ͽ - A MONTANHA DAS NUVENS NEGRAS - ͼ por Paulo Gomes
Abandone toda a sua carnal delícia vã, Vim para te chamar para longe esta manhã. Eu sou aquela que vence todos os filhos dos homens, o meu dardo não tem limite a quem pode dar o fim. O meu nome é morte! Você não ouviu falar de mim? Balada da Morte – Poesia popular de Zingara * I. Com destino a Shem, vindo de Zingara, com indicações para não fazer escala em Argos, o navio mercante Lotus viaja já faz quatro semanas, mais duas que o tempo esperado para fazer a viagem. Impacientes e esfomeados os marinheiros dedicam os seus dias à pesca, uma vez que a meio da terceira semana a maior parte dos viveres se esgotou. Com água para mais uma semana o desespero ainda não faz parte da equipagem, e apesar de impacientes os marinheiros permanecem confiantes que irão ultrapassar este contratempo. Todos esperam ouvir o vigia dar o aviso de avistamento da costa. Se fossem seguir as rotas habituais nunca a teriam perdido, mas não fazendo escala em Argos, o comandante decidiu que faria mais sentido navegar ao largo, para aproveitar melhor os ventos e chegar a Shem. Encostado à amurada de estibordo, olhando ao longe o mar escuro com os seus olhos profundamente azuis, um homem alto, solidamente musculado, de pele morena e cabelo negro está perdido nos seus pensamentos. O cheiro do mar continua a deixá-lo desconfortável. As memórias do seu tempo entre os piratas assaltam-lhe a alma. A sua mente vagueia pelas recordações dolorosas que o afastaram do mar até hoje. Sente no seu rosto o calor do fogo e respira o cheiro da carne humana a queimar. Na sua retina ficou, marcada fundo, a imagem das chamas da pira funerária flutuando, que volta a ver enquanto fecha os olhos.