REPORTAGEM O mundo encantado dos animais de estimação Director
Miguel Ângelo Pinto Número 2 | Dezembro 2.80 Euros
“PS/Porto abdicou de ser alternativa”
Grande entrevista com o ex-presidente da Câmara do Porto, que passa em revista uma carreira política em defesa do Norte. Fernando Gomes quebra o silêncio e fala sobre a ida para o Governo, o regresso falhado à autarquia portuense e os novos desafios do seu Partido Socialista.
PORTO, GAIA E MATOSINHOS Frente Atlântica levanta ondas
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Abertura
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Entrevista Fernando Gomes
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Reportagem Animais de estimação
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Opinião Daniel Serrão
Frentes de batalha
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Actualidade Manuel Oliveira
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MIGUEL ÂNGELO PINTO
Entrevista José António Pinto
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. A constituição de uma chamada frente atlântica que integra os três maiores municípios da Área Metropolitana do Porto é um bom princípio. A região ganha músculo e poder reivindicativo, assim saibam Porto, Gaia e Matosinhos falar a uma só voz no que concerne às questões estruturantes que dizem respeito aos três concelhos. Durante muito tempo, levantou-se a questão da união entre Porto e Gaia, meio caminho andado para se criar uma grande metrópole a Norte, com massa crítica e dimensão territorial para olhar de frente Lisboa. O que Rui Moreira, Guilherme Pinto e Eduardo Vítor Rodrigues acabam por fazer é como que estender esse princípio a mais um concelho, cientes de que as grandes questões de desenvolvimento são transversais e extravasam as fronteiras de cada uma das capelas. Daí que a reacção de alguns autarcas da Área Metropolitana do Porto seja intempestiva e sem grande sustentação prática. A verdade, é que esta frente atlântica pode ser o ponta-de-lança que sempre faltou à região para alavancar novos projectos, para bater o pé ao Terreiro do Paço e para assumir uma posição negocial de força quanto ao próximo quadro comunitário de apoio. Dito de outra forma, todos têm a ganhar com esta associação entre os principais municípios da região, que devem ser encarados como a força motriz e não como um bloqueio institucional. É verdade que Rui Moreira, por exemplo, também tem interesses políticos nesta frente. O facto de ter sido eleito como independente, não obstante ser o presidente da Câmara do Porto, retira-lhe margem de manobra numa área metropolitana dominada pela lógica partidária e que desde sempre se habituou a dividir de forma salomónica o poder. Ora Rui Moreira, surge aqui
como um intruso, uma anormalidade no sistema, que ninguém sabe muito bem onde encaixar. O autarca do Porto, numa jogada de antecipação, quis deixar claro qual o seu lugar. E isso já está a causar incómodos de difícil gestão. . Na entrevista que concedeu à GRANDE PORTO magazine, o ex-presidente da Câmara do Porto bate forte e feio na estratégia seguida pelo Partido Socialista após as eleições autárquicas na Invicta. Acaba por ter razão, até porque o PS está num jogo perigoso que pode vir a ser fatal em termos eleitorais. Só um mandato tenebroso de Rui Moreira pode levar os socialistas a acalentarem o sonho de cedo regressarem ao poder na segunda cidade do País. Até lá, as despesas da oposição camarária ficam a cargo da CDU. O que não deixa de ser irónico. . Pedro Passos Coelho tem a obrigação de dizer aos portugueses o que se vai passar quando terminar o actual programa da troika. Será um segundo resgate? Um programa cautelar? Alguma coisa será, mas o primeiro-ministro continua obstinado na sua fuga para a frente, convencido de que o tempo lhe dará razão. Não vai dar, como se vê por todos os indicadores económicos para o próximo ano. Liberto da ortodoxia financeira de Vítor Gaspar, Passos teve a oportunidade de ir corrigindo o tiro, apontando a caminhos mais suaves e com menor custo social. Não o fez e continua a disparar sobre os mesmos, os funcionários públicos e os pensionistas. E ninguém o convence do contrário. Nem mesmo o ridículo relógio que Paulo Portas colocou em contagem decrescente para a saída da troika de Portugal. Uma vez mais, o CDS-PP parece nada ter a ver com as políticas que têm vindo a ser seguidas. Mas tem. Caucionou-as e terá que responder por elas junto do eleitorado.
Negócios Vinhos Verdes
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Desporto Futuro do Salgueiros
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Cultura Programa do S. João
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manuel piZarro preside À domus social
“Poesia é a forma mais bonita de falar” Arnaldo Trindade lançou o seu livro de poesia «Jogos de Xadrez e da Vida», contando com casa cheia no Edifício da Alfândega. Apresentada por Carlos Brito, presidente da Associação do Museu dos Transportes, e pelo jornalista Jorge Cordeiro, a obra mostra a sensibilidade de alguém que desde sempre teve nas artes uma parte fundamental da sua vida, como prova o trabalho legado pela história editora que fundou, a Orfeu. Segundo Jorge Cordeiro, na poesia de Arnaldo Trindade “há uma necessidade de comunicar o que vai lá dentro, é uma poesia de sentimento, sem ser piegas”, ancorada numa “nostalgia de coisas que se perderam ou que nunca existiram até”. Trata-se de uma poesia “de sensibilidade, própria de um homem que, muitas vezes educadamente, esconde o que lhe vai na alma, mas que ainda assim consegue uma escrita plena de emoção e sinceridade”. Na ocasião, Arnaldo Trindade lembrou que “valeu a pe-
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na ter escrito este livro só para passar esta tarde entre amigos”, lembrando que a poesia “é a forma mais bonita de falar” Desde cedo habituado a conviver e circular nos meios culturais portuenses, Arnaldo Trindade envereda pela edição discográfica própria, criando a Orfeu. Para lá da vertente comercial, considera que a etiqueta que criou tem também responsabilidades na divulgação artística, acabando por registar poetas como José Régio, Sophia de Mello Breyner, Miguel Torga ou Eugénio de Andrade. Para a posteridade, a Orfeu registava, nos então denominados “long-play”, autores e poesia que atravessa gerações e cujas palavras saltaram das páginas dos livros para o imaginário colectivo dos portugueses. A política da Orfeu era a utopia e os nomes maiores das letras nacionais os seus mensageiros. Foi também a casa de músicos como Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Fausto, Luís Cília ou Fernando Fanhais.
O vereador da habitação da Câmara do Porto, o socialista Manuel Pizarro, é o novo presidente do conselho de administração da empresa municipal Domus Social, que gere dos bairros sociais, revelou a página da autarquia na Internet. No cargo de vice-presidente da empresa responsável pela administração do parque habitacional do município mantém-se Barbosa Pinto, ao passo que o lugar de vogal ocupado por Filipa Melo transita agora para Manuela Álvares, acrescenta a Câmara do Porto no seu ‘site’. João Pedro Matos Fernandes, ex-presidente da Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL), é indicado como o novo presidente do Conselho de Administração da Águas do Porto, devendo assumir funções a partir do início de 2014, revelou, por outro lado, o Jornal de Notícias. O engenheiro civil, que renunciou em 2012 à presidência da APDL, sucede a Poças Martins na liderança daquela empresa municipal portuense. Nas alterações feitas às administrações, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, passa a liderar o Conselho de Administração da empresa municipal Porto Lazer e o Conselho Directivo da Fundação Porto Social. A “Porto Lazer”, responsável pela animação cultural e pelas actividades lúdicas e recreativas, físicas e desportivas da cidade, tem a partir de agora como administradores executivos hugo Neto e Luís Alves, adiantou a página da autarquia na Internet. Relativamente à empresa municipal de Gestão de Obras Públicas (GOP) do Porto, a página da Internet da autarquia indica também a nova composição do respectivo conselho de administração: a presidente é a vereadora da Mobilidade, Cristina Pimentel, eleita pelas listas do independente Rui Moreira.
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rtp2 no porto: a primeira vitória?
Frente Atlântica levanta ondas a Norte Texto JOÃO QUEIROZ
se faz no seio da Área MetropolitaPela primeira vez neste século, asna do Porto, que hoje é integrada por sistiu-se a algo inédito na cena políuma heterogeneidade de concelhos. tica nortenha: os presidentes das câTemos que reconhecer que as realimaras do Porto, de Gaia e de Matodades de Arouca ou de S. João da Masinhos, juntos, lado a lado, a assinar deira não são as mesmas de Gaia, do uma carta de compromissos que serPorto ou de Matosinhos”, sublinha o vem de base para a criação de uma autarca de Gaia. associação entre os três municípios. Eduardo Vítor Rodrigues não nega Chamam-lhe a Frente Atlântica, que que “há um objectivo político claro” lhes permitirá, pelo menos nos próxie a primeira acção conjunta que temos quatro anos, trabalhar em conve lugar poucos dias após a criação junto em projectos que promovam formal da Frente Atlântica não o deso melhor aproveitamento dos recurmente. A reunião com o presisos públicos dos três concedente do Conselho de Adlhos. ministração da RTP para Foram definidos objectiIdeia discutir o futuro do Cenvos a médio e longo praFacilitar o acesso tro de Produção do Norzo, como a criação de ao próximo te foi o primeiro passo e sinergias em torno de Quadro Comunitário outros se seguirão, num questões como a prode Apoio futuro próximo. As crímoção económica, as ticas já se fizeram ouvir áreas sociais ou a mobipor parte do Conselho Melidade. Mas também se tratropolitano do Porto, a antiga Junçaram objectivos a médio prazo ta Metropolitana, temendo um esvacomo facilitar o acesso ao próximo ziamento de competências, quiçá de Quadro Comunitário de Apoio que poder, para uma associação que reúestá aí à porta e que dá prioridade ne os dois únicos autarcas indepenàs candidaturas de unidades territodentes do distrito e cuja criação será riais integradas supraconcelhias. “Há um dos temas da última reunião do um conjunto de assuntos específicos ano daquele órgão. “São as tradicioque dizem respeito às três cidades e nais vaidades e invejas de que tem que muitas vezes acabam por estar padecido o Norte. O que nós estamos menos concentrados no debate que
O futuro do Centro de Produção do Norte(CPN) foi um tema transversal aos três municípios na campanha eleitoral e por isso serviu de tema para a primeira acção conjunta da Frente Atlântica. Rui Moreira, Eduardo Vítor e Guilherme Pinto estiveram reunidos este mês com o presidente do conselho de administração da RTP para defenderem um reforço dos estúdios do Monte da Virgem, em Gaia. Ficou a promessa, por parte de Alberto da Ponte, de que, a partir de Fevereiro, a RTP2 passará a ser integralmente produzida nos estúdios do Monte da Virgem, em Gaia, tal como já tinha acontecido no início este ano, sem que nada no entanto se tivesse concretizado. “Mostrámos que é possível que os autarcas dispam os seus interesses e as suas vaidades em prol do interesse comum”, diz Eduardo Vítor.
é a abdicar do nosso espaço na Área Metropolitana para discutir temas comuns às três cidades e que poderia ser esmagador para os outros municípios. No fundo foi o que aconteceu nos últimos anos”, afirma Eduardo Vítor Rodrigues. A Frente Atlântica apanhou todos de surpresa e até o Governo terá inquietado. “Percebem que a Frente Atlântica tem um potencial extraordinário de luta contra o centralismo e em favor da região e da Área Metropolitana, percebem que ela foi criada para reivindicar o poder que continua muito concentrado no Terreiro do Paço. É natural que gere alguma apreensão, porque estavam habituados ao conflito, ao confronto, às acções anedóticas de uns autarcas contra os outros na região Norte”. Esta não é a Liga das Cidades idealizada por Rui Moreira na sua tomada de posse como presidente da Câmara do Porto. Está ainda longe de ser, é verdade, mas que é um primeiro passo, ninguém o nega.
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“Em Lisboa viam-me como um sectário” Fernando Gomes foi talvez o mais carismático presidente da Câmara do Porto do pós-25 de Abril. Deixou uma obra feita, contribuindo de forma decisiva para que o Porto se assumisse como uma grande metrópole a nível nacional e internacional. Em entrevista à GRANDE PORTO magazine, passa em revista os seus mandatos, sem esquecer a conturbada passagem pelo Governo de António Guterres. E também diz de sua justiça sobre a postura do seu partido de sempre, o PS, no novo organigrama da autarquia agora liderada por Rui Moreira. Textos Miguel Ângelo Pinto Fotos Ivo Pereira
Há pouco tempo veio a terreiro defender as contas da Câmara do Porto durante a sua gestão. A verdade é que ao longo dos últimos anos muito se falou da situação financeira da autarquia. Porquê só agora? Por duas ordens de razões: em primeiro lugar porque os mandatos de Rui Rio foram sempre alicerçados na organização financeira da câmara, ou seja, a não realização de qualquer coisa mais pesada no Porto tinha sempre como base a não disponibilidade de recursos. Como deve imaginar, apeteceu-me ter falado muito antes, mas tinha uma grande dificuldade em aparecer como alguém que estaria a fazer oposição ao Executivo camarário. Isso competia ao PS,
em primeiro lugar, e à CDU. Aparecer nessa altura podia eventualmente ser entendido como um exercício de quem queria regressar à Câmara, a fazer campanha. Mas a verdade, é que é muito mau quando não temos quem nos defenda e temos de avançar em causa própria. Foi nessa situação que me senti? Foi apenas uma questão de timing? Doze anos não foi tempo de mais para esclarecer essas situações? Foi, mas com a saída de Rui Rio, entendi que já não havia o perigo de existir qualquer tipo de interpretação defeituosa da minha intenção. E qual era essa intenção? Simplesmente que não se pudesse pensar que quem ca-
la consente. Como sei que deixei a câmara em muito boa situação financeira, quis esclarecer tudo e deixar um documento para que no futuro ninguém me possa voltar a acusar de fazer parte de uma qualquer tralha socialista que deixou a autarquia endividada. Ainda hoje se fala de uma história célebre e que relata o facto de que quando chegou à Câmara, em 1989, encontrou os cofres recheados de dinheiro, deixado pelo seu antecessor, Fernando Cabral. Podemos voltar aí? Não foi nada disso. Fernando Cabral era uma pessoa exageradamente cuidadosa em termos financeiros e sacrificou investimento necessário a uma disponibilidade de dinheiro exagerada. Mas atenção, que quando estamos a falar de exagerada, quer dizer pouco dinheiro para as necessidades de uma autarquia como o Porto. O que não é normal, e foi isso que gerou o meu espanto, não foi o volume financeiro. Foi uma câmara municipal ter dinheiro a prazo, em promissórias, nos bancos. O Porto era uma cidade de carências, barracas… As pessoas, felizmente, não se lembram de como era o Porto em 1989, com um trânsito caótico,
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Tínhamos um Governo hiper-centralista e apercebi-me que a boa gestão dos fundos comunitários só era possível com uma maior participação do Poder Local perdiam-se horas para aceder à cidade, ou as cerca de duas mil barracas que albergavam cidadãos em condições miseráveis. Numa situação destas, ter dinheiro a prazo, e quando se fazem promissórias não há intenção de mexer nessas verbas rapidamente, surpreendeu-me. Mas deixe-me dizer que Fernando Cabral era uma pessoa muito séria. Mesmo em vésperas de campanha eleitoral, e ao contrário do que fazem muitos recandidatos, não começou a gastar o dinheiro de forma despropositada. Como lhe disse, quando cheguei à câmara não encontrei uma cornucópia de dinheiro, mas foi uma boa forma de começar o mandato, não nego. Ainda tem presente que ideia de cidade tinha para o Porto, na altura? Totalmente. Sabia perfeitamente por onde ia começar. Vinha de onde essa ideia? Vivi e estudei no Porto e havia coisas que me marcavam. Por outro lado, eu na altura estava no Parlamento Europeu e politicamente era inaceitável o que se passava por essa Europa fora e que Portugal e o Porto estivessem ainda na idade da pedra. Era uma desilusão chegar a uma cidade com esta dimensão e penetrar no seu tecido urbano. Foi um desafio e onde marcamos a diferença. Recordo-lhe que a campanha de 1989 foi a primeira em Portugal sem cartazes colados nas paredes ou pensões de plástico nos postes, coisas que ficavam na paisagem meses ou anos. Recordo-me que o antigo edifício do Comércio do Porto, na Avenida dos Aliados, ainda tinha nas paredes materiais de campanha da primeira eleição do general Eanes, em 1976! Esse tipo de cidade tinha que ser limpa, dar-lhe com um ar moderno, conseguindo, ao mesmo tempo, recuperar pessoas, dando-lhes dignidade. Para a consolidação desse projecto ajudou ser então deputado europeu? Foi fantástico. Permitiu abrir muitas portas e arranjar uma série de contrapartidas em termos de fundos europeus.
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ideias O que está a acontecer de momento na cidade do Porto será comprometedor para o Partido Socialista por muitos anos. A única reforma estrutural que pode mudar o actual estado de coisas é a regionalização. Perguntei a Nuno Cardoso se ele se queria candidatar. Se fosse essa a vontade dele eu não regressaria. O meu discurso aqui foi tão agressivo que fui sempre olhado não como alguém capaz de entender, mas como alguém que tinha uma visão muito circunscrita ao seu pequeno mundo.
Em que momento sente a necessidade de extravasar as fronteiras da cidade e assumir um papel de liderança da luta contra o centralismo? Já ia com essa ideia. O centralismo em Portugal era tremendo. Recordo-lhe que em Bruxelas fui o relator do chamado «Pacote Delors», de fundos estruturais, e fiquei a perceber a descentralização que se fazia na maioria dos países europeus para as regiões e para os municípios. Aqui, tínhamos um Governo hiper-centralista e apercebi-me que a boa gestão dos fundos comunitários só era possível com uma maior participação do Poder Local. Mas a Administração Central não estava disponível para isso. Como tal, tive de endurecer o discurso, mantendo um braço de ferro com o Governo, só possível por que estava respaldado pela população do Porto e da região. Mas não é fácil, não. Muita gente acha que se faz isso por prazer… Como é que se gere essa postura quando, por outro lado, a segunda cidade do País, também precisa do apoio da Administração Central? Fazendo sentir que se tem respaldo e que não se está a falar sozinho no meio do deserto. Nessa altura, Portugal tinha passado por um momento complicado, que foi o das nacionalizações. Feitas essencialmente a Sul, onde estavam os grandes grupos empresariais. O Norte, com a indústria transformadora, fugiu a esse tipo de cataclismo nacional que representou
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a destruição de algum do aparelho produtivo privado. A partir de determinada altura, era a iniciativa privada nortenha que segurava o País. Isso deu autoridade para falar. A Administração Central tinha alguma dificuldade em hostilizar a 100 por cento este discurso, porque sabia que por detrás estava uma sociedade forte e em sintonia com os protagonistas da região. E dentro do Partido Socialista, como é que isso era gerido? Foi muito mais complicado gerir isso com o PS do que com a Administração Central… Era visto como um intruso dentro do partido? Não propriamente como um intruso, mas como alguém que não era uma formiguinha no carreiro, que não estava disposto para cumprir todas as regras do partido. Alguma vez foi desafiado a avançar para a liderança do PS? Falou-se nisso e houve mesmo quem se tivesse prontificado a criar um movimento nesse sentido, mas isso não estava nos meus objectivos. Tanto que acabei por desmobilizar toda essa movimentação que tinha origem no Porto, mas não só… Na zona da Grande Lisboa e no Alentejo, havia algumas bolsas de apoio, que matei à nascença. Uma das «guerras» que arranjou foi com Dias Loureiro, por causa da segurança urbana. Ainda fala com ele? Nunca tive grande ligação com Dias Loureiro. Só mantivemos relações institucionais. Mas já o encontrei algumas vezes entretanto… O meu problema com ele, enquanto governante, foi por causa dos arrumadores e da segurança. Como se verificou mais tarde, que teve razão fui eu. Arranjar uma solução para o problema dos arrumadores não era profissionalizar a tarefa. Talvez ainda se lembre que se queria criar um cartão de arrumador… A nossa proposta era de os integrar. O outro problema foi o da segurança. Havia um grande número de pequenos assaltos na via pública, um fenómeno que se verifica novamente. Foi um período muito conturbado. O que cheguei a propor em alguns sítios foi a instalação de câmaras de vigilância. Não era cobrir a cidade, mas em algumas zonas críticas, como a Ribeira. Algo que hoje está disseminado por vários locais.
perfil Fernando Manuel dos Santos Gomes nasceu em 1946 e é licenciado em Economia. Foi Presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde de 1974 a 1981. Desempenhou o cargo de Vice-Presidente do Conselho Nacional do Plano de 1981 a 1983 e foi administrador de empresas privadas neste período. Foi Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo do IX Governo Constitucional. Deputado ao Parlamento Europeu desde Janeiro de 1986 até Janeiro de 1993, foi Presidente da Comissão dos Assuntos Sociais e do Emprego e Vice-Presidente do Grupo Socialista do PE. Assumiu a presidência da Câmara Municipal do Porto de 1989, onde se manteve até até 1999. Conselheiro de Estado de 1995 a 1999, Fernando Gomes foi Ministro Adjunto e Ministro da Administração Interna do XIV Governo Constitucional de 1999 a 2000. É Vice-Presidente do Futebol Clube do Porto e membro do Conselho de Administração da Galp Energia, SGPS desde 2005.
Outra das grandes lutas, talvez a maior, foi o metro. Muitos anos depois, na apresentação de um livro sobre a obra, disse que há muitas histórias que nem se podem à contar à volta deste processo. Porquê? São coisas que mexeriam com pessoas que já não estão no activo. Algumas delas até já morreram, como Vieira de Carvalho. Agora, o processo do metro foi fundamentalmente político. A ideia generalizada do País era de que não havia necessidade de um metro na cidade do Porto. Ponto final. O primeiro combate foi vencer este raciocínio centralista. Para isto foi preciso um duplo discurso: técnico e político. É que, por exemplo, já ninguém se lembra dos comboios de autocarros que atravessavam a Ponte Luiz I, com as pessoas a saírem a meio da Avenida da República em Gaia, para virem a pé para o Porto. O primeiro grande passo foi contratar uma equipa de especialistas, a expensas da Câmara do Porto, que nos alimentasse sob o ponto de vista técnico. Nessa altura contei com o apoio fantástico de uma pessoa já desaparecida, Consiglieri Pedroso, presidente à altura do Metro de Lisboa, e que não pensava à moda do seu governo nem do seu ministro, Ferreira do Amaral. Foram duras as conversas com Ferreira do Amaral para o convencer da utilidade do projecto? Muito duras. Primeiro, quando sabiam que era para falar disso, nem sequer nos queriam receber. Depois, e porque fizemos um discurso político muito forte, acabaram por conceder ouvir-nos. A seguir, e como estava no Parlamento Europeu, informei-me sobre os apoios externos que podíamos obter. Ou seja, o Governo foi ficando com cada vez menos argumentos para recusar a iniciativa. Quando apresentamos os primeiros estudos concretos, o discurso já não foi “eles não sabem o que dizem” e pas-
A ideia generalizada do País era de que não havia necessidade de um metro na cidade do Porto. Ponto final. O primeiro combate foi vencer este raciocínio centralista.
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sou a ser “isto custa muito dinheiro”. Lá aparecemos nós com a solução, a partir dos fundos comunitários, com o próprio Banco Europeu de Investimentos, com quem fui falar, a dizer que havia condições para um financiamento deste tipo. O argumento do Governo para contrariar esta pretensão foi perdendo cada vez mais força. Isto foi penoso, desgastante, longo. Mas acabou por dar certo. Até Ferreira do Amaral se rendeu. Ferreira do Amaral, que é muito inteligente, percebeu que era melhor estar dentro deste processo. E aqui assume grande relevância o papel de Vieira de Carvalho. Eu era a câmara PS, Gaia e Matosinhos também, e basicamente eram os socialistas a quererem afrontar o Governo. Era necessário ter alguém dentro que lhes assegurasse que não era nada disso. Era a necessidade de um investimento regional que ultrapassava a lógica partidária. Após uma conversa que tive com Vieira de Carvalho, ele transforma-se num grande aliado, com o mesmo discurso que tínhamos, e retira ao Governo o argumento político para não participar. A partir daqui, Ferreira do Amaral tornou-se num aliado. É com António Guterres que o processo se torna irreversível? Quando António Guterres se candidata à liderança do PS, encontra no Porto um apoio fantástico. Na altura reunimos com ele e dissemos ser fundamental que ele anunciasse o metro do Porto como um projecto para o País. Num acto formalíssimo, Guterres veio ao Porto, foi recebido na Câmara do Porto, e anunciou que se fosse eleito primeiro-ministro, a primeira coisa que faria era tratar do processo do metro. E cumpriu. Após ganhar as eleições, a sua primeira saída de S. Bento, quando o Governo ficou pronto, foi vir ao Porto anunciar que o Governo está disponível para financiar a obra. Na altura estávamos a falar de 150 milhões de contos.
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“soube da minHa demissÃo pelo motorista” Depois de Guterres se dirigir ao Porto, Fernando Gomes dirigiu-se a Lisboa para integrar o Governo. Como foi esse processo? António Guterres ganha as eleições em 1995 e convida-me para o seu primeiro governo, mas na altura recusei. Não tinha condições para sair da câmara na altura. Em 1999, Guterres volta a ganhar, fica a um deputado da maioria absoluta, e insiste para que eu vá. Estava a meio de um mandato e pareceu-me que era o momento ideal para passar o testemunho. Nessa altura tinha a convicção de não voltar a candidatar-se à Câmara do Porto? Sim, completamente. Era a minha ideia de altura. Tanto era, e nunca referi isso, na altura mais dois autarcas do Norte foram convidadas para o Governo, em alturas dife-
rentes: Narciso Miranda e Mesquita Machado. Só que ambos suspenderam o mandato autárquico, não renunciaram, no intuito de que se algo corresse mal, podiam regressar. E foi o que aconteceu com ambos. Mesquita Machado regressa a Braga e Narciso Miranda a Matosinhos. Eu renunciei ao mandato. Bastaria ter apenas suspendido o mandato e o comportamento dos nossos amigos do Governo em Lisboa para comigo tinha sido bem diferente do que foi na altura. Sabiam que se me agredissem, como agrediram, eu teria regressado à câmara. Esta foi uma decisão sem meias tintas. É para sair é para sair. Nessa altura, ter aceitado o Ministério da Administração Interna, Desporto e Municípios, era uma situação interessante. O que avaliei mal, era que o António Guterres de 1999 não era o mesmo de 1995. Onde estava a diferença? A sua inteligência e capacidade po-
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causa do apoio da Câmara, que a autarquia dava tudo e financiava o clube… Tudo ideias que não tinham o mínimo fundamento. O que havia era uma grande sintonia entre uma marca e um valor económico para a cidade. Apenas isso. E a verdade é que o FC Porto continuou a ter sucesso com a hostilidade total, até brutal, da Câmara do Porto nos últimos doze anos. Só que isto contribuiu para que quando eu cheguei ao Terreiro do Paço, e o meu gabinete era mesmo lá, fosse olhado como um intruso.
trées políticas, nos primeiros dias de Setembro. Em 200, o PS fez a sua rentrée em Esposende, era Guterres o primeiro-ministro. Nesse comício, ele diz perante milhares de pessoas: “se alguém pensa que eu trago aqui em bandeja de prata a cabeça de algum camarada para deixar cair, está muito enganado. Nunca o farei”. Estava a referir-se a mim. No final do comício, fui ter com ele, dei-lhe um abraço, e disse-lhe que não esperava outra coisa dele. Quinze dias depois, eu era demitido. E soube que tinha sido demitido pelo meu motorista.
Viam-no como um provinciano? Uma parte sim, mas acho que muito mais como um sectário. Do Porto, do FC Porto, alguém que não está disposto a fazer concessões em termos de País. lítica era a mesma, mas dentro do PS estrava muito fragilizado. Já não era o líder incontestado do partido. Era um líder que estava na mão de outras forças dentro do PS. Deixou de ser o homem capaz de falar e ser obedecido, para passar a ser um indivíduo cujas decisões eram muito condicionadas por pessoas que o rodeavam. Ficou sem a sua principal defesa em Lisboa? Sem dúvida nenhuma, independentemente dos erros que cometi. E cometi muitos… Mas quando fala em agressões refere-se a quê, em concreto? O meu discurso aqui foi tão agressivo que fui sempre olhado não como alguém capaz de entender, mas como alguém que tinha uma visão muito circunscrita ao seu pequeno mundo. Por isso, fui olhado como alguém a quem era preciso dar uns abanões. Repare, na altura em que eu estava na câmara, o FC Porto foi pentacampeão nacional. Sabemos as paixões irracionais que o futebol envolve. Era entendido, a altura, que o FC Porto tinha sucesso por
Pelo motorista? Sim, da parte da manhã pelo meu motorista e de tarde pelo próprio António Guterres. Como era ministro da Administração Interna, o meu motorista era um quadro da PSP e sabia do que estava a passarÉ essa hostilidade que está na ba-se. Disse-me logo: “senhor se da sua saída do Governo? ministro, isto está mau”… Cometi alguns erros, mas res r e t u Note-se que eu não me há coisas estranhíssimas G de Guterres António ão era o demiti. Fui demitido. e que tenho dificuldade 1999 n 5 9 19 em aceitar de uma pesde mesmo Essa conversa à tarde soa inteligente como Ancom Guterres foi agreste? tónio Guterres. Afinal, quinze dias antes ele tinha feito a sua defesa pública. E a comunicação social lisboeta? Não foi simpática. Tinha a consciênLembra-se decerto da história que cia de ter contribuído na Câmara do envolveu a actriz Lídia Franco… Porto e no PS, a Norte, para fortaleMuito bem. A esta distância achocer a posição de António Guterres -lhe piada, mas na altura devo dizerenquanto candidato a primeiro-mi-lhe que não dormi. Se um dia escrenistro. Naquele momento o que senver as minhas memórias, esse será ti foi que ele já não mandava no parum verdadeiro case-study nos curtido. E a conversa do pântano não é sos de comunicação social. Mas, mais do que o reflexo da sua própria ainda por cima, o CDS viu nisto a posição dentro do PS. O pântano era parte fraca do Governo e tentou extambém o país, mas sobretudo o plorar essa situação de um suposto facto de ele já não ter condições paalarme generalizado em termos de ra liderar o partido. segurança. Explorou e o PS deixou. Também não contou com o PS nessa altura? Não tenha dúvidas. Aqui no Porto, sim. Em termos nacionais de forma alguma. E esse foi um dos erros que cometi, um erro de avaliação. Na altura tinham um grande peso as ren-
Entretanto normalizou as relações com António Guterres? Sim, claro. Somos pessoas maduras. Continuo a achar que ele andou mal na altura, acredito que ele agora pense que também andou mal, mas todos cometemos erros na vida.
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frente da Câmara do Porto? Perspectivei um mandato interessante e a minha ideia era de que ele ia fazer um bom lugar na Câmara do Porto… Mas não fez? Os cidadãos do Porto deram-lhe sempre maioria absoluta. Por isso, fez. Se quer uma resposta exacta, eu teria feito diferente.
“Houve muita sobranceria na campanha de 2001” O que o leva a querer regressar à Câmara do Porto? Na altura em que fui desfeiteado por António Guterres, fiquei com uma posição muito desagradável no País... Achou que um ano em Lisboa ia abafar tudo o que fez em mais de uma década na cidade? A imagem mudou. Não a obra, mas a imagem do líder. Mas houve muita gente a movimentar-se no sentido do meu regresso. Lembro-me perfeitamente de ter ido à Associação Comercial do Porto, ao Palácio da Bolsa, à altura liderada por Virgílio Folhadela, e de ser feita ali uma reunião com os presidentes de todas as grandes instituições da cidade. Deram-me um grande apoio e isso foi decisivo para eu avançar. Mas havia um presidente na autarquia. E da mesma área. Há uma coisa que eu queria deixar bem clara: eu tinha perguntado a Nuno Cardoso se ele se queria candidatar. Se fosse essa a vontade dele eu não re-
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gressaria. O que ele me disse foi que era um técnico, não um político. Tive um encontro a sós com ele no Hotel Infante Sagres e perguntei-lhe se queria continuar. A resposta dele foi que não! Então, avancei. Aí é que eu cometi muitos erros. Não o candidatar-me, mas o tipo de campanha eleitoral seguida. Houve sobranceria? Muita. Da minha parte também. Não voltaria a fazer nada parecido. Perdeu ligação ao Porto? Não estava a perceber as novas dinâmicas da cidade? Não. Foi entendido que o regresso seria acolhido sem hesitações e era o que diziam as sondagens. Isso levou a menos humildade da minha parte e por parte das equipas envolvidas. Fizemos uma campanha como vencedores e não com a humildade de solicitar aos cidadãos que compreendessem o nosso projecto. Depois da derrota, o que perspectivou que poderia ser o consulado de Rui Rio à
Fez uma travessia do deserto, em termos públicos, até ser nomeado para a Galp. Estava a precisar de sair dos holofotes? Estava. Sempre gostei do que fiz como economista. Quando sou demitido do Governo regresso ao Parlamento. Há uma frase muito engraçada, que circula nos corredores da Assembleia da República, que se refere ao cemitério das baleias. O cemitério das baleias é o conjunto daquelas pessoas que já tiveram cargos muito relevantes, e que depois ficam no Parlamento a marinar. Eram as duas últimas filas. Eu não me dou bem no cemitério das baleias e achei que devia regressar à minha actividade privada. É aí que surge o convite para a Galp. Durante estes anos foram levantadas uma série de questões que diziam respeito à sua gestão na Câmara do Porto e quase nunca se defendeu publicamente. Nunca sentiu necessidade de o fazer? Claro que senti. Muitas vezes tive de que morder a língua para não falar. Mas sempre entendi que quem o devia fazer era o PS. Que até tinha vereadores na câmara. O Porto mostrou estar de novo na vanguarda ao eleger um independente para a presidência da autarquia? O povo teve de novo razão, sem dúvida nenhuma. Era o melhor candidato? Foi. Tanto que ganhou. Acha que o PS se apagou de uma forma que pode ser comprometedora por muitos anos? O que está a acontecer de momento
entrevista
na cidade do Porto será comprometedor para o Partido Socialista por muitos anos. A menos que, numa hipótese matemática, Rui Moreira venha a liderar nas próximas eleições uma lista do PS. Atenção que só considero isto de uma forma matemática, politicamente parece-me irracional até. Se uma coisa dessas for possível, o PS fez tudo bem. Mas como no meio entendimento isso não é possível, a verdade é que o PS fez tudo mal. E vai pagar caro isso? Vai pagar muito caro. . Porque não faz algo contra isso no interior do partido? Afinal continua a ser militante. Por uma razão simples: o partido tem os seus órgãos legítimos e eu não lhes pertenço. Eu quis fazer a separação entre as vidas económica e política. Não podemos estar nos dois lados ao mesmo tempo. Mas eu disse em tempo devido, e aos protagonistas, que isto era um erro. No entanto, é preciso não esquecer que os órgãos locais e nacionais legitimaram o que se está a passar. O que eu entendia que devia ser feito não era que o PS fosse uma oposição destrutiva a bloquear uma minoria que ganhou as eleições. Nada disso. Se durante a campanha se verificou que os programas do PS e de Rui Moreira tinham muitos pontos de contacto, o que se devia ter sido feito era um acordo de princípios para viabilizar a minoria que governa, mas ficando sempre com a autoridade de poder discordar. Não foi que o PS fez. O que vai acontecer é que o PSD não tem condições para ser oposição a Rui Moreira, até por ser da mesma área política. O PS está por dentro e não é com uma representação qualquer. Tem pelouros importantes, isso tenho de reconhecer que foi bem negociado. Temos uma coligação de poder que retira ao PS a capacidade de ser oposição. Quem o vai fazer? A CDU. A única oposição com credibilidade na cidade do Porto é a CDU. O PS abdicou de ser alternativa para doze anos. Não tenhamos ilusões.
“de momento, o norte nÃo tem eXpressÃo” Disse que o Norte perdeu a guerra contra o centralismo. Porquê? Perdeu completamente. O Norte de momento não tem expressão. Porquê? Porque economicamente recuou mais do que o resto do país, continua a ter a população mais jovem e não tem contrapartidas para isso… Não há uma visão para o Norte. Os índices recentemente publicados sobre o poder de compra são sintomáticos. Basta olhar para a diferença entre Porto e Lisboa e entre o Norte e o resto do País. Durante muitos anos, o Norte foi a segunda região mais forte. Nos anos 1990 foi a que mais cresceu. Hoje é a mais deprimida de todas. O Alentejo passou o Norte. Faltam políticas de desenvolvimento regional? Não há um projecto para o Norte. Atenção que não deve ser um projecto desenquadrado do País, mas que veja a região como um dos motores do desenvolvimento do País. A verdade é que também não há protagonistas com poder reivindicativo. Não há, é verdade. Espero que com esta alteração na Câmara do Porto isso volte a acontecer. Rui Rio tarde percebeu que isso era importante. Foi só agora no final do mandato. Creio que Rui Moreira, que na Associação Comercial do Porto já tinha esse entendimento, terá agora tribuna e legitimidade política para o fazer. Sempre foi um regionalista convicto. A regionalização morreu? Continuo a achar que a única reforma estrutural que pode mudar o actual estado de coisas é a regionalização. Mas também reconheço que este é o pior momento. Na
altura em que os principais protagonistas do poder político em Portugal concordaram em o fazer, não fizeram. António Guterres, um regionalista convicto, deixou-se enredar numa malha que lhe foi completamente urdida por Marcelo Rebelo de Sousa. O problema da regionalização é o referendo. A partir daqui, nunca mais pode haver regionalização em Portugal sem referendo. Isto se quisermos ser politicamente sérios. Ganhar na secretaria não é correcto. Falou do actual estado de coisas. Como vê o momento que vivemos? Muito mal. A ideia que tenho é que estes sacrifícios adiantaram pouco. Não estou a dizer que não serviram para nada, note-se. Há uma coisa para que estes sacrifícios tiveram uma vantagem: o nosso equilíbrio externo, com o aumento das exportações. Mas tenho as maiores dúvidas sobre estes indicadores que andam por aí, como a diminuição da taxa de desemprego ou o aumento do consumo privado, que foi pontualíssimo. O modelo económico que está aqui urdido é o das contas simples, cortando naqueles desgraçados que são funcionários públicos ou pensionistas. Isto é a negação de uma política de futuro para o país e acho que o ano de 2014 vai ser ainda pior do que este. E eu sou um optimista por natureza… A GRANDE PORTO magazine agradece ao The Yeatman Hotel as facilidades concedidas para a realização desta entrevista.
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Um animal no sapatinho E se no Natal lhe oferecessem um animal de estimação? Seria certamente uma prenda diferente, mas mais do que isso: abriria a porta a um novo membro da família. Os animais de companhia já co-habitam em metade dos lares portugueses Textos Pedro José Barros Fotos Ivo Pereira
Todos os anos se repetia o finca-pé. Mal o frio começava a apertar e as ruas se enchiam de luzes de Natal, Mónica Roriz fazia “um massacre total” aos pais. Era miúda mas sabia perfeitamente o que queria no sapatinho: um animal de estimação. Conseguiu-o aos 11 anos e daí em diante os “Jingle Bells” tornaram-se ainda mais divertidos. A época é de festa e quanto menos solitária melhor. Receber um animal de com-
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panhia pelo Natal é, por isso, “uma prenda maravilhosa”, mas isso “não pode ser feito de uma forma impulsiva”, lembra Mónica, hoje médica veterinária especializada em comportamento animal no Hospital Veterinário do Porto (HVP). Quando se oferece um animal, tem de se ter em conta que ele passa a ser um membro integrante e permanente da família, com toda a “responsabilidade” que isso implica. Há que preparar o espaço e ter capa-
cidade para providenciar a alimentação e os cuidados de saúde adequados. Zoo em casa Luísa Gandra passou boa parte da adolescência “feita gatinha” a brincar com os animais do avô. Tal como Mónica, tanto chateou os pais que aos 17 anos recebeu um pastor-alemão, o novo inquilino de uma casa onde se multiplicava uma fauna considerável. Casou e comprou um pastor-belga, o Floyd, que fazia companhia a uma gata. Elisa, a filha, confirmou a herança genética: também se revelaria “maluca por animais”. Entrar na casa de Luísa é abrir a porta de um ‘mini-zoo’. A cadela, Bolota, chegou em Janeiro. Elisa apresenta-nos os dois coelhos, Bigodes e Manchinhas, os dois porcos da Índia, Kaly e Slash, os gatos Titas, Kika e Cinzas Calimero, assim baptizado por estar “sempre a reclamar com tudo, como o desenho animado”. Há ainda uma tartaruga e um peixe.
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Elisa e a mãe, Luisa Gandra
Cães podem custar entre os 250 e os 2250 euros No Canil Diamante D’Água, sediado em Valongo, tudo é “seleccionado”, explica a proprietária Isabel Teixeira. A empresa trabalha com criadores de todo o País e faz questão de conhecer as suas instalações, o seu grau de conhecimento relativamente às diversas raças e até o tipo de ração que fornecem aos animais. Vendem cães e gatos e apesar de este ano o negócio não prosperar tanto como noutros natais, já se fizeram “muitos contactos, inclusivamente do exterior”, de países como o Luxemburgo, Itália e sobretudo a Suíça. Os preços dos cães podem oscilar entre os 250 euros (caniches, yorkshires grandes) e os 1900/2250 euros, se falarmos de yorkshires minis ou bulldogs ingleses e franceses. Isabel realça que os presentes ideais dependem de muitos factores, como o espaço disponível em casa, as idades dos filhos e do tipo de raça dos animais, mas esta continua a ser uma “óptima prenda de Natal”.
apenas financeira. De 2011 para 2012 houSão muitos os residentes na habitação desve uma subida de 7% no número de lares ta família maiata. Alguns já partiram. Com portugueses com animais de estimação, tanto entra e sai, o trabalho é sempre a doaponta o estudo base do projecto “GfKtrabrar: é preciso dar de comer, limpar, arruck.2 PETs”, da empresa GfK, que avamar, passear e levar ao veterinário. liou os principais indicadores de Porém, não é nas dores de cabeo t n e penetração de animais de esça que os donos pensam. “Os Aumpara 2012 11 0 2 timação nas habitações. Em animais dão muito que fazer, a De ma subid houve u úmero de Novembro do ano passado, mas são parte da família. Não on de 7% n rtugueses havia animais domésticos imagino a nossa vida sem um lares po ais de em metade dos lares portuanimal, faltaria qualquer coicom animção a m ti gueses: 4295 inquiridos (de um sa. Dão-nos felicidade, alegria e es total de 8524) afirmaram ser doconforto quando estamos tristes.”, nos de animais de companhia. conta Luísa. A maioria, 68%, têm um cão, 35% convivem com dois gatos e 16% têm pelo menos Metade dos lares com animais cinco pássaros. Peixes, tartarugas, hamsSerá, em certa medida, esse conforto que ters e coelhos compõem as restantes caestará a valer a muitas famílias deprimitegorias mais populares. Em 17% dos lares das pelos efeitos de uma crise que não é
Elisa diverte-se com os animais
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gam-se ao animal de uma forma quase patológica.”, descreve Mário Santos.
Maria Beleza
Epilepsia e detecção de tumores
coabitam cães e gatos, predominantemente rafeiros. Ligação emocional Os números não surpreendem Mário Santos, director clínico do HVP. O aumento da mobilidade laboral e da “desagregação familiar” levou a que mais pessoas passassem a viver sozinhas. Menos dinheiro no banco equivale também a menos saídas, daí que saiba sempre bem ter um animal de companhia. “A posse de um animal tem muito a ver com a emoção. Deixaram de ser apenas animais de guarda e passaram a fazer parte da família. Dormem com os donos e acompanham-nos em actividades de lazer. Nos internamentos, as pessoas deixam ficar bonecos e roupas com o seu cheiro: cuidam deles como se fossem uma criança. Em situações de eutanásia há quem demore um ano a fazer o luto. Li-
Ponderação
A capacidade empática dos animais, tanto entre si como para com os humanos, é conhecida, mas se pensava que os benefícios de adoptar um animal se ficavam pela companhia que proporcionam ou pela redução do stress, engana-se. Conforme sublinha Mónica Roriz, médica veterinária especialista em comportamento animal no Hospital Veterinário do Porto, se forem devidamente treinados para isso há cães que podem ajudar a “detectar e alertar os donos para crises epilépticas”. E não só, podem também “ser treinados para detecção de crises de hipoglicémia e até de tumores urinários”, sublinha a responsável.
- A aquisição ou adopção de um animal de companhia deve ser bem ponderada. Deve ter em conta factores essenciais como o tempo disponível para cuidar do animal; se é uma pessoa activa ou tem actividade mais sedentária; qual o ambiente onde o animal vai viver, ou seja, se dentro, fora de casa ou misto; se tem crianças; se tem dificuldades de locomoção e as suas possibilidades financeiras.
Fonte: Ordem dos Médicos Veterinários
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Consultas
- Assim que possível, deverá levá-lo a uma primeira consulta no médico veterinário, aconselha-se que esta seja às seis semanas.
Maria gosta dos infelizes A diferença entre possuir ou não um animal de estimação pode também ser a diferença entre viver ou não de forma mais activa e saudável. Como explica o director clínico do HVP, os animais estimulam a interacção social e, por vezes, na idade sénior, “é a única forma de as pessoas saírem” à rua. Criam-se rotinas e “aumenta-se o tempo de vida”: “Há estudos que apontam para a diminuição da pressão arterial nas pessoas que têm animais e há psiquiatras que recomendam a aquisição de um animal para controlar problemas de stress e ansiedade”. Maria Beleza tem 75 anos e vive sozinha há 12, mas sente-se muito bem assim. Não pode ver um animal abandonado que pensa logo em adoptá-lo ou ajudá-lo. Gosta mais “dos infelizes” porque acha que pode “resolver os problemas deles”. Sempre foi assim. Em 2001 começou a alimentar uma “gatita arisca” deixada por uma vizinha. Para lhe mudar a manta sobe um escadote e transpõe um muro. Durante muitos anos cuidou de um cão e de uma cadela sem algumas patas, que levava ao colo a passear mesmo que chovessem ‘picaretas’. Quando o cão morreu, Maria, que nem é dada a depressões, acordava “todos os dias a chorar”, até que chegou o Franjas, com quem desenvolveu uma “obsessão” mútua. À sua volta gravitam ainda quatro gatos. Sem empregada ao fim-de-semana, levanta-se mais cedo para lhes dar de comer e passear o cão (três vezes ao dia). Só depois toma o pequeno-almoço. “Não sabia viver sem eles.”, confessa.
Alimentação
- A alimentação do seu gato ou cão deve cumprir alguns requisitos básicos: ser adequada para a espécie, raça, idade e estado fisiológico, como por exemplo a gestação, que exige cuidados especiais de alimentação. As rações comerciais são, no geral, as mais aconselhadas por serem as mais equilibradas. As rações secas devem ser suplementadas com ração húmida (em especial no gato), por forma a garantir adequada ingestão de água. Nunca deve dar ossos ao seu animal.
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opÇÃo por raÇÕes mais baratas Ter animais em casa implica disponibilidade financeira. Segundo o estudo da GfK, o peso dos gastos com o cão e o gato no orçamento familiar, em 2012, eram de 15% e 14%, respectivamente. Apesar de ter descido, a fatia empregue na compra de comida facturada (a grande via escolhida pelos portugueses para alimentar os seus animais), absorve mais de 60% dos gastos. Seguem-se os cuidados de saúde e de bem-estar e só depois a despesa na compra de brinquedos e acessórios. As nortenhas Luísa Gandra e Maria Beleza contabilizam entre 70 e 80 euros por mês no orçamento familiar só para os animais.
Rute Dias, proprietária da loja Snoopy Pet Shop & Garden, refere que ao nível da comida os clientes “têm passado para gamas mais económicas, notando-se uma quebra na venda de rações mais altas”. Fernando Amorim, um dos responsáveis pela Clínica Veterinária da Foz e loja Vida de Cão, confirma: “As rações de gama mais baixa dispararam em relação às super premium e de melhor qualidade”. Por outro lado, do ponto de vista clínico, a medicina preventiva “diminuiu bastante”, assegura. É “muito frequente” haver quem faça “gala” por comprar um cão de 500 ou 600 euros, mas depois se “queixe do preço” de um banho ou de uma vacina – que vão até 30 euros.
Banhos
Passeios
- Em cães com pele saudável, o banho higiénico deve ser restringido a dois ou três banhos anuais seguido de secagem e escovagem da pelagem. Os gatos são muito cuidadosos com a sua higiene, pelo que, um gato saudável não precisa de banho. A escovagem, é necessária em gatos com pêlo comprido caso do gato Persa. A limpeza dos ouvidos deve ser externa e com um algodão humedecido com soro fisiológico. Deve-se evitar introduzir cotonetes ou soluções de limpeza n o canal auditivo saudável.
Adequam-se mais ao cão. Como mínimo recomendam-se três passeios diários sendo que o ideal será passeá-los sempre após a alimentação, pois é essa a altura de maior probabilidade de sentirem urgência na micção e defecação. O proprietário, ao passear o seu cão, deverá estar sempre munido de sacos de recolha de fezes (que deverá deixar num contentor público) e evitar que urine em locais indesejáveis.
uniÃo ZoóFila com a capacidade esGotada
“Não temos capacidade para receber mais nenhum animal.”. A frase é de Margarida Saldanha, da direcção da União Zoófila (UZ), uma associação de ajuda a cães e gatos abandonados que necessitam de auxílio. Trabalha-se cada vez mais no limite. Neste momento, a UZ alberga cerca de 500 cães e 200 gatos. A associação recebe constantemente pedidos de ajuda e sinalizações de animais em dificuldades, mas não é por causa da crise que o albergue da UZ está repleto, à semelhança de muitos outros espalhados pelo País. “A crise vem justificar um acto que não é justificável. Não há desculpa que justifique o abandono de um cão numa via rápida ou o deixá-lo amarrado a um banco de jardim. A crise só veio facilitar o abandono por parte daqueles que já não tinham interesse em manter os animais. Iam abandoná-los independentemente disso.”, considera a dirigente. Na UZ, os animais são tratados, desparasitados, vacinados e daí podem passar para a adopção. Promove-se também o apadrinhamento, que consiste num apoio financeiro e na disponibilidade para levar regularmente os animais a passear sem os adoptar.
Vacinação
A primovacinação deve iniciar-se, como mínimo, às oito semanas, sendo que no cão pode antecipar-se o início do plano vacinal para as 5/6 semanas. Para que os gatinhos e cachorros fiquem protegidos, são necessárias várias administrações em intervalos de, no máximo, 1 mês. A revacinação é feita 1 ano após a última toma. Só o médico veterinário poderá estabelecer um adequado plano vacinal. A única vacina obrigatória no nosso país é a vacina da raiva e apenas no cão.
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“É o animal perFeito para poder ver um Filme” Rui Rodrigues é dono do GORH, um cão que impõe respeito e “ressona como gente grande” de regras. “Ele não entra primeiro do que Apresentamos-lhe o GORH, o “Guardian eu em casa ou num elevador nem faz as Of Rodrigues House”. Em bom portunecessidades em casa. Deu-nos um pouguês, o Guardião da Casa do Rodrigues. co de autoridade sobre ele”. A interiorizaO GORH tem quatro anos, é um Dogue de ção de determinado tipo de regras facilita Bordéus imponente e mora com Rui Roa adaptação à vida familiar. drigues, a mulher e os seus dois filhos na Maia. As obrigações dos donos Um dia, Rui acordou “com isto” no Natal. O A autodisciplina a que o dono se submecão “impõe respeito”, mas à parte de um te também é rigorosa. Normalmente, Rui ou outro “encontro imediato” na rua, com leva o GORH a passear duas a três vezes pitbulls, tem sido um doce. Dizem até que por dia, custe o que custar: “Há alturas em “é o animal perfeito para assistir a um filque não é fácil, como quando estamos de me ou à novela lá em casa”. Apesar do aspijama e chove lá fora, mas é uma obrigapecto, “não é muito energético” e sossega ção que já nem se coloca, é como acordar com facilidade. “Não dá é para ouvir bem de manhã e ter de levar os miúdos à escoporque ele ressona muito, como gente la, tem de ser”. grande!”, brinca o dono. Sobre as notícias de que o Ministério da No outro dia, Rui deu com um dos miúdos Agricultura se preparava para limitar a “a meter-lhe os carros na boca”. O mais nodois o número de cães permitidos vo gosta de lhe dar biscoitos e o mais por apartamento e a quatro no velho já o leva a passear sozinho. o n i e No início, foi preciso verificar Tr o GORH, caso dos gatos – possibilidade car entretanto afastada pela mise o animal se dava bem com Para edu ito sessões o a -o u o e v d nistra Assunção Cristas -, Rui as crianças. “Tinha um filho le n do Alto, o na Casa l recebeu considera que tudo depende um ano e uma pessoa fio anima uais e de deria “do tipo de cão”. “Moca sempre um pouco receoivid aulas ind cção. ra ro num apartamento e o meu te sa, mas temos de educar tanto in cão não faz barulho nenhum, o filho como o cão”, explica Rui. mas não gostava de estar num apartaPara educar o GORH, levou-o a oito mento e ter um cão sempre a ladrar. Mas sessões na Casa do Alto, onde o animal se as pessoas tiverem higiene e não ultrarecebeu aulas individuais e sociais, de inpassarem a barreira dos outros, não vejo teracção com outros animais. O treino foi lógica”, refere. bom para o “habituar” a determinado tipo
Desparasitação
- A desparasitação interna deve iniciar-se, como mínimo, às 6 semanas, embora em caso de necessidade possa ser iniciada antes; após a primeira desparasitação, esta deverá ser repetida em intervalos de 2 a 4 semanas até pelo menos aos 6 meses de idade; a periodicidade anual com que será desparasitado será estabelecida pelo médico veterinário tendo em conta o modo de vida e coabitantes do animal. Fonte: Ordem dos Médicos Veterinários
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Esterilização
Por norma, encontra-se recomendado na cadela antes do primeiro cio ou no anestro após o primeiro cio; nas gatas antes do primeiro cio que varia com o fotoperíodo; em cães e gatos machos se não houver motivo para fazer antes, por volta do ano de idade e sempre sob indicação médica que irá ter em conta os benefícios/vantagens.
Maiores registos individuais por raça 2011 Raça Labrador Retriever Cão de Pastor Alemão Yorkshire Terrier Golden Retriever Chihuahua
Total 2775 1906 1546 932 815
Fonte: Clube Português de Canicultura
Identificação e registo
O proprietário deve encarar a identificação animal não apenas como uma obrigatoriedade (caso dos cães) mas como uma formna de conseguir chegar ao proprietário, contactá-lo e restituir-lhe o seu animal em caso de perda. A identificação é feita introduzindo subcutaneamente um microchip com um código individual de leitura óptica. O animal deve ser registado na Junta de Freguesia, que introduz os elementos na base de dados nacional do SICAFE. O registo e licenciamento são obrigatórios entre os 3 e os 6 meses de idade. O registo de gatos não é obrigatório.
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Rui Rodrigues
serviÇos de perdidos e acHados A Ordem dos Médicos Veterinários criou uma plataforma que permite que animais perdidos ou encontrados voltem à casa dos seus donos. A “FindMyPet – Ponto de Encontro de Animais Perdidos” baseia-se no registo de elementos como a localização geográfica, o sexo, cor predomi-
Coelhos
O coelho é um herbívoro estrito, adaptado à ingestão de uma dieta com elevado teor de fibra. A alimentação de um coelho deve ser baseada em três elementos essenciais: feno, granulado e vegetais frescos.
nante e porte dos animais. Se perdeu ou encontrou um cão ou um gato, deverá aceder à homepage da plataforma (http://findmypet.omv. pt) e inserir as características do animal em causa. Se por esta pesquisa não conseguir identificar o animal em causa, pode
Répteis
Os répteis não levam vacinas mas necessitam de muitos cuidados em relação à temperatura, alimentação e iluminação. A temperatura deve ser sempre controlada e é essencial para a correta manutenção dos répteis. A iluminação é outro factor importante e imprescindível (especialmente em Iguanídeos) na construção de um habitat para répteis. Actualmente existem no mercado lâmpadas de espectro total, que são as aconselhadas para répteis.
preencher o formulário, reportando um caso. No site da Direcção Geral de Agricultura e Veterinária (http://www.dgv. min-agricultura.pt) há também uma lista actualizada com mais de 5200 registos de animais perdidos ou encontrados desde 2004.
Aves
Cada espécie necessita de uma alimentação específica. Todos os componentes devem misturar-se no mesmo recipiente. As frutas e as verduras podem ser raladas, picadas ou cortadas em pedaços muito pequenos para evitar que a ave os estrague (uma vez habituada, podem cortar-se em pedaços maiores). Não esquecer a mistura de sementes especiais para psitacídeos e complementos como frutos secos (amendoins, nozes, amêndoas, figos secos...), iogurte, queijo fresco, requeijão, ovo cozido e cálcio. Molhos e fritos, picantes e especiarias, enchidos e qualquer tipo de doce são proibidos.
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Pet2Mate: a rede social dos animais Nasceu em Braga e já conta com cerca de 16 mil membros. Chama-se pet2mate e é uma rede social para amantes de animais de estimação. O seu criador, Afonso Barbosa, falou à GRANDE PORTO magazine sobre as suas motivações para criar este projecto e os caminhos futuros a trilhar. Texto MIGUEL ÂNGELO PINTO Foto IVO PEREIRA
Tudo começou porque a Mia miava muito. Afonso Barbosa não compreendia o porquê deste comportamento e nada como recorrer ao Facebook para questionar quem soubesse do que se passava com a sua gata. As respostas não se fizeram tardar. Afinal, a Mia podia estar com o cio e como tem um ar adorável, não faltaram candidatos ao acasalamento. Este foi o clique para a criação da pet2mate, uma rede social dedicada exclusivamente a animais de estimação e cuja ideia original passava mesmo pela promoção do acasalamento. Mas, como Afonso Barbosa adiantou à GRANDE PORTO magazine, essa é uma prática que não se deve promover. A razão é simples e reside no facto de haver imensos animais para adopção, algo que acaba por cair melhor junto das pessoas. “Reformulei o projecto e o propósito do acasalamento caiu”, diz Afonso Barbosa, lembrando que o que começou como uma aplicação para iPhone se transformou em algo muito mais avançado, apresentando-se hoje como um website. “O conceito passou a ser o de uma comunidade de pet lovers, incluindo associações e profissionais do sector”, refere o criador da pet2mate, rede que actualmente conta com 16 mil membros. Mas aqui começa o fado nacional. Deste 16 mil, cerca de 15 mil são brasileiros. Os portugueses ainda não aderem a estas novidades? Afonso Barbosa adianta que “os portugueses regame bem, mas sempre de pé atrás. Um exemplo? Convidámos quase todas as associações de Portugal a associarem-se ao projecto, mas o efeito foi quase nulo”. Por isso, a pet2ma-
te é agora uma plataforma mundial, disponível em quatro línguas, e que tem na internacionalização o caminho a trilhar. Como é óbvio, se tivesse surgido em Silicon Valley, a meca da tecnologia norte-americana, tudo seria diferente. “Os americanos têm uma cultura preparada para crescimentos rápidos, apoiada num mercado com cerca de 350 milhões de pessoas”, refere Afonso Barbosa, para quem Portugal tem falta de “um espírito empreendedor logo à nascença”, algo que nem as universidades nacionais têm capacidade de incutir nos mais jovens. “Nos Estados Unidos aprende-se a falhar. Quem falha é alguém que aprendeu algo e dessa experiência tiram-se ensinamento importantes”, conclui. Por isso mesmo, está nos seus planos emigrar de vez para o el dorado americano, terreno fértil para quem tem ideias e busca forma de as colocar em prática. O objetivo da pet2mate é estar para a vida dos animais tal como o facebook está para a vida das pessoas e assim cons-
tituir-se uma referência mundial incontornável. Desta forma, o proprietário pode monitorizar e gerir de forma simples os dados de identificação do animal de estimação (idade, raça, características, preferências de acasalamento, historial clínico, contactos do veterinário…), timeline de fotografias, pesquisa avançada de animais (segundo vários critérios), diário dos animais e alertas relacionados com a vida dos mesmos (ex: época de acasalamento, de perda do pêlo, etc). Em termos de interação social a aplicação permite chat e troca de mensagens, partilha de fotos e posts por facebook e e-mail, e integração com aplicação específica para facebook permitindo aos amigos, que não possuem a aplicação, visualizar fotos e detalhes básicos do animal.
reGiste-se
Se tem animais de estimação e pretende trocar experiências com outros amantes de animais, o processo é muito fácil. Registe-se na página de Facebook ou no website da pet2mate (em www.pet2mate. com) e entre num mundo alargado, onde ficará a saber muito mais sobre todos os animais de que tanto gosta.
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publireportagem
Centro de Bem Estar Animal Para animais com donos felizes
O
Centro de Bem Estar animal é um mais do que um espaço, um conceito. Aqui o seu animal, cão ou gato, tem direito a sentir-se bem.
Desde banhos a tosquias, todos os serviços são direcionados a animais com donos felizes. Um hotel de qualidade que reúne as condições para receber o seu amigo de quatro patas e lhe dá um tratamento de excelência. Nada é deixado ao acaso, uma equipa de profissionais está pronta a receber os seus animais e fazer deles hóspedes cinco estrelas. Este serviço está disponível a partir do mês de Novembro com renovadas instalações. Para complementar todo o conceito, surge ainda a Loja do Centro de Bem Estar Animal, em plena Zona Industrial da cidade do Porto. Andreia Gloystein é a responsável pelo projeto e anfitriã da loja que prometemos, vale a pena visitar.
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Um espaço inspirador, para amantes de animais. A gama de produtos é vasta. Rações gourmet, roupas apropriadas para a estação, brinquedos didáticos e adereços coloridos, fazem as delícias de animais e donos. Mas, mais uma vez, a ideia não se esgota nos produtos para o seu animal de estimação. No Centro de Bem Estar Animal, também os donos têm direito a um mimo e por isso existem produtos para fãs de animais. Material escolar e decorativo, molduras personalizadas e, se para os cães há coleiras com cristais Swarovski, para os donos há bijuteria requintada com motivos animais. As opções são inesgotáveis e os preços convidativos. A loja, que tem tudo para cães e gatos, tem ainda mais. Tem apoio e orientação para todos os que se deparam com problemas ou dúvidas relacionadas com o seu animal de estimação. Tem dúvida? Então visite este espaço e dê um presente a si e ao seu melhor amigo. Rua Manuel Pinto de Azevedo, 126, 4100-320 Porto, Portugal Htpp://www.centrobemestaraninal.com caesegatos@centrobemestaranimal.com tel: 22 099 8895
opinião
| PORTO SÉNIOR |
A Politização da Sexualidade DANIEL SERRÃO
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. O ser Humano, como muitos seres animais, é gonocórico, está constituído em duas formas corporais, uma masculina e outra feminina Estes corpos diferentes têm a “obrigação biológica” de se unirem para que os seus gâmetas, os gâmetas que cada um dos dois corpos produz - ovócito e espermatozoide - se possam encontrar, unir e dar lugar a um novo ser vivo da espécie á qual pertençam os gâmetas. No nosso caso será a constituição de um novo ser vivo da nossa espécie, único e irrepetível. Não há criação de vida, há continuidade de vida: os gâmetas são células vivas, o zigoto que eles constituem é uma célula viva. Mesmo que o não possamos recordar, eu e os leitores começamos por ser apenas uma célula, chamada de zigoto; que poucas horas depois se divide em duas e passa a chamar-se embrião. Daqui em diante é só multiplicar-se, crescer e diferenciar--se. Sobre esta base biológica, que é pacífica, as diferentes culturas humanas foram construindo estruturas sociais, de facto ordenadas à protecção e ao sucesso das uniões corporais fecundantes. Encontramo-las nas culturas primitivas, ainda hoje activas neste campo, como as que Jung estudou em África e o levaram a criticar muitas das convicções de Freud nesta matéria. Freud teria deduzido os seus conceitos-base sobre a sexualidade humana, a partir do atendimento de pessoas com perturbações psíquico-emocionais e da observação da sociedade vienense do seu tempo, onde predominava a hipocrisia
sexual, no confronto entre o que era dito e o que era feito por homens e mulheres, na época. As religiões, mágicas, animistas e reveladas - tradição hebraica, cristianismo e islamismo – todas foram emitindo regras de comportamento, com numerosas proibições para controlarem a união de homem e mulher que é um apelo biológico muito forte. Direi que nenhuma destas estruturas ordenadoras da união corporal de homem e mulher, de base religiosa, teve sucesso. A união dos corpos sempre se iniciava pelo apelo biológico e deslizava por baixo ou por cima das regras, ainda que nalguns casos, como no islamismo, corressem perigo de vida. A Arte, em especial a pintura, sempre exaltou esta libertação das normas e foi buscar inspiração aos mitos gregos, às narrativas do Antigo Testamento e do Novo Testamento; como a do episódio da mulher adúltera que os velhos desistiram de apedrejar (Alguém sabia porquê) . Nas sociedades modernas ocorreu o enquadramento jurídico da sexualidade, passando a união corporal de homem e mulher a ter a dignidade de um contrato com mútuos direitos e deveres, eficazes; e com representação no Código Penal para os incumprimentos. E como da união corporal de homem e mulher pode ocorrer a geração de filhos estes também beneficiam de protecção jurídica eficaz, pelo menos depois das dez semanas de vida intrauterina. Nas sociedades políticas de direito, de-
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mocráticas, como são a maioria dos Estados europeus, a origem e conteúdo destas leis que pretendem disciplinar a sexualidade resultam da vontade popular expressa pelos seus representantes parlamentares ou em referendo. Deste mecanismo burocrático-administrativo resultou a politização da sexualidade humana; que, a meu ver, é a menos política de todas as actividades humanas por ser o mais íntimo e mais pessoal de todos os nossos comportamentos. . Por estes dias os Senhores Deputados europeus afadigaram-se a discutir um relatório sobre esta matéria, da iniciativa de uma Deputada portuguesa. Preocupando-se, entre outros aspectos, com a educação da sexualidade que é, obviamente, uma actividade corporal que não precisa de ser ensinada a ninguém, pois é biológico-natural. Se fosse educação para os afectos, que são uma aquisição cultural, haveria lugar para uma intervenção educativa: pois é minha convicção que na base de muitas situações de sexualidade não saudável está uma iliteracia emocional que se manifesta na adolescência e pode persistir na vida adulta e até na senioridade. Parece que o relatório não foi aprovado. Mas se o fosse nada de terrível aconteceria aos povos europeus porque a sexualidade não se deixa encerrar em leis, nem se deixa submeter às ideologias. É uma força da natureza humana que deve ser compreendida, respeitada e saudada. Também pelos políticos e legisladores.
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reportagem
Uma ponte com margens assentes no futuro... Pedro Bandeira e Pedro Nuno Ramalho aproveitaram um concurso de arquitectura para fazerem a proposta radical de deslocalizarem a centenária Ponte Maria Pia, ao abandono, para o Centro da Cidade. A ideia gerou polémica, dividiu opiniões e galgou fronteiras. O primeiro objectivo está conseguido. Do debate sobre a relação que temos com o património, ambos esperam fazer perceber o “efeito Eiffel” que este ícone arquitectónico transformado em atracção turística traria ao Porto
Textos
SÉRGIO PIRES Fotos
IVO PEREIRA/DR
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Em meados da década de 1980, a banda portuense Jáfumega ganhava popularidade a cantar “A ponte é uma passagem... para a outra margem”. Nessa altura, a Ponte Maria Pia, já centenária, era a única ligação da linha do Norte entre Porto e Gaia. Facto é que desde 1991 aquela obra de Théophile Seyrig concebida pela empresa de Gustave Eiffel perdeu utilidade, ficou ao abandono, a ver os comboios migraram uns metros mais para poente, para a Ponte de São João. Desde há mais de duas décadas que a Ponte Maria Pia deixou de ser uma passagem, apesar de continuar agarrada às duas margens. Pedro Bandeira e Pedro Nuno Ramalho lembraram-se agora dela quando, no âmbito de um concurso de ideias promovido pelo Núcleo do Norte da Ordem dos Arquitectos para a recuperação do quarteirão da antiga Companhia Aurifícia, propuseram deslocalizar aquela estrutura treliçada em ferro e montá-la no centro da cidade. Proposta radical de requalificação A proposta não ganhou o concurso, mas desde então tem merecido
a atenção de meios de comunicação em Portugal e no mundo e motivado um debate aceso nas redes sociais. “Fomos ambiciosos ao questionar o âmbito do concurso. Requalificar o interior do quarteirão da Companhia Aurifícia não bastava. Propor mais comércio, escritórios ou habitação seria redundante com aquilo que a cidade já oferece e não nos parecia legítimo ir por aí, tal como não nos pareceu interessante propor um jardim público, quando ali ao lado temos jardins que estão numa situação decadente, como o da Praça da República”, conta ao GRANDE PORTO Pedro Bandeira, salientando que esta “proposta radical serve para chamar à atenção para a regeneração urbana do centro do Porto” e lançar o debate sobre a requalificação da cidade: “A ponte, enquanto objecto funcional só tem sentido se ligar duas margens, mas esta já perdeu a sua funcionalidade há mais de 20 anos. A partir desse momento a ponte pode passar a ser vista como um objecto de arte... Além disso, é uma estrutura contemporânea da Companhia Aurifícia [foi construída uns seis anos depois de a fábrica abrir] e
reportagem
Proposta
Relocalização da ponte deveria de ser feita com dinheiros privados, argumentam os arquitectos ambas são sinónimos abandonados da industrialização do Porto.” Pedro Nuno Ramalho, co-autor do projecto, confessa-se surpreendido com o facto de a nova ponte que propõe ter extravasado os limites do concurso e já ter merecido referências no El País, no britânico Telegraph ou na norte-americana Business Insider. Novo ícone no centro da cidade “Quisemos fazer uma proposta fora do baralho para lançar o debate sobre a regeneração urbana. Estávamos à procura de uma solução atractiva para aquele local. A Ribeira já tem muito turismo concentrado, mas parece-nos que a zona mais alta da cidade precisa de um ‘landmark’”, explica o arquitecto. Um “landmark”, ou seja, um ícone arquitectónico como a Casa da Música, a Torre dos Clérigos, a Ponte Luís I ou o casario do centro histórico, com um pegão perto da igreja de Cedofeita e outro junto à Praça da República. Algo capaz de alterar o “skyline” da cidade e para ambos “uma ambição que tornaria o Porto numa cidade ainda mais excepcional”. Resumindo: uma infra-estrutura de grande beleza e história fora do seu contexto, mais do que uma extravagância
monumental e algo que seria capaz de atrair turistas de todo o mundo também para inovação na relação com o património, que evolui ao longo dos tempos. “A imagem que disponibilizámos foi partilhada muitas vezes. É só uma imagem; agora, imaginem o que era ter uma obra destas no centro da cidade? Seria o efeito Eiffel: havia turistas que iam a Paris ver a torre e vinham ao Porto ver a ponte”, argumenta Pedro Bandeira, consciente do debate que abriu desde que a proposta conjunta com Pedro Nuno Ramalho foi conhecida em finais de Outubro. Uma proposta que abriu o debate “Há quem seja extremamente contra ou entusiasticamente a favor. Agrada-nos a discussão. Mas temos dificuldade em encontrar argumentos contra que sejam válidos. Por exemplo, a ponte praticamente não interferiria com a luz solar, dada a sua estrutura tão leve... Mas há sobretudo quem nos possa dizer: ‘Eu não quero ver o dinheiro dos meus impostos para construir uma ponte inútil.’ Eu também não... Este projecto teria de andar para a frente com dinheiro dos privados, que teriam retorno com a concessão da ponte. Mas acho que o problema prin-
cipal é perceber se queremos mesmo que esta infra-estrutura passe a ser outra coisa...”, sustenta Pedro Bandeira, que até vê com bons olhos a hipótese de a ponte manter-se no local actual e abrir o tabuleiro para uma ciclovia (solução avançada ao longo dos anos), apesar de achar que a ligação não une dois pontos movimentados de Porto e Gaia e naquele local aquele monumento continuará com o seu efeito visual cortado, encravada agora entre duas pontes (São João e Infante) de betão e construídas numa cota mais alta. A verdade é que o debate continua aceso, independentemente de haver quem aponte que a crise actual poder ser considerada um mau momento para avançar com propostas deste tipo. O entendimento dos arquitectos é até inverso. “Esta crise permite-nos pensar com outro tempo e outra radicalidade e é uma oportunidade importante para lutar contra a descrença. Não é tempo de nos podemos conformar a ser só pragmáticos e a deixar de sonhar”, exprime Pedro Bandeira, para quem esta ponte é uma oportunidade de imaginar um Porto de futuro: “Esta proposta para a ponte é o nosso sinal de que não podemos abdicar da capacidade de imaginar.”
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actualidade
Século e meio de Natal em papel de jornal Arquivo Municipal de Gaia aproveita pela primeira vez o espólio de “O Comércio do Porto” numa exposição sobre a quadra natalícia ao longo dos 151 anos da publicação Texto Sérgio Pires Foto Ivo Pereira Haverá melhor forma de perceber a evolução do Natal ao longo de século e meio do que através das edições de um jornal diário? Provavelmente, não. E daqui surgiu o mote de “Natal de Jornal”, a primeira exposição em que o Arquivo Municipal de Gaia faz utilizando o espólio do jornal “O Comércio do Porto”, que adquiriu em Novembro de 2008, três anos depois do encerramento do título. Desde 1854 a 2005, percebe-se a evolução da celebração da quadra natalícia no Porto juntamente com a abordagem gráfica e editorial que a publicação sofreu ao longo dos anos, mas também através dos anúncios: das longas manchas de texto do século XIX, aos cartoons do início do século XX, até às ilustrações dos últimos anos. “Aprendi muito ao estudar para esta exposição. O que me surpreendeu mais foi o facto de a tradição da árvore e do
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pai natal não ser algo inventado já no século XX. O jornal demonstra que há 100 anos, por exemplo, já havia uma linguagem muito ligada às crianças, aos brinquedos, à surpresa, à magia, aquilo que hoje vemos como resultados de uma sociedade moderna e fruto do
consumismo, do capitalismo e da globalização. Ou seja, através desta exposição desmistificamos que há 100 anos atrás os valores do Natal eram assim tão diferentes. Além disso, com a pesquisa que fizemos encontrámos histórias curiosas, como uma notícia da década de 60 do século XIX que revela que a Missa do Galo esteve proibida durante muito tempo na cidade do Porto”, explica ao GRANDE PORTO Alda Temudo, directora do Arquivo Municipal, que durante estes últimos dois meses mobilizou os seus 22 funcionários para pôr de pé a primeira exposição sobre o espólio de “O Comércio do Porto”. Um trabalho intensivo de selecção e tratamento de imagens, mas também de investigação histórica sobre o contexto europeu e português político, económico e social, que resultou numa recolha dos principais eventos que tiveram lugar no dia de Natal e num estudo esquemático sobre a diferente iconografia associada a esta quadra. Tudo com o propósito de aproveitar o espólio do jornal de grande valor histórico e aproximá-lo dos cidadãos. A ideia desta primeira exposição surgiu da parte da equipa do Arquivo Municipal de Gaia que, apesar de ter todas as edições do jornal, quer alavancar agora junto da Editorial Prensa Ibérica (EPI), detentora daquele que foi o mais antigo título publicado em Portugal continental, o processo de entrega do arquivo fotográfico do jornal. “A EPI quer devolver o espólio fotográfico do jornal ao País através do Arquivo Municipal de Gaia, onde existem condições privilegiadas de acesso às edições do jornal, relativamente por exemplo ao que acontece na Biblioteca Municipal do Porto, em que há edições que não estão disponíveis. Quarenta por cento dos leitores que nos visitam vêm aqui para consultar as páginas de ‘O Comércio do Porto’”, explica Alda Temudo. A exposição “Natal de Jornal” foi inaugurada em meados de Dezembro e estará patente até 31 de Janeiro com entrada livre todos os dias da semana entre as 9h e as 17h30.
opinião
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Caracóis!* PEDRO MADEIRA FROUFE
Nunca comi caracóis. E apesar de ser imprudente dizer-se “dessa água nunca beberei”, não creio que estando de posse de todas as minhas faculdades mentais, queira, alguma vez, provar essa “iguaria portuguesa”. Pessoalmente, aqueles molúsculos gastrópodes terrestres, primos das lesmas, causam-me repugnância suficiente para conseguir, sequer, imaginá-los como um pitéu! A visão de caracóis e de caracoletas cozidos, assados ou refugados, largando um molho amarelado e gorduroso, escorrendo pelos dedos dos seus comensais, tira-me o apetite. No entanto, os pratinhos de caracóis, acompanhando bebidas frescas, são muito apreciados no centro e, sobretudo, no sul do país. Em Espanha, a situação dos caracóis é, em tudo, semelhante à de Portugal. Para muitos e apesar de serem também servidos noutras paragens (ex. o “escargot” francês) também são um “pitéu espanhol”; em Madrid, tal como em Lisboa, comem-se nos meses da Primavera/Verão, com calor e nas esplanadas. No entanto, na Galiza, não. Para um galego, tal como para um minhoto ou para um tripeiro, os caracóis, na mesa, equivalem, mais ou menos, a uma mosca na sopa (ou no caldo galego)! Este pormenor gastronómico é um dos muitos exemplos ilustrativos das diferenças culturais existentes entre o norte/noroeste peninsular e o resto da Ibéria. Os caracóis, ou a falta deles, nas me-
sas das esplanadas, aproximam aquilo que só por vicissitudes histórico-políticas foi separado: o Norte de Portugal e a Galiza. Sociologicamente, os galegos revêm-se e (como que) autoidentificam-se nos minhotos, nos transmontanos e nos tripeiros. Por isso, muitos consideram o Porto, também e quase que naturalmente, o seu centro, a sua capitalidade (em termos culturais e de lazer). A “movida” portuense (cujo epicentro, agora, é na Baixa) – hoje em dia,
muito viva e quente, contrastando com a arquitetura granítica e austera que lhe serve de cenário - atrai cada vez mais galegos. Tal como o “bairro das artes”. O aeroporto Sá Carneiro é a principal porta de entrada, para quem vem da América do Sul, não só do Norte de Portugal, como da Galiza. E, na realidade, o emergente cosmopolitismo tripeiro tem, sobretudo, traços galegos (apesar de o Porto, nos últimos anos, ser rota turística cada vez mais apreciada na Europa do norte e nos Estados-Unidos). Muito
à custa de certos ícones de mercados culturais específicos, como, por exemplo, a Casa da Música, o vinho do porto e a região do Douro, Serralves e a “escola de arquitetura do Porto, a “Ribeira – património da Humanidade”. Ora, só temos a ganhar com uma aproximação sólida, também político-institucional, à Galiza. Tal como os galegos se acham sempre, um pouco, portugueses (do Norte), o Porto e o Norte de Portugal também são eminentemente galegos. Estrategicamente, as agruras do centralismo que nos corrói enquanto Estado, poderão ser, a Norte, atenuadas, se nos empenharmos na institucionalização viva da “Euroregião” do Noroeste Peninsular. A regionalização (momentaneamente perdida, também e em grande medida, por culpa nossa, do imobilismo das gentes e das supostas elites de poder – que não existem! – do Porto), só poderá, particularmente agora e em tempo de crise, concretizar-se por atalhos. Ou seja, criando-se regionalmente “massa crítica”, económica, cultural e política, incontornável para o centralismo político nacional dominante. E o Porto deve empenhar-se nisso mesmo, procurando, cada vez mais, o seu Norte onde também não se comem caracóis! *Cumprimento singelo a José António GÓMEZ SEGADE, galego, um jurista internacional de referência e um verdadeiro Professor que, em Portugal, “não é estrangeiro”.
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actualidade
O sonho português em forma de donut Com um simples clique, os bolos tão populares nos EUA podem chegar a sua casa, acabados de sair do forno. Graças a duas jovens empreendedoras do Porto. Texto JOÃO QUEIROZ Fotos IVO PEREIRA Tânia Gonçalves, 32 anos, professora. Tânia Gouveia, 31, economista. Partilham o primeiro nome e a vontade de empreender e o desejo de obter o reconhecimento que já não encontram apenas nas suas profissões. Podiam ter optado por emigrar, mas preferiram arriscar e montar o seu próprio negócio. A ideia, cozinhada nas redes sociais, já borbulhava há muito e começou a ganhar a forma da famosa rosca que faz sucesso na América do Norte. Fizeram um estudo de mercado, através de um inquérito online. O bolo eleito foi o pastel de nata, o donut ficou longe das preferências. Os resultados assustaram-nas, mas não as fizeram mudar de ideias. Foram em frente. “O donut remete-nos para a infância, o cheiro do bolo acabado de fazer, e também para o sonho americano, o cinema, os “Simpsons”, a correria do dia-a-dia…”. Correram várias confeitarias conceituadas do Grande Porto para fazer provas: “Quase todos os donuts comercializados cá são congelados, que até são bons. Mas há maus, fei-
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“come-se a qualquer Hora do dia”
As teorias quanto à origem do donut são controversas. A mais comum aponta para que tenha nascido na holanda no século XVI, de onde foi levado para os Estados Unidos e para o Canadá, onde actualmente mais são mais consumidos. Diz-se que foi lá que tomou a forma que hoje o celebriza, foi lá que se tornou tradição. Contase que em 1946, William Rosenberg montou um negócio que consistia em produzir e andar pelas fábricas de Boston a vender donuts aos trabalhadores. O seu sucesso foi tal que provocou uma alteração nos horários das empresas, que passaram a ajustar-se à hora da passagem da carrinha com os bolos. Para as “Tânias”, não há uma hora ideal para se comer um donut: “Ao pequeno-almoço é óptimo, a meio a da manhã, com um café, é delicioso. Ao lanche também é bom. Comese a qualquer hora do dia, em qualquer local”.
tos com a massa do pão-de-leite ou da bola de Berlim, com doses de gordura. Nós queríamos um donut fresco, com aquele ‘glacé’ característico, feito de forma tradicional, com dedicação, como se fosse feito nas nossas casas”. Procuraram muito e encontraram a receita perfeita de um pasteleiro que agora fabrica para elas em exclusividade. Deram-nos a provar à família, aos amigos, aos amigos dos amigos e a opinião foi unânime: aqueles eram mesmo os melhores. Na fase de testes, chegaram a ter encomendas de 200 unidades. Para lá de toda a logística necessária para criar a marca, encontrar o logótipo ideal, o modo de acondicionamento do produto, a escolha do nome também não foi tarefa fácil. Queriam em português, mas “donuteria”, por exemplo, não soava nada bem. Só podia ser em inglês: “The Donuts Company”? Melhor, só lhe juntando uma assinatura na língua de Camões: “Produto do dia feito com amor”. Um momento saboroso sem sair do sítio Um slogan que traduz a missão: “proporcionar um momento feliz e saboroso”, que fica à distância de uma mensagem no Facebook, de um email ou de uma chamada telefónica. Cada donut tem o preço de um euro e a encomenda mínima é de 10 unidades, entregue sem custos adicionais, em quase todo do distrito do Porto. Se os quiser para o pequeno-almoço, peça-os na véspera, se for para o lanche, até às dez horas daquele dia. “E se uma empresa quiser de madrugada, por exemplo, também entregamos”, acrescentam. O negócio arrancou apenas no início de Dezembro, mas o futuro começa a ser traçado. Há já um calendário definido para lançar “novos” donuts: com cobertura, com recheio ou em miniaturas… Se tudo correr bem, por que não abrir uma loja? Um passo de cada vez, sem pressa. Sem a rapidez com que se come um donut.
actualidade
Manoel de Oliveira comemorou 105 anos O artista Manuel Casimiro foi escolhido pelo cineasta português para reinterpretar graficamente o filme ‘Aniki-Bóbó’ num bule de porcelana da Vista Alegre O cineasta português Manoel de Oliveira comemorou dia 11 de Dezembro, na loja da Vista Alegre Atlantis dos Clérigos, no Porto, o seu 105º aniversário, revelando em primeira mão o bule Aniki-Bóbó. Trata-se de uma peça de edição limitada que integra a coleção ‘1+1=1’ da marca centenária portuguesa que, pela mão do pintor, designer, escultor fotógrafo e cineasta Manuel Casimiro, transpõe para porcelana o espírito do primeiro filme da longa carreira do realizador. Aniki-Bóbó é a quarta peça da colecção ‘1+1=1’ da Vista Alegre [‘Um Autor + Um Artista = 1 Peça Vista Alegre’], criada com o objectivo de divulgar e premiar a excelência na produção artística a nível internacional. Esta colecção consiste na criação de uma peça de homenagem à obra de autores reconhecidos em diferentes áreas culturais. Manoel de Oliveira é o primeiro cineasta a conceber uma peça na história de quase 190 anos da Vista Alegre. Assim que aceitou o desafio proposto pela Vista Alegre, o cineasta português escolheu de imediato o filme ‘Aniki-Bóbó’ (1942) e um bule do acervo da Vista Alegre – objecto de culto no quotidiano de Manoel de Oliveira, que não prescinde do seu chá diário, ao final da tarde, com o qual brindou ao seu 105º aniversário.
Escolha da imagem O filho de Manoel de Oliveira, Manuel Casimiro, foi o artista escolhido pelo rea-
lizador para reinterpretar graficamente ‘Aniki-Bóbó’ em porcelana. Com uma edição limitada a 1000 exemplares, a peça Aniki Bóbó é acompanhada por uma edição especial e exclusiva do filme em DVD. “O modelo do bule de chá escolhido recorda um tempo mais antigo. Decidimos que devíamos ‘vestir’ o bule com uma imagem do filme Aniki-Bóbó”, explica Manuel Casimiro. “Com esse propósito, revi este filme muitas vezes antes de conseguir decidir-me a fazer a selecção da imagem a utilizar. Na imagem escolhida, vemos a Ponte D. Luís, onde se desenrola a história do filme, mas também são visíveis as crianças, as personagens principais do filme. Depois, pintei com cores variadas alguns dos característicos elementos da minha pintura, os ‘ovalóides’, que, numa espécie de colar, rodeiam a parte superior do bule, que recebe a tampa”, sintetiza o artista visual.
pinturas em 3d na alFândeGa Está patente no edifício da alfândega, no Porto, até 30 de Março de 2014, a exposição “3 D Magic Art”, que reúne quadros de grande dimensão com pinturas em 3D e que convida o público a interagir com as personagens e cenários retratados em cada moldura. Distribuída por uma área de 2000m2, a exposição destina-se a públicos de todas as idades e deve ser visitada com amigos ou em família, para que a experiência seja ainda mais divertida. É também uma excelente sugestão para escolas no período de férias escolares. Cada visitante é convidado a interagir com a pintura, passando a fazer parte da mesma, fotografando-se ou filmando-se dentro do quadro, proporcionando-se, assim, momentos de grande animação, razão pela qual a máquina fotográfica ou de filmar é de utilização obrigatória. A “3 D Magic Art” é também um espaço único onde cada pintura leva o visitante a lugares inimagináveis ou a interagir
com figuras e personagens históricas e do mundo da ficção, de uma forma surpreendente e muitas vezes impensável. Espreitar a saia da Marilyn Monroe, lutar com o Homem de Ferro, enfrentar a ferocidade de um touro ou apagar uma intensa labareda de um dragão são algumas das situações que os visitantes podem experienciar com uma realidade impressionante. A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, entre as 10 e as 18 horas, e ao fim-de-semana, entre as 10 e as 20 horas. As reservas podem ser feitas através do email reservas.3dmagicart@ gmail.com e do telefone 916 711 329.
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histórias da cidade
| ILUSTRES DESCONhECIDOS (1) |
O Porfírio do Cimbalino e a Balança Falante ONOFRE VARELA
No ano 2000 editei um pequeno livro que recolhia textos de humor e sátira (ilustrado com desenhos publicados no Jornal de Notícias) a que dei o nome Cimbalino Curto, e o jornalista Viale Moutinho atribuiu-lhe três estrelas (numa escala de cinco) na recensão crítica que fez no jornal Diário de Notícias. Um dia o telefone tocou no meu ateliê. Do outro lado, alguém me dizia que falava de Lisboa… e eu a registar a força do seu sotaque tripeiro! — Olhe, eu moro em Lisboa e estou farto de procurar o seu livro Cimbalino Curto, mas não o encontro nas livrarias. Fui ao Diário de Notícias para me darem o seu contacto, mas também não sabiam quem você era. Tiveram que telefonar para a delegação do Porto, e só assim pude chegar à fala consigo. Sabe? É que eu sou o inventor do cimbalino!… E disse-o com tanta convicção e entusiasmo que, de imediato, lhe propus um encontro para que me contasse essa sua invenção. Combinamos dia e local, meti-me no comboio, encontramo-nos junto ao elevador da Bica e fomos almoçar bacalhau com grão. Bom conversador, o meu leitor eventual chamava-se Porfírio. Rumou a Lisboa em 1959 para chefiar a FAEMA, residia em Oeiras, e nasceu no Porto (Freguesia de Santo Ildefonso) em 1928, tendo vivido a meninice e juventude numa “ilha” da rua de S. Victor. Em miúdo esteve, por um triz, para participar, como figurante, no filme de Manoel Oliveira, Ani-
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ki Bóbó. Só não o fez porque adoeceu e quando se iniciaram as filmagens estava internado nas Goelas de Pau (Hospital Joaquim Urbano). A sua mãe, viúva, não queria vê-lo parado. Por isso, aos sete anos, ajudava-a a carregar canastras de pão para a Calçada de Monchique e, no Verão, ía para a praia da Foz vender copos de água com limão, de um regador forrado com heras. Carregou carvão e farinha, foi marçano, vendeu fruta aos trabalhadores que construiam o Coliseu do Porto, e aos domingos recebia gorjetas de viúvas por limpar jarras e floreiras no cemitério do Prado do Repouso. Aos 14 anos era aprendiz de serralheiro na Metalúrgica Henrique F. dos Santos, no Largo do Corpo da Guarda. Entre os vários artigos fabricados nessa oficina contavam-se máquinas de café de saco, açucareiros, cafeteiras e leiteiras. Mas também se procedia a consertos e, nesse sentido, às segundas-feiras, o Porfírio dava uma volta pelos cafés da baixa portuense recolhendo as peças com necessidade de arranjo. Dessas rondas profissionais recordava os cafés Java, Majestic, Águia D’Ouro, Palladium, Brasileira, Tivoli, Atneia, Arcádia, Sport, Central, Victória, Astória e Brasil, e ainda a Confeitaria Palace, estabelecimento de gabarito, que existia ao fundo da rua 31 de Janeiro, na curva para Sá da Bandeira. No primeiro andar funcionava a redacção do jornal O Século. O Porfírio também arranjava fechadu-
ras, e muitas vezes foi chamado a casas de prostituição onde, inexplicavelmente, as fechaduras avariavam muito!… Nessas andanças acabou por fazer amizade com muitas “mulheres da vida”. Na década de 1950 Salazar proibiu a prostituição complicando a vida a muitas profissionais do sexo, e o Porfírio recorreu às amizades que fez com os proprietários dos cafés da baixa, conseguindo emprego para muitas delas. Uma das obras metalúrgicas que as suas mãos ajudaram a construir, e que recorda pela sua imponência, é um candeeiro de tecto que pode ser visto no hall do Teatro Rivoli. Um dia o Porfírio mudou de casa e de patrão. Instalou-se na rua de Santa Catarina, no número 630, e arranjou emprego no número 610, na oficina metalúrgica de Manuel Ferraz, pegada à Casa Nun’Álvares. Em 1948 veio a “coqueluche” das lâmpadas fluorescentes e o Porfírio especializou-se na nova técnica de iluminação. Também fez holofotes para a Tobis, máquinas de cortar fiambre e de medir azeite, cadeiras de barbeiro e balanças. Entretanto o serviço militar interrompeu-lhe a profissão numa altura em que a guerra da Coreia obrigou o Estado Português a defender os territórios de Timor e Macau. O Porfírio só não foi mobilizado porque era considerado o amparo de família, por ser orfão de pai. Em 1950 a oficina mudou-se de Santa Catarina para a rua de Noeda (Campanhã), e uma nova especialização estava reservada ao Porfírio.
histórias da cidade
La Cimbali e o cimbalino Em 1956 a boa fama profissional da oficina de Manuel Ferraz levou a que fosse escolhida para agente da marca La Cimbali, moderna máquina italiana de tirar cafés. Porfírio foi a Itália fazer uma especialização para poder reparar as novas máquinas, cuja primeira foi montada no Café Central, em Anadia. Seguiu-se a montagem de máquinas nos cafés Águia d’Ouro, Palladium, Âncora d’Ouro, Tropical, Brasileira e Confeitaria Lobito (Largo do Padrão) no Porto, e nos cafés Sport e Pátria, em Matosinhos. O Porfírio era conhecido em todos os cafés, e o seu passado profissional merecia confiança. Honesto, simpático, alegre e bom conversador, facilmente convenceu todos os industriais do ramo a deixarem montar uma das modernas máquinas nos seus estabelecimentos, à experiência. Um engenheiro italiano, de nome Campo Nuovo, acompanhava o Porfírio e informava os donos dos cafés que só se procederia à venda da máquina se se comprovasse a eficácia do novo modo de servir café à italiana, se o interesse dos clientes justificasse e se houvesse vontade de aquisição por parte do proprietário do estabelecimento. E foi aí que começou o problema. Ninguém pedia café de máquina!… Passavam-se os dias e o café à italiana não tinha clientes. Aquilo parecia um fiasco e o italiano Campo Nuovo começou a desanimar e pensou regressar a Itália com as máquinas. Entendendo esse desânimo, e cheio de boa vontade em ajudar, o Porfírio percebeu a falta de informação que fazia o desconhecimento do produto pelos potenciais consumidores, e sugeriu ao italiano: — Ó senhor engenheiro, porque é que o senhor não faz um cartaz a dizer assim: “Não peça café. Peça um cimbalino e veja a diferença”. Campo Nuovo arregalou os olhos! De imediato viu que acabara de nascer um nome para o novo produto que era o café da máquina La Cimbali!
Aceitou a ideia, mandou tipografar cartazes com a frase sugerida pelo Porfírio, distribuiu-os pelos cafés… e algum tempo depois já pôde facturar as máquinas instaladas! Os bons apreciadores de café aderiram ao “cimbalino” que se tornou num êxito e numa marca do Porto, e o Porfírio recebeu um prémio de 5.000 escudos pela ideia!
A balança falante A Farmácia Estácio, pegada ao Teatro Sá da Bandeira, no Porto, era famosa por ter uma balança que falava! Recordo o momento mágico em que a minha mãe me levou a pesar-me nela. Subi para o prato, o ponteiro movimentou-se no mostrador apontando para o meu peso e, ao mesmo tempo, uma voz metálica saíu da balança, informando: “Vossa Excelência pesa vinte e quatro quilos e duzentos gramas”!… Estavamos na década de 1950 e a técnica de gravação sonora não tinha a sofisticação necessária para explicar o fenómeno! O Porfírio fazia a manutenção da balança falante, e explicou-me o seu funcionamento. A balança, colocada na entrada da farmácia, nunca mudava de lugar. Nem podia!… Estava presa ao chão por parafusos. E na cave, precisamente sob a balança, havia uma mesa sobre a qual se encontrava outro mostrador ligado por um veio ao tecto… ao prato da balança que estava na loja! Essa mesa era o posto de trabalho de uma funcionária que endereçava sobrescritos, empacotava comprimidos e rotulava xaropes, enquanto esperava que um cliente se fosse pesar. Quando tal sucedia, o mostrador da cave apontava o mesmo peso que o cliente comprovava visualmente, enquanto que acendia uma lâmpada vermelha, chamando a atenção da funcionária. Esta, tinha um microfone e um botão para o ligar, e dizia o peso que via no mostrador que tinha à sua frente, e que o cliente ouvia na saída do som por detrás do painel do ponteiro! Às vezes, momentâneamente, a balança “avariava”… mostrava o peso, mas não falava. Isso acontecia quando a funcionária da cave… ia fazer um xi-xi…
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entrevista
“Troco esta medalha por outro modelo de desenvolvimento económico...” Mais que pela medalha de ouro evocativa do 50.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, José António Pinto, assistente social da Junta de Freguesia de Campanhã tornou-se notícia pelo discurso de agradecimento na Assembleia da República. “Tinha de fazer daquela cerimónia um acto de protesto”, explica em entrevista ao GRANDE PORTO Texto Sérgio Pires Fotos Ivo Pereira
Como foi escolhido para receber na Assembleia da República a medalha de ouro comemorativa do 50.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem? Fui proposto por Fernando Negrão, deputado do PSD, eu que sou militante do PCP... Mas, de facto, fiquei a pensar “porquê eu?”... Talvez pela capacidade de denúncia, mas também de proposta de novos modelos de política social e novas abordagens que tenho sobre a exclusão social. Além disso, na prática, já ajudei muitas pessoas a sair da droga, a arranjar emprego, a conseguir uma casa digna, com comodidade e segurança... Este reconhecimento ao mais alto nível é também um desafio para si? Sim. A partir de agora quero ter mais capacidade de denúncia, de propos-
“Esta medalha dá-me um poder simbólico” ta e construção. Não vou embandeirar em arco. Mas este prémio traz-me aspectos muito positivos: a visibilidade, reconhecimento público, prestígio profissional, o poder simbólico são importantes. Mas eu quero rentabilizar o prémio a favor dos mais desprotegidos. Quero usar isto quando estou numa disputa ou numa reivindicação. Já tinha há muito ideia do discurso de agradecimento? Tinha de aproveitar aqueles dez minutos para não defraudar as expectativas que os meus utentes têm em mim. Queria fazer daquela cerimónia um acto de protesto e para isso a minha mensagem tinha de ter impacto e ser perceptível. Mas nunca pensei que tivesse o impacto brutal que teve... Os meus utentes adoraram. No dia seguinte ao discurso estavam à minha espera à porta da junta para dar-me um abraço. Isso emocionou-me, comoveu-me e dá-me força. Não poderei desiludi-los daqui para a frente. Houve outras reacções ao seu discurso que o tenham marcado? Sim, naquele discurso, disse que dei-
xaria a medalha se os deputados me prometessem que as leis aprovadas naquela casa não causassem mais estragos na vida daqueles que, por terem deixado de dar lucro, eram considerados descartáveis... E no dia seguinte recebi uma carta do Garcia Pereira [advogado e líder do PCTP/MRPP] que me marcou imenso, tal como o abraço emocionado de Marinho Pinto, logo na AR, que saiu da última fila a chorar e veio direito a mim... Isto para não falar de comentários no Facebook, e-mails que recebi, felicitações até de pessoas anónimas que me encontram na rua e que vêm abraçar-me. Disse no seu discurso “troco a minha medalha por uma política que não mate”... É assim que classifica estes dois anos de austeridade? Uma política que mata é a que destrói emprego público, corta salários e reformas, que aumenta brutalmente os impostos, que privatiza empresas que dão lucro e que gerem bens essenciais. Uma política que retira o Estado da sua função protectora e social, através de um critério de acesso cada vez mais difícil e subsídios, que
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entrevista
são cada vez mais curtos. Uma política que altera as leis do trabalho, tornando mais fáceis os despedimentos... Nestes últimos dois anos, marcados pelas medidas impostas pela troika e pelo governo PSD-CDS, de que forma tem sentido o aumento dos novos pobres numa freguesia já de si socialmente deprimida como Campanhã? Temos um fenómeno de novos pobres. Reformados que me dizem, “Eu vivia com 230 euros por mês tranquila, mas agora entraram-me pela casa dentro o meu filho, a minha nora e dois netos, que ficaram desempregados e perderam a casa para o banco...” Além dos problemas de alojamento, desemprego, toxicodependência, surgem agora associados muitos casos de violência doméstica, de menores em risco e de alcoolismo. Quais são os problemas mais comuns com que se depara como assistente social? Ao fim de tantos anos a trabalhar nesta área ainda há situações que o surpreendem? Dói-me saber que para fazer uma refeição de carne há pessoas vão ao talho pedir aparas; ou saber que há miúdos que a única refeição que comem é na escola... Ver gente que interrompe o tratamento dentário, que não compra o par de óculos que necessita, que tira os filhos da creche ou do ATL ou idosos que deixam de poder pagar a prestação dos lares ou que de seis medicamentos prescritos só têm dinheiro para levar um da farmácia. Mário Soares diz que um dia isto vai rebentar... E vai mesmo. As cantinas sociais dispararam o número de utentes. A Cáritas e a AMI têm lista de espera. E há cada vez mais pessoas que entram em estratégias de sobrevivência desviantes: roubam, prosituem-se, traficam droga. Os seus utentes percebem a situação económica do País e a política que está a ser seguida ou estão completamente alheadas? Das mágoas maiores que eu tenho é de perceber que os pobres não têm consciência política. Odeiam política, acham que os políticos são todos iguais... Dizem-me “Temos de aguentar, não há outro remédio”... São frases que ouço todos os dias. A comunicação social também propaga a mensagem que vivemos acima das nossas possibilidades... Há um catecismo da austeridade é feito pelos média. Além disso, há a mediocri-
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perfil José António Pinto, 48 anos, é desde 1997 assistente social na Junta de Freguesia de Campanhã. Licenciou-se em serviço social e tirou o mestrado em sociologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Chalana, como é conhecido pelos amigos, é também promotor de projectos sociais em meios desfavorecidos e voluntário como palhaço em contexto hospitalar na associação “Cor é Vida”. Recebeu a 10 de Dezembro, na Assembleia da República, a Medalha de Ouro evocativa do 50.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
dade da classe política. Nunca vi tanta impreparação, promiscuidade entre negócios e política e falta de escrúpulos e de ética. É preocupante... Falta gente com escola humanista para mudar a sociedade em que vivemos. Que políticas sociais gostaria de ver tomadas pelo governo para evitar a exclusão? Não há alternativas que não sejam cortar o abono a 500 mil crianças? E o buraco do BPN, as parcerias publico-privadas, o contratos “swap”, o negócio dos submarinos, as empresas que não pagam impostos cá... Um Estado protector digno começaria por encontrar o dinheiro por aí. Há um plano ideológico de perseguição aos pobres. Uma prestação de 178 euros cria emancipação ou liberta alguém da pobreza? Há quem critique a atribuição generalizada em alguns bairros sociais do Rendimento Social de Inserção e de outro tipo de subsídios. Explique-me a importância e eficácia deste tipo de instrumentos? Claro. Há gente que me diz. “Dr. Pinto, eu trabalho 8 horas e não tenho parabólica, não vou para o café, os meus filhos não têm Playstation, nem plasmas em casa.” Isso é verdade, mas quando alguém tem uma identidade esfarrapada, de insucesso sobre insucesso, quer afirmar-se através de trunfos como esses... Eu como assistente social tenho de trabalhar para os ajudar a mudar de atitude e dizer-lhes que têm de gerir melhor o dinheiro... Mas existem ou não abusos generalizados no RSI? A fraude é mínima. Do universo de quase um milhão de desempregados que existe, só uma migalha é que recebe RSI. Há outros que mesmo trabalhando têm um salário tão miserável e um agregado familiar tão grande que ainda podem ter direito ao RSI. Existem fraudes nos subsídios de doença e no de desemprego, que há quem trabalhe ou faça uns biscates enquanto os acumula. Isto está estudado, não sou eu que o digo. Não conheço beneficiários que tenham recusado oportunidades a sério de trabalho. Há muita gente desesperada para encontrar um trabalho a ganhar 500 euros.
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Três milhões de furos para a Regina Relançamento da “máquina de furos” dá novo fôlego à marca de chocolates de Vila do Conde Texto ISABEL CRISTINA COSTA É natural que por esta altura já se tenha cruzado num café, num quiosque ou numa tabacaria com a chamada “máquina de furos” dos chocolates Regina. E não as crianças quem mais fura. São os pais e, sobretudo, os avós, que aproveitam para contar as histórias da sua meninice e a história acaba sempre bem
porque todos os furos dão prémio, ou melhor, chocolate. “O número de pedidos de clientes que pretendem ter a ‘máquina de furos’ já ultrapassou os 10 mil e continua a aumentar. Actualmente, a nossa previsão é de que com as recar-
gas da máquina rapidamente se atinja as 20 mil unidades, o que corresponderá a um número de furos absolutamente inacreditável de cerca de três milhões de furos”, revelou à Grande Porto Magazine a CEO da Imperial, Manuela Tavares de Sousa. A Imperial trouxe para o mercado réplicas fiéis de um conceito lançado pela marca de chocolates Regina nos anos 40. “O sucesso ultrapassou as nossas expectativas. Desde adultos que têm uma memória muito afectuosa desta experiência de fazer um furo e ter sempre direito a um chocolate surpresa até crianças que descobrem uma experiência inovadora e divertida, ninguém fica indiferente à ‘máquina de furos’ Regina”, adiantou a presidente executiva da empresa do grupo RAR. Foi em resposta a uma tendência de consumo definida como retro marketing, que transporta o consumidor para outras épocas, às quais associa bem-estar e felicidade, que a Imperial já instalou a “máquina de furos” em cerca de 10 mil pontos de venda por impulso. A “máquina de furos” é um conceito original da Regina, que este ano está a comemorar o seu 85º aniversário. A “máquina de furos” havia saído do mercado há mais de 20 anos. Cada máquina apresenta uma cartela amovível com 140 furos que liberta bolas coloridas, variando entre sete cores possíveis. Cada cor corresponde a um produto, sendo que o consumidor paga um preço fixo (0,80 euros) para fazer um furo e tem sempre direito a um chocolate. Qual é a cor mais desejada? É a dourada, que corresponde a uma caixa de sortido de bombons recheados. A Imperial é o maior produtor português de chocolates, detendo as marcas Jubileu, Regina, Pintarolas, Pantagruel, Allegro e Fantasias, entre outras. Com um volume de negócios de 24 milhões de euros, a empresa exporta mais de um quinto das suas vendas para mais de 40 países.
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Verdes praticamente sem stocks Texto ISABEL CRISTINA COSTA
Os vinhos verdes “chegam ao final do ano com interrupções de fornecimento”. A nova realidade leva o presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), Manuel Pinheiro, a afirmar: “Precisamos de investir mais na produção do que na comercialização”. Por isso, a mensagem da CVRVV junto dos 21 mil viticultores será de mais investimento em produção, através do regime de apoio à reconversão e reestruturação das vinhas - o programa comunitário Vitis. “O facto de os vinhos verdes estarem a vender praticamente todo o stock não deixa de ser uma situação muito favorável ao produtor, na medida em que valoriza mais o seu produto. Precisamos, porém, de produzir mais para darmos resposta crescente à exportação. Nada indica que esta pare de crescer nos próximos anos. Neste sentido, o plano inclui uma série de medidas que visam aproximar a CVRVV da produção e fomentar esta
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actividade”, explica Manuel Pinheiro à Grande Porto Magazine. “Como a exportação se tem comportado muitíssimo bem, precisamos agora de apontar para a viticultura no sentido de aumentar a produção e fazer chegar mais rentabilidade ao produtor. Esse será o nosso objectivo
nos próximos anos”, conclui. Mas isto não quer dizer que seja descurada a componente de marketing, basicamente porque 2013 foi para os vinhos verdes portugueses um ano recorde de exportações, que ultrapassaram os 40 milhões de euros. Manuel Pinheiro frisa que a CVRVV dará continuidade à promoção em 2014. Em 2013, o negócio exportado rondou os 40%, quando no ano 2000 era 15%. O grosso da promoção realizou-se nos Estados Unidos, situação que se irá repetir-se em 2014.
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reForÇar a viticultura
orÇamento de marKetinG É de trÊs milHÕes para 2014 Com o mercado interno estagnado, os vinhos verdes estão mais voltados para o exterior do que nunca. Para 2014, o orçamento de marketing da CVRVV é de três milhões de euros, menos 200 mil euros do que em 2103. E entre os países a atacar em termos de promoção, para além dos Estados Unidos, destacam-se o Canadá, o Brasil, a Noruega, a Suíça e a Alemanha. Ou seja, como os vinhos verdes estão a registar um bom desempenho nestes, em 2014 as apostas são para manter. Por exemplo, nos Estados Unidos o crescimento das exportações foi de 5% entre Janeiro e Setembro deste ano, e na Alemanha a subida foi de 18%. “Há quem puxe pelo país”, regozija-se o presidente da CVRVV, Manuel Pinheiro. É que os vinhos verdes portugueses vendem para mais de 90 países. Ao todo são 600 empresas engarrafadoras a produzir anualmente mais de 70 milhões de litros de vinho verde. De Janeiro a Setembro deste ano, últimos dados revelados pela CVRVV, o total de exportações foi de 15 milhões de litros, mais 10% do que em período homólogo do ano passado. Em valor são 35 milhões de euros. O principal cliente foi o mercado norte-americano, que somou oito milhões de euros, um acrés-
cimo de 5% relativamente a igual período de 2012. Depois dos Estados Unidos, os mercados que mais compram vinhos verdes portugueses são: Alemanha, França, Canadá, Brasil, Suíça, Bélgica, Angola, Reino Unido e Luxemburgo, por esta ordem de importância. O presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes classifica de admirável o aumenta da presença do vinho verde na exportação, que de menos de 15% passou para 40% numa década. “Há pois que consolidar posições, apoiando em simultâneo o aumento de vendas na rede actual e o aparecimento de novos exportadores”, declara Manuel Pinheiro. O grande desafio que os vinhos verdes têm pela frente é a diminuir a dependência do mercado interno, isto apesar de serem dos que melhor resistem à crise. Manuel Pinheiro está satisfeito com o trabalho que a CVRVV tem vindo a desenvolver e que “muito contribuiu para o facto de os vinhos verdes venderem para o mercado externo quase 40%. Perante este cenário, o mesmo responsável fala de “uma revolução silenciosa”, mas de sucesso. Hoje, os vinhos verdes são já o segundo vinho português mais exportado, a seguir ao vinho do Porto.
Ganhar dimensão fundiária é essencial. Esta é uma das principais ideias retidas da reunião da semana passada, a ocasião serviu para a comissão executiva apresentar o plano de actividades e orçamento para 2014 ao conselho geral da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV). “A nossa estrutura produtiva necessita claramente de ser reforçada. Ganhar dimensão fundiária é aqui o ponto essencial”, sustenta Manuel Pinheiro, presidente da CVRVV. O motor desta transformação é o incremento da exportação de vinhos verdes, que em 2013 teve um ano recorde. A ambição é estabelecer um novo recorde em 2014. “A região tem tido um sucesso na exportação que é já indesmentível e que alterou profundamente toda a nossa estrutura de negócio, fazendo desenvolver empresas e diluindo significativamente a nossa dependência do mercado nacional”, sublinho o mesmo responsável.
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negócios
Sonae leva Continente para a Tailândia
A Sonae iniciou a exportação de produtos da marca Continente para a Tailândia, prosseguindo com a sua estratégia de internacionalização na área alimentar. Luís Moutinho, CEO da Sonae MC (Modelo Continente), afirma: “A aposta da Sonae MC na exportação enquadra-se na estratégia de internacionalização da Sonae, que pretende explorar a excepcional base de activos e a capacidade de inovação que detém em Portugal. A Sonae e o Continente acumulam um vasto conhecimento na criação, desenvolvimento e comercialização de produtos, o que contribuiu para a liderança de mercado em Portugal e agora está a facilitar a abertura de novos caminhos de expansão a nível internacional através de modelos ‘capital light’”. Através de um comunicado, Luís Moutinho acrescenta: “As nossas perspectivas para o negócio internacional de ‘wholesale’ são de crescimento, dada a aceitação muito interessante que as nossas marcas e produtos têm conquistado. Estamos a olhar para oportunidades em vários mercados, nomeadamente na Ásia, na Europa, em África e na América do Sul, aproveitando os contactos comerciais e a presença em feiras alimentares a nível internacional, onde os participantes tiveram a oportunidade de conhecer os produtos da marca Continente e perceber a inovação e qualidade associada”.
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AEP leva empresas para 24 mercados Associação Empresarial de Portugal privilegia construção, casa e decoração, alimentação e bebidas, e saúde Texto ISABEL CRISTINA COSTA Para 2014,a Associação Empresarial de Portugal (AEP) tem programadas 33 acções de internacionalização, mais oito do que em 2013. Construção, alimentação e bebidas, casa e decoração, e saúde são os sectores a promover em 24 mercados. O programa associativo de internacionalização “Business on the way 2014” cinge-se a este sectores porque apresentam um “potencial exportador relevante e podem ter um efeito de íman, alargando a presença das empresas e da oferta portuguesas em mercados ainda insuficientemente explorados mas onde estamos a ganhar quota, a pouco-e-pouco”, explicou Paulo Nunes de Almeida, vice-presidente da AEP. No calendário, há 15 missões empresariais, outras tantas feiras de negócios e três acções híbridas do tipo “blitz”, para promoção de vinhos e produtos gourmet, na Rússia, Brasil e Japão. Diversificar mercados, apostando nas economias de países
emergentes ou que estão já a sair da crise, e manter as apostas nas fileiras da construção e da alimentação e bebidas são as características mais marcantes do calendário proposto às mais de 300 PME que nos últimos cinco anos participaram em pelo menos uma feira de negócios ou missão empresarial da AEP no estrangeiro. “Pelo que vem fazendo na internacionalização, a AEP é hoje o principal agregador multi-sectorial das empresas portuguesas na economia global”, assumiu o seu vice-presidente no encontro de networking empresarial “Ócios dos Negócios”, em que foram conhecidas as 33 acções fora de portas a realizar no próximo ano, que constam de uma candidatura a co-financiamento público através do Compete, ao abrigo do QREN, orçada em oito milhões de euros e que abrange o ano de 2014,e o primeiro semestre de 2015, em que estão programados mais 19 eventos.
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calÇado portuGuÊs quer canal online A imagem colectiva foi e continuará a ser uma prioridade para o sector português de calçado, que também muito à custa disso conseguiu uma subida do seu preço médio de venda. Por isso, a Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes e Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) não abrandará a aposta na difusão da imagem daquela que já é considerada a indústria mais sexy da Europa, estando mesmo interessada na criação de um canal de televisão online, o Portuguese Shoes TV. O plano estratégico do sector português de calçado, chamado Footure 2020 e que foi apresentado na Alfândega do Porto, na presença do ministro de Economia, António Pires de Lima, contabiliza três grandes desafios: inovação, qualificação e imagem.
A ambição entre 2014 e 2020 é a mesma de hoje: “consolidar a posição de Portugal como uma referência fundamental da indústria de calçado a nível mundial”. E desde 2006, o preço médio por par de sapatos subiu 25% até aos 23 euros, enquanto o crescimento da Europa estagnava. O ministro da Economia, António Pires de Lima, aproveitou para sublinhar que “temos o segundo preço de calçado mais alto de todo o mundo, depois da Itália e algum dia a ultrapassaremos”. O Footure 2020, que tem a assinatura da associação do sector, a APICCAPS, e da Universidade Católica do Porto, explica desta forma o sucesso do calçado “made in” Portugal: “Ter escolhido um rumo, que se revelou acertado, e ter trabalhado inexoravelmente para o concretizar”.
portuGal destacado com aumento de eXportaÇÕes Entre Janeiro e Setembro o excedente comercial da União Europeia (UE) com o resto do mundo quase que duplicou. A taxa de crescimento das exportações portuguesas é a oitava maior entre os 28 da UE. Nesse período, as vendas de mercadorias portuguesas para o exterior aumentaram 4% em termos homólogos. Segundo os dados divulgados pelo Eurostat, o país campeão é o Reino Unido, com um aumento de 13%, seguido pelo Chipre e pela Lituânia (10%). No que se refere às importações, Portugal surge com uma va-
riação homóloga nula no acumulado do ano até Setembro (ou seja, o país comprou ao exterior o mesmo valor do que em igual período do ano passado). O Eurostat revelou que a Zona Euro teve em Outubro um excedente no comércio internacional de bens com o resto do mundo de 17,2 mil milhões de euros, quase o dobro dos 9,6 mil milhões verificados no mesmo período de 2012. Em termos acumulados (entre Janeiro e Setembro), a Alemanha continua a deter o maior excedente comercial, seguida pela Holanda (40,5 mil milhões de euros), pela Irlanda (28,5 mil milhões) e pela Itália (19,6 mil milhões). Já Portugal registou um défice comercial de 6,7 mil milhões de euros, abaixo, no entanto, dos -8,1 mil milhões verificados em igual período do ano passado.
Governo cria órGÃo para viGiar combustÍveis
O Governo já formalizou a criação de um Conselho Nacional para os Combustíveis (CNC). Esta nova entidade irá reunir uma vez por semestre e deverá emitir parecer anual sobre o funcionamento do mercado dos combustíveis, parecer semestral sobre preços de referência e dinamizar e publicitar a plataforma relativa aos preços dos combustíveis praticados pelos comercializadores retalhistas. No Diário da República também é dada a conhecer a reestruturação da EGREP (Entidade Gestora de Reservas Estratégicas de Produtos Petrolíferos), que passa a denominar-se ENMC (Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis) e ganha novas competências.
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porto business scHool inauGura novas instalaÇÕes
A Porto Business School investiu cerca de 15 milhões de euros nas novas instalações, na Avenida Fabril do Norte, na Senhora da hora (Matosinhos), abandonando a antiga morada na Rua de Salazares, no Porto. O novo campus - que tem a assinatura do arquitecto José Manuel Soares -, é constituído por três blocos com capacidade para 1000 alunos em simultâneo. O projecto é co-financiado pela União Europeia através do quadro de Referência Estratégico Nacional (qREN) 2007-2013, ao abrigo do programa ON.2 - O Novo Norte. Os fundos comunitários do qREN cobriram 80% do projecto, o que dá cerca de 11 milhões de euros. No passado dia 16 foi dia de inauguração com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, o ministro da Educação, Nuno Crato, e o presidente do conselho de administração da escola, Belmiro de Azevedo.
5ª ediÇÃo do entrepreneur oF tHe Year
A EY está à procura, pela quinta vez, do empreendedor português que irá representar Portugal no Prémio EY World Entrepreneur of the Year, que se realiza em Junho de 2014 em Monte-Carlo, no Mónaco. Mas antes de chegar à final, o empreendedor nacional tem de submeter a sua candidatura a um júri presidido por Eduardo Catroga. As candidaturas, que deverão ser remetidas em formulário próprio disponível no site www. ey.com (seleccionar Portugal), decorrem até 17 de Janeiro de 2014.
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primeira meGastore de bebidas do Grande porto A loja Onwine, que custou meio milhão de euros, nasceu para dar confiança ao consumidor final e é uma extensão da Onwine.pt ( a loja na internet), foi inaugurada no passado dia 10 de Dezembro pelo novo presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues. Apesar de ter sido inaugurada este mês, a Onwine abriu as portas no início do ano com cerca de 4.500 referências de vinhos nacionais e estrangeiros. “No próximo ano queremos que a Onwine esteja a facturar 1,5 milhões de euros é que com a abertura da loja física notámos um incremento das vendas online, onde temos muitos clientes do mercado europeu”, sustentou Francisco Tovar, director-geral da Onwine. As boas expectativas de negócio foram justificadas pelo responsável com “bons preços e bom portefólio”. Quer dizer que a garrafeira online, com três anos de existência, sai portanto fortalecida com aquela que é a primeira megastore de bebidas do grande Porto. Com mais de 800 me-
tros quadrados e mais de 4500 referências de vinhos e bebidas espirituosas, nacionais e estrangeiros, bem como cervejas e refrigerantes, a Onwine deverá facturar este ano cerca de um milhão de euros. A Onwine fica em Oliveira do Douro, Vila Nova de Gaia, junto ao Grossão, que por sua vez atingirá um volume de negócios de 20 milhões de euros. Onwine e Grossão ficam nas antigas instalações da Real Companhia Velha, que o grupo Fladgate adquiriu em Outubro de 2011 por 21 milhões de euros ( um total de 100 mil metros quadrados). É lá que o grupo - dono das emblemáticas casas de vinho do Porto Taylor’s, Fonseca e Croft -, passou a concentrar toda a actividade: área produtiva (gestão e planeamento da produção), qualidade, stocks secos, compras, exportação, distribuição e retalho. O processo de transferência e respectivas obras implicou um investimento de sete milhões de euros. O grupo Fladgate, que também é dono do hotel Yeatman, em Gaia, factura 90 milhões de euros.
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| OPINIãO |
Portas a guiar Branco PAULO MORAIS
Os Estaleiros de Viana têm um dono: o estado português. Os governantes são pois os únicos responsáveis pelo estado comatoso a que a empresa chegou, ao fim de uma década de decisões criminosas e incompetentes. Todos os governantes da área da Defesa são responsáveis: uns culpados, outros cúmplices ou coniventes. Quando Paulo Portas, enquanto ministro da Defesa, assumiu a tutela parcial dos ENVC, prometeu o céu. Tirou daí dividendos eleitorais para o seu CDS, a quem os vianenses, enganados, retribuíram com votos, pela prometida salvação dos estaleiros. Esperava-se que, uma vez na esfera da Defesa, os ENVC recebessem encomendas da Marinha, de construção ou reparação naval. Para as quais havia, aliás, disponibilidade financeira no Gabinete de Contrapartidas do Ministério da Defesa. As contrapartidas nas aquisições militares foram sempre um mistério, mas o peso político de Portas antecipava que parte das verbas provenientes do negócio dos submarinos viesse a reverter a favor dos ENVC. Mas nem céu, nem encomendas, nem contrapartidas. Viana foi atraiçoada. Desde Portas, sucessivas administrações foram nomeadas, mas não houve nunca uma estratégia clara definida pela tutela. A empresa serviu de albergue para “boys” do PS, do PSD, mas principalmente do CDS. O governo falhava nas encomendas, os administradores não administravam. Aos trabalhadores ia restando a incerteza. Como os ENVC estavam longe de Lisboa,
o assunto não era importante para os políticos da corte do poder. Os ENVC longe de Lisboa e os administradores… longe dos estaleiros. Alguns nem sequer viviam em Viana e apenas se deslocavam à empresa para justificar salários, ajudas de custo e prémios. Os tempos da governação socialista de Sócrates não alteraram em nada a situação. Com a chegada de Aguiar-Branco à Defesa, exigia-se um cabal esclarecimento do destino das verbas das contrapartidas dos submarinos que não chegaram nunca… para as encomendas. Outra incógnita por esclarecer é o destino decentenas de milhões de euros que a empresa recebeu sob a forma de apoios da União Europeia. Mas Aguiar-Branco não teve coragem para incomodar Paulo Portas. Para dar jus ao seu próprio nome, decidiu branquear os disparates do presidente do CDS e as-
sumir as suas orientações. Aguiar-Branco poderia ter entrado para a história dos ENVC como o seu salvador, mas preferiu ser seu carrasco. Alienou a empresa de forma pouco clara e a empresários pouco recomendáveis associados ao plenipotenciário grupo Mota_Engil. No final desta história, os trabalhadores dos ENVC irão sofrer, a cidade assiste a mais um crime económico e vê morrer o último baluarte da sua tradição marítima. Em apenas uma geração, Viana, terra de mareantes, viu desaparecer a sua Empresa de Pesca, assistiu ao abate de uma parte considerável da sua frota pesqueira, perdeu a sua vocação marítima. Os governantes que agora condenam os ENVC não destroem apenas uma empresa com pergaminhos na história da cidade. Aniquilam toda uma vivência, hipotecam a cultura e a história da cidade de pescadores, navegadores e aventureiros.
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aep FaZ lóbi Junto do Governo por proGramas de FormaÇÃo-acÇÃo
A Associação Empresarial de Portugal (AEP) quer garantir a continuidade dos programas de formação-acção, nomeadamente do Formação PME, e está apostada na pressão junto do Governo para assegurar financiamento no âmbito do próximo quadro Comunitário de Apoio (2014-2020). A revelação foi feita pelo vice-presidente da associação, Paulo Nunes de Almeida, no seminário “Como fazer da Responsabilidade Social um ativo para a empresa”, que levou às instalações associativas, em Matosinhos, mais de uma centena de formadores, consultores e outros profissionais.
pe aprova criaÇÃo de mecanismo Único de resoluÇÃo
O Parlamento Europeu aprovou o relatório de Elisa Ferreira sobre a criação do Mecanismo Único de Resolução Bancária.”Todos os bancos devem estar cobertos pelo Mecanismo Único de Resolução, operando um Fundo Único de Resolução, financiado pelos bancos, de acordo com o risco que trazem ao sistema. Não faria sentido entregar a autoridades nacionais a gestão das falências bancárias quando, no âmbito da União Bancária, o Banco Central Europeu tem a seu cargo a supervisão de todos os bancos”, afirmou a eurodeputada do PS.
Ambar à espera de decisão do tribunal A Ambar continua à espera que a decisão do tribunal seja homologada para poder “avançar rapidamente”, respondeu à Grande Porto Magazine Rosa Magalhães, directora financeira da empresa do Porto. Depois de ter visto aprovado o plano de recuperação (com 23,66% do total de votos), há um mês, a Ambar continua em risco devido a um requerimento apresentado em tribunal pelo BCP, um dos princi-
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pais credores da empresa, reclamando irregularidades na votação do documento. O BCP, que reclama uma dívida superior a quatro milhões de euros, alega não ter sido feita “uma correcta interpretação do quórum deliberativo”, designadamente no que respeita à contabilização dos créditos subordinados e não subordinados. Em resposta ao requerimento do BCP, a directora financeira, Rosa Magalhães, e
emprÉstimos de 21 milHÕes para estudantes do ensino superior
Foi renovada a parceria entre o Ministério da Educação e Ciência, o sistema nacional de garantia mútua, gerido pela SPGM – Sociedade de Investimento, e sete dos principais bancos a operar em Portugal para a abertura de uma linha de crédito reservada a estudantes do ensino superior. Trata-se de um produto com uma dotação global de 21 milhões de euros e está ao alcance dos clientes dos bancos Santander Totta, CGD, BPI, Crédito Agrícola, Millennium BCP, Montepio e BES que frequentem cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento ou actividades como o Erasmus.
o director de recursos humanos da Ambar, Mário Pinto, que neste momento administram a empresa e foram os responsáveis pela apresentação do plano, contestam “a interpretação do banco e a jurisprudência [por ele] citada” e defendem que a contabilização feita do quórum “é a interpretação reiterada” feita pelo Tribunal do Comércio de Gaia “em vários outros processos”. Solicitando ao tribunal “que seja apreciado e publicado o escrutínio dos votos”, os administradores alertam que “têm prazos apertados para implementar o plano votado”. No total, a empresa tem uma dívida reclamada de 18,876 milhões de euros, mais de cinco milhões dos quais referentes a créditos de trabalhadores. O plano de recuperação da Ambar foi apresentado pela directora financeira e pelo director de recursos humanos depois de os administradores judiciais terem defendido a inviabilidade da empresa. Segundo o plano serão garantidos 105 dos actuais 142 postos de trabalho. O plano pressupõe a realização de uma operação harmónio (redução seguida de aumento de capital), no âmbito da qual passará a ser accionista da empresa o Fundo Revitalizar Norte, gerido pela sociedade de capital de risco Explorer Investments.
opinião
| ECONOMIA |
Sucessos e Insucessos do Programa de Assistência Financeira NUNO DE SOUSA PEREIRA
Agora que Portugal entra no último semestre de um duro programa de assistência financeira, interessa perceber de que forma é que a sua implementação irá moldar a evolução da economia e da sociedade portuguesa nos tempos mais próximos. O balanço sobre a bondade do programa de assistência financeira não pode assentar apenas na capacidade ou incapacidade do Estado Português se financiar após junho de 2014. Perceber se temos uma economia mais competitiva e se criamos condições para um novo ciclo de desenvolvimento económico é, no mínimo, igualmente relevante. O principal êxito alcançado e, porventura, a maior mudança estrutural resulta do excedente da balança corrente previsto para os próximos anos, em particular, o contributo positivo da balança comercial. Em apenas cinco anos, Portugal inverteu o saldo das suas relações anuais com o exterior, transformando um acréscimo anual de endividamento da ordem dos 12% do PIB em 2008 para uma capacidade de poupar que se prevê possa chegar a 5% da riqueza produzida. Portugal tem hoje uma capacidade de autofinanciar o seu consumo e investimento e de reembolsar uma parte da dívida ao exterior, situação sem paralelo na história recente do país. Esta performance é determinada pela quebra nas importações, fruto da diminuição do
consumo e do investimento, mas, sobretudo, do aumento das exportações assente no alargamento de quotas de mercado nos mercados tradicionais e na exploração de novos destinos. A segunda mudança estrutural é a da atitude dos portugueses na procura de soluções. A criação de novas empresas, de elevado valor acrescentado, resulta de um empreendedorismo de necessidade, mas também do desejo de muitos portugueses de querem fazer acontecer, deixando de ter como ambição máxima um emprego no Estado ou em grandes empresas. Querer controlar o seu próprio destino e estar disposto a assumir os riscos que lhe estão inerentes é uma conquista importante e que terá sinergias sobre a dinâmica de crescimento no futuro. A terceira consequência e talvez a mais nefasta diz respeito à saída de Portugal de um número significativo de jovens qualificados, o que limitará a criatividade,
inovação e melhoria da produtividade da economia, para além do impacto negativo sobre a dinâmica demográfica Outra dificuldade que se prolongará durante anos diz respeito ao aumento do desemprego estrutural. A destruição de empresas e de emprego afetou de forma mais expressiva uma parte da população menos qualificada e com uma idade mais avançada, que terá muita dificuldade em regressar ao mercado de trabalho, até face às características das empresas que estão a ser criadas, com maior grau de incorporação tecnológica. Políticas de requalificação terão de ser concebidas e implementadas para que este estrato da população não seja objeto de um ostracismo social permanente. Por fim, o agente económico Estado continuar a gastar mais 5% do que aquilo que consegue recolher em receitas fiscais, mesmo após o forte agravamento da carga fiscal. Portugal não pode ter empresas e famílias a reagirem de forma tão positiva às adversidades para verem o seu potencial de crescimento cerceado por um Estado que não se reforma, o que pode condenar ao insucesso os sinais positivos referidos anteriormente. Escrever sobre a economia portuguesa e sobre a sua evolução recente e futura é referenciar a forma estoica como famílias e empresas portuguesas têm superado o contexto.
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desporto
Uma nova alma para o “velhinho” Salgueiros Com o Sport Comércio Salgueiros na iminência da extinção judicial, um grupo de adeptos decidiu 102 anos depois fundar um novo clube para recuperar os valores do emblema centenário Texto SÉRGIO PIRES
O Sport Comércio e Salgueiros está próximo do final fiscal e jurídico. Na verdade, desde 2004, que o popular clube portuense está em queda livre. Deixou de ter equipa profissional, viu o Estádio Vidal Pinheiro transformado num terreno baldio sobre uma estação de metro, perdeu a oportunidade de construir um novo recinto em Arca d’ Água, bem como a sede e o bingo (agora concessionado) e nos últimos meses desactivou modalidades como o pólo aquático, que deu 17 títulos nacionais ao clube. Agora, que o Sport Comércio e Salgueiros está próximo de ver oficializada a sua extinção um grupo de sócios e adeptos decidiu criar um outro clube com uma alma renovada. Assim, nasceu simbolicamente a 8 de Dezembro, no cruzamento entre a Rua do Sport Comércio e Salgueiros com a Rua da Constituição, onde o clube original havia sido fundado 102 anos antes, o Salgueiros 1911. O novo clube é diferente
do Salgueiros 08, fundado em 2008 e que existe para a prática do futebol, a equipa principal milita no Campeonato Nacional de Seniores e os escalões de formação estão sob gestão do Mónaco. Porém, a ideia dos adeptos é fundir ambos os emblemas em breve, apesar de verem como essencial a criação deste novo clube. “O 08 tem sérios problemas directivos e económico-financeiros, pelo que vimos como essencial criar um clube de raiz para manter o ecletismo que o Salgueiros tem vindo a perder e fazer vingar uma série de princípios em que a maioria dos adeptos salgueiristas se revêem e que não têm sido cumpridos. Não iremos competir com o 08 e, no futuro, assim que forem resolvidos vários problemas, queremos que por fusão ou incorporação ambos os clubes se fundam porque queremos um Salgueiros uno”, explica ao GRANDE PORTO Gil Almeida, ex-dirigente do Salgueiros 08 e um dos dinamizadores do Salgueiros 1911.
A opinião é corroborada por Rui Cabral, outro adepto envolvido nesta refundação: “Queremos começar de uma forma e transparente e que este novo clube seja a matriz principal para um Salgueiros único. Muita gente que nos deu apoio não se revê no Salgueiros actual (não é por acaso que o Sport Comércio que vai extinguir-se tem cinco vezes mais associados que o 08).” Dois clubes o mesmo destino? Para que no futuro haja uma convergência
um sÍmbolo a recordar outros tempos Como forma de recuperar as origens e a mística do centenário clube, o novo Salgueiros 1911 foi fundado a 8 de Dezembro, 102 anos depois, no mesmo local que o original: no local onde existiu o candeeiro a petróleo 1047, no cruzamento da Rua da Constituição com a Rua do Sport Comércio e Salgueiros. Nessa altura, um grupo de jovens Joaninha (João da Silva Almeida), Medina, Aníbal, Jacinto, Antenor, entre outros, fundaram o Sport Grupo de Salgueiros, depois de assistirem a um FC Porto - Benfica no Cam-
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po da Rainha. Reuniram 2.800 réis ao aproveitarem a época natalícia para cantar as janeiras. Agora, o Salgueiros 1911 recupera essa história e também o símbolo decalcado do original, com ligeiras alterações. A principal tem que ver com a utilização de uma bola de futebol com a letra “S” e do preto, que se junta ao vermelho e branco tradicionais, numa alusão às cores do Sport Comércio, que em 1920 se fundiu ao Sport Porto e Salgueiros, que era a nova designação do Sport Grupo e Salgueiros.
desporto
Sócios querem destituir Carlos Abreu
entre os dois emblemas, os sócios fundadores do novo Salgueiros 1911 mantêm envolvido no processo o presidente da Mesa da Assembleia Geral do Salgueiros 08, António Maria, que ao GP reconhece que muitos salgueiristas se revêem mais facilmente neste novo clube. “Este movimento é importante para fazer regressar gente que tem andado afastada do clube. O 08 atravessa um período difícil é sempre muito importante ter esta gente a pensar o clube. Além disso, há que colmatar o ecletismo que o 08 não consegue abranger e apostar no ressurgimento das modalidades”, salienta António Maria, conferindo a intenção de “a fusão estar em cima da mesa, até porque não faz sentido existirem vários salgueiros”:”Até esse momento, estaremos congregados no projecto que já existe e no que está a nascer agora.” Faltam, porém, ainda alguns passos para que o Salgueiros 1911 seja de facto um clube de pleno direito, como salienta Jorge Viana, ex-presidente da comissão administrativa do Sport Comércio e Salgueiros, que antecedeu ao presidente actual Carlos Abreu: “Achámos importante fundar simbolicamente este novo clube na mesma data que o Sport Comércio e Salgueiros 102 anos antes. Agora, estamos a tratar
dos estatutos e da constituição como associação desportiva, além de reuniões com algumas entidades que ajudarão a viabilizar este novo clube que queremos um Salgueiros saudável, sem passivo e que sirva de matriz a um clube único, que em virtude da venda judicial mais tarde até poderá tomar a designação original de Sport Comércio e Salgueiros.” Por sua vez, o actual presidente do Salgueiros 08 Carlos Abreu não encontra “grande justificação” para a criação do Salgueiros 1911. “Existe liberdade de associação, mas não percebo que sustentabilidade económica irá ter este futuro clube que, tanto quanto sei, não tem receitas”, declarou Carlos Abreu ao GRANDE PORTO. Declarado insolvente em Março de 2013, facto confirmado por sentença de Maio de 2013, o Sport Comércio e Salgueiros está agora à espera de uma Assembleia Geral de Credores para a sua liquidação como clube. Para as largas dezenas de adeptos que estiveram na fundação do Salgueiros 1911, a 8 de Dezembro, a alma salgueirista não se extingue por decreto e tem tudo para ser reavivada através deste novo clube “que recupera os valores e princípios que durante mais de um século foram associados ao nome Salgueiros”.
À margem da criação do novo clube, vários associados do Salgueiros 08, clube cuja equipa principal milita no Campeonato Nacional de Seniores (antiga II Divisão Nacional), decidiram por unanimidade numa assembleia-geral no final de Novembro convocar nova reunião magna para dia 3 de Janeiro que tem como ponto único a destituição de Carlos Abreu, presidente desde 2005 do Sport Comércio e Salgueiros e também do 08. Segundo alguns dos sócios, além de ter quotas em atraso, o presidente não apresenta contas do bingo, cuja concessão tem sido a principal fonte de receita do clube, que já apresenta vários problemas de ordem financeira. “O Salgueiros 08 tem problemas graves, como atraso de pagamentos a atletas e fornecedores, mas também há graves erros de organização”, explica Rui Cabral ao GP. Contactado pelo GP, Carlos Abreu, que esteve ausente da última assembleiageral do Salgueiros 08, reconhece a existência de dívidas, mas refuta as acusações de ter quotas em atraso e sobre a falta de apresentação de registos sobre as receitas do bingo, salientando que está “de consciência tranquila”: “A situação do Salgueiros 08 não é financeiramente preocupante. Além disso, apresentaremos o nosso relatório e contas em Maio de 2014. Aliás, há eleições no próximo ano, pelo que nem sequer fará sentido esse pedido de destituição.”
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cultura
Teatro Nacional São João
2014 arranca com Shakespeare e Pessoa Um primeiro trimestre com encenações a partir de textos de grandes nomes é o que se espera do início da programação 2014 do Teatro Nacional São João (TNSJ), Teatro Carlos Alberto (TeCA) e Mosteiro de São Bento da Vitória. O programa arranca com o espectáculo “À Espera de Godot” (9-19 Janeiro no TNSJ), de Samuel Beckett, com direcção de Carlos Pimenta. Godot é uma personagem incógnita de que Beckett se serve para sublimar o que acontece enquanto esperamos por alguém que não chega. Aqui quem espera são “duas criaturas sem eira nem beira, saídas de um vaudeville ou do cinema mudo”, que se entretêm “com jogos e picardias, rindo e chorando, discutindo tudo: um par de botas, os Evangelhos, o suicídio…”. Segue-se “Terra do Desejo” (16-26 Janeiro), no Mosteiro de São Bento da Vitória, e “Actor Imperfeito” (22 Janeiro – 2 Fevereiro), no TeCA, um espectáculo de Luísa Costa Gomes concebido com recurso a sonetos de William Shakespeare. De 1 a 14 de Fevereiro, o Mosteiro de São Bento da Vitória recebe “Madalena”, que celebra e interroga a designada obra-prima do teatro português, “Frei Luís de Sousa”, uma tragédia de “gente honesta e temente a Deus” que Almeida Garrett escreveu para ver se seria ainda possível “excitar forte-
mente o terror e a piedade ao cadáver das nossas plateias”. Depois de Garret, um duplo regresso de Shakespeare. Primeiro no TNSJ, com “Coriolano” (6-16 Fevereiro). A encenação é de Nuno Cardoso e a interpretação conta com nomes como Albano Jerónimo, Afonso Santos e Ana Bustorff. A peça foi escrita em 16078, quando o autor se divertia a experimentar as zonas de fronteira dos géneros dramáticos – é uma tragédia ou uma comédia? Coriolano “é sucessivamente o bravo guerreiro e o político relutante, o banido traidor à pátria e o regressado herói piedoso, que morre às mãos dos conspiradores, uma morte chocante, isenta de retórica e sentimentalismo”. Beatriz Batarda assina a encenação do segundo regresso shakespeariano, desta feita no TeCA. “Como Queiram” (14-23 Fevereiro) tem na interpretação Bruno Nogueira, Carla Maciel, Leonor Salgueiro, Luísa Cruz, Marco Martins, Nuno Lopes, Romeu Costa, Rui Mendes, Sara Carinhas e Sérgio Praia. Trata-se de uma comédia romântica que tem na personagem de Rosalinda “a mais talentosa das heroínas de Shakespeare e uma alegre representante da liberdade possível na vida”. Beatriz Batarda constrói, com uma nova tradução do poeta Daniel Jonas, “um espetáculo despojado feito de pessoas, sobre uma tela em branco”.
Turismo Infinito
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Fernando Pessoa O Mosteiro de São Bento da Vitória acolhe a 28 de Fevereiro “Mitfahrzentrale – os descendentes”, com texto de Regina Guimarães e direção artística de Rosário Costa, e de 12 a 16 de Março “O Segundo Raio de Luz de Luar”, uma estreia absoluta com texto e direcção artística António M. Rodrigues. De 13 a 26 de Março sobe ao palco do TNSJ “Turismo Infinito”, de António M. Feijó, a partir de textos de Fernando Pessoa. Com o espectáculo de Ricardo Pais e António M. Feijó, regressam a este palco o guarda-livros Bernardo Soares e o seu visionário desassossego na Rua dos Douradores; a turbulência de Álvaro de Campos, engenheiro naval que ficou sem trabalho “depois de estar a Índia descoberta”; o Pessoa simbolista das intersecções, mas também aquele que melancolicamente se revela em “Un Soir à Lima” e o outro Fernando que se corresponde com Ofélia Queirós; Maria José, a corcunda que ama um serralheiro com toda a sua alma; e o bucólico Caeiro, o “mestre de toda a gente com capacidade para ter mestre”.
opinião
| SINAPSES & SINOPSES |
Do Ecossistema Cultural: o Porto como Laboratório, o Norte como Território LINO MIGUEL TEIXEIRA
A cultura situa-se, aqui e agora, numa conjuntura de paradoxo porque trágica e, simultaneamente, optimista. Trágica, porque estamos em 2013, na Europa do Sul, em Portugal e na 2ª cidade deste país, uma das que mais sofreu o impacto da depressão que nos habita e que nos pretende fixar numa luta pela sobrevivência material, onde qualquer discurso ou ação para além desta são vistos como excêntricos, senão contraproducentes dos esforços pátrios anunciados como disciplinadores da nação. Optimista, porque as pessoas persistem em procurar cultura (gratuita e paga, em espaço público e em sala, na net e na cidade); os autores e atores culturais parecem provar que quanto mais emergentes são mais frequente é a criação; e as instituições culturais sobrevivem enfrentando a dupla tenaz dos cortes no financiamento público e privado e da atração centralizadora que o sul de Alverca sobre ambos exerce. Não caberá à autarquia, agora que, 12 anos depois de 2001, voltou a ter o nome da “coisa” no seu executivo, ser o promotor, muito menos o curador ou a tutela
de toda a cultura que se cria e apresenta no Porto. Contudo, caberá certamente à autarquia duas funções que mais ninguém por ela pode assumir e que são essenciais para que a sobrevivência possa ser transformada em vivência de cidade. São elas as funções de ativação e ligação do ecossistema cultural da cidade. Ativação, porque é à autarquia que cabe, depois de um silêncio demasiado longo, voltar a dizer para que quer a cidade os equipamentos culturais que tutela - e que vão muito para além do Rivoli - e como enquadrará o que se convencionou chamar animação e que mais não é do que a convocação da cidade e dos cidadãos (e visitantes) para viver momentos de partilha abertos a todos os públicos, a todos aqueles que queiram ser público. Ligação, porque importa falar de cidade enquanto se fala de cultura e falar de cultura enquanto se fala de cidade. A cultura que acontece no Porto não é só da cidade, mas carac-
teriza a cidade e dá-lhe um rosto que vai para além e dá sentido ao património, seja este o do postal ilustrado, ou o que enquanto munícipes, profissionais ou cidadãos habitamos. Para operar esta ligação não é preciso que a cultura fale do Porto, muito menos que seja obrigada a “dizer bem” do Porto. Basta que o Porto, como comunidade organizada em forma de cidade, fale da cultura que o habita, enquanto também fala dos habitantes (ainda que temporários) que são os criadores e públicos que transformam autoria em ato de cultura. Assumindo-se, no ano da desgraça de 2014, como cidade de cultura (e não só de ícones materiais) o Porto pode ser o primeiro laboratório territorial com impacto metropolitano e regional onde se prove que a transição de uma política autárquica sem a palavra cultura para outra que a inscreve no seu léxico é um instrumento de construção de uma ideia diferenciadora para quem cá está e para quem cá vem, porque integra os seus diversos agentes - sejam eles de tutela nacional, municipal, privada ou livremente sem tutela – num mesmo ecossistema que se reconhece e interpela e, numa narrativa de cidade que adiciona rostos imateriais à cidade material já conhecida. É, no mesmo movimento, um instrumento precioso de emancipação da tenaz económica e centralista e de convocação de toda uma região para um destino comum que, como na Cultura sucede em relação aos criadores e criações, também excede largamente a soma aritmética das partes que a compõem.
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opinião
| ARTE |
O que é (a) Arte? NUNO MORGADO
Pode ser que a pergunta já tenha muitas respostas sábias. Confesso que tenho aceitado que certas formas de expressão são arte, sem me ter interessado em analisar o que a definirá como tal. Mas hoje, não me permito “contar” histórias (de arte?) sem que antes vá tão longe quanto possa na procura dos dados de identificação do que deva ser classificado como arte. Explicar o que é arte, ou o que é A arte, leva-me tendencialmente a não responder às perguntas que o tema inspira e a criar ainda mais e mais interrogações sobre ele. Mas temos de avançar. À medida que cérebro do animal --que haveria de evoluir para o que hoje somos-- foi ganhando capacidade de análise e começou a tentar a síntese, terá havido instintivamente uma vontade de exprimir sentimentos, sensações e reações, através de marcas, umas mais perenes que outras, que lhe servissem de escape, de libertações de energias? A arte terá nascido espontaneamente como forma de libertação antes de ser de comunicação? Terá o homem, ao ganhar capacidades de análise e de sintetizar, “educado” o se modo de libertação, dando-lhe progressivamente formas inteligentes, embora predominasse o que sentiam? E ao perceber-se da sua maior ou menor capacidade, transcrever o que via e o que recordava ter visto, duma forma que já passava pela sua capacidade de análise, de síntese e dos desenvolvimentos progressivos da memória? Isto é, não será
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que sem grandes desenvolvimentos da inteligência e com uma pequena cultura autoconstruída, o homem foi em primeiro lugar, um artista? Por que aquilo que de material fazia, embora em muitos casos tivesse a sua parte utilitária, era inspirado pela evolução da sua intelectualidade, sentimentos e sentidos? E seguindo este raciocínio, se lhe ia desenvolvendo o conceito de atos criativos mais “confortáveis”, mais perfeitos e mais belos? A arte como uma qualidade primária do ser humano? Assim, por este caminho por onde estou a ir, a arte acompanhou o homem desde sempre e mais, foi a primeira manifestação da sua condição como ser humano? E com a lógica que julgo estar a seguir, arte será tudo o que é manifestação de libertação, o resultado de análises e as sínteses dos desenvolvimentos das memórias? O encontro com a harmonia, com o cada vez mais bem aceite por ser esteticamente (podemos dizer agora desta forma!) “confortável”? Depois, a comunicação que lhe vinha de dentro, através das formas e dos sons? Despido o homem dos progressos, das Escolas divergentes, das animosidades,
fazendo-o, enfim, voltar a um Paraíso Terrestre, teria o homem “apenas” apurado, refinado, requintado a expressão artística que quando ele “nasceu” nasceu com ele? A explosão criativa do homem no mais longínquo dos tempos é igual à que teria um artista, hoje, sozinho e isolado? As “culturas”, as diferenças dos “climas”, seja lá o sentido que se queira dar a estas palavras, foram oferecendo possibilidades duma individualização das artes e dos que se passaram a chamar de artistas. Mas no mais profundo do artista de hoje estará a mesma irresistível vontade de explodir em atos de expressão interpretativa de sentimentos, de transmissão de memórias, de visões, numa comunicação em tudo semelhante à do homem que saltou da árvore e se ergue em duas patas e desenhou nas cavernas? PERGUNTO EU?
mesa ao vivo
e, naturalmente, aqueles que fazem parte do Mundo Português, “um espaço imaterial, sem necessidade de afirmação geográfica”.
Uma Mesa ao Vivo do Mundo Português AGAVI, Fundação AEP e a Fecomercio foram as promotoras do evento em que estiveram representados 63 expositores Mais de 20 especialistas - entre enólogos e Chefs de 4 países lusófonos. 63 expositores de produtos portugueses e brasileiros. 40 personalidades de diversos países do Mundo Português ligadas a áreas como o sector agro-alimentar, o turismo, a moda, a imprensa ou a economia. 25 restaurantes e centenas de participantes, escreveram a primeira edição da Mesa ao Vivo Portugal Brasil, a primeira internacionalização do evento brasileiro Mesa ao Vivo. Na sessão de abertura da I Convenção Internacional “O Valor Económico do Mundo Português”, realizada no Sheraton Porto nos dias 6 e 7 de Dezembro e integrada na primeira edição da Mesa ao Vivo Portugal Brasil, Luís Campos Ferreira, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, defendeu que as empresas
nacionais devem encarar os países “com relações históricas e afectivas” com Portugal como “apostas importantes” no que respeita ao crescimento e à internacionalização dos negócios. No entender do Secretário de Estado a aposta nos mercados lusófonos é verdadeiramente “estratégica” para Portugal. António de Souza-Cardoso, presidente da AGAVI (Associação para a Promoção da Gastronomia e Vinhos, Produtos Regionais e Biodiversidade), promotora do evento a par com a Fundação AEP e a Fecomercio, lembrou que a reabilitação do tecido produtivo português é fundamental para a afirmação da nossa economia e ainda que Portugal deveria “mudar de ares” no que à exportação diz respeito, procurando países em crescimento
Menus A Mesa ao Vivo, o maior evento de enogastronomia da América Latina, veio a Portugal para 2 dias de mostra gastronómica, onde participaram 63 expositores de vinho, produtos agro-alimentares e oferta turística, Showcookings, Workshops de Culinária, Provas de Vinho e quatro jantares absolutamente memoráveis. Nos dias 4, 5 e 6, os Chefs Miguel Castro e Silva, Pedro Nunes e Rui Paula, dos restaurantes DeCastro Gaia, Quarenta e 4 e DOP, respectivamente, convidaram os seus congéneres brasileiros Beto Pimentel, Bella Masano e Raphael Despirite para os seus restaurantes onde prepararam uma ementa de fusão de culturas, com os melhores e mais característicos ingredientes de cada país. A lotação dos restaurantes esteve esgotada em cada um dos dias de Mesas Magnas. No dia 7 de Dezembro, encerrando de forma magistral o evento, nove Chefs lusófonos prepararam o Menu Oficial do Mundo Português, onde não faltaram as Chamuças moçambicanas, a Moqueca Brasileira ou a Caldeirada portuguesa, nem o bolo de castanha de caju angolano, entre as nove interpretações gastronómicas apresentadas pelos Chefs para o jantar Mesa de Pátrias, que decorreu no Sheraton Porto. Ao jantar foram servidos alguns dos melhores vinhos portugueses, destacando-se a Abertura a fogo de um Vinho do Porto Vintage de 2011. Mesas pela cidade O sentimento luso-brasileiro envolveu ainda as cidades de Matosinhos, Porto e Vila Nova de Gaia, contagiando os 23 restaurantes que integraram a lista das Mesas pela Cidade, e que ofereceram, ao longo da semana, um receituário inspirado na gastronomia dos dois países com 50% de desconto. A Mesa ao Vivo Portugal Brasil foi produzido pela No More em parceria com o grupo editorial brasileiro 4 Capas, responsável pela revista brasileira Prazeres da Mesa.
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mesa ao vivo
Ponte de negócios entre Portugal e o Brasil Convenção “O valor económico do mundo português” inseriu-se na primeira edição da “Mesa ao vivo Portugal Brasil”
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Dar um novo impulso às relações empresariais entre Portugal e o Brasil, foi essa a razão da primeira convenção internacional “O valor económico do mundo português”, que se realizou no Sheraton Porto, inserida na primeira edição da “Mesa ao vivo Portugal Brasil”. A iniciativa foi promovida
mesa ao vivo
riais entre Portugal e o Brasil. Para Portugal, o mercado brasileiro representa um grande desafio com 200 milhões de consumidores. E para o Brasil, o mercado português é uma plataforma para chegar ao mercado europeu. E uma novidade é que a Federação de Comércio do Estado de São Paulo está a apoiar a internacionalização das empresas brasileiras, desde sempre muito focadas no mercado interno. O interesse em diversificar mercados prende-se com a necessidade de evitar choques económicos. Mas também serão apoiadas as empresas europeias que queiram entrar no Brasil, nomeadamente as empresas portuguesas. Para já, “a relação comercial entre Portugal e o Brasil é muito pequena. O Brasil é um mercado complicado, proteccionista e enquanto a Dilma lá estiver não vai mudar”, afirmou Marcos Nascimento da Associação Comercial de São Paulo. Por isso, aconselhou parcerias locais porque “é preciso conhecer os meandros do mercado e do país”. E rematou: “Vocês têm que fazer negócio olho no olho”.
pela Fundação AEP, Fecomercio e Associação para a Promoção da Gastronomia e Vinhos, Produtos Regionais e Biodiversidade (AGAVI), tendo resultado de uma parceria com a revista brasileira “Prazeres da Mesa”. Na convenção, um dos temas fortes prendeu-se com as relações empresa-
Mercado “incontornável” Do lado português, José Vital Morgado, representante da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), falou da importância do mercado brasileiro para Portugal, “um mercado incontornável” e que surge como o 10º destino das nossas exportações. “Temos hoje 1600 empresas portuguesas a exportar para o Brasil, exportamos mais serviços do que bens”. É que “o Brasil representa mais de 50% do tráfego aéreo da TAP”, lembrou José Vital Morgado. O presidente da CVRVV, Manuel Pinheiro, falou do crescimento que os vinhos verdes portugueses estão a registar no mercado brasileiro, onde “continuaremos a investir em promoção”. Exemplo disso é a campanha que a breve prazo será feira nas lojas Pão de Açúcar em todo o país. Em contrapartida, “o vinho brasileiro é completamente desconhecido em Portugal, o que não quer dizer que não estejam a fazer progressos e a tentar marcar a sua posição”, referiu.
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viajar
madeira diferentes, os ricos azulejos que cobrem as paredes e o papel de parede pintado à mão. Na sala chinesa, por exemplo, destacam-se artefactos e relíquias trazidos de terras longínquas e as paredes forradas a papel de arroz pintado. A unidade dispõe de luxuriantes jardins com características únicas e espécies raras, algumas trazidas das viagens pelo mundo dos Albuquerque. O Jardim Inglês, por exemplo, apresenta uma vasta variedade de espécies arbóreas centenárias, como as monumentais sequóias, enquanto o Jardim Francês, pensado ao estilo de Versalhes, é famoso pela variedade de camélias e pela flor de lótus, espécie trazida da Índia, que dá flor somente uma vez por ano durante 48 horas.
Casa da Ínsua, uma lição de história É um hotel de charme, mas as suas paredes guardam pedaços de uma história centenária, que se estende de Portugal ao Brasil. Um núcleo museológico preserva as memórias de outros tempos, enquadrado por uma paisagem luxuriante. É a primeira sugestão da GRANDE PORTO magazine, para uma escapadinha cá dentro.
Localizada em Penalva do Castelo, a cerca de 25 Km de Viseu, a Casa da Ínsua é um edifício solarengo de estilo barroco, que tem como imagem de marca a sua imponente fachada e os seus magníficos jardins. Convertida num hotel de charme 5 estrelas, pela Visabeira Turismo, a unidade convida a desfrutar de momentos de lazer e de descanso verdadeiramente inesquecíveis. A gastronomia, os vinhos, as actividades no campo e a História são quatro excelentes motivos para rumar sem medo a Penalva do Castelo. Edificado no final do século XVIII por Luís de Albuquerque, Governador de Cuibá e Mato Grosso, no Brasil, o solar Casa da Ínsua um espaço propício a momentos de relaxamento, muitos dos quais em contac-
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to com a natureza e onde os hóspedes podem integrar as rotinas diárias da casa, como a pastorícia ou as atividades da queijaria e doçaria, em função da época do ano. Com 30 quartos e cinco apartamentos, a Casa da Ínsua respira história e tradição. Nas áreas comuns é possível contemplar e viver um pouco da história da família Albuquerque, através dos objectos e das peças decorativas, provenientes dos mais variados cantos do mundo, e das funcionalidades progressistas que na época foram instaladas no solar e que permitiram que a quinta fosse autossuficiente. Para o fascínio das imponentes divisões da casa, contribuem as técnicas avançadas de decoração, entre as quais os tectos de gesso pintados a imitar na perfeição a madeira, as imponentes lareiras, soalhos com 14 tipos de
Actividades no campo Mediante marcação prévia, e em função da época do ano, os clientes da Casa da ìnsua têm a possibilidade de participar nas actividades da quinta. Entre Setembro e Outubro, a sugestão recai sobre o programa de Vindimas que permite uma experiência completa: desde a apanha da uva, ao seu transporte para a adega, a pisa nos antigos lagares de granito e finalmente a prova. A tradição vinícola da Casa da Ínsua remonta ao século XVII, tendo ao longo dos séculos deixado uma marca perene na produção da região, fruto de um processo de constante inovação e apuro da qualidade dos vinhos. Do seu porfólio de vinhos constam sucessivos prémios e medalhas em concursos internacionais, tendo o vinho Branco Casa da Ínsua Grande Reserva 2012 sido recentemente reconhecido como um Grande Reserva, o primeiro nesta categoria na Região do Dão. De Novembro a Junho é possível participar na confecção dos queijos Casa da Ín-
viajar
sua (queijo Serra da Estrela e requeijão), sendo que os mais entusiastas podem começar a actividade a jusante, acompanhando o pastor nas suas rotinas diárias que começam às seis da manhã com a ordenha das cabras de raça bordalesa. Segue-se o transporte do leite para a queijaria, onde decorrem os workshops, e depois é possível seguir o pastor até às pastagens. A unidade oferece também programas de jardinagem, que permitem não só aprender ou aprofundar conhecimentos no tratamento das plantas, como aperfeiçoar as técnicas desta arte de tratar os jardins. Sachar canteiros de flores, plantar, regar, cortar sebes ou aprofundar conhecimentos no jardim dos aromas são algumas das opções para quem elege a Casa da Ínsua para homenagear os sentidos. Para quem aprecia outras actividades, a unidade propõe workshops de compotas, com frutos cultivados na quinta: Maçãs Bravo Esmolfe, produto da região, abóbora, morango, pêra e tomate. Oferta gastronómica Num ambiente de grande beleza e requinte, onde história e fantasia se unem para provocar as sensações mais inesperadas, a experiência gastronómica ganha uma nova dimensão. No Restaurante Casa da Ínsua os clientes podem experimentar as mais variadas iguarias e os sabores característicos da região, muitos dos quais cultivados na própria quinta, numa oferta gastronómica que aposta em pratos típicos nacionais com um toque gourmet inigualável. O núcleo museológico Composto por unidades situadas em dependências da Casa da Ínsua e outras no perímetro da propriedade envolvente, o
núcleo museológico assenta não só em antigas áreas de produção rigorosamente recuperadas, mas também em documentação única associada ao historial da casa e aos seus proprietários. A viagem pela história deste espaço singular começa num antigo armazém, onde estão três depósitos de cereais inteiramente reabilitados, que serve de Recepção aos visitantes, local onde funciona também uma loja que disponibiliza produtos produzidos na Casa da Ínsua. O acesso a esta área é feito através do edifício das Adegas, restaurado e devolvido à sua função primitiva. O passo seguinte é a Sala da Família, situada no espaço onde funcionava o antigo lagar, albergando diversas áreas irmanadas pelo percurso de Luís de Albuquerque por Terras de Vera Cruz. Artefactos, escritos e mapas relativos à sua viagem e estadia no Brasil, assim como os inevitáveis reflexos desta na organização e na história da casa, ajudam-nos a reconstituir um importante trajecto político, social, cultural, científico e filosófico. Já na Sala Braziliana, encontra-se a área exclusivamente reservada a mapas e ilustrações originais do século XVIII, agregando um acervo gráfico de inigualável importância cedido pela família Albuquerque, e na recuperação do qual o Museu Nacional de Arte Antiga desempenhou um papel
decisivo. Os mapas ali reunidos permitem traçar um quadro alargado da organização geopolítica da altura, graças a um profuso e rigoroso trabalho topográfico que abrange rios, construções e vegetação. Aqui, o visitante terá acesso privilegiado a elementos representativos da paisagem tropical de há três séculos atrás, através de uma grande variedade de espécies animais e vegetais detalhadamente ilustradas. Uma parte desta sala é totalmente dedicada ao arquivo do espólio não exposto, devidamente acondicionado, tal a quantidade e diversidade de temáticas reunidas. Na Serralharia, é possível visitar outra antiga área produtiva, com toda a maquinaria e instrumentos restituídos ao seu estado original, recapturando o ambiente de outros tempos até ao pormenor. A recuperação deste espaço permitiu ainda o retomar da sua actividade original, constituindo assim mais um motivo de atracção para os visitantes. Finalmente, a Fábrica do Gelo, situada no perímetro da propriedade e onde é possível observar as técnicas utilizadas para a conservação e produção de gelo no século XVIII. Com efeito, há três séculos a Casa da Ínsua produzia tudo o que uma casa senhorial necessitava para uso próprio, incluindo serviços de serralharia e carpintaria, produção de electricidade, fabrico de pão e até gelo.
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intervalo
| CONTO |
António FRANCISCO JOSÉ ALVES
O dia amanheceu igual a tantos outros, igual na preguiça matinal, no primeiro café com sabor a torrada, no segundo com sabor a café, nas notícias requentadas de sempre, sempre iguais, sempre diferentes, incapazes, em qualquer dos casos, de provocar um esgar de espanto, igual no sol de verão que viera para ficar, igual no passeio à beira-mar, nos ‘bons dias’ a vultos vagamente conhecidos, quase presentes, ainda assim ausentes, só de passagem, igual na brisa de norte, na espuma das ondas a morrer na praia, onde pingos de cor apareciam pintalgando a monotonia do areal. Ausente, o mundo passava-lhe ao lado enquanto cada passo seguia outro, sem plano, sem futuro, no passeio matinal não percebeu que um homem parava depois de se cruzar com ele no passadiço da Foz por altura do Homem do Leme, que inverteu a marcha, lhe tocou no ombro, ausente, teve de reprimir um esgar de susto quando repontou: “Sim?”, “Sou o António. Estudamos juntos no Liceu. Lembras-te?”, “Confesso que não. Absolutamente nada. Tem a certeza que não há engano?”, “Engano? Claro que não.” Disse, enquanto mostrava uma fotografia a preto e branco com a figura de dois garotos num dia de neve, meio desbotada, mostrava-o com doze, treze anos. “Posso?” Pegou na imagem, olhou-a, esperando que a memória lhe trouxesse mais qualquer coisa para além daquela sensação vaga de confusão e nevoeiro. Lentamente as imagens voltaram, era o Toni, com-
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panheiro de carteira até ao quinto ano. O seu melhor amigo até ter desaparecido nas férias de verão. “Venham de lá esses ossos!” Num abraço apertado viajaram quarenta anos no tempo até serem, de novo, dois adolescentes. “Foste para Beja, não foste? Nunca mais se soube de ti, amigo de um raio, procurei-te nas faculdades todas de engenharia, foi isso que fizeste? Tornaste-te engenheiro?” “As coisas não correram de feição, meu pai morreu, minha mãe morreu…” “Diabo, há pouco, presumo.” “Não morreram naquelas férias em que deveríamos ir para Beja, acidente de viação, sem apoios, andei por aí, fiz isto e aquilo, mas estudos nunca mais.” “Grande história, temos que por os pés de baixo da mesa para me contares tudo direitinho, almoçamos? Hoje. Sei de uns petiscos de dar vida a um morto!” “Eh, Eh, Eh” Riu António, “Bem preciso, mas tenho que dar umas voltas antes dos comes, onde nos encontramos?” As questões de local e hora foram acordadas, mais um abraço apertado e sentido e ala que se faz tarde, cada um para o seu lado, tudo voltava ao normal. Tudo voltaria ao normal não fosse um amigo o ter abordado: “Ouve lá passaste-te dos carretos? Agora dás abraços a ti próprio no
meio da rua?” “Quê?” “O que te estou a dizer, ia ter contigo para tomarmos um café quando sem mais estas nem aquelas, dás um abraço a ti próprio, ficas a falar sozinho, dás outro abraço e segues como se nada se tivesse passado.” “Bebeste demais ontem. Ainda não te passou. Estive a falar com o António, um amigo do liceu que não via há anos, combinei um almoço com ele para as
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duas da tarde, tu é que te estás a passar.” Dirigiram-se para o café mais perto, tomaram os terceiros cafés do dia, almoçaram mas de António nem sombra. “Mau, não estou a gostar nada disto. Ele esteve lá. Eu vi-o, vi uma fotografia minha quando era puto, na neve, lá em cima na minha terra, senti-lhe as carnes nos abraços que lhe dei.” “Vai ao médico, olha que isso de alucinar pode ser grave. “Mas qual alucinar qual quê, o único alucinado aqui és tu! ” Levantou-se, pagou a conta e da porta atirou: “Eu vou esclarecer o assunto, podes crer.” Riu enquanto pensava, outro que virou o capacete. De telemóvel na mão, telefonou para todos os colegas de liceu que ainda faziam parte da sua lista de amigos, nenhum sabia nada do António, ninguém tinha voltado a ouvir falar dele, nem por acaso nem nas reuniões dos vinte e cinco, trinta e trinta e cinco anos após a conclusão do curso. Complicado! Houve quem lhe lembrasse, se houve um acidente com dois mortos podes ver o que aconteceu, talvez por aí consigas ir lá. E foi. Foi ao arquivo do Jornal de Notícias, encontrou o acidente. Choque frontal, um Opel com um camião carregado de pedra, morte imediata dos passageiros da frente do carro ligeiro, um rapaz, aparentando catorze anos, provável filho do casal ficou em coma, tendo sido internado primeiro no hospital da área, foi transferido no dia seguinte para o Hospital de S. João do Porto. Durante duas semanas as notícias acompanharam, telegraficamente, a saúde do ferido, para desaparecer do interesse público para sempre No arquivo do hospital não havia notícia nem da mor-
te nem da alta do António. O funcionário, corria as gavetas, as pastas, as prateleiras, coçava a cabeça, ia, vinha, abria a boca para a fechar, enfim, empalidecido disse: “Oficialmente ainda lá está!” “Como? Foi há quarenta anos. Não pode lá estar.” “Bem temos casos muito antigos, mas assim tanto acho que não, a ser verdade estaria lá quase desde a fundação do serviço.” “Então? Em que ficamos?” “Vou telefonar.” Estava. Era o doente mais antigo do hospital. Tinha ameaçado acordar várias vezes mas ainda continuava internado, ventilado, lavado e envelhecido tanto quanto o tempo a isso obrigava. Inquieto esperou pela hora da visita, com a dor que aparecera no dia anterior e roer-lhe as entranhas. Gorro, máscara, bata, e coberturas nos sapatos entrou, orientado pela enfermeira de serviço, evitando olhar para os outros doentes calados ou gementes, ficou cara a cara com a cara que vira no dia anterior perto do Homem do Leme. Desta vez António estava imóvel, calado e seráfico. Compreendia-se agora a sua falta ao almoço, percebia-se menos os abraços e o diálogo. Cambaleou, aproveitando as costas de um cadeira para se apoiar. “Sente-se”, disse a enfermeira com ar maternal, “está a faltar-lhe o chão.” “De facto. Sabe? Ele convidou-me para almoçar ontem.” A enfermeira pegou-lhe na mão, levou-o à porta de saída, com um pequeno encontrão pô-lo fora da sala de cuidados intensivos. Olhou-a confuso, entre o indignado e o agradecido, olhar que a mulher percebeu, apressou a esclarecer: “De vez em quando aprece cá um homem ou uma mulher com essa sua história, que eram amigos, namoradas, primos, primas, vão vindo, visitam-no calados, cada vez mais anémicos, com pior aspeto, na justa medida que o nosso António remoça e melhora. Vá-se embora, desapareça, não pense mais nele, vá, não perca tempo.” Como um autómato foi, limpou a história da memória, a dor que lhe aparecera nas costas durante a noite esmoreceu. De manhã tudo voltara ao normal.
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roteiros
Exposições
Música
Concerto de Ano Novo
Até 21 Dezembro
Ensaio sobre o comprimento do silêncio. Nepal, a verticalidade do Silêncio
Palacete Viscondes de Balsemão, Porto 04 Janeiro 21h00 (início)
Fotografia. De Pepe Brix Casa das Artes de Famalicão Até 22 Dezembro
A Cultureprint Crl, cooperativa cultural gestora e produtora do projeto Bairro dos Livros, em parceria com a CMP, realizará um Concerto de Ano Novo, com o programa do CD recentemente editado por iniciativa do Prof. Miguel Leite e com o Alto Patrocínio do Magnífico Reitor da Universidade do Minho, interpretado pelo Pianista Miguel Campinho, contendo a integral das Sonatas e Sonatinas para Piano de Eurico Tomás de Lima, distinto Pianista e Compositor português que viveu entre os anos de 1908 e 1989 na área metropolitana do Porto.
Japão 1997
Fotografia. De António Júlio Duarte Palácio Vila Flor, Guimarães 1€-2€ Até 30 Dezembro
Ciclo de Exposições Documentais Temáticas Leituras sobre…
Biblioteca Municipal Ferreira de Castro, Oliveira de Azeméis Horário de funcionamento da BMFC Até 30 Dezembro
Arqueologia na Maia: Ver, Tocar e Sentir a História
Teatro 21 Dezembro
Museu de História e Etnologia da Terra da Maia, Maia Terça a domingo, 09h00 – 13h00 / 14h00 – 18h00 Até 30 Dezembro
Sofia Escobar Casa da Criatividade, S. João da Madeira 21h30 28 Dezembro
Concerto de Natal | Ano Novo Noite Lírica de Natal com o Tenor Solista Nuno Montealto “Sonata” Igreja Matriz de Santiago de Bougado, Trofa (a confirmar). 21h30 28 Dezembro
Concerto de Piano de Natal Palacete Viscondes de Balsemão, Porto 21h00 (início) 31 Dezembro
FOTO AO BAIXO CORO_MENINOS TROFA
Concerto “À Minha Avó” Concerto com a participação do Coro dos Meninos Cantores do Município da Trofa Igreja Paroquial de Guidões, Trofa 14h30 08 Fevereiro
Recitais de Violino e Piano, pelo DRYADS DUO - Carla Santos e Saul Picado Palacete Viscondes de Balsemão, Porto 16h00 - 18h00
24 horas de teatro Casa da Criatividade, S. João da Madeira 07 a 08 Fevereiro Das 22h00 de 7 Fevereiro até às 24h00 de 8 Fevereiro
quando a um grupo de 6 escritores, 6 encenadores, 30 atores profissionais e amadores são dadas apenas 24 horas para criar, produzir e ensaiar seis peças de teatro, culminando com a sua apresentação a um auditório cheio de espetadores, o resultado é surpreendente.
Museu de Santa Maria de Lamas 9h30 – 12h30 ou 14h00 – 17h30 Até 30 Dezembro
Exposição Fotográfica “Oito e Oitenta” de Rui Dias
Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo, S. João da Madeira Até 31 Dezembro
“Artesanato de Natal” Casa da Juventude de Rio Tinto Até 31 Dezembro
“De Passagem…pelo Ensino Especial” Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo Até 31 Dezembro
“Saídos do Pó”
Biblioteca Municipal de Gondomar Até 31 Dezembro
XV PortoCartoon
Caricatura. Colectiva Museu Nacional da Imprensa, Porto Até 31 Dezembro
Ciclo de Joalharia Contemporânea em contexto de Joalharia Antiga Até 22 Dezembro
O Melhor de La Féria
Rivoli Teatro Municipal - Grande Auditório, Porto Quintas a sábados às 21h30h, sábados e domingos às 17h00 Até 22 Dezembro
Peter Pan DEZ’ 13 56
Cortiça: Estórias da História
Rivoli Teatro Municipal - Grande Auditório, Porto Sábados e domingos às 15h00
Casa Museu Marta Ortigão Sampaio, Porto 10h00 – 17h00, terça a domingo
roteiros
Até 31 Dezembro
Eduardo Batarda
Galeria 111, Porto Terça a sexta 10h00 – 12h30 e 15h00 – 19h30 | Segundas e sábados 15h00 – 19h30 | Encerra: Domingos e feriados Até 31 Dezembro
Manuel Almeida - Obra
Museu do Vinho do Porto Terça-feira a sábado das 10h00 às 17h30h | Domingo das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30. Encerra à segundafeira e feriados. Até 31 Dezembro
Lições da Escuridão
Artes plásticas. Colectiva Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Guimarães 3€-4€ (gratuito ao domingo entre as 10h00 e as 14h00) Até 31 Dezembro
Pague Leve
Colectiva/venda de arte Galeria Vantag, Porto Até 31 Dezembro
Ruralidade Maiata Arquitectura rural Quinta da Caverneira, Maia Até 31 Dezembro
Vida, pensamento e luta de Álvaro Cunhal
Documental Casa das Artes de Arcos de Valdevez Até 31 Dezembro
Adália Alberto
Esculturas Hotel Casa da Calçada Relais & Châteaux, Amarante Até 31 Dezembro
A arte do estuque
Documental Palacete Viscondes de Balsemão, Porto Até 31 Dezembro
Thumbnails e Modelos Pintura. De Eduardo Batarda Galeria 111, Porto
O Segredo das Nuvens
Até 31 Dezembro
Produção de brinquedos tradicionais em S. Mamede do Coronado
Museu das Marionetas do Porto, Porto Até 25 Janeiro 11h00 – 18h00, segundas a sábados
Casa da Cultura da Trofa Segunda a sábado, 10h00 – 18h00
A exposição O Segredo das Nuvens apresenta marionetas, cenários e objetos de seis peças encenadas por João Paulo Seara Cardoso (1956-2010), que ocupam dois pisos do Museu e MIM, exposição de Júlio Vanzeler a partir da experiência deste artista enquanto colaborador habitual do Teatro de Marionetas do Porto. As obras selecionadas habitam o espaço, criam uma nova possibilidade de existir fora do espaço teatral.
Até 31 Dezembro
Grande Prémio de Macau - Macau Grand Prix
Museu dos Transportes e Comunicações, Porto Terça a sexta 10h00 às 13h00 (entrada até 12h); 14h às 18h (entrada até 17h) | sábados, domingos e feriados 15h às 19h (entrada até 18h) Até 2 Janeiro 2014
Concurso de Presépios 2013
Artes plásticas. Colectiva Biblioteca Municipal Ferreira de Castro, Oliveira de Azeméis Até 03 Janeiro
Projeto Diver.Cidade II
Projeto fotográfico desenvolvido com a comunidade Turca instalada no Porto Shopping Cidade do Porto 10h00 – 23h00
Até 05 Janeiro
Até 04 Janeiro
Artes plásticas. Colectiva Casa do Infante, Porto
“Anima Sensualis” de Paulo Gaspar Ferreira e José Rodrigues
Até 07 Janeiro
Exposição de presépios
Até 05 Janeiro
Fábrica Social/Fundação Escultor José Rodrigues, Porto Terça a sábado 10h00 – 13h00 e das 14h00 – 18h00
2 view | GABRIEL COLAÇO | GILBERTO COLAÇO
Até 04 Janeiro
Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende, Gondomar
“Gesto e Forma” de Manuela Mendes da Silva
Até 05 Janeiro
Fábrica Social/Fundação Escultor José Rodrigues, Porto Terças a sábados, 10h00 – 13h00 e das 14h00 – 18h00
“Presépio Artesanal” Biblioteca Municipal de Gondomar Até 11 Janeiro 2014
Rogério Timóteo e Mar Yela Escultura e fotografia Aparte - Galeria de Arte, Porto Até 19 Janeiro 2014
AEROGRAMA | MANUEL BOTELHO Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende, Gondomar
João Onofre Objectos sonoros Solar - Galeria de Arte Cinemática, Vila do Conde
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roteiros
Até 19 Janeiro
BES REVELAÇÃO 2013
Museu de Arte Contemporânea de Serralves
Até 30 Março 2014
A Torre dos Clérigos e os seus fotógrafos Fotografia Centro Português de Fotografia, Porto
04 a 25 Janeiro
Fotografia em Alumínio de Luciano Duarte Casa da Cultura da Trofa Segunda a sábado, 9h00 – 18h30 Até 26 Janeiro
Fugindo da Sombra da Montanha - exposição de pintura de Mário Vitória Centro de Memória de Vila do Conde, Vila do Conde Terça a sexta, 10h00 – 18h00
Até 31 Março 2014
Ano da Fé: pedras que falam
Arte sacra. O Mosteiro de S. Salvador de Moreira Museu de História e Etnologia da Terra da Maia Até 13 Maio 2014
Contas de Rezar
Instrumentos de oração e meditação. De Júlia Lourenço Convento Sto. António dos Capuchos, Guimarães Até 2015
Até 26 de Janeiro
Exposição do artista brasileiro Cildo Meireles (Rio de Janeiro, 1948) Serralves, Porto
Esposende, o Cávado e as memórias Exposição documental Museu Municipal de Esposende
Até 26 Janeiro
“Neste Universo:” Universidade de Vigo no Centro de Memória Centro de Memória de Vila do Conde Terça a domingo, 10h00 – 18h00
Dança
Até 30 Janeiro 2014
TEMPTATION
Bordados de Castelo Branco Artes plásticas Museu da Chapelaria, S. João da Madeira Até 31 Janeiro
“Geishas” – Uma Tradição Milenar no Japão
Casa Museu Guerra Junqueiro, Porto Segunda a sábado, 10h00 – 17h30 | Domingo, 10h00 – 12h30 e 14h00 – 17h30 xxxxxxxxxxxx
Até 9 Fevereiro 2014
Ahlam Shibli: Phantom Home Fotografia Serralves, Porto
Até 23 Fevereiro 2014
Escultura Abstracta na Coleção da Fundação de Serralves, nas décadas de 1960-1970 Museu Municipal Abade Pedrosa, Santo Tirso Até 23 Fevereiro
Os criadores nacionais e os seus chapéus Museu da Chapelaria, S. João da Madeira Até 23 Fevereiro 2014
Habitar(s)
Obras das coleções da Fundação de Serralves e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Porto 08 a 28 Fevereiro
Cerâmica de Nelson Oliveira Casa da Cultura da Trofa Segunda a sábado, 9h00 – 18h30 Até 2 Março 2014
Antologia.Gervasio Sánchez Fotografia Centro Português de Fotografia, Porto Até 4 Março 2014
Artistas brasileiros e poesia concreta
Acervo de Publicações e Livros de Artista da Fundação Serralves, Porto
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Centro Cultural - Macieira de Cambra, Vale de Cambra 27 a 28 Dezembro 21h30 - Bilhetes à venda junto do Grupo de Dança do Centro Social e Paroquial de S. Pedro de Castelões 3.50€
O espetáculo decorrerá no Centro Cultural de Macieira de Cambra, com organização do Centro Social Paroquial de S. Pedro de Castelões. O evento promete ser um ótimo espetáculo de dança e decorrerá nos dias 27 e 28 de Dezembro de 2013 pelas 21h00. Os bilhetes poderão ser adquiridos através do email: centro_social@hotmail. com… ou no próprio dia no local do evento.
Dança
Tarzan, o musical Teatro Sá da Bandeira, Porto Sáb., 16h00 Dom., 11h30 7,5€-20€ Até 31 Dezembro
Após anos de apresentação na Broadway e na Europa, TARZAN O MUSICAL finalmente estreia no Teatro Sá da Bandeira no Porto pela mão de Francisco Santos e a sua equipa habitual. A história do homem da selva, criada por Edgar Rice Burroughs é agora apresentada em musical, por um elenco com mais de 20 actores, cantores, bailarinos e acrobatas. Com efeitos especiais de cortar a respiração, cenários fantásticos, voos e acrobacias, iremos viver intensamente as aventuras de Tarzan na selva Africana com os seus amigos animais entre os quais a inseparável Cheeta! TARZAN é por isso um musical diferente, que irá surpreender o público mais exigente!
Até 27 Dezembro
A OFICINA DO PAI NATAL
Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Porto 25 às 15h00 e 26 e 27 às 11h00 De 18 Dezembro a 03 Janeiro
Férias de Natal 2013
Museu dos Transportes e Comunicações, Porto Terça a sexta, 10h00 – 13h00 e 14h00 – 18h00 | Sábados, domingos e feriados, 15h00 – 19h00
17 a 22 Dezembro
Dancem Todos Inverno
Mostra de trabalhos de escolas de dança do Concelho, nomeadamente “ADN”; “ADM”, “Criarte”, “Dspace”; “Escola de Ballet de Leça da Palmeira” e “Just Dance” Cineteatro Constantino Nery, Matosinhos Dia 17 a 21 às 21h30, dia 22 às 16h 14 Fevereiro
Chá dançante
Auditório da Junta de S. Martinho de Bougado, Trofa Participação Escola Passos de Dança 21h00
Até 29 Dezembro
Terra dos Sonhos em Santa Maria da Feira
Quinta do Castelo de Santa Maria da Feira Qua. qui. e sex., 13h00 às 18h00 Sáb. e dom., 14h00 às 20h00 5€-6€ (grátis até 2 anos; pulseira: 8€; 10€ a partir de 2 de Dezembro) Até 29 Dezembro
O velho e a sua linda nogueira
Texto de Álvaro Magalhães. Pelo Pé de Vento Teatro da Vilarinha, Porto Sáb. e dom., 16h00 Sessões especiais para público escolar (ter. a sex., 11h00 e 15h00, até 10 Janeiro 2014) 3,4€-10€
roteiros
Até 31 Dezembro
Até 31 Dezembro
Aprender com Peso(s) e Medida(s)
Escultura Pública Contemporânea
Museu Convento dos Lóios, Santa Maria da Feira De terça a sexta, 9:h30 – 16h45
Santo Tirso Até 31 Dezembro
Até 31 Dezembro
Gabinete de Arqueólogo Museu Convento dos Lóios, Santa Maria da Feira De terça a sexta, 9:h30 – 16h45 Até 31 Dezembro
Memórias Cerâmicas
Esculturas no Parque Parque de Serralves, Porto Terça a Domingo, 10h00 - 19h00 Até 31 Dezembro
Jogos e brincadeiras de outros tempos
Museu Convento dos Lóios, Santa Maria da Feira De terça a sexta, 9:h30 – 16h45
Museu Romântico da Quinta da Macieirinha, Porto Terça a sexta, 10h00 – 12h00 / 14h00 – 17h00
Até 31 Dezembro
Até 31 Dezembro
Em busca do ouro do Barão - Pedipaper Museu do Vinho do Porto Terça a sexta feira das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 16h30
Casa das Pedras Parideiras Geoparque Arouca Todos os dias. Visitas para grupos por marcação prévia Até 31 Dezembro
15º PortoCartoon 2014
Tempo Livre
Votações para Prémio do Público do PortoCartoon 2013 em www.cartoonvirtualmuseum.org. Até 09 Janeiro
28 Dezembro
Workshop de Chocolate – Nível III Casa do Infante, Porto 9h30 – 13h00 31 Dezembro a 01 Janeiro
Passagem de Ano 2013/2014 Multiusos Gondomar “Coração de Ouro”, Gondomar 22h00 Até 28 Dezembro
Espinho Cidade Encantada 2013 Praça Dr. José Salvador – Espinho 10h00 – 19h00
Comunidade de Leitores com Renato Roque Biblioteca Municipal Almeida Garrett, | Porto 21h00 De 1 Janeiro a 15 Fevereiro
Ilustrado por Carlos J. Campos Casa da Cultura da Trofa Segunda a sábado 9h00 -18h30 Até 27 Fevereiro
O estado das coisas / As coisas do estado Museu de Arte Contemporânea de Serralves – Auditório, Porto 21h30 – 00h00
30 Dezembro a 03 Janeiro
VEM DANÇAR COMIGO! Biblioteca Municipal Almeida Garrett – Auditório, Porto Terça a quinta, 10h00 – 17h30
Até 31 Dezembro (domingos)
COM FOTO BAIXO O LIVRO DA SELVA
O Livro da Selva A partir do conto original de Rudyard Kipling. De Francisco Santos Teatro Sá da Bandeira, Porto Sessões especiais para escolas: seg. a sex., 10h30 e 15h00 7,5€-12,5€ (bilhete família de 4 ou mais pessoas - desconto de 20 por cento) Até 31 Dezembro
O Azulejo: história(s) aos quadradinhos Museu Convento dos Lóios, Santa Maria da Feira De terça a sexta, 9:h30 – 16h45 Até 31 Dezembro
Uma Aventura na Cortiça Museu Convento dos Lóios, Santa Maria da Feira De terça a sexta, 9:h30 – 16h45 Até 31 Dezembro
Faz de conta que somos de papel Arquivo Municipal de Oliveira de Azeméis Terças-feiras
Concurso ‘Marionetas e outras formas de Animar’ Câmara Municipal de Espinho Até 24 Janeiro
O Festival Mar-Marionetas vai voltar para animar Espinho! A Câmara Municipal de Espinho pretende, através do “Concurso de Marionetas e outras formas de Animar”, criar uma plataforma de divulgação e promoção da produção artística de marionetas e outras figuras cénicas manipuláveis, bem como de reconhecimento dos respetivos criadores. O concurso pretende a criação de marionetas, bem como outros objetos cénicos, funcionais e duradouros, que sejam passíveis de serem manipulados em contexto de espetáculo, cujo tema, técnicas e materiais utilizados são livres e ficarão completamente ao critério dos participantes.
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eventos
FOtoS: SIMON DEINER
Mozambique Fashion Week
Moda Portuguesa desfila em Maputo No passado dia 6 de Dezembro quatro estilistas portugueses desfilaram na passerelle da Mozambique Fashion Week, aquele que é, para muitos, o maior evento de moda em África Katty Xiomara, Luís Buchinho, Júlio Torcato e Micaela Oliveira foram os quatro estilistas portugueses que partiram para África com o objectivo de deslumbrar
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na passerelle do Mozambique Fashion Week. Os desfile das colecções para a próxima estação decorreu no Hotel Polana num
ambiente de luxo e criatividade a que ninguém ficou indiferente. As propostas dos portugueses demonstram a versatilidade da criação Made in Portugal e revelaram o melhor que cada um dos criadores tem para oferecer na estação que se avizinha. A presença dos estilistas portugueses no evento que pretende colocar Moçambique nos roteiros da moda internacional foi mais uma das iniciativa levadas a cabo em 2013 pela Associação Selectiva Moda, com o apoio dos fundos comunitários (Qren), no âmbito do projecto From Portugal. Ao longo deste ano a associação contou com um programa de acções internacionais em 35 mercados distintos.
eventos
POR MANUEL SERRÃO
XV FÓRUM DA INDÚSTRIA TÊXTIL ABORDA EMPRESAS FAMILIARES
Gerir com sucesso a sucessÃo É a mais importante conferência do sector têxtil e de vestuário português e assinalou este ano a sua 15ª edição. No XV Fórum da Indústria Têxtil, debateu-se o pertinente tema da sucessão nas empresas familiares, mas também foi feita a tradicional prospecção do futuro para o sector. O tema da 15ª edição do Fórum da Indústria Têxtil, que se realizou no passado dia 27 de Novembro no auditório do CITEVE, em Vila Nova de Famalicão, foi a “Sucessão nas empresas familiares: mudar de geração, preservar o sucesso”. Este é um tema que gera preocupação ao longo dos tempos e os números provam exactamente isso. Luís Valente de Oliveira, da Fundação AEP lembrou que “50% das empresas familiares não sobrevivem à sua geração” e que apenas “20% chegam à terceira geração”. Formar convenientemente os sucessores de forma a que garantir o sucesso foi a opinião generalizada dos oradores que se debruçaram sobre o tema.
No que respeita ao estado do sector e à sua evolução, fez-se notar o aumento da procura dos mercados externos, traduzido num incremento das exportações de 2,4% em 2013, sendo particularmente relevante o crescimento dos mercados extra-União Europeia que se têm revelado, nas palavras de Manuel Teixeira, director geral do CENIT, “uma boa alternativa aos mercados tradicionais”. No discurso de encerramento, o presidente da ATP e do Fórum da Indústria Têxtil, João Costa, sublinhou o bom momento que o sector vive, assinalando o crescimento das exportações, que deverão atingir os 4,3 mil milhões de euros em 2013. O Fórum da Indústria Têxtil realiza-se todos os anos desde 1996, constituindo uma importante reflexão sobre as questões que mobilizam a fileira, um momento de prospecção e actualização em permanência da orientação estratégica a seguir.
inauGuraÇÃo do sHoWroom da Gab’s Foi inaugurado no passado dia 12 de Novembro o primeiro showroom em Portugal da empresa Gab’s Design e Têxtil. A empresa de Vizela começou a produzir há 3 anos vestuário para homem e senhora com a marca Gab’s e hoje em dia produz várias marcas de sucesso, sobretudo para o mercado internacional, já que 98% da sua produção tem como destino os mercados externos, estando presente, por exemplo, no conceituado espaço Colette, em Paris. A inauguração decorreu no novo showroom, com um animado cocktail
que contou com a presença de mais de uma centena de pessoas, entre fornecedores, amigos e admiradores da marca.
torneio de natal no aXis
O Natal no Axis Golf de Ponte de Lima é já no dia 21 de Dezembro. Neste sábado disputase o Torneio de Natal, na modalidade Texas Scramble – Pares Gross e Net. O shot gun é dado às 10h00 e os preços de inscrição variam entre os 19€ (sócios) e os 32€ (não sócios) já com bar de campo incluído).
o que É nacional É muuda
O Muuda esteve presente em mais uma edição da Montra Nacional, que decorreu nos passados dias 6, 7 e 8 de Dezembro, na Alfândega do Porto. No espaço estiveram em exposição algumas peças de vestuário, decoração e também as iguarias deliciosas que pode encontrar à venda todo o ano na Rua do Rosário.
novo livro de rui paula
Foi no final do mês passado que o meu amigo e um dos melhores Chefs de Portugal lançou mais um livro. Depois de “Uma Cozinha no Douro”, Rui Paula lançou “Uma Cozinha no Porto”, um livro de receitas inspiradas nas origens do Chef mas também na localização do seu DOP, o Porto. De ler e chorar por mais.
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gastronomia
CV: 39.242 refeições de grande porte
O Marginal Este é o primeiro restaurante que apresento no “regresso à Mesa” que o Grande Porto nos propôs. Como Vos referi, visitarei com um convidado especial um restaurante por cada número da Revista. Por muitas razões, minhas e dele, convidei, primeiro que todos, a pessoa com quem nos últimos 15 anos almocei mais vezes. Um enorme gastrónomo, com algum (não parece) preconceito palatino, em especial nas texturas, o que não deixa de lhe diminuir o critério e de o afastar de imemoráveis iguarias. Mas nem por isso desmerece na elevada certificação gastronómica, até porque em poucos seres vivos encontramos tanta festa, tanta fome, tanta vontade de comer. Falo do meu compadre e amigo Manuel Serrão, cujo estatuto não deixa dúvidas a ninguém até pela belíssima montra que traz logo, logo, por cima das calças. Decidimos os dois escolher um restaurante onde vamos muitas vezes. O Marginal. Que é mais do que tudo a estória de
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uma dupla de sucesso. Maria Jorge é a empreendedora, a anfitriã, a relações públicas, enfim, a faz tudo, incluindo dar ao espaço o ambiente marcadamente familiar que lá se respira. O Chefe Paulo é um predestinado – não aparece em revistas nem em televisões, mas tem uma mão surpreendente para a cozinha que herdou das amoráveis cozinheiras que o criaram lá para o norte transmontano. Qual é o prato que o Chefe Paulo faz melhor? O Arroz! E não se pense que isto é um desprestígio. Pelo contrário, o elevado domínio dos básicos é o segredo das grandes cozinhas. O arroz do Chefe Paulo só leva azeite e alho e ferve em muito pouca água, lentamente, até o exacto ponto em que o arroz abre, reluzente, porque se aconchega da gordura, naquele exacto “quanto baste”. Todos os dias há um prato de peixe e um de carne. À segunda-feira escapa-se da cozinha o cheiro ao arroz de cabidela, aberto no ponto, com o único e saboroso “banho de sangue” e a indispensável golpada de vinagre. No pra-
to de peixe brilha um arroz seco de bacalhau com bolinhos do mesmo. Tão caseiros que sempre que lá vou aparecem já com um ovo estrelado encarrapitado no cimo do arroz. Coisa boa, santo Deus! À terça-feira há o famoso Bacalhau à Braz, um dos mais distintos da cidade, garanto-vos eu que tenho muitos quilómetros feito ao lado dessa iguaria do famoso taberneiro, dizem que do Cais do Sodré (!!). Nas carnes, pontifica uma língua estufada, aveludada e carinhosa, com a tradicional ervilha e o arroz carolino e branco a acolitar. Quarta-feira é dias de Tripas, distintas, com os preceitos todos que isto é casa séria de comida regional. O peixe fica-se por um Robalo grelhado com legumes ao vapor. Na quinta-feira há filetes, com batata à inglesa e couve branca, e nas carnes apresenta-se à mesa, com imponência, uma feijoada à brasileira como nem no Brasil nos parece tão boa. Sexta-feira é dia grande do cozido, tão nobre, tão grande que o prato de peixe esquece a toda a gente. Sábado é dia de família – a minha querida Avó Arminda diziam que as Famílias deviam acabar a substância à volta de um assado. E aqui assim se faz, com um cabrito pequenino, grelos salteados em azeite e alho, boa batata nova e um arroz de miúdos que se amarela e enaltece de açafrão. Ao domingo brilha o arroz de pato que o Chef Paulo, com particular sabedoria, amanha com controlo da água, da gordura e da carne macia do famoso palmípede.
gastronomia
POR ANTÓNIO SOUZA-CARDOSO
oFicina de cHocolates de natal
Depois a vida repete-se, tranquila e apetitosa, na semana seguinte. Geralmente com os mesmo convivas, o que nos tempos que correm sublinha bem o lustro da cozinha. De fora dos pratos do dia coma, sem nenhuma hesitação, qualquer assado ou qualquer arroz. O bacalhau e o polvo à lagareiro são obrigatórios. O arroz de polvo seco, com filetes do mesmo, desafia qualquer um. E se quer descansar a “figadeira”, experimente o rosbife, mesmo na tradição inglesa, com a batata estaladiça, as torradas de pão de centeio, o toque habilidoso do molho inglês e a couve ou os grelos salteados. As entradas não são abundantes para não acanhar nada da substância, mas ainda assim não deixe de experimentar o recheio de alheira com o pão que acabou de sair do forno.
Nas coisas doces um bolo de amêndoa com ovos moles costuma apaixonar os mais lambareiros. Há também a “bomba de abade priscos” – um pudim pequenino, reluzente, que explode na boca em aromas deslumbrantes e no corpo em toneladas de calorias. O serviço é amigo e familiar. E isso diz tudo. Carta de vinhos suficiente e não especulativa. Não Vos falei que o Chefe nos faz outros mimos de encantar – as perdizes, o faisão, o sável, a cabeça de pescada e a lampreia, que na casa merece digressão anual para um repasto de peregrinação obrigatória a que chamamos “Maria Lampreia, não sei se em homenagem à dona se à Virgem Maria que ainda nos permite ter estes momentos. Aguarda-se nota muito alta para o Marginal que será dada pela média da pontuação dos dois comensais. A nota vai de 0 a 20 e distingue tudo o que sentimos. Não há outros critérios que não o bem-estar e o bem comer. O público também vota e tem um ponderador médio de 30%. No final do trimestre publicaremos o ranking provisório. Obrigado Manel pela companhia tão boa. O Manel não é de falar muito quando come, mas faz uns “huns” gulosos e apreciativos que nos estimulam e confortam. Há melhor companhia? Obrigado Manel!
Até ao dia 31 de Dezembro, no Museu do Vinho do Porto decorre uma Oficina de Chocolates de Natal, disponível para adultos e crianças a partir dos dois anos. Uma óptima oportunidade para aprender a fazer presentes de natal originais e saborosos. O preço é de 3,5€ por pessoa.
distinÇÃo internacional para o riso
Passo a passo o Riso vai conquistando os apreciadores de vinho, nacionais e internacionais. Desta feita, o Riso Reserva, foi considerado o melhor vinho 2011 do Alentejo no prestigiado concurso International Wine Challenge. Esta distinção conferiu-lhe uma medalha de prata.
Feira do Fumeiro vem ao porto
A Feira do Fumeiro de Montalegre acontece só final de Janeiro próximo mas amanhã e depois, dias 21 e 22 de Dezembro, far-se-á sentir no Porto. As “mini-feiras do Fumeiro” são acções de promoção do certame e serão realizadas no Aeroporto Sá Carneiro e no Welcome Center, no Palácio das Cardosas.
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Restaurante O Ernesto
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Restaurante Pizaria
Rua da Picaria nº 85 | Porto Tel. 222 002 600 www.oernesto.com Horário: Aberto de Segunda a Sábado 12:00H às 15:30H / 19:00H às 21:30H Sábado à noite: só por marcação a partir de 20 pessoas Encerra ao Domingo
Debaixo da Ponte D’Árrabida Rua do Ouro, 797 | Porto Tel: 226 106 012 www.restaurantecasanostra.com casadoro@sapo.pt Aberto todos os dias
O Caloirinho Praça Coronel Pacheco nº 76 | Porto Tel. 932226664 Encerra ao Fim-de-Semana
Cozinha Caseira – Pratos Regionais Rua da Madeira nº 194 | Porto Tel. 222 054 847 | Telm. 966 528 924 Horário: 12H às 22H Descanso Semanal: Domingo
BILI BI – Sociedade de Restauração LDA
Restaurante Abadia do Porto
Foz Velha Esplanada do Castelo nº 141 | Porto Tel. 226 154 178 mail@fozvelha.net Encerra ao Domingo e Segunda-Feira ao Almoço
Restaurante O Rápido
Rua Ateneu Comercial do Porto, 22 a 24 | Porto Tel: 222008757 | Fax: 222008758
Restaurante Peninsular Confeitaria Peninsular
Adega e Presuntaria Transmontana
Praça Mouzinho Albuquerque, 65 | Porto Tel: 2226097468
Rua Cândido dos Reis nº 132 | Vila Nova Gaia Tel. 223 758 380 Horário: Das 12:00 às 00:00. Encerra à Segunda-Feira
Restaurante Your Palace Porto Praça Dr. Francisco Sá Carneiro 283 | Porto Tel: 225097702
B Restaurante
Rua Dr. Marques de Carvalho, 111 Porto Tel: 226 050 000 | Fax: 226 050 001 Horário: Almoço das 12h30 às 14h00 (segunda a sexta) das 13h00 às 14h30 (sábados, domingos e feriados) Jantar - das 20h00 às 23h00 Nunca Encerra
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contacte-nos Envie-nos mais informações para agenda@grandeportoonline.com
A Marisqueira de Matosinhos Rua Roberto Ivens, 717 | Matosinhos Reservas: Tel. 229 381 763 Fax: 229 374 157 geral@amarisqueiradematosinhos.com Horário: 12H às 00.30H Encerramento: Quartas-Feiras
Restaurante Milho Rei
Rua Heróis de França, 721 | Matosinhos Tlf.: 229 385 685
Restaurante Casa Aleixo 5
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Adega e Presuntaria Transmontana II Rua Avenida Diogo Leite nº80 | Vila Nova Gaia Tel.223 758 380 Horário: Das 12:00 às 02:00 Nunca Encerra 6
Café Guarany
Avenida dos Aliados Nº 89/85 | Porto Telefone: 223 321 272 Fax: 222 002 710 E-mail: guarany@mail.telepac.pt
Restaurante D´Oliva Al Forno
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Rua de Brito e Cunha nº 354 | Matosinhos Telefone: 229351005 Aberto todos os dias até as 24 Horas Fins de Semana e Vésperas de Feriados Aberto até à 1:00Hora manhã
Restaurante Pedra Furada Rua Santa Leocádia nº 1415 | Barcelos Junto a estrada Nacional 306 Tel. 252 951 144 Horário: Das 12:00 às 15:30 e das 19:00 às 22:00. Encerra à Segunda-Feira hora Jantar Aceita reservas para Grupos de Pessoas
Terrace Rua Fernandes Tomás nº 985 | Porto
Restaurante o Góshò
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Avenida da Boavista nº 1277 | Porto Tel. 226 086 708 Horário: Das 12:00 às 15:00 e das 19:30 às 23:30. De quinta a sábado aberto até às 01:00. Dia (s) de Encerramento: Domingos
Restaurante A Máscara Av. Brasil, 308 | Porto Telef.: 226176092 Horário: Todos os dias das 12h às 15h, exceto às 3as-feiras Todos os dias das 20h às 24h
Rua da Estação, 216 | Porto Tlf.: 225 370 462
Restaurante/Café Diu Rua da Boavista, 663 | Porto Telf.: 222 011 680
Lais de Guia
Av. Norton de Matos, S/N | Matosinhos Telf.: 229 381 428 1
Café Majestic
Rua Santa Catarina, 112 Tlf.: 223321272
Café Calçada
Lugar de Ribas | Venade Tel: 258922428
Restaurante Casa Agrícola
Rua do Bom Sucesso, 241/243 | Porto Tlf.: 226 053 350 Horário: 12h às 15h e das 20h às 23h, excepto aos Domingos www.casa-agrícola.com
Confeitaria Juquinha
Rua da Cerca, 466 | Porto | Tel: 226184370
Confeitaria Pastorinha 3 Rua Jorge Reinel, 7 | Porto Tel: 226181728 / 226174762
Restaurante Senhor Abade
Rua do Bonjardim, 680 | 4000-119 Porto Tel.: (+351) 220 114 266 Email:restaurantesenhorabade@gmail.com
Restaurante Portucale Rua da Alegria, 598 – 14º / Porto Tel.: 225370717 www.miradouro-portucale.com
Restaurante Dubai
Av. Clube dos Caçadores, 5559 | Atães | Jovim Tlf.: 224 041 456 Horário: 12h00 às 24h Todos os dias
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Restaurante O Escondidinho
Rua de Passos Manuel, 142 | 4000-382 Porto Tlf.:222 0001 079 | Fax.: 222 085 050 | Telem.: 933 101 600 Abertos todos os dias das: 12h às 15h e das 19h às 23h
Cafe Aviz
Rua de Aviz, 27 | Porto Tlf.:222 004 575
Pingo Cimbalino Cafetaria
Praceta Guilherme Gomes Fernandes, 63 | Porto Tlf.: 222 012 335
Restaurante Proa
Rua Sousa Aroso, 22 | Matosinhos Tlf.: 229 380 022
Restaurante Choupal dos Melros e Quinta dos Choupos
Rua Tardinhade, 425 | Fânzeres | Tlf.: 224 890 622 “Abertos para eventos e almoços de domingo.”
Restaurante Marisqueira Majára
Rua Roberto Ivans, 603 | Matosinhos | Tlf.: 229 382 352 Horário: Todos os dias das 12h à 1h da manhã
Restaurante Rogério do Redondo
Rua Joaquim António de Aguiar, 19 | Porto | Tlf.: 225 379 533
Café Guanabara
Miraporto - Restaurante & Petisqueira Rua Sampaio Bruno nº 31 | 4000 – 439 Porto Telf. 222001687 |Telem. 918042915
A Casa do Gordo
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Restaurante Dop - Palácio das Artes Largo S. Domingos nº 18 | 4050 – 545 Porto 91 0014041/ 22 2014313 dop@ruipaula.com
Restaurante Pitada de Mar
Rua Heróis de França, 340 | 4450-155 Matosinhos Telf.: 229379981
Neptuno Restaurante
Rua Rodrigues Sampaio, 133 | 4000-425 Porto Telefone: 222 007 937
Restaurante Roma
Rua Santo Ildefonso, 273 | 4000-470 Porto Telf.: 309 722 031
Rua Heróis de França, 241 | 4450-158 Matosinhos Telef.: 224 927 160
Restaurante Lage de Senhor do Padrão
Café Nosso Lar
Restaurante O Lagostim
Praça D. Filipa de Lencastre, 200 | 4050-260 Porto Telef.: 222 056 141 Encerra ao sábado 8
Baixaria
Av. da Boavista, 4245 | Porto Tel.: 226178303
Rua do Almada, 224 | 4050-032 Porto Telef.: 222 086 143
Restaurante/Snack-Bar Aramis
Restaurante Tripeiro
Rua Conde de Abranches, 453 | Porto | Tel.: 225500562
Restaurante Alcaide Rua do Amial, 736 | Porto Tel.: 228322612
Restaurante Praia dos Ingleses Rua Coronel Raul Peres, S/N | Porto Tel.: 226170419
Restaurante “En Casa”
Rua Brito e Cunha, 640 | Matosinhos | Telf.: 229 380 396 7
Restaurante “Adega São Nicolau”
Rua de S.Nicolau, nº 1 / Porto Telf.: 222 008232
Restaurante A Grade Rua S. Nicolau, nº 9 / Porto Telf.: 223 321 130
Rua Passos Manuel, 95 | 4000-385 Porto Telef.: 222 005 886
Restaurante “O Caçula”
Praça Carlos Alberto 47 | 4050-157 Porto Telefone: 222 055 937
Café Vera Cruz
Rua de Cedofeita, 250 | 4050-174 Porto Telefone: 229 259 553
RestauranteA Chalandra Avenida Serpa Pinto | Matosinhos Telef.: 229375553
Lado B | Cervejaria. Cafetaria. Snack. Bar
Rua Fonte Taurina, 83-85 | 4050-270 Porto Tel.: 222 052 033
Metro café
Rua de Avis, nº 10 Porto Tel: 917953387
Rua Justino Teixeira, 17 | Tel.: 225 101 458
Baixa 22 Sushi & Sangrias Bar
Rua António Carneiro, 437 | Telf.: 225 371 973
Praça D. Filipa de Lencastre, nº 203 Porto Tel: 910718766
Praçabar, Bistrô & Cocktail Bar Praça D. Filipa de Lencastre, n º 195 Porto Tel: 91 0718766
Baixa 22 Sushi & Sangrias Bar
Casa Sta. Clara Vinhas D’Alho
Rua da Reboleira, 39/41 | Telf.: 222 012 874 E-mail: geral@vinhas-dalho.com Web: www.vinhas-dalho.com
Restaurante A Corça
Praça D. Filipa de Lencastre, nº 203 Porto Telef.: 910718766.
Rua Santo Ildefonso, 310 | 4000-465 Porto | Telf.: 225 365 261 E-mail: restaurante.corca@gmail.com Facebook: restaurante.corca
Bar Fuzelhas - Bar. Café. Restaurante
Restaurante Novo Ambiente
Av. da Liberdade, 4450 Leça da Palmeira | Telef.: 229952410 Telem.: 919039086
Rua Sá Noronha, 55 R/C | 4050-483 Porto
Miraparque - Café. Restaurante. Take Away
Com música africana ao vivo Sexta-feira e Sábado. Com reserva: 934 708 721
Rua de Angeiras nº 1183, 4455-039 Lavra Telf. 229286518 |Telem. 919037743
Praceta da Concórdia, Loja 175 Telef.: 229530778 9
A Cozinha do Manel
Rua do Heroísmo, 215 | Porto Telef.: 225 363 388
Monsanto Café - Snack-Bar - Pão Quente Rua Nova Regado, 335 4250-038 Porto | Telef.: 228325449
Churrasqueira Central de Francos Rua Central de Franco, n.º8 | 4250-122 Porto Telef.: 228316426
Restaurante Pavilão de Caça Rua Gonçalves Zarco, 2516 | 4455-821 Santa Cruz do Bispo Tlf: 229955107 Horário: 12h30 às 16h e das 20h à 1h00
Restaurante Via Garrett Rua Clube dos Fenianos, 1 a 5 | Porto | Telef.: 222052756 Horário: das 7h às 24h Encerra ao domingo
Restaurante Patuaá Rua da Conceição, 94 | Porto Telef.222080622 2ª a 5ª das 12h às 24h | 6ª e sáb das 12h às 2h Encerra ao domingo
Pão Quente Cunha & Barbosa
Restaurante Porto Seguro
Restaurante Ora Viva
Restaurante Book
Ao Pão Quente
Bistrô Restaurante
Code Bar
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Rua Sra. Da Luz, 258 | Foz do Douro – Porto | Telf.: 226189284 Dia de fecho: Domingo Horário: das 12h às 15h e das 19h às 2h
Rua Central do Olival, 2736 | Olival-Vila Nova de Gaia Telef.227637060 Horário: das 7h30 às 21h30.
Travessa dos Congregados, 17 | Santo Ildefonso Tel.: 222 015 015 | Telemóvel: 915 747 487 www.costume-bistro.com
Av. Beira Mar, 969 Canidelo - Vila Nova Gaia Tel: 22 7729226
Restaurante Cêpa Torta
Rua Passos Manuel, 190/192 Email.: geral@ladobcaf.pt www.ladobcafe.pt
Café Sckack-Bar Almada Rua Dr. Ricardo Jorge, 74 / Porto Telf.: 222 052 5864
Restaurante Quinta da Boucinha
Av. Vasco da Gama, Oliveira do Douro Tlm.: 918 047 508 Fax.: 227 827 815 info@boucinha.com Horário: Aberto das 12 às 24 horas. Encerrado aos Domingos à noite e Segunda-Feira todo o dia
Restaurante Dom Peixe
Rua Heróis de França, 516 | 4450-159 Matosinhos Telef.: 229 384 807 Horário: 12h às 15h30 e das 19h às 24h.
Restaurante Fundação Dr. António Cupertino Miranda
Rua 5 de Outubro, 262, Porto | T.: 226 094 310 Rua de Sta. Catarina, 949 4000-455 Porto | T.: 223 321 922
Travessa Rodolfo Mesquita, 37 | Praia de Angeiras
Rua Oliveira Monteiro, 33 4052-442 Porto | Tel: 222 056 335
Rua Augusto Luso, 97 | Porto Tel: 226 091 807
Meidin Pizzeria
Casa Cabo Verdiana
Av. da Boavista, 1430, loja 6/7 | Porto Telef.226098318 Horário: 2ª a 6ª das 12h às 15h e das 19h às 22h30 Sábado das 19h às 23h | Domingo das 19h às 22h30
Restaurante “A Pêga” Rua 8 de Dezembro, Nr. 2316 | Famalicão Tlf: 252 374 175 Horário: 2ª a sábado das 12h às 15h30 e das 19h30 às 22h Domingo das 12h às 15h30 e encerra ao jantar.
Will Restaurante Sushi Bar Praça Carlos Alberto, 123 A e B | Porto Telf.: 222086513/936794599 Sáb das 12h30 Às 15h e das 20 às 2h Encerra à 2ª e ao domingo
Restaurante Bar Tolo Rua Sra. da Luz , 185 Porto Telef.: 224938987 Horário: Dom a Quarta das 12h às 24h | Quintas a Sáb. das 12h às 2h 3
Restaurante Tia Orlanda
- Sabores moçambicanos Rua das Taipas, 113 | 4050-600 Porto Tlf.914622823 Horário: 2ª a 5ª das 11h00 às 15h30 e das 19h às 23h 6ª, sábado e domingo das 11h às 15h30 e das 19h às 24h orlandakliro@gmail.com
opinião
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A Frente Atlântica como desafio MANUEL QUEIROZ
Os presidentes das câmaras do Porto, de Gaia e de Matosinhos entenderam-se para criar uma coisa chamada Frente Atlântica. Será, parece, uma parceria para tratar dos interesses comuns, de turismo, dos problemas costeiros, de outros como a RTP - Porto, que já escapa um pouco à lógoca do que diz respeito aos três municípios e que alarga o âmbito da ação desta troika autárquica. Há quem diga que a Frente Atlântica esvazia - ou quer esvaziar - a Junta Metropolitana do Porto (JMP), que tem consignação na lei e que tem a legitimidade alargada de uma Área Metropolitana que inclui, de Paredes, a Santo Tirso e a Arouca, um total de 17 municípios com interesses muito diferentes. Mas, curiosamente, a RTP é um daqueles que interessa a todos eles e, nesse sentido, quando a Frente Atlântica elege esta empresa pública como o alvo para uma das primeiras ações no terreno, está a dar um significado importante e, eventualmente, exclusivo, entendido como o de se tornar um grupo à parte dentro da JMP. O que tem alguns perigos. A Junta Metropolitana é agora presidida por Hermínio Loureiro, um homem do PSD, presidente reeleito da Câmara de Oliveira de Azemeis, antigo secretário de Estado e deputado, com capacidade política mais do que suficiente para estar à fremte de uma instituição como esta. Tem o problema de ser também vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, o que lhe toma algum tempo mais. Porque é óbvio que a Frente Atlântica é um desafio ao futuro da JMP, que nunca foi um órgão reconhecido pelo povo - a maior parte das pessoas nem sabe que existe. Numa sociedade competitiva, também as
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instituições têm que mostrar que são importantes e têm razão de existir. A JMP vai ter que mostrar capacidade de iniciativa política para poder ser uma instituição com futuro ou com alguma importância no nosso ordenamento político. Não pode impedir nenhuma câmara de se unir com outras, tem antes que fazer valer a sua própria lógica, que é de identificar os grandes problemas dos seus 17 componentes e ser capaz de tratar deles. E havia trabalho feito na Junta sobre turismo, por exemplo, que não pode ser desaproveitado. As críticas que se ouviram à Frente Atlântica também nascem do PSD, que não tem ninguém nessa troika e, pelo contrário, suspeita que aquilo é contra o partido que neste momento está no governo. Há um evidente fundo PS-socrático sim, no trio Eduardo Vítor-Guilherme Pinto-Manuel Pizarro (coliga-
do com Rui Moreira). E o próprio PS oficial de Seguro e José Luís Carneiro também não acha grande piada a este voluntarismo inorgânico. Mas no fim do dia a política é isso, é ser capaz de enfrentar os desafios e dar respostas políticas e a Junta só tem futuro se conseguir pôr em primeiro lugar os problemas e não a filiação partidária, se confrontar o governo de turno com as necessidades das populações - e o Norte em geral precisa bem disso. O divisionismo não é bom, mas só há uma hipótese de o ultrapassar agora: é o Conselho Metropolitano, o órgão que conduz a JMP, mostrar capacidade para liderar mesmo e encontrar as frentes de batalha necessárias, do Rio Douro, ao porto de Leixões, às portagens nas ex-Scut, ao turismo, à renovação urbana mas tambéma os temas que interessam mais as suas zonas mais interiores, como as acessibilidades e a Educação.
Feliz Natal e prรณspero Ano Novo