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SUBSCREVER A HISTÓRIA

120 Anos Ao serviço dA informAção Jorge de Andrade e Paulo Fonseca, A Administração Uma história de existência com 120 anos na qual ate à data compete-nos apenas seis à frente da administração do Correio da Feira. Não foram anos fáceis e se nos lembramos que durante esses anos atravessamos uma das maiores crises que o país viveu desde que este regime chamado democrático plantou raízes neste nosso Portugal, poderíamos com toda a certeza afirmar que o contributo do Correio da Feira na nossa vida empresarial foi e certamente continuará a ser uma grande e enriquecedora experiência. Orgulhamo-nos da longevidade do Correio da Feira, da sua história e da sua total independência face aos vários Poderes que se foram instalando no país e no Concelho.

Somos guardiães de um jornal com tradição, com história, respeitamos todos os seus capítulos, absorvendo os ensinamentos que deles naturalmente advêm, mas não nos curvamos perante nenhum. A historia do Correio da Feira constrói-se diariamente e com os olhos no futuro. O respeito que nos merece essa história centenária do Correio da Feira não nos amarra a um passado e muito menos a ideais onde não nos revemos nem hoje fazem qualquer sentido porque alicerçados se encontram mantendo-se firmes e verdadeiramente enquadrados na época em que vivemos como se deseja a uma empresa que se quer moderna e actualizada. Com a nossa jovem mas profissional equipa pretendemos dar um contributo para enrique-

cer os anais do património imaterial que é o Jornal Correio da Feira, pertença de todos os Feirenses e que se encontra ao serviço da informação e do nosso querido Concelho. No propósito de dar continuidade a um projecto nascido há 120 anos desejamos reafirmar perante os nossos assinantes, leitores, anunciantes e todos os feirenses o nosso leal compromisso á nobre tarefa que é a Informação. Foram muitas as mensagens que recebemos de vários quadrantes da nossa sociedade feirense felicitando-nos pelo aniversário do Jornal Correio da Feira. A todos queremos deixar o nosso agradecimento e apelar a que se unam com orgulho a este vosso jornal regional para que outras datas sejam festejadas pelas sucessoras gerações.

para justificar o respeito que a provecta idade merece e reclama, foram primeiro, o pendor interventivo – embora politicamente alinhado, reconheça-se – e, mormente nos últimos anos, o reposicionamento no plano democrático (logo, pluralista) que mais abonam ao título. Aos 120 anos, todos, no Correio da Feira, acreditamos que vale a pena lutar por objectivos pragmáticos, na difícil missão de informar. Para nós, trata-se da assunção de uma carta de compromisso plasmada num Estatuto Editorial que entendemos balizador e em cujos valores nos revemos. Hoje, assumimos a herança de um trajecto ímpar, com os olhos postos na modernidade. Aceitamos a s obrigações e compromissos que

impendem sobre o desempenho da profissão; mas reclamamos o respeito que, indubitavelmente, merecemos. Nota final: As intervenções dos Directores (e Directora) que me precederam à frente da informação deste Jornal – e que a seguir se reproduz – mostram bem até que ponto este sortilégio de assumir a Informação, a emissão de Opinião sustentada, constituem modo de intervenção social que a todos nos vincula, independentemente dos índoles pessoais. Para os Serafim Lopes, Albino Santos, Salomão Rodrigues, Paulo Noguês e para a Sandra Moreno, deixo aqui um testemunho de gratidão pelo que deram, não só ao Correio da Feira, mas a toda uma comunidade.

sortilégio Orlando Macedo, Director 1 - Quiseram o destino, ou a fortuna do acaso, reservar-me a honra de dirigir o vetusto ‘Correio da Feira’ no justo momento em que se assinala uma data prodigiosa, neste dia 11 de Abril de 2017. São 120 anos plasmados em mais de 6 mil edições semanais, diluídos em noticiário profuso, em crónicas sociais, em debate político, em confrontação de ideias que hoje se nos afiguram risíveis… No erário sentimental do titulo, há lugar para poemas ingénuos lado-a-lado com ‘mimos’ publicitários que espelham épocas de transição. Pleitos de vontades ou meros testemunhos socias, de valor probatório 2 - No entanto, apesar de um percurso de 120 anos de edição ‘ininterrupta’, bastar por si só

120 Anos de vidA! Serafim Lopes, Director adjunto de Manuel Tavares Em 13 de Maio de 1963 – já lá vão quase 54 anos! – comecei a escrever para o “Correio da Feira”, como correspondente de Escapães. Tinha, então, 18 anos de idade. Bons tempos! Guardo, com respeito e carinho, o cartão de identificação, assinado pela senhora D. Maria Luísa Soares de Sá Braga, administradora do jornal. Daí em diante, “Correio da Feira”, que já conhecia pela leitura semanal, em casa – meu pai, era assinante – passou a fazer, crescentemente, parte da minha vida. A ampla e velhinha escada em madeira de acesso à Redação, passou a ser o meu caminho durante décadas. As senhoras D. Brízida Monte Santos Soares Alvão, Directora, e D. Maria Luísa Soares de Sá Braga, Administradora, herdaram de seu pai, José Soares de Sá, um acrisolado amor ao jornal e à sua Vila da Feira, E souberam respeitar, com muita dignidade, apesar de tantas dificuldades passadas, tão nobres valores.Com residência no Porto, passavam, alternadamente, uma semana na sua casa paterna da Praça da República, para dirigirem

a vida e feitura do seu “Correio”, composto e impresso no rés-do-chão deste grandioso imóvel, onde, hoje, se situa o moderno “Hostel da Praça”. “Correio da Feira”, fundado em 11 de Abril de 1897, era, então, um jornal tipo familiar. Alimentava-se, significativamente, das notícias dos correspondentes espalhados pelas freguesias, e vivia – e vive - para a comunidade feirense, com particular carinho para os emigrantes, prestando um serviço de inestimável valor. A primeira página albergava artigos de opinião de excelentes colaboradores, e outros de defesa de grandes causas feirenses, como, por exemplo, a intensa e perseverante luta desenvolvida para a construção do Hospital. Não será exagero afirmar que “Correio da Feira” é sinónimo de defesa acérrima dos superiores interesses do Concelho. Aliás, as distinções honorificas concedidas pela Câmara Municipal, e a atribuição dos nomes de José Soares de Sá e do jornal a duas ruas centrais da cidade – a minha freguesia, também, deu o nome de “Jornal Correio da Feira”, a um arruamento – são exemplos desse

justo reconhecimento público. Muitos e ilustres colaboradores enriqueceram ao longo do tempo as páginas deste secular hebdomadário, um exemplo raro de longevidade na comunicação social. Sem desprimor para todos eles, seja-me permitido, neste momento de celebração, evocar um bom Amigo, distinto articulista, e esclarecido Director, de seu nome Manuel Tavares, prematuramente desaparecido do nosso convívio, perante cuja memória me curvo reverentemente. Nos últimos tempos, tem sido notório o esforço de sucessivas equipas directivas de procederem a compreensivas alterações tendentes a melhorar a qualidade do jornal, sempre no respeito pelo seu muito honroso passado. Esforço esse que é prosseguido e dinamizado, com reconhecida competência e dedicação, pelo actual Administrador, Jorge de Andrade, Director, Orlando Macedo, e demais colaboradores, que estão a desenvolver um trabalho de inegável mérito, merecedor dos maiores encómios. Neste dia de jubiloso aniversário, parabéns “Correio da Feira”!


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120 de Jornal / 42 anos de vida Albino Santos, Director (Janeiro 2003 a Janeiro 2004) Ao dar o meu testemunho sobre a importância do Correio da Feira na minha vida, gostaria de relembrar José Soares de Sá, que apenas com 25 anos, assumiu a direcção e a adminis¬tração do jornal «Correio da Feira». Quase ininterruptamente manteve-se à frente da direcção e administração durante 68 anos. Em 1961, dado o seu combalido estado físico, delegou nas suas filhas e minhas madrinhas Brízida e Maria Luísa (Bica e Lú, respectivamente no seio familiar) tal encargo. De 11 de junho de 1966 até 1997, o jornal teve como directora e editora D. Brízida e como administradora a sua irmã D. Maria Luísa. Tive o privilégio de ter nascido na casa do Correio da Feira, e de ter crescido no seio do Jornal, cujas

diversas fases de produção tive de aprender, desde a impressão a chumbo, ao offset. Foi nesta casa, em que nasci eu e a minha irmã Luisa, e onde os meus pais Alípio e Andelina, foram durante décadas dedicados colaboradores das ‘Senhoras do Correio da Feira’, as minhas saudosas Madrinhas. Nesta casa a par das minhas brincadeiras de infância com os meus amigos, amizades que ainda perduram, assisti, para além da execução, da paginação e da impressão de inúmeras edições do jornal, à visita de imensa gente oriunda de diversos setores da sociedade, chegados de várias paragens. O ano do falecimento das minhas madrinhas (1997), foi a altura em que passámos a imprimir a 4 cores e curiosamente a “Bica” ainda assistiu à primeira qua-

dricromia produzida já na nova máquina. Após os falecimentos de ambas, (Brízida em Abril e Luísa, em Novembro de 1997), a Direcção do jornal foi confiada a Manuel Tavares e Serafim Lopes, aos quais sucedi no dia 3 de Janeiro de 2003, na qualidade de Director Interino do Correio da Feira. Nesse período, pude contar com a importante colaboração do amigo de infância Roberto Carlos Reis e de Salomão Rodrigues, que viria a ser diretor do Jornal. Enalteço o esforço das diversas administrações na manutenção do Jornal, destacando-se claro está, a actual liderada por Jorge Andrade e Silva e Paulo Fonseca, perspetivando um futuro estável e risonho para o nosso Jornal Correio da Feira, do qual me orgulho de ainda fazer parte.

Paixão e resiliência Salomão Rodrigues, Director (Janeiro 2004 a Setembro 2006) Já todos temos, ou deveríamos ter, a consciência da importância de um jornal com 120 anos de existência como o Correio da Feira. Ele é a própria expressão da municipalidade feirense e, não menos importante, do pluralismo de opiniões. É quase uma redundância, mas nunca é de mais lembrar o seu legado, a sua relevância na preservação da história do próprio município, suas gentes e costumes. O que talvez já não seja de conhecimento comum são as batalhas semanais que a Imprensa, Correio da Feira incluído, trava para se manter ativa e atual.

São muitos os exemplos dos que, apesar de terem profícua idade, têm ficado pelo caminho. Um jornal com 120 anos não pode mendigar caridade. Deve ter o reconhecimento natural dos seus leitores, pelo seu valor atestado em cada edição. Já das instituições públicas, não basta que lhe reconheçam a sua importância. Deve ser respeitado e apoiado de forma desinteressada, de forma proporcional ao seu legado e contributo presente. Mas nos 120 anos do Correio da Feira quero particularmente realçar o contributo dos administradores e seus colaboradores. Eles são o esteio que sustenta

este nosso jornal em tempos verdadeiramente difíceis para a Imprensa. São a primeira linha que diariamente debela problemas e se lança em novos desafios. Eu sei, eu conheço as vossas angústias. Os dias sem horários, a ansiedade e desafios e até as afrontas. Mas também conheço a fibra de que muitos de vocês são feitos. Neste tempo contemporâneo só os mais determinados teimam em se manter de pé perante um horizonte onde o lucro ou simples recompensa digna são uma miragem. Resta-lhes a paixão e a resiliência.

cumPrir o desígnio Paulo Noguês, Director (Outubro 2006 a Setembro 2011) Associo-me, com satisfação, ao aniversário do Correio da Feira, respondendo ao amável convite de Orlando Macedo. Num tempo tão rápido como o actual, 120 anos é uma celebração digna de nota. O Correio atravessou três séculos, viveu momentos políticos muito diversos e assistiu a uma evolução económica e social assinalável e o segredo da sua longevidade tem de ser encontrado na sua vocação para interagir com a comunidade que serve e que o lê. A discussão sobre as novas tecnologias de informação na comunicação social não é de hoje, mas quando

um jornal regional em papel chega a esta extraordinária idade, temos de reflectir sobre a importância da proximidade. Um jornal é um elo de ligação entre as pessoas de uma comunidade quer ela esteja confinada a um território bem definido ou espalhada nas sete partidas do mundo. O Correio cumpriu e cumpre esse desígnio aproximando o que está longínquo, levando e trazendo afectos. A cultura, no seu registo mais abrangente, é uma alavanca para fazer girar o mundo e parece-me justo, neste aniversário, salientar o papel do Correio para

reforçar a identidade cultural das gentes da Feira. Um jornal com 120 anos só pode aspirar a uma longa vida se projectar permanentemente o futuro. Como organizador das expectativas difusas dos seus leitores , um jornal é uma janela de esperança que se abre para o desconhecido. Estou certo de que reforçando os laços com os seus leitores e com a comunidade, o Correio da Feira se tornará num farol que nos orientará por muitos e muitos anos. Muitos parabéns !

o mérito dos 120 anos Sandra Moreno, Director (Fevereiro 2012 a Dezembro 2014) 120 anos não é coisa pouca e o Correio da Feira tem motivos para se sentir orgulho. Alcançar este número na imprensa regional é um mérito gigante que merece ser assinalado. E, nesta viagem centenária, as pessoas são certamente o que mais contam. !20 anos de gente que manteve o jornal vivo e que o fez

chegar de forma ininterrupta a casa dos leitores. Por isso, são 120 anos de uma causa que, acredito, estar assente numa grande paixão. Pelo concelho. Pelo jornalismo. Manter a chama acesa e fazê-la brilhar não é uma tarefa fácil. O Correio da Feira, ao longo, dos seus muitos anos de vida, conseguiu o feito, com persis-

tência e vontade. Entre muitos recuos e avanços, o jornal venceu sempre e espero que continue assim. Afinal, os jornais são isto mesmo, o garante da liberdade de um povo, feito por um punhado de jornalistas que se entrega a esta nobre missão de informar. Que continue a ser esse o desígnio do Correio da Feira, da imprensa regional. Pub.


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Emídio Sousa passa certidão de óbito

O prOjEctO cOmO ESta idEalizadO nãO faz SEn Como é que um ex-treinador de futebol e actual líder da Câmara Municipal está a preparar a última época deste mandato? A nossa época é o orçamento e plano de actividades que apresentámos no ano passado. Temos, neste momento, em curso muitas situações que faziam parte do nosso programa eleitoral, uma delas é a reabilitação da rede viária. Hoje estão no terreno, três ou quatro grandes empreitadas de pavimentação de arruamentos, estamos a falar de um investimento que já superará os cinco milhões de euros, está neste momento em curso, feito ou prestes a ser concluído. Temos um sexto procedimento para lançar ainda este ano. Penso que a concretização deste plano de reabilitação da rede viária, que aponta para um total de oito milhões de euros de investimento é o grande trabalho, porque é sempre um trabalho que exige muito cuidado porque interfere com a vida das pessoas, por vezes temos aquele processo de alargamento para se poder fazer uma requalificação melhor, por isso este é o ano de concluir algumas dessas obras. No demais, as coisas estão feitas ou quase concluídas. Fala, principalmente, de requalificação, em vez obra nova. Foi uma opção centrar todo o esforço financeiro e trabalho na reabilitação? Não, não foi. Nós fizemos um programa para quatro anos. Mas recordo que nós temos muito o hábito de apenas valorizar a obra física e não prestar a devida atenção à obra imaterial, que é muito mais difícil. Eu costumo dizer e estou convicto disso, porque já são muitos anos de gestão pública, a obra física é a mais fácil de fazer e a obra imaterial de mobilizar pessoas, mobilizar vontades, criar dinâmicas de território, de solidariedade, de interacção social, de comunidade, diria que isso é a grande dificuldade, mas também o grande desafio e quando conseguimos ficamos muito conten-

tes. Eu acho que nesse aspecto conseguimos, estamos a conseguir alterar, significativamente, o território. Mesmo em obra física. Um exemplo, nós tínhamos apostado numa profunda reabilitação dos campos de futebol, porque é, claramente, a modalidade que mobiliza por larga margem todas as outras modalidades. Passámos de um território que tinha dois ou três campos sintéticos para um território que neste momento tem 17. A aposta vai manter-se? Vai manter-se. Este ano temos um novo concurso, até penso que está a decorrer o prazo para apresentação de candidaturas, porque havia três freguesias que não tinham avançado com candidaturas numa primeira fase, mas que, entretanto, mobilizaram vontades, uma delas é Lobão. O presidente da Junta (acho que é justo destacar porque o clube tinha uma crise directiva muito grande) andou a mobilizar vontades e já apresentou candidatura. Portanto Lobão é certamente uma das freguesias que vai ter sintético por força da actuação do presidente da Junta. Ainda há dias estive no aniversário do clube e prometi dar uma pequena contribuição pessoal para esta obra. Pessoal, não da Câmara. Porque, de facto, tinha muita pena que uma freguesia da dimensão da freguesia de Lobão, absolutamente estratégica na parte norte e nordeste do interior, não tivesse um campo de futebol sintético, nem tivessem melhores condições para a prática da modalidade. Fiquei muito contente, fui incentivando o presidente da Junta e parece-me que, ainda este ano, vamos ter o campo em Lobão. A par desse, Paços de Brandão também falou na eventualidade do campo de treinos e há mais um outro clube, cuja intenção iremos ver. Neste momento tenho 300 mil euros no orçamento municipal para pelo menos três candidaturas, mas já disse que se aparecer quatro também teremos sempre as

condições para a aprovar. Qual a comparticipação da Câmara? A comparticipação da Câmara é de 50% até um máximo de 100 mil euros e um campo por freguesia. Tem noção de um retorno palpável desse investimento? Claramente, porque nós somos uma terra muito virada para a prática desportiva, e ainda bem, principalmente nos mais jovens e havia um certo desconforto nas famílias dos miúdos estarem a jogar futebol com pó. Se isso era comum, no meu tempo de jovem, hoje as famílias já não aceitam isso e compreende-se porque nós evoluímos. Como havia um certo desconforto, os nossos clubes começavam a perder alguma atractividade para municípios vizinhos que já tinham relvados sintéticos. Portanto, neste momento dá-se o fenómeno contrário, todos os clubes estão, hoje, com boas condições. Alguns, fruto destas obras, foram incentivados a fazer melhorias nos balneários. Portanto, hoje, acho que temos, a nível de infraestruturas, óptimas condições para além dos relvados naturais temos também os sintéticos. Ao nível de pavilhões, temos o pavilhão de S. João de Ver, que está pronto.

Não precisamos de um grande Pavilhão

A esse nível, não acha que o Concelho precisava de um grande pavilhão, como têm os concelhos limítrofes? Tenho uma perspectiva diferente. Temos um Concelho com 31 freguesias, policêntrico. Temos uma cidade-sede central, mas temos algumas freguesias com uma população e competitividade idêntica à cidade-sede. Entre a opção de um grande pavilhão, como a Nave de Espinho, equipamentos megalómanos e muitas vezes subaproveitados, e com o mesmo dinheiro fazer dez pavilhões, eu prefiro a se-

gunda opção. Claramente, não precisamos de um grande pavilhão que nos vai custar muito dinheiro para fazer um evento esporadicamente. Prefiro dez pavilhões, para todo o ano, todas as associações e todas as modalidades, disponível para toda a população. Aliás, a nossa opção tem passado por aí. Até os pavilhões escolares estão abertos à população, fora do horário lectivo. Mas também é importante referir, se nós quisermos temos um grande pavilhão, maior que os dos concelhos limítrofes, temos, que é o Europarque. Realizou-se lá o Campeonato Nacional de Ténis de Mesa que ocupou apenas um terço do pavilhão. Ao contrário do que se pensa, na Feira temos o maior complexo coberto do país, que permite ter três ou quatro grandes pavilhões dentro, por exemplo, para a prática desportiva. Dou outro exemplo, o piso do pavilhão de Fiães é melhor para a prática de voleibol que a Nave de Espinho. A nossa política de equipamentos desportivos está certa. Não há um défice desses equipamentos na cidade-sede? Não. Temos o pavilhão da Lavandeira, temos os das escolas. A cidade tem uma oferta adequada, e mesmo nos arredores. Na Feira, ainda não estamos habituados a pensar como uma cidade. Um quilómetro ou dois parece muito longe. Vamos às grandes cidades nacionais ou europeias e andamos meia hora a pé para fazer dois quilómetros. Não é nada de extraordinário numa cidade. O sentir cidade-sede ainda é pequeno. A cidade-sede está a crescer muito, e vai crescer ainda mais. Este conceito urbano — espero chegar, nos próximos anos, aos 30 mil habitantes— tem de crescer. Estamos ainda a passar a dimensão semi-rural urbana para a dimensão urbana. A cidade da Feira já o é, mas vai ser ainda mais, vai ter uma expansão natural. Hoje, a cidade da Feira é muito procurada, não há um apartamento


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o empreendimento

O pEc, ava O, ntidO... para vender, o arrendamento é quase impossível. Isto diz bem da dinâmica dos últimos anos. Como vê a pretensão de o Feirense criar um complexo que ligue o Complexo Desportivo ao Estádio de Sanfins, em que se inclui a construção de um pavilhão? O Feirense tem feito um trabalho extraordinário ao nível desportivo, que deve ser enaltecido. Estamos na melhor época de sempre do Feirense. Há uma nova ambição em Santa Maria da Feira, também traduzida pelo clube, mas não só no Feirense. Ao nível de formação e modalidades, o Feirense também tem vindo a crescer muito. Dou os parabéns ao clube. Vou reunir muito em breve com o presidente, estou inteiramente ao lado do clube nos projectos que queiram apresentar e na colaboração que pretendam. Estou totalmente aberto a uma solução para um pavilhão gimnodesportivo para o Feirense. O clube precisa mesmo. Tem crescido muito. Para o campo de Sanfins, fruto do seu isolamento, é algo fácil de vandalismo e qualquer investimento que lá façamos implica condições para o preservarmos. Já aconteceu antes. Precisa de alguma protecção, vigilância ou então vai ser vandalizado. Se o Feirense fizer uma proposta para o espaço, estou disponível para analisar e eventualmente viabilizá-la. A minha visão da política desportiva municipal passa muito pela parceria com os clubes. O mes-

mo com as associações. Temos uma riqueza associativa única no país, que é própria dos portugueses e dos feirenses. Há muita gente que ainda não o percebe, mas quando temos um clube de futebol, um rancho folclórico, um clube de música ou uma IPSS — praticamente todas as freguesias o têm —, estamos a falar de todo um conjunto de infra-estruturas ao nosso dispor, e de trabalho de pessoas da Terra, não com ambição de ganhar dinheiro, mas sim com amor à arte e um sentido de comunidade que é um ‘tesouro’. Não nos devemos substituir a essas instituições, mas sim estar ao lado delas. Isto é desenvolver uma sociedade civil. A saúde de uma Terra de um país vê-se pela força da sua sociedade civil. Quando a força está demasiado concentrada no Estado, seja o Estado Central, seja o Estado Local, as instituições e a sua dinâmica social perdem força. Vejo muito da sociedade civil no nosso movimento associativo. Temos de perceber como somos, que não se confunda com ‘parolice’. Muitas pessoas pensam que a tradição portuguesa de querer comer uma sardinha assada e de dançar no rancho folclórico é parola, mas não é. É cultura, é tradição, é fantástico. Os estrangeiros têm inveja de nós por causa disto. Acredita que há condições para surgir no Concelho uma outra referência nacional, para além do Feirense? O Feirense, fruto de um trabalho bem executado ao longo dos anos, conseguiu consolidar uma posição de primeiro lugar no Concelho. Há condições, especialmente a parte Norte do Concelho que sempre foi forte, particularmente no futebol, para surgir uma outra referência. Por exemplo, os adeptos do Lourosa são verdadeiramente apaixonados. Mesmo estando em escalões inferiores, talvez ainda seja o clube que mais adeptos mobiliza. Há um potencial enorme motivado por essa paixão. É um leão adormecido que a qualquer momento pode despertar. E há vontade para isso, veja-se a construção da Academia [Forte Paixão]. Depois há o União de Lamas, que também está a recuperar. A norte, entre o Lourosa e o Lamas, penso que são duas terras que a qualquer momento podem ter projectos que os voltem a colocar em escalões superiores.

O PEC terminou há oito anos…

Havia expectativas elevadas relativamente ao Parque Empresarial de Recuperação de Materiais (PERM)

e o Parque Empresarial da Cortiça (PEC)… O PERM está em pleno. Aliás. Devemos ter mais de dez projectos no PERM aprovados. Alguns em obra e penso que uma até já tem licença de utilização. Está em plena actividade e com muitas áreas de actividades. Mais uns meses e vamos ter muitas pessoas a trabalhar ali. E então se arrancar o investimento da multinacional espanhola que comprou um terreno de 10 mil metros, da área de calçado — um dos maiores fabricantes do mundo de calçado de luxo…eles compraram o terreno, agora começar a construir é uma opção deles. O PEC terminou há oito anos. Na altura, no estudo que fiz, entendi que não era viável do ponto de vista económicofinanceiro. Segundo, o PEC para além dessa dificuldade tinha um grande problema de obra. Um dos lados onde se previa a construção — lado norte —, tinha zonas de aterro com 20 metros de altura. A componente técnica de uma obra destas preocupou-me imenso. Fazer um aterro com mais de 20 metros de altura faz-se, mas pode ter consequências. O projecto PEC como estava idealizado não faz sentido. Mas não o abandonámos, talvez tenha é outro nome. Temos uma via infra-estruturante importante, que faz parte da via Feira-Nogueira, e temos, espero que a Câmara o faça nos próximos anos, a ligação do CINCORK, na Zona Industrial da Valada. Todos aqueles arruamentos, confinantes com o Eixo das Cortiças, não serão um parque empresarial, como o PERM, mas será uma zona onde será possível desenvolver unidades industriais com uma grande via estruturante que já lá está construída. A Cork Supply está a ampliar o complexo. Está ali a crescer um complexo de cortiça brutal. Temos ali ‘PEC’, não será com o mesmo investimento maciço, mas com uma filosofia diferente. Logo que consigamos fazer o Eixo das Cortiças, fizemos uma candidatura, cuja aprovação é difícil porque o Governo diz que não há fundos para estradas. Já dissemos que é muito mais que uma estrada, é a ligação a uma série de zonas industriais. Temos de o fazer de uma forma faseada. Que se passa na relação com as Infraestruturas de Portugal relativamente à EN 223? Muito simples. O Estado Central português não tem dinheiro. A opção deste Governo foi aumentar salários e diminuir os horários. Para cumprir as metas do défice só há uma solução. Uns denominam de cortes no investimento, outros de cativar despesa. Fui falar com o Secretário de Estado, em

Novembro, porque a obra era suposto arrancar em Outubro de 2016. Durou dez minutos a conversa. A resposta foi que a despesa está cativa. Mas o país está todo assim. O país está, neste momento, a adiar investimentos fundamentais, até na manutenção e reparação. Os nós de Sanfins e do Complexo Desportivo são críticos. É uma das estradas mais saturadas do país e não conseguimos resolver o problema. Sinto que o país está a adiar despesa, lamentavelmente. Que se passa com ao Centro Coordenador dos Transportes? Ainda não está previsto. O Centro Coordenador dos Transportes (CCT) é uma ideia que está presente, e temos um terreno reservado, junto às bombas de gasolina, na Cruz. Ainda não avançamos com o projecto, mas estamos também a ver como fica a questão do Vouguinha. Faria sentido que tivesse uma relação com o Vouguinha. Na minha opinião, como a questão do Vouguinha deverá demorar algum tempo, nós vamos ter de avançar e não aguardar. Mas a localização do CCT também está a gerar discussão. Temos reservado o espaço, junto ao Pingo Doce, mas há quem defenda que seja na Zona dos Pinheiros, mas penso que não devemos mexer naquela mata. Se não houver grandes mudanças, deverá acabar por ser no tal terreno que está reservado. A localização é boa. Sobre o Vouguinha, não há movimentações? Estou a tentar colocar Vouguinha na agenda da Área Metropolitana do Porto, por consequência, da CP e da REFER. A única coisa que podemos fazer é pressão política. Já me disseram que vão fazer um estudo de viabilidade do equipamento. Deve estar quase concluído. Prometeram que, ainda este ano, teríamos o estudo de viabilidade para eventualmente avançar para o projecto de execução. Tenho tratado do assunto como presidente do Conselho Metropolitanos do Porto (CMdP) e como presidente da Câmara da Feira. Estamos sintonizados com os restantes concelhos. Uma das minhas ambições, enquanto presidente do CMdP, era que todos os munícipes pudessem ter acesso, por comboio até ao aeroporto. E a extensão do Metro do Porto… O Metro obriga a muita procura para ser rentável. Mais do que uma rede de Metro, gostava de ter uma linha ferroviária que nos ligasse ou a Campanhã, ou às Devesas, ou até à estação de Metro que vai ser construída em Vila D’Este, em Gaia. Não me preocupa que seja metro. Admito que seja uma ligação a Espinho, mas gostava que Pub.


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fosse ao Porto.

Milheirós de Poiares: a luta segue dentro de momentos…

Qual é ponto da situação relativamente à questão de Milheirós de Poiares? Teve uma reunião na Assembleia da República na sextafeira. As duas petições subiram ao Plenário em simultâneo e não houve iniciativa legislativa. Todos os partidos deram o seu parecer, com o PSD, CDS, PCP e Verdes a colocarem-se ao lado da não desanexação de Milheirós de Poiares. O PS e o BE ficaram a favor da desanexação, mas não apresentaram proposta legislativa, porque perceberam que não conseguiriam maioria no Parlamento. O resultado é bom para as nossas pretensões, e a favor da maioria dos milheiroenses que querem ficar no Concelho. Estou contente. Espero que o assunto esteja terminado, mas temos de estar atentos porque em política nunca se sabe. O BE disse que iria apresentar, mais à frente, talvez depois das eleições autárquicas, uma proposta de lei para a desanexação. Temos de estar atentos, mas congratulo-me com o resultado. Vi com tristeza toda esta tentativa de dividir o nosso Concelho. Lutarei com todas as forças para manter o Concelho. A dinâmica que se sente no Concelho não está a ser bem compreendida, e alguns não gostam disso. A hora é de união e não de disputas. As Terras de Santa Maria devem crescer, trabalhar em conjunto. É público o que tenho feito para que assim seja e vejo com mágoa esta mancha no processo de unidade que estamos a construir nas Terras de Santa Maria. Mas julgo que no futuro não passará de uma pequena memória histórica porque os milheiroense vão continuar em Santa Maria da Feira e digo-o com verdadeiro apreço, amor e admiração pelas pessoas de Milheirós de Poiares. Os milheiroenses de longa data, na sua generalidade, querem continuar em Santa Maria da Feira, como mostra a petição da Câmara. E não foram pressionadas, como é óbvio. Quero, sinceramente, que as pessoas de Milheirós se sintam confortáveis e realizadas no concelho de Santa Maria da Feira. Mantém a aposta no Europarque? O Europarque estava moribundo. Caminhava a passos largos para uma ‘morte’ desonrosa. Se não fosse a nossa acção, seria hoje um grave problema para Santa Maria da Feira. Seria vandalizado, um local onde ninguém se atreveria a entrar. Hoje,

o Europarque fervilha de actividade. Está a recuperar. Em dois anos, só vai fazer em Maio, já se nota a diferença. A parte de eventos, a parte cultural e congressos está a funcionar razoavelmente. Ainda não está como gostaria, mas já tivemos mais de 200 eventos em 2016. Ainda temos um défice da exploração da rentabilidade do espaço (obra/despesa), mas está dentro do espectável. E temos o exterior do Europarque que hoje é claramente um parque da cidade. Está sempre com muitas pessoas a praticar desporto. Ao fim-de-semana são milhares de pessoas. Ao domingo de manhã, temos uma série de actividades monitorizadas. Tornou-se num grande parque de lazer da região, e não apenas da Feira, porque é seguro e agradável. Abrimos um restaurante que é um factor de atracção. O lago é um atractivo. Os caminhos estão limpos, os relvados tratados. Se não tinha grandes dúvidas que ia colocar o Europarque a funcionar melhor, hoje não tenho dúvidas nenhumas. O Europarque vai ser o grande polo de desenvolvimento do Concelho nos próximos anos, como centro de congressos, como zona de lazer, como actividade de saúde (clínica e colégio que lá estão). O próprio Visionarium está neste momento num processo negocial muito avançado para uma nova entidade exploradora, que vai ser uma surpresa muito boa para o território. Gente da região, mas com um projecto muito avançado, e o próprio espaço comercial do Europarque vai receber a Associação das Empresas de Tecnologias de Informação e Comunicação Electrónica. Vão lá ficar instalados. É liderada por um feirense, tem mais de 50 associados de todo o país, vamos lá tê-los nos próximos dois anos sem pagar renda para promover e captar pessoas (altos quadros) numa área que será o futuro. E mais se seguirão. Vamos ter ali um polo vasto. E a norte do Europarque, onde estão instalados os norte-americanos (Amy’s Kitchen), temos um parque empresarial em plena infra-estruturação, concluído em cerca de dois meses. O próprio Feira Park está cheio de actividade. Recentemente foi apresentado uma nova versão do Parque da Cidade (Cáster)… Temos duas componentes. A Quinta do Castelo, que temos um projecto já candidatado a fundos comunitários, cerca de dois milhões de euros de obra. Devemos avançar com concurso ainda este ano. E temos a Zona das Ribeiras do Cáster, que também tem projecto. Tem como base o projecto do professor Costa Lobo. Estamos na fase de negociação de terrenos e nou-

tros casos estamos a comprar directamente, quando o preço o justifica. Os terrenos não têm aptidão construtiva, têm um valor muito residual. Gerimos o dinheiro como se fosse nosso.

CF: Visão acertada

O Correio da Feira faz hoje 120 anos. Como vê a comunicação social no Concelho? Prezo muito que a comunicação social funcione bem. Espero que continue a existir. Sinto que a maioria tem grandes dificuldades porque a concorrência da comunicação digital e das redes sociais é enorme. Os novos leitores não estão disponíveis para comprar. Eu ainda sou de uma geração que gosta de ler, de comprar, de sentir e mexer na folha. Isto associado à crise nas empresas, há grande dificuldade em investir em publicidade local, faz com que a maioria se debata com muitas dificuldades. Do que conheço, temos uma comunicação social aberta à população, independente, onde qualquer partido faz a sua presença com total à vontade. Penso que a nossa comunicação social também não terá grandes razões de queixa da Câmara. Há um perfeito respeito pela comunicação social, e espero que se possa manter, apesar das dificuldades. O Correio da Feira teve uma visão acertada de se modernizar. Apostaram nas redes sociais, no digital, foi bem pensado. Só falta o vídeo. Vamos ver se o mercado publicitário também melhora. Acredito que sim. Tenho um conceito de democracia que não passa apenas pelo voto. A democracia é o voto, mas também passa pelo movimento associativo e pela comunicação social independente. Concorda que um jornal regional deverá ser entendido como um parceiro de desenvolvimento regional? Sim. Normalmente, é. Uma terra que tem um jornal eficiente, que interage com o tecido empresarial, que obtém a sua receita da publicidade que faz, indica que é uma sociedade que está a funcionar. O Alexis de Tocqueville [escritor político, historiador, pensador político e da democracia], um dos maiores pensadores da liberdade, dizia que uma das coisas que mais o impressionou na América foi exactamente a imprensa livre nos Estados Unidos. [no séc. XIX] Qualquer terra tinha um jornal. Isso é fundamental. O PSD reuniu a sua Comissão e confirmou cerca de 160 nomes de candidatos às Autárquicas. O nome de Emídio Sousa é um deles? Julgo que não. Sei que o PSD Feira já reuniu e convidou-me. Ainda não respondi, vou fazê-lo oportunamente.

Estar a dizê-lo agora é prematuro. Hoje, é tudo muito imediato, mas primeiro tenho de comunicar a decisão ao partido. O partido reuniu e convidou-me. Foi consensualizado. O presidente da Concelhia deu-me nota da sua vontade, e da do partido, de eu ser o candidato. Entretanto, eu vou responder ao partido e depois será tornado público. Em Maio, teremos informação. Partindo do princípio que será candidato, como avalia os candidatos já conhecidos? Prefiro fazê-lo já depois de ser candidato... Mas a campanha já está em andamento… Sim, há quem esteja há um ano a fazer campanha. O trabalho da Câmara é tão absorvente e as campanhas exigem muito esforço dos candidatos. Eu estou de tal forma empenhado no meu trabalho na Câmara…Não acontece nada se não trabalharmos. Toda a dinâmica que se assiste na Feira resulta de muito trabalho e de muitas pessoas. Por exemplo, tenho investido muito do meu tempo na captação de um investimento de uma multinacional suíça, na área da alta relojoaria, que é importantíssimo. Uma empresa que trabalha para a Cartier, por exemplo. Representa investimento de horas. É um empreendimento muito interessante para a região. Vai de encontro à ideia de passarmos de uma empregabilidade de baixos salários para salários/procura de competências melhor remuneradas. Tem de ser o próximo passo. Estancámos e diminuímos a questão do desemprego. Agora é altura de trabalho qualificado, para os jovens licenciados. Ou conseguimos investimento nacional e estrangeiro que segure estes jovens cá ou eles saem. As germinações têm algum contributo para a questão da captação de investimento? Muito contributo. Foi através das germinações que abrimos portas. Nós temos um recurso fabuloso que são os nossos emigrantes, a nossa diáspora. Há um português, um feirense, em cada esquina. Não perceber este extraordinário recurso, que fala a nossa língua, é desperdiçar oportunidades. Temos uma capacidade para crescer tremenda. Por isso, entrar já em campanha é ter de dividir o meu tempo com o trabalho da Câmara. Não o quero fazer porque as oportunidades estão aí e não as podemos perder. A campanha tem de ser feita, mas, se se vier a confirmar a minha candidatura, só será efectuada o mais tarde possível. Neste momento, há muito trabalho para fazer na Câmara. Pub.


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TESTEMUNHOS

Amadeu Soares Albergaria, Deputado (AR), presidente da Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira Assinalam-se os 120 anos de vida do Correio da Feira, um dos mais antigos, respeitados e prestigiados títulos da Comunicação Social local em Portugal. Ao longo da nossa História enquanto Comunidade, soubemos, não raras vezes, reinventarmo-nos. Foi, é assim, na nossa economia, na educação, no associativismo ou na construção do nosso modelo urbano. O tecido produtivo local, as nossas associações culturais e desportivas e as gentes de Santa Maria da Feira são reconhecidos pelas suas ímpares capacidades de trabalho, de resiliência, de reinvenção e de inovação, predicados, aliás, tão bem patentes na própria existência do Correio da Feira.

A história do Correio da Feira remonta aos longínquos tempos da Monarquia. Viveu por dentro a Implantação da República no nosso país. Sentiu os ecos de dois conflitos mundiais. Resistiu ao Estado Novo em Portugal. Festejou com todos os seus fiéis leitores a Liberdade do 25 de Abril. Testemunhou a materialização do notável projeto de desenvolvimento do nosso município. O Correio da Feira é, pois, verdadeiro e vivo documento histórico da nossa comunidade. A construção da identidade das comunidades depende muito da forma como soubermos lembrar, respeitar e perpetuar as nossas memórias coletivas. Nesse sentido, é inestimável o papel que a Comunicação Social Local, e o Correio da Feira em particular, desempenha na permanente constru-

ção da identidade de Santa Maria da Feira. Mais de 6.000 edições do Correio da Feira trouxeram até nós, leitores, um sem-número de notícias e factos, a exaltação de heróis locais e um amplo e plural espaço de encontro e debate de opiniões. A data que agora assinalamos constitui genuíno e autêntico motivo de orgulho para Santa Maria da Feira, pelo que todos os profissionais do Correio da Feira, de hoje ou ontem, todos os seus Diretores ou Administradores, são credores do máximo respeito e reconhecimento da parte de todos os feirenses. Acredito que, apesar dos seus respeitáveis 120 anos de vida, O “Correio da Feira” não tem idade… mas sim memória, e conserva todo um jovial vigor, entusiamo e paixão pelo jornalismo.

Muitos terão sido os obstáculos ao longo de 120 anos de vida…mas a capacidade de resistência dos seus fundadores eseguidores, conseguiram produzir de forma ininterrupta as notícias da nossa terra e fazê-las chegar aos Quatro cantos do Mundo. Para estes, as primeiras felicitações pelo presente aniversário. Além do simbolismo pela sua bonita idade sublinhe-se o seu percurso marcado como uma referência invejável de Santa Maria da Feira na informação regional, nacional e além fronteiras pela sua independência, verticalidade e rigor, sem abdicar de um estilo próprio

de produzir informação assente no princípio republicano de servir com equidade os seus leitores. Soube viver 120 anos de forma exemplar, como poucos jornais da imprensa regional, o sabem fazer… Na presente oportunidade, quero testemunhar o carinho muito especial que os Feirenses têm pelo Jornal Correio da Feira, porque marcou as suas vidas. Parabéns por ser assim. O Correio da Feira merece este dia e muitos mais. Feliz aniversário!

António Cardoso, Deputado à Assmbleia da República

120º Aniversário do Semanário Correio da Feira Ao comemorar o seu 120º aniversário o Semanário Correio da Feira merece antes de mais sublinhar a resiliência e a determinação como tem exercido a nobre missão de servir a comunicação social dirigida em especial para os cidadãos Feirenses.

Pub.

António Topa, Deputado à Assembleia da República Exmo. Sr. Director do Jornal Correio da Feira Tenho 62 anos. Desde os meus 5 anos que conheço o vosso Jornal. Fazia parte da do dia a dia da minha família. O meu Pai, emigrante na Venezuela, assinou o Jornal em 1960, mal retornou para viver definitivamente em Portugal. Lá em casa era uma guerra quando o Jornal chegava. Todos queriam lê-lo em primeiro lugar. Liamos as notícias da nossa freguesia, das outras freguesias e do concelho. Não havia um bocadinho que ficasse por ler. O meu pai faleceu em 1992. Fui o herdeiro da assinatura. Continuo a receber o Jornal em minha casa. Os anos passaram. Durante os anos, muitas vezes discordei dos editoriais, dos articulistas. Algumas vezes até me enervei, porque, a independência e isenção do Jornal estavam em causa. O Jornal, hoje, já não é o Jornal dos meus tempos de criança. É diferente. Tem mais artigos de opinião, mais notícias dos movimentos da sociedade, mais informações e comentários de natureza política e do movimento associativo, ou seja, acompanhou a evolução dos tempos, a sociedade de informação global. Quero aqui expressar a minha homenagem ao Sr. Manuel Sá, que durante muitos anos dava as notícias da minha terra, Vila Maior. Tem hoje 92 anos. Depois de tudo, continuo a ser assinante do Jornal. A ler praticamente todas as notícias. O jornal faz parte das minhas memórias. Lá em casa o Jornal faz parte da família. Os meus parabéns ao Jornal Correio da Feira pelos seus 120 anos de vida.


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Roberto Carlos Reis Desafiado a dar o meu testemunho sobre a importância do Jornal Correio da Feira na minha vida, gostaria de sublinhar que a minha colaboração começou aos 12 anos com uma rubrica assinada por mim e pelo Biná, designada de Coluna Jovem. Nesta apontávamos a existência de um buraco por tapar, de uma carreira por limpar, do mau acondicionamento do lixo, de uma árvore caída e de outras situações, culminando sempre com uma anedota.. e queos leitores gostavam e apreciavam! Era uma forma de motivação para a escrita que as Senhoras do Correio d Feira, D. Brizida e D. Luísa, faziam junto de adolescentes. Era o tempo de o Sr. Alípio, tipógrafo durante décadas, compor o jornal a chumbo…passávamos horas a observá-lo, teclando,fazendo lembrar um pianista, as notícias em chumbo, que depois iam para a Rotativa Heidelberg…. tendo sempre a prestimosa esposa D. Andelina por perto a intercalar, a dobrar e a expedir para os CTT, tarefas essas em que por vezes colaborávamos. Mais tarde, veio a era do comutador e do off-set, que sem dúvida viria facilitar o trabalho de todos, podendo-se inserir fotografias….e ter mais umas

páginas a cores Ao mesmo tempo as senhoras do Correio da Feira, pediam apoio para a leitura das provas do jornal que serviam para detatr gralhas e erros orográficos, antes da composição final, a troco de uma notita de 100 ou de 500 escudos, dependia sempre…. Que saudade dos escritos do Sr. Lamoso, do Sr. Bálio dos Reis, do Manuel Tavares, do Orimar da Fina, do Ignotus, do José Vale, do Serafim Lopes e tantos outros que deixaram marcadas a letras de ouro as páginas do Correio da Feira, que consubstanciam em si a História dos últimos 120 anos desta região. Relembro aqui as correrias, os jogos de cowboys, e outras tantas as brincadeiras pelo palacete imponente, que hoje deu lugar a um equipamento de excelência na área da hotelaria, o Hostel da Praça Este percurso fez com que na época de estudante, fosse convidado para trabalhar noutros órgãos de comunicação: Rádio Águia Azul, Terras da Feira, Radio Clube da Feira, Informedia Rádio, Radio regional Sanjoanense, Rádio Clube da Feira, Comercio do Porto, Jornal de Noticias, Jornal Record e Jornal O Jogo. E sempre com as Senhoras a incentivar o Curso

Superior, recordado que o jornal fez notícia da minha Licenciatura! Esta gratidão enorme para a família Correio da Feira, fez com mais tarde, ajudássemos a encontrar a solução para a direção do jornal, num período difícil do mesmo, mas que felizmente veio a reerguer-se, culminando com as celebrações dos 115 anos e agora dos 120 anos. Claramente que houve uma fase, em que a conotação e o ferrete partidário foram uma constante, mas o velhinho Correio foi sobrevivendo até chegar a esta Administração liderada pelo Jorge de Andrade e Silva, que na minha opinião está a levar o jornal a um bom porto, transformando-o numa referência entre os seus pares: pluralista e independente. E como sublinha Miguel Torga no seu Diário de 1942 “Cada época é definida pelo que apresenta de novo, de especificamente seu. Pode não ser um alto pensamento filosófico, uma grande reforma moral, uma arte requintada, uma ciência generosa. Mas há-de ser a dádiva de qualquer uma dessas manifestações humanas, ou todas, numa concepção inteiramente inédita, original, inconcebível noutro tempo da história”.

Correio da Feira Comemora 120 anos Ao comemorar hoje o seu 120.º aniversário, vamos apresentar uma pequena resenha, baseados na Imprensa Periódica da Vila e do Concelho da Feira (Roberto Vaz de Oliveira) e Imprensa Periódica de Santa Maria da Feira ( Etelvina Araújo e Márcia Cruz) do que foi e do que é o jornal Correio da Feira, que já percorreu três séculos: O “Correio da Feira “, foi fundado em 11 de Abril de 1897, com o objectivo de defender a política do partido regenerador, com o auxílio e apoio dos vultos do partido no concelho: Foram fundadores do “Correio” os vultos proeminentes da política regeneradora da Feira: Dr. António de Castro Pereira Corte Real (mais tarde e sucessivamente, visconde e conde de Fijô), deputado pela Feira em diversas legislaturas e presidente da Câmara Municipal da Feira, nos exercícios de 1882-1885 e 1886; Dr. Vitorino Joaquim Correia de Sá, distinto advogado, que foi presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal da Feira, nos exercícios 1914 –1917 e 1918, da qual já havia sido vice-presidente em 1912; Dr. Manuel Batista Camossa Nunes Saldanha (visconde de Albergaria de Souto Redondo), que foi presidente da mesma Câmara Municipal, nos exercícios de 1890-92, 1893-97; Joaquim José Pinto Valente, ao tempo proprietário da casa chamada dos Leões, no Rossio. No artigo de fundo do seu número um dizia: “O nosso Semanário - Na hoste gloriosa da imprensa vem alistar-se mais um combatente. Jura fidelidade aos eternos princípios da justiça e da verdade, e nas pugnas incruentas em que vai lidar, defenderá com honra e denodo o partido regenerador sem esquecer o respeito devido aos adversários, que enfileirados sob outra signa pelejam connosco pela pátria e pela liberdade...” concluindo “E assim norteados combateremos todas as injustiças e arbitrariedades,

reclamaremos direitos sem descuidar os deveres correlativos e especialmente propugnaremos com todo o zelo as necessidades locaes “. No número 22 de 5 de Setembro de 1897, já inscrevia, ao lado do seu título - “O Correio da Feira é o órgão do partido regenerador local” e no número 53 de 10 de Abril de 1898, em destaque e por baixo do seu título, “Órgão do partido regenerador do concelho da Feira “. A partir do número 117 de 1 de julho de 1899, altera para “Órgão do partido regenerador e dos interesses do concelho da Feira “esta modificação resultou, por certo, da luta que, então, se travava entre a Feira e Espinho, devido à elevação desta vila a concelho. Desavenças políticas surgiram entre José Soares de Sá, por um lado e Pinto Valente e o Dr. Henrique Vaz Ferreira, por outro lado, em resultado de dissidências que se deram no partido regenerador após a morte do conselheiro Hintze Ribeiro, em I908. Delas resultou o “Correio da Feira “ acatar a chefia do conselheiro Júlio de Vilhena, ao contrário daqueles outros dois: daí este jornal, no seu número 589 de 18 de Julho desse ano, ter anunciado com grandes letras, que passava a ser composto sem qualquer ingerência dos mesmos, afirmando que “prosseguirá enfileirado entre os seus colegas ortodoxos da Imprensa do partido regenerador defendendo-lhe as ideias e os interesses”. Comentando esta atitude, o Diário Popular, jornal em que directamente superintendia o conselheiro Júlio de Vilhena, refere no seu número de 22 do mesmo mês de Julho.- “Apesar do Sr. Vaz Ferreira se ter separado do Correio da Feira este jornal nosso prezado colega continua sendo genuinamente regenerador e continuara assim abertamente ao lado do prestigioso chefe do

partido regenerador”. Em razão de tais divergências, em 23 de Novembro de 1908, aparece um novo jornal “Gazeta Feirense”, propriedade do Dr. Vaz Ferreira e direcção de Pinto Valente. No número 691 de 9 de Julho de 1910, apoda as seguintes afirmações feitas pelo conselheiro Campos Henriques; “Somos os que fomos sempre: monarchicos firmes, quer nas horas de fortuna quer nas de adversidade. E assim que se afirmou em todas as circunstâncias o partido regenerador”. Isto visava directamente os dissidentes Dr. Henrique Vaz Ferreira e Pinto Valente, pois José Soares de Sá, em suplemento ao número 696, com data de 16 de Agosto de 1910, em folha volante de pequeno formato e para agastar aquele, anunciava (como director e administrador do “Correio da Feira “) que o governo demitira o Dr. Vaz Ferreira de Governador Civil de Aveiro. No número 697 de 20 de Agosto de 1910, declara-se fiel à chefia do partido por parte daquele conselheiro Campos Henriques, que a facção da direita deste partido elegeu em sucessão do conselheiro Júlio de Vilhena. Pouco tempo durou esta filiação partidária porque, no dia 8 de Outubro seguinte, o “Correio da Feira”, no seu número 704, intitula-se semanário político e abraça o regime republicano. A seguir ao número 727 de 18 de Marco de 1911 e com data de 22 deste mês, foi distribuída, em pequeno formato, outra folha volante assinada pelo “Editor José Soares de Sá “, comunicando aos assinantes, anunciantes, colegas e amigos que o jornal tinha sido suspenso pelo administrador do concelho, Ernesto Belesa de Andrade, lavrando o seu protesto contra a falta de liberdade de Imprensa, declarando que lhe era imposta a suspensão da sua publicação.

Em 1 de julho de 1911, com o seu número 728, recomeça a sua publicação normal. Em artigo de fundo, dirigido aos seus leitores, diz que a suspensão, que tivera lugar em 22 de Março, fora levantada em 9 de Maio, lavrando o seu protesto, dizendo que não curou de averiguar o que motivou ou fundamentou essa suspensão e que não solicitara a “graça de continuar a publicar o semanário”. A partir do número 729 de 8 de julho de 1911, passou a denominar-se “Semanário Republicano” e no número 756 de 13 de Janeiro de 1912, intitula-se “Órgão do partido Republicano do Concelho”, publicando, nesse número e nos seguintes (757 e 758), a respectiva comunicação datada de 10 desse mês, feita pelo Dr. António Ferreira Pinto da Mota, como presidente da “Comissão Política Municipal do Partido Republicano “. Manteve esta representação ate ao número 832 de 5 de julho de 1913. No seguinte de 12 de julho de 1913, começa a designar-se “Órgão Filiado no Partido Republicano Português”. A partir do número 907 de 5 de Dezembro de 1914, já se intitula “Semanário Republicano Evolucionista “, para, desde o número 1156 de 11 de Outubro de 1919, se inculcar “Semanário Republicano Liberal”, designação que ainda se mantinha no número 1255 de 15 de Outubro de 1921. No seguinte de 22 de Outubro e, assim, depois da morte do Dr. António Granjo, orientador daquele partido liberal, passou a denominar-se “Semanário Republicano”. Desde o número 1373 de 26 de Janeiro de 1924 “Semanário Republi¬cano Independente” e assim ate ao número 1420 de 27 de Dezembro de 1924; a partir do seguinte de 3de Janeiro de 1925, “Semanário Republicano Independente” e desde o 1679 de 26 de julho de 1930,


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Amaro Araújo Presidente da Junta de Freguesia de S. João de Ver O Correio da Feira na sua longa e bonita história, que agora perfaz 120 anos, assumiu-se pelo seu rigor e independência como uma referência na informação regional. Desempenhou um papel fundamental na promoção de Santa Maria da Feira, suas freguesias, associações e gentes, sendo hoje mais do que um jornal,

“Semanário Republicano Independente — Regionalista “. A partir do número 2267 de 10 de Janeiro de 1942, até ao 3438 de 6 de Fevereiro de 1965, acresce “Fundado em 11 de Abril de 1897”. Desde o número 2456 de 24 de Novembro de 1945, passa a “Semanário Republicano Regionalista”. O “Correio da Feira “, além dos já referidos suplementos ao número 696 e ao que se seguiu ao 727, publicou: um ao número 100, em 6 de Março de 1899, intitulando-se órgão regenerador, dedicado ao comício que, no referido Real Teatro D. Fernando II, desta Vila da Feira teve lugar, na véspera, a favor da integridade do concelho; outro ao 344 de 7 de Novem¬bro de 1903, sobre publicações literárias; outro ao numero 467 de 19 de Marco de 1906, anunciando a queda do governo progressista e que fora encarregado de formar governo, o conselheiro Hintze Ribeiro; outro ao n.º 1596 de 9 de Junho de 1928 com artigo do Dr. Aguiar Cardoso. Este jornal teve, além de outros, os seguintes colaboradores: Dr. António Augusto Aguiar Cardoso, Dr. Henrique Vaz Ferreira, Dr. Eduardo Vaz de Oliveira, Dr. António Ferreira Soares, Dr. Vitorino Joaquim Correia de Sá, Conde de Fijô (Dr. António de Castro Pereira Corte Real), D. Fernando Tavares e Távora, Joaquim José Pinto Valente, Dr. Paulo de Sá, Francisco Vicente da Costa Neves, Manuel José Lopes Pereira, José Correia de Sá, D. Maria da Luz Albuquerque, Alberto Ferreira Monte Santos, Capitão Alípio de Oliveira, Albino Alvão, Hugo Rocha,

é a historia impressa em papel. Devemos reconhecer os méritos de quem o fundou, e a abnegação de quem o manteve e mantém vivo, trabalhadores, administradores, jornalistas e correspondentes, todos eles estão de parabéns. Foram vários os Sanjoanenses que tiverem forte ligação ao Correio da Feira, desde jornalistas a correspondentes, que de forma empenhada e

Joaquim Batista de Freitas, Ferreira da Rocha, Vicente Reis e Dr. Manuel de Paiva, Padre José de Pinho, Padre Albano Alferes, entre outros. Depois de uma vida exaustiva de trabalho, quando já tinha cerca de 90 anos, José Soares abandonou a direcção e a editoria do “Correio da Feira “ (número 3240 de 15 de Abril de 1961), ficando como directora e editora sua filha D. Brizida Monte Santos Soares Alvão e, como proprietários e administradores, ele e seus filhos. Desde o número 3509 de 11 de junho de 1966 até 1997, apresenta-se como directora e editora D. Brizida e como administradora sua irmã D. Maria Luísa. Em 1997, a Direcção do jornal foi confiada a Manuel Tavares, e desde o dia 3 de Janeiro de 2003, é Albino Santos o Director Interino do Correio da Feira. De 2 Janeiro de 2004 a 2 de Setembro de 2006), o director foi Salomão Rodrigues. De 5 de Outubro de 2006 a 5 Setembro de 2011, o director foi Paulo Noguês. A partir de 29 de Junho de 2006), a propriedade é da “Trazer Notícias, Lda.”, conhecendo-se como directores do Correio da Feira: de 12 Setembro de 2011 a 6 Fevereiro de 2012, Orlando Macedo. Posteriormente desde 13 Fevereiro de 2012 ao final de 2014, Sandra Moreno assumiu a função de diretora. Desde 5 Janeiro de 2015), que Orlando Macedo reassumiu as funções de Director.

12 capas – 120 anos de História do Correio da Feira

dedicada também contribuíram para esta longa história, dos quais destaco o saudoso e amigo Manuel Tavares. O Presidente da Junta de Freguesia de São João de Ver dá os parabéns ao Correio da Feira pelo seu centésimo vigésimo aniversário, desejando as maiores felicidades e sucesso para os próximos 120 anos.

Nestas celebrações foi me efetuado o convite para escolher 12 capas do jornal Correio da Feira, que de alguma forma pudesse ilustrar os 120 anos do Jornal em cerca de 6000 edições, mas como devem de imaginar é uma tarefa hercúlea, no entanto aceitei este desafio, embora considerando, que existirão outras capas de edições que tenham mais importância. O critério de escolha, foram os factos internacionais e nacionais que de alguma forma tiveram uma enorme influência na história local de Santa Maria da Feira:

Azeméis foi inaugurado em 23 de Novembro de 1908, pelo jovem Rei D. Manuel II (que poucos meses antes tinha assistido ao assassinato do seu pai e do Príncipe herdeiro)) sendo considerado na altura um factor preponderante para a aproximação dos núcleos urbanos que englobam Oliveira de Azeméis, S. João da Madeira e Santa Maria da Feira. Segundo o “Correio da Feira”, de 28 de Novembro de 1908, “cerca de 20.000 pessoas acorreram à Vila da Feira para aplaudir El-Rei D. Manuel II, na inauguração do troço entre Espinho e Oliveira de Azeméis, da Linha do Vale do Vouga”. “Sua Majestade tinha saído de Espinho, sob um sol escaldante e cerca das 12:30 horas, depois de um almoço festivo no salão Nobre da Assembleia de Espinho”.

2. Implantação da República

1. Visita de sua Majestade o Rei D. Manuel II

O troço entre Espinho e Oliveira de

A implantação da República em 5 de Outubro de 1910 teve também os seus impactos no nosso Concelho, contribuindo para a construção da identidade do Concelho e das Terras de Santa Maria. Deste acontecimento histórico destacaram-se Republicanos oriundos de Santa Maria da Feira como o fundador do Partido Republicano Português, Francisco Sousa Brandão; o Presidente do Tribunal da Relação do Porto; Abel de Pinho, o Presidente da Câmara e deputado à Aseembeia Constituinte Elísio de Castro; o deputado, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e Ministro Ângelo Sampaio Maia; o Reitor da Universidade de Coimbra e Ministro da Pub.


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Arménio Pinho Presidente da AFA A Associação de Futebol de Aveiro não poderia ficar de fora desta efeméride, que são os 120 anos do jornal Correio da Feira. Os jornais e empresas de comunicação regional são imprescindíveis para a divulgação do desporto distrital. Como atento leitor semanal do jornal Correio da Feira, é com agrado que observo um número

Justiça; Roberto Alves, deputado, Presidente da Câmara Municipal e professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, entre outros.

3. Conflagração Europeia Início da 1.ª Guerra

Quando estalou a guerra entre as potências da Europa e a mesma entrou em erupção no Verão de 1914, Portugal permaneceu oficialmente neutro. Numa primeira etapa, Portugal participou, militarmente, na guerra com o envio de tropas para a defesa das colónias ameaçadas pela Alemanha. A 25 de Agosto de 1914, os militares alemães fizeram uma incursão no Norte de Moçambique e em 11 Setembro de 1914, Portugal envia a primeira expedição militar para as colónias. No final de 1914, Portugal estava em guerra não declarada com a Alemanha no Sul de Angola e no Norte de Moçambique. Aliado de longa data da Grã-Bretanha, Portugal estava ansioso por participar na I Grande Guerra, esperando ganhar alguma influência e lucrar com uma parte dos despojos e indemnizações de guerra, que viriam a amenizar a grave situação financeira que o país atravessava, na expectativa

cada vez maior de páginas dedicadas ao desporto e nomeadamente ao futebol e futsal Aveirense. A AFA está grata ao jornal Correio da Feira por todo o trabalho realizado em prol do futebol e futsal distrital ao longo dos seus 120 anos de existência. Para entendermos a importância deste aniversário, basta percebermos que a duração média das em-

de uma vitória rápida do conflito. No entanto, os britânicos duvidavam da prontidão do seu velho aliado para a guerra, com alguns britânicos a chegarem ao ponto de declararem o português como “aliados inúteis”. No entanto, as coisas alteraram-se 1916 quando Portugal, obedecendo às exigências da Grã-Bretanha apreendeu 36 navios mercantes alemães e austríacos no porto de Lisboa. Considerando a apreensão uma violação das regras de neutralidade, a Alemanha declarou guerra a Portugal em 9 de Março de 1916. O fervor nacionalista varreu Portugal e o governo de Lisboa preparou imediatamente uma força expedicionária para enviar para a frente ocidental. À então Câmara da Vila da Feira presidida pelo Dr. Vitorino de Sá, esta situação não foi indiferente. Na Sessão Ordinária da Câmara Municipal da Feira de 11 de Abril de 1916 presidida pelo Vice-Presidente, Saul Eduardo Valente estiveram presentes os vereadores António da Costa Monteiro, Manuel Alves da Silva, Manuel Alves Ribeiro Tavares, Manuel Ferreira Pinto, Custódio António de Pinho, António Domingos de Andrade, Manuel da Costa Dias, Manuel Pereira

presas em Portugal situam-se entre os 11 e os 13 anos, e apenas 1172 destas entidades ultrapassam a fasquia dos 100 anos de existência. A Associação de Futebol de Aveiro espera continuar a festejar por muitos e longos anos os sucessos do Jornal Correio da Feira e, juntos, festejar os sucessos dos clubes de futebol, futsal e futebol de praia do nosso distrito.

Granja, Domingos de Almeida e José Joaquim Silva e o próprio Presidente Dr. Vitorino de Sá. Da participação na primeira guerra, sabemos que participaram 174 jovens oriundos do Concelho, tedno morido 31. No entanto também tivemos heróis na Prieira Guerra Mundial: Dr. José Santos Carneiro, que integrou o Corpo Expedicionário Português, em França, como tenente miliciano, e após a célebre batalha de 9 de Abril de 1918 (batalha de La Lys) , foi feito prisioneiro dos alemães até ao Armistício, e dado como desaparecido, uma vez que não tinha sido encontrado pela família, muito embora os vários esforços efectuados nesse sentido. Conseguindo fugir, andou meses por França e Espanha, aparecendo um dia em casa do pai, como um mendigo desconhecido. Como militar, foi na Grande Guer¬ra, um valoroso e intrépido oficial, cu¬jo mérito foi sempre reconhecido pelos seus superiores hierárquicos, tendolhe sido concedida a Cruz de Guerra de 2.ª classe, além das medalhas de Bom Comportamento, Campanha de França e da Vitória. Dr. António Sampaio Maia, foi outor militar de renome, tendo sido tenente médico miliciano no Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra em França entre 1916 e 1918 e aí foi condecorado pelo Governo Francês com a Medalha de Honra das Epidemias como testemunho da dedicação excepcional de que deu provas durante diversas epidemias.

4. Movimento Militar de 1926

Os políticos republicanos não tiveram capacidade para resolver os problemas do país, motivou que os militares desferissem um golpe que levou à implementação do Estado Novo. Greves e outras manifestações de insatisfação explodiram no último período da 1ª República em Portugal, e assim os militares preparam e dirigiram golpes contra a república, sem grandes resultados até que, em 28 de Maio de 1926,

a maioria das unidades militares do país sublevaram-se e os partidos republicanos foram afastados do poder. Nos anos seguintes, entre alguma instabilidade, este golpe militar levou um civil até ao poder. António de Oliveira Salazar que começou por ocupar a pasta das finanças, mas depressa chegou à Presidência do Conselho de Ministros. Implementou um novo regime com características ditatoriais, o Estado Novo que só foi derrubado em 1975. Emergiram nesta época figuras importantes: Dr. Domingos Caetano de Sousa, Roberto Vaz de Oliveira, Domingos Coelho, Henrique Veiga de Macedo e outros.

5. Câmara Municipal reassume a organização Fogaceiras

A 15 de Junho de 1939 a Câmara deliberou voltar a assumir a responsabilidade pela realização da secular tradição, que permanece até hoje. A deliberação que pode ser consultada no Livro de Actas da Câmara Municipal n.º 48, fl. 193, diz o seguinte:

Pub.


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José Manuel Leão Considero o jornal O CORREIO DA FEIRA é uma peça fundamental do património do concelho de Santa Maria da Feira.Participei activamente aquando da celebração do centenário e agora vinte anos volvidos curvo-me perante

«Pelo Senhor Presidente foi apresentada

o estoicismo das senhoras Dª.Brisida e Dª Luísa em conseguirem manter vivo durante períodos difíceis este nosso jornal.Nestes anos mais recentes saliento a coragem e a capacidade dos proprietários que têm inovado e modernizado o jornal.Queria home-

nagear os colaboradores do correio da feira que tanto têm contribuido para o seu êxito ao longo do tempo, na pessoa do saudoso Manuel Tavares Parabéns,muita sorte e que o Correio da Feira perdure por muitos e bons anos

a seguinte proposta: a) Atendendo a que a festa das Fogaceiras, que se realiza nesta vila em 20 de Janeiro de cada ano, tem uma longa tradição histórica. b) Atendendo a que o dia 20 de Janeiro foi o escolhido para o feriado municipal. c) Atendendo a que até 1910 foi essa festa feita por iniciativa e a expensas da Câmara, com representação oficial da mesma. d) Atendendo a que se deve reatar essa tradição em 1940, ano em que se vão comemorar os centenários da fundação e restauração de Portugal,

feita por iniciativa e a expensas da Câmara, com representação oficial por parte desta. 3.º - Que a festa tenha lugar de modo a respeitar-se, com a maior fidelidade possível, a sua tradição. 4.º - Que desde já se organize uma comissão formada pelo Senhor Presidente da Câmara, Delegado Policial e Vereador do Pelouro da Cultura e Turismo, para organizarem o programa das festas, com direito a agregar as pessoas que julgarem convenientes. A proposta foi aprovada por unanimidade.

Tenho a honra de propor:

A 18 de Novembro, o Presidente informava a Câmara que, «para dar mais luzimento não só às festas a realizar no dia 20 de Janeiro do próximo ano, mas principalmente aos melhoramentos a inaugurar nessa data, ia pessoalmente convidar o Senhor Ministro do Interior, Governador Civil do Distrito e Bispo

1.º - Que a festa das Fogaceiras, em honra do Mártir S. Sebastião, que se realiza nesta vila, anualmente, no dia 20 de Janeiro, seja considerada festa do concelho. 2.º - Que a partir de 1940 a festa seja

da Diocese a assistirem a esses actos festivos.» (Ibid., fl. 40). A 2 de Dezembro, comunicava já que assegurara a presença do Ministro do Interior e do Governador Civil do Distrito e, por deliberação de 23 do mesmo mês, era autorizado «a fazer convites e contratos (…), providenciando tudo que necessário for para que essas festas decorram com o brilho que as deva caracterizar. (Ibid., fl. 52.)» Dias antes das Fogaceiras, o Presidente da edilidade, num gesto inabitual, faz a proclamação pública dos festejos, saúda os munícipes e convida todos os feirenses a associarem-se às comemorações centenárias e às festividades. Nestes termos:

«FEIRENSES

A Câmara da Feira deliberou, em sessão de 15 de Julho do ano findo, fazer a suas expensas e sob a sua direcção, a festa Pub.


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Margarida Rocha Gariso Líder do GM/PS e candidata do PS à Câmara Municipal 120 anos de vida! Foi no já longínquo ano de 1897 que nasceu em Santa Maria da Feira pela mão de José Soares Sá um órgão de comunicação social que nos apresenta uma história longa e recheada de acontecimentos que também têm espaço na própria história de Portugal. Assinalamos o 120º aniversário do jornal Correio da Feira. Parabéns a todos (sem exceção) quantos fizeram e fazem das Fogaceiras que se realiza nesta Vila em 20 de Janeiro, considerando-a oficialmente «a festa do concelho», do mesmo modo que esse dia foi, a partir de 1912, declarado feriado municipal. A Câmara assim não só reatou uma antiquíssima tradição, chamando a si o encargo de tal festividade, interrompido desde 1910, mas testemunhou o carinho que vota a todo o povo do concelho, associando-o às comemorações do seu melhor dia, estreitando, deste modo, os laços que unem indestrutivelmente a sede às demais freguesias do concelho. A festa das Fogaceiras é feita com o brilho de outros tempos, com a assistência de representantes do Governo da Nação e de Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Bispo do Porto, que, juntamente com a Câmara, Conselho Municipal e autoridades civis e religiosas se incorporam na grandiosa procissão que se realiza em cumprimento do voto que os antigos Condes e o povo da Feira fizeram em acção de graças, ao mártir S. Sebastião por os ter libertado da peste que então flagelou as Terras de Santa Maria. A deliberação da Câmara reatando tão velha tradição foi oportuna e tem um alto significado. Neste ano de 1940 em que se comemoram, com intenso fervor patriótico, os centenários da independência e da restauração, não podia a Feira, cuja história está ligada à da fundação da nacionalidade, deixar de reatar a tradição chamando a si, de novo, o cumprimento do voto ao mártir S. Sebastião, como o fez o município ininterruptamente desde 1753 a 1910, substituindo-se, agora, ao esforço do povo desta vila que desde 1910 até 1939 cumpriu tão piedoso voto. Mantém-se, assim, a continuidade daquele voto com um significado mais lato abrangendo a designação do «povo da Feira» não só o da vila, mas o de todo o concelho: assim, foram chamadas a representar-se todas as freguesias com igual número de fogaceiras, com seus párocos, suas cruzes paroquiais

parte desta importante instituição do nosso concelho. Sei que o jornal nasceu para ser imparcial e independente. É essa linha editorial que o notabiliza desde 1897 e lhe garante o respeito, porque é essa forma o jornal Correio da Feira cumpre com a missão para o qual foi criado: a missão de bem informar fruto de um jornalismo sério e fruto de um conteúdo diverso e sempre atualizado.

e estandartes, vigários das varas e as autoridades civis acompanhadas pelos tradicionais cabos. Confiado no amor que tendes à terra que vos viu nascer, e que a muitos viu crescer, solicito-vos — feirenses — onde quer que vos encontreis, que no dia 20 de Janeiro façais uma romagem a esta vila em preito de homenagem à nossa terra, coroada pelo seu altivo Castelo, a memória dos nossos maiores que tão grandes foram e como afirmação da decisão inabalável, de nós todos, de a defendermos e engrandecermos através de todas as vicissi¬tudes. Na certeza de que o vosso bairrismo tem paralelo com os esforços e os sacrifícios de todos quantos têm trabalhado com denodo para o progresso moral e material deste conce¬lho, saúdo-vos enternecidamente, em nome da Câmara a que tenho a honra de presidir, orgulhoso por comungar com vós no mesmo sentimento de amor e ternura pela Feira. E assim se inauguram, neste concelho, as festas do ano de 1940. O Presidente da Câmara - Roberto Vaz de Oliveira»

6. Início da 2.ª Guerra Mundial

Neste painel evocamos a Segunda Guerra Mundial que decorreu entre 1939 e 1945 sendo conflito armado de maior escala na história da humanidade até os dias de hoje. A Guerra envolveu as maiores potências da época que empenharam toda sua economia e política no mesmo, onde se usaram armas nucleares dizimando cerca de 70 milhões de pessoas entre soldados e civis, constituindo-se no conflito mais sangrento ahistória. Um grupo de países formou uma aliança denominada Eixo, que foi liderada por Alemanha, Itália e Japão. A Alemanha liderada por Hitler pretendia impor uma nova ordem na Europa disseminando a ideologia nazi e a imposição da raça alemã e exclusão total das minorias como negros, homossexuais, judeus, ciganos e a perseguição de regimes comunistas e socialistas. A Itália e o Japão estavam

Vivemos tempos difíceis, mas precisamos de uma comunicação social forte e plural, condimentos com os quais se identifica o Correio da Feira. Quero ainda aqui transmitir o quanto honrada me sinto em fazer parte deste momento tão especial e, por isso, deixo, desde já, um desafio à Administração, Direccao, Redação e colaboradores: a perseverança por mais 120 anos de vida! Muitos parabéns, Correio da Feira inteiras e a vida de milhares de cidadãos. No final da guerra foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU), que tinha o propósito de manter a paz entre as nações resolvendo os conflitos de forma pacífica e ajudar as vítimas da Segunda Guerra. A posição portuguesa foi a de defesa da nossa independência em relação ao conflito. Neste contexto, Portugal procurou definir a sua posição no conflito: se, ideologicamente, o Portugal autoritário, antidemocrático e antiliberal parece mais perto da Alemanha e da Itália, por outro, o perigo da anexação que existe na Espanha franquista (apoiada pelo Eixo) faz prever um alinhamento ao lado dos aliados. Nesta perspectiva, qualquer inclinação pode trazer perigos e por em causa o regime, pelo que se procura manter Portugal fora da guerra, adoptando uma posição neutral no conflito.

interessados também na expansão territorial. O facto que marcou o início da Guerra foi a invasão da Polónia pela Alemanha nazi em 1939 tendo como reação imediata as declarações de guerra à Alemanha pela França e Inglaterra. Para contrapor o Eixo outra aliança foi formada, a dos Aliados, liderada pelos Estados Unidos, Reino Unido e URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Após um longo período de combates, a Segunda Guerra chegou ao fim apenas em 1945 quando Itália e Alemanha se renderam. O Japão, último país a assinar o tratado de rendição sofreu um ataque nuclear lançado pelos Estados Unidos onde as bombas atómicas explodiram em Hiroxima e Nagasáqui dizimando um grande número de cidadãos japoneses inocentes. O regime nazi foi responsável pela morte de cerca de 2 milhões de polacos, 4 milhões de pessoas com problemas de saúde (deficientes físicos e mentais) e de 6 milhões de judeus no massacre que ficou conhecido como Holocausto. Os danos materiais também foram muitos, a guerra arrasou as nações perdedoras e outras envolvidas destruindo cidades

7. Nomeação do Bispo D. Sebastiao Soares de Resende

Este capa (relembra a sagração Dom Sebastião Soares de Resende e que este ano se assinalam os 50 anos da morte do primeiro Bispo da Beira). evoca as diversas nomeações episcopais do Concelho de Santa Maria da Feira, que já conheceu 4 Bispos que desenvolveram importante actividade: Gonçalo Pereira (Arcebispo de Braga (1326-1349). Era o filho mais velho de D. Gonçalo Peres de Pereira e de D. Urraca Vasques Pimentel, mas foi educado no paço de D. Dinis. Seguiu a carreira clerical e, em 1288, foi ordenado diácono pelo bispo da Guarda. Exerceu as funções de prior em S. Nicolau da Feira e, em 1296, ascendeu a deão da Sé do Porto. Bispo de Évora (1321); Bispo de Lisboa (1322 - 1326); Bispo do Porto. Em 1326, vagando a Sé de Braga, foi nomeado pelo Papa João XXII arcebispo primaz, cargo que ocupou até 1348, quando morreu. Combateu ao lado do rei D. Afonso IV na Batalha do Salado. Em Braga, mandou construir a cidadela em torno da Torre de Menagem, no sécuPub.


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Filipe Moreira Eleito da CDU na Assembleia Municipa Acompanho o Correio da Feira há mais de 20 anos. Numa primeira fase (iniciada em criança) como leitor. Posteriormente, já adulto, como político que recorre ao jornal para divulgar e emitir as suas opiniões. E uma terceira fase, enquanto professor e aficionado por História, como acervo de memória da região A longevidade, orientação e permanente ligação ao município feirense tornaram o Correio da Feira num dos principais acervos históricos de toda a região. Podendo ser consultado, desde a

lo XIV. A fortificação foi complementada por D. Lourenço Vicente. Na Sé de Braga, mandou construir a sua capela tumular, conhecida como Capela da Glória. Foi no seu tempo como arcebispo que grassou em Portugal e no resto da Europa a célebre Peste Negra. Moisés Alves de Pinho Nasceu na freguesia de Fiães, concelho da Feira, a 17 de Julho de 1883. Era filho de António Alves de Pinho Júnior e de D. Teresa Ribeiro de Castro, filha mais nova de Diogo Ribeiro de Castro, da Casa da Cancela. Matriculou-se na

sua primeira edição, através da Biblioteca de Stª Mª da Feira que o tem disponibilizado em versão digitalizada e online. É desta forma que me tenho socorrido do Correio da Feira em ordem a efetuar estudos diversos, relacionados com a Educação e as Crianças no município. Estas pesquisas, permitiram compreender, entre outros, como era percecionada a criança na sociedade de Stª Mª da Feira nos primeiros anos da Ditadura de Salazar ou como foi a transição da Monarquia para a República no município (que não foi tão pacífica como se

Congregação do Espírito Santo onde fez preparatórios. Foi em seguida para França, a fazer o noviciado, em Chevilly de 1904 a 1905, realizando a sua profissão na Congregação do Espírito Santo em 2 de Outubro de 1905. Neste mesmo ano foi enviado para Roma para frequentar a Universidade Gregoriana, onde se doutorou em Filosofia Teológica. Em 19 de Dezembro recebeu a ordenação de presbítero conferida pelo Cardeal Vigário, Respighi, na Basílica de S. João de Latrão. Em 1910 começou em Carnide a ministrar o curso de Teologia aos seus alunos da Missões e quando rebentou a Revolução do 5 de Outubro foi levado para a prisão do quartel de Artilharia 1 e depois para Caxias juntamente com os seus alunos. Partiu depois para França, onde ensinou Teologia em Paris e Chevilly. Após o Decreto de Rodrigues Gaspar, de 24 de Dezembro de 1919, regressou a Portugal onde trabalhou como Provincial. Em 1920 já tinha reconstruído uma residência em Braga, que mais tarde se transformou numa casa de formação mista de Clérigos e missionários auxiliares, em Fraião, nos arredores de Braga. Em 1921 fundou a casa de Godim, Régua; em 1922, a casa de Viana do Castelo onde funciona o Seminário Maior do Escolasticado e a casa do Porto, destinada às vocações tardias. Embarcou como visitador às Missões de Angola em 1 de Novembro de 1931 e regressou em 23 de Março de 1932. A7

julga). De forma indireta, estas buscas de conhecimento permitiram também perceber como o jornal se foi adaptando às diversas circunstâncias do país, passando por fases de maior progressismo (assumindo-se mesmo como jornal republicano) e outras de maior conservadorismo marcado pela censura. Bem-haja a todos os que contribuíram e contribuem para a existência deste jornal, com os desejos de que continue a ser uma leitura informativa estimulante de debate para memória futura.

de Abril de 1932 foi escolhido pela Santa Sé para Bispo de Angola e Congo, tendo partido para aquela província ultramarina a 12 de Outubro de 1932. Em Luanda reorganizou o antigo extinto Seminário Diocesano, fez visitas pastorais em quase todo o território de Angola, visitas bem pormenorizadas no seu livro de «Memórias» que publicou mais tarde, em 1979, criou novas missões, fundou o jornal «O Apostolado» e a Rádio Eclesia. Esteve durante 34 anos à frente da Diocese de Angola e Congo e é ele mesmo que enumera os acontecimentos que considerou mais relevantes: o Sínodo Diocesano realizado em 1950, reuniões episcopais de Angola e Moçambique, a visita do senhor Cardeal Cerejeira, a visita do senhor Núncio Apostólico e o primeiro Bispo Auxiliar para Luanda Foi agraciado pelo Presidente da República com a Grã Cruz de Cristo Faleceu com 96 anos em 1980. Dom Sebastião Soares de Resende, Primeiro Bispo da Beira Dom Sebastião Soares de Resende, primeiro Bispo da Diocese da Beira, nasceu a 14 de Junho de 1906 na Freguesia de Milheiros de Poiares, Município de Santa Maria da Feira, Portugal. De 1923-1924 frequentou os estudos Propedêuticos no Seminário de Vilar na cidade do Porto, e em 1926 matriculou-se em Teologia no Seminário Maior do Porto, concluindo os estudos em 1928. No dia 21 de Outubro de 1928 foi ordenado Presbítero.

Em Novembro de 1928 foi enviado para Itália para concluir o Doutoramento em Filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, seguido de curso de especialização em Teologia. Ainda na Itália obteve a graduação em Ciências Sociais pelo Instituto de Ciências Sociais de Bérgamo. Durante a sua estadia em Roma assistiu, ainda, à assinatura do Tratado de Latrão entre o Cardeal Pietro Gasparri e Benito Mussolini, e, terminados os estudos regressou à cidade do Porto. A partir de 1933, foi sucessivamente Professor de Filosofia e teologia sacramental no Seminário Maior do Porto e Vice-Reitor. Em 1935 foi eleito Cónego e membro do cabido da catedral do Porto. A 4 de Setembro de 1940, através da Bula Solemnibus conventionibus, o Papa Pio XII criou a Diocese da Beira e designou em 21 de Abril de 1943 Dom Sebastião Soares de Resende o seu primeiro Bispo, tendo sido sagrado Bispo na cidade do Porto, a 15 de Agosto de 1943. Depois da sagração episcopal, Dom Sebastião Soares de Resende partiu de Portugal, tendo chegado a Moçambique a 30 de Novembro de 1943. Tomou posse como primeiro Bispo da Beira a 8 de Dezembro do mesmo ano (1943). Na Diocese da Beira, durante o exercício do seu múnus episcopal, Dom Sebastião Soares de Resende criou várias infraestruturas para a evangelização, concretamente, Paróquias e missões, Pub.


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Manuel Joaquim Alves de Sá, 92 anos, Vila Maior Manuel Joaquim Alves de Sá, 92 anos, Vila Maior “Tenho uma relação com o jornal desde 1957/58. Foi quando comecei a assinar o jornal. Fui correspondente e, durante aproximadamente 40 anos, mandava os meus textos para o jornal. Lembro-me de subir as escadas do Correio da Feira e ver a Dona Brizida e a Dona Luísa [Brizida e Luísa, antigas proprietárias do jornal] ao

e introduziu pela primeira vez na Diocese da Beira o ensino secundário geral. Igualmente, fundou o Instituto D. Gonçalo de Silveira, actual Faculdade de Ciências Medicas da UCM, o Colégio Nossa Senhora dos Anjos actual Faculdade de Economia e Gestão só para citar alguns exemplos. No que concerne as infraestruturas sociais, Dom Sebastião mandou construir os hospitais Dona Amelia actual hospital da Ponta-Gêa e o Hospital de Macúti. Quanto aos meios de comunicação social, Dom Sebastião Soares de Resende criou a “revista Economia”, o “Diário de Moçambique” e foi o Pai do semanário “A voz Africana”. Uma carta pastoral de 1951, indica que Dom Sebastião Soares de Resende foi o primeiro Prelado a lançar a ideia da criação de uma Universidade na África Oriental com o cunho profundamente local e não transplantada, e que teria sede em Moçambique, para facilitar o acolhimento de estudantes tanto do oriente como do ocidente. A 10 de Setembro de 1949, Dom Sebastião Soares de Resende fundou o Seminário “S. João de Brito” no Zóbue, Tete, destinado à formação do clero e entregue aos Padres Brancos, cuja obra, viria a ordenar os dois primeiros sacerdotes moçambicanos negros, na Paróquia de Macúti, a 15 de Agosto de 1964: o Rev. Pe. Mateus Pinho Guengere e Rev. Pe. Sabudu Mucauro. A nível nacional, elaborou várias cartas Pastorais, sendo muitas delas, a favor da autodeterminação dos Moçambicanos. A nível internacional Dom Sebastião correu o mundo defendendo a causa de Moçambique, sendo de destacar algumas viagens pelos continentes Americano e Europeu. Em 1966, Dom Sebastião foi convidado para participar no Concilio Vaticano II e contribuiu na fase de preparação do concilio, respondendo em de 30 de Agosto de 1959, o pedido de sugestões acerca dos pontos mais relevantes a tratar. Foi um dos Bispos mais interventivos em todo o Concilio Vaticano II. Pouco antes de ter regressado do concílio, a 20 de Janeiro de 1966, os médicos diagnosticam-lhe um tumor maligno. No mesmo mês foi observado pelos médicos confirmando-se o pior, tendo os médicos decidido por lhe operar. No dia 11 de Fevereiro 1966, Dom Sebastião redigiu o seu testamento espiritual e ecuménico, e no dia 13 regressou para a Diocese da Beira. Da cidade da Beira viajou ainda no dia 23 de Fevereiro para Alemanha para tratamento. Depois de tratamento médico, os médicos aconselharam-no a repousar junto da família em Portugal, mas Dom Sebastião decidiu

balcão. Eu tinha um negócio – uma Serralharia e mais tarde uma Drogaria – e parava a camioneta ou a carrinha de caixa aberta e subia a correr para entregar as notícias. Sempre que tivesse notícias alusivas à freguesia de Vila Maior, ia entregá-las. Só escrevia coisas que visse com os meus próprios olhos. Diziam-me: ‘Mas porque é que escreveste isso?’ ou ‘Porque não escreves o que te digo?’ e eu respondia: ‘Só escrevo se for ao local ver’. Mandava muitas notícias alusivas

regressar para Beira embora com uma paragem, de novo, em Roma. Já na cidade da Beira e dada a gravidade do estado da saúde, no dia 22 de Novembro de 1966, na capela do Paço Episcopal e na presença de todo clero e do Pároco da catedral, Dom Sebastião, de joelhos, recebeu a santa unção dos enfermos e pediu perdão ao clero, às irmãs e aos irmãos. Três semanas antes de morrer, Dom Sebastião Soares de Resende, viajou para Estocolmo, Suécia, de novo para tratamentos médicos, tendo regressado definitivamente à Beira a 13 de Janeiro de 1967. Aquando do seu regresso a Beira, para além dos sacerdotes da Diocese, aguardava o Bispo no aeroporto, o Director do hospital o Dr. Lacerda Escobar com uma ambulância. Saiu em maca do avião para a ambulância. Ao ser perguntado se queria ir para o Paço episcopal ou para o hospital, Dom Sebastião Soares de Resende apressou-se a responder. “ Vamos para casa”. “Um Bispo morre na sua casa”. Os dias seguintes, foram de agonia e o estado de saúde do Bispo agravava-se. Enquanto agonizava, as comunidades hindus, muçulmanas e ortodoxas rezavam em diferentes templos da cidade, pela saúde do primeiro Bispo católico. No dia 25 de Janeiro de 1967 pelas 10 horas e 45 minutos, Dom Sebastião Soares de Resende morre no Paço episcopal. No dia 27 de Janeiro foram realizadas as exéquias fúnebres dirigidas por Arcebispo de Lourenço Marques, fim de quais, Dom Sebastião foi sepultado no cemitério Santa Isabel na Beira. No seu testamento Dom Sebastião Soares de Resende deixou expresso o seguinte: “Agradeço a Deus, Trindade Santa”; “ Peço perdão aos irmãos em Cristo e a todos os colaboradores e habitantes da Diocese, cristãos e não cristãos ”; “Quantos aos bens materiais nada tenho a dispor, porque nada possuo”. “ Gostaria que em algum trajecto para a minha sepultura, os cristãos africanos pegassem no meu caixão ”. “O enterro deve ser simplicíssimo”. “ Gostaria que fosse sepultado em simples campa rasa para que seja mais calcado pelos visitantes ”. “ Sobre a campa, uma pequena pedra por cima escrito, Dom Sebastião Soares de Resende primeiro Bispo da Beira ”. “ Aí ficarei e aí esperarei a ressurreição da carne para o juízo final ”.

Florentino de Andrade e Silva

Nasceu na freguesia de Mosteiro, concelho da Feira, a 9 de Abril de 1915. Era filho de Josefino da Silva Bento e de D.

à Igreja e outras, mas nunca ganhei inimigos. O Correio da Feira é um jornal que aprecio desde sempre. Aprendi sempre muito com o que os outros escreviam e certamente eles também aprendiam comigo. Estive presente nas comemorações dos 100 anos pois nunca deixei de estar presente nos momentos comemorativos do jornal. Queria deixar um pedido ao Senhor para ter em conta todos os que trabalharam comigo no Correio da Feira e às ‘senhoras’”.

Maria Andrade de Jesus. Foi baptizado no dia 12 de Agosto do mesmo ano, sendo padrinhos dois irmãos mais velhos, Manuel de Andrade e Silva e Luciana de Andrade e Silva. Frequentou a escola primária da sua terra aprendendo também com seu irmão Manuel que era padre e chegou a paroquiar a Vila de Gondomar, onde um outro irmão, Porfírio, licenciado em Medicina, foi presidente da Câmara Municipal. Em 1927 entra no Seminário de Vilar onde faz os estudos preparatórios e filosóficos, seguindo depois, em 1934, para o Seminário Maior, à Sé, onde foi ordenado sacerdote em 31 de Outubro de 1937. A partir desta data exerceu a actividade docente no Colégio dos Carvalhos, onde esteve pouco tempo, pois o bispo do Porto, D. António Augusto de Castro Meireles, transferiu-o para o Seminário de Vilar, para exercer os cargos de professor e de prefeito. «A vida contemplativa exerceu sobre ele uma enorme atracção», daí ter contactado, em 16 de Julho de 1941, com a Abadia cisterciense de San Isidro de Dueñas, em Venda de Baños, Palência, Espanha para entrar naquela instituição. Teve resposta afirmativa, mas os seus superiores nunca o deixaram ir. Em 1944 foi nomeado director espiritual do Seminário de Vilar. Desempenhou ainda os cargos de assistente diocesano da JEC, de professor de Religião e Moral no Liceu D. Manuel II e de director nacional da Associação dos Padres Adoradores. A 5 de Janeiro de 1955 foi nomeado pelo Papa Bispo Titular de Heliosebaste e Auxiliar do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes. O novo bispo escolheu como armas de fé o seguinte brasão: Escudo - de azul, um arco-íris de oiro, vermelho, verde e prata em faixa, acompanhado de um meio sol de oiro, movente de chefe, carregado de tetragrama de negro, e, em ponta, de um globo de prata arqueado e cruzado de vermelho, rematado por um crisma de oiro brocante. Ornatos externos Cruz de oiro ladeada de uma mitra de prata ornada de pedras de cor e de um báculo de oiro. Chapéu eclesiástico de negro, forrado de verde, com seis borlas pendentes a cada lado. Listei de prata forrado de azul com a divisa «Clarifica nomen tuum». A partir dessa data foi viver para a «Torre da Marca» (Porto). «Em virtude da grave conjuntura eclesiásticapolítica então criada e vivida na diocese do Porto, (exílio do Bispo D. António Ferreira Gomes por ordem de Oliveira Salazar), o bispo D. Florentino de Andrade e Silva foi nomeado, em 12 de Outubro de 1959, pela Sagrada Congregação Consistorial como Administrador Apostólico do Porto. De 1959 a 1969 fez

grandes realizações: procedeu à construção do Seminário do Bom Pastor, em Ermesinde, cujo decreto foi assinado em meados de Setembro de 1968, instituiu a Fraternidade Sacerdotal, para formação de candidatos ao sacerdócio e do clero, foram criadas comissões do clero diocesano, desenvolveu actividade pastoral, com relevância para a Missão Diocesana provida em toda a diocese, incentivou os movimentos de Apostolado, introduziu os Cursos de Cristandade e as Equipas de Nossa Senhora e o Movimento para um Mundo Melhor, instituiu o Secretariado Diocesano de Acção Social e a Obra Diocesana de Promoção Social nos Bairros Camarários do Porto «para ir em socorro dos mais carenciados, e aplicou as directrizes do Concílio Vaticano II, do Papa João XXII. A convite da Conferência Episcopal de Angola e da Acção Católica da arquidiocese de Luanda, deslocou-se ali e percorreu algumas das dioceses, de a 31 de Maio de 1968, onde visitou missões e contactou com o clero e religiosos apreciando o trabalho pastoral ali desenvolvido. Foi um acérrimo defensor da criação da Diocese de Viana do Castelo. No dia 6 de Julho de 1972 foi nomeado Bispo de Faro ao mesmo tempo que era designado Assistente ao Sólio Pontifício. Esteve aqui até 1977, ano em que pede a sua resignação por motivos de saúde. De regresso ao Porto, em 23 de Maio de 1977, com 62 anos de idade e doente, estabeleceu a sua morada na Quinta de S. José, Fontiscos, Santo Tirso, casa religiosa do Noviciado das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, onde veio a falecer em de Dezembro de 1989. Carlos A. Moreira Azevedo Nascido em 1953, em Milheirós de Poiares (Santa Maria da Feira), doutorouse, em 1986, na Faculdade de História Eclesiástica da Universidade Gregoriana – Roma. É Membro da Academia Portuguesa da História, desde 1998. Presidiu ao Centro de Estudos de História Religiosa (1992-2001). Dirigiu a obra Dicionário e História religiosa de Portugal, em 7 volumes. Presidiu à Comissão Científica da Documentação crítica de Fátima (1999-2008). Coordenou, com Dr. Luciano Cristino a Enciclopédia de Fátima, 2007, traduzida em italiano. Foi professor e Vice-Reitor da Universidade Católica Portuguesa (2000-2004). Ordenado bispo em 2005, é Delegado do Conselho Pontifício da Cultura (desde 11-11-2011), coordenando o Departamento dos bens culturais, e Membro da Comissão Pontifícia de Arqueologia sacra (2015). Tem mais de uma centena de trabalhos publicados em livros e


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Moises Ferreira Não é todos os dias que se faz 120 anos. Só por isso o Correio da Feira mereceria os mais profundos Parabéns. Mas o Correio da Feira não se limitou a existir, apenas e só; não se limitou a ir sobrevivendo. Inovou no seu design, melhorou a cobertura noticiosa e a distribuição junto da população, entrou na era digital com o seu site e nas redes sociais.

revistas. D. Carlos Azevedo, é o autor do livro ‘Fátima - das Visões dos Pastorinhos à Visão Cristã’, e que tem “informação inédita” do Arquivo Secreto do Vaticano, que vai ser apresentado pelo diretor-adjunto da Faculdade de Teologia – Porto, da Universidade Católica Portuguesa, o padre Adélio Abreu, a partir das 18h30, de 18 de abril, no auditório da igreja de Nossa Senhora da Conceição, na cidade do Porto. O bispo português natural do nosso Concelho revela em ‘Fátima - das Visões dos Pastorinhos à Visão Cristã’ o “processo da escolha do primeiro bispo da diocese de Leiria” e apresenta “novos dados” sobre a política portuguesa entre 1917 e 1930. A nova publicação é uma “releitura crítica” sobre o fenómeno das aparições na Cova da Iria, de que se celebram 100 anos nos próximos 12 e 13 de maio, a partir da situação sociocultural de Portugal e da Europa e da “realidade familiar e psicológica das personalidades envolvidas”. A obra agora publicada é proposta de

Tudo passos muito importantes para concretizar o seu objetivo: transmitir informação e fazer com que ela esteja disponível a todas as pessoas, de forma cada vez mais rápida, eficaz e transmitidas de forma imparcial e com pluralidade de opinião. Sem jornais e jornalistas como o dos Correio da Feira não há uma verdadeira democracia. A comunicação social, em particular a local, é um pilar fundamental para combater o pen-

samento único, promover a pluralidade e o debate. E nós bem sabemos que só do debate livre de opiniões garante a democracia e o desenvolvimento das sociedades. Esperamos que a estes 120 anos se juntem outros 120 e mais ainda. E que em todos esses anos o Correio da Feira continue a ser o que é: informação, inovação, imparcialidade. Parabéns.

“sucessivamente apropriado e relido, reinterpretado ao compasso da história e sempre aberto no horizonte do futuro”, explica a Esfera dos Livros.

8. Guerra Colonial

leitura que “une o conhecimento das fontes com uma visão cristã” de um fenómeno religioso de origem popular,

Esta capa remete-nos para o início a eclosão da Guerra Colonial, com início em Angola nos começos de 1961, inscrevendo-se num processo que abrangeu todos os impérios coloniais europeus, a partir da Segunda Guerra Mundial, tocando, numa primeira fase, os territórios da Ásia e, desde meados da década de 1950, os do continente africano, que, na grande maioria, se tornaram independentes durante a vaga de descolonização entre 1957 a 1962. Em começos de 1961, desenrolou-se na Baixa de Cassange, em Angola, uma ampla revolta antiportuguesa, reprimida pelo Exército, com o apoio de bombardeamentos aéreos. A 4 de fevereiro, deu-se o assalto às prisões de Luanda, com o intuito de libertar os presos políticos. Finalmente, a 15 de março, teve início no Noroeste de Angola a sublevação

camponesa, promovida pela União das Populações de Angola (UPA), que é geralmente considerada como o começo da Guerra Colonial. Pub.

S. Nicolau

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Encomendas:

936 957 298 ou 256 303 116 R. Dr. Elisio de Castro | 4520-213 Santa Maria da Feira


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Valter Amorim “Qualquer instituição que atinja os 120 anos de existência, no caso, com uma vasta e relevante intervenção na comunidade, merece ser parabenizado. Indiscutivelmente, quem por missão, têm de promover o dever de transpor para o cidadão, o direito há informação, para que este possa estar munido das devidas con-

Mas a guerra continuou, estendendose à Guiné, em 1963, e a Moçambique, em 1964. Sabemos como terminou, provocando o fim do Estado Novo – e abrindo traumas de identidade nacional que só um longo trabalho da memória (no qual a escrita e o ensino da História deverão ter um papel central) poderá vir a sarar. Nela participaram milhares de feirenses, sendo que o registo de mortos no exército foram de 62 em 13 anos de conflito

9. Feirense na 1.ª Divisão

A subida à primeira divisão em 1961/62, surpreendeu todo o País. Uma equipa que foi campeã distrital, subiu à 3.ª Divisão, à 2.ª e depois à primeira, surpreendendo tudo e todos: recorde-se que na segunda divisão participavam

dições, para melhor decidir e interagir, com o que o rodeia e é de seu interesse, deve ser enaltecido. Não é tarefa fácil ou simples, mas é vital. Ao longo do seu percurso, passou por diferentes e conturbados períodos da nossa história, soube adaptar-se e de forma resiliente evoluir. Bem hajam por todo o trabalho desenvolvido, pelo

o Boavista, o Braga, o Marinhense que tinha uma equipa fabulosa. Em 1961/62, depois de se afirmar como revelação do Campeonato Nacional da 2.a Divisão, o Feirense arrancou para uma vitória sensacional na Zona Norte, deixando o Sporting de Braga a um ponto, no segundo lugar, e o Boavista no quinto lugar. Nos 26 jogos realizados, o Feirense venceu 18, empatou três e foi derrotado em cinco jogos. Na última jornada, no jogo decisivo e da consagração, disputado ainda no Campo do Montinho, que registou a maior assistência de sempre, o Feirense venceu a Oliveirense por 2-1. Alinharam pelo Feirense: Martin, Dinis, Aurélio, Oliveira, Lopes, Campanhã, Carlos, Brandão, Rui Maia, Ramiro e Eduardo. Os golos foram marcados por Campanhã e Brandão.

esforço e dedicação tidos, quer da instituição quer dos profissionais, que o possam continuar a efetuar, em beneficio de todos, em especial da comunidade que serve. Muitos Parabéns a todos, aos que trabalham ou trabalharam no Correio da Feira, bem como a quem têm a responsabilidade de gerir tão nobre organização.

No final do jogo, os jogadores foram abraçados por muitos adeptos do Feirense, tendo em seguida dado uma volta ao campo com o treinador Rui Araújo. Depois, levaram em triunfo o treinador e também o jogador Ramalho. 0 Feirense, com uma ascensão meteórica, acabara de ingressar na 1a Divisão Nacional.

Festejos da subida

Na sua residência o vice- presidente do Clube Desportivo Feirense, Amadeu de Sá Oliveira num gesto de perfeita camaradagem ofereceu aos seus colegas de Direcção, atletas e treinador um requintado copo de água. Aos brindes falou em primeiro lugar o atleta Rui Maia, que em nome dos seus colegas agradeceu ao anfitrião o gesto de trazer a sua casa umas dezenas de Feirenses que representavam ali uma

unidade juntamente com os atletas que no dia 27 de Maio tinham conquistado aquilo que muitos clubes cobiçam já alguns anos e que só foi possível à custa de sacrifício, unidade, disciplina e camaradagem. Depois do repasto todos os convidados dirigiram-se ao Circo Popular instalado na então Vila da Feira. No intervalo, a direcção do Circo homenageou o Feirense, nas pessoas do dirigente Ângelo Cardoso e o capitão Ramalho entregando-lhes um troféu. No dia 3 de Junho a equipa do Feirense foi recebida por uma multidão de simpatizantes no cruzamento da Estrada Nacional, formando-se um cortejo de automóveis atravessando o Cavaco, percorrendo as principais ruas da Vila. No dia 4, um vasto programa de actividades marcaram as festividades para

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No dia 11 realizou-se na Estalagem Santa Maria um jantar de homenagem aos directores, treinador e atletas do Feirense, numa iniciativa da Câmara Municipal da Feira, presidida por Domingos Coelho. Neste jantar estiveram presentes 180 pessoas, que pagaram cada uma 45$00. No dia 19 de Junho foi lançada a primeira pedra para a construção do parque de Jogos do C.D. Feirense. O Correio da Feira promoveu a “Campanha do Cimento”, , campanha essa que permitia a aquisição de sacos de cimento para serem utilizados na construção do novo Estádio.

celebrar a subida de divisão: exibição de ranchos folclóricos do concelho e barracas de caldo verde e petiscos. No dia 7, continuaram a exibir- se os ranchos Folclóricos no Campo do Montinho. No dia 9 houve uma imponente Marcha Luminosa com carros alegóricos, bandas de música e ranchos. A concentração fez-se no Castelo terminando depois de percorrer as principais ruas da vila, no Campo do Montinho. No dia 10 uma grande concentração de associados juntando-se num piquenique.

Em 16 de Setembro de 1962, foi inaugurado o Estádio Marcolino de Castro na Vila da Feira, com dois jogos a abrilhantar a festa. 0 Sp. Espinho venceu a Sanjoanense por 3-1 e o Feirense empatou com o Beira Mar, sem golos.

10. Visita de Marcelo Américo Tomás

Desde a visita de D. Manuel II, que a então Vila da Feira não conhecia qualquer visita de um Chefe de Estado, que se consumou a 14 de Setembro de 1970, com o seguinte programa: Recepção em Lourosa, seguida de visi¬ta às fábricas CINCA (em Fiães) FACOL (em Louro¬sa) e INACOR (em Argoncilhe);Recepção no Largo do Castelo de Vila da Feira, seguida de

almoço no Castelo, oferecido pela Câmara Municipal; Visita à Colônia de Férias do Institu¬to de Obras Sociais, em Vila da Feira; Visita à fábrica CIFIAL e ao Centro Comum de Aprendizagem, em Riomeão; Inauguração da sede do Sindicato Na¬cional dos Operários Manufactores de Papel do Dis¬trito de Aveiro, em Paços de Brandão; Santa Maria de Lamas:Visita ao Infantário do Instituto de Obras Sociais e à Casa do Povo; inauguração da nova Estrada Municipal de Santa Maria de Lamas a S. João de Ver, do Pavilhão Gimno-Desportivo e do Abastecimento domiciliário de água-, visita à fábrica AMORIM &IRMÃOS; Visita ao Bairro de Casas de Renda Econômica, construído em Meladas — Moselos, pela Firma CORTICEIRA AMORIM, L.DA, para os seus operários e Beberete na Quinta de Meladas, em Moselos, oferecido pela Firma Amorim & Irmãos, L.da. Foi o último Presidente da República a ser escolhido por Oliveira Salazar, cumpriria, à semelhança de Carmona e ao contrário de Craveiro Lopes, mandatos sucessivos. Teve de proceder à substituição de Salazar, decidindo-se por Marcelo Caetano. Nos últimos anos da Ditadura, Américo Tomás não assume um papel meramente “decorativo”, mas constituiu o garante da prossecução da política ultramarina do regime e do esforço de guerra. Seria destituído do cargo pela Revolução de 25 de Abril de 1974.

Afastada a possibilidade da recandidatura de Craveiro Lopes, a Comissão Executiva da União Nacional convida Américo Tomás para ser o candidato do regime nas eleições de 1958. O então ministro da Marinha oferece garantias de vir a ser um chefe do Estado consonante com a orientação política do regime e o facto de pertencer à Marinha permite uma alternância no interior do poder militar. No dia 28 de Abril de 1958, Salazar convida formalmente Américo Tomás a apresentar-se como candidato à Presidência da República. Américo Tomás vence as eleições presidenciais mais concorridas do Estado Novo, com 75% dos votos contra 25% do candidato da oposição, general Humberto Delgado. Como Presidente da República, Américo Tomás inaugura várias obras públicas, mas também exposições, congressos, feiras, tendo visitado várias localidades do país. Recebe altos dignitários em visita a Portugal, entre os quais Sukarno, da Indonésia (1960), Hailé-Selassié, da Etiópia (1959), Kubitschek de Oliveira, presidente do Brasil (1960), Dwight Eisenhower, presidente dos Estados Unidos da América (1960), e o Papa Paulo VI, que visita Portugal por ocasião do 50.º aniversário das aparições de Fátima (1967). A Guerra Colonial, que se inicia em Angola em 1961, e que se estende posteriormente a Moçambique e à Guiné, Pub.


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bem como a perda dos territórios portugueses na Índia, assombram a política portuguesa desde os primeiros anos da presidência de Américo Tomás. Durante os cerca de 16 anos em que desempenha o cargo de mais alto dignitário da nação, destacam-se dois momentos em que a sua intervenção é decisiva: a “Abrilada” de 1961 e a substituição de Salazar por Caetano, em 1968. Américo Tomás e Marcelo Caetano asseguram os últimos anos de vida do regime, ainda que as suas relações conheçam momentos de grande tensão. Passada a “primavera marcelista”, período durante o qual o regime parecia caminhar para uma liberalização, Américo Tomás acabará por impor a Marcelo Caetano o respeito pela política ultramarina. A não resolução da questão colonial e a manutenção do esforço de guerra conduzem o regime a um “beco sem saída”. No dia 26 de Abril, é-lhe fixada residência na Madeira, para onde parte na manhã desse dia, instalando-se no Palácio de S. Lourenço, no Funchal. Três dias depois, juntam-se-lhe na Madeira a mulher e uma das filhas, partindo para o exílio no Rio de Janeiro, a 20 de Maio de 1974. Em Maio de 1978 é permitido o seu regresso a Portugal e são descongeladas as suas contas bancárias. Regressando a Portugal em Julho do mesmo ano, publica em Dezembro de 1980, o primeiro volume das Últimas Décadas de Portugal. Morreu em Cascais, a 18 de Setembro de 1987, contava 92 anos.

11. 25 de Abril

Nesta caoa o Correio da Feira (Semanário) aborda os impactos do 25 de Abril na

sociedade portuguesa e na sociedade da então Vila da Feira. Reforçado com a publicação a 11 de Maio de 1974, sobre a grande manifestação ocorrifda 1.º de Maio, e que relatava o seguinte: “Um grupo de elementos do Movimento Democrático da Vila da Feira, promoveu no dia 1.º de Maio, uma manifestação cívica para saudar a Junta de Salvação Nacional por haver destituído do poder um governo ditatorial, que há quase meio século oprimia os democratas portugueses cerceando-lhes todas as liberdades cívicas e sujeitando-os às mais cruéis violências da polícia denominada PIDE - D.G.S.. A concentração efectuou-se na Praça do Dr. Gaspar Moreira, frente à Redacção deste jornal, e assim, a essa hora o povo desta vila e das diversas freguesias do concelho, acedendo a um convite feito pelo referido movimento Democrático, principiou a concentrar-se em grande número, enchendo por completo o Largo que se encontrava engalanado. O espectáculo era grandioso. As varandas dos Paços do Concelho serviram de tribuna para os oradores. Diversos dísticos sublinhavam as aspirações dos manifestantes e nos seus rostos denotava-se uma alegria que não era fictícia, corroborada pela esperança do fim da guerra em África, onde muitos jovens portugueses têm perdido a vida e outros têm regressado doentes e estropiados. Pouco depois dava entrada nos Paços do Concelho, o ilustre comandante da Carreira Militar de Espinho Coronel Amílcar Alves, que foi recebido com vibrantes aclamações ao exercício, à Junta Governativa, general Spínola, à República e à Liberdade. Seguidamente falou o membro do movimento, Luís Resende, que em palavras calorosas saudou o exército português na pessoa daquele oficial, por ter restituído ao país a Liberdade, acabando com todas as opressões e violências políticas. Seguiram no uso da palavra João Encarnação, pelos presos políticos da PIDE; Carlos Candal, membro da Comissão Democrática de Aveiro que num brilhante improviso recebeu fortes aplausos da assistência; o jovem médico Manuel Afonso Strecht Monteiro, que como o orador anterior foi freneticamente ovacionado; Vítor Resende, de Mozelos; Óscar Maia, pelos comerciantes; Vasco Noronha Fernandes, estudante universitário; pelo «Correio da Feira», Ferreira da Rocha; Alcides Monteiro, que em palavras eloquentes arrancou constantes e vibrantes aplausos da enorme assistência pelo desassombro e sinceridade como encarou o movimento de 25 de Abril, que restituído ao País as liberdades

públicas, a justiça e a igualdade para todos os cidadãos. Finalmente o coronel Amílcar Alves, agradeceu as saudações dirigidas à Junta de Salvação Nacional e também evocou o movimento de “25 de Abril” concluindo por desejar que Portugal viva num clima de Paz, Liberdade e Justiça. Toda a multidão aclamou com calor e entusiasmo as palavras do ilustre oficial, assim como dos oradores que o antecederam. Depois foi em cortejo compacto para o Rossio, entoando o Hino Nacional. Ao cair da tarde a imensa mole humana, depois de ter vivido com entusiasmo a fé e inolvidável data do 1.º de Maio dispersou em ordem e paz, com a consciência tranquila do dever cumprido”.

12. Hospital

Durante mais de trinta anos, o Hospital da Feira foi, sem dúvida, a grande aspiração dos Feirenses. Nos anos sessenta, as trinta e uma freguesias do Concelho uniram-se em torno de um projecto comum e, através de um cortejo de oferendas, conseguiram o dinheiro necessário para a compra do terreno onde hoje está construído o Hospital. A Santa Casa da Misericórdia ficou fiel depositária e concretizou a aquisição do terreno. Foram três décadas de luta por um objectivo comum, com inúmeros avanços e recuos, até ao início da obra que hoje nos orgulha. Apesar dos responsáveis das Construções Hospitalares defenderem outra solução, que passava por uma ampliação do Hospital de São João da Madeira, o processo avançou graças à determinação das gentes da Feira, com o empenhamento

da Comissão do Hospital e da Direcção da Santa Casa da Misericórdia. E se o acompanhamento dos sucessivos presidentes de Câmara foi uma constante, a verdade é que, sempre que havia mudança de Governo, o processo retrocedia, por influência dos técnicos e responsáveis das Construções Hospitalares, mas também por influência de alguns feirenses que não concordavam com a localização escolhida. Ao longo dos anos, muitas foram as peripécias registadas nas sucessivas viagens, reuniões e audiências realizadas em Lisboa. Por isso, impõe-se referir os momentos mais marcantes desde que Afredo Henriques comçou a acompanhar o processo, primeiro como Vereador e depois como Presidente de Câmara: 1960: Aprovado o terreno para a implantação do Hospital, no lugar do Pontão; 1964 Aprovado o “Estudo Prévio” pelas Construções Hospitalares;Aprovada a planta do terreno previsto;Cortejo para angariação de fundos destinados ao novo Hospital; Ministro da Saúde aprova “Programa do Hospital” com 265 camas;Telegrama informa que o Ministro da Saúde autorizou a construção do Hospital, por fases; Lançamento da primeira pedra do Hospital, no terreno do Pontão, pelo Ministro das Obras Públicas; Direcção das Construções Hospitalares envia maqueta do futuro Hospital da Feira; 1974: Conselho Superior das Obras Públicas aprova ante¬projecto do Hospital; Comissão “ad hoc” da Secretaria de Estado da Saúde suspende a construção do Hospital; Eleita a Comissão Pró-Hospital; Criada “Comissão Paritária’’ para elaboração de “Programa Hospitalar” para a região; Criado, por decreto regulamentar, o “Centro Hospitalar Aveiro-Norte”; -Despacho do Secretário de Estado da Saúde cancela construção do Hospital, mas novo despacho do mesmo governante anula a anterior decisão; Secretário de Estado da Saúde aprova o programa do Centro Hospitalar Aveiro-Norte e do novo Hospital da Feira; Secretário de Estado da Saúde aprova programa do Hospital Distrital de Vila da Feira, com 230 camas; Comissão de Avaliação Prévia aprova “Estudo Prévio” do novo Hospital; Secretaria de Estado do Equipamento Social aprovou os limites do terreno necessário à construção do Hospital; Decreto regulamentar publica a “expropriação urgente por utilidade pública” de terrenos necessários ao Hospital; Ministério do Equipamento Social suspende expropriação; Ministério da Saúde revoga despacho anterior e informa estar já na Assembleia da República um plano de construções hospitalares

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que inclui o Hospital da Feira; Ministro Rosado Correia disponibiliza-se para suspender despacho, desde que a Santa Casa da Misericórdia assegure o pagamento das expropriações do terreno necessário ao Hospital; Santa Casa da Misericórdia pede autorização para pagamento da expropriação do terreno; Santa Casa da Misericórdia deposita na CGD as guias de pagamento de seis parcelas expropriadas (6.605.057 escudos); 1986: Constituição de grupo para apresentar estudo sobre a necessidade de equipamentos hospitalares nos concelhos de Entre Douro e Vouga;Despacho suspende expropriação dos terrenos; 1987: Despacho levanta suspensão da expropriação das parcelas 1,3,4,5 e 6 do terreno e desafecta parcela 2; 1989: Reunião no Governo Civil de Aveiro deixa transparecer que a construção do Hospital não é objectivo do Governo, embora possa ser realização de iniciativa privada; Câmara reúne-se com “Seguros Real” e “Philips” para apurar interesse na construção do Hospital por privados;

Primeiro-Ministro garante, na Câmara Municipal, a construção do Hospital; Aberto concurso público internacional para execução do projecto e obra do Hospital; 1993 Em visita ao Concelho de Santa Maria da Feira, o Primeiro-Ministro Cavaco Silva vê a maqueta do Hospital e recebe a Medalha de Ouro do Município; Após auscultação das estruturas cívicas e religiosas, a Câmara Municipal indica o nome escolhido para o Hospital: “São Sebastião”; Despacho nomeia Comissão Instaladora do Hospital, presidida por Manuel Afonso Strecht Monteiro, que teve um importante papel na fase de instalação e na legislação criada para dar suporte à gestão empresarial do Hospital; 1999: Hospital entra em funcionamento. De facto, foram muitos os avanços e recuos que marcaram um percurso de três décadas de luta dos Feirenses pelo nosso Hospital. No entanto, é indiscutível que o momento que marcou a concretização desta velha aspiração foi a visita do Primeiro-Ministro Aníbal Cavaco Silva a

Santa Maria da Feira, em 1991. Na cerimónia de recepção, realizada nos Paços do Concelho, O Presidnte das Câmara Municipal, Alfredo Henriques, teve a ocasião de fazer uma apresentação do Município, abordando a sua real grandeza e potencial económico. E, ao falar das carências e necessidades do Concelho, centrou a intervenção na luta de dezenas de anos pelo Hospital, salientando o empenhamento dos Feirenses, que se organizaram e uniram para comprar o terreno, e os avanços e recuos do processo. No encerramento da sessão solene, o Primeiro-Ministro Aníbal Cavaco Silva fez uma afirmação determinante: “Sr. Presidente, pode pôr as barbas de molho porque o Hospital vai-se fazer, não de imediato, mas vai ser feito”. A partir desse momento, ficou acautelada a construção deste importante equipamento, há muito reivindicado. E a verdade é que, passados alguns dias, realizou-se uma nova reunião da Comissão do Hospital e da Santa Casa

da Misericórdia - que Alfredo Henriques acompanhou na qualidade de Presidente de Câmara - com o Sr. Secretário de Estado da Saúde, durante a qual este insistia que não se justificava a construção de um hospital na Feira, para, passados alguns minutos, concluir que o Sr. Primeiro-Ministro tinha afirmado que este se ia fazer e que, portanto, tinha que ser feito. Apesar do longo caminho que teve de ser percorrido para que este equipamento se tornasse uma realidade, o momento decisivo e crucial para a existência do Hospital S. Sebastião foi a afirmação proferida pelo Professor Cavaco Silva em Santa Maria da Feira: “O Hospital vai-se fazer”. Pelo papel determinante que teve na concretização deste projecto, a Câmara Municipal atribuiu, em 1993, a Medalha de Ouro ao Primeiro-Ministro. Hoje, o Hospital S. Sebastião - nome escolhido numa consulta popular - é, indiscutivelmente, uma referência a nível nacional, nas áreas da Saúde e da Gestão. Pub.

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a maria norte pretende ser a loja de moda de Criança Com os melhores produtos A Maria Norte, loja de roupa situada na Rua Dr. Alfredo Valente da Silva Terra e que tem um públicoalvo jovem, abriu portas para, segundo as proprietárias Odete Moreira e Joana Machado, colmatar uma lacuna existente no concelho de Santa Maria da Feira.

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A Maria Norte funciona, de terçafeira a sábado, das 10 horas às 13h e das 14h às 19h.


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Discurso (in)Directo mais lídimos agentes de desenvolvimento regional. Espécie de floresta que a árvore tapa… Desse documento, singelamente intitulado “A Imprensa Local e Regional em Portugal? Aqui se respiga, com a devida vénia, algumas passagens do texto de apresentação:

2010. Azeredo Lopes, à época presidente da ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, apresentava a mais completa ‘radiografia’ alguma vez produzida no estudo do fenómeno da Comunicação Social dita ‘Local’ e ‘Regional’. Trata-se de um documento exaustivo, em que se trata um perfil nu e cru do universo dos ‘jornais da província’, em que, sem condescender, também se reconhece o papel ímpar desempenhado por aqueles que são – porventura – os

(…) A imprensa local e regional representa uma realidade das mais peculiares, até do ponto de vista das competências de regulação e supervisão cometidas à ERC. (…) Não foi também incomum (…) ouvir menções à Imprensa regional e local como “típica” (uma espécie de folclore ultrapassado da página impressa), anacrónica, subsídiodependente (vindo sempre à liça a questão do porte pago), nada preparada para a evolução, sujeita às mais variadas influências e alegados caciquismos – e, até, destinada a uma extinção certa, sem poder resistir às maravilhas tecnológicas e às novas plataformas, como dinossauro comunicacional que apenas ficaria na memória dos menos novos. Sabendo como temos a língua afiada e o verbo crítico fácil – muitas vezes, em relação ao que de todo desconhecemos – nunca atribuí excessiva importância a diagnósti-

co tão sombrio. O certo, porém, é que não conseguia resposta (…) a algumas questões fundamentais: o que é hoje, entrados que estamos uma década no séc. XXI, a imprensa regional e local portuguesa? Que especificidades tem, se é que as tem, relativamente à Imprensa generalista de expansão nacional? (…) deslocámo-nos aos diferentes distritos do Continente, e reunimos em cada um com os títulos (…) e desse périplo viemos com a noção do muito que faltava fazer e, também, da grande complexidade que se albergava sob a designação, aparentemente inócua, de “Imprensa regional e local”. Regressámos, também, com um forte sentimento de admiração por muitos dos projectos de imprensa que nos foram sendo apresentados, muitos pelo profissionalismo, alguns outros porque se mantinham à superfície apenas devido à enorme dedicação, sacrifício e doação pessoal dos que neles estavam envolvidos. (…) Decantados os números, percebe-se a existência de várias “realidades”, de uma grande variedade de casos, e, em termos globais, de uma situação de dificuldade generalizada.

desempenha um papel notável de reforço de um conceito rico de cidadania. Cultiva a proximidade, é útil para quem a lê, estimula ou, pelo menos, conserva, laços identitários, culturais e históricos da maior importância – e muitos exemplos concretos conheci. Acarinha o particular, numa altura em que só se prega o global. Cultiva a língua portuguesa, num plano cada vez mais raro na Imprensa em geral. É, por isso e não só por isso, fascinante, e justifica, plenamente, que, sempre que possível, os poderes públicos – na ponderação de decisões – tenham estes aspectos presentes, a pesar favoravelmente num dos pratos da balança. Espero que o estudo que se segue contribua para o reforço deste diagnóstico. J. A. Azeredo Lopes – foi Presidente Entidade Reguladora para a Comunicação Social (2006-2011). É o actual Ministro da Defesa do Governo de António Costa.

(…) A imprensa regional, pude comprová-lo se dúvidas tivesse, Pub.


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