#1 REVISTA SOU PAI
DEZEMBRO 2016 R$ 14, 90 | US$ 4,90
ENTREVISTA MARCOS PIANGERS DO NASCIMENTO À BICICLETA Como estimular as habilidades da criança
SOBE E DESCE DO DESEJO Entenda o que acontece com a libido da mulher
CADA VEZ + JUNTINHOS
É hora de valorizar a paternidade
CARREIRA & PATERNIDADE
Ser pai ajuda no mercado de trabalho
EDITORIAL .
PATERNIDADE
Edição I - ano 2016
EDITOR CHEFE
Paulo Moreno EDITORES
Ana Lúcia Ribeiro João Aranha Luana Mineiro Mariana Moretti Paulo Moreno PROFESSORES ORIENTADORES
Fabiana Grassano Tereza Bettinardi REVISORES
Ana Lúcia Ribeiro João Aranha Luana Mineiro Mariana Moretti Paulo Moreno MATÉRIAS
Reprodução diversos sites ILUSTRAÇÕES
Luana Mineiro Mariana Morett Péricles Montanaro PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Ana Lúcia Ribeiro João Aranha Luana Mineiro Mariana Moretti Paulo Moreno
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Paternidade Um assunto de todos nós. Texto e foto Thiago Freitas
A
té bem pouco tempo atrás, a gravidez para o homem se resumia a três momentos: as “tentativas”, a notícia e o nascimento. O que ocorria no intervalo era mais um daqueles impenetráveis mistérios do mundo feminino. Hoje, não mais! A sociedade espera que o homem atue, participe, auxilie na gravidez, no cuidado e educação do filho. É um comportamento novo para o qual o homem não recebeu orientação de gerações anteriores. Porém, é fato que, hoje em dia os pais oferecem mais suporte emocional aos filhos buscando disciplinar, ensinar e impor limites, bem como brincar, correr e fazer cócegas. Além disso, os pais tendem a realizar brincadeiras mais intensas e estimulantes do que as mães, levando as crianças a explorarem novos ambientes, a enfrentarem novos desafios, possibilitando-lhes uma maior “abertura ao mundo”. Considerando essa relevância social e o fato de existir uma certa carência sobre o assunto na mídia impressa, a Revista SOU PAI tem como tema principal o universo da paternidade. Nosso principal objetivo é oferecer uma revista com matérias instrutivas, divertidas e de forma bem-humorada, como se fosse um guia para os “papais” que já estão ou logo estarão às voltas com mamadeiras, chupetas, choros e risos de bebê e que ainda têm muitas dúvidas sobre como trocar fraldas, verificar a temperatura e educar seu filho.
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SUMÁRIO .
EDITORIAL .
BÊ-A-BÁ .
3 6 PATERNIDADE: MEDO UM ASSUNTO DE TODOS NÓS
DE JACARÉ
8 DO NASCIMENTO
BATE-PAPO .
ESPECIAL .
14 ENTREVISTA
18 26 10 SEGREDOS DE PAI
COM MARCOS PIANGERS
SOBRE SER PAI
CLICK .
PARA FILHO
À BICICLETA
10 SOBE E DESCE DO DESEJO
12 LAVA, LAVA, LAVA! 4
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Brincando com o bebê
O QUE ROLA NESTA EDIÇÃO
Certo
Errado
FAMÍLIA .
CARREIRA .
30 CADA VEZ +
36 40 PATERNIDADE: PRETO NO
JUNTINHOS
FALA SÉRIO .
UM BOM NEGÓCIO BRANCO PARA A CARREIRA
CRÔNICAS .
HUMOR .
44 O COCÔ
48 CERTO &
45 SER MÃE É
50 ANATOMIA
por Marcelo Tas
UMA BOSTA! por Denise Fraga
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ERRADO
DE PAI
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BÊ-A-BÁ .
MEDO
Medo de jacaré À noite ele fugia do quarto para a nossa cama: “Tem um jacaré no escuro que vai me engolir”. Texto Ricardo Corrêa
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enho três filhos, dois mais velhos, Pedro, de 14 anos, e Henrique, de 12, do meu primeiro casamento. Agora entrando no hall dos veteranos, tenho mais um filho, do segundo casamento: Gabriel, com 3 anos. Cada filho, um novo filme com roteiro diferente, um remake! Com Pedro e Henrique, e a pouca diferença de idade entre eles, o script estava fresquinho na minha mente, só mudavam os atores e tirei de letra os novos desafios do segundo filho. Era uma questão de direção, mas, claro, sem as neuras da primeira experiência como pai. Veio o Gabriel, eu perto dos 40 e diante do medo de não
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conseguir mais me abaixar tão bem quanto antes para brincar com uma criança pequena. Mas este medo passa quando a gente percebe que a experiência dos dois primeiros filhos me deu atalhos para curtir muito o Gabriel e, principalmente, entender seus sentimentos. Ele, que adora as histórias da Turma da Mônica, viu-se solidário com o Cebolinha e passou a ter medo de jacarés, como na história do gibi que eu lia para ele quando chegava em casa. De repente, Biel (é assim que o chamamos) não queria mais dormir sozinho. À noite fugia do quarto para a nossa cama, assustado e repetindo sempre a
mesma história: “Tem um jacaré no escuro que vai me engolir”. Para piorar, colocamos o DVD do filme do Peter Pan e lá tinha o crocodilo querendo comer o Capitão Gancho. Pensando no que fazer, minha mulher, a Chris, teve um insight: “Vamos proibir os jacarés de entrar aqui”. Saquei meu caderno de desenhos e fiz uma plaquinha, como as de trânsito, com uma faixa vermelha sobre um desenho simples de um jacaré. Embaixo, uma frase: “Proibido qualquer jacaré”. Usei o “qualquer” porque tinha que incluir o crocodilo do Capitão Gancho na mesma categoria. Daí, foi só devolver a confiança no Gabriel e pronto, ele não só ficou tranquilo em dormir sozinho, como, orgulhoso, contou a história para os amigos e para as avós. Dizia que na casa dele não entra mais jacaré porque é proibido, tem uma placa. Pensar simples, é assim que devemos agir com as crianças. Talvez lá atrás, com o Pedro, que tem 14 anos, eu teria dado uma bronca, ou levado ao psicólogo se ele tivesse medo de dormir sozinho. Olhar no olho, criar empatia está sendo minha receita para contornar a falta de gás para correr nas brincadeiras de um menino de 3 anos.Adoram correr, pular, jogar para cima o irmãozinho caçula. O mais bacana é que foram eles – os meus filhos! – que me ensinaram a criar Gabriel de forma simples, com um simples olhar transmitindo tudo: do medo à mais pura explosão de alegria. TWITTER.COM/SOUPAI
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Do nascimento à bicicleta Rolar, sentar, andar, correr, pular... Ao longo dos primeiros anos de vida, a criança desenvolve diversas habilidades motoras, adquiridas cada uma a seu tempo. Texto Malu Gonçalves Foto Shutterstock
ATÉ OS 3 MESES É nesse período que a criança vai aprender a sustentar a cabeça. Então, ajude-a a fortalecer os músculos do pescoço. os braços e as pernas ainda ficam muito flexionados, como no útero. A dica é estendê-los suavemente para alongá-los.
DOS 3 AOS 6 MESES O tronco já está começando a se firmar. coloque a criança sentada em seu colo e também na cama, com um apoio nas costas. Isso a ajudará a desenvolver a musculatura da região. Deite o bebê de barriga para cima e cruze suas pernas, incentivando-o a rolar sobre si mesmo.
DOS 6 AOS 9 MESES
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o desenvolvimento motor cada nova fase representa uma conquista. E assim a criança vai adquirindo segurança para partir rumo à próxima jornada. Acompanhe seu filho nessa caminhada – mas sem ter pressa para acançar a linha de chegada!
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As mãos estão mais fortes e a criança consegue segurar objetos grandes. Estimule-a a transferi-los de uma mão para a outra. Lembrese de que ela está na fase oral e tudo é levado até a boca. Por isso, escolha brinquedos grandes, macios, não cortantes, laváveis e que não soltem pedaços. Algumas crianças já começam a ficar de pé nessa fase. Desça o estrado do berço para evitar acidentes.
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DESENVOLVIMENTO
DOS 9 MESES A 1 ANO
DE 2 A 3 ANOS
DE 5 A 6 ANOS
A criança começa a adquirir o movimento de pinça, pegando objetos com os dedos polegar e indicador. Ofereça tampinhas ou bolas de papel para aprimorar a preensão, sempre sob supervisão, pois são pequenas e podem ser engolidas. Nessa fase, você já pode ajudá-la a ficar de pé sustentando-a pelas mãos.
Seu filho já consegue correr, então leve-o para um parque e incentive-o a brincar de pegapega, dar pulos e ficar apoiado em um pé só, o que desenvolve o equilíbrio. Também já é possível permitir que ele mesmo lave o corpo durante o banho, o que desenvolve a coordenação, como quando faz movimentos de sobe e desce com o sabonete. Para promover o senso de direção e fortalecer a musculatura das pernas, outra boa opção é o triciclo.
A criança já demonstra boa habilidade motora, mas ainda não tem noção de perigo. Nessa fase irá manusear a tesoura, por isso alerte-a sobre os cuidados necessários para não se cortar. Os reflexos estão mais rápidos e permitem à criança defender ou agarrar a bola com as duas mãos, sem deixá-la escapar.
DE 1 ANO AO 1 ANO E 6 MESES Nessa fase, seu filho vai conseguir andar sozinho. ajude-o a trabalhar o equilíbrio oferecendo brinquedos que possam ser puxados ou empurrados, como um carrinho amarrado a um barbante. a criança já tem capacidade para utilizar papel e giz de cera grosso atóxico. ensine-a como fazer rabiscos na folha, estimulando a coordenação motora.
DE 3 A 4 ANOS Chegou a hora em que seu filho se move independentemente pela casa: sobe e desce escadas alternando os pés, pula obstáculos e desvia de móveis. Ajude-o a empilhar de 6 a 8 objetos, estimulando o controle neuromotor.
DE 6 A 8 ANOS A coordenação motora fina está melhorando. Assim, seu filho vai aprender a segurar o lápis fazendo uma pinça com o polegar, o indicador e o dedo médio. Uma boa dica para ajudá-lo nessa tarefa é pedir que ele junte o dedo mindinho e o anelar e, na sequência, tente segurar um lápis com os outros três dedos. De forma natural ele conseguirá empunhá-lo.
PULAR FASES DE 1 ANO E 6 MESES A 2 ANOS Já com um pouco mais de desenvoltura e habilidade, permita que ele folheie revistas velhas, rasgue-as e amasse as páginas, é uma ótima maneira de estimular a coordenação motora das mãos. Fale os nomes das partes do corpo e peça que vá apontando, uma por uma, para despertar a consciência corporal e treinar o controle do indicador estendido quando os outros dedos estão abaixados. FACEBOOK.COM/SOUPAI
DE 4 A 5 ANOS Cada vez mais seu filho é capaz de realizar tarefas que exigem controle preciso do corpo. A mão, por exemplo, tem firmeza para segurar o lápis e habilidade para desenhar um homem com três partes – cabeça, tronco e pernas. Habitue-o a organizar os próprios pertences e a ajudar nas tarefas da casa. Além de desenvolver o senso de responsabilidade, essa rotina exercita a coordenação motora, como ao dobrar peças de roupa ou guardar objetos na gaveta.
Seu filho começo a andar sem ter engatinhado? Isso pode acontecer e, se for espontaneamente, não há problemas. Cada um vence as diferentes etapas do desenvolvimento à sua maneira. Se ele não engatinho, mas se arrastou, andou com o bumbum, tudo bem. Indica que ele superou determinada fase, aprendendo tudo que era necessário para andar. O que não é saudável é estimular esse salto.
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Sobe e desce do desejo Entenda o que acontece a partir do momento em que o casal resolve ter um filho. Texto Tamara Foresti
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SEGUNDO TRIMESTRE
Influenciada pelas mudanças hormonais, a mulher volta a sentir desejo sexual. Para algumas, muito desejo. O melhor é que o homem também se excita com o novo corpo da parceira. Aproveite! E se a barriga estiver incomodando, lembre-se de que as posições de lado ou de costas costumam ser mais confortáveis.
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ANTES DE ENGRAVIDAR
A vontade de ter um bebê pode ser o melhor afrodisíaco para um casal e este é o período de maior motivação para o sexo. Como o objetivo principal não é só o prazer, a transa não chega a exigir grandes desempenhos, o que aumenta o pique para continuar a maratona entre os lençóis.
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PRIMEIRO TRIMESTRE DA GRAVIDEZ
Os hormônios femininos estão a mil, mudando o corpo e a cabeça da mulher. Como se não bastassem essas alterações, a mãe está mais propensa a ter enjoos, sono e humor inconstante. Para manter a animação na cama, vale lembrar quanto vocês estão felizes com a novidade que vem por aí.
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INFOGRÁFICO
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DEPOIS DOS FILHOS
À medida que os bebês crescem, a tendência é que a vontade de fazer sexo se normalize. O ideal é que a criança aprenda desde cedo a importância da privacidade, tendo seu próprio quarto e encarando numa boa as portas fechadas (ensine-a a bater antes). Acostume-a com horários de dormir, para que sobre tempo para a diversão a dois, e não deixe o relacionamento cair na rotina!
TERCEIRO TRIMESTRE
É comum diminuir a frequência sexual, pois o bebê mexe bastante e parece que o casal não está sozinho. Também há um aumento de peso, dores, preocupações com o parto... De qualquer maneira, em uma gravidez normal o sexo está liberado até pelo menos 20 dias antes do parto.
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PÓS-PARTO
Cuidar de um bebê pode deixar os pais esgotados. É normal que a libido do casal caia. Volte à ativa aos poucos, respeitando o desejo do parceiro e buscando outras formas de prazer, como o sexo oral. É preciso ainda cumprir a orientação médica.
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BÊ-A-BÁ .
Lava, Lava, Lava! 1
Prepare a banheira e deixe tudo separado para o banho. Pegue então o bebê, tire a roupa e a fralda. Faça a limpeza dos órgãos genitais com água morna e algodão. Na sequência e bem devagar, mergulhe o bebê na água, segurando-o pela axila e apoiando as costas e o pescoço dele. Com a mão livre, lave primeiramente – e sem sabonete – a face. Em seguida, lave a cabeça, o tórax, os braços, a barriga, as pernas e os genitais. A seguir, lave também as costas e o bumbum.
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Se preferir, você pode virar o bebê na banheira, para lavar o dorso. Nesse caso, ao virálo, mantenha a mão em seu tórax, com firmeza, mas sem apertá-lo. Cuide para que a cabeça fique longe da água. Para ele não sentir frio, deixe o banheiro fechado
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HORA DO BANHO
Na correria do dia a dia, o banho é um momento reservado para os cuidados consigo mesmo, ensine seu filho a curtí-lo desde cedo seguindo o passo a passo! Texto Marina Albuquerque
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Lembre-se de lavar o coto umbilical normalmente, mas com delicadeza. Não é necessário ter medo – lembre que os bebês não sentem nenhuma dor ali e que a higiene é bem importante para mantê-lo a salvo de alguma infecção na região.
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Acabado o banho, coloque o bebê sobre a toalha aberta. Enxugue a cabeça, a face e o restante do corpo. Seque atrás das orelhas, nas dobrinhas e entre os dedos. Com uma haste de algodão, passe álcool a 70% no coto umbilical e deixe-o limpo, sem secreções.
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Hora de colocar a fralda, botar a roupa e pentear os cabelos com escovinha de cerdas macias.
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Use hastes de algodão apenas nos contornos das orelhas. Elas jamais devem ser introduzidas nos ouvidos e nas narinas.
“É importante que os pais apoiem e ensinem a criança a se responsabilizar por sua higiene com uma rotina que a ajude a aprender a tomar um bom banho”, aponta a pediatra Rosana Lanzellotti. A dica é deixá-lo seguir os mesmos passos todo dia, apenas supervisionando. Vocês podem definir a ordem juntos. Só é preciso lembrá-la de passar xampu, lavar orelhas, ensaboar o corpo, fazer a higiene genital e o enxágue. O banho pode ser morno, mas apenas pelo conforto: não há pesquisas que relacionem água mais quentinha a incidência de resfriados, de acordo com a pediatra.
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ENTREVISTA COM
MARCOS PIANGERS
Marcos Piangers sobre a paternidade: “Descobri a necessidade de valorizar mais a mulher”. Texto Esther Arantes Fotos Marcos Piangers (arquivo pessoal)
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autor do best-seller “O Papai é Pop” fala sobre o papel do pai atualmente, a falta de cobranças em cima do sexo masculino quando se trata da paternidade e o que ele aprendeu tendo duas filhas. Muito se fala sobre a “maternidade real”, que nada mais é do que a retratação da vida de mãe como ela é: dura, cansativa, desgastante, dolorosa. É claro que há momentos lindos e deliciosos na criação dos filhos, mas a verdade é que há também muitas cobranças (da sociedade e das próprias mulheres), julgamentos, pressão e desafios em jogo. E cada vez mais, o que as mamães querem ver são histórias de superação – e não se espelhar em “mães perfeitas”. Mas e os pais? A sociedade tem cobrado que os homens se tornem pais melhores, mais participativos e que, ao mesmo tempo, deem conta do trabalho, dos amigos e dos outros familiares? Para o jornalista catarinense Marcos Piangers, pai da Anita, de 11 anos, e da Aurora, de 4 aninhos, a resposta para essa pergunta é “não”. “Eu falo ‘vou ser pai’ e meu chefe não fica preocupado, fica até feliz! Ele pensa que eu vou virar um cara mais responsável. Então, não tem cobrança”, diz Piangers. A boa notícia é que muitos homens têm se dado conta de que é preciso, sim, participar da vida dos filhos. Assim como aconteceu com as mães, que passaram a assumir diversas funções, o papel do pai também mudou. E Marcos Piangers é parte dessa nova geração. Em 2015, o jornalista lançou o livro “O Papai é Pop” (Editora Belas Letras), que reúne textos seus sobre a experiência da paternidade e coisas que ele descobriu e aprendeu sendo pai. A obra foi um sucesso: em pouco tempo chegou ao topo dos principais rankings de leitura do país e já vendeu 100 mil exemplares! A melhor parte, no entanto, foi ver que muitos leitores se inspiraram em sua experiência. “Acho que o que está acontecendo é uma tendência muito bonita do homem descobrindo a paternidade”, afirma Marcos Piangers. Em 2016, foi publicado o segundo volume da série, com novas histórias e aprendizados da criação de Anita e Aurora. A seguir, confira o batepapo que tivemos com o jornalista sobre os avanços no mundo da paternidade e as lições que os homens podem tirar sendo mais ativos na vida dos filhos.
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MARCOS PIANGERS
O papel da mãe mudou muito nos últimos tempos. E o do pai? O pai moderno é mais participativo, mais interessado, mais preocupado em estar com seus filhos. A gente vem de algumas décadas em que o pai era o cara que pagava as contas enquanto a mulher cuidava dos filhos. E aí, hoje em dia, a gente vê pais superamorosos, que participam de tudo, escolhem escola, nome do bebê, brincam o tempo todo. Acredito que está havendo uma mudança. Existe muita cobrança em cima das mulheres para que elas sejam “mães perfeitas”. Os homens recebem algum tipo de cobrança quando se trata da paternidade? Eu acho que é muito cômodo ser homem, na boa. Quando a mulher engravida a relação profissional dela muda completamente, o chefe fica puto porque ela engravidou e vai ficar longe, às vezes é demitida. Além disso, o corpo da mulher muda, tem cobranças sobre a amamentação, o parto... Homem é muito de boa! Muito de boa. Eu falo “vou ser pai” e meu chefe não fica preocupado, fica até feliz! Ele pensa que eu vou virar um cara mais responsável. Então, não tem cobrança. Acho que o que está acontecendo é uma tendência muito bonita do homem descobrindo a paternidade. Ele naturalmente está ocupando um espaço que antes era só da mulher. Depois que ela começou a trabalhar sobrou um espacinho pro homem nessa criação dos filhos.
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BATE-PAPO .
E todos os homens que começaram a ocupar esse lugar se apaixonaram. A impressão que eu tenho é que o homem está nessa fase de romantismo e idealismo com relação à paternidade, porque a gente descobriu que é mágico, é legal, é bonito e que não é obrigação. A gente está fazendo por prazer, por deslumbre. Eu vejo muito pai na escola, estudando com os filhos, passeando com eles... Isso me deixa muito feliz. É um sopro de esperança no meu coração. Como foi pra você a experiência de ser pai e marido logo que as meninas nasceram? Quais os desafios de não deixar as duas coisas de lado? Eu acho que passa pela questão de empatia. Por muitos anos eu não entendia o quanto é difícil para a mulher. Eu usei um artifício muito cômodo pro homem que é dizer “Ah, minha mulher tá na TPM, ela é louca...”. E é claro que a gente brigava muito, porque a minha mulher tinha o corpo mudado, a sociedade cobrando, a vida profissional complicada. E o homem não entende essas coisas. Com o tempo eu fui sacando isso, mas a gente passou por momentos muito complicados. Passamos por períodos em que ficamos perto de nos separar, porque não é fácil ter um filho. As pessoas colocam foto no Instagram e aquilo é bonito, só que é muito difícil ter um filho. É trabalhoso, é complicado financeiramente e emocionalmente. E por isso
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a gente se apaixona. Porque é complicado que é bonito, que a gente se emociona quando o filho dá certo. Então, todas essas informações, tudo o que eu estou falando, é aprendizado de vida. Mas no começo é muito mais fácil dizer “eu vou me separar” do que dizer “não, vamos acreditar e tentar”. Uma vez uma mulher me escreveu dizendo estava grávida e o namorado tinha dado no pé. Me disse que ele era muito novo e que ia dar o meu livro para ele. Ela pediu pra eu torcer por eles e eu respondi dizendo que iria fazer isso. Um mês depois o cara me escreveu. Ele falou “Piangers, ganhei seu livro e mudou completamente a minha visão de paternidade, agora eu vou participar”. E aí, um mês depois ele me escreveu de novo, superemocionado e agradecido, descobrindo o prazer da criação dos filhos. Mas eu acho que tem muito homem que não tem uma referência. A gente não foi treinado, sabe? Ninguém falou pra gente “Olha, o certo é trocar fralda, virar noite, levar na creche, participar todos os dias...”. Ninguém falou isso pra gente! Pelo contrário: desde pequenininho você é ensinado a pegar mulher, ser desrespeitoso... Nada a ver com criação de família. Aí, esses caras veem o livro ou têm esse tipo de conversa e isso vira uma espécie de referência e um entendimento de que “Opa, tem um outro jeito de fazer. Talvez eu esteja errado em não participar”.
Quais comentários você mais recebe dos seus leitores? Recebo todos os dias de cinco a dez e-mails. E todos eu respondo pessoalmente agradecendo e comentando. Recebo muitas histórias: mulheres abandonadas, homens participativos, mulheres elogiando seus maridos, filhos dizendo que o pai é incrível ou que os deixou... Tem de tudo. Mas o que mais chama atenção é como tem homem que abandona a família e muita gente que vê o pai como um herói. É muito legal quando recebo e-mail de uma adolescente ou de uma pessoa que tem no pai a pessoa mais inspiradora e companheira que ela já conheceu. O que você aprendeu com a paternidade? Eu aprendi um milhão de coisas. Aprendi muito, é a melhor faculdade que um ser humano pode ter. Eu aprendi a ter mais paciência, porque o bebê demora pra fazer as coisas, pra comer, pra dormir... Aprendi a ser mais preocupado com o futuro, ecologicamente falando; a pensar nas outras pessoas para dizer “por favor”, “obrigado”, “com licença” e assim dar o exemplo para as minhas filhas. Aprendi muito sobre empatia, sobre igualdade de gênero. Descobri a necessidade que a gente tem de valorizar mais a mulher e deixar o mundo mais igual pra elas. Eu aprendi também a perguntar “por que?”. Criança pergunta “por que?” o tempo todo, né? E foi com a Aurora perguntando “Por que?” que eu fui me fazendo essas perguntas também. TWITTER.COM/SOUPAI
MARCOS PIANGERS
O PAPAI É POP Mais de 100 mil cópias vendidas e milhares de pessoas tocadas pelas histórias que reforçam a importância da família e as crônicas sobre como ser um pai moderno, com todo sentimento e amor.
“Por que eu fico até tarde no trabalho?”, “Por que eu bebo cerveja?”, “Por que eu quero ganhar dinheiro?”, “Por que eu moro onde eu moro?”. Isso é muito importante para você achar as suas motivações, o que realmente você quer fazer da sua vida e qual é o seu propósito. A quantidade de coisas que eu aprendi com elas é uma lista bem grande. Li que você gostaria de ter uma filha a cada sete anos. É isso mesmo? A minha mulher é contra, ela não quer. Mas hoje a gente conversa sobre adoção. Ela não quer passar por todos os processos fisiológicos da gravidez de novo, então a gente discute a possibilidade de entrar na fila de adoção.
Da esquerda para a direita: Aurora, Marcos e Anita.
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Vocês gostariam de ter um filho homem? Eu posso dizer: sou muito grato por ter duas filhas meninas, porque elas me abriram os olhos para as questões feministas. Se eu tivesse só menino provavelmente não teria essa percepção empática de entender que o mundo é mais complicado para as mulheres. Então, eu sou grato porque foi muito importante para mudar a forma como eu vejo o mundo. Muitos amigos meus que têm filhos homens ainda não mudaram. Mas se a gente for adotar será indiferente, adotaríamos um menino ou uma menina com a mesma empolgação e felicidade.
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SEGREDOS SOBRE SER PAI
O que ninguém conta 18
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Conheça 10 segredos sobre ser pai que são descobertos somente na prática, com muito suor, risos e lágrimas. Esta é a beleza em ser pai: cada momento possui grandes chances de se tornar uma experiência inesquecível.
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ESPECIAL .
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ntes de revelar os tais 10 segredos prometidos no título da matéria, permita-me inserir um breve pano de fundo com base nas minhas experiências como pai, iniciadas em 2006. Assim como boa parte dos homens por aí, tudo começa com frases semelhantes a “estou grávida” ou “deu positivo”. As sensações
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e reações nos primeiros momentos após esta frase variam de pessoa para pessoa, mas algumas costumam ser compartilhadas por muitas, tais como: o mundo ao redor fica em câmera lenta; partes diferentes do corpo são tomadas por euforias independentes e sem sincronismo; a voz não sai; a voz, quando sai, não emite som previamente conhecido; o choro sai igual a um riso; o riso sai igual a um choro e desmaiar parece inevitável.
Estas constatações não possuem comprovação científica. São situações verificadas no dia a dia na troca de experiência com outros pais. É possível incrementar a lista acima com tantos itens que daria pra criar um livro somente com estas sensações. Quando você é pai de primeira viagem (como costumam chamar os novatos!), ainda não é neste momento que a ficha cai. Na verdade, você descobre que são várias fichas (ou a mesma que cai várias vezes, sei lá!). As fichas vão caindo quando você assiste à primeira ultrassonografia; os primeiros sapatinhos de crochê começam a chegar; começam os preparativos para o quartinho; chega o berço (quando essa ficha cai, tem pai que dorme ali dentro); a obstetra avisa que já dá pra saber o sexo do bebê; você não sabe mais a posição do seu time no Brasileirão; a bolsa estoura (tem que ter estrutura pra se manter firme nessa hora!); você entra na sala de parto (as perninhas tremem como se você estivesse sentado num sorvete); nasce o bebê! Em todas estas fases – e em trocentas outras intermediárias – você se pegará falando para si mesmo, para amigos, familiares e/ou estranhos: “Cara, eu vou ser pai!”; claro, a frase varia de acordo com o seu estilo de linguagem, mas você pegou a ideia. Para alguns, a ficha só cai de verdade quando a criança está ali, pertinho, no colo.
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CAPA
1
VOCÊ DESENVOLVE SUA HABILIDADE EM SER MULTITAREFA (DE VERDADE)
Trabalhando com projetos de tecnologia desde o início da minha carreira (estamos falando de um período que teve início em 1997…), sempre fui
habituado a estar com trocentas tarefas ao mesmo tempo em andamento. Porém, apesar disso, nada te prepara para as funções multitarefas de ser pai. Se você acha desafiador participar de uma conferência no celular enquanto está numa minireunião presencial, respondendo a e-mails e revisando um documento que
precisa ser fechado no mesmo dia… Experimente acalmar sua filhota no colo chorando de cólicas enquanto termina de preparar a mamadeira e, claro, mantendo a sanidade para conseguir cantar uma musiquinha bem relaxante. Qualquer desafio profissional depois de experiências como esta vira uma moleza!
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CADA MINUTINHO (MINUTINHO MESMO!) DE FOLGA É PRECIOSO
Cada minutinho (minutinho mesmo!) de folga é precioso para os pais! Ninguém vai perder sua nuvem no céu por concordar comigo nesse ponto: quando se é pai, cada momento de folga é valiosíssimo. Por mais que amemos nossos filhos acima de nós mesmos – essa frase é quase um trava-línguas, leia-a novamente bem rápido 4 vezes –, ser pai cansa (mãe também, mas o foco do post é pai, mamães de plantão!). E algo muito comum quando os miúdos dormem é aproveitarmos para dormir também. Quando os filhos são bem pequenos, é normal achar que não teremos energia para andar ou abrir os olhos ao fim do dia. Quando são maiores, temos certeza que isso não será possível! No momento em que escrevo este post, minha filha está com 7 anos. Acompanhá-la é um desafio que exige um certo preparo físico. FACEBOOK.COM/SOUPAI
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ESPECIAL .
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VOCÊ NÃO TEM MAIS UM CANTINHO PRA CHAMAR DE (SÓ) SEU
A cadeira predileta do papai? O lugar preferido no sofá? Perdeu. O bife mais suculento da mesa? O pão francês mais formosinho? Já era. O seu lado da cama? Vou dar uma dica: se estiver vazio, deite. Não pense duas vezes. Sabe aquela sua coisinha tecnológica que você guarda no bolso? Novo dono! Se tiver sorte, poderá escolher um ou outro
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aplicativo para manter no seu smartphone disputando espaço com os joguinhos infantis. Mas, sorria! O banco da frente do carro no lado esquerdo continua sendo seu… por alguns anos. Depois você pula graciosamente pro carona (ou pro de trás). Crianças são espaçosas. Parece que estão jogando War e o objetivo é conquistar 50 territórios. Porém, é muito importante que a criança tenha um espaço adequado as suas necessidades e que seja de acordo com a sua faixa etária.
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ACORDAR CEDO É UM HÁBITO PARA TODOS OS DIAS (INCLUINDO FINS DE SEMANA E FERIADOS)
Então, você ficou empurrando com o umbigo aquela recomendação médica de acordar cedo sempre ou curte ficar debaixo das cobertas até tarde? Danado, lembra-te: tu és pai; levanta-te! Será preciso se adequar a novos horários e criar uma rotina mais saudável. Ter horários certos para acordar e dormir é importante tanto para a criança quanto para os adultos na casa. É comum, infelizmente, ver crianças estressadas que se irritam com qualquer coisa. Talvez seja ”apenas” cansaço e isso pode ser resolvido facilmente levando a criança para dormir mais cedo ou criar o hábito de uma soneca à tarde.
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CAPA
5
VOCÊ VIRA PRESIDENTE DE FÃ-CLUBE DA NOITE PARA O DIA
Tudo que uma criança faz, por mais simples que seja, se transforma em algo excepcionalmente especial na cabeça do pai. Uma risadinha, um olhar, uma balbuciada, um dedinho do pé na boca, uma coçadinha na orelha, um arrotinho sinfônico… Qualquer exemplo desses vira enredo para um vídeo com uns 5 minutinhos de duração. Somente os pais da criança notam as diferenças de quando são comparadas fotos de quando ela tinha 1 ano e 6 meses com fotos da época com apenas 1 ano, 5 meses e 27 dias. Não fique chateado se seus amigos não notarem. É uma questão de altíssima sensibilidade sensorial desenvolvida durante a paternidade.
Dica bônus
Quando for mostrar as fotos e vídeos das novas peripécias dos pimpolhos, utilize a tabela abaixo de acordo com a audiência: Família Até 20 fotos e 3 vídeos de até 2 minutos cada; Amigos Até 10 fotos e 2 vídeos de até 1 minuto cada; Colegas de trabalho Até 5 fotos e 1 vídeo de até 30 segundos; Desconhecidos Até 3 fotos que não mostrem onde vocês morem ou a criança estudes, nem nada que possa despertar demais a curiosidade de estranhos
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O MUNDO TE OLHA DIFERENTE
É possível enxergar comportamentos diferenciados por onde quer que você passe. Seja no ônibus, no metrô, na portaria do prédio, shoppings, praia, enfim, em todo e qualquer lugar público haverá uma alma boa de prontidão para ajudar de alguma forma. Pode ser cedendo um lugar em alguma fila, te ajudando com as parefernalhas que precisam ser carregadas pra lá e pra cá, dando passagem nos corredores, se levantando para que você possa se sentar ou, apenas, fazendo aquelas caretinhas clássicas falando de forma miguxa pra distrair a criança e vê-le sorrir. E essa nova forma do mundo te olhar traz a certeza de que a necessidade de amadurecimento chegou a passos largos.
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AS MULHERES TE OLHAM DIFERENTE…
Bom, não vou me estender muito sobre isso porque posso arrumar problemas em casa e passar os próximos dias dormindo no sofá. Mas, apenas de curiosidade, perceba as sutis diferenças dos olhares femininos quando você se torna pai. Apenas de curiosidade, ok? FACEBOOK.COM/SOUPAI
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ESPECIAL .
CAPA
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A DIFERENÇA ENTRE VOCÊ E UM LEÃO É APENAS A JUBA
A partir do momento que esse pitoco de gente especial entra na sua vida, você desenvolve um espírito protetor que até então estava adormecido. E esse instinto quase selvagem tende a aparecer já no primeiro dia. Lembro que, na maternidade, no primeiro banho da minha filha, fitava a enfermeira de uma forma que ela pudesse notar que eu era o pai daquela criança. Queria ter certeza que tudo seria feito da forma mais carinhosa possível, mesmo que, para isso, tivesse que passar a mensagem “estou de olho e gravei sua cara” só com o olhar. Outro momento clássico em que esse instinto protetor se aguça é no teste do pezinho. Aquele pé minúsculo recebendo uma agulha enorme (ok, não era tão enorme…) e o bebê se esgoelando… Esse foi um dia triste pra mim. A vontade foi de dar uns tabefes na enfermeira que estava apenas fazendo o trabalho.
Dica bônus Se você tem estômago fraco, não entre na sala do teste do pezinho!
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VOCÊ ATUALIZA O RANKING DE PRIORIDADES DA SUA VIDA
O ser humano é um dos bichos mais adaptáveis andando por aí. E um ser humano-pai é praticamente uma evolução da espécie. Com a chegada dos filhotes, crie uma nova agenda adaptando ou mudando datas dos planos já existentes conciliando com os novos planos que serão criados. O mais bacana disso tudo é que revisitar e mudar suas prioridades acontecerá naturalmente, aos poucos e conforme as novas fases de cada novo ciclo.
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VOCÊ SE TORNA UMA PESSOA MELHOR
Simples assim. Não há muito o que evoluir sobre este segredo. Você evolui demais como pessoa e ponto final. Você se torna uma pessoa melhor ao ser pai! Exercício prático de verificação deste segredo: a cada aniversário de seu filho ou de sua filha, olhe para trás e faça uma profunda avaliação crítica e sincera sobre tudo o que mudou em você e na sua vida. Pergunte aos familiares e aos mais chegados. TWITTER.COM/SOUPAI
CLICK .
DE PAI PARA FILHO
Durante o período de 28 anos pai e filho registraram juntos seus retratos, completando um ciclo. O criativo registro viralizou na web, mas ainda não se sabe com certeza quem seriam o pai e filho retratados nas fotos.
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hypeness.com
MEMÓRIA FOTOGRÁFICA
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CADA VEZ +JUNTINHOS O vinculo paterno já foi subestimado, mas a hora é de valorizar a paternidade. Texto Rogério Villela Fotos Shutterstock
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ada supera o vínculo entre mãe e filho. Afinal, ela passa nove meses gerando o novo membro da família. Ela é quem sente as dores do parto, quem alimenta e acalma o recém chegado. Mãe e bebê estão unidos por um laço tão apertado que demora para perceberem que, na verdade, são indivíduos distintos. Mas ali, logo atrás, está ele, o pai, cada vez mais disposto a suar a camisa para estreitar a relação com a cria. Porque se o laço entre mãe e filho é visceral, o vínculo paterno depende de participação e comprometimento. Se seu filho ainda está no útero, talvez você já tenha ouvido conselhos para conversar com a barriga. Pode parecer ridículo, mas lembre-se de que lá de dentro dá pra ouvir tudo o que se passa do lado de cá. É a chance para habituá-lo à voz e à presença paternas. Felipe Lorente, pai de Martim, adorava conversar com o bebê na barriga. “Fazia carinho tentando descobrir onde estavam os pés. Falava sobre o quanto as coisas estavam ficando prontas, à sua espera. Sobre quanto ele já era amado por todos, mesmo antes de nascer”, lembra, entusiasmado. Vale cantar, tocar, apresentar suas músicas favoritas. Use a criatividade e aproveite a gravidez pra já ganhar intimidade com o seu rebento. Gabriel Muller, pai de Liz, lembra que ele e a esposa iam criando apelidos a cada passo da evolução: “Primeiro ela era nossa pequena azeitona, conforme ela crescia novos apelidos surgiam… hoje ela é nossa dinossaura!”. Mas engana-se quem acredita que a criação do vínculo paterno dependa exclusivamente de fatores externos. O cérebro do homem também sofre uma verdadeira enxurrada química. “Pesquisas da National Academy of Science comprovam que os recém-pais estão banhados com mais prolactina (mais amor, menos libido) e menos testosterona (menos apetite sexual e menos atitudes agressivas)”, explica o Dr. Marcus Renato de Carvalho, pediatra, editor do site Aleitamento.com e pai de Clara e Sophie.
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O PAPEL DO PAI
Em outras palavras: no pós-parto nós também ficamos meio mulherzinhas. “Por incrível que pareça, chegou a transformar meu cheiro, que sempre se caracterizou por ser forte e acre. Na primeira semana, fiquei com o mesmo cheiro do nenê”, acredita André de Toledo Sader, pai do Francisco. Para ele, a conexão com seu filho não tem nada de artificial: “Talvez por ter sentindo o momento exato da concepção, o elo surgiu forte e espontâneo, desde o começo. Já na maternidade senti que ali estava minha cria, uma sensação arrebatadora…”.
NA RETAGUARDA O pós-parto costuma ser um período difícil para o pai encontrar o seu lugar. “Realmente este é um período em que o pai fica mais no banco de reserva do que dentro de campo. O homem pode até sofrer depressão pós-parto, porque se sente excluído, sente que perdeu o seio materno, a mulher…”, alerta o Dr. Marcus Renato. O conselho é um só: relaxe. Como a gravidez e o parto despertam certo grau de estresse, fundamentalmente para a mulher, seu papel é oferecer todo apoio possível, dando sustentação emocional à família. “Não acho que nosso papel se resuma à ajuda, mas, apoio, nessa hora, é tudo o que eles precisam. Eu fazia comida todos os dias (uma dieta reforçada), lavava roupa, enfim, deixava a mãe tranquila para que ela pudesse cuidar do bebê e se recuperar da cesariana”, conta Felipe, que tirou
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... Por incrível que pareça, chegou a transformar meu cheiro, que sempre se caracterizou por ser forte e acre. Na primeira semana, fiquei com o mesmo cheiro do nenê”... 31
FAMÍLIA .
Felipe Lorente e seu filho Martim
férias quando o filho nasceu. “Percebo que nosso vínculo fica mais forte a cada dia. Nos momentos de estresse do bebê e da mãe, quando ambos parecem que vão explodir, eu trago o Martim para o meu colo, falo com ele, abraço bem calmamente e faço ele sorrir ou dormir”, complementa. Muitas mulheres, nesse período, se comportam como verdadeiras leoas na proteção de sua cria, impedindo a atuação dos homens e, por consequência, atrapalhando o processo de formação dos vínculos. ”Muitas vezes, esta atuação é inconsciente: ‘ele não sabe pegar o bebê no colo’; ‘ele não troca a fralda direito’; ‘ele é desajeitado’… Nunca os homens irão atuar da mesma forma que as mulheres, é mesmo um outro jeito, que não deve ser desqualificado”, comenta o Dr. Marcus. E o que elas podem fazer para ajudar na formação desse vínculo? Convocar o homem para dar colo,
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levar ao pediatra, às vacinas. E se a fralda que ele trocou ficou meio torta, não faz mal, elogie!
POR UMA NOVA PATERNIDADE À medida que o bebê cresce, lá para o sétimo ou oitavo mês de vida, a figura paterna se torna o apresentador de todo um mundo novo. E o vínculo de pai e filho se torna ainda mais forte. “Nessa hora o pai é aquele que altera a díade mãe e filho e traz mudanças significativas. O colo, aconchego e proteção exercidos pela mãe vão dando lugar à aventura de enfrentar o mundo do perigo, das ações arriscadas e da curiosidade…”, afirma Vivien Bonafer Ponzoni, Psicoterapeuta de Família e Casal. É a fase em que a criança não quer mais ficar no colo, mas conhecer seu espaço e as coisas que fazem parte dele. O pai passa a ser o incentivador de que o filho jogue bola, brinque TWITTER.COM/SOUPAI
PARA O GRÁVIDO É na barriga que o link começa.Participe da escolha da equipe de saúde. Eles é que vão cuidar de sua mulher e de seu filho, neste momento tão importante. Não fuja dizendo: “confio na escolha dela”. Eles vão, inclusive, determinar se você vai participar do parto e como. Acompanhe sua mulher em todas as consultas e exames. Não perca a
O PAPEL DO PAI
oportunidade de ouvir o coração de seu filho ou de vê-lo na ultrassonografia. Matricule-se num curso de preparação para casais grávidos. Você vai encontrar um monte de outros homens com as mesmas questões. Desenvolva sua vida sexual. É comum que ocorra uma diminuição do seu apetite sexual ou dela, mas não se afastem tanto assim. Amor e sexo na gravidez fazem bem ao casal e ao feto. Tenha muita paciência. Com o aumento da sensibilidade dela, você terá que enfrentar seus acessos de choro sem causa
de luta (independente do sexo da criança) e tantas outras atividades que o distanciam da proteção materna. É quando, finalmente, cortam o cordão umbilical. “A criança aprende que há amor. Um amor manifestado de forma diferente daquele experimentado por ela e sua mãe”, diz Vivien. Apesar de tal importância, o vínculo paterno continua subestimado por nossa legislação. O período de “folga” da licença paternidade é de apenas 5 dias úteis. Legalmente, ao homem só é dado o direito de cumprir as tarefas burocráticas e tomar as providências domiciliares mais emergentes. Mas nada de tempo para criar um vínculo com o recém-nascido. Gabriel acha que os pais deveriam ter o mesmo tempo de licença que as mães. Já André é mais radical: “na plena utopia, diria que um ano para o pai e dois anos para a mãe, até o menino estar falando e pronto para ir para a escolinha. ” FACEBOOK.COM/SOUPAI
e sua grande necessidade de proteção. Capriche nas demonstrações de carinho. Faça contato. Ele ouve e reconhece sua voz a partir do 5º mês de gravidez, portanto: comunique-se. Dê palpites no enxoval. Não se limite a pagar. Participe da escolha do berço, do carrinho, do enxoval, da decoração do quarto… Faça a mala. Prepare sua bagagem com um mês de antecedência e coloque nela tudo que precisar para poder permanecer, com eles, na maternidade, o tempo que for necessário.
Este é o chamado “novo pai” – hoje, já nem tão novo assim: aquele que não mais se conforma com o papel de provedor financeiro. Até porque o modelo econômico mais adotado pelas famílias é o de dividir as despesas. O homem está revendo os conceitos da paternidade, fazendo questão de estar cada vez mais presente na criação e educação dos filhos. Reparem: nunca foi tão comum cruzar na rua com um pai brincando com seu filho, sozinhos, como se fossem dois moleques.
CONSULTORIA Marcus Renato de Carvalho, pai de Clara e Sophie, é pediatra e editor-chefe do site aleitamento.com. Vivien Bonafer Ponzoni, é psicoterapeuta de família e casal e coordenadora do Núcleo de Família e Casal da Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama.
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CARREIRA .
PATERNIDADE: Um bom negócio para a
CARREIRA Pesquisa americana mostra que ser pai valoriza o homem no trabalho, que passa a ser visto como mais dedicado e responsável. Texto Adriana Prado Fotos Shutterstock
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er pai é… ganhar valor no mercado de trabalho. Se para a mulher a maternidade pode ser vista como algo problemático – supostamente porque a nova mãe terá que se dedicar muito ao bebê e sobrará menos tempo para a profissão –, o novo pai, ao contrário, é visto de forma positiva nas empresas. É o que sugere a recente pesquisa qualitativa feita pelo Boston College Center for Work and Family, nos Estados Unidos, com 33 pais de primeira viagem. A maioria acredita ter subido no conceito dos chefes com o nascimento do primeiro filho. É como se a paternidade fosse um passaporte para o universo de pessoas sérias, responsáveis, confiáveis, pois o novo pai vai se dedicar mais para ser promovido e não perder o emprego. O mesmo raciocínio, porém, não vale para as mulheres. Num estudo semelhante feito pela mesma instituição apenas com novas mães, elas relataram que eram questionadas sobre a possibilidade de conciliar a vida pessoal com a profissional. O sentimento de valorização acontece no Brasil também. O webdesigner Leandro Tinoco, 29 anos, ficou com a impressão de ter subido um degrau na escala de confiabilidade profissional após o nascimento de Gabriel, seu primeiro filho,
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há dois meses. “Sempre fui muito participativo no trabalho”, diz ele. “Mas senti que agora as pessoas esperam que eu me empenhe ainda mais porque sou pai de família e, consequentemente, farei o máximo para garantir meu emprego.” Segundo especialistas, a diferença entre a maneira pela qual paternidade e maternidade são vistas pelo mercado de trabalho está ligada à velha divisão social de papéis, na qual ele é o provedor e ela, a cuidadora. Como seria o responsável pelo sustento da família, o homem se tornaria um profissional ainda mais comprometido. “Senti que agora esperam que eu me empenhe ainda mais” - Leandro Tinoco, webdesigner, pai de Gabriel. Mas o que seria uma vantagem masculina pode ser, também, uma dificuldade adicional para os pais com postura mais moderna, de grande envolvimento na criação dos filhos. “O mercado de trabalho ainda opera nessa lógica patriarcal. Se a criança fica doente, o compreensível é a mãe sair correndo do trabalho, não o pai”, explica o psicólogo Jorge Lyra, coordenador-geral da ONG Instituto Papai e estudioso do tema há 15 anos. Esses pais participativos teriam a desvantagem de não poder, no dia seguinte a uma noite maldormida devido a uma febre do filho, contar com o apoio dos colegas da mesma forma que uma mãe insone.
MUDANÇA O desenhista Fábio Filgueiras tem chegado atrasado depois do nascimento de Gael: “Se eu fosse mulher, seria ainda mais compreensível” Os homens estão engatinhando no aprendizado da dupla jornada, mas seguem firmes no objetivo. Numa pesquisa do Families and Work Institute, de Nova York, com casais que trabalham fora, 59% dos pais reportaram alguma dificuldade para conciliar a vida pessoal com a profissional, contra 45% das mães. “Os homens querem ser mais atuantes, assumir mais responsabilidades, porém estão esbarrando em valores tradicionais que influenciam o comportamento não só das empresas como das políticas públicas, como é o caso da licença-paternidade, hoje de apenas cinco FACEBOOK.COM/SOUPAI
PROFISSÃO PAI
dias”, afirma a socióloga Arlene Martinez Ricoldi, que faz uma pesquisa sobre como homens e mulheres articulam trabalho e família. “Os entrevistados em nosso levantamento relataram dificuldades para explicar à empresa por que eles levariam o filho doente ao médico, e não a mãe”, diz ela. O desenhista Fábio Filgueiras, 31 anos, admite que tem chegado atrasado ao trabalho desde que Gael veio ao mundo, cinco meses atrás. “Ninguém reclamou ainda. Mas acho que, se eu fosse mulher, seria ainda mais compreensível”, opina. A headhunter Jacqueline Resch diz que cada empresa reage de forma diferente à situação. “Não vejo o assunto sendo muito discutido, ainda”, afirma. Entretanto, já há corporações que concedem mais benefícios aos pais por conta própria, apostando justamente que o profissional saberá compensar se dedicando mais ao trabalho e vestindo a camisa para não perder o emprego que garante o sustento da família.
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...Senti que agora esperam que eu me empenhe ainda mais” Leandro Tinoco, webdesigner, pai de Gabriel.
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FALA SÉRIO .
PRETO NO BRANCO Veja quatro maus comportamentos que você não deve ignorar e como colocar um fim neles. Texto Rafi Secco Foto Shutterstock
Amanda fazendo birra para testar a atenção dos pais
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SER AGRESSIVO
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FINGIR QUE NÃO OUVE
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FAZER UMA BIRRINHA
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AUMENTAR A VERDADE
COMPORTAMENTO
POR QUE VOCÊ NÃO DEVERIA IGNORAR
COMO MUDAR ISSO
Você não deve desconsiderar atos agressivos mais sutis, como empurrar o irmão ou beliscar um amigo. Se você não intervir, comportamentos ásperos podem se tornar um hábito. Além disso, a mensagem que fica é que ferir pessoas é aceitável.
Confronte o comportamento agressivo na hora e no local. Diga a ele que qualquer ação que possa ferir outra pessoa não é permitida. Lembre-o de que ele não deve ser agressivo e ajude-o sobre o que ele deve fazer quando ficar irritado.
Pedir que seu filho faça algo que ele não quer fazer duas, três ou mesmo quatro vezes, passa a mensagem de que está tudo bem se ele ignorar você. “Lembrar seu filho várias vezes apenas o treina a esperar pelo próximo aviso em vez de prestar atenção logo na primeira vez”, afirma o psicólogo Kevin Leman.
Em vez de falar com seu filho do outro lado da sala, vá até ele e diga o que ele precisa fazer. Fale quando ele estiver olhando para você e espere até que ele responda. Pegar na mão dele, chamá-lo pelo nome e deligar a TV também ajudam a conseguir a atenção. Se ele te ignorar mesmo assim, imponha uma consequência que você consiga cumprir.
O comportamento audacioso muitas vezes começa quando ele imita as crianças mais velhas para testar a reação dos pais. Algumas pessoas ignoram porque pensam que é apenas uma fase, mas se você não lidar com isso desde cedo, pode ser que mais tarde ele tenha problema de relacionamento com você, com professores e com amigos.
Deixe seu filho consciente do próprio comportamento. A idéia não é fazer com que seu filho se senta mal, mas para mostrar como ele está agindo. Se o comportamento persistir, você pode se recusar a interagir: “Não escuto quando você fala assim comigo. Quando você estiver pronto para falar gentilmente, eu vou ouvir”.
É importante confrontar qualquer tipo de atitude que não seja honesta. Mentir pode se tornar uma atitude automática se a criança aprende que é um jeito fácil de parecer mais legal, evitar fazer algo que não quer fazer ou evitar problemas por alguma coisa que já fez.
Quando contar mentirinhas, sente com ele e ajude a definir a história certa. Explique a ele que se ele não disser sempre a verdade, as pessoas não acreditarão mais no que ele diz. Descubra qual é a motivação para ele mentir e se certifique de que ele não alcance este objetivo. Se ele disser que escovou os dentes sem ter escovado, faça com que ele volte e realmente escove.
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CRÔNICAS .
O cocô Da rainha da Inglaterra ao gari, das cantoras de axé ao papa Francisco, passando pela multidão de anônimos na plateia de ambos, todos fazemos cocô. Texto Marcelo Tas
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le é nojento e inevitável. Parte do cotidiano, ainda é assunto constrangedor para a maioria das pessoas. Depois do nascimento do bebê – ufa! –, finalmente vira conversa natural dentro de casa. Investimos em fraldas e aprendemos na prática a relação entre ele e o que comemos. A chegada dos filhos é uma chance para entendermos a importância do cocô! Muitas vezes sinto vergonha em falar nele. Repare que, sem perceber, transformamos o cocô em um tema tabu. Com sua licença, vou em frente. O cocô é uma substância democrática. Da rainha da Inglaterra ao gari, das cantoras de axé ao papa Francisco, passando pela multidão de anônimos na plateia de ambos, todos fazemos cocô. Os sortudos, diariamente. Desde a invenção da roda, a humanidade avança ao
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desconhecido. Chegou à Lua e agora quer chegar a Marte também. Só que até hoje, com toda a tecnologia disponível, o homem não sabe o que se passa dentro do intestino. É uma derrota inadmissível. Trata-se de um planeta com cerca de dois quilos e nada menos que 100 trilhões de bactérias. Em um mísero grama de cocô habitam mais micro-organismos que o número de seres humanos na Terra! Quando o planeta cocô começa a ser povoado? No exato instante em que o bebê passa pelo canal vaginal da mãe. Há coisas que a natureza joga na cara da gente de forma clara e direta. A megapopulação intestinal se inicia de forma mais intensa e diversificada no parto normal que na cesárea. As pesquisas científicas sobre a saúde humana que colocam
MARCELO TAS é jornalista e apresentador, casado com Bel Kowarick e pai de Luc, 26 anos, Miguel, 14, e Clarice, 10.
o intestino no mesmo patamar de importância que o cérebro e o coração são muito recentes. O desconhecimento sobre a megapopulação de bactérias no órgão é tão flagrante que ainda a chamamos de flora intestinal, termo usado quando a ciência colocava as bactérias equivocadamente na categoria de plantas. Vamos admitir que o intestino até hoje foi um órgão muito subestimado. Talvez seja por isso a epidemia de obesidade, a alta incidência de câncer, o baixo aproveitamento da energia dos alimentos e o fato de o nosso sistema imunológico estar em frangalhos, acuado com tanta química. O constrangimento que trava o debate não faz bem à saúde. Vamos aprender e falar mais sobre cocô dentro de casa, sem vergonha de olhar para ele. O cocô faz parte da vida! TWITTER.COM/SOUPAI
EXPERIÊNCIA PRÁTICA
Ser mãe é uma bosta! Sinto informar, mas as bostas da vida vão muito além das fraldas sujas e também dos cocozinhos normais ou não.
DENISE FRAGA é atriz, casada com Luiz Villaça e mãe de Nino, 18 anos, e Pedro, 16
Texto Denise Fraga
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uerido leitor, não pense que neste texto irá me “ouvir” falar mal da maternidade, detonando as mães ou algo do tipo. Não… O assunto a ser desabafado é outro, mas igualmente pertinente e também faz jus ao título: Ser mãe é uma bosta! E é mesmo! Sabia? Quando digo que ser mãe é uma bosta é no sentido literal. Nunca me imaginei na vida, sendo tão fria com essa questão fisiológica. Eu era muito fresca antes de ter filhos, nem podia sentir o cheiro que passava mal. Após ser mãe, automaticamente a aversão à cocô passou. Claro que não totalmente, mas especificamente ao cocô do meu filho, o cocô deles era o mais lindo e mais cheiroso do mundo! Eu vivia enfiando a mão dentro da fralda para ver se estava suja quando não conseguia ver de forma normal
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(puxando a traseira da fralda), algumas vezes atolava meus dedinhos em material sólido, liquido, melecado, viscoso, esverdeado, amarronzado, amarelado, com pedaços ou diarreico. Outras vezes não identificava nada (não precisaria trocar a fralda, ufa!), mas nunca senti asco das fezes, tanto que cheirava e futucava para ver se estava com aspecto e cheiro normais. Sinto informar, mas as bostas da vida vão muito além das fraldas sujas e também dos cocozinhos normais ou não. Existem também os vômitos, xixi e tantos outros líquidos corporais que existem no ser humano. Bebês com problemas de refluxo são craques em deixar a marca azeda e registrada em nossas roupas. Já perdi as contas de quantas vezes me arrumei, perfumei e antes de sair
ou mesmo na já na rua: pimba. Uma bela de uma golfada (gorfada) na blusa, calça ou em ambos. Teve uma época que eu andava com uma troca de roupas na bolsa, porque nunca sabia se iria acontecer um acidente assim. Confesso que antes de começar a comer comidinha era muito mais fácil. O bicho pegava mesmo era depois dos alimentos sólidos. Enquanto eram fezes à base de leite e frutas o mundo ainda era mais colorido. Após a fase de ingestão de alimentos como arroz, batata, carnes e principalmente caldinho de feijão… O mundo não era tão cheiroso, mas ok, vamos que vamos. Afinal, é meu filho! Viver com fezes até os cotovelos, é a sina de todos os pais , então se você pensa um dia ter filhos, tem que estar preparado para explosões na fralda, nas roupas e momentos nada legais.
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HUMOR .
CERTO Carregando o bebê
& ERRADO
Certo
Certo
Errado Interagindo com o bebê
Certo
Errado
Amamentando o bebê
Certo
Errado 48
Brincando com o bebê
Errado TWITTER.COM/SOUPAI
PÉRICLES MONTANARO
Dando banho no bebê
Certo
Errado
Secando o bebê
Certo Errado
Ajudando a crescer os dentes do bebê
Certo
Certo
Errado FACEBOOK.COM/SOUPAI
Acalmando o bebê
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HUMOR .
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PÉRICLES MONTANARO
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