Jonas araújo para o oeste

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...PARA O OESTE Já fazia três dias e duas noites que ele atravessava sozinho o as longas estepes hyrkanianas, depois de despedir-se de um grupo de nômades com os quais desenvolvera uma certa amizade por ter ajudado a libertar a filha do líder de bandidos. Na terceira noite, o bárbaro chegava à cidade portuária de Makkalet. Ele partiria no barco que saía na manhã seguinte. Levava consigo de valor era uma espada longa de cabo de osso, ornamentada com uma esmeralda. Presente de um líder tribal feiticeiro de Vendhya, o qual ele ajudou como capitão mercenário para libertar sua terra e nas costas, ia preso um grande machado duplo. Além daquilo, só restava a roupa do corpo que era bem típica do que um guerreiro nômade hyrkaniano usaria. Era um homem de quase dois metros de altura, apesar de não ser algo comum a um homem de origem oriental como ele. Provavelmente culpa do pai que ele não conhecia. Sua mãe disse que foi uma paixão momentânea por um andarilho do norte que estivera em Khitai e ajudara ela na juventude quando ela quase fora morta por bruxos malignos. Motivo pelo o qual Long saía de casa. Saía em busca do paradeiro de seu progenitor. Os cabelos, longos e lisos, eram cheios e negros como uma mortalha. Presos numa única e longa trança. Usava duas argolas prateadas, uma em cada orelha; e braceletes de ferro nos pulsos. A travessia que a embarcação fazia era longa. Não era um barco de grande porte e nem dos melhores; mas era o que ele podia usar, pois já havia gasto boa parte das suas moedas de ouro numa taverna na outra cidade, e depois mal tinha sobrado para encher o cantil de água. Para atravessar o mar de Vilayet levava-se aproximadamente três dias de viagem, e tudo ia bem até chegar perto do porto de Aghrapur, grande cidade-estado de Turan. O barco chegava lentamente durante a madrugada, Long estava sentado na proa, esperando chegar logo para que pudesse andar em terra firme, estava em estado de ansiedade com a busca que realizava e quanto mais rápido andasse, mais perto chegaria de seu objetivo. Era como ele pensava. Vindo do nada - no que diz respeito ao evento, mas vindo de baixo, geograficamente falando - algo grande batia embaixo do barco com muita força e rachava o casco de madeira, derrubando o jovem no chão. Após a batida, o barco balançava como se alguém se apoiasse nele para levantar, desestabilizando a estrutura. Long levantava tirando o machado das costas e avistava o que pareciam tentáculos segurando a beira do barco e puxando a ponta do barco para baixo. Ele já imaginava o que viria após e procurava se segurar no mastro enroscando o braço numa corda da vela quando apareciam alguns homens da tripulação com arco e flecha e lanças, ele dizia: - Segurem-se!! – Mas não deu tempo, pois os tentáculos soltavam a ponta do barco que já estava quase encostando na água, fazendo com que o barco voltasse para o lado oposto com a força da água. Não era suficiente para virar, mas quando o barco voltava para o ponto inicial, a criatura marítima quebrava o casco onde antes estava rachado. Os homens caíram no chão alguns largaram suas armas, mas agora tentavam se recompor. Long corria até a beira do barco para averiguar, mesmo as águas sendo muito escuras, ele via os tentáculos que se sacudiam sinuosamente emergindo da água negra da noite. Ele bradava com uma voz potente e clara para os arqueiros e lanceiros da tripulação, apontando na direção do alvo. - Lá! A cabeça está lá! Atirem! A tripulação de passageiros subia desesperada do fundo do barco que fora partido e era invadido por água e tentáculos infernais. Long ia até eles os ajudando a se colocarem em algum lugar seguro, mas estavam todos desesperados e cientes de que morreriam. Então a criatura apoia os tentáculos na beirada e puxa o barco para baixo novamente, os arqueiros caíam na água, alguns já eram engolidos pela boca enorme da besta. Long apoiava o pé num mastro, e tentava segurar as pessoas do outro lado, quando a criatura solta o barco, algumas pessoas que se seguravam na beira caíam do outro lado. Quando o barco voltava com o impulso da água, já não havia mais que dois homens com arcos e as flechas já se acabavam. Muitos passageiros tinham morrido lá embaixo e ainda caíram mais outros agora. Long se virava para a criatura e corria, apoiava o pé na borda do barco e saltava ainda mais alto para cair do outro lado da besta marinha. Antes que o corpo dele voltasse à superfície ele era capturado, seu corpo era


apertado por tentáculos grossos e fortes por demais, ventosas o mantinham ainda melhor em sua nova prisão e as águas agitadas tornavam-se uma espécie de inferno escuro, frio e sufocante. Porém, logo isso mudava, pois ele era erguido acima das águas, preso em um tentáculo enrolado em seu corpo, pelo menos fora preso com um braço livre, o machado também estava livre nessa mão, e então ele olhava para baixo, vendo a cabeça enorme, lisa de cartilagem e olhos monstruosos de um tipo de polvo, de cor escura, esverdeado, logo aparecia a boca da criatura, onde Long via roupas e pedaços das pessoas, que ele tinha acabado de ver vivas e saudáveis no barco, dois dias antes. Aquela visão fora suficiente para despertar o jovem do terror que o paralisara. O guerreiro então erguia o machado, urrando de fúria. - GRRAAAAAAHH!!!! - Segurando o machado com a lâmina para baixo, ele golpeava o tentáculo. O reflexo físico e mental do guerreiro nato fazia com que ele arremessasse o machado com precisão acertando e cravando na mandíbula da criatura numa tentativa desesperada de evitar com que caísse dentro da boca da besta. E assim, ele era contemplado com aquele breve sucesso. Ele partia o tentáculo e caía, o machado acertava a fera que se mexia de dor, e saía da direção do bárbaro que caía na água ao lado da cabeça do animal. Ele desembainhava a espada da cintura e fincava na cabeça do bicho que ferido pela segunda vez resolvia fugir, nadando para o fundo, e levando o bárbaro junto. Os músculos de Long o puxavam para junto do animal, segurando-se na espada fincada, ele apoiava os pés na cabeça do monstro e arrancava a espada para poder ir embora antes que acabasse o ar de seus pulmões. O Long emergia da água mais próximo da praia do que antes, olhava para trás ofegante e via pedaços do barco. Ele decidia nadar até ali e segurar-se num pedaço de madeira para remar até a terra firme com ajuda. O guerreiro tinha o sentimento de conclusão e alívio misturando-se ao de prontidão da batalha e ao poucos vencendo este, quando repentinamente ele sentia um puxão. Um tentáculo prendia suas pernas e o trazia para baixo rapidamente o fazendo engolir um pouco de água. Ele não podia ver muita coisa enquanto era arrastado mais uma vez para aquele inferno frio e escuro e agora com movimento, espuma, e um vulto ainda mais escuro que o engolia. Devido a fúria da ação ele teve a sorte de não ser mastigado. Agora num local apertado, nojento, cheio de sangue, vísceras e fluidos estomacais, eram muitas coisas para compreender, mas ele só tinha duas opções, morrer ou manter a calma e procurar o caminho de volta. Ou pelo menos até uma parede do estômago, o que ele encontrava e então puxava sua espada novamente, perfurando e abrindo uma fenda tão grande quanto pudesse quando começava novamente uma tormenta, sendo sugado para fora, ele tentava manter a linha reta e logo encontrava outro obstáculo, e colocava a espada para trabalhar mais uma vez, e agora ele saía de volta para o fundo do mar, tentando nadar para a superfície, ele percebia terra submersa, era o começo do continente agora faltava pouco. Ele emergia novamente e já podia avistar barcos pesqueiros e via também casas na terra firme, era um porto de pescadores. Long chega na praia nadando exausto e coberto de sangue humano e negro e viscoso daquela besta. Ele parava em pé na areia úmida e olhava ao redor, esgotado. Ele checava a espada na bainha na cintura e se sentia seguro novamente, virando-se para o mar, sentava na areia e desabava deitado, arrasado fisicamente. Adormecendo. O andarilho acorda então com o sol brilhante sobre sua face, conseguia enxergar muito pouco enquanto ouvia vozes. Ele grunhe e começa a se levantar enquanto as pessoas se afastam assustadas com exclamações e sussurros, ele fica em pé, o corpo e os longos cabelos cobertos de sangue e gosma, uma mão fazia sombra para os olhos enquanto estes se acostumavam com a luz e a outra segurava o cabo da espada, para conferir se não tinha sido roubado, ele vê que estava cercado de pessoas comuns, pescadores, também pessoas que não trabalhavam ali, mas que vieram ver a nova atração. Um deles era alto, mas baixo perto de Long. Era bem vestido e tomava a dianteira em relação aos outros, que se calavam para ouvir, o homem falava com Long numa língua que ele conhecia. - Queremos agradecer-te por ter destruído o monstro. Quem és tu, estrangeiro?


Long olhava ao redor e via que além das pessoas assustadas em volta dele, a carcaça da besta marítima estava ali, uma vez sem vida, provavelmente fora levada pela maré até a areia. Depois ele tirava a mão de cima dos olhos, mas continuava com a outra apoiada na cabo da espada embainhada. - Me chamo Wang Long. Eu sou um viajante... minha embarcação naufragou.... aparentemente fui o único a sobreviver a esse monstro que nos atacou no mar. - O homem ria. - Tu fizeste mais do que sobreviver, meu jovem. Meu nome é Jarek. A cidade de Aghrapur tem uma dívida contigo. Essa criatura devorou muitos dos nossos pescadores, e a pesca é uma atividade importante para nosso povo, além da travessia para o outro lado, mas infelizmente não podemos receber um estrangeiro com muitas glórias. – Long já ficava mais calmo. - Bem, se precisarem de algum favor, talvez eu possa ajudar. Se puder, terei prazer em servi-los da melhor maneira que possível, mas em troca, eu preciso de comida, um lugar para me recompor, roupas, e um cavalo para continuar minha viagem. O homem pensava três segundos e dizia: - Venha comigo. - Ele se virava abrindo um caminho no meio das pessoas e quando estas viram que Long passaria por ali, abriram um espaço muito maior, notavelmente amedrontadas. O oriental passava, olhos frios e negros, os longos cabelos molhados, desgrenhados, coberto daqueles fluídos da batalha aquática da noite passada. Enquanto notava o medo dos cidadãos pacatos ao avistá-lo, ele lembrava do terror que ele mesmo sentira lutando contra o monstro, vendo que qualquer criatura é passível de sofrer isso, qualquer criatura sujeita a viver na carne. Long segue o homem pela cidade. Havia comércio pelas ruas, era uma cidade bem viva, mas todos notavam o o jovem de Khitai caminhando ali. O forasteiro observava aqueles prédios exóticos, e todo o cenário, imaginando se o pai dele estivera ali como ele estava rastreando, muitas lendas eram ditas a respeito daquele homem. O homem que o guiava fazia um gesto com a mão para que ele esperasse e chegava numa taverna, falando com uma mulher na porta. Depois se virava chamando Long com a mão. - Tu estás hospedado aqui gratuitamente, podes pedir o que queres também. - A mulher era madura, aparentava seus quarenta anos, mas era muito bela, e bem conservada, o jovem notava como ela era atraente. A mulher dizia olhando Long com um sorriso sutil, dizendo: - Meu nome é Ariella. Mostrar-te-ei o teu quarto. - Depois Jarek falava: - Em breve virei falar contigo. Até. - E ia embora. O jovem se apresentava para a mulher que o cumprimentava com um meneio de cabeça e entrava na taverna. Ela se afastava subindo as escadas. O jovem ia atrás dela subindo as escadas e observa a mulher rebolar subindo os degraus. Assim que ele era, os instintos em constante coexistência com a humanidade. Ela vestia um longo vestido azul, um tanto justo. Chegando lá em cima, ela vai até uma porta a abrindo e entrando no quarto. Long entra depois dela. - Muito bem. Poderás tomar um banho, descansar; e se precisares de algo, estarei lá embaixo. Long já olhara o corpo dela, era inevitável, e talvez se surgisse oportunidade experimentaria algo que não estava no cardápio da taverna, mas que ele já imaginava que a mulher devia fazer bem. O oriental a cumprimenta com a cabeça, e a mulher deixa a chave na fechadura do lado de dentro e sai, fechando a porta. Long suspira e ia até a janela. De lá, ele podia ver os muros da cidade, separando-a do horizonte onde ele podia ter uma ideia de onde estava o deserto habitado pelos nômades Kozaks, tinha pistas do seu pai em relação aquele povo, mas sabia que eram muito perigosos e difíceis de se abrir com alguém de fora, confiava mais em ir procurar mais pistas em Zamora, onde também sabia que seu pai estivera. Suspirava mais calmo, e ia tomar um banho se livrar do sangue negro e oleoso do monstro marinho. Depois do banho, Long deitava nu e estirado sobre a cama, sem nem mexer nos lençóis, exausto. Olha a calça de couro secando no parapeito da janela, junto das botas de pele de lobo. Ele percebe que elas não secariam tão cedo. Ele se levanta e vai até um guarda-roupa que continha um conjunto de roupas comuns daquele região, ele vestia-as e saía do quarto. Se sentia meio estranho, pois as roupas eram pequenas e apertadas para ele, ficara de um jeito cômico, mas não tinha outra opção. Logo que desce, as moças que trabalham lá o avistam. Algumas riem e trocam sussurros com outras colegas. Os homens, alguns bêbados, acham graça e ficam gargalhando apontando para ele, enquanto outros se sentem


desconcertados achando apenas ridículo e não engraçado. Um desses homens - frequentador assíduo da taverna - era grande, maior do que Long. Estava bêbado e ia até ele gargalhando. - Ei, estrangeiro!? – Jogava uma peça de ouro aos pés do guerreiro e dizia: - Nós também merecemos um bobo da corte, dance! Hahahaha – Long respirava fundo e ia contornar o homem para falar com a taverneira, mas o bêbado colocava a mão no ombro dele de maneira ostensiva. A resposta era rápida. Long segurava o braço do homem e num movimento preciso e veloz como um gato, derrubava o homem no chão torcendo seu braço. - AAHH! – A taverna ficava em silêncio com o grito do homem e logo outros vinham socorre-lo, mas Long já se preparava para enfrenta-los quando Ariella se coloca entre a peleja e erguia sua voz: CHEGA! Ele está trabalhando para o regente, sumam daqui! – Long erguia uma sobrancelha, surpreso. Os homens ajudavam o outro a se levantar e iam embora, não sem antes o homem que começou tudo rosnar saindo pela porta: - ISSO NÃO FICARÁ ASSIM, OLHOS RASGADOS!!! - Começaste bem teu dia, não é? – A mulher não podia deixar de sorrir sutilmente, o jovem de Khitai subitamente tinha se tornando muito mais interessante do que antes. E ele a olhava, como se nada tivesse acontecido. - Não posso mais perder tempo, preciso encontrar aquele chamado Jarek. - A mulher sorria maliciosa. Gostara de ver o bêbado tão incomodo levar a pior. Não era incomum que ele assediasse as atendentes. - Ele me disse que viria até aqui busca-lo. Fiques tranquilo. - Ela passava por ele em direção às escadas. Dizendo: - Vamos lá em cima para eu te arrumar roupas melhores. De volta ao quarto, Long aguardava a mulher voltar com roupas. E ela conseguia, não era o tamanho ideal, mas estava bem próximo, já podia andar sem chamar atenção. Era uma calça larga, sapatos pontudos, blusa e colete. Long recebe as roupas, e vai para trás de um biombo para se trocar a mulher observava, começava a ver algo além do corriqueiro naquele jovem oriental, afinal não se via um tipo daqueles muito frequentemente daquele lado do mar Vilayet. Ele saía de trás do biombo e olhava a bela mulher: - Muito agradecido, senhora Ariella. – Ele apontava para trás da cabeça e dizia com a voz subitamente mais descontraída do que antes: - Podes amarrar meu cabelo? – Aquilo pega a mulher de surpresa ao que ela prontamente respondia que sim e ia até ele. Ela prendia, e tocava o pescoço dele com as mãos e ia em direção aos ombros massageando suavemente. Ele fechava os olhos. Estava fazendo sete dias que ele não tinha contato com uma mulher. Desde que partiu para aquele porto, onde embarcou naquela embarcação desafortunada. Mesmo assim, ainda não era o momento para se entregar ao desejo e esquecer da vida totalmente só com aquilo. Por enquanto. Ele perguntava: - Diga, mulher; tu não estás ocupada com teu estabelecimento? - Ele sorria, querendo provoca-la. E ela entrava no jogo, já tinha algum tempo que a mulher não se sentia tão estranhamente atraída por um homem. O lugar estava sempre a mesma coisa. - Não te preocupes, jovem. Tu és um cliente mais valioso. - Ele ria: - Eu não tenho como pagar. - Ah, mas tens sim. Tudo o quiseres o governador está custeando. Mas fora o ouro dele, tu tens algo que está valendo ainda mais para mim atualmente. - As mãos de Ariella desciam pelo peitoral dele. Então Long pega os pulsos dela com cuidado, passando os dois braços dela para um lado a puxando com jeito, fazendo-a se deitar na cama, sem machuca-la. Ele a trazia até deita-la com as costas sobre seu colo, e olhava a mulher nos olhos. - Ouça-me com atenção, mulher. Eu tenho que resolver algo. Mas quando eu voltar para cá, quero encontra-la bem aqui, e passaremos a noite toda neste quarto, mas agora eu tenho que ir. - Ela ficava boquiaberta, e quando ele terminava, ela sorria, tinha até se arrepiado com o jeito do estranho. - Guerreiro, não faças assim. Eu sei que tu irás embora um dia, não posso me apegar a ti, mas se continuares assim me farás perder a razão. - Ele a soltava, e se levantava, pegando a espada colocando o cinto na cintura a olhando.


- Então, aguarde até a noite, Ariella. Mas agora preciso me alimentar de comida propriamente dita – Ele sorria maliciosamente e ela gargalhava se levantando e saindo do quarto. - Vamos logo antes que a situação torne-se irremediável. Uma das meninas irá te servir. – Lá embaixo ele se sentava numa mesa e logo era servido por uma das jovens atendentes. Uma galinha assada, legumes, uma garrafa de vinho e uma de água. Mas ele bebia somente a água. - Agradeço - Ele teria que enfrentar o deserto em breve, o vinho era muito seco para um corpo que havia passado por uma peleja como a da noite anterior e ainda tinha muito o que fazer. Depois de comer ele se recosta na cadeira e bebe da garrafa de água direto do gargalo. A água termina, e o homem que o levara até a taverna aparecia, indo até ele. - Bem estrangeiro... Levar-te-ei para conhecer o governador. Ele é um homem gentil. - Long se levanta, e acompanha o homem pelas ruas abarrotadas de gente, de vendas de todos os tipos, da cidade de Aghrapur. Eles se aproximavam do palácio, Long considerou mal guardado com quatro guardas na porta segurando lanças, eles deixavam os dois passarem. Do portão até o palácio em si, ele via mais guardas espalhados pelo jardim e postos estratégicos, e nas torres também. O palácio era muito ornamentado e luminoso com muitas janelas e vitrais. O sultão estava em pé no meio do salão, esperando eles. - Jarek... Então este é o estrangeiro que livrou-nos do monstro marinho? - Indagava o homem velho, pequeno, e gordo. Com vestes de seda, colares, e anéis brilhantes das mais variadas pedras. - Sim, Majestade. - Respondia o homem nobre. O sultão se dirigia ao jovem oriental agora. - Tu tens minha gratidão, rapaz. Mas então, como devemos chama-lo? - Me chamo Wang Long. Guerreiro andarilho de Khitai. - O sultão sorria. - Long... é um nome poderoso. E também é proveniente de uma terra de grandes guerreiros e grande cultura. Isso faz jus aos seus feitos, meu jovem. - Agradeço. – Long respondia o olhando. - Sabe, não poderias ter aparecido em hora mais oportuna, Aghrapur está com certos problemas, e eu creio que tu és exatamente o tipo de homem que pode nos ajudar. Um aventureiro experiente e destemido. Diferente dos nossos guardas que partem, mas não regressam. E com certeza tu serias muito bem recompensado. - O homem dizia com um sorriso ardiloso, tentando convence-lo, mas não seria preciso muito. Long respondia friamente sem demonstrar muita animação, estava mesmo acostumado com aquele tipo de situação. - Podes poupar tua língua, governante. Diga-me de uma vez do que se trata isso tudo, eu estou precisando de exercício, o deserto que me aguarda é muito mais perigoso do que qualquer coisa que você possa ter para mim. – O sultão ficava sério de uma forma que Long não podia imaginar que aquela figura ficaria. - Pessoas estão sendo arrancadas de suas casas durante a noite, e não são vistas nunca mais. Nós investigamos desde que este problema surgiu e depois de perdermos alguns bons soldados, descobrimos que criaturas... como posso dizer, que não são deste mundo, surgiram no esgoto, e estão lá nesse momento. Procriando e matando nossos cidadãos que sequestram no meio da noite. É uma missão muito perigosa, mas sei que tu estás à frente de nossos guardas. Muitos deles não voltaram do subterrâneo da cidade. Tu estás disposto a arriscar a tua vida, guerreiro? - O homem falava sério, e preocupado com o bem estar da cidade que regia. Long friamente ouvia as palavras dele e respondia prontamente, sem demora e sem muito entusiasmo ou qualquer outro tipo de sentimento. - Eu vou resolver esse problema para ti, quanto a minha vida, ela não estará em risco. Eu precisarei de mais armamento, e quando acabar, eu quero um cavalo e provisões para seguir viagem, caso não haja mais nenhum problema com o qual precisem da minha ajuda. – O regente olhava para Jarek Jarek, leve-o até o arsenal. - e novamente para Long. – Pegue o que precisares. Tu terás o que pede.


Chegando ao arsenal, Long sentia um clima estranho vindo por parte dos soldados que lá se encontravam, ele podia distinguir hostilidade, e então ele se dirigia a todos com sua voz alta: - Meu nome é Long. Não quero desrespeitar os soldados de Aghrapur, nem roubar o lugar de ninguém. Eu sou um andarilho e estou apenas de passagem e graças às minhas viagens, talvez eu tenha a experiência necessária para essa missão, quem quiser me acompanhar será bem-vindo. Eu não demorarei aqui. – Após aquela declaração, ele caminhava para um canto onde havia uma armadura leve encaixada num estande, ele vestia a armadura de couro batido no peito que cobria os ombros com a ajuda de Jarek que ia atrás dele um pouco surpreso com o discurso e apreensivo com os soldados que continuavam a encarar Long. O forasteiro pegava um arco e um aljava com flechas, depois duas espadas cimitarras além da espada longa que ele já tem na bainha. Depois se dirigia à saída, quando um soldado ainda maior do que ele, se colocava entre ele e a porta de saída. Long parava de frente ao soldado e o olhava nos olhos, e então o homem começava a falar. - Eu me chamo Sobek. O sultão nos proibiu de fazer mais incursões nas câmaras subterrâneas, eu estive lá embaixo e eu vou voltar agora contigo. – ao dizer isso ele se virava para Jarek que já respondia antes de qualquer coisa. - Ninguém mais saberá disso. Além dos aqui presentes. – Long olhava para Jarek e para os outros soldados ao redor e percebia que o clima era outro, era amistoso agora. Ele olhava para o soldado e dizia. - Então tu serás muito útil, soldado. – Ele sorria e estendia a mão para o homem que o cumprimentava. - Vamos acabar com isso. - Eu vou falar com o sultão que tu já estás a caminho. – Jarek dizia se retirando dali, e Long e Sobek saíam logo depois indo para o lado oposto. Eles caminhavam apressada e discretamente até uma parte atrás do palácio, onde três guardas vigiavam um alçapão que dava para as galerias subterrâneas do esgoto da cidade. Os homens cumprimentam Long e Sobek com um aceno da cabeça e os deixam descer rapidamente, sem que ninguém mais os avistassem. Ao descer a sessão de degraus iluminados por uma tocha trazida por Sobek, Long indagava o soldado. - Podes me dizer o que vamos encontrar lá embaixo? - Mortos-vivos. – Long não se alterava com a informação e essa reação causava satisfação em Sobek, que sorria de canto. - Então tu já encontraste essas criaturas antes? - Sim, e muitas outras. Provavelmente temos necromantes controlando-os. E esses sim, são os responsáveis pelas mortes. – Long se surpreendia ao chegar no fim das escadas e ver que as galerias tinham iluminação interna de tochas espalhadas pelas paredes, Sobek apagava a dele e dizia em voz baixa. - Eles são organizados, e estão se multiplicando, vamos encontrar com eles em breve, esteja preparado. – O soldado empunhava uma lança e Long tinha as duas cimitarras. Agora eles ficavam em silêncio e começavam a desbravar as câmaras que logo se abriam em um salão amplo, as paredes eram esculpidas com linhas e um estilo exótico, mas não era exótico como a arquitetura da cidade acima, era diferente. Muitos desenhos de serpentes, porém um parecia se repetir se destacar mais do que qualquer outro, eram serpentes enroscadas, uma encarando a outra com um círculo atrás em que a metade de cima era um sol e a de baixo uma lua. Apesar do ar ser fétido, era bonito, levando em consideração que aquele lugar estava abandonado, não parecia ter sido construído como esgoto. Os guerreiros logo ouviam barulhos nítidos de passos que vinham se aproximando. Eles se entreolhavam e se preparavam. Então virando o corredor apareciam criaturas humanoides usando armaduras leves e caindo em pedaços, e armas daquela região. As criaturas mesmo não estavam em condições muito melhores do que os acessórios, mas com energia elas vinham correndo contra os homens empunhando aço frio. Sobek e Long lançam seus gritos de batalha e avançam contra os antagonistas, ambos lutavam com muita superioridade em


comparação ao adversários, porém, enquanto eles destruíam os últimos daquela leva, eles ouviam agora um ruído assustador que indicava que muitos outros como aqueles estavam a caminho. - Precisamos de um lugar melhor para nos defender – Long gritava mas era tarde demais, pois vinham guerreiros ressuscitados dos dois lados agora, só restava para os guerreiros se colocarem de costas para uma parede próxima, de lado um para o outro para não serem flanqueados e lutarem com o melhor que tinham. Long usava somente um golpe para aniquilar cada um, e às vezes um golpe só aniquilava dois ao mesmo tempo. Sobek era um ótimo guerreiro, mas não tinha o nível de experiência e precisão de Long, e o oriental havia notado isso, o que fazia com que ele se esforçasse ainda mais para tentar ajudar o recente companheiro. Em aproximadamente dez minutos de peleja, o chão daquele salão estava repleto dos cadáveres das criaturas e os dois homens estavam com as mãos nos joelhos, ofegantes. Long se erguia e dizia para o companheiro. - Precisamos continuar em frente. – Sobek se erguia sentindo dor, e Long via sangue sobre sua roupa, caindo por cima da perna esquerda, proveniente de um ferimento na lateral do seu tronco. - Tu ficas aqui, volte até as escadas. - De jeito nenhum, eu sigo contigo. – Long se virava para o soldado e o olha com severidade. - Tu já és crescido. Sabes no que está se metendo, porém, vais me atrasar. Então não há discussão. – O homem parecia furioso, e aquilo fazia ele sentir mais dor na ferida. Long percebia que havia algo a mais naquilo tudo. - Qual é o problema? Seja direto e rápido. - Minha irmã. Ela sumiu noite passada. Preciso encontrá-la! – Antes que o homem dissesse alguma coisa, Long se aproxima e colocava a mão sobre seu ombro. - Mais um motivo para que tu sobrevivas, pois se ela ainda estiver viva, eu a trarei para que tu possas cuidar dela e fazer com que ela esqueça esse horror que viu aqui. E se tua irmã estiveres morta, eu trarei o responsável até aqui, para que tu tenha o prazer de matar o maldito. Seja quem for. – O homem olha para Long com um olhar surpreso, mas também satisfeito. E dizia: - Caso a encontres, diga que estou aqui, o nome dela é Mawaret. - Aguarde na escada. – O khitainês dizia e se virava seguindo caminho. Após virar o corredor, Long seguia correndo agora, testando sua própria resistência. O processo se repetia. Ele encontrava mais criaturas e as despachava para a outra existência, ou talvez inexistência, com a mesma facilidade que sobrepujava aquele bêbado na taverna. As criaturas também surgiam diferentes, esqueletos animados por magia de um clérigo negro, magro e alto, usando uma foice, e uma máscara de serpente, representando o deus estygio Set. O guerreiro começava a ter mais dificuldade, mas ainda conseguia se sair bem, sem interrupção, até que chegava numa área sem inimigos, onde ele parava um momento para descansar, e pensar na situação. Quando no silêncio, a audição sensível dele ouve algo no fim do corredor a frente. Gemidos de agonia e dor. Gemidos humanos dessa vez. No mesmo momento, ele corre em direção ao final do corredor, chegando numa sala ampla com um altar de pedra no centro perto da parede de fundo, onde tinha uma mulher jovem, presa, sendo torturada por um tipo de sacerdote maligno, ao redor do altar, mais algozes abissais que se viravam e vinham contra o oriental na intenção de destruí-lo, mas o tigre de Khitai era indestrutível para eles. Ele rugia como uma fera, intimidando seus inimigos, os enfraquecendo antes do ataque, e estes inimigos mesmo sobrenaturais se assustavam com a fúria do espírito selvagem daquele homem poderoso. No momento em que hesitavam, Long saltava com velocidade felina, destruindo um por um, rapidamente acabando com todos, ele se voltava para o homem atrás do altar, que segurava um punhal contra o pescoço da jovem. Ele olhava Long friamente, sem se intimidar, já tinha lidado com aventureiros antes, e capturado suas almas. Ele dizia, não enxergando a grandeza do homem a frente dele. - Se deres mais um passo, eu corto a garganta dela! - Long largava as lâminas no chão, o homem sorria achando ter dominado a situação, quando Long começava a caminhar na direção dele com os


punhos

fechados de raiva, dizendo com a voz poderosa, ecoando pelos corredores. - Em primeiro lugar, infelizmente tu pretendes sacrifica-la de uma forma ou de outra, me render não ajudará em nada. - Enquanto ele caminhava com os olhos negros fixos no homem. Este via a aura de grandeza vinda daquele jovem guerreiro, e se afastava involuntariamente da garota, deixando cair o punhal das mãos trêmulas. - Agora, eu terei o prazer de torcer teu pescoço em minhas mãos. O homem batia as costas na parede, Long pulava por cima do altar agarrando o pescoço do sacerdote com uma mão. O homem ainda tentava debilmente atacar o guerreiro com o punhal, mas com o outro braço ele defendia batendo no braço do atacante que derrubava a lâmina no chão. Então o estrangeiro colocava a outra mão no pescoço da sua vítima e olhava no fundo dos olhos arregalados dela, parece procurar algo ali, algum detalhe como alguém observa uma pintura. O sacerdote aterrorizado via a essência do guerreiro e não aquele corpo físico somente; e isso fazia com que ele ficasse com a mente indefesa enquanto o atacante lia em seus olhos a informação que buscava. Assim que conseguiria o que queria ele sorria de leve e quebrava o pescoço do homem em pedaços com as duas mãos fortes. Uma etapa se encerrava ali enquanto ele abandonava o cadáver e ia libertar a jovem, não sem antes recolher o punhal ritualístico e escondê-lo na bota. - Acalme-se, Mawaret. Sou amigo de Sobek. Ele está nos esperando. – A jovem com os olhos vermelhos de tanto chorar, os arregalava de surpresa, atônita com toda a situação. Parecia estar em choque, trêmula. Long pegava as cimitarras e voltava para pegar Mawaret nos braços e leva-la embora Sobek estava sentado nos degraus da escada, suando frio, ofegante, segurando sua lança, quando ele ouve passos rápidos correndo em sua direção. Ele faz um esforço para se erguer e apontar a lança da direção de quem vem, quando surge Long com sua jovem irmã nos braços, por um momento ele acha que seria apenas o cadáver da irmã morta e isso faz suas pernas tremerem, Long diminui os passos e se aproxima, a garota vê o irmão e praticamente pula em direção a ele. - Sobek! – Os irmãos se abraçam intensamente enquanto Long acende a tocha para que eles saiam logo de lá. O soldado olha para ele por cima dos ombros da irmã. - Obrigado. – Long intervém no abraço dos irmãos ajudando Sobek a se erguer. - Vamos respirar ar puro novamente. Chega desse buraco infernal. Ao abrir o alçapão, o sol já estava se pondo, e lá estavam Jarek e o sultão, acompanhados por alguns guardas e pessoas do palácio. - Ajudem-no, ele precisa de um curandeiro. – Long dizia aos guardas, e Sobek dizia para ele antes de ser levado. - Que os deuses tragam-lhe boa fortuna, amigo. – A menina ainda estava em estado de choque e ia atrás, algumas mulheres do palácio iam acompanhando-a. O sultão olhava para Long preocupado. - O que tu viste lá? Terminou? - Mande seus homens, limpe a bagunça. Era um tipo de culto a algum deus serpente. Lá embaixo não há mais nada, mas é provável que há mais alguém responsável aqui fora. – O regente e Jarek ficavam assustados. Antes que eles pudessem responder, Long continuava. - Preciso descansar. – Começava a caminhar de volta à taverna e ouvia a voz de Jarek atrás dele. - Amanhã venha até o palácio buscar tua recompensa. Bom descanso, guerreiro. Long não dizia nada, seguia para a taverna, uma noite de amor com a taverneira ajudaria a esquecer aquelas atrocidades que mesmo depois de tantos anos ainda o revoltavam. Ele era ciente do fato de que em algum lugar do mundo, pessoas morriam injustamente, de formas cruéis e covardes, mas também sabia que isso fazia parte da vida, e tinha aprendido que não podia salvar todo mundo, mas mesmo assim, seu lado mais humano, lamentava pelas mortes. Enquanto sua parte espiritual, que era antiga e sábia, compreendia o ciclo da vida sem emoções, porém naquele caso específico, seu sexto sentido estava perturbando-o. Alguma coisa não era o que parecia ser. Ele não podia deixar de se indagar


se tinha muitas semelhanças com o caminho que o seu pai havia trilhado na juventude. Será que seu pai havia passado pelos mesmo temores e perigos? Chegando na taverna, já tinha anoitecido e começava a encher o local. Long passava direto por todos, inclusive os que lançavam olhares curiosos, pois já tinham ouvido que ele tinha ido investigar os seqüestros. Ele ia direto para uma mesa no fundo da taverna, num lugar isolado onde a luz e os olhares curiosos não alcançariam muito bem, mas com certeza era visto pela grande maioria ao passar pelo recinto. E principalmente, era notado pela dona da taverna, pois estava de olho em qualquer um que entrasse em seu estabelecimento, mas ao ver que era Long que passava, ela não escondia um sorriso malicioso que há muito tempo não aparecia no rosto da mulher. Depois deixava o que estava fazendo para ir até a mesa onde ele tinha se sentado. O oriental se acomodava numa cadeira de costas para a parede e olhava para a mesa vazia, simplesmente por estar com a mente perdida em pensamentos, de como tinha se tornado um andarilho e até herói ocasional, simplesmente por ter saído da sua terra natal por motivos pessoais, agora afetava a vida de outras pessoas, mas era mais difícil notar, o quanto as outras pessoas afetavam a vida dele. Porém as narinas afiadas dele, graças a seu treinamento com os monges de Khitai, sentiam o cheiro da mulher que chegava próxima a ele. A fragrância de flores orientais que mercadores traziam para a cidade misturada com o suor dela, traziam-no de volta a realidade. Ele piscava lentamente, voltando a si, e a olhava, sorrindo de canto. O jovem deixava ela se aproximar, se recostando na cadeira, com as pernas abertas, uma mão na coxa, o outro braço apoiado na mesa, quando ela parava na frente dele, Long até ria de leve, sentia até o cheiro que a mulher tinha entre as pernas, graças aos sentidos aguçados de fera, que tinha ganhado nesse árduo treinamento que por muitas vezes ele achava que o levaria à morte. A dona da taverna retribuía o sorriso olhando Long, que tinha o rosto na altura do ventre dela, de cima para baixo, e ele em contrapartida a fitava de baixo para cima, gostava de estar naquele ângulo de visão, gostava de servir uma mulher sexualmente e agrada-la até que ela não aguentasse mais, era gratificante para ele, e prazeroso. Era nisso que ele pensava naquele momento, esquecendo todo o resto. A mulher quebrava o silêncio, com ironia e maciez na fala. - Então, voltaste vivo. E inteiro, pelo menos do que a roupa me revela... Não falta nada. - Ela sorria maliciosa. E Long se recostava na cadeira. - Sim, talvez tu pudesses me dar algo para aplacar minha sede e minha fome. - Deixava um silêncio curto e completava - Antes de subirmos. - Ela ria, se sentindo desejada. Cortejada por aquele homem intrigante. Mesmo que andasse como um ninguém no meio de mais pessoas comuns, ele carregava um certo ar de nobreza que o tornava misterioso para olhares mais atentos. - Ora, será um prazer. Uma de minhas empregadas trará algo para ti e água. Se quiseres vinho, terá lá em cima, no meu quarto. Além de vinho, também encontrarás um bom banho, uma cama macia, apesar de não saber se você caberá nela, e eu estarei lá em cima esperando-te. Não demores. Mas te alimentes bem, pois não quero que desmaies no meio da noite. - Ela sorria, se virando, e caminhando de volta. Rebolando os quadris lenta e fatalmente. Ela sabia provocar e seduzir. Long a via falar com uma das serventes, antes de seguir escada acima. Logo ele era servido com carne, frutas, e água. Ele se alimentava rapidamente tamanha a fome, e o desejo de estar lá em cima nas mãos daquela mulher, descansando, e dando a ela o que ela tanto queria e necessitava. Ele terminava e se levantava. Passando pelas pessoas, subindo rapidamente, até o último andar, onde tinha menos quartos, e maiores. Long seguia o cheiro que a mulher tinha deixado no ar ao passar por ali antes dele, não era problema para ele farejar aquela mulher com uma fragrância tão excitante e selvagem. Ele chegava no final do corredor e batia na porta duas vezes. Ouvia perfeitamente o barulho do vestido de cetim roçando nos lençóis da cama quando a mulher se levantava para atender a porta. Ouvia os pés descalços dela, pisando sobre os tapetes, até ela chegar a porta e abri-la. Quando Long a esperava lá com uma mão na parede, sorria para ela, sem mais palavras, os olhares diziam tudo, ele entrava com o convite dela, deixando a espada logo ali perto da porta para não macular o belo quarto que a mulher tinha feito ali. Ela pegava o braço dele, acariciava seu peito sobre o que sobrou da camisa rasgada, e tocava a face dele o abraçando, enquanto que ele correspondia desde o segundo em que ela fez menção de tocar nele. Long a


segurava pela cintura, a trazendo para junto de si, a outra mão por baixo dos cabelos dela, na nuca, enquanto os dois corpos se juntavam num abraço caloroso, se aproximavam e selavam os lábios com um beijo mais ardente ainda. Fazia tempo que a mulher não era tocada por um homem, e como Long a tratou, ela nunca havia sido tratada antes. Ele podia ser frio e muito formal superficialmente, mas quando o momento pedia, deixava o lado selvagem surgir, expressando o desejo carnal e a afeição com intensidade e impetuosamente, sem deixar de dar carinho, atenção e respeito. Ele revelava-se um homem selvagem, intenso, forte, mas ainda assim, doce e gentil naquele momento. Ambos sabiam que aquela seria a única vez, e por isso aproveitaram. Aproveitaram quando bêbados brigavam lá embaixo, mas tudo foi apartado pelos mais sensatos ainda sóbrios, e aproveitaram até que ela adormeceu olhando aquele estranho pela última vez. Adormecida no meio da madrugada, Ariella não percebia o jovem sair de seu quarto e ir embora. Ele ia até o seu próprio quarto, vestia suas roupas, agora secas, e saía pela janela. Ao alcançar a rua, ele se dirigia até o palácio. Andando pelas sombras, furtivo e silencioso, ele avistava pelas ruas o homem que havia jurado se vingar dele na taverna, mas ele estava praticamente invisível com o auxílio da noite. Assim chegando ao seu objetivo, Long invadia o palácio sem ser visto. Escalando o muro alto onde a vigília era fraca, por acharem que ninguém seria capaz de subir por ali. Uma vez dentro dos jardins, ele se aproximava do palácio sem delongas, escalando e entrando por uma janela no segundo andar. Era os aposentos do nobre Jarek. O homem parecia adormecer enquanto Long se aproximava da cama e dizia em voz serena. - Jarek. Acorde. – O homem acordava num pulo, e se virava puxando uma adaga debaixo do travesseiro: – Quem está aí? É você!??!! – Long levantava as duas mãos em sinal de paz e respondia: – O trabalho não acabou, preciso que tu reúnas as pessoas mais importantes do palácio e encontre-me no quarto do regente. Agora! – Ele dizia com toda a calma e energia possível para se fazer compreender da importância daquilo e se virava voltando para a janela. O homem não via muitas opções a não ser seguir as instruções do estrangeiro, provavelmente no fundo, era algo que fazia sentido para ele. Após uns dez minutos, Jarek aparecia pelo corredor seguido de outras pessoas da corte, todos espantados, quando Long saía de uma sombra e parava na porta do regente olhando a comitiva. Jarek olhava para ele com uma interrogação no rosto e nos gestos, quando todos chegavam perto da porta, Long simplesmente tomava distância de uns três metros da porta, saltando e dando um chute lateral que arrombava a grande porta, as pessoas curiosas e também assustadas corriam para ver, enquanto Long seguia invadindo o quarto. O que todos presenciavam era o regente vestindo trajes muito diferentes de antes, negros e com detalhes em tons de púrpura fazendo um ritual no chão no meio do quarto. Quando Long entrava atirava o punhal ritualístico no peito do velho que caía para trás, as velas que queimava com uma luz azul ficavam com a chama normal naquele momento. Uma das mulheres da corte desmaiavam. Todos soltavam gritos de espanto. Long desembainhava sua espada, aproximando-se do regente maligno que dizia com sangue na garganta: - KHITAINÊS MALDITO!! – Naquele momento ele saltava sobre o bruxo desembainhando a espada que decapitava o infeliz impostor. Todos encontravam-se atônitos e boquiabertos. O silêncio de poucos segundos parecia eterno enquanto Long chegava perto do defunto, recolhendo de volta o punhal e limpando a espada no manto do velho. Jarek se aproximava em passos lentos tentando formular suas palavras e o forasteiro se virava para ele e os outros. - Eu soube através do sacerdote que encontrei lá embaixo nas galerias do esgoto. Ele estava neste momento tentando se comunicar com sua seita e invocar mais criaturas para repor as que eu e Sobek matamos. – Jarek parecia saber o que dizer agora, mas mantinha-se calado, e olhava os demais e então um dos homens dizia: - Quem será nosso governante agora? – Long olhava para o homem e todos as outras pessoas: - Isso não cabe à eu decidir. O que precisava ser feito, foi feito. Agora preciso partir e continuar minha jornada. – Olhava Jarek, que respondia: - Sim, mas está tudo confuso agora.


- Não vejo confusão alguma, eu estive aqui somente um dia, não posso sugerir nada, e preciso partir imediatamente. Depois de toda ajuda, negarás meu pedido? – Jarek se dava conta um pouco mais da realidade e corria: - De forma alguma, senhor Long. Vamos agora mesmo. Terás teu transporte adequado para o deserto, provisões e peças de ouro. E com certeza, estamos muito gratos por tudo. – Os nobres faziam uma leve reverência para ele que retribuía sem muito esforço. Long saía do palácio sobre um cavalo e trotava numa velocidade moderada em direção à saída da cidade. Agora parecia não ter a mesma pressa que tinha lá dentro. Ao chegar na taverna, ele passava pelo prédio olhando para as janelas do último andar com um sorriso malicioso, mandava um beijo para ninguém que estava ali para ver e seguia. Um homem saía correndo de dentro da taverna e gritava para ele: - FORASTEIRO! – Ele parava e olhava por cima do ombro, depois ouvia passos vindo das ruas adjacentes correndo na direção dele. A resposta que ele dava era gargalhar e galopar até os portões da cidade, apenas num golpe de estratégia. Ao passar pela entrada da cidade, que era um longo corredor de um muro alto que dava para o campo aberto da terra de Turan. Ele descia do cavalo, amarrando-o num lugar próprio perto da entrada e se prostrava de frente para a cidade, desembainhando uma formidável cimitarra que trouxera do palácio como parte do seu pagamento. De dentro da cidade vinham correndo em trote, o homem que ele estapeara na estalagem e atrás dele e mais cinco homens, todos portando armas. Long sorria satisfeito fazendo movimentos sutis para alongar os ombros e o pescoço enquanto provocava o adversário com sua voz de irônica: - Diga-me, rato citadino. Qual teu último desejo? – O homem rosnava de ódio: - Seu cão! Vais pagar pelo vexame que me fizeste passar, vou lhe ensinar boas maneiras. - Tu e tua corja não têm nada para me oferecer que não seja um bom exercício antes da alvorada. Agora vamos logo com isso. Quero partir antes do sol nascer. – Ele se aproximava com passos rápidos, girando a cimitarra para um lado e o outro, esquentando os músculos do braço, fechando e abrindo a outra mão que estava livre. Enquanto os inimigos corriam para atacá-lo, não emitia mais nenhum som. Avançava friamente sobre os homens, como um tigre certo de que abateria a presa inferior. O homem que dirigia a tentativa de vingança era o último do bando. A contenda começava e um golpe do guerreiro dilacerava um adversário de ponta a ponta. O primeiro que bloqueava seu ataque era surpreendido pela outra mão que tirava o punhal da cintura e penetrava o pescoço com a lâmina curta e ondular. Recebendo um corte lateral no abdômen, ele respondia decapitando o homem no mais puro reflexo, rápido como um pensamento. Um dos capangas vinha com uma lança para atravessar o tronco do oriental, mas este esquivava para o lado ao mesmo tempo em que cravava a adaga entre os ossos do externo do pobre homem que nada tinha a ver com aquela briga. Long pega a lança e girando o outro braço cortava outro inimigo com a cimitarra. O último conseguia separar Long da cimitarra com um golpe forte na lâmina, e outro golpe logo era direcionado no jovem guerreiro que usava o cabo da lança bloqueando o ataque acertando o braço do homem, logo em sequência o golpeando com a ponta da madeira no meio do peito, fazendo o adversário cair no chão sem ar. O homem da estalagem estava recuando discretamente, mas Long corria na direção dele e arremessava a lança que atravessa uma perna do homem que caía, berrando de dor e praticamente inutilizado agora. Ele se virava, pois o que a haste da lança havia derrubado, estava em pé novamente. Long pegava uma cimitarra do chão lentamente e ficava em pé o olhando friamente os braços abaixados, a cabeça pendendo para o lado. Subitamente ele sorria sarcástico e então a presa se precipitava. Provocada, tornava-se descuidada e era fácil para o predador experiente se agachar e com um golpe preciso, abrir o abdômen da presa de lado a lado profundamente com a espada curva, recebendo sangue no rosto. Depois disso, ele se voltava calmamente para o infeliz que ainda estava vivo no chão com uma lança atravessada na perna. O céu estava entre o dia e a noite, e o homem tentava inutilmente se arrastar de volta para a cidade. Long pisava lentamente na lança encravada e o homem gritava de dor: - Deixe-me ir!! – Long tirava o pé da lança e olhava por um segundo antes de chutar as costelas do homem e então colocar o pé


sobre sua face. O homem ainda tinha tempo de ter seu orgulho ferido novamente antes de morrer, e mais uma vez, ele merecia. - Aceite o fato de que tu cavaste tua própria sepultura. Se não fosses abusado com as outras pessoas, ignorante, arrogante, e mimado. Talvez ainda estivesses vivo. – Num momento de clemência ele pisava na garganta do homem, acabando com seu sofrimento e entregando sua alma a quaisquer deuses que ele acreditasse e seu corpo para os abutres. Enquanto o sol começava a predominar o céu naquela manhã, para cumprir seu dever de governar o dia, o andarilho se afastava da cidade com um saco de ouro amarrado na cela do cavalo que cavalgava. Ambos recompensa que recebeu do Sultão pelo serviço prestado. A cabeça coberta com um lenço que a taverneira Ariella dera de presente para enfrentar o sol durante o dia todo que cavalgaria o resto da área de Turan até o deserto dos Kozaks em busca de paradeiros do seu pai.


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