obras escolhidas
1992 / 2004
2004 CENTRO DE ARTE MODERNA JOSÉ DE AZEREDO PERDIGÃO
PEDRO CALAPEZ
EXPOSIÇÃO
CATÁLOGO
Programação / Programming
Coordenação / Co-ordination
JORGE MOLDER
HELENA DE FREITAS PEDRO CALAPEZ
Comissariado / Curator
RITA LOPES FERREIRA
HELENA DE FREITAS JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE
Textos / Texts CHRISTOPH SCHREIER
Produção / Production
HELENA DE FREITAS
RITA LOPES FERREIRA
JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE
ANA GOMES DA SILVA
Entrevistas / Interviews Montagem / Installation
DELFIM SARDO
EQUIPA DE MONTAGEM CAMJAP
JOÃO SOUSA CARDOSO
e CONSTRUÇÕES ANTÓNIO MARTINS SAMPAIO, Lda.,
NOMENA STRUß
coordenadas por CRISTINA SENA DA FONSECA
Design Gráfico / Graphic Design Transportes e apoios diversos / Transport and other services
VERA VELEZ
SERVIÇOS CENTRAIS da FCG
Traduções e Revisão de textos / Translation and Revision DAVID PRESCOTT (português/inglês – texto João Miguel Fernandes Jorge)
PAULO GREGÓRIO
GRAÇA MARGARIDO JEANNE HAUSNCHILD (alemão/inglês – texto Christoph Schreier) MICK GREER
Fotografia / Photography JOSÉ MANUEL COSTA ALVES LAURA CASTRO CALDAS e PAULO CINTRA OLAF BERGMAN PMDC RENI HANSEN
isbn 972-635-158-8 dep. legal
O Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão/Fundação Calouste Gulbenkian agradece aos coleccionadores e instituições que amavelmente cederam as obras: The Modern Art Centre José Azeredo Perdigão/Calouste Gulbenkian Foundation wishes to thank all the collectors and institutions who kindly lent their works: A . SANTO António Cachola ARENA, Madrid Banco Privado ENATUR, SA Fernando de Almeida Fernando Gárate Fundação EDP Arte Gianni Giacobbi Arte Contemporáneo João Lagoa, Porto João Rendeiro John W. Owens Jorge Dias Luis Adelantado Luis Carreira Graça (Dr.) Manuel Pedro Calapez Marília Teixeira Lopes Museu de Arte Contemporânea, Fortaleza São Tiago, Funchal Roberto Bachmann Sofia Amaral e Jorge Bonito assim como aos coleccionadores que preferiram guardar o anonimato e a todos que deram a sua colaboração para esta exposição. as well as all the collectors who preferred to remain anonymous and to all who gave their assistance to this exhibition.
Uma permanente conversa com alguns outros artistas e questões ligadas aos meca-
A permanent dialogue with some other artists and questions linked to the
nismos da percepção e da construção das imagens parecem delinear uma moldura
mechanisms of perception and construction of images seems a possible,
genérica possível para o trabalho de Pedro Calapez.
general way of framing the work of Pedro Calapez.
Por um lado, certos artistas captam a sua atenção, estabelecendo-se então essa tal
On the one hand, certain artists capture his attention, thus establishing this
visitação, que é mais uma troca de saberes e de experiências do que um ir buscar
visitation, which is more an exchange of knowledge and experiences than a
coisas de família diferente. Aliás, a escolha destes autores não é universal, indo
going in search of things from a different family. The selection of these artists
sempre Pedro Calapez escolher os artistas que tocaram pontos sempre abertos na
is not universal, however, as Pedro Calapez always chooses those who touch
sua própria obra e em torno dos quais ela se vai tecendo.
on ever open areas in his own work and around which it is woven.
E, assim, os dois aspectos focados no início deste texto são afinal apenas um, sendo que
And, therefore, the two aspects focused on at the start of this text are, after all,
os artistas são aqueles em que os tais mecanismos, ou interrogações, estão presentes.
only one, in that the artists are those in whose work such mechanisms, or
Entre o cenário para a "Viagem de Inverno", por exemplo, uma paisagem inter-
questionings are present.
média, escolhida ao acaso, e um dos cubos recentes há uma exemplar continuidade
For example, between the setting for Viagem de Inverno (Winter Journey), an
na procura desses princípios que possibilitam a construção de imagens.
intermediate landscape, chosen by chance, and one of the recent cubes, there
É possível pressentir entre outras estas inquietações ao longo do trabalho deste
is an exemplary continuity in the search for these principles that make the
artista, que servem para lhe precisar os movimentos, mas não bastam para tornar
construction of images possible.
justa a observação das obras.
We can sense these disquietudes, among others, throughout the work of this
Pedro Calapez desenvolveu ao longo dos últimos vinte anos uma obra plasti-
artist, in order to make the movements more precise, but they are not enough
camente poderosa, de grande maturidade e consistência, que importa colocar no
to produce an adequate observation of the work.
lugar que lhe cabe, em absoluto.
Over the last twenty years, Pedro Calapez has produced highly mature and con-
Esta exposição que reúne obras produzidas na última década, pretende dar conta
sistent plastic work of great power, which must have its own absolute place.
da obra deste artista, deixando ver com clareza a linha que ela vai exemplar-
This exhibition, displaying pieces produced in the last decade, aims to put the
mente desenhando, mas também as alterações, as invenções, as continuidades
artist’s work in perspective, providing a clear view of its exemplary line, as well as
e as mudanças que a vão constituindo.
the alterations, inventions, continuities and changes of which it is made up. Jorge Molder
ÍNDICE / CONTENTS
Pedro Calapez – O Mundo a duas mãos
12
Helena de Freitas
64
João Miguel Fernandes Jorge
Pedro Calapez – The two-hand world Obras escolhidas Selected works Pintura em rota de expansão: os sistemas pictóricos proliferantes de Pedro Calapez
174
An expansive art style: Pedro Calapez’s proliferating image systems Lista de obras / List of works
208
Delfim Sardo conversa com Calapez
214
A vida no pequeno espaço entre as coisas
218
Num dia de sol e nuvens
224
Delfim Sardo in conversation with Calapez
226
Life in the small space between things
230
On a sunny, cloudy day
236
Currículo / Curriculum
239
Bibliografia / Bibliography
246
Christoph Schreier
PEDRO CALAPEZ – O MUNDO A DUAS MÃOS
Pedro Calapez – The two-hand world
Helena de Freitas
Podemos começar por uma hipótese de trabalho, claramente sugerida na sala de entrada da exposição. A ideia de aproximação de duas peças afastadas no tempo por 10 anos de intervalo convoca uma possibilidade de diálogo e de jogo. O que une e o que separa estas duas poderosas estruturas levanta algumas das questões presentes no desenvolvimento desta exposição. Nela se reúnem trabalhos de Pedro Calapez entre 1992 e 2004, seleccionados à margem de um critério especificamente retrospectivo. O conjunto das obras expostas, mais do que apresentar uma linha ordenada de desenvolvimento plástico, procura pontos de fractura, sinais de descontinuidade e desvio na falsa tranquilidade deste caminho. É a ideia de movimento e de passagem que está implícita nestes dois trabalhos. Subentende-se um convite para a entrada na exposição no longo e alto corredor formado por dezoito pinturas sobre madeira (muro contra muro, 1994), que só poderão ser observadas atravessando o interior desta pesada estrutura de carpintaria. Passagem (Passagem 09 e Passagem 10, 2004), é exactamente o título dos dois painéis constituídos por 28 caixas de alumínio, de diferentes formatos, organizados num diálogo formal de grande dinamismo, como um «travelling» em total liberdade de movimento e de composição. Do mesmo modo podem encontrar-se num princípio comum. A ideia de simetria, que Pedro Calapez tem vindo a explorar como campo experimental de desenvolvimento plástico, encontra-se presente nestes dois trabalhos, ideia estrutural no primeiro (muro contra muro), mas meramente retórica no segundo (Passagem). Na década que os separa, o artista levou ao limite e ao quase abandono esse eixo fundamental do seu processo criativo. «muro contra muro» pode ser tomado como um exemplo de aplicação exaustiva. Apresentada parcelarmente nesta exposição (1) – originalmente era também constituída por pequenas pinturas de parede em torno da mesma aventura
Passagem 09, 2004 Passagem 10, 2004
muro contra muro, 1994, Galeria Luís Serpa, vista da exposição / exhibition view
We could begin with a working hypothesis, clearly suggested by the first room of the exhibition. Two pieces that were made 10 years apart are brought together here, creating the possibility of dialogue and play. The unifying and dividing factors of these two imposing structures raises some questions concerning the manner in which the exhibition evolved. It presents works by Pedro Calapez from between 1992 and 2004, chosen according to a specifically retrospective criterion. Rather than trying to present the linear development of the artist, these works seek out fractures, signs of discontinuity and diversion in the false tranquillity of this path. It’s the idea of movement and passage that is implicit in these two works. It’s understood that there is an invitation to enter the exhibition in the long, high corridor formed by eighteen paintings on wood (muro contra muro / wall against wall, 1994), which can only be observed by crossing the interior of this weighty example of carpentry. Passagem / Path (Passagem 09 and Passagem 10, 2004) is actually the title of the two panels constituted by 28 differently shaped, aluminium boxes arranged in a highly dynamic formal dialogue, like a "travelling" shot in total freedom of movement and composition. We also come across a common principle. The idea of symmetry Pedro Calapez has come to explore, as an experimental field of plastic development, is to be found in these two works: a structural idea in the first (muro contra muro), but merely rhetorical in the second (Passagem). In the decade that separates them, the artist has taken that fundamental axis of his creative process to the limit, almost to abandon.
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muro contra muro can be seen as an example
temática – e com um ligeiro desvio de montagem, que agora permite um caminho sem retorno obrigatório, esta estru-
of exhaustive application. Partially presented
tura de compromisso entre pintura e arquitectura, proporciona ao espectador um envolvimento físico total. Neste
1. A sua primeira apresentação data de 1995, na Galeria Luís Serpa, Lisboa, 1995
in this exhibition (1) – it was originally made
estreito corredor, com pouco espaço de recuo, ficamos reféns de um jogo, também ele teatral, onde o efeito ilusio-
up of small wall paintings around the same
nista da alternância de cor (claro/escuro) e de relevo é excedido pela mecânica da sua construção. Pedro Calapez é ambi-
thematic adventure – it is now slightly edi-
dextro, desenha a duas mãos, realizando este exercício como se estivesse, e nos colocasse, no centro da sua construção
ted to create a path with no obligatory re-
do mundo: «Quando uma das mãos sulca a tinta numa delas logo a outra imita esse gesto na que lhe faz face. Começo
1. First presented at Galeria Luís Serpa, Lisbon, in 1995
turn. This structural compromise between
de novo. Agora é a mão direita que toma a iniciativa e a esquerda que lhe responde. Surge assim o desenho.» (2)
painting and architecture makes the spectator completely physically involved. In this narrow corridor, with little space for retreat, we are the hostages of a game, which is also theatrical, where the illusionary effect of alternating colour (light/dark) and relief is exceeded by the mechanics of its construction. Pedro Calapez is ambidextrous, and draws
É neste acerto de simetrias que o artista procura o seu espaço de invenção, feito a partir de uma cadeia de referentes. É conhecida a importância da utilização de modelos da história de arte ocidental em muitos momentos do seu percurso. Giotto, Fra Angélico, Giovanni Battista Piranesi, Tiepolo, são alguns artistas de que se apropriou, na captura de imagens, paisagens ou objectos, que acaba por transformar por simplificação, esvaziamento ou distorção. Trata-se quase sempre de "uma pintura culta" (3). Neste caso particular a citação desvia-se – e pela primeira vez – da habitual conotação erudita e desenvolve-se a partir da banda desenhada de Windsor McCay, Little Nemo, apesar de tudo um clássico de referência nesta área. Neste trabalho de selecção e derivação formal não deixa de estar também presente uma ideia de duplo.
with both hands, doing this exercise as if
Também aqui o artista funciona como um eixo, capaz de devolver ao presente as imagens transformadas do passado.
he were, and as if he placed us, at the
Neste caso, como quase sempre, Pedro Calapez manifesta uma total indiferença narrativa. As ecléticas arquitecturas
centre of his world construction: "When
de Windsor MacCay surgem no seu registo vago e, como sempre, esvaziadas de personagens e de sentidos descritivos.
one of the hands ploughs the paint into one
Se retomarmos um olhar comparativo, o que é evidente e excessivo no confronto físico das duas estruturas de madeira
of them, the other immediately imitates
(muro contra muro), aparece com subtileza no diálogo dos dois blocos metálicos (Passagem 09/Passagem10). Na
what’s been done before it. I start again. Now it’s the right hand that takes the 2. in Pedro Calapez, Lisboa, Portugal Telecom, 1995 2. in Pedro Calapez, Lisbon, Portugal Telecom, 1995
3. João Pinharanda, "Caprichos e Invenções", in Pedro Calapez, Lisboa, Portugal Telecom, 1995 3. João Pinharanda, "Caprichos e Invenções", in Pedro Calapez, Lisbon, Portugal Telecom, 1995
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initiative and the left hand that responds.
comic strip drawn by Windsor McCay, Little
That’s how the drawing appears." (2) It is in
Nemo, which is, nonetheless, a classic of
this symmetrical correctness that the artist
the genre. In this selection and formal deri-
seeks his inventive space, based on a chain
vation, the idea of the double is still present.
of referents.
Here, also, the artist functions as an axis,
The importance of models from Western art
capable of developing in the present, ima-
history in much of his work is well known.
ges transformed from the past. In this case,
Giotto, Fra Angélico, Giovanni Battista Pira-
as nearly always, Pedro Calapez is totally
nesi and Tiepolo are some of the artists he
indifferent to narrative. The eclectic archi-
has appropriated, seizing on images, land-
tecture of Windsor McCay appears in a
scapes or objects that he ends up transfor-
vague register and, as always, stripped of
ming through simplification, emptying or dis-
characters and descriptive meaning.
tortion. It’s almost always ‘cult painting’ (3).
Looking with a comparative eye, what is
In this particular case, the quotation veers
clear and excessive in the physical contrast
– and for the first time – from the habitual
of these two wooden structures (muro contra
erudite connotation and arises out of the
muro), subtly appears in the dialogue be-
realidade, nenhum diálogo parece existir entre eles. As cores são intensas e indiscriminadas, a composição é livre, a própria sugestão do título afasta-nos de qualquer possibilidade de recuo do olhar e aponta-nos um caminho em frente. Aqui, a "passagem" não é física mas metafórica e a simetria que sobrevive é apenas formal, na exacta correspondência das dimensões de cada um dos elementos dos respectivos painéis. Sem objecto nem tema, o pensamento visual parece atravessar as esquadrias que previamente dimensionou. UM ESQUEMA VICIANTE (4)
É o próprio artista que no ano de 1992 nos dá a chave para o entendimento do seu trabalho: «não há imagem para que olhe que não desmonte mentalmente para situações que me interessem e possa vir a explorar (...) a memória que tenho de muitas pinturas não é feita pelos seus autores ou pelos temas representados mas sim por esses pequenos pormenores que me fazem funcionar como pintor». (5) A memória, exercício mental que no trabalho de Pedro Calapez pode ser associado à aplicação do princípio de simetria, tem naturalmente sido alvo de uma profunda exegese por parte dos muitos autores que reflectiram sobre a sua obra. O trabalho da memória representou para o artista uma ferramenta essencial para a construção do seu espaço criativo. Podemos reconhecer-lhe dois tempos próprios. O primeiro trata da captura de imagens, o seu «banco de dados» como lhe chama, espécie de inventário de formas em arquivo e verdadeiro ponto de partida. As fontes, conhecemo-las já, clássicas ou primitivas, preferencialmente italianas, oferecem ao artista o território experimental para uma deriva. Fascinado pelos objectos desse espaço ou pelas possibilidades de representação do seu esvaziamento, Calapez utiliza a cópia como estratégia de revelação pessoal. Nesse segundo tempo o artista fica disponível para um estado sensorial
tween the two metallic blocks (Passagem 09/Passagem10). In fact, there seems to be no dialogue between the two. The colours are intense and indiscriminate, the composition free, the very suggestion of the title distances us from any possibility of the eye retreating and, point us to the way ahead. Here, the "path" is not physical but metaphorical and, the surviving symmetry being only formal, in the exact correspondence of the dimension of each panel’s elements. With neither aim nor theme, the visual thinking seems to cross the squares it previously formed.
An addictive scheme (4) It was the artist himself who, in 1992, gave us the key to understanding his work: "there isn’t an image I see that doesn’t mentally take me back to situations that interest me and that I might explore (...) my memory of many paintings is made, not of the artists or themes, but by those small details that make me function as a painter". (5) Memory, mental exercise in Pedro Calapez’s work can be linked to the application of a principle of symmetry, has naturally received a lot of attention from those studying his work. The work of memory is an essential tool for the artist when constructing his creative space. There are two distinct moments. The first is the seizing of images, his ‘databank’ as he calls it, a kind of inventory of archived forms and genuine points of departure. The sources, we already know them, classical or primitive, preferentially Italian, offer the artist experimental territory in which to drift. Fascinated by the objects of this space or the possibilities of representation given by its emptying, Calapez uses the copy as a personal revelation strategy. In this second moment, the artist is open to a sensorial state capable of reconfiguring these landscapes, objects, architecture, as agents of a contemporary reality. In this dragging of the senses, in the premeditated abandoning of that gesture that repeats and transforms a selected model, he finally develops his plastic fictional space. Many of the works on show reflect an absolute necessity to unfold, manifested in a broad range of solutions, passing through realization, theme and even support.
4. Todos os subtítulos são excertos de textos de Pedro Calapez 4. All headings are extracts from texts by Pedro Calapez
5. Pedro Calapez, in Público, 8-5-1992 5. Pedro Calapez, in Público, 8-5-1992
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s/ tĂtulo, 1992
s/ tĂtulo, 1992
16
moldes para bronzes, 1992
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The option to present, for the first time, the
capaz de reconfigurar essas paisagens, objectos, arquitecturas, em agentes de uma realidade contemporânea. Nesse
original moulds of the bronzes made in
arrastamento de sentidos, no premeditado abandono desse gesto que repete e transforma um modelo seleccio-
1992, directly carved out of wooden blocks,
nado, ele desenvolve afinal o seu espaço de ficção plástico.
might also be interpreted as a complement
Muitas das obras expostas reflectem uma absoluta necessidade de desdobramento, que se manifesta numa
to this idea of the double, between the ori-
amplitude de soluções, que passam pela realização, pelo tema ou até pelo suporte.
ginal matrix and the finished object, posi-
A opção de apresentar pela primeira vez os moldes originais dos bronzes que realizou em 1992, directamente
tive and negative, perfect symmetry.
talhados em blocos de madeira, poderá também ser interpretada como complemento desta ideia de duplo, entre
In the following year, Pedro Calapez took up the challenge of producing a dialogue with the sacred for the Saint-Louis de la 6. Para esta capela Pedro Calapez e Rui Sanches realizaram trabalhos individuais
Salpêtrière chapel (6): two works in hand-
6. Pedro Calapez and Rui Sanches produced individual works for this chapel
sen and recreated in the same material for
made tiles covering the floor of the Mazarin and Lassay naves. Paysage is the piece chothis exhibition. On the rough, fragmented
a matriz original e o objecto acabado, o positivo e o negativo, a simetria perfeita. No ano seguinte, Pedro Calapez aceita o desafio de realizar para o espaço da capela Saint-Louis de la Salpêtrière (6) um diálogo com o sagrado, através de duas obras em tijolo artesanal ocupando o chão das naves Mazarin e Lassay. Paysage é a peça escolhida e recriada no mesmo material para esta exposição. Na superfície áspera e fragmentada dos tijolos, o artista recorda e repete os mesmos gestos desenhando a giz o labirinto de ramos das duas árvores monocéfalas, simetricamente lançadas a partir de cada um dos topos do suporte. O desenho é um território privilegiado para exercitar até ao limite todas as possibilidades de desdobramento do seu
surface of the tiles, the artist records and
pensamento plástico. O efeito de sombra pela duplicação das linhas de contorno (desenho a dois traços), as paisagens
repeats the same gestures, drawing in chalk
invertidas, a sobreposição de perspectivas, ou o cruzamento de áreas de diferentes trabalhos, são vários os recur-
the labyrinth of branches belonging to two
sos que o traço permite e que a aplicação diferenciada da cor valoriza da forma mais sedutora. Encontramo-los nas
monocephalic trees, each beginning sym-
cenas domésticas, nos jardins, ou mesmo nos Limites que são desenhos que adquirem o sentido total na relação
metrically from the tops of the support.
de contraste dos seus fundos, a preto ou a branco.
Drawing is privileged territory for fully exercising all the doubling possibilities of his
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plastic thought. The shadowy effect created
does make slight diversions, transgressions,
by the duplication of contours (two-line
even when seduced by the game of letting
drawing), inverted landscapes, superimpo-
himself be led, once again, by the view of
sing perspectives, or the crossing of different
another artist.
areas of work are the various resources the
Memória involuntária / involuntary memory,
line allows, and that the differentiated appli-
the artist called it when, in 1996, he
cation of colour makes all the more seductive.
accepted the Museu do Chiado’s invitation
We find this in cenas domésticas / domestic
to come face to face with a specific group
scenes, jardins / gardens, and even in Limites
of landscapes by a late-naturalist. These
/ Limits which are drawings that only acquire
eleven pastel works by Sousa Pinto, drawn
their full meaning when contrasted with
between 1910 and 1938, were appropriately
their backgrounds, in black or white.
naturalist and representational in terms of
Taking exterior models or centred on his own
identifying places. Put simply, we could
axis of plastic realization, Pedro Calapez does
say that Calapez’s approach to this series
not abandon this vicious process, which
was established in three distinct moments,
stays in his work like ballast, though he
all marked by the well-known mental
Tomando modelos exteriores ou centrado no seu próprio eixo de realização plástica, Pedro Calapez não abandona
process of reviewing landscape: copying,
este viciante processo, que permanece na sua obra como um lastro, mas realiza pequenos desvios, transgressões,
diverging and setting up a new rule.
mesmo quando é seduzido pelo jogo de se deixar conduzir, uma vez mais, pelo olhar de outro artista.
The work began with an apparently
Memória involuntária, chamou-lhe o artista, quando em 1996, aceitou o convite feito pelo Museu do Chiado para
academic arrangement. Setting himself
se confrontar directamente com um conjunto específico de paisagens de um pintor tardo-naturalista. Tratava-se de
before each of the pieces, the artist worked
uma série de onze desenhos a pastel de Sousa Pinto realizados entre 1910 e 1938 com o registo visual adequado a
on an extensive series of drawings based
este movimento artístico e à representação e identificação dos lugares. De uma forma muito simples pode dizer-se
on copying as an exercise, which were not
que a aproximação de Calapez a estes desenhos se estabelece em três tempos distintos, todos eles marcados pelo processo mental conhecido de rever a paisagem – a cópia, a deriva e a encenação de uma nova regra. O trabalho começou por uma disposição aparentemente académica. Colocando-se frente a cada uma destas obras, o artista desenvolveu a partir do exercício da cópia, uma extensa série de desenhos que, na altura, não foram expostos. A sua inclusão agora, em articulação com um dos painéis de pintura que lhe está associado, é deliberada e intencional. O processo não diverge muito do modo como Little Nemo lhe inspirou os modelos representativos da instalação muro contra muro. Pedro Calapez fixa o campo de visão nas paisagens descritivas de Souza Pinto para cons-
exhibited at the time. Their inclusion now, articulated with one of the associated painted panels, was deliberate and intentional. The process doesn’t diverge much from the way in which Little Nemo inspired the representative models of the installation muro contra muro. Pedro Calapez fixes the field of vision on Souza Pinto’s descriptive
truir espaços intemporais e indeterminados. Algumas sugestões de arquitectura doméstica são aproveitadas, para
landscapes, so as to construct timeless and
uma total transformação de escala e de sentido. Estamos perante vagos espaços arquitectónicos e de uma natureza
undetermined spaces. Some suggestions
parcelar, esvaziados da presença humana ou animal. Podemos agora ver com clareza a cuidadosa selecção que o
of domestic architecture are picked up for a
artista realizou. Calapez detém-se com frequência nos pequenos ramos que se desviam da matriz das árvores, nos
total transformation of scale and sense. We
troncos que se inclinam, nos pequenos acidentes naturais, os trilhos irregulares, os cursos de água que se dividem,
are before vague architectonic spaces, of a partial nature, devoid of human or animal presence. The artist’s careful selection can now be clearly seen. Calapez frequently fixes on the small branches that deviate from the matrix of trees, on inclining trunks, on small natural accidents, irregular tracks, dividing water courses, uncertain paths. They are nearly always aspects of the land-
s/ título (da série memória involuntária), 1996
scape that are better seen as exercises in flight or poetic drift. Electing a fragment, he creates imaginary spaces in which fragile and imprecise outlines are particularly evident in the drawings. On the thick, undefined background of the paintings, the artist transports some of these drawings, making more explicit lines of colour stand out, which suggest the evasive contours of forms and objects. If these signs allow us to
19
Paysage, 1993, Chapelle Salpêtrière, vista da exposição / exhibition view
20
21
identify elements referring to Souza Pinto’s
os caminhos de incerteza. São quase sempre os aspectos da paisagem que melhor perspectivam exercícios de fuga
landscapes, thus inscribed, they also inten-
ou de deriva poética. Elegendo o fragmento, desenvolve espaços imaginários em que os traçados frágeis e impre-
sify and materialize transparent and unreal
cisos surgem com particular evidência nos desenhos. Sobre o fundo espesso e indefinido das pinturas, o artista trans-
forms. At the same time as animating these
porta alguns desses desenhos, fazendo sobressair linhas de cor mais explícitas, que sugerem o contorno evasivo
thick backgrounds, they expand their lack
de formas e objectos. Se estes sinais nos permitem identificar elementos referenciáveis às paisagens de Souza
of content and material impossibility.
Pinto, assim inscritos, intensificam e materializam formas de transparência e de irrealidade. Ao mesmo tempo que fazem vibrar esses fundos espessos, expandem a sua ausência de conteúdo e de impossibilidade matérica.
In strong red lines The presentation of another group of unpublished drawings, also done at institutional request, poses new questions concerning the development of the artist’s work. In 1995, on a visit to the Pilar and Juan Miro Foundation, where he was to receive the Juncosa and Sotheby drawing prize, Pedro
EM LINHAS FORTES E VERMELHAS
A apresentação de um outro núcleo de desenhos inéditos, realizado também na sequência de um convite institucional, coloca novas questões ao desenvolvimento do trabalho do artista. Em 1995, numa visita à Fundação Pilar e Juan Miró, por ocasião da entrega do Prémio de Desenho Juncosa e Sotheby’s, Pedro Calapez é surpreendido pela revelação intensa da «presença» deste pintor, no espaço dos seus ateliers e no referencial de imagens que constituíram os múltiplos pontos de partida do seu trabalho: «naquele momento, aquelas imagens fundiam-se
Calapez was surprised by the intense re-
nas paredes do atelier de Miró como que revelando um olhar que, apesar de desaparecido, não se encontrava terminado» (7).
velation of the painter’s "presence" in his stu-
Foi no impacto deste encontro que Calapez realizou a série de desenhos, em linhas fortes e vermelhas, numa
dios and in the references to images which
evocação directa ao pintor, «feitos a partir não de desenhos de Miró, mas sim de memórias de Miró» e que mais
constituted the multiple starting points for
tarde integrou numa série de pinturas a alkyd sobre madeira. Campo de sombras é o título da instalação apre-
his work: "at that moment, those images fused
sentada na própria Fundação Pilar e Joan Miró, em Mallorca, no ano de 1997.
on the walls of Miró’s studio as if revealing a view that, despite having disappeared, was 7. In Campo de Sombras, Fundació Pilar i Joan Miro, Mallorca, 1997 7. In campo de sombras / field of shadows, Fundació Pilar i Joan Miró, Mallorca, 1997
still unfinished" (7). The impact of this meeting led Calapez to produce the series of drawings, in strong red lines, directly evoking the painter. They were "based not on Miró’s drawings but on the memories of Miro" later becoming part of a series of paintings in alkyd on wood. The installation, campo de sombras / field of shadows, was actually presented at the Pilar and Juan Miro Foundation, in Majorca, 1997. There is a fundamental difference between these drawings and those of the earlier series. The elective complicity in the choice of these models is not established through the
22
painter’s works, but through his multiple
s/ título (da série campo de sombras), 1996
Assinale-se uma diferença fundamental entre estes desenhos e aqueles que o artista realizou na referida série ante-
of another artist, it’s impossible not to no-
rior. A cumplicidade electiva na escolha destes modelos não se estabeleceu a partir das obras do pintor, mas das suas
tice in the precision of these drawings, the
fontes de inspiração. E estas eram múltiplas e heterogéneas. Miró, mais atento à plasticidade das formas do que ao
firm and vibrant definition of the red line
seu valor representativo, manifestava uma total indiferença temática na escolha dessas formas, que recolhia em recor-
that reconfigures the most unforeseen ob-
tes de jornais, embalagens, fotografias, desenhos de crianças, nos objectos vulgares que se cruzavam no seu quotidiano.
jects within his habitual vocabulary of forms.
Na consciente aceitação desta cumplicidade, Pedro Calapez foi levado a um movimento de desvio no seu trabalho.
We are surprised by this new lexicon of
Em primeiro lugar pelos temas. Embora em trabalhos anteriores já existissem indícios de uma abertura a outro tipo
images; by the places where these two
de influências não eruditas (muro contra muro, por exemplo) neste momento verifica-se um primeiro olhar frontal sobre a realidade do quotidiano. Mesmo que esse olhar seja conduzido pelo olhar de outro artista, é impossível não reparar na precisão destes desenhos, na definição firme e vibrante do traço vermelho que reconfigura os objectos mais imprevistos dentro do seu habitual vocabulário de formas. Somos surpreendidos por este novo léxico de imagens, pelos lugares de encontro destes dois artistas, na clareza de representação de uma mão ou de uma fila de insectos, dos objectos vulgares como o escadote, a colher ou a televisão, na inesperada modulação de um figurino ou do fragmento de um corpo. Encontro poético e sensorial, mas sobretudo plástico, foi sem dúvida uma «aprendizagem de liberdade» (8).
artists meet; the representative clarity of a hand or a line of insects; of common objects like a stepladder, a spoon or a television; the unexpected modulation of a model or body fragment. Poetic and sensorial but, above all, a plastic meeting, it was undoubtedly a "lesson in freedom" (8). Despite the presentation model of the pie-
Embora o modelo de apresentação das peças siga as suas habituais soluções expositivas – um conjunto articulado de painéis
ces following his usual exhibition style – an
de madeira, de diferentes dimensões onde, sobre a superfície matérica das tintas, os desenhos são sulcados – torna-se
articulated group of differently sized wooden
evidente a aplicação dos valores de liberdade na própria pintura. Os fundos cromáticos são mais definidos e há uma utilização
panels where the drawings are ploughed
mais abstracta da cor. Do mesmo modo, a presença de riscas a vermelho e azul sobre os fundos lisos recordam a vibração
through the massy surface of the paint – the
dos desenhos, de traço simples e directo sobre o fundo branco. Registe-se a ausência do desenho nalgumas destas pinturas.
freedom in the painting itself becomes clear.
8. Alexandre Melo, idem 8. Alexandre Melo, idem
The chromatic backgrounds are more defined and there is a more abstract use of colour. In and heterogeneous sources of inspiration.
the same way, the red and blue stripes over
Miró, more attentive to the plasticity of forms
the plain backgrounds, remind us of the
rather than their representative value, was
vibration of the drawings, with their straight
totally indifferent to theme in his choice of
and simple lines on a white background.
these forms, which he collected from
There is also a clear absence of drawing in
newspaper cuttings, packages, photographs,
some of these paintings.
children’s drawings and ordinary objects
The same principles of rigour and sy-
he came across from day to day.
mmetry remain in the composition of the
In a conscious acceptance of this complicity,
panels and in their determinant relationship
Pedro Calapez was led to diversions in his work.
with the exhibition space in Majorca (an
These came firstly through themes. Although
inverted symmetry between the two panels).
in previous works there were hints of open-
In this painting, however, in the enclosed
ness to other types of non-erudite influences
dialogue between light and colour, there is
(muro contra muro, for example), in this mo-
an autonomous path that, in addition to
ment we find the first direct look at every-
the above mentioned thematic divergence,
day reality. Even if that look was led by that
is clearly a rupture.
23
The two windows were not the same
Se subsistem os mesmos princípios de rigor e de simetria na composição dos painéis e na sua relação determinante
A trip to Cáceres, and the prospect of using
com o espaço expositivo de Mallorca (uma simetria invertida entre os dois painéis) pressente-se neste trabalho da
a new space (Galeria Bores & Mallo, 1998)
pintura, no diálogo cerrado entre luz e cor, um caminho de autonomia que, para além do referido desvio temático,
took the artist to one of the cult objects in
assume uma clara dimensão de ruptura.
Western painting: "two windows, side by side, in one of the walls of the room, composed of diverse glass rectangles in a play of studied symmetry and formal composition. The two windows were not the same. A subtle variation in their placement 9. Pedro Calapez, in del outro lado-en el outro lado, Galeria Bores & Malo, Cáceres, 1998 9. Pedro Calapez, in del outro lado-en el outro lado, Galeria Bores & Malo, Cáceres, 1998
AS DUAS JANELAS NÃO ERAM IGUAIS
Uma viagem a Cáceres e a perspectiva de ocupação de um espaço novo (Galeria Bores & Mallo, 1998), transporta o artista para um dos objectos de culto da pintura ocidental: «duas janelas inseridas lado a lado numa das paredes da sala, compostas por diversos rectângulos de vidro num jogo de simetria e composição formal estudada. As duas
created an imperceptible difference" (9).
janelas não eram iguais. Uma subtil variação de disposição dos vidros criara a imperceptível diferença» (9).
It’s tempting to think that small symme-
É sedutor pensarmos que essa pequena subtileza de simetria terá desencadeado na atenção do artista um olhar
trical subtlety had released a transforming
transformador.
view in the attention of the artist.
A partir desse objecto de fronteira, Pedro Calapez vai repensar as possibilidades plásticas desse olhar em todas as
Based on this border object, Pedro Calapez
direcções possíveis, a cidade e o seu interior, o conjunto e o pormenor, o perto e o longe, num insistente vai e vem,
has been rethinking the plastic possibilities
numa mecânica hiperactiva, capaz de transformar as suas pinturas em verdadeiros lugares de instabilidade.
of that view in all possible directions: the city
O processo em curso resolve-se metaforicamente na descoberta da janela como instrumento de representação do
and its interior, the whole and the detail, the near and the far, in an insistent coming and going; a hyperactive mechanism, capable
real. Através de um jogo de deslocação mimético, a pintura substitui-se à janela, encena uma nova ordem de associações visuais, em que cada parcela funciona como «um dispositivo de deambulação do olhar» (10).
of transforming his paintings into genuine locations of instability.
24
The current process is metaphorically re-
Pedro Calapez clearly assumes the uns-
solved in the discovery of the window as a
table characteristics of these works and
tool for the representation of the real. Through
transforms his compositions into true
a game of mimetic dislocation, painting re-
fields of perceptive, retinal experience. The
places the window, staging a new order of
pictorial groups associated by a fragment-
visual associations, where each part functions
ary logic, rhythmic but irregular, intensified
10. Idem
as "a wandering device for the gaze" (10).
by the differences in the relief of the plates,
10. Idem
Memory fades as a creative method, gra-
bring us back to the real in its infinite pos-
dually replaced by other tools to approach
sibilities of articulation. With no descriptive
the complexity of that which directly offers
or sequential, let alone narrative, concern
itself up to the artist’s eyes.
at all, the supposed landscapes are ar-
Various solutions have been tried based on
ranged like ludic exercises. As if the artist
that new mediating element. A window or
had a powerful lens able to distance or
display case, inside or outside, will always
approximate, focus or defocus, creating
be an illusionary pretext for the painter to
impact zones, slidings, contrasts, zooms,
be with the painting in sight.
causing the spectator’s perception to
A memória desvanece-se enquanto método de criação, gradualmente substituída por outros instrumentos de
wander and become disordered. To give
aproximação à complexidade daquilo que directamente se oferece aos olhos do artista.
force to this effect, Pedro Calapez intro-
Foram várias as soluções experimentadas a partir desse novo elemento mediador. Janela ou montra, dentro ou
duces elements of clear visual perturbation.
fora, será sempre um pretexto ilusionista para o pintor estar com a pintura nos olhos.
Some panels are integrated in these groups
Pedro Calapez assume com clareza as características de instabilidade destes trabalhos e transforma as suas composições em verdadeiros campos de experiências perceptivas e retinianas. Os conjuntos pictóricos associados por uma lógica fragmentar ritmada mas irregular, que as diferenças de relevo das placas intensificam, devolvem-nos o real nas suas infinitas possibilidades de articulação. Sem qualquer preocupação descritiva, sequencial e muito
as if they were a kind of target, unexpected and dissonant. And in them he recovers the graphic expression of drawing, a merely informal tool, even if figurative, in the service of this new rule. Lugar 17 and Lugar
menos narrativa, as supostas paisagens organizam-se como exercícios lúdicos. Como se o artista estivesse munido
18 / Place 17 and Place 18, are good examples
de uma poderosa lente capaz de afastar ou aproximar, focar ou desfocar, criar zonas de impacto, deslizamentos,
of this strategy of discontinuity and surprise.
contrastes, zooms, provocando no espectador uma percepção errante e desordenada. Para potenciar este efeito,
On a monochromatic and vibrant back-
Pedro Calapez introduz elementos de clara perturbação visual. Alguns painéis são integrados nestes conjuntos
ground, the fine incision of the drawing
como se fossem uma espécie de alvos, inesperados e dissonantes. E neles recupera a expressão gráfica do desenho,
traces the lines, chromatically articulated,
mero instrumento informal, mesmo se figurativo, ao serviço desta nova regra. Lugar 17 e Lugar 18, são bons exem-
but which contrast completely with the thick,
plos desta estratégia de descontinuidade e surpresa. Sobre um fundo monocromático e vibrante, a fina incisão do
rhythmic dragging of the pictorial material
desenho traça as linhas, cromaticamente articuladas, mas que contrastam em absoluto com o arrastamento
of the other panels. In this dialogue of
espesso e ritmado da matéria pictórica dos restantes painéis. Neste diálogo de três contra um, a diferença parece surgir como a expressão voluntária do «erro», como uma arritmia a perturbar a harmonia do conjunto.
three against one, the difference appears to arise like the voluntary expression of "I’m wrong", like arrhythmia disturbing the harmony of the whole. The floor with the ceiling We find ourselves in the middle of an elastic, unlimited and "transvisible" world. We’re far from a creative process within the referential parameters of quotation and symmetry, in a closed circuit. We’ve already seen how memory has ceased to be the
janela H, 1998
essential lever and, as the inspiring model of duplication, has finally broken this field of predetermination. The problematics in Pedro Calapez’s work are now around perceptive modalities of the real. His vast experience as a photographer is not alien to this new order, nor
11. Pedro Calapez frequentou o curso de Engenharia no Instituto Superior Técnico. A partir desse período desenvolveu um trabalho como fotógrafo profissional até 1986 11. Pedro Calapez studied Engineering at the Instituto Superior Técnico. At this time, he began working as a photographer; a profession he continued with until 1986
is his initial academic inclination, linked to a techno-scientific area (11).
25
This freedom of realisation is found here in
O CHÃO COM O TECTO
the erudite dialogue between the conceptual
Encontramo-nos no centro de um mundo elástico, ilimitado, «transvisível». Estamos longe de um processo criativo den-
domain of questions linked to contemporary
tro dos parâmetros referenciais da citação e da simetria, em circuito fechado. Já vimos como a memória deixou de ser a
abstract painting and the crossing of a vast
alavanca essencial e como o modelo inspirador de duplicação acabou por romper esse campo de pré-determinações.
and embracing scientific curiosity. Aware
Pedro Calapez problematiza agora o seu trabalho em torno das modalidades perceptivas do real. A esta nova ordem
of the multiple forms of visibility, the artist
não será alheia a sua vasta experiência como fotógrafo, nem tão pouco a sua primeira inclinação académica, ligada
provides a progressive spatial opening that
a uma área técnico-científica (11).
might range from the infinitely small to the macroscopic. The disordered and fragmentary physical world he shows us does not answer the forlorn question he posed in 1998: "Will we 12. La Ventana Abierta, Galeria Gianni Giacobbi, não publicado, Agosto, 1998 12. La Ventana Abierta, Galeria Gianni Giacobbi, unpublished, August, 1998
ever know what reality is?" (12), but does present us with the contours of this disquietude.
Esta liberdade de realização encontra-se aqui no diálogo erudito entre o domínio conceptual das questões ligadas à pintura abstracta contemporânea e o cruzamento de uma curiosidade científica vasta e abrangente. Consciente das múltiplas formas de visibilidade, o artista proporciona uma progressiva abertura de espaço, que pode ir do infinitamente pequeno ao macroscópico. O mundo físico, desordenado e fragmentar que nos apresenta, não dá resposta à desamparada pergunta que formula em 1998: «saberemos algum dia o que é a realidade?» (12) mas apresenta-nos os contornos dessa inquietação. Nesta afirmação do existente o artista recorre a modelos interrogativos de total instabilidade. A transgressão ao
In this affirmation of the existent, the artist
princípio tranquilo da simetria é consumada.
makes use of the interrogative models of
Vários dos seus últimos trabalhos (2004), parcelas do mundo encerradas numa espécie de contentores, a que
total instability. The transgression of the tran-
chamou Unidade habitacional, Terra firme, Contentor de paisagem, apresentam-se na forma de cubos metálicos para
quil principle of symmetry is consummated.
onde somos levados a espreitar para ver a superfície pintada do seu interior. O simples movimento de inclinação
A number of his latest works (2004), parts
sobre estas caixas, pode desencadear um efeito de vertigem, o que é reforçado no seu interior pela associação
of a world enclosed in kinds of containers, which he has called Unidade habitacional / Habitational unit, Terra firme / Solid ground, Contentor de paisagem / Landscape container are presented in the form of metallic cubes we have to peer into so as to see the painted surfaces of their interiors. Simply inclining over these boxes can cause a feeling of vertigo, which their interior reinforces through the alternating association of the images and the intense expression of the backgrounds, which seem to open up in sudden light tones. The idea of the precipice seems clear. Pedro Calapez actually underlined this idea of the vortex in the compositional study for one of them (Unidade habitacional), but gave up when he decided 26
the effect was redundant. The form of the
Unidade habitacional, 2004
alternada das imagens e pela intensa expressão dos fundos, que se parecem abrir em súbitos clarões. A intenção
object alone led the drawing of the
de precipício parece evidente. Pedro Calapez chegou mesmo a forçar a ideia de vórtice no ensaio da composição
architecture to its sinking into a red sea.
de um deles (Unidade habitacional), mas acabou por desistir por efeito de redundância. A forma do objecto, só por
Themes also slide towards new solutions
si, conduzia o desenho das arquitecturas ao seu afundamento num mar vermelho.
in his work. On one of these cubes, lunar
Também os temas deslizam para soluções inéditas no seu trabalho. Num destes cubos sobrepõem-se paisagens
landscapes and images of the destruction
lunares e imagens de destruição da cidade de Bagdad, que se continuam nas várias faces do cubo. Também o real
of Baghdad are superimposed on various
na sua expressão mais factual e interventiva é recuperado pelo artista, ao mesmo tempo que o desfigura pela
sides. The real is also recovered by the artist
luxuosa sedução plástica que dolorosamente lhe confere. «É na indefinição da paisagem que ela surge no seu máximo sentido. É na sua não descrição que começo a entender melhor. É no engano do meu olhar que a paisagem se explica (...) confundindo-se o chão com o tecto, o longe com o perto, o escuro com o claro» (13). Regressemos ao grande painel de pinturas que marca o início da exposição. Mais do que nunca Pedro Calapez representa o inominável, o território de deslumbramento e de estranheza para onde a humanidade foi lançada e que, no contexto da nova redefinição da pintura abstracta contemporânea, há muito ultrapassou as polémicas entre o abstracto e o figurativo, ou o protagonismo dos suportes ou das disciplinas.
in his more factual and engaged expression, at the same time that it is disfigured by the luxurious plastic seduction which he painfully confers upon it.
13. In Finisterra, XXXVI, 72, 2001 13. In Finisterra, XXXVI, 72, 2001
14. Gerhard Richter em conversa com Benjamin H.D. Buchloch, manifesta a expectativa de que a pintura possa produzir um impacto. In Gerhard Richter, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, 1994
"it’s in non-definition that the landscape’s full meaning appears. It’s in non-description that I begin to understand better. It’s in my mistaken look that the landscape explains
Passagem (2004) é uma imagem de velocidade e «impacto» (14). Seguindo o seu movimento, apercebemo-nos que
itself (...) confusing the floor with the ceiling,
o acaso, como nas leis físicas, também aqui é um agente de criação.
the far with the near, the dark with the light" (13). Let’s return to the large panel of paintings which marks the beginning of the
14. Gerhard Richter, in conversation with Benjamin H.D. Buchloch, expressed his belief that painting could have an impact. In Gerhard Richter, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, 1994
exhibition. More than ever, Pedro Calapez represents the unnameable, the land of amazement and strangeness from where humanity started out and, in the context of the new redefinition of contemporary abstract painting, has long gone beyond the debates between the abstract and the figurative, the support or the discipline as protagonist. Passagem / Path (2004) is an image of speed and "impact" (14). Following its movement, we realise that chance here, as in physical laws, is also an agent of creation.
Julho / July 2004
27
› árvores-montanha, 1993
›› Armilla, 1993
››› Valdrada, 1993
›››› Ersília, 1993
››››› Esmeraldina, 1993
28
29
30
31
32
33
muro contra muro, 1994, Galeria Luís Serpa, montagem / installation,
› muro contra muro, 1994 Galeria Luís Serpa, vista da exposição / exhibition view
›› muro contra muro, 1994
34
36
37
s/ tĂtulo 02 ou quarto interior 02, 1994
38
39
s/ tĂtulo, 1994
s/ tĂtulo, 1994
40
41
s/ título, 1994
s/ título 04 ou quarto interior 04, 1994
42
43
estudo de paisagem, 1995
s/ tĂtulo 01 ou quarto interior 01, 1994
44
45
s/ tĂtulo, 1995
46
47
s/ título (15 desenhos da série memória involuntária), 1996
48
49
50
51
52
53
54
55
parede 03 (da instalação memória involuntária), 1996
56
57
parede 02 (da instalação memória involuntária), 1996
58
59
s/ tĂtulo (20 desenhos da sĂŠrie campo de sombras), 1996
60
61
62
63
OBRAS ESCOLHIDAS
Selected works
João Miguel Fernandes Jorge
Não tenho preferência por cores ou espessura de linhas ou tintas; tudo me serve. Se coloco um azul e depois um vermelho, o primeiro com muita tinta, de escorrer lento e texturado, o segundo como uma onda rebentando no mar, logo em seguida surge uma terra verde ou um amarelo de marte, muito lisos, quase sem espessura; se sugiro um espaço com uma parede ao fundo logo depois esta se desloca e parece não mais fazer sentido, confundindo-se o chão com o tecto, o longe com o perto, o escuro com o claro.
I have no preference for colours or the thickness of lines or paints; anything will do. If I place a blue and then a red, the first one with a lot of paint, running slowly and with texture, the second like a wave breaking at sea, then afterwards there is an earth green or a Mars yellow, very smooth, almost without thickness; if I suggest a space with a wall at the back it is immediately shifted and appears to make no sense, with the floor being confused with the ceiling, the far away with the close, the dark with the light. Pedro Calapez, textos /texts, 2002
NOTAS SOBRE UM PRECIPÍCIO
acrylic/aluminium) – rests in the current
As obras escolhidas dos anos noventa e dos primeiros quatro anos de 2000 (1992-2004) deslizam de umas para
experience (of the making and the achieve-
outras seguindo um caminho que podemos precisar como o de uma assimilação prática. Vivem de um lugar pre-
ment) of the art of Pedro Calapez and of the
sente e de uma entidade actual de que resulta um acordo, uma harmonia futura.
daily life of that same art. Throughout all of
As duas noções «lugar presente» e «harmonia futura» são o fundamento do deslizar de uma a outra pintura, de um
its constant transformation, often the
a outro desenho, de uma a outra peça de raiz escultórica.
result of a development of a detail, I really
A identificação dos trabalhos – de 18 moldes para bronzes (1992, madeira) a Passagem 08 e Passagem 09 (2004,
wish to use the verbs to re-fuse and to
acrílico/alumínio) – repousa na experiência corrente (da feitura e do conseguimento) da arte de Pedro Calapez e da vida quotidiana dessa mesma arte. Em toda a sua constante transformação, por vezes resultado de um evoluir de pormenor, quero mesmo utilizar os verbos refundir e reparar. Reparar, como quem repara um navio – e não parecerão saídas de um estaleiro as suas formas cúbicas, que dão lugar à pintura de cinco painéis: Dentro (2002, alkyd/alumínio), Unidade habitacional e Contentor de paisagem (2004, alkyd/alumínio) ou Terra firme (2004, alkyd/alumínio). A passagem do lugar presente – que é, em si, cada uma das obras – à ideia da continuidade, através de uma harmonia futura, estabelece-se como se estivesse em causa o percurso ou a distância a percorrer pela projecção,
repair. To repair, like someone repairs a ship – and do his cubic forms not look like they have come out of a shipyard, giving way to the painting of five panels: Dentro / Inside (2002, alkyd/aluminium), Unidade habitacional / Housing unit and Contentor de paisagem / Landscape container (2004, alkyd/aluminium) or Terra firme / Solid ground
em arco, de uma seta de cor, de traço, de mancha, de sombra, de luminosidade ou de geometria.
(2004, alkyd/aluminium).
Iniciando-se num dado instante organizativo de uma obra, o sentido futuro pode situar-se em trabalhos tão
The passage from the present place –
próximos, como a da simples passagem da madeira de um dos moldes ao bronze em que se fixará a forma
which is, in itself, one of the works – to the
arquetípica (desse mesmo molde); ou na duração do movimento que se prolonga de um desenho da série campo
idea of continuity, through a future
de sombras a um outro situado dentro dessa mesma seriação (1996, 16 desenhos, pastel de óleo sobre papel).
harmony, is established as if what was at issue was the path or distance to be travelled by the arched projection of an
Notes on a precipice
arrow of colour, of lines, of stain, of
The selected works from the nineties and
shades, of luminosity or of geometry.
the first four years of 2000 (1992-2004) slip
This future sense, beginning at a given
into each other following a path that may be
organisational moment of a work, may be
stated as being practical assimilation. They
situated in works that are so close, such as
live off a present place and a current entity that
that of a simple passage from the wood of
results in an agreement, a future harmony.
one of the moulds to the bronze in which
The two notions "present place" and "future
the archetypal form (of this same mould)
harmony" are the foundation of the slipping
will be set; or in the duration of the move-
from one painting into another, from one
ment that is prolonged from a drawing in
drawing to another, from one sculptural
the series campo de sombras / field of
work to another.
shadows to another one located in that
The identification of the works – from 18
same series (1996, 16 drawings, oil pastel
muro 2 (da instalação campo de sombras), 1997
moldes para bronzes / 18 moulds for bronzes
on paper). Just as it could be fixed in the
Fondació Pilar i Joan Miró, Palma de Maiorca
(1992, wood) to Passagem 08 / Passage 08
(physical and temporal) distance we
vista da exposição / exhibition view
and Passagem 09 / Passage 09 (2004,
encounter between the paintings Valdrada
65
or Esmeraldina (1993, alkyd/canvas) and
Como poderá vir a fixar-se na distância (física e) temporal que encontramos entre as pinturas Valdrada ou
one of the cenas domésticas / domestic
Esmeraldina (1993, alkyd/tela) e uma das cenas domésticas (1998, pastel e acrílico/papel).
scenes (1998, pastel and acrylic/paper).
Não há nenhuma motivo para rejeitar a distinção e o simultâneo aproximar das duas noções: lugar presente e
There is no reason to reject the distinction
harmonia futura. Elas pressupõem um implícito durar em cada um dos seus membros. Uma passagem que inclui
and the simultaneous approximating of the
um presente directamente percebido ou ilusoriamente escondido. Um salto; ou somente o veloz voo da seta
two notions: present place and future har-
lançada pelo esticar do arco e que se vai fixar, na distância, como uma irrevelada ferida.
mony. They presuppose an implicit lasting
Notas sobre um precipício: quem o diria acerca de uma pintura que trabalha imagens tão sedutoras como se se tratasse de
in each of their members. A passage that
um cristal multifacetado. Precipício, pois a aparência, na realidade, não existe. Todo o pormenor resulta de um atento exame,
includes a present that is directly under-
de uma contemplação da obra sobre si mesma. O lugar presente define-se como uma relação sistemática ao corpo (todo) do
stood or illusorily undisclosed. A leap; or
trabalho já efectuado. É uma espécie de contínuo e legítimo fazer, de ferir mais longe a experiência (da humana) pintura.
just the swift flight of the arrow fired by the
Precipício porque para além de uma ilusória (e iludida) semelhança, como que parental, entre muitas das peças entre 1992
bending of the bow, and that will be fixed
e 2004, o que notoriamente aqui se apresenta é a descoberta de uma obstinada e contínua diferença. Condutora de uma
in the distance, like an unrevealed wound.
firme e bem determinada tensão, sempre lugar presente, entre uma (quase) qualidade de excitação fisiológica nas uni-
Notes on a precipice: who would say this
dades motoras da obra: uma linha afiada e pastosa, intervalos que se sucedem e que são capazes de estender o seu
about a painting that works images that
domínio dentro e fora da existente e também imaginada totalidade do trabalho a construir sob uma harmonia futura.
are so seductive as if it were a multifaceted crystal? Precipice, as its appearance in fact
PAISAGEM, PORMENORES DISTANTES, NITIDEZ CONFUNDIDA
does not exist. All the detail results from a
Uma cor por detrás de outra cor leva-nos a uma paisagem, a pormenores distantes que se perdem e que repen-
close examination, from a contemplation
tinamente se tornam absolutos e regem o processo inteiro da presentificação. Corot, Vuillard, Hubert Robert,
of the work on itself. The present place is
Fragonard, mas também Richter, Monet, Jacob van Ruysdael levam-nos pelo calmo movimento da natureza.
muro 01 (da série campo de sombras), 1997 Fundació Pilar i Joan Miró, Palma de Maiorca 66
vista da exposição / exhibition view
Igualmente são bem-vindos àquele que se passeia na natureza e que deixa esta estender-se, prolongar os seus
which are capable of stretching their
ramos, os seus elos botânicos, aquáticos e geológicos no domínio do humano; no lugar exacto em que o humano
domination within and outside of the
se transforma e transporta em si próprio a paisagem, o mais longínquo pormenor de uma nuvem que desce em
existent and also imaginary whole of the
ameaça de chuva, de uma tecida nebulosidade que repentinamente surge de modo a confundir toda e qualquer
work to be constructed beneath a future
precisão do olhar. E então, um ramo de árvore que tomba sobre um ribeiro, o grito de um cisne num lago, o rastejar
harmony.
de um réptil, todo esse corpo vivo de elementos simples se fantasia e se fantasmagoriza. Trata-se do descer em pormenor da pintura na «instituição» (quero qualificá-la assim) paisagem. Então aquele que passeia o seu olhar na pintura da paisagem vê com justeza o erro do ilusório, vê a exacta
Landscape, distant details, confused sharpness
diferença entre a natureza paisagística e o género humano do pintor que soube colher, até à linha mais afiada do
One colour behind another leads us to a
real, a tinta pastosa da tempestade e do sublime temor. Vê o que acontece e não interfere na líquida resposta que
landscape, to distant details that are lost
lhe é oferecida até ao desfocar: mais do que o argumento da pintura, mais do que o seu olhar de amante dos
and that suddenly become absolute,
sentimentos que a natureza reflecte através da paisagem que lhe vai oferecendo.
governing the whole process of the pre-
Como um lento deslizar de um lápis sobre o granido do papel ou como um vagaroso desfazer de uma cor em outras
senting. Corot, Vuillard, Hubert Robert and
tonalidades de cor vê na pintura «produtos» de associação bem pouco prováveis, que são o resultado de detalhes
Fragonard, but also Richter, Monet and
da sua percepção sensorial. Que primeiro pertenceram, por inteiro, à natureza, de seguida, à apropriação criativa
Jacob van Ruysdael lead us into the calm movement of nature. They are equally wel-
do pintor e, por último, ao espaço útil do desenho ou da pintura. Aquele que vê e que coloca naquilo que vê o entusiasmo ou a crítica de uma actualização, assinala então uma cor por detrás de outra cor e persegue um percurso que tem consigo muito de uma resposta à pergunta do seu olhar. Este é o modo de podermos «entrar» no díptico estudo de paisagem (1996, alkyd/contraplacado), em Lugar 17 ou
come to the one who strolls in nature and allows it to stretch out, to prolong its branches, its botanical, aquatic and geological links, into the domain of the human; in the exact place in which the human becomes landscape and bears it within
defined as a systematic relationship to the
itself, the most distant detail of a cloud
(whole) body of the work that has already
descending threatening rain, of a woven
been produced. It is a sort of continuous
nebulousness that suddenly emerges to
and legitimate making, of further wounding
confuse all and any precision of the gaze.
the experience of (human) painting.
And, then a branch of a tree that falls into
A precipice because, beyond an illusory
a brook, the cry of a swan on a lake, the
(and illusioned) similarity, as if in a kinship,
crawling of a reptile – all that living body of
what is clearly presented here between
simple elements is fantasised and phan-
many of the works between 1992 and 2004
tasmagorised. This is the detailed descent
is the discovery of an obstinate and con-
of painting into the "institution" (I wish to
tinuous difference. The conductor of a firm
qualify it in this manner) landscape.
and well-determined tension, always a
Then the one who strolls his gaze in the
present place, between an (almost) quality
painting of landscape justly sees the error
of physiological excitement in the driving
of the illusory, he sees the exact difference
units of the work: a sharp and pasty line,
between landscape nature and the human
gaps following on from one another and
genre of the painter who has known how
67
muro 02, 2ª versão (da série campo de sombras), 1997
68
69
to reap, down to the sharpest line of the
Lugar da casa, em Lugar 18 ou Lugar do bosque (2002, 4 painéis, acrílico/alumínio) e em Lugar 19 ou Lugar dos
real, the pasty paint of the storm and of
pequenos lugares (2003, 25 painéis, acrílico/alumínio). O «lugar» visualizado é o de um ser (de pintura) dotado de
sublime dread. He sees what happens and
uma relação geométrica sistemática com o corpo da natureza. Nele se vão inscrevendo arquitecturas que não são
does not interfere in the liquid response
mais do que exigências do olhar, suportes erguidos, de um modo leve, de uma nitidez que se funde na própria
offered to him until blurring: more than the
paisagem abordada. Uma paisagem mental que funciona como actualização (contemporânea) do «lugar» e que se
plot of the painting, more than his gaze as a
vai esboroando, enquanto a si mesma se clarifica num proliferar último de coloridas manchas, no instante em que
lover of the sentiments that nature reflects
chega aos painéis de Lugar 19 ou Lugar dos pequenos lugares.
through the landscape it presents to him. Like a slow slide of a pencil over the grain of the paper or like a lazy undoing of a colour into other hues, he sees "products" of association in the painting that are highly improbable, that are the result of details and of their sensorial perception. They first totally belong to nature, then to
As arquitecturas que surgem na série jardim (números 02, 04, 08, 10, 11, 14, 15 e 18, 1999, pastel e acrílico/papel) constituem o nexo de adequação. Da pintura (para não dizer do pintor). Correspondem a um suplemento de informação que surge como estratos de consagração do espaço, do lugar, do tempo do jardim. Como se nele existissem – e, de facto, existem – sensibilidades qualificativas que passam de uma imediata ordem vegetal e botânica para uma adequação à prática do ver. Proporções que exigem um estado de adequação ao ponto de fuga de uma rua do jardim, ao circuito em labirinto de ordenados buxos, ao inclinar dos troncos das árvores segundo o vento dominante, a uma passagem de água, a
the painter’s creative appropriation, and
um foco luminoso, a uma cor que se intensifica até uma imaginada invulnerabilidade para logo se refugiar em
finally to the full space of the drawing or of
ensombrecida declinação dessa mesma cor. Proporcionalidade que evoluciona para um cúmulo de nuvens ou para
the painting.
um definido jardim de linhas direitas e planos que se prolongam até uma idealizada noção de jardim.
The one who sees, and who puts into what
O jardim acabou por ser posto em evidência, isto é, acabou por constituir a adequação geométrica do lugar
he sees the enthusiasm or critique of an
presente. Dele acabamos por fixar uma cena, ocorrência de manchas de fortíssimas cores, tão presentes, tão vagas,
updating, then notices a colour behind another colour and follows a path bearing
70
with it a great deal of an answer to the
lightly raised supports of a sharpness that
question posed by his gaze.
is fused into the landscape dealt with itself.
This is how we can "enter" the diptych Estudo
A mental landscape that works as a (con-
de paisagem / Landscape study (1996,
temporary) updating of the "place", and
alkyd/plywood), Lugar 17 ou Lugar da casa
which is crumbling, while it clarifies itself
/ Place 17 or Place of the house, Lugar 18 ou
in a final proliferation of coloured stains
Lugar do bosque / Place 18 or Place of the
the moment it reaches the panels of Lugar
woods (2002, 4 panels, acrylic/aluminium)
19 ou Lugar dos pequenos lugares / Place
and Lugar 19 ou Lugar dos pequenos
19 or Place of the Small Places.
lugares / Place 19 or Place of the small
The architectures that appear in the series
places (2003, 25 panels, acrylic/aluminium).
jardim / garden (numbers 02, 04, 08, 10, 11,
The "place" visualised is that of a being (of
14, 15 and 18, 1999, pastel and acrylic/paper)
painting) gifted with a systematic geometrical
form the nexus of adequation. Of the painting
relationship with the body of nature. In it
(not to say of the painter).
there is the inscribing of architectures that
They correspond to a supplement of infor-
are no more than demands of the gaze,
mation that appears as strata of conse-
tão difusas e tão ferintes como as que vamos encontrar nos 40 painéis de cena 10x4A (2000, alkyd/MDF).
cration of the space, of the place, of the
Tudo se passa, um pouco, como quem segue da dolência de um jardim, para o mais retirado interior. Vuillard e
time of the garden. As if in them there
quase todos os antigos, modernos e contemporâneos que referi atrás o executam com mestria. Lugares presentes
existed – and there in fact do exist – qualifying
observados do interior, do mais íntimo desses mesmos lugares presentes.
sensitivities that go from an immediate
Tudo se passa sempre como aquela menina de que nos fala Sartre: saía, pé ante pé, do seu jardim e fechava atrás de si a
vegetable and botanical order to an ade-
cancela, para depois regressar, sem o menor ruído, só para ver como era o jardim na sua ausência. Richter fala-nos, numa sua
quation to the practice of seeing.
pintura, de uma figura feminina em tudo semelhante a esta: está sentada na margem de um canal de uma das ilhas de Veneza.
Proportions that demand a state of ade-
Olha a distância. Todavia, o seu olhar não vai além do braço de mar sobre o qual os seus pés balanceiam. Ela vê a Veneza da sua ausência. E esta parece-me ser uma circunstância muito próxima da análise da pintura de Pedro Calapez sobre o real. Nitidez que se confunde com a observação sensível das relações geométricas no interior, no mais íntimo lugar presente.
quation to the vanishing point of a street in the garden, to the labyrinthine circuit of ordered boxwoods, to the bending of treetrunks according to the prevailing wind, to a passage of water, to a luminous point, to
PERCURSO
Muro contra muro (1994, 18 painéis, alkyd/MDF) é o lugar presente do percurso. Lugar dotado de uma relação geométrica sistemática com o corpo. Nós vemos o quadro – a pintura – sobre o muro. É o próprio muro que, enquanto
a colour that is intensified until an imagined invulnerability in order to immediately take refuge in an overshadowed declining of
pintura, se encontra em visão directa com o corpo de todo aquele que passa entre os dois muros. Pois muro contra
that same colour. A proportionality that
muro quer dizer muro face a um muro, espaço entre um e outro muro. Entre ambos estabelece-se o lugar (presente)
evolves towards a cumulus of clouds or
de um corredor a percorrer.
towards a defined garden of straight lines
A muro contra muro pertence o espaço escultórico de dois extensos volumes, formados pelas paredes das pinturas,
and planes stretching into an idealised
que se erguem em corredor. Compassados triângulos (três simples fasquias de madeira) sustentam a verticalidade
notion of a garden.
Tage Der Dunkelheit und Des Lichts, Kunstmuseum, Bonn, 1999 vista da exposição exhibition view
71
muro 01, 2ª versão (da série campo de sombras), 1997
72
73
The garden ended up by being showed;
dos muros. O percurso tem uma imediata qualidade escultórica a par de um sentido de fresco. De pintura nos
that is, it ended up forming the geometric
muros. Não só funciona como um regulamento dos corpos que fazem o percurso entre os muros, como se
adequation of the present place. Of it we
estabelece uma regra de perspectiva para o olhar daqueles que avançam ao longo do corredor.
end up fixing a scene, an occurrence of
(Gosto de aproximar este muro contra muro dos frescos de Piero Della Francesca. Sobretudo dos que executou para
stains of extremely strong colours, as
o templo malatestiano de Rimini, em meados do século XV. Para além da arquitectura do templo, de Leon Battista
present, as vague, as diffuse and as
Alberti, que irrompe de muitos modos na geometria de vária pintura de Calapez, há que considerar as obras
wounding as those we will encounter in the
teóricas de Della Francesca ao redor da perspectiva, tomada numa relação entrecruzada da pintura dos frescos e
forty panels of cena 10 x 4A / scene 10 x 4A (2000, alkyd/MDF). Everything takes place somewhat like someone who goes on from the grief of a garden to the most withdrawn interior. Vuillard and almost all the ancients, moderns and contemporaries I mentioned before performed this masterly. Present places
do olhar, assim como das regras sobre o corpo humano e sobre o seu movimento que o pintor toscano estabelece; e estes são como que revisitados aspectos que o percurso entre os muros nos permite amplamente equacionar.) A pintura sobre o «muro» dá-nos uma visão directa. Mas se virarmos as costas ao «muro», muro contra muro funciona como um espelho, pois vemos o mesmo «espectáculo» – seja-me permitido o termo. Muro contra muro conduz, a partir de si mesmo, a percepção sensível. E pouco importará o mundo real, pois revela-nos a realidade de um continuum extensivo, que é a própria pintura no muro. Durante a passagem, ao longo do corredor, pertence a este corpo de continuidade a determinação do acontecimento e o seu limite. O que exigirá a presença das
observed from the inside, from the most
pinturas que dão forma à série Limite.
intimate place of these same present places.
Assim, em Limite 61 e em Limite 65 (1999, pastel seco e óleo/papel) encontramos o revelado limite. No pastel de
It all takes place always like that girl that
fundo negro (Limite 65) situa-se uma arquitectura e apesar do pastel de fundo branco (Limite 61) ter uma entidade
Sartre tells us about: she used to go out of
fisicamente separada, o mundo vegetal que nele se encontra ordenado surge, ou é possível de ser entendido, como
her garden on tiptoe and close the gate
a imagem que se alcança na lonjura do limite negro. Pode, pois, a pintura mergulhar dentro da pintura, reflectir-se
after her in order to then return, without making a sound, just to see what the garden was like in her absence. Richter
Path
tells us, in one of his paintings, of a female
Muro contra muro / wall against wall (1994,
figure very similar to this one: she is sitting
18 panels, alkyd/ /MDF) is the present place
on the bank of a canal in one of the islands
of the path. A place granted with a systematic
of Venice. She looks into the distance. Yet
geometric relationship with the body. We see
her gaze goes no further than the stretch of
the picture – the painting – on the wall. It is
water over which her feet are dangling.
the wall itself that, as painting, is in direct
She sees the Venice of her absence. And
sight with the body of everything that passes
this seems to me to be a circumstance very
between the two walls. Muro contra muro
close to the analysis of Pedro Calapez’s
means wall facing a wall, the space between
painting about the real. A sharpness that is
one wall and another. Between the two
confused with the sensitive observation of
there is the establishing of the (present)
the geometric relationships on the inside,
space of a corridor to be walked down.
in the most intimate present place.
The sculptural space of two volumes belongs to muro contra muro, formed by
74
the walls of the paintings that rise up in a
na pintura, desdobrar-se da pintura e ser um mínimo que da pintura é ampliado, continuando ainda e sempre a ser
several paintings by Calapez, one should
pintura, com a carga e autoridade e autonomia que, separadamente, existe nos dois Limite escolhidos.
take into account’s theoretical works on per-
De certo modo este entrar na pintura, este percurso dentro dela traz em si mesmo um limite, ou melhor, uma ideia
spective, taken in a crossed relationship
de limite. Essa ideia consiste em uma duplicidade visual e operativa, que tem consigo toda uma carga intelectiva
between the painting of the frescoes and
e emocional: quer o pintor quer o que pratica a visão da pintura só pode pensar aquilo que capta nas «palavras»
the gaze, as well as that of the rules about
da pintura. O que, de resto, nos envia necessariamente para um novo mas por certo não último limite.
the human body and about its movement
As linhas direitas de Limite 65 abrem, amplificam, isto é, contornam os obstáculos e enviam-nos para uma
that Della Francesca establishes; and these
evidência: aquela que podemos encontrar na natureza das coisas. Um modo perceptivo de compreendermos o mundo (da pintura) como um meio que tem consigo, de uma forma sistemática, a adequação ao lugar presente. Creio que esse será o tipo de conversão que circunscreve as pinturas de Campo: Campo 01, 04, 06 e 11 (2001-2002, alkyd/contraplacado). Que tiveram o seu lugar presente, em anterioridade, nos trabalhos janela aberta e em janela H (1998, alkyd/ MDF, 36 painéis). Campo, quando se deixa atravessar pelas suas clivagens e riscos sobre a precisão da cor em (01) e (11) e por um certo brutalismo cromático em (04) e (06), vai transportar consigo um adequação geométrica para o lugar presente (da pintura), vai abrir-se à duplicidade de um campo da natureza – geológica,
are like revisited aspects that the path between the walls allows us to widely equate.) Painting on the "wall" gives us a direct view. But if we turn our backs to the "wall", The piece works as a mirror, as we see the same "show" – if I may be allowed to use the term. Muro contra muro leads, starting from itself, to sensitive perception. And the
vegetal e também de representação exclusivamente mental e visual.
real world will matter little, as it shows us
Campo traduz o detalhe de acidentes e de observações (sensíveis) que a lente da pintura prendeu e que ampliou.
the reality of an extensive continuum,
Enquanto que o resultado de múltiplas fracções de janela aberta e de janela H nos oferecem, em painel, a relação
which is the painting itself on the wall. As
sistemática entre a vastidão do corpo da pintura e a disponibilidade de manter analogias entre poderosas massas
it passes along the corridor, the determi-
coloridas no próprio âmago do seu lugar presente.
nation of the event and its limit belong to this body of continuity. This will demand the presence of the paintings that give corridor. Measured triangles (three simple
form to the series Limite / Limit.
wooden boards) support the vertical nature
Thus, in Limite 61 and in Limite 65 (1999,
of the walls. The path has an immediate
dry pastel and oil/paper) we encounter the
sculptural quality alongside a fresco feeling.
revealed limit. In the pastel with a black
Of painting on walls. It doesn’t just work as
background (Limite 65) an architecture is
a regulating of the bodies that take the path
located, and despite the pastel with a white
between the walls, but also establishes a
background (Limite 61) having a physically
rule of perspective for the gaze of those
separate entity, the vegetable world that is
who walk down the corridor.
organised within it stands as, or it is
(I enjoy likening this muro contra muro to
possible for it to be seen as, the image that
the frescoes of the Tuscan painter, Piero
is reached in the far distance of the black
Della Francesca. Particularly those he made
limit. Thus painting may dive into painting,
for the Malatestan Temple in Rimini in the
be reflected in painting, be unfolded in
middle of the 15th century. Besides the
painting and be a minimum that is am-
architecture of the temple, by Leon Battista
plified from painting, still and always
Alberti, which stands out in many ways in
remaining as painting, with the charge of
75
authority and autonomy that exist sepa-
ATRAVESSAR A PAREDE, CHEGAR AO OUTRO LADO
rately in the two chosen Limits.
Primeiro temos as Cidades contínuas; e entre elas, Valdrada, Ersília, Armilla e Esmeraldina (1993, alkyd/tela). São
In a certain manner this being in the
cidades que chegam até nós carregadas de suspeita. Cidades onde se espera que aconteça qualquer coisa a todo
painting, this path within it, in itself has a
o instante, até porque nelas não acontece nada, há intermináveis gerações.
limit, or rather an idea of limit. That idea
As pessoas, as ruas e as casas são como alguém que voltamos a ver ao fim de anos e em cujos rostos vemos o
consists of a visual and operational dupli-
declínio tão claramente como a noite incapaz de abandonar a noite. Cidades prisioneiras de um gráfico onde se
city that carries a whole intellective and
regista a branco, sobre o negro, os passos, os ruídos, a procura de um olhar, o cruzar de uma praça, a vida, a
emotional charge: whether it is the painter or what he does, sight of the painting can only think what it captures in the "words" of the painting. This, indeed, leads us into a new but without doubt not final limit. The straight lines of Limite 65 open and amplify, that is, they skirt the obstacles and refer us to something evident: that which
doença, a morte e, sobretudo, a breve alegria de qualquer dos seus habitantes – Valdrada. Mas as cidades são contínuas. Prolongam-se. Sucedem-se. O claro-escuro de Armilla penetrado por uma grande artéria. Um braço de mar, um canal que se subdivide, provavelmente. Diques estancam as suas águas. E na massa escura dos seus bairros as pessoas riem-se, agitam-se, andam de um lado para o outro como se nada se passasse. E nada sabem, apesar de julgarem que tudo sabem acerca da intriga política e da intriga privada. Estão sozinhos em todos os lugares presentes. Sentem medo em Armilla. Uma grande fortaleza ergue-se em Ersília. Situa-se num campo minado. Segmentos brancos a levantaram sobre outros
we may find in the nature of things. A
segmentos: ruas estreitas, perpendiculares a imenso castelo. Nesses arruamentos nem sequer se vê o fim, de tal modo
perceptive way for us to understand the
são extensos. Têm vertigens os que, em necessidade, os percorrem. Supõem que dentro da fortaleza reside o poder;
world (of painting) as a medium that
e os habitantes comparam-no a um fruto que tem dentro um verme; acabará por devorar esse fruto. Compreendem então
systematically possesses adequation to
que a cidade não durará sempre, cairá com o seu próprio poder, tão incongruente como um espirro, como uma tempestade.
the present place. I believe that might be
A água subirá a partir dos canais de Armilla, romperá os diques e destruirá, uma a uma as Cidades contínuas.
the type of conversion around the paintings from Campo / Field: Campo 01, 04, 06 and 11 (2001-2002, alkyd/plywood). These
the result of the many fractions of janela
had their present place, previously, in the
aberta and janela H give us a panel with
works janela aberta / open window and in
the systematic relationship between the
janela H / window H (1998, alkyd/ MDF, 36
vastness of the body of the painting and
panels). Campo, when the precision of the
the availability of maintaining analogies
colour is crossed by cleavages and marks
between powerful coloured masses deep
in 01 and 11 and by a certain chromatic
within its present place.
brutalism in 04 and 06, will carry with it a geometric adequation to the present place (of painting), it will open itself up to the duplicity of a field of nature – geological, vegetable and also of a depiction that is exclusively mental and visual. Campo translates the detail of accidents and of (sensitive) observation that the lens 76
of the painting caught and amplified. While
Crossing through the wall, reaching the other side First we have the Cidades contínuas / Continuous cities; and among them, Valdrada, Ersília, Armilla and Esmeraldina (1993, alkyd/canvas). These are cities that come to us laden with suspicion. Cities in which one expects something to happen at any
janela H, 1998 Galeria Luis Adelantado, vista da exposição exhibition view
77
› janela G, 1998
›› janela aberta, 1998
››› janela I, 1998
›››› janela H, 1998
78
79
80
81
moment, even because nothing has hap-
A água invadirá os campos de Esmeraldina, a terra negra, a terra produtiva e cultivada que sustenta as cidades.
pened in them for endless generations.
Cercará a ilha da mais pequena das cidades. Esmeraldina, facetada urbanização que recebera o tratamento de uma
The people, the streets and the houses are like
pedra preciosa, ficará esfacelada, morta, nos seus rostos de pedra.
someone we are seeing again after ten years,
Nas Cidades contínuas situam-se as cenas domésticas. Cumprem a funcionalidade das suas casas. Cena doméstica:
and in whose faces we see decline as clearly
02, 04, 08, 10, 12, 22, 24, 28, 30, 31 (1998, pastel e acrílico/papel). Os seus números são tirados ao acaso de uma
as night is incapable of abandoning night.
imensidade de habitações. Referem a vida quotidiana em andares, em casas que se fecham sobre o lugar presente
Cities imprisoned by a graph on which the
da privacidade.
steps, the sounds, the search for a gaze, the crossing of a square, life, illness, death and above all the brief joy of any of its inhabitants are recorded in white on black – Valdrada. But the cities are continuous. They are prolonged. They carry on. The chiaroscuro of Armilla, penetrated by a great artery. A stretch of sea, a channel that
Salas, estuques, mobiliário, papel e tecido de parede esgotam-se em vermelhos e encerram, num demorado azul, as vidas – as ausências – que estão «dentro» das cenas domésticas. Há um brilho de cristais, de espelhos, de veludos. E como se fosse ferida por uma tormenta, uma das salas mais sumptuosas abre uma brecha ao longo das paredes. Ninguém habita as cenas domésticas. Confundem-se com a vegetação de um jardim abandonado. Um débil e profundo murmúrio entra pelas janelas, como se fossem somente povoadas, na sua domesticidade, pelo silêncio e pelo bater ritmado de uma portada. O desenho, a pintura fazem viver surdamente à nossa volta as salas vazias. O espaço cava-se atrás do próprio traço, em abismo. Pesa. Esperamos que uma personagem e logo
is subdivided, probably. Dikes hold back
outra e outra saiam das paredes, rompam a vegetação que tudo invade e que caminhem para uma das altas saca-
their waters. And in the dark mass of their
das abertas, provavelmente sobre uma laguna, sobre águas doentes, estagnadas.
neighbourhoods the people laugh, are
A lua ergue-se sobre uma cúpula de vapores. A música, uma das seis partitas para cravo de Bach, ouve-se. Vem da
lively, go from one place to another as if
mais sombria «cena». Para ficar somente um ranger solene que desaba do coração de Valdrada, de Esmeraldina,
nothing were happening. And they know
de Ersília provavelmente. Parece-se com a franja arruinada de um tapete.
nothing, despite thinking they know everything about political and private intrigue.
82
They are alone in all the present places.
will rise up from the canals of Armilla, it
They feel fear in Armilla.
will break its dikes and it will destroy the
A great fortress rises up in Ersília. It is
Cidades contínuas one by one.
located in a mined field. White segments
The water will invade the fields of Esme-
rising up over other segments: narrow
raldina, the black earth, the productive and
streets, perpendicular to an immense castle.
cultivated earth that supports the cities. It
These streets are so long that one cannot
will surround the smallest island of the cities.
even see their end. Those who need to go
Esmeraldina, the faceted urbanisation that
along them are stricken with dizziness.
had been treated like a precious stone, will
They imagine that power resides within the
be shattered, stone dead in its stone faces.
fortress; and the inhabitants compare it to
The domestic scenes, the cenas domésticas,
a fruit that has a worm inside it; it will end
are located in the Cidades contínuas. They
up devouring that fruit. They then under-
fulfill the functionality of their houses. 02,
stand that the city will not last forever; it
04, 08, 10, 12, 22, 24, 28, 30 and 31 (1998,
will fall under its own power, as incon-
pastel and acrylic/paper). Their numbers
gruous as a sneeze, as a storm. The water
are taken at random from an immensity of
83
cena 6 x 4 A, 2000
84
85
cena jardim 07, 1999
cena 10 x 4 A, 2000
86
87
Studiolo, Interval, Witten vista da exposição / exhibition view páginas seguintes / following pages:
cena doméstica 02, 1998 cena doméstica 08, 1998 cena doméstica 10, 1998 cena doméstica 12, 1998 cena doméstica 22, 1998 cena doméstica 24, 1998 cena doméstica 28, 1998 cena doméstica 31, 1998
88
90
91
92
93
94
95
96
97
dwellings. They refer to daily life in apart-
O «CERTO» NA ASSOCIAÇÃO IMPROVÁVEL
ments, in houses that are closed over the
Tudo o que vem ao nosso olhar tem estado sempre presente. Tem estado aqui no seu lugar presente. Por vezes
present place of privacy.
esperou pelo tempo de uma harmonia futura, capaz de determinar a sua própria natureza e os seus limites «certos»
Rooms, plaster, furniture, wallpaper and
na linguagem da pintura. Mas esteve, desde sempre.
drapes are exhausted in reds and close in,
Por vezes, como figuras de inquietude que vão atribuir ao trabalho próximo a realidade de uma «associação impro-
within a slow blue, the lives – the absences
vável». Outras vezes, figuras somente isoladas, guardam e transportam consigo uma ironia que é comum aos mais
– that are "inside" the domestic scenes. There
simples e díspares objectos: uma mulher que se deixa vincar nos seus exercícios matinais, uma aranha envolvendo
is a shine of crystal, of mirrors, of velvets. And as if it had been wounded by a storm, one of the most sumptuous rooms opens up a gap along its walls. No one inhabits the domestic scenes. They are confused with the vegetation of an abandoned garden. A weak and deep murmur comes in through the windows, as if in their domesticity they
a presa, a formação geológica de uma depressão de onde irradiará um vale profundo, o contorno de uma «cena doméstica» que surge em citação de uma pintura antiga, um irreconhecível animal de risco pré-histórico, uma esfera armilar, um fragmento de desenho com flores, um televisor que organiza o seu universo a par de uma cadeira de lona ou de um escadote, uma bicicleta, uma ordenada série de insectos que se colocam junto da palma de uma mão, uma declarada paisagem, um bocal de frasco de xarope encimado por uma colher... Tudo isto permaneceu sob os nossos olhos. Esteve sempre presente neste ou noutro arranjo quotidiano. Com pequenas mudanças esteve antes, está agora presente e estará depois de qualquer de nós.
were only inhabited by silence and by the
No seu traço vermelho engendrou-os o pintor: 16 desenhos; «estudos» para campo de sombras (1996, pastel de
rhythmic beating of a shutter. The drawing
óleo/papel). Terá parte deles o seu lugar presente em muro 2 (1997, alkyd/contraplacado, da série campo de sombras). E
and the painting make the empty rooms
na extensão do painel, esses brevíssimos «estudos» traçados a vermelho, deslizam sobre e sob a massa colorida.
live hushedly around us. The space caves
Deixam-se conduzir através do «desejo» da cor. Com a cor se completam. Sob a cor desaparecem, como simples
in, in an abyss, behind its very outline. It is
presenças reais do mundo; e submergem nesse mesmo mundo. Perdem-se na monocromia de um amarelo. Ou
heavy. We expect a character, and then another and another, to come out from its walls, to break through the vegetation that
time of a future harmony, capable of de-
invades everything and to walk to one of
termining its own nature and its "right"
the high, open balconies, probably over a
limits in the language of painting. But it
lagoon, over sickly, stagnant waters.
has always been there.
The moon rises over a dome of vapours. The
Sometimes, as figures of disquiet that will
music, one of Bach’s six partitas for harpsi-
grant the next work the reality of an
chord, can be heard. It comes from the gloom-
"improbable association". Other times,
iest "scene". To then remain as only a solemn
only isolated figures guard and transport
grinding that crumbles out of the heart of
with them an irony that is common to the
Valdrada, of Esmeraldina, probably of
simplest and most disparate objects: a
Ersília. It is like the ruined fringe of a rug.
woman who lets herself get creased during her morning exercises, a spider wrapping
98
The "right" in the improbable association
up its prey, the geological formation of a
Everything that comes into our gaze has
depression from which a deep valley will
always been present. It has been here in its
irradiate, the outline of a "domestic scene"
present place. Sometimes it waited for the
that appears as a quotation from an old
então procuram o lugar da sua coerência num longínquo e impenetrável domínio. Pequenos, inocentes objectos
pastel/paper). Part of them will have their
que tanto ora se convertem num ponto central que prende o nosso olhar como se desfazem em coerência e
present place in muro 2 / wall 2 (1997,
homogeneidade na cor e na forma tomadas pelo painel muro 2.
alkyd/plywood, from the series campo de
Há muito, na arte de Pedro Calapez, de obsessão e de pureza, que são pontos extremos de «muro», de «janela», de
sombras). And, on the extent of the panel,
«cena doméstica», de «molde», de «memória involuntária», de «campo de sombras», de «parede» ou de «passagem».
these very brief "studies" sketched in red
Termos que pertencem, todos eles, a títulos de obras suas. Núcleos através dos quais a pesquisa pictórica persegue
slide over and under the coloured mass.
e prossegue um caminho. São muitas vezes mediadores entre o pintor e a sua obra, uma forma de teoria prag-
They allow themselves to be guided by the
mática segundo a qual a pintura actua. Pois a pintura, como qualquer outra expressão artística, não é necessariamente propriedade de um artista solitário. Existe entre e com a tradição da pintura; e entre a sua contemporaneidade. Para além de um estado operativo de criatividade em contínuo statu nascendi. «Estado» que corresponde ao modo definido e à ordem (que é sempre um facto de eficácia) das duas extensas pinturas que se organizam na primeira sala da exposição, Passagem 09 e Passagem 10 (2004, acrílico/alumínio, 28 painéis). E que criam uma progressão, pela partilha do mesmo espaço, com muro contra muro. O modo como as duas pinturas e o «espaço» a percorrer entre «muros» se apresentam concerne a diferença entre
"desire" for colour. They are completed by colour. They disappear beneath the colour, like simple real presences of the world; and they submerge into that same world. They are lost in the monochrome of a yellow. Or then they seek the place of their coherence in a far off and impenetrable domain. They are small, innocent objects, which are as
distintas graduações: o percurso, a idealização de uma arquitectura que se expande, quer nos dois grupos de
equally turned into a central point that
painéis quer no «corredor» carregado de confronto, em proximidade, com a abstracção genérica da cor. Mas tudo
holds our gaze as they come apart in
está situado no compactado mundo desta arte.
coherence and homogeneity in the colour
Assim, é dentro da própria pintura – e do que nela exige, muitas vezes, de espaço escultórico – que devemos encon-
and the form taken by the panel muro 2.
trar as raízes e as suas relações. Julgo que Trabalhos do olhar 01 (2000, alkyd/alumínio, 16 painéis), compassada
In Pedro Calapez’s art there is a great deal of obsession and purity, which are extreme points of "wall", of "window", of "domestic
painting, an unrecognizable animal of the
scene", of "mould", of "involuntary memory",
pre-historic kind, an armillary sphere, a
of "field of shadows", of "inner wall" or of
fragment of a drawing with flowers, a tele-
"path". Terms that belong, all of them, to
vision that organizes its universe alongside
titles of works of his. Nuclei through which
a canvas seat or a stepladder, a bicycle, an
his pictorial research pursues and follows a
organised series of insects that are placed
course. They are often mediators between the
next to the palm of a hand, a declared
painter and his work, a form of pragmatic
landscape, a top of a bottle of syrup with a
theory according to which the painting works.
spoon on it... All of this remained under
Because painting, like any other artistic ex-
our eyes. It has always been presented in
pression, is not necessarily the property of
this or in another daily set up. With slight
a solitary artist. It exists among and with the
changes it was there before, it is present
tradition of painting; and among its contem-
now and will be there after any of us.
porary condition. Beyond an operational state
The painter engendered them with his red
of creativity in continuous statu nascendi.
line: 16 drawings; "studies" for campo de
A "state" that corresponds to the defined
sombras / field of shadows (1996, oil
method and to the order (which is always a
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Limite 42, 1999
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Limite 43, 1999
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fact of efficiency) of the two extensive
progressão de uma linha negra sobre superfícies brancas, nos vai oferecer o exercício de uma simultânea verdade,
paintings that are organised in the first
a par do colocar do seu oposto, abrindo-nos o caminho para a negação da esfera de um enigma.
exhibition room, Passagem 09 / Passage 09
É que quando percorremos (quase ao modo do caminho de muro contra muro), as pinturas s/título (01, 02 e 03,
and Passagem 10 / Passage 10 (2004,
1994, alkyd/tela), s/título 01 (1995, alkyd/tela) ou quarto interior 02 (1994, alkyd/tela), como se nelas residisse
acrylic/aluminium, 28 panels). And which
igualmente um corredor, não para os nossos passos, mas para o nosso olhar, sentimo-nos como se nós próprios
create a progression, through sharing the
fizéssemos parte de um enigma erguido sobre abatidas ruínas. Nas quais o sentido do mundo corresponde a uma
same space, with muro contra muro.
sombra e a uma fantasmagoria.
The way the two paintings and the "space" to be travelled between "walls" are presented has to do with the difference between different scales: the path, the idealising of an architecture that expands, both in the two groups of panels and in the "corridor" filled with close confrontation with the generic
Mesmo quando algumas dessas telas se deixam penetrar pela violência de vermelhos que de certa maneira trariam, em si, a capacidade de esclarecer o sombrio, o fantasmagórico e a própria presença do enigma. Em todos estes s/título o enigma corresponde a um mundo. Um mundo paralelo que corre fora da pintura. Pois o que está a ser mostrado é, antes, uma natureza e o limite de uma descrição. O enigma está além, situa-se fora da visão do mundo que Calapez nos propõe. E uma visão do mundo expressa somente o que pode ser mostrado e o que é dito de um modo capaz de dizer e de organizar em pintura o sentido da vida dessa mesma pintura.
abstraction of the colour. But everything is located in the compacted world of this art.
DESVENDA-SE O TEMPO NO ESVAZIAR DO ESPAÇO
Thus it is within the painting itself – and
O que é dito acima (e todas os sub-títulos dos vários corpos do que venho escrevendo pertencem a um inventário
within that inside it that is often demand-
feito por Pedro Calapez) pode ser dito da arte de se passear (Karl Gottlob Schelle). De passear pela cor, por dentro
ing as a sculptural space – that we should
da plasticidade da cor. De ir através do exercício que verbos como dissociar, decompor, desligar, dissolver, romper
find the roots and their relationships. I be-
e separar introduzem no lugar presente da pintura. Essa é a capacidade dos painéis que dão forma às pinturas RAM
lieve that Trabalhos do olhar 01 / Troubles of the Gaze 01 (2000, alkyd/aluminium, 16
104
panels), a rhythmic progression of a black
of the world corresponds to a shadow and
line over white surfaces, will provide us
to a phantasmagoria.
with the exercising of a simultaneous truth,
Even when some of those lines are pene-
at the same presenting its opposite,
trated by the violence of reds that in a
opening up our path to the negating of the
certain manner would in themselves betray
sphere of an enigma.
the capacity of clarifying the gloom, the
It is when we travel through (almost in the
phantasmagorical and the very presence of
manner of the path in muro contra muro)
the enigma. In all of these "Untitled" the
the "untitled" paintings (01, 02 and 03,
enigma corresponds to a world. A parallel
1994, alkyd/canvas), s/ título 01 (1995,
world that runs outside the painting. As
alkyd/canvas) or quarto interior 02 / Interior
what is being shown is, rather, a nature
room 02 (1994, alkyd/canvas), as if in them
and the limit of a description. The enigma
there also resided a corridor, not for our
lies beyond, outside the view of the world
steps but for our gaze, that we feel as if we
that Calapez proposes for us.
ourselves were part of an enigma raised up
And a view of the world only expresses
over flattened ruins. In which the meaning
what can be shown and what is stated in a
(01, 02, 03 e 09, 2001, acrílico/alumínio, várias dimensões) e à pintura BD 21 (2001, acrílico/alumínio, 16 painéis). E,
the present place of painting. That is the
como nos afirma o pintor, se a cor «A pede B, ponho C, acrescento D, revela-se B».
capacity of the panels that give a shape to
Neste resultado de contrastes vigorosos com divididas passagens de um azul a um vermelho e deste a um verde
the paintings RAM (01, 02, 03 and 09, 2001,
reconhece-se não só uma intenção de arte, como qualquer coisa que é feita, mas também uma espécie de virtude
acrylic/aluminium, varying sizes) and to the
(sob o pendor da «coragem» romana) que exemplifica certas qualidades operativas: as cores funcionam, em si e por
painting BD 21 (2001, acrylic/aluminium, 16
si mesmas, como uma obra de arte. Como se a sua simples presença fosse suficiente e existissem sem a neces-
panels). And, as the painter tells us, if the
sidade de qualquer suporte. «BD» e «RAM» trazem uma energia de plenitude, que de outro modo estou habituado
colour "A requests B, I put C, I add D, and
a encontrar nos «rasgões» da pintura de Clyfford Still ou nas pinturas de Per Kirkeby. Ao nome do dinamarquês gosto de aproximar o uso dos tijolos na instalação de Paysage (1993, giz/tijolos). As esculturas de Kirkeby, quase sempre em tijolo, levam a espaços instalados em jardins, dos quais se elevam colunas ou se escavam pequenos fossos, semelhantes aos que levam à visão de preservadas ruínas romanas com os seus hipocausto e praefurnium. Seguindo outro ritmo, os tijolos de Calapez expandem-se sobre o chão. Criam uma altura que se desenha em cada extremo através de uma arquitectura de degraus. Mas a escultura funciona como um objecto que levemente se eleva do chão. Tijolos rudes, de reduzida espessura.
what is revealed is B". In this result of vigorous contrasts with divided passages from a blue to a red and from the latter to a green, one finds not only an intention of art, as something that is made, but also a sort of virtue (beneath the tendency of Roman "courage") that exemplifies certain operative qualities: the
Na sua superfície desenhou a giz uma rede de duplas raízes. Figuras de oposição, pois «movem-se» em sentido
colours function in themselves and by
contrário na face plana dos tijolos. Todavia, os seus terminais comunicam entre si, como se o seu lugar de liberdade
themselves as a work of art. As if their
«subterrânea» fosse, na sua expressão aérea, a própria fuga para mais dentro de uma figura invertida, dupla,
simple presence were enough and they
simétrica, gémea. O olhar procura, mais do que as raízes, a árvore. A árvore branca guardada no segredo, mas não
existed without the need for any support.
no enigma, das suas próprias raízes.
BD and RAM carry an energy of plenitude, which I am used to finding in a different manner in the "rips" in Clyfford Still’s painting manner capable of saying and organising
or in those by the Danish artist, Per Kirkeby.
in painting the meaning of the life of that
I like to associate the use of bricks in the
same painting.
installation of Paysage (1993, chalk/brick) to Kirkeby. Kirkeby’s sculptures, almost
Time is unveiled in the emptying of the
always in brick, lead to small spaces
space
installed in gardens, from which columns
What is stated above (and all the headings
rise up or small ditches are dug, similar to
of the several different bodies of text I am
those leading to the sight of preserved
writing belong to an inventory drawn up
Roman ruins with their hypocaust and
by Pedro Calapez) may be stated of the art
praefurnium. Calapez’s bricks spread out
of strolling (L'art de se promener", Karl
on the ground, following a different
Gottlob Schelle). Of strolling through colour,
rhythm. They create a height that is drawn
through the plasticity of colour. Of going
at each end through an architecture of
through the exercise that verbs like to
steps. But the sculpture works as an object
dissociate, to decompose, to disconnect, to
that is lightly raised up from the ground.
dissolve, to break and to separate bring into
Rough bricks, that are not very thick.
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Limite 62, 1999
Limite 63, 1999
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Limite 64, 1999
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Limite 60, 1999
Limite 61, 1999
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On their surface he has drawn a network of
QUE FAZES NO ESCURO?
double roots in chalk. Figures that are in
Que fazes no explodir amarelo de alguns destes desenhos? A pergunta surge a propósito dos desenhos inscritos
opposition, as they "move" in opposite
no limite da imagem e da cor. Alguns são, ou melhor, pertencem a um amarelo perfeito. 24 desenhos (horizontais)
directions on the flat face of the bricks. Yet
e 10 desenhos (verticais). Estudos para a série ‘memória involuntária’ (lápis e pastel/papel).
their end points communicate with each
Amarelos, vermelhos, castanhos, de traço negro sobre branco, às vezes aflora um risco azul, uma sombra roubada às pró-
other, as if their place of "underground"
prias cores. Verdadeiro exercício sobre a paisagem, sobre o local longínquo da memória. Há um ir e um permanecer
freedom were, in its aerial expression, the
sem regresso, mesmo quando o traço e a cor se reflectem no jardim da memória como um nó rítmico. Tiveram uma fina-
very flight further into an inverted, dual,
lidade exacta estes estudos, a de um diálogo com as paisagens de Sousa Pinto. E dos quais resultou a série me-
symmetrical, twin figure. More than the
mória involuntária. A escolha recaiu em parede 3 – memória involuntária (1996, alkyd/contraplacado, 12 painéis).
roots, one’s gaze seeks the tree. The white
A passagem da visualização da pintura de Sousa Pinto para os «estudos» e destes para os painéis deve-se, sobre-
tree held within the secret, but not in the
tudo, ao exercício permitido por uma conexão de ideias e de quase «temperatura» que ficaram vogando entre uns
enigma, of its own roots.
e outros trabalhos. A ideia de paisagem dá indícios precisos, mesmo que correspondam somente à pesquisa de um
What are you doing in the dark?
no seu deslizar pelo campo da memória involuntária.
What are you doing in the yellow ex-
O que creio passar-se entre a paisagem e a memória pertence a um campo de inferência, de transição da impressão
ploding of some of these drawings? The
(da paisagem) à ideia (de paisagem). Na memória, dita involuntária, a causa e o efeito «paisagem» preservam um
question arises in relation to the drawings
espaço de experiência que resulta em exclusivo de impressões.
inscribed on the edge of the image and of
Um espaço intermundia, isto é, entre o nosso mundo agressivo e um mundo completamente livre de turvação: é
the colour. Some are, or rather they belong
aí que se situam os painéis de parede 3 e, sobretudo, a «multidão» de estudos que Calapez desenhou ao redor de
to a perfect yellow. Twenty-four (horizontal)
«memória involuntária».
caminho através do olhar, através do sentimento de uma cor que se desfaz não no íntimo dessa mesma cor, mas
drawings and ten (vertical) drawings. Estudos para a série ‘memória involuntária‘
112
/ Studies for the series ‘involuntary memory’
Passage from the visualisation of Sousa
(pencil and pastel/paper).
Pinto’s painting to the "studies" and from
Yellows, reds, browns, with a black outline
the latter to the panels is above all due to
on white, sometimes a blue line crops up,
the exercise allowed by a connecting of ideas
a shadow stolen from the colours them-
and of almost "temperature" that float among
selves. A veritable exercise on landscape,
some of the works and others. The idea of land-
on the far-off place of memory. There is a
scape gives precise indications, even when
going and a remaining without return, even
they only correspond to the research into a
when the line and the colour are reflected
path through one’s gaze, through the feeling
in the garden of memory like a rhythmical
of a colour that is undone not in the inti-
knot. These studies have an exact aim, that
macy of that same colour, but in its sliding
of a dialogue with the landscapes of Sousa
through the field of involuntary memory.
Pinto. And the result of which is the series
What I believe takes place between the
memória involuntária. The choice fell on
landscape and memory belongs to a field
parede 3 / wall 3 – memória involuntária
of inference, of transition from the im-
(1996, alkyd/plywood, 12 panels).
pression (of the landscape) to the idea (of
RESOLVER O CREPÚSCULO
things that cannot be resolved. But Pedro
O crepúsculo é um fenómeno físico. Mais do que isso sempre o entendi como a luz de uma metafísica abandonada
Calapez has given it the resonance that
por um deus. Daí que seja coisa irresolúvel, quer o nascer quer o pôr do sol. Mas Pedro Calapez deu-lhe a resso-
approaches an immemorial intention: he
nância que se aproxima de uma intenção imemorial: transpôs o crepúsculo moldando-o em bronze e deu-lhe igual-
has transposed the twilight moulding it in
mente um destino líquido. Em primeiro lugar com os 18 moldes para bronzes (1992, madeira) e em segundo lugar
bronze, and has also granted it a liquid
com as pinturas Submerso (2001,grafite e tinta da china/papel) e Aquático (pensando em Monet) (2003, acrí-
destiny. In the first place with the 18 moldes
lico/alumínio, 24 painéis).
para bronzes (1992, wood) and in the
Os moldes de madeira antecedem os corpos de bronze. Há neles um registo de fogo. O crepúsculo — o da manhã e o da tarde — fixou o que tem de bruma e de nebulosidade no bronze, ou melhor, na madeira que o moldou em bronze e lhe deu o sentido e o sentimento do que não se altera, não muda, do que é tocado pelo desejo da eternidade. Um traço duplo que se entrecruza, um risco que se subdivide, uma mancha que ganha volume, a rede de canais que sustentam uma folha ou uma estrutura biológica muito simples que tem o aspecto de um fóssil: o bronze deu-lhes um estado de ilusão e de crença permanente. Representa um modo de resolver o crepúsculo. O outro modo prende-se aos jardins subaquáticos. Ao que está submerso. São os intensos verdes da flora lacustre
second place with the paintings Submerso / Sunk (2001, graphite and Indian ink/paper) and Aquatico (pensando em Monet) / Aquatic (thinking of Monet) (2003, acrylic/aluminium, 24 panels). The wooden moulds come before the bronze bodies. In them there is a registering of fire. The twilight – that of the morning and of
quando, sobre a transparência da água, incidem os primeiros raios de luz do crepúsculo da manhã.
the evening – fixed its misty and nebulous
São os sombrios negros e cinzas de que se enovelam no campo translúcido da água, quando os últimos raios
aspect in the bronze, or rather, in the wood
solares trazem consigo o crepúsculo do fim do dia. Mas a água é também a fuga e a mobilidade. Tem em si o
that moulded it in bronze and gave it the
sentimento amargo do efémero. Representa um outro modo de resolver o instante crepuscular, bem mais de
meaning and the feeling of what is not al-
acordo com a existência histórica finita.
tered, does not change, of what is touched by desire for eternity. A double line that is crossed over, an outline that is subdivided, landscape). In so-called involuntary memory
a stain that gains volume, the network of
the "landscape" cause and effect preserve
channels that support a leaf or a very
a space of experience that is the exclusive
simple biological structure that looks like a
result of impressions.
fossil: the bronze has given them a state of
An intermundia space; that is, one between
illusion and of permanent belief. It repre-
our aggressive world and a world com-
sents one way of resolving the twilight.
pletely free of disturbance: and it is there
The other way has to do with the under-
that are located the panels from parede 3
water gardens. With what is sunk. These
and, above all, the "multitude" of studies that
are the intense greens of the lacustrine
Calapez drew around "involuntary memory".
flora when the first rays of the sun fall on the transparency of the water in the
Resolving the twilight
morning twilight.
Twilight is a physical phenomenon. More
They are the dark blacks and greys that are
than this, I have always understood it as
entangled in the translucent field of the water,
the light of a metaphysics abandoned by a
when the last rays of the sun bring with
god. Therefore both sunrise and sunset are
them the twilight of the end of the day. But
113
water is also escape and mobility. It con-
As formas cúbicas, os volumes com as cinco faces internas pintadas – Dentro, Unidade habitacional, Contentor de
tains the bitter sentiment of the ephemeral.
paisagem e Terra firme – com as suas sobrepostas camadas de tinta, as suas arquitecturas, o seu tecido de jardim
It represents another way of resolving the
e bosque e a sua terra que se pretende firme – são armaduras tenazes criadas para fixar, para sempre, a natureza
twilight moment, one much more in agree-
dos dois crepúsculos. A face aberta dos cubos guarda-lhes um abrigo seguro; espécie de arca capaz de resistir a
ment with finite historical existence.
todo e qualquer dilúvio.
The cubic shapes, the volumes and the five
A finitude e o conhecimento sensorial, que é a pintura, têm nesses «cubos» o lugar presente e lugar (seguro) da
painted internal sides – Dentro / Inside,
harmonia futura.
Unidade habitacional / Housing Unit, Contentor de paisagem / Landscape Container and Terra Firme / Solid ground – with their overlapping layers of paint, their architectures, their material of garden and woods and their land intended to be solid – are tenacious armatures created to fix the nature of the two twilights forever. The
QUE A MESMA COISA SEJA E NÃO SEJA
Até aqui tenho abordado a arte de Pedro Calapez sob o seu aparecer. Neste ponto final poderiam acontecer várias soluções. Uma, seria a própria pintura repudiar o aparecer e enovelar-se sobre a mais espessa camada de tinta e de cor. Outra seria a sua arte adoptar uma atitude de completa neutralidade e aderir ao uso que acerca dela fui fazendo do verbo aparecer. Suponhamos que todo o trabalho de 1992 a 2004 aceita, entre todos os sentidos do verbo, aquele que
open side of the cubes holds a safe
desloca consigo o mais hábil e o mais emotivo de «aparecer» e que é o existir.
harbour for it; a sort of ark capable of
Seria então compatível o pleno assentimento de que a ideia da mais amada paisagem se perderia para sempre?
standing up to any flood.
Creio que esta será a pergunta que mais convirá fazer à juventude de alma que atravessou, em arte, estes doze
In these "cubes", the finiteness and the sen-
últimos anos.
sorial knowledge that is painting has its present place and its (safe) place of future harmony. Would full acceptance that the idea of the Let the same thing be and not be
most beloved landscape should be lost
Up to here, I have dealt with Pedro Calapez’s
forever then be compatible? I believe that it
art according to its appearing. At this final point,
would be more fitting to pose this question
several different solutions may take place.
to the youthfulness of spirit that travelled
One would be that of the painting itself
through these last twelve years in art.
repudiating its appearing and entangling itself in the thickest layer of coloured paint. Another would be for his art to adopt an attitude of complete neutrality and adhere to the use I have been applying of the verb "to appear". Let us suppose that all his work from 1992 to 2004 accepts, among all the meanings of the verb, that which carries with it the most skilful and emotive 114
aspect of "to appear", which is to exist.
pĂĄginas seguintes / following pages:
jardim 02, 1999
jardim 04, 1999
jardim 08, 1999
jardim 10, 1999
jardim 11, 1999
jardim 14, 1999
jardim 15, 1999
jardim 18, 1999
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As casas surgem de repente iluminadas por dentro, 2000, Galeria Luís Serpa, vista da exposição / exhibition view páginas seguintes / following pages:
branco 05 (da série Trabalhos do olhar), 2000 negro 05 (da série Trabalhos do olhar), 2000 negro 09 (da série Trabalhos do olhar), 2000 branco 10 (da série Trabalhos do olhar), 2000 branco 01 (da série Trabalhos do olhar), 2000 negro 08 (da série Trabalhos do olhar), 2000
branco 09 (da série Trabalhos do olhar), 2000 negro 10 (da série Trabalhos do olhar), 2000
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Trabalhos do olhar 01, 2000
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Trabalhos do olhar 02, 2000
132
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Trabalhos do olhar 03, 2000
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Submerso, 2001
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Campo 01, 2001
Campo 11, 2002
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Campo 04, 2001
Campo 06, 2001
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BD 14, 2001
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144
BD 11, 2001
BD 12, 2001
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BD 10, 2001
BD 08, 2001
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BD 21, 2001
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RAM 02, 2001
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RAM 10, 2001
152
RAM 11, 2001
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› RAM 01, 2001
›› RAM 04, 2001
››› RAM 03, 2001
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RAM 09, 2001
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Linha de oito, 2002
160
RAM 14 e 15, 2002, Museu de Serralves, Prémio EDP, vista da exposição / exhibition view
› Lugar 17 ou Lugar da casa, 2002
›› Lugar 18 ou Lugar do bosque, 2002
162
163
Lugar 19 ou Lugar dos pequenos lugares, 2003
164
Inferno, 2002
166
167
RAM 08, 2003, Museu de Serralves, Prémio EDP vista da exposição / exhibition view
› Und 07, 2002
169
› Lugar 25 ou Lugar do esquecimento, 2003
›› Lugar 21 ou Lugar de um momento, 2003
››› Lugar 20 ou Lugar do deleite, 2003
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PINTURA EM ROTA DE EXPANSÃO: OS SISTEMAS PICTÓRICOS PROLIFERANTES DE PEDRO CALAPEZ
An expansive art style: Pedro Calapez’s proliferating image systems
Christoph Schreier
Dias da escuridão e da luz era o título de uma exposição que juntou, na Primavera de 1999, seis artistas portu-
to face with a profane iconostasis. He builds
gueses no Kunstmuseum Bonn (Museu de Arte de Bona). Entre eles encontravam-se dois pintores cujas concep-
his art not on concentration – as was already
ções artísticas e cujo entendimento da pintura divergiam radicalmente. Enquanto o ciclo de Julião Sarmento inti-
evident in his early work – but on expansion,
tulado «A importância do momento de surpresa no ataque» documentava uma redução do inventário de elementos
a general feature of his creativity. Even in
pictóricos e uma concentração emblemática de sinais, os quadros e os trabalhos em papel de Pedro Calapez pro-
his artistic beginnings he had left behind
liferavam pelo espaço, transbordando literalmente dele, de tal modo que, ao contemplar as colagens de imagens
the closed-off cosmos of the composed
que enchiam as paredes, se tinha a impressão de estar perante uma iconóstase profana. A sua arte – e isso era já
and equable, so as to carry over into the
visível naquela altura – investia mais na expansão do que na concentração, uma característica que se revela desde cedo na sua obra. Já nos seus começos ele abandona o universo composicional do quadro fechado sobre si mesmo, para transmitir ao espaço as energias e os impulsos para o movimento inerentes à obra. Um belo exemplo desta tendência é a instalação intitulada Paysage, feita com tijolos, sobre os quais Calapez faz desenhos a lápis delicados como filigrana, e ao mesmo tempo de uma grande força. Trata-se, mais exactamente, de uma obra distribuída pelo chão num rectângulo, com cerca de dez metros de comprimento e quase três de largura e extremidades levemente elevadas, em cuja base os desenhos a giz referidos começam a desenvolver-se.
surrounding space the energy and impulse for movement inherent in the work. A good example of this tendency is the brick installation called Paysage / Landscape on which Calapez applied a chalk drawing that is both filigreed and powerful. More exactly the whole is a floorwork, a rectangular form of close to ten meters long
A partir daqui, a obra cresce, proliferando de forma orgânica para voltar a concentrar-se na outra extremidade num
and almost three meters wide with slightly
novelo de linhas brancas. O conjunto produz a impressão de um fluxo de energia pulsante que extravasa sobe-
raised ends, from whose base the chalk
ranamente a forma rectangular dos tijolos. Como acontece em tantas outras das suas obras, a força expressiva da
drawing has its starting point. And it is from
linha triunfa sobre a disciplina geométrica do suporte, que tem de se expandir de forma serial para poder abarcar
here that it takes its course, expanding
ainda o fluxo das linhas e o reproduzir como totalidade.
organically to consolidate to a track of white lines at the other end of the work. In this way, however, it conveys the impression Days of Darkness and Light was the title of
of a pulsating flow of energy that, unfazed,
an exhibition that, in the spring of 1999,
ignores the rectangular form of the bricks.
presented six Portuguese painters at the
As in many other works of his, the expres-
Kunstmuseum Bonn. Among them were two
sive power of the line triumphs over the
artists whose conception and pictorial agenda
geometric discipline of the picture support
were fundamentally different. While Julião
that needs a series of additions so as to be
Sarmento’s eight-part cycle entitled A
able to reproduce the linear flow in total.
Importância do Momento de Surpresa no
But from what do the lines draw their power?
Ataque / The Meaning of Surprise in an Attack
In the case of the installation described above,
documented a reduction of the pictorial
which not for nothing is entitled Paysage,
inventory and an emblematic consolidation
the explanation is not far to seek. The subject
of the signs, Pedro Calapez’s paintings and
is abstract natural forms or the processes in
works on paper proliferated, expanding
nature that are here visualized by Calapez,
and occupying the room in every way, so
a theme, incidentally, that also plays a big
that – on viewing his wall-filling picture
role in his paintings, pastels and graphic
collages – you could imagine yourself face
prints. We repeatedly encounter rampant
175
1. Alexandre Melo, «Portugal: Eine Gesellschaft und ihre Künstler. Weder Zentrum noch Peripherie» [Portugal: Uma sociedade e os seus artistas. Nem centro nem periferia], in: Tage der Dunkelheit und des Lichts. Zeitgenössische Kunst aus Portugal [Dias da Escuridão e da Luz. Arte Portuguesa Contemporânea]. Catálogo da exposição no Kunstmuseum Bonn, 1999, p. 29.
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1. Alexandre Melo, "Portugal: Eine Gesellschaft und ihre Künstler. Weder Zentrum noch Peripherie", Tage der Dunkeheit und des Lichts. Zeitgenössische Kunst aus Portugal, exh. cat. Kunstmuseum Bonn, 1999, p. 29.
shrubs, voluptuous trees and the wide
Mas, aonde vão as linhas buscar a sua força? No caso da instalação referida – e não é por acaso que ela tem o título
swing of horizon lines that gain lyrical
Paysage – a explicação não é difícil. Trata-se de formas e processos naturais que o desenho abstractiza, e que Calapez
expressiveness from their meandering
visualiza aqui, o que, aliás, constitui um tema que desempenha um papel igualmente importante nos seus quadros,
flow. But remember, as colourful as his
desenhos a pastel e gravuras. Deparamos constantemente com tufos proliferantes, árvores frondosas e linhas de
more recent works are, Pedro Calapez is,
horizonte ondeantes, que retiram a sua força expressiva – quase sempre lírica – de linhas meândricas que fluem
above all, a graphic artist.
livremente. Apesar da riqueza cromática das suas últimas obras, Pedro Calapez é acima de tudo desenhador.
This is a fact that the Portuguese art
Este facto é já assinalado pelo historiador e crítico de arte português Alexandre Melo, que caracteriza a obra de
historian and critic, Alexandre Melo, has
Calapez nos seguintes termos:
noted. In his writings, Melo characterizes
«... Na carreira artística de Pedro Calapez, o desenho e as suas técnicas é um dos domínios de investigação e experi-
Calapez’s production as follows: "In Pedro
mentação mais constantes e sistemáticos. O desenho é o cerne do seu processo de trabalho – o começo. No princípio
Calapez’s artistic career, drawing (and its
está o movimento da mão, que confere à intenção e até à mais abstracta das intuições uma corporeidade imediata
techniques) is one of his most constant
e inevitável.» (1) Do mesmo modo, encontramos esta qualidade «orgânica» também nas suas composições mais
and systematic fields of research and
abstractas, para as quais podemos tomar como exemplo novamente os desenhos a giz da instalação Paysage.
experiment. Drawing is at the heart of his
Ainda que não possam ser entendidos como reprodução directa de um fenómeno natural, eles têm certamente a
work process: its starting point. It begins
suavidade e a fluidez das formas naturais. A sua presentificação é um objectivo central da arte de Calapez, razão
with the movement of the hand, which
pela qual no seu trabalho é menos importante a constância do que o potencial de evolução das formas. Os seus
lends the artist’s intention and even his
desenhos «vivem», e fazem-no precisamente na medida em que a sua linguagem das linhas prescinde de uma
most abstract intuition an immediate,
descrição clarificadora e, com isso, definidora dos seus motivos. Assim, e para lá de todas as diferenças, aplica-se
inevitable corporeality." (1) Correspondingly,
à arte do desenho de Calapez aquilo que Bernd Growe um dia diagnosticou, referindo-se aos desenhos de Seurat,
we also encounter this ‘organic’ quality in
ou seja, que a modernidade anula «o acto fundamental do desenho..., a fixação de fronteiras...» (2)
the most abstract of his artistic postulations, represented once again by the pastel drawing in his installation, Paysage. Even if it
"basic act of drawing [disallows] the
cannot be viewed as a direct reflection of a
establishment of bounds…" (2)
natural phenomenon, it does have the
An apt example for this development is the
pliancy and flow of natural forms. And it is
series of works on paper entitled cenas
their visualization that is a central aim of
domésticas / domestic scenes, a small
Calapez’s art, for which reason it is less
selection of which is being shown in the
duration that interests him in his works
Gulbenkian’s Modern Art Centre. On single
and more the inherent evolutionary poten-
sheets in different colours, Calapez has
tial of forms. His drawings ‘live’ and they
drawn depictions of interiors as well as
do so to the exact degree that his linear
nature-like exteriors that are yet very
vocabulary makes do without any clarifying
similar in their effect. Although the archi-
or definitive descriptions of their motifs.
tectural quotations sketched in pastel are
Valid for Calapez’s drawings is what Bernd
more geometrically organized, they lack
Growe once identified as characteristic of
any kind of constructive stability, as do the
Seurat’s drawings, despite all their dif-
series’ landscape portrayals. This is a result
ferences, namely that in Modernism, the
of the artist’s signature open-style but also
2. Bernd Growe, «Vom Pathos des Anonymen. Seurat und die Kunst der Zeichnung» [Sobre o pathos da anonimidade. Seurat e a arte do desenho], in: Georges Seurat. Zeichnungen [G. Seurat. Desenhos]. Catálogo da exposição da Kunsthalle Bielefeld, 1983, p. 22. 2. Bernd Growe, "Vom Pathos des Anonymen. Seurat und die Kunst der Zeichnung", Georges Seurat. Zeichnungen, exh. cat. Kunsthalle Bielefeld, 1983, p. 22.
Passagem 03, 2004
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Lugar 29 ou Lugar encruzado, 2003
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Um exemplo evidente é a série de trabalhos em papel intitulada cenas domésticas, de que o Centro de Arte Moderna
The quasi ‘self-referential’ doubling of the
mostra também uma selecção menor. Trata-se de uma série de folhas de cor diferente em que Calapez inscreve
contours has been mentioned, but no less
desenhos, quer de espaços interiores, quer de espaços exteriores naturais, mas cujo efeito é bastante semelhante.
important is the colour of the picture ground
Apesar de as citações arquitectónicas desenhadas a pastel serem mais fortemente organizadas segundo padrões
which, at the end of the nineties, reflects
geométricos, falta-lhes – tal como às representações de paisagens desta série – qualquer estabilidade construtiva.
Calapez’s growing interest in colour effect,
Isto deve-se ao modo de representação caligráfico e aberto do artista, mas assenta também na duplicação sempre
an effect that directly outshines the draw-
diferente das linhas de contorno. Isto confere movimento ao desenho, quase o tornando impreciso e «desfocado»,
ing that ‘stands’ less ON the picture plane
se quisermos aplicar características da fotografia a um meio muito diferente como o do desenho. Mas a associação
than it seems embedded IN it. We almost
não é propriamente errada, se pensarmos que Calapez utilizou a fotografia no começo da sua carreira artística. Um
have the impression of looking at a cliché-
eco distante dessas experiências poderá ser perceptível nas cenas domésticas. Mas, como já foi sugerido, Calapez não
verre, a photographic glass print, by which,
cede, como é o caso na fotografia, às imposições da objectualidade, ou seja a um princípio de realidade. Ele ama dema-
however, the line actually does pierce the
siado a sua liberdade, que encontra a sua expressão na utilização livre dos meios de representação ao seu dispor.
plane, at least one collodion layer of it. (3)
Já foi acentuada a duplicação quase «auto-referencial» das linhas de contorno. Mas não é menos importante a
Even though this is not the case for cenas
coloração dos fundos, que espelha o crescente interesse de Calapez pelo cromatismo a partir de finais dos anos
domésticas – in contrast, incidentally, to
noventa. Este cromatismo ilumina verdadeiramente o desenho, que parece «estar» menos sobre a superfície do
other works where one does find scored
que inserido nela. Tem-se quase a impressão de ver um «cliché verre», ou seja, uma espécie de impressão foto-
surfaces – the cenas domésticas series
gráfica, na qual as linhas, no entanto, penetram de facto na superfície, quase sempre uma película de colódio. (3)
reflects an exciting interchange between
Apesar de isto se não aplicar às cenas domésticas – diferentemente de outros trabalhos em que encontramos
line and colour plane, which gives both
incisões no papel –, esta série reflecte ainda assim um jogo alternante e carregado de tensão entre linha e superfície
components a strong expressive force.
cromática, que confere a ambas as componentes uma grande força expressiva.
While the monochrome colour plane in the cenas domésticas is mostly undifferentiated, the way the line meanders documents a
of the shimmery, doubled contour lines.
graphic richness that is not least of all fed
The work seems to be in motion, almost
by the fact that the line circumscriptively
blurred and ‘wobbly’, should we want to
fixates the motif but, at the same time,
confer a feature of photography onto the
decomposes it. Thus Calapez’s graphic skill,
completely different medium of drawing.
with all its ability to describe, also pos-
But such an association is not completely
sesses a quality that surmounts boundaries
false, particularly since Calapez used pho-
which, in confrontation for instance with
tography at the beginning of his career. A
the decorative forms of the Jerónimos
distant echo of this background may there-
monastery in Lisbon, can escalate to lush
fore be documented in cenas domésticas,
and self-sufficient ornamentation. In such a
but Calapez is not willing to bend himself
case, the line is no longer an attribute of
to the dictates of figuration and the prin-
the plane, but the driving force behind an
ciple of reality, as in photography’s case.
expansion that calls the traditional pictorial
He loves his freedom too much, the free-
concept into question. This concept has,
dom to use his choice of compositional
since the Renaissance, been based on the
means to express himself.
idea of composition as a harmonious fusion
3. Sobre a técnica do «cliché verre», ver, por exemplo: Fons van der Linden, DuMont's Handbuch der grafischen Techniken [Manual DuMont das técnicas gráficas]. 3ª ed., Colónia, 1990, pp. 66 e segs. 3. On the technique of verre cliché see, among others: Fons van der Linden, Dumont’s Handbuch der graphischen Techniken, 3rd edition, Cologne, 1990, p. 66ff.
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Lugar 04 ou Lugar da subtil diferenรงa, 2003
Lugar 02 ou Lugar da verdadeira solitude, 2003
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Sem lago ou floresta onde pousar, 2003
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of differentiated elements. These – coordi-
Mas, enquanto a superfície monocromática nas cenas domésticas ainda é tratada de forma relativamente indife-
nated and organized – form a whole that,
renciada, o movimento das linhas documenta uma riqueza do desenho que, em última análise, se alimenta do facto
as a self-contained world, sets itself off from
de a linha fixar e delimitar realmente o motivo, mas ao mesmo tempo o dissolver. A arte do desenho em Calapez,
all contending realities. This turns com-
com toda a sua capacidade de «descrição», revela, no entanto, aquela qualidade da dispersão que se potencia por
positions into ‘monads’ in a self-reflected
exemplo nas formas decorativas do Mosteiro dos Jerónimos, até alcançar uma ornamentalidade luxuriante e que
hermeticism that, as such, are evidently
a si própria se basta. Num caso como este, a linha deixa de ser atributo da superfície para se transformar em
rejected by Calapez. His pictures are not
impulso de uma expansão que põe em causa a noção tradicional de quadro. Desde o Renascimento que esta noção
serenely self-contained, but are open structures, not least of all manifested by the fact that works or work groups according to need – that is, according to the space available – can be either quantitatively added to or reduced. Viewed critically, the picture breaks up into its single parts, but the remaining elements
4. Gilles Deleuze/Felix Guattari, Mille plateaux. Paris, 1980. Citado de: Stephan Berg, «Im Labyrinth der Kartografie» [No labirinto da cartografia], in: Die Senhsucht des Kartographen [A nostalgia do cartógrafo]. Catálogo da exposição do Kunstverein Hannover 2003/2004, p. 7.
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4. Gilles Deleuze/Felix Guattari, Milles Plateaux, Paris, 1980. (English: A Thousand Plateaus, 1987). Here quoted from Stephan Berg, "Im Labyrinth der Kartografie", Die Sehnsucht des Kartografen, exh. cat. Kunstverein Hannover, 2003/04, p. 7.
se baseia na ideia de composição como convergência harmónica de elementos diversos. Estes – coordenados e organizados – formam um todo que, enquanto mundo autónomo, se demarca de todas as realidades concorrentes. Uma composição é, neste sentido, uma «mónada», cujo hermetismo auto-referencial Calapez obviamente rejeita. Os seus quadros não repousam sobre si mesmos, constituem antes uma estrutura aberta que se manifesta, entre outras coisas, no facto de as suas obras ou grupos de obras poderem ser aumentadas ou quantitativamente reduzidas, consoante as necessidades, ou seja, consoante as disponibilidades de espaço. Observado criticamente, o quadro é constituído pelos seus elementos particulares, mas os elementos que restam
thus gain an unusual capacity for action;
ganham com isso uma capacidade de acção inabitual – tornam-se componentes de um novo sistema pictórico
they become part of a new open pictorial
aberto, que nem pretende ser cópia da realidade, nem produzir uma identidade própria no sentido de uma repre-
system. The aim is neither to imitate
sentação auto-referencial. Os sistemas pictóricos de Calapez poderiam, melhor, ser comparados ao sistema carto-
reality, nor to promote identity in the sense
gráfico desenvolvido por Gilles Deleuze e Felix Guattari para a figura do «rizoma»: «Num rizoma não existem
of self-referential pictoriality. Calapez’s
pontos ou posições... Só existem linhas (!)... Se a carta geográfica pode ser o oposto da cópia, isso deve-se ao facto
image system recalls the concept of cartography such as Gilles Deleuze and Felix Guattari had developed for the figure of
ness and flexibility. Thus the artist in cons-
the ‘rhizome’.
tructing, for instance, campo de sombras
Unlike a structure that is defined by a set of
(muro 2), or field of shadows (wall 2) allows
points and positions, the rhizome is made
himself the latitude to modify the cons-
up only of lines. What distinguishes the
tellation of the different picture elements,
map from its tracing is that it is entirely
manifesting a prerogative that can only be
oriented toward an experimentation in
explained by a rejection of any com-
contact with the real. The rhizome pertains
positional hermeticism or one-dimensional
to a map that does not reproduce, but
identity. This renunciation emancipates the
constructs. A map is always open, can in
pictorial elements and makes them into the
all its dimensions be connected, detached,
building blocks of an image system whose
or reversed and is always modifiable. (4)
modular structure recalls Gerhard Richter’s
Even if such a definition in all its radical-
large-scale colour-chart paintings. Begun
ness cannot directly be compared to the
in 1966, Richter’s series reduced the picture
way Pedro Calapez works, it is especially
to its elementary components, in principle
his polytychs that possess a related open-
to a serial sequence of co-equal, undif-
de ela estar voltada para a experimentação enquanto incursão pela realidade. A carta não reproduz (nada)..., mas
the pictorial system. Instead of monologue,
constrói... A carta é aberta, pode ser unificada, desmontada ou invertida em todas as suas dimensões, é perma-
Calapez’s polyphone paintings cultivate
nentemente modificável...» (4)
dialogue, a statement that will be dis-
Ainda que uma tal definição, pelo seu radicalismo, não possa ser aplicada directamente aos processos da pintura
cussed in the following two examples.
de Pedro Calapez, em particular os seus polípticos evidenciam uma abertura e uma flexibilidade semelhantes.
I would first like to present janela aberta /
Assim, por exemplo, na construção de campo de sombras (muro 2), o artista toma a liberdade de modificar a conste-
open window, a 36-part work that is cha-
lação de elementos pictóricos, um gesto soberano que só pode ser explicado pela recusa de todo o hermetismo
racteristic of Calapez’s picture collages.
composicional e de toda a pretensão de identidade unidimensional. Esta recusa liberta os elementos do quadro e transforma-os em pedras da construção de um sistema pictórico cuja estrutura modular poderia lembrar os painéis de grande formato de Gerhard Richter. A série de Richter, que já vem de 1966, reduz o quadro aos seus elementos fundamentais, a uma sequência serial de padrões cromáticos de valor idêntico, sem diferenciações entre si. É certo que existe a possibilidade de a focagem do olhar do obervador – num plano microcomposicional – destacar sempre novas constelações cromáticas expressivas, mas este diálogo nunca se aguenta muito tempo, porque não consegue fixar o olhar deambulante do observador. O olho, sobrecarregado por estímulos ópticos, não consegue sistematizar
Brightly painted, it is an example for the increasing importance of coloration in his work that, since the end of the nineties, has step-by-step seemed to replace the leitmotif of the line and the sketched-in form. (5) If up to now the colour was only a monochrome backdrop for the meandering line, Calapez now raises the play of colour to unprece-
o que lhe é oferecido, característica que introduz uma distinção fundamental entre os painéis cromáticos de Richter
dented heights, something Alexandre Melo
e os polípticos de Calapez. A sua complexidade exige também, certamente, por vezes uma grande capacidade per-
comments on in the following: "Over his
ceptiva do observador; mas o que distingue os seus trabalhos é sobretudo uma capacidade de diálogo, para dentro
entire career, Calapez has used monochrome
e para fora, que ultrapassa qualquer interrogação crítica dos sistemas pictóricos. Os quadros polifónicos de Calapez,
backgrounds or, in some cases, subtle
em vez de sugerirem o monólogo, cultivam o diálogo. Dois exemplos poderão documentar esta capacidade.
nuances of a single colour. In his latest paintings, however, there is no limit to the spectrum of colours used in one single
ferentiated colour samples. Although
work or series of works. From now on, no
powerful colour constellations may cons-
colour in his palette seems to be missing.
tantly – micro-compositionally – result from
Rich are the variations in, and the solidity
the viewer’s attempt at focus, the resulting
of, the material that have always characterized
dialogue never lasts very long since it is
Calapez’s backgrounds and that now tie in
not capable of pinning down his/her
to a corresponding richness of chromatic
meandering gaze. The eye is overwhelmed
mixtures… and contrasts." (6)
by the optical stimuli, finding no systemati-
These chromatic harmonies and contrasts
zation of the visual programme, which is
are visible in a painting such as janela
what distinguishes Richter’s colour-chart
aberta, which is dominated by yellow, red
paintings from Calapez’s polytychs. Al-
and brown hues. The viewer is invited to
though, at times, the complexity in Calapez
follow the play of colour and has the
strains the viewer’s intake capability, his
impression of being confronted with a
works are characterized by a dialogue that
brilliant piece of concrete painting. On the
is directed both in-and outwards, a dialogue
other hand, there are indications of a
that goes beyond a critical questioning of
linearly constructed spatiality, so that the
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5. Pedro Calapez esforçou-se durante anos por aperfeiçoar a sua linguagem pictórica no desenho. Esse esforço vai ao ponto de desenvolver, como salienta Alexandre Melo, uma espécie de alfabeto do desenho: vd. Alexandre Melo, «The sun of Mallorca», in: Pedro Calapez, Campo de Sombras, catálogo da exposição da Fundació Pilar i Joan Miró a Mallorca, 1997, p. 44. 5. Pedro Calapez has for years been refining his graphic techniques. He went so far as to develop a kind of graphic alphabet. See: Alexandre Melo, "The Sun of Mallorca", Pedro Calapez, Campo de Sombras, exh. cat. Fundacio Pilar i Joan Miró a Mallorca, 1997, p. 44.
6. Alexandre Melo, «Portugal: Eine Gesellschaft und ihre Künstler. Weder Zentrum noch Peripherie», op. cit., p. 29. 6. Alexandre Melo, "Portugal: Eine Gesellschaft und ihre Künstler. Weder Zentrum noch Peripherie", see fn. 1, p. 29.
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painting does not seem to be unreservedly
Vejamos em primeiro lugar a janela aberta, um trabalho em trinta e seis partes, característico das colagens de
self-sufficient. This is exemplarily illustrated
Calapez. De uma grande riqueza de cores, esta obra é um exemplo da importância crescente do colorido, que pa-
in the lower right-hand corner of the
rece substituir progressivamente o motivo condutor da linha e da forma do desenho na obra do pintor a partir de
canvas, where lines vanish diagonally
finais dos anos noventa. (5) Se até aí a cor era apenas o cenário monocromático para os meandros da linha, agora
inwards, generating the idea of depth. If
Calapez potencia o jogo das cores ao nível de uma riqueza antes não imaginável, que Alexandre Melo comenta nos
the painting thus – following the title –
seguintes termos: «Em toda a sua carreira, Calapez utilizou sobretudo fundos monocromáticos ou, em alguns casos,
depicts a multi-facetted window with a
tonalidades subtis de uma única cor. Mas nas suas últimas séries de quadros não há qualquer espécie de limitações
view onto reality, then at least here there
quanto ao espectro de cores utilizadas num único trabalho ou numa série de trabalhos. A partir de agora parece
are indications of something like illu-
não faltar uma única cor na sua paleta. Os fundos uniformes e monocromáticos deixaram de ser regra. A riqueza
sionistic space, an illusionism that Calapez
de variações e densidades do material, que sempre caracterizou os fundos de Calapez, combina-se agora com uma
of course constantly deconstructs. Accord-
riqueza correspondente de misturas cromáticas e de contrastes.» (6)
ingly, he annuls the suggested spatiality in
Estas harmonias e estes contrastes cromáticos tornam-se evidentes num quadro como janela aberta, dominado por
the diagonally contrasted part of the
tons de amarelo, vermelho e castanho. O observador é convidado a seguir o jogo das cores, e pode de facto ficar-se
canvas by barricading the picture plane,
com a impressão de ter diante de nós um exemplo brilhante de pintura concreta. Mas há outros indícios de espacia-
painting it shut.
lidade linearmente construída, de tal modo que a pintura não parece bastar-se a si mesma sem limites. Isto pode ver-se
By means of all these compositional
de forma exemplar no sector inferior direito, onde linhas de fuga diagonais orientadas para o fundo do quadro criam uma
measures, the open window oscillates be-
sugestão de espacialidade. Se o quadro – como o título indica – representa uma janela ricamente facetada com vista
tween pictorial autonomy and suggestions
para a realidade, então revelam-se pelo menos aqui indícios de qualquer coisa como uma espacialidade ilusionística,
of reality, whereby both positions are called
um ilusionismo, aliás, que Calapez nunca deixa de quebrar. Do mesmo modo anula, na parte do quadro oposta àquela
into question by the modular structure of
na diagonal, a referida espacialidade, ao barricar literalmente a superfície pictórica, recobrindo-a totalmente.
the piece, something we have already seen in the floorwork, Landscape. No matter if it be the painterly self-reference or the illu-
sense Pedro Calapez is truly a disciplined
sionistic outward-reference that dominates,
architect of his art, one who meticulously
both are structurally related to a pictorial
sets his works in scene. As complex as
architecture that has been punctiliously and
they may be compositionally, he keeps
systematically built up. Its structural basis
tight control of what goes on in the picture.
is two different-sized rectangular forms
Nowhere in the exhibition is this more
that, alternately set against each other,
apparent than in the work entitled Interior,
form a rectangular whole. If this already
an aluminium construction that links a rich
documents the objectivity and the rationality
painterly inner life with a minimalist, spare
that marks the artist’s procedure, the
outward appearance. Its austere and neutral
impression of systematization is reinforced
form disciplines the interaction of the
when one notes the exactness with which
colours that – within the exemplary form of
Calapez maintains the space between the
the sculpture that one can peer into from
picture parts. Here he allows himself no
above – can nevertheless unfold quite freely.
licence, for the issue is to balance painterly
In this way, the sculpture Interior provides
virtuosity with constructive stability. In this
Calapez with a new and uncommon
Todos estes processos de composição permitem que janela aberta vá alternando entre a autonomia do quadro e as
Majorca. Just as darkly reflected shadows
sugeridas remissões para a realidade, sendo que ambos os pontos de vista são postos em questão pela estrutura
owe their existence to objects of physical
modular do objecto pictórico – que já conhecemos da instalação Paysage. Não importa se, nas componentes
reality, so Calapez’s works presented at this
microcomposicionais dominam a auto-referência ou a hetero-referência ilusionística: ambas estão estruturalmente
foundation owe their existence to the
ligadas a uma arquitectura do quadro que foi rigorosa e sistematicamente construída. A base desta construção são
inspiration of Joan Miró’s surreal world.
duas formas rectangulares de dimensões diferentes que, inseridas em alternância, constituem uma forma total rec-
On the walls of his Majorcan studio, Miró
tangular. Se isto documenta a objectividade e a racionalidade que marcam os processos do artista, esta impressão
had hung postcards, newspaper clippings
de sistematicidade reforça-se ainda se atentarmos na exactidão com que Calapez mantém a distância entre os
and found objects of all kinds, which up to
quadros parciais. Aqui, ele não se permite qualquer liberdade, porque importa compensar a virtuosidade pictórica
his death in 1983 served to trigger his
com a estabilidade da construção do todo. Neste sentido, Pedro Calapez é sem dúvida um arquitecto disciplinado
imagination. Almost fifteen years later,
da sua arte, alguém que encena as suas obras com acribia. Por mais complexa que seja a composição, ele mantém
their inspirational force seems not to have
o controle sobre o acontecer do quadro.
diminished, since Pedro Calapez was also
Em nenhuma outra peça da exposição isto se torna mais evidente do que no trabalho intitulado Interior, um objecto
stimulated by them, as well as, of course,
que combina uma rica vida interior pictórica com uma aparição exterior minimalista e sóbria, uma construção de
by the genius loci. This is documented in
alumínio. A sua forma rigorosa e neutra disciplina a interacção das cores, que, no entanto, se podem desenvolver de
the painting muro 2, which quotes the
forma totalmente livre no espaço exemplar da escultura que se pode ver de cima. Deste modo, a escultura Interior
found objects in Miró’s studio. Thus on the
fornece uma invulgar variante da relação entre pintura e espaço, nova em Calapez. De facto, a pintura torna-se um
lower right-hand corner of the canvas, you
«acontecimento espacial» muito particular, já que se apresenta neste trabalho como vida interior da forma global do
see legs with strange tattoos scored into
trabalho, dominante em todos os sentidos. Isto, como se disse, é invulgar em Calapez, transformando este exemplo na
the impasto paint that take up a motif from
excepção à regra, sendo que esta teria de ser definida como a expansão da obra num contexto arquitectónico dado.
Miró’s studio wall. The phases of the moon over the capitol also have their origin in a newspaper clipping. On the other hand,
variation on the relationship between
Calapez does not restrict himself to mere
painting and three-dimensionality. Painting
copies, since other parts of the picture are
becomes a quite particular ‘spatial event’,
obviously not so easy to relate to a
since in this work it is portrayed as an inner
concrete model. It is, for instance, not clear
life that is in every way dominated by the
whether the striped elements in muro 2
total form. As noted, this is somewhat
quote the studio’s wooden wall panels or
unusual and an exception to the rule for
cite the Catalonian colours. This cannot,
Calapez, whereby the rule would then be
and probably need not, be clarified in
defined as the expansion of the work in
individual cases. The impression of an
given architectural contexts.
encounter with a proliferating cosmos of
An especially striking example of this will
images seems much more significant,
to expand – coupled with a high degree of
images whose building blocks can be
capability for compositional reaction – is
expanded or also newly defined from one
the wall painting campo de sombras that
moment to the next. For this reason
Pedro Calapez did in 1997 for an exhibition
Calapez takes it upon himself to rearrange
in the Fundació Pilar i Joan Miró in
the patchwork of his pictures. They are
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Aquรกtico (pensando em Monet), 2003
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anything but static, since they are defined
Um exemplo particularmente marcante desta vontade de expansão – aliada a um alto grau de capacidade de reacção
above all by one thing, their dialogical
composicional – é, finalmente, o de um trabalho mural, intitulado campo de sombras, criado por Pedro Calapez em
quality. Correspondingly, they do not aim
1997 para uma exposição na Fundació Pilar i Joan Miró em Maiorca. Tal como as sombras, enquanto reflexos escuros,
for a clear and unalterable identity, but see
devem a sua existência aos objectos da realidade corpórea, assim também as obras de Calapez apresentadas na Fun-
themselves as instruments of dialogue or
dação devem o seu nascimento à inspiração do mundo poético e surreal de Joan Miró. Miró tinha pendurado nas pare-
confrontation. In this way, they liberate art
des do seu atelier maiorquino postais e recortes de jornais e achados de toda a espécie, que lhe serviram de ponto de
from the image’s Babylonian captivity,
partida para a sua imaginação até à morte, em 1983. Quase quinze anos mais tarde, eles parecem não ter perdido essa
which as an absolutist postulation cares nothing for the picture’s contexts and associations. This could never be said of Calapez’s oeuvre. His paintings, drawings and prints are partners in conversation with space, with his narratives and, not least of all, with the viewers, who find in the proliferating imagery of Pedro Calapez’s
força inspiradora, pois também Pedro Calapez se deixou estimular por esses objectos (e naturalmente também pelo espírito do lugar) para os seus trabalhos. Isto é documentado pelo quadro intitulado muro 2, que cita achados do atelier de Miró. Assim, vê-se no canto inferior direito um desenho de pernas estranhamente «tatuadas», gravadas na superfície pastosa da tinta, que recuperam um motivo da parede do atelier de Miró. Também as fases da Lua sobre o Capitólio têm aí a sua origem, num recorte de jornal (?). Mas Calapez não se limita a esta actividade de copista, uma vez que outras partes do quadro dificilmente poderão ser relacionadas com um modelo. Não ficamos esclarecidos, por exemplo, sobre se os elementos pintados às riscas em muro 2 recorrem aos painéis de madeira das
pictures enough substance and enough
paredes do atelier ou citam as cores da Catalunha. Não é possível, nem tem de o ser, o esclarecimento de todos
gaps to use as jumping-off places for their
estes aspectos particulares. Mais importante é a impressão de nos confrontarmos com um mundo proliferante de
own fantasy.
imagens cujos elementos podem ser ampliados ou redefinidos a cada momento. Por esta razão, Calapez reserva-se o direito de submeter a novos arranjos o patchwork dos seus quadros. Eles são tudo menos uma grandeza estática, e definem-se acima de tudo por uma marca própria, a sua qualidade dialógica. De acordo com isto, não pretendem ter uma identidade clara e imutável, mas entendem-se antes como instrumentos de diálogo ou de confrontação. Com isso, libertam a arte da prisão babilónica da imagem que, tomando-se por postulado absoluto, não dá a mínima importância aos seus contextos e efeitos sobre o público. Nada disto se aplica à obra de Calapez. Os seus quadros, desenhos e gravuras são interlocutores do espaço, das suas histórias, e, é claro, das pessoas, que encontram nos mundos proliferantes de Pedro Calapez material e lacunas suficientes para os utilizarem como trampolim da sua própria imaginação.
190
Passagem 07, 2004
Passagem 05, 2004
192
193
194
Passagem 11, 2004
Vertical 02, 2004
195
Passagem 10, 2004
Passagem 09, 2004
196
197
198
Unidade habitacional, 2004
199
200
Contentor de paisagem, 2004
201
202
Terra firme, 2004
203
204
Dentro, 2002
205
LISTA DE OBRAS LIST OF WORKS
p.16 s/ título (da série: ramos cérebros / folhas / tubagens / circuítos / untitled (from de series: brain branches / leaf
p. 33 Esmeraldina, 1993
p. 44 estudo de paisagem / landscape study, 1995
alkyd s/ tela / alkyd on canvas 150 x 200 cm
alkyd s/ contraplacado /
col. A. SANTO
alkyd on plywood
tubes / circuits), 1992 bronze / bronze 18 x 26,5 x 8,5 cm col. particular / private coll.
p. 34 muro contra muro / 35 wall against wall, 1994 36 alkyd s/ tela / alkyd on canvas 37
série: ramos cérebros /
pastel de óleo s/ papel /
col. particular / private coll.
oil pastel on paper col. particular / private coll.
interior 01 / untitled 01 or interior room 01, 1994
col. Manuel Pedro Calapez, Lisboa
alkyd s/ tela / alkyd on canvas 200 x 240 cm
/ moulds for bronzes (from leaf tubes / circuits), 1992
227 x 125 cm
p. 45 s/ título 01 ou quarto
folhas / tubagens / circuítos de series: brain branches /
series field of shadows, 1996
75 x 108 cm (cada/each)
240 x 1000 x 180 cm
p.17 moldes para bronzes (da
p. 61 s/ título (20 desenhos da 62 série campo de sombras / 63 untitled (20 drawings from the
col. IGA, Investimento e
p. 39 s/ título 02 ou quarto
Gestão de Água da
interior 02 / untitled 02 or
Madeira, Funchal
interior room 02, 1994
p. 83 janela H / window H, 1998 alkyd s/ MDF / alkyd on MDF
instalação campo de sombras) / wall 02 – 2nd
pastel de óleo e acrílico s/
col. Luís Adelantado /
papel / oil pastel and acrylic
private coll.
on paper 122 x 152 cm
p. 85 cena 6 x 4 A / scene 6 x 4 A,
155 x 186 cm
18 x 26,5 x 8,5 cm (cada/each)
alkyd s/ tela / alkyd on canvas
col. particular / private coll.
200 x 240 cm
p.47 s/ título / untitled, 1995
col. João Rendeiro
pastel de óleo e acrílico s/
private coll.
papel / oil pastel and acrylic on paper
field of shadows), 1997
p. 86 cena jardim 07 / scene garden 07, 1999
330 x 615 cm
alkyd s/ MDF / alkyd on MDF
col. Banco Privado
56 x 341 cm
alkyd s/ tela / alkyd on canvas col. particular / private coll.
p. 40 s/ título / untitled, 1994
giz s/ tijolos / chalk on bricks
alkyd s/ tela / alkyd on canvas
270 x 975 cm
300 x 330 cm
col. particular / private coll.
col. particular / private coll.
p. 29 árvores-montanha /
p. 41 s/ título / untitled, 1994
trees-mountain, 1993
alkyd s/ tela / alkyd on canvas
alkyd s/ tela / alkyd on canvas
300 x 330 cm
200 x 240 cm
col. particular / private coll.
col. Interbolsa, Porto
col. particular / private coll.
alkyd s/ tela / alkyd on canvas
alkyd s/ tela / alkyd on canvas
300 x 330 cm
150 x 200 cm
col. particular / private coll.
col. particular, Ílhavo
p. 43 s/ título 04 ou quarto p. 31 Valdrada, 1993
interior 04 / untitled 04 or interior room 04, 1994
alkyd s/ tela / alkyd on canvas 150 x 200 cm
alkyd s/ tela / alkyd on canvas
col. particular, Sangalhos
200 x 240 cm col. particular, Lisboa / private coll.
p. 32 Ersília, 1993 alkyd s/ tela / alkyd on canvas 150 x 200 cm col. Museu de Arte Contemporânea, Fortaleza de S. Tiago, Funchal
122 x 152 cm col. do artista / artist coll.
p. 49 50 51 52 53 54 55
p. 87 cena 10 x 4 A /
sombras) / wall 01 – 2nd
scene 10 x 4 A, 2000
s/ título (15 desenhos da
version (from the installation
alkyd s/ MDF / alkyd on MDF
série memória involuntária)
field of shadows), 1997
223 x 127 cm
alkyd s/ contraplado /
col. Luís Adelantado
/ untitled (15 drawings from de series involuntary memory), 1996
p. 57 parede 03 (da instalação memória involuntária) / wall 03 (from the involuntary memory installation), 1996 alkyd s/ contraplacado / alkyd on plywood 273 x 528 cm col. particular / private coll.
p. 59 parede 02 (da instalação memória involuntária) / wall 03 (from the involuntary memory installation), 1996 alkyd s/ contraplacado / alkyd on plywood 259 x 488 cm col. particular, Porto / private coll.
domestic scene 24, 1998
col. particular, Lisboa /
papel / oil pastel and acrylic on paper 122 x 152 cm col. particular / private coll.
p. 96 cena doméstica 28 /
alkyd on plywood 270 x 975 cm
grafite e lápis de cor s/ papel / graphite and colour pencil on paper 40 x 70 cm (cada/each) col. particular / private coll.
p. 95 cena doméstica 24 /
pastel de óleo e acrílico s/
p. 73 muro 01 – 2ª versão (da instalação campo de
p. 42 s/ título / untitled, 1994 p. 30 Armilla, 1993
domestic scene 22, 1998
col. particular, Lisboa /
200 x 150 cm Chapelle Salpêtrière,
p. 94 cena doméstica 22 /
alkyd on plywood
madeira / wood
p. 20 Paysage / Landscape, 1993 21
col. do artista / artist coll.
2000
version (from the installation
alkyd s/ contraplacado /
domestic scene 12, 1998
174 x 309 cm
alkyd s/ MDF / alkyd on MDF
p. 69 muro 02 – 2ª versão (da
p. 93 cena doméstica 12 /
domestic scene 28, 1998
p. 90 cena doméstica 02 / domestic scene 02, 1998
pastel de óleo e acrílico s/ papel / oil pastel and acrylic
private coll. pastel de óleo e acrílico s/
on paper
papel / oil pastel and acrylic
122 x 152 cm
on paper
col. particular, Lisboa /
alkyd s/ MDF / alkyd on MDF
122 x 152 cm
private coll.
174 x 309 cm
col. particular / private coll.
p. 79 janela G / window G, 1998
col. Vitor Assunção, Lisboa
p. 97 cena doméstica 31 / p. 91 cena doméstica 08 /
p. 80 janela aberta / open window,
domestic scene 31, 1998
domestic scene 08, 1998 pastel de óleo e acrílico s/
1998
pastel de óleo e acrílico s/
papel / oil pastel and acrylic
alkyd s/ MDF / alkyd on MDF
papel / oil pastel and acrylic
on paper
174 x 309 cm
on paper
122 x 152 cm
col. Gianni Gacobbi Arte
122 x 152 cm
col. particular / private coll.
Contemporâneo
col. particular / private coll.
p. 81 janela I / window I, 1998 alkyd s/ MDF / alkyd on MDF 174 x 309 cm col. particular, Porto / private coll.
p. 92 cena doméstica 10 / domestic scene 10, 1998 pastel de óleo e acrílico s/ papel / oil pastel and acrylic on paper 122 x 152 cm col. ENATUR, SA
p. 100 Limite 42 / Limit 42, 1999 101 pastel seco e de óleo s/ papel / dry pastel nad oil pastel on paper 38 x 228 cm col. Permanente CGAC, Santiago de Compostela
209
p. 102 Limite 43 / Limit 43, 1999 103
p. 111 Limite 61 / Limit 61, 1999
p. 121 jardim 14 / garden 14, 1999
pastel seco e de óleo s/
pastel seco e de óleo s/
pastel de óleo e acrílico s/
papel / dry pastel and oil
papel / dry pastel and oil
papel / oil pastel and acrylic
pastel on paper
pastel on paper
on paper
38 x 228 cm
137 x 137 cm
120 x 160 cm
col. Permanente CGAC,
col. particular / private coll.
Santiago de Compostela
pastel de óleo e acrílico s/
125 x 111 cm col. particular / private coll.
col. particular, Porto /
oil pastel on paper
col. Fernando de Almeida
private coll.
120 x 160 cm
pastel on paper
120 x 160 cm
on paper
137 x 137 cm
col. particular / private coll.
120 x 160 cm col. Marília Teixeira Lopes
137 x 137 cm col. particular / private coll.
p. 123 jardim 18 / garden 18, 1999
pastel seco e de óleo s/ papel / dry pastel and oil pastel on paper 137 x 137 cm col. EDP Arte
pastel seco e de óleo s/ papel / dry pastel and oil pastel on paper 137 x 137 cm col. particular / private coll.
01 (from the series Troubles of the gaze), 2000
pastel seco e de óleo s/ papel / dry pastel and oil pastel on paper 137 x 137 cm col. particular / private coll.
col. particular, Santiago de
124 x 332 cm
Compostela / private coll.
col. particular / private coll.
p. 144 BD 11, 2001 p. 135 Trabalhos do olhar 03 / Troubles of the gaze 03, 2000
col. particular / private coll.
acrylic on aluminium 124 x 174 cm
on paper
papel / oil pastel and acrylic
alkyd on aluminium
col. particular / private coll.
120 x 160 cm
on paper
col. Sofia Amaral e Jorge
120 x 160 cm
Bonito
col. particular, Lisboa /
papel / oil pastel and acrylic on paper 120 x 160 cm col. John W. Owens
p. 119 jardim 10 / garden 10, 1999
p. 126 Branco 05 (da série Trabalhos do olhar) / White 05 (from the series Troubles
pastel de óleo s/ papel / 120 x 160 cm col. particular / private coll.
papel / oil pastel and acrylic 120 x 160 cm col. Luís Correia Graça
p. 126 Negro 05 (da série Trabalhos do olhar) / Black 05 (from the series Troubles
p. 120 jardim 11 / garden 11, 1999
pastel de óleo s/ papel / oil pastel on paper
pastel de óleo e acrílico s/
120 x 160 cm
papel / oil pastel and acrylic
col. particular / private coll.
on paper 120 x 160 cm col. particular / private coll.
124 x 332 cm col. particular / private coll.
08 (from the series Troubles of the gaze), 2000
acrílico s/ alumínio /
p. 136 Submerso / Sunk, 2001 137
Trabalhos do olhar) / Black 09 (from the series Troubles of the gaze), 2000 pastel de óleo s/ papel / oil pastel on paper 120 x 160 cm col. particular / private coll.
acrylic on aluminium 124 x 174 cm
120 x 160 cm
papel / graphite and China
col. Pinto da Fonseca
col. particular / private coll.
ink on paper 300 x 540 cm col. António Cachola
p. 129 Branco 09 (da série 09 (from the series Troubles
acrylic on aluminium
p. 138 Campo 01 / Field 01, 2001
of the gaze), 2000
acrílico s/ contraplacado /
pastel de óleo s/ papel /
acrylic on plywood
oil pastel on paper
125 x 111 cm
120 x 160 cm
col. particular / private coll.
col. particular / private coll.
acrílico s/ contraplacado /
Trabalhos do olhar) / Black
acrylic on plywood
10 (from the series Troubles
125 x 111 cm
of the gaze), 2000
col. Jorge Dias
oil pastel on paper 120 x 160 cm col. particular / private coll.
128 x 189 cm col. particular / private coll.
p. 147 BD 08, 2001 acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium
p. 139 Campo 11 / Field 11, 2002 p. 129 Negro 10 (da série
p. 146 BD 10, 2001 acrílico s/ alumínio /
Trabalhos do olhar) / White
pastel de óleo s/ papel /
p. 127 Negro 09 (da série
p. 145 BD 12, 2001
grafite e tinta da China s/
oil pastel on paper
of the gaze), 2000
pastel de óleo e acrílico s/ on paper
Trabalhos do olhar) / Black
pastel de óleo s/ papel /
p. 118 jardim 08 / garden 08, 1999 pastel de óleo e acrílico s/
p. 128 Negro 08 (da série
124 x 174 cm col. particular / private coll.
p. 149 BD 21, 2001 acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium
p. 140 Campo 04 / Field 04, 2001 acrílico s/ contraplacado / acrylic on plywood 125 x 111 cm
210
acrílico s/ alumínio /
alkyd s/ alumínio /
of the gaze), 2000
p. 110 Limite 60 / Limit 60, 1999
124 x 332 cm
alkyd on aluminium
pastel de óleo s/ papel / 120 x 160 cm
acrylic on aluminium
alkyd s/ alumínio /
pastel de óleo e acrílico s/
oil pastel on paper
p. 109 Limite 64 / Limit 64, 1999
Trabalhos do olhar) / White
acrílico s/ alumínio /
papel / oil pastel and acrylic
private coll.
p. 108 Limite 65 / Limit 65, 1999
p. 128 Branco 01 (da série
oil pastel on paper
p. 117 jardim 04 / garden 04, 1999
p. 143 BD 14, 2001 p. 133 Trabalhos do olhar 02 / Troubles of the gaze 02, 2000
p. 122 jardim 15 / garden 15, 1999
papel / oil pastel and acrylic
pastel on paper
of the gaze), 2000
col. particular / private coll.
on paper
papel / dry pastel and oil
acrílico s/ contraplacado /
252 x 332 cm
papel / dry pastel and oil
pastel seco e de óleo s/
p. 141 Campo 06 / Field 06, 2001
pastel de óleo s/ papel /
pastel de óleo e acrílico s/
pastel de óleo e acrílico s/
Troubles of the gaze 01, 2000
acrylic on plywood
papel / oil pastel and acrylic
p.107 Limite 63 / Limit 63, 1999
10 (from the series Troubles
p. 131 Trabalhos do olhar 01 /
alkyd on aluminium
pastel seco e de óleo s/
col. António Cachola
Trabalhos do olhar) / White
alkyd s/ alumínio /
p. 116 jardim 02 / garden 02, 1999 p. 106 Limite 62 / Limit 62, 1999
p. 127 Branco 10 (da série
col. particular / private coll.
252 x 332 cm col. particular, Porto / private coll.
p. 151 RAM 02, 2001 acrílico s/ alumínio /
p. 160 Linha de oito / A Line of eight, 2002
p. 169 Und 07, 2002 acrílico s/ alumínio /
acrylic on aluminium
acrílico s/ alumínio /
acrylic on aluminium
195 x 310 cm
acrylic on aluminium
124 x 332 cm
col. particular / private coll.
47 x 249 cm
col. Filomena Falcão
col. particular / private coll.
p. 152 RAM 10, 2001, acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium 128 x 296 cm col. Fundação Portugal Telecom
p. 153 RAM 11, 2001
p. 171 Lugar 25 p. 162 Lugar 17
ou Lugar do esquecimento
ou Lugar da casa / Place 17
/ Place 25 or the place of
or the place of the house,
oblivion, 2003
2002
acrílico s/ alumínio /
acrílico s/ alumínio /
acrylic on aluminium
acrylic on aluminium
124 x 261 cm
164 x 234 cm
col. Galeria SCQ, Santiago
col. Fernando Gárate
de Compostela
p. 178 Lugar 29 ou Lugar encruzado / Place 29 or the place of crossings,
acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium
acrílico s/ alumínio /
62 x 254 cm
130 x 130 x 120 cm
acrylic on aluminium
col. Max Estrella, Madrid
col. particular / private coll.
126 x 179 cm col. particular / private coll.
p. 180 Lugar 04 ou Lugar da subtil diferença / Place 04 or the place of subtle disparity, 2003 acrílico s/ alumínio /
or the place of the woods, 2002 acrílico s/ alumínio /
p. 155 RAM 01, 2001
acrylic on aluminium
acrílico s/ alumínio /
164 x 234 cm
acrylic on aluminium
col. particular / private coll.
195 x 390 cm col. Fernando de Almeida
moment, 2003 acrílico s/ alumínio /
col. particular / private coll.
lugares / Place 19 or the place of small places, 2003
acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium
acrílico s/ alumínio /
188 x 332 cm
acrylic on aluminium
col. particular / private coll.
216 x 256 cm col. ARENA, Madrid
acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium 188 x 332 cm col. João Lagoa, Porto
acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium 124 x 312 cm col. Luís Sáragga Leal
p. 159 RAM 09, 2001 acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium 195 x 350 cm col. Roberto Bachmann
p. 168 RAM 08, 2003
p. 204 Dentro / Inside, 2002 205 acrílico s/ alumínio /
col. particular / private coll.
solitude / Place 29 or the
col. particular / private coll.
place of true solitude, 2003 acrílico s/ alumínio /
p. 195 Vertical 02, 2004
acrylic on aluminium
acrílico s/ alumínio /
164 x 150 cm
acrylic on aluminium
col. Sybille Spalth, Genéve
172 x 150 cm col. particular / private coll.
p. 183 Sem lago ou floresta onde pousar / No lake or forest
acrílico s/ alumínio /
where to land, 2003
acrylic on aluminium
acrílico s/ alumínio /
144 x 389 cm
acrylic on aluminium
col. particular / private coll.
225 x 460 cm
p. 197 Passagem 10 / Path 10, 2004 acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium 150 x 512 cm col. particular / private coll.
p. 177 Passagem 03 / Path 03, 2004 acrílico s/ alumínio /
p. 189 Aquático (pensando em
acrylic on aluminium
Monet) / Aquatic (Thinking
124 x 242 cm
on Monet), 2003
col. particular, Madrid /
acrílico s/ alumínio /
private coll.
acrylic on aluminium 260 x 300 cm
acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium
de Compostela
col. Fernando de Almeida
p. 194 Passagem 11 / Path 11, 2004
130 x 130 x 130 cm
col. Galeria SCQ, Santiago
200 x 335 cm
col. particular / private coll.
Caja Burgos
84 x 358 cm
col. A. SANTO
p. 167 Inferno / Hell, 2002
130 x 130 x 130 cm
col. CAB – Centro de Arte
ou Lugar da Verdadeira
or the place of delight, 2003
p. 157 RAM 03, 2001
acrylic on aluminium
128 x 408 cm
acrylic on aluminium
p. 173 Lugar 20 ou Lugar do deleite / Place 20
acrílico s/ alumínio /
acrylic on aluminium
acrylic on aluminium
p. 181 Lugar 02
acrylic on aluminium 144 x 389 cm
acrílico s/ alumínio /
acrílico s/ alumínio /
ou Lugar de um momento /
p. 165 Lugar 19 ou Lugar dos pequenos
p. 156 RAM 04, 2001
p. 172 Lugar 21 Place 21 or the place of a
p. 202 Terra firme / Solid ground, 203 2004
acrylic on aluminium col. particular / private coll.
col. FM, Porto
p. 193 Passagem 05 / Path 05, 2004
166 x 352 cm
ou Lugar do bosque / Place 18
p. 200 Contentor de paisagem / 201 Landscape container, 2004
acrylic on aluminium
acrylic on aluminium
p. 163 Lugar 18
2004 acrílico s/ alumínio /
2003
acrílico s/ alumínio / 128 x 296 cm
p. 192 Passagem 07 / Path 07,
p. 197 Passagem 09 / Path 09, 2004 acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium 150 x 512 cm col. particular / private coll.
p. 198 Unidade habitacional / 199 Habitational unit, 2004 acrílico s/ alumínio / acrylic on aluminium 130 x 130 x 120 cm col. particular / private coll. 211
ENTREVISTAS INTERVIEWS
Delfim Sardo conversa com Calapez. Entrevista realizada em Setembro de 1996, publicada no catálogo da exposição memória involuntária, Museu do Chiado.
Começas o teu percurso como pintor
que naquela altura foi importante para
morto para a pintura. No entanto, a ques-
Foi, certamente. Tenho, aliás, uma tela
em 1980-81. Mas antes disso tens um
mim. Mas, sobretudo, retenho essa preo-
tão do envolvimento, a situação espacial
com duas espirais/hélices que mime-
passado como fotógrafo. Esse trabalho
cupação com o espaço e com o focado/
do cenário, são as situações que me
tizam aquilo que eu imaginava que era
tem alguma coisa a ver com o trabalho
/desfocado, em fotografias manipuladas.
interessam. Recordo-me, aliás, que no
uma tela de Barnett Newmann que tinha
que vieste a desenvolver como pintor?
Tenho uma série de fotografias do meu
tempo da Escola de Belas-Artes li um
visto numa reprodução a preto e branco.
No outro dia estive a pensar nisso. Cheguei
pai em alto contraste e desfocadas de que
livro sobre os Expressionistas Abstractos
Voltando às cenografias, gostava de te
a fazer duas exposições de fotografia, em-
continuo a gostar, uma certa preocupa-
que foi, para mim, uma revelação. Curiosa-
confrontar com uma afirmação do
bora o meu trabalho profissional fosse
ção com o claro escuro, mas isto é a minha
mente, o que me interessou mais foi a
Alexandre Melo, no texto que escreveu
como fotógrafo comercial. Não tenho a
leitura agora. E este é o meu passado na
color-field painting, pelo envolvimento do
para o catálogo das Cidades Contínuas,
certeza de haver alguma relação. A minha
fotografia. Em 1980 iniciei o meu per-
espectador num campo cromático. A minha
em que diz que o teu trabalho é uma
primeira exposição foi numa colectiva da
curso em colaboração com a Ana Leon...
pintura creio que continua a lidar com
"arquitectura sem cidade e uma ceno-
A tua primeira exposição, em 1981 foi
essa ideia de envolvimento, desde a minha
grafia sem drama", o que é uma
com a Ana Leon...
primeira exposição, com a Ana Leon.
Sociedade Nacional de Belas-Artes, Figuração/Abstracção, em 1976. Para o catálogo escrevi um texto e expus molduras
214
As duas primeiras exposições.
Não vi essa exposição.
afirmação interessante e intrigante. Eu creio que o drama existe sempre, nomea-
com vidro e sem imagens. Noutra ex-
Antes de continuarmos por aí, gostava
Era em duas salas. A primeira, toda co-
damente se entendermos drama no seu
posição apresentei uma fotografia muito
de falar mais um pouco destes teus
berta de panos de fundo azul com bolas
sentido mais largo, como projecção de
grande, a preto e branco, alto contraste,
lados mais excêntricos em relação à
vermelhas e tinhas de entrar com umas
quem está a ver, porque o olhar de quem
que fazia parte de um núcleo de nega-
pintura, mais precisamente a cenografia.
pantufas especiais calçadas, havia uns
vê projecta uma qualidade que pode ser
tivos que, numa retrospectiva, ainda
Eu apareço a fazer cenografias numa si-
objectos e uma música de fundo; a se-
dramática. Concordo, na medida em que
posso vir a ampliar e que, maus ou bons,
tuação que não foi de acaso, mas
gunda sala era toda branca, com um
essa afirmação retira ao espaço um carácter
foram já «trabalho de autor». Entretanto,
também não foi planeada. Aliás, é um
projector de slides a projectar porme-
simbólico, que eu realmente tento afastar.
participei numa colectiva com umas fo-
trabalho de que gosto imenso. As pri-
nores da primeira sala – o que era um
Prefiro que a minha pintura seja mais lim-
tografias de écrans de televisão, trabalho
meiras situações surgiram com o Nuno
bocado didáctico, mas enfim – e ao
pa desses pesos. Tenho séries de trabalhos,
que foi muito mal aceite pelos fotógrafos,
Vieira de Almeida, a convite dele. O
fundo, havia um altar com os mesmos
no entanto, em que é clara a relação com
onde já se notava uma passagem para o
problema que eu tenho com a cenografia
objectos da primeira sala. O envolvi-
um sentido religioso, ou profundo, ou mis-
campo das artes plásticas, ou para aquilo
é que é um trabalho muito absorvente, e
mento do espaço sempre me fez tratar
terioso, como numa exposição que fiz na
que se chama «fotografia como arte».
eu não consigo trabalhar em dois pro-
situações de grande dimensão, quase
Diferença, em torno de uma pintura de
Se detecto alguma constante no meu tra-
jectos ao mesmo tempo, portanto dificil-
fora de escala, e sempre me fez lidar com
Fra Angelico. Aí havia uma carga simbó-
balho em fotografia, é uma espécie de
mente estou a pintar enquanto faço
questões de perspectiva e de repre-
lica pesada, embora as pinturas se situas-
preocupação com a ideia de espaço en-
cenografia, ou, pelo menos, a trabalhar
sentação do espaço.
sem numa distância em relação a essa obra.
volvente, imagens de volumes embru-
num projecto profundamente. Faço sempre
E nesse sentido, Barnett Newman
Há então uma certa espectativa dra-
lhados, carros com coberturas e coisas
alguns desenhos, mas, como trabalho por
nunca foi uma dessas referências
mática que é cumprida na relação com
assim. Era também a influência de Christo,
séries, o tempo da cenografia é tempo
importantes?
o espectador?
Tenho, pelo menos um certo interesse
ponto, o correcto, aquele da cruzinha no
ções. Há um exercício que eu proponho
lho há um carácter fragmentário que
pelo deslumbramento, pela interrogação
chão das igrejas para ver as colunas em
aos meus alunos, no Ar.Co, que é o se-
se prende, historicamente, a estes
sobre porque é que isto está aqui, o que é
trompe l’oeil, e decidi colocar as paredes
guinte: no princípio do ano dou-lhes deter-
processos de desenho, como aliás, a
uma banalidade. Se calhar, às vezes tra-
visualmente paralelas, afastando-as numa
minados formatos que eles têm que cum-
Helena de Freitas nota num texto...
balho para ser o espectador do meu
das extremidades, o que lógicamente pro-
prir. O facto de lhes dar essa regra e ver
E esse carácter fragmentário ainda é refor-
próprio trabalho.
vocava um efeito de afunilamento quando
depois a forma como respondem a essa
çado pela utilização de dispositivos como
Isso tem a ver com o teu interesse pela
o percurso era feito em sentido contrário
regra é, se calhar, outra forma dessa mesma
o duplo traço, ou pelo próprio acidente de
arquitectura, no sentido em que cons-
e portanto me agradou duplamente. Talvez
preocupação com a medida do processo.
processo, pela forma como rompo a
tróis espaços em que serás o primeiro
devesse ter marcado a cruz no chão.
O facto de tu utilizares dispositivos de
camada cromática.
Essa tónica de alteração perceptiva do
execução distorcidos, como a utilização
Tens tido, no teu trabalho, alguns agen-
Aquilo que me interessa na questão da
espaço marca uma preocupação tua
de duas linhas, mecanismos ambides-
tes de diálogo com os quais tens man-
representação do espaço é, em primeiro
com esses mecanismos não canónicos
tros, perversão da simetria, etc., tem a
tido uma relação particular. Piranesi é
de construção de espaço?
ver com uma ideia central de tentativa
habitante?
lugar, a forma como o problema é colocado antes do século XV, onde não surge
Bom, por um lado, quando estou a
como um tema em si. Interessa-me a forma como no espaço das catedrais ou
um exemplo cabal.
de pequena alteração perceptiva e não
É verdade. Tem-me interessado o carácter
construir um trabalho, defino regras,
de alteração perceptiva estrutural?
de representação do mundo como ele é
cânones processuais, que têm, para mim,
O facto de vivermos rodeados de infor-
dado nos trabalhos de artistas do século
nas igrejas bizantinas se desenvolvem as
um valor relativo. Quero, fundamental-
mação visual faz-me procurar interstícios
XVIII, nomeadamente, quase o lado turís-
cenas representadas, por causa de
mente, que essas regras funcionem como
onde possa acontecer alguma coisa. Isto
tico dessa representação. Por outro lado
acidentes de arquitectura e de noções de
uma medida, no sentido próprio da pa-
não é uma atitude, mas tenho encon-
os edifícios em ruínas, partidos, que
representação do espaço ainda não
lavra, como relação.
trado/procurado maneiras «de fazer»
Piranesi desenha, foram, se calhar, a
normalizadas. O meu primeiro interesse
É curioso como estás a referenciar
nessas pequenas alterações. Essa é uma
minha primeira fonte de fascínio com o
começou pelo fazer «errado», quando me
escalas de representação, o que é um
interrogação permanente e banal, mas
seu trabalho. Como também tenho uma
apercebo da multiplicidade de pontos de
problema clássico de representação
que me é constante: o que é conceptua-
enorme atracção por jardins românticos,
paisagística.
lizar o processo de fazer? Há determinadas
por jardins ingleses. Por que é que eu
Fazendo uma ponte com o teu tra-
No caso do muro contra muro havia uma
situações que pesam como referências,
gosto disto? Se calhar esses ambientes
balho, interessa-te o momento de uma
regra de confrontação das paredes, que se
como factores determinantes na maneira
fascinam-me pelo envolvimento que
representação não-canónica. O exemplo
conferiam escala mutuamente. No caso da
como vemos e fazemos. A prática do de-
proporcionam...
que me surge mais claramente no teu
exposição da Ferme du Buisson, havia a
senho é muito sintomática desse pen-
Há também, no teu trabalho uma tem-
trabalho é o do Muro Contra Muro, em
regra da simetria, que era utilizada e, simul-
samento sobre o processo visual, e foi
poralidade que é romântica, na mesma
que o espectador é violentado numa
taneamente, prevertida. Os quadros eram
sempre importante para mim desde o
medida em que a tua relação com
relação de distância demasiado pró-
simétricos, foram feitos ao espelho, mas
tempo em que segui os cursos do Sá
Piranesi não é uma relação de segundo
xima ou invasora.
fuga, da hierarquia de representação.
posteriormente corrigidos, o que é com-
Nogueira, onde aprendi o desenho como
E há, nesse trabalho, uma componente
pletamente diferente de inverter meca-
um código de práticas de representação
De facto, nestas situações de diálogo não
que tu não sabes, é que as paredes não
nicamente uma imagem. No Manuscrito
ou nos desenhos de viagem que hoje faço.
há nenhuma ideia de apropriação, mas de
eram paralelas, o que não era exacta-
Incompleto, que foi uma exposição na ga-
Fazes habitualmente desenhos de via-
procura de um interstício. Trata-se de repre-
mente visível, e foi uma decisão de
leria Quadrum, havia uma perversão da
gem? Essa é uma tónica dos vários
sentar a imagem e de facto, os trabalhos
montagem. Quando estava a instalar e a
regra de representação da perspectiva. Essa,
romantismos, desde os preceitos de
com utilização de obras de Piranesi, pro-
colocar as paredes, coloquei-me num
realmente, é uma das minhas preocupa-
Ruskin... Curiosamente, no teu traba-
curam ver as imagens e representá-las
grau, mas de diálogo directo.
215
outra vez. No caso de Piranesi, para além
quando paro, da razão dessa paragem.
Pinto que eu utilizo. Veio na sequência de
de Sousa Pinto, que houve um apelo
de uma metodologia de representação da
Estamos super-informados, e, se há
ter lido Walter Benjamin quando ele
imediato muito grande, e que teve a ver
paisagem na natureza, em que estão esta-
trabalhos que são molas, há outros que
reflecte sobre o olhar que nos olha, e que
com o seu rigor, a sua factualidade e
belecidas as regras de duração do trabalho
nos impedem de continuar, porque o
a aura de um objecto tem a ver com este
precisão, a cor e o ambiente. Pareceu-me
de esquiço, de procedimento, há ainda a
trabalho já está feito. Se quiseres, a
reflexo de sentir um olhar que nos olha.
haver aqui uma vividez especial no traço
passagem a gravura, num processo de
minha atitude tem alguma coisa a ver
Normalmente não esperamos que um
e no tratamento do pastel seco.
inversão. É um desenho que é reproduzido
com uma atitude científica, na medida
desenho olhe para nós. É algo que pode
Eu não conhecia estes desenhos e a
ao espelho, como processo de enquadra-
em que tenho que estar informado e
acontecer, ou não. Pode nunca acontecer.
primeira impressão foi a do seu de-
mento e registo. Interessam-me estes me-
aproveitar tudo o que está a acontecer
Proust diz que a memória involuntária é
sajuste para a época. São desenhos
canismos de mediação.
para o meu universo de preocupações,
obra do acaso. Ou encontramos o agente
entre 1911 e 1938. Ora, 1912 é o ano do
Tens fascínio por máquinas de olhar?
sobretudo porque acredito que tudo o
que despoleta essa memória, ou nunca o
Nú Descendo as Escadas de Duchamp.
Tenho, e também pelos mecanismos de
que é feito pela minha mão não é feito da
encontraremos, e a memória involuntária
E ele viveu entre Paris e Lisboa, mas é um
construção de paisagem e de enquadra-
mesma maneira pela mão de outra pessoa.
nunca é despertada. Não sei se a encon-
homem que, em termos plásticos, vivia
mento. Pelos dioramas e os panoramas,
Outra questão associada a esta, e que se
trei, mas fascina-me pensar que encontrei
em meados do século XIX. Há, no entanto,
que, na realidade, marcam uma fase de
prende com o projecto desta exposição,
um objecto, um desenho, que olhou para
um toque quase fauve nestes desenhos, a
transição entre a pintura de paisagem e o
tem a ver com o problema da distância. O
mim. De facto, há muitas situações
nível da côr e a nível do detalhe da
cinema. Alguns panoramas tinham movi-
que se vê a uma determinada distância
quando olhas para pintura, em que te
composição.
mento e cheiros marcando uma espécie
não é o mesmo que se vê a uma distância
envolves de determinada maneira, e esse
de substituição da viagem.
diferente. Se quiseres, o estilo não é, para
envolvimento tem a ver contigo, com
Voltamos sempre a esta ideia de que
mim, um assunto. Quando é que um
aquilo que estás a devolver.
há mecanismos de percepção que
artista toma a decisão de mudar o que
Como é que se passou esse envol-
distância de tempo que nos permite olhar
transportam o espectador para uni-
está a fazer? Para alguns é um problema,
vimento com estes desenhos de
para eles sem uma ideia de hegemonia de
versos alterados. Lembro-me de um
para outros não é problema nenhum, por-
Sousa Pinto?
tendências. Isto claro que não é válido como
texto de Anton Ehrenzveig, em que ele
tanto não é assunto.
ção ao seu tempo foi importante? Não, porque estamos a vê-los com uma
É uma sucessão de acasos. O que acon-
uma recuperação de todo o tardo-natura-
afirma que a redução do trabalho de
Vamos falar um pouco desta expo-
teceu é que surgiu a possibilidade de
lismo, mas estes desenhos interessaram-me,
Pollock a um estilo tinha destruído a
sição. Há uma diferença entre um
fazer um trabalho acerca do acervo do
não sei se pelo toque luminoso do pastel,
possibilidade de ver o jogo livre da
olhar que se exerce e uma memória
museu do Chiado. A minha ideia inicial
que é uma técnica difícil... O desfasamento
forma para sempre. O problema do
desse olhar. Como é que isso se passa
era fazer um trabalho em torno de cader-
no tempo não foi determinante.
estilo é uma questão, para ti, a quem
nesta exposição?
nos de viagens e fui ver toda a colecção,
Da primeira vez que me referiste estes
preocupam mecanismos disruptivos?
216
Esse lado de desadequação em rela-
O que me seduziu aqui foi estar a olhar
porque pensei que havia um espólio
desenhos, falaste da forma como as
É, só na medida em que o estilo constrói
um olhar. Há um outro trabalho que gos-
deste género no acervo do museu, de
relações de proximidade ou distância
um sistema para o qual não consegues
taria de fazer e que era desenhar a con-
blocos de ideias e apontamentos. De
permitiam ver outra coisa, como se
olhar de fora. Eu tenho alterado muito as
tinuação de desenhos de paisagens, de
facto, não havia, para além de alguns
essa alteração na distância fosse uma
maneiras de fazer, mas há situações que
locais que não conheço, como se a
cadernos de Columbano ou de Ramalho,
metáfora dessa outra deslocação tem-
são recorrentes. Isso não me assusta, por-
paisagem fosse parte de um todo que
mas não me chegou. Passei, então a pro-
poral que estes desenhos espelham.
que as situações quando voltam, são
nunca é conhecido. Aqui foi outra situa-
curar desenho. Vi e fotografei tudo, mas
Não fiz essa ligação, mas acho curioso
sempre outras. Eu acredito que não está
ção, que pressupõe a existência da janela,
foi só no Instituto José de Figueiredo,
encontrar esses pontos de contacto.
tudo feito, e acontece interrogar-me
que é o olhar dos desenhos de Sousa
onde estavam a restaurar estes desenhos
Falando do próprio material que faz a pin-
tura, da mão que faz a obra, procurava,
nível de toda a estrutura formal do
janelas, mas define-se como um ambiente
em Florença, que é o envolvimento mais
de uma forma quase política, trabalhar
trabalho: tirei as médias das dimensões
de paisagens que se entrecortam, repetem
extraordinário que eu conheço. Realmente,
essa matéria e esse campo. Afinal, o ter-
dos desenhos do Sousa Pinto, vi quantos
e fragmentam. Ao espectador é proposto
todas as pinturas que tenho feito ulti-
reno difícil é ser retiniano, porque se ten-
são ao alto e quantos são ao baixo, esta-
entrar num ambiente, e não projectar-se
mamente obedecem a estas lógicas de
tares ser consciente dos processos visuais
beleci um arredondamento – por motivos
para fora desse ambiente.
instalação, mas como tenho sempre ten-
que são usados, tens que construir uma
puramente pragmáticos – e estabeleci uma
Obrigas, então, de uma forma quase
dência a lutar contra as sistematizações,
crítica a esses processos, também ela vi-
regra, que constituiu a minha base de tra-
violenta pela profusão de obras num
um dia destes muda qualquer coisa,
sual. Eliminar, tout court, o trabalho for-
balho. Como, no entanto, queria distender
espaço severamente limitado, a uma
como tem mudado desde 1988, que foi o
malista e retiniano, como pretende alguma
a dimensão dos desenhos, multipliquei
relação do espectador com o espaço
ano em que reiniciei um inventário de
crítica dos anos recentes, só me dá von-
por 2, por 3 ou por 4 a dimensão dos meus
da tua pintura.
formas, e onde a lógica de apresentação
tade de ser um puro formalista. A sedução
trabalhos. Não utilizei a regra de ouro,
Perfeitamente. A tendência é o especta-
escolhida era uma lógica de grelha
do olhar, não, sedução não é suficiente-
utilizei a regra do Sousa Pinto, porque não
dor ir-se afastando, até não poder mais,
reticulada de grandes dimensões.
mente forte...
fazia sentido nenhum impor uma regra
pela parede que está nas suas costas.
Gerhard Richter chama-lhe impacto...
que não fosse decorrente dos trabalhos
Voltamos quase à primeira questão: não
Como é que foi decidida a distribuição
existe uma narratividade de personagem, mas existe uma narratividade
Sim, processos eminentemente visuais,
que serviram de base a esta exposição.
das obras pelas diversas paredes?
que façam apelo à visão.
Aliás, para dizer a verdade, ainda verifi-
A princípio defini uma norma, mas a
Eu tenho o hábito de ver a pintura a
quei se os desenhos do Sousa Pinto esta-
norma não funcionou. Resolvi, então, co-
A minha questão acaba sempre por ser a
diferentes distâncias. O que pode ser um
vam construídos segundo a regra de ouro,
locar os quadros segundo um modelo de
dos bordos do quadro. Eu tenho sempre
processo parvo, porque entre os séculos
mas, de facto, não estavam. Isso ter-me-ia
cabinet d’amateur, mas de uma forma
vontade que a pintura se prolongue para
XVIII e XIX houve uma longa discussão
dado um outro eixo de trabalho.
gestaltica emprestada a Mondrian, pela
além dela. Estes quadros formam um só trabalho, que eu não imagino desmem-
do espaço.
sobre a distância certa para ver a pintura.
Jogas, portanto, com diversos níveis
ideia de decomposição da paisagem. Cada
E esse é o material da pintura. Esse lado
de distância física e mental que o es-
conjunto forma uma mancha.
brado, em cada parede. Cada quadro
sempre me interessou. Nos naturalistas
pectador vai construindo, pela forma
O processo, cronologicamente, foi o se-
espraia-se para além dele, cada parede é
portugueses existe alguma boa pintura,
como relacionas o teu trabalho com a
guinte: saber como é que a sala dá o es-
uma pintura só, que não permite fixar o
na maneira de usar a pincelada, na
sua referência?
paço, como é que o espaço dá o tamanho
olhar. Isto, se calhar, poderá ter um lado
matéria da pintura. Neste trabalho, eu
Sim, embora eu limite sempre, em termos
das paredes, como é que os tamanhos das
demasiado didáctico, mas o que é facto é
quis pensar novamente na forma como
físicos, o tipo de distância que o especta-
paredes dão a nuvem de coisas a colocar
que o teu olhar domina-te enquanto razão
são construídos os fundos. Estes fundos
dor toma em relação às obras, porque os
em cada uma delas. Finalmente, o critério
para olhares para uma pintura. A tua racio-
e estas pinceladas remetem para um
trabalhos estão dentro de uma sala que
foi aleatório, ou determinado pelo olhar.
nalidade invoca uma história feita desses
trabalho com a mancha de tinta como
se inscreve dentro de outra sala, e que
Tens percorrido formas históricas de
fragmentos do olhar. Tu penetras na pin-
uma base sobre a qual pode surgir um
impõe limites. Claro que podia ter posto
apresentação da pintura – capricci,
tura pela invocação dos seus próprios
desenho que obedece a uma norma de
um só quadro em cada parede, mas eu
vedute, agora um cabinet d’amateur.
detalhes. Não é a ideia geral que tu tens
referência a um outro desenho.
quero preencher as paredes de quadros,
Porquê?
do quadro que é importante para ti, mas
Também a côr faz essa mesma
porque quero jogar com duas situações,
Já falamos sobre o fascínio que eu tenho
uma pequena mancha ou uma linha. O
remissão...
como se cada quadro destes, sendo uma
pelos studiolos, pela possibilidade de
que é importante é o detalhe, o pormenor.
Sim, porque eu destaquei e utilizei a
janela, se anulasse como tal pela proxi-
entrar em espaços que se encerram sobre
paleta que é utilizada por Sousa Pinto.
midade dos outros. Portanto, em segundo
si mesmos. O meu modelo, se quiseres, é o
Mas essa relação passa-se também ao
lugar, este quarto não é um espaço com
studiolo de Francisco I no Palazzo Vecchio,
217
A vida no pequeno espaço entre as coisas. Entrevista por João Sousa Cardoso em Abril de 1999, publicada no nº 4 da revista desvio 256.
218
Calapez é um pintor que pinta, pintura que
onde havia permanentemente agentes poli-
objectivo de pesquisa, sempre como tra-
de Abril. Toda a tensão que existia no
se coloca em paredes, artista que produz
ciais. Havia uma vigilância muito cerrada,
balho de subsistência pessoal. A fotografia
Técnico, o fantasma de ir para a tropa (e
objectos concretos para contemplação de
incluindo uma câmara de filmar que foi
foi-me, porém, muito útil, porque hoje
para a Guerra Colonial), a par de outras
um espectador. Orienta-se por um diálogo
destruída no dia 26 de Abril.
continuo a fazê-la para registar as minhas
situações desconfortáveis, desaparecem.
íntimo, individual e incessante com as qua-
Eu vivi esses acontecimentos quando já
coisas, as exposições...
Os anos de 74 e 75 são, por outro lado,
lidades dos materiais e defende a actua-
fazia algum trabalho de fotografia. Estava
No ano da revolução, eu fazia alguns tra-
anos em que eu não faço nada no que
lidade de um projecto artístico eminente-
ligado à Sociedade Nacional de Belas Artes
balhos de fotografia, dava aulas na Socie-
respeita aos estudos: paro o meu trabalho
mente poético.
porque enquanto estava no Técnico a estu-
dade Nacional de Belas Artes (porque tinha
no Técnico, mas estou já envolvido em
Conversámos, no seu atelier do bairro da
dar Engenharia, estava a fazer um curso
lá feito o curso e as pessoas tinham gos-
muitas outras coisas com amigos. Fize-
Graça, acerca das suas próprias vivências do
de desenho com o Sá Nogueira e o Rocha
tado do meu trabalho) e foi precisamente
mos projecções de filmes numa pequena
período revolucionário, o modo como vê
de Sousa. Foi, de facto, com a revolução
nesse ano, aliás, que eu conheci o José
vila do interior (no centro do país entre
hoje essa agitação, mas tentámos centrar o
que eu mudei a minha vida nessa altura:
Ernesto de Sousa, embora só quando ti-
Tomar e Castelo Branco), convidámos gru-
nosso raciocínio no percurso e obra do Pedro
passo um ano a fazer trabalho cultural
vesse começado a estar ligado à Coope-
pos de teatro... Tudo isso exigia um traba-
Calapez. Traçámos, assim, sem quase dar
(nunca fiz trabalho eminentemente polí-
rativa Diferença (a partir de 79) a nossa
lho de organização e relação com algumas
por isso, algumas das linhas principais da
tico, a não ser uns cartazes anti-militaristas
relação se tenha alargado. Desta forma,
pessoas que faz perceber haver, ali, um gru-
produção artística das três últimas décadas.
que apoiavam grupos anti-fascistas de
nunca estive nas manifestações desse pe-
po de pessoas com os mesmos interesses.
bairro). Esse ano coincide com a minha
ríodo que ele organizou, como a Alter-
Não há uma consciência revolucionária
Como foi a vivência e participação do
decisão de abandonar Engenharia e entrar
nativa Zero.
que se tivesse ganho com o 25 de Abril,
Pedro Calapez no período artístico fervi-
na Escola de Belas Artes, embora no final
Atendendo a todas essas circunstâncias,
pois essa consciência já havia no Técnico
lhante do pós-Revolução, como estudante
também não venha a acabar o curso de
é capaz de perceber os factores deci-
como estudante, antes da Revolução. Fun-
universitário e como fotógrafo profissional,
Belas Artes.
sivos na opção de abandonar o Técnico e
cionou assim como uma sólida estrutura
que já era, de obras de arte e arquitectura?
Mas o meu trabalho no campo da foto-
entrar para a Escola de Belas Artes?
para aproveitar ao máximo, mas de uma
Será melhor irmos mais atrás: eu vivi os
grafia, salvo algumas excepções, era um
Para além de todo este background que
maneira muito natural em todos aqueles
acontecimentos antes do 25 de Abril. Eu
trabalho de sobrevivência. Formei um ate-
antecede o período da revolução, com cer-
anos, anos de uma grande liberdade em
era aluno do Instituto Superior Técnico,
lier com uns amigos, mas nunca com o
teza que há um alívio enorme com o 25
que era possível fazer tudo...
...uma situação de desordem...
se sente um sentido, pode entender-se
Ana Hatherly, Luís Noronha da Costa são,
quer no estrangeiro) cujo trabalho não
Uma situação de desordem, com certeza,
uma relação entre as coisas.
realmente, nomes que nessa altura expe-
passa de pastiches de trabalhos com dez
mas essa desordem era muito saudável.
Mas um percurso também pode ser feito
rimentaram situações que não ficaram
ou vinte anos.
A minha vida sempre foi feita deste
de rupturas. O Philip Guston, por exemplo
limitadas no seu tempo: influenciaram e
Com os anos 80, assistimos, entretanto,
modo, com transições que nunca foram
tem uma fase do mais completo Expres-
mantêm-se hoje, como referências da His-
a um regresso à pintura pulsional, à
grandes saltos: estudava Engenharia,
sionismo Abstracto e, depois, tem aquela
tória da Arte Contemporânea Portuguesa.
figuração, à ordem das formas, à
comecei a interessar-me pela fotografia,
fase de representação como que ligada à
Se nos referirmos, por exemplo, à expo-
excelência material do objecto artístico e
pelo desenho e pela pintura, sem quase
banda desenhada. No entanto não se pode
sição Alternativa Zero, houve muita coisa
o trabalho do Pedro Calapez surge como
dar por isso, fui-me ligando a outras
dizer que os seus trabalhos não tenham
que fazia parte da tal «Festa» do Ernesto
um dos protagonistas do movimento de
áreas que me preenchiam mais e me
relações entre si... O Baselitz, por outros
de Sousa que não se aguentou no tempo.
«retorno à ordem», na arte portuguesa...
obrigavam a cortar com outras coisas.
motivos, a partir de um dado momento
Penso que neste momento se está a ten-
Eu diria que houve sobretudo um grupo
Mais tarde, viria a deixar a fotografia
vira as figuras ao contrário. Essas opções
tar criar um paralelo com o que aconte-
de pessoas que não estava, de todo, preo-
também, e a dedicar-me apenas ao
com um carácter mais formal pertencem
ceu nos anos 70 e alguns grupos de ar-
cupado com a crítica. Há, em relação aos
desenho e à pintura.
ao percurso de cada um, não há regra...
tistas dos anos 90. Tentando não ser con-
anos anteriores, uma maior despreocu-
Trata-se, então, de um percurso fluido,
Ainda como estudante, assiste à intro-
servador penso que constituem apenas
pação em fundamentar teoricamente
sem grandes rupturas que, a meu ver, se
dução das novas linguagens das Neo-
uma simples décalage. Não tem nada a
aquilo que se está a fazer, o que inte-
reflecte com muita clareza no trabalho do
-Vanguardas, no nosso país. Como é que,
ver com o facto das obras mais antigas
ressava era expôr aquilo que se fazia da
Pedro Calapez...
passados mais de vinte anos, o Pedro
estarem emolduradas pela questão do
melhor maneira possível, do modo mais
Por acaso, há pouco tempo, fui convidado
Calapez vê essas movimentações na arte
tempo: acho que há experiências deci-
interessante. O ponto de partida era esse.
a realizar uma conferência na Universidade
portuguesa dos anos 70? Como compor-
sivas pela Ana Hatherly, pelo Noronha da
Havia interesses comuns, ao nível da
Autónoma em que tinha de falar do meu
tamentos de uma grande ingenuidade, só
Costa, pelo Carneiro... Este tempo pre-
qualidade (grandes séries de trabalhos,
trabalho. Propositadamente, procurei rela-
justificável pelo contexto em que tiveram
sente, quase de memória – em que
grandes dimensões, projectos muito con-
ções entre trabalhos datados em tempos
origem e se desenvolveram ou, pelo con-
impera a liberdade de cada um em usar
tinuados, muito desenvolvidos...), dentro
diferentes. Deu-me uma particular sa-
trário, como experiências não só válidas
as referências que entender – pode ser
de um determinado grupo de jovens artis-
tisfação encontrar pontos de ligação
no seu tempo, mas capazes de encerrar,
tão produtiva como muito pouco pro-
tas (eu, a Ana Léon, o José Pedro Croft, o
entre obras bastante distantes no tempo,
ainda hoje, um grande potencial criativo?
dutiva. O repensar movimentos ante-
Pedro Cabrita Reis) que dava continuidade
embora ao nível formal elas pudessem
Eu acho que há um conjunto de gente
riores nem sempre se traduz na forma de
a alguns dos motes mais característicos
adoptar contornos de uma grande dis-
que está, ainda hoje, a trabalhar e que fez
uma nova atitude e eu acredito que,
dos anos 70 como a performance ou a
paridade... O trabalho que eu faço hoje,
coisas muito interessantes nessa altura.
qualquer que seja o trabalho que se faz,
escultura-instalação. E depois, surgiram
quando realizo trabalhos, formados por
Ao nível da performance-art, de tudo o que
ele se relaciona sempre com tudo o que
vários jornalistas que nos começaram a
conjuntos de pequenas pinturas – que
tivesse visto cá (talvez mais circunscrito a
lhe é anterior: a arte só o é na medida em
referenciar porque as exposições se reve-
não se pode dizer que sejam abstractas,
Lisboa, porque no Porto assisti a várias
que se relaciona com a História da Arte. A
laram de grande...
pois mantêm uma ligação espacial entre
coisas no Espaço Lusitano, mas isso foi já
maneira como cada um pega nos dados
si – tem a ver com os desenhos que eu
na década de 80) merece referência diver-
anteriores, os transforma e desenvolve é
Sim, de grande eficácia porque as ex-
sempre fiz e faço, e ambos são formas de
sos trabalhos de grande qualidade apre-
o acto artístico de cada um. Mas quando
posições eram bem organizadas e com
pensar o espaço. Não me interessa optar
sentados na Galeria Quadrum, incluindo
esse trabalho é apenas fazer um pouco
bons catálogos. Mesmo quando não
exclusivamente por nenhuma delas.
de alguns artistas estrangeiros. Ernesto
do que já se disse antes, a mim não me
havia muito dinheiro para os catálogos,
Olhando para o meu percurso, acho que
de Sousa, João Vieira, Alberto Carneiro,
interessa e há bastante gente (quer aqui,
conseguimos sempre fazê-los através de
...Eficácia?
219
fotocópias e serigrafia, como o catálogo
220
Houve, então, ao longo dos anos 80 a
passa por uma dimensão de espectáculo,
Tentava estar a par das leituras mais
da exposição na Galeria Metrópole com o
aproximação de um público mais vasto
tudo se relacionando com uma especial
diversificadas... Tentei, por outro lado,
Cabrita Reis e a Rosa Carvalho, Ana Léon
ao universo das artes, que neste mo-
preocupação na apresentação dos traba-
contrabalançar esse lado «revisteiro» com
e o José Pedro Croft. Para além disso, foi
mento recuou...
lhos. A relação do espectador com a obra
as saídas «lá fora», porque só se pode ter
criado um grande mailing a fim de divul-
Sim, um público que retraiu. O trabalho
sempre foi um ponto de interesse e pes-
consciência da matéria artística conhe-
gar a exposição junto de um público que
que eu faço, eu tenho de o fazer, não vou
quisa no meu percurso.
cendo o objecto em si, ao vivo. Claro que
achávamos que devia vê-la.
estar a alterá-lo em função de um público.
Neste sentido, a atenção que se volta a
não somos Paris ou Colónia, estamos
Que público era esse? Apenas o espe-
Mas, que se assiste a um fenómeno
dar ao desenho e à pintura nos, anos 80,
muito longe de tudo e esse lado «revis-
cializado?
diferente, neste momento, não tenho
é uma coincidência com o que eu estava
teiro» acaba por ser a única referência de
O especializado, os potenciais colecciona-
dúvidas. Mesmo entre Lisboa e Porto,
a fazer e não me faz qualquer tipo de
alguns artistas e a tentação de orientar o
dores e toda uma camada de gente que,
sente-se uma diferença significativa,
confusão estar a esse par. A questão é
trabalho em função do que sai nas re-
nos anos 80, se começou a interessar pelas
estando o Porto a desenvolver uma acti-
que são mais as coisas que me tocam, do
vistas é grande.
artes plásticas. De 84 até final dos anos
vidade de maior dinamismo.
que o facto de eu tocar as coisas. Há,
E, no percurso do Pedro Calapez, quais
80/princípio dos anos 90, há jornais que
Explique-me melhor a sua relação com o
nesta perspectiva, um paralelismo com o
foram então as maiores influências, en-
aparecem sistematicamente com crítica:
público e o modo como vê a relação dos
que pode ser perfeitamente estabelecido
tre as revistas e as visitas ao estrangeiro?
o João Miguel Fernandes Jorge escreve
seus colegas com esse mesmo público.
entre a minha prática e o contexto em
Eu sempre tive um fascínio muito grande
para «A Capital», o «Sete» e o «Expresso»
Tanto eu como aqueles artistas que sur-
que ela se desenvolveu, mais do que eu
pelo vídeo. Na Escola fiz alguns trabalhos
também tinham as suas colunas, o
giram comigo na cena artística da década
estar a acomodar-me a uma prática. Penso
que têm a ver com o vídeo e foi, para
«Jornal de Letras»... Havia toda uma von-
de 80, fomos desenvolvendo o nosso per-
que o meu trabalho não mostra isso...
mim, uma grande satisfação ver as
tade de escrever sobre arte, muito dife-
curso sem pensar «agora vamos fazer foto-
Esta geração a que eu pertenço, é uma
primeiras peças do Nam June Paik, do
rente do que se passa hoje em dia. Pode-
grafia» ou «agora vamos fazer pintura
geração que não está «lá fora», como a
Dan Graham ou do James Coleman ou
mos assistir a isso nos jornais, onde o
porque é o meio que está a ser melhor
geração dos anos 70 (o Sá Nogueira estava
dos agora conhecidíssimos Bill Viola e
espaço ocupado pela crítica de arte é cada
aceite». Há gente que pensa desta forma...
em Inglaterra, o Eduardo Batarda tam-
Gary Hill. Apesar disso, nunca fiz muita
vez mais pequeno e os textos chegam a
e até se pode ver essa atitude de uma
bém...). Nós decidimos desenvolver tra-
coisa em vídeo. O que não quer dizer que
repetir-se de número para número. Pode
perspectiva positiva. Pode ser uma ati-
balho «cá» e viajar o mais possível. Tentei,
não venha a fazer. Acima de tudo, a ati-
passar, naturalmente, por questões edito-
tude que se oriente por um «como é que
sempre, acompanhar o que ia acontecendo
tude que se tem de ter é a de uma grande
riais, pelo achar que o público se deixou
eu posso atingir um determinado tipo de
através das revistas da especialidade, de
abertura: há coisas que só com o tempo
de interessar por artes plásticas... Havia,
público?». Os artistas podem partir das
idas pontuais ao estrangeiro. Uma das
se revelam muito más e desinteressantes.
por isso, apesar da oferta cultural de en-
suas permissas de trabalho, mas usar
primeiras revistas que comprei foi a «Art
… É fundamental ver o máximo possível
tão ser bastante mais reduzida, um público
uma técnica que está mais na moda. No
Vivant» (de que era director o Jean Clair)
de manifestações artísticas, e tem que se
muito interessado que acorria aos eventos
meu caso, as mudanças que fui fazendo
dedicado à Documenta de Kassel de 72:
passar muito para além do âmbito das ar-
culturais. Quando inaugurámos – eu, Ana
realizaram-se dentro da lógica da procura
foi um dos meus primeiros contactos
tes plásticas para nos alargarmos a outras
Léon, Rui Sanches, Rosa Carvalho e
de resultados no meu trabalho. Se estou
com o que estava a acontecer «lá fora».
disciplinas. Há diversos artistas que tra-
Cabrita Reis – a exposição «Arquipélago»
a fazer uma instalação com a Ana Léon
Lembro-me, perfeitamente, de ter ido, em
balham, por exemplo, com a ideia do cine-
na Sociedade Nacional de Belas Artes
em 82, o trabalho de pintura que apre-
72 ou 73, ver uma exposição do Joseph
ma, o Julião Sarmento é um exemplo.
(1985), estavam largas centenas de pes-
sentei em 86 na Diferença (Palavras Se-
Kosuth a Paris. E é evidente que todas
A atitude do Pedro Calapez de incorporar
soas naquela sala, coisa que não se vê
ladas) tem, também a ver com um am-
essas coisas ficam e constroiem, a um nível
no trabalho de pintura perturbações
hoje em dia nas inaugurações.
biente de instalação; Le Travail du Peintre
inconsciente, uma memória qualquer.
ópticas tem a ver com a experiência na
área da fotografia. Não poderá passar
Há quem chegue a comparar a imagem
meu gosto pelo Bill Viola vem daí, de
no Teatro da Trindade, «A disputa», com o
também, pela imagem-vídeo?
de certas pinturas à imagem de jogos
algumas das suas instalações-vídeo que
João Perry, onde o cenário foi sendo per-
Sim, eventualmente. Mas são as pessoas
vídeo. Toda a arritmia, todo aquele
funcionam como envolvimentos de ima-
manentemente discutido entre nós os
que escreveram recentemente sobre o meu
fervilhar e não definição de imagem
gens que são autênticas pinturas com
dois… Há de facto, no trabalho de ceno-
trabalho, nomeadamente a partir das sé-
dizem respeito a uma grande consciência
movimento. São pinturas em que os sen-
grafia, uma maneira de criar que não tem
ries dos trabalhos de 94/95 (em que dese-
(e vontade de pensar) do mundo das
tidos são, ainda, solicitados de uma ma-
nada a ver com a liberdade que se tem
nho primeiro com o braço esquerdo e depois
imagens dos nossos dias, ou isso é
neira muito completa, não só em termos
em atelier.
repito o mesmo desenho com o braço di-
apenas uma consequência do viver no
sonoros como em termos visuais. Essa
A propósito de Liberdade, um momento
meio delas?
reito), que começaram a referir-se à imagem
relação com o espectador é muito cuidada
que me parece fulcral no percurso do
vídeo (já havia sido aflorada a questão do
Penso que se trata de uma consequência.
e esse é um lado que me interessa, mais
Pedro Calapez é a exposição campo de
écran) mas eu nunca tinha associado essas
Os meus textos sobre as minhas expo-
do que a projecção do vídeo em si. Não
sombras, na Fundació Pilar e Juan Miró a
atitudes ao vídeo e à fotografia. Concerteza
sições são escritos no momento em que
ponho de parte a ideia de vir a fazer
Mallorca. Sente-se uma clara mudança
que há uma consciência do espaço muito
eu estou a trabalhar ou pouco depois.
algum vídeo, mas acho que há um tra-
de direcção na abordagem da pintura, na
ligada à fotografia. Eu acredito no espaço
Nunca aparecem antes. Às vezes procuro
balho muito grande no domínio das rala-
abertura de novas perspectivas à proble-
do olhar que penso que é fundamental
citações que encontrei por estar a ler uma
ções temporais (daí a montagem ser uma
matização da sua obra. Referindo-se a
hoje, para o artista plástico. A arte depende
poesia, um texto qualquer, porque aquela
situação crucial, ao nível do cinema e do
essa situação particular, Alexandre Melo
da leitura de espaços mínimos, da leitura
frase encerra um texto que me interessa.
vídeo, e acho que muitos artistas-vídeo
considera que «o primeiro ensinamento
de espaços que não se imaginam porque
Os conceitos que têm estado subjacentes
não funcionam porque não sabem nada
colhido por Calapez na lição de Miró, foi
estão entre as coisas, são zonas de obs-
à minha obra são aqueles que referi, liga-
de montagem, não sabem nada de editing).
a aprendizagem da liberdade que lhe
curidade e indefinição que permitem desen-
dos à compreensão do espaço que nos
Se pensar fazer alguma coisa em vídeo,
permitiu abdicar de qualquer critério
volver o trabalho de pintura. Tenho andado
rodeia. Como é que me relaciono com o
vou levar algum tempo para ganhar o meu
formal ou temático determinado para a
à procura de pequenos estratagemas que
envolvente? Em que espaço estou a viver?
à-vontade com a técnica… Eu funciono
selecção dos pontos de partida de uma
têm a ver com o tentar encontrar essa
Como é que eu represento esse cenário?
sempre muito por dentro, tenho muita difi-
série de trabalhos». Liberdade, portanto.
zona «entre». No outro dia, estava a falar
Que cenário vou oferecer para aí poder
culdade até em ter assistentes. Trabalho
Sente que tenha havido essa conquista
de um trabalho meu chamado janela
representar a minha peça, fazer o meu
tudo, desde o início até ao fim. Tenho de
efectiva, com campo de sombras?
aberta e perguntavam-me se era para
teatro?… Essa criação de espaços, de en-
ser eu a fazer! E, se calhar no vídeo passa-se
Ali, a liberdade era total, eu podia fazer o
olhar para fora ou para dentro. Eu disse
volvimentos levou-me, desde 82, com
o mesmo. O único trabalho que posso opor
que quisesse. Mas havia a vontade de
«para fora e para dentro ao mesmo
Azulvermelho (um espaço totalmente
à pintura é o de cenografia – eu não tenho,
manter uma relação com Miró. Eu gos-
tempo», como se tratasse de encontrar
ocupado pela pintura em que se convi-
ultimamente, feito trabalho para teatro;
tava de determinadas épocas de Miró; a
estados impossíveis de consciência visual
dava o espectador a entrar) a comparar
é-me muito cansativo, porque tenho de
fase dos últimos anos, interessa-me bas-
que possam intervir numa maneira de
esses ambientes com um studiolo, um
me dedicar por inteiro, não posso pintar
tante menos. Há conjuntos de trabalhos
olhar que consegue ser outra vez poética
cabinet d’amateur. São dispositivos de re-
nesse período. O que fiz foi com o João
dele que acho decisivos, mas há outros
e profunda: os desenhos que faço, por
presentação de espaço que me interessam.
Perry e com o Nuno Vieira de Almeida.
que considero muito desinteressantes,
exemplo, com a mão esquerda e depois
A máquina vídeo introduz muitos outros
Com o Nuno, por a encenação não ser
sem consequência, um gesto que não
repito com a mão direita, numa procura
elementos de um tempo que não é vivido
muito complicada (eram espectáculos só
atrai. Eu visitei a Fundação Pilar e Juan
de simetria – o que acaba por ser um
ou que está a ser vivido através da visão
com um actor em palco), o registo da ceno-
Miró, uma fundação criada pelo Miró e
conceito que nasceu há mais de quinhen-
do vídeo. Há, claro, artistas que traba-
grafia era rapidamente encontrado. A
sua mulher no fim da vida de Miró, que
tos anos – são um sinal dessa procura.
lham o vídeo com o tempo da pintura. O
última experiência que tive no teatro foi
engloba uma zona onde estão os ateliers
221
do Miró. São dois espaços que eu visitei e
vam o espectador a criar algumas relações
ferência de partida, os quadros de Sousa
de tela negro, foi a minha estadia na
houve uma situação que me tocou logo, à
entre o que vê de um lado e o que vê do
Pinto. O uso dos fundos vibrantes, tem a
Irlanda, onde estive em bosques, sentado
partida: um canto da sala com uma ca-
que se lhe opôe…
ver com a minha passagem por Maiorca,
em clareiras a ver o sol por entre as
acho que sim.
árvores. O envolvimento num ambiente
deirinha, onde ele se sentava a ler poesia.
…E algumas dificuldades nessa percepção,
Havia um buraco na parede, onde Miró
para o espectador, em distanciar-se e
A procura de uma liberdade é uma
novo ajudou-me a desenvolver uma nova
projectava sombras na parede: estava
conseguir abarcar no seu campo visual a
constante do percurso do Pedro Calapez
fase de trabalho. Depois dos objectos e das
totalidade da obra.
perante um impressinante imaginário de
222
– num texto, chega a dizer que só há
Histórias dos objectos (que me deu o pré-
Miró. Poderia ser este um ponto de par-
Exacto, na Fundação Miró não era pos-
duas palavras de ordem: «parar» e «reco-
mio da União Latina e tema duma expo-
tida. Depois, encontrei o conceito que
sível ver os dois muros ao mesmo tempo.
meçar», deixar o movimento da mão fluir.
sição na Gulbenkian), há como que um
queria desenvolver – um conceito que
Ou então, viam-se com dificuldade, como
Em Mallorca, estamos perante uma vibra-
parar um modo de fazer como se o peso
tem a ver com uma questão que eu havia
num campo de ténis: ora a olhar para um
ção tal de cores, que parece ter ocorrido
dos objectos tenha acabado por conduzir
tocado na exposição memória involun-
lado, ora a olhar para o outro. A dispo-
o passo que faltava para atingir um plena
a uma coisa completamente diferente e
tária no Museu do Chiado, a memória que
sição das pinturas era a mesma, mas não
Liberdade…
austera: planos pretos com linhas brancas.
se pode ter de um qualquer objecto.
havia repetição dos desenhos, algumas
Plena liberdade, acho que só se consegue
E há, por outro lado, nessa altura, um corte
Como esse objecto pode ser o ponto de
das madeiras pintadas eram absoluta-
quando se morre …
no tempo e em que eu, apesar de estar
partida para alguma coisa e como se po-
mente abstractas, os jogos de formas e
dem desenvolver essas memórias… Na
cores relacionavam-se claramente com o
parede do estúdio, Miró tinha colado recor-
próprio ambiente colorido de Maiorca.
Libertou-me de ter de decidir entre «vou
de vez em quando: se se quiser desenhar,
tes de jornais e restos de imagens que
Aliás, é uma coisa em que o Melo tam-
fazer só pintura com desenho por cima?»
desenha-se, se se quiser dormir, dorme-se,
encontrava e eu fiz desenhos a partir do
bém fala: «O Sol de Maiorca». De facto,
ou «vou fazer pinturas mais abstractas?».
se se quiser ler, lê-se,…), o fiz de uma
que estava aí. O interessante é que Miró,
essa exposição corresponde a uma explo-
Disse para mim mesmo: «Não! Vou fazer
forma muito despreocupada, que de facto
também, tinha feito desenhos a partir
são no uso da cor… Na minha última expo-
as duas coisas porque ambas têm a ver
proporcionou abertura para outras coisas,
dessas imagens. O meu ponto de contacto
sição em Bona, expus numa das paredes
com aquilo que me preocupa!»
outros projectos.
não foi, por isso, a obra de Miró, mas o
um destes trabalhos da Fundação Miró e
Na minha exposição do ano passado, em
Apesar da continuidade com que tem sido
facto de possuirmos o mesmo ponto de
noutra das paredes um dos trabalhos do
Witten, na Alemanha, eu expus os meus
desenhado o percurso do Pedro Calapez,
partida. Tentei usar essas impressões
Museu do Chiado – propositadamente, para
desenhos e a minha pintura. Este ano, em
há de facto, alguns momentos não de
como se a memória de Miró me viesse
perceber no espaço como se relacionavam
Bona, volto a fazer o mesmo. E a expo-
ruptura, mas de viragem na sua obra...
perturbar – ou não – quando eu estivesse
uns com os outros. E, entre a memória
sição na Galeria Presença vai obedecer ao
Fazendo uma pequena retrospectiva,
a fazer os meus desenhos. Há esse lado
involuntária e o campo de sombras, há
mesmo critério. Cada um tem que se dar
temos 1982, a exposição com a Ana Léon,
poético, que se reflecte nas duas séries
uma estrutura semelhante, mas são, de
a liberdade de apresentar os registos que
que se relaciona com a saída da Escola
que são colocadas em paredes uma em
facto, muito diferentes. Houve qualquer
entender necessários à lógica de uma
Superior de Belas Artes. Outro momento
Houve uma passagem a um outro es-
sempre a desenhar (num mês em que eu
tádio, é exaltada uma nova Liberdade…
vivi de uma maneira que é necessário viver
frente à outra (muro 1 e muro 2). Procedi
coisa que mudou, na relação tonal e no jogo
construção. Mas, voltando à questão dos
será 84, onde tomo consciência dos de-
a uma apresentação simétrica, isto é, a
de cores. O Alexandre Melo apercebeu-se
locais, se andar cinco anos para trás, o
senhos que se transformam em pinturas,
disposição das imagens repete-se de uma
disso. Apesar de estar a usar também rec-
que me fez decidir começar a série ramos
são os primeiros desenhos e pinturas
parede para a outra… É um trabalho que
tângulos de madeira, mais ou menos
cérebros – folhas tubagens-circuitos e
sobre madeira. Há, em 87, o retomar
faz ainda referência a uma série de
espessos, com cores diferentes, os traba-
depois a série das Cidades Contínuas que
desses desenhos na tela: surge Le travail
trabalhos, de 94 a 97, em que ponho em
lhos do Chiado são muito mais tonais,
tem muito a ver com o riscar, um risco
du peintre. A passagem pela Irlanda e,
confronto conjuntos de trabalhos que le-
mais pastel, devido, talvez à minha re-
fininho que aparece a branco num fundo
mais tarde o campo de sombras na Fun-
dação Miró são, sem dúvida, momentos
entre cada pintura que faço… Se calhar, o
de que uns trazem outros. Há quase um
tornam-se desinteressantes. Penso que é
de viragem. Se calhar, haverá outros
que produzo em pintura não serão as pin-
processo de esquecimento total, quando
possível falar da pessoa, do indivíduo, da
momentos. Mas estes têm, seguramente,
turas que faço, mas o espaço entre dois
mudo de um conjunto para outro con-
sociedade em qualquer tipo de obra, de
a ver com mudanças no meu trabalho.
traços, o espaço entre duas espessuras.
junto. E, às vezes, isso faz-se sentir de tal
maneiras diferentes e em situações di-
Todo o trabalho do Pedro Calapez é, por
O Pedro Calapez trabalha (e pede ao
modo, que ponho o conjunto anterior ao
ferentes. Nas artes plásticas, há um lado
outro lado, uma obra que comporta uma
espectador que pense) numa lógica de
lado do que estou a pintar no momento,
vivencial, do olhar, que não há nada que o
dimensão indizível, uma permanente pro-
atenção ao pormenor. Em memória invo-
tento copiá-lo, mas o resultado é comple-
possa substituir.
cura do sublime, um projecto assente nu-
luntária, por exemplo, retira pequenos de-
tamente diferente!… maravilhoso o sen-
Então, apesar do Neo-Situacionismo ser
ma lógica de restabelecimento e salvação.
talhes da pintura de Sousa Pinto e dá-lhes
timento de estranheza que se tem e de
um pilares em que assenta muita da arte
É capaz de situar, deste modo, a sua pin-
um desenvolvimento através de uma nova
desafio que é o próprio trabalho feito,
da década de 90, o Pedro distancia-se cla-
linguagem pictórica…
tura como o recuperar de uma dimensão
estar a pedir o fazer de outras coisas. O
ramente dessa atitude porque a sua obra
Estas fragmentações que eu faço, num
trabalho funciona em círculo fechado,
é de natureza essencialmente poética…
Eu diria, antes, uma dimensão poética.
ritmo de «parede de pintura», tijolo sobre
mas que está sempre a irradiar outros tra-
Claro que sim. Distancio-me completamente.
Acredito que é no indizível, no pequeno
tijolo em diferentes tamanhos, relaciona-se
balhos. As minhas preocupações são
espaço entre as coisas que conhecemos,
com a ideia de estarmos sempre a ver
estas e acho que a arte passa por aí.
que ainda há momentos em que se pode
pormenores. E, de facto, quando vejo um
Também acho que passará por muitas
viver. Essa busca de um espaço de vida
quadro, eu percorro-o, de pormenor em
outras coisas… uma característica do
procura-se no lado do inatingível, do in-
pormenor, o que me dá um particular gozo.
nosso tempo, termos esta noção de di-
mágica/mística da experiência estética?
dizível. … uma procura que, se calhar, passa
Há quadros de que eu não me lembro da
versidade. Eu não ostraciso, por exemplo,
pelas minhas memórias e formação. A
totalidade, mas de pormenores. Esta di-
um artista como Hans Hacke que tem
minha mãe gostava muito de ler poesia e
mensão do «ver em pormenores» está,
trabalhos surpreendentes. No entanto, tra-
sempre me propôs textos para eu ler. Essa
com certeza, materializada nalguns destes
balhos que seguem uma linha política ou
vivência não se traduz numa referência
trabalhos mais recentes. Estão feitos aos
sociológica muito intensa, se fazem per-
literária ao trabalho de pintura, mas gera
bocados como se o olhar andasse a saltar.
der o campo de uma experiência poética
uma referência na obra visual, de envol-
Aliás, eu obrigo o olhar a saltar pela pró-
individual, geralmente, podem transfor-
vimento que funciona numa espécie de
pria composição que faço. Eu não admito
mar-se noutra coisa. Interesso-me pouco
procura de aura que os objectos possam
que cada um dos quadros possa fun-
por trabalhos que são meras descrições.
ainda ter. Portanto, não acredito no «fim
cionar sozinho. Sozinhos são coisas banais!
Há artistas que estão a trabalhar sobre
da aura» como processo natural do «fim da
O meu trabalho assenta nas relações
uma dimensão ecológica ou etnográfica,
arte». Acredito que ainda é possível viver
entre os quadros.
mas acabamos por ler mais sobre as
entre os objectos que eu faço. Nem eu nem
Poder-se-á, então, dizer que a atenção
obras, que assistir ao que elas são em si.
os meus objectos temos uma missão.
dada e exigida ao pormenor convoca o
E, eu acredito que as obras são para ver e
Eu falo muito do espectador, mas prova-
espectador a uma vivência individual e
para se experimentar fisicamente. Haverá
velmente, o espectador sou eu. Ou serei
íntima da obra de arte, atitude que já
outras, porém, que foram feitas para que
eu primeiro e só depois vou ver como são
existe no momento em que o Pedro
se leiam as suas descrições... Quando a
Calapez lhe dá forma?
intenção de fazer política ou de ser arauto
os outros espectadores e como funcionam. Mas eu estou sempre à procura de
É essa a minha opção. Fazer desenvolver
de uma causa se torna mais importante
me encontrar, nestas pequenas distâncias
o trabalho é fazê-lo assentar numa lógica
do que a obra em si, geralmente, as obras
223
Num dia de sol e nuvens. Transcrição de uma conversa-entrevista realizada na ilha de Sylt, por Nomena Sruß em Julho de 2003, durante uma residência para artistas, organizada pelo Sylt Quelle Kunst Raum.
Num dia de sol e nuvens perguntaram-me:
224
talvez isso não me interesse; faço pin-
tura, rejeitando as regras da «democracia»
mesmo paixão, que se traduz numa
turas, objectos, faço-os em primeiro lugar
em que se vive nos dias de hoje. Portanto,
obsessão. Não sei porque faço o que faço.
O que é que não é arte? Ou: O que é que
para mim, faço-os por que gosto de os
a solução é estar consciente daquilo em que
Não se passou comigo o caso de ser
já não é arte? Será preciso um talento es-
fazer, faço-os porque quero revelar as
estamos metidos e do que estamos a nego-
muito talentoso quando jovem – de facto
pecial? Amor ou dinheiro? O que é impor-
pequenas coisas que observo. Entu-
ciar. Assim em relação à pergunta «amor
desenhei de uma forma natural quando
tante hoje? Porque compro? Vendo a arte
siasmo-me por pequenas coisas que vejo
ou dinheiro» eu diria que ambos são ine-
era muito pequeno, depois só estudei
que faço? Negoceio-a? Onde ou quando
na natureza ou por uma gota de tinta que
vitáveis e sobre «o que é importante hoje»
desenho e pintura quando entrei na
acaba a arte?
cai sobre uma folha de papel e se acon-
a resposta será que cada um possa pen-
universidade e me apercebi de que me
tecer questionarem-me sobre o que faço,
sar, possa saber, quer seja artista ou não,
interessava pelo modo como olhava de-
Arte é algo sobre a qual se tem por vezes
direi que estou a fazer arte. Não sei como
como se relaciona com o outro, como en-
terminados objectos ou gostava de me-
estranhas dúvidas. Tem-se dúvidas sobre
se passa com outros, na verdade é a so-
tende as coisas que constituem a vida. E
morizar o que me rodeava. Esta obsessão
o que é, pode mesmo não se saber o que é.
ciedade que define em cada momento o
a arte estará sempre presente porque ela
empurrou-me para o que tinha que fazer,
Na realidade tudo pode ser arte, depende
que é arte e o que não é mas o artista não
se liga de um modo profundo à vida.
isto é, pinturas e desenhos. O meu tra-
da atitude que tomamos ou como nos po-
necessita que sejam outros a legitimar o
sicionamos perante determinados objectos
seu trabalho, ele é quem decide pois é ele
Sobre «amor ou dinheiro» disse antes
dades ou problemas da sociedade e penso
ou como fazemos determinadas coisas.
que está a fazer arte e ele está a fazê-la
ambos, já que não é possível sobreviver
que os trabalhos que pretendem ter esse
balho não explica e não resolve as necessi-
para si próprio. Tudo o resto que tem a
na falta de algum deles. É claro que é
papel, que tratam explicitamente das con-
Acho que é necessário ter um talento
ver com arte e o mercado da arte é resul-
possível pensar que se vive com um mí-
tradições em sociedade se revelam muitas
especial, não no sentido de algo que só
tante de vivermos em sociedade. Pode-
nimo, num limiar de pobreza, mas sempre
vezes fracos visualmente. Relativamente à
alguns possuem mas de algo que poderá
mos referir que o sistema é em si domi-
se depende de algo ou de alguém, da
pintura que pratico, a sua força visual é muito
estar desperto em cada um de nós e que
nador. O artista está integrado e dificil-
caridade, da sociedade. Relativamente ao
importante porque permite transpor-me
passa por começar a entender de que
mente determina o valor dos objectos
amor é sem dúvida algo que surge no
para o outro lado, para outro universo, onde
dispomos de capacidades que permitem
que vende ou como serão comercializados.
relacionamento com o outro, dependendo
melhor me compreendo. Isto igualmente
sentir e entender, a diferentes níveis, as
De facto vivemos numa sociedade baseada
também do modo como cada um se
acontece quando leio determinados poemas
pequenas coisas que fazemos ou aquilo
no consumo e não me parece possível vi-
constrói no mundo de que se rodeia. Do
ou vejo certas obras de arte. O que não
que vemos e nos rodeia. Eu faço «tra-
ver fora deste sistema ou ser contra ele –
ponto de vista do artista a arte resulta
significa que apenas me interesso pelo
balhos», poderei não saber se é arte,
a não ser que se adopte um perfil de rup-
não só de um profundo amor, direi
carácter eminentemente expressivo da
arte. Pretendo sim atingir uma visão que
com a vida, por vezes realizando-o de
encontrar caminhos para reduzir o meu
tudo o que posso necessitar. Por exemplo:
me faça sentir e igualmente entender que
uma forma incrível e gloriosa, pelo que
trabalho de fotógrafo e de professor e
vim trabalhar aqui e comprei papel, bom
coisas são as que faço.
uma grande abertura deve ser mantida
desenvolver o de pintor. Tive assim di-
papel. Comprei bom papel porque quero
em relação àquilo que nos é dado a ver. É
nheiro para pagar o meu estúdio, comprar
que as minhas pinturas durem, pois há
Um dos objectivos da arte sempre foi o
fundamento da própria vida estar dis-
materiais, subsistir. Estou inserido no sis-
esta noção do tempo, eu quero que o meu
de, através da representação, do desenho,
ponível para compreender e aceitar o
tema e se um dia deixar de vender vol-
trabalho resista o que puder à passagem
encontrar a Natureza, entendê-la e revelá-la
outro e o que é no outro diferente – e
tarei ao grau zero e recomeçarei tudo de
do tempo, que ele tenha a possibilidade
aos outros e a nós mesmos. Através do
quando algo é de tal modo inesperado
novo, se necessário praticarei outras acti-
de passar da minha memória para a
desenho, da pintura e depois da foto-
que não se entende, a única atitude é dis-
vidades até ter a possibilidade de voltar a
memória de outros. Acredito que mesmo
grafia ou do vídeo, o objectivo é retirar
cutir, reflectir e considerar que talvez se
dedicar-me à pintura, exclusivamente. Mas
o que é efémero, como um movimento de
alguma coisa do que nos rodeia para nós
situe ainda dentro dos parâmetros da arte.
enquanto conseguir controlar o meu tra-
dança que não pode ser repetido, persiste
balho, sendo o que faço aquilo que eu quero
pela sua memória. Por isso me preocupo com os suportes e tintas que utilizo.
próprios. Mas essa apropriação do outro, daquilo que está fora de nós é uma
Porque compro coisas? Como já disse
fazer e não o que o mercado impõe – que
capacidade que todos nós possuímos, só
penso que vivemos numa sociedade
por vezes exige cada vez mais produção e
é preciso pô-la a funcionar e não é ne-
cujas regras são comprar e vender e o
um maior número de exposições – penso
Amor ou dinheiro? Não se trata de um
cessário ser pintor, nem escritor. Será
motor que faz mover esta sociedade é o
que não trabalharei de uma forma gratuita.
antagonismo, de uma dicotomia. É dificil
apenas necessário falar, falarmos uns
modo como se negoceia. Os objectos são
com os outros. Esse é o talento que
valorados e de um modo simplista pode-
Para mim o que é mais importante é a
dinheiro». No mundo da arte facilmente
despertará a capacidade de não ficarmos
ria ser dito que esta folha de aguarela
possibilidade de fazer o que eu gosto de
se é colocado numa situação que nos
fechados ao mundo que nos rodeia.
vale duas laranjas, quero dizer, estará sem-
fazer, ter a possibilidade de olhar e en-
pressiona: há demasiados negociantes,
pre presente a ideia de valor, que se baseia
tender como me relaciono comigo próprio
há sempre intermediários entre mim e o
Onde acaba a arte? Penso que a arte não
no modo como cada um encara a ne-
e com os outros.
meu trabalho e aquele que o vê. Esta
tem fim. A partir do momento em que se
cessidade de uma troca com mais-valia.
Ter talento não será um dom, cuja origem
comunicação não é simples e se por um
está vivo e se pensa e se exprimem con-
Podemos não querer ocupar as nossas
é incompreensível e subjectiva. Todos deve-
lado se poderia ter a ingénua fórmula:
ceitos ou sentimentos, seja qual for o
cabeças com este tipo de considerações e
mos ter a possibilidade de desenvolver a
fazer-vender-ter dinheiro-sobreviver-fazer
meio escolhido para o fazer, não se pode
não negociar, não «fazer compras», pois é
capacidade de nos exprimirmos, usando os
amor, o facto é que não é fácil separar
encontrar um fim; ou então é porque
natural pensar que o objectivo dos seres
meios que se considerem mais apropria-
eficazmente estas palavras.
morremos. É por isso que não me parece
humanos deverá ser outra coisa, algo mais
dos. Penso assim que cada um de nós pos-
É necessário que eu possa conseguir para
possível parar de fazer aquilo que faço.
do que negociar e trocar objectos.
sui talento, só tem que o pôr a funcionar.
mim algo a partir daquilo que faço. Por
na nossa sociedade não ter «amor pelo
Devo dizer que sempre foi meu objectivo
exemplo, quando estou a ver uma pin-
O que já não é arte? É uma pergunta do
conseguir viver da venda das minhas pin-
Onde termina a arte? O que deixa de ser
tura, ou a ler, sou como um ladrão se-
século passado e a resposta para o nosso
turas ou desenhos. Durante algum tempo,
arte? Para mim a arte termina quando eu
lectivo, roubo o que me interessa para
século é que «cada um fará aquilo que
fui professor numa escola de arte e tam-
morrer: a minha arte e a arte dos outros que
depois o utilizar de alguma forma no meu
tem que fazer». O que acontece é que
bém fotógrafo comercial, para ganhar o
me têm envolvido, comovido mesmo; ou
trabalho. A pintura tem a ver com a his-
tudo o que pode ser visto nas manifes-
dinheiro de que necessitava para viver. Em-
toda aquela contra a qual tenho trabalhado.
tória, tem a ver com a tradição, tem uma
tações artísticas de hoje, sejam dança,
bora esta profissão fosse criativa, não me
teatro, exposições, instalações, revela que
restava tempo para aquilo que verdadei-
Arte e comprar? Porque compro coisas? Eu
centes ou passados, com a memória, e é
os seus protagonistas estão num diálogo
ramente queria fazer. Por isso comecei a
compro porque preciso. Não sei se compro
nela que tento encontrar o meu caminho.
relação própria com acontecimentos re225
Delfim Sardo in conversation with Calapez. September 1996, published in the memória involuntária exhibition catalogue, Museu do Chiado (MNAC).
You began your career in painting but
If there is a constant in my photographic
experiments were carried out with Nuno
had to put on special slippers, there were
before that you were a photographer. Did
work, it is a sort of preoccupation with the
Vieira de Almeida, at his invitation. The
also some objects and background music.
your work in that field have an effect on
idea of surrounding space, images of wrap-
problem I have with designing sets is that
The second room was all white, with a
the work you have developed in painting?
ped volumes, cars with covers and such like.
it is very absorbing work, and I cannot
slide projector showing views of the first
The other day I was just thinking about
At that time, I was also greatly influenced
work on two projects at the same time,
room, which was rather didactic, but still,
that. I held two exhibitions of photographs,
by Christo, who had a very important
so it is difficult for me to paint a picture
and at the end of the room there were
although professionally I was a commer-
effect on my work. Most of all, however, I
when I am designing, or at least working
other objects similar to those in the first
cial photographer. I’m not sure whether
have retained this interest in space and
in-depth on a project. I always do some
room. The encompassment of space has
there is a relationship. I first displayed some
with the focused/unfocused in retouched
drawings, but as I like working in series,
always led me to deal with situations on
work at a group show at the Sociedade
photographs. I have a series of photographs
the time I spend on set design uses up
a large scale, almost out of proportion,
de Belas-Artes, Figuração/Abstracção,
of my father, highly contrasted and out of
painting time. Nevertheless, the question
and also makes me study questions of
(Figuration/Abstraction) in 1976. I wrote
focus, I like them. They indicate my atten-
of involvement, the spatial situation of
perspective and representation of space.
a text for the catalogue and displayed some
tion to dark and light, that’s how I see it
sets, interests me. I remember when I was
In this context, was Barnett Newman
picture frames with glass but no images.
now, and that was my past in photogra-
at the School of Fine Arts, I read a book
At another exhibition I displayed a huge
phy. In 1980 I began my art career in colla-
about Abstract Expressionists, which was
He most certainly was. As a matter of
photograph in black and white in marked
boration with Ana Leon.
contrast, which was part of a series of negatives which I could enlarge for a retrospective, and which, good or bad, were
226
one of your important references?
a revelation to me. Oddly enough what
fact, I have a canvas with two spirals, an
Your first exhibition was in 1981 with Ana
interested me most was colour-field paint-
impression of what I imagined to be an
Leon...
ing, because of the involvement of the
impression of a painting by Barnett
spectator in the chromatic field. Ever since
Newman which I’d seen in a photograph.
The first two exhibitions.
art work. I also took part in a group show
Before we go on, I would like to talk a little
my first exhibition with Ana Leon, my
Returning to set design, in a text he
with photographs of television screens,
more about your more eccentric side in rela-
painting has had this idea of involvement.
wrote for the catalogue Cidades Conti-
the photographs did not get a good recep-
tion to painting, more specifically set-design.
tion, but they showed a definite leaning
I started doing theatre sets, not entirely
It was exhibited in two rooms. The first,
your work is "architecture without a city
towards the plastic arts or what used to
by chance, yet it was not planned either.
covered with back cloth was painted blue
and scenario without a drama", which is
be called photography-as-art.
It’s work I greatly enjoy. The first
with red spots and on entering everyone
an interesting, intriguing statement.
I didn’t see that exhibition.
nuas, Alexandre Melo, commented that
I believe that drama always exists,
"wrongly", when I understood the mul-
conferred scale. In the case of the exhi-
process, and it has always been impor-
especially if we take drama in its widest
tiplicity of vanishing points and the
bition at the Ferme du Buisson Art
tant to me ever since I attended courses
sense, as a projection of whoever is look-
hierarchy of representation.
Centre, there was a rule of symmetry,
by the painter, Sá Nogueira, where I
ing, as the gaze of whoever is looking
Are you interested in unorthodox repre-
which was used but, at the same time,
learnt drawing as a code of practice for
projects a quality which can be dramatic.
sentation in your work? The example that
ignored. The paintings were symmetrical,
representation or in the sketchbooks of
I agree, in so far as this statement subtracts
springs to mind is your work is muro contra
they were done in front of a mirror, but
landscapes I do today.
from the space the symbolic character
muro (wall against wall), in which the spec-
later corrected, which is completely
Do you usually do sketches when you
which I have tried to avoid. I prefer my
tator is overpowered by a relationship to
different from mechanically inverting an
travel? This is a feature of various roman-
distance which is too close or intrusive.
picture to be free of this weight. I have
image. In Manuscrito Incompleto (Incom-
ticisms, from the precepts of Ruskin...
developed a series of works, however, in
There is in this work a component you
plete Manuscript), which was an exhi-
Curiously, in your work there is a frag-
which there is some interaction with a
don’t know about, the walls were not
bition at the Quadrum gallery, there was
mentary character which historically links
religious, profound, or mysterious feeling,
parallel. When I was installing and
an inversion of the rule of perspective,
you with these drawing processes, as
like an exhibition which I held in Dife-
placing the walls, I settled on a point, the
This, really, is one of my concerns. There
rença, alluding to the painting of Fra
correct point, that of the small cross on
is an exercise I suggest to my students at
This fragmentary character is reinforced
Angelico. There was a heavily, symbolic
the floor in churches so the columns can
Ar.Co, which is as follows: at the begin-
by the use of double line mechanisms, or by
character there, though the paintings
be seen in trompe l’oeil, and decided to
ning of the year I give them certain for-
the very casualness of the process, in the
were situated at a distance in time as
place the walls visually parallel, in-
mats which they have to follow. The fact
way in which I break the chromatic layer.
regards this present work.
creasing the space between them at one
that I give them this rule and afterwards
In your work you have been affected by
Is there a certain, dramatic expectation in
of the ends which logically caused a
see how they respond to it, is perhaps
certain issues and the work of specific
relation to the spectator?
funnel-effect when going in the opposite
another form of this same preoccupation
personalities. Piranesi is, I believe, a
I do, at least, have a specific interest in
direction, which doubly pleased me.
with the measurement of the process.
good example?
enchantment, asking why this is here, which
Perhaps I should have marked the cross
Does the fact that you use distorted
That’s true. I am interested by the char-
is a banality. Perhaps I sometimes construct
on the ground.
mechanisms, such as two lines, ambi-
acter of representation of the world as it
Helena de Freitas noted in a text...
my work so as to be one of its spectators.
Does this interest in the perceptive
dexter exercises, corruptions of symmetry,
is seen in the work of 18th century artists,
Has this anything to do with your interest
alteration of space, indicate an interest in
etc. have to do with the central idea of a
almost from the tourist angle. Buildings
in architecture, in the sense in which you
these non-canonical mechanisms of the
slight perceptive alteration and not with a
in ruins, crumbling, which Piranesi drew,
construct spaces which you are the first
construction of space?
structural perceptive?
were perhaps the first source of my
Well, in a way, when I am constructing a
The fact that we live surrounded by visual
fascination with his work. I also have an
What really interests me in representing
work, I define rules, canons, which have
information, makes me seek interstices
enormous fascination for romantic gardens,
space is, first of all, the way in which the
some value for me. I basically want these
where something might happen. This is a
English gardens. Why? Perhaps these
problem was dealt with before the 15th
rules to function as a measure in the
permanent, banal interrogation, but
environments fascinate me because of
century, when it was not in itself a
proper sense, to work as a relationship.
constant: is it possible to conceptualize
the atmosphere which they induce.
to inhabit?
subject. I am interested in the way in
It is curious how you refer to levels of
the making process? There are certain
In your work there is also a romantic
which space in cathedrals or Byzantine
representation,
situations which are important as refe-
temporality, in the same way as your
churches is represented, because of
problem of landscapes.
rences, as determinant factors in the way
relationship with Piranesi is not a rela-
which
is
a
classic
changes in architecture and non-standard
In the case of muro contra muro (wall
in which we see and do things. The
tionship through an intermediary but direct.
ideas as to the representation of space.
against wall), there was a rule of con-
practice of drawing is very symptomatic
There is no intent to appropriate in these
My first interest began with doing it
frontation of the walls which mutually
of this thinking, as regards the visual
dialogue situations, we are trying to find
227
an interstice. The issue is to represent an
and when I stop in the middle of doing a
look of Sousa Pinto’s drawings. Reading
Instituto José de Figueiredo, where they
image and, in fact, the works alluding to
work, I ask myself the reason for my
Walter Benjamin where he comments on
were being restored, that I saw these
works by Piranesi seek to see an image
stopping. We are super-informed, if there
the eye of the other which looks at us,
drawings which immediately appealed to
and represent it again. In the case of
are works which are stimulating, there
and his considerations about the aura of
me with their rigour, factuality and
Piranesi, besides the methodology of
are others which prevent me from going
an object has to do with this reflection of
precision, colour and ambience. There
representation of natural landscape, where
on, because the problem has already
feeling, a look which looks at us. We do
seemed to me to be a special vitality of
rules are established for the duration of
been solved. You might say, my attitude
not usually expect a drawing to look at
line and in the dry pastel treatment.
the sketch, the procedure, in an inverted
is rather scientific, in so far as I have to be
us. It is something which might happen,
I didn’t know these drawings and the
process, there is still the transfer to
informed and make the most of what is
or might not, or may never happen.
first impression I had was that they
etching. A drawing reproduced in a mirror,
happening in my universe of projects,
Proust said that involuntary memory is a
didn’t fit within their period. They were
as a framing and recording process. These
primarily because I believe that every-
chance reaction. We may discover the
done between 1911 and 1938. Now,
mediation mechanisms interest me.
thing done by my hand would not be
agent which sparks this memory, or we
1912 was the year when Duchamp
done in the same way by somebody else.
may never find it, and the involuntary
Another question associated to this, in
memory is never awakened. I don’t know
constructing and framing landscape. By
relation to this exhibition, is that of
if I have found it, but it fascinates me that
Lisbon, but he was a man who, in artistic
dioramas and panoramas, which, in reali-
distance. What we see at a certain
I might have found an object, a drawing
terms, lived in the middle of the 19th
ty, mark a transitional phase between
distance is quite different at a different
that looks at me. There are many
century. There is, however, a touch of
landscape painting and the cinema. Some
distance. That is, style is not a subject for
occasions when you look at a painting,
Fauvism in these drawings as regards the
panoramas have movement and smells
discussion. When an artist makes up his
one in which one is involved in a specific
colour and details of the composition.
which constitute a sort of substitution for
mind to change, what is he doing?
way, and this involvement has something
Was this lack of adjustment in relation to
the journey.
For some this is a problem, for others it
to do with you, with that which you are
his time important to you?
We always return to this idea that there
isn’t, therefore it isn’t a matter worth
giving back.
are mechanisms of perception which carry
discussion.
Sousa Pinto lived between Paris and
No, because we are seeing them from a
How did you deal with this involvement
distance in time which allows us to look
with the drawings by Sousa Pinto?
at them without a hegemonic idea of the
the spectator to altered universes. I am
Let’s talk for a moment about this
reminded of a text by Anton Ehrenzveig,
exhibition. Is there a difference between
It was a series of chances. I was offered
tendencies. Obviously this is not valid as
in which he says that the reduction of
one way of looking and the recollection
an opportunity to work with the col-
a recuperation of all late-Naturalism, but
Pollock’s work to a style has destroyed
of this way of looking. How is this
lection at the Museu do Chiado. My initial
these drawings interest me, I don’t know
applied to this exhibition?
idea was to do something related to
whether it is because of the luminous
game of form. Is the problem of style a
What fascinated me here was looking at a
sketch books, so I went to look at the
touch of the pastel which is a very
the possibility of seeing it ever again as a
228
produced Nude descending stairs.
Are you fascinated by optical devices? Yes, I am, and also by mechanisms for
question of disruptive mechanisms?
look. There is other work which I would
whole collection because I thought there
difficult technique... The fact that they are
Only in so far as style creates a system
like to do, and that is to draw what is
would be something of the kind there,
not in harmony with their time was not a
which cannot be viewed from outside. I
beyond the wall and behind the house in
notebooks with ideas and comments.
determining factor.
have considerably altered ways of doing
landscapes, places which I do not know,
However, there wasn’t, other than some
The first time you mentioned these
things, but there are situations which are
as if the landscape were part of some-
notebooks belonging to Columbano and
drawings to me you spoke of how
repetitive. This does not bother me as the
thing never to be known. I am dealing
Ramalho, but that wasn’t what I was
distance and proximity affects seeing
situations, when they happen, if they
here with another situation, which pre-
looking for. I then went on to look at
something, as if this change of distance
happen, are always different. I believe
supposes the existence of a window, it is
drawings. I looked at and photographed
was a metaphor of this other temporal
that everything has not yet been done,
this window, the window which is the
everything, but it was only in the
relocation which these drawings mirror.
No, I didn’t make that connection, but I
Colour also touches this same note...
this room is not a space with windows,
extraordinary encasing that I know. All
think it is interesting to make these
Yes, because I emphasized and used the
but is defined as an environment of
the paintings that I have done recently
points of contact. Speaking of the ma-
palette which was used by Sousa Pinto.
landscapes which intersect, repeat and
have obeyed this logic of installation.
terial itself used in the painting, the hand
This relationship also affects all the
fragment. The spectator is supposed to
However, as I always have this tendency
which did the work, I was interested in an
formal structure of the work: I took the
enter an ambience, and not project his
to fight against systemization, one of these
almost political way, to work with this
average of the dimensions of the drawings
mind outside it.
days I shall change something, as I have
material and in this field. In the final
by Sousa Pinto, I saw how many were
By the almost aggressive form of the
changed since 1988, which was the year
analysis, what is difficult is being reti-
vertical and how many were horizontal, I
profusion of works in a strictly limited
in which I reinitiated an inventory of forms,
nian, because if one tries to be aware of
set an average – for purely pragmatic mo-
space, you almost compel the spectator
and where the logic of representation
the visual processes which are used, a
tives and established the rule which is the
to form a relationship with your painting.
chosen was a large-sized, squared grid.
criticism of these processes has to be
basis of my work. However, as I wanted
Absolutely, the tendency of the spectator
Let’s go back almost to the first
constructed, which is also visual. Elimi-
to extend the size of the drawings I
is to move away until he can go no
question: is there is no personal narrative
nating, tout court, formalist and retinial
multiplied the dimensions of my work by
further, and has his back to the wall.
work as some critics have wished in
2, 3 or 4. I did not use the golden rule, I
recent years, only makes me want to be a
used the rule of Sousa Pinto, because it
pure formalist. The seduction of the eye,
made no sense to impose a rule that was
At the beginning I defined a rule, but the
always want the picture to extend beyond
no, seduction is not sufficiently strong...
not a consequence of the work which
rule didn’t work. I then decided to place the
them. These paintings are only one work,
was the basis for this exhibition. Besides,
pictures according to a cabinet d’amateur,
that I cannot imagine separate, on each
Yes, eminently visual processes, which
to tell the truth, I even checked to see
but in a gestalt form borrowed from
wall. Each painting goes beyond itself,
appeal to the eye.
whether the drawings of Sousa Pinto
Mondrian, for the idea of de-composition
each wall is one painting only, so the look
I’m in the habit of looking at a painting
were constructed according to the golden
of the landscape. Each set forms a cloud.
is not fixed. This is perhaps rather didactic,
from different distances. This may seem a
rule, but, as a matter of fact, they weren’t.
Chronologically, the process was as
but the fact is that the eye takes over
rather silly process, as between the 18th
This would have given me another axis
follows: knowing how much space there
control of the way in which we look at a
and 19th centuries there was a long
for my work.
Gerhard Richter called it impact...
only a spatial narrative?
How did you decide to distribute the
My major concern always ends up with
works on the various walls?
my discussing the edges of painting. I
is in the room, what is the size of the
picture. Reason invokes a discourse made
discussion about the right distance from
Are you playing with the various levels of
walls in relation to the space, how does
up of these fragments of vision. The picture
which to look at a picture. This is the
physical and mental distance that the
the size of the walls affect the space for
can be penetrated by invoking these very
essence of painting, that which has
spectator is going to construct, in the
the group of things to be placed on each.
details. It is not the general idea of a
always interested me. There is some very
way in which you relate your work with
In the end, the criteria was unplanned, or
painting which is important, but the
fine painting among Portuguese Naturalists,
your reference?
decided by just looking.
small stroke or line. What is important is
in the way they use brushstrokes, in the
Yes, though I always limit, in physical
You have followed various historic forms
subject. In this work, I wanted to think
terms, the distance that the spectator has
of representation in painting – capriccio,
about the way in which the background
in relation to the works, because they are
vedutà and now cabinet d’amateur. Why?
effects were created. These backgrounds
in a room which is within another room,
We have already talked about the
and brushstrokes made me wonder
which imposes limits, because I want to
fascination I have for studiolos, being
about a work with paint as a base on
play with two situations, as if each of
able to enter spaces which close in on
which a drawing might emerge which
these drawings were a window and
themselves. My model might be said to
obeyed the standards of reference of
would vanish because of the proximity of
be the studiolo of Francis I in the Palazzo
another drawing.
the other. Therefore, on the second plane,
Vecchio, in Florence, which is the most
the particular, the detail.
229
Life in the small space between things. Interview by João Sousa Cardoso in April 1999, published in nº 4 of the magazine desvio 256.
230
Calapez is a painter who paints. Paintings you
versity], where there were always police
Photography has been was very useful to
sant situations, disappeared. 1974 and 75
would hang on your walls; an artist who pro-
agents. Surveillance was very tight,
me, however, because I still do it to
were, on the other hand, years in which I
duces concrete objects for the contemplation
including a camera which was destroyed
record my things, my exhibitions.
did no studying at all at Técnico, I was
of the viewer. He is guided by an intimate,
on 26th April.
In the year of the revolution, I was doing
involved in too many other things with
individual and incessant dialogue with the qua-
I experienced these events when I was
some photography work, and giving
friends. We showed films in a small town
lity of his materials and stands for the currency
doing some photographic work. I was
lessons in the Sociedade Nacional de
(in central Portugal, between Tomar and
of an eminently poetic artistic project.
linked to the Sociedade Nacional de Belas
Belas Artes (because I’d done a course
Castelo Branco), we invited theatre groups
In his studio in the Graça district of Lisbon,
Artes [National Fine Arts Society] be-
there and people liked my work) and it
etc. All this meant a lot of organisation
we talked about his experiences in the
cause while I was at Técnico studying
was precisely this year that I met José
and connections with people, which
revolutionary period and the way he sees
Engineering, I was also taking a drawing
Ernesto de Sousa, although it was only
made it clear that there were a lot of
this agitation today. We tried, however, to
course with Sá Nogueira and Rocha de
when I had begun to get involved with
common interests.
focus our thinking on the career and work of
Sousa. It was, in fact, the revolution that
Cooperativa Diferença (as from 1979) that
25th April didn’t create a revolutionary
Pedro Calapez, outlining almost by chance,
changed my life: I spent a year doing
our relationship developed. So I was
consciousness in me, because I’d already
some of the principal lines of his artistic
cultural work (I’d never done overtly
never part of the demonstrations he
had it in Técnico as a student, before the
production over the last three decades.
political work before, apart from some
organised in the period, such as Alter-
Revolution. It acted as a solid structure to
anti-military posters supporting anti-
nativa Zero.
take full advantage of, but in a way that
What was your experience and partici-
-fascist groups in the district). That was
Bearing all this in mind, what were the de-
was perfectly natural in those years,
pation in works of art and architecture in
the same year I decided to give up
cisive factors in your option to leave Téc-
years of tremendous freedom, when it
the fervent, post-revolutionary artistic
Engineering and go to the Escola de Belas
nico and go to the Escola de Belas Artes?
was possible to do anything.
period, as a university student and pro-
Artes [School of Fine Arts], although I
In addition to this background to the
fessional photographer?
didn’t finish the Fine Arts course either.
revolution, 25th April definitively brought
Disorder, certainly, but extremely healthy
I think it would be better to go further
My photography work was, on the whole,
a tremendous relief. All the tension that
disorder. That’s the way my life has al-
back: I experienced the events before
survival work. I set up a studio with some
existed in Técnico, the spectre of having
ways been, with transitions that were
25th April. I was a student at Instituto
friends, but never with the idea of re-
to do military service (and be sent to the
never great leaps: I was studying Engi-
Superior Técnico [Lisbon’s Technical Uni-
search, simply trying to make a living.
Colonial War), together with other unplea-
neering, I became interested in photo-
Disorder.
graphy, drawing and painting, almost
Whilst still a student, you witnessed the
works have become framed by time: I
way. That was the starting point. There
without noticing, I got involved in other
introduction of the neo-avant-garde lan-
think there have been important expe-
were common interests, in terms of
areas that were more fulfilling and meant
guages in Portugal. 20 years later, how
riments carried out by Ana Hatherly,
quality (large series of works, big di-
that other things had to go. Later, I gave
do you see these movements in 70s
Noronha da Costa and Carneiro. The
mensions, long term, highly developed
up photography too, and focused on dra-
Portuguese art? Were they extremely
present, almost a memory – in which
projects), with a certain group of young
wing and painting.
naive, only justifiable through the context
everyone is free to use references as they
artists (Ana Léon, José Pedro Croft, Pedro
What we have, then, is a fluid career,
in which they originated and developed
see them – may be just as productive as
Cabrita Reis and me) which continued
without major ruptures. This, I feel, is
or were they experiments not only valid
unproductive. The rethinking of earlier mo-
some of the most characteristic features
clearly reflected in your work.
in their time but also, even today, able to
vements may not always bring a new
of the 70s, such as performance or sculp-
encapsulate a great creative potential?
attitude. I believe anything you do is work,
ture-installation. Various journalists then
A short time ago, I was invited by Universidade Autónoma to give a talk about my
I think there is a group of people who are
and that work always relates to every-
began to refer to us because the exhi-
work. I deliberately looked for connections
still working, and who produced very
thing that has gone before: art is only art
bitions were really...
between works from different times. It
interesting things at that time. In per-
to the extent that it relates to the History
gave me great satisfaction to find links
formance art, out of everything that I saw
of Art. The way in which individuals pick
Yes, really effective because they were
between pieces done at very different
(perhaps more in Lisbon, because in
up previous givens, transforming and deve-
well organised and had good catalogues.
times, although in terms of form there
Oporto I went to a lot of shows at the
loping them is the individual’s artistic act.
Even when there wasn’t much money
were significant disparities. The work I do
Espaço Lusitano, although this was in the
But when that work is merely producing
available for them, we always managed
today, when I do groups of small pain-
80s), the various works of great quality at
a little of what has already been said, I
to put catalogues together by photo-
tings – which doesn’t mean they are abs-
the Galeria Quadrum deserve a special
find it uninteresting and there’s no
copying and serigraphy, like the one for
tract, as they maintain a spatial connec-
mention, including pieces by some
shortage of people (both here and
the exhibition at the Galeria Metrópole
tion among themselves – there is a relation-
foreign artists. In that period, Ernesto de
abroad) whose works are nothing more
with Cabrita Reis and Rosa Carvalho, Ana
ship with the drawings I have done and do,
Sousa, João Vieira, Alberto Carneiro, Ana
than pastiches of pieces that are ten or
Léon and José Pedro Croft. Furthermore,
and both are ways of thinking about space.
Hatherly, Luís Noronha da Costa really
twenty years old.
a large mailing list was set up to publicise
I’m not interested in just choosing one of
experimented with situations that were
With the coming of the 80s, nevertheless,
the exhibition with the public we thought
them. Looking at my career, I think that
not limited to their time: they were in-
we witnessed a return to impulse pain-
should see it.
there is the sense of a meaning, a relation-
fluential and remain so today, as refe-
ting, to figuration, to the order of forms,
What kind of public? Only a specialised one?
ship between things can be understood.
rences in the History of Contemporary
the material excellence of the artistic
Specialised, potential collectors and that
A career can, however, be made up of rup-
Portuguese Art. If, for example, we think
object. You were one of the protagonists
whole group of people who became
tures. Philip Guston, for example, had a
of the Alternativa Zero exhibition, there
of the "return to order" movement in
interested in the plastic arts in the 80s.
more complete Abstract Expressionist
were many things in Ernesto de Sousa’s
Portuguese art.
From 84 up until the end of the decade
phase and, later, that representation phase
festa that have not stood the test of time.
I would say there was, above all, a group
and the beginning of the 90s, there were
linked to comic strips. Nonetheless, it
At the moment, I think there is an
of people who weren’t concerned in the
newspapers that systematically appeared
couldn’t be said his works are not related
attempt to create a parallel between
least about critical opinion. Compared to
with reviews: João Miguel Fernandes
to each other. Baselitz at a certain point
what happened in the 70s and some
previous years, there was greater rela-
Jorge wrote for A Capital. Sete and
in his career, and for other reasons,
groups of 90s artists. I don’t want to
xation in creating theoretical foundations
Expresso also had their columns, as did
turned his figures upside down. These
appear conservative, but I think that they
for what you were doing. What mattered
Jornal de Letras. There was a great desire
options, of a more formal character, are
only constitute a simple décalage. This
was to exhibit what you did in the best
to write about art, quite different from
down to individual choice, there are no rules.
has nothing to do with the fact that older
possible way, in the most interesting
the situation today. Newspaper column
...Effective?
231
232
space for art criticism is getting smaller
kind of audience?" Artists can depart
with what was going on abroad. I re-
The incorporation of optical disturbances
all the time and the texts end up being
from their working premises to use a
member going, in 72 or 73, to see an
in your painting is linked to your photo-
pretty repetitive. This could be because
more fashionable technique. In my case,
exhibition by Joseph Kosuth in Paris.
graphic experience. Might this not also
of editorial policy, of course, because it’s
changes are made within the logic of
Obviously, all these things stay with us
lead you to the video-image?
thought that readers are no longer so
looking for results in my work. If I did an
and build, at an unconscious level, a
Yes, possibly. But it was those who have
interested in art. Despite this reduction in
installation with Ana Léon in 82, the
memory. I tried to keep up through rea-
written recently about my work, parti-
the offer, however, there is still a public
painting I presented in 86 at Diferença
ding as widely as possible. I also tried to
cularly after the 94/95 series of works (in
interested in what’s going on culturally.
(Palavras Seladas) is connected to the
balance this "view of magazines" with
which I first drew with my left hand and
When we – Ana Léon, Rui Sanches, Rosa
environment of that installation: Le
trips abroad, because you can only be
then repeated the drawing with my right),
Carvalho, Cabrita Reis and I – opened the
Travail du Peintre has a spectacular side
aware of artistic material by seeing the
who began referring to it in terms of
exhibition Arquipélago at the Sociedade
to it, everything is related to a special
object itself, ‘live’. Of course, we aren’t
video-image (the question of the screen
Nacional de Belas Artes (1985), there were
concern for how works are presented.
Paris or Cologne. We’re a long way from
had already come up) but I have never
hundreds of people in the room, some-
The spectator’s relationship with the
everything and that presence of art ma-
associated these attitudes with video and
thing that you don’t see at openings today.
work has always been an area of interest
gazines is the only reference point some
photography. There’s certainly an aware-
During the 80s, however, there was a
and research in my career.
artists have and the temptation to work
ness of a space closely linked to photo-
much greater audience for the arts
In this sense, the attention given once
according to what appears there is great.
graphy. I believe in the space of the look
which, today, has diminished.
again to drawing and painting in the 80s,
And what about you? What magazines
which I think is fundamental, today, for
Yes, the public has withdrawn. The work
coincided with what I was doing but this
and visits abroad have most influenced
the artist. Art depends on the reading of
I do is work I have to do. I’m not going to
doesn’t trouble me. The point is that
your career?
minimum spaces, reading spaces that are
change it because of audience reaction.
there are more things that touch me,
I’ve always been fascinated by video. As
unimagined because they are between
Nevertheless, I’m in no doubt that the si-
than the fact that I touch things. There is,
an art student, I did some pieces that used
things, undefined, obscure zones that
tuation has changed. Even between Lisbon
from this perspective, a parallelism with
video and I really enjoyed seeing the early
allow us to develop the work of painting.
and Oporto, there’s a significant difference,
what could be perfectly established
work of Nam June Paik, Dan Graham and
I have been seeking small stratagems
with Oporto being far more dynamic.
between my practice and the context in
James Coleman, as well as pieces by the
that are to do with trying to find this zone
Tell me more about your relationship
which it develops, more than me acco-
now extremely well-known Bill Viola and
"between". The other day, I was talking
with the general public and the way you
mmodating myself to a practice. I don’t
Gary Hill. Despite this, I’ve never done
about a work of mine called janela aberta
see your fellow artists’ relationship with
think my work shows that.
much video work. This doesn’t mean I
/ open window and was asked if it was
this public.
The generation I belong to is a generation
won’t in the future. Above all, you have to
looking out or looking in. I said "in and
Like me, the other artists who appeared
that is not abroad, like the 70s generation
have a very open attitude: there are things
out at the same time", as if it was the
on the artistic scene in the 80s developed
(Sá Nogueira was in England, Eduardo
that only with time are shown to be very
meeting of impossible states of visual
their line of work without thinking "now
Batarda too). We decided to work in
bad or uninteresting. It’s fundamental to
consciousness which can intervene in a
we’re going to do photography" or "now
Portugal but travel as much as possible.
see the broadest possible range of artistic
way of looking that manages again to be
we’re going to do painting because it’s
I’ve always tried to keep abreast of ideas
manifestations, and you have to go well
poetic and profound: the drawings I do,
the best received medium". There are
abroad through specialist magazines.
beyond the scope of the plastic arts and
for example, with the left hand and then
people who think like this, and the
One of the first magazines I bought was
come into contact with other disciplines.
repeat with the right, in search of
attitude can even be seen from a positive
the Art Vivant (when it was run by Jean
For instance, there are various artists
symmetry – which is a concept born over
perspective. This attitude can be a guide
Clair) dedicated to the 1972 Documenta
(Julião Sarmento is an example) who work
fifteen hundred years ago – are a sign of
in terms of "how can I reach a certain
Kassel: it was one of my first contacts
on the idea of cinema.
this search.
Some compare the image of certain
tings in which the senses are still called
On the subject of freedom, a fulcral mo-
mória involuntária / involuntary memory
paintings to the image of video games.
upon in a complete way, not only in terms
ment in your career was, it seems to me,
exhibition at Museu do Chiado: the memory
Does all that arrhythmia, all that fervent
of sound but also visually. That relation-
the campo de sombras / field of shadows
you can have of any object. How that object
movement and undefined image refer to
ship with the spectator is very carefully
exhibition at the Fundación Pilar y Juan
could be the starting point for something
a great awareness (and willingness to
approached and it’s an aspect that inte-
Miró a Mallorca. There seemed to be a
and how those memories could develop.
think) of the world of images nowadays,
rests me, more than the projection of the
clear change in the approach to painting,
On the studio wall, Miró had stuck news-
or is it only a consequence of living in
video itself. I wouldn’t rule out making a
in the opening up of new perspectives on
paper cuttings and bits of images that he
their midst?
video, but I think there’s a lot of work to
the problematics of your work. Referring
had found and I did drawings based on
I think it’s a consequence. My texts about
do in the field of temporal relations
to this in particular, Alexandre Melo con-
what was there. The interesting thing is
my exhibitions are written at the mo-
(hence the crucial importance of editing,
siders that "the first of Miró’s teachings
that Miró had also done drawings based
ment I’m working or shortly afterwards.
in cinema and video, and I think many
learnt by Calapez was the learning of
on the images. My point of contact was
Never before. At times, I use quotations
video-artists are unsuccessful because
freedom that allowed him to abdicate
not, therefore, Miró’s work, but the fact
I’ve found in poetry, some text, because it
they don’t know anything about editing).
from any determined formal or thematic
that we’d had the same starting point. I
rounds off a text that interests me.
If I think about doing something in video,
criteria in selecting the departure points for a
tried using these impressions as if Miró’s
The concepts that have been underlying
I’m going to spend some time getting
series of works." Freedom, then. Do you feel
memory had come to trouble me – or not
my work are those I’ve referred to, linked
comfortable with the technique. I always
you achieved that with campo de sombras?
– when I had been doing my drawings.
to the comprehension of the space that
get right inside a work; I really have
In that, the freedom was total, I could do
There is this poetic side, reflected in the
surrounds us. How do I relate to my su-
trouble using assistants. I do everything,
whatever I wanted. But I wanted to main-
two series stuck on walls, one in front of
rroundings? In what space am I living?
from the beginning right up to the end. It
tain a relationship with Miró. I liked
the other (muro 1 and muro 2). I worked
How do I represent that setting? What
has to be me doing it! Perhaps it would
certain of his periods; his final phase
on a symmetrical presentation, or rather,
setting that I am offering there can repre-
be the same with a video.
interested me considerably less. There
the arrangement of the images is re-
sent my piece, make my show? That crea-
The only work I can contrast with pain-
are groups of works I consider important
peated from one wall to another. It’s a
tion of spaces, of developments has led
ting is set design. I haven’t done any
and others I find very uninteresting, in-
work that also refers to a series produced
me, since 82, with Azulvermelho (a space
theatre work lately; I find it exhausting. I
consequential and unattractive. I visited
between 94 and 97, in which I contrast
totally occupied by the painting which
have to dedicate myself to it completely;
the Pilar and Juan Miró Foundation, a
groups of works that lead the spectator
the spectator is invited to enter) to com-
I can’t paint when I’m doing it. I’ve
foundation created by Miró and his wife
to create some links between what you
pare these environments with a studiolo,
worked with João Perry and Nuno Vieira
at the end of the artist’s life, which in-
see from one side and what you see from
a cabinet d’amateur. They are spatial repre-
de Almeida. With Nuno, so that the staging
cludes an area with Miró’s studios. I
the opposite.
sentation devices that I find interesting.
wouldn’t be very complicated (they were
visited two spaces and there was a
And there are some difficulties in this
The video machine has introduced many
shows with only one actor on stage), the
situation that immediately touched me: a
perception for spectators, in distancing
other elements of a time that is not lived
register of the set design was found
small chair in the corner of a room, where
and managing to include the whole work
or that is being lived through the vision of
quickly. The last theatrical experience I
he would sit reading poetry. There was a
the video. There are, of course, artists that
had was at Teatro da Trindade, A Disputa,
hole in the wall, where Miró projected
Right, at the Miró Foundation, it wasn’t
use video with painting time. My liking
with João Perry, where the design was a
shadows on the wall: I had an impressive
possible to see both walls at the same
for Bill Viola comes from that, from some
constant source of argument. Set design,
image of Miró before me. This could be a
time. Or, at least, it could only be done
of his video-installations that work as
in fact, doesn’t remotely give you the
starting point. Later, I found the concept I
with difficulty, like on a tennis court: you
developments of images that are authentic
kind of freedom you’ve got in the studio.
wanted to develop – a concept concern-
either look at one side or the other. The
ing an issue I’d touched on in the me-
arrangement of the paintings was the
paintings with movement. They are pain-
in their visual field.
233
234
same, but no drawing was repeated, some
It freed me to have to decide between
and again: if you want to draw, draw, if
that, perhaps, is connected to my me-
of the wood paintings were absolutely
"Am I only going to do painting with dra-
you want to sleep, sleep, if you want to
mories and training. My mother loved
abstract, the play of form and colour related
wing on top?" or "Am I going to do more
read, read etc.), I did it in a very relaxed
reading poetry and was always sugges-
clearly with the coloured environment of
abstract paintings?" I said to myself: "No!
way, which actually opened up paths to
ting texts for me to read. That experience
Majorca itself. Melo also talks about this
I’m going to do both because both involve
other things, other projects.
didn’t bring a literary reference to the
aspect: O Sol de Maiorca / The Majorca Sun.
what concerns me!"
Despite the continuity in your career
work of painting, but generates a refe-
Indeed, that exhibition is an explosion in
In my exhibition last year, in Witten,
there have been some moments which,
rence in the visual work, a development
terms of using colour. In my last exhi-
Germany, I exhibited drawings and pain-
whilst not being ruptures, were turning
that functions as a kind of search for the
bition in Bonn, I exhibited one of these
tings. This year, in Bonn, I’m going to do
points in your work.
aura that the objects might still have.
works from the Miró Foundation on one
the same. The same will apply to the
wall and on the other, a work from the Museu do Chiado. This was a deliberate
Making a quick retrospective; in 1982
Nonetheless, I don’t believe in the "end of
exhibition at Galeria Presença. Everyone
there was the exhibition with Ana Léon,
aura" as a natural process in the "end of
has to give himself the freedom to present
which was linked to my leaving the
art". I believe that it is still possible to live
attempt to understand in space how they
the registers thought necessary for the
Escola Superior de Belas Artes. Another
among the objects I make. Neither I nor
related with each other. And, with memória
logic of a construction. However, returning
moment would be 84, when I became
my objects have a mission.
involuntária and the campo de sombras,
to the question of places, if you go back
aware of drawings that turned into
I talk a lot about the spectator, but pro-
there is a similar structure, but they are,
five years, what made me decide to begin
paintings. They were the first drawings
bably, I’m the spectator. Or I’m the first,
in fact, very different. Something had
the series ramos cérebros, folhas tubagens,
and paintings on wood. In 87, I returned
and it’s only afterwards I see how the
changed in the tonal relation and the play
circuitos / brain branches, leaf tubes, circuits
to these drawings on canvas and Le
other spectators are and how they
of colours. Alexandre Melo realised this.
and later the series Cidades Contínuas /
travail du peintre appeared. The trip to
function. But I’m always trying to find
In spite of also using reasonably thick,
Continuous Cities has a lot to do with
Ireland and, later Campo de Sombras at
me, in these short distances between
differently coloured wooden rectangles,
lines: a delicate white line that appears
the Miró Foundation were, undoubtedly,
each painting I do. Maybe what I produce
the Chiado works are much more tonal,
on a black background. It was my stay in
turning points. Perhaps there were other
when painting aren’t the paintings I do,
more pastel due perhaps to my initial
Ireland, where I sat in the clearings of
moments. But these, certainly, were to
but the space between two lines, the
reference point, the pictures of Sousa
woods, watching the sun set between
do with changes in my work.
space between two thicknesses.
Pinto. The use of vibrant backgrounds has,
the trees. The development of a new envi-
All your work has, on the other hand, an
You work (and ask the spectator to think)
I think, to do with my stay in Majorca.
ronment helped me create a new phase in
unsayable dimension, a permanent search
in terms of attention to detail. In memó-
The search for freedom is a constant in
my work. After the objects and the His-
for the sublime, a project based on a
ria involuntária, for example, you take de-
your work - in a text, it’s enough to say
tórias dos objectos (for which I won the
logic of re-establishment and salvation.
tails from a Sousa Pinto painting and deve-
there are only two key words: "stop" and
Latin Union Prize and was the theme of
Would you say your painting was reco-
lop them through a new pictorial language.
"recommence", let the movement of the
an exhibition at the Gulbenkian), a way of
vering a magical/mystical dimension of
The fragmentations I make, in a "wall
hand flow. In Majorca, we have such a
working came to an end as if the weight
the aesthetic experience?
painting" rhythm, brick by brick, in diffe-
vibrant array of colours before us that the
of objects had ended up leading me into
I would rather say a poetic dimension. I
rent sizes, relate to the idea of us always
step seems to have been taken to
something completely different and
believe that it’s in the unsayable, in the
seeing details. And, in fact, when I see a
achieve complete freedom.
austere: black planes with white lines.
small space between the things we
picture, I go through it detail by detail,
Complete freedom? I think we only achieve
On the other hand there was, in this
know, that there are still moments in
which gives me particular enjoyment.
that when we die.
period, a cut in time in which in spite of
which we can live. That search for a living
There are pictures I can’t remember as
There was a passage to another stage; a
drawing all the time (in a month when I
space takes place on the side of the
wholes, but only as details. This "seeing
new freedom was exalted.
lived in a way that we have to every now
unattainable, of the unsayable. It’s a search
details" dimension is, certainly, materia-
lised in some of these more recent works.
into something else. I’m not very inte-
They are made in bits as if the look was
rested in merely descriptive work. There
leaping. In fact, I force the look to jump
are artists doing ecological and ethno-
around in the compositions I do. I don’t
graphic work, but we end up reading
accept that each one of the pictures can
more about the works than attending to
function alone. Alone, they are banal! My
what they are in themselves. I believe
work is based on the relations between
works are to see and physically expe-
the pictures.
rience. There have been others, however,
You could say then that the attention
that were made so that their descriptions
given and demanded to detail calls for an
were read. When the intention to be poli-
individual and intimate experience of a
tical or support a cause becomes more
work of art from the spectator, an
important than the work itself, generally,
attitude that already exists in the
the work becomes uninteresting. I think
moment in which you give it form?
it’s possible to talk of the person, the indi-
That’s my choice. Developing the work
vidual, society in any type of work, of
and doing it based on a logic where one
different ways and different situations. In
thing brings out another. There’s almost a
art, there is living and looking: nothing
process of total forgetfulness, when I
can replace them.
change from one group to another. And,
So, despite Neo-Situationism being one
at times, this makes itself felt in such a
of the pillars of 90s art, you clearly dis-
way that I put the previous group beside
tance yourself from it because your work
what I’m painting at the moment and try to copy it, but the result is completely
is essentially poetic. Of course. I’m completely separate from it.
different! The uncanny and challenging feeling that the finished work has is marvellous, asking to do other things. The work is a closed circuit, but one that is always irradiating other works. These are my concerns and I think that art is to be found there. I also think that it involves many other things. It’s a characteristic of our time; we have this notion of diversity. I wouldn’t ostracise an artist like Hans Hacke, for example, who produces surprising work. Nonetheless, works following a highly intense political or sociological line lose the field of poetic individual experience and, generally, turn
235
On a sunny, cloudy day. Transcription of a conversation-interview conducted on Sylt Island, in July 2003, during an artists’ residence organised by the Sylt Quelle Kunst Raum.
ther it’s art or not, perhaps I’m not inte-
makes a break, rejecting the rules of the
I would even say passion, which turns
rested in knowing. I make paintings, ob-
"democracy" in which we live today.
into an obsession. I don’t know why I do
What is that that is not art? Or: what is
jects. I make them firstly for me. I make
Therefore, the solution is to be aware of
what I do. I wasn’t particularly talented as
that that is not art anymore? Do you
them because I like to. I make them because
what we’re involved in and what we’re
a youngster – in fact, I drew like any normal
have to have a special talent? Love or
I want to reveal the small things I observe.
negotiating. So in relation to the "love or
child when I was small. I only studied
money? What is important today? Why
I get enthusiastic about the small things I
money" question, I would say that they
drawing and painting at university, when
do I buy? Do I sell the art I make? Is it
see in nature or about a drop of paint falling
are both inevitable. Concerning "what is
I discovered that I was interested in the
a trade? Where or when does art end?
on a piece of paper, and if it happens I am
important today", my answer is that
way I looked at certain things and that I
asked about what I do, I say that I am ma-
everyone can think, can know, whether
loved to memorise my surroundings. This
Art is something about which you can
king art. I don’t know how it is with others,
they’re artists or not, how to relate to
obsession pushed me into doing what I
sometimes have strange doubts. You
in truth it’s society that is constantly defi-
others, how to understand the things
had to do: paint and draw.
have doubts about what it is; you might
ning what art is and isn’t, but artists don’t
that constitute life. Art is always present
not even know what it is. In reality, any-
need others to legitimise their work.
because it is connected to a more pro-
My work neither explains nor solves
thing can be art, it depends on our attitude
Artists decide because they are the ones
found way of life.
society’s needs and problems, and I think
or how we stand as regards certain
doing it, and doing it for themselves.
As regards "love or money", I said both
works that try to carry out such a role,
objects or doing certain things.
Everything else to do with art and the art
earlier. It’s no longer possible to survive
explicitly dealing with the contradictions
I think it is necessary to have a special
market is the result of us living in a
without both of them. Of course, we can
of society are often visually weak. Visual
talent; not in the sense of something that
society. We could say that the system, in
imagine living with the minimum, on the
force is very important in my painting,
only a few possess but something that
itself, is dominant. Artists are part of it
poverty line, but that will always bring
because it takes me into another world,
could be awake in each one of us and that
and only with difficulty can they deter-
dependence on something or someone,
where I can better understand myself.
begins with the realisation that we have
mine the value of the objects they sell or
on charity, on society. Love undoubtedly
This also happens when I read certain
capacities that allow us to feel and under-
how they are commercialised. We live in
arises in relation to others, also depending
poems or see particular works of art. This
stand, on different levels, the small things
a society based on consumption and it
on the way each person builds in the
doesn’t mean I’m only interested in the
we do or see and that are all around us. I
seems impossible to me to live outside
world around them. From the artist’s point
eminently expressive character of art. I’m
make "works", maybe I don’t know whe-
this system or oppose it – unless one
of view, art comes from a profound love,
aiming to reach a view that makes me
On a sunny, cloudy day, I was asked
236
feel and also understand the things I make.
stand, the only thing to do is discuss,
creased production and a greater number
there are always middle men between
One of art’s objectives has always been,
reflect and consider that perhaps it does
of exhibitions. I don’t think I’ll ever work
me and my work, and those who see it.
through representation, through drawing,
fit within the parameters of art.
gratuitously.
This communication is not simple and if,
to find Nature: to understand and reveal
Why do I buy things? As I’ve already said,
it to others and ourselves. Through dra-
I think we live in a society whose rules
The most important thing for me is the
nuous formula: make-sell-have money-
wing, painting and, later, photography
are buy and sell, and the engine driving
possibility of doing what I like, having the
survive-make love, the fact is that it isn’t
and video, the aim is to take something
this society is how you negotiate. Objects
possibility of looking at and understan-
so easy to separate these words effectively.
from what surrounds us for ourselves.
are valued and, put simply, we could say
ding my relationship with myself and others.
I have to be able to get something for my-
But this appropriation of the other, of that
that this watercolour is worth two oran-
Having talent is not a gift whose origin is
self from what I do. For example, when I
which is outside us, is a capacity we all
ges. I mean, the idea of value has always
incomprehensible and subjective. We should
am looking at a painting, or reading, I’m
have. We just have to put it into action.
been present, based on the way each
all have the chance of developing the ca-
like a selective robber: I steal what inte-
We don’t need to be painters or writers.
person sees the need to trade an asset.
pacity of expressing ourselves, using the
rests me so I can use it later, in some way,
It’s just a question of talking, talking to
We may not want to fill our heads with
means we consider most appropriate. I
in my work. Painting is linked to history,
each other. This is the talent that awa-
this type of consideration and not nego-
think that each of us has a talent; it’s just
linked to tradition. It has a special rela-
kens our capacity not to remain secluded
tiate, not "go shopping", as it’s natural to
a question of putting it in practice.
tionship with recent and past events, with
from the world around us.
think that the aim of human beings
Where does art end? What stops being art?
memory, and it’s in that relationship that
Where does art end? I think art doesn’t
should be something else, something
For me, art ends when I die: my art and the
I’m trying to find my way.
end. From the moment in which it’s alive,
more than negotiating and trading objects.
art of others who have really involved me,
thinking, expressing concepts or feelings,
I have to say that my aim has always
moved me; or all that I’ve worked against.
whatever means it uses to do so, there
been to manage to live from the sales of
Art and buying? Why do I buy things? I buy
can be no ending; or only because we die.
my paintings and drawings. For some
because I need. I don’t know if I buy every-
This is why it doesn’t seem possible for
time, I taught at an art school and did
thing I might need. For example: I came to
me to stop doing what I do.
commercial photography to earn a living.
work here and I bought paper, good paper.
What isn’t art anymore? This is a ques-
Although this was a creative profession,
I bought good paper because I want my
tion from the last century, and the answer
it didn’t leave me enough time to do what
paintings to last, because there’s this no-
in ours is "everyone will do what they
I really wanted. I, therefore, started to try
tion of time. I want my work to resist, as
have to do". Anything that can be seen in
and find ways of cutting down on my
best it can, the passage of time, so that it
artistic manifestations today, whether it’s
teaching and photographic work, so as to
has the chance of passing on from my me-
dance, theatre, exhibitions or installa-
develop as a painter. I still had enough
mory to the memory of others. I believe that
tions shows that its protagonists are in a
money to pay for my studio, buy mate-
even something ephemeral, like a dance mo-
dialogue with life, sometimes doing so in
rials and live. I’m part of the system and
vement that can never be repeated, conti-
an incredible, glorious manner, so we
if one day I stop selling, I will start again
nues through memory. This is why I am so
should approach what we are given to
from scratch. If need be, I’ll do other things
careful about the supports and paints I use.
see in the spirit of openness. Being pre-
until I can once again dedicate myself
Love or money? There’s no antagonism
pared to understand and accept the other
exclusively to painting. In the meantime,
here, it isn’t a dichotomy. It’s difficult not
and what is different in the other is fun-
I manage to control my work, doing what
to have "love for money" in our society. In
damental in life, and when something is
I want to do and not what the market
the world of art, this easily creates pres-
so unexpected that that we don’t under-
imposes, which sometimes demands in-
sure: there are too many business men;
on the one hand, there could be this inge-
237
CURRÍCULO CURRICULUM
PEDRO CALAPEZ, Lisboa, 1953. Vive e trabalha em Lisboa. Começou a participar em exposições nos anos 70, tendo realizado a sua primeira individual em 1982. Lives and works in Lisbon. He first took part in exhibitions in the 70s, and held his first solo show in 1982.
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
2003
2002
2000
1998
Lugares, Galeria SCQ,
Limites,
Invenciones,
Santiago de Compostela.
Galeria Bores & Mallo,
Colegio Oficial de Arquitectos
Cáceres (cat).
de Extremadura, Badajoz.
Galeria Max Estrella,
As casas surgem de repente
Del otro lado-en el otro lado,
Madrid (cat).
iluminadas por dentro,
Galeria Bores & Mallo,
Galeria Luís Serpa, Lisboa.
Caceres (cat).
Pinturas sobre papel,
La ventana abierta,
Biblioteca Municipal
Galeria Gianni Giacobbi,
Calouste Gulbenkian,
Palma de Mallorca.
1997
SOLO EXHIBITIONS
Lugar del que los ojos acuden,
Madre agua,
Ponte de Sôr (cat).
MEIAC, Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte
Escenas domésticas,
1999
Contemporáneo, Badajoz e
De um lado para o outro,
Pormenores, Galeria Presença, Porto (cat).
Galeria Marisa Marimón, Orense (cat).
Centro Andaluz de Arte
Jardim suspenso,
Contemporáneo, Sevilha
Galeria Presença, Porto.
(cat).
Studiolo, INTERVAL - Raum fur
Galeria Presença, Porto.
Kunst & Kultur, Witten, Undisclosed Landscape,
Alemanha (cat).
Galeria Seippel, Colónia. A través de la ventana, Dentro,
Galeria Luis Adelantado,
Galeria Bores & Mallo,
Valencia (cat).
Lisboa.
2001
Studiolo,
De dentro e de fora,
Seippel Gallery,
Galeria Porta 33, Funchal.
Colónia (cat). CAMPO, Galeria Presença, Porto.
campo de sombras, Fundació Pilar i Joan Miró
Entre Vista,
a Mallorca (cat).
Palácio dos Capitães Generais, Açores (cat).
Galeria J.M.G.Alves,
No repouso dos seus dedos, Galeria AH – Arte Contem-
Jardins,
porânea, Viseu (cat).
Galeria Évora Arte, Évora (cat).
240
Pintura, Guimarães. campo de sombras
Abstract landscape,
(nova montagem), Galeria
Kunst: Raum Sylt-Quelle,
Luís Serpa, Lisboa (cat).
Rantum/Sylt.
1996
1993
1991
1990
1986
memória involuntária,
Petit jardin et paysage,
Estranhas figuras,
Passagens,
Manuscrito incompleto,
Museu do Chiado,
instalação,
Convento dos Capuchos,
instalação no Convento
Galeria Quadrum, Lisboa.
Lisboa (cat).
Capela Salpêtriére,
Caparica (cat).
de S. Francisco, Beja (cat).
Paris (cat).
1994
1982
Pintura, Histórias de objectos,
As Ruínas Circulares,
Museu de Tavares Proença
Cidades contínuas,
Casa de la Cittá, Roma;
Galeria Atlântica,
Júnior, Castelo Branco (cat).
Paço Imperial, Rio de
Carré des Arts, Paris;
Porto (cat).
Janeiro e Centro Cultural
Fundação C. Gulbenkian,
de S. Paulo (cat).
Lisboa (cat).
1992
1985 1989 Grafites,
As Palavras Seladas,
Azulvermelho,
Galeria Diferença, Lisboa.
instalação c/ Ana Léon, Galeria Diferença, Lisboa.
Galeria Alda Cortez, Lisboa (cat).
12 pedaços,
Trabalhos sobre papel, Galeria Alfarroba, Cascais
Galeria Trem, Faro (cat). ramos cérebros/folhas
Centro de Arte Moderna
tubagens/circuitos,
Fundação C.Gulbenkian,
Galeria Cómicos-Luis
Lisboa (cat).
Serpa, Lisboa (cat).
Desenhos a grafite, S.N.B.A., Lisboa (cat).
Desenhos sobre madeira,
1984 Pintura sobre madeira, Sociedade Nacional de
muro contra muro,
1987
Belas Artes, Lisboa (cat).
instalação, Galeria Luís Serpa, Lisboa.
Le Travail du Peintre,
Pintura e desenho
Desenhos de Objectos,
Galeria EMI-Valentim
sobre papel,
Interiores,
Galeria Florence Arnaud,
de Carvalho, Lisboa.
Galeria Alfarroba, Cascais.
Galeria J. M. Gomes Alves,
Paris.
Guimarães. Trabalhos sobre papel, Galeria Diferença, Lisboa.
241
EXPOSIÇÕES COLECTIVAS
2004
2002
2001
2000
1999
Meio Século de
100 anos – 100 artistas,
Silent Life,
O Eterno Efêmero,
Linhas de Sombra,
Arte Portuguesa,
S.N.B.A., Lisboa.
Convento dos Capuchos,
Convento dos Capuchos,
C.A.M.J.A.P. / Fundação
Caparica.
Caparica.
Calouste Gulbenkian,
GROUP EXHIBITIONS
Museu do Chiado, Lisboa.
Lisboa.
Accrochage 03/02, On drawing,
Galeria Luís Serpa
Citações/Situações,
Artistas portugueses na
Galeria Cristina Guerra,
Projectos, Lisboa.
Galeria do Palácio de
Col. do MEIAC,
Cristal, Porto.
Centro Cultural de Cascais.
Lisboa. Salon Européen de Jeunes Alguns Fragmentos do
Createurs,
Modos afirmativos e
Cinco artistas,
Universo: Escala de Cores,
Montrouge, Amarante e
declinações,
Galeria Miguel Marcos,
Centro Cultural de Lagos.
Sant Cugat.
Museu de Évora.
Zaragoza.
Alguns Fragmentos do
Caravelas, Art et Littérature
Colecção Banco Privado
Drawing to attention,
Universo (cont. 7),
du Portugal Aujourd’hui,
para Serralves, Museu de
Kloster Bentlage, Rheine.
Museu de Francisco
L’Atelier, Centre d’art et
Serralves, Porto.
Tavares Proença Júnior,
d’Echanges Culturels de
Castelo Branco.
Pignans.
2003
A Arte Contemporânea
Tage Der Dunkelheit Und Joías: Paula Crespo, Pedro
Des Lichts (Dias de escuro
Al Quimias,
Calapez, Pedro Portugal,
e de luz),
Centro Cultural Emmerico
Galeria Reverso, Lisboa.
Kunstmuseum Bonn.
Nunes, Sines.
Portuguesa na colecção de
Colecção António Cachola-
Alguns fragmentos
Manuel Baptista,
Arte Portuguesa dos anos
do Universo,
Museu Municipal de Faro.
80-90, MEIAC, Badajoz.
Centro Cultural Emmerico Nunes, Sines. Et puis voilá,
Os quatro elementos, Casa Municipal de Cultura
Dez Anos,
de Cantanhede.
Galeria J.Gomes Alves, Guimarães.
Galeria António Henriques, Contemporary Art
Argumentos de futuro,
from Portugal,
Caja San Fernando,
Colecção Caixa Geral de
European Central Bank,
Sevilha; Fundación ICO
Depósitos,
Frankfurt am Main.
(Instituto Crédito Oficial)
Viseu.
Madrid.
MEIAC, Badajoz. Sedimentación/Ornamento Exposição Comemorativa
/Bricolage/Parodia,
de Guimarães,
Casa Díaz Cassou, Murcia.
Guimarães.
242
EDP.ARTE, Museu de Serralves, Porto. Fundação António Prates, um projecto para Ponte de Sôr, MEIAC, Badajoz.
1998
1993
1991
1988
1987
Arte Portugués desde 1960,
Tradición, Vangarda e
A secreta vida das imagens,
Portuguese Painting from
Arte Portuguesa,
Amadeores,
Fundación Pedro Barrié de
modernidade do século XX
Galeria Atlântica, Lisboa.
the last three decades,
Moscovo.
C.A.M.J.A.P. / Fundação
la Maza, A Coruña.
Portugués,
Pinacoteca Museum,
Auditorio de Galicia,
Atenas.
Calouste Gulbenkian, Lisboa. Artistas portugueses na Bienal de S. Paulo,
Arte Contemporáneo
Galeria EMI-VC, Lisboa.
Portugués,
1996
Santiago de Compostela.
Mo(nu)mentos,
Ilegítimos,
das Finanças,
Galeria Luís Serpa
Galeria Artefacto 3, Lisboa.
Lisboa.
1992
Lisbonne aujourd'hui,
Secretaria de Estado
Artistas portugueses,
21ª Bienal de S.Paulo.
Museu de Toulon.
da Cultura, Lisboa.
Palácio Anjos, Algés.
1990
Zeitgenössische
Exposição Amadeo de
Arte Portuguesa –
Bicentenário do Ministério
Ecos de la materia, Nova pintura e nova escultura portuguesa,
1995
portugiesische Maler,
Sousa Cardoso,
Operação Ensino Árvore,
London Art Fair
Bayerichen Landesbank,
Museu de Serralves, Porto.
Entrepôt Lainé, Bordéus.
(Galeria Atlântica), Londres.
München.
Casa Garden, Macau.
Ver pelo desenho,
4 artistas portugueses,
Casa da Cerca, Almada.
Ho Gallery, Hong Kong.
40e Salon de Montrouge,
Accrochage 02/92,
Montrouge.
Galeria Cómicos Luís Serpa,
O Limoeiro em Julho, C.E.J., Lisboa.
Desenhos, Galeria dos Escudeiros, Beja.
A paisagem revisitada –
Lisboa.
1989
10 Contemporâneos,
Portugal Hoy,
Museu de Serralves, Porto.
Centro Cultural del
II Bienal dos Açores, Biblioteca Pública de Angra
1994 Perspectives,
Contemporânea, Madrid.
Galeria Almada Negreiros,
Projectos, Lisboa.
MEIAC, Badajoz.
Museu Espanhol de Arte Aquisições recentes,
do Heroísmo, Açores. Biombos Pintados,
Conde Duque, Madrid.
Centre d'Art Contemporain
19ª Bienal de S.Paulo.
de Marne-La-Vallée,
Galeria EMI-VC, Lisboa.
Tendências dos anos oitenta,
França.
Centro de Arte de S.João
150 Anos de Arte
da Madeira.
Portuguesa, itinerante: Macau
Euroarte/89,
(Leal Senado) e Pequim.
Guimarães. 70-80 Arte Portuguesa, itinerante: S.Paulo, Arte Contemporânea
Rio de Janeiro e Filadélfia.
Portuguesa na colecção da F.L.A.D, Depois de Amanhã,
C.A.M.J.A.P. / Fundação
Centro Cultural de Belém,
Calouste Gulbenkian,
Lisboa.
Lisboa.
243
1986
1985
1984
1983
1982
Le XXéme au Portugal,
Finisterra,
Instalação,
Depois do Modernismo,
Instalação,
Centre Albert Borschete,
Galeria Nasoni, Porto.
Galeria Metrópole, Lisboa.
S.N.B.A., Lisboa.
C.A.P.C., Coimbra.
Aspectos do Desenho
3ª Bienal de Vila Nova
VII Bienal de Pontevedra,
Contemporâneo em Portugal,
de Cerveira.
Pontevedra.
itinerante (Alemanha).
Cumplicidades,
Perspectivas actuais
Galeria EMI-VC, Lisboa.
da Arte Portuguesa,
1981
Bruxelas.
Papel como suporte,
S.N.B.A. Lisboa. AICA Philae 86,
S.N.B.A., Lisboa. Desenhos?, Edifício Mobil, Lisboa.
S.N.B.A., Lisboa.
1ª Exposição Nacional
LIS 81,
de Desenho,
Lagos 82 –
Galeria de Arte Moderna,
Cooperativa Árvore, Porto.
Bienal de desenho,
Secretaria de Estado da
Lagos.
Cultura, Lisboa.
Nueve artistas
Salão da Primavera,
contemporáneos,
Casino do Estoril.
Rectrospectiva da Diferença, Instalação,
Ill Exposição Geral
Arquipélago,
Círculo de Artes Plásticas
S. N. B. A., Lisboa.
de Coimbra.
C.A.P.C., Coimbra. Papel como suporte,
Museo de Arte
S.N.B.A., Lisboa.
Contemporáneo de
Seis Pintores
Atitudes Litorais,
Contemporâneos,
Faculdade de Letras,
Livro de artista,
Galeria Módulo, Porto.
Lisboa.
Galeria Diferença, Lisboa.
Arús – Exposição de Arte Moderna,
de Artes Plásticas, F.C.Gulbenkian, Lisboa.
1975
Montevideo.
Arte dos Anos Oitenta,
1ª Exposição de Arte do
Pedro Calapez e
S.N.B.A., Lisboa.
Banco de Fomento,
Pedro Casqueiro,
Banco de Fomento
Bar Os Infantes, Beja.
5ª Bienal de V.N. de Cerveira
Porto. Arteder 82,
Nacional, Lisboa.
Bilbao.
Lagos 84 –
Árvore de Natal,
Bienal de desenho,
Espaço Lusitano, Porto.
– Arte dos Anos Oitenta,
Colectiva,
V.N.Cerveira.
Galeria Quadrum, Lisboa.
42ª Bienal de Veneza.
Diferença / Diálogo, Galeria Diferença, Lisboa.
Lagos.
Pintado em Portugal,
Novos Novos,
Museo de Mérida.
S.N.B.A., Lisboa.
1ª Bienal de Arte dos
EIAM’84 – 1ª Exposição
Açores e Atlântico,
de Arte Moderna de
INCM, Ponta Delgada.
Campo Maior, Campo Maior.
Figuração-Hoje?, S.N.B.A., Lisboa.
244
Gaetan, Calapez e Cabrita, Galeria Alfarroba, Cascais.
PRÉMIOS
OBRAS PÚBLICAS
Pedro Calapez encontra-se representado:
AWARDS
PUBLIC WORKS
Pedro Calapez has works in the following:
2001
Caixa Geral de Depósitos, Lisboa; Central European Bank, Frankfurt;
Prémio de Pintura EDP,
Centro de Arte Caja Burgos, Burgos;
Lisboa
Centro Galego de Arte Contemporânea, Santiago de Compostela; Chase Manhattan Bank N.A, New York; Fundación Prosegur, Madrid;
1999
Fundação Calouste Gulbenkian / CAMJAP, Lisboa; Fundación Coca-Cola España, Madrid;
Premi Ciutat de
Fundação Luso Americana, Lisboa; Fundació Pilar i Joan Miró, Palma de Mallorca;
Palma de Pintura,
Fundação de Serralves, Museu de Arte Contemporânea, Porto;
Palma de Mallorca.
Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporáneo, Badajoz; e outras colecções públicas e privadas.
1998 Prémio "El Brocense", Deputación Provincial de Cáceres.
1994
2002
Prémio de Desenho,
Ornamento escondido,
Fundació Pilar i Joan Miró
Mosteiro dos Jerónimos,
em Mallorca.
Lisboa.
1998 1990
Praça em calçada
Prémio União Latina,
portuguesa na Porta-Sul da
Lisboa.
Exposição Internacional de Lisboa; Painel cerâmico
1987
para o Metropolitano de
Exposição Amadeo de
Lisboa (estação das Olaias).
Sousa Cardoso, Museu de Serralves, Porto.
1997
1986
Tecto para o edifício dos
Arte dos Anos Oitenta,
Paços do Concelho da
V Bienal de V.N. de Cerveira.
Câmara Municipal de Lisboa.
1984 Lagos 84, Lagos.
245
BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAPHY
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