Desarrumos

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Para a Ritinha (e a propรณsito da LNJ) esta bagunรงada feliz (que me fizeste)


DESARRUMOS j o r g e j u d a s POEMAS SMALL BOOKS



1—a Anicho-vos. Atraiem-se as criaturas para se aninharem nuas telúricas, titânicas rebeldes revelias a arreliar e urrar. Abalada beleza que não se reclina em filões que fabulam fórmulas. E a execrával bondade entranhava a paisagem e descascava (a mázona!) obscuridades. O fluxo afagava perfis porque tudo é despossessão diáspora diorética. Diáfanos enfrentamentos, dessublimando, incertos.



1—b Treva que se atreve a paginar — profeta acantonado nas marginálias (cura cusco, híbrido embuscando) caule de escolio (ó lambuzados limbos!) a desbravar a besta bíblica nas bordas. Demiurgo abdutor a ladrar o Verbo a abusar dos ablativos: conserva linguística de suplicios inaugurais materna maningância, trompa fatal gerúndios que grunhem e gozam — Amor locomovendo louvor que gama cama perpétua a afinar a harmonia astral a reciclar fluidos no rego orgãos a ferver



ganas irrigantes. Nem tudo vertia ou verdejava. Nenhuma ironia pedalava em ciclovias mas a cotovia abjurava num luar alugado de motel hu-hu-húmido. Amanhada musa que arrebita os marmóreos mamilos das matronas. Diana confundindo Acteon com Orpheu porque quando fazes amor não olhas ó meu!



1—c Sabe-me a acre. Sou acossado e cocegado por paixonetas serpentinas. Os enigmas espancam-me sem que lhes queira responder. Depila-se Édipo. Joga Jocasta às cegas cabras com a garganta funda de defunta. O tempo pede padastros os astros dão-nos tampa e as revoluções acabam em dívidas à banca. Ocultam-se os carteiros no riso, hermeneuticos, vindo à baila — aos aromas salta-lhes a tampa hermética (às armas, às harpas!). Canções que ferem de longe frechadas pelo pomposo pastor do sol



apimentando morfogéneses, sacudindo e revirando casacos, um rol e ascos. Selva sublimada de suplicios e assédios saladas de solipsismos a condimentarem os seus egos divergentes, suicidários, icários gustativas ténebras subservientes a saír do citado metro, acádico (em Paris) balidos engolidos pela argúcia do filólogo galhardias de iguana, violências domésticamente que soltam espasmos em quiasmos (ó da guarda!)



1—d Nas redondezas conduzimos carros orfãos de precauções, netos bissexuados e bissextos que bramam ecólogas sobre a brevidade híbrida e doida da vida, em escatologias desavindas, tersas — cisnes sibilinos, talmúdicos, das cinturas cibernéticas — putativas plumas em arborescencências gongóricas, genuflexões ejaculantes de magalas para serem mortos á sombra do engenho ardente cravados, curtos de anos e cheios de dentes.



As epopeias aguçam a predação encharcadas de petas pátrias (com encautos deuses enfunados) — excitam o pavor que pavoneia calhamaços de medos, feéricas actas, doutrinas estapafúrdias com gravatas, metáforas-giboias, irritantes erratas que estrafegam desejos singelos e a arte de montar (ó irmãos cinéfilos que depois de nós vivedes) em toda a selva.



2 Beber é ébriar. É o brio que rói as insónias pescatórias (venha o sermão!). Caducidades de caças civis caduceu nos pipis, sedução em contramão — desejos exdruxúlos a instigar luxos afagamentos exagerados beijos poliglotas, na pança, no sexo, no grave epicentro das pressas onde as auroras ameaçam bulir travessas. Desvia-se a moda e encaixas o acessório. (ah bodas ambulatórias e breves sem causa outra que a luxúria errante



beco com a tasca que se segue, cio galante a cambalear assinaladamente cesรกrio)



3 O Talher introduz o Talho no talento triturador dos dentes entra feito metediço no serralho ajuda velhos e doentes. O Talher bajula o buda em cada qual é impermanência, vacuidade, motim. O talher é porreiro, é bestial esmifra-se, esfaima-se enfim. Ó Alimento, desavindo invasor no afã fatal da fome, para picaresco decurso nas garras do corpo. Na farta enumeração abusas do adjectivo, dos condimentos. Entras num banquete de babas pela aleivosia dos dentes.



És apalpado pelos muitos tentáculos da lingua destinas-te a macerações, nhanhas nojentas e invisiveis delongas nas entranhas. Ó Restituidor de Forças, ó Abrasivo. Almejo-te. Anseio-te. Inflama-se-me a glote na gula. Quero peixes, sopas. doces e frutas. Até que tudo saia no buraco insone, quase clandestino, no suor, na saliva, coisa incauta, formigante, peregrina.



4 Era um tempo em Guerra. Cresciamos robustos nesses arredores do mundo. Foramos emprenhados em África entre sustos. Os turras enchiam-nos o mato de minas. Bebiamos cervejas com meninas. A mulher do governador engordava. Picavam bichos nas varandas. Os intestinos sentiam os vivos vermes. Vê lá bem ao que é que andas. Luar materno, piadas e pianadas. Mosquiteiro por cima da cama. Ternura em falta, gesto canalha. Porrada no preto, g’anda malha. Era um tempo em que a lentidão minguava. O amor sabia a manga e a papaia.



Os dentes conheciam os mamilos das primas e um cheiro ácido subia-lhes das saias. As sestas eram preludios de escapes ou fortuitos esfregamentos na penumbra. As mães defeniam ríspidas regras e acartavam baldes para regas. Descobriamos nomes bizarros nos mapas: tinhamos a tentação da Europa e dos carros e queriamos usar a tal brilhantina dos marialvas chanfrados fartos de conquistas. O pai ausentava-se para foder mulatas e os bebés recentes usam as quatro patas. Outros desmaiavam ou tomavam insulina. Iamos a enterros celebrar Proserpina a larvar deusa da obscuridade.



5 Carpida calma, amiúde (lamentável) violenta a trepar, a trepanar no carisma tropical, nas anforas, no alaúde garrafais vinhos que se traficam nos hemisférios (estamos a ficar sérios) — calma do confuso esmiuçado fluência do corpanzil em linguas bravas: trovejas então (oh não!) em incendios esparsos onomatopeias e lavas. Calma que enreda buracos e se inscreve rápida, bífida lingua de pau, pau de lingua desencontro, marimba, borrasca abraço com o cu à rasca poema com nódoa de tasca



a despedir as qualidades do sublime com badalhoca barba e piolho certo varĂŁo avacalhado em nocturnidade irĂłnico e abjecto. Cais no odor podre do cais e sentes a materna ternura das vielas com a cerveja a amolecer-te o sexo? Balelas. Cariado navegante. Causa fugidia, bilis de marujo aurora entre pias, dito cujo. Que a nobre causa se alevante!



6 O petiz empina a peste abrevia a videncia no bico do cipreste sabe que o sentido da escola é fatal, faz o teste — manutenção da inculcação matadouro do saber corpo quedo na fome de mais ser para além do pânico da (j)aula, da sofrível espera de um excitação maior. Saír fora já, já agora. Os autocarros arrepiam os arrumamentos. Há transes em determinados momentos. Os papagaios engraçam com o petiz assobiam, torcem no bico o nariz. Egrégio engodo, aumentado, paramentado desavindo telescópio onde o céu se torna elástico, utópico.



O ensino põe a memória no bidé. Os dilúvios não resgatam máculas nem pôem fim ao fim da picada — borbulhas, mordidelas de ratos, caspa, aspas, nada. As baratas (ó Adilia!) redefinem as velhas artes poéticas, entram pelas frechas e sobem à secreta sujidade do Ser ao mais polido, ao esférico inferno onde a plenitude conspurca ou fica a ver. E a leveza do petiz confunde a graça com a pré-histórica mama da madrasta — tudo boia na baba pulsional, tudo é gaz no Aberto corroendo o Real. Conversas, desditas. Colónias aflitas.



Férias? Notícias rafeiras a implicar com a bondade que queiras. O petiz muda de letra, por caridade. Vai ver uma fita. O genérico implica. Um Horus Negro gama-lhe a guita. E a teoria lá está, sempre à perna. A mana menstrua sendo moderna. Noutros quartos aguardam-se partos. E o petiz, feito ao bife, põe-se em alquimias muda de personalidade e bate nas tias.



7 Os nomes encontraram-me na baralhação onde despontam os sentidos — orgãos, membros, pele, músculos, ossos, folhas, letras. Sei-me nascido por guerras agarrado, desgarrado, desentranhado pela sobrevivência e apressado para me ir escapando a subserviências. Fiz-me parido em espanto quando no mato degoladas cabeças medusavam magalas incitando as tropas a pânicos e poetas a versos cheios de balas.



Isso foi antes de meus pais vomitarem a religião que os guiava na tenebra e das forças ficarem soltas, e os selos não encontrarem nomes e serem só entreabertos. Veio depois o ledo engano das revoluções incumpridas, escancaradas, feridas, e o lúbrico entusiasmo das novas descobertas com os textos cada vez mais abertos e os apoucados apocalipses por perto.



8 Não me peças o que me pedes. Abraça-me se te te atreves. Deitei-me exaltado nas baínhas do deserto medi-te as mãos e a cara e fiquei boqueaberto. Estarei a mais? Rimo-me por engodo? Agarro areia que se esvai e lendo me livro do lodo. Aproximo-me. Posso apinocar razões e o lume brando das paixões mas não evito colisões nem sou quem em mim mando — só manipulo por serventia e mal cuido da soberania.



Achincalhamentos, no mínimo profissionais, audácias estendidas ao vento, conjuras tão cordiais. Eis-nos — sulcada comédia de amarguras acumuladas nas entregas todas, mesmo as estivais. Partilhamos tusas e tisanas, o ser-nos é de açafrão, como as indianas e atolamo-nos em libertações: um crocodilo abocanhou a lentidão com que morremos nas margens em que nos amamos. Multiplicamos, por fim, as nossas sombras. Somos duplos, triplos, quadruplos nos espasmos pérfidos dos hieróglifos. Sentamo-nos para apagar ausências à mesa, com a borracha da incerteza —



é o poema que nasce sem pedir licença. Descascamo-nos poetando esta vocação e amansando fecundas ferocidades nos cantos destas outras cidades



9 Eras frontal de costas, dionisíaca, serena — fumegante sinceridade aventada como chave ao chão amante atmosfera com a mão. Cavalgavam-te os filmes, os frissons infractores das heroínas fatais, mas estavas queda como uma deusa em mácula dourada, em gravidade hormonal, regendo os nossos destinos sensacionais. Floria o não-saber no teu perfume de vão de escada. Entravas em subjacentes textos com confissões inesperadas e fazias-nos mais vivos e impuros e aos lânguidos duros.



As pernas, os pelos, os dedos abismavam-te para o resto — e um vil poema iluminava o incesto de distante mãe ou falsa irmã. Era no tempo do pudim flã.



10 No perímetro dos antigos escavacavamos encavalitados apertados pelas orquideias, ascendidos aos limbos das litanias. As secreções seráficas dos sacramentos afogavam-nos — polén abrupto, estigma encaracolado, vinculos que se aninhavam, atribulações, gozos descontinuos, ecos lambidos, cornamusas e cistros acompanhando glosas diagonais trastes ecunémicos minúcias minóicas melifluos chupões verbos residênciais paixões podadas



mãos, politicas, genitálias irradiações de ideais contragosto eriçado em esponsais umbigo ambiguo nervo, anus implante, perigo.



11 A primavera deu-nos a volta aos miolos desentranhando as falsas origens. Somos continuadores rascas de algo que nunca principiou, guardiões da vacilação, bisnetos de afectos pendentes aferidores de feridas indiferentes. Sabiamos que sobrariamos às amarguras alheias. Amparávamos o paraíso nas ideias e se nos chamavam, já cá estavamos. Cozinhavamos atopias nas paragens: deslocações sem lares nem garagens, assiduas sinas serigaitas de quem dá mas não pede demoras.



EntĂŁo o aureo espicho que a prole solta embarcava em flor, nulo, Ăł Musa, pela via culta!



12 Regressava dos tempos dos outros para o seu — irrigada metamorfose de delinquências vindouras na sua machesa nem tanta, heteronomia transviril delicadeza com identidade à coca pão-de-ló sem engalanamento existêncial doçura ondulatória de coral. Caiu-lhe a cor em caso. Pasmou. A mão frutificou ilusões em planos aproximados. Luzes fazendo-se excedidas, fragmentadas, pelo olhar uno que camaleona o corpo vibrátil mimetismo a redesenhar a fúria que rodeia, máscara que serpenteia e suga, entre a respiração e a apneia — paródia sem partitura a entregolfar palavras, imagens, sons: cume pantonal, radical, hipérbole grotesca de saturadas cores.



Recitam-nos sobre a Carne. Corintios. Mas o Amor bronzeia, inextricável, escuro, com a infalivel pata que bombeia o muro e a vibração levitante da leviandade que aprofunda. Vai-se cochichando. Transmudam-nos de malas aviadas as tecnologias actualizadas. Terrorismo ondulatório. Eloquência ventriloca. Quente rente.



13 Os filhos nascem para gritos soberanos e estamos vestidos por excesso que feitos nus fomos por fora, pornográficos no mundo, a sós masturbados desde a génese infame e gloriosa. Diz-se: ah são tão solicitadores para solicitos pais aturarem as tais carências e as exóticas irreverências. Saiem-se foscos na propensão de toscos canibais adiados. Têm a doçura em fúria por esventrar e ambiciosos recados. Atraiem a fauna faminta da violência aos bocados.



Erupções ajardinadas para fecundas indecências por vir — insolências raras de quem anda a lavar caras a rir. Há que desaprender a ser solicito?



14 Vil varão, senilidade à vista, o poeta senta-se nas pernas da sua peta com o clichê imitado à conquista — verseja onde se esbanja mistura o pudim com a canja ignaras iguarias guiando ganas. A ternura é um cardume de piranhas que te devorará o figado — o azedume liberta do amor e dos figos? Quer gluteos vibráteis aprumados para noites de sexo sucessivo e caldos de confissões inesperadas? Não sei se me transgrido no que falo ou se enquino em evitadas alhadas mas essa ternura sem mestres fremia com a fineza das fluentes feridas.



Eram arrepiadas razões a rapar os tachos, a penugem, os pânicos de derrapar em liberdades sem entraves e a alheias tirar as meias. Porém, todo o louvor te é nulo, ó macho que te desgraças ao seres émulo de imaginárias sensações . És o que és. Aos cães as pontuações!



15 Avivamos viperinos numa alcatifa felpuda tal incontinência. O cotão inquina o canto o sémen rega o cacto. Não mais, não mais, cadentes aves redutos rurais da literal moralidade a amparar o litoral, as praias que ontologistas julgam perfeitas de limpida canalhice, apanicada tradução, apinocada pinocada. Avivamos o tórrido nos redutos rebeldes assim e assado. Avivamos o luxo gratuito de explodir suavemente (ganda gaita)



a caír no goto de uma Europa que arrota a sua pompa e cansa as circunstâncias. A vergonha, os agachamentos (outrora coloniais) mordeduras, despedimentos e dividendos a pagar (colossais) aí estão, pá. Nesta oralidade em brasa não desistas contra as austeridades vis, as tristesas tarimbadas e as contabilidades canoras, entubadas. Ficamos à espera que outra glória entre e abarque todo o continente?



16 Açucarado, ácido. Palpitação acrónima das manifestações, sursum corda. Batem fraternas dissonâncias e agastados afectos — tubarões a cortar as mornas àguas do índico onde o Gama iniciou o gamanço: terraços de especiarias, coitos indigentes, perspicazes proporções drogas, alçapões, torturas bundas indias de copiosas Kalis cona colada, crespa, funda, fufa, infinda vidente fluência de profetas a feder a botas manhãs de nevoeiro com marujos poliglotas. A intensidade do género é vestibular? Despidas maningâncias a gesticular?



Massajam-te o sexo com um bálsamo forte num lupanar onde Camões apimentou a epopeia: apopléticas ninfas, fugazes, encalço macho, patético, incendio sem se ver, nas veias, espasmos platónicos, buscando formas barbaras arcádias, matéricas, métricas, encravadas, escravas. Perversão de latrina, à Cesariny sem dentadura e meneios a contragosto num recto Agosto?



17 Começos que surgem como adiamentos, impedimentos de continuações, encontrões, arremessos, afinidades partidárias, controvérsias que amam adversar-se em inépcias, traduções que encontram o esplendor no cavaqueiro equívoco. Nascer é ser uma interpolação sagrada em vidas e textos profanados antecedendo tudo até a oralidade e a escrita ou nem nada antecedendo nem a nada sucedendo. Isto é isso? (talvez pois sim sim) na analogia a cavalo no ovo? Ou na relação do antigo com o novo a arregalar a fuça (upa! upa!) que a não inquiro nem com lupa.



Seja (sou?) um se calhar açucarado ou desaguisado. Caibo aqui alinhavado entre silêncios legentes e ponho-me a geito para levar bocas de agentes. Ganha-se a vida ao lado do combate. Atiçam-se nomes, enquina-se o engate. O pânico milenar arrefece nos estufados de lingua estafada, culta — regressa no corpo à rasca, nas promessas que inclinam o tempo, para mais carnoca, caparro, sem intermediários fúteis com a velocidade ímpia das carícias com beijos lentos, entre fortes apalpões e curtidos cortes. Gozo? Sou uma seca? A raiva retórica abomina-me a pátria, rancores perfeitos a esfregar gramática,



magnólias espetadas nos cus de recrutas defuntos — uma lança em África, un coup de dés, arrotos, a bulir acasos tontos. Ora senão quando, disseram isto mesmo: que esta cena não é montagem, mas vem contaminada da vida cinéfila descontinua mas fluente em zooms e contrapicados com violência expectante e banda sonora a soar a angst. Que nesse excesso eliptico a coisa surja condensada como leite ó chinoiserie poundiana! Tornas-te oral à força de tanto exagerar rebuscas selvagem a fluência de idiomas secretos. Porém não escreves para os mortos



mas avanças com eles nas viditas plurais em punho — curral do imaginal, pulsão e excepção infusa ou confusa. Porque o amor te sobra ávido aos curto-circuitos biográficos e o teu rosto (de borla!) será a face onde se abismarão trémulos outros em corpos vivíssimos para que errem cavalgando com todo o prazer da terra.



18 Exilados, pacifistas, com pátrias pífias na reticência traídos pelo desmame precoce, sem filhos e fecundo desnorte, à espera duma coisa mais sincera antes da morte. Ambos (eu tu) somos o povoado vácuo de alegrias espantosas entre violências entre o que espezinha e o que remedeia, a consagrada mézinha e o truque de Medeia. Espairecem intimidades em festa extensões multiplicando a ambigua afinidade que aglutina, espicassa, anseia. Exultamos para nós neste agora banhado de luzes e sombras que rodeiam



sempre diversas em conversas com os que ora se aproximam ora se afastam em empatias, delicadezas, festas — ódios de estimação, entusiasmos em contramão no entanto — merda jamais! Polinizadas paralogias (catárticas), pretextos a galgar, gargalhadas gongóricas, descascamentos — onde o saber se alivia e se reciclam os residuos da alegria: incertas iguarias do concreto.



19 Estamos desde sempre entrados na morte, entalados a reinventar desculpas a trote para sobreviver de permeio e sem mote. Somos o desarrumo de átomos, células, ligações, carnes, causas que cozinham o eu como se fossem coisas, identidade esfrangalhada entre sintaxes e letras que refazem esfraldicados ideais e afectos de peso. Ó vivências imprevistas acumuladas no sujo sotão da memória! Ó mãos a calar o calejado o prevertido, o ilusório e o provisório! Apetecia-nos pastar uns nos outros, dançar sobre brazas bizarras e misturar o velho cha-cha-cha com o canto acre das cigarras.



O mundo denuncia-nos nas roupas e ensaboa vindouras ausências e lá vamos a desarrumos provisórios para salvar as nulas aparências. (continua a conversa mais logo


A arte de perder tempo implica um domínio apurado da desarrumação


Desarrumos foi composto em caractéres Secretário neste auspicioso ano de MMXVI por Jorge Judas na sua própria casinha numa manhã em que lhe deu para isso



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