qualquer coisa como 10 minutos de automóvel em modernas autoestradas, e distando meia hora de um aeroporto internacional e de um porto de mar, o natural é agarrar a oportunidade, colocar no terreno estruturas de coesão e eficiência coletiva, arranjar uma marca territorial e vender este ativo no espaço internacional. Assim terão pensado, e bem, Guimarães
Rodrigues, antigo reitor da Universidade do Minho, e os presidentes das câmaras de Barcelos, Braga, Famalicão e Guimarães, quando em 2003 assinaram um protocolo em que se comprometiam a construir em conjunto um modelo de desenvolvimento espacial com as cidades a assumirem o papel de motores da região. Acabara de nascer o Quadrilátero. Apesar de um enunciado que indiciava que as desconfianças e rivalidades entre vizinhos poderiam começar a diluir-se, só em 2008, com a assinatura do protocolo de financiamento entre a Direção-Geral do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Urbano e os quatro municípios, se passou à ação. Foi desenvolvido um Programa Estratégico de Cooperação e criada uma Associação de Municípios de Fins Específicos. Este desenho acabou, todavia, por se converter num mecanismo conjunto dos municípios para captar fundos comunitários, em valores pouco expressivos e exclusivamente a partir de programas de financiamento nacionais. Sem prejuízo de um par de boas iniciativas, sobretudo na área da
cultura, o Quadrilátero foi definhando e está hoje longe das prioridades dos municípios envolvidos. Aquela que parecia uma boa ideia corre o risco de se perder nas malhas do nosso modelo de gestão do território e, não menos importante, na cultura minhota do minifúndio. É que os presidentes de Câmara respondem ao seu eleitorado natural, os seus munícipes, e não sentem motivação em ceder parte da sua autonomia em benefício de uma unidade territorial supramunicipal sem qualquer figura administrativa que a legitime. O problema é que o denso e prometedor ativo com que iniciei este texto só é vendável internacionalmente de forma conjunta. Isto é verdade quando estão em causa questões tão importantes como a atração de Investimento Direto Estrangeiro. Ou seja, o Quadrilátero só terá futuro, na plenitude do seu potencial, se for assumido pelos autarcas como um projeto político, no qual se expressariam territorialmente competências que são hoje exercidas de forma autónoma e disjunta por cada um dos municípios.
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1084 colaboradores A Riopele criou 149 postos de trabalho nos Ăşltimos anos. Hoje, a empresa tem 1084 colaboradores. No final dos anos 70, chegaram a ser 4700
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COMO A PAIXテグ SALVOU A RIOPELE
41 RIOPELE
“Com três ou quatro anos, já vinha para aqui brincar. A minha escola foi a fábrica e os meus professores foram os trabalhadores”. A história de José Alexandre Oliveira, 59 anos, é indissociável da Riopele, empresa fundada pelo avô em 1927 e da qual é, hoje, presidente do Conselho de Administração. Sem esta ligação “apaixonada”, José Alexandre já teria fechado as portas da fábrica, como os sócios queriam e os amigos aconselhavam. Mas ele nunca deixou de acreditar. Renegociou com os principais credores, comprou as quotas dos familiares e pôs em marcha um novo modelo de negócio. Este ano, a Riopele antecipa uma faturação de 78 milhões, quase o dobro de 2010. E nos dois últimos anos criou 149 postos de trabalho, atingindo os 1084 colaboradores. A Riopele nasceu há 87 anos, com José Dias Oliveira e dois teares, em Pousada de Saramagos, Vila Nova de Famalicão. Em 1953, após a morte do pai, José da Costa Oliveira assume a liderança, com apenas 22 anos. Será durante os seus quase 50 anos de gestão que a empresa conhece grande expansão, tornando-se líder europeia nos tecidos para vestuário a partir de fibras não naturais, em 1977. Nesta era, a empresa emprega 4700 funcionários e, em 1978, até a equipa de futebol da empresa, o G. D. Riopele, sobe à 1.ª divisão. É neste ano que José Alexandre começa oficialmente a trabalhar na Riopele. “O meu pai empurrou-me muito cedo e hoje agradeço-lhe por isso”, afirma. Na altura, a empresa tem um impacto social e económico fortíssimo na zona. A casa da avó de José Alexandre, viúva do fundador, era “quase o
departamento social da empre- apresentamos só o produto insa”. “Ela chamava-me e dizia dicado, mas o produto indicado ‘veio cá a Maria e é preciso me- no tempo indicado”. Focam-se ter os filhos dela’. Eu respondia no segmento médio-alto, adeque já tinha tudo cheio e ela in- quam e personalizam propossistia ‘mas mete, mas mete’. tas de valor a cada um dos prinAjudava todos”. cipais clientes e avançam para Após a morte de José da Cos- novos mercados: China, Turta Oliveira, em 2001, os cinco quia ou Rússia. ramos da família optam por Apostam na investigação e uma gestão partilhada entre- desenvolvimento através de gue a quadros externos. A estra- programas como o “Natégia não resulta e, em 2007, Jo- no.Smart”, que melhorou as sé Alexandre Oliveira assume o funcionalidades e característileme. Leva logo com uma tem- cas dos seus tecidos. Por exempestade: a crise mundial de plo, mantendo o conforto, a 2008/09. “Tivemos de dispen- elasticidade e a respirabilidasar mais de 300 pessoas. A em- de, criaram um tecido que represa estava em risco de fechar pele as nódoas de vinho, azeie todos compreenderam que al- te ou café, registado sob a marguém teria de sair, para os ou- ca “Çeramica Clean”. Por outros continuatro lado, esrem”, garantreitam as ligate. Para o pesções às universoal, o processidades e cen“Çeramica Clean” so foi pacífico, tros de investiFruto da investigação da mas para as figação, estimuRiopele, nasceu o tecido nanças da Riolando a criação “Çeramica Clean”. Não absorve substâncias que fapele foi muito de ideias e um zem nódoas, como café, violento. prémio anual vinho, azeite e ketchup “As indemde inovação. Em breve, tonizações desdas as áreas de capitalizaram a empresa”, recorda Bernardi- investigação e de-senvolvino Carneiro, que está na em- mento serão agregadas num presa há 32 anos e é hoje admi- Polo de Inovação. Nesta “continuidade evolunistrador. Em 2011, entram em negociações com os credores tiva” da Riopele, as pessoas que, para garantir a viabilida- não ficaram para trás. Foi criade económica e financeira, do o Programa Horizontes, exigem que o único membro para o desenvolvimento de da família presente na empre- competências e valorização sa, José Alexandre Oliveira, pessoal e profissional dos colaseja o líder do projeto e único boradores. “Não é por acaso sócio. Ele assume a responsa- que a empresa sobrevive. O sebilidade e compra as quotas gredo é o know-how existendos familiares, que se afastam te, não do chefe, do engenheiro ou do doutor, mas das equiem definitivo. É implementado um plano de pas, de toda a gente”, elogia modernização do parque in- Bernardino Carneiro. Hoje, o plano começa a dar dustrial, no valor de 10 milhões de euros. A somar à verticalida- frutos. Nos mais de 140 mil mede, a flexibilidade tornou-se tros quadrados de área coberta, uma nova vantagem. “Não a empresa tem uma capacidade
produtiva de 700 mil metros de tecido por mês. Entre os clientes estão Hugo Boss, Giorgio Armani, Versace, Zara ou Calvin Klein, e cerca de 98% da produção é exportada. “Recuando dois ou três anos, ninguém acredita de onde saímos e onde estamos agora. Se não tivesse este contacto desde criança, se tivesse saído da Universidade e depois vindo para aqui, tinha sido mais um a deixar cair a Riopele”, admite José Alexandre Oliveira. Porém, por causa do pai e do avô, dos trabalhadores e do nome Riopele, nunca deixou de acreditar neste projeto industrial, ao contrário de outros. “Muitas das pessoas que, há uns anos, quiseram queimar os têxteis, dizendo que iam acabar e que eram um cancro dos tipos dos Ferraris, andam agora a dizer que os têxteis são fantásticos. Ainda bem que as pessoas se convertem. Prefiro têlos do nosso lado, do que contra nós”, considera. Sobre se as filhas, de 13 e 15 anos, vão a ter a mesma “escola” de fábrica, José Alexandre Oliveira diz que não está preocupado. “Trago-as aqui e conto-lhes como era no meu tempo de criança. Elas gostam de ouvir, mas, como todas as pessoas daquela idade, acham que não pode ter sido verdade. Não acreditam que eu jogava futebol de pés descalços com os trabalhadores ou que as casas não tinham aquecimento”. Garante que a prioridade não é saber se vão ou não seguir as pisadas do pai, do avô e do bisavô. “O que me preocupa é a continuidade da Riopele, passe ela ou não pelas minhas filhas, e é com esse propósito que estamos a preparar equipas que trabalhem com a mesma paixão e determinação”.
42 ENTREVISTA
Perfil O único dos quatro que já vai no segundo mandato. Tem 57 anos, é empresário e independente, embora tenha ganho duas vezes nas listas do PS
43 ENTREVISTA
Pode dizer-se que o Quadrilátero tem um problema de identidade? Se sim, porquê? O problema de identidade do Quadrilátero tem que ver com a sua duração. Foi estruturado apenas para o quadro comunitário que está em vigência, que é o QREN. E até final do último mandato, a produtividade daquilo que foi a forma como o Quadrilátero foi gizado não foi conseguida. Houve aqui apenas um eixo que eu diria que teve algum sucesso, que foi o eixo cultural. Depois, ele perdeu na sua identidade porque é preciso dar-lhe de facto força e cariz político. Neste mandato já começou a ser dado mas a duração do Quadrilátero está aqui em questão. Temos de discutir se queremos o Quadrilátero e, acima de tudo, que Quadrilátero é que queremos. Concorda, ou não, com esta afirmação: o Quadrilátero ou é um projeto político ou arrisca-se a não ser nada. Juntando a vontade política, nós temos de lhe juntar a disponibilidade financeira de cada um dos municípios. E isto não é fácil nos momentos que correm. A segunda é que o Quadrilátero não se pode cingir só às quatro cidades. Podem ser uma alavanca, mas temos de pensar numa dimensão e dinâmica diferente dos outros municípios. E depois fazer aquilo que foi feito de uma forma sempre muito modesta que é chamar toda a sociedade civil. Quando falo disto falo nos setores do Ensino Superior e empresarial. Para mim, hoje não faz muito sentido que as câmaras estejam a sustentar o Quadrilátero do ponto de vista financeiro quando têm, no seu interior,
“SEM VONTADE POLÍTICA O QUADRILÁTERO CAI” uma série de instituições que também devem comparticipar nesse financiamento. Até porque se podem alastrar a ambas as CIM. Tendo em conta a dimensão dos quatro municípios, podemos alavancar os outros. Eu diria que de uma forma solidária do ponto de vista técnico. E isto é muito fácil de fazer. Se tivermos uma matéria do ponto de vista jurídico, qualquer um de nós tem juristas. Sob o tipo económico qualquer um de nós tem economistas. E portanto devemos contribuir para esse espaço do ponto de vista técnico, que é um dos problemas com que o Quadrilátero poderá vir a confrontar-se, num futuro próximo, no âmbito do novo quadro. Que núcleo de competências devem ser entregues pelas autarquias ao Quadrilátero? Faz sentido que as câmaras abdiquem de competências? Nós temos várias áreas de intervenção em que temos de ir muito além dos nossos territórios. Aqueles que têm a dinâmica e a dimensão devem pensar como um todo, neste caso os quatro municípios, mas não nos adianta muito se não alargarmos a outros. Como digo, qualquer alavancagem que futuramente seja feita aqui pelo Quadrilátero tem repercussões na envolvente desse próprio Quadrilátero. Portanto,
acho muito mais interessante chamar os municípios para uma perspetiva diferente. É possível que esta escala seja um elemento diferenciador comparativamente a outras regiões do país? Eu diria que é o fator diferenciador. Nós não podemos ver a nossa região, e essencialmente o distrito, desligado no seu todo. Até porque do ponto de vista do interesse temos várias características em concelhos completamente diferentes. Por exemplo, a zona balnear que nós temos aqui, que é Esposende. Quando pensamos no Quadrilátero, pensamos em desenvolvimento mas ao mesmo tempo temos de pensar a nível da escala empresarial e da exploração económica. Nós temos uma série de atividades que, sendo localizadas, todos nós ganhamos se forem postas ao serviço do global. Um exemplo relativo à tentativa de captação de investimento: no lugar de um InvestBraga não deveria estar um InvestQuadrilátero? Aquilo que for feito um bocadinho à escala do distrito, ou das CIM, penso que ganharemos todos com essa dimensão. Agora, podemos fazer isto se estivermos desprendidos de determinados complexos. Eu sou daqueles que estou disponível para, se houver um interesse muito mais global, tentar abdicar de alguns interesses locais, sendo certo que, ao abdicar de um interesse local, sei que o global vai beneficiar muito mais. Cada um dos municípios aporta um conjunto de mais-valias. O que é que o seu município tem para dar para este campeonato? Não é o que podemos contri-
buir mas sim o que podemos ganhar. E eu acredito que o que podemos dar e receber é muito, se formos suficientemente inteligentes. Eu dou-lhe um pequeno exemplo: uma gestão diferente nos Transportes Urbanos de Braga. Quando eu falo de criar aqui uma rede intermunicipal não estou a dizer que vamos ter autocarros de 15 em 15 minutos, como existe em Braga. Logicamente que, no caso dos transportes, é preciso acautelar aqueles que têm concessionado o transporte público. Não estou a falar da possibilidade de os TUB se substituírem ao transporte comum. É para acrescentar, criar circuitos próprios com destinos muito objetivos. Onde poria a cruz nesta frase: o principal problema dos municípios do Quadrilátero é a)económico b)social c)político d) outro O Quadrilátero tem forçosamente um problema económico-financeiro e tem um problema social muito grande, até do ponto de vista do emprego, das dificuldades na Educação. E há um problema que é muito preocupante mas que não estamos a dar muita importância, nós portugueses, e acima de tudo os políticos. Nós temos uma perda nos índices de natalidade que é uma coisa extraordinariamente alta. E estamos a falar do distrito mais jovem que, em teoria, devia ser onde há mais nascimentos de crianças. São problemas cujo resultado das medidas que comecem hoje só produzem efeito daqui a 20 ou 25 anos. Temos o dever e a responsabilidade de resolver, e aqui o Quadrilátero pode ter um papel importante.
44 DIGITAL GAMES LAB
2,6 milhões Inaugurado em março, o Digital Games Lab tem laboratórios de audiovisuais, desenvolvimento de jogos digitais, interfaces e robótica e desenvolvimento de produto. Custou 2,6 milhões de euros
45 DIGITAL GAMES LAB
USAR JOGOS DIGITAIS PARA “BRINCAR” A SÉRIO
46 DIGITAL GAMES LAB
Comunicação A EST promove contactos e reuniões com os empresários para mostrar o seu potencial. As portas estão sempre abertas para novos projetos
Inaugurado no início deste ano, o Digital Games Lab Centro de Investigação e Desenvolvimento em Jogos Digitais reúne num mesmo teto as principais áreas da Escola Superior de Tecnologia (EST) do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA). Localizado no campus de Barcelos, este é um polo de conhecimento e de prática, orientado para o mercado e para o produto, que visa a busca da inovação. No seu catálogo, possui projetos premiados e jogos que são para ser levados muito a sério. O Digital Games Lab custou 2,6 milhões de euros e nos seus dois mil metros quadrados inclui laboratórios de Audiovisuais, Desenvolvimento de Jogos Digitais, Interfaces e Robótica e Desenvolvimento de Produto. É um espaço de investigação multidisciplinar com infraestruturas e equipamentos que dão especial enfoque à área dos jogos digitais. “A aposta nos jogos digitais justifica-se por esta ser uma temática multidisciplinar que engloba as principais áreas da EST: design, informática com uma componente gráfica forte e a eletrónica com a componente dos interfaces”, explica Nuno Feixa Rodrigues, diretor da EST. No Digital Games Lab, as componentes pedagógica e de
investigação misturam-se, tanto em termos de docentes como de alunos. “Uma instituição de ensino superior para ser uma instituição a sério tem de ter investigação”, justifica Nuno Feixa Rodrigues. O objetivo do Centro de Investigação é juntar todas as valências da EST para “fazer projetos e criar inovação” e tem como grande vantagem conseguir ligar rapidamente todas estas áreas com vista a um objetivo comum. “Muitas vezes, noutras instituições, estas áreas funcionam um pouco isoladas. Aqui, conseguimos juntar todas estas áreas e pessoas, pô-las a falar e a trabalhar num rumo comum, o que não é nada fácil. Para já, creio que é uma realidade única a nível nacional, tanto em termos de capacidade humana como de equipamentos”, avança o diretor da EST. Para aproveitar ao máximo esta capacidade, o Centro quer posicionar-se mais perto do mercado e da investigação aplicada do que da ciência fundamental pura. Para tal, o Centro e o seu diretor têm
promovido uma série de contactos e de reuniões com empresários para comunicar o potencial que ali está. “Temos tido muita dificuldade em passar a mensagem. Pensava que ia ser mais fácil transmitir o que nós somos e que capacidades temos e o que podemos fazer”, lamenta Nuno Feixa Rodrigues. Porém, aos poucos vão conseguindo. “A grande maioria das pessoas que vêm cá fica surpreendida com o que temos”. O diretor faz questão de anunciar que estão ali para trabalhar e para aplicar bem aqueles recursos públicos e que possuem várias modalidades de colaboração. “Não é por uma empresa não ter capacidade para investir num projeto que nós fechamos as portas. Temos também a missão de as apoiar. Desde que vejamos valor nele, temos várias formas de trabalhar num projeto. Obviamente, se se quiser um projeto num determinado timing e com uma garantia de sucesso mais elevada, as condições serão diferentes”. Pelos laboratórios da EST já
passaram vários projetos premiados. Por exemplo, foi ali desenvolvida e concretizada na totalidade uma “set-top box” revolucionária que ganhou um prémio internacional. A Quid Box pode ser controlada por gestos ou por voz e, além do tradicional equipamento de televisão, inclui aplicações, jogos e videochamadas com um interface muito intuitivo. Por outro lado, há uma forte ligação ao setor da saúde, graças ao curso de Informática Médica. Neste âmbito, já foram desenvolvidos interfaces robóticos, para serem utilizados em cirurgias, e outras aplicações, para “jogos” de treino para melhorar e aperfeiçoar técnicas cirúrgicas, um projeto de realidade aumentada cujo objetivo é projetar informação no próprio paciente enquanto ele está a ser operado ou juntar em tempo real informação de ressonância magnética com o ecógrafo. Por causa do investimento feito, das boas condições e das pessoas que ali estão a trabalhar, Nuno Feixa Rodrigues diz que têm uma “enorme responsabilidade”. “Temos todas as condições para estar na linha da frente da inovação e fornecer estas condições às empresas e instituições que as queiram aproveitar”.
47 CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Braga
Barcelos
Famalicão
Guimarães
BARCELOS
Instituto Politécnico do Cávado e do Ave O Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA), instituição de ensino superior público criada em 19 de dezembro de 1994, oferece cursos de licenciatura, mestrados, especialização tecnológica e pós-graduação, em regime diurno e pós-laboral. Constituído por duas escolas, de Gestão e de Tecnologia, promove atividades nos domínios de formação graduada e pós-graduada, com a preparação de profissionais com elevado nível de qualidade.
BRAGA
FAMALICÃO
GUIMARÃES
A Universidade do Minho (UM) foi fundada em Braga, em 1973. Também tem dois polos em Guimarães, mas é em Braga que se concentra a maioria das atividades e estudantes. Dispõe de 12 escolas, sendo que a oferta educativa se estrutura fundamentalmente em torno de licenciaturas, mestrados integrados, mestrados e doutoramento. Todos estes ciclos de estudos podem ser frequentados em regime de tempo parcial.
O CITEVE, Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal, é uma organização privada sem fins lucrativos com delegações comerciais no Brasil, Tunísia, Argentina, Paquistão, Chile e México. Disponibiliza às empresas do setor do têxtil e do vestuário, principalmente PME (90%), um portfólio de serviços que inclui ensaios laboratoriais, certificação de produtos, consultoria técnica e tecnológica, investigação e desenvolvimento, inovação, formação e moda e design.
O Avepark é o parque de Ciência e Tecnologia de Guimarães, implantado a oito quilómetros do centro da cidade. Funciona desde novembro de 2007 e destaca-se pela incubadora de empresas ligadas à Universidade do Minho. Também é ali que labora o grupo de investigação 3B (Biomateriais, Biodegradáveis e Biomiméticos), que coordena o Instituto Europeu de Excelência em Engenharia de Tecidos e Medicina Regenerativa.
Universidade do Minho
CITEVE
Avepark
48 CULTURA
Braga
Barcelos
Famalicão
Guimarães
BARCELOS
BRAGA
FAMALICÃO
Teatro Gil Vicente
Theatro Circo
Casa das Artes
A principal sala de espetáculos dos barcelenses reabriu no ano passado com uma requalificação de vulto, após duas décadas encerrada ao público. O edifício é centenário. Foi inaugurado a 31 de julho de 1902, com uma peça de teatro de revista de assuntos locais, denominada “Barcelos por Dentro”, da autoria de Augusto Soucasaux. Atualmente, o Teatro Gil Vicente está sob a alçada da vereação da Cultura da Câmara de Barcelos, que também é responsável pela programação.
Inaugurado a 21 de abril de 1915, é o principal espaço de espetáculos de Braga e um dos maiores do Norte, com uma sala capaz de albergar 1500 pessoas. Encontra-se classificado como imóvel de interesse público desde 1983. A tela da boca de cena, com 12 metros de largura por 8 de altura, é da autoria de Domingos Costa. A tela da cúpula, da autoria de Benvindo Ceia, retrata uma dança de ninfas libidinosas, e é circundada pela duração de um dia, do nascer do sol ao entardecer, em circuito aberto.
A Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão é um teatro municipal inaugurado a 1 de junho de 2001. A obra do arquiteto Pedro Ramalho – que remodelou o Teatro Rivoli, no Porto – distingue-se pela arquitetura ampla, de grandes janelas rasgadas. Nas paredes do interior, destaca-se a intervenção do artista plástico Ângelo de Sousa, que introduziu elementos de cor que evocam ondulantes fitas festivas.
GUIMARÃES
Centro Cultural de Vila Flor Nascido em 2005 da recuperação do palácio homónimo e espaços adjacentes, o Centro Cultural de Vila Flor é o principal espaço artístico de Guimarães. Foi inaugurado a 17 de setembro daquele ano, com um concerto dos Madredeus e, desde então, já acolheu centenas de eventos. Destaque para a beleza dos jardins que o circundam, premiados em 2006 com menção honrosa na categoria espaços exteriores de uso público do Prémio Nacional de Arquitectura Paisagista.
49 HISTÓRIA E ARTE
Braga
Barcelos
Famalicão
Guimarães
BARCELOS
Museu da Olaria Situado em pleno Centro Histórico de Barcelos, o Museu de Olaria foi criado em 1963, após a doação de uma valiosa coleção recolhida pelo etnógrafo barcelense Joaquim Sellés Paes de Villas Boas. A sua primeira designação foi “Museu Regional de Cerâmica”. Mais tarde, passou a chamarse “Museu de Cerâmica Regional Portuguesa”. Quando as suas coleções passaram a abranger praticamente toda a olaria nacional, a instituição passou a designar-se “Museu da Olaria”.
BRAGA
Santuário do Bom Jesus do Monte Este santuário católico dedicado ao Senhor Bom Jesus é um conjunto arquitetónico e paisagístico composto por uma igreja, um escadório onde se desenvolve a via-sacra do Bom Jesus, uma área de mata (Parque do Bom Jesus), hotéis e um funicular. Acredita-se que a primitiva ocupação remonte ao início do século XIV, quando alguém terá erguido uma cruz no alto do monte Espinho. Em 1373 já é mencionada uma ermida no local, sob a invocação da Santa Cruz. É local de devoção e pereregrinação de fiéis de todo o Mundo.
FAMALICÃO
GUIMARÃES
Considerada a maior memória viva de Camilo Castelo Branco, a Casa de Seide foi o local onde o escritor concebeu a maior parte da sua obra. O museu ganhou um significado histórico de fundamental importância para o conhecimento profundo da vida e obra do escritor, constituindo cada visita um convite renovado à leitura de Camilo e uma aposta de esperança na perenidade da cultura e da língua portuguesa, de que a sua obra constitui afirmação tão singular.
Em posição dominante, sobranceiro ao Campo de São Mamede, este monumento encontra-se ligado à fundação do Condado Portucalense e às lutas da independência de Portugal, sendo designado popularmente como berço da nacionalidade. Classificado como monumento nacional, em 2007 foi eleito uma das sete maravilhas de Portugal. A pia onde se afirma ter sido batizado Dom Afonso Henriques encontra-se na capela românica da Igreja de São Miguel da Oliveira, no setor oeste do castelo.
Casa de Camilo
Castelo
Ficha Técnica Diretor Afonso Camões Diretor-Executivo Domingos de Andrade Diretor de arte Pedro Pimentel Conceção e paginação Joana Koch Ferreira e Pedro Pimentel Infografia Cátia Pires Edição Paula Ferreira Textos Delfim Machado e Tiago Rodrigues Alves Fotografia Global Imagens
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Jornal de Notícias 3 de Dezembro 2014
Edição n.º 185