Trilhos Urbanos Jornal-laboratório da Disciplina Jornalismo Impresso I e II - Edição de Setembro
Poder das Cores
Descubra os benefícios das cores da estação mais alegre do ano: a primavera
Parque do Varvito: patrimônio turístico e geológico em Itu
Educação Física: 1º de Setembro comemora a profissão
Artigo
Prato do Dia Marília Monteiro Há aproximadamente 10 anos é polemizada a questão do sistema de cotas no Brasil. A lei instituída sugere que concursos públicos para empregos e faculdades públicas reservem uma porcentagem de vaga para classes sociais mais desfavorecidas. O IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, aponta que mais de 11 milhões de pessoas nascidas na terra tupiniquim são negras. Enquanto isso, a ABEP, Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, informa que aproximadamente 30% da população brasileira está na classe A e B. Com base na história sócio-econômica brasileira e dando uma olhada nos dados apresentados, conclui-se que, no mínimo 70% desses 11 milhões de afrodescendentes brasileiros estão nas classes menos favorecidas. Ou seja, o sistema que era de cotas sociais tornou-se de cotas raciais, devido ao grande número de “black-powers” pertencentes à classe C e D – sem esquecer dos índios. É claro que iam reclamar.
Movimentos e passeatas contra esse sistema. De um lado os “burgueses” reclamando da diminuição de vagas nas universidades públicas, que em sua maioria são constituídas de pessoas que podem pagar um cursinho particular para agarrar o troféu
o preconceito brasileiro é coberto por panos quentes e na base do ‘somos todos irmãos brasileiros’ camufla-se muita coisa. Não sou contra a cota social, sou contra a necessidade de um programa paliativo funcionando como placebo educacional.
da Federal ou Estadual; de outro, negros e índios agradecendo a oportunidade; e ainda numa outra face – a da cereja do bolo – brancos, negros, índios, pardos e misturados desse meu Brasil brigando por causa da discriminação que isso tudo gerou. Era evidente que ia dar problema separar classes e raças assim, tão declaradamente. Sim, porque
Sistema de cotas, Bolsa Escola – incentivo financeiro para estudar, Escola da Família – trabalhe para mim e eu te dou uma bolsa na faculdade, são programas criados pelo governo para tapar o grande problema da educação no Brasil com a mais furada das peneiras. Por enquanto, as cotas estão realmente ajudando muitos desfavorecidos, o
que é um grande avanço. Pessoas que nunca pensaram em entrar numa universidade, hoje podem se empenhar e conseguir, mas enquanto a educação básica não for adequada, cotas e bolsas continuarão servindo como tampa pequena numa panela grande. O vapor da ignorância vai continuar solto. Há pouco tempo a professora Amanda Gurgel, do Rio Grande do Norte, calou secretários e deputados mostrando o quadro dos professores da rede pública naquela região, o que não diferencia muito do resto do país. Em seu depoimento, Gurgel mostrava o baixo salário, as condições precárias de um professor assim como as da escola pública e pedia objetividade política para a solução desses problemas. O Brasil é carente de professores mais bem empenhados, de melhores estruturas escolares e de transporte, de alunos bem alimentados para conseguirem aprender, de mais leitura, de aulas interessantes, da escola como porta aberta para o mundo; e não de cotas sociais. Porém, enquanto o Papai Noel não chega, é o que tem para hoje.
1º de setembro: Dia do Professor de Educação Física Por Patrícia Cunha
D
ia 1º de setembro comemora-se o dia do professor de Educação Física. A profissão foi regulamentada através da lei federal de número 9.696/98 e publicada na mesma data. A ideia de estipular a data surgiu na comemoração de São Cosme e Damião, pois, nesses dias, os professores de educação física organizavam brincadeiras para divertir a garotada, entregando-lhe várias guloseimas e doces. No Brasil, consideram que desde o período da colonização a Educação Física era praticada em nossas terras. Os índios corriam atrás de suas caças, nadavam, atiravam arco e flecha e dançavam, jogavam peteca, lutavam entre si e brincavam de corrida dos troncos. Já os negros africanos, que vieram como escravos para o Brasil, dançavam a capoeira e faziam as lutas corporais, aprendidas através da observação dos animais em seu país de origem. Novos tempos, nova realidade O campo de trabalho dos profissionais de educação física cresceu bastante nos últimos anos. Eles deixaram de ser apenas professores
de escolas ou academias, estendendo seu campo de atuação. Hoje, trabalham como técnicos de esportes, “personal trainers”, desenvolvem programas de emagrecimento para crianças e adultos, organizam trabalhos de acréscimo muscular, que são muito valorizados em razão da população cultuar o aspecto físico e estar mais vaidosa, buscando um corpo belo, cheio de formas e músculos aparentes. A profissão é muito ligada à saúde, esportes, recreação e lazer, ajudando as pessoas a liberarem suas tensões e serem mais felizes. A personal trainer, de 30 anos, Vanessa Campos acredita que ser uma profissional dessa área é promover o bem-estar e as capacidades funcionais de uma maneira mais descontraída e prazerosa. “Ao contrário do que parece, apesar de trabalhar com o lazer, saúde e esportes não é tão simples montar aulas. É preciso dedicação e estudo, técnicas para direcionar as aulas de acordo com a necessidade de cada grupo, gerando melhores resultados e satisfações”, relata Vanessa que é formado há 6 anos e trabalha em academias como instrutora de musculação e ginástica.
Já Cleverson França, 42 anos, é formado há 14 anos e trabalha como professor de Educação Física em escolas de ensino fundamental. Ele acabou entrando na profissão pelo fato de sua vida inteira estar relacionada com o esporte. “Minha formação é mais técnica, então, por isso, procuro desenvolver aulas desportivas e recreativas porque sei que na escola todos os alunos têm direito à prática da Educação Física. Procuro trabalhar sempre com muita responsabilidade porque existem crianças e jovens que nos vêem como um exemplo, pois alem da questão da saúde, esporte e recreação nós também contribuímos para a formação do indivíduo”, conta o professor. Já Waldemar Camargo, 45 anos, é professor e técnico de esportes. Em seu campo de trabalho desenvolve com seus atletas a modalidade de tênis de mesa. Durante os treinamentos, ele ensina a prática de fazer movimentos para rebater uma bolinha de 40 milímetros com 2.7 gramas que vem a 80 km ou mais. E essa atividade física desenvolve nos alunos habilidades motoras grossa, fina, lateralidade, percepção e equilíbrio; tudo isso desenvolvido
Professor Waldemar (dir) e seu aluno Renato
em estágios. Waldemar conta que escolheu esta profissão porque além de gostar e praticar esportes, ele também gosta de ensinar. “Eu trabalho com meus alunos como se fossem meus filhos. Tenho muita consciência, porque estamos cuidando da vida de outras pessoas por isso os professores da minha área tem que levar esta profissão a sério”, disse. Vanessa acredita que a profissão nos dias de hoje passou a ser mais valorizada. “Atualmente, há estudos direcionados e atualizados a cada ano. Acredito que as pessoas, à medida que procuram uma atividade física, comprovam seus benefícios. Ela vem sendo mais divulgada e reconhecida como qualidade de vida”, diz ela.
Primavera
Descubra os benefícios nutritivos dessa estação para a saúde Por Jéssica Ferrari
Melão Rico em Potássio, diurético, auxilia na circulação devido sua ação anticoagulante.
C
onsiderada por muito como a estação do amor, a primavera traz consigo muito mais que a desabrochar de lindas flores. A estação mais cheirosa do calendário também proporciona o consumo de frutas bastante nutritivas, como acerola, banana-maçã, laranja lima, Bahia e pêra, limão, maçã, melão, mexerica, morango, nectarina, pêra, caju, côco, goiaba e até jabuticaba. “Elas [as frutas] são ricas em vitaminas, minerais e fibras, e são essenciais na prevenção de diversas doenças. Além disso, possuem sabor adocicado, muito apreciado por pessoas de todas as idades, podendo ser consumidas in natura e/ ou como ingredientes de pratos doces e salgados”, afirma a nutricionista Gisele Bertone Bussaglia Tabaraci. A reportagem do do Trilhos Urbanos separou, em detalhes, os benefícios que algumas frutas e
Mexerica Rica em vitamina A, C e do complexo B, Possui um bom efeito diurético, sendo bom também para o funcionamento do sistema digestivo.
flores comestíveis podem trazer à sua saúde.
aumento da resistência a viroses.
Acerola A rainha dentre as frutas ricas em vitamina C, promove a saúde do sistema imunológico, dos tecidos e pele.
Jabuticaba É rica em minerais, como cálcio, ferro, fósforo, potássio, sódio e magnésio, importantes para manter a rigidez da estrutura óssea e dos dentes. A fruta também é boa fonte de vitaminas do complexo B, que ajudam a combater problemas de pele e o reumatismo. Limão Essa fruta, rica em Vitamina C, tem poder adstringente, bactericida, fungicida, antibiótico e clareador.
Caju Auxilia na prevenção de doenças cardiovasculares e alguns processos antiinflamatórios. Goiaba Rica em Vitamina A, C e do complexo B, auxilia na redução do risco de câncer e ataques cardíacos,
Morango Rico em Vitamina C, evita a fragilidade dos ossos e a má formação dos dentes, e também eficiente contra infecções do fígado, da garganta e das vias urinárias”. As flores comestíveis Provavelmente você estranharia uma couveflor enfeitando um vaso em cima da mesa, ou então uma rosa com todo seu perfume, temperada em um prato. Mas sim, a cena não é só possível como é nutritiva. No entanto, Gisele atenta para os cuidados na escolha das plantas. ”Existem flores que
reações alérgicas a indivíduos susceptíveis. Prímulas As pétalas coloridas têm um sabor suave adocicado.
Camomila: muito apreciada no Brasil e no mundo para chás
são tóxicas e podem ser nocivas á saúde. As permitidas devem ser de boa procedência, que tenha tido cultivo sadio, regado com água mineral, livre de agrotóxicos”, explica. Principais flores que podem ser consumidas: Amor Perfeito As pétalas têm um sabor adocicado suave e a flor completa um sabor mais vegetal e ligeiramente ácido. Anthirrinum majus Para usar como guarnição ou enfeite. Calêndula Sabor ligeiramente amargo, lembrando o açafrão. Camomila Consumida em chás. Apenas as pétalas destas flores são comestíveis. O
As frutas são ricas em vitaminas, minerais e fibras, e são essenciais na prevenção de diversas doenças. pólen pode causar alergias a indivíduos susceptíveis. Capuchinha Sabor apimentado destas flores faz lembrar o agrião. Cravina As pétalas são comestíveis e tem um sabor apimentado do tipo cravoda-índia. Deve retirar-se a parte branca e amarga da base da pétala. Girassol Apenas as pétalas do Girassol são comestíveis. O pólen pode causar
Violetas As pétalas das violetas têm um sabor doce e perfumado e podem ser consumidas frescas ou cristalizadas em açúcar. O valor nutricional das flores comestíveis ainda é pouco conhecido, assim como a aceitação das mesmas por parte da sociedade. Apesar disso, Gisele afirma que elas possuem baixa caloria e alto teor de água em suas pétalas.
Mix A mistura das cores no
prato pode encantar os olhos e o paladar. Para a nutricionista Camila Camargo a receita é saudável, ainda mais porque a estação também oferece grande variedade de verduras e legumes, dentre eles beterraba, abóbora seca, mandioquinha, pimentão, acelga, agrião, almeirão, brócolis, couve, escarola, rabanete, repolho, couveflor, espinafre. Com tantas opções, a Primavera acaba se tornando um mix de cor, sabor e odor, que pode instigar a criatividade e diversificar a gastronomia. ”É aí que podemos ousar, sair das refeições habituais e provar essa combinação que, afinal de contas, deixará os pratos muito atrativos à visão, paladar e olfato”, conta Gisele.
No hemisfério sul, onde está localizado o Brasil, a primavera tem início em 23 de setembro e término no dia 21 de dezembro. A principal característica da estação é o reflorescimento da flora, e por isso a Primavera é considerada também a estação mais florida do ano.
Patrimônio ituano
Patrimônio Geológico e Ambiental, o Parque do Varvito continua lindo Por Kelly Freire
A
o entrar no Parque do Varvito, a primeira coisa que se vê é uma florida e perfumada Bauhinia Forficata, conhecida popularmente como “Pata de Vaca”. Do lado esquerdo, há um bem-cuidado jardim de hortênsias e pequenos arbustos de azaléias coloridas. Um som suave de água caindo percebe-se ao longe. Do lado direito de quem entra, avista-se um pequeno chafariz e um parquinho colorido, sempre habitado por pequenos barulhentos e sorridentes. O local é um monumento geológico valiosíssimo. Segundo o professor de geografia Edson Moreira, as rochas sedimentares são a comprovação de uma extensa Era Glacial, que ocorreu nesta região há milhares de anos. Desde então, sempre se falou sobre a formação geológica existente ali. Já no século XVIII, as lages de varvito eram conhecidas por sua beleza e usadas na construção civil. Conta-se que, nas tardes de verão, as sinhás saiam para tomar a fresca, mas o passeio ficava prejudicado em dias de chuva. A solução foi pavimentar uma das ruas mais charmosas da cidade com as rochas, assim, pelo
Parque do Varvito recebe várias excursões semanalmente
poder de absorver a água da chuva que a rocha tinha, era possível que as mulheres saíssem de casa sem que sujassem a barra de seus vestidos. A partir daí, todos queriam usar esse tipo de material em suas construções. A antiga pedreira que produzia material distribuído por toda a região foi desativada nos anos 80. Marcas da intensa extração podem ser observadas em vários pontos do Parque, fundado em 1995. De lá para cá, muitas mudanças aconteceram. Da mata nativa, quase nenhuma espécie restou por conta do
desmatamento desmedido, porém, uma verdejante floresta secundária está em plena formação e muitas das espécies que estão lá, são causa da dedicação de funcionários. Uma vida dedicada ao Parque É praticamente impossível ter visitado o local sem, ao menos uma vez, ser recebido por José Gonçalves Camacho, um dos funcionários mais antigo. Seu Camacho, como é conhecido, conta que quando chegou no local tinha muita coisa ainda para construir e ele
foi responsável pelo transporte das pedras que serviriam para formar os canteiros e decorar o ambiente. “Como eu sou canteiro que é a função de quem corta pedra, me mandaram para cá. Eu era responsável por receber as pedras e assentá-las, depois de tudo pronto eu fui ficando”, conta. Nesses 16 anos de trabalho no parque, Seu Camacho viu muita coisa acontecer: “Lembro do parque cheio de gente encantadas com os canteiros todos floridos, hoje ainda recebemos muitas visitas, mas a maioria é gente de fora, é difícil o ituano valorizar o que tem
de bom”, completa. Nos últimos anos o local passou por vários problemas de administração, ficando meses fechado por falta de manutenção. Diante de situações como essas, o cidadão ituano acabou criando a imagem de um local abandonado, feio e sujo. Mas não é esse cenário que se vê ao entrar pela catraca que conta o número de visitas. O que se pode observar é um parque limpo e bem cuidado, com a grama cortada e as atrações funcionando. A volta do belo Cristiano Sontack, outro funcionário do local, conta que, entre 2004 e 2008, o local passou por diversas trocas de coordenadores, que ficavam por pequenos períodos e não realizavam o trabalho necessário para manter o parque em funcionamento. Mas, no segundo semestre de 2008, um novo ânimo tomou conta dos funcionários, um novo administrador decidido a não medir esforços para que o local voltasse a ser como antes. Jurandir Pereira foi coordenador de 2008 a 2011, e, nesse período, fez muita coisa. “Começamos pela limpeza e poda da grama e das plantas, depois fomos consertando as bombas da Cachoeira do Antanho e do Lago Jurássico. Plantamos mudas de flores, pintamos o gradil e aos poucos foi modificando o ambiente. Tivemos muitas dificuldades, falta de envolvimento
da população, críticas, falta de recursos etc. Mas transformamos o que se achava não ter jeito de mudar. Amo o Parque do Varvito e acho que esse amor foi que me manteve de pé, apesar das dificuldades”, conta Pereira, emocionado. A Renovação Hoje, o parque passa por mais uma renovação. Desde julho de 2011, o local é administrado pela Secretaria de Meio Ambiente, que vem desenvolvendo um trabalho de resgate histórico-cultural. A responsável pelo departamento é Patrícia Otero, Secretária de Meio Ambiente. Ela foi fundadora da ONG 5 elementos e tem um vasto conhecimento nas questões ambientais. Foi convidada para esta função por causa de seu trabalho sempre voltado a preservação e conscientização. Patrícia diz que as primeiras ações da Secretaria é organizar a parte administrativa através de três grandes programas: fiscalização e controle, planejamento e educação ambiental. Para o Parque do Varvito, a secretária tem muitos planos. “Estamos colocando em prática o projeto de reforma do local e para isso estamos contando com vários parceiros, como a Eppo Ambiental e a Secretaria de Serviços Urbanos e Rurais, além disso, estamos melhorando o atendimento receptivo oferecendo monitores principalmente para escolas públicas”, conta Patrícia.
Formação rochosa que deu fama ao parque
E ela continua: “Estamos desenvolvendo atendimentos especiais para públicos diferenciados, como o pessoal da terceira idade, deficientes físicos e visuais e para instituições. Estamos também buscando uma reaproximação com as Universidades para que elas voltem a colaborar com o local, esses são os nossos objetivos, mas o parque é muito rico por si só, e o que mais me deixa triste é essa mania que o ituano tem de continuar falando que o parque está abandonado. Esse tempo já foi. Quem vier passear aqui, verá que essa é uma nova fase”, completa. A realidade é que, seja pelo patrimônio geológico, seja pela natureza incrível, o lugar é um convite a brindar a vida. Quem entra no Parque do Varvito e passeia pelas suas passarelas, se encanta com as inúmeras aves e seu colorido e ouve
as gotas de águas cristalinas que pingam lentamente na gruta da lágrima do tempo, sai de lá com uma certeza: Deus foi generoso por aqui. O que é varvito? Varvito é uma rocha sedimentar, formada numa extensa era glacial, há aproximadamente 300 milhões de anos. Sua origem vem do derretimento de uma gigantesca geleira que pelo acumulo de água, formava um grande lago glacial. Com a variação da temperatura, o fundo do lago ia formando camadas regulares de sedimentos orgânicos arrastados pelo derretimento das geleiras. A formação do Varvito de Itu é a comprovação física da existência dessa era glacial na região, o que contribui para estudos do nosso clima e da evolução natural da nossa região.
Crônica
A gente quer comida, diversão e arte Por Kelly Freire O dia amanhece ensolarado, apesar de ser bem cedo. Dona Maria Amélia toma seu banho matinal, prepara um cafezinho preto e bebe fazendo biquinho e dando uns “soprinhos” para não queimar a boca, afinal pode perder a hora. Coloca a xícara decorada com florezinhas cor –de - rosa na pia, pega a sacola cuidadosamente arrumada no dia anterior. Antes de sair, olha ao redor para ver se não está esquecendo nada. Sai pela porta dos fundos, já que a casa está toda bem trancada, passa pelo portão e ganha a rua. Ao passar pelas pessoas na pelo caminho nota certos olhares de estranhamento, deve ser por conta dos passos apressados, ou do cabelo pintado de roxo suave, ou ainda por conta da sacola que carrega sem tanta dificuldade assim. Não importa, precisa chegar no horário. Diferente do que muitos imaginam, Dona Maria Amélia não está indo à feira, nem a uma consulta médica, muito menos visitar os filhos. Ela vai mesmo para mais uma de suas amadas viagens. O destino de hoje é uma fazenda no interior do estado, que já visitou nem sabe quantas vezes, mas sempre volta porque os “meninos são umas gracinhas, a comida é boa e tem coisas lindas para trazer de lembrança”.
Junto com ela, uma turma animada de mais ou menos cem amigos. Todos rindo, contando piadas, falando da vida dos outros e imaginando como será o passeio: - Da outra vez que estivemos lá, tinha um leitão pururuca que era uma gostosura – diz um. - Tomara que hoje não tenha porque o Doutor Marcelo me proibiu de comer essas coisas – comenta outra. - Mas hoje é dia de passeio, não vai fazer mal, não pode é comer sempre – completa alguém... E a conversa vai indo até que todos entrem no ônibus e se acomodem. Dona Teresa, coordenadora do ônibus puxa uma oração para que tudo dê certo. Todos acompanham. Depois distribui um saquinho com balinhas e recolhe a “caixinha do motorista”. Todos fazem questão de contribuir, afinal, é um menino tão bom, cuidadoso, merece um agradinho. Duas horas depois chegam a tal fazenda.
Um grupinho de jovens sorridentes e uniformizados está esperando. Entram nos ônibus, dão as boas vindas e enquanto falam alguém grita: “Ô meu filho, não dá pra gente ir ao banheiro primeiro?” Outra explica aos cochichos: “É que ele toma remédio para pressão...” Dona Maria Amélia se sente em casa, depois de ir ao banheiro, comanda o grupo de amigas e indica o restaurante, assim não precisam ficar na fila. Depois do café da manhã, os meninos sorridentes convidam todos para uma caminhada. Durante o percurso, dona Maria Amélia e as amigas batem muitas fotos, de cabras, bodes, pavões, patos e flores. Andam a cavalo, deslizam pelo pedalinho, fazem compras e se esbaldam no aperitivo. A crise no Ministério do Turismo parece ser coisa de outro mundo naquele ambiente. Música, risos e piadas são ouvidos o tempo todo, junto com gritinhos histéricos de quem está vivendo uma
aventura pela primeira vez. Alguém chega contando: “E não é que a Dona Celina teve coragem de ‘andar’ de tirolesa?”. Certas pessoas deviam saber o quanto o turismo pode ser divertido e saudável. Dona Marilda sarou de uma depressão depois de entrar no grupo e começar a viajar. Seu Orlando foi até morar sozinho e não fica mais triste depois da morte da esposa. Dona Margarida aceita melhor o filho homossexual agora. O alto escalão do governo deveria participar de um grupo, ou ir a uma dessas viagens para saber que o que se leva da vida é a vida que se leva. O dia está acabando ao som do hit “quem parte leva saudade de alguém que fica chorando de dor. Por isso nem quero lembrar, quando partiu meu grande amoooôôoor. Aiaiaiaiaiai está chegando a hora, o dia já vem raiando meu bem, e eu tenho que ir embora”. Dona Maria Amélia entra no ônibus com sua sacola, agora mais cheia, das compras feitas para filhos, genros, noras e netos. Acena com a mão trêmula e com um sorriso capaz de iluminar a Paulista inteira em dia de apagão. Deixa saudade e a certeza que apesar de todos os males, tem muita coisa boa nesse Brasilzão de Nosso Senhor. Até a próxima!