Pausa

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para ser lido nos intervalos BELO HORIZONTE MAIO | JUNHO DE 2009 NÚMERO DOZE


poema

artigo sobre sem título georges bataille tradução passionnément poema farpa poema outro nome

expediente Conselho Editorial Alexandre Fantagussi Erick Costa Maraíza Labanca Rafael Reis II Projeto Gráfico e Direção de Arte Fernanda Gontijo II Colaboradores desta edição Alexandre Rodrigues da Costa Rodolfo Xavier Vera Casa Nova II Imagens Rodolfo Xavier II Revisão Isabela Monteiro II Impressão Guia Prático II Tiragem 1.000 exemplares II Informações Críticas Comentários Envio de Material Contato jornal.pausa@gmail.com II As opiniões expressas nos textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores II Favor não deixar este jornal em vias públicas II As edições anteriores encontram-se no site www.jornalpausa.com.br

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LÍNGUA E LITERATURA

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– risco no instante do relâmpago em que me apago – quase morte centelha viva a voz de ninguém a semente seca que tomba da boca planta o beijo da noite na língua de fogo que me habita e queima agora em teus lábios – distante o que vegeta no sono viceja em teu dia

Erick Costa II 3


Passionné Traduzir, por vezes, é transplantar: enxerta-se um corpo estranho em outro corpo, que pode aceitar ou recusar a inserção. Alguns textos, entretanto, parecem enxertos recusados mesmo no original. É o caso de Passionnément, de Ghérasim Luca1. O poema é escrito em francês, mas num francês ilegítimo – assintático e cacofônico. Uma linguagem maculada, e, por isso mesmo, pura. Poema que prolifera nos intervalos da língua, fora dos domínios gramaticais, onde sujeito e linguagem soçobram; mas ergue castelos a partir de ruínas. Como realizar a operação tradutória de um texto como esse? O tradutor, nesse caso, deve saber de antemão que lida com o fracasso; um fracasso exemplar, se tiver em vista que, desde a origem, foi sempre isto que esteve em questão: o tradutor, como o escritor, é justamente aquele que trabalha no próprio fracasso, mas é preciso lutar por ele, para ele: não se pode salvar o que já nasce perdido – mas, inevitavelmente, não se pode deixar de tentar. Traduzir Passionnément é uma espécie de luta corporal: lida-se com uma coisa viva, que se metamorfoseia a cada passo. Há um trabalho de recriação dos quatro blocos linguísticos – a semântica, a morfologia, a sintaxe e a fonética. O tradutor, nesse ponto, deve fazer suas decisões, interferir conscientemente no texto para que ele seja possível. Não deve lamentar o que perde do original, mas fazer a outra língua perder igualmente; deve buscar os limites dela, fazê-la também vibrar, gaguejar (cortar, costurar e deixar expostas as cicatrizes). A tradução que se apresenta pode parecer, a princípio, apenas uma tradução fonética. No entanto, ao privilegiar a materialidade das palavras, sigo o próprio movimento do poema, no qual os vocábulos são insistentemente quebrados para que libertem sua musicalidade potencial. Nessa ruptura, os restos de palavras se juntam a outros pedaços, em geral, foneticamente próximos, formando novas palavras, possibilitando novos sentidos – o que está em jogo é o sentido2 dos significantes atritados em rotação. Na transposição, esforcei-me por ampliar a relação de “centro-choque” a que Luca submete as palavras3, em francês, para uma relação de entranhamento e estranhamento entre duas línguas distintas, priorizando o ritmo do poema, pois a gagueira é, sobretudo, uma questão rítmica: aceleração e retardamento do sopro vozeado – sempre insuficiente –, avançando, retraindo, deslocando-se na busca de uma saída. A oração está sempre por se formar, seu sentido está sempre suspenso. Foi esse fôlego interrompido, as palavras constantemente (entre)cortadas, que se quis preservar – o baile das palavras em torno do eixo, a frase que custa a se formar integralmente: je t’aime passionnément/ eu te amo passionalmente.

4 II Rafael Reis


ment

Ghérasim Luca

Assim, as diferenças de sentido tornam-se evidentes, já aparecendo nos primeiros versos. “Pas”, que, em francês, significa tanto “não” quanto “passo”, foi traduzido por “pá”, instrumento usado para escavar e deslocar a terra. Muda-se o sentido, mas se mantém a palavra próximo ao eixo do poema: “pas” e “pá” são partes constitutivas da palavra “passionalmente”. Na seqüência, o texto avança, gaguejantemente, até fazer o primeiro giro fora do eixo, ou seja, um deslocamento mais distante da frase central. São os versos: “le mau / le mauve le mauvais pas”, que podem significar: “o ma / a malva o mal passo”, mas que foram traduzidos para: “e mo / e move e movia a pá”, o que, além de manter a seqüência rítmica, retoma a idéia de movimento presente no substantivo “passo” (“pas”), que atravessa o poema. Alguns versos, sem sentido aparente, podem também causar estranheza ao leitor. Isso ocorre, sobretudo, devido ao movimento natural das palavras, que, dançando, não se preocupam em se juntar a pares foneticamente próximos, mas semanticamente distantes. É o caso do verso “la pipe du papa du pape pissez en masse”, verso rico de sentidos, mas que poderia ser traduzido como: “o caximbo do papai do papa mijai em massa”, mas que traduzi por: “o pito do papai do papa pichar a massa”. Em vez de “pichar a massa”, poderia ter optado por “pipi em massa”, semanticamente mais próximo; todavia, “pipi”, com duas consoantes oclusivas, não teria a mesma fluência sibilante de “pichar”. Em outras passagens, há junção de duas ou mais palavras, formando palavras-valise em português, como “pas vos rats” (não vossos ratos), traduzido por “pavorrato”, seguindo o movimento de atração e repulsão do original. Por outro lado, alguns sons tiveram que ser alterados ou deslocados, por exemplo, “ne domine pas”, traduzido por “não domines já”. O “j”, entretanto, não é uma consoante estranha ao poema, ao contrário, faz parte do eixo central original: “je” (eu). Essas breves considerações não visam a autorizar um texto que, por natureza, desautoriza-se a si próprio, mas, quem sabe, podem melhor preparar o leitor. Trata-se de uma tradução que, se se pode pensar em fidelidade, não se pauta numa fidelidade ligada ao sentido imediato das palavras, mas à ontofonia4 e à criatividade. 1

Passionnément é um poema que deve ser principalmente escutado. O áudio do poema pode ser encontrado em: www.ubu.com/sound/luca.html, versão musicada, e www.editions-hache.com/ luca/luca1.html. 2

Penso, aqui, na acepção ampla da palavra sentido: potência sensível; direção; significado.

3

Nesse processo de colisão e escape, as palavras ultrapassam os próprios limites da língua francesa. É o que acontece com a seqüência de vocábulos grafados com “ph”, como phénakiki e phénakisti. Segundo Jacyntho Lins Brandão, Professor Titular da FALE/UFMG, os vocábulos parecem ser empréstimos do grego moderno: phénax ou phenakistís significam ‘impostor’, ‘charlatão’, ‘trapaceiro’; phénakismós é a ‘ação de enganar’, ‘trapaça’; e phenakízo, ‘enganar’, ‘trapacear’; finalmente, phenáki, ‘enganação’, ‘trapaça’.

4 “Mas mesmo a expressão poesia me parece falseada. Eu prefiro talvez: ontofonia. Aquele que abre a palavra abre a matéria, e a palavra não é senão um suporte material de uma busca que tem a transmutação do real por fim.” LUCA, Ghérasim. Introduction à un récital. Lichtenstein, 1968.

Rafael Reis II 5


pas pas paspaspas pas pasppas ppas pas paspas le pas pas le faux pas le pas paspaspas le pas le mau le mauve le mauvais pas paspas pas le pas le papa le mauvais papa le mauve le pas paspas passe paspaspasse passe passe il passe il pas pas il passe le pas du pas du pape du pape sur le pape du pas du passe passepasse passi le sur le le pas le passi passi passi pissez sur le pape sur papa sur le sur la sur la pipe du papa du pape pissez en masse passe passe passi passepassi la passe la basse passi passepassi la passio passiobasson le bas le pas passion le basson et et pas le basso do pas paspas do passe passiopassion do ne do ne domi ne passi ne dominez pas ne dominez pas vos passions passives ne ne domino vos passio vos vos ssis vos passio ne dodo vos vos dominos d’or c’est domdommage do dodor do pas pas ne domi pas paspasse passio vos pas ne do ne do ne dominez pas vos passes passions vos pas vos vos pas dévo dévorants ne do ne dominez pas vos rats pas vos rats ne do dévorants ne do ne dominez pas vos rats vos rations vos rats rations ne ne ne dominez pas vos passions rations vos ne dominez pas vos ne vos ne do do minez minez vos nations ni mais do minez ne do ne mi pas pas vos rats vos passionnantes rations de rats de pas pas passe passio minez pas minez pas vos passions vos vos rationnants ragoûts de rats dévo dévorez-les dévo dédo do domi dominez pas cet a cet avant-goût de ragoût de pas de passe de passi de pasigraphie gra phiphie graphie phie de phie phiphie phéna phénakiki phénakisti coco phénakisticope phiphie

pá pá pá papapá pá pappá ppá pá papá o papá o falso passo o passo papapá a pá e mo e move e movia a pá papá a pá o passo o papá e move o papá e move a pá papá passa papapassa passa passa ele passa ele papá ele passa a pá do pau do papa do papa sobre o papa da pá do passa passpassa passim o sobre o o pai o passim passim passim pichar sobre o papa sobre papá sobre o sob o sul o pito do papá do papa pichar a massa passa passa passim passapassim e passa a baixa passim passapassim a passio passiobaixo em baixo a pá paixão o baixão e e pá o baixo do passo papá do passe passiopaixão do nã do nã domines passim não domines já não domines já tua paixão passiva nã nã domino tua paixã tua tua ssis tua paixã nã dodo teu teu dominó d’ouro é domdomágico do dodor do pá pá nã domi pá papassa passio tua pá nã do nã do não domines já teu passo paixão teu passo teu teu passo devo devorante nã do não domines pavorrato pavorrato nã do devorante nã do nã domines já teu rato tua ração teu rato ração nã nã não domines já tua paixão ração tua não domines já tua nã tua nã do do mine minar tua nação nã mas do mina nã do nã mi pá pavorrato tua paixonante ração de rato de paz pá passa passio minar já minar já tua paixão teu teu racionante ragosto de rato devo devora-lhes devo dedo do domi domina já é um é um antegosto de ragosto de pá de passa de passim de passigraphia gra phiphi graphia phi de phi phiphi phéna phénakiki phénakisti coco phénakisticópio phiphi


phopho phiphie photo do do dominez do photo mimez phiphie photomicrographiez vos goûts ces poux chorégraphiques phiphie de vos dégoûts de vos dégâts pas pas ça passio passion de ga coco kistico ga les dégâts pas le pas pas passiopas passion passion passioné né né il est né de la né de la néga ga de la néga de la négation passion gra cra crachez cra crachez sur vos nations cra de la neige il est il est né passioné né il est né à la nage à la rage il est né à la né à la nécronage cra rage il il est né de la né de la néga néga ga cra crachez de la né de la ga pas néga négation passion passionné nez pasionném je je t’ai je t’aime je je je jet je t’ai jetez je t’aime passionném t’aime je t’aime je je jeu passion j’aime passionné éé ém émer émerger aimer je je j’aime émer émerger é é pas passi passi éééé ém éme émersion passion passionné é je je t’ai je t’aime je t’aime passe passio ô passio passio ô ma gr ma gra cra crachez sur les rations ma grande ma gra ma té ma té ma gra ma grande ma té ma terrible passion passionnée je t’ai je terri terrible passio je je je t’aime je t’aime je t’ai je t’aime aime aime je t’aime passionné é aime je t’aime passioném je t’aime passionnément aimante je t’aime je t’aime passionnément je t’ai je t’aime passionné né je t’aime passionné je t’aime passionnément je t’aime je t’aime passio passionnément

phopho phiphi photo do do dominar do photo mimite phiphi photomicrographie teu gosto essas pulgas coreográphicas phiphi de teu desgosto de teu desgaste pá pá isso passio de ga coco kistico gas o desgaste pá a pá pá passiopasso passio passion passionas nas nas ele nasce do nascer da nega ga da nega da negação paixão gra cra crava cra crava sobre tua nação cra da neve ele é ele nasce passionasce ele nasce da nave da raiva ele nasce do nascer da necronave cra raiva ele nasce do nascer da nega nega ga cra crava do nasce da gá pá nega negação paixão passionasal passionalment’eu eu te eu te amo eu eu eu eut eut’am jogueu eu te amo passionalment’amo eu te amo eu eu jogueu paixão amo passionalme ee em é mar emergir amar eu eu amo é mar emergir é é pá passim passim éééé em eme emersão paixão passionalmee eu eu t’am eu te amo eu te amo passe passio ô passiô passio ô minha gr minha gr cr crava sobre a ração minha grande minha gra minha te minha te minha gra minha grande minha te minha terrível paixão apaixonada eu t’am eu terri terrível passio eu eu eu te amo eu te amo te amo eu te amo amo amo eu te amo passional amo eu te amo passionalmen te amo passionalmente amante eu te amo eu te amo passionalmente eu t’am eu te amo passiona na eu te amo passional eu te amo passionalmente eu te amo eu te amo passio passionalmente


OUTRO NOME Alguém arremessa pedras na água. Há muito o passado pede, sem existir, o que não basta pela metade de um nome. Na areia, crianças enterram espelhos, sustentam, para além da vista, o lado do objeto com que se cortam.

8 II Alexandre Rodrigues da Costa



Georges Bataille:

Notas sobre o sagrado, o erótico e a poesia como estado de perda Vera Casa Nova Desde o início de seu pensamento, Georges Bataille nos remete ao sagrado, mas sem se ancorar no sagrado do sentido canonizado pelo cristianismo. Por isso ele remonta à raiz etimológica da palavra – sacer, que, durante muito tempo, significou “tanto manchado quanto santo”. O termo “sagrado” acabou sendo deteriorado, por isso ele preferiu falar de “esfera sagrada” da existência comunitária, mundo de forças incontroláveis no qual se misturam o puro e o impuro, o limpo e o sujo, o alto e o baixo, a vida e a morte. Influenciado pela sociologia francesa de Marcel Mauss, sobretudo, e impregnado de etnologia, especialmente Marcel Griaule e Michel Leiris, Bataille desencadeia certos objetos tabus (cadáveres humanos, por exemplo) e tudo o que esses objetos manifestam: violência cega e os ritos que tinham como função prevenir essa violência, contê-la por meio da destruição pública de indivíduos ou animais preciosos à comunidade – isto é, conjurar a violência por um ato de violência espetacular vivido como benefício para a comunidade. Na Estrutura psicológica do fascismo, Bataille diz: “os elementos sagrados são rechaçados ao mesmo tempo que todo objeto imundo”. “Essencialmente, o domínio do erotismo é o domínio da violação, o domínio da violência”. Qual tabu, quando o violamos, faz de nós seres inumanos? Esse tabu, Bataille qualifica-o de “informe e universal” e “não é formulado”. Se não é formulado, é porque está interiorizado de forma profunda. A violação do tabu se manifesta, e é formulando “a presença ativa do sagrado” na sociedade que encontramos “núcleos” ou povos sagrados, tais como lugares, objetos, animais, partes do corpo que desencadeiam reações afetivas fortíssimas. Atração e repulsa. Tropismo, sexualidade, riso e lágrimas, assuntos da conferência de Bataille, 1938, no Collège de Sociologie, que mostram como esse autor diferencia e isola o riso e o erotismo, já que se prolongam um no outro. 10 II Vera Casa Nova


Para Bataille, a “escritura da transgressão” não é outra coisa que forçar a linguagem a se desgastar até o aniquilamento de todo sentido possível. Aniquilamento mas não esgotamento do sentido – o objeto procurado não é o nada ou o vazio enquanto tais, mas antes o vazio do não-sentido ou sentido mais rico, mais intenso. O sentido do que excede o sentido, aí se encontra o movimento

G. Bataille (Collège de Sociologie)

a totalidade da existência, o que a política não pode fazer.

Desde 1933, Bataille mostra suas concepções paradoxais – pouco surrealistas! – concernentes à poesia. Em 1935, reconciliado com Breton, funda a revista Contre-ataque, escreve artigos sobre o fascismo e, mais uma vez, briga com Breton. Ainda é nessa obra que ataca o cartesianismo – discurso totalizante e totalizador, eminentemente sério, que faz do homem “valet ou escravo” de seu pensamento e que suspende sua angústia, “escamoteia sua existência”.

même la totalité de l’existence, ce que la politique ne peut pas faire.

Bataille, em Noção de Despesa, tenta pela primeira vez elaborar o que ele entende por poesia – definição pouco banal porque se trata, segundo ele, da “expressão de um estado de perda... sinônimo de despesa” ou “da forma a mais precisa de uma criação no meio da perda”, cujo sentido é “vizinho ao do sacrifício”. Gasto (dépense) erótico e gasto poético – um e outro são vistos como gastos improdutivos ou energias investidas em pura perda, não tendo outra finalidade que eles próprios. Por outro lado, esses dois gastos se impõem como gastos sacrificiais. Em que sentido?

O mundo dos amantes não é menos verdadeiro que o da política, ele absorve

Peso e brutalidade irredutíveis das palavras – o que Bataille chama de “ódio da poesia”.

Le monde des amants n’est pas moiens vrai que celui de la politique. Il absorbe

No Erotismo, Bataille declara que “os fatos sexuais não são coisas” e “o erotismo não é fechado na medida em que nós não o sentíamos sobre o plano da experiência interior”. A única forma não de falar de erotismo ou do erotismo, mas de faire parler (transitivo) o erotismo é, diante da impossibilidade de falar dele diretamente, ir a fundo nessa impossibilidade. Trata-se de fazer dessa impossibilidade a condição expressa de uma prática de escritura que exige da linguagem que se usa o risco de pôr tudo a perder, de se exceder de tal forma como os corpos se excedem (fora de si mesmos) na fúria erótica.

Vera Casa Nova II 11


mais íntimo do erotismo. Sujeito dilacerado, transgressão da própria linguagem – por isso, não se chega à transgressão da linguagem por ela própria. É também por isso que o tabu e sua transgressão não são formulados nem podem ser. Formulá-los é sempre passar do erotismo à pornografia, ou seja, de uma escritura erótica supliciada e supliciante a uma porno-grafia (exposição gráfica do sexo tendo em vista a venda). “Au bout du possible” [No fundo do possível] das consciências racionais, ou seja, au bout do sentido das palavras balizadas, canonizadas por essas consciências, até se ver fora de si mesmo – hors langage – tocando ao mais íntimo e mais profundo da experiência interior dos seres que, numa alegria exultante, se perdem no vazio sem sentido do erotismo. Uma escritura cujo rigor propõe limites do erotismo tal qual se compreende hoje – um erotismo soft , emprestado e medroso, divertido, acantonado a seu menor denominador comum de provocação e perversão que aflora um pouco em todo lado em nome da sociedade pósmoderna; por outro lado seu contrário: o soidisant “erotismo” das altas performances pornográficas. Numa época em que a distinção entre as duas noções é de tal forma apagada, até mesmo esquecida, a História do Olho, Madame Edwarda e outras obras de Bataille parecem desafiar concepções congeladas.

12 II Vera Casa Nova



farpa subsiste em qualquer geometria: o grave da amorfia riso. livre, sobeja, suja aquele canto da boca. transtorno do que sobra e resiste ao eclipse. bruta incontenção do que toca mas não se cerca. furando, aquele canto maléfico.

14 II Maraíza Labanca




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