Suplemento Especial | Integra a edição nº 5843 de 16 de Dezembro de 2013 | Não pode ser vendido separadamente
Sortilégio de Natal Estorietas e curiosidades à volta do fenómeno Natalício. 23 personalidades Feirenses oferecem prendas...
Gastronomia de Natal Veja as receitas do chef Apolinário Gumerzindo
16.DEZ.2013
Primeira coluna
Nota de abertura Suplemento Especial | Integra a edição nº 5843 de 16 de Dezembro de 2013 | Não pode ser vendido separadamente
Sortilégio de Natal Estorietas e curiosidades à volta do fenómeno Natalício. 23 personalidades Feirenses oferecem prendas...
Gastronomia de Natal Veja as receitas do chef Apolinário Gumerzindo
Num momento em que nos aprestamos para viver a quadra natalícia, celebrando os valores da Família, oferecemos mais um trabalho de temática dedicada, definido, como sempre, com o objectivo de corresponder às expectativas dos nossos Leitores. Neste Suplemento Especial, inteiramente dedicado ao Natal, o Leitor poderá encontrar o melhor do nosso sentimento colectivo, através da escrita de cinco dos nossos maiores poetas; receituário culinário para quem quiser atrever-se na cozinha e enfoques cronológicos nas tradições do Menino Jesus e do Pai Natal. Mas poderá conhecer ainda o espírito de Natal com que algumas personalidades do nosso universo local, vivem a quadra natalícia, ou espreitar algumas das muitas curiosidades que gravitam à volta do tema natalício. A fechar, uma entrevista com o Pai Natal, registada na Terra dos Sonhos. Boa leitura e Votos de Boas-Festas
Ficha Técnica: Título: “Especial NATAL” (parte integrante da Edição nº 5.843 do semanário “Correio da Feira”) Produção: “Trazer Notícias, Lda.” - Deptº. Projectos de Informação Especial Direcção: Orlando Macedo Equipa: Albino Santos, André Costa, Tojal Trigo e Pedro Almeida.
Nota: No tratamento redactorial dos conteúdos deste Suplemento, observou-se a adopção indiscriminada das antiga e nova ortografias da Língua Portuguesa.
Cinco autores portugueses cantam o Natal António Gedeão
Dia de Natal Hoje é dia de ser bom. É dia de passar a mão pelo rosto das crianças, de falar e de ouvir com mavioso tom, de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças. É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem, de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria, de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem, de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria. Comove tanta fraternidade universal. É só abrir o rádio e logo um coro de anjos, como se de anjos fosse, numa toada doce, de violas e banjos, entoa gravemente um hino ao Criador. E mal se extinguem os clamores plangentes, a voz do locutor anuncia o melhor dos detergentes.
Naquela véspera santa a sua comoção é tanta, tanta, tanta, que nem dorme serena. Cada menino abre um olhinho na noite incerta para ver se a aurora já está desperta. De manhãzinha salta da cama, corre à cozinha em pijama. Ah!!!!!!! Na branda macieza da matutina luz aguarda-o a surpresa do Menino Jesus.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu e as vozes crescem num fervor patético. (Vossa excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?) Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.) Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas. Toda a gente acotovela, se multiplica em gestos esfuziante, Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante. Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates, com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica, cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates, as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica. Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito, ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores. E como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito, como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores. A oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento. Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar. E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento e compra – louvado seja o Senhor! – o que nunca tinha pensado comprar. Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Jesus, o doce Jesus, o mesmo que nasceu na manjedoura, veio pôr no sapatinho do Pedrinho uma metralhadora. Que alegria reinou naquela casa em todo o santo dia! O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas, fuzilava tudo com devastadoras rajadas e obrigava as criadas a caírem no chão como se fossem mortas: tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá. Já está! E fazia-as erguer para de novo matá-las. E até mesmo a mamã e o sisudo papá fingiam que caíam crivados de balas. Dia de Confraternização Universal, dia de Amor, de Paz, de Felicidade, de Sonhos e Venturas. É dia de Natal. Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade. Glória a Deus nas Alturas.
Barbosa du Bocage
Mário de Sá-Carneiro
Vitorino Nemésio
Natal
A Noite de Natal
Natal Chique
Se considero o triste abatimento Em que me faz jazer minha desgraça, A desesperação me despedaça, No mesmo instante, o frágil sofrimento. Mas súbito me diz o pensamento, Para aplacar-me a dor que me traspassa, Que Este que trouxe ao mundo a Lei da Graça, Teve num vil presepe o nascimento. Vejo na palha o Redentor chorando, Ao lado a Mãe, prostrados os pastores, A milagrosa estrela os reis guiando. Vejo-O morrer depois, ó pecadores, Por nós, e fecho os olhos, adorando Os castigos do Céu como favores.
Em a noite de Natal Alegram-se os pequenitos; Pois sabem que o bom Jesus Costuma dar-lhes bonitos. Vão se deitar os lindinhos Mas nem dormem de contentes E somente às dez horas Adormecem inocentes. Perguntam logo à criada Quando acorde de manhã Se Jesus lhes não deu nada. – Deu-lhes sim, muitos bonitos. – Queremo-nos já levantar Respondem os pequenitos.
Percorro o dia, que esmorece Nas ruas cheias de rumor; Minha alma vã desaparece Na muita pressa e pouco amor. Hoje é Natal. Comprei um anjo, Dos que anunciam no jornal; Mas houve um etéreo desarranjo E o efeito em casa saiu mal. Valeu-me um príncipe esfarrapado A quem dão coroas no meio disto, Um moço doente, desanimado… Só esse pobre me pareceu Cristo.
Fernando Pessoa
Poema de Natal Natal… Na província neva. Nos lares aconchegados, Um sentimento conserva Os sentimentos passados. Coração oposto ao mundo, Como a família é verdade !
Meu pensamento é profundo, Estou só e sonho saudade. E como é branca de graça A paisagem que não sei, Vista de trás da vidraça Do lar que nunca terei !
Sortilégio de Natal
inquérito-relâmpago
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E se, por via de um qualquer passe de mágica, se pudesse escolher e concretizar a oferta de um presente especial?... Foi com este sentido que convidámos um conjunto de figuras públicas locais a responder a uma única questão: «Que prenda daria neste Natal e a quem?» A(s) pergunta(s), visava(m) a espontaneidade na(s) resposta(s); e estas, não fugiram ao espírito de Natal: solidariedade e votos de felicidade, em quase todas. Mas – sem surpresa – as preocupações sociais acabaram por espelhar o momento delicado que o país atravessa…
As prendas que eles dariam neste natal…
Alferes Pereira presidente da CP do CDS/PP Câmara Municipal – desejo ambição e determinação, fundamentais nestes tempos, bemcomo transparência e visão, ausentes até aqui; PSD – desejo humildade e trabalho ; PS – desejo paz, amor e fraternidade; CDU e BE – bom senso e coerência; CDS – dedicação e paciência; Aos feirenses: solidariedade e empreendedorismo!
António Cardoso deputado à AR
Emídio Sousa presidente da CMF
José Manuel Oliveira vereador da CMF
Marques da Silva director do Museu do Papel
Salomão Rodrigues jornalista
Neste momento, ofereceria uma boa dose de bom-senso ao nosso primeiro-ministro, para ele por de lado a austeridade.
A prenda que mais gostaria de dar, era emprego a todas pessoas com vontade e idade para trabalhar, porque esta é minha maior preocupação do dia-a-dia.
Para muitos, Natal, por definição, é sinónimo de consumismo, de valores materiais. Mesmo correndo o risco de cair em lugar-comum, considerando o momento por que todos passamos, nesta quadra ofereceria aos meus concidadãos condições dignas de vida, que vão para além da sobrevivência. O meu presente de Natal seria dar um emprego a todos os feirenses, de modo a que todos pudessem construir e alimentar os seus sonhos e projectos.
Daria uma árvore de papel, para corresponder a todos os desejos escritos… em papel.
Gostaria de oferecer um cabaz de coerência e humildade a certa classe política do país. Para alguns acrescentava uma nova espinha dorsal. Para outros, poucos, um justo aperto de mão.
Celestino Portela economista
Alfredo Henriques ex-presidente da CMF
Ofereceria bom-senso aos nossos políticos, recomendandolhes que ponham de lado os seus interesses pessoais e partidários; que ponham as pessoas e o País em primeiro lugar, porque só com esse espírito será possível termos um futuro com esperança.
Neste Natal, daria como prenda ao novo presidente da câmara, muitas novas empresas no concelho da Feira.
Amadeu Albergaria deputado na AR Neste Natal, daria como prenda ao novo presidente da câmara, muitas novas empresas no concelho da Feira.
Daria aos nossos políticos a visão adequada à necessidade de resolver o problema de emprego para os nossos jovens, que todos os dias estão a emigrar, deixando um vazio muito grande.
Daria alegria e felicidade. Gostaria de ver os feirenses e os portugueses muito felizes, porque isso significaria que estariam de posse de tudo o que é necessário para que isso possa acontecer.
Lucinda Ferreira presidente do C.A. Escola Sec. Feira Daria à Secundária da Feira um grupo de professores da minha Escola, com capacidade para a gerir, de modo a evitar os riscos de uma hipotética privatização futura. Isabel Machado vereadora da CMF
António Bastos vereador da CMF Daria, por via indirecta, uma prenda especial a todos os feirenses: um novo modelo de gestão para a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.
Pedro Filipe Soares deputado à AR Gostaria de dar crescimento económico e criação de emprego ao país, para que 2014 pudesse ser melhor para todos nós, que já merecemos...
Susana Correia vereadora da CMF Daria emprego a todos os que precisam... e são tantos! Seria a solução para os dramas de muitas Famílias do nosso concelho.
Teresa Leão directora do Isvouga Se pudesse, daria emprego a todos os que precisam e melhores condições aos que vão viver este Natal sem a qualidade de vida que merecem.
Ofereço a todos os feirenses o desejo sincero de um Natal de renovação da fé e da esperança. E que em 2014, haja um novo tempo de sucesso, saúde, paz, amor e conquistas, em que todos os dias se repitam as nossas melhores virtudes.
Margarida Garizo deputada à AM da Feira
Eduardo Marques Administrador da Indaqua Nos tempos tão difíceis e conturbados em que vivemos, gostaria de ter uma varinha mágica que pudesse dar a todos a esperança firme de um futuro digno e próspero e, sobretudo, que erradicasse a pobreza e o sofrimento
À minha esposa, aos meus filhos e aos meus pais, ofereço a oportunidade de estarmos juntos à lareira e em paz com tudo e com todos. A todas as outras pessoas, gostaria de proporcionar-lhes exactamente o mesmo que quero para mim.
Helena Portela vereadora da CMF
Eduardo Cavaco vereador da CMF
Paulo Sérgio Pais administrador da Feira Viva
José Lino Director da EPPB Daria, novamente, um Família a cada um dos meus alunos.
Aos portugueses em geral e aos feirenses, em particular, dar-lhes-ia mais emprego e menos dificuldades. E também gostaria de garantir que, com o próximo ano, chegasse um espírito que nos ajudasse a todos a ser felizes, que é o que mais precisamos.
Rodrigo Nunes empresário
Vítor Marques vereador da CMF
Daria a todos os políticos uma plataforma de entendimento, para resolverem os problemas do país e olharem para o que é realmente importante. Essa seria a solução para um país pequeno mas de grandes potencialidades, que merecia melhor do que a governação que tivemos nos últimos anos, para ajudar a nossa juventude a encontrar um rumo.
A melhor prenda possível, que poderia dar, seria um posto de trabalho para quem precisa, em especial os feirenses; e principalmente para aqueles que querem e não conseguem encontrá-lo. Também incentivo aqueles que defendem e cultivam os valores familiares, a dar o seu contributo de solidariedade para com aqueles que nesta altura atravessam uma fase menos boa da s suas vidas.
16.DEZ.2013
Com a globalização dos fenómenos sociais (veja-se o que acontece com o ‘Halloween’, que liquidou o nosso portuguesíssimo ‘Entrudo’) tudo aponta para que, dentro de poucos anos, o Menino Jesus apenas encontre refúgio nos anais do Património Cultural Imaterial…
(regresso à)História Maravilhosa
D
e ano para ano, o Natal tradicional português – o que celebra(va) o nascimento do Menino Jesus – tem vindo a perder terreno, face à avassaladora onda de consumismo e de marketing social apelativo, que nos tem trazido o Pai Natal pela casadentro. Mas é preciso aceitar, também, que, pela carga religiosa inerente, a saga do Menino Jesus está cada vez mais prejudicada pela ausência de tal condicionante do seu “concorrente” importado dos países frios do norte da Europa.
Natal, essa palavra mágica Directamente oriunda do latim nÐtÐlis, dizem os linguistas que a palavra ‘Natal’, do português e do antigo castelhano, também recolheu contributos do catalão ‘nadal’ e do italiano ‘nataledo’. Entretanto, no castelhano a palavra ‘navidad’ foi substituindo progressivamente ‘Natal’, o que se percebe melhor se atendermos a que reporta ao dia religioso (6 de Janeiro) em que nuestros hermanos comemoram o nascimento do Menino. Como significado, Natal também se aplica à ocorrência do nascimento de alguém, num determinado lugar. Natal, a festa religiosa, comemora-se a 25 de dezembro desde o ano 336 d.C (séc.IV da era cristã) altura em que a igreja romana passou a assinalar e celebrar o nascimento de Jesus com regularidade. Seria o Papa Júlio I quem, catorze anos mais tarde, em 350, viria a proclamar o dia 25 de Dezembro como data oficial do Nascimento do Menino Jesus. Ainda assim, há relatos que sustentam que a celebração da natividade de Jesus, a 6 de janeiro, continuou a ocorrer até finais doesse século. E entretanto, muitos estudiosos têm vindo a referir que aquela decisão eclesiástica recuperou a primeira celebração, que terá ocorrido anteriormente na Turquia, a 25 de Dezembro, já em meados do sec II.
A anunciação Se quisermos observar a história do Menino Jesus, com olhos inquisitivos, o resultado final acabará por render tributo ao cepticismo, com a lógica e a cronologia a exercerem um magistério cruel. Por isso, é tão importante aceitar a carga de fantasia que ao longo dos tempos tem adornado a narrativa… Reza a história que Maria e José, os pais de Jesus moravam em Nazaré, cidade da antiga Galileia, no norte da Palestina. Na Bíblia, o Evangelho de Lucas conta que o arcanjo Gabriel apareceu a Maria, anunciando-lhe que ela havia sido escolhida para dar à luz o filho de Deus, o prometido Messias. Vencido o cepticismo inicial do carpinteiro José, a gestação do Salvador ocorria sem sobressaltos, até que, já pelo final do período, Maria e José tiveram de se deslocar a Belém, para se registarem no recenseamento geral que
O Anjo Gabriel (de Giotto pintor florentino do séc.XIII) o imperador César Augusto havia ordenado, com o intuito de cadastrar todos os súbditos para efeitos de cobrança dos impostos.
Belém era uma pequena cidade e o afluxo de pessoas, provocado pelo recenseamento, esgotou todas as possibilidades de acolhimento para Maria e José, pelo que – com o momento de dar à luz a chegar – o casal de nazarenos se viu obrigado a abrigar-se num estábulo, onde Jesus acabou por nascer e uma manjedoura lhe serviu de primeiro berço. Outros autores, preferem o cenário de uma gruta, provavelmente mais consentânea com a morfologia das cercanias de Belém; mas fosse como fosse, os Evangelhos registam que, nessa noite, os pastores das cercanias viram anjos no céu cantando salmos de ‘Glória a Deus nas alturas e paz e boa vontade, na Terra, entre os homens’. Terão sido, aliás, os pastores os primeiros a acorrer ao local, levando leite, mel e agasalhos à Sagrada Família. Da circunstância, resultou o Presépio, a representação mais divulgada do nascimento de Jesus, não se esquecendo a tradição de adicionar a presença do simpático burro e da dócil vaquinha como elementos acessórios mas indispensáveis na figuaração.
A Estrela e os Reis Magos Para adensar a efabulação, introduz-se a demanda dos Três Reis Magos, ditos
Belchior, Baltazar e Gaspar. Os cépticos recusam hoje a ideia de se tratar de verdadeiros reis, admitindo antes, que poderia tratar-se de sacerdotes persas ou astrónomos, já terão sido guiados por uma estrela que os conduziu à região onde nascera Jesus, havia alguns dias apenas. O enredo refere que os magos – sabendo que se tratava do nascimento de um rei – se dirigiram ao palácio do cruel rei Herodes, na esperança de ali encontrar o Menino. Herodes, surpreendido pela revelação, pediu aos magos que, se o encontrassem lhe indicassem onde estaria, dado que também queria ir adorá-lo, embora as suas intenções fossem a de matá-lo. O tempo decorrido na procura da cabana, levou a que só a 6 de Janeiro os Magos chegassem ao presépio; e é isso que justifica hoje, em muitas culturas que o dia da entrega dos presentes se faça, simbolicamente naquela data, Dia de Reis. A história sublinha que os Magos só conseguiram encontrar o Menino Jesus, porque, após saírem de Belém, a estrela voltou a pairar, guiando-os até ao local, como conta o mesmo Mateus, no evangelho: “E vendo a estrela, alegraram-se eles com grande e intenso júbilo”.
Ouro, incenso e mirra Dentre as dádivas oferecidas pelos Magos, as mais famosas, pelo seu simbolismo, são ouro, incenso e mirra, num conjunto alegórico a que os estudiosos atribuem significado e simbolismo espiritual. A lenda diz que o ouro representa condição real do Menino; o incenso consubstancia a fé, dado que era (e ainda hoje é) é usado nos templos para simbolizar a ascensão das preces ao céu; e a mirra, enquanto resina antisséptica usada na altura em embalsamamentos, remetia para a dimensão humana de Jesus, perecível enquanto homem.
Evolução do conceito Tal como muitas outras circunstâncias e acontecimentos marcantes, também o Natal acabou por dar oportunidade ao aparecimento de usos e costumes associados, muitos dos quais originários de festivais profanos e/ou pré-cristãos,
como os do solstício de inverno, em todo o caso festividades que a igreja não quis ou não conseguiu apagar dos hábitos das populações, acabando por acolhê-los e adaptá-los à visão do cristianismo. Mas a celebração da natividade tal como a conhecemos, nem sempre foi assim, valendo a pena reparar que o Natal não se encontrava referenciado entre as primitivas festividades cristãs. Aliás, é preciso chegar ao exercício do papado de Libério (ocorrido entre os anos 352 e 366) para encontrar a primeira referência específica à celebração do Natal, entre os cristãos. Daí para cá, o enquadramento social do período natalício tem passado por várias caracterizações (na Idade Média chegou a ser comemorada em registo carnavalesco). Mas foi preciso esperar até ao séc. XIX para se firmar como um tempo especial orientado para a celebração dos valores da Família, com o foco centrado nas crianças.
“ Hoje, a interpretação-livre da figuração do Presépio, há muito ultrapassou os conceitos tradicionais. Entre nós, o célebre Presépio da Cavalinho – reconhecido como o maior do mundo com figuras em movimento – introduz representatividade moderna nos seus vários cenários, numa demonstração inequívoca do valor da intemporalidade da mensagem”.
Sortilégio de Natal
Pai Natal Na demanda sobre as origens do Pai Natal, a hagiografia recua muitos séculos na história do cristianismo, para alvitrar que a lenda pode ter sido originada na figura histórica de São Nicolau, a primeira das figuras da nomenclatura eclesiástica a organizar assistência aos pobres e principalmente às crianças desvalidas.
T
al como o de todas as outras, o nascimento da lenda do Pai Natal dilui-se na memória dos tempos, mas hoje é comum datar- se o “aparecimento” da figura no primeiroquartel do século dezanove e pacificamente aceite que a transformação no actual símbolo natalício, evoluiu na Alemanha (Santa Klaus) colhendo sérios contributos da tradição dos Países Baixos (Sinterklaas). É da Holanda que emerge a figura de um velhinho de longos cabelo e barba brancos, montando um cavalo ruço e vestindo uma ampla capa vermelha, carregando consigo um livro em que estão apontados os nomes de todas as crianças, bem como se merecem – ou não – os presentes pedidos, consoante tiver sido o seu comportamento ao longo do ano. As narrativas e a descrição da figura, parecem, aliás, estar na base daquela que é considerada a primeira imagem consensual da figura do Pai Natal, baseada numa ilustração intitulada “Merry Old Santa Claus”, da autoria de Thomas Nast e editada a 1 de Janeiro de 1881 numa publicação americana. Outro contributo decisivo é creditado ao professor e dramaturgo norte-americano Clemente C. Moore, através de “Uma visita de S. Nicolau”, um poema dedicado aos filhos e em que se efabula pela primeira vez (1822) uma
ambiência fantástica, com o popular velhinho a chegar num trenó puxado por renas e a entrar pela chaminé, para deixar presentes. Relativamente ao poema, alguns estudiosos do fenómeno, cruzaram informação factual para deduzir que a inspiração do autor se baseou em tradições, como a dos antigos habitantes da Lapónia (no extremo norte da Finlândia) viverem em pequenas tendas revestidas com pele de rena e parecidas com os iglus dos esquimós, cuja entrada se fazia por um buraco na cobertura. Mas outros defendem que a alegoria assenta no costume, então em voga, de limpar as chaminés no Ano Novo para facilitar a entrada da boa-sorte…
O contributo da Coca-Cola Curiosamente, o apuro da
imagem do Pai Natal acabou por ocorrer também no outro lado do Atlântico, graças a ferramentas de puro “marketing”. Se hoje as imagem e vestimenta daquela figura estão padronizadas num homem rechonchudo, folgazão, de barba e cabelos brancos, vestindo casaco e calças vermelhos com debruns brancos, tudo rematado com botas e cinturão pretos, deve-se… à Coca-Cola. Diz o historial da marca, que nos anos 30, na sequência dos “grande depressão” a Coca-Cola estava à procura de uma solução para combater a acentuada quebra de vendas que registava todos os invernos. A ideia de associação da campanha à quadra mais abrangente e emblemática da estação fria, acabou por se impor e quando foi necessário adicionar simbologia atractiva, os gestores contrataram Haddon Sundblom, um dos mais famosos ilustradores da época. Com alguma naturalidade, o criativo acabou por se centrar na figura de “Santa Claus”, que recriou num processo memorável, centrado na renovação da imagem de um Pai Natal, que até então era apresentado de forma algo soturna, apesar dos primórdios assinados pelo também americano Nast. (re)Nascia assim a figura que hoje conhecemos: rechonchuda, bonacheirona e colorida, vestindo trajes espalhafatosos de cor vermelha debruados a branco e… segurando uma Coca-Cola na mão. O sucesso da campanha publicitária foi tão grande, que ainda hoje aquela marca de refrigerantes recorre à imagética do Pai Natal para ilustrar as suas campanhas de Natal. No fundo, o êxito da iniciativa esteve mais na mudança da vestimenta e na engorda da figura, do que no inusitado, dado que já anteriormente a White Rock Beverages (outra empresa americana produtora de bebidas) tinha utilizado a figura de Santa Claus para vender água mineral (em
1915) e soda (em 1923). No caso da Coca-Cola, foi o toque de génio do criativo
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que fez (e faz ainda hoje) a diferença…
Pai Natal no radar Em meados dos anos 50 do século passado, a coisa ganhou “foros científicos” quando os responsáveis pela agência que coordenava o tráfego aéreo americano criaram o que designaram de “Santa Tracker” (“Rastreador de Santa Claus”) com expressão em vários idiomas, destinado a mapear o trajecto do Pai Natal em redor do globo terrestre. A ideia notável, nasceu em 1955, depois de um anúncio num jornal do Colorado ter assumido a fantasia de “revelar” o número telefónico do velhinho das barbas brancas. Com as crianças a efectuar milhares de chamadas, aumentou a margem de erro e coincidência; por isso, algumas delas chamadas aca-
tas transpuseram a história para o celuloide, no filme “Rudolph, a Rena do Nariz Vermelho”, os fantasistas aplaudiram e adoptaram a rena do nariz brilhante como guia das outras congéneres, com especial aptidão para as orientar durante as tempestades.
Cartas ao Pai Natal
baram por ser direccionadas para aquela agência, que passada a surpresa inicial, alimentou a ideia e alinhou no espírito natalício. O movimento tornou-se imparável, a ponto de muitas cadeias de televisão replicarem ainda hoje a monitorização do percurso do trenó natalício, como aconteceu com um canal televisivo português há alguns anos atrás.
A origem e as renas do Pai Natal Os americanos preferem que o Pai Natal seja originário do Polo Norte, enquanto os mais puristas defendem a versão originária britânica, que lhe fixa proveniência lapã, com residência nas cercanias de Rovaniemi, cidade da Lapônia finlandesa. Diz-se que antigamente ele usava roupas e barrete verde, tal-e-qual os elfos que o ajudam a dar vazão aos milhões de pedidos com que se confronta todos os anos. Mas o “tal” anúncio da Coca-Cola obrigou-o a mudar-se para o vermelho, tal como antigamente se vira obrigado a apear-se do cavalo ruço para atrelar as famosas renas ao seu trenó voador. Sabe-se que usualmente, os lapões usam 8 renas para puxar os seus trenós; e por isso a fábula do veículo voador do Pai Natal foi referindo sempre quatro pares daqueles simpáticos cervídeos. Mas, em 1939, quando os argumentis-
Movido pela fé ou pela superstição, desde sempre o ser humano escreveu às suas divindades e referências votivas. Mas no que refere ao Pai Natal, só a partir de meados do século passado se rotinou o hábito de se escrever ao simpático ancião, para pedir prendinhas. O caso ganhou entretanto, tais proporções, que um pouco por todo o mundo foram criados serviços especiais de recepção de tais missivas, como acontece com os nossos CTT, que há quase 30 anos, em 1985, lançou a iniciativa “Cartas do Pai Natal”. Com o volume de cartas recebidas a aumentar progressivamente, no ano passado foram cerca de 350 mil as cartas escritas por crianças – não só portuguesas - algumas delas vivendo no estrangeiro. Uma fonte dos CTT apontou a elevada adesão de crianças filhas de emigrantes portugueses espalhados por todo o mundo, da Venezuela a Timor, do ReinoUnido ao Basil, mas também de outros meninos e meninas naturais dos países de língua oficial portuguesa. E o melhor, é que na senda do velho aforismo que “todas as cartas têm resposta”… os CTT têm respondido! E na volta, ainda oferecem presentinhos!… Na mesma perspectivas, mas a outra escala, na Finlândia as cartas dirigidas ao Pai Natal, recebidas na Lapónia, são direcionadas para a central
postal da cidade de Rovaniemi (a capital) com garantia de resposta em oito idiomas.
A aldeia do Pai Natal… Por facilitismo, costumamos referir que o Papai Noel vive no Pólo Norte, mas na realidade ele “mora” mais a sul, quase do limite do círculo polar ártico. No entanto, cada país nórdico reclama para si a morada oficial do Pai Natal. A Noruega diz que ele vive em Drøbak; mas na Dinamarca juram que ele vive em Greenland (perto Uummannaq ). Já os suecos não quiseram ficar-se só pela reivindicação, construindo um parque temático na cidade de Mora, chamado Tomteland. Mas os finlandeses não quiseram deixar os seus créditos por mão alheias e respondem, por sua vez, com dois parques temáticos, exclusivamente dedicados ao Pai Natal, em Korvatunturi, nos arredores de Rovaniemi, a capital da Lapónia. Neste último caso, criou-se, inclusive o “Escritório do Pai Natal”, cujos contactos oferecemos aos leitores do Correio da Feira, com autorização expressa da Família Vuori, de Kuopio: Santa Claus FIN-96930 Arctic Circle Rovaniemi - Suomi www.santaclausoffice.fi
…e a residência de verão. Verdadeiramente surreal, mas significativo, é o facto de uma comunidade originária de cerca de 300 finlandeses que rumaram ao Brasil, ainda na primeira metade do século passado, ter declarado a região de Penedo, distrito de Itatiaia (Rio de Janeiro) como a “residência de verão” do Pai Natal…
16.DEZ.2013
Gastronomia natalícia Por força da nossa tradição, a Ceia de Natal fica algo limitada à omnipresença do bacalhau no prato dos comensais; mas há variantes, para o grande jantar da Festa da Família. E embora as receitas estejam quase-plasmadas no ADN dos gastrónomos portugueses, aqui deixamos algumas pistas para os mais distraídos e para os neófitos (porque há sempre uma primeira vez para tudo…) Pelo sim, pelo não, convidámos o mundialmente conhecido chef. Apolinário Gumerzindo - distinguido com 7 estrelas Dunlop, 6 estrelas Firestone e 43 estrelas Mabor - a proporcionar-nos algumas receitas fáceis (até para totós!...)
Sugestões do Chef Apolinário Gumerzindo para cinco pessoas.
• Ceia de Natal
guarde a casca; ponha-a na compostagem)
Bacalhau da Consoada 5 Postas grossas de bacalhau demolhado |5 Ovos | 2Kg de Batatas | 2 Couves pencas | 5 Dentes de alho | 3,5 dl. Azeite | Sal e vinagre q.b.
Primeiro, lave as batatas e as pencas, senão a avó reclama; depois coza-as (convém, não é?) com pele ou descascadas e cortadas a meio. Ponha a água ao lume e espere que ferva para lhe juntar as postas de bacalhau e as pencas, enquanto coze os ovos à parte. Enquanto o bacalhau e as pencas cozem, prepare o molho, levando ao lume o azeite e os alhos, cortados ao meio ou esmagados. Assim que levantar fervura, retire do lume (senão esturrica aquela coisa toda e depois você fica com a fama de ter estragado o jantar e vai ser gozado(a) o resto da vida). Junte vinagre e mantenha quente. Quando tudo estiver cozido, separe a melhor posta de bacalhau (importantíssimo!!), e descasque os ovos (a casca tem digestão difícil). Depois, feche os olhos e atire tudo para dentro da travessa (fica sempre bem uma nota artística) tendo o cuidado de alinhar apenas 4 postas no cimo e esconder, por baixo, a melhor posta. Coloque o molho na molheira para servir quente. Leve à mesa e deixe que todos os outros se sirvam primeiro. Nessa altura, só restará mesmo a melhor posta de bacalhau, escondidinha debaixo de batatas e pencas. A sua…
Polvo assado no forno 2Kg de polvo | 1,5 Kg de batata | 1 Cebola grande finamente picada | 3 Dentes de alho | 1 Malagueta | ½ Copo de água | 1 Copo de vinho tinto | 1,5 dl. Azeite | 1 Colher de chá de colorau | 3 Colheres de sopa de margarina | Sal e pimenta q.b.
Preparação Comece por dar uma banhoca ao polvo. Em seguida, aplique-lhe uma carga de porrada, para amaciar. Se continuar a chatear, retire-lhe os tentáculos, que ele amansa logo. Depois arranje uma panela de jeito, e ponha-a ao lume com o azeite, a cebola e o alho picado, deixando alourar (assim um bocadinho para o ruivo, mas sem exagerar). Quan-
essência de baunilha
Roupa Velha
Preparação
Preparação
acompanhado com batata assada e arroz de passas ou pinhões. Importante: Se já não conseguir enterrar a agulha… bem; o melhor, então, é procurar um restaurante aberto nas redondezas.
do a cor estiver no ponto, junte o colorau e a malagueta e abrande um bocadinho para pôr a versão rock do “Santa Claus is Coming to Town” a tocar em altos berros na aparelhagem lá de casa. Depois, corra de volta para junto do fogão e mexa aquilo tudo, antes que esturrique. Acrescente água e o copo de vinho (não; não precisa de o provar, para ver se entretanto não terá azedado…). Aproveite o balanço da música e mexa tudo vigorosamente e amande com o polvo para dentro da panela. Mal o polvo esteja cozido, adicione as batatas inteiras, de uma só vez, e deixe-as cozer também. Se não tiver mais nada que fazer, o melhor é ir mexendo a coisa, para evitar que pegue ao fundo da panela. Assim que as batatas estiverem prontas, retire tudo do lume, escoe a água (ou guarde-a para uma sopa, ou um arrozinho, sei lá…) e coloque num tabuleiro. Em seguida, espalhe a margarina por cima do polvo e leve-a ao forno para alourar. Importante: Quando estiver a receber os elogios, não se esqueça de compor uma atitude de modéstia; assim, conseguirá receber mais um ou dois minutos de encómios. Não adianta de nada, mas sabe bem…
• Almoço de Natal
Para o Almoço de Natal, não é preciso grande ciência. Normalmente o pessoal chega à mesa ainda a digerir a fartazana da noite anterior e com a boca a saber a papel de pauta, dado os exageros etílicos da madrugada; mas ainda assim, convém não facilitar. Cá vai, então…
Peru Assado 1 Peru de 4 ou 5Kg (se tiver mais, é capaz de ser leitão) | 250g de bacon | 1Kg sal marinho | 2 +1 Cálices de aguardente velha (qualquer marca serve, desde que não seja a-martelo) | 3 Limões (guarde a casca para os cocktails) | 10 Dentes de alho | 120g de margarina | 2 Cebolas médias | 1 folha de louro | 1 colher de sopa de pimenta | 1 colher de sopa de colorau2 ou 3 Laranjas (não
Primeiro, certifique-se de que o peru não é de plástico (e convém já estar depenado; senão, utilize a blackand-decker). Depois coloque-o num alguidar e tempere-o com o sal e com os limões às rodelas; acrescente dois cálices de aguardente (e empine o terceiro, para se inspirar). Em seguida cobre-se o peru com água fria, para lhe arrefecer os ânimos e castigando-o assim durante um dia. No dia seguinte, retire o peru da água, secando-o bem, por dentro e por fora, com um pano (evite o uso da esfregona ou do aspirador sem filtro, porque é capaz de não ser o mais indicado, na circunstância). Mesmo que esteja sem pachola, prepare, à parte, uma pasta com o alho, a margarina e o colorau. Depois, chame os miúdos lá de casa – que nessa altura já devem estar quase a esgotar-lhe a paciência – e convença-os a barrar o peru, por fora, com essa mesma pasta (se eles se armarem em renitentes, diga-lhes que é uma pintura; ou então, que é para pregar uma partida ao avô, embora neste caso possa ter de vir a debater-se com excesso de voluntários…) Em todo o caso, sempre descansa um bocadinho. Depois da performance dos miúdos lá de casa, coloque o que sobrar do peru barrado numa assadeira, juntamente com as cebolas descascadas, o bacon em fatias, a folha de louro e a salsa. Polvilhe-o com pimenta e regue-o com o sumo de laranja. A seguir, acompanhe o peru ao forno bem quente (2.400C) (mas tenha o cuidado de sair e fechar a porta!) durante 20 minutos. Quando lhe apetecer, reduza a temperatura para 2.000C, para evitar que ele fique com demasiado calor. Durante o tempo de cozedura, vá regando o peru com o molho que se vai formando no tabuleiro (é chato mas tem de ser, senão ainda acaba a servir torresmos…) Para saber quando o peru está assado, pergunte-lhe; mas se ele não responder (os perus costumam ficar maldispostos no Natal, vá lá saber-se porquê…) pode usar a agulha de tricot da bisavó Mariquinhas espetando-lha no peito e nas: se ao retirar a agulha, o líquido sair transparente, então o peru está pronto a ser servido, devendo ser
A ciência ainda não apurou as razões, mas no dia 25 de Dezembro, é habitual a preguiça atacar as nossas Mães, as nossas Tiase até os Chefs tradicionais . Vai daí, põem-se a aproveitar os restos da consoada, quando o prato preparado foi o bacalhau cozido com couve, batata e cenoura. Para disfarçar, dizem que se trata de uma tradição. Bem… 300g de bacalhau (não conta as espinhas) | 3 Ovos | 1dl. de azeite | 200g de couve penca | 500g de batatas | 4 Cenouras | 1 Cebola | 6 Dentes de alho
Preparação Pegue nas sobras (da travessa; as do prato, dê ao tareco) e corte tudo aos bocados: o bacalhau, a couve penca, as batatas e as cenouras, já cozidos no dia anterior (assim, tudo cortadinho, tem duas vantagens: sabe melhor e parece maior quantidade). Coza os os ovos e corte-os às rodelas (aviso: não tente fazer isto antes de os cozer). Reserve algumas rodelas para enfeitar a travessa. Pique os dentes de alho e leve-os a uma banhoca de azeite. Junte a este preparado os restantes ingredientes. Ponha tudo numa frigideira, utilizando a velha táctica do “tudo-ao-monte & fé-em-deus”, mexendo sempre e deixando aquecer até estar bem quente. Depois, tente apanhar a família distraída e sirva de imediato numa travessa. Se alguém reclamar, diga-lhe pra ir dar uma volta ao bilhar grande…
• Doces de Natal
Chef que se preze, sabe que recai sobre as sobremesas a derradeira responsabilidade do êxito, ou do fracasso de uma refeição. Isto é, uma boa sobremesa pode salvar uma refeição menos brilhante, tal como uma fraca sobremesa pode afundar o melhor repasto…
Tronco de Natal 5 ovos (quase)inteiros (separe a casca) | 5 gemas | 180 g de açúcar | 115 g de farinha | 1 a 2 gotas de
Preparação Dê pancadaria nos ovos inteiros mais as 5 gemas, até que se encontrem em espuma. Adicione aos poucos o açúcar, sem parar de bater. Junte as gotas de essência de baunilha e, por fim, peneire a farinha e misture-a com o preparado. Vai ficar com aspecto de mistela, mas não há-de ser nada. Verta para um tabuleiro untado e forrado com papel vegetal, igualmente untado, e leve ao forno, pré-aquecido a 200°, durante 10 a 15 minutos. Retire do forno, desenforme sobre uma superfície polvilhada com açúcar e deixe arrefecer. Entretanto, prepare o creme pasteleiro. Leve ao lume 1litro de leite com 1 vagem de baunilha aberta ao meio, até levantar fervura. Envolva 2 colheres (de sopa) de farinha maisena em 360 g de açúcar e junte 8 ovos, um a um, mexendo bem entre cada adição. Corte 100 g de manteiga em pedacinhos e junte-a ao preparado; se não tiver pachola, mande-a inteira lá para dentro. Por último, verta o leite em fio, mexendo sempre. Retire a vagem de baunilha e leve tudo a lume brando, mexendo sempre até engrossar, e sem deixar levantar fervura. Retire do lume e continue a mexer até arrefecer um pouco. Em seguida, barre a massa com este creme, enrole e apare as pontas. De uma das extremidades da torta, corte dois pedaços, para fazer as hastes. Confeccione o creme de manteiga achocolatado: Na batedeira eléctrica, bata 500 g de manteiga até obter um creme homogéneo e junte-lhe 2 gotas de essência de baunilha. Entretanto, leve 400 g de açúcar ao lume com 1,5 dl de água e deixe ferver até obter ponto de pérola. Bata as claras de 8 ovos em castelo e, sem desligar a máquina, junte a calda em fio. Continue a bater até arrefecer. Junte 100 g de chocolate derretido e este merengue à manteiga, envolvendo suavemente. Monte o tronco, cubra-o com creme de manteiga achocolatado e polvilhe com chocolate em lascas. Barre as extremidades com creme pasteleiro e decore com estrelas de chocolate. Por fim, reze para que tenha dado certo…
Manjar dos Anjos de Natal
Sortilégio de Natal
Preparação
10 bolachas Maria | 250 gr de açúcar | 1,5 dl de leite | 6 gemas de ovo | 10 dl de água.
Preparação:
Preparação: Leve ao lume a água e o açúcar, deixe ferver durante 3 minutos e retire. Aqueça o leite e desfaça nele as bolachas. Deite as bolachas no recipiente do açúcar. Leve ao lume só até levantar fervura, mexendo sempre para não pegar. Retirar do lume e deixe arrefecer. Coloque as gemas numa tigela e bata-lhe com um garfo até elas desistirem. Junte as gemas, em fio, à mistura de açúcar e bolachas já feita, mexendo sempre. Leve ao lume até fervilhar, nunca parando de mexer. Deite numa travessa, deixe arrefecer e enfeite com canela. Se não tiver jeit para isto, olhe, feche os olhos e atire a canela ao calhas, tipo obra abstracta. Importante: Não confunda! Só as bolachas Maria é que se deitam no recipiente; a Maria deita-se noutro lugar…
Cozinhe a batata-doce, descasque e faça um puré. Pelo sim, pelo não, misture com os s 500 gr de açúcar, mexendo sempre para não queimar. Quando gostar do aspecto, tire do lume e deixe arrefecer(se não gostar, tire na mesma, senão fica com cãibras). Junte o resto dos ingredientes misturando bem. Quando a mistela lhe parecer aparentada com massa, molde umas broas, coloque numa forma untada, pincele com a gema de ovo batido e leve ao forno até dourar. Importante: Não se esqueça que estamos no Natal; por isso, quando estiver a moldar as broinhas, evite as ordinarices…
Misture bem a farinha, o fermento e a margarina. Quando a massa estiver bem misturada, adicione o Vinho do Porto e a água e volte a misturar novamente, com a batedeira em velocidade máxima. Parece estúpido, mas tem de ser assim. Se estiver enfastiado, amande um calicezinho de Vinho do Porto pela goela abaixo… Depois, quando a massa já estiver cansada, estenda-a com um rolo sobre uma bancada enfarinhada e corte-a em retângulos, estes, com dois cortes no centro. Frite em óleo quente até alourarem de ambos os lados, escorra e passe por açúcar e canela. Arrisca-se a que saibam bem, sem grande trabalho…
Filhós de Natal 2 kg de farinha | 30 grs. de fermento de padeiro | 1 colher de chá de fermento | 125 grs. de manteiga | 750 grs. de açúcar | 1 dl de azeite | 3 dl de leite morno |12 ovos | 1 colher (sobremesa) rasa, de sal
e os ovos que se vão juntando à massa aos poucos. O açúcar e o azeite são dos últimos ingredientes, adicionando-se também aos poucos e continuando a amassar. A seguir, mesmo que você não queira, a massa vai ter de descansar, para crescer, dependendo da temperatura ambiente mas geralmente uma hora e meia. Depois de levedada, estende-se com as mãos pedaços e fritam-se em óleo quente. Após fritas colocamse em papel absorvente para tirar o excesso do óleo e em seguida passam-se por açúcar. Importante: Conte as vezes que espirrar; por cada uma, desconte 5 gr. de sal. E ninguém precisa de saber…
Rabanadas com Doce de Abóbora
07
Num tacho, aqueça o vinho e adoce a gosto. Resista ao cheirinho, e mergulhe nele as rabanadas, aconchegue-as, espremendo-as um pouco com as mãos (se tiver coragem). A seguir, passe-as por ovo batido e lamba os dedos; dá mau-aspecto mas sabe bem. Num recipiente, leve ao lume óleo e, quando bem quente, frite nele as rabanadas, de ambos os lados, colocando-as a seguir sobre papel absorvente. Transfira-as para uma travessa de serviço e polvilhe com açúcar e canela.
Sonhos de Natal 3 dl de leite | 1,5 dl de óleo | 1 casca de limão | Uma pitada de sal fino | 250 gr de farinha | 6 ovos inteiros grandes | Óleo para fritar | Açúcar em pó para polvilhar.
8 fatias de pão-cacete ou de forma, grossas | chávena de chá de doce de abóbora | 3 dl de vinho tinto | Açúcar q.b. | Ovo batido q.b. | Óleo para fritar q.b. | Açúcar e canela para polvilhar
Coscorões Estaladiços 500g de farinha | 175g de margarina | 150cl. de Vinho do Porto branco | 100g de água | 1/2 colher de chá de fermento | Óleo para fritar | Açúcar e canela para polvilhar
Broinhas de Natal
Preparação:
Preparação
1/2 kg de puré de batata doce | 200 gr de farinha de trigo | 200 gr de farinha de milho | 1/2 kg de açúcar + 350 gr de açúcar | 100 gr de coco ralado | 100 gr de amêndoas moídas | 4 colheres de sopa de pão ralado | 3 ovos + 1 gema | Raspa de laranja | Sal
Coloque a farinha sobre a bancada e brinque aos vulcões, formando um monte com uma cova no meio, onde irá colocando os outros ingredientes. Amorne o leite, com a manteiga e o fermento e espete com tudo dentro do vulcão, amassando sempre e evitando espirrar. Adiciona-se o sal
Preparação Corte as fatias de pão com espessura de 3 cm ou mais. Com a ajuda de uma faca, abra-lhes uma cavidade pelo lado da base e recheie então as fatias de pão com o doce de abóbora, sem as rebentar.
Ferva o leite com o óleo, a casca de limão e o sal. De uma vez só adicione a farinha e, com uma colher de pau, misture até que a massa se descole do recipiente. Depois de arrefecer, acrescente os ovos inteiros (sem a casca), um a um e mexa bem. Na frigideira, já com o óleo quente, coloque colheradas de massa, fritando de ambos os lados. Retire e escorra. Antes de servir, polvilhe com açúcar em pó. Importante: Se nem isto você conseguir fazer, candidate-se ao título de “Rei dos Totós”.
As escolhas de Eduarda Magalhães
Leituras de Natal Cidália Fernandes
Afonso Cruz
Mesmo ao lado, no presépio, as figuras conversavam, felizes e ansiosas p’lo Pai Natal aguardavam.
O pano de fundo deste romance é um Oriente efabulado, baseado no que pensamos que foi o seu passado e acreditamos ser o seu presente, com tudo o que esse Oriente tem de mágico, de diferente e de perverso. Conta a história de um homem que ambiciona ser invisível, de uma criança que gostaria de voar como um avião, de uma mulher que quer casar com um homem de olhos azuis, de um poeta profundamente mudo, de um general russo que é uma
E o Natal aconteceu
Mas eis que se ouve então, como da terra saído, vibrando naquele silêncio, um bruto e forte mugido. – Eu nem quero acreditar nisto que ouvi de vós. – Era a vaca rabugenta com arrogância na voz. (Inclui CD com música e dramatização da história)
Para onde vão os guarda-chuvas espécie de galo de luta, de uma mulher cujos cabelos fogem de uma gaiola, de um indiano apaixonado e de um rapaz que tem o universo inteiro dentro da boca. Um magnífico romance que abre com uma história ilustrada para crianças que já não acreditam no Pai Natal e se desdobra numa sublime tapeçaria de vidas, tecida com os fios e as cores das coisas que encontramos, perdemos e esperamos reencontrar.
Obras disponíveis na livraria Vício das Letras - Rua Dr. José Correia de Sá, n.º 59 Santa Maria da Feira
última
16.DEZ.2013
Figura faz a delícia dos mais pequenos na ‘Terra dos Sonhos’
À conversa com o Pai Natal… Acontecimento incontornável, a ‘Terra dos Sonhos´ marca o ritmo sócio-cultural do natal feirense embora os seus efeitos se repercutam por todo o país. Enquanto parque temático dedicado à quadra natalícia, não só não tem dispensado a presença do Pai Natal, ao longo das 6 edições já realizadas, como tem feito dele a figura central. Já chegou de avião, de camião, de autocarro… e até trouxe as renas! Fomos ouvi-lo nas cercanias do castelo… A figura mítica do Pai Natal não podia faltar a esta Terra dos Sonhos, acabando por ser, naturalmente, a personagem mais procurada pelas crianças e a que mais curiosidade continua a despertar-lhes. Desde 2008 instalado na pequena ‘Lapónia da Terra dos Sonhos’, tem ouvido muitos os pedidos feitos pelos mais pequeninos. “Brinquedos, é sobretudo isso que as crianças pedem. Muitas até trazem uma lista, e eu peço que a coloquem no nosso correio”, conta o Pai Natal. Mas as crianças não se ficam por ali; para além dos mais variados brinquedos, “pedem também coisas boas para os pais”, como por exemplo muita paz e felicidade, sublinha o homem das barbas brancas.
Vergonha nenhuma Com a parafernália de luz e cores, num cenário criado para fazer so-
nhar, é difícil fugir-se ao sortilégio. E os pequenos visitantes não se fazem rogados. “O ambiente tem estado sempre muito bom, com as crianças a aderirem bastante, embora apareça um ou outro mais rebelde”, revela. Como é normal nestas idades, a curiosidade é muita e as perguntas são directas, sem qualquer tipo de vergonha. “Os miúdos perguntam de onde venho, que idade é que eu tenho… e até perguntam se sou verdadeiro ou não!”, diz a mítica personagem, que visita a Terra dos Sonhos há seis anos e está, por isso, mais que preparada para todas as questões colocadas pela pequenada.
Ansiedade A solicitação é tanta, que chega a ser necessário esperar-se meia-hora em longas filas para falar com o Pai Natal. No entanto as crianças não desistem
e aguardam ansiosamente pela sua vez de chegar perto do velhinho de barbas brancas e olhos azuis por detrás dos pequenos óculos redondos que compõem a personagem. “Muitas crianças já vêm cá desde outros anos e algumas até já as conheço”, refere o ‘ancião’ que se tem visto confrontado com as provocações de
alguns dos miúdos. “A maior parte ainda acredita, mas outros já dizem que sou falso e que o Pai Natal não existe; só que tento brincar com eles e até lhes digo que falsos são eles…” – confessa, acrescentando: “Há crianças que têm medo da figura, mas vêm ao meu colo e depois até voltam outra vez”.
Mas chegar à fala com o Pai Natal, não é exclusivo dos mais novos. Embora mais discretos, há também adultos a irem de encontro da figura vetusta, apenas para desejar apenas um Bom Natal e, quem sabe, recordar um pouco os seus tempos de criança, em que a magia do Natal era bem diferente...